PRONTUÁRIO ELETRÔNICO E GERENCIAMENTO DE CASO EM AMBULATÓRIO DE PSIQUIATRIA ELECTRONIC MEDICAL RECORD AND CASE MANAGEMENT IN A PSYCHIATRY OUTPATIENT CLINIC REGISTROS ELECTRÓNICOS DE SALUD Y MANEJO DE CASO EN UNA CLÍNICA DE PSIQUIATRÍA Ana Stella de Azevedo Silveira Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, São Paulo SP, Brasil - autor correspondente; email: [email protected] Carolina Bessa Ferreira De Oliveira Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo - USP, São Paulo SP, Brasil. Fernanda Lessa Mestre em Economia da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, São Paulo SP, Brasil. Resumo Introdução: A integração das informações do paciente através de sistemas eletrônicos é uma ferramenta importante para o modelo de cuidado de Gerenciamento de Caso. Objetivos: descrever a implantação e o primeiro ano de funcionamento do prontuário eletrônico como ferramenta de integração das informações para o Gerenciamento de Caso em um ambulatório de psiquiatria, apontando seus benefícios e dificuldades. Métodos: estudo de caso, com pesquisa documental. Resultados: O prontuário eletrônico foi implantado no ambulatório em substituição ao manuscrito em outubro de 2012. Concomitantemente, foi criado um sistema eletrônico de integração das informações que compila os principais dados dos pacientes em um Relatório de Gerenciamento de Caso em tempo real. Benefícios: melhor integração das informações dos pacientes, com maior segurança e confiabilidade; fim da duplicação de trabalho dos gerentes de caso; disponibilidade de dados que facilitam o planejamento do cuidado; melhor coordenação da assistência e comunicação entre os profissionais. Dificuldades: assistência técnica e complexidade do sistema. Conclusão: Os benefícios do prontuário eletrônico superaram as dificuldades, garantindo um melhor funcionamento do Gerenciamento de Caso. 1 Descritores: Registros Eletrônicos de Saúde, Administração de Caso, Sistemas de Informação Abstract Introduction: Integration of health information through electronic systems is an important tool for the Case Management care method. Objectives: To describe the implementation and first year of operation of the electronic medical record as a tool to integrate patient information for case management in an outpatient psychiatric clinic, pointing out its benefits and difficulties. Methods: Case study based on documentary research. Results: The electronic medical records were implemented in the clinic in order to replace the manuscript records in October 2012. Simultaneously, an electronic system for information integration was created, which compiles key patient data in real time in a Case Management Report. Benefits: optimization of the integration of patient information, greater safety and reliability; end of duplication of the work of case managers; availability of data that facilitates care planning, better coordination of care and communication among professionals. Difficulties: technical assistance and system complexity. Conclusion: The benefits of electronic medical records overcame the difficulties, ensuring better functioning of Case Management. Keywords: Electronic Health Records, Case Management, Information Systems Resumen Introducción: Integración des las informaciónes de salud a través de sistemas electrónicos es una herramienta importante para el método de cuidado Manejo de Caso. Objetivos: Describir la aplicación y el primer año de funcionamiento de los registros electrónicos como herramienta para la integración de la información de los pacientes para el Manejo de Caso en una clínica de psiquiatría, señalando sus ventajas y dificultades. Métodos: Estudio de caso basado en investigación documental. Resultados: En octubre de 2012, los registros electrónicos reemplazaron los manuscritos y fue creado un sistema electrónico que recopila los principales datos de los pacientes en un Informe de Manejo de Casos en tiempo real. Beneficios: optimización de la disponibilidad y de la integración de la información, con mayor seguridad y fiabilidad, fin de la duplicación del trabajo, mejor coordinación y planificación de la atención y mejor comunicación entre los profesionales. Dificultades: asistencia