SÉRIES WORKING PAPER BNDES/ANPEC PROGRAMA DE FOMENTO À PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - PDE UMA ANÁLISE DA DINÂMICA E ESTABILIDADE DA DISTRIBUIÇÃO DE SALÁRIOS POR QUALIFICAÇÃO Wilfredo Fernando Leiva Maldonado 1 Working Paper nº 05 Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/A poio_a_estudos_e_pesquisas/PDE/index.html BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Avenida República do Chile, 100 – Centro 20031-917 -Rio de Janeiro, RJ ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA Rua Tiradentes, 17 – Ingá 24210-510 - Niterói, RJ OUTUBRO/2010 Esse paper foi financiado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos (FEP) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por meio desse fundo o BNDES financia, na modalidade não-reembolsável, a execução de pesquisas científicas, sempre consoante ao seu objetivo de fomento a projetos de pesquisa voltados para a ampliação do conhecimento científico sobre o processo de desenvolvimento econômico e social. Para maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Programas _e_Fundos/fep.html. O conteúdo do paper é de exclusiva responsabilidade do(s) autore(s), não refletindo necessariamente, a opinião do BNDES e/ou da ANPEC. 1 O autor agradece os comentários e colaboração na coleta de dados do Prof. Gilson Geraldino. Título do Artigo: Uma Análise da Dinâmica e Estabilidade da Distribuição de Salários Por Qualificação Wilfredo Fernando Leiva Maldonado Série Working Paper BNDES/ANPEC Nº 5 Outubro / 2010 RESUMO Este artigo analisa a dinâmica do ajuste da distribuição de salários como resposta à mobilidade de mão de obra entre os diferentes níveis de escolaridade. O modelo permite definir e analisar as características das distribuições estacionárias de salário e de mão de obra por nível de qualificação. Por último, se estabelece uma relação entre gastos e retorno da educação em termos de salário. Com os dados reportados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) no período 19952008 se procede à estimação da equação de diferencial de salários por qualificação. Concluise que existe um alto grau de substituição de mão de obra nos diversos níveis de educação e que as estimativas são melhores quando consideramos a agregação de todos os setores. Também se observa que inovações tecnológicas aumentam o diferencial de salários entre qualificados e não qualificados nos setores Agropecuário, Comércio, Indústria e Serviços e quando agregamos todos os setores no Brasil. Finalmente, se detecta a distribuição estacionária de salários para o ano 2006. Assim, utilizando o modelo teórico desenvolvido, pode-se inferir o custo de oportunidade da educação em cada Estado da Federação e no Brasil todo. Palavras-Chave: Diferencial de salários por qualificação, investimento em capital humano, escolha intertemporal do nível de educação ABSTRACT This article examines the dynamics of the wage distribution in response to changes in the labor distribution by qualification. The model allows defining and analyzing the characteristics of stationary distributions of wages and labor by schooling level. Finally, it is established a relationship between the expenditure and the return of education in terms of wages. With the data reported in the Annual Social Information Survey (RAIS) for the period 1995-2008 the skill premium equation is estimated for each sector and State of the Federation. We conclude that there is a high degree of substitution between workers with different levels of education and that the estimates are better when it is considered the aggregation of all sectors. We can also conclude that technological innovations increase the wage differential between skilled and unskilled workers in the sectors: Agriculture, Commerce, Industry and Services, and when we aggregate all sectors in Brazil. Finally, it is detected the stationary distribution of wages for the year 2006. Thus, using the developed theoretical model, it is possible to infer the opportunity cost of education in each State of the Federation and in Brazil as a whole. Keywords: Skill premium wage, human capital investment, intertemporal education level choice Autor: Wilfredo Fernando Leiva Maldonado Instituição: Universidade Católica de Brasília Endereço: SGAN 916, Módulo B. Brasília – DF CEP 70790-160 Telefone: (61)3448-7135 E-mail: [email protected] 1. INTRODUÇÃO Para a análise dos diferenciais de salários por nível de educação encontramos diversas metodologias na literatura. Uma delas, baseada nas chamadas equações Mincerianas (Mincer (1974)), se fundamenta na observação empírica de que os salários (o logaritmo deles) dependem linearmente do nível de educação e quadraticamente da experiência do trabalhador, além de outras variáveis explicativas. No trabalho de Barbosa e Pessoa (2008) se utilizam técnicas de Taxa Interna de Retorno para calcular o