Internacionalização da Economia Portuguesa Contributos para Acelerar a Retoma Introdução A retoma significativa do crescimento económico em Portugal resolveria muito dos problemas que hoje nos parecem transcendentais. Perante o estado da economia doméstica, a internacionalização afigura-se como a via de retorno ao crescimento. Mas este dificilmente acontecerá, com a rapidez desejada, apenas pelo incremento das actuais exportações, porque: - Teriam de crescer uma magnitude acima das previsões actuais para recolocar Portugal numa rota de claro crescimento (2-3%), isto quando - 67% das exportações actuais são para mercados também com desafios económicos ... Como se não bastasse, o mundo apresenta hoje desafios sem precedentes. Os novos países em desenvolvimento são cada vez mais competitivos graças a factores de produção e escala completamente diferentes dos europeus, e desviaram 18% do investimento mundial só nos últimos 3 anos ... Há muito a fazer em Portugal em áreas de internacionalização como as exportações, o turismo e o empreendedorismo. Estes esforços são fulcrais e devem ser prosseguidos. Mas perante o acima exposto, podem revelar-se insuficientes para desencadear um nível suficiente de retoma. Muito provavelmente necessitaremos também de contemplar novas apostas externas. As que resultarem podem fazer a diferença, pois oportunidades da economia internacional bem aproveitadas podem ter um impacto enorme num país com a dimensão de Portugal. O nosso ponto de partida até é bom: um país encantador, pacífico, com um clima ameno, numa posição geográfica única entre quatro continentes, com a geração de jovens melhor preparada de sempre e ... capaz de atrair ainda mais jovens do estrangeiro desde que as oportunidades surjam. Os seguintes eixos de ação internacionais poderão ter um impacto especialmente significativo na economia portuguesa: 1 Incrementar a atração de investimento productivo directo (IDE) Mas já não basta acolher os investimentos quando eles surgem em Portugal, porque: - Grande partes deles hoje nem sequer chegam a considerar o nosso país por desconhecimento, má percepção ... - Frequentemente, mesmo quando nos chegam ao conhecimento, já estão num estado demasiado adiantado para contemplar “desviá-las” para Portugal. Urge pois passar do acolhimento para a busca proactiva externa das oportunidades de IDE, junto dos centros de decisão dos potenciais investidores internacionais. É o objecto de algumas iniciativas propostas nos pontos 1 e 3. Acelerar criação de novas empresas orientadas para o mercado internacional Ligado ao incremento da inovação e empreendedorismo com sucesso internacional. Há muito a fazer e a ser feito para impulsionar a inovação e empreendedorismo em Portugal. Mas a experiência demonstra que, mesmo com políticas correctas, pode demorar uma geração para incrementar numa magnitude a produção de start-ups. E provavelmente precisamos até de mais que isso. Há duas forma de acelerar a criação de start-ups, intimamente ligadas entre si: - Atrair Venture Capital (VC) internacional: existe na Europa um défice de Venture Capital (VC) com escala internacional. A sua atração posicionaria Portugal como um país especialmente interessante para os jovens empreendedores europeus, bem como permitiria aos start-ups de maior potencial acelerarem a sua saída para o mercado global. O desafio é que estas VCs procuram países com volumes de inovação muito superior á que Portugal consegue hoje (e no curto-médio prazo) internamente criar, e por isso há que procurar também: - Atrair empreendedores estrangeiros que por sua vez, em primeiro lugar, procuram VC com escala internacional ... É o objecto de algumas iniciativas propostas nos pontos 2 e 3. Transformação da imagem de Portugal como destino de negócios Coberta no ponto 4. Estratégia concertada para os grandes centros mundiais Coberta no ponto 5. 2 1. Incrementar a atração de investimento productivo directo (IDE) 1.1. Liderança e coordenação: criar pequena equipa central no AICEP para coordenar a busca proactiva externa de IDE. 1.2. Conhecer os mercados: mapear as empresas internacionais, perceber os clusters geográficos, centros e factores de decisão ... 