9 edição nº Renova Revista da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo DISTRIBUIÇÃO GRATUITA A funkeira MC Gabi ao lado do rapper Ice J Tchau, Vassoura Com o crescimento econômico, mais empregadas domésticas deixam o avental de lado para melhorar de vida PÁGINAS 12 a 14 Funk x Hip Hop Reduto paulistano antes dominado pelo rap, a periferia é invadida pelo som criado nos morros cariocas PÁGINAS 21 a 24 Por Dentro do Habisp Conheça o sistema que serve de bússola para a política habitacional desenvolvida pela Prefeitura PÁGINAS 04 a 06 ÍNDICE RICARDO PEREIRA LEITE DIÁRIO DE OBRAS Ouvi de um amigo que para cada ditado num sentido existe outro no inverso. As pessoas têm visões diferentes, “uns vêem o copo metade cheio, outros, metade vazio”. Isso pode estar relacionado ao senso de oportunidade que as diferentes percepções têm. Como detectou Joseph Schumpeter ou pesquisou Herbert Simon, há distintas capacidades mentais de associação que permitem a uns enxergar caminhos que outros ignoram. Assim, quando ocorrem imprevistos, os empreendedores, sejam dos setores privado, público ou do terceiro setor (ONGs), rapidamente partem para a ação corretiva. Empreendedores são importantes, portanto. Na Sehab, há muitos empreendedores, ou melhor, conforme precisou Pinchot, “intraempreendedores” públicos, empreendedores internos motivados pela realização profissional e social. Uma gestão pública eficiente deve ser capaz de improvisar diante de imprevistos, mas também tem o dever de planejar a longo prazo. Em 2011, a Prefeitura encaminhou à Câmara o Plano Municipal da Habitação, elaborado durante cinco anos, em que se propõe, a partir de um profundo diagnóstico, soluções para os inúmeros problemas gerados ao longo de décadas. Estamos “trocando o pneu com o carro em movimento”, pois as carências são muitas e não há como esperar. Por vezes, surgem imprevistos, como o incêndio da Favela do Moinho. Mas os servidores da Sehab nunca esmorecem; ao contrário, veem o problema como desafio. Discursos demagógicos, comuns em ocasiões como essa, não constroem as soluções necessárias. Podem atrair audiência, mas, como disse Tolstói, “o ser humano é capaz de enganar os outros, mas não a si próprio”. Ricardo Pereira Leite é secretário municipal de Habitação Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 2 Delzy Magalhães HABITAÇÃO 4 – Entenda como funciona o Habisp 7 –Paraisópolis recebe Jornada da Habitação Gabriela Araújo 8 – Prefeitura termina unidades no Comandante Taylor 9 – Mapa das obras na cidade 10 – Sehab faz obras de contenção no Jardim dos Palmares 11 – Mais uma frente de obras é aberta no Aricanduva EMPREGOS & FINANÇAS 12 – Domésticas mudam de profissão com crescimento da economia CONSTRUÇÃO & DECORAÇÃO 15 – Deixe sua casa segura contra acidentes 18 – Saiba escolher o sofá ideal para o lar 20 – Pergunte ao Arquiteto e Passo a Passo CULTURA & LAZER 21 – Na periferia, funk ocupa o espaço antes da dominado pelo rap 25 – ONG de Paraisópolis ensina crianças e adolescentes a bailar 26 – Minha Receita – Feijão tropeiro com carne seca 27 – Meu Bairro, Minha História – Antonia França, do Jd. São Francisco 28 – Retrato Foto de capa: Newton Santos EXPEDIENTE a r g o 3 – OPINIÃO E CARTAS i Empreendedores da habitação t RENOVA SP Prefeito do Município de São Paulo: Gilberto Kassab Secretário Municipal de Habitação: Ricardo Pereira Leite Secretário Municipal de Comunicação: Marcus Vinicius Sinval Superintendente de Habitação Popular: Elisabete França Diretora Comercial e Social da Cohab-SP: Ângela Barbon Conselho Editorial: Ricardo Montoro (presidente), Alonso López, Ana Lúcia Callari Sartoretto, Ângela Barbon, Carlos Alberto Pellarim, Elisabete França, Felinto Cunha, Luiz Henrique Girardi, Luiz Henrique Tibiriçá Ramos, Marcel Costa Sanches, Márcia Maria Fartos Terlizzi, Maria Cecília Sampaio Freire Nammur, Maria Teresa Diniz, Nancy Cavallete da Silva, Nelci Alves da Silva Valério, Ricardo Sampaio, Tereza Beatriz Herling, Vanessa Padiá e Violêta Saldanha Kubrusly Coordenadoria de Imprensa do Município: Emerson Figueiredo Coordenador de Imprensa da Secretaria Municipal de Habitação: Sérgio Duran (jornalista responsável, MTB: 24.043) Editor: Fernando Cassaro Repórteres: Débora Yuri e Marcos Palhares Fotógrafos: Hype Fotografia Projeto Gráfico e Diagramação: André Bunduki/DinBrasil Impressão e Acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Renova SP é uma publicação mensal da Secretaria Municipal de Habitação produzida pela DS Comunicação/Popcom Assessoria de Comunicação e Imprensa. Tiragem: 100 mil exemplares. Distribuição Gratuita ARTIGO RICARDO MONTORO O novo batidão da periferia Sob uma análise acurada, funk e rap perdem de longe do samba em qualidade musical, mas esta é outra história. Uma coisa é certa: todo e qualquer movimento cultural começa na periferia e acaba tomando a cidade inteira. Por isso, é bom que todos se acostumem ao batidão, porque logo estará em todas as rádios. ARTE: André Bunduki Quando fui secretário municipal de Participação e Parceria, pude conferir de perto o que retrata a reportagem de capa desta edição da Renova SP: o meio cultural jovem da periferia é um caldeirão fervilhante de novidades. A mais nova é a invasão do funk, que começa a roubar a cena do rap, gênero tradicional nas “quebradas”, como se diz, e que nos presenteou com grandes artistas como os integrantes dos Racionais. Há críticas contra a invasão funkeira, claro. Dizem que não tem nada a ver os paulistanos importarem a moda carioca, coisa e tal. A bem da verdade, nem o rap é daqui, veio dos Estados Unidos. Na minha época, o morro era feito de samba, de samba pra gente sambar. Um dos argumentos usados pelos entrevistados é o de que o rap não traduz a sensualidade brasileira, não fala de sexo, nada, como bem faz o samba e o funk. Em vez disso, investe em conscientização social. Ricardo Montoro é vice-presidente da Cohab-SP C A R T “Tenho cadastro na Cohab-SP há 5 anos. Recentemente, recebi um e-mail sobre um empreendimento, dizendo que era uma oportunidade para a compra da casa própria. Fiquei confusa. Essa é uma forma verídica de contato?” – Daniela Reis Estrela O anúncio que a senhora recebeu faz parte do Programa Imobiliária Social. Ele tem a chancela RECLAM AQUI E A S da Secretaria Municipal de Habitação. Mais informações sobre o programa estão disponíveis no site da Cohab-SP: www.cohab.sp.gov.br “O barranco atrás da minha casa já desmoronou algumas vezes. A Prefeitura diz que é área particular e nada pode fazer. Preocupada, levantei a hipótese de que havia tubulações clandestinas despejando esgoto dentro do barranco. O que faço?” – Ligia Neaime Em casos como esse, em que há uma área de risco, o morador deve Para tirar dúvidas, reclamar ou fazer sugestões, entre em contato com a Renova SP pelo e-mail: [email protected] procurar a Subprefeitura mais próxima de sua casa. “Minha tia se inscreveu na Cohab-SP em 2009. Até hoje, ela aguarda ser chamada para ocupar um apartamento.” – Matheus Sales Nascimento As inscrições da Cohab-SP estão em análise. Assim que um imóvel que se adeque ao perfil do cadastro de sua tia estiver disponível, ela será informada pela própria Cohab-SP. Caso necessite de mais informações, escreva para [email protected]. TELEFONES ÚTEIS Central de atendimento da Prefeitura – 156 Central da Habitação – 3396-8989 A Renova SP se reserva ao direito de publicar apenas trechos das cartas. Informe nome completo, idade, bairro e profissão Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 3 HABITAÇÃO POLÍTICA HABITACIONAL FOTO: Newton Santos Informática a serviço do bem Sistema Habisp, desenvolvido pela Sehab, levanta dados das favelas paulistanas e aponta áreas prioritárias Euridan Costa, do Habisp, entrevista moradora do Cinco de Julho Para saber exatamente quantas favelas existem em São Paulo, a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) desenvolveu uma maneira para identificar todos os espaços ocupados informalmente. É devido a esse sistema, chamado de Habisp, que a Sehab consegue saber quantos loteamentos informais existem na cidade. Mas o Habisp não é apenas um instrumento para contagem. Ele também aponta quais áreas são mais carentes, com base em critérios socioeconômicos. A partir desses dados, a Prefeitura tem subsídios para orientar quais os projetos e obras mais urgentes para a cidade – e os investimentos são priorizados. “O Habisp é a base para a tomada de decisões. Elencamos os critérios de infraestrutura, de vulnerabilidade social, de risco de solapamento e escorregamento, e de saúde”, explica a coordenadora do sistema Habisp, Eliene Coelho. O Habisp começou a ser desenvolvido em 2005. A ideia central era a de que ele servisse como subsídio para a elaboração do Plano Municipal de Habitação (PMH). “Até Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 4 aquela época, as equipes técnicas tinham bastante dificuldade em