retorno da educação no Brasil. Literatura mais recente aponta questões tecnológicas e possíveis inovações assim como a abertura comercial como determinantes dos diferenciais salariais entre trabalhadores mais qualificados e menos qualificados (Acemoglu (2003), Beyer et al. (1999)). Não entanto, é importante destacar a natureza da educação e o seu papel na formação de valor na economia para, a partir disto, atribuir um valor para ela. Na economia moderna, o trabalho não é apenas um fator produtivo, mas deve ser visto como um tipo de capital: capital humano. Desta maneira, deve haver um investimento nele para poder receber os seus respectivos retornos. Esta idéia de capital humano foi introduzida por Mincer (1958) e depois aprofundada por Shultz (1960, 1961) e Becker (1962). Para todos eles, a educação, além de ser um bem de consumo, é o investimento para o capital humano e deve ser vista como uma decisão econômica. Este investimento pode ser feito pelo trabalhador para ele mesmo, através de especializações ou atualizações profissionais; mas o grosso da decisão do nível educacional é sem dúvida dos pais. Este fato tem sido verificado em diversos trabalhos no Brasil (Barros (1997), Barros et al. (2001)) e no exterior (Daouli et al. (2009), Bauer and Riphahn (2007), Behrman and Rosenzweig (2002), Black et al. (2005)). Por estas razões neste trabalho irei analisar a distribuição de salários na economia como resultante dessas duas forças de mercado. Por um lado, a tecnologia demandando vários tipos de mão de obra classificados pelos níveis de escolaridade e por outro os trabalhadores, tomando como dado o salário que recebem com o nível de escolaridade que possuem, decidem o nível de escolaridade que proporcionarão aos filhos por motivos altruístas. A resultante destas duas interações será uma nova distribuição de mão de obra na economia que definirá uma nova distribuição de salários. Esta seqüência de distribuições poderá convergir e nesse caso, o fará para uma distribuição estacionária de salários. Um dos objetivos será detectar esta distribuição estacionária e extrair informação a partir dela. Especificamente, iniciarei o estudo com a análise da demanda por mão de obra qualificada no Brasil. Para isto utilizarei como base de dados aquela reportada na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) para o período 1995-2008. Esta base vem desagregada em cinco setores: Agropecuária, Comércio, Construção Civil, Indústria e Serviços. Serão utilizados dados de número de trabalhadores e remunerações médias em cada um dos níveis de escolaridade reportados (Analfabeto, 5 anos Incompletos, 5 anos completos, 6-9 anos, Fundamental Completo, Médio Incompleto, Médio Completo, Superior Incompleto e Superior Completo). Com estas informações procedo a estimar a equação de diferenciais de salário por qualificação. A metodologia empregada é a mesma utilizada por Katz and Murphy (1992) e Acemoglu (2002) para estimar elasticidades de substituição e efeitos de progresso tecnológico sobre o diferencial de salários. Seguidamente proponho um modelo que, a diferença dos modelos clássicos de consumo e lazer, determina a oferta de mão de obra com diferentes qualificações a partir de decisões de investimento em capital humano que os pais fazem em favor dos filhos por motivos altruístas. Finalmente, confrontarei estas duas decisões e analisarei o estado estacionário da dinâmica das distribuições de salário e mão de obra com os níveis de qualificação explicitados. Como será visto no modelo teórico, existe uma relação estável entre os gastos com educação e o retorno dela em termos salariais, a qual será utilizada para detectar em que estados as políticas de combate ao analfabetismo e ao baixo nível de educação são mais necessárias e em que intensidades. O modelo de escolha de nível educacional foi utilizado por Maldonado and Marques (2010), mas sem considerar mudanças na estrutura de salários e supondo de maneira exógena uma estrutura de gastos em educação; com ele se prova a existência de vários níveis de educação estacionários sendo alguns atratores e justificando assim a armadilha da pobreza. Nishimura e Raut (2007) utilizam um modelo semelhante onde os pais escolhem a qualidade de ensino no lugar do nível e provam novamente existência de múltiplos estados estacionários. Este artigo está dividido em quatro seções. Na Seção 2 apresento o modelo teórico de demanda e oferta de mão de obra com diferentes níveis de qualificação. Estes modelos irão proporcionar formas funcionais que serão estimadas para cada estado da federação e para todo o Brasil, em cada um dos setores da economia descritos acima e no setor agregado. No final dessa seção mostramos a relação entre gastos e retornos da educação que também será utilizada para inferir o custo de oportunidade da educação em cada região. Na Seção 3 procedo às estimações e ajustes das relações propostas na Seção 2. Finalmente, a Seção 4 registra as conclusões do trabalho. Também incluo dois apêndices. No Apêndice 1 reporto as estimativas dos parâmetros da equação de diferenciais salariais por qualificação em cada um dos estados brasileiros e em cada um dos setores descritos. No Apêndice 2 descrevo a curva de distribuição de salários por qualificação estacionária para cada um dos estados brasileiros, informação importante para qualquer estudo de mercado de trabalho por regiões no Brasil. 