1 2 Maio · 2015 C Á E N TRE N ÓS A dicotomia canavieira Nos canaviais brasileiros ainda há práticas do Brasil-Colônia D icotomia é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno... Seguindo esta linha, podemos dizer que a dicotomia canavieira está entre o conservadorismo e o vanguardismo. Conservadorismo porque demora para aderir a novas práticas, postergou a mecanização dos canaviais, reluta a adotar novas variedades de cana e há 500 anos realiza o plantio por meio do esparrame de cana-tolete. Vanguardismo porque é pioneiro ao criar o maior programa de combustível renovável do mundo, o ProÁlcool; no desenvolvimento de tecnologias verdes; pioneiro ao transformar e comercializar biomassa em energia. Qual caminho o setor irá seguir daqui para frente? O vanguardismo do setor aconteceu em épocas de crise. Para muitos, são essas fases de extra dificuldade o melhor combustível para fervilhar a criatividade. Se as- sim for, inovação não vai faltar e o setor estará aberto para adotá-las. Que venha o novo! O setor também é pioneiro Luciana Paiva [email protected] Clivonei Roberto [email protected] 3 ÍN D I C E Capa Vai mudar! Holofote Tendências -O risco de florescimento dos canaviais no Centro-Sul e a aplicação de maturadores -Mapeamento e controle de processos: uma necessidade das usinas Herbishow Insectshow -Canavial com e sem palha. O que muda na flora daninha? -Expertise em pragas de solo Mecanização Tecnologia Industrial -Agrishow encolheu, mas não em lançamentos -A indústria verde da cana luta para sair do vermelho Economia -Com crise financeira, empresas investem em turnaround dos negócios Pesquisa & Desenvolvimento -A cana e a química verde Gestão de Pessoas -Mantendo a chama acesa Editores: Luciana Paiva [email protected] Clivonei Roberto [email protected] Redação: Adair Sobczack Jornalista [email protected] Leonardo Ruiz Jornalista [email protected] Marketing Regina Baldin Comercial [email protected] Editor gráfico Thiago Gallo Aproveite melhor sua navegação clicando em: Vídeo Fotos Áudio Link Entre em contato: Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a revista CanaOnline serão muito bem-vindas: Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22 Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SP Telefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074 Email: [email protected] www.canaonline.com.br CanaOnline é uma publicação digital da Paiva& Baldin Editora 6 Maio · 2015 Florescimento causa perda de 35% a 40% U vereiro. Uma aplicação do inibidor de florescimento não é suficiente para segurar m dos pontos que ajuda a migrar a produtividade e o ATR ao longo da a inibição. Tem que fazer duas aplicações. Rogério Augusto Soares, gerente de Planejamento Agrícola da Bunge safra é a isoporização no florescimento. Trabalhei por 17 anos em Goiás. Nesse período, percebi que se havia um ano que era muito seco, a safra seguinte começava com ATR 10 kg, 15 kg abaixo do normal. Também percebemos isso nas uni- Atenção ao manejo E stamos bastante atentos ao florescimento para tentar manejar de acordo com aparecimento da indução de flor. So- dades da Bunge. Em região que chove bre maturador, raramente aplicamos, mas menos, o ATR começa baixo na safra se- neste ano usamos um pouco para tentar guinte. Na Bunge, nos preparamos para o segurar em algumas condições específicas florescimento em 2015. Em algumas áre- canaviais que tinham um pouco mais de as não teve jeito de aplicar inibidor nes- tonelagem. O objetivo é melhorar o ma- te ano porque a cana estava muito baixa nejo, visando talvez uma resposta melhor no período indutivo. É inclusive impor- do canavial. tante ficarmos alertas para o planejamento com estas áreas que vierem florescer. E é impressionante o efeito do florescimento, principalmente em regiões mais secas. Chega-se a uma perda de 35% a 40% da produtividade agrícola, o que depende da variedade e da intensidade de seca que houver. Paulo Rodrigues, produtor de cana em Guariba, SP Como curiosidade, em Tocantins, onde a empresa tem unidade, o período de indução floral começa em dezembro e vai até fe- Corte de custos obriga assumir risco U ma prioridade nossa tem sido redução de custos. O financeiro sempre 7 H O LOFOTE nos diz que não podemos passar de tal nocana, a intenção era aplicar em mil hec- patamar com investimento. Mas onde po- tares, mas aplicamos em 377 hectares. No demos cortar? Cortamos naquilo que se segundo planejamento, vamos voar mais acha que pode não acontecer. A nossa re- 400 hectares. Paulo Roberto Artioli, diretor da Tecnocana, em Lençóis Paulista, SP gião, pelas condições de clima, nos facultou em não focarmos em nenhuma aplicação para florescimento. No ano passado focamos no chochamento, especialmente da 7515. Mas neste ano não. É fato que estamos correndo este risco para, pelo menos, reduzir um pouco nossos custos. Mas tem questões que se está divulgando mui- Planejamento varietal é a principal prevenção O período indutivo da região de Ribeirão Preto, de acordo com a latitude, to em cima da hora, o que é um problema dura mais ou menos 20, 25 dias. É nessa no caso de se querer tomar medidas con- hora que temos de aplicar o regulador de tra o florescimento. Se não fizer a aplica- florescimento para impedir que a gema ção na hora certa e pontual, não adianta apical se diferencie e altere a fisiologia da fazer mais. Agora estamos na torcida, tor- planta no período indutivo. Por isso, agir cendo para que o florescimento não acon- no momento certo é maneira que temos teça. Seria mais um fator para prejudicar a de impedir que tenha seu pendão floral. produção. Quanto ao uso de maturador, Só vamos saber que existe probabilida- tivemos dificuldade tremenda neste ano de maior de florescer após o período in- para usá-lo. Primei- dutivo. Após esse período não adianta ro porque a legis- mais aplicar o regulador de florescimen- lação está pegan- to. Mas isso depende muito do ano. Nes- do muito no pé. te ano especificamente o período indutivo No planejamen- nosso começou em 20 de fevereiro e foi to da Tec- até cerca de 25 de março. Em 20 de fevereiro nosso canavial estava muito pequeno relativamente. E sabemos que o regulador de florescimento dá uma interrompida no crescimento, pelo menos por um período. Essa briga fisiológica entre crescimento, florescimento e amadurecimento é natural. Não tem como fugir dela. A grande prevenção, o grande remédio com re- 8 Maio · 2015 lação ao florescimento e ao chochamento nasce lá no planejamento de plantio. É quando podemos ganhar dinheiro sem gastar. O controle varietal é a base para perder menos. Neste ano fizemos uma parte de regulador de crescimento, numa época correta. Deve ter bom efeito e agora estamos num esforço grande no planejamento de safra para colher antecipadamente as variedades que certamente vão florescer. Com estas ações, o florescimento não deve ter impacto forte na safra da São Martinho. Temos variedades floríferas que normalmente são colhidas até o iní- lítica da empresa, o que favoreceu come- cio de julho.” çarmos um pouco mais tarde as unidades. Tivemos um período maior de crescimento. No ano passado começamos mais cedo. Quanto a inibidor, também temos essa política de aplicação, mas somente fazemos nas áreas que colhemos no meio da safra. Mas neste ano não estamos achando que vai ser ano com potencial de florescimento. Esta é a posição da Guarani. Jaime Stupiello, diretor agrícola da Açúcar Guarani Mario Gandini, o Marinho, diretor agroindustrial da Usina São Martinho Ano sem potencial de florescimento C De acordo com a probabilidade N a Raízen trabalhamos com a pro- babilidade de florescimento. Nas variedades floríferas, que maneja- om relação a maturador, fizemos a mos no meio e no aplicação normalmente, como é a po- final de safra, 9 H O LOFOTE fazemos a aplicação, mas dentro da pro- cana crua, o que vai impactar diretamente babilidade. Se tem probabilidade alta faze- na qualidade. Edson Girondi, gerente de operações agrícolas da Usina Alto Alegre mos sim a aplicação porque faz diferença. Fernando Lima, diretor de produção agrícola da Raízen Alta incidência Floresce pouco no Paraná S N a região em que estamos inseridos a incidência de florescimento é muito alta. E observamos que quando não floresce, e em São Paulo a probabilidade de flo- com a seca prolongada tem efeito de cho- rescimento é de 70%, 80%, no Paraná é chamento forte. Sobre variedades floríferas, de 20%, 30%. Ou seja, dificilmente floresce temos muito a RB867515, com a qual conse- no estado. Mas é planejado o uso do ini- guimos observar resposta boa ao inibidor de bidor de florescimento. No passado, usou- florescimento. É prática regular, temos por se muito inibidor quando era plantada a hábito pegar tudo que vai ser colhido de 15 variedade SP701143, que também flores- de julho para frente e trabalhar forte com ini- cia muito. Mas, de maneira geral, as usinas bidor de florescimento, uma vez que temos deixaram de plantá-la. Mas em contrapar- essa regularidade alta. Sobre maturador, te- tida chove-se no estado o ano todo. Matu- mos uma questão fisiológica: a cana fisio- radores aplicamos sim, quando iniciamos logicamente tem pureza muito baixa, refle- a safra. É imprescindível. Sem ele, nossa xo do estresse do ano anterior. Temos uma qualidade vai pra baixo. Quanto à previsão demora para subir a curva de maturação e de perda de qualidade da cana no Paraná o maturador nos ajuda a fazer esse traba- em 2015, é que até no ano passado po- lho. Protelamos um pouco o início da aplica- dia-se queimar até 100% do canavial nas ção, fazemos a primeira quinzena maturada, usinas que preferiam colher dessa manei- e depois vai até o final de julho com prati- ra. Exceto nas áreas circunvizinhas às ci- camente 80%, 90% da cana com matura- dades. Já neste ano, 20% das áreas de co- dor. Temos essa política apesar de estarmos lheita do Paraná terão de ser colhidas com numa região seca aparentemente. Nosso início de safra realmente tem essa característica de começar normalmente com 100, 105 kg. Fica num patamar abaixo da nossa expectativa caso não se use maturador.” Agnaldo Rigolin, gerente de desenvolvimento agrícola da BP Biocombustíveis 10 Maio · 2015 11 DIVULGAÇÃO DATAGRO H E R B I SHOW Presença da palha impactou flora daninha dos canaviais, aumentando a importância das folhas largas e diminuindo as infestações das folhas estreitas Canavial com e sem palha. O que muda na flora daninha? MECANIZAÇÃO DA COLHEITA IMPLICOU EM MUDANÇAS NAS ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS ENCONTRADAS NOS CANAVIAIS. COMO SERÁ ESSA MUDANÇA QUANDO O RECOLHIMENTO PARCIAL DA PALHA FOR INTENSIFICADO NAS USINAS? Leonardo Ruiz A rias, té o início dos anos 1990, a flo- sas espécies se beneficiavam das carac- ra daninha dos canaviais era com- terísticas encontradas no solo daquele posta, basicamente, por Brachiá- tempo, época em que a palha da cana-de Capim-Colchão, Capim-Colonião, -açúcar era queimada. Pé-de-Galinha, Tiririca, Grama-Seda, Ca- Com a mudança do sistema de co- pim-Carrapicho, Picão-Preto e Caruru. Es- lheita para máquinas e cana crua, é corre- 12 Maio · 2015 to afirmar que o ambiente dos canaviais quais são as plantas daninhas que vão es- foi modificado. Agora, um colchão de pa- tar presentes ou não nesse canavial”. lha permanece sobre o solo (variando de alterando o microclima da área, o que re- Cenário mecanizado com palha sulta em mudanças de umidade, tempera- Azania afirma que qualquer altera- 5 a 15 ton/ha, dependendo da variedade), tura e amplitude térmica. ção a essas características beneficiam algumas espécies e prejudicam outras. “A mico de Campinas (IAC), Carlos Alberto presença da palha ocasionou uma dimiARQUIVO CANAONLINE O pesquisador do Instituto Agronô- Capim-Carrapicho era um problema até o início da mecanização da colheita Mathias Azania, explica que qualquer mu- nuição da variação da temperatura do solo dança na forma de manejo, seja de colhei- durante as 12 horas do dia. Além disso, a ta, espaçamento ou densidade, implica, quantidade de água disponível e a absor- posteriormente, na alteração da flora da- ção de luz aumentaram significativamen- ninha. “Isso ocorre porque, quando se tem te. Isso fez com que tivéssemos um predo- uma cultura instalada sobre um solo, se mínio de espécies que nem imaginávamos tem algumas condições específicas de luz, que um dia teríamos que lidar, como as umidade e temperatura, sendo que são es- Cordas-de-Viola”. ses fatores que, em conjunto, determinam O pesquisador do IAC conta que, 13 CORTESIA UNICA/NIELS ANDREAS H E R B I SHOW Com a colheita mecanizada, um colchão de palha permanece sobre o solo ditava-se que teríamos muita incidência canização da colheita da cana, surgiram de plantas arbóreas. Porém, destas, ape- muitas dúvidas em relação ao impac- nas a Mamona é encontrada nos canaviais to que isso teria na flora daninha. “Acre- até hoje, em função das sementes serem DIVULGAÇÃO USINAS ITAMARATI quando começou a ser discutida a me- Carlos Azania: “a mudança de manejo fez com que houvesse predomínio de espécies que ninguém imaginaria um dia enfrentar, como as Cordas-de-Viola” 14 Maio · 2015 MICROCLIMA DOS CANAVIAIS Fonte: Divulgação IAC/Carlos Alberto Mathias Azania maiores. Era comum, também, afirmar que jo tenha interferido e reduzido fortemen- apenas a presença da palha seria suficien- te a germinação e a infestação de plan- te para inibir as ervas daninhas, o que não tas daninhas com sementes pequenas ocorreu”. com baixa reserva nutricional, as chama- Além das Cordas-de-Violas e Mamo- das gramíneas ou folhas estreitas, ainda é nas, outras espécies passaram a dominar possível encontrar algumas dessas espé- nos canaviais com a chegada das máqui- cies no campo devido à degradação e dis- nas, principalmente as folhas largas, como tribuição irregular da palhada na lavoura. as Merremias, Mucunas, Buvas, Buchas e É o caso do Capim-Brachiária, Capim-Col- Melões-de-São-Caetano. chão, Capim-Colonião, Capim-Camalote, Capim-de-Rodes e o Sorgo. Presença da palha impulsionou algumas espécies de folhas largas, como as Merremias, Mamonas, Mucunas, Buvas, Buchas e Melões-de-São-Caetano 15 SAULO HARUO OHARA