stalking: reconhecimento de uma “nova” forma de violência interpessoal Helena Grangeia Instituto Universitário da Maia Unidade de Investigação em Criminologia e Ciências do Comportamento (UICCC / ISMAI) Direitos Humanos - Centro de Investigação Interdisciplinar (DH-CII / UM) _______________________________________________________________________________ Stalking e Violência Doméstica: o eu, o diagnóstico, o problema e as recomendações Porto, 10 dezembro 2014 “Uma nova palavra que descreve um velho comportamento” (Mullen, Pathé, & Purcell, 2001) “Um velho comportamento, um novo crime” (Meloy, 1999) Contexto internacional Problema social e forma de violência de género • Estudos de prevalência 12 a 32% mulheres e 4 a 17% homens • Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA, 2014) 18% das mulheres experienciaram stalking desde os 15 anos de idade 5% das mulheres foram vítimas nos 12 meses anteriores 9 milhões de mulheres vítimas de stalking num período de 12 meses Contexto internacional Problema de justiça criminal • 11 países da União Europeia possuem leis específicas de combate ao stalking. • Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Polónia e Reino Unido. Progressivo reconhecimento social em Portugal Casos de assédio obsessivo começam a ser conhecidos (JN, 27fevereiro 2010) Stalking: Perigo para mulheres jovens e sozinhas (Público, 26novembro2011) Comportamentos de assédio persistente tendem a aumentar (Jornal SOL, 21abril2014) Quase 2 milhões de portugueses já foram perseguidos (Jornal I, 22abri2014) Governo estuda criminalização da perseguição obsessiva conhecida por stalking (Jornal I, 14maio2014) Progressivo reconhecimento social em Portugal Inquérito Nacional de Vitimação por Stalking (Matos, Grangeia, Ferreira, Azevedo, 2011) • N = 1210; idade superior a 16 anos • ____________________________________________________________________________________________________________________________ • Prevalência de vitimação por stalking - 19,5% • Vítimas sobretudo mulheres (25%; homens 13.3%) e jovens (26.7%) • Stalkers principalmente homens (68%); conhecidos/as (40.2%) ou (ex)companheiros/as (31.6%) • Duração - 1 a 6 meses (31.9%) • Tentar estabelecer contacto (79.2%) e aparecer em locais habitualmente frequentados pelo alvo (58.5%) • Coocorrência de violência física e sexual – 7,2% • Experiência de medo – 69.2% (particularmente as mulheres) Progressivo reconhecimento social em Portugal Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate da Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica Convenção de Istambul • stalking como uma forma violência que afeta particularmente mulheres e raparigas Artigo 34º (Perseguição) As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem necessárias para assegurar a criminalização da conduta de quem intencionalmente ameaçar repetidamente outra pessoa, levando-a a temer pela sua segurança. • aprovado um projeto-lei de criminalização da perseguição a 24 de setembro de 2014. Progressivo reconhecimento social em Portugal • • Barómetro Apav/Intercampus (2013): perceção da população portuguesa • Stalking e Ciberstalking: 17% dos/as inquiridos/as referem saber do que se trata ou ter ouvido falar sobre estes • Quando expostos ao conceito aumenta o reconhecimento (61% stalking; 62% ciberstalking) Inquérito Nacional de Vitimação por Stalking (Matos, Grangeia, Ferreira, Azevedo, 2011) • • 59.3% das vítimas não ativou qualquer fonte de apoio para enfrentar esta situação Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA, 2014) • Três quartos (74%) dos casos de stalking nunca terão sido sinalizados pelos órgãos de polícia criminal, incluindo os mais graves. Quais as razões para o reconhecimento tardio do stalking? O que contribui para a sua legitimação na sociedade? Características • • Padrão de comportamentos de perseguição e assédio • Persistente, intencional e intrusivo • Comportamentos rotineiros (e.g., sms; telefonemas) • Ações claramente intimidatórias (e.g., ameaças explícitas) Carácter ameaçador depende da persistência e coocorrência dos comportamentos • Necessidade de contextualizar os comportamentos • Consideradas isoladamente, algumas ações são aparentemente inofensivas Características Deixar um bilhete com