2. MODELO Nesta seção colocarei de maneira explícita as relações que mostram ambas as forças de mercado; pelo lado das firmas a demanda por mão de obra com diversas qualificações e por parte dos trabalhadores a oferta ao escolherem os níveis educacionais dos descendentes. Da interação entre estas duas decisões resultará uma dinâmica para a escolha de níveis educacionais e assim uma dinâmica para a distribuição da população de trabalhadores por nível de educação. Finalmente, isto mostrará a evolução da distribuição de salários cujo estado estacionário irei descrever. Para organizar a exposição, na Subseção 2.1 será descrita a demanda por mão de obra com diversos níveis de qualificação; na Subseção 2.2 apresentarei o modelo de escolha educacional baseado no princípio de investimento em capital humano que faz um indivíduo em favor do seu descendente por motivos altruístas. Na Subseção 2.3 descrevemos o equilíbrio intertemporal da distribuição de salários e o seu estado estacionário. 2.1 Demanda por mão de obra qualificada A economia possui uma tecnologia descrita pela função de produção Q = f ( K , L) , onde K é o capital utilizado, L é a mão de obra contratada e Q é a produção total. A mão de obra é uma agregação dos diversos tipos de mão de obra classificados pelo nível de educação. Dessa maneira, se L(e) representa o número de trabalhadores com nível educacional e ∈ [0, e ] , então o total de mão de obra contratada resulta: 1/ ρ ⎛e ⎞ L = A⎜⎜ ∫ α (e) Lρ (e)de ⎟⎟ ⎝0 ⎠ , (1) onde ρ ≤ 1 é o parâmetro que define a elasticidade de substituição de mão de obra com diferentes níveis de escolaridade. De fato, a elasticidade é σ = (1 − ρ ) −1 e temos o seguinte: • Se σ > 1 (ou ρ > 0 ) os níveis de escolaridade são substitutos brutos; • Se σ < 1 (ou ρ < 0 ) os níveis de escolaridade são complementares brutos. Os parâmetros α (e) indicam a intensidade ou peso de cada tipo de mão de obra na composição da mão de obra agregada. Sem perda de generalidade, podemos normalizar os parâmetros de forma que α (e ) = 1 . Ambos parâmetros ( ρ e α (e) ) serão estimados para cada setor produtivo e para a tecnologia agregada. Isto será feito para cada um dos estados brasileiros e para todo o Brasil. Dada a distribuição de salários {W (e)} para os diversos níveis de escolaridade, o problema de minimização de custos associado à tecnologia (1) é: e Min ∫ W (e) L(e)de {L ( e )} 0 e Sujeito a A⎛⎜ ∫ α (e) Lρ (e)de ⎞⎟ ⎝ 0 ⎠ 1/ ρ (2) =L A condição de primeira ordem do problema (2) implica na igualdade entre as taxas de substituição econômica e de substituição técnica entre o maior nível de escolaridade e um nível de escolaridade qualquer e ∈ [0, e ] . Após log-linearizar essa igualdade entre as taxas resulta: ⎛ W (e) ⎞ ⎛ L (e) ⎞ ⎟⎟ = ln (α (e) ) + ( ρ − 1) ln⎜⎜ ⎟⎟ . ln⎜⎜ ⎝ W (e ) ⎠ ⎝ L (e ) ⎠ A equação anterior é usualmente chamada de equação de skill premium ou equação de diferenciais de salários por qualificação (Acemoglu (2003)) pois dá informação em relação a este diferencial em função da utilização relativa de mão de obra. Escrevendo esta equação em termos de distribuições relativas de salário ( w(e) = W (e) / W (e ) ) e de mão de obra ( l (e) = L(e) / L(e ) ), teremos: ln (w(e) ) = ln (α (e) ) + ( ρ − 1) ln (l (e) ) . (3) Na Seção 3 farei as estimativas dos parâmetros envolvidos na equação (3) para cada um dos estados brasileiros e para cada um dos setores de atividade econômica registrados no reporte Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). 2.2 Oferta de mão de obra qualificada Para modelar a oferta de mão de obra qualificada, consideraremos que em cada período t ≥ 0 o chefe de família com nível de escolaridade et ∈ [0, e ] , irá escolher o seu consumo corrente ct ≥ 0 e o nível de escolaridade do seu descendente et +1 ∈ [0, e ] . Isto será feito de maneira a cumprir a restrição orçamentária em cada período e com a finalidade de maximizar a utilidade total do consumo da dinastia. Especificamente, se U (c) é a utilidade do consumo em cada período, g (e) é o gasto para atingir o nível de educação e ∈ [0, e ] e β ∈ (0,1) é o fator de desconto intertemporal também interpretado como fator de altruísmo, então o problema de escolha de nível educacional do descendente é: +∞ v(e0 ) = Maximizar ∑ β tU (ct ) {ct , et +1 } t =0 Sujeito a ct + g (et +1 ) = w(et ) . (4) e0 ∈ [0, e ] dado Notemos que na restrição