1 EM BUSCA DO INFINITO - 05 POR PROF G. Venkataraman OS MISTERIOSOS BURACOS NEGROS Om Sai Ram amoroso e saudações! Na América do Norte, quando se descreve coisas incomuns, às vezes se diz, “Vocês não viram nada, ainda!” Isto parece muito verdadeiro para nós, pois você realmente tem que se agarrar na cadeira e se preparar para o que vem a seguir. Em outras palavras, eu vou apresentar-lhes os objetos astrofísicos mais exóticos, chamados Buracos Negros. A coisa engraçada sobre Buracos Negros é que eles não podem ser vistos diretamente; nenhum instrumento pode ser projetado para permitir ao homem vê-los diretamente como se vê as galáxias e as estrelas. Mas, ainda assim, todos os astrônomos e astrofísicos juram que os Buracos Negros existem! Sim, às vezes a verdade é realmente mais estranha que a ficção. Assim, estejam prontos para ouvirem algo que poderia parecer puro desvario, mas que pode ser de fato a verdade de Deus! Supernova - a origem das estrelas de nêutrons Anã Branca - uma das três últimas fases Antes de começarmos a falar sobre os Buracos Negros, vamos recapitular o que já sabemos sobre Anãs Brancas e Estrelas de Nêutrons, que nós discutimos nas duas matérias anteriores. Como você recorda, ambas falam sobre o destino das estrelas que cessam a reação termo-nuclear e começam a se desmoronar e encolher devido à força inexorável da gravidade. Nós aprendemos que, dependendo da massa da estrela original, há três possíveis finais diferentes, claro que com três diferentes cenários a eles associados. Para estrelas que têm relativamente “pouca” massa, o ponto final é uma Anã Branca. Em seguida é a estrela de nêutrons, e o último deste trio é o buraco negro, o assunto de nossa presente digressão. A propósito, você poderia observar o quadro que apresentei no final do último artigo. OK, assim nós temos uma estrela defunta, uma estrela mãe, em nosso jargão atual, com uma massa excedendo, digamos, 15 vezes a massa solar. Esta estrela findou a queima termo-nuclear e começou a se desmoronar. Os elétrons tentam parar o colapso invocando a pressão de degeneração dos elétrons, mas eles não são suficientemente capazes para isso; eles então desistem. Em seguida os nêutrons tentam erguer uma defesa, mas eles 2 também são incapazes para isso porque a massa da estrela mãe é muito grande; a gravidade implacavelmente esmaga a estrela, cada vez mais. O que acontece então? Isso é o que nós veremos agora. Crucial para entender a existência de buracos negros é o fato que a luz pode ser afetada pela gravidade. Logo após Newton ter proposto a sua descoberta da força da gravidade, as pessoas acreditaram a que luz pudesse ser afetada pela gravidade. Aceitando esta visão, no ano de 1784, o geólogo inglês John Mitchell sugeriu que se houvesse um objeto suficientemente volumoso e se tivesse o tamanho certo, sua força gravitacional seria tão forte que luz não poderia escapar da sua superfície. A idéia de Mitchell é simples. Suponha que você joga para cima uma pedra; você sabe o que acontece; cai. Por isso se diz que tudo o que sobe, desce. Mas não sempre! Tudo depende da Isaac Newton velocidade com que a pedra é jogada para cima. Se a velocidade for suficientemente alta o objeto poderia escapar de fato da terra. A velocidade mínima necessária para isto é conhecida como velocidade de fuga e hoje até os estudantes secundários sabem ser aproximadamente 11.2 km/sec. Este fato é utilizado por cientistas de foguetes que querem enviar astronaves à Lua, Marte, e assim por diante. O que Mitchell disse foi: “Escute. Se este objeto for do tamanho certo, a força da gravidade pode ser tão alta que a luz emitida de sua superfície não pode escapar!” Eu deveria acrescentar que Mitchell acreditava, como sugerido por Newton, que a luz é composta de partículas [tendo massa, portanto]. Desenvolvendo esta idéia, Mitchell escreveu um ensaio que enviou ao então reputado cientista Cavendish para publicação pela Sociedade Real de Londres. Naquele estudo, disse Mitchell: Se metade do diâmetro de uma esfera da mesma densidade do Sol o excedesse na proporção 1:500, um corpo que caísse para a sua superfície teria uma velocidade maior que a da luz. Por conseguinte, supondo ser a luz atraída pela mesma força, em proporção à sua massa inercial, como todos os corpos, toda a luz emitida de tal um corpo voltaria a ele, atraída por sua própria gravidade. 