determinar quais eram as prioridades”, conta Eliene. “Foi feito um grande trabalho de atualização de dados. Equipes foram a campo todos os dias, visitando todas as favelas e loteamentos. Levantaram quais eram, quantos imóveis tinham, quais as condições de infraestrutura de cada uma, quais as lideranças locais”, acrescenta. Com isso, já em 2007, a Sehab passou a ter um panorama completo sobre os assentamentos. Pelos dados mais recentes, o Habisp contabiliza 1.615 favelas na cidade, com 381.151 moradias. Porém, a coleta contínua de informações gera novos indicadores de condições de ocupação e infraestrutura, além de avaliar outros tipos de áreas, como loteamentos irregulares, cortiços e regiões já urbanizadas que necessitam de regularização fundiária. Assim, o Habisp segue com a base de dados atualizada e acompanha todos os problemas até serem solucionados. MARCOS PALHARES Trabalho de pesquisa e identificação é o segredo do Habisp Catalogar de forma sistemática os dados descobertos pelas equipes de campo é uma das tarefas que torna o Habisp uma ferramenta segura para ajudar a guiar a política habitacional da cidade. E esse trabalho começa nas comunidades visitadas. “Primeiro, fazemos um mapa do local que iremos. Com isso, vamos para a área e identificamos cada imóvel”, explica um dos coordenadores da equipe de pesquisa do Habisp, José Carlos Lima. “Colamos um selo em cada imóvel, com o nome da área visitada, de qual setor pertence e o lote onde está.” Depois desse processo, chamado de selagem, é produzido um mapa, no qual cada moradia está localizada. “Esse mapa vai ligar cada cadastro de família a cada imóvel”, diz Lima. Por isso, após a selagem, a comunidade recebe a visita da equipe de cadastro. Cada família entrevistada fornece dados básicos, como números de documentos, e informações socioeconômicas. “Perguntamos sobre as condições do imóvel, o tempo de moradia, se elas já foram atendidas por algum programa de governo”, detalha outra coordenadora da equipe de pesquisa, Mercedes Dias. Em seguida, é feita uma análise da composição familiar. Ela serve para definir em quais casos o atendimento deve ser priorizado. Esse trabalho leva em conta a renda mensal, o fato de ter mulher chefe de família, idosos, crianças em idade escolar ou portadores de necessidades especiais, por exemplo. “Fizemos um programa de normatização dos cadastros, o que facilitou o entendimento. Além disso, podemos diversificar os tipos de cadastro: tem o inicial, o que é feito para as frentes de obras, para remoção de famílias e para organização, entre outros”, completa Mercedes. Consulte as informações pela Internet Parte dos dados coletados pelo Habisp está disponível para a população. Basta acessar a página www.habisp.inf.br e clicar na aba “mapa”. Confira algumas informações que você pode encontrar: O ícone “Ortofoto” oferece opções para a configuração do mapa: imagem fotográfica, de relevo, das divisões por área ou de satélite. Já a barra “Cartogafia” configura a visualização como mapa tradicional ou fotografia. Na lateral, há opções para mover o mapa, dar zoom na área selecionada ou voltar ao zoom inicial (por coordenadas ou por escala). O quadrinho “Camadas Atuais” permite escolher a visualização de cortiços, núcleos ou favelas. Na barra “Digite Para Pesquisar”, você põe o nome de uma localidade e acessa opções para pesquisa referentes à palavra digitada. Na barra “Todos”, é possível localizar os ajojamentos, cortiços, favelas, loteamentos, núcleos ou o sistema viário. O primeiro quadro lateral é restrito aos funcionários da Prefeitura. Nos outros, é possível medir distâncias, selecionar locais com círculos ou polígonos, imprimir, fazer download ou obter uma imagem mais detalhada. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 5 Moradora há 23 anos da comunidade Cinco de Julho, na região de São Mateus (Zona Leste), a cabeleireira Delzy Pinheiro Magalhães, de 51 anos, é uma líder informal muito respeitada. Ela ajudou os técnicos do Habisp quando, em 2011, eles foram ao local para identificar os imóveis e cadastrar as famílias. O trabalho foi um dos primeiros passos para a Prefeitura começar as obras de urbanização, que já estão sendo tocadas na área (leia reportagem na página 11). “Desde que moro aqui, esse foi o melhor trabalho que a Prefeitura já fez. Eles são muito educados, não chegam invadindo nem ofendendo ninguém. Todo mundo está gostando”, garante Fia, como é conhecida. Todo trabalho de pesquisa é coordenado pelos técnicos e pelas associações de bairro. “Os moradores já são avisados antes pela liderança, que explica o que vamos fazer. Quando chegamos, eles nos recebem muito bem”, conta o coordenador da equipe de selagem do Habisp, Euridan Ferreira da Costa. No Cinco de Julho, um dos imóveis FOTO: Newton Santos ‘Esse foi o melhor trabalho que já fizeram’ “Funcionários da Prefeitura são muito educados”, diz Delzy Magalhães visitados foi o da catadora de material reciclável Fátima Regina dos Santos, de 52 anos. Depois de selada sua casa, ela respondeu o cadastro familiar. “Foi tudo bem. Eles conversaram bastante comigo, perguntaram sobre o meu trabalho, sobre o espaço da casa, se eu já estou recebendo algum apoio da Prefeitura”, afirma Fátima. “Com a urbanização, tudo está melhorando.” Sistema atrai interesse de outros municípios, estados e países Os resultados alcançados pelo Habisp são tão significativos que já chamaram a atenção de outras administrações públicas. No início, o sistema foi desenvolvido em conjunto com a Aliança de Cidades, entidade que faz parcerias na área de Habitação de Interesse Social e urbanização de favelas e assentamentos precários. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 6 “A gente tinha um termo de cooperação de assistência técnica, e a contrapartida da Sehab era a elaboração de um sistema de informações. Como foi uma experiência bem sucedida, a Aliança de Cidades passou a divulgá-lo, o que levantou o interesse de vários municípios”, diz a coordenadora do Habisp, Eliene Coelho. Em 2011, a Sehab fechou um termo de cooperação técnica com o município de São Bernardo do Campo, que já está utilizando o Habisp. “Também houve interesse do Ministério das Cidades e do governo do Rio de Janeiro. Apresentamos, também, o sistema para delegações da Índia e da África do Sul, que elogiaram muito”, revela Eliene. FOTO: Newton Santos ‘A favela é uma comunidade válida’ Moradores curtem a Jornada na comunidade Seguindo a Jornada Durante dois dias, moradores de Paraisópolis mostraram suas atividades culturais e esportivas e debateram seu projeto de urbanização Um final de semana ensolarado marcou a segunda etapa da Jornada da Habitação em Paraisópolis, no Morumbi (Zona Sul), nos dias 3 e 4 de março. Centenas de moradores e visitantes foram até a Rua da Independência conferir as palestras, workshops e as dezenas de barracas com produtos artesanais e alimentos, além dos shows musicais, apresentações artísticas e competições esportivas. Promovida pela Secretaria Municipal de Habitação, com curadoria do prestigiado arquiteto italiano Stefano Boeri, a Jornada estimula a troca de experiências entre projetos habitacionais da cidade de São Paulo com seis comunidades de outros países. Paraisópolis dialogou com Dharavi, favela de Mumbai, uma das maiores da Índia, que ficou famosa no mundo inteiro ao servir de locação para o filme “Quem Quer Ser um Milionário?”, de Danny Boyle. “O mais interessante é que a Jornada da Habitação traz um contraponto com outros lugares, outras culturas, com quem podemos aprender”, ressaltou o secretário municipal de Habitação, Ricardo Pereira Leite, que mediou a palestra “O empreendedorismo e a nova economia nos assentamentos informais”. Presente ao debate, o indiano Bhau Korde, uma das lideranças da favela de Dharavi, se encantou com Paraisópolis: “Nossas situações são muito semelhantes. É a mesma gente, é a minha gente. Eu poderia viver aqui”. Outras palestras apresentadas foram “O projeto de urbanização de Paraisópolis”, “Visão comunitária da urbanização” e “O espaço público na preexistência”. Nesta última, a arquiteta Adriana Levisky sintetizou o propósito dos projetos de urbanização conduzidos pela Sehab em São Paulo. “Além das unidades habitacionais, queremos criar espaços de convivência e lazer que estimulem o sentimento de pertencimento, para que a comunidade tenha o desejo de cuidar e permanecer”, disse. MARCOS PALHARES O antropólogo Rahul Srivastava, da organização URBZ, que desenvolve um projeto em Dharavi, classificou a Jornada da Habitação como “uma ocasião histórica”. “A Prefeitura de São Paulo mudou sua política habitacional para mostrar que a favela é uma comunidade válida. É uma nova linguagem: a partir do diálogo com as pessoas, mudou e melhorou suas comunidades.” Essa troca também foi destacada pela superintendente de Habitação Popular, Elisabete França: “Nosso trabalho é um aprendizado