Ainda que essa mudança de mane- H E R B I SHOW DIVULGAÇÃO USINAS ITAMARATI Rafael Charlier: “Com a colheita de cana crua, houve uma diminuição da importância de Capim-Colchão, Péde-Galinha e Caruru nos canaviais da Usinas Itamarati” Mudança da comunidade de plantas daninhas possuem baixo teor de reserva nutricional Antes da chegada das colhedoras buíram para a mudança da comunidade de cana aos canaviais da Usinas Itamara- de plantas daninhas dos nossos canaviais”. ti, com sede em Nova Olímpia, sudoeste E a mudança foi grande. Com a co- do Mato Grosso, os principais problemas lheita de cana crua, houve uma diminui- eram as altas infestações de Capim-Co- ção da importância de Capim-Colchão, lonião, Capim-Brachiária, Capim-Colchão, Capim-Colonião, Capim-Marmelada, Ca- Capim-Carrapicho, Trapoeraba e Caruru. pim-Carrapicho, Pé-de-Galinha e Caruru, Agora, com a intensificação da mecaniza- e um aumento da preocupação com infes- ção, os obstáculos são outros. tações de Leiteiro, Cordas-de-Viola, Mer- Desde a safra 2011/12, a Usinas Itamarati colhe 100% de sua cana de for- nas sementes. “Todos esses fatores contri- remias, Capim-Branco, Capim-Camalote e, mais recentemente, Mucuna e Bucha. ma mecanizada. O engenheiro agrônomo Com essa variação, algumas estra- e analista de processos agrícolas da em- tégias tiveram que ser adotadas. O enge- presa, Rafael Charlier, conta que essa mu- nheiro conta que foram empregadas téc- dança de manejo promoveu uma altera- nicas de aplicação sequencial, visando ção no microclima do solo, resultando em estender o período de controle em áreas uma diminuição na variação de tempera- com altas infestações de Bucha e Mucuna, tura da superfície do mesmo, na manuten- e de PPI (Pré-Plantio Incorporado), para ção da umidade e na alteração na quanti- manejo e redução do banco de sementes. dade de luz que chega à sua superfície. Ele como uma barreira física para a emergên- Cenário: mecanizado sem palha cia das plantas daninhas, causando pro- Numa colheita mecanizada, os col- blemas, principalmente, para espécies que mos (caule) é que são processados para afirma que a camada de palha funciona 16 Maio · 2015 produção de açúcar e etanol, sendo que de energia elétrica ou como matéria-pri- suas sobras viram o bagaço. Já as folhas ma para a produção do etanol de segun- (verdes ou secas) e o “ponteiro” (ponta da geração. da cana), que formam a palha, permane- Porém, ao retirar essa parcela de pa- cem no campo. Estima-se que a cana-de lha, o produtor está criando um terceiro -açúcar produza, em média, 140 kg de pa- cenário no canavial: colheita mecanizada, lha em base seca para cada tonelada de mas sem a presença total da palha. O am- cana. Esta biomassa, quando enfardada, biente, portanto, é afetado e passa a pos- tem umidade de 15% e um poder calorífi- suir condições de luz, umidade e tempera- co 70% superior ao do bagaço. tura intermediárias em relação aos outros Com tantos benefícios, é cada vez DIVULGAÇÃO CTC mais comum encontrar fornecedores e dois sistemas (queima e colheita mecanizada com a presença total da palha). usinas recolhendo parcialmente essa pa- Para o pesquisador do IAC, Carlos lha, com intuito de trazer receita adicional Azania, esse novo cenário irá afetar a flo- para a empresa, seja por meio da geração ra daninha, porém, não tanto como o vis- Ao retirar uma parcela de palha do canavial, o produtor acaba criando um terceiro cenário no campo: colheita mecanizada, mas sem a presença total da palha 17 H E R B I SHOW to quando as máquinas chegaram aos ca- sempre priorizou o sistema de aplicação naviais. “Dificilmente teremos uma espécie de pré-emergência, já que, em virtude da que vai dominar as áreas de cana-de-açú- queima ou do aleiramento em áreas de car, como aconteceu com as Cordas-de- muda, a brotação ocorria com mais faci- Viola. O que vai mudar é a predominância lidade. Era comum, ainda, o uso de pin- das espécies já existentes. Eu acredito que gentes em aplicações de pós-emergência. teremos um retorno e equilíbrio maior en- Com a mecanização da colheita, o contro- tre folhas estreitas e folhas largas, especial- le em si não sofreu alterações, o que mu- mente falando das folhas largas de hábito dou foram as moléculas utilizadas, uma trepador. As plantas que hoje são suprimi- vez que a camada de palha interfere na di- das retornarão aos poucos com estágios de nâmica dos herbicidas. igualdade para com as Cordas-de-Viola”. Para o especialista em tecnologia de aplicação e diretor da GMC Alvo Consultoria, Glauberto Moderno Costa, a pre- Até o início dos processos meca- sença de palha não impacta na eficiên- nizáveis, o controle de plantas daninhas cia do produto, mas desde que a seleção ARQUIVO CANAONLINE Controlando Mucuna é uma das plantas daninhas que foram impulsionadas pela presença da palha 18 Maio · 2015 DIVULGAÇÃO USINAS ITAMARATI A presença de palha não impacta na eficiência do herbicida, mas desde que a seleção das moléculas seja apta para esta modalidade de aplicação das moléculas seja apta para esta moda- ponsável pelo transporte do herbicida até lidade de aplicação. “Em alguns casos, é o solo. “O produtor deve estar orientado necessário o aleiramento da palha, visan- para saber quais as moléculas existentes do a aceleração da brotação (regiões mais no mercado brasileiro que atenderão sua frias), e isto permite a opção de seleção lavoura, levando sempre em conta o perí- de moléculas que não são recomendadas odo de aplicação (chuvoso, seco ou semi- sobre a palha.” seco)”, afirma Moderno. Ele lembra, ainda, que a eficiência do Agora, quando o produtor decidir transporte de herbicidas da palha para o iniciar o recolhimento parcial da palha, é solo depende de vários fatores, como as importante que a aplicação seja feita, no características físico-químicas inerentes a máximo, de 10 a 15 dias após o corte da cada produto, a capacidade da palha de soqueira. “Nesse cenário, as mesmas mo- cobrir o solo e de reter o ingrediente ativo léculas utilizadas sobre a palha também e o período em que a área permanece sem servirão em áreas com pouca ou nenhuma chuva após a aplicação, já que ela será res- cobertura”, finaliza o especialista. 19 TE N D ÊN CIAS Mapeamento e controle de processos: uma necessidade das usinas José Rezende1 e Luiz Barbosa2 A complexidade de uma usina de principalmente, riscos operacionais, finan- cana pode ser medida pelo nú- ceiros, ambientais e de imagem. Esses ele- mero de processos e riscos para mentos podem gerar desde ineficiência e sua operação. Em média, as usinas pos- retrabalho até fraudes com impacto finan- suem 16 macroprocessos, os quais es- ceiro e exposição indevida do nome da tão permeados por diversos riscos, sendo, usina na mídia. RISCOS IDENTIFICADOS POR TIPO DE PROCESSOS DAS USINAS Fonte: PwC Brasil 20 Maio · 2015 Segundo o levantamento realizado O controle e o mapeamento de cada pela PwC Brasil, existem cerca de 840 ris- processo são essenciais para uma boa ges- cos relacionados a esses processos que tão, evitam falhas e ineficiências e permi- vão desde o plantio da cana até a comer- tem uma melhor administração dos custos cialização dos produtos finais, passando de produção. No entanto, o levantamen- por todos os seus processos principais e to da PwC mostrou que cerca de 72% dos também de apoio administrativo. O pro- processos das usinas apresentam alguma cesso Agrícola é o que possui o maior nú- ineficiência. mero de riscos identificados (213). Em se- Os processos da área agrícola, res- guida, vem o processo de Suprimentos, ponsável por cerca de 70% dos custos de com 123 riscos e, em terceiro lugar, o pro- produção de açúcar e etanol, são os prin- cesso de Recursos Humanos, com quase cipais pontos que requerem melhoria e 70 riscos mapeados. Juntas, essas três áre- estão relacionados com o registro das as respondem por quase a metade de to- operações e manejo da cultura. No caso dos os riscos mapeados em uma usina. do registro, também chamado de aponta- 21 TE N D ÊN CIAS CONTROLES AGRÍCOLAS E AGRICULTURA DE PRECISÃO mento, é muito comum o uso de contro- saltar, porém, a importância das fases que les manuais, apontamentos duplicados de antecedem a adoção da tecnologia, como operações, ausência de registro de servi- o devido mapeamento e a gestão dos di- ços terceirizados, falta de rastreabilidade versos processos e controles pertinentes a dos insumos e serviços, possibilidade de cada área. desvio de insumos, registros de colheitas Enfim, o mercado vem passando em áreas não colhidas, dentre outros. Já por diversas mudanças, em um ambiente no que se refere ao manejo da cultura, a competitivo crescente a cada ano. A exis- eficiência e redução de custos estão atre- tência de processos bem definidos, nor- ladas ao uso correto dos insumos, desde mas, procedimentos e controles docu- a escolha dos produtos a serem utilizados mentados e regularmente testados, pode até a forma de aplicação. aumentar a confiança das informações, Um instrumento que pode propiciar tornar a tomada de decisão mais preci- melhor controle no manejo e contribuir sa e ágil e oferecer maior confiança aos para os ganhos de eficiência agrícola é a acionistas e ao mercado. Conhecer e pro- Agricultura de Precisão (AP). Essa tecno- mover melhorias no nível de eficiência de logia possibilita a identificação das condi- seus processos é vital para que uma em- ções gerais das áreas produtivas e permi- presa possa buscar crescimento estrutu- te administrar o uso de insumos por meio rado e de longo prazo. de dosagens específicas de acordo com as necessidades de cada área. Na prática, isso se traduz no uso de tecnologia para gerar informações confiáveis para a tomada de decisão no campo, aumentando a precisão. A Agricultura de Precisão é, portanto, uma excelente ferramenta para suportar a melhoria dos controles adotados em uma usina ou em qualquer outra agroindústria com produção agrícola. Vale res- 22 José Rezende, Sócio da PwC Brasil 1 Luiz Barbosa, Gerente da PwC Brasil e especialista em Agribusiness 2 Maio · 2015 IN S E C TSHOW Expertise em pragas de solo O CONTROLE DE INSETOS SUBTERRÂNEOS REALIZADO PELA USINA SANTA TEREZINHA, DETENTORA DE 10 UNIDADES PRODUTIVAS NO PARANÁ E UMA NO MATO GROSSO DO SUL A o longo dos últimos anos, alguns insetos de hábito subterrâneo atingiram status de pragas nos canaviais brasileiros. Isso se deve às mudanças no sistema de produção e da expansão da cultura para novas áreas. Esse DIVULGAÇÃO USINA SANTA TEREZINHA Leonardo Ruiz grupo pode ser caracterizado como insetos que atacam o sistema radicular ou outras partes das plantas, mas que apresentam todo o ciclo, ou pelo menos uma das fases dele, no solo. Os estudos sobre as “pragas de solo” são poucos, em decorrência das dificuldades de coleta de dados e do longo ciclo de vida dos insetos. Na cultura da canade-açúcar, vários insetos estão associados ao sistema radicular, toletes e internódios basais. Contudo, nem todas as espécies causam danos e, por isso, não são consi- Estima-se que os prejuízos econômicos causados pelo Migdolus sejam na ordem de 30 t/corte/ano, além da redução da longevidade dos canaviais 23 DIVULGAÇÃO USINA SANTA TEREZINHA IN S E C TSHOW Sintomas de ataque de larvas de Migdolus ao internódio basal da cultura da cana-de-açúcar deradas pragas. Diante disso, o monitora- que a mesma proporciona, estão o Telchin mento e a identificação das espécies e seu licus, Sphenophorus levis, Hyponeuma tal- prejuízo são de suma importância para a tula, Elasmopalpus lignoselus e Mahanar- tomada de decisão acerca do controle. va fimbriolata. Segundo o diretor da Global Cana So- “O último Grupo pode ser reservado luções Entomológicas, José Francisco Gar- para as pragas tipicamente da parte aérea, cia, entre as pragas subterrâneas ou aque- como a Diatraea saccharalis, Diatraea fla- las estritamente associadas ao solo e de vipennella, Mahanarva posticata, Metama- ciclo longo, podem ser destacados o Mig- sius hemipterus e os complexos de des- dolus fryanus, complexo de cupins (Hete- folhadoras (Spodoptera frugiperda, Mocis rotermes tenuis, Procornitermes triacifer, latipes) e de saúvas do gênero Atta”, afir- Neocapritermes opacus, Neocapritermes ma Garcia. parvus), complexo de corós (Diloboderus coris castanea). Já entre aquelas que utili- Combate às pragas na Santa Terezinha zam a touceira como abrigo e/ou que são A partir de 2013, com o intuito de ra- beneficiadas pela condição microclimática cionalizar os inseticidas utilizados no mo- abderus) e percevejos-castanhos (Scapto- 24 Maio · 2015 mento do plantio, as unidades do Grupo cisco Dourado, explicam que os danos à Santa Terezinha iniciaram o monitoramen- cana-de-açúcar são causados pelas lar- to de pragas de solo. Dentre os principais vas de Migdolus, que se alimentam do sis- insetos observados nesses levantamentos, tema radicular e dos internódios basais, destaca-se o Migdolus spp. Originária do destruindo-os totalmente. “Em função da Brasil, essa praga está associada a várias diminuição das raízes, há a redução da ab- culturas além da cana-de-açúcar. Por isso, sorção de água e nutrientes. Em períodos é importante a realização de levantamen- de estresse hídrico, facilmente é possível tos das fases biológicas do Migdolus em observar reboleiras de plantas amarela- áreas de expansão da cultura canavieira. das, secas e também mortas, o que acaba indicando a maneira de distribuição dessa César Pattaro, e os assistentes de desen- praga”. Estima-se que os prejuízos econô- volvimento agrícola da Usina Santa Tere- micos causados pelo Migdolus sejam na zinha, Flávio Rubialies e Leonídio Fran- ordem de 30 t/corte/ano, além da redu- DIVULGAÇÃO USINA SANTA TEREZINHA O assessor agronômico, Fernando Fases biológicas (larva, pupa e adulto) do Pão-de-galinha 25 IN S E C TSHOW ção da longevidade dos canaviais. ção das larvas. “Como o Migdolus se distribui por reboleiras, os levantamentos têm vantamento de Migdolus segue a seguinte sido realizados por curvas de nível. Des- regra: abrem-se duas trincheiras/ha, com sa forma, quando constatada a presença as dimensões de 0,50 x 0,50 x 0,30 m, logo da praga ou de danos, o controle é reali- após o último corte