uma mensagem no vidro do carro Deixar um ramo de flores para ser encontrado Características Telefonar repetidamente para o trabalho Deixar um bilhete com uma mensagem no vidro do carro Deixar um ramo de flores para ser encontrado Tirar fotografias sem autorização Roubar objetos pessoais Rondar a proximidade da casa todas as noites Perseguir no caminho para o trabalho Vasculhar no lixo Presença constante em todos os locais normalmente frequentado pelo alvo Caráter subjetivo da experiência de vitimação • Comportamentos indesejados • • • Omnipresença do stalker Imprevisibilidade das novas investidas Perceção de risco iminente Legitimação social Romantização dos comportamentos de stalking Legitimação social Every breath you take Every move you make Every bond you break Every step you take Ill be watching you Every move you make Every vow you break Every smile you fake Every claim you stake Ill be watching you Every single day Every word you say Every game you play Every night you stay Ill be watching you Since you’ve gone I been lost without a trace I dream at night I can only see your face I look around but its you I cant replace I feel so cold and I long for your embrace I keep crying baby, baby, please... Oh, cant you see You belong to me How my poor heart aches With every step you take Associação à violência nas relações de intimidade • Stalking pós-rutura relacional: extensão ou variante da violência conjugal: forma de manter a ligação entre os/as stalkers e os seus/suas (ex)parceiros/as (Walker & Meloy, 1998); tentativa de manter o poder e o controlo sobre estes/as (Brewster, 2003) • Ações entendidas como tentativas legítimas para reatar a relação ou “reconquistar” a ex-companheira, mimetizando a fase da “lua de mel” – característica da violência conjugal. Fator de risco para homicídio conjugal pós-rutura Durante vários dias, (…) [a vítima] recebeu mensagens de um antigo namorado, pedindo que aceitasse marcar um encontro. A mulher recusou e anteontem à noite, quando saía do trabalho (…) o homem, estava à sua espera. Após uma curta conversa, o homem regou (…) [a vítima] com gasolina e ateou-lhe fogo, causando-lhe queimaduras graves (...) 'Ninguém percebe o que o levou a isto' (...)" (Correio da Manhã, 17 de Junho de 2013) Fator de risco para homicídio conjugal pós-rutura Agora já dá para entender porque é que ele andou aqui toda a semana a rondar o local... Estava determinado a tirar a vida à ex-companheira e não descansou enquanto não o conseguiu” […] O Mercedes, de cor castanha, em que fugiu o alegado homicida, foi visto por várias vezes estacionado naquela zona ao longo dos últimos dias. “Mas quem é que ia adivinhar quais eram os propósitos daquele homem? […]” (Correio da Manhã, 12 de Setembro 2005) Stalking pós rutura relacional • Maior risco de violência física, persistência, reincidência, diversidade de estratégias e mais rápida escalada de comportamentos • Há maior risco de homicídio conjugal após a rutura do que durante a relação • Stalkers mais ofensivos, controladores e ameaçadores Quais as consequências do não reconhecimento /banalização do stalking? • Dificuldade das vítimas reconhecerem a experiência de vitimação e ativarem respostas • Desvalorização da experiência da vítima pelas audiências • • Reforço das iniciativas do/a stalker • • vitimação secundária Revitimação (perpetuação) + escalada (maior risco) Desvalorização dos sinais de perigo (avaliação de risco deficitária) Avaliação do Risco em casos de stalking Será que o/a stalker irá tornar-se violento? • RISCO DE VIOLÊNCIA Será que o/a stalker irá continuar a campanha de assédio? • RISCO DE PERSISTÊNCIA Se o/a stalker parar, será que irá recomeçar? • RISCO DE REINCIDÊNCIA Premissas na avaliação do risco em casos de stalking 1) O melhor preditor do comportamento passado é o comportamento futuro 2) Quanto mais próxima for a relação vítima-stalker, maior o risco de violência, de persistência e de reincidência 3) Embora a maioria dos indivíduos que faz ameaças não chegue a atacar as vítimas, a maioria dos que são fisicamente violentos ameaçou-as previamente. 4) Quanto maior a duração do stalking, maior o risco de persistência Muito obrigada pela atenção! 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