técnica y complejidad del sistema. Conclusión: Los beneficios de los registros electrónicos han vencido las dificultades, lo que ha garantizado mejor funcionamiento del Manejo de Caso. 2 Descriptores: Registros Electrónicos de Salud, Manejo de Caso, Sistemas de Información INTRODUÇÃO Os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) são serviços de saúde de nível secundário do Estado de São Paulo que oferecem atendimento ambulatorial e procedimentos diagnósticos em diversas especialidades.1 Administrado pela Organização Social de Saúde (OSS) Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), o AME Psiquiatria Dra. Jandira Masur (AME Psiquiatria) consiste em uma iniciativa inovadora na gestão de serviços ambulatoriais na área de psiquiatria e saúde mental, sendo fruto de parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, os Departamentos de Psiquiatria das principais faculdades de medicina paulistanas, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) e o Ministério Público Estadual.1,2,3 O AME Psiquiatria faz parte de uma rede de referência e contrarreferência que contempla os diversos serviços de saúde mental da Zona Norte. Localizado na Vila Maria, presta atendimento a aproximadamente três mil pacientes com perfil ambulatorial que necessitem consultar-se com equipe especializada.1 O serviço tem como objetivos otimizar o atendimento a pacientes com transtornos mentais moderados ou graves de prevalência relevante na área de abrangência e fortalecer a rede de atenção integral à saúde mental.1,2 O foco do tratamento está na elucidação diagnóstica e estabilização clínica do quadro psiquiátrico, seguindo protocolos de atendimentos referendados pelas faculdades. Os pacientes são atendidos através de consultas previamente agendadas pela Central de Regulação do Estado e, uma vez atingidos os objetivos do tratamento, são encaminhados à unidade de origem ou a outras unidades de maior ou menor complexidade.1,2 O atendimento é prestado por equipe interdisciplinar e compreende cinco Linhas de Cuidados: Transtornos Afetivos e Ansiedade; Transtornos relacionados ao uso de Álcool e Drogas; Psiquiatria Geriátrica; Transtornos Psicóticos e Esquizofrenia; e Psiquiatria da Infância e Adolescência.3 As modalidades de atendimento abrangem consultas individuais, grupos terapêuticos e de família, e realização de exames. Um dos processos que diferencia o AME Psiquiatria de 3 outros ambulatórios é o Gerenciamento de Caso liderado por enfermeiros especialistas em saúde mental, os gerentes de caso (GC).2 O Gerenciamento de Caso pode ser definido como um “método de cuidado com um objetivo comum para toda a equipe de saúde na busca de resultados de qualidade para o paciente, família e membros envolvidos na assistência, com boa relação de custo-benefício, flexível a qualquer ambiente de cuidado”.4 As primeiras experiências de Gerenciamento de Caso em saúde mental aconteceram na década de 70 nos Estados Unidos e tinham como objetivo tratar o paciente na comunidade e mantê-lo mais próximo do serviço de saúde, contrapondo-se ao modelo hospitalocêntrico vigente.5 No AME Psiquiatria, cada Linha de Cuidados conta com o trabalho de dois a quatro enfermeiros especialistas em saúde mental, os GC, visando a garantia da continuidade e qualidade do tratamento, através do desempenho das funções exemplificadas a seguir:2 • Acompanhar o tratamento do paciente, desde sua admissão até a alta; • Desenvolver o Processo de Enfermagem e o plano terapêutico do paciente em conjunto com a equipe interdisciplinar; • Participar da discussão clínica em sua Linha de Cuidados; • Condensar e compartilhar as informações a respeito dos pacientes através de um sistema interno de troca de informações; • Coordenar e delegar os cuidados com o paciente; • Desenvolver atividades de psicoeducação e; • Realizar a Busca Ativa (BA) de pacientes faltosos. A experiência do Gerenciamento de Caso no AME Psiquiatria exige uma prática mais autônoma do enfermeiro, com responsabilização pelo cuidado longitudinal dispensado ao paciente e proporciona um cuidado mais coordenado e efetivo, resultando em taxas de adesão ao tratamento satisfatórias para o perfil da população atendida.2 Uma das atribuições essenciais do GC no AME Psiquiatria é compilar todas as informações referentes ao andamento do tratamento do paciente, coordenando e organizando a assistência. Inicialmente, para realizar essa função, era utilizada uma Planilha de Gerenciamento de Caso de Excel (PGC-E), abastecida pelos GC com dados do prontuário do paciente e anotações da agenda diária dos profissionais. 