orçamentária estamos utilizando quantidades relativas ao salário correspondente ao maior nível de escolaridade ( L(e ) é o numerário). É importante destacar também que na restrição orçamentária, tal como foi colocada, g (e) representa o “custo de oportunidade” de a unidade familiar colocar o descendente na escola para atingir o nível de escolaridade e ≥ 0 . Claramente esta função deve ser crescente, mas ao mesmo tempo deveria ter uma taxa de variação (derivada) crescente, pois educar um ano mais um indivíduo com alta escolaridade tem um custo de oportunidade maior do que educar um com baixa escolaridade. O problema (9) pode ser colocado na sua forma funcional utilizando a equação de Bellman e dessa maneira: v(e0 ) = Max e1∈[ 0 , g −1 ( w ( e0 ))] U ( w(e0 ) − g (e1 )) + βv(e1 ) , (5) onde estamos supondo que a função gasto com escolaridade g (e) é estritamente crescente e g (0) = 0 . A decisão ótima de escolha de nível de escolaridade para o seguinte período é dada pela função política ótima do problema (5) e definida por: e1* = φ (e0 ) = ArgMax U ( w(e0 ) − g (e1 )) + β v(e1 ) . e1∈[ 0 , g −1 ( w ( e0 ))] (6) Em Maldonado and Marques (2010) é utilizado este modelo calibrado para o Brasil para mostrar a existência de níveis educacionais atratores no longo prazo e assim explicar a armadilha da pobreza. Para a análise da dinâmica da distribuição de salários será importante destacar a dependência da função política ótima em relação ao salário; portanto escreveremos: e1* = φ (e0 ; w) . (7) 2.3 Dinâmica da distribuição de salários e seu estado estacionário Para analisar a dinâmica da distribuição de salários e de mão de obra, tomemos como distribuição inicial de mão de obra uma dada pela função L0 : [0, e ] → R ou a sua correspondente distribuição relativa definida como l0 = (L / L(e ) ) : [0, e ] → R . Da equação (3), esta distribuição gerará uma distribuição de salários dada por: w0 (e) = α (e)(l0 (e) ) ρ −1 . (8) Como a função política ótima dada em (7) define os novos níveis de escolaridade dos trabalhadores para a seguinte geração, então a nova distribuição relativa de trabalhadores por nível de escolaridade será: l1 (e) = l0 (φ −1 (e; w0 )) . Em geral, a dinâmica da distribuição de trabalhadores e de salários é dada pelo seguinte sistema dinâmico: lt +1 (e) = lt (φ −1 (e; wt )) ρ −1 wt (e) = α (e)(lt (e) ) (9) Definição: Uma distribuição de mão de obra l (e) é estacionária se a seqüência lt (e) = l (e) para todo t ≥ 0 cumpre o sistema (9). Notemos que uma distribuição de mão de obra estacionária define também uma distribuição de salários estacionária a través da segunda equação de (9). Como ilustração, consideremos o seguinte exemplo hipotético onde as formas funcionais foram escolhidas de maneira a tornar os cálculos explícitos. O conjunto de níveis de escolaridade é E = [0,1] ; os pesos dos tipos de mão de obra na composição (1) são iguais e α (e) = 1, ∀e ∈ E ; a distribuição inicial de salários é w0 (e) = e r , r ∈ (0,1) ; o gasto com escolaridade é g (e) = e e a função de utilidade dos indivíduos é U (c) = ln(c) . Utilizando a equação (8) podemos calcular a distribuição de mão de obra correspondente, que resulta: L0 (e) = L0 (e ) e − r 1− ρ e l 0 (e ) = e − r 1− ρ . Ao resolver o problema de escolha educacional (6) obtemos como função política ótima φ (e; w0 ) = rβ e r . Substituindo isto na primeira equação do sistema (9) encontramos: [ L1 (e) = φ (e; w0 ) −1 ] − r 1− ρ = ( rβ ) 1 1− ρ − e 1 1− ρ e l1 (e) = e − 1 1− ρ . Finalmente, substituindo esta última função na segunda equação do sistema (9) resulta que a distribuição de salários para o seguinte período é w1 (e) = e . Quando colocamos esta nova distribuição de salários no problema (6) encontramos φ (e; w1 ) = β e e, portanto as novas distribuições de mão de obra e salários resulta: L2 (e) = L1 ( β e) = r −1 1 1− ρ β 2 1− ρ − e 1 1− ρ ; l2 (e) = l1 ( β e) = e −1 Continuando por indução, chegamos a Lt (e) = r 1 1− ρ β − 1 1− ρ t 1− ρ − e e w2 (e) = e 1 1− ρ − ; l t ( e) = e 1 1− ρ e wt (e) = e ; desta maneira, os salários relativos e mão de obra relativa atingem os seus estados estacionários logo na segunda iteração, enquanto que a distribuição de mão de obra vai se concentrando em e = 0 . As Figuras 1, 2 e 3 mostram a dinâmica destas distribuições para os seguintes parâmetros r = 0,9 ; ρ = 0,4 e β = 0,9 . Dinâmica da distribuição de salários 1 0,8 0,6 w_0(e) wt(e) w_t(e) 0,4 0,2 0 0 0,2 0,4 0,6 e Figura 1 0,8 1 Dinâmica da distribuição de mão de obra relativa 10000 8000 6000 l_0(e) lt(e) l_t(e) 4000 2000 0 0 0,005 0,01 e Figura 2 Dinâmica da distribuição de mão de obra 10000 8000 6000 L_1(e) Lt(e) L_2(e) 4000 L_3(e) 2000 0 0 0,005 0,01 e Figura 3 Voltando ao problema geral, dada a hipótese dos trabalhadores possuírem as mesmas preferências (utilidade e fator de desconto), para termos uma distribuição de mão de obra estacionária será