3 Em 1796, Laplace, na França, promoveu a mesma idéia, mas não avançou as conclusões porque a idéia que luz era composta por partículas foi substituída pela teoria que luz era composta de fato por ondas; e na teoria ondulatória da luz, não há matéria nenhuma a ser puxado pela gravidade. Assim a idéia de Laplace não prosperou e todo mundo se esqueceu destas duas pessoas, Laplace e Mitchell. As coisas permaneceram assim durante mais de cem anos, até que Einstein propôs em 1915 a sua famosa teoria da gravitação. Ela era revolucionária e não só suplantou a teoria de Newton, como também apresentou O matemático e astrônomo, muitos conceitos novos e ousados. Laplace O mais atordoante era que a luz poderia ser desviada pela força gravitacional. A história de como os cientistas descobriram o curvamento da luz é excitante em si mesma, apresentando, a propósito, Eddington, a quem você já foi apresentado. Esta história é contada separadamente, em parte porque é importante e em parte porque foi esta descoberta sensacional que deu a Einstein quase uma fama de pop star! Voltando ao ponto principal, você poderia perguntar “Escute. A teoria da gravitação de Einstein é uma teoria clássica; no entanto não há nela nenhum espaço para a luz ter uma natureza dual, isto é como uma partícula e como uma onda, uma possibilidade contemplada pela mecânica quântica [mais sobre isto em uma palestra posterior]. Na teoria clássica acredita-se que luz é uma onda, uma onda eletromagnética, na realidade, como afirmado por Maxwell e provado por tantas experiências. Então, como pode uma onda ser defletida pela gravidade, idéia rejeitada anteriormente?” Boa pergunta! Veja você, o que a teoria de Einstein disse era que o espaço é deformado quando a matéria estiver presente. 4 Mostrado aqui por duas grades dimensionais o conceito de deformação espacial [de fato é deformação do espaço-tempo]. De acordo com a teoria de Einstein da relatividade geral, o espaço permanece indeformado quando vazio, isto é, livre de matéria. Porém, quando a matéria estiver presente o espaço é deformado. Embora nós ilustremos aqui a idéia com um desenho bidimensional, nós temos que nos lembrar que nosso espaço é realmente tri-dimensional. O ponto é este: Matéria deforma Espaço. Na realidade, a pessoa pode dizer até mesmo que a matéria é uma “corcunda” ou pode ser uma “covinha” no espaço! O Professor Wheel descreve a relação entre a deformação do espaço e a matéria de um modo interessante. Ele diz: “A matéria diz ao espaço-tempo como se encurvar, e o espaço-tempo diz à matéria como se mover!” E quando a luz viaja por espaços deformados, ela se deforma também! É assim que a gravidade afeta a luz na teoria de Einstein da relatividade geral. O resto da história de como esta predição incrível foi verificada é apresentado separadamente. [Veja o fim deste artigo com a história de Eddington]. Movimentemo-nos agora para ver quais coisas especiais acontecem quando uma estrela mãe com uma massa da ordem de digamos 15 vezes a massa solar começa a se contrair devido à atração gravitacional. Como eu já expliquei, primeiro os elétrons tentam oferecer alguma resistência; eles falham e então desistem. É então a vez dos nêutrons; eles também falham e também desistem. O que acontece agora? Ah, é aqui que a história fica mais interessante e, em suas fase posterior, talvez até mesmo estranha! Considere raios de luz emergindo da superfície de um objeto do tipo que nós estamos considerando. Por causa do puxão gravitacional, o objeto tentará puxar para baixo a luz que tenta escapar. Por causa do puxão, a luz “cai.” Para raios que são emitidos quase em paralelo à superfície da estrela, eles acabarão caindo à superfície da estrela. Com algum raciocínio pode se ver facilmente que isso resulta em um cone; luz emitida dentro deste cone escaparia enquanto que luz emitida fora do cone voltaria à superfície. Este cone é chamado o cone de saída. Acima temos uma estrela, e o desenho dos caminhos dos raios de luz que são emitidos de um ponto na superfície. Como sabemos nós, a luz será 5 atraída pela massa da estrela. Os raios que forem emitidos quase em paralelo à superfície da estrela acabarão voltando à superfície. Nós desenhamos um cone de saída; a luz emitida dentro do cone escapa da estrela, e a luz emitida fora volta à estrela. Lembre-se deste fato importante e prossigamos através das modificações do cenário na medida em que o objeto encolhe a um tamanho cada vez menor. A massa do objeto em contração obviamente continua a mesma ao longo do processo, mas como o raio do objeto fica cada vez menor, o puxão gravitacional à superfície fica cada vez mais forte. Isto significa que quando certo raio for atingido, o cone de saída simplesmente desaparece; isto significa que todos os raios de luz que deixam a superfície, a ela voltarão. Em outras palavras, nenhuma luz pode escapar deste objeto. Esse é o ponto importante que eu tenho tentado elucida. Por favor, note que isto só pode acontecer quando a estrela mãe tiver uma massa grande o bastante; até mesmo para tal objeto, o cone de saída não desaparece imediatamente; isso só acontece quando o raio fica suficientemente pequeno, tornando a gravidade realmente poderosa e suprema. O raio do objeto quando o cone de saída desaparece é chamado Raio de Scwarzchild, que foi o primeiro cientista a investigar este fenômeno. O limite exterior de tal objeto é chamado o horizonte de evento. 