do canavial e antes do zado por reboleira ou curva. É uma manei- DIVULGAÇÃO USINA SANTA TEREZINHA Na Santa Terezinha, o método de le- Capacitação de colaboradores na Usina Santa Terezinha para o trabalho de monitoramento de pragas de solo em áreas de reforma e expansão preparo para posterior reforma. Se os le- ra de racionalizar a utilização dos insetici- vantamentos forem efetuados no período das”, afirmam. do inverno, é possível quantificar as larvas O monitoramento para o controle nas trincheiras, bem como os danos cau- do Migdolus ocorre entre os meses de se- sados aos internódios basais das soquei- tembro a abril, época em que se observa ras. Já em outros períodos, observam-se a presença de adultos. “O principal méto- apenas os danos causados pela alimenta26 Maio · 2015 DIVULGAÇÃO USINA SANTA TEREZINHA Isca de papelão corrugado na Usina Santa Terezinha para monitoramento de espécies de cupim em áreas de expansão do de controle ainda é o químico, seja no e atacam as gemas de toletes e brotações. momento da cobrição das mudas ou como “Até o momento, não foram quanti- barreira química, no momento do preparo”. ficados os danos causados por esses insetos. Alguns relatos sugerem que a popula- Pragas secundárias ção de 40 larvas/trincheira de 0,50 x 0,50 x Além do Migdolus, a Usina Santa Te- 0,30 m pode estar acima do nível de dano rezinha também enfrenta uma série de econômico, por apresentar plantas debili- “pragas de solo secundárias”, observadas tadas e secas devido à redução do siste- nos levantamentos de trincheiras. Algu- ma radicular. Entretanto, nas unidades da mas dessas espécies são o Pão-de-Gali- Usina Santa Terezinha, utiliza-se o nível de nha, Diloboderus abderus, Dyscinetus sp., controle de 10 larvas/trincheira.” Cyclocephala sp., Euetheola humilis, Li- Nos canaviais da Usina, também é gyrus gyas, Stenocrates laborator e Ste- comum encontrar larvas de Naupactus, nocrates minutus. De acordo com a equi- bem como ninfas e adultos de percevejo pe de desenvolvimento agrícola da Usina, castanho Scaptocoris spp., principalmente as larvas desses insetos podem se alimen- em áreas de expansão, anteriormente ocu- tar de toletes, raízes e internódios basais, e padas por pastagens. O assessor agronô- somente as fêmeas adultas se alimentam mico e os assistentes de desenvolvimento 27 DIVULGAÇÃO USINA SANTA TEREZINHA IN S E C TSHOW Iscas para monitoramento de Sphenophorus levis em áreas de viveiros de mudas de cana-de-açúcar na Usina Santa Terezinha agrícola da Santa Terezinha afirmam que a amplo trabalho de prevenção. Atualmen- distribuição da Scaptocoris spp. se dá em te, toda muda introduzida nas unidades reboleira e, em decorrência de seu ata- do Grupo, bem como a troca de mudas en- que, as plantas ficam murchas e amarela- tre elas, são vistoriadas quanto a essa pra- das. “Não há controle específico para es- ga. “Além disso, realizamos um monitora- sas pragas, pois, normalmente, estas são mento especial voltado o SL, por meio de controladas juntamente com as pragas ‘iscas’ confeccionadas com a própria cana, primárias”. com adição de melaço (1 litro de melaço Eles contam, também, que até o momento não estão sendo encontradas es- para 1 litro de água), distribuídas em áreas de viveiros”. pécies de cupins, muito provavelmente pela utilização de inseticidas de alto po- Broca peluda der residual utilizados no passado. A Iponeuma, também conhecida O Sphenophorus levis também não como broca peluda, tem sido encontra- foi avistado. Porém, a Usina realiza um da com frequência nos levantamentos de 28 Maio · 2015 abertura de trincheiras na Santa Terezinha. onde a cana-de-açúcar foi queimada”. A equipe de desenvolvimento agrícola da O levantamento populacional é rea- Usina conta que, embora frequente, pou- lizado por meio da abertura de duas trin- co se sabe sobre esse inseto associado à cheiras/ha, observando-se o número de cultura da cana-de-açúcar. “Na década de “tocos” totais e o número de tocos ataca- 1990, houve relatos sobre danos causados dos da touceira. Com a divisão do núme- por essa praga no município paulista de ro de tocos atacados pelo número de to- Jaú e nos mato-grossenses de Maracajú e cos totais, multiplicado por 100, tem-se a Rio Brilhante, com redução da produtivi- porcentagem de infestação da praga. “Mui- dade e morte de plantas”, afirmam. to embora não haja trabalhos de pesqui- Segundo eles, as fêmeas adultas co- sa que determinem o nível de controle locam seus ovos na base dos colmos e, para essa praga, utiliza-se, empiricamente, após a eclosão, as lagartas penetram em a porcentagem de 40% de infestação para direção à base, fazendo galerias nos inter- o controle”, relatam Fernando César Pat- nódios basais. “Possivelmente, existe a re- taro, Flávio Rubialies e Leonídio Francisco lação de maior infestação da Iponeuma Dourado. 29 ME C A NIZ AÇÃO Colhedora de cana Valtra BE1035 lançada na Agrishow Agrishow encolheu, mas não em lançamentos A MAIOR FEIRA DE TECNOLOGIA AGRÍCOLA DA AMÉRICA DO SUL REFLETE A CRISE DO BRASIL, REDUZ VOLUME DE VENDAS, MAS CAPRICHA NOS LANÇAMENTOS, INCLUSIVE PARA O SETOR CANAVIEIRO Luciana Paiva, Clivonei Roberto e Leonardo Ruiz P ela primeira vez em 22 edições, a no volume de negócios. O valor apresen- Agrishow, maior feira do agronegó- tado pelos organizadores foi de R$ 1,9 bi- cio da América Latina, anuncia queda lhão, em 2014 o faturamento foi de R$ 2,7 30 Maio · 2015 bilhões. De acordo com as entidades realizadoras (Abag, Abimaq, Anda, Faesp e SRB), a alta dos juros e a incerteza político-econômica foram as principais responsáveis pela grande queda na realização de negócios. “O Brasil vive hoje uma crise de con- Confira no vídeo a manifestação dos produtores rurais na abertura da Agrishow fiança generalizada e sentida também pelo produtor rural”, explicaram os realizadores. Mas quem foi à feira, realizada de 27 de abril a 1 de maio em Ribeirão Preto, SP, talvez tenha a impressão de que a queda seja ainda maior. No terceiro dia melhorou um pouquinho, mas nada parecido com as edi- Nos dois primeiros dias, o silêncio ções anteriores, e já havia a sensação de era tão grande que parecia que não havia que a Agrishow 2015 seria pior do que se começado. Não se ouvia conversa anima- esperava. O som mais alto que houve na da entre vendedores e compradores, sinos feira foi da manifestação dos produtores tocando anunciando vendas, exclamações rurais na abertura. As autoridades presen- de visitantes empolgados com as novida- tes preferiram se retirar e também, pela des, a rádio Agrishow estava muda e os primeira vez na história da feira, a cerimô- helicópteros não cruzavam o céu. nia não chegou ao fim. Lançamentos superam a crise BE1035, A COLHEDORA DE CANA DA VALTRA E ssa redução da Agrishow é alarmante e reflete o cenário atual do país. Mesmo assim, os fabricantes de má- quinas e implementos continuam acreditando no agronegócio e levaram uma série de lançamentos para a feira. Até o segmento canavieiro, que atravessa a pior e mais longa crise entre as culturas agrícoColhedora Valtra chama atenção na Agrishow 31 ME C A NIZ AÇÃO Interior da BE1035E las, foi altamente brindado. da Santal foram fundamentais. A BE1035, a primeira colhedora “Por ser uma marca que atua há mui- de cana com a marca Valtra, foi um dos tos anos no setor sucroalcooleiro, a Val- destaques. No ano em que Valtra com- tra conhece todas as particularidades do pleta 50 anos no Brasil, a empresa trou- segmento, e agora passa a oferecer em xe grande linha de equipamentos para a seu portfólio uma máquina perfeita para Agrishow 2015. Segundo Paulo Beraldi, di- colher em canaviais de alta produtivida- retor comercial da companhia, a presen- de. E o melhor: a colhedora de cana é de ça forte está em sintonia com a aposta da alta performance, mas é econômica, pois empresa no setor agrícola, embora ele re- foi desenvolvida com um motor ajustado conheça queda das vendas companhia na para ter baixo consumo de combustível, Agrishow deste ano e também nos núme- baixa emissão de poluentes e maior vida ros finais de 2015. útil. Além de um pacote de soluções que Paulo Beraldi explica que a colhedo- combina uma cabine confortável, pensa- ra de cana que a AGCO apresenta ao mer- da de forma ergonômica para o operador cado ganhou a bandeira da Valtra, e não e com um sistema eletrônico desenvolvi- Massey Ferguson, pela longa história que do realmente para facilitar o trabalho no a empresa tem junto ao setor canavieiro. campo”, destaca Marco Antônio Gobesso, “A cana está no DNA da Valtra.” O executi- gerente de marketing de equipamentos vo lembrou que para a concepção do pro- de cana-de-açúcar AGCO. jeto, o know-how e a expertise advindos 32 Gobesso salienta que a AGCO desen- Maio · 2015 33 A colhedora de cana Valtra responde ao toque do dedo volveu para esta colhedora um novo siste- figuração poderá fazê-lo. Ou seja, quem ma de telemetria que até o momento não regula a máquina que pode ser o líder ou havia sido aplicado no segmento agríco- coordenador de colheita, vai programar o la. A novidade, implementada pela primei- equipamento e deixá-lo pronto para uso. ra vez em um equipamento do grupo, vai Assim o operador não precisa se preocu- permitir o monitoramento da máquina em par com a programação da máquina”, es- tempo real, quer seja da fábrica, da conces- clarece Gobesso. sionária Valtra ou até mesmo do cliente. Outra inovação da colhedora da Valtra é a chave: pode parecer algo simples, mas não é. Isto porque essa chave-cartão da BE1035 pode ser codificada para dife- Veja vídeo com mais detalhes da BE1035 rentes níveis de acesso. O que quer dizer que a colhedora, quando acionada com uma chave-cartão (similar a um cartão de crédito), vai trabalhar de acordo com o que foi configurada. E essa programação Se a colhedora Valtra vai fazer frente pode variar segundo o nível de especiali- aos maiores players desse mercado de co- dade do profissional. lhedora de cana no Brasil, Beraldi diz que “A ideia é tirar do operador a respon- apenas o tempo dirá, mas ressaltou: “Não sabilidade de regulagem do equipamen- viemos para brincar.” Em relação ao merca- to, e assim garantir que a colhedora opere do sucroenergético, Beraldi observou que sempre nas melhores condições. Diversas ainda haverá dificuldades, mas começam pessoas podem operar o equipamento, a ser detectados sinais de melhoria do ce- mas como o cartão é personalizado, ape- nário. “Já começamos a sentir um aumen- nas quem é autorizado para alterar a con- to das cotações na fábrica, por exemplo.” 34 Maio · 2015 Nova família de colhedoras de cana da John Deere N a Agrishow 2015, a John Deere, zendo melhores produtos ao mercado. atual líder no mercado de colhe- Ao todo, a JD trouxe onze novos mo- doras de cana, lançou sua Nova delos de equipamentos para a Agrishow Família de Colhedoras de Cana CH 570 e deste ano. CH 680. Segundo Paulo Herman, presidente da John Deere Brasil e Vice-presidente de marketing e vendas da John Deere para América Latina, a empresa acredita na agricultura brasileira e por isso está sempre disposta a oferecer novos produ- Veja vídeo sobre as novas colhedoras de Cana JD tos ao mercado. Para ele, o momento pode ser difícil, mas isso é cíclico. Por essa certeza, a John Deere continua investindo e tra- DMB destaca na Agrishow Plantadora Automatizada PCP 6000 S egundo Auro Pardinho, gerente comercial da DMB Máquinas e Implementos Agrícola, de Sertãozinho, SP, a grande vedete da empresa na Agrishow 2015 foi a plantadora de cana PCP 6000 Automatizada. Por ser equipamento inovador no setor, atrai o interesse dos profissionais sucroenergéticos onde quer que esteja exposta. Não seria diferente na Agrishow. Entre os visitantes da DMB esta- Cestari e a Plantadora Automatizada PCP 6000 va Carlos Alberto Cestari, grande produ- 35 ME C A NIZ AÇÃO tor de cana no interior paulista, nas regi- cou na Agrishow tecnologias que aten- ões de Jaboticabal e Palestina. “Na hora dam essa necessidade do produtor, como do plantio mecanizado, chega de jogar a plantadora de cana PCP 6000 Automati- açúcar no sulco”, ressalta Cestari, que bus- zada DMB. Itaiquara migra para o plantio mecanizado Roberto Satti, coordenador de manutenção, Ricieri Zerbetto, gerente agrícola e Felipe Lorenzato, estagiário O s profissionais da Usina Itaiquara canização do plantio de cana. Ricieri sabe não perdem a Agrishow. A em- que se trata de uma das etapas mais delica- presa conta com duas unidades, das do processo, que mais encarece o cus- uma em Itapiratiba, SP, voltada exclusiva- to devido à quantidade de cana tombada mente para a produção de fermento. Nes- nas linhas de plantio e também exige qua- ta safra, a expectativa, segundo Ricieri Zer- lidade na operação, para não deixar falhas. betto, gerente agrícola, é de moer 600 mil Por isso, os profissionais da Itaiqua- toneladas de cana, destinadas à produção ra, durante a Agrishow, visitaram o estan- de fermento. A outra unidade, em Passos, de da DMB em busca de informações e MG, deve moer 1,8 milhão de toneladas de tecnologia apropriada para suas necessi- cana nesta safra para a produção de eta- dades. Pretendem iniciar com a distribui- nol, fermento e açúcar. dora de mudas de cana, depois partirão A Itaiquara está migrando para a me- 36 para a plantadora automatizada. Maio · 2015 DMB lançou Adubador de Discos - 2300 A Pardinho: “cana-de-açúcar necessita incorporação profunda de adubação” P ardinho também destacou o lança- cadores compostos por 1 disco de corte mento DMB na Agrishow 2015, o de palha de 26 polegadas, 2 discos desen- Adubador de Discos - 2300 A, diri- contrados de 18 polegadas com dispositi- gido para a cultura canavieira em espaços vo aplicador do adubo em profundidade combinados de 3 linhas. O implemento e 2 rodas de borracha que fazem o fecha- oferece alto rendimento e aplica o adubo mento do corte na palha e solo, evitando em profundidade ao lado da linha de cana. perdas de nutrientes por volatilização. De acordo com o Gerente de Marke- O depósito de adubo tem capacida- ting da DMB, estudo feito pela Unesp de de para 2.300 litros e faz a distribuição por Jaboticabal para a cultura canavieira indi- meio de esteiras em 3 linhas de cana si- ca que é essencial dar preferência para a multaneamente. Permite a deposição do incorporação profunda da adubação, pois adubo nos dois lados da linha da cana garante maior produtividade agrícola ao numa profundidade de 8 a 12 cm, onde canavial, possibilitando o máximo apro- se concentra a maior porcentagem de re- fundamento do sistema radicular. novação do sistema radicular da cultura. O implemento é destinado a rea- Como fica protegido, podem ser utilizadas lizar a adubação das soqueiras da cana- formulações com qualquer fonte nitroge- de-açúcar, principalmente colhida crua nada, o que permite a opção pela de me- mecanicamente. Possui 6 conjuntos apli- nor custo, no momento da aplicação. 