constante. Hoje, conseguimos nos reunir e conversar com todas as lideranças locais”. Genilso Ferreira da Silva, líder comunitário do Jardim Colombo, comunidade do Complexo Paraisópolis, completou: “Hoje, as pessoas daqui têm orgulho e encaram o lugar como seu”. PRÓXIMAS PARADAS Cantinho do Céu 24 de março Bamburral 12 de abril Heliópolis 26 e 27 de maio Cortiços do Centro 30 de junho e 1º de julho MAIS INFORMAÇÕES: www.jornadadahabitacao.org Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 7 DIÁRIO DE OBRAS NORTE SUL LESTE SUDESTE CENTRO manANciais SUDESTE Concluídas as unidades do Comandante Taylor Apartamentos integram Projeto de Urbanização de Heliópolis Divulgação sendo 60% da Caixa Econômica Federal e 40% da Prefeitura. A mudança das famílias para os apartamentos estava prevista para o mês de março. Um detalhe interessante do Comandante Taylor, projeto desenvolvido pelo escritório Piratininga Arquitetos Associados, é a construção de 14 unidades para pessoas da terceira idade. A iniciativa, que teve origem nos movimentos sociais, é uma ação conjunta das secretarias municipais de Habitação (Sehab) e de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). Foram construídos “Mesmo fazendo parte do condomínio, o Cen421 imóveis tro do Idoso será aberto à população da região”, comenta a arquiteta Renata Senin, coautora do projeto do Comandante Taylor. Segundo ela, a Foram concluídas em fevereiro as 421 unidades habitacionais do Conjunto Residencial Comandante Taylor, que in- proposta foi de utilização máxima do terreno, com acesso tegra o Programa de Urbanização de Heliópolis, no Sacomã aos prédios em diferentes níveis. “Houve uma dedicação (Zona Sudeste). Numa área com aproximadamente 13 mil maior aos espaços de uso coletivo, com calçadas suspenm², o projeto também prevê biblioteca, Telecentro, quadra es- sas. As áreas de circulação e convivência estão relacionaportiva e Centro do Idoso, com espaço de convivência e sala das”, completa a arquiteta. MARCOS PALHARES para atividades físicas. O investimento é de R$ 38 milhões, O Q U E ... Área de Risco? É um local onde há risco de morte para as pessoas que o habitam. São identificados em margens de encostas e beira de córregos ou rios. Nesses pontos, sempre há perigo de deslizamentos, solapamentos e inundações. Locais com lixo ou entulho também são áreas de risco ... Auxílio Aluguel? É um programa da Prefeitura destinado às famílias retiradas de área de risco ou por conta de obras de urbanização. Também Renova SP É . . . pode ser usado em situação de emergência, como em caso de incêndio ou desabamento. O benefício é de R$ 300 mensais, tendo a duração de seis meses ou até a moradia definitiva ficar pronta ... Cadastramento? É uma ficha que o funcionário da Prefeitura preenche com os dados do morador após uma visita à casa dele. Ela serve para identificar todas as pessoas que vivem em uma comunidade para, futuramente, atender a todos MARÇO | ABRIL 2012 8 ... Parceria Social? É um programa da Prefeitura voltado a famílias que vivem em situação de rua ou sem residência fixa, em situação de extrema pobreza. O benefício é de R$ 300 mensais, com duração de 30 meses, sendo que a pessoa deve guardar de R$ 6 a R$ 15 por mês em uma caderneta de poupança e cumprir várias obrigações ... Programa 3 Rs? É a sigla para Recuperação do Crédito, Revitalização do Empreendimento e Regularização Fundiária da Prefeitura. Foi criado para recuperar conjuntos habitacionais já existentes que estavam degradados, inclusive com a invasão e criação de novas favelas nas áreas comuns dos prédios ... Termo de Atendimento Habitacional? É um documento oficial afirmando que o morador tem direito a receber apartamento ou casa da Prefeitura. É dado quando ele deixa a sua moradia por conta de alguma obra ou remoção ... Reintegração de Posse? É quando um juiz manda as pessoas que vivem em um terreno particular ocupado saírem. O pedido é feito pelo proprietário da área, e a Prefeitura não tem como impedir ... Urbanização? É um projeto da Prefeitura para transformar a favela em um bairro com ruas pavimentadas, calçadas, rede de água e esgoto, praças, posto de saúde. Além disso, o morador recebe a documentação regularizada de sua casa N O PERUS Obras da Secretaria Municipal de Habitação na cidade 5 2 X 1 2 3 4 JAÇANÃ TREMEMBÉ H 16 M H PIRITUBA JARAGUÁ NORTE G FREGUESIA BRASILÂNDIA 15 casa verde 7 6 I sé J CENTRO D penha J 1 3 mooca aricanduva 2 A 9 1 B W E F butantã vila mariana N 5 U Itaquera AA G S T campo limpo santo amaro Y 13 CC 5 BB 6 7 9 19 128 10 11 13 15 16 14 20 17 31 18 24 2627 32 m’boi 25 293028 33 mirim 37 38 34 35 39 404142 44 45 63 ipiranga 3 4 Z cidade ademar 17 4 1 2 46 47 49 50 5253 51 54 56 57 55 5960 61 64 65 66 3 67 69 70 71 48 72 43 68 62 21 58 36 23 manANciais capela do socorro 22 ARTE: André Bunduki parelheiros 3 4 4 L B são mateus SUDESTE 9 8 2 F COHAB-SP MINHA CASA, MINHA VIDA jabaquara SUL E K 11 C 10 7 cidade 5 tiradentes 8 6 14 vila prudente L DD 1 guaianases K 12 PROGRAMA MANANCIAIS itaim paulista LESTE pinheiros V são miguel paulista ermelino matarazzo D vila guilherme lapa R A vila maria C 5 I santana tucuruvi Q 1 - Barra Bonita 2 - Brotas 3 - Campos do Jordão 4 - Leme 5 - Mongaguá 6 - Guarujá 7 - Caraguatatuba 8 - Mirassol 9 - Paranapiacaba 10 - Santa Adélia 11 - São Roque/Piracicaba 12 - Iguape I 13 - Ribeirão Preto 14 - Campinas 15 - Leão de Judá 16 - Vale das Flores 17 - Vila Patrimonial NOVAS UNIDADES 1 - Domenico Martinelli 2 - Areião 3 - Estevão Baião 4 - Corruiras 5 - Ponte dos Remédios REGULARIZAÇÃO DE LOTEAMENTOS 1 - Brasil Novo 2 - Jardim Corisco II 3 - Campo Limpo 4 - Sitio Itaberaba 5 - Jd. Palmares PROGRAMA 3 R’s A - Jd. do Lago B - São Jorge / Arpoador C - Jd. Imperador D - Nova Tietê E - São Domingos / Camarazal 4 F - São Domingos / Camarazal 7 G - José Paulino dos Santos H - City Jaraguá I - Chaparral J - Tiquatira K - Goiti L - Real Parque DIVISA DAS REGIÕES COHAB-SP 1 - Jardim Mirian 2 - Parque Boa Esperança 3 - Unidos Venceremos 4 - Paulo Freire 5 - Recanto da Felicidade 6 - Parque do Gato 7 - Olarias 8 - Barro Branco II 9 - Barro Branco I, II, III, IV Sta. Etelvina 1/6A URBANIZAÇÃO DE FAVELAS A - Jardim Nova Tereza B - Dois de Maio C - Sampaio Côrrea D - Nova Jaguaré E - Vitotoma Mastroroza F - São Francisco Global G - Tiro ao Pombo H - Jardim Guarani / Boa Esperança I - Diogo Pires J - Barão de Antonina K - Nove de Julho L - Cinco de Julho M - Carina Ari N - Jardim Edite O - Bamburral P - Lidiane / Sampaio Côrrea Q - Gabi R - Ponte dos Remédios S - Paraisópolis T - Jardim Olinda U - Heliópolis V - Água Podre W - Sapé X - Córrego da Mina Y - Parque Fernanda I Z - Cidade Azul AA - Jardim Colombo BB - São Judas CC - Thomas II DD - Real Parque 1 - Cidade Júlia 2 - Nova Pantanal 3 - Jd. Eldorado / Mata Virgem 4 - Jd. dos Lagos 5 - Santa Margarida V 6 - Jd. Dionísio I e II/Vila Santa Lúcia 7 - Vila Santa Célia 8 - Jd. Ângela II 9 - Jd. São Joaquim 10 - Jd. Arnaldo 11 - Vila Bom Jardim 12 - Nagib I e II 13 - Jd. Planalto 14 - Minuetos 15 - Pq. São Francisco 16 - Kagohara II 17 - Jd. Herculano 18 - Alto da Riviera B 19 - Neumas/Kagohara IV 20 - Pq. Novo Santo Amaro V / Luz Soriano 21 - Pabreu 22 - Condomínio Vargem Grande 23 - Jd. Nova Marilda 24 - Boulevard da Paz 25 - Pq. Nova Santo Amaro VII 26 - Costa do Valado 27 - Renato Locchi 28 - Jd. Solange 29 - Jararau II 30 - São Lourenço 31 - Fujihara II 32 - Jd. Fujihara I e III e Nakamura II 33 - Xambores I e II / Vila Verde 34 - Jd. Araguari / Muriçoca 35 - Chácara Flórida / Chácara Bandeirantes 36 - Nova Varginha 37 - Jd. Capela / Santa Bárbara 38 - Pq. das Cerejeiras 39 - Enlevo 40 - Jd. Calú 41 - Chácara Sonho Azul 42 - Arizona 43 - Jd. Iporã / Jd. Casagrande 44 - Ângelo Tarsini 45 - Cardeal Rossi 46 - CEU Cidade Dutra 47 - Alcindo Ferreira / Jd. Cruzeiro 48 - Chácara do Conde I e II 49 - Jd. Satélite I e II 50 - Dezenove 51 - Jd. Represa 52 - Ribeirão das Pedras 53 - Ipojuca Luis de Araújo 54 - Vila Rubi 55 - Jd. Pouso Alegre 56 - Jd. Real 57 - Pq. América 58 - Jd. Noronha 59 - Pq. São José VI 60 - Jd. Itatiaia 61 - Pq. São José I e II 62 - Cantinho do Céu / Gaivota 63 - Jd. Horizonte Azul / Sapato Branco 64 - Jd. Manacás 65 - Pq. São José VII, Três Cânticos e Entorno 66 - Alto da Alegria 67 - Nova Grajaú II 68 - Cocaia I 69 - Jd. São Bernardo II 70 - Vila Santa Francisca / Cabrini IV 71 - Vila Santa Fé 72 - Pq. Maria Fernando I e II LIMITE DAS SUBPREFEITURAS LIMITE DAS ÁREAS DE MANANCIAIS Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 9 NORTE FOTOS: Divulgação DEPOIS ANTES Sehab executa obras de contenção no Jardim Palmares Com regularização da área, 380 famílias poderão ter a documentação de seus lotes O Departamento de Regularização de Parcelamento do Solo (Resolo), da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), está executando obras de contenção para eliminar o risco no loteamento Jd. Palmares. No local, que fica na região