O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso El PediaSuit™ en la rehabilitación de la diplejía espástica: un estudio de caso The PediaSuit™ in rehabilitation of spastic diplegia: a case study *Doutor em Engenharia Biomédica. Pesquisador do Centro de Pesquisas Vitória Centro Universitário Campos de Andrade. Curitiba, Paraná **Especialista em Fisioterapia Pediátrica. Professora do Centro de Pesquisas Vitória Centro Universitário Campos de Andrade. Curitiba, Paraná ***Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente. Pesquisador do Centro de Pesquisas Vitória. Centro Universitário Campos de Andrade. Curitiba, Paraná (Brasil) Eduardo Borba Neves* [email protected] Eduardo Mendonça Scheeren* [email protected] Claudiana Renata Chiarello** [email protected] Ana Cláudia Martins Szczypior Costin** [email protected] Luis Paulo Gomes Mascarenhas*** [email protected] Resumo O protocolo PediaSuit™, recentemente desenvolvido, é uma abordagem que utiliza equipamentos e protocolos específicos para tratamento de crianças com distúrbios neurológicos. O presente estudo buscou identificar a evolução neuromotora de um meninos com diplegia espástica durante o periodo de 30 dias de tratamento com o protocolo Pediasuit™. Foi mensurada a composição corporal pelo DEXA, na avaliação da capacidade funcional motora foram empregados os testes de GMFSC e GMFM. A goniometria de tornozelo foi utilizada para determinação do grau de flexibilidade do avaliado. Observou-se melhoras na função motora, composição corporal e amplitude de movimento de tornozelo no paciente com diplegia espástica em resposta ao protocolo PediaSuit™ aplicado. Unitermos: Pediasuit. Diplegia espástica. Reabilitação. Paralisia cerebral. Abstract The protocol PediaSuit™, recently developed, is an approach that uses equipment and specific protocols for treating children with neurological disorders. This study sought to identify the evolution of a neuromotor child with spastic diplegia during the period of 30 days of treatment with the protocol Pediasuit™. We measured body composition by DEXA in the assessment of functional motor ability tests were used to GMFSC and GMFM. The ankle goniometry was used to determine the degree of flexibility assessed. There was improvement in motor function, body composition and ankle range of motion in patients with spastic diplegia in response to protocol PediaSuit™ applied. Keywords: Pediasuit. Spastic diplegia. Rehabilitation. Cerebral palsy. Referênciar como: Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso Introdução A diplegia espástica é uma síndrome comum em recém-nascidos prematuros neurologicamente prejudicados, com prevalência de 5% a 15%. Nessa síndrome, a função motora é afetada mais severamente nas extremidades inferiores do que nas superiores (Barkovich, 2006). O protocolo PediaSuit™, recentemente desenvolvido, é uma abordagem que utiliza equipamentos e protocolos específicos para tratamento de crianças com distúrbios neurológicos, como a diplegia espástica, outros tipos de paralisia cerebral (PC), autismo e patologias que afetam o aspecto motor de uma criança e ou as funções cognitivas (Neves et al., 2011). O objetivo deste estudo foi apresentar a evolução neuromotora obtida por uma criança que apresenta diplegia espástica durante 30 dias de tratamento com o protocolo Pediasuit™. Caso Paciente masculino, com quatro anos de idade completos, diagnóstico clínico de prematuridade de 30 semanas de idade gestacional, leucomalácia, síndrome piramidal com predomínio crural e atraso do desenvolvimento motor. O diagnóstico fisioterapêutico foi de diplegia espástica, atraso do desenvolvimento neuromotor, déficit do equilíbrio, déficit de força muscular global e encurtamento muscular de membros inferiores. Tratamento O tratamento deste paciente iniciou-se em 08/08/11 com o primeiro módulo de fisioterapia com o protocolo Pediasuit™, na primeira semana foram realizas sessões diárias de 2 horas, posteriormente as sessões se elevaram para 3 horas diárias totalizando 70 horas de tratamento até dia 09/09/11. Os 4200 minutos de tratamento