suficiente que cada trabalhador escolha como nível educacional do seu descendente o mesmo nível que ele possui; ou seja, φ (e; w) = e para todo e ∈ E . Desta maneira, a condição de primeira ordem (equação de Euler) do problema (4) dada por: − U ' ( w(et −1 ) − g (et )) g ' (et ) + β U ' ( w(et ) − g (et +1 )) w' (et ) = 0 ; ∀t ≥ 1 , resultará, depois de substituir et −1 = e , et = φ (et −1 ; w) = e e et +1 = φ (et ; w) = e e lembrando que U ' (c) > 0 , na seguinte equação: g ' (e) = β w' (e); ∀e ∈ E . (10) Duas observações devem ser feitas a partir deste resultado. A primeira é que na distribuição estacionária de salários e mão de obra, o gasto marginal em educação deve ser igual ao valor presente do retorno marginal dele em cada nível de educação. Este resultado independe das preferências dos trabalhadores (função U ) e apenas depende do fator de desconto intertemporal do problema. Isto é compatível com resultados existentes na teoria das finanças e novamente é verdade aqui quando tratamos a educação como capital humano que precisa de investimento e proporciona um retorno aos agentes. A segunda observação tem a ver com a questão dos gastos em educação. É uma tarefa difícil poder encontrar um gasto representativo para a educação em qualquer sistema, mais ainda quando ele é de fato um custo de oportunidade. A diversidade de qualidades de educação e modalidades (educação pública e privada) tornam qualquer proxy utilizada alvo de muitas críticas. Porém, ao integrar a equação (10) obteremos uma forma simples de estimar este gasto para cada nível de educação: g (e) = β (w(e) − w(0) ) . (11) Assim, a fração do salário utilizada como investimento em educação é dada por: τe = ⎛ w(0) ⎞ g (e ) ⎟⎟ . = β ⎜⎜1 − w(e) ⎝ w(e) ⎠ (12) Este indicador será reportado na Seção 3. 3. ESTIMAÇÕES Após a descrição do modelo a ser utilizado, procederei à estimação dos parâmetros envolvidos e à análise dos resultados. Como dito anteriormente, a base de dados que utilizarei é aquela contida na Relação Anual de Informações Sociais reportada pelo Ministério de Trabalho. Considerarei o período de 1995 a 2008 e como veremos mais adiante, as séries construídas a partir desses dados são bastante robustas e consistentes, com exceção de alguns anos que irei comentar. Para cada um dos 5 (cinco) setores da relação (Agropecuária, Comércio, Construção Civil, Indústria e Serviços) considerei as seguintes séries: i) Número de trabalhadores; ii) Massa salarial. Estes dados foram classificados por nível de escolaridade; os níveis considerados e sua codificação para referência futura estão na tabela 1. Índice 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Nível de escolaridade ANALFABETO ATÉ 5 ANOS INCOMPLETOS 5 ANOS COMPLETOS (FUNDAMENTAL) 6 A 9 ANOS (FUNDAMENTAL) FUNDAMENTAL COMPLETO MÉDIO INCOMPLETO MÉDIO COMPLETO SUPERIOR INCOMPLETO SUPERIOR COMPLETO Tabela 1 Estes dados foram coletados e tratados para cada um dos 27 Estados da Federação e depois para o Brasil todo. Assim, para cada um dos setores e referência geográfica temos dados para as seguintes variáveis: Let = Número de trabalhadores com escolaridade e no ano t We t = Salário médio dos trabalhadores com escolaridade e no ano t Com estes dados construímos as seguintes séries: We t = Salário relativo àquele da máxima qualificaç ão W9 t L le t = e t = Número de trabalhadores por cada trabalhador de máxima qualificação L9 t we t = 3.1 Comportamento das séries de tempo As séries {we t , le t } mostram leves tendências temporais em cada um dos estados da federação e cortes secionais com formatos diferentes. Porém, quando analisamos cada setor no Brasil todo, as séries de salários relativos se mostram bastante estáveis e exibem cortes secionais com formatos bem semelhantes. As séries de mão de obra relativa são mais voláteis, porém também mostram tendências bem definidas. Na figura 4 observamos as séries de salários relativos em cada um dos cinco setores para todo o Brasil para cada nível de educação. Devemos destacar duas características comuns em todos os setores. A primeira é que a desigualdade salarial tem aumentado levemente ao longo do período, sobretudo para os níveis Médio Completo e Superior Incompleto em relação ao Superior completo. Por exemplo, no setor Agropecuário, em 1995 um trabalhador com superior incompleto recebia 48,41% da remuneração de um com Superior Completo; já em 2008 recebe somente 38,6%. Nos setores Indústria e Serviços as quedas são mais acentuadas. No primeiro vai de 55,9% para 41,68% e no segundo de 73,77% para 38,6%. Quedas semelhantes são observadas para o nível de escolaridade Médio Completo. A segunda característica comum em todos os setores é a separação entre os salários relativos dos seguintes três grupos: i) do Superior Incompleto; ii) do Médio Completo e iii) do resto (níveis de 1 a 6 na tabela 1). Isto sugere a agregação destes três grupos de