Aula 20: Métodos de Resposta em Freqüência: Gráficos Polares. Gráficos do logmódulo versus fase. 3. GRÁFICOS POLARES O gráfico polar de uma função de transferência senoidal G ( jω ) é um gráfico do módulo de G ( jω ) versus o ângulo de fase de G ( jω ) em coordenadas polares, conforme ω é variado desde zero até infinito. Portanto, o gráfico polar é o lugar dos vetores G ( jω ) ∠G ( jω ) conforme ω varia de zero a infinito. Observe que, em gráficos polares, um ângulo de fase positivo (negativo) é medido no sentido anti-horário (horário) em relação ao eixo real positivo. O gráfico polar é muitas vezes denominado gráfico de Nyquist. Um exemplo deste tipo de gráfico é indicado na Fig. 21. Cada ponto no gráfico polar de G ( jω ) representa o ponto terminal de um vetor, para um particular valor de ω . No gráfico polar é importante indicar a graduação em freqüência do lugar geométrico. As projeções de G ( jω ) sobre os eixos real e imaginário correspondem às suas componentes real e imaginária. Tanto o módulo, G ( jω ) , como o ângulo de fase, ∠G ( jω ) , devem ser calculados diretamente para cada freqüência ω na construção dos gráficos polares. Como o gráfico logarítmico é fácil de construir, entretanto, os dados necessários para a construção do gráfico polar podem ser obtidos diretamente do gráfico logarítmico, se este último for desenhado inicialmente e os decibéis forem convertidos em módulos comuns pelo uso da Fig. 6. Fig. 21 – Gráfico Polar. Para dois sistemas ligados em cascata, a função de transferência global da combinação, na ausência de efeitos de carga, é o produto das duas funções de transferência individuais. Se for necessária a multiplicação de duas funções de transferência senoidais, isto pode ser realizado multiplicando-se, para cada freqüência, as funções de transferências 143 senoidais individuais por meio da multiplicação de álgebra-complexa. Isto é, se G ( jω ) = G1 ( jω )G2 ( jω ) , então G ( jω ) = G ( jω ) ∠G 2 ( jω ) , onde G ( jω ) = G1 ( jω ) G2 ( jω ) e ∠G ( jω ) = ∠G1 ( jω ) + ∠G2 ( jω ) . O produto de G1 ( jω ) e G2 ( jω ) é indicado na Fig. 22. Em geral, se for desejado um gráfico polar de G1 ( jω )G2 ( jω ) , é conveniente desenhar primeiro um gráfico logarítmico de G1 ( jω )G2 ( jω ) e então converter em um gráfico polar ao invés de desenhar os gráficos polares de G1 ( jω ) e G2 ( jω ) e multiplicar estes dois no plano complexo para obter um gráfico polar de G1 ( jω )G2 ( jω ) . Uma vantagem no uso do gráfico polar é que ele mostra as características de resposta em freqüência de um sistema, em toda a faixa de freqüência, em um único gráfico. Uma desvantagem é que o gráfico não indica claramente as contribuições de malha-aberta. Fig. 22 – Gráficos Polares de G1 ( jω ) , G2 ( jω ) e G1 ( jω )G2 ( jω ) . Fatores integral e derivativo ( jω ) 1 O gráfico polar de G ( jω ) = 1 / jω é o eixo imaginário negativo, uma vez que 144 G ( jω ) = 1 1 1 = − j = ∠ − 90 o . ω ω jω O gráfico polar de G ( jω ) = jω é o eixo imaginário positivo. Fatores de primeira-ordem (1 + jωτ ) 1 Para a função de transferência senoidal G ( jω ) = 1 1 = ∠ − tan −1ωτ , 2 2 1 + jωτ 1+ω τ os valores de G ( jω ) em ω = 0 e ω = 1 / τ são, respectivamente, G ( j 0) = 1∠0 o e 1 1 G j = ∠ − 45 o . 2 τ Se ω tende a infinito, o módulo de G ( jω ) tende a zero e o ângulo de fase tende a – 90 . O gráfico polar desta função de transferência é uma semicircunferência1 conforme a freqüência ω varia desde zero até infinito, conforme a Fig. 23(a). O centro está localizado no ponto 0,5 sobre o eixo real e o raio é igual a 0,5. Para demonstrar que o gráfico polar é uma semicircunferência, definimos o G ( jω ) = X + jY , onde 1 = parte real de G ( jω ) 1 + ω 2τ 2 − ωτ Y= = parte imaginária de G ( jω ) 1 + ω 2τ 2 X = Então, obtemos 1 1 − ω 2τ 2 − ωτ 1 1 2 + + = X − Y = . 