6 Pergunta: “o que acontece depois que a estrela mãe encolhe ao raio de Schwarzchild? Continua a encolher?” Nós pensamos que sim, pois não existe razão para acreditar que o processo de contração pararia. “Nós podemos ver isto?” Não! “Por que não?” Simples! A luz já não pode escapar daquele objeto e nos trazer a informação! Incidentemente, esta é a razão por que tal objeto é chamado um Buraco Negro. Como deveria ser óbvio, um horizonte de evento é associado com todo buraco negro. A propósito, o termo buraco negro foi primeiro usado pelo Professor John Wheeler em 1967; antes disso, esses objetos Professor John Wheeler eram chamados estrelas escuras. Continuemos com a “história do encolhimento” se eu posso chamar assim! A estrela mãe deixou de enviar luz para o mundo externo e se amortalhou com um horizonte de evento. Continua encolhendo, assim nós acreditamos; nenhuma razão existe para acreditar no caso contrário. OK, o que acontece agora? Irá o encolhimento durar eternamente? Obviamente não, porque a algum ponto o objeto teria um raio ZERO! O que acontece então? Esse negócio de raio zero se tornou a parte embaraçosa da história. Objetos físicos têm um tamanho finito; isto é verdade para todos os objetos que nós conhecemos, de galáxias a átomos, núcleos e objetos até menores. Se um objeto com uma massa finita tiver tamanho zero, então a sua densidade seria infinita, e os físicos não podem aceitar esse tipo de situação. Densidade infinita representa o que eles chamam uma singularidade, e singularidades [de qualquer tipo] simplesmente horroriza os físicos; eles simplesmente não podem suportá-las! Por exemplo, ao trabalhar com as suas equações gravitacionais Einstein descobriu que o Universo poderia ter tido um começo a partir do “nada”, e isso simplesmente o chocou; ele não pôde aceitar que Deus tenha começado o Universo com uma singularidade. Eu só menciono tudo isso porque quando nós começarmos a imaginar o que poderia estar acontecendo dentro de um buraco negro, nós terminamos com uma situação onde poderia haver uma singularidade. Mas isso não é permitido [!] e muito debate ocorre sobre como a Natureza poderia evitar a singularidade e assim por diante. Antes de falar sobre isso, eu gostaria de apresentar a vocês um excerto de uma conferência que o Prof. Chandrasekhar deu em Ahmedabad muitos anos atrás. Ele começou com uma pergunta e então continuou como segue: 7 O que acontece a estrelas com uma massa muito grande, digamos, dez vezes a massa solar? Este problema é de grande significação teórica. Para tal estrela, a contração não pode ser impedida, seja na fase de anã branca ou na fase de estrela de nêutrons. Ela pode continuar a se contrair, tanto, na realidade, que o campo gravitacional ficará forte o bastante para que nem sequer a luz possa escapar. E quando luz não puder emergir, nada mais pode e, por conseguinte, ficará invisível. Este é o denominado buraco negro. Prof Chandrasekhar A maneira pela qual a estrela em contração “desaparece” vale a pena descrever. Digamos que há uma estrela se desmoronando que nós observamos daqui da terra. Vamos supor que de alguma maneira nós conseguimos pôr um amigo na superfície da estrela distante que está encolhendo rapidamente em tamanho. Este companheiro fará uma descrição constante e nós aqui estaremos recolhendo os sinais e seguindo os eventos de perto. Chamemos nosso amigo de observador A e nós mesmos de observadores B. Vejamos como Chandra descreve o que acontece. Isto é o que ele diz [em sua palestra de Ahmedabad]: Observador A envia sinal para observador B a intervalos regulares de digamos, 1 segundo. Inicialmente, o observador B receberá os sinais com aproximadamente os mesmos intervalos de tempo. Mas, com o avançar do colapso, o observador B perceberá que o intervalo entre os sinais começa a aumentar, e eventualmente, o aumento será exponencial, i.e., a cada milissegundos, o intervalo aumentaria por um fator de cerca de 2,5; e dentro de um minuto o intervalo se prolongaria muito consideravelmente. Assim, estritamente falando, para o observador B, o processo de colapso levará um tempo infinitamente longo... Logo o objeto se desmoronando ficaria invisível para todos os propósitos práticos. Assim nós perdemos nosso amigo observador A! Claro que, na prática nós não podemos ter um observador como A dando um relatório constante. Melhor nós observarmos a estrela daqui. Digamos que observamos por telescópio uma volumosa estrela que está em desmoronamento. A figura abaixo mostra esquematicamente o que a pessoa veria. 