1
A CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO: UM
ESTUDO DE CASO NO COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE COSTA E SILVA
GT4- Práticas Investigativas
Éverton da Paz Santos*
Gezyel Barbosa de Aquino**
Josevânia Teixeira Guedes***
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir a importância da contextualização no ensino
de Química, especificamente no Ensino Médio, a partir de observações in loco durante a
realização do estágio supervisionado de um grupo de estagiários do curso de Licenciatura
em Química da Faculdade Pio Décimo, na Escola Estadual Presidente Costa e Silva. As
aulas foram ministradas em três turmas do 3º Ano do Ensino Médio, sob a supervisão do
professor regente da turma, os conteúdos abordados foram: Funções Orgânicas, Polímeros,
Proteínas, Lipídeos e Carboidratos. Através do estudo de caso foi diagnosticado que os
alunos puderam relacionar os conteúdos químicos estudados em sala de aula com
situações encontradas no cotidiano, obtendo assim, resultados satisfatórios no que diz
respeito ao aprendizado significativo dos alunos.
PALAVRAS CHAVE: Ensino de Química; Contextualização; Ensino Médio.
RESUMEM
Este artículo se propone discutir la importancia de la contextualización en la enseñanza de
la química, específicamente en la escuela secundaria, a partir de las observaciones in situ
durante la ejecución de la supervisión de un grupo de pasantes de la Licenciatura en
Química en la Escuela Pío X Escuela de Estado del Presidente de Costa e Silva. Las clases
se imparten en tres clases de la 3 ª Año de la Escuela Secundaria, bajo la supervisión del
maestro en la clase, los contenidos abordados fueron: las funciones orgánicas, polímeros,
proteínas, lípidos y carbohidratos. A través del estudio de caso se diagnosticó que los
alumnos puedan relacionar los contenidos estudiados en la clase de química a las
situaciones que se encuentran en la vida cotidiana, con lo que la obtención de resultados
satisfactorios en relación con el aprendizaje efectivo de los estudiantes.
PALABRAS CLAVE: enseñanza de la química; contextualización; la Escuela Secundaria.
*
Licenciado em Química pela Faculdade Pio Décimo. E-mail: [email protected]
Licenciado em Química pela Faculdade Pio Décimo. E-mail: [email protected]
***
Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes (UNIT), especialista em Metodologia do
Ensino, graduada em Pedagogia e Direito. Docente da Faculdade Pio Décimo (Aracaju-SE). Membro
do Grupo de Pesquisa GPGFOP/UNIT. E-mail: [email protected]
**
2
INTRODUÇÃO
A contextualização no ensino de Química vem sendo discutida por muitos
autores com base nos PCN´s e por meio da aplicação de novas metodologias,
dentre elas pode-se citar: jogos educativos, recursos didáticos, analogia, utilização
de vídeos entre outros.
Contextualizar é construir significados, incorporando valores que explicitem o
cotidiano, com uma abordagem social e cultural, que facilitem o processo da
descoberta. É levar o aluno a entender a importância do conhecimento e aplicá-lo na
compreensão dos fatos que o cercam.
Na concepção de Mortimer (2003), para que uma aprendizagem ocorra, deve
ser significativa, o que exige compreensão de significado, relacionando-se às
experiências anteriores e vivências pessoais dos alunos, permitindo a formulação de
problemas de algum modo desafiantes que incentivem o aprender mais, o
estabelecimento
de
diferentes
acontecimentos,
noções
e
tipos
conceitos,
de
relações
entre
desencadeando
fatos,
objetos,
modificações
de
comportamentos e contribuindo para a utilização do que é aprendido em diferentes
situações.
Para contextualizar um conteúdo, o professor deve relacionar o mesmo com
questões sociais, políticas e econômicas, uma vez que, esteja em consonância com
os conhecimentos dos alunos diante das situações encontradas no cotidiano, e
assim trabalhar o conteúdo em foco.
Conforme discutido nos PCN´s (2002, p. 87):
Deve-se considerar ainda a importância, na organização das práticas
do ensino, de se levar em conta a visão de que o conhecimento
químico é uma construção humana histórica e específica, o qual,
sendo objeto de sistemáticos processos de produção e reconstrução
sociocultural, vem sendo recontextualizado e usado, com significados
ora mais ora menos estabilizados, mediante o uso de linguagens e
modelos próprios, em contextos diversificados
Deste modo, elaboram-se significados e valores éticos por meio de uma
abordagem contextualizadora de conteúdos químicos, bem como de outras disciplinas,
3
a fim de que o aluno possa entender a importância do conhecimento adquirido e
relacionar com o seu cotidiano, formando desta forma novos conceitos.