37 ME C A NIZ AÇÃO AgMusa atrai a atenção dos visitantes se organizando para adotar a tecnologia no futuro. “Temos que melhorar a produtividade do nosso canavial, por isso precisamos utilizar de tecnologias como esta.” Confira vídeos de visitantes Produtores de Orindiuva, SP, visitam o estande da BASF na Agishow U Profissionais da Usinas Itamarati visitam estande da BASF ma das atrações do estande da BASF, localizado no pavilhão Shopping Rural da Coopercitrus, foi a tecnologia de mudas pré-brotadas AgMusa. Era difícil quem não parasse para observar as bandejas com as mudas. Durante toda a feira, os profissionais da Basf foram requisitados para passar informações ao público sobre a tecnologia Produtor de Jaú quer mais informações sobre AgMusa de mudas sadias da companhia. Entre os visitantes estava um grupo de produtores de cana de Orindiúva, SP, que fornece cana para a Unidade Bunge – Moema. Para Luiz Ribeiro, Grisolino Borges, Guido Lucianelli e Guido A. Ferreira Lucianelli, esta tecnologia é muito bem-vinda ao setor sucroenergético, por possibilitar a formação de viveiros sadios e produção de mudas com Profissionais da Usina Meridiano querem saber mais sobre AgMusa máxima qualidade. Guido Ferreira disse que ainda não fazem plantio com AGMUSA, mas estão 38 Maio · 2015 TMA lançou Plantadora Ptx 7010 Automatizada Além dos mecanismos atuais de agricultura de precisão, rastreamento por câmeras e monitores, a nova plantadorada TMA dispõe de células de Gilmar e a Plantadora Ptx 7010 Automatizada S controles individuais de taxa variável que egundo Gilmar Pereira, gerente de controlam a vazão dos produtos automa- negócios, os destaques da planta- ticamente de forma a compensar as varia- dora ficam por conta da diminuição ções de velocidade de deslocamento da do número de mudas por hectare planta- máquina, mantendo constante a taxa de do, de 18 para 12 ton/ha, e a redução da aplicação e dosagem de toletes, fertilizan- possibilidade de erro por fator humano. tes e defensivos. Senai/Sp e Valtra Lançam Maior Carreta de Escola Móvel da América Latina M as como não adianta ter má- cânico de máquinas agrícolas) e especiali- quina sem profissionais treina- zação profissional (eletrohidráulica de má- dos para dominar a tecnologia, quinas agrícolas). durante a Agrishow a Valtra, em parceria com o Senai/SP, lançou a maior Escola Móvel da América Latina, adaptada em uma carreta de 156 metros, voltada para qualificação de mão de obra de manutenção Conheça o interior da Escola Móvel de colhedoras de cana. A carreta oferece os seguintes cursos: auxiliar profissional (auxiliar de climatização de automóveis), qualificação profissional (eletricista e me- 39 C A PA 40 Maio · 2015 Vai mudar! O SECULAR MÉTODO DE PLANTIO DE CANA-TOLETE ESTÁ COM OS ANOS CONTADOS. HOJE, JÁ SE PLANTA A MUDA DA CANA E NO FUTURO SERÁ A SEMENTE 41 C A PA Luciana Paiva e Clivonei Roberto D emorou quase 500 anos, mas com primento, por um microtolete de 5 cm que o lançamento do sistema de mu- era depositado na linha de cana um a um, das pré-brotadas (MPB), pelo Ins- como uma semente. A plantadora, muito tituto Agronômico (IAC) em 2013, o méto- mais leve que as convencionais, utilizava do de plantio por meio de esparrame de em torno de 1,5 a 2 toneladas de cana por cana-tolete pode estar com o tempo con- hectare, contra a média de 20 toneladas tado. “Na verdade, foi o Plene, pela Syn- utilizadas no plantio mecânico. genta, apresentado em 2008, que apre- “O que a Syngenta fez em 2008 foi um sentou o microtolete e a possibilidade de convite ao setor de desenvolvimento con- plantar cana de um outro jeito”, lembra o junto da tecnologia. Procuramos as prin- produtor Paulo Rodrigues, diretor da fa- cipais unidades sucroenergéticas e monta- zenda Santa Izabel, de Guariba, e um dos mos áreas demonstrativas comerciais. Em pioneiros na produção e plantio do MPB. 2010, começamos a comercialização e as- A tecnologia de mudas Plene troca- sinamos 350 milhões de dólares de contra- va o tradicional tolete de 40 cm de com- to para os cinco anos seguintes. Quando Tamanho do tolete normal e o Plene: não vingou, mas gerou filhotes 42 Maio · 2015 Pesquisador Mauro Xavier, do IAC, apresenta durante a Agrishow 2013 a muda pré-brotada na-de-açúcar. Amaral, salienta que muitas empresas passam por isso, e que faz parcomeçamos a entregar o produto, vimos te do processo de inovação, principalmen- que não tínhamos escala comercial, além te quando se traz algo que provocará uma disso, o desempenho no campo era mui- mudança de patamar de tecnologia. to variável, tinha hora que funcionava, hora não. Decidimos retornar à fase de pesqui- IAC lança o sistema MPB sa e aumentamos os investimentos”, conta O Plene se recolheu, mas já havia li- Leandro Amaral, diretor de Marketing Ca- berado a centelha da mudança. Entre os O método agradou e o IAC passou a realizar muitos cursos para explicar o sistema MPB 43 C A PA Paulo Rodrigues e muda produzida em sua fazenda primeiros a captar está oportunidade es- provenientes daqueles minirrebolos, ele tavam os pesquisadores do IAC (Institu- pensou que talvez pudesse produzir mu- to Agronômico), quem fornecia o material das de cana, utilizando a estrutura do vi- varietal para a produção do Plene. Os pes- veiro de mudas nativas de sua proprieda- quisadores Marcos Landell e Mauro Xavier de, onde já produzia substrato. Com essas olharam para o microtolete e viram a pos- mudas iria cobrir as falhas da socaria. O sibilidade de transformá-lo em uma muda produtor não só pensou como colocou pré-brotada cheia de sanidade. E passa- em prática o projeto. ram a pesquisar e aprimorar a ideia. Isso foi em 2009. Em abril de 2013, na Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Como o setor sucroenergético é Latina, realizada em Ribeirão Preto, o IAC uma rede de informação, o produtor Pau- apresentou oficialmente um método iné- lo Rodrigues, parceiro do IAC, em uma dito de plantio de cana-de-açúcar: o siste- de suas visitas ao Centro de Cana do Ins- ma de mudas pré-brotadas (MPB) de cana. tituto, ficou a par do experimento. Paulo Na época, o pesquisador Mauro Alexandre conta que a seca de 2010 provocou mui- Xavier explicou o processo: no lugar dos tas falhas de rebrota na socaria da safra colmos como sementes, entram as mudas 2010/11. Olhando para aquelas mudinhas pré-brotadas que são produzidas a par- 44 Maio · 2015 tir de cortes de canas, chamados minirre- um hectare de cana, o consumo de mudas bolos – onde estão as gemas. Depois pas- cai de 18 a 20 toneladas, no plantio con- sam por uma seleção visual e são tratados vencional, para 2 toneladas no MPB. com fungicida. São colocados em caixas de brotação com temperatura e umidade Método revolucionário controlada, e ao final colocadas em tube- Enquanto o sistema MPB era lança- tes que passam por duas fases de aclima- do na Agrishow, não muitos quilômetros tação. O ciclo completo leva 60 dias. de distância, na fazenda Santa Izabel, em De acordo com o pesquisador, o MPB Guariba, Paulo Rodrigues já colhia os fru- era a oportunidade de restaurar os bene- tos de seu projeto de produção de mudas fícios da formação de mudas em vivei- para cobrir falhas. “Foi um sucesso”, afir- ros, procedimento que fora praticamente ma. Doze meses após cobrirem as falhas esquecido com o boom do setor. O MPB no canavial, as mudas se transformaram contribui para reduzir as ocorrências de em cana com 30% mais de massa. Para pragas e doenças na implantação do ca- o produtor, o método revoluciona o con- navial por usar mudas sadias. “É uma tec- ceito de plantio de cana praticado desde nologia de multiplicação que poderá con- sempre no Brasil. Resgata também a ca- tribuir para a produção rápida de mudas, racterística da cana ser uma soqueira, e associando elevado padrão de fitossani- que o fato de esparramar os toletes na li- dade, vigor e uniformidade de plantio”, nha provoca uma competição por espaço, salientou. Outro grande benefício, disse Xavier, está na redução da quantidade de mudas que vai a campo. Para o plantio de Viveiro na Santa Izabel: produção de 200 mil mudas pré-brotadas 45 C A PA Área de AgMusa no sistema Meiosi com amendoim na fazenda de Ismael Perina, em Jaboticabal, SP luz e nutrientes, além da falta de uniformi- AgMusa e a biofábrica móvel dade. “Mais sanidade, mais perfilhos, mais E em julho do 2013, a multinacional colmos, mais uniformidade, levam a mais Basf entrou no jogo, apresentando cartas tonelada e a mais açúcar por hectare. Este pesadas: lançou o sistema AgMusa com é o sistema MPB”, sintetiza Paulo. mudas sadias, com qualidade superior e O viveiro de produção de MPB da difusão de técnicas para a implantação Santa Izabel tem capacidade de produção de viveiros com alto potencial produtivo. anual de 200 mil mudas, mas o objetivo O AgMusa não é simplesmente a muda, do produtor é chegar a produzir 5 milhões mas um sistema, um pacote tecnológico. por ano para cobrir as falhas de toda sua A Basf orienta no preparo do solo e no área de plantio. A renovação nos canaviais manejo, fornece a muda, realiza o plantio da Santa Izabel é da ordem de 10%/ano. O e assistência técnica. plantio das mudas é manual, para cana de Alicerçado com práticas como a 18 meses (com plantio só de verão) e sem Meiosi com o amendoim, já é possível di- irrigação. zer que o sistema AgMusa “pegou”, pois 46 Maio · 2015 em 2015 já ocupa mais de três mil hecta- negócio com AgMusa em um ano, cons- res de cana. truiu seu viveiro primário dentro dos pa- “O método Meiosi com AgMusa su- râmetros de sanidade do sistema, e ago- pera as expectativas”, diz Ismael Peri- ra quer multiplicar esse varietal. Ao invés na, produtor rural em Jaboticabal, SP, um da cana ser colhida e levada para a biofá- dos pioneiros a tombar a cana-muda ad- brica da Basf, no município de Santo An- vinda da AgMusa em áreas cultivadas por tonio de Posse, SP, para a industrialização amendoim. “Essa cana, com apenas oito das gemas, a biofábrica móvel vai até o meses, ofereceu muito mais material que canavial do cliente. A cana cortada pas- a cana convencional de 14 meses. Forma- sa pela biofábrica, onde é realizada a ex- ção de viveiro primário é base para o nos- tração das gemas, o que equivale de 2% so setor. O plantio de muda de cana no a 3% da cana. O restante da matéria-pri- sistema AgMusa em Meiosi - com amen- ma vai para a usina a fim de ser transfor- doim ou soja - garantiu uma excelente mado em açúcar, etanol, energia, geran- qualidade da muda para o plantio comer- do receita para o cliente. A gema segue cial. Adotar esse sistema não pesa no bol- para a biofábrica fixa da Basf, para a in- so. Ao contrário, traz retorno. Trata-se de dustrialização e produção da muda, que um sistema simples e que, diferente do retorna ao campo dois meses depois. que alguns dizem, sai barato. A partir de uma taxa de multiplicação de um por sete se tem o equilíbrio de custo na produção desta muda”, explica. O melhor é que a taxa de multiplicação chega a ser de um por 15. Uma das ferramentas para maior Cássio: a biofábrica AgMusa gera renda ao cliente adesão à tecnologia foi o lançamento, em 2014, da biofábrica móvel AgMusa de extração de gemas de cana. Cássio Teixeira, gerente de Marketing para a América Latina de Especialidades da Basf, explica que a biofábrica móvel é um equipamento patenteado pela empresa e que tem o objetivo de fazer a extração de gemas próxima ao talhão, onde a cana será plantada. Funciona assim: a usina fechou 47 C A PA A popularização do MPB Não é exagero dizer que o sistema de MPB já está correndo o mundo. No Brasil é difícil a unidade que não tenha pelo menos um cantinho com mudas pré-brotadas. A tecnologia se mostra acessível até Veja vídeo com explicação do pesquisador Mauro Xavier sobre a produção de mudas pré-brotadas mesmo para pequenos produtores. O IAC, a Coplana (Cooperativa Agroindustrial) e a Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba) criaram o Projeto de Validação do Kit de Pré-Brotação do MPB. O maior plantio de MPB O Projeto tem dois propósitos diretos: ofe- Área com 5 ou 10 hectares com MPB recer condições para que o fornecedor de é a realidade da maioria do setor, mas não cana retome a gestão do seu negócio e re- na Usina Alta Mogiana, em São Joaquim duzir o tempo de adoção das novas varie- da Barra, SP, que já conta com 1.800 hec- dades desenvolvidas pela pesquisa. Com a tares plantados com a tecnologia. “É uma transferência de informações e de pacote das soluções que temos disponíveis hoje tecnológico pretende-se contribuir para a para melhorar a produtividade. E o produ- independência do canavicultor em relação tor, o empresário tem que estar atento a à produção de mudas. todas”, diz o diretor-comercial Luiz Gusta- A Biofábrica AgMusa vai até o canavial 48 Maio · 2015 “MPB é uma das soluções que temos disponíveis hoje para melhorar a produtividade”, diz Luiz Gustavo Figueiredo vo Junqueira Figueiredo. Mas Luiz Gustavo lembra que esta é uma tecnologia nova. “Está no nascedouro e tem seus desafios. Não missora. Atualmente, a usina já faz o plan- adianta acreditar que esta tecnologia, so- tio comercial das mudas pré-brotadas. zinha, é a ‘salvação da lavoura’. Afinal, exi- “Neste ano, 20% do nosso plantio foi fei- ge uma série de cuidados, inclusive com to com MPB. É um índice alto, pois plan- relação à umidade do solo no plantio e no tamos 9 mil hectares, o que correspon- pós-plantio. “Se não ficar atento a isso, o de a 1.800 hectares plantados com MPB, produtor acaba tendo resultado até pior que vão virar cana e depois matéria-prima do que com a cana convencional.” para a indústria”, informa. De qualquer forma, Luiz Gustavo Para o diretor da usina, ainda falta acredita que o MPB é uma tecnologia pro- um pouco de amadurecimento completo A Alta Mogiana já plantou 1.800 hectares com MPB 49 C A PA A Alta Mogiana utiliza MPB de vários fornecedores do ciclo da cana para chegar a uma con- As mudas de MPB foram plantadas clusão final sobre o sistema. “Entre plantar, em áreas de pousio, reforma e rotação colher, multiplicar, gostaria de ter pouco de culturas, porém não foi feita em Meio- mais de resultados para ter uma avaliação si. Foram plantadas algumas propriedades precisa. Até agora, diria que a expectativa no modelo de cantose (talhão “num can- é boa. Mas ainda queremos olhar os resul- to” da propriedade que servirá de muda tados de campo para comprovar que é vi- para o plantio mecanizado após alguns ável apostar nessa opção.” meses do plantio efetivo da MPB). Até agora, a Alta Mogiana plantou Nos canaviais da Alta Mogiana en- mudas de vários fornecedores: Basf (Ag- contram-se quatro unidades da biofábri- Musa), Syngenta (Plene Evolve e Plene PB), ca móvel AgMusa da Basf. A Usina traba- CTC, IAC e SBW, mas pretendem plantar lha com a Basf em duas linhas de negócios de outros parceiros também. Os profissio- com relação à MPB: a linha Premium, em nais da Usina alertam que para o bom de- que compra a muda, e a linha comparti- sempenho das mudas é preciso cuidados lhada, em que extrai gemas de materiais com o preparo do solo, o plantio propria- oriundos de meristemas da própria usina mente dito e com irrigação de salvamento com extratoras da Basf. O ganho para am- (quando necessária). bos é na redução de custos. 