8 Assim o que veria um observador dentro do buraco negro? Com nosso conhecimento de física, nós podemos visualizar o que aconteceria a ele. Ele estaria sujeito ao que é chamado forças de marés. Você deve ter ouvido falar da maré alta e da maré baixa nos mares, e como elas surgem. Por exemplo, elas são produzidas pelas forças que a Lua exerce sobre a terra. Tais forças também agem em nosso corpo e em princípio, nossos corpos também deveriam exibir um alongamento. Desde que nossos pés estão mais próximos da terra que a nossa cabeça, o puxão da terra seria mais nos pés que na cabeça. Essencialmente, nós deveríamos nos afundar um pouco pela terra. Na prática, este tipo de alongamento é desprezível. Porém, para um observador dentro do buraco negro, o jogo é bem diferente. Para começar, como as forças são muito fortes, os efeitos também seriam dramáticos, como o esboço abaixo mostra. Enquanto isso, o próprio objeto está em colapso, se desmoronando, e nosso amigo cada vez mais perto e mais perto do centro. Eventualmente, quando o objeto se desmoronar em um ponto geométrico, nosso amigo também desapareceria em nada! 9 Isto nos traz de volta ao assunto da singularidade, e a pergunta agora é: “o buraco negro pode terminar como uma singularidade?” Como eu lhe falei antes, singularidade é uma palavra “ruim” em física, e muitas pessoas simplesmente não puderam aceitar que o destino final de um buraco negro fosse singularidade; “isso seria excessivamente anti-fisica”, eles protestaram. Em 1965, Roger Penrose, um brilhante matemático inglês e Stephen Hawking [que você já conhece], cuidadosamente examinaram o assunto das singularidades dentro da estrutura da teoria da relatividade geral de Einstein [na qual a teoria da gravitação é baseada]. Eles chegaram então à conclusão que se a teoria da relatividade geral está correta - e nós acreditamos que é assim ao nível clássico - então singularidades são inevitáveis. Em troca, isto significa que o buraco negro tem que terminar em uma singularidade. Os físicos foram pegos agora em um difícil dilema. O sentimento interno deles era que singularidades não tinham nenhum lugar na física; buracos negros simplesmente não poderiam terminar como singularidades. Por outro lado, Penrose e Hawking disseram, “Nós também sentimos desse modo, mas, desculpe-nos. Se aceitamos a teoria da relatividade geral de Einstein como sendo correta e isto prevalece até os dias de hoje, então a singularidade é inevitável.” Isto trouxe a idéia de “censura cósmica!” Eu não sei como está o negócio de filmes hoje, mas há muitos anos atrás nós tivemos os chamados Censores. Eles assistiam a um filme antes de ser liberado ao público, e se eles achassem algumas cenas que eram, na opinião deles, censuráveis, então essas cenas eram simplesmente cortadas fora; isso era censura. Alguns físicos disseram, “Escute, nós realmente não sabemos o que acontece atrás do horizonte de eventos. Quem sabe o que realmente acontece no centro de um buraco negro quando fica realmente pequeno?” Assim, o horizonte de eventos foi visto como alguma amável cortina que cobriu o enredo indesejável dentro do buraco negro! Isto é censura cósmica! 10 Alguns anos depois de Penrose e Hawking terem publicado seu famoso estudo sobre singularidades, Hawking examinou a física dos buracos negros em outro contexto, o da entropia do buraco negro. Eu não quero entrar em todos aqueles detalhes técnicos, mas o resumo disso é que Hawking teve que invocar a mecânica quântica para discutir aquele assunto. Assim as pessoas começaram a dizer agora, “Hei, espere um minuto, talvez a mecânica quântica possa intervir e possa poupar o buraco negro de terminar em uma singularidade!” Físico e Matemático inglês, Sir Aparentemente isso é definitivamente Roger Penrose possível, como parece a partir do trabalho de Hawking na entropia dos buracos negros. Os físicos deram um suspiro de alívio; e logo eles começaram a argumentar, e com boa razão também, que quando se começa a lidar com dimensões muito pequenas [como se tem de fazer ao se considerar uma singularidade], então a física clássica falha totalmente. Em outras palavras, o estado final de um buraco negro simplesmente não pode ser discutido dentro dos parâmetros [clássicos] da teoria da gravitação de Einstein. Ao invés, teria de se usar uma versão quântica dela. Uma