Sabe-se que aulas contextualizadas contribuem de forma fundamental no
processo de ensino aprendizagem dos discentes, visto que estimulam a curiosidade e
despertam o interesse dos alunos pelo conteúdo abordado, bem como a busca de
novos conhecimentos relacionados à temática discutida em sala. Ainda, pode-se citar
que contribui para o desenvolvimento intelectual dos alunos, desenvolvendo
habilidades de cooperação e respeito de ideias ao trabalhar em grupo com o confronto
de pensamentos, oportunizando uma visão mais ampla do mundo cotidiano.
Contudo, apesar do uso de várias metodologias nos dias de hoje, ainda pode
ser observado que muitos alunos adquirem o conhecimento de forma isolada,
apresentando uma visão restrita do mundo, deste modo, a contextualização de
conteúdos é caracterizada como uma ferramenta facilitadora no ensino, uma vez que
pode minimizar a fragmentação dos conteúdos, além de contribuir para a formação do
aluno como cidadão crítico e pensante.
Sobre este entendimento, Maldaner e Zanon (2010, p.333) comentam que:
A compreensão do que seja ciência e como ela é produzida influenciam em
muito no ensino escolar da ciência. Se, por exemplo, a compreensão é que
ciência constitui um conjunto de verdades estabelecidas e que seus
enunciados coincidem com a realidade das coisas do mundo natural e dos
fatos, o professor tende a ensiná-la assim, e fará todo o esforço para que os
seus alunos saibam repetir, exatamente, esses enunciados. Dessa forma,
produzem-se apenas argumentos retóricos, isto é, argumentos que buscam
convencer os estudantes dessas verdades e que as outras compreensões
“não científicas” devem ser negadas ou refutadas. As aulas tendem a
dificultar o diálogo e a colaboração na construção e recontextualização dos
conhecimentos no âmbito da escola. Esse tipo de aula é o mais praticado
nas escolas, limitando o desenvolvimento e a compreensão do mundo
natural e tecnocientífico por parte das novas gerações.
Em outra vertente, a prática docente, muitas vezes, é confrontada com os
conteúdos abordados nos livros didáticos, os quais são descriminados de forma
fragmentada inviabilizando atividades contextualizadoras.
É notável que grande parte dos livros do Ensino Médio, especificamente de
Química, apresenta uma abordagem superficial de conteúdos vinculados a realidade
dos alunos. Sabe-se que é de suma importância a utilização de novas metodologias
4
que permitam abordar temas sociais e a elaborar recursos didáticos que otimizem a
qualidade das aulas e que facilitem o entendimento dos alunos.
Neste sentido, é recomendável que o professor conheça o perfil histórico dos
alunos com os quais irá trabalhar, considerando-se o fato que em diversas ocasiões os
docentes estão despreparados para lidar com situações reais. O conhecimento da
realidade dos alunos é importante, pois, permite uma melhor relação entre o professoraluno dentro e fora do ambiente escolar, facilitando desta forma, o entendimento dos
alunos diante do conteúdo abordado.
Na concepção de Santos e Schnetzler (2010, p. 64):
[…] as novas abordagens de ensino de Química antes referidas,
constituem-se como possibilidades para concretizar os objetivos
educacionais propostos para este ensino, tornando-o não somente
relevante para os novos alunos, mas também para nós, próprios
professores de Química e para nossas escolas, reafirmando a sua
importância social, hoje em dia tão questionada. Afinal, é nessa instituição
social que os alunos poderão ter acesso e se apropriar de conhecimentos
historicamente construídos pela cultura humana: conhecimentos químicos
que lhes permitirão outra leitura do mundo no qual estão inseridos.
Para isso, também se faz necessário que o professor possua um conhecimento
amplo do conteúdo a ser trabalhado, buscando sempre a aplicação de novas
tecnologias aplicadas ao ensino, bem como uma revisão dos conceitos a serem
ministrados em sala de aula com cunho científico.
Assim, este trabalho tem como objetivo mostrar a importância do papel da
contextualização no ensino de Química no Ensino Médio, a partir de um estudo de
caso realizado durante um período de estágio numa escola da rede pública de ensino.
5
METODOLOGIA
O estudo de caso foi realizado no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva,
localizado no município de Aracaju – SE, no período de 30 de agosto a 18 de
novembro do ano de 2010, durante o período de Estágio Supervisionado do curso
Licenciatura em Química da Faculdade Pio Décimo, em três turmas de 3º Ano do
Ensino Médio.