1.3. Desenvolver força de vendas externa: quando estes centros de decisão estiverem próximos de delegações da rede externa do AICEP, nomear um gestor de conta para uma aproximação proactiva, em coordenação com a equipe central. Estes gestores de conta serão reconhecidos pelo exito nas suas aproximações, criando-se assim gradualmente uma “força de vendas” externa de IDE. 1.4. Contruir rede de aliados: na aproximação aos centros de decisão das empresas internacionais o AICEP deverá sempre que possível cooperar com os líderes das respectivas subsidiárias em Portugal, bem como com os seus quadros internacionais de origem portuguesa, quando os haja. Na detecção destes poderão ser bastantes úteis redes sociais (tais como o TheStartTracker). Nesta actividade os gestores de conta externos deverão ainda ser capazes de utilizar, sempre que possível e útil, as relações com organizações lusófonas locais tais como Associações, Camaras de Comércio ... 1.5. Conselho Consultivo: criar um Conselho Consultivo formado por convite pelos líderes das subsidiárias nacionais de empresas internacionais com investimentos relevantes em Portugal. Este conselho reuniria regularmente para sugerir ao AICEP áreas de melhora, iniciativas para captação de IDE ... 1.6. Pipeline de oportunidades: com a continuidade, a equipa central de busca proactiva de IDE deverá ser capaz de criar, manter e expandir um pipeline de oportunidades, bem como os respectivos factores críticos de sucesso. A evolução deste pipeline será um indicador central da actividade do AICEP. 1.7. Trabalhar os influenciadores externos: com a continuidade, a equipa central de busca proactiva de IDE deverá ser capaz de perceber as consultoras, etc. mais escutados na tomada de decisões de IDE, e desencadear actividades com elas na mudança da perspectiva de Portugal, o que pode ser feito desencadeando visitas, participando em estudos conjuntos, etc. 1.8. Endereçamento de oportunidades: a equipa central de busca proactiva de IDE deverá trabalhar intimamente com a restante organização e com as áreas relevantes do Governo no endereçamento das oportunidades detectadas. O pipeline de oportunidades será ordenado por potencial e prazo de tomada de decisão. Cada oportunidade terá um gestor assignado (prática já existente no AICEP) e em função do seu potencial poderá ser escalado, formar equipas multidisciplinares para o endereçar, etc. 1.9. Cobrir os maiores centros: considerar a abertura de delegações do AICEP em clusters geográficos ainda não cobertos com excepcional concentração de dentros de decisão de empresas internacionais, como por exemplo o Silicon Valley, na Califormia. 3 2. Acelerar criação de novas empresas orientadas ao mercado internacional 2.1. Liderança e coordenação: criar no AICEP uma unidade de negócio especializada em construir pontes com VC e organizações de empreendedorismo internacionais. Funcionaria em estreita colaboração com a rede externa do AICEP e com as áreas relevantes do Governo. Deverá desenvolver uma compreensão do VC internacional bem como o que é necessário para manter um quadro regulatório e fiscal competitivo para os atrair. 2.2. Aproximação proactiva ao VC internacional: desenvolver acções específicas de aproximação ás VCs dos maiores centros mundiais, em coordenação com as delegações do AICEP neles localizadas. Com a continuação poder-se-ão organizar missões regulares de VCs internacionais a start-ups baseadas em Portugal, e vice-versa (exemplo: CICC – California-Israeli Chamber of Commerce). No caso é dos EUA é possível fazê-lo em estreita cooperação com a sua Embaixada (que por sua vez coordena com o Department of Trade ... ). 2.3. Parcerias Venture Capital: promover parcerias entre o VC (capital de risco) português e VCs internacionais (exemplo: European Venture Club, integrado pela CGD) ou empresas internacionais com actividades de VC. Esta actividade seria desenvolvida em estreita parceria com as área relevantes do Governo e com os players do empreendedorismo e capital de risco em Portugal. 