50 Maio · 2015 A equipe da Alta Mogiana considera que a utilização do sistema evoluiu ra- pensa em plantar o máximo possível em escala comercial. pidamente e só não é mais utilizado pela atual situação do setor sucroenergético, MPB caseiro no Grupo Aralco que não comporta custos e investimen- Algumas unidades estão investindo na tos mais elevados. “Na parte da capacida- produção das próprias mudas ao invés de de de produção, acreditamos que já existe adquirirem de empresas, mas a equipe da ambiente para o serviço Disk Muda avan- Alta Mogiana diz que no momento não há a çar rapidamente, se houver demanda.” O pretensão de produzir as mudas. “Compra- próximo passo da Alta Mogiana quanto mos mudas e temos alguns modelos/eta- ao plantio de MPB é evoluir no conceito pas compartilhados (em que fazemos parte de irrigação para possibilitar a ampliação do processo e o parceiro faz outras).” Já o Grupo Aralco, com quatro uni- vidos no sistema como um todo permiti- dades no Oeste Paulista, aposta na produ- rem um ganho de escala maior, a empresa ção caseira do MPB. Tiago Rodrigo Dossi, COMUNICAÇÃO ARALCO da janela de plantio. E se os valores envol- Brotação de mudas em viveiro da Aralco 51 C A PA COMUNICAÇÃO ARALCO “Queremos uma muda com um valor final abaixo do mercado”, diz Tiago assistente de Formação e Colheita, diz que mos as camas de germinação. Aproveita- a ideia inicial é produzir a muda para plan- mos palanques de madeira que tínhamos tio comercial, e alavancar o crescimento para montar a estrutura da estufa, fizemos de algumas variedades, que não têm ou e faremos de tudo para minimizar os gas- que acham necessário expandir. “O MPB é tos e baratearmos essas mudas para que uma forma de multiplicarmos essas varie- ela seja viável para a empresa. Só adquiri- dades que nos faltam, com uma garantia mos a bandeja, arame e algumas lascas de genética e de sanidade, que são as duas madeira de eucalipto tratado.” principais garantias que buscamos. E em A produção iniciou no ano passa- uma próxima etapa, incluir essa produção do em fase de experimento, em um vivei- em falhas de plantio.” ro de árvores nativas, que se localizava em Essa produção doméstica, segun- General Salgado. “Ainda na fase de expe- do Tiago, visa um melhor custo-benefício. “Queremos uma muda com um valor final abaixo do mercado (hoje está em torno de R$1). Para isso, adquirimos poucos recursos materiais, pois utilizamos os materiais que a empresa oferece. O substrato fazemos com a torta que temos aqui; nossas camas de germinação foram feitas com barracão que tinha aqui na usina. Desmontamos e aproveitamos para fazer- Montando a estrutura para a produção de mudas na Aralco 52 Maio · 2015 COMUNICAÇÃO ARALCO MPB produzida pela Aralco rimentos, começamos a colher dados de qualificar a distribuição para as outras uni- germinação, temperatura, umidade, qual dades. Temos hoje 5 hectares plantados a variedade que iriámos produzir. Com manualmente. Agora com o término da isso, neste ano, transferimos o viveiro para instalação, a intenção de produção desse o alojamento – ATA – em Santo Antônio viveiro é que passe a ser de 1 hectare por do Aracanguá, para centralizar as ações e dia”, observa Tiago. COMUNICAÇÃO ARALCO Inicialmente, as mudas são para formação de viveiros primários. A multiplicação se dá a partir deles. Tiago explica que foram selecionadas 12 variedades mais adequadas à região onde se encontram as unidades do Grupo. E como é a sanidade do MPB da Aralco? “Temos áreas no Grupo que plantamos e manejamos como viveiros primários e secundários, hoje nosso MPB está tendo origem dessas áreas. Na hora em que vai ser feito o processo de extração da gema, tratamos com fungicida, inseticida e enraizador. Pretendemos também adquirir algumas mudas de MPB 53 C A PA Frente de plantio de cana-tolete exige grande estrutura oriundas de instituições de pesquisas. ções. Quando obtivermos os dados neces- Montaremos um viveiro na Aralco com es- sários e a partir do momento que estiver sas mudas e o nosso MPB sairá também produzindo um hectare por dia, passará a produzido por meio dessas. Então tere- ser comercial para nós”, diz Tiago. Sobre o mos uma garantia de sanidade, porque a custo de produção o MBP da Aralco, infor- origem dela já é sadia.” ma que ainda não é possível fazerm o cál- O plantio foi manual e no verão. culo final dessa muda, mas trabalham para Mesmo assim utilizaram irrigação, feita ter uma muda de MPB abaixo do valor de com caminhão pipa. Tiago salienta que o mercado. objetivo é liberar muda o ano inteiro. As- Um ponto chave da produção de sim, o plantio será no verão e no inver- MPB é a economia de muda. Hoje, para no, havendo o uso de irrigação no perío- plantar um hectare de cana mecanizado, do mais seco. usa-se aproximadamente 18 toneladas de A Aralco já pensa no plantio comer- cana por hectare. “Já no plantio da MPB cial do MPB. “Ainda não está comercial em a gente necessita de aproximadamente larga escala, porque estamos em fase de duas toneladas de cana por hectare. Então pesquisas, em busca de números, informa- há uma economia aproximada de 16 tone- 54 Maio · 2015 55 C A PA ladas. É um desafio, e que estamos todos Acho que tudo isso favorece para um cres- buscando.” cimento notável da cultura de MPB.” O plantio de mudas é uma alterna- Paulo Roberto Artioli, diretor da Tec- tiva ao plantio de cana-tolete? Para Tia- nocana, de Marituba, SP, desenvolve um go, sim. “É uma tecnologia que está aí, e projeto-piloto com plantio de vários ti- cada vez mais aumenta a quantidade de pos de MPB em uma área irrigada com usinas e produtores que a adotam, pen- pivô. Ele queria saber mais sobre o poten- sando em economia de muda, na sanida- cial dessa tecnologia. E disse estar satisfei- “Lógico que a mudança não será de uma hora para outra, mas podemos dizer que a cana-tolete está com os anos contados”, afirma Paulo Roberto Artioli de e qualidade da muda, em diminuição to com os primeiros resultados. Conta que de mão de obra, de máquinas. Hoje, um as canas colhidas com 12 meses renderam plantio mecanizado de MPB necessita ba- 110 toneladas, as que foram colhidas com sicamente de um trator, um caminhão ¾ 14 meses, chegam a 130 toneladas e taxa e três a quatro pessoas. Já o plantio me- de multiplicação foi de um por oito. canizado requer mais investimentos, mais O produtor ressalta que o plantio de mão de obra, a muda sofre mais, e sem cana-tolete não faz mais parte do canavial contar a garantia de sanidade dessa muda. do futuro. “Lógico que a mudança não será 56 Maio · 2015 de uma hora para outra, mas podemos di- de plantio”, salienta Beto Artioli. zer que a cana-tolete está com os anos Luis Augusto Contin Silva, gerente contados. O sistema MPB vai promover do Processo Desenvolvimento Agrícola da várias alterações, começando pelo mane- Alta Mogiana, acredita que para a adoção jo. A evolução da mecanização no canavial em larga escala do plantio com MPB faltam começou pelo fim, pela colheita, esquece- reduzir custo das mudas e automatizar o mos do plantio. E agora precisamos correr sistema de plantio. “Os equipamentos dis- atrás. Continuar jogando essa quantidade poníveis para o plantio (transplantado- absurda de cana nas linhas (média de 20 ras), apesar de algumas melhorias recen- toneladas), manter essa estrutura enorme tes, têm muito a avançar, principalmente e custo altíssimo para a renovação do ca- na questão da automação.” navial não é viável economicamente. Mas Cássio Teixeira, da Basf, conta que para a expansão do plantio com mudas é muitos clientes já sinalizam realizar o plan- preciso que haja evolução nas máquinas tio de canavial por meio do AgMusa, pois Protótipo da plantadora de MPB AgMusa da BASF que está na fase de testes 57 C A PA o custo já está ficando viável. “Muitos di- res, vai precisar de outra plantadora, que zem: ‘Meu primeiro ano será de viveiro, o ofereça assistência mais rápida e mais fá- segundo de canavial’. Começa a ser uma cil, maior facilidade de regulagem para tendência”, diz Cássio. Mas ele concorda diferentes tipos de solo, com mais auto- que, quando se pensa em larga escala, é mação, que atenda todas as normas de re- preciso melhorar o desempenho das plan- gulação de trabalho. Esta plantadora está tadoras. Por isso, a Basf está desenvolven- em fase final de testes”, informa Cássio. do uma plantadora que oferece maior es- produzida pela DMB Máquinas e Imple- Syngenta não acredita que o MPB irá substituir o cana-tolete, mas sim o plantio da semente mentos. Cássio explica que essa máquina Leandro Amaral conta que, quando realiza um excelente trabalho para quem a Syngenta recolheu o Plene para a fase quer plantar uma área introdutória de Ag- de pesquisa, criou a plataforma de plantio Musa. “Tecnicamente planta muito bem Plene. “Entre 2011/12 criamos dois produ- uma área de 10 hectares com AgMusa. tos, um deles é uma muda de meristema Mas se o produtor já dominou, quer am- chamada Plene Evolve para plantio de vi- pliar rapidamente para 50, 100, 200 hecta- veiro pré-primário para introdução de no- cala de plantio com redução de custo. Hoje, o plantio da AgMusa é realizado pela plantadora licenciada pela Basf e Leandro com o Plene Evolve e o Plene PB 58 Maio · 2015 59 C A PA vas variedades com alta sanidade genética. genta, o futuro é o plantio da semente da E na sequência, criamos a muda pré-bro- cana”, salienta Leandro. Trata-se de uma tada, o Plene PB. “Mas não acreditamos tecnologia apresentada pela empresa em em plantio comercial com MPB. Acho que 2014, o Plene Emerald (esmeralda). ao médio prazo vão surgir máquinas se- “É hora de mudarmos a forma como miautomatizadas com um operador para pensamos cana-de-açúcar”, ressalta Da- alimentar três linhas, com um nível de efi- niel Bachner, diretor global de cana-de ciência maior, mas que ainda não terão ní- -açúcar da Syngenta. Um dos grandes vel de exigência compatível para plantio passos dados pela Syngenta com esta so- normal”, diz Leandro. lução é o fato de unir na mesma tecno- Então quer dizer que o plantio de logia duas aspirações antigas do setor: o cana-tolete continuará presente no futu- plantio de cana por “semente” e a cana ro do setor? “De jeito algum, o plantio de transgênica. Na produção desta semente, cana-tolete precisa acabar e logo, pois é a Syngenta incorpora um material geneti- caro e ruim. Hoje custa R$ 7 mil por hec- camente modificado que apresenta resis- tare, demanda muita muda, muita mão de tência a herbicidas e pragas, como a bro- obra e o resultado não é bom. Para a Syn- ca. “Toda tecnologia aplicada na semente de soja e de milho a companhia introduziu na semente de cana”, relata Bachner. Daniel Bachner e o novo Plene Leandro salienta que o grande diferencial com o primeiro Plene é que aquele tinha uma vida útil de quatro dias para ser plantado. O novo Plene tem prazo de seis meses com armazenamento a 12 graus e quando coloca no campo tem alto vigor de germinação. Pesa de 5 a 10 gramas e serão utilizados de 150 a 200 quilos por hectare. “Será possível plantar tranquilamente 60 hectares por dia, podendo otimizar o plantio na época ideal. Com cana de 18 meses que tem melhor rendimento e ter as melhores produtividades. A tecnologia vai reduzir entre 10 a 15% o custo da tonelada de cana produzida.” Para não ter nenhum gargalo logís- 60 Maio · 2015 A expectativa é que a semente de cana chegue ao mercado em 2017 tico no sistema de produção da semente, ra até o final do ano, está na fase da pro- hoje a empresa estuda a ideia de implan- dução da semente e testes de campo den- tar de quatro a cinco fábricas em diferentes tro das áreas da Syngenta. Paralelamente, pontos do país. De acordo com Bachner, o está sendo desenvolvida uma máquina es- melhor é que tais operações não vão pre- pecífica para o plantio mecanizado da se- cisar da implantação de viveiros de cana. O mente de cana. “Hoje para o plantio de material é produzido no laboratório. “O ob- MPB, as máquinas plantam de 2 a 3 hecta- jetivo é que se produza a semente duran- re/dia, com a evolução irão plantar de 4 a te o ano todo, de acordo com a demanda.” 5. A máquina do novo Plene plantará en- Inicialmente, as sementes serão fei- tre 40 a 90 hectares/dia”, informa Leandro. tas das cinco variedades de cana mais Mas esse futuro esmeralda do setor já tem plantadas. Na segunda fase, as semen- data para começar? “Sim, 2017.” É a previ- tes serão também de novas variedades de são de lançamento da semente de cana da alta produtividade. O novo Plene, de ago- Syngenta. 