do Jaçanã-Tremembé, vivem cerca de 380 famílias. No ano passado, a Sehab realizou as obras de pavimentação e drenagem na área, com valores investidos em torno de R$ 1,1 milhão. A obra de contenção, que ainda está em execução e cujo valor orçado é de R$ 725 mil, é realizada com base na técnica de solo grampeado. Ela consiste na perfuração da encosta com colocação de barras de aço e injeção de calda de cimento, revestimento com tela de aço soldado e concreto projetado. A obra inclui ainda serviços de drenagem, com a execução de canaletas e escadarias hidráulicas, que têm a função de direcionar e diminuir a velocidade das águas de chuva (águas pluviais). “Obras de contenção são necessárias no processo de urbanização, porque é preciso eliminar o risco aos moradores. Nessa área, tivemos escorregamento de terra”, diz a diretora do Resolo, Ana Lúcia Sartoretto. DÉBORA YURI Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 10 SUL Canalização do Córrego do Sapé avança em fevereiro As obras de infraestrutura que a Prefeitura está executando na comunidade do Sapé, no Rio Pequeno (Zona Sul), avançaram em fevereiro. Para ser urbanizada, a comunidade foi dividida em Sapé A e B. Na primeira, a canalização do córrego chegou a 40% do total e na segunda, a 20%. A previsão é que a canalização seja concluída em julho. Também estão em curso obras de contenção, e a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) vai implantar na área redes de água, esgoto e drenagem, abrir vielas, pavimentar ruas e fazer escadas adequadas para a passagem de pedestres, praças e espaços de convivência. O projeto prevê a construção de 1.066 unidades habitacionais, sendo 275 na área denominada Domenico Martinelli, 691 na área do Sapé e 100 no Água Podre. O valor total dos investimentos é de cerca de R$ 152 milhões, com recursos divididos entre Prefeitura, Caixa Econômica Federal, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e Fundo Municipal de Saneamento Ambiental e Infraestrutura (FMSAI). A urbanização do Sapé vai beneficiar as 2.429 famílias que vivem na comunidade. LESTE Cohab-SP termina estruturas no Boa Esperança A Cohab-SP (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) está finalizando a estrutura das oito torres do Parque Boa Esperança, conjunto habitacional que será entregue em São Mateus, na Zona Leste. No total, o empreendimento vai ter 160 unidades habitacionais. Cada torre ganhará 20 apartamentos, e a companhia investirá cerca de R$ 7 milhões nas obras. A conclusão do Parque Boa Esperança está prevista para agosto deste ano. LESTE Canalização de córrego no Cinco de Julho já teve início; outras três comunidades da região também estão sendo atendidas A Prefeitura começou a canalização do Córrego Cangueiras na comunidade Cinco de Julho, em São Mateus (Zona Leste). Esse é mais um trecho da Bacia do Aricanduva a entrar em obras – a área abrange também as comunidades Dois de Maio, Vitotoma Mastroroza e Nove de Julho. Ao todo, 1.428 famílias serão beneficiadas. O investimento total será de R$ 29 milhões. Para atender as 19 famílias que viviam em áreas de risco no Cinco de Julho, a Prefeitura vai construir unidades habitacionais no Dois de Maio – que fica bem próximo. A previsão é que tudo esteja pronto até o final deste ano. Além das obras no córrego, as famílias que permaneceram no Cinco de Julho receberão pavimentação de vias e adequações nas redes de água e esgoto. “Nosso desafio é fazer uma conexão entre as quatro comunidades”, afirma o arquiteto responsável pelo projeto, Claus Bantel. “O projeto prevê a criação de alguns espaços específicos, onde pessoas possam se encontrar”, resume. Nas outras duas comunidades da Bacia do Aricanduva, alguns projetos também começam a sair do papel. No Vitotoma Mastroroza, a intenção é construir um “prédio verde” para 40 famílias, com possibilidade de utilizar energia solar e de reaproveitar água. Já no Nove de Julho, foi feita a canalização do Córrego Bento Henrique, faltando completar as obras de infraestrutura. MARCOS PALHARES FOTO: Newton Santos Rede de água e esgoto chega à Provisão 6 A extensão da rede de água e esgoto até a Provisão 6, na região do Jardim São Francisco (Zona Leste), já está em execução. A previsão é de que essa obra seja concluída até o próximo mês de julho. O projeto da Provisão 6 está dividido em cinco quadras. Duas delas já estão em obras: A e B. Juntas, elas terão dez blocos e 210 unidades habitacionais – as outras três quadras estão em estudo. No local, estão previstas áreas de lazer internas e playground. O investimento na Provisão 6 está incluído no valor total do Lote 2 do São Francisco, de R$ 127 milhões. Concluída primeira etapa da revitalização do Promorar A primeira das seis etapas de obras de infraestrutura e revitalização previstas para a área do Promorar, no Jardim São Francisco (Zona Leste), foi concluída em fevereiro. A previsão é de que a obra esteja pronta até agosto. O Promorar abriga um conjunto de 1.300 casas construídas no início dos anos 1980 pela Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab-SP). As obras estão sendo feitas nos espaços públicos e incluem, por exemplo, adequação de vias e adaptação dos espaços de convivência. O investimento nessas obras está incluído nos R$ 140 milhões previstos para a segunda etapa de obras em curso no Ruas foram São Francisco, sendo R$ 110 adequadas milhões da Prefeitura e R$ 30 pela Prefeitura milhões do Governo Federal. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 11 FOTO: Divulgação Começa mais uma etapa na Bacia do Aricanduva Prefeitura trabalha no Córrego Cangueiras EMPREGOS & FINANÇAS FOTO: Newton Santos PROFISSÃO Maria das Graças trabalha com o marido no bar do casal RAIO-X DA PROFISSÃO Existem cerca de 8 milhões de empregados domésticos no Brasil. Mulheres negras são a grande maioria. Do total de domésticas, apenas 2 milhões têm Carteira do Trabalho assinada. Na região metropolitana de São Paulo, o número de domésticas caiu de 672 mil (2007) para 640 mil (2011) Bye bye, patroa Crescimento da economia leva cada vez mais empregadas domésticas a mudar de profissão Do lado de lá, as patroas reclamam: lentamente, elas estão desaparecendo do mercado. Do lado de cá, elas fazem planos, frequentam cursos, ganham dinheiro e dão um salto de qualidade em suas vidas. Elas são as ex-empregadas domésticas, um contingente cada vez maior de brasileiras que estão deixando a vassoura e o rodo para trás e mudando de profissão. O professor titular de sociologia do trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Antunes, indica alguns dos fatores responsáveis por essa mudança. “Há uma tendência nítida de redução do número de domésticas no Brasil, em função do crescimento econômico do país e da busca das domésticas por condições formais de trabalho e de uma profissão reconhecida”, diz. No Brasil, o trabalho doméstico é majoritariamente informal. De acordo com a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), existem cerca de 8 milhões de empregadas no país – mas apenas 2 milhões delas têm carteira assinada. “A ausência desses direitos é grave para a mulher. Além disso, há um forte preconceito contra esse trabalho. Como a economia aquecida criou uma massa de novos empregos, elas estão migrando de profissão”, continua Antunes. É o caso de Maria das Graças da Silva, de 38 anos. Em janeiro, ela virou mais uma ex-doméstica brasileira para gerenciar seu próprio bar em Paraisópolis, Zona Sul. “Doméstica não tem lei nem segurança e sofre muita humilhação. Eu não tinha folga, fim de semana, jornada certa”, lembra ela, que trabalhou na casa dos outros por Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 12 Elas representavam 7,8% do total de pessoas ocupadas na região em 2007. No ano passado, esse percentual caiu para 6,8% Fontes: Fenatrad e IBGE ? quase três décadas. A maior escolarização da população também tem peso nesse cenário, sobretudo para as mais jovens, observa a presidente da Fenatrad, Creuza Maria de Oliveira. “Elas estão estudando, e hoje existem mais oportunidades de trabalho. O serviço doméstico sempre foi muito desvalorizado.” Para o professor da Unicamp, a tendência é que o país repita a trajetória das economias ricas. “Já há sinais de que o trabalho doméstico, no Brasil, caminha para se aproximar da realidade europeia”, diz. Nos países desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos, não existem mais empregadas. O máximo dos luxos para os endinheirados não é nem a diarista, e sim a “horista” – mulher que trabalha por (poucas) horas e cobra (caro) por elas. DÉBORA YURI Ex-doméstica agora curte o próprio bar É melhor lidar com pacotes de arroz, engradados de cerveja, caixas de salgadinho e clientes fiéis do que com rodo, vassoura, esfregão e a patroa apontando sujeira na casa. É essa a comparação que faz Maria das Graças da Silva, de 38 anos. “Queria trabalhar para mim. Passei muitos anos