A COSALFA EM QUITO MOSTROU AS INCERTEZAS SOBRE PARADA DA VACINAÇÃO ANTIAFTOSA! NA OIE EM PARIS VENEZUELA ADMITE INTEGRAÇÃO NO PHEFA Quito, capital do simpático e hospitaleiro Equador, foi de 13 a 17 de Abril, a sede da 42ª Conferência Sul Americana da Luta contra a Febre Aftosa e de um seminário também ligado ao mesmo tema, além da reunião que reorganizou o GIEFA. O governo equatoriano através de sua agência AGROCALIDAD organizou junto com o PANAFTOSA estes eventos marcados pela qualidade das apresentações e dos debates. A participação das delegações foi muito intensa, sendo a Venezuela o único país sem representação de seu setor agropecuário privado. O Brasil foi representado no setor público por Guilherme Henrique Figueiredo Marques, diretor de sanidade animal do MAPA e no setor privado por Luis Alberto Pitta Pinheiro, indicado pela CNA. O CNPC foi representado pelos vice-presidentes Sebastião Costa Guedes (GIEFA/ABRAMVET) e Francisco Everton da Silva (UNICARNES), pelo conselheiro Josaphat Paranhos de Azevedo Filho (FAEP/SBMV)e pelo diretor de sanidade animal Luis Alberto Pitta Pinheiro (FARSUL). Nos eventos da COSALFA ficou caracterizado que o continente fez notáveis progressos tanto na área andina como também no cone Sul e região amazônica. Nos países andinos, o Peru está com mais de 98% de seu território livre sem vacinação. Vacina apenas na área fronteiriça com o Equador. O Equador teve uma evolução excelente, com a eliminação total dos focos e com exitoso programa de erradicação da doença delineado com o PANAFTOSA. O Equador na assembléia geral da OIE, Organização Mundial de Saúde Animal, foi certificado como país livre com vacinação. O Equador já tem o arquipélago Galápagos como área livre sem vacinação. Colômbia continua com seu eficiente programa, embora tenha um ônus substancial para manter a vigilância na sua área fronteiriça com Venezuela. A Venezuela e hoje o pais mais atrasado na erradicação da doença em nosso continente. O setor privado venezuelano nem compareceu na COSALFA e o representante governamental apenas prometeu melhorias para o futuro. No ano passado a Venezuela não aceitou missões internacionais para verificar a situação da enfermidade no país. Ao final da COSALFA a Venezuela disse autorizar uma missão do PANAFTOSA para visitar o pais e discutir o programa de erradicação. O presidente do GIEFA em uma de suas apresentações sugeriu que o país se desligasse do MERCOSUL se persistisse com a conduta de isolamento e falta de colaboração! Agora durante a Assembléia Geral da OIE, foi confirmado que a missão do PANAFTOSA já ocorreu e segundo o Dr. José Arnaldo Ayala Pares, delegado do governo venezuelano haverá prosseguimento do diálogo para dinamizar o programa. Enfim uma boa noticia para o continente, pois a integração da Venezuela ao Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa-PHEFA, permitirá a possível erradicação continental até 2020. A Guiana Francesa abriu se para o diálogo continental, embora não tenha a doença há décadas. O Suriname também trabalha para ser certificado como país livre sem vacinação e tem estreita cooperação com o PANAFTOSA. Seu rebanho, da ordem de 80.000 cabeças, segundo o PANAFTOSA, já não tem a doença há décadas, mas estão confirmando com provas sorológicas. A Guiana Inglesa, embora não presente na ultima COSALFA, já e livre e sempre teve como preocupação maior sua fronteira com Venezuela, onde até hoje não tiveram problemas. A Bolívia melhorou bastante sua transparência nos fóruns internacionais mas sua situação exige um aprofundamento de auditoria principalmente nas províncias de Santa Cruz de la Sierra e no Beni,que fazem fronteira com o Brasil e são importantes para a prevenção de focos desde o Mato Grosso do Sul até o Acre. O Paraguai tem sido muito profissional com seu programa e apresenta ótima integração entre seus setores público e privado. Exporta carne para cerca de meia centena de países e tem sido junto com o Brasil um parceiro no apoio ao programa equatoriano. A Argentina mostrou uma pequena evolução de sua área livre sem vacinação com a incorporação da chamada Patagônia Norte. O Uruguai continua com o total de seu rebanho livre com vacinação e não deseja retirar a mesma a não ser que esta medida seja tomada concomitantemente por todos os países do Cone Sul, consenso difícil no momento. O Uruguai, altamente dependente de sua exportação pecuária, não se esquece dos focos de 2000/2001,originários da Argentina, quando o pais amargou prejuízos da ordem de US $ 720 milhões, conforme relatado pelo seu ministro da agricultura na Conferência de Houston de 2004. O Brasil mostra o recente avanço de seu PNEFA englobando os estados nordestinos e parte do Para como livres com vacinação e os trabalhos atuais de sorologia que estão ocorrendo no Amapá, Roraima e Amazonas para possivelmente serem considerados livres com vacinação até 2016. No Brasil, o estado do Paraná deseja retirar a vacinação ainda em 2015, medida pleiteada pela ADAPAR e Secretaria da Agricultura com forte apoio da Federação da Agricultura e Pecuária daquele estado. Este avanço permitirá que sua suinocultura desfrute dos mercados mais remuneradores em escala