teoria quântica da gravidade não está ainda disponível, mas as pessoas já sabem que espaço-tempo, que é o aspecto central da teoria da gravidade, fica flexível e descontínuo quando se lida com distâncias inacreditavelmente pequenas, como se tem de lidar para se discutir singularidades cuidadosamente. E nessa fase, não poderia haver nenhuma singularidade, afinal de contas! Enquanto isto, surgiram outras possibilidades surpreendentes que poderiam poupar o buraco negro de terminar em uma singularidade. Neste cenário o foco está no espaçotempo, o tecido que forma o pano de fundo à teoria geral da relatividade. Este espaço-tempo pode ser visualizado como uma folha de borracha com linhas traçando uma grade retangular, com espaçamento igual. Quando nós falamos de tal folha de borracha, nós podemos ter dois tipos, uma lisa e uma entortada. Uma folha de borracha lisa corresponde ao espaço-tempo que não foi transtornado, enquanto uma entortada representa um espaçotempo transtornado. Você já foi apresentado a esta idéia no contexto da famosa experiência de encurvamento da luz de 1919. Aqui nós procuramos alguns outros aspectos dessa deformação, com particular ênfase em como um buraco negro poderia evitar a singularidade. Suponha que um buraco negro seja esmagado a um ponto geométrico, resultando em uma singularidade. Neste caso, as deformações seriam extremas como na figura (a). Como eu já falei, os físicos não gostam de singularidades e assim eles disseram, “Hei”, espere um minuto. Pode ser que quando esta situação extrema se aproxima, a Natureza busque um caminho alternativo como na figura (b). Aqui nós temos o que é chamado um buraco de verme (worm hole), que de fato conecta dois universos diferentes! Assim se nós temos o observador A que está caindo ao centro de um buraco negro, ele deslizaria de fato pelo buraco de verme (worm hole) e emergiria em outro Universo! Parece ficção científica, não parece? Realmente parece, mas estas são 11 algumas idéias sérias que muitos cosmólogos têm estudado matematicamente! Assim, a verdade realmente pode ser mais estranha que a ficção! Talvez você não goste da idéia de nosso observador A desaparecer em um universo completamente novo. Nenhum problema, nós poderíamos mantêlo em nosso próprio universo através de conectividades como nas figuras (c) e (d)! Quer dizer, nosso observador desapareceria em uma parte do universo e apareceria em outra. Buracos de verme receberam um pouco de atenção, mas devido ao fato que a gravidade quântica pode oferecer caminhos de contorno diferentes para a [clássica] singularidade, não se precisa imaginar que o buraco de verme seja o único caminho de saída. O que você precisa entender é que há mistérios notáveis na Natureza para os quais nos nunca encontraremos respostas. Mas eles estão lá, sem dúvida, e nós temos que nos dar o tempo para nos maravilharmos com eles. 12 Algumas perguntas remanescem ao terminar este volume. Primeira pergunta: Quantos tipos de buracos negros existem? São reconhecidos três tipos básicos. Os super buracos negros, os buracos negros normais, e o míni [ou micro] buracos negros. Ate aqui, eu tenho falado essencialmente sobre buracos negros normais que resultam quando estrelas mortas com uma massa dez massas a solar ou ao redor disso, encolhem devido à gravidade. Os super buracos negros formam uma categoria completamente diferente. Espera-se que eles tenham milhões de vezes a massa do nosso Sol. Por que cargas dagua nós temos que “inventar” tais buracos negros enormes, e se eles existem, onde eles estão? Mas, voltemos à primeira pergunta. Tudo começou com a descoberta de objetos conhecidos como quasars. A palavra quasar é derivado de QUASi-estelar fonte de radio, o nome pelo qual estes objetos estranhos foram chamados quando descobertos nos anos1950s. A descoberta foi feito usando grandes radio telescópios há pouco operacionais. Ninguém soube o que estes objetos eram, mas duas coisas ficaram claras: 1) O que quer que fossem, eles estavam emitindo uma enorme quantidade de energia. 