Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 ATLETISMO COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Orlando Mendes Fogaça Júnior Dilza Maria Rodigonda Razente Universidade Estadual de Londrina RESUMO A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, explicita que a Educação Física (no âmbito escolar) deixa de ser área de atividade e passe a ser componente curricular, portanto área de conhecimento. Conhecimento aqui entendido não como a realização de uma ação motora pura e simplesmente, mais sim, a compreensão e aprendizagem desta ação motora, é compreender o porquê e o como desse movimentar, é a tomada de consciência das possibilidades dessa ação, é possibilitar aos alunos o entendimento e significado da ação, para que ela possa ser significante e tenha um significado para o sujeito. A disciplina de Educação Física que até então era compreendida como área de atividade, deverá mudar sua atuação dentro da escola para uma nova concepção, que é o conhecimento da motricidade humana. Motricidade humana é o estudo do corpo em movimento, porém não só dentro de uma concepção cinestésica, mas sim dentro de uma concepção de transcendência deste movimento. Todo o movimento humano, desde o pentear de um cabelo, fazer a barba, os esportes, pegar um ônibus, são alvo de estudo da motricidade. Porém quando tratamos de aula de Educação Física, verificamos que estes assuntos possuem uma amplitude muito vasta. Assim, procuraremos em nossas aulas, enfocar o estudo das condutas motoras (estruturas capacitativas) juntamente com as manifestações culturais. Apresentaremos um conteúdo derivado das manifestações culturais, e pertencente a sub-área do esporte. O esporte abordado será o Atletismo, e através deste conteúdo, as condutas motoras. Ao apresentarmos o conteúdo Atletismo, devemos estar conscientes que todo o conteúdo que iremos trabalhar necessariamente deverá fazer parte da realidade de nossos alunos. Diante disto, cabe fazer uma reflexão sobre o conteúdo Atletismo. Quando começamos analisar este conteúdo desta maneira podemos averiguar que nossos alunos já viram alguma coisa, já assistiram na televisão em algum momento algo relacionado ao atletismo, porém, quando questionados, confundem as provas que compõem o Atletismo com modalidades esportivas. Como componente cultural, o Atletismo deve ser estudado através de um levantamento histórico. Quando os alunos passam a compreender porquê esta modalidade foi criada e sistematizada, o início da compreensão está sendo possibilitado. Este conhecimento histórico, possibilita ao aluno a compreensão da construção cultural de uma modalidade em particular e o seu desenvolvimento através do tempo até chegar nos dias de hoje. 95 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 Com o desenvolvimento histórico concluído, cabe agora o conhecimento histórico também das provas, como elas foram criadas e também excluídas da modalidade. Esgotado o assunto histórico, partimos então para o uso desta modalidade como meio para atingir outros conteúdos, que são as estruturas capacitativas, e o Atletismo possibilita esta exploração. Mesmo se tratando de uma modalidade esportiva, nosso conteúdo pode e deve avançar muito além da realização do gesto técnico. Porém não basta o desenvolvimento do conteúdo, precisamos também ter bases sólidas em uma teoria de aprendizagem, pois é a nossa mediação que possibilita ao nosso aluno a apropriação de sua aprendizagem. Quando sabemos como o sujeito realiza seu processo de aprendizagem, certamente nossa ação docente será muito mais significativa. Palavras chave: 1 – Atletismo; 2 – Conteúdo; 3 – Educação Física. Endereço do autor: Av. Maringá, 1990 [email protected] 96 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 ATLETISMO COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Orlando Mendes Fogaça Júnior Dilza Maria Rodigonda Razente De acordo com a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, fica explicitado que a Educação Física (no âmbito escolar) deixa de ser área de atividade e passe a ser área de conhecimento. Conhecimento aqui entendido não como a realização de uma determinada ação motora pura e simplesmente, mais sim, a compreensão e aprendizagem de nossa ação motora, é compreender o porquê e o como desse nosso movimentar, é a tomada de consciência das possibilidades de nossa ação, é possibilitar aos nossos alunos o entendimento do significado de nossa ação motora para que ela possa ser significante e tenha um significado para o sujeito. A lei determina, também, que a disciplina esteja integrada a proposta pedagógica da escola, para que isto aconteça necessariamente tem que haver aprendizagem, porém aprendizagem dentro do contexto explicitado no primeiro parágrafo. E se torne componente curricular obrigatório na educação básica, se é para ser componente curricular