trabalhando para os outros e nunca consegui ter nada meu. E estava cansada, porque o serviço doméstico é pesado e humilhante”, diz ela, que mora em Paraisópolis (Zona Sul) desde os anos 1990 e agora ajuda o marido a tocar o Bahia Bar, misto de mercearia e boteco na própria comunidade. O currículo de Maria inclui trabalhos em apartamentos do Morumbi (Zona Sul), onde ganhava de R$ 800 a R$ 1.100 por mês. Em alguns, ela tinha de dormir na casa dos patrões. “Às 23h, eu ainda estava trabalhando; às 5h, precisava acordar. Fui registrada e ganhava férias em algumas casas; em outras, não”, resume ela, que suportava a situação pensando nos dois filhos. “Para sustentar nossa família, a gente é obrigada a fazer o trabalho. Eu não podia ficar desempregada.” No bar, Maria atende, cozinha, limpa e faz compras. Depois que ela começou a trabalhar com o marido, o local passou a servir comida aos finais de semana, e o casal lucra cerca de R$ 2 mil por mês. Ela trabalha todos os dias e não reclama. “As domésticas, às vezes, dão sorte e pegam patrões legais, mas alguns são bem abusados. É melhor trabalhar aqui, porque o negócio é meu e eu adoro o que faço.” MUDE DE ÁREA O Projeto Ampliar, do Secovi-SP, abriu inscrições para cursos gratuitos em duas unidades. O público-alvo são os jovens. UNIDADE BRIGADEIRO UNIDADE GRAJAÚ Curso Carga Horária Dias Úteis Período das Aulas Vagas Assistente Administrativo 160 horas 54 Manhã 18/4 a 6/7 16 Assistente de Cabeleireiro 180 horas 54 Contabilidade Informática Manicure 60 horas 80 horas 180 horas 20 27 54 Manhã / Tarde 18/4 a 6/7 16 16 12 Recursos Humanos 160 horas 54 Tarde 18/4 a 6/7 32 Manhã/Tarde 18/4 a 6/7 Curso de Férias Previsão de 12/3 a 18/4 14 REQUISITOS: Ter de 16 a 24 anos para os cursos administrativos e de 18 a 28 anos para os cursos de beleza INSCRIÇÕES: Até 13/4 COMO SE INSCREVER: Preencha a ficha de inscrição, disponível no site www.projetoampliar.org.br, e vá pessoalmente à Av. Brigadeiro Luís Antonio, 2.344, 8º andar, Cerqueira César (Centro), com cópias do RG e CPF e comprovantes de escolaridade, residência e renda familiar Curso Auxiliar Administrativo e Informática Básica Carga Horária Dias úteis Início Vagas 140 horas 47 Abril 32 Padeiro / confeiteiro 180 horas 60 Abril 24 Salgadeiro 48 horas 16 Abril 24 Serigrafia 120 horas 13 Abril 24 REQUISITOS: Ter de 16 a 24 anos INSCRIÇÕES: sem data limite COMO SE INSCREVER: Preencha a ficha disponível no site www.projetoampliar.org.br e vá pessoalmente à unidade, que fica na Travessa Maria Terezinha Albuquerque, 30, Jd. São Bernardo (Grajaú, Zona Sul), com cópias do RG e CPF e comprovantes de escolaridade, residência e renda familiar Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 13 Esli investe em fazer artesanato com chinelos DE OLHO NOS DIREITOS O piso da categoria é o salário mínimo nacional (R$ 622), se existir vínculo empregatício – a doméstica precisa trabalhar para o mesmo empregador de segunda a sexta ou de segunda a sábado. Com mais dinheiro no bolso e liberdade Rodeada por chinelos coloridos e potes de plástico com pedrarias, a ex-empregada doméstica Esli de Araújo Brito, de 40 anos, mostra seu “novo escritório”. Desde o ano passado, ela faz chinelos trabalhados com pedras em casa, vendendo o par a R$ 40. “Virei doméstica por necessidade, já que sustento uma família grande”, conta ela, que fez curso técnico de administração em Salvador e trabalhou na Yakult. Quando mudou para São Paulo com o marido e os quatro filhos, em 2002, passou a encarar o trabalho doméstico para evitar o desemprego. “Não era registrada, não tinha férias, nenhum direito. Não é uma área vantajosa, você não junta nada para o futuro e as pessoas não encaram como profissão.” Moradora do Sapé, no Rio Pequeno (Zona Oeste), Esli foi doméstica por oito anos. Em 2010, virou diarista. Nas horas vagas, fazia cursos no Projeto Ação Família, da Prefeitura, e aprendeu a bordar chinelos. Hoje, ela se dedica apenas à sua produção e venda, faturando de R$ 800 a R$ 1.000 por mês. “Sempre preferi trabalhar por conta própria. Você tem mais liberdade, faz o seu horário, ganha mais”, diz. O marido, segurança, ajuda sempre que pode na confecção dos itens, que Esli vende de porta em porta – ela percorre escolas, creches e comunidades dos arredores, como o Jardim Jaqueline e a Cohab Raposo Tavares. Recentemente, Esli abriu uma microempresa individual, e agora faz planos: quer firmar parcerias com lojas de moda-praia de shoppings e alugar máquinas móveis de cartões de crédito. “Eu poderia ganhar mais. Perco muito tempo indo para a rua, e o pagamento no cartão é bem visto pela minha clientela. O bom é que o povo valoriza muito o meu trabalho.” Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 14 As domésticas têm direito a 13º salário, férias remuneradas de 30 dias, vale-transporte, um repouso remunerado por semana, folga nos feriados, licença-maternidade e aposentadoria por invalidez, idade ou tempo de serviço. O FGTS é opcional e depende do patrão. Se concedido, a trabalhadora ganha o seguro-desemprego se for dispensada sem justa causa. Em junho do ano passado, foi aprovada a Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Direitos dos Trabalhadores Domésticos, que equipara os direitos da categoria aos dos demais trabalhadores. Para a convenção da OIT entrar em vigor no Brasil, o Congresso Nacional precisa ratificá-la, e a Constituição Federal terá de ser mudada, já que enumera direitos para os trabalhadores e exclui os que fazem trabalho doméstico. Fonte: Fenatrad FOTO: Newton Santos Não existe jornada de trabalho estipulada; ela precisa ser negociada com o patrão. CONSTRUÇÃO & DECORAÇÃO SEGURANÇA FOTOS: Divulgação o r e z o d a c u Mach Confira algumas dicas para evitar acidentes dentro de casa Manter a casa segura contra acidentes domésticos não é tarefa fácil. Se nela vivem crianças, pessoas com alguma dificuldade de locomoção ou idosos, o perigo aumenta um pouco mais. Para ajudar na tarefa de criar um ambiente com riscos reduzidos, travas para armários, protetores de quinas e tapetes antiderrapantes podem ser aliados preciosos. E o melhor de tudo é que tais produtos podem se encontrados nas grandes redes de materiais de construção e não custam caro. “Para quem tem crianças ou idosos em casa, o ideal é escolher móveis não pontiagudos, com as quinas arredondadas. Como trocar todo o mobiliário não é barato, algumas compras pontuais ajudam a evitar quedas e machucados”, diz a arquiteta Vera Sampaio, sócia da loja Ôoh de Casa! Entre essas comprinhas, ela sugere colocar piso antiderrapante nas áreas molhadas, principalmente no banheiro. Para quem vive com idosos, é importante equipar esse cômodo com barras de apoio, próximas ao vaso sanitário, e faixas antideslizantes nos tapetes e degraus. Para proteger as crianças, a arquiteta sugere nunca deixar itens perigosos nos armários baixos. Se for impossível “subir” tudo para os de altura adequada, a saída são as travas de porta, oferecidas em diversos tamanhos e preços. “Tapadores de tomadas também ajudam a deixar os pais mais tranquilos em relação à segurança doméstica.” Veja a seguir uma seleção de itens que podem evitar pequenos (e grandes) acidentes dentro de casa. DÉBORA YURI Protetores de quinas evitam acidentes sérios NO CHÃO Antideslizante, o piso cerâmico da linha Mohave – Lanzi não muda o acabamento acetinado das peças. É indicado para áreas escorregadias. O m² sai por R$ 32,50 na Telhanorte. Rolo de faixa antiderrapante da Safety, na cor cinza. Custa R$ 29,90 na Leroy Merlin. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 15 NAS PORTAS Ideal para uso em carpete, piso frio ou de madeira, protege contra o fechamento indevido da porta. Sai por R$ 23,90 na Telhanorte. Para evitar machucados, o protetor para quina de tampo de vidro custa R$ 9,90 na Leroy Merlin. Segura-porta de plástico, que impede o abre-e-fecha indevido. Por R$ 24,90 na Leroy Merlin. FOTOS: Divulgação Esse item protege a porta de ser fechada acidentalmente. Na Telhanorte, R$ 11,50. EM MESAS, RACKS E AFINS Pacote com 4 unidades transparentes de protetores de quinas, que podem ser colados em mesas, estantes, racks e comôdas. Na Telhanorte, por R$ 16,09. NO BANHEIRO Em formato de coração, essa trava para armários impede a abertura indevida de portas. Na Leroy Merlin, por R$ 19,90. NOS ARMÁRIOS A trava para tampo sanitário protege contra a abertura indevida pelas crianças. Na Leroy Merlin, por R$ 14,39. NAS TOMADAS Quatro tapa-tomadas de novo padrão, para evitar que crianças liguem algum aparelho. Custa R$ 5,90 na Leroy Merlin. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 16 NO QUINTAL ODA T A S A C A N FOTOS: Divulgação Magnético, o alarme Vigia Criança – DNI é usado como aviso de perigo contra abertura de portas e janelas pelas crianças. Por R$ 22,90 na Telhanorte. O Kit Grade Soft com extensor abre para os dois lados. Na Leroy Merlin, sai por R$ 119,90. SERVIÇO Leroy Merlin R. Domingas Galleteri Blotta, 311, Interlagos, tel. 5613-2500. www.leroymerlin.com.br. Ôoh de Casa! R. Fradique Coutinho, 899, Vila Madalena, tel. 3812-4934. www.oohdecasa.com.br. Telhanorte Av. Aricanduva, 6.470, Aricanduva, tel. 40042444. www.telhanorte.com.br. Com 46 peças, o Kit Casa Segura vem com 10 travas de segurança, 30 protetores de tomada, 2 travas corrediças, 2 travas multiuso e 2 capas para maçaneta de porta. Por R$ 79,90 na Leroy Merlin. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 17 PRATICIDADE Point da família Com mais de 500 episódios produzidos em 23 anos, o desenho animado “Os Simpsons” começa sempre com a mesma cena: a família formada por Homer, Bart e companhia se reúne no sofá para assistir tevê. Mesmo satirizando a sociedade norte-americana, essa cena do seriado mostra que o móvel é fundamental para o convívio familiar. “Todos preferem sentar no sofá para conversar, ver TV, receber pessoas”, afirma a designer de interiores Gisele Fernandes. Porém, é preciso saber escolher o móvel certo para a sala. “Quando o espaço é pequeno, a primeira coisa é optar por sofás com braços de largura menor, ou mesmo sem braços”, aconselha a decoradora Sibelle Lira. “E a profundidade do assento não deve superar 90 centímetros. A pessoa pode complementar com um pufe para os pés”, acrescenta. Além disso, é importante pensar no tipo de vulgação FOTOS: Di MAIS RESISTÊNCIA – O couro sintético, também chamado courino, protege mais. Este sofá, o Monte Carlo Somopar, custa R$ 439,20, no Magazine Luiza. Magazine Luiza www. magazineluiza.com.br MARÇO | ABRIL 2012 tecido e nas cores antes de comprar o móvel. Num apartamento ou casa com crianças e animais domésticos, por exemplo, o revestimento deve ser resistente, impermeável e fácil de limpar, como o couro sintético (courino). Mas se a busca é por algo mais aconchegante, há a opção do chenille – tecido que pode ser impermeabilizado ou receber uma capa ou manta. Sobre as cores, o preto continua na moda. Mas a tendência é a de tons neutros, como branco, bege e cinza claro. “Daí, a pessoa pode usar almofadas coloridas”, sugere Sibelle. Embora não seja proibido, cores fortes ou estampas devem ser evitadas. “A pessoa que quer um sofá pink ou florido, por exemplo, tem que saber que não vai demorar muito para querer trocar o tecido – ou o sofá – porque enjoa”, diz Gisele. A seguir, Renova SP selecionou alguns modelos que podem cair bem na sua sala. MARCOS PALHARES CORES FORTES – Para quem quer se arriscar nas cores fortes, uma sugestão é o sofá vermelho Dallas Plus Somopar, por R$ 490, no Magazine Luiza. SERVIÇO Casas Bahia Casasbahia.com.br Renova SP Quais são os segredos para comprar um sofá que caia bem em um espaço pequeno 18 isados em fev ereiro d e 2012 . BRAÇO ESTREITO – Excelente para quem precisa economizar espaço. E pode, até, ser opção de dormitório, como o modelo American Comfort, com baú. Nas Casas Bahia, por R$ 459,90. * Preço s pesqu CORES NEUTRAS – Combinam com quase todo tipo de ambiente. Um exemplo é o sofá bege Hebe Somopar. No Magazine Luiza, sai por R$ 559,20. SEM BRAÇOS – Além de economizar espaço, ainda pode ser opção para dormir. É o caso do Sofá-Cama Souto Maior Carmel, por R$ 399, nas Casas Bahia. PÉ ALTO – Por ter um vão entre o móvel e o chão, facilita a limpeza. Uma sugestão é o modelo Gazin Roma, que custa R$ 369,90, nas Casas Bahia. SOFÁ RETRÁTIL – Para compensar o tamanho, aumenta com uma parte puxada. Como o modelo Lino Forte Malbec. Nas Casas Bahia, por R$ 869,90. MAIS CONFORTO – Neste caso, uma boa opção é o tecido chenille. Como o modelo American Comfort Roma, que as Casas Bahia oferecem por R$ 399,90. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 19 Divulgação Pergunte ao ARQUITETO Todos os cômodos da casa precisam ter a mesma cor? O projeto do dt.estudio usou azul como tema em todos os cômodos desse apartamento No térreo da minha casa, tudo é azul: a cozinha tem azulejos azuis e a sala tem paredes e piso na cor azul-claro. Preciso pintar os cômodos do segundo andar – banheiro e dois quartos. O certo é fazer azul em cima também ou eu posso usar outras cores? Lúcia Helena Pereira Soares, 45 anos, dona de casa, moradora do conjunto habitacional City Jaraguá, na Zona Norte Já que a sua decoração tem uma cor como “tema central”, você poderá optar por manter o azul no restante da decoração ou ainda uma “cor tema” diferente nos cômodos do pavimento superior. Considerando o primeiro caso (azul como tema): para que a sua decoração seja leve e transmita equilíbrio, use cores claras, como bege. Deixe móveis brancos e o azul apenas em detalhes. Exemplos: uma faixa de pastilhas com cor azul no banheiro, almofadas, colchas, papel de parede ou até mesmo uma cortina com listras brancas e azuis nos quartos. A sensação será de unidade na casa toda, de bem-estar e harmonia. Se seu perfil é o de uma pessoa descontraída e irreverente, poderá optar pela segunda ideia: decorar cada cômodo com uma cor-tema de sua preferência, que também poderá estar apenas nos detalhes. O efeito dessa decoração é diferente da outra: ela irá estimular os sentidos, trazer ação e movimento. Nadine Voitille, arquiteta e sócia do Portal Clique Arquitetura. www.cliquearquitetura.com.br. dt.estudio. www.dtestudio.com.br Mande sua dúvida para a Renova SP no e-mail [email protected] PASSO A PASSO | FRUTEIRA DE VINIL Se você não toca mais o LP, crie uma peça artesanal 2 Aqueça água em uma panela grande. Mergulhe uma parte do vinil para amolecer. Depois, sobre uma superfície dura, vá moldando e dobrando as bordas do disco, até adquirir a forma de fruteira (o processo deve ser rápido, pois o vinil endurece fora da água). Utilize o cabo de uma colher de pau para dar forma aos detalhes menores . Limpe o vinil com água e detergente, passe um pano com álcool e aplique o primer com pincel. Se necessário, dê outra demão. Depois de seco, pinte a peça com a tinta acrílica preta. Deixe secar bem. Para enfeitar a fruteira, recorte uma figura. Dilua um pouco de cola em água para fixá-la no centro. Passe uma camada generosa da base do kit craquelê pelo lado de fora da bandeja com o pincel. Depois de bem seca, passe o craquelê branco com pinceladas irregulares. Deixe secar novamente para formar as rachaduras. Faça o acabamento das bordas com a tinta relevo – aplique pequenos pingos em sequência. Para proteger a peça, faça o acabamento com verniz. Está pronta. ITENS NECESSÁRIOS: 1 disco de vinil, 1 papel para decoupage (para revestimento de gravuras em superfícies), tinta acrílica preta, tinta relevo branca metalizada, kit craquelê (reúne verniz base e verniz craquelador), cola branca, primer (tinta preparatória de superfícies), verniz, pincel chato e macio. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 20 Fonte: artesã Andréia Góes, do blog Art’tude (www.arttude-andreiagoes.blogspot.com) FOTOS: Divulgação 1 3 CULTURA & LAZER MÚSICA MC Recoba é funkeiro em Paraisópolis Tá tudo dominado! FOTO: Newton Santos Antes guiados pelo hip hop, jovens da periferia de São Paulo mudam estilo e aderem em massa ao funk carioca No princípio, era o MC. E o MC virou funkeiro. Por anos dominada pelo hip hop, a periferia de São Paulo rendeu-se ao ritmo inventado e fabricado nos morros do Rio de Janeiro. As quebradas da ZL, da ZN e até da Zona Sul, tradicional bastião do rap paulistano, hoje estão tomadas por jovens que sonham comandar os fervilhantes bailes funk como mestres de cerimônia (MCs). O movimento que deixou a periferia “dividida” começou há cerca de quatro anos, segundo o cineasta Leandro HBL, diretor do documentário “Funk da CT: A Invasão do Funk em São Paulo” (CT, para os íntimos, é Cidade Tiradentes). Nesse período, o gênero carioca se aproveitou da queda de popularidade do rap. Catapultados do Capão Redondo para os corações de manos e minas e os iPods de playboys e patricinhas no começo dos anos 2000, os Racionais MC’s entraram em quase recesso, e não apareceu nenhum grande nome que ocupasse o seu lugar. “O rap brasileiro ficou sisudo, engessado, monotemático, e negou a sexualidade brasileira por décadas. O funk se expandiu porque trouxe para a periferia diversão e apelo sexual. É um ritmo que atrai mais as mulheres, e elas trazem os homens”, diz HBL. Outra explicação é que, hoje, o funk dá mais dinheiro. “Muitos funkeiros curtem rap, tentaram ganhar a vida com ele e mudaram de estilo, porque o funk tem mais mercado”, resume. Para o pesquisador Charles Kirschbaum, do CEM/Cebrap (Centro de Estudos da Metrópole do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), o fato de ser mais fácil fazer funk também entra no jogo. “Ele quase não exige letras e rimas. Além disso, o rap é mal-humorado, suas letras são discursos de conscientização social. Já o funk é alegre, jovial, descontraído.” Apesar da invasão do funk, o hip hop continua prestigiado na cena de SP – ninguém ousa criticar Mano Brown, o