4 Em 2012, o AME Psiquiatria contratou um Sistema de Gestão em Saúde informatizado que permitiu a implantação de um Sistema Eletrônico Integrado (SEI) de Gerenciamento de Caso, através da substituição do prontuário manuscrito pelo Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP). O PEP ou Electronic Medical Record (EMR) é definido pela Organização Mundial da Saúde como um sistema de documentação informatizado desenvolvido para a prática médica ou centros de saúde, que inclui a identificação e outras informações sobre o paciente, como uso de medicamentos e resultados de exames laboratoriais.6 Em uma revisão, Patrício 20117, define o PEP como “o repositório de dados clínicos obtidos por variadas fontes, armazenados eletronicamente de modo a permitir sua recuperação rápida e organizada, com informações de um conjunto de pacientes ou sobre um paciente em particular”. Juntamente à implantação do PEP, houve a substituição da PGC-E pelo Relatório de Gerenciamento de Caso (RGC). O RGC importa do prontuário dados sócio-demográficos, clínicos e assistenciais importantes para o Gerenciamento de Caso em tempo real. Apesar de ter se mostrado um método efetivo para garantir a continuidade do tratamento para pacientes com transtornos mentais graves,5 as experiências e publicações sobre Gerenciamento de Caso no Brasil ainda são escassas e concentradas em serviços hospitalares e da rede privada de saúde. Por outro lado, o uso do PEP também é recente no país. Apesar de, no Estados Unidos, as primeiras experiências terem surgido na década de 70; no Brasil, a investigação de um modelo de PEP iniciou-se nos anos 90 e só nos anos 2000 surgiram novas leis regulamentando esse tipo de documentação.7 Além disso, há poucos estudos científicos sobre a adoção e utilização de sistemas tecnológicos de informação em saúde.8 Esse fatos, aliados à disponibilidade de um SEI de informações do paciente para o Gerenciamento de Caso tornam a experiência do AME Psiquiatria algo inovador que merece ser estudado e avaliado a fim de identificar a utilidade dessa ferramenta para o gestor em saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). A pergunta levantada no presente artigo foi: “ quais foram os benefícios e as dificuldades provenientes dessa experiência?” Baseando-se nessa pergunta, a hipótese proposta é de que os benefícios trazidos pela implantação do PEP como ferramenta de integração das informações para o Gerenciamento de Caso superaram as dificuldades, justificando seu uso. 5 O objetivo desse estudo foi descrever a implantação e o primeiro ano de funcionamento PEP como ferramenta de integração das informações para o Gerenciamento de Caso no AME Psiquiatria, apontando seus benefícios e dificuldades. 2 MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, com pesquisa documental, descrevendo a história da implantação do PEP como ferramenta de integração das informações para o Gerenciamento de Caso no AME Psiquiatria e seu primeiro ano de funcionamento, apontando benefícios e limitações. Os dados foram coletados utilizando fontes encontradas junto ao AME Psiquiatria, incluindo relatórios e manuais do serviço e resultados de pesquisas já desenvolvidas. A coleta de dados teve início após obtenção de autorização para a realização da pesquisa pela direção do AME Psiquiatria e pela direção de enfermagem da SPDM e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo através do parecer 482.086, emitido em 29/11/2013 (ANEXO). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para compreender o SEI de Gerenciamento de Caso através do PEP, é importante conhecer como o processo acontecia antes de sua implantação. O Quadro 1 descreve a trajetória da implantação do SEI de Gerenciamento de Caso no AME Psiquiatria. Quadro 1. Trajetória da implantação do Sistema Eletrônico Integrado De Gerenciamento de Caso no AME Psiquiatria Agosto de 2010 • • Inauguração do AME Psiquiatria Implantação do Gerenciamento de Caso Setembro de 2010 • Implantação da Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) Julho a Setembro 2012 • Desenvolvimento e testagem do PEP e do Sistema Eletrônico Integrado De Gerenciamento de Caso Treinamento dos GC no manejo do sistema • Outubro de 2012 • Implantação do Sistema de Gestão em Saúde informatizado no AME Psiquiatria, incluindo o PEP Outubro a Dezembro de 2012 Janeiro de 2013 • Transição das informações da Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) para o Relatório de Gerenciamento de Caso Fim do uso da Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) Consolidação do Sistema Eletrônico Integrado De Gerenciamento de Caso como estratégia definitiva para acompanhamento dos pacientes • • 6 Durante dois anos, a compilação das informações para o Gerenciamento de Caso foi realizada através das PGC-E (Figura 1). Cada um dos 14 enfermeiros do AME Psiquiatria manejava sua própria Planilha, com dados de todos os pacientes sob sua responsabilidade. Figura 1. Modelo de Planilha de Gerenciamento de Caso-Excel *Dados Fictícios para preservar a identidade dos pacientes A Figura 2 descreve o fluxo de informações nesse modelo. Nele, o profissional que atende o paciente deve fazer manualmente o registro da consulta em seu prontuário. Se houver alguma ocorrência mais relevante para a ciência do GC, como riscos e eventos (ex.: suicídio, heteroagressão), o profissional a transcreve novamente em sua agenda diária para que o enfermeiro compile esses dados na PGC-E. Faltas e agendamento de discussões clínicas seguem o mesmo fluxo. Com as agendas em mãos, o enfermeiro é responsável por analisar os dados mais relevantes, inseri-los na PGC-E e tomar condutas condizentes com os achados. As informações básicas sobre o paciente também são inseridas na PGC-E pelo GC, que transcreve as informações outrora inseridas no banco de dados do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME). 7 Figura 2. Fluxo de informações com a Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) Em 2012, o AME Psiquiatria contratou uma empresa para realizar a instalação e manutenção de um Sistema de Gestão em Saúde informatizado. Tal Sistema permitiu a integração de processos, pessoas e informações relacionadas às áreas assistencial e administrativa através de uma plataforma informatizada. Sua instalação trouxe um grande avanço para a área assistencial; a implantação do PEP, que substituiu o antigo prontuário manuscrito existente na unidade. A fim de cumprir as regras determinadas pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)9 para Certificação de Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde, os dados registrados no PEP do AME Psiquiatria são impressos e assinados manualmente para então serem arquivados em um prontuário físico, uma vez que o serviço ainda não conta com a assinatura digital dos funcionários. Foi também solicitado para a empresa o desenvolvimento do RGC (Figura 3), em substituição à antiga Planilha. A transferência dos dados da PGC-E para o RGC ocorreu aos poucos, conforme novas ocorrências eram registradas no PEP e prontuários eram abertos ou fechados. A integração automática dos dados entre o PEP e o RGC resultou no SEI de Gerenciamento de Caso, cujo fluxo é descrito na Figura 4. 8 Figura 3.Modelo de Relatório de Gerenciamento de Caso *Dados Fictícios para preservar a identidade dos pacientes Figura 4. Fluxo de informações com o Relatório de Gerenciamento de Caso Podemos afirmar que ambas ferramentas, a antiga PGC-E e o novo RGC compilam dados sócio-demográficos, clínicos e assistenciais importantes para o Gerenciamento de Caso, com a principal diferença que o SEI permite que isso ocorra em tempo real, ou seja, uma vez que um profissional realiza um novo registro no PEP, esse é automaticamente exportado para a RGC, e ao mesmo tempo em que um prontuário é aberto ou encerrado no SAME, ele é aberto ou encerrado no RGC. No entanto, por se tratarem de distintas ferramentas, o manuseio das mesmas e o funcionamento de seus recursos também são distintos. O Quadro 2 explicita a diferença do funcionamento dos principais recursos da PGC-E e do RGC e o Quadro 3 descreve as vantagens e desvantagens do uso de cada uma delas. 