2.4. Priorização do financiamento á inovação: priorizar recursos disponíveis de financiamento para inovação e capital de risco público (e fundos comunitarios, quando aplicável) como matching funds em investimentos de VCs internacionais em Portugal (exemplo: Yozma Program, Israel) 2.5. Parcerias internacionais para atração de empreendedores: estabelecer parcerias com organizações internacionais de empreendorismo (exemplo: EuropeUnlimited) e participar nas suas actividades a fim detectar empreendedores com projectos promissores. 2.6. Força de vendas externa: especializar agentes das delegações externas do AICEP, mormente nas que tiverem mais potencial (UE, países lusófonos ... ), nos mecanismos de deteção e atração de empreendedores. Usar mesma metodologia que para o IDE: criar pipeline, perceber os factores criticos de sucesso ... 2.7. Imagem de Portugal: criar ou participar iniciativas e compelling events que possam contribuir para criar externamente a percepção de Portugal como um país atractivo para os inovadores. Eventualmente considerar mesmo criar uma imagem de marca (“Portugal Innovation Europe” ... ) 4 3. Tornar Portugal mais propício a IDE e atração de inovadores 3.1. Incentivos: contribuir para definir um quadro claro e internacionalmente competitivo de incentivos, em estreita colaboração com as áreas relevantes do Governo: 3.1.1. TSU: possibilidade de redução ou isenção da TSU (parte da empresa) referente aos empregados que entrem pela primeira vez no sistema (portugueses ou estrangeiros) por um período inicial (3 anos de isenção já hoje é prática em casos selecionados) 3.1.2. IRS: 20% para os estrangeiros envolvidos que fixem residência em Portugal (Decreto-Lei n.º 249/2009 de 23 de Setembro) muito apelativo para empreendedores e quadros de companhias internacionais, cujos (normalmente elevados) rendimentos passariam assim a ser taxados em Portugal. 3.1.3. Outros: a definir (IRC?) em função da necessária competitividade internacional, complementados com fundos comunitários, onde aplicável 3.1.4. Benefícios orientados ao empreendedorismo e VC internacional: contribuir para definir um regime de benefícios internacionalmente competitivo para start-ups (por ex: primeiros 3 anos) especialmente sensíveis por exemplo aos instrumentos de financiamento estructurado, ou a não penalizar a falha bem intencionada (falhar faz parte do empreendedorismo). Criar também enquadramento favorável á atração de VC internacional. 3.2. Promoção e acesso: criar sites e pacotes de informação facilmente utilizáveis e consultáveis sobre: incentivos, formalidades e licenciamentos necessários, as redes existentes de universidades, parques tecnológicos, incubadoras ... para atração de empreendedores estrangeiros e projectos de IDE (exemplo: Singapore EnterpriseOne) 3.3. Polos de atração: impulsionar, e procurar investidores internacionais, para projectos emblemáticos de facilities orientadas para acolhimento de IDE e de empresas inovadoras (exemplo: Smart City Malta). 3.4. Incrementar atração de eventos de negócio internacionais: tão importantes para incrementar a exposição de Portugal a decisores internacionais (bem como o turismo afluente). Este passaria a ser um dos objectivos da “força de vendas externa” do AICEP (com criação de “pipeline de eventos”, etc.). Esta actividade deverá ser desenvolvida em estreita colaboração com as áreas relevantes do Governo, associações empresariais, proprietários das facilities para eventos, etc. Paralelamente, promover a criação (se necessário procurando investidores) de um ou dois centros de congressos modernos de dimensão de forma a colocar Portugal no circuito dos maiores eventos internacionais de negócios. 3.5. Endereçar areas de percepção melhorável: desenvolver “antídotos” para os maiores desafios de percepção externa tais como a rigidez da legislação laboral (a reavaliar após medidas em vias de implementação) ou a lentidão dos tribunais 5 4. Transformação da imagem de Portugal como destino de negócios Portugal tem uma imagem muito ligada aos valores que promovemos desde há decénios: turismo, praias, gastronomia, productos tradicionais, imagens de marca (fado, futebol ... ) ... essencialmente numa lógica de atração de turismo orientada para os consumidores externos. Falta complementá-la com uma imagem mais actual numa lógica business-to-business: realçando a elevada preparação das novas gerações, a sua insuspeitada literacia digital e linguistica, o quão apelativo e acolhedor Portugal é para os jovens doutros países, o quão estamos de braços abertos a IDE e empreendedores (história a criar) ... A promoção business-to-business tem a vantagem de ser menos dispendiosa que as custosas campanhas de publicidade orientadas aos consumidores externos. 