líder dos Racionais, maior ídolo e MC já criado nas vielas pobres da cidade. No ano passado, o movimento voltou às rádios “mainstream” e à MTV, com a explosão de dois novos astros: Criolo e Emicida. Se ele vai recuperar seu espaço nas quebradas, só os bailes, os botecos e as baladas dirão. Por enquanto, quem dá o som são os funkeiros, como Evandro Henrique da Silva, de 19 anos, o MC Recoba de Paraisópolis, que roda a Zona Sul ganhando R$ 500 por show. DÉBORA YURI Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 21 Mudança para o funk e um cachê bacana FOTO: Newton Santos Sandrinho MC ganha até R$ 600 por apresentação De camiseta colada ao corpo, calças justas, boné de grife e correntes prateadas, Sandro Soares Silva, de 21 anos, é um dos funkeiros mais badalados de Heliópolis. No começo da carreira mu- sical, ele cantava rap. “Eu tinha um grupo chamado Sobreviventes do Rap. A gente se separou, e aí surgiu o funk. Eu achava que o rap não ia dar certo, o funk entrou na moda...”, DJ ‘teen’ anima festas em Helipa Foi na escola que Gabriella Gonçalves Sousa, de 16 anos, começou a fazer funk. “Eu inventava rimas com uma amiga. Isso surgiu por causa de uma patricinha que falava mal da gente porque moramos na favela”, conta ela, a MC Gabi de Heliópolis (retratada na capa, ao lado do rapper Ice J). Nascida e criada na comunidade, a adolescente liderou o bonde Chapa House, que organizava festas de funk nas ruas. Agora, ela não escreve mais letras nem faz shows – prefere tocar em festas. É DJ da balada Jovens Alconscientes, que reúne mais de mil pessoas na quadra da UNAS (União dos Núcleos de Associações de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco) todo mês, ao som de funk light, rap e eletrônica. Bebida alcoólica é proibida. “O funk é curtição, e o rap fala mais sobre a realidade da favela, o sofrimento do povo. A maioria dos jovens daqui gosta dos dois”, diz Gabi, fã de funk light e música eletrônica. Hoje, o pessoal é mais eclético, ela completa. “Antes, falavam mal da eletrônica, diziam que era música de boy. Agora, todo mundo curte.” Para o coordenador do Programa Jovens Alconscientes, Reginaldo José Gonçalves, criticar os bailes funk é um erro. “A maioria não envolve crime nem drogas. Ele é uma opção de lazer na periferia, que é carente de diversão. Esse é o lado positivo.” Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 22 lembra ele, explicando sua trajetória. Hoje, Sandrinho MC – seu nome artístico – faz shows na periferia da cidade toda e também no ABC. Ganha de R$ 500 a R$ 600 por apresentação. “O funk dá mais dinheiro agora, é o que toca nas baladas. Principalmente o de putaria rsrs”, diz o jovem, que prefere escrever letras “conscientes”, mas também fala de marcas, carros, motos e mulheres em suas músicas. Apresentador do programa Revolução Rap, da Rádio Heliópolis, Mano Zóio, de 28 anos, conta que ninguém vive do hip hop. “A maioria dos rappers tem um trabalho além do rap, tirando Racionais, Criolo, Emicida. O funk dá dinheiro”, compara ele, que gosta do funk das antigas – James Brown, Marvin Gaye, Afrika Bambaataa. Mesmo assim, ele crava que a cena vai mudar em breve. “O rap está chegando com tudo de novo.” Estilo vem dos guetos de Miami A base do funk carioca – ou baile funk, como o estilo é conhecido hoje – tem origem no Miami bass, estilo de hip hop que ficou famoso nos EUA nos anos 1980. O som de Miami, criado nos guetos da cidade da Flórida, também trazia conteúdo sexualmente explícito em muitas de suas letras. Na década de 1990, a batida de Miami foi usada para criar o funk carioca nos morros do Rio de Janeiro. O gênero explodiu com DJ Marlboro, Claudinho & Bochecha e Tati Quebra-Barraco. Atualmente, o grande ícone do estilo é o funkeiro carioca Mr. Catra. FOTO: Newton Santos Dr. Look Dog’s faz música ‘romântica com ideologia’ ‘Muita realidade cansa.’ É assim que o novo rap vem Para os integrantes do Dr. Look Dog’s, grupo de hip hop formado em Paraisópolis, a música ainda não dá dinheiro. Há três anos na cena, eles são otimistas. “Precisamos suar, tomar suco Pop, comer pão com mortadela e rachar o [hot] dog para amadurecer”, diz José Lopes da Silva, de 27 anos, o Junior Diamond, professor de dança em escolas do Morumbi. O grupo reúne produtores, compositores, DJ e músicos e se juntou por hobby. A mãe de Renzo Tasca, de 20 anos, cedeu uma sala em sua casa, onde eles improvisaram um estúdio caseiro. Entre shows na comunidade e vídeos postados no YouTube, receberam convite para tocar no Rio, em Cidade de Deus. “Ganhamos a condução e a comida na faixa. Estamos somando experiência”, lembra Wesley Henrique, de 20 anos, o Chocolate, atendente de lava-rápido. Ele explica que o grupo faz música romântica, divertida e também “com ideologia”. Curtem Charlie Parker, Amy Winehouse e Jimi Hendrix e incluem saxofone nas gravações. “O rap era muito fechado, era muita realidade. Às vezes, cansa.” O Dr. Look Dog’s usa os quatro elementos do hip hop: grafite, break, DJ e MC. É de dentro desse movimento que surge o rap, feito com poesia e rima. Talvez seja por isso que todos os membros do grupo concordem que é mais fácil fazer funk – “Basta escrever uma frase com três palavras”, provoca Renzo. Mais simples, ele dá mais grana também. E as mulheres? “Ah, quase todas preferem funk. Parece coisa do encantador da flauta”, conta Chocolate. Não é crime fazer rap e sonhar com dinheiro, pensa Junior. “Você quer que as pessoas curtam a sua música ou quer fazer dinheiro? Os dois estão certos, você precisa sustentar os filhos”, diz ele, tênis Adidas de cano longo, bermudas largas e boné. “O sonho é abrir o show da Beyoncé, né? Mas, por enquanto, dá para comprar duas pizzas hoje? Se der, está valendo.” Hip hop de Sampa aposta em dois novos astros Depois de anos de notório sumiço, o hip hop voltou à cena em 2011 – e em grande estilo. Dois novos astros de São Paulo trouxeram inovação temática e musical para o gênero e explodiram. Rapper branco do Grajaú, Criolo fez, para muitos críticos, a melhor música nacional do ano (“Não Existe Amor em SP”) e o melhor disco – “Nó na Orelha”, que mistura samba, soul, dub e brega com rap. Hoje, recebe elogios de Chico Buarque e Caetano Veloso e é queridinho dos playboys. Já Emicida, cria da Zona Norte que ousa fazer rap e falar de amor, virou um fenômeno graças à Internet. No VMB 2011, a premiação anual da MTV Brasil, foi eleito o artista nacional do ano. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 23 Maloquero Anônimo e Ice J fazem shows pelo interior Estilos curtem boa convivência, sem atritos ou brigas FOTO: Newton Santos “O rap é forte porque ele resiste”, diz Ice J, de 36 anos, há 16 fazendo rap com o grupo Mandamentos. Morador do Sacomã, na Zona Sul, ele paga as contas com seu trabalho de tatuador. “Falamos da nossa vivência, passamos a mensagem do gueto, sem fazer apologia ao crime”, resume ele, que, nas horas vagas, produz músicas e faz shows nas quebradas de São Paulo e do interior. Um de seus parceiros é Maloquero (sic) Anônimo, de 34 anos, nascido e criado na Vila Arapuá, ao lado de Heliópolis. “Todo mundo achava que o rap tinha morrido. Teve gente que me mandou cantar funk. Agora, liga a MTV: olha o rap aí de novo”, diz Anônimo, também tatuador e pai de três filhos. Apesar da troca de elogios mútuos e da boa convivência entre rappers e funkeiros na periferia, os primeiros assumem: não curtem todos os tipos de funk. “Eu não quero que os meus filhos escutem certas mensagens de apologia ao crime, às drogas e ao sexo”, explica Anônimo. “A música influencia a molecada; nessa idade, o sangue ferve. A gente já tem uma certa maturidade e pensa mais antes de fazer as coisas...” Com influências que vão de Sabotage a Jimi Hendrix e Agepê, o Mandamentos tem músicas incluídas em coletâneas produzidas por Thaíde e DJ Hum e pela Rádio Heliópolis. “Um Trecho de Sampler”, contribuição de Ice J para o projeto online Reimixado (www. reimixado.com), foi citado pela revista “Rolling Stone Brasil”. No projeto, rappers do Ipiranga prestam homenagem a Roberto Carlos, usando samples de hits do “Rei”. “O rap precisa se renovar, mas sem se vender”, analisa J. Funkeiro de Paraisópolis faz shows na Zona Sul Durante o dia, Evandro Henrique da Silva, de 19 anos, ajuda os pais na LAN house da família, em Paraisópolis (Zona Sul). À noite, ele vira o MC Recoba, funkeiro que compõe suas músicas e já ganha dinheiro com elas. “A maioria dos meus shows é pago. Meu Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 24 cachê hoje é de R$ 500 por apresentação”, conta Recoba, que decidiu fazer música há cerca de quatro anos, na adolescência, quando começou “a sair de rolê”. “O funk estava na moda, e não tinha um MC em Paraisópolis que representasse a nossa quebrada no pancadão.” Sua maior influência é a dupla fluminense Claudinho & Bochecha. “Eu era pequeno, não parava de ouvir os CDs deles. Pegava um microfone de brinquedo