61 E CON OMIA Com crise financeira, empresas investem em turnaround dos negócios Andréia Moreno, da MBF Agribusiness U ma expressão muito utilizada no sustentável, surge a partir de uma série de mundo corporativo é o turnarou- medidas realizadas na estrutura operacio- nd, que significa mudar substan- nal das empresas, que possibilitem maior cialmente o desempenho de uma empre- margem em seus produtos, inclusive a re- sa, ao retirá-la de uma rota de declínio adequação da relação Capital Próprio X para colocá-la, novamente, em crescimen- Capital de Terceiros. Para Marcos Françóia, to. Mas o redirecionamento para a obten- diretor da MBF Agribusiness, as empresas ção de resultados positivos, de maneira precisam controlar esse indicador de capi- 62 Maio · 2015 tal de terceiros e saber como está oneran- separando a emoção da razão e trazendo do o resultado econômico. “Para muitas ferramentas e relacionamentos diferencia- empresas o custo financeiro já virou par- dos com o mercado. “Isso tudo pode mu- te do custo do produto final e não é mais dar a visão sobre a qualidade da gestão e conhecido, pois o risco de mercado ele- dos gestores, trazendo maior credibilida- va o valor dos serviços e da matéria-prima de para as empresas e, com isso, ter aces- na aquisição dos mesmos e muitos ges- so mais fácil e mais barato ao mercado de tores ou áreas de suprimentos não estão capitais, inclusive na renegociação do en- preparados para tratar adequadamente dividamento atual, que tem sufocado mui- esse assunto. Mas isso só não resolve a si- tas empresas”. tuação econômica das empresas. É preci- Através de um plano de gestão pré- so rever o processo produtivo, verificar a definido e aprovado pelos acionistas ou possibilidade de redução de custos, tratar pelo Conselho de Administração, a MBF da renegociação das dívidas, reorganizar Agribusiness promove o turnaround em os controles internos e readequar o papel empresas de qualquer segmento do mer- da contabilidade dentro da gestão (mui- cado, visando reverter seus resultados tos escritórios ainda são meramente emis- econômicos-financeiros, garante Françóia. sores de guias de impostos)”, diz. “Esse plano provavelmente irá conter re- Separar emoção da razão – De acor- negociações com credores, realinhamento do com ele, muitas vezes essa mudan- dos custos de produção e despesas, revi- ça necessita de um olhar crítico externo, são dos processos e procedimentos em todas as áreas da empresa, inclusive preparando os profissionais para analisarem os números e tomarem decisões mais acertadas. Pode ser um plano global de remodelagem, como um plano de alongamento do passivo financeiro”, revela. Para fundos de investimentos e instituições financeiras, a vantagem em ter na empresa especialistas na remodelagem do sistema de gestão permite maior credibilidade, possibilitando que a instituição avalie uma flexibilização nos prazos e até Françóia: turnaround em empresas visando reverter seus resultados econômico-financeiros mesmo nas taxas praticadas nos empréstimos, completa o executivo. 63 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL A indústria verde da cana luta para sair do vermelho SEM SAÚDE FINANCEIRA, A INDÚSTRIA BRASILEIRA PIONEIRA NA TRANSFORMAÇÃO DA CANA EM ENERGIAS RENOVÁVEIS PERDE TALENTOS, REDUZ PESQUISA E ENCOLHE Luciana Paiva A cidade de Sertãozinho, no inte- março sobre o mês anterior, encerrando o rior paulista, é cercada por lavou- primeiro trimestre com queda acumulada ras de cana-de-açúcar, mas seu no ano de 5,9%. Foi o pior resultado no coração é industrial. Pulsam mais de 600 empresas distribuídas em quatro distritos industriais. mês de março desde 2006. Mas em Sertãozinho, o quadro industrial é mais crítico. Muitas de suas in- No geral, a situação da indústria bra- dústrias estão na UTI, outras já fecharam sileira é grave. Segundo relatório do Ins- as portas. Isso ocorre porque cerca de 85% tituto Brasileiro de Geografia e Estatística das empresas atendem exclusivamente ao (IBGE), divulgado em 6 de maio, a produ- setor sucroenergético que vive uma cri- ção da indústria nacional recuou 0,8% em se que já dura quase oito anos e que já fechou quase 80 usinas e colocou 67 em Sertãozinho é a casa da Fenasucro, a maior feira de tecnologia sucroenergética do mundo recuperação judicial, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Luciana Paiva 64 Maio · 2015 O Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br) considera ser um cenário sem precedentes. Segundo a entidade, a crise é oriunda da combinação de alguns fenômenos, como o reajustamento do setor com a entrada de grandes grupos multinacionais na produção de açúcar, álcool e energia; fatores climáticos adversos; o setor público ter deixado de enxergar o etanol como prioritário com o advento do Pré-Sal; a não priorização da produção de “Não há contratação, apenas demissão, diz Liboni energia de biomassa; e preços insuficientes para remuneração do investimento na queda do império canavieiro. Quando a ponta da cadeia produtiva do setor, pro- cana vai bem, seus indicadores econômi- vocando um efeito em cascata. cos batem recordes positivos, como aconteceu em 2006: a cidade liderou a geração Confira vídeo da passeata pela retomada do setor sucroenergético realizada em Sertãozinho em 27 de janeiro de 2015 e que reuniu quase 20 mil pessoas de empregos no setor industrial paulista, de acordo com dados do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Somente no primeiro semestre daquele ano, a variação positiva foi de 20,4%, com a contratação de 6.300 trabalhadores. Era o ápice da expansão canavieira embalada pela expectativa da abertura do mercado mundial ao etanol. Mas quando a cana está em baixa, o Sertãozinho: economia movida à cana doce azeda. “Neste mês de março, o índice A crise atinge o setor sucroenergé- no estado de São Paulo, foi de 0,6%, mas tico nos quatro cantos do Brasil, mas Ser- Sertãozinho registrou - 6,5%. Está nega- tãozinho é emblemático, uma vez que se tivo, ou seja, não há contratação, apenas trata do maior polo de tecnologia sucro- demissão. E a expectativa é que o mês de energética do mundo. O município sen- abril feche com - 7%”, salienta Carlos Ro- te na pele os efeitos de cada ascensão e berto Liboni, secretário de Indústria, Co- de empregabilidade no Brasil foi de 0,12%, 65 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL mércio, Abastecimento, Agricultura e Re- Proálcool: 40 anos lações do Trabalho de Sertãozinho. Sertãozinho foi quem mais abra- Liboni conta que o menor índice de çou o chamado governamental, na déca- empregabilidade já registrado em Sertão- da de 1970, para a produção de combus- zinho, foi em 2008, com - 11%. Foi a época tível verde. Criado durante a primeira crise do anúncio da crise financeira global, que mundial do petróleo, em 1975, o ProÁlco- deflagrou no mundo canavieiro um tsuna- ol (Programa Nacional do Álcool), além de mi que passou a moer usinas, empresas, reduzir a dependência do Brasil em relação empregos, investimentos, produtividade e à gasolina, trazia um novo horizonte para colocando em risco a tecnologia verde de- a matriz energética brasileira. Em sua pri- senvolvida pela indústria brasileira. meira fase, o objetivo foi utilizar o álcool “É lamentável a situação do setor su- anidro como aditivo à gasolina na propor- croenergético”, diz Plínio Nastari, presi- ção de 13%, em substituição ao chumbo dente da Datagro Consultoria. Para Nasta- tetraetila, que era importado e altamen- ri, a crise no setor sucroenergético é mais te poluente. complexa do que em outras culturas agrícolas, pois além de afetar o campo, nocauteia a indústria, não só a sucroenergética – a que transforma a cana em açúcar, etanol, energia e outros produtos – mas as empresas que produzem equipamentos e serviços para as usinas e também as suas fornecedoras de matéria-prima. É uma cadeia, que compreende, segundo dados da Unica, mais de 1.000 indústrias. Shigeaki Ueki, ministro de Minas e Energia na época do Proálcool, abastece o primeiro carro 100% movido a álcool 66 Maio · 2015 pamentos Pesados SA, fabricante de equipamentos industriais, que entrou de cor- Veja Vídeo de Propaganda do Proálcool na Década de 1970 po e alma para desenvolver tecnologias e ajudar a plantar destilarias pelo Brasil afora. Nas décadas de 1970 e 80, a Zanini se transformou na mais importante empresa brasileira fornecedora de equipamentos pesados e detentora de tecnologia de ponta para o setor canavieiro. Chegou a ter 7 mil funcionários e a produção gira- No final da década, em setembro de va 24 horas. 1979, com a segunda crise do petróleo, o Mas além de produzir tecnologia, a governo federal e a Associação Nacional empresa formou profissionais. Um de seus dos Fabricantes de Veículos Automotores maiores produtos foi a Escolinha da Zani- (Anfavea) assinaram um protocolo pelo ni, onde centenas de jovens aprenderam qual os fabricantes deveriam desenvolver a arte de moldar os metais, transforman- novas tecnologias para a produção em sé- do-os em equipamentos para montagem rie de veículos movido a álcool. No mes- de usinas e também de destilarias que se mo ano, foi lançado o primeiro carro mo- uniram às fábricas de açúcar nas usinas já vido 100% com combustível verde feito existentes ou foram implantadas indepen- de cana-de-açúcar, o Fiat 147. O Proálco- dentes, denominadas destilarias autôno- ol ganhava raízes mais sólidas e se tornou mas. A primeira delas foi a Destilaria Al- o maior programa de combustível renová- cídia, localizada em Teodoro Sampaio, SP, vel do mundo. longe dos tradicionais polos canavieiros, Pesquisa realizada pela Datagro pois uma das funções do ProÁlcool era Consultoria aponta que a produção anu- levar desenvolvimento para o interior do al de cana no Brasil, que até 1969 era de país. A construção da Destilaria Alcídia ini- 57 milhões de toneladas, com o Proálco- ciou-se no ano de 1976. A primeira safra ol, na década de 1970, alcançou a casa das foi colhida em 1978. 300 milhões de toneladas. Mas só ter cana A atual produção brasileira de etanol não adiantava, era preciso tecnologia para ilustra bem o sucesso do Proálcool: cresceu transformar essa matéria-prima em álco- de 555 milhões de litros em 1975/76 para ol combustível. É aí que Sertãozinho gru- 28,6 bilhões de litros na safra 2014/2015, da seu nome à cana-de-açúcar. segundo projeção da Conab (Companhia A cidade contava com a Zanini-Equi- Nacional de Abastecimento). 67 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL Sertãozinho, com seus 110 mil habitantes, vive sob os humores da cana Maior polo de tecnologia sucroenergética do mundo nasceu de uma crise agroindústria canavieira demorou para as- No dia 8 de maio de 1990, o então principalmente destilarias autônomas, não presidente Fernando Collor de Mello, por sobreviveram à transição. A aquisição de intermédio do Decreto 99.240, extinguiu o equipamentos foi cortada no osso e a Za- Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Cria- nini, que já vivia uma crise de gestão, su- do em 1933 dentro da política intervencio- cumbiu. Em 1992 se fundiu à Dedini, outra nista do presidente Getúlio Vargas, o Ins- gigante em tecnologia sucroenergética, tituto era uma autarquia de administração com sede em Piracicaba, SP. similar o golpe, até aprender a caminhar com as próprias pernas. Muitas usinas, federal que atuava como um agente re- Na grande metalúrgica, que come- gulador e planejador do setor sucroener- çou como oficina Zanini em 1950, a mar- gético nacional, definindo e monitorando ca Zanini foi substituída por Dedini, segui- quotas de produção de açúcar e álcool por da por demissão em massa. A cidade de usina, além de preços e mix de produto. Sertãozinho estava ferida, mas longe de Com o fim da regulamentação do setor, foi estar morta. E a solução foi um espanto: extinguido o Proálcool. morreu a mãe Zanini, mas seus filhotes, os Órfão de uma hora para outra, a 68 alunos de sua escolinha, aprenderam tão Maio · 2015 bem o oficio que tiveram confiança para tecnologia diferenciada, podemos chamá abrir suas próprias empresas. A sementei- -la de tecnologia verde, pois destina-se à ra de talentos fez brotar no solo sertane- produção de energias renováveis. Ajuda- zino centenas de indústrias, o que levou à mos a colocar o Brasil na vanguarda mun- criação do maior polo de tecnologia su- dial no que diz respeito a alternativas vi- croenergética do mundo. áveis ao uso dos combustíveis fósseis”, salienta. Tecnologia verde Plínio Nastari concorda com Liboni e ressalta que o etanol passou a ser impor- meninos da Escolinha da Zanini, salien- tante componente da matriz energética ta que 100% da tecnologia sucroenergé- brasileira e alçou o país a um dos grandes tica é desenvolvida e produzida no Brasil, consumidores de energia limpa e renová- a maior parte em Sertãozinho. “E é uma vel do mundo. Em quase 35 anos de uti- FORÇA SINDICAL O Secretário Liboni, que foi um dos Neste mês de maio, funcionários da unidade da Dedini, em Sertãozinho, entraram em greve por causa de atraso nos salários 69 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL 90% dos carros produzidos no Brasil são flex lização como combustível puro, o etanol tem uma trajetória de altos e baixos. Passou a ser utilizado diretamente no tanque dos veículos em 1979 e bastaram apenas 4 anos para igualar a gasolina na preferência dos veículos novos. Em 1985, o etanol atingiu seu pico, com cerca de 90% dos carros novos sendo movidos pelo combustível renovável. Porém, no fim da década, o preço do ma no motor do etanol produz em média petróleo diminuiu, e a gasolina ultrapas- 25% menos monóxido de carbono e 35% sou o álcool em 1990. Entre 1996 e 2002, menos óxido de nitrogênio do que a quei- foi praticamente zero a quantidade de ve- ma da gasolina. Em 2014, a Unica desta- ículos novos movidos a etanol. O combus- cou que, desde 2003, quando foi introdu- tível só ressurgiu em 2003, com a chegada zido o motor flex no Brasil, o uso do etanol dos motores flexíveis, que permitem