torna-se necessário que seja área de conhecimento. Entendendo que educação básica seja: creche de 0 a 3 anos; educação infantil de 3 a 6 anos; ensino fundamental que compõe na nomenclatura anterior de 1ª a 8ª série, e ensino básico que era o antigo colegial. Desta forma a disciplina de Educação Física que até então era compreendida como área de atividade. Área de atividade compreendida como a realização pura e simples de jogos, brincadeiras e exercícios com o fim em si mesmos. Assim, necessariamente, a Educação Física deverá mudar a sua atuação dentro da escola para uma nova concepção, que é o conhecimento da motricidade humana. Motricidade humana é o estudo do corpo em movimento, porém não só dentro de uma concepção cinestésica, mas sim dentro de uma concepção de transcendência deste movimento, é compreender o porquê e o como deste movimentar. O estudo da motricidade humana nos mostra que todo o movimento humano está inserido dentro desta nova concepção, desde o 97 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 pentear de um cabelo, o ato de fazer a barba, os esportes, pegar um ônibus, são alvo de estudo da motricidade humana. Porém quando tratamos de aula de Educação Física, podemos verificar que todos estes assuntos abordados pela motricidade humana possuem uma amplitude muito vasta. Assim, enquanto disciplina escolar procuraremos em nossas aulas o enfoque ao estudo das condutas motoras juntamente com as manifestações culturais. As condutas motoras estão integradas as ações da cultura motora, que por sua vez deriva da grande área que é a motricidade humana. Entendendo que, enquanto conduta motora, estaremos abordando dentro de nossas aulas de Educação Física as questões ligadas às estruturas capacitativas/perceptivas, que pertencem as condutas motoras, e podemos apresentá-las da seguinte forma: Estruturas Capacitativas/Perceptivas Corporeidade Equilíbrio Corporal Lateralidade Corporal Coordenação Motora Organização e Estruturação Espaço-Temporal Força Corporal Velocidade Flexibilidade Resistência Habilidades Motoras (Estruturas capacitativas) Movimentos Locomotores Andar Correr Rastejar Quadrupejar/tripejar 98 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 Rolar Saltar Movimentos Não-Locomotores (Estruturas capacitativas) Segurar Apertar Puxar Empurrar Amassar Pegar Condutas Motoras (estruturas capacitativas) e as Manifestações Culturais Jogos Lutas Ginástica Danças Esporte Com base nos dados acima, temos o desdobramento dos conteúdos específicos da disciplina Educação Física no âmbito escolar, onde podemos dividi-los nos anos de escolarização em que o aluno possui na educação básica. Possuímos o entendimento sobre conteúdo da mesma forma como Freire o descreve: “São os norteadores das unidades, quer sejam aulas, quer sejam grupos de aulas, e caracterizam-se por ser a particularidade mais visível das práticas de uma aula”. (Freire, 2004 p.40) Neste texto estaremos apresentado um conteúdo que deriva das manifestações culturais, e nesta manifestação cultural, ele pertence a sub-área do esporte. O esporte aqui abordado será o Atletismo como conteúdo da 99 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 Educação Física na educação Básica, onde estaremos estudando as manifestações culturais e através deste conteúdo das manifestações culturais, as condutas motoras. Ao apresentarmos o conteúdo Atletismo dentro de nossa disciplina, em escola, devemos estar conscientes que todo o conteúdo que iremos trabalhar necessariamente deverá fazer parte da realidade de nossos alunos. Diante disto, cabe fazer uma reflexão sobre o conteúdo Atletismo. A primeira questão que nos vem à mente é: o Atletismo faz parte do cotidiano de nossos alunos? Este questionamento nos prepara para a maneira como iremos tratar este conteúdo em nossas aulas. Já somos conhecedores que a Educação Física deixou de ser área de atividade e passou a ser componente curricular, portando área de conhecimento. Diante disto, qual o conhecimento sobre o conteúdo Atletismo que nossos alunos possuem? Esta modalidade esportiva faz parte do cotidiano deles, possui algum significado cultural para eles? Quando começamos analisar este conteúdo específico desta maneira podemos averiguar que nossos alunos já viram alguma coisa desta modalidade, já assistiram na televisão em algum momento algo relacionado ao atletismo, porém, quando questionados, confundem as provas que compõem o Atletismo como sendo modalidades esportivas. Diante do apresentado, sabemos que eles, em sua maioria, sabem muito pouco ou quase nada a respeito do Atletismo. Em nossas experiências enquanto educadores, vimos que o Atletismo, enquanto manifestação cultural passa a possuir um maior significado para nossos alunos quando fazemos um levantamento histórico da modalidade. Este levantamento pode ser realizado em forma de pesquisa, trabalho, palestra, visita a uma pista de Atletismo, vídeo de uma competição, enfim existem muitas formas de estarmos possibilitando aos nossos alunos este primeiro contato com a modalidade. Quando os alunos passam a compreender que esta modalidade foi criada e sistematizada dentro das características necessárias para que um soldado da antiga Grécia pudesse realizar suas funções satisfatoriamente dentro do campo de batalha, o início da compreensão desta atividade esportiva está sendo possibilitado. 