2) Evidências espectroscópicas sugerem que estes objetos movem-se a velocidades fantásticas, algo como uma fração significativa da velocidade da luz. Isso significava que algo estava acontecendo lá fora e que isso não só gerava enormes quantidades de energia, mas também fazia esses objetos moverem-se com uma velocidade espantosa. Os dados científicos eram de confundir a mente e os cientistas tiveram que propor uma história realmente boa para colocá-los todos juntos em uma teoria harmônica. Isso aconteceu anos depois, e a hipótese atualmente aceita é que em meio a muitas galáxias, galáxias ativas de fato, deve haver super buracos negros volumosos que agem como os motores que propulsionam os quasares. Eu estou dando só as manchetes, claro, espero que isso não o faça pensar que eu estou apresentando um grupo de especulações vagas. Na verdade, há uma boa razão para acreditar nesta hipótese; caso contrário, os cientistas que normalmente são cépticos em relação a idéias revolucionárias, não brincariam com a idéia de buracos negros super volumosos que agem como motores dos quasares. A propósito, ate hoje foram identificados mais de cem mil quasares no céu! Voltemos aos buracos negros “normais” com que nós começamos, isto é, aqueles resultantes do colapso de estrelas com massa ao redor de dez vezes a massa do nosso sol. Como nós sabemos que eles existem? Há qualquer prova observada? Bem, se a pergunta é posta desse modo, então deveria ser óbvio que por sua própria natureza o buraco negro é mesmo “reservado”, significando que não permite a informação fluir para fora, nem mesmo à sua superfície. OK, mas realmente não há nenhum modo de 13 detectar um buraco negro? Felizmente há, e esse método explora o fato que buracos negros são na realidade gananciosos, muito gananciosos! Você deve pensar que eu estou brincando; mas não estou não! O que às vezes acontece é o seguinte. Pode ser que nas imediações do buraco negro, haja outro objeto. Por exemplo, nós temos o que é chamado estrelas binárias; são gêmeas e orbitam uma a outra. Suponha que um desses binários se torne um buraco negro. A força gravitacional do buraco negro que é enorme, começaria a puxar matéria de toda a vizinhança. Em outras palavras, o “faminto” buraco negro começaria chupando matéria para si mesmo. No processo é formado um disco de crescimento. Um disco de crescimento é um disco de matéria difusa, formado ao redor de um buraco negro [a propósito, até mesmo uma estrela de nêutrons poderia se envolver em um disco de crescimento, mas aqui nós estamos falando sobre o disco de crescimento formado ao redor de um buraco negro]. O material do objeto companheiro que é chupado pelo buraco negro forma um disco ao redor do mesmo devido ao seu movimento de rotação. Tecnicamente nós dizemos que é o resultado do momentum angular do buraco negro. Quando a matéria mergulha no turbilhão giratório do buraco negro, é muito acelerada e no processo emite radiação, freqüentemente na forma de raiosX. Essas emissões assinalam a presença do buraco negro e é assim que os astrônomos tentam descobrir a presença de buracos negros, observando padrões de emissão de raios-x lá fora no espaço. Estão sendo construídos detectores especiais que um dia trarão prova incontroversa sobre a existência do buraco negro [cuja existência não é hoje colocada em dúvida]. Qual é a idéia atrás destes detectores? Bem, é algo assim: buracos negros não estão lá sentados e quietinhos; eles interagem com outros objetos lá no espaço, através das forças gravitacionais, naturalmente. Por exemplo, um buraco negro poderia colidir com outro. Ou nós poderíamos ter uma situação onde um buraco negro está nascendo. Ou então, poderia ser um caso de buraco negro que ingere o seu almoço! Em todo caso, seriam emitidas ondas gravitacionais, com 14 assinaturas características. Os detalhes destas assinaturas podem ser fontes de informações; a teoria hoje é inteligente o bastante para fazer isso. A teoria é inteligente, mas e quanto aos experimentos? Eles são inteligentes o bastante para detectar estas ondas? Bem, este realmente é um trabalho duro, mas a tecnologia está se tornando tão boa que dentro de alguns anos as ondas gravitacionais poderão ser detectadas de fato, quase um século depois de Einstein ter predito que eles existem. E, nós poderemos ter detectores na verdade muito inteligentes, orbitando lá fora no espaço, fazendo essa descoberta. Tudo custa muito dinheiro, não? Seguramente! A astronomia moderna e a astrofísica não são baratas! Nós falamos então sobre dois tipos de buracos negros, o super volumoso e o normal. Eu também falei brevemente em como poderiam ser descobertos buracos negros. E quanto ao terceiro tipo? Estes às vezes são chamados de mini buracos negros e são inacreditavelmente pequenos. Como assim pequenos? Oh é difícil dizer, mas só para lhe dar uma idéia eu diria tão pequeno quanto um elétron, o que significa realmente pequeno! Por que os físicos propuseram a idéia de ultra pequenos buracos negros? Porque eles acreditam que isso pode ter acontecido quando o Universo era muito minúsculo, quer dizer, em seguida ao nascimento, muitos desses tais mini buracos negros poderiam ter se formado. Eles não param aqui com tal especulação. Eles dizem: “Escute, nós podemos de fato criar tais mini buracos