9 Quadro 2. Funcionamento dos principais recursos da Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) e do Relatório de Gerenciamento de Caso Recurso Inserção de informações básicas do paciente (nome, data de nascimento, idade, etc.) Registro de ocorrências com o paciente (faltas, riscos e eventos) Manejo do excesso de informações (faltas antigas, pendências resolvidas, riscos melhorados) Registro e identificação de pacientes de alta Controle da data do último atendimento Controle de busca ativa Estratificação de pacientes mais graves Estratificação de paciente por médico ou terapeuta responsável pelo paciente Contagem de indicadores (riscos, eventos, BAs, altas) Agendamento de discussão de caso para reunião clínica Registro de discussão de caso em reunião clínica Rastreabilidade dos registros Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) Informações dos pacientes são inseridas uma a uma pela GC através de acesso ao banco de dados do SAME (cópia e cola). Relatório de Gerenciamento de Caso (PEP) As ocorrências são manuscritas na agenda diária do profissional. GC recolhe as agendas periodicamente e transcreve os dados na Planilha. A data de registro da ocorrência não está explicitada na Planilha. Informações antigas que já não são importantes para o quadro atual do paciente são apagadas da Planilha pela GC. As ocorrências registradas no PEP através de um esquema de checklist são automaticamente importadas para o Relatório, especificando a data de registro. A alta é manuscrita na agenda do profissional. GC recolhe as agendas periodicamente e transcreve as altas na Planilha, separando os pacientes de alta dos pacientes ativos em duas diferentes abas. A planilha de inativos é mensalmente enviada ao SAME, que identifica a alta e encerra os prontuários dos pacientes. Não é realizada A alta registrada no PEP é automaticamente importada para o Relatório. Um aviso de alta é automaticamente enviado ao SAME, que encerra o prontuário do paciente. O Relatório separa os pacientes em duas listas: ativos e inativos. Data da última BA é inserida na Planilha. Uma fórmula realiza a contagem dos dias que se passaram desde a última BA e um sistema de cores estratifica os pacientes de acordo com a contagem. Realizada através de filtros na Planilha. Não é possível. Realizada mensalmente através do uso de filtros na Planilha. Profissional que deseja discutir um caso registra a solicitação na agenda diária. GC recolhe as agendas periodicamente e solicita os prontuários no SAME para a reunião clínica através de formulário próprio. Registro é realizado apenas em livro ata e então transcrito na Planilha. Não é possível. Informações dos pacientes são inseridas automaticamente a partir do momento em que o SAME abre o prontuário para o paciente. Informações antigas que já não são importantes para o quadro atual do paciente podem ser desativadas e não aparecer mais no Relatório, mas continuam no PEP. Data é inserida no Relatório automaticamente após abertura do atendimento A BA registrada no PEP é automaticamente importada para o Relatório. Um sistema de filtro permite estratificar os paciente de acordo com a data da última BA. Realizada através de filtros no Relatório. Realizada através de filtros no Relatório. Realizada mensalmente através de exportação do Relatório para uma planilha de Excel e uso de filtros. Profissional que deseja discutir um caso registra a solicitação no PEP. GC solicita os prontuários para a reunião clínica através da plataforma informatizada. Além do livro ata, registro é realizado no PEP e automaticamente importado para o Relatório. É possível rastrear quem realizou um registro consultando o PEP. 10 Quadro 3. Vantagens e desvantagens da Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) e do Relatório de Gerenciamento de Caso Planilha de Gerenciamento de Caso (Excel) • Autonomia para resolver falhas no sistema pela equipe de TI local e pelas gerentes de caso • Facilidade na contagem de indicadores (riscos, eventos, BAs, altas) Relatório de Gerenciamento de Caso (PEP) • • • • • • Vantagens • • • Desvantagens • • • Desperdício de tempo e recursos humanos Duplicação de tarefas Possibilidade de “erros” nas fórmulas da Planilha ao copiar e colar informações Possível perda de informações ou erro de registro ao transcrever dados na Planilha • • Economia de tempo e de recursos humanos Maior segurança nas informações Maior participação dos profissionais não enfermeiros Facilidade na inserção de informações e ocorrências no Relatório Agilidade no encerramento dos prontuários de paciente de alta Possibilidade de estratificação do paciente por profissional responsável Facilidade em manejar os filtros do Relatório Facilidade em rastrear os registros realizados Dependência da empresa contratada responsável pela plataforma para corrigir falhas e realizar aperfeiçoamentos no sistema Complexidade da contagem dos indicadores A literatura científica também atribui diversas vantagens ao PEP: acesso mais veloz às informações do paciente, disponibilidade remota, uso simultâneo por diversos serviços e profissionais de saúde, legibilidade, rastreabilidade e confiabilidade dos dados, integração com outros sistemas de informação, facilidade na coleta dos dados para emissão de relatórios e indicadores, possibilidade de priorização do atendimento para os casos graves, fim da redigitação das informações e facilidade no compartilhamento de informações entre os profissionais de saúde.7,8,10,11 Além disso, a adoção do PEP vai muito além da digitalização de dados e documentos impressos em papel, gerando grandes bases de dados que podem ser analisados e utilizados para melhorar a assistência prestada.7,10,12-14 Assim, a integração de sistemas de gerenciamento de doenças e PEP favorece o manejo de informações de saúde e melhora a qualidade da assistência, uma vez que proporciona dados do paciente de modo coordenado e em tempo real.8 No entanto, 11 esses dados são geralmente subaproveitados pelos profissionais de saúde, que ainda não compreendem o PEP integrado a um sistema de informação.8,12 Assim, no AME Psiquiatria, a implantação do PEP foi acompanhada pela elaboração de um SEI de informações, a fim de aproveitar todos as possibilidades que essa nova modalidade de prontuário oferece. Acessar, organizar e analisar do PEP pode ser desafiador,15 sendo necessário que a informação seja adequadamente processada antes de ser disponibilizada, incluindo as etapas de seleção, organização, armazenagem, gerenciamento e disseminação.14 Desse modo, foi essencial para o bom funcionamento do SEI no ambulatório, que um fluxo de informações fosse desenvolvido cuidadosamente a fim de criar um método simples e fácil para coleta e análise dos dados, no qual os dados do PEP são importados para o RGC automaticamente e em tempo real. A indisponibilidade de informações em tempo real pode resultar em atraso do tratamento, em decisões não compartilhadas, no uso ineficiente de recursos e em erros médicos8. Antes da implantação do SEI, os GC trabalhavam com um fluxo de dados que não acontecia em tempo real e era bastante complexo e artesanal. Informações importantes sobre o paciente demoravam até uma semana para serem compartilhadas com a equipe responsável. Além disso, era pouco seguro, uma vez que na hora de transcrever os dados do prontuário para a agenda e dessa para a PGC-E, os envolvidos estavam sujeitos a erros ou esquecimentos que poderiam prejudicar a confiabilidade das informações compartilhadas. Assim, ao comparar o modelo antigo de GC com o atual, o SEI destaca-se principalmente pela maior segurança no fluxo das informações e maior economia de recursos humanos e de tempo. Isso ocorre porque no SEI, a migração de dados é automática e não depende de mão de obra humana, o que além de demandar menos tempo, diminui a possibilidade de erros. Dentre as desvantagens do PEP encontradas na literatura estão o custo para instalá-lo e mantê-lo, a falta de padronização entre os diferentes sistemas existentes, a necessidade de treinamentos, a resistência dos profissionais de saúde ao seu uso e a demora em obter resultados reais da sua implantação.7,10,11,13 Quanto ao custo, não é simples avaliar se é uma desvantagem o fato do AME Psiquiatria ter que arcar com as despesas de contratar uma