2 2 2 2 2 2 1+ ω τ 1+ ω τ 2 2 2 1 N. do T.: No texto original em inglês, o autor refere-se a este lugar geométrico como um círculo em todo o texto, porém, criteriosamente, deveria considerar apenas a circunferência. Conseqüentemente, utilizaremos nesta tradução a designação deste lugar geométrico por circunferência. 145 Fig. 23 – (a) Gráfico polar de 1 / (1 + jωτ ) ; (b) Gráfico de G ( jω ) no plano X-Y. Portanto, no plano X-Y, G ( jω ) é uma circunferência com centro em X = 1/2, Y = 0 e com raio 1/2, conforme indicado na Fig. 23(b). A semicircunferência inferior corresponde a 0 ≤ ω ≤ ∞ e a semicircunferência superior corresponde a − ∞ ≤ ω ≤ 0 . O gráfico polar da função de transferência 1 + jωτ é simplesmente a metade superior da reta passando pelo ponto (1, 0) no plano complexo e paralela ao eixo imaginário conforme a Fig. 24.2 O gráfico polar de 1 + jωτ possui uma aparência completamente diferente daquela de 1 / (1 + jωτ ) . Fig. 24 - Gráfico polar de 1 + jωτ . [ Fatores quadráticos 1 + 2ζ ( jω / ω n ) + ( jω / ω n ) ] 2 1 As partes de baixa-freqüência e alta-freqüência do gráfico polar para a seguinte função de transferência senoidal G ( jω ) = (ζ 1 ω ω + j 1 + 2ζ j ωn ωn 2 > 0) , são dadas, respectivamente, por lim G ( jω ) = 1∠0 o ω →0 2 e N. do T. O autor está considerando apenas lim G ( jω ) = 0∠ − 180 o . ω →∞ ω ≥0. 146 O gráfico polar desta função de transferência senoidal tem início em 1∠0 o e termina em 0∠ − 180 o conforme ω aumenta desde zero até infinito. Portanto, a parte de alta-freqüência de G ( jω ) é tangente ao eixo real negativo. Os valores de G ( jω ) no intervalo de freqüência de interesse podem ser calculados diretamente ou usando-se o gráfico logarítmico. Exemplos de gráficos polares da função de transferência considerada são indicados na Fig. 25. A forma exata de um gráfico polar depende do valor da relação de amortecimento, ζ , porém, a forma geral do gráfico é a mesma tanto para o caso subamortecido (1 > ζ > 0) como para o caso superamortecido (ζ > 1) . Fig. 25 – Gráficos polares de 1 ω ω + j 1 + 2ζ j ωn ωn 2 , (ζ > 0) . Para o caso subamortecido em ω = ω n , tem-se que G ( jω n ) = 1 / ( j 2ζ ) e o ângulo de fase em ω = ω n é –90o. Além disso, pode ser observado que a freqüência na qual o lugar geométrico de G ( jω ) intercepta o eixo imaginário é a freqüência natural não amortecida, ω n . No gráfico polar, o ponto de freqüência cuja distância à origem é máxima, corresponde à freqüência de ressonância ω r . O valor de pico de G ( jω ) é obtido pela relação entre o módulo do vetor na freqüência de ressonância ω r e o módulo do vetor em ω = 0 . A freqüência de ressonância ω r é indicada no gráfico polar mostrado na Fig. 26. Para o caso superamortecido, conforme ζ aumenta bem além da unidade, o lugar geométrico de G ( jω ) aproxima-se de uma semicircunferência. Isto pode ser observado pelo fato de que para um sistema muito amortecido as raízes características são reais e uma delas é muito menor que a outra. Desde que para ζ suficientemente grande o efeito da raiz muito maior na resposta resulta muito pequeno, o sistema comporta-se como de primeira ordem. 147 Fig. 26 – Gráfico polar mostrando o pico de ressonância e freqüência de ressonância ω r . Para a função de transferência senoidal ω ω + j G ( jω ) = 1 + 2ζ j ω ω n n 2 ω 2ζω , = 1 − 2 + j ωn ωn 2 a parte em baixa freqüência da curva é lim G ( jω ) = 1∠0 o ω →0 e parte em alta freqüência é lim G ( jω ) = 0∠ − 180 o . ω →∞ Desde que a parte imaginária de G ( jω ) é positiva para ω > 0 e monotonicamente crescente e a parte real de G ( jω ) é monotonicamente decrescente da unidade, a forma geral do gráfico polar de G ( jω ) é conforme indicada na Fig. 27. O ângulo de fase está entre 0o e 180o. 2 ω ω + j , (ζ > 0) . Fig. 27 - Gráfico polar de 1 + 2ζ j ωn ωn _________________ Exemplo 4 Considere a seguinte função de transferência de segunda-ordem: 148 G (s ) = 1 . s (τs + 1) Esboce um gráfico polar desta