4.1. Desenvolver plano de transformação da imagem de Portugal: como destino de negócios. - Cara-a-cara, através da rede externa do AICEP (em cooperação com a rede diplomática) - Sites e pacotes de informação facilmente utilizáveis e consultáveis (exemplo: Singapore EnterpriseOne) - Eventos e missões dirigidos aos grupos-alvo. - Participação em organizações internacionais especializadas. - Marketing directo ou muito dirigido. - Publicidade orientada em meios muito especializados. - Criação ou participação em compelling events que possam contribuir para mudar externamente a percepção de Portugal - Eventualmente considerar mesmo a criação de novas imagens de marca que projectem a imagem de Portugal que queremos transmitir (“Portugal Innovation Europe”, “A Gateway to the World” ... ) - ... 6 5. Estratégia concertada para os grandes centros mundiais Existem no mundo alguns polos geográficos de excepcional concentração de centros de decisão da economia global (empresas internacionais, inovação, offshoring, outsourcing, VC ... ) como por exemplo: Silicon Valley, Bangalore (India) ou Shenzhen (China), Singapura ... Cada um destes deve ser estudado em função do seu potencial para Portugal, que difere de caso para caso e depende de muitos factores. Um exemplo: o Silicon Valley, foco do VC global e maior centro mundial de inovação nas TIC (e importante também em energias renováveis e biotecnologias). Situa-se na California, que acolhe a maior comunidade de origem portuguesa dos EUA e tem muitas semelhanças com Portugal: paisagem, gradiente de climas, costa virada a Oeste, cultura de vinho ... os californianos que nos visitam sentem-se em casa como em nenhum outro país da Europa. Diversas multinacionais baseadas no Silicon Valley têm subsidiarias em Portugal: Cisco, Google, HP, Juniper, Oracle ... Existe pois a oportunidade de reforçar a posição de Portugal: - Como localização de entrada na Europa das operações de empresas tecnológicas - Como centro de operações (nearshoring, fabrico ... ) na Europa No processo, promovendo uma cultura de inovação e abrindo Portugal a uma das maiores fontes mundiais de turismo afluente. 5.1. Presença: abrir delegação do AICEP no Silicon Valley (a actual delegação do AICEP na California, em S. Francisco, é demasiado pequena e distante). Isto pode ser alcançado, em boa parte, redistribuindo os recursos do AICEP nos EUA, actualmente muito concentrados en New York. 5.2. Parceria com Universidade: nos últimos anos foram criadas 3 parcerias com universidades dos EUA, todas na esfera da costa Leste. A Universidade de Stanford, sistematicamete no podium dos rankings mundiais, esteve na base da criação do Silicon Valley e de muitas das empresas de sucesso mundial nele nascidas. Uma parceria com esta universidade contribuiria decisivamente para abrir as portas de Portugal ao tecido empresarial mais inovador do mundo (podendo substituir uma ou duas das parcerias anteriormente criadas). Uma alternativa menos boa, mas mais susceptivel de apoio governamental dos EUA, seria a Universidade de Berkeley, por ser pública (Stanford é privada). 5.3. Ligações aéreas: não existem actualmente voos directos de S. Francisco para nenhum país do Sul da Europa ou de África, existindo pois a oportunidade de posicionar Portugal como um hub regional no tráfego aéreo para aquele centro mundial. Estudos preliminares apontam para um tráfego significativo (mais de 250.000 passageiros ano, potencialmente). Este é um objectivo reconhecidamente difícil, e poderia ser tentado colocando uma clausula preferencial no caderno de privatização da TAP, ou tentando convencer uma das outras compahias aéreas que operam a partir de Portugal. 7