empresa para manutenção da plataforma, pois o valor gasto nisso pode ser compensado pela economia de tempo e recursos humanos resultantes de sua implantação. Um estudo 12 aprofundado seria necessário para avaliar melhor essa condição. Embora geralmente a implantação do PEP reduza custos devido à diminuição de gastos administrativos com impressões e profissionais de arquivo,10 no AME Psiquiatria isso não foi observado, pois se trata de uma sistema misto, que ainda depende do prontuário físico. Apesar da resistência inicial dos GC, que estavam acostumados e apegados ao antigo modelo, a transição para o PEP no AME Psiquiatria ocorreu com sucesso. Um fluxo bem estabelecido e bastante treinamento e conversa sobre a importância do sistema, conforme sugerido por Bezerra10, acrescidos do progressivo domínio na sua utilização foram suficientes para superar essa barreira, transformando as queixas em elogios e relatos de economia de tempo e de trabalho. Após um ano de funcionamento, apesar das inúmeras vantagens que o SEI de Gerenciamento de Caso demonstrou frente ao antigo sistema, ainda há melhorias que necessitam ser feitas para que satisfaça amplamente os profissionais. Algumas falhas e limitações ainda não foram corrigidas ou superadas. Destaca-se a contagem dos indicadores, que deveria ser concluída automaticamente, mas ainda depende de exaustivo trabalho da Supervisão de Enfermagem para sua execução. Outra limitação é a complexidade dos processos de aperfeiçoamento do sistema, que muitas vezes não podem ser executados pela equipe de Tecnologia da Informação (TI) local, e dependem da disponibilidade da empresa responsável pela manutenção da plataforma para sua execução. 4 CONCLUSÃO O presente trabalho descreveu a história da implantação e do primeiro ano de funcionamento do PEP como ferramenta para o Gerenciamento de Caso no AME Psiquiatria, apontando seus benefícios e dificuldades. Os achados do artigo sugerem que o sistema garantiu melhor funcionamento do Gerenciamento de Caso, através da otimização da integração das informações, proporcionando mais segurança e confiabilidade no trabalho e possibilitando à equipe uma visão geral e ampla em tempo real dos mais de 3000 pacientes ativos no serviço. O SEI diminuiu a duplicação de trabalho e proporcionou dados que facilitaram o planejamento do cuidado para os pacientes, auxiliando a coordenação da assistência e a comunicação entre os profissionais. Apesar desses benefícios, algumas dificuldades foram encontradas, como a dependência da empresa prestadora de serviço para assistência técnica e a complexidade da estratégia da contagem de indicadores. 13 É importante considerar que, por se tratar de um relato de experiência, o artigo não reflete a opinião dos usuários do sistema, o que limita sua capacidade em compreender mais profundamente seus benefícios e dificuldades. De qualquer modo, os resultados permitiram uma abordagem inicial do assunto, que pode servir como base para outros estudos que envolvam, por exemplo, entrevistas com os profissionais de saúde e avaliação do custo-benefício dessa estratégia. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço à Sra. Elizabeth Akemi Nishio e à Dra. Denise Amino pela autorização e concessão de material para a realização desse estudo. 6 REFERÊNCIAS 1. De Araújo Filho GM, Amino D, Yamaguchi LM, Silveira ASA, Laranjeira R, Tamai S. AME Psiquiatria: um ano de funcionamento. Psiquiatria Hoje – Debates. 2012; 2:44-49. 2. Silveira AS, Siqueira AC, Oliveira FM, Nishio EA, Nóbrega MPSS. Gerenciamento de caso em ambulatório de psiquiatria, competências e prática da enfermeira. Enfermagem em Foco. 2013; 4(1): 29-32. 3. De Araújo Filho, GM. AME Psiquiatria: uma proposta para o fortalecimento da rede de cuidados em saúde mental. Psiquiatria Hoje – Debates. 2010;4:9-11. 4. Casarin S, Villa TCS, Cardozo-Gonzales RI, Caliri MHL, Freitas MC. Gerenciamento de caso: análise de conceito. Invest Educ Enferm. 2003; 21(1): 26-36. 5. Marshall M, Gray A, Lockwood A, Green R. Withdrawn: Case Management for people with severe mental disorders. 2011 [citado em 14 fev. 2014]; In: The Cochrane Database System Rev [Internet]. 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