100 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 Ao continuarmos nesta busca histórica, vemos que havia uma necessidade de desenvolvimento destas qualidades físicas destes soldados, e estas qualidades eram a de resistência, pois a maior parte dos exércitos desta época era composto pela infantaria, e para se deslocarem até o local da batalha o faziam a pé, carregando todo seu armamento, faziam a batalha e retornavam para suas cidades novamente a pé. Outra capacidade física era a velocidade, exigida no momento de ataque ou de retirada, temos também a capacidade manipulação da lança que era uma arma de ataque, onde a capacidade de lançar esta arma a uma distância maior possibilitaria um maior êxito no combate, temos a capacidade de saltar e a capacidade de arremessar objetos pesados em seus adversários. Assim temos as bases para a estruturação do Atletismo enquanto modalidade, que era, o mais resistente, o mais rápido, o mais forte (arremessos e lançamentos), o que salta mais longe e o que salta mais alto. Enquanto estas condutas motoras eram exercitadas para a guerra, quem poderia ver seu resultado prático era quem estava no campo de batalha. E estando no período de paz, para que me dedicar ao aprimoramento destas capacidades. Pensando nisto é que se iniciou uma sistematização destas capacidades físicas para serem apresentadas ao público em forma de competição, onde o vencedor de cada prova disputada receberia o reconhecimento público de suas capacidades, além de privilegio social. Para que isto acontecesse houve necessidade de haver uma normatização das regras e das provas, além da elaboração de um calendário para a realização das competições. Estava desta forma lançada as bases para a estruturação e sistematização da modalidade de Atletismo. Este conhecimento histórico, aqui resumido, possibilita ao aluno a compreensão da construção cultural de uma modalidade em particular e o seu desenvolvimento através do tempo até chegar nos dias de hoje. Ao realizar o levantamento histórico e chegar até a atualidade, torna-se necessário a apresentação das provas que compõem a modalidade de Atletismo, apresentar suas regras e possibilitar aos alunos a compreensão de que existe uma diferença entre provas e modalidades esportivas e que o atletismo é uma modalidade composta de provas. 101 Anais do “II CONPEF – Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar” P. 95 - 102, julho/2005 ISBN 85-7216-433-2 Com o desenvolvimento histórico concluído, cabe agora o conhecimento histórico também de suas provas, como elas foram sendo criadas e também excluídas da modalidade. Esgotado o assunto histórico, partimos então para o uso desta modalidade como meio para atingir outro conteúdo que são as estruturas capacitativas, o Atletismo pela sua variedade de provas possibilita a exploração de muitas capacidades, além de uma exploração restrita a uma capacidade física como, por exemplo, a resistência, também nos possibilita a combinação destas estruturas capacitativas, como no salto em distância, onde podemos explorar a utilização da força corporal e a capacidade de velocidade. O intuito deste texto é mostrar que mesmo se tratando de uma modalidade esportiva, nosso conteúdo pode e deve avançar muito além da realização do gesto técnico ou de simplesmente de se realizar um jogo. É dentro deste contexto que podemos ter uma possibilidade de avanço em nossas aulas de Educação Física. Queremos deixar claro que neste texto demos um exemplo de como desenvolver um conteúdo, tomando como base nossa experiência em sala de aula, porém não basta apenas o desenvolvimento do conteúdo, precisamos também ter bases sólidas em uma teoria de aprendizagem, pois é a nossa mediação que possibilita ao nosso aluno a apropriação de sua aprendizagem. Quando sabemos como o sujeito realiza seu processo de aprendizagem, certamente nossa ação docente será muito mais significativa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, C. J. Educação Física para o pré-escolar. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 1987. CUNHA, M. S. V. Educação Física ou Ciência da Motricidade Humana Campinas: Papirus,1991. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: Ministério da educação, 1997. FREIRE, J. B. Educação de corpo Inteiro. Teoria prática da Educação Física São Paulo: Editora Scipione, 1992. 102