função de transferência. Uma vez que a função de transferência senoidal pode ser escrita G ( jω ) = 1 jω (1 + jωτ ) 1 τ =− −j , 2 2 1+ ω τ ω (1 + ω 2τ 2 ) a parte em baixa freqüência do gráfico polar torna-se lim G ( jω ) = −τ − j∞ = ∞∠ − 90 o , ω →0 e parte em alta freqüência torna-se lim G ( jω ) = 0 − j 0 = 0∠ − 180 o . ω →∞ A forma geral do gráfico polar de G ( jω ) é indicada na Fig. 28. O gráfico de G ( jω ) é assintótico para a reta vertical passando pelo ponto (− τ ,0) . Desde que a esta função de transferência envolve a integração (1/s), a forma geral do gráfico polar difere substancialmente daquelas correspondentes a funções de transferência de segunda ordem que não possuem a integração. Fig. 28 - Gráfico polar de 1 / [ jω (1 + jωτ )] . Atraso de transporte O atraso de transporte G ( jω ) = e − jωτ pode ser escrito 149 G (ωτ ) = 1∠(cosωτ − jsenωτ ) . Desde que o módulo de G ( jω ) é sempre unitário e o ângulo de fase varia linearmente com ω , o gráfico polar do atraso de transporte é uma circunferência unitária, conforme indicada na Fig. 29. Fig. 29 - Gráfico polar do atraso de transporte. Em baixas freqüências o atraso de transporte e − jωτ e o atraso de primeira ordem 1 / (1 + jωτ ) se comportam similarmente, conforme é mostrado na Fig. 30. Os gráficos polares de e − jωτ e 1 / (1 + jωτ ) são tangentes entre si na freqüência ω = 0 . Esse resultado pode ser comprovado pelo fato de que, para ω << 1 / τ , e − jωτ ≅ 1 − jωτ e 1 ≅ 1 − jωτ . 1 + jωτ Para ω >> 1 / τ , entretanto, existe uma diferença essencial entre e − jωτ 1 / (1 + jωτ ) , como pode ser visto na Fig. 30. Fig. 30 - Gráficos polares de e − jωτ e 1 / (1 + jωτ ) . _________________ Exemplo 5 Obtenha o gráfico polar da seguinte função de transferência G ( jω ) = e − jωL 1 + jωτ 150 e Desde que G ( jω ) pode ser escrita G ( jω ) = e − jωL 1 , 1 + jωτ o módulo e o ângulo de fase são, respectivamente, G ( j ω ) = e − j ωL 1 1 = , 1 + jωτ 1 + ω 2τ 2 e ∠G ( jω ) = ∠e − jωL + ∠ 1 = −ωL − tan −1ωτ . 1 + jωτ Uma vez que o módulo diminui monotonicamente desde a unidade e o ângulo de fase também diminui monotônica e indefinidamente, o gráfico polar da função de transferência em estudo é uma espiral, conforme indicado na Fig. 31. Fig. 31 - Gráfico polar de e − jωL / (1 + jωτ ) . Formas gerais de gráficos polares Os gráficos polares de uma função de transferência da forma G ( jω ) = K (1 + jωτ a )(1 + jωτ b ) ( jω )λ (1 + jωτ 1 )(1 + jωτ 2 ) m m −1 b0 ( jω ) + b1 ( jω ) + = , n n −1 a0 ( jω ) + a1 ( jω ) + onde o grau do polinômio do denominador é maior do que o grau do polinômio do numerador, apresentarão as seguintes formas gerais: 151 1. Para λ = 0 ou sistemas tipo 0: O ponto inicial do gráfico polar (que corresponde a ω = 0 ) é finito e está sobre o eixo real positivo. A tangente do gráfico polar em ω = 0 é perpendicular ao eixo real. O ponto final, que corresponde a ω = ∞ , corresponde à origem, e a curva é tangente a um dos eixos. 2. Para λ = 1 ou sistemas tipo 1: O termo jω no denominador contribui com 90o para o ângulo de fase total de G ( jω ) para 0 ≤ ω ≤ ∞ . Em ω = 0 , o módulo de G ( jω ) é infinito, e o ângulo de fase resulta -90o. Em baixas freqüências, o gráfico polar é assintótico a uma reta paralela ao eixo imaginário negativo. Em ω = ∞ , o módulo toma-se nulo e a curva converge para a origem e é tangente a um dos eixos. 2 3. Para λ = 2 ou sistemas tipo 2: O termo ( jω ) no denominador contribui com -180o para o ângulo de fase total de G ( jω ) para 0 ≤ ω ≤ ∞ . Em ω = 0 , o módulo de G ( jω ) é infinito, e o ângulo de fase é igual a -180o. Em baixas freqüências, o gráfico polar é assintótico a uma reta paralela ao eixo real negativo. Em ω = ∞ , o módulo torna-se nulo e a curva é tangente a um dos eixos. Os formatos gerais das partes de baixa-freqüência dos gráficos polares de sistemas tipo 0, tipo 1 e tipo 2 são indicados na Fig. 32. Pode ser visto que, se o grau do polinômio do denominador de G ( jω ) é maior do que o do numerador, então os lugares geométricos de G ( jω ) convergem para a origem no sentido horário. Em ω = ∞ , os lugares geométricos são tangentes a um ou ao outro eixo, conforme indicado na Fig. 33. Fig. 32 - Gráficos polares de sistemas tipo 0, tipo 1 e tipo 2. G ( jω ) = b0 ( jω ) + m a 0 ( jω ) + n Fig. 33 - Gráficos polares na faixa de alta freqüência. 