níveis nos que chamaremos níveis BÁSICO (de 1 a 6), MÉDIO (7 e 8) e SUPERIOR (9) nas estimações que executaremos mais adiante. Comércio Agropecuária 0,7 0,6 e = 1 0,5 e = 2 0,4 e = 1 0,6 e = 2 0,5 e = 3 e = 4 0,3 0,2 e = 4 e = 5 0,3 e = 5 e = 6 0,2 e = 6 e = 7 0,1 e = 3 0,4 e = 7 0,1 e = 8 0 e = 8 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Construção Civil Indústria 0,6 0,6 e = 1 0,5 e = 2 0,4 e = 3 0,3 e = 4 e = 1 0,5 e = 2 0,4 e = 3 e = 4 0,3 e = 5 0,2 e = 6 e = 7 0,1 e = 8 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 e = 5 0,2 e = 6 e = 7 0,1 e = 8 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Serviços 0,8 0,7 e = 1 0,6 e = 2 0,5 e = 3 0,4 e = 4 e = 5 0,3 e = 6 0,2 e = 7 0,1 e = 8 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Figura 4: Séries de diferenciais salariais por nível de educação Na figura 5 temos as séries de utilização relativa de mão de obra. Estas séries devem ser tomadas com mais cuidado, pois as informações de níveis de escolaridade baixo e analfabetos nem sempre são precisas. Por exemplo, nos setores Comércio, Construção Civil e Indústria a utilização de analfabetos estaria crescendo acentuadamente enquanto no outros níveis a tendência é outra. Também podemos observar que no Setor de Construção Civil aparecem dois anos (2004 e 2008) com comportamentos bem diferentes dos outros anos. O primeiro problema (o de tendência desigual do total de analfabetos) será resolvido na agregação proposta a partir do comportamento dos salários relativos (ou seja, agrupando em níveis de 1-6, 7-8 e 9). Para o segundo problema introduziremos variáveis Dummies nas estimações a fim de contorná-lo. Comércio Agropecuária 14 35 e = 1 30 e = 2 25 e = 1 12 e = 2 10 e = 3 20 e = 3 8 e = 4 e = 4 15 e = 5 6 e = 5 10 e = 6 4 e = 6 e = 7 5 e = 7 2 e = 8 0 e = 8 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 Indústria Construção Civil 14 7 e = 1 12 e = 1 6 e = 2 10 e = 2 5 e = 3 e = 3 8 4 e = 4 e = 4 6 e = 5 3 e = 5 4 e = 6 2 e = 6 e = 7 2 e = 7 1 e = 8 e = 8 0 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Serviços 2,5 e = 1 2 e = 2 e = 3 1,5 e = 4 e = 5 1 e = 6 0,5 e = 7 e = 8 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 Figura 5: Séries de mão de obra relativa por nível de educação 3.2 Agregação dos níveis de escolaridade e estimações Como descrito na subseção 3.1, agregarei os trabalhadores em três níveis de educação: 1) BÁSICO, que compreende de Analfabeto até Médio Incompleto; 2) MÉDIO, que compreende Médio Completo e Superior Incompleto e 3) SUPERIOR, que é o Superior Completo. A figura 6 mostra a evolução das séries de salários relativos para os níveis BÁSICO e MÉDIO para cada um dos setores. Salário relativo do nível BÁSICO Salário relativo do nível MÉDIO 0,3 0,6 0,25 0,5 AGROP AGROP 0,2 0,15 COMERC 0,4 COMERC CONST CIV 0,3 CONST CIV INDUST 0,1 INDUST 0,2 SERV SERV 0,1 0,05 0 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Figura 6: Salários relativos por níveis em cada setor Todas as séries mostram uma tendência à estabilização. Nos salários do nível Básico encontramos maior dispersão entre os setores que no caso do nível Médio. No setor construção encontramos que os salários relativos do nível Básico tiveram quedas significativas em 2004 (resultado da crise da dívida externa e juros altos) e em 2008 (leve contágio da crise Americana). Com exceção destes dois anos, a trajetória de salários relativos do nível Básico desse setor também mostra uma tendência estável. Para o caso do número de trabalhadores de nível Básico e Médio por cada trabalhador de nível superior, os anos 2007 e 2008 foram anos de muita variação na utilização relativa de mão de obra de nível Básico e Médio nos setores Agropecuário e de Serviços. Fora eles, as séries de utilização relativa de mão de obra nos outros anos e nos setores em todos os anos exibem uma tendência à estabilidade bem acentuada. A figura 7 mostra estas séries. Trabalhadores de nível básico por trabalhador de nível superior Trabalhadores de nível médio por trabalhador de nível superior 16 90 80 14 70 60 50 40 30 20 AGROP 12 AGROP COMERC 10 COMERC CONST CIV 8 CONST CIV INDUST 6 INDUST SERV 4 SERV 2 10 0 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Figura 7: Razão de utilização de mão de obra nos setores A continuação descreveremos os resultados da estimação da equação (3) (equação de skill premium ou de diferenciais de salários por qualificação) para cada um dos setores da economia em todo o Brasil quando os níveis de escolaridade são agrupados em BÁSICO (1 a 6 da tabela 1), MÉDIO (7 e 8 da tabela 1) e SUPERIOR (9 da tabela 1). Uma estimação semelhante, porém menos acurada, é feita para os mesmos setores em cada um dos estados da federação e os resultados são colocados no Apêndice 1. A estimação será feita usando painel com efeitos fixos e a equação básica a ser estimada é: ln(we t ) = β 0 + β1 ln(le t ) + β 2 De + ε~e t , (13) onde De = 0 se e = B = Básico e De = 1 se e = M = Médio . À equação (13) serão agregadas variáveis de progresso tecnológico (funções polinomiais do tempo) e de mudança estrutural com a finalidade de corrigir o aparecimento de correlação volatilidade variável dos erros. SETOR AGROPECUÁRIO A estimação precisou do ajuste linear por progresso tecnológico e uma mudança estrutural em 2002 ( D02,t = 0 se t < 2002 e D02,t = 1 se t ≥ 2002 ) vinda da mudança de governo no Brasil. Assim, o resultado foi: ln(we t ) = -1,827 - 0,041ln(le t ) + 0,91De + 0,0388t - 0,087D02 ; (0,11) (0,02) (0,09) (0,006) (0,03) R 2 = 0,9706 DW = 1,63 ....