e ficava imitando”, lembra. O MC costuma se apresentar em casas noturnas de Interlagos e Santo Amaro e também nas baladas fervidas de Paraisópolis – Batucão e Devassa são os principais salões que tocam funk. Lotam toda semana. “É mais mulher que vai, e os homens vão atrás.” Além de trabalhar na LAN house, Recoba passa o tempo postando vídeos seus no YouTube e gravando CDs caseiros, que distribui depois das apresentações. “Show é só à noite, né?” DANÇA Na ponta dos pés ONG revela o mundo do balé para crianças e adolescentes de Paraisópolis Gabriela começou no balé aos 7 anos A música “Vida de Bailarina”, composição de Américo Seixas e Dorival Silva gravada por Elis Regina, diz num trecho que quem faz balé termina “não vivendo pra dançar, mas dançando pra viver”. Pois essa necessidade urgente de bailar está sendo um novo caminho para as crianças e adolescentes de Paraisópolis, na Zona Sul, que frequentam aulas de balé na ONG Barracão dos Sonhos. “Comecei aos 7 anos e não quero mais parar. Quero ser bailarina profissional e depois dar aulas de balé. É uma coisa muito forte”, conta a estudante Maria Gabriela Santana Araújo, de 16 anos. A jovem bailarina, que já fez várias apresentações com o grupo da ONG, teve seu momento de maior emoção no ano passado, quando foi solista (momento do espetáculo em que um bailarino dança sozinho para a plateia) na peça “Casa de Bonecas”, no CEU Paraisópolis. “Meu pai não queria que eu dançasse, dizia que isso não dá futuro. Depois de me ver, ele gostou tanto que se convenceu de que é o meu caminho”, diz. Gabriela é uma das 40 alunas da ONG Barracão dos Sonhos, que começou a oferecer aulas gratuitas de balé em 2000. Com a mudança para um espaço maior, a proposta é chegar a 120 alunos. Os jovens pagam uma taxa mensal de R$ 20, valor investido na compra de materiais para as próprias aulas. A responsável é a professora Viviane Amaral, ex-bailarina profissional com passagem pelo grupo Balé Copélia. “Quando tive a ideia de dar aulas na ONG, pensei que lá em Paraisópolis as crianças não tinham acesso a esse tipo de dança, que é visto como uma coisa mais elitizada”, lembra a professora. Para sua surpresa, a procura foi enorme. E, com a expansão da sede, ela quer colocar mais gente na ponta dos pés. MARCOS PALHARES ONG é Ponto de Cultura musical Criada em 1999, a ONG Barracão dos Sonhos faz parte, hoje, da Rede de Pontos de Cultura do Ministério da Cultura. Além das aulas de balé, o projeto tem como objetivo difundir o gosto pela música, com aulas de instrumentos de corda (violão, cavaquinho, guitarra) e realização de eventos como uma roda de samba mensal. “Na roda de samba, além da música, pessoas da comunidade preparam comidas. Assim, estimulamos a convivência local”, explica o fundador e presidente da ONG, Dinho Rodrigues. “Temos um conceito social de ócio produtivo. A ideia é aproveitar o tempo livre das pessoas, que é pouco, para que tenham contato com a arte”, acrescenta Dinho. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 25 Ed faz coreografia com a bailarina Paula Penachio minha receita que vendia bombons e fazia balé nos finais de semana. Contaram isso pra jornalistas de uma tevê, que vieram me entrevistar. Aí eu ganhei bolsa de estudos da Escola de Danças Clara Pinto”, recorda Ed. A partir daí, sua carreira foi meteórica: passou para a Companhia de Dança Ana Unger e, mais tarde, foi aprovado para integrar a São Paulo Companhia de Dança, em 2008. “O balé mudou completamente a minha vida”, afirma. Mas ser bailarino também tem suas dificuldades. A rotina de um profissional como Ed é puxada, com ensaios e treinamentos das 10h às 17h30, de segunda a sábado. “É como um atleta. Estou voltando agora de uma cirurgia no tornozelo esquerdo. Fiquei afastado por quatro meses”, conta. Mas nem as dores do ofício o desanimam: “Fui atrás do meu sonho, queria isso pra mim e consegui. É colocar o objetivo na cabeça e seguir em frente”. GASTRONOMIA Feijão tropeiro com carne seca INGREDIENTES 1 kg de feijão fradinho 300 g de carne seca dessalgada 300 g de bacon 200 g de farinha de mandioca 1 ramo de coentro Sal e pimenta a gosto MODO DE PREPARO Numa frigideira, frite o bacon. Em seguida, coloque a carne seca dessalgada, cortada em pequenos cubos. Em outra panela, cozinhe o feijão. Não deixe no fogo por muito tempo, pois os grãos precisam ficar inteiros. Misture a carne seca e o bacon fritos com o feijão. Depois, acrescente a farinha e mexa, sem deixar que ela fique seca. Tempere com sal e pimenta a gosto, adicione o coentro picado e mexa bem. Sirva com arroz, bisteca e salada ou couve refogada. Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 Por Marlúcia da Silva Soares, 47 anos, dona e chef do Bar da Tia, no Sapé (Zona Oeste) 26 RENDIMENTO: 8 porções CUSTO ESTIMADO: R$ 18 TEMPO MÉDIO DE PREPARO: 30 minutos SERVIÇO : Bar da Tia. R. General Syzeno Sarmento, 259, Sapé, Rio Pequeno. FOTOS: Newton Santos FOTO: Silvia Machado/Divulgação Da comunidade ribeirinha para os palcos Nascido às margens do Rio Ipixuna Mirim, próximo à cidade de Limoeiro do Ajuru (Pará), Ed Louzardo, de 26 anos, é um dos bailarinos da São Paulo Companhia de Dança. Vindo de uma infância pobre em uma comunidade ribeirinha, ele descobriu o balé depois de mudar com a família para Belém, capital do Pará. “Perto de nossa casa, havia um projeto do Instituto Ayrton Senna que oferecia aulas de balé. Minhas duas irmãs se inscreveram, e eu acompanhava as aulas. Me apaixonei pela dança”, conta ele, que começou a dançar aos 11 anos, no final da década de 1990. Naquela época, Ed vendia bombons num dos campi da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Com o tempo, os estudantes começaram a comentar sobre o menino ntos FOTO: Newton Sa Está no sangue! Ao reencontrar o primo, Antonia França, do Jardim São Francisco, descobre que a família tem vocação para cuidar de comunidades Ao folhear a quarta edição da Renova SP, uma fotografia chamou a atenção da dona de casa Antonia Esteves da Silva França, de 63 anos. Moradora do Jardim São Francisco, na Zona Leste, ela reconheceu Leocádio Teixeira Santos, do Jardim Guapira 1 (Zona Norte), cuja história foi contada neste mesmo espaço. Leocádio é primo de Antonia, e um não tinha notícias do outro há mais de duas décadas. “Minha mãe, que era irmã da mãe dele, morava também na Zona Norte, e às vezes eu encontrava o Leocádio quando ia visitá-la. Depois que ela morreu, nunca mais voltei lá, perdi o contato”, conta Antonia. Como se não bastasse apenas uma surpresa, ao continuar a leitura, Antonia descobriu que Leocádio é uma liderança em sua comunidade. A mesma posição do filho dela, Agnaldo, que é presidente da Associação Nova Esperança, no Jardim São Francisco. “Acho que está no sangue da família”, brinca a dona de casa, que já retomou o contato com o primo. Nascida na Bahia, como o primo, ela veio para São Paulo um ano depois dele, em 1972. “Meu marido, no tempo de solteiro, já tinha vivido oito anos aqui. Quando casamos, ele me trouxe para morar em Sapopemba [Zona Leste]”, explica. “Só bem mais tarde, em 1990, viemos para o Jardim São Francisco, para construir nossa casa no regime de mutirão”, acrescenta. Na época, a Prefeitura doou o terreno e financiou a compra do material de construção. Mas a regularização da propriedade dos imóveis só está ocorrendo agora, com o projeto de urbanização da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab). A história do Jardim São Francisco remonta ao século 19, quando a região pertencia à Fazenda do Oratório. Décadas mais tarde, foi rebatizada como Fazenda da Juta, pertencente a Nestor de Barros. Ele vendeu uma parte da propriedade para o empresário do ramo imobiliário Matteo Bei, que, a partir de 1949, criou os lotes onde hoje está o bairro de São Mateus. O Jardim São Francisco receberia empreendimentos voltados à Habitação de Interesse Social décadas à frente, como o Promorar (1982), o Programa de Mutirões (1989) e o Cingapura (1993). Antonia recorda como foram difíceis os primeiros momentos na comunidade. “Não tinha luz, esgoto, asfalto. Nem lixeiro passava. A gente precisava andar muito para despejar. Transporte era lotação clandestina. Demorou uns dez anos para resolver essas coisas, com o asfalto vindo por último”, lembra Antonia. Hoje, na iminência de ver o Jardim São Francisco urbanizado, Antonia garante: “Valeu a pena”. Até porque, assim como o trabalho do primo Leocádio, na Zona Norte, a mobilização da família na Zona Leste também deu resultado. MARCOS PALHARES Renova SP MARÇO | ABRIL 2012 27 o t a r t e r PASSADO DE VALOR por Fabio Knoll Tombada pelo patrimônio histórico, Vila Itororó deixará de ser cortiço para abrigar um equipamento cultural da Prefeitura É geógrafo formado pela USP e trabalha em parceria com a Secretaria Municipal de Habitação há quatro anos. Especializou-se em fotografia documental e sempre se interessou na relação entre o homem e seu meio