negros no laboratório!” E assim, nós estamos agora nos movendo do estudo de objetos astronômicos chamados buracos negros ao estudo do que poderiam ser chamados de buracos negros produzidos em laboratório! Como se produz tais mini buracos negros em laboratório? Não é fácil, e até agora, há um só laboratório no mundo onde isto poderia O CERN em Genebra ser feito. E isso é o CERN em Genebra onde, enterrado no chão, há um enorme acelerador de partículas com uma circunferência de 25 a 30 km! Nele os elétrons zumbem, circulando quase à velocidade da luz, cruzando no processo um limite internacional entre a Suíça e a França! Eles fazem isto milhões de vezes por segundo. Enquanto elétrons vão circulando e circulando, anti-elétrons e positrons giram do mesmo modo, mas na direção oposta. Naturalmente que às vezes eles colidem e quando isso acontece, todos os tipos de coisas excitantes acontecem, as quais os físicos estudam com grande interesse. Foram descobertas coisas surpreendentes com esse processo, sobre o que eu falarei algo depois. Aqui eu desejo dizer só isto. 15 Atualmente, este acelerador monstruoso em Genebra está sendo atualizado de forma que em vez de elétrons e anti-elétrons, haverá prótons e antiprótons circulando. Os prótons são muito, muito mais pesados, comparados a elétrons e quando eles colidirem, fatos ainda não vistos, mas especulados, espera-se que aconteçam. Especula-se que alguns destes processos possam produzir mini buracos negros. Porém, eles teriam vida extremamente curta, mas os físicos os pegariam rapidamente, antes de eles desaparecerem! E, acrediteme, os físicos são inteligentes o bastante para fazê-lo! Tudo isso o deixa atordoado? Eu não me surpreenderia! Você sabe, se você pensar calmamente nisto tudo, há duas coisas maravilhosas e também um aspecto mais enigmático. O maravilhoso fato número um são os desafiantes e surpreendentes mistérios com que Deus dotou o Universo O fato surpreendente número dois é que o homem está podendo desvendar tantos deles. E no caso da astronomia e astrofísica, ele pôde fazer isto sem deixar a terra! Pode ser que ultimamente alguns instrumentos tenham sido colocados no espaço, mas muito da observação foi feita da terra e claro que todo o pensamento foi completamente produzido na terra. Isso mostra as faculdades surpreendentes com Deus abençoou o homem. No Baghavad Gita, particularmente no décimo capitulo, Krishna dá um vislumbre das muitas bênçãos que Ele graciosamente conferiu ao homem. Mas o homem hoje tem se distanciado para tão longe de Deus que começou até mesmo a duvidar da existência do Criador. Este é o aspecto enigmático a que eu me referi anteriormente.. Eu espero que tudo isso faça você pensar sobre o que exatamente é o Infinito e por onde devemos tentar compreendê-Lo! Boa Sorte com sua própria indagação pessoal. A todos o melhor, até que nós possamos estar juntos novamente. Om Sai Ram. A HISTÓRIA DA LUZ SE CURVANDO Essa história famosa começou com uma carta escrita por Einstein ao Prof. Hale do famoso observatório de Monte Wilson na Califórnia. A carta era assim: Zurique, 14 de Outubro de 1913, Colega altamente honrado, Uma consideração teórica simples faz plausível assumir que raios de luz possam se curvar em um campo gravitacional. 16 À extremidade do Sol, o desvio total deveria ser 0.84 arcseconds, e deveria cair como 1/R (R sendo a menor distância do centro do Sol). Seria então do maior interesse saber quão perto do Sol estrelas fixas poderiam ser vistas na luz do dia com a ampliação mais forte. A conselho de meu colega, Professor [ Julius] Maurer, eu lhe peço então que me informe o que você—com a sua rica experiência nessas coisas— considere ser realizável com os melhores instrumentos modernos. Seu muito respeitosamente, A. Einstein Na ocasião em que Einstein escreveu esta carta, sua formulação da teoria geral da relatividade não estava completa; como resultado, a estimativa que Einstein deu do encurvamento da luz foi metade do que foi constatado depois. Seguindo com a história, Hale escreveu de volta para dizer que embota o encurvamento estivesse lá todo o tempo, durante um dia normal não poderia ser visto porque o Sol é muito luminoso para permitir isso. Porém, disse Hale, tal efeito poderia ser talvez observável na hora de um eclipse solar total. O resto da história: uma equipe alemã teve a intenção de medir o efeito na Rússia, durante um eclipse em 1914. Mas a erupção da guerra interveio. De certo modo, isso foi afortunado, porque a equipe teria comparado a medida com a primeira predição de Einstein, predição incorreta. Em 1914 aconteceu um eclipse solar total na parte oriental da Europa. Alguns astrônomos