Foram realizadas observações in loco durantes as aulas de Química
ministradas pelos estagiários da disciplina, sob a supervisão do professor regente
da turma. As observações serviram como sustentação para coleta de dados, para
posteriormente serem discutidas.
Os conteúdos químicos abordados durante as aulas no período de
observação do estágio foram: Funções Orgânicas, Polímeros, Lipídeos, Proteínas e
Carboidratos. Sendo estes todas as unidades didáticas regulares do 3º ano do
Ensino Médio.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Ao iniciar as observações, os alunos apresentaram um comportamento
razoável, permitindo uma fácil comunicação durante o período de regência das
aulas, que foram ministradas às terças-feiras das 20:30h as 21:10 h e às quintasfeiras, das 21:10h as 22:00h.
Observou-se que a turma possuía uma deficiência quanto à leitura, escrita e
interpretação e, partindo desse pressuposto, com autorização do professor da
disciplina foi proposto uma metodologia de ensino na qual era aplicado à teoria e a
prática de forma contextualizada, aproximando assim, os alunos da realidade com
materiais e experimentos encontrados no cotidiano de cada um.
Na abordagem do conteúdo Funções Orgânicas, foram utilizados xampus de
várias marcas, como mostra a figura 01 (a), a fim dos alunos identificarem nas
impressões da embalagem a composição química do produto, especificamente, o
grupo funcional estudado na teoria, como mostra a figura 01 (b).
6
a)
b)
Figura 01: a) Exposição dos xampus utilizados na aula. b) Análise e leitura dos rótulos dos xampus.
Observou-se que os alunos tiveram um pouco de dificuldade em encontrar o
composto presente nos xampus devido à falta de leitura de rótulos, necessitando
assim da orientação do professor (estagiário). Entretanto sentiram-se motivados com a
aula e conseguiram abstrair o conteúdo proposto.
Neste sentido, além de conhecerem os compostos orgânicos encontrados no
cotidiano, os alunos puderam relacionar com situações inerentes as aplicações dos
mesmos, instigando-os a buscar novos conhecimentos a fim de formar seus próprios
conceitos.
Na abordagem do conteúdo Polímeros, foram utilizados alimentos encontrados
no cotidiano como mostra a figura 02, (creme de leite, farinha de milho, gelatina, amido
de milho maisena, leite com soja) embora os alunos associassem o conteúdo apenas
aos plásticos, não sabendo que os Polímeros Naturais a exemplo do amido, podem
ser encontrados nos alimentos.
Figura 02: Exposição dos alimentos utilizados na aula.
7
Assim, após uma aula expositiva enfatizando o conceito e classificação de
Polímeros, iniciou-se as leitura dos rótulos dos alimentos por parte dos alunos como
mostra a figura 03.
Figura 03: Alunos lendo os rótulos dos alimentos.
Observou-se que os alunos não imaginavam que ao se alimentar com o
cuscuz ou mingau estavam ingerindo um Polímero Natural, e que não é um plástico,
contribuindo assim, com uma mudança no comportamento alimentar, com uma visão
mais ampla do que estava sendo abordado durante a aula, tornando-se desta forma
um cidadão mais consciente quimicamente.
Alguns comentários dos alunos abaixo evidenciam como a metodologia
aplicada foi relevante:
“Gostei da aula, pois aprendi a importância de ler os rótulos dos alimentos”.
“Gostei da aula, pois nunca participei de uma aula dessa maneira”.
“Logo no início pensava que polímeros eram apenas plásticos ou
embalagem, mas agora sei que tem polímeros nos alimentos”.
É importante ressaltar, que este mesmo recurso, ou seja, os rótulos dos
alimentos foram utilizados para abordar os conteúdos de Proteínas, Lipídeos e
Carboidratos. No qual os alunos foram orientados na leitura, análise e interpretação
da tabela nutricional encontrada nos alimentos, relacionando o conteúdo a uma
alimentação saudável, contribuindo com novos hábitos alimentares.
8
A dificuldade em ler os rótulos, foi justificada pelos alunos, uma vez que
muitos componentes são desconhecidos por eles, além de apresentarem caracteres
muito pequenos, dificultando assim a identificação destes componentes.
O professor, diante dos alunos é motivado a apresentar um mundo no qual os
alunos não percebiam. Isso possibilita desenvolverem o hábito da leitura dos rótulos
e sempre a questionarem a função dos mesmos. Com isso, os alunos tornam-se não
apenas cidadãos, mas críticos e autores de seus próprios conceitos. Com certeza, o
professor cumpre a função de formar um aluno que é agente transformador da
sociedade.
Além da análise e leitura dos rótulos, para os conteúdos de Lipídeos e Pro
teínas, foram realizados experimentos em sala de aula, dentre eles a produção de
sabão e produção da mousse de limão respectivamente.