que já evitou a emissão de 240 milhões de to- o motorista abasteça o tanque do veícu- neladas de carbono, volume que corres- lo com gasolina ou com etanol, de acordo ponde a três anos de emissões de um país com a escolha, e na proporção que prefe- como o Chile. rir. Foi nessa época que o combustível mu- A pegada verde do etanol brasilei- dou a denominação de álcool para etanol. ro foi reconhecida pela Agência de Pro- Desde 2005, a venda de automóveis total teção Ambiental dos Estados Unidos (En- flex predomina: 90% dos carros produzi- vironmental Protection Agency, EPA) que dos no Brasil são flex. confirmou que o etanol de cana-de-açúcar é um biocombustível renovável de bai- Combustível avançado xo carbono, capaz de reduzir as emissões Antonio de Padua Rodrigues, dire- de gases do efeito estufa em pelo menos tor-técnico da Unica, salienta que a quei- 50% comparado com a gasolina. Evidên- 70 Maio · 2015 ge uma redução de 73% a 82% nas emissões de gases de efeito estufa comparado à gasolina. O etanol de cana ganhou da EPA o status de combustível avançado. A indústria verde alimenta a lavoura Mas a tecnologia verde sucroenergética não se resume à produção de etanol: Jaime Finguerut, assessor técnico da presidência do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), observa que, com o ProÁlcool, surgiram outros resíduos como a vinhaça e torta de filtro. A vinhaça é um resíduo do processo de destilação, fonte rica em potássio e que também tem cálcio, magnécias científicas apresentadas à EPA pela sio, enxofre e micronutrientes. Cada litro Unica mostram que mesmo incluindo-se de álcool fabricado gera outros 13 litros emissões indiretas, o etanol de cana atin- de vinhaça. Já a torta de filtro é mistura O etanol da cana é capaz de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 50% comparado com a gasolina 71 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL de bagaço moído e lodo da decantação, ram muito valor nas usinas, pois se torna- resultando em material rico em fósforo, ram fonte de receita e, de resíduos passa- além de ser fonte de cálcio, magnésio, en- ram para a categoria de subprodutos. As xofre e micronutrientes. unidades passaram a racionalizar o uso e Há várias opções de uso para a vinha- melhorar o aproveitamento para reduzir a ça como: produção de gás metano; ração utilização de adubos químicos da lavoura. animal; utilização como adubo na lavoura “O setor se tornou um exemplo de reutili- ou queima para a produção de fertilizante; zação racional no próprio sistema produti- e a utilização agrícola do resíduo in natu- vo. O Brasil é o país mais desenvolvido na ra, em substituição total ou parcial às adu- utilização dos subprodutos da cana na la- bações minerais. voura”, afirma Finguerut. Além da vinhaça, A vinhaça e a torta de filtro ganha- a cana fornece um composto de nutrien- A vinhaça sai da indústria e alimenta a lavoura 72 Maio · 2015 73 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL tes formado pela torta de filtro, bagacilho, cinzas e fuligem, que substituem a adubação química em até 60%. A Luz que Vem da Cana Da cana se tira não apenas o açúcar, etanol e energia, ressalta Finguerut. Muitas empresas do setor sucroenergético obtêm renda ao explorar outros produtos possíveis a partir do processamento da cana, como óleo fúsel, levedura, RNA (Sal Sódico do Ácido Ribonucléico), este último utilizado na indústria farmacêutica e alimentícia como matéria-prima e também como realçador de sabor. Mas é a energia elétrica que tem o maior potencial de se transformar no primeiro produto do setor, atualmente, apesar de ser o mais remunerador, ocupa a terceira posição, atrás do açúcar e etanol. A maior caldeira de leito fluidizado borbulhante do Brasil foi produzida em Sertãozinho A comercialização do excedente de energia vinda da cana começou em 1987, uma fonte 100% renovável. Era o pontapé quando a pequena cidade de Barrinha, no inicial para a comercialização da bioeletri- interior paulista, passou a ser iluminada cidade proveniente da biomassa da cana. pela energia elétrica gerada por meio do O grande impulso à energia da bio- bagaço de cana. Diferentemente da ener- massa veio com a crise energética vivida gia proveniente das hidroelétricas, a ener- entre julho de 2001 a fevereiro de 2002, gia da biomassa da cana não percorria chamada de “crise do apagão”, que le- centenas de quilômetros até chegar em vou o governo Fernando Henrique a lan- Barrinha. Era produzida ali no quintal da çar planos de incentivo às energias alter- cidade, na Usina São Francisco, do Grupo nativas, entre as quais, a mais viável, é a Balbo, instalada na vizinha Sertãozinho. bioeletricidade, uma energia limpa e reno- A São Francisco entrava para a his- vável, feita a partir da biomassa: resíduos tória: era a primeira unidade sucroenergé- da cana-de-açúcar (bagaço e palha), res- tica a exportar energia elétrica obtida de tos de madeira, carvão vegetal, casca de 74 Maio · 2015 75 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL arroz, capim-elefante e outras. No Brasil, 80% da bioeletricidade vem dos resíduos da cana-de-açúcar. Cada cesso, suas indústrias desenvolveram a tecnologia que possibilitou às usinas alcançar este novo patamar. tonelada de cana moída na fabricação de bagaço e 200kg de palha e pontas. Mas O Brasil exporta tecnologia verde para ampliar o poder de geração de ener- Desenvolver tecnologias para outros gia dessa fonte, era preciso tecnologias segmentos além do canavieiro foi um dos mais modernas, por exemplo, o parque in- caminhos seguidos pelas indústrias ver- dustrial sucroenergético precisava aban- des, o outro foi buscar mercado fora do donar as caldeiras de 21 quilos por caldei- Brasil. Muitos daqueles negócios embrio- ras de alta pressão, era preciso reduzir o nários nascidos com o fim da Zanini trans- consumo de vapor e utilizar equipamen- formaram-se em empresas exportadoras tos mais seguros. de alta tecnologia. Uma dessas empresas açúcar e etanol gera, em média, 250kg de Mais uma vez, a indústria verde da é a TGM, com clientes em 40 países nos cana entrou em ação e desenvolveu tec- cinco continentes. A exportação responde nologia de ponta para a produção de bio- por mais de 60% da produção da empresa. eletricidade. E Sertãozinho liderou o pro- “Desenvolver soluções que possibili- Cada tonelada de cana moída na fabricação de açúcar e etanol gera, em média, 250kg de bagaço 76 Maio · 2015 A TGM gera quase 1 mil empregos tam gerar energias renováveis é pensar na segurança das plantas, dos equipamentos, é vender o excedente de energia para geração de caixa, é trazer competitividade no preço e no produto, é reduzir custo operacional, é gerar emprego na cidade e em toda região onde a planta está instalada, ou seja, é um conjunto de ações que resultam em pontos positivos e benéficos para toda a cadeia produtiva”, diz Adalberto Marchiori, coordenador de Marketing da TGM. Adalberto salienta que a TGM vai muito além do setor sucroenergético. Ela pesquisa, desenvolve e aplica soluções integradas com fornecimento de turbinas Em 2014, a TGM forneceu os dois a vapor, redutores de velocidade e servi- maiores redutores planetários do mundo ços especializados em diversos segmen- para acionamento de moendas e difuso- tos. Em março de 2014, foi inaugurada a res. Um entregue à Sermasa para instala- primeira planta de cogeração de energia ção na BP Tropical (Unidade Edéia, GO) e a vapor a partir da queima de biomassa o outro para a Usina Tanabi (Guarani SA). de eucalipto, no Complexo Industrial de A maior turbina a vapor desenvolvi- Aratu, em Candeias, BA. O projeto, pio- da e fabricada pela TGM, para geração de neiro no setor petroquímico e o primei- energia elétrica, não está no Brasil, mas na ro da ERB em parceria com a TGM a en- Guatemala, em plena operação na Com- trar em funcionamento no Brasil, abastece panhia Guatemalteca de Níquel (Guate- a maior unidade da Dow, com energia lim- malteco Nickel Company SA - CGN. A TGM pa. O equipamento fornecido é uma Tur- tem 15 unidades operando na Europa com bina TGM de reação de 17 MW de potên- turbinas instaladas em planta de gera- cia. Com este projeto, a Dow substitui 150 ção de energia elétrica a partir da queima mil metros cúbicos diários de gás natural. do lixo. Ao invés do resíduo sólido urba- 77 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL no (lixo) segue para os aterros, segue para O plano era previsto para durar três as térmicas resultando uma ação mais efi- meses, mas mesmo com o início da sa- ciente e, ambientalmente correta. fra, foi renovado, pois a situação continua crítica. Mas na opinião de Antonio Eduar- Pacto social do Tonielo Filho, presidente do Ceise-Br, o Em novembro de 2014, a Prefeitu- cenário atual, apesar de ainda ser preocu- ra de Sertãozinho e mais 17 entidades de pante, é melhor que o ano passado, pois classe sertanezinas, colocaram em práti- algumas das reinvindicações da cadeia ca um plano emergencial para amenizar produtiva do setor – que dependem de o agravamento da crise econômica com a políticas públicas –, foram atendidas, tais chegada da entressafra canavieira. O pla- como: a volta parcial da CIDE (Contribui- no foi um pacto social, tendo a tolerância ções de Intervenção no Domínio Econô- como base. “Sabemos que haverá atrasos mico) na gasolina; o aumento de 25% para de pagamento e aumento de inadimplên- 27% de anidro na gasolina; a liberação de cia, então, pediremos aos credores, prin- crédito para warrantagem; e realização de cipalmente bancos, paciência para passar- leilões de energia específicos para a bio- mos os meses de novembro e dezembro”, massa. “Além dessas iniciativas do gover- salientou Liboni na época. no federal, temos a redução do ICMS para A TGM exporta tecnologia verde para 40 países 78 Maio · 2015 Tonielo Filho: “Retrofit, o caminho mais curto para a retomada do setor” positivo no setor seria o governo federal atender ao pleito do Ceise Br e outras o etanol em Minas Gerais, que provocou entidades do setor, para a implantação de um impacto imediato no consumo de eta- um programa de ‘retrofit’ em unidades nol. Há também a desoneração de algu- produtoras, possibilitando a cogeração de mas matérias-primas por iniciativa do go- pequenas e médias unidades. verno do Estado de São Paulo”, diz Tonielo Filho. É a mesma opinião de Liboni, “para produzir mais energia é preciso renovar o No entendimento da entidade, a parque industrial das usinas. Os pedidos combinação dessas medidas, desde que de novos equipamentos farão com que a mantidas e combinadas com a renegocia- roda volte a girar, as indústrias fornecedo- ção de dívidas e crédito para investimen- ras de produtos e serviços parem de demi- tos, devem provocar no médio e longo tir, podendo até recontratar e a economia prazo a volta da confiança de investido- do município voltará a aquecer. O Brasil res, possibilitando um círculo virtuoso de precisa de energia, e a bioeletricidade é a crescimento. Mas, o Presidente do Ceise energia mais barata e pode ser obtida em Br, diz só ter certeza que isso só ocorre- curto espaço de tempo. Mas as usinas pre- rá se a produção de etanol e de energia se cisam de dinheiro para investir. ” tronar prioritária para o governo, optan- Conseguir condições para retrofitar do por uma energia renovável, sustentável as usinas e assim tirar o setor da crise tem ambientalmente e que melhora os resulta- sido uma das missões de Antonio Galla- dos de nossa balança comercial. ti, diretor da TGM e um dos fundadores da empresa. Ex-aluno da Escolinha da Za- Retrofit: caminho para a retomada do setor nini, Gallati é apaixonado por tecnologia, Na visão de Tonielo Filho, no curtís- quando soluções viáveis, como a energia simo prazo, o que poderia provocar efeito pelo setor e pelo país, e fica inconformado da biomassa, não são adotadas. 79 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL Gallati: “O retrofit vai reaquecer a cadeia sucroenergética” Estudo realizado pela TGM apontou que no Brasil, 230 usinas moem na faixa de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas de cana. E dessas 230, 190 estão sucateadas. Com o sucateamento e a falta de ma- pode mudar esse cenário. nutenção as paradas durante a safra são Por isso, Gallati munido por um ela- mais frequentes, aumentam as perdas no borado projeto de retrofit desenvolvido processo e o custo de produção. Indo jus- pela TGM, iniciou uma maratona para ten- tamente ao contrário do que a empresa tar viabilizá-lo. Suas visitas são constantes precisa para se manter viva: aumentar a aos ministérios, como o de Minas e Ener- produtividade e reduzir custos. E o retrofit gias, ao BNDES (Bando Nacional de De- A crise reduziu até mesmo a manutenção das usinas; o parque industrial está sucateado 80 Maio · 2015 senvolvimento Social), e a Secretaria de que a usina não tenha de fazer a linha de Energia do Estado de São Paulo. O relató- transmissão e conexão de energia. rio apresenta todos os pontos essenciais Cada uma dessas usinas que moem para a viabilidade do retrofit, inclusive le- entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas, vantou 30 usinas no interior paulista que apurou a TGM, se forem retrofitadas terá estão mais próximas das linhas de trans- 10 MW/h de sobra de energia, que pode- missão de energia, e, por isso, demandará rá ser comercializada, representando au- A luz produzida nas usinas de cana já ilumina 5 milhões de residências no Estado de São Paulo menos recursos, reduzindo o valor do in- mento de caixa de R$ 11 milhões no ano. vestimento no projeto de retrofit. Também ganharão com a redução no cus- O investimento para retrofitar uma dessas unidades será de R$ 50 milhões. to de produção de etanol e energia, resultado de maior eficiência da indústria. Na comercialização de energia nessas em- A aprovação do retrofit irá aquecer a presas retrofitadas, Gallati observa que R$ cadeia sucroenergética, pois muitas plan- 250,00 cobre o valor do megawatt, desde tas terão de ser renovadas quase que inte- 81 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL O uso da palha reforça a produção de energia elétrica proveniente da cana gralmente, Gallati