alemães planejaram usar aquela oportunidade, mas faltaram os fundos. Eles tentaram a difícil tarefa de conseguir o dinheiro. Einstein era tão interessado na experiência que contribuiu um pouco, entretanto ele quase não podia dispor de nada. De qualquer maneira, os astrônomos viajaram a um local em Kiev na Ucrânia, considerado favorável para ver o eclipse que aconteceria no dia 21 de agosto. Infelizmente a história interveio: no dia 01 de agosto de 1914 a Alemanha declarou guerra à Rússia e os astrônomos alemães foram feitos prisioneiros. As forças russas expulsaram os cientistas mais velhos e seguraram os mais jovens como prisioneiros de guerra. Alguns americanos que tinham se unido à equipe alemã tiveram autorização para observar o eclipse, mas infelizmente no dia do eclipse o céu estava nublado e esse foi o fim desta estória! No ano seguinte, na plenitude da Primeira Guerra Mundial, Einstein publicou a sua Teoria Geral da Relatividade. E Eddington a leu na Inglaterra. Olhe a ironia disto. Aqui estava Einstein, um alemão publicando uma teoria, e Eddington, um inglês, a lendo. A política separava a Alemanha e a Inglaterra, quer dizer, eles eram inimigos, seus paises lutavam um contra o outro na Primeira Guerra Mundial. Mas ciência unia estes dois cientistas; 17 mais, Einstein e Eddington eram pacifistas e recusaram-se a se alistar como soldados! Eddington imediatamente captou a importância da teoria de Einstein; ele seria um grande adepto dessa teoria. Um eclipse solar total estava previsto em 1919 e sob as instâncias de Eddington, o astrônomo Real Britânico, Frank Dyson, começou os planos para as observações. O eclipse de 29 de maio de 1919 começaria perto da fronteira entre o Chile e Peru, atravessaria a América do Sul, cruzaria o Oceano Atlântico e desceria pela África central formando um arco. A Inglaterra enviou duas expedições, uma delas encabeçada pelo próprio Eddington e outra encabeçada por Dyson. Enquanto Eddington foi para a minúscula ilha de Príncipe, aconchegada no Golfo da Guiné, África, Dyson foi observar o eclipse de Sobral, no Brasil oriental. O grupo de Eddington chegou a Príncipe no final de abril e, entre o calor e a chuva viram-se debaixo de tal ataque de insetos que precisaram trabalhar debaixo de mosquiteiros a maior parte do tempo. A chuva piorava conforme maio avançava e o dia do eclipse começou com uma tremenda tempestade. A chuva foi parando à medida que o dia avançava, mas a fase total do eclipse 18 começaria às 2:15 da tarde e duraria somente 11 minutos. Eddington escreveu: Aproximadamente as 13.30, quando a fase parcial estava bem avançada, nós começamos a ter vislumbres do Sol, as 1.55 nós podíamos ver o crescente (através das nuvens) quase continuamente e grandes pedaços do céu apareciam limpos. Nós tivemos que levar a cabo nosso programa de fotografias com fé. Eu não vi o eclipse, exceto por um vislumbre para estar certo de já ter começado, pois estava muito ocupado com as fotos... Nós tiramos 16 fotos... trombeteou o numero de 7 de Novembro do Times de Londres. “Nova Teoria do Universo. Idéias de Newton Subvertidas.” Jornais na América também destacaram as notícias, e imediatamente, Einstein tornou-se uma celebridade mundial, desfrutando uma fama de rock star! É justo dizer que nenhum cientista capturou desde então até este ponto a imaginação pública, exceto Stephen Hawking talvez, quem em recentes anos alcançou fama semelhante. Mas, lembre-se, Einstein recebeu tudo aquilo em 1919, antes do advento de TELEVISÃO, internet, etc.. Sem dúvida uma experiência de roer as unhas! De qualquer maneira, para encurtar a história, Dyson fez as observações também no Brasil e o seu time teve problemas. Ambas as equipes voltaram e se debruçaram sobre as fotografias fazendo verificações e cruzamentos. Finalmente, tudo Físico Teórico Britânico Stephen parecia estar OK. Einstein Hawking estava 100% correto. Os resultados das observações nos eclipses confirmavam completamente as predições de Einstein. No dia 6 de novembro, Dyson leu em voz alta os resultados do eclipse em uma sessão rara da Sociedade Real e da Sociedade Astronômica Real, juntas. O presidente da Sociedade Real e o descobridor do elétron, J. J. Thomson, chamou a teoria de Einstein, em uma citação que correu ao redor do mundo, “um dos mais momentosos, se não o mais momentoso pronunciamento do pensamento humano.” “REVOLUÇÃO NA CIÊNCIA,” propósito, quando Eddington e Einstein estavam fazendo história, i.e., no ano de 1919, Chandra era ainda uma mera criança de nove anos! Depois, quinze anos mais velho ele colidiu com Eddington que era na realidade o seu herói. Essa história você já ouviu antes! Om Sai Ram