152 Para o caso em que os graus dos polinômios do denominador e do numerador de G ( jω ) são os mesmos, o gráfico polar tem início a uma distância finita sobre o eixo real e termina em um ponto finito sobre o eixo real. Note que quaisquer formas complicadas nas curvas do gráfico polar são causadas pela dinâmica do numerador, isto é, pelas constantes de tempo no numerador da função de transferência. A Fig. 34 fornece exemplos de gráficos polares de funções de transferência com dinâmicas no numerador. Na análise de sistemas de controle, o gráfico polar de G ( jω ) na faixa de freqüência de interesse deve ser precisamente determinado. Fig. 34 - Gráficos polares de funções de transferência com dinâmica no numerador. A Tabela 1 mostra esboços de gráficos polares para algumas funções de transferência. 4. GRÁFICOS DO LOG-MÓDULO VERSUS FASE Uma outra abordagem para retratar graficamente as características de resposta em freqüência é usar o gráfico do log-módulo versus fase, que é um gráfico do logaritmo do módulo em decibéis versus o ângulo de fase, ou margem de fase, para uma faixa de freqüência de interesse (a margem de fase é a diferença entre o ângulo de fase real φ e 180o; isto é, φ − (− 180 o ) = 180 o + φ ). A curva é graduada em termos da freqüência ω . Estes gráficos do log-módulo versus fase são algumas vezes denominados gráficos de Nichols. No diagrama de Bode, as características de resposta em freqüência de G ( jω ) são fornecidas em um papel monolog por meio de duas curvas separadas, a curva do logmódulo e a curva do ângulo de fase, enquanto no gráfico do log-módulo versus fase, as duas curvas do diagrama de Bode são combinadas em apenas uma. O gráfico do logmódulo versus fase pode ser facilmente construído pelos valores obtidos do logaritmo do módulo e do ângulo de fase a partir do diagrama de Bode. Note que no gráfico do logmódulo versus fase, uma variação na constante de ganho de G ( jω ) simplesmente desloca a curva para cima (para ganhos crescentes) ou para baixo (para ganho decrescente), porém a forma da curva permanece a mesma. 153 As vantagens do gráfico do log-módulo versus fase são que a estabilidade relativa do sistema de malha-fechada pode ser determinada rapidamente e que a compensação pode ser realizada com facilidade. Tabela 1 – Gráficos polares de funções de transferência simples Os gráficos do log-módulo versus fase para as funções de transferência senoidais G ( jω ) e 1 / G ( jω ) são anti-simétricos em relação à origem desde que 1 em db = − G ( jω ) em db G ( jω ) e 154 1 = −∠G ( jω ) . G ( jω ) Desde que as características do log-módulo e do ângulo de fase das funções de transferência básicas foram discutidas com detalhes nas Seções 2 e 3, aqui será suficiente fornecer exemplos de alguns gráficos do log-módulo versus fase. A Tabela 2 mostra estes exemplos. ∠ Tabela 2 – Gráficos log-módulo versus fase de funções de transferência simples A Fig. 35 compara as curvas de resposta em freqüência de G ( jω ) = 1 ω ω + j 1 + 2ζ j ωn ωn 2 155 nas três representações diferentes. No gráfico log-módulo versus fase a distância vertical entre os pontos correspondentes a ω = 0 e ω = ω r , onde ω r é a freqüência de ressonância, é o valor de pico de G ( jω ) em decibéis. Fig. 35 – Três representações da resposta em freqüência de 2 1 / 1 + 2ζ ( jω / ω n ) + ( jω / ω n ) , (ζ > 0) . (a) gráfico logarítmico; (b) gráfico polar e (c) gráfico log-módulo versus fase. [ ] 156