calcula que em um perí- equivalente a quase 30% de todo o consu- odo de 10 anos é possível retrofitar umas mo residencial do Estado de São Paulo. Do 20 usinas. O BNDES acenou financiar pro- equivalente a 54 mil habitantes, abasteci- jetos de retrofit, mas não cobre os inves- dos pela bioeletricidade em 1987, o setor timentos em linhas de transmissão. En- passou na última safra para mais de 5 mi- tão, Gallati tem buscado a cooperação do lhões de residências, ou 21 milhões de pes- governo paulista para assumir essa parte. soas, utilizando energia da cana-de-açúcar “Precisamos pressionar para ver se sai pe- durante o ano inteiro. los menos uns dois projetos este ano, o que já seria um alento para o setor”, diz. Considerando dados de 2013 e 2014, Zilmar de Souza, gerente de bioeletricida- Atualmente, 127 unidades sucroener- de da Unica, destaca que a biomassa é géticas exportam bioeletricidade no Brasil, responsável atualmente por aproximada- segundo pesquisa da consultoria Datagro. mente 4,5% do consumo de energia elétri- A energia do bagaço vendida para a rede é ca do Brasil, sendo que o bagaço e a palha 82 Maio · 2015 da cana-de-açúcar correspondem a mais de 80% de todas as fontes de biomassa utilizadas no país. go e renda no país”, diz Tonielo Filho. O Ceise Br vai aproveitar esta data, para, mais uma vez, refletir sobre as difi- Em 2014 o setor sucroenergético ge- culdades e apontar soluções para a reto- rou quase 21 mil GW/h para a rede, diz Zil- mada do desenvolvimento e crescimento mar, (a hidrelétrica de Belo Monte irá gerar desta indústria, com a realização de uma 11 GW/h a partir de 2019, quando estiver palestra do Prof. Dr. Rudinei Toneto Junior, em funcionamento pleno). “Se todo o ba- com o tema “Conjuntura e Benefícios da gaço e palha fossem aproveitados pelas Efetivação de um Arranjo Produtivo Local”. usinas seria possível gerar seis vezes mais O Secretário Liboni diz que a data energia do que este patamar de 21 GW/h. não pode passar em branco. “Não pode- É impossível concretizá-lo da noite para o mos esquecer dessa tecnologia fantásti- dia. Mas é possível afirmar que é rápida ca que desenvolvemos. A tecnologia ver- a resposta do setor aos estímulos. Um in- de que o mundo procura, nós já temos. dicador deste potencial foi registrado em Vamos aproveitar o Dia da Indústria para 2010. Com política favorável e alguma an- mais uma vez reivindicar ações para tirar tecedência, chegamos a acrescentar num nossas indústrias do vermelho.” único ano 1,8 GW/h”, salienta o gerente de energia da Unica. Há o que comemorar no Dia da Indústria? Há três anos, a diretoria do Ceise Br resolveu comemorar o Dia da Indústria, 25 de maio, de uma forma diferente. Trocou a festa por seminários para refletir sobre os riscos, oportunidades e desafios do setor. “Logicamente, num primeiro momento, podemos chegar à conclusão de que o cenário atual não é de comemoração, pois a indústria de base do setor sucroenergético atravessa uma crise sem precedentes. Mas vejo que temos que comemorar a história deste empresariado que acredita e acreditou no setor, gerando tecnologia, empre- Zilmar: “se todo o bagaço e palha fosse aproveitado pelas usinas, seria possível gerar seis vezes mais energia do que o patamar atual de 21 GW/h” 83 P E SQU ISA & D E SE N VOLV I MENTO Ao invés de fazer alguns solventes do petróleo, é possível fazer do bagaço de cana A cana e a química verde A QUÍMICA VERDE TEM A SUSTENTABILIDADE COMO PONTO DE PARTIDA. REFERE-SE A PRODUTOS E PROCESSOS DIRETAMENTE RELACIONADOS AO USO DE TECNOLOGIAS LIMPAS Clivonei Roberto U m dos campos mais avançados químicos que possam minimizar ou elimi- dentro da cadeia de valor da ca- nar substâncias prejudiciais tanto à saúde na-de-açúcar e que liga o setor como ao meio ambiente. com o futuro é a Química Verde, que abre A Química Verde tem a sustentabi- um vasto espectro de possibilidades de lidade como ponto de partida. Refere-se produtos de alta qualidade e menor im- a produtos e processos diretamente re- pacto ambiental. lacionados ao uso de tecnologias limpas, Segundo a pesquisadora Maria Tere- em que há controle mais rigoroso quan- sa Borges Pimenta Barbosa, do CTBE (La- to à menor emissão de poluentes, menor boratório Nacional de Ciência e Tecnologia produção de resíduos e efluentes, uso de do Bioetanol), Química Verde é o desen- menos energia, mínima aplicação de pro- volvimento de tecnologias para a obten- dutos tóxicos, redução de impactos am- ção tanto de processos como de produtos bientais. E diferentes alternativas podem 84 Maio · 2015 ser consideradas, como os processos em nhar viabilidade econômica. A área de que se substitui o petróleo e seus deriva- cana-de-açúcar para etanol no país re- dos por biocombustíveis para a obtenção presenta em torno de 1,2% das áreas do mesmo produto. agricultáveis, o que é menos de 25% da O avanço da Química Verde é uma área ocupada para a produção de milho e tendência crescente, segundo a pesquisa- 12,5% da área ocupada com a soja. Con- dora. “No momento, buscamos chegar a siderando, por exemplo, a quantidade de produtos de química verde cujos proces- etanol necessária para produzir 200 mil to- sos sejam viáveis. Com muitos deles ain- neladas de eteno verde (a matéria-prima da estamos em fase de desenvolvimento para o polietileno), seria necessário em ca- e estes processos também vão sofrer as naviais o correspondente a apenas 0,02% mesmas dificuldades para depois se es- das áreas agricultáveis brasileiras. tabelecerem. A tecnologia ainda está em amadurecimento”, explica. A aposta do CTBE nesta área de pesquisa é grande. “Pesquisamos blocos químicos de fontes renováveis (produtos de- A viabilidade da cana para a química verde rivados da biomassa), o que inclui na lista No Brasil, o investimento neste tipo produtos derivados de alcoóis, falamos de de tecnologia é promissor, mas requer a continuidade dos investimentos para ga- os alcoóis. Neste caso, quando visamos alcoolquímica.” O desenvolvimento de cada produto “No mundo, há uma tendência de mercado crescente para a bioenergia e a química verde”, diz a pesquisadora 85 P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO ou via tecnológica não é simples e tem um cos que hoje são produzidos pela rota pe- tempo específico de maturação. Dentre os troquímica e podem ser produzidos pela produtos da química verde, Maria Tereza biomassa (alcoolquímica).” destaca os polímeros, que vêm da rota do “No mundo, há uma tendência de etanol de primeira geração (um combustí- mercado crescente para a bioenergia e a vel renovável e limpo) para a produção do química verde”. E a torcida é para que, no polietileno verde, que já é uma realidade futuro, os produtos feitos a partir de maté- do mercado. rias-primas renováveis e limpas sejam di- Maria Teresa afirma ainda que exis- ferenciados no mercado (etiqueta verde) e tem diversos outros blocos químicos que sejam remunerados por essa característica. podem ser produzidos a partir da cana-de O desafio é conferir à Química Verde -açúcar, além do biocombustível. “Ao invés a valorização que merece. Afinal, corres- de fazer alguns solventes do petróleo, é ponde a tecnologias que têm a sustenta- possível fazer do bagaço.” Ela cita ainda al- bilidade no DNA. É resultado de uma atu- guns blocos químicos: biobutanol; o pró- ação responsável e proativa na gestão dos prio etanol de segunda geração; ácidos impactos ambientais, sociais e econômi- orgânicos, como o ácido acético; fenóis; cos gerados pelas atividades da empresa, hidroximetilfurfural etc. “São muitos blo- envolvendo toda cadeia produtiva. Existem diversos outros blocos químicos que podem ser produzidos a partir da cana-deaçúcar, além do biocombustível 86 Maio · 2015 GE S TÃ O D E P E SSOAS Mantendo a chama acesa NESSE MOMENTO DE CRISE, É VITAL MANTER O FUNCIONÁRIO BEM INFORMADO, APOIADO E ENVOLVIDO NO PROCESSO DE BUSCA DE SOLUÇÕES Manifestação em Sertãozinho, em janeiro de 2015, reivindicando a retomada do setor. Algumas medidas vieram como aumento da adição de etanol na gasolina, mas pouco efeito causaram Leonardo Ruiz O setor sucroenergético vem pas- sões. Somente a cidade paulista de Ser- sando por uma intensa crise nos tãozinho, mais importante polo sucroe- últimos anos. Desde 2008, 80 usi- nergético do Brasil, onde mais de 70% do nas foram fechadas no país e outras 67 es- Produto Interno Bruto (PIB) está ligado à tão em processo de recuperação judicial. E cadeia produtiva de açúcar e etanol, per- essa quebra das usinas afetou, ainda, a in- deu, segundo dados do Cadastro Geral de dústria de base. Juntas, essas empresas fe- Empregados e Desempregados (CAGED), charam 2014 com uma dívida acumulada mais de 2.200 postos de trabalho na in- de mais de R$ 60 bilhões de reais. dústria no último ano. Antes da crise, o Tudo isso tem gerado muitas demis- número de funcionários ligados ao setor 87 FORÇA SINDICAL GE S TÃ O D E P E SSOAS Paralisação dos funcionários da Dedini em Sertãozinho: salário atrasado canavieiro na cidade era de 15 mil. Hoje, Diálogo esse número não passa de nove mil. Para a consultora, palestrante e con- Mesmo os que ainda estão empre- selheira de carreiras, Beatriz Rossi Resende gados não podem respirar aliviados, pois de Oliveira, esse tipo de situação deve ser a crise não acabou. Muitas empresas, em tratado com muito respeito, transparência profundas dívidas, estão atrasando o pa- e apoio mútuo. “Nesse cenário, é impor- gamento dos salários e benefícios, afe- tante que haja um entendimento, envolvi- tando a vida dos trabalhadores que ficam mento, compreensão e apoio mais efetivo sem saber informações sobre o futuro das dos colaboradores, não para entender so- companhias e dos próprios empregos. bre os salários atrasados, mas para ajudar Por conta dos salários atrasados, inclusive, os funcionários da metalúrgica De- a empresa a passar pela crise da melhor forma possível, ou com menos traumas”. dini S/A entraram em greve no início de Mas não são apenas os funcionários maio, em Piracicaba, SP. Segundo o Sindica- que devem alterar suas atitudes. As em- to dos Metalúrgicos do município, a empre- presas também precisam ser melhores nos sa pagou apenas R$ 1 mil para cada um dos posicionamentos e posturas que adotam funcionários porque o restante do dinheiro nesse momento. Beatriz afirma que os di- foi bloqueado na Justiça para quitar dívidas. rigentes, gestores, líderes, áreas de Re- 88 Maio · 2015 cursos Humanos (RH) e demais represen- ser tratadas com respeito, amadurecimen- tantes da empresa dentro da organização to e honestidade”. têm que trabalhar a comunicação de uma A consultora ressalta que falar em forma estruturada, transparente e hones- motivação em um momento de crise é ta, garantindo uma disseminação dela de muito difícil, pois, geralmente, quem te- maneira uniforme e assertiva. “Não é hora ria que passar a mensagem de motivação de se esconder ou fingir que nada está também está desmotivado. “E ainda tem o acontecendo. Temos que ser competen- fato de que motivação não vem de fora, e tes e responsáveis em todos os momen- sim de dentro das pessoas”. tos. Assim como é difícil no papel geren- Para Beatriz, em vez de falar em man- cial dar feedbacks e fazer desligamentos ter o colaborador motivado, o ideal seria de pessoas, também em momentos como falar em manter o funcionário bem infor- este precisamos tratar tudo com muita mado, apoiado e envolvido no processo elegância, por mais difícil que seja. É ne- de busca de soluções por parte da empre- cessário e nos fortalece. As pessoas que sa e de suas equipes no tratamento e con- nos apoiam, e que fazem parte de um time dução dessa fase. que nós elegemos, têm que, no mínimo, Segundo ela, é importante que as empresas proporcionem aos colaboradores, ou estimulem neles, pensamentos positivos e visões menos pessimistas, mesmo dentro de um cenário delicado. “Claro que isso não é fácil, mas pode ser possí- “Não é hora de se esconder ou fingir que nada está acontecendo”, diz Beatriz vel, sendo que, se conseguirmos atingir alguns, isso já pode ser considerado como um ganho no processo.” Beatriz indica uma prática que pode ser realizada visando essa meta: mapear pessoas na organização que estejam dispostas a serem multiplicadoras de pensamentos menos catastróficos. “Em cenários de insegurança, medo, ansiedade e dúvidas, o que menos precisamos é de pessoas, líderes e áreas de RH, contaminados e sendo agentes de contaminação de pessimismo e negativismo crônicos”. 89 GE S TÃ O D E P E SSOAS Papel do RH triz Rossi Resende de Oliveira. Obviamente que, durante uma cri- Ela explica que, antes da crise, a área se como essa, as áreas de RH das empre- de RH vinha conseguindo maiores espa- sas procurem enxugar projetos, progra- ços para uma atuação mais ampliada e es- mas e ações mais estratégicas de gestão tratégica nas empresas, onde se via orga- de pessoas. Porém, esse seria o momento nizações do segmento encorpando suas em que elas mais precisariam da atuação áreas de RH dentro de modelos contem- estratégica de RH, planejando e promo- porâneos com atuação focada em con- vendo ações e intervenções que visem a sultoria interna, amplitude corporativa e manutenção do clima, dos ânimos, do de- projetos e ações voltadas ao desenvolvi- sempenho e da sinergia. mento de pessoas. “Esse cenário conquis- “Isso é extremamente necessário e tado me deixa muito feliz e realizada. Eu não é enxugando as áreas de RH e voltan- acredito que, em breve, estaremos escre- do para o básico que vamos obter esses vendo e discutindo a importância da ges- resultados. Remodelar, inovar, trazer no- tão de pessoas para o sucesso do negócio. vos desafios às equipes dessa área, isto Além disso, posso afirmar que estaremos sim. Pois, para se ter força, credibilida- todos, daqui a um tempo, colhendo a par- de e dar a cota necessária de contribui- te boa do que as crises e mudanças nos ção numa crise como essa, temos que ser impõem, mesmo que a caminhada, nesse muito bons. Não dá para sermos simples- momento, esteja sendo dura e desgastan- mente básicos”, afirma a consultora Bea- te”, completa. Fuzi-Tec, em Sertãozinho, dispensou 150 funcionários em 2014 90 Maio · 2015 91