Sendo assim, na produção de sabão primeiramente os alunos conheceram as
matérias primas utilizadas, dentre elas: soda cáustica, água, essência, sabão em pó
e óleo de cozinha usado.
bem como suas aplicações como mostra a figura 04 (a).
a)
b)
Figura 04: a) Materiais utilizados na produção de sabão.b) Atenção dos alunos durante a
aula.
Durante a realização dos procedimentos experimentais, percebeu-se que
muitos alunos estavam atentos as informações transmitidas como mostra a figura 04
(b), mas pode-se perceber que a grande maioria dos alunos não sabia qual a função
específica de cada substância utilizada na fabricação do sabão, mas com isso foi
9
notório o interesse de cada um pelos conteúdos ministrados sendo evidenciado
pelos comentários dos alunos:
“Agora não irei mais dispensar o óleo de casa no esgoto para não prejudicar
o meio ambiente”.
“Nossa que interessante!! Eu não sabia que podíamos fazer sabão
utilizando óleo usado!!
“Vou guardar os óleos usados da minha casa para produzir sabão e ganhar
meu próprio dinheiro.”
Com relação à produção da mousse, foi discutida a importância de cada
produto utilizado dentre eles: leite condensado, creme de leite e sumo de limão
como mostra a figura 05 (a). Além disso, foi discutido sobre os tipos de proteínas
que podem ser encontradas nos alimentos.
a)
b)
Figura 05: a) Ingredientes utilizados na preparação da mousse. b) Participação ativa
dos alunos.
Pode-se perceber que durante a produção da mousse os alunos tiverem um
interesse ainda maior, participando de forma ativa na execução do experimento.
Pois puderam identificaram, nitidamente, a ocorrência da desnaturação protéica,
sendo este o principal objetivo da prática. É importante ressaltar que os alunos não
tinham o devido conhecimento acerca do preparo da mousse, e não conseguiam
relacionar com os conteúdos químicos.
Após a realização da prática, os alunos conseguiram compreender com mais
clareza os conteúdos estudados, sendo evidenciada a relevância da metodologia, no
sentido de promover motivação e despertar o interesse pelo estudo da Química,
10
uma vez que, esta ciência está diretamente relacionada no cotidiano de todas as
pessoas.
Desta forma fica constatado, que ao contextualizar um conteúdo espera-se
que o aluno seja educado cientificamente e participe de forma ativa na busca de
soluções
para
os
problemas
enfrentados
no
seu
cotidiano,
diante
dos
conhecimentos adquiridos.
Ainda nesta perspectiva, ao adotar a contextualização no ensino de Química,
requer a utilização de práticas pedagógicas que considerem o conhecimento químico
como um fator determinante na construção humana, com um caráter histórico e
sociocultural e o uso de linguagem própria numa diversidade de contextos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, pode-se concluir que a utilização de novos recursos no ensino de
Química pelo professor, com a inserção do cotidiano por meio da contextualização é
indispensável no processo de formação e construção do conhecimento dos alunos
dentro e fora do ambiente escolar, tornando assim relevantes no processo de ensino
aprendizagem, desde que sejam aplicados de forma correta. Apesar de que é
possível encontrar alguns professores que ainda não adotaram uma nova
metodologia de ensino e preservam o ensino tradicional.
No entanto se faz necessário, que a contextualização como ferramenta no
ensino, seja aplicada de forma correta pelo professor frente à abordagem dos
conteúdos, no sentido de contribuir com uma visão mais ampla dos alunos diante
dos assuntos estudados durante as aulas.
11
REFERÊNCIAS
BRASIL; Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/Secretaria
de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2002.
MALDANER, O. A. ZANON, L. B. Pesquisa Educacional e Produção de
Conhecimento do Professor de Química. In: SANTOS, W. L. P., e MALDANER, O. A.
(Org). Ensino de Química em foco. Coleção Educação em Química. Editora Unijuí.
Ijuí, 2010, p. 331 – 365.
MORTIMER, Eduardo Fleury; Santos, P. L. Widson. Uma análise de pressupostos
teóricos da abordagem C-T-S (Ciência – Tecnologia – Sociedade) no contexto
da educação brasileira. ENSAIO - Pesquisa em Educação em Ciências. Volume
02, Nº 2. Dezembro de 2003.
SANTOS, W. L. P e SCHNETZLER, R. P. Educação em Química: Compromisso
com a Cidadania. 4ª edição, Ijuí: Unijuí, p. 106 -107; 127 -138; 133; 136. 2010.
Download

A CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA NO