(14) Com estas estimativas teremos que ρ = 1− 0,041 ou σ = 1 / 0,041 = 24,42 ; α B = 0,16 ; α M = 0,399 e um progresso tecnológico que imprime uma taxa de crescimento no salário relativo dos dois níveis de 0,0388 por ano. SETOR COMÉRCIO Para este setor somente precisou-se de um ajuste por progresso tecnológico que provoca um freio (ou até queda) no crescimento salarial. A equação estimada resultou: ln(we t ) = -1,311- 0,03ln(le t ) + 0,2617De - 0,014 t; (0,05) (0,012) (0,03) (0,002) R 2 = 0,945 DW = 1,28 (15) Assim, os parâmetros do modelo resultam ρ = 1− 0,03 ou σ = 1 / 0,03 = 34,44 ; α B = 0,27 ; α M = 0,35 e um progresso tecnológico que imprime uma taxa de decrescimento no salário relativo dos dois níveis de 0,014 por ano. SETOR CONSTRUÇÃO CIVIL Como tinha notado no segundo parágrafo da Subseção 3.2, na estimação da relação entre diferencial de salário e razão de utilização de mão de obra para este setor, será necessária a inclusão de duas mudanças estruturais para capturar as crises de 2004 e 2008. Desta maneira, definimos D04,t = 1 se t = 2004 e 0 em caso contrário. Analogamente, D08,t = 1 se t = 2008 e 0 em caso contrário. Com isto, a estimação resulta: ln(we t ) = -1,45- 0,055ln(le t ) + 0,458De - 0,245D04,t - 0,291D08,t ; R 2 = 0,976 (0,09) (0,02) (0,054) (0,0385) (0,0387) DW = 1,77 .(16) Os valores dos parâmetros são ρ = 1 − 0,055 ou σ = 1 / 0,055 = 18,07 ; α B = 0,23 ; α M = 0,37 . Nos anos de crise 2004 e 2008, as perdas salariais nesse setor foram a taxas de 0,245 e 0,291 respectivamente. SETOR INDÚSTRIA Neste caso o melhor ajuste se deu com a inclusão de uma variável de progresso tecnológico sendo um polinômio quadrático. Como o coeficiente de t 2 resulta significativamente maior que zero então a taxa de crescimento do salário relativo devida ao progresso técnico é estritamente crescente. Isto é devido à crescente importação de novas tecnologias e à adequação dos trabalhadores a elas. A equação estimada é a seguinte: ln(we t ) = -1,06- 0,184ln(le t ) + 0,45De - 0,058 t + 0,002 t 2 ; R 2 = 0,996 (0,05) (0,02) Com estas estimativas (0,025) (0,005) (0,0003) DW = 1,67 teremos (17) ρ = 1 − 0,184 ou σ = 1 / 0,184 = 5,43 ; α B = 0,346 ; α M = 0,57 . A taxa de crescimento do salário relativo por causa do progresso tecnológico resulta − 0,058 + 0,004 t , para t = 1,...,28 . SETOR SERVIÇOS A semelhança do setor indústria, a inclusão de um elemento de progresso tecnológico de ordem 2 permite um ajuste acurado das séries. O resultado da estimação é dado a seguir: ln(we t ) = -1,095- 0,082ln(le t ) + 0,498De - 0,0498t + 0,001t 2 ; R 2 = 0,985 (0,04) (0,017) (18) (0,0172) (0,008) (0,0005) DW = 1,23 Assim, os parâmetros do modelo são ρ = 1 − 0,082 ou σ = 1 / 0,082 = 12,18 ; α B = 0,334 ; α M = 0,55 . A taxa de crescimento do salário relativo por causa do progresso tecnológico resulta − 0,0498 + 0,002 t , para t = 1,...,28 , menor que no caso da Indústria. A seguinte tabela 2 resume as estimativas para cada um dos setores: AGROPECUÁRIO COMÉRCIO CONTRUÇÃO CIVIL INDÚSTRIA SERVIÇOS Elasticidade de substituição 24,42 34,44 18,07 5,43 12,18 Peso do nível Básico na mão de obra 0,16 0,27 0,23 0,34 0,33 Peso do nível Médio na mão de obra 0,399 0,35 0,37 0,57 0,55 Taxa de crescimento do salário pelo progresso tecnológico 0,0388 ‐0,014 Não há ‐0,058 + 0,004t ‐0,049 + 0,002t A partir de 2002 Não houve Em 2004 e 2008 Não houve Não houve Mudanças estruturais Tabela 2: Parâmetros estimados para cada setor no Brasil Desta forma, os dados permitem concluir um alto grau de substituição entre os níveis de escolaridade em todos os setores. Por exemplo, no setor Comércio, cada acréscimo de 1% na remuneração relativa dos menos qualificados traz uma queda de 34,44% na razão de utilização de mão de obra menos qualificada em relação à mais qualificada mostrando-se assim o alto grau de substituição nesse setor. No setor Indústria o grau de substituição é menor. Quando o grau de substituição é elevado, os pesos relativos na composição da mão de obra (parâmetros α e ) têm um papel e significado importante na composição da mão de obra agregada. Desta maneira, lembrando que α SUPERIOR = 1 , uma perda de 100 trabalhadores de nível Básico no setor Agropecuário pode ser compensada