foram divididos da seguinte forma (Figura 1): (a) Aquecimento: 1065 minutos (incluindo massagem, alongamento, cinesioterapia com mobilização passiva, ativa assistida e ativa); (b) Cinesioterapia: 750 minutos (gaiola com cinesioterapia ativo resistido); Gaiola com pesos variando de 1,5 kg a 3,0 kg. grupos musculares trabalhados – flexores e extensores de cotovelo, abdutores e adutores de ombro, flexores e extensores de ombro, flexores e extensores de joelho, flexores e extensores de quadril e adutores e abdutores de quadril; (c) Cinesioterapia com uso do Suit: 1500 minutos (gaiola com os elásticos, prancha de equilíbrio, bola, rolos, feijão, cama elástica); (d) Esteira: 245 minutos (esteira com variação de velocidade entre 1,0 e 1,6 km/h, com fixação dos elásticos e uso do suit – Figura 2); (e) Treino de marcha: 60 minutos (com uso do suit em terrenos irregulares, escada, rampa, grama, barras Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso paralelas sem e com obstáculos); (f) Atividades de motricidade fina: 145 minutos (uso de massinha, desenho com lápis, pintura com pincel, colagem, jogos de encaixe, manipulação de objetos e brinquedos); (g) Intervalos para descanso e lanche: 375 minutos; (h) avaliação e reavaliação: 60 minutos. Figura 1. Percentual das atividades realizadas protocolo PediaSuit™ em relação ao tempo total de tratamento Figura 2. Treino de marcha do protocolo Pediasuit™ utilizando uma esteira ergométrica Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso Instrumentos e protocolos de avaliação Na avaliação da capacidade funcional motora foram empregados os testes de GMFSC (Gross Motor Function Classification System) e GMFM (Gross Motor Function Measure-88). A goniometria de tornozelo (dorsiflexão) foi utilizada para determinação do grau de flexibilidade do avaliado. Na mensuração da composição corporal foi realizada por Dual-Energy X-ray Absorptiometry (DEXA). Aspectos éticos O estudo seguiu os aspectos éticos recomendados pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre pesquisa envolvendo seres humanos, bem como os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000). O projeto de Pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Campos de Andrade e aprovado sob o nº404/11. Resultados Na avaliação inicial, o paciente apresentou desempenho cognitivo preservado, diminuição de força e resistência muscular global, lentidão para deambular e correr, fadiga precoce ao deambular e hipotrofismo. Esse quadro correspondeu ao grau II do GMFSC e a 66% do GMFM. Após as 70 horas de tratamento, foi realizada uma segunda avaliação na qual o paciente se manteve no nível II do GMFSC, e atingiu 77,2% do nível máximo de desenvolvimento motor, avaliado pelo GMFM. A Tabela 1 apresenta os resultados do GMFM pelas cinco dimensões avaliadas e a Tabela 2 apresenta os resultados do exame de DEXA realizados antes e após o tratamento. Tabela 1. Variação dos resultados do GMFM pelas cinco dimensões avaliadas Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso Tabela 2. Variação de indicadores de composição corporal, pré e pós tratamento Foram observados resultados favoráveis na amplitude de movimento (ADM) do tornozelo direito e esquerdo. Os resultados da goniometria passiva de tornozelo, realizada com o paciente em decúbito dorsal, foram: tornozelo direito – inicial 12° e final 15°; tornozelo esquerdo – inicial 10° e final 12°. A marcha do paciente apresentou melhora clínica importante nos aspectos: tempo de marcha – inicial 5 minutos e final 30 minutos; e velocidade de marcha – inicial em 1 quilômetro por hora e posterior ao tratamento em 1,6 quilômetros por hora. Discussão No presente estudo, utilizou-se o GMFCS, o GMFM e o DEXA para avaliar as mudanças no desempenho da função motora grossa e na composição corporal ocorridas após 70 horas de tratamento com o protocolo Pediasuit™. O percentual de melhora encontrado pela avaliação do GMFM foi de 11,2%. Esse resultado está de acordo com os apresentados por Pedrozo, que estudou a resposta de um paciente de cinco anos de idade ao protocolo Pediasuit™, que apresentava hemiparesia à esquerda, foi tratado durante seis meses e apresentou uma melhora de 10,14% na avaliação pelo GMFM (Pedrozo, 2011). Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso Russell et al. (Russell et al., 2002) afirmam que uma mudança de 6% dos escores do GMFM pode ser considerada clinicamente significativa em crianças com paralisia cerebral. Os resultados encontrados neste estudo ainda foram maiores do que os encontrados por outros pesquisadores (Camargos et al., 2007) que utilizaram toxina botulínica com paciente diplégico e obteve uma melhora de 9,4% no escore. Na avaliação pelo GMFCS não houve mudança de nível, pois apesar da melhora clinicamente perceptível, esse instrumento não foi sensível para identificá-la, corroborando os achados de Nordmark que também estudou crianças com diplegia espástica e referiu a pouca sensibilidade desse instrumento em crianças com limitações motoras importantes (Nordmark et al., 2000). Já os resultados de ganho de ADM, se assemelham aos resultados obtidos em outro estudo (Franco et al., 2006) que utilizou toxina botulínica no tratamento de crianças com paralisia cerebral. Com relação aos resultados de variação da composição corporal, pode-se postular que a pequena perda de densidade mineral óssea (DMO) está relacionada ao elevado aumento de massa muscular, pois o Ca+2 possui fundamental importância na regulação da contração muscular. Assim, a utilização de Ca+2 no presente estudo está relacionada à demanda constante de contração muscular durante a terapia, tendo a função de manutenção da produção de força muscular. Além disso, observou-se também um crescimento da massa óssea, conforme Tabela 1. Esse aumento se relaciona à diminuição da DMO na medida em que o tecido ósseo cresce e, posteriormente, aumenta sua densidade. Os ganhos de massa muscular encontrada sugerem um aumento de síntese protéica em decorrência do tratamento(Petrella et al., 2006), ressalva que quanto mais jovem o individuo existe uma maior facilidade de incorporação de mionúcleos a fibra muscular viabilizando a hipertrofia e os ganhos de força. Apesar da contração muscular não depender do Ca+2 extracelular, limitando-se à utilização do Ca+2 armazenado no retículo sarcoplasmático no meio intracelular (Zanou et al., 2010), acredita-se que o ganho de massa magra observado seja, em maior parte, da hipertrofia dos retículos sarcoplasmáticos que já existiam nos grupos musculares, ocorrendo então uma migração de Ca+2 para os reservatórios em nível muscular (Zhou et al., 2010). Neves EB, Scheeren EM, Chiarello CR, Costin ACMS, Mascarenhas LPG. Lecturas Educación Física y Deportes. Revista Digital. Año 15, Nº. 166. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/o-pediasuit-nareabilitacao-da-diplegia-espastica.htm. acesso em: 05/03/2012. O PediaSuit™ na reabilitação da diplegia espástica: um estudo de caso Considerações finais O presente estudo observou melhoras significativas na função motora, composição corporal e amplitude de movimento de tornozelo no paciente com diplegia espástica em resposta ao protocolo PediaSuit™ aplicado. Novas pesquisas e acompanhamentos por períodos mais longos são necessários com o intuito de identificar e observar os benefícios desta nova metodologia em diversas populações. Referências BARKOVICH, A. MR imaging of the neonatal brain. Neuroimaging Clinics of North America, v. 16, n. 1, p. 117-135, 2006. CAMARGOS, A. C. R.; FONTES, P. L. B.; GONTIJO, É. G.; ARAÚJO, F. M.; COTA, K. Physical therapy associated to botulinum toxin in spastic diplegia: a case report. Fisioterapia em Movimento, v. 20, n. 3, p. 17-24, 2007. FRANCO, C. B.; PIRES, L. C.; PONTES, L. S.; SOUSA, E. J. Avaliação da amplitude articular do tornozelo em crianças com paralisia cerebral após a aplicação de toxina botulínica seguida de fisioterapia. Revista Paraense de Medicina, v. 20, n. 3, p. 43-49, 2006. NEVES, E. B.; CHIARELLO, C. R.; COSTIN, A. C. M. S.; SZINKE, A. F.; ROSÁRIO, M.; OLIVEIRA, M. C. N. et al. Fisioterapeutas querem desenvolver o Pediasuit no Brasil. 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