global, iniciando pelo Japão, a exemplo do que já ocorre com Santa Catarina. Este desejo paranaense já foi aceito pelo Governador Richa, que efetuou o contrato de 169 técnicos para a ADAPAR e pediu uma auditoria do governo federal para retirar a vacinação até novembro próximo, pois assim terá condições de ser certificado internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em até 2017. O Paraná deverá nesta auditoria comprovar que atende os pré-requisitos da mesma OIE e aproveitará o esforço para também ser declarado livre da peste suína clássica status já alcançado pelo RS e SC na recente assembléia da OIE. Como as barreiras para controle do trânsito de animais poderão ser aproveitadas tanto para aftosa como para peste suína clássica, o estado deseja usar estes recursos de maneira conjugada. O desejo paranaense tem total apoio de SC e começa a influenciar setores produtivos do RS e de SP, que iniciam debates sobre as vantagens e riscos de se retirar a vacinação. Eventual retirada em São Paulo provocará discussão sobre idêntica medida em MG, GO, DF, TO, BA, SE, ES e RJ, podendo reduzir em 155 milhões de doses anuais a demanda da vacina contra aftosa. O quadro abaixo mostra a ocorrência dos últimos focos nos estados brasileiros e o tempo decorrido entre esta época até o mês de Junho deste ano. Resumo das Ultimas Ocorrências e Tempos decorridos até Junho de 2015 UF TEMPO DECORRIDO Distrito Federal Maio 1993 - 22 anos Santa Catarina Acre Goiás Dezembro 1993 - 21 anos e 5 meses Junho 1995 - 19 anos e 11 meses Agosto 1995 - 19 anos e 9 meses Sergipe Setembro 1995 - 19 anos e 8 meses Mato Grosso Janeiro 1996 - 19 anos e 4 meses São Paulo Março 1996 - 19 anos e 2 meses Espírito Santo Abril 1996 - 19 anos e 1 mês Minas Gerais Maio 1996 - 19 anos Piauí Fevereiro 1997 - 18 anos e 4 meses Rio de Janeiro Março 1997 - 18 anos e 3 meses Ceará Abril 1997 - 18 anos e 2 meses Bahia Maio 1997 - 18 anos e 1 mês Tocantins Maio 1997 - 18 anos e 1 mês Pernambuco Fevereiro 1998 – 17 anos e 4 meses Rondônia Fevereiro 1999 - 16 anos e 4 meses Alagoas Setembro 1999 - 15 anos e 9 meses Amapá Outubro 1999 - 15 anos e 8 meses Paraíba Fevereiro 2000 - 15 anos e 4 meses Rio Grande do Norte Agosto 2000 - 14 anos e 10 meses Rio Grande do Sul Maio 2001 - 14 anos e 1 mês Roraima Junho 2001 - 14 anos Maranhão Pará Agosto 2001 - 13 anos e 10 meses Junho 2004 - 11 anos Amazonas Setembro 2004 - 10 anos e 9 meses Paraná Fevereiro 2006 - 9 anos e 4 meses Mato Grosso do Sul Abril 2006 - 9 anos e 2 meses Fonte: PANAFTOSA No Encontro de Defesa Animal- ENDESA- ocorrido no fim de 2013 em Foz do Iguaçu, pela primeira vez um veterinário da SDA do MAPA externou a possibilidade de acelerar a retirada da vacinação nos estados nordestinos. Se tal vier a ocorrer teremos uma redução da demanda de vagina da ordem de mais 75 milhões de doses anuais. Se tal ocorrer o Brasil deverá consumir apenas 104 milhões de doses anuais na fase final do programa para serem usadas nas fronteiras centro-oeste e norte do país, ou seja, nos estados de MS, MT, RO, AC, AM, RR E AP, embora o Amazonas e o Amapá possam eliminar logo a vacinação em seus estados. Na COSALFA de Quito ficou claro que líderes dos setores privados brasileiros, principalmente do Sul, queiram retirar a vacinação, mas representantes públicos estão em dúvida, o que demonstra insegurança. Em Quito reestruturamos o GIEFA, que agora tem em sua nova composição, especialistas em banco de reserva de vacina, e também em Biossegurança de laboratórios. As questões como banco de reserva de vacinas e a manipulação de cepas não prevalentes na região são temas que precisam ser melhor definidos nesta fase final da vacinação. São itens que exigem especialistas e não autodidatas. Aliás, sobre banco de reserva, devemos levar em conta que já temos dois no continente e talvez possamos nos associar a eles principalmente para evitar a manipulação de cepas não prevalentes. Estamos nos aproximando de 2020, prazo final para erradicar a aftosa na América do Sul, portanto já está na hora de discutir e planejar a evolução do PNEFA dentro da realidade epidemiológica de cada estado ou região. Entre as prioridades para retirar a vacinação a adequada estrutura de vigilância sanitária e a mais preocupante para que se tenha uma resposta rápida em caso de emergência com a recidiva da doença. E a necessidade de uma estrutura boa ou ótima pode ser o principal problema no momento, pois a realidade econômica com cortes de investimentos públicos que o governo terá que fazer vai nos deixar mais vulneráveis. A vacina ajuda a encobrir outras carências de estrutura e, além disso, e paga pelo produtor. Com a retirada da vacina as despesas do governo aumentarão. Devemos colocar em discussão com lideranças privadas e autoridades de defesa as premissas de um plano para a criteriosa retirada da vacina, pois levantamentos mostram que a circulação viral não está ocorrendo, mas definir e planejar a evolução do status já esta passando da hora. Relatório Elaborado por: Sebastião Costa Guedes, Vice Presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte - CNPC Presidente do Grupo Inter Americano para Erradicação da Febre Aftosa - GIEFA.