por um aumento aproximado de 16 trabalhadores de nível superior. TODOS OS SETORES Por último, reportarei a estimação feita para todo o Brasil agregando todos os setores e considerando os três níveis de educação descritos acima. A regressão que melhor se ajusta é uma que considera progresso tecnológico com efeitos de segunda ordem. A relação estimada é: ln(we t ) = -0,851- 0,2455ln(le t ) + 0,366De - 0,0435t + 0,001t 2 ; R 2 = 0,994 (0,038) (0,017) (0,016) (0,005) (0,0003) DW = 1,49 (19) Portanto, para a atividade econômica toda no Brasil, os parâmetros do modelo são ρ = 1 − 0,2455 ou σ = 1 / 0,2455 = 4,07 ; α B = 0,427 ; α M = 0,6161 . A taxa de crescimento do salário relativo por causa do progresso tecnológico resulta − 0,0435 + 0,002 t , para t = 1,...,28 . Quando o ajuste é feito por estado e para a atividade econômica agregada (somando-se todos os setores) os resultados saem bastante satisfatórios e até mais realistas em termos de valores dos parâmetros. Isto tem uma explicação simples; uma firma pode realizar vários tipos de atividade e na RAIS reportar a atividade principal, dessa forma podem se gerar distorções nos valores dos parâmetros quando estimamos por Estados. Mas considerando toda a atividade econômica demandando mão de obra com diversos níveis de qualificação pode se capturar melhor os efeitos de substituição e pesos de cada um dos tipos de mão de obra. Na tabela 3 mostramos as estimativas das elasticidades de substituição e dos pesos na composição da mão de obra para cada um dos Estados da federação. TODOS SETORES RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF Sigma alpha_B 5,88 0,28 11,59 0,21 7,44 0,23 Subst 0,21 9,77 0,23 Subst 0,23 4,22 0,40 12,95 0,22 3,54 0,33 5,09 0,26 3,60 0,32 3,99 0,39 2,75 0,40 4,59 0,30 2,90 0,33 3,46 0,32 3,09 0,42 4,46 0,32 4,32 0,28 4,55 0,35 3,59 0,38 4,90 0,39 4,18 0,39 10,14 0,29 5,29 0,41 3,92 0,40 Subst 0,20 Tabela 3 alpha_M 0,51 0,36 0,40 0,39 0,37 0,46 0,55 0,35 0,50 0,42 0,48 0,54 0,54 0,46 0,56 0,53 0,55 0,47 0,44 0,50 0,52 0,52 0,55 0,45 0,50 0,49 0,36 Devo ressaltar que o coeficiente da regressão ( R 2 ) foi 0,9 na média e o mínimo valor foi 0,73; todos os valores-p foram de uma ordem bem pequena (exceto no caso onde os tipos de mão de obra foram substitutos) e os valores dos parâmetros de elasticidade resultaram mais moderados que aqueles mostrados na tabela 2. Pode-se contrastar esta tabela com as tabelas A1, A2 e A3 do Apêndice 1, onde mostramos estimativas dos parâmetros para todos os Estados, porém desagregados por setores; essas estimativas são menos confiáveis justamente pelos motivos descritos no parágrafo anterior. 3.3 Custo de oportunidade da educação Na análise da dinâmica e estabilidade das distribuições de salário e mão de obra relativas descrita na Subseção 2.3, concluímos que no equilíbrio estacionário para o sistema (9) deve de haver uma relação entre o custo de oportunidade da escolaridade g (e) e a distribuição estacionária de salários. Especificamente, as equações (11) e (12) descrevem este custo de oportunidade e o percentual do salário gasto para atingir cada nível de educação. Nesta subseção analisarei a estabilidade da curva de salários e distribuição de mão de obra para poder inferir o custo da educação em cada um dos estados brasileiros. Pelo exposto no final da Subseção 3.2, será conveniente agregar todos os setores com a finalidade de analisar a remuneração média que recebe cada nível de educação no estado. Para analisar a estabilidade das curvas de salário relativo w(e, t ) e de utilização de mão de obra relativa l (e, t ) calculo a norma supremo da diferença entre cada uma das distribuições em dois períodos consecutivos. Especificamente, a variação do período t − 1 a t é dada por: Vt = Max w(e, t ) − w(e, t − 1) (20) e∈E Uma expressão análoga é utilizada para calcular a variação das distribuições de mão de obra. As tabelas 4 e 5 mostram as variações das curvas até 2007. O ano de 2008, por causa da crise americana, gerou um deslocamento sensível das curvas daquela na qual estavam mostrando a tendência, por isso esse ano foi excluído na análise de estabilidade. Var w(e) 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 RO 0,089 0,069 0,023 0,062 0,104 0,061 0,057 0,042 0,023 0,013 0,026 0,020 AC 0,056 0,015 0,008 0,039 0,040 0,014 0,018 0,058 0,014 0,033 0,024 0,020 AM 0,023 0,026 0,013 0,059 0,036 0,043 0,039 0,097 0,041 0,024 0,020 0,059 RR 0,030 0,020 0,078 0,114 0,199 0,075 0,189 0,165 0,071 0,049 0,035 0,068 PA 0,021 0,018 0,005 0,028 0,015 0,024 0,033 0,055 0,026 0,020 0,012 0,033 AP 0,079 0,039 0,023 0,158 0,021 0,068 0,088 0,096 0,020 0,071 0,039 0,077 TO 0,078 0,124 0,186 0,130 0,081 0,100 0,137 0,105 0,063 0,113 0,081 0,035 MA 0,054 0,051 0,030 0,125 0,019 0,037 0,019 0,146 0,051 0,060 0,035 0,032 PI 0,031 0,049 0,007 0,075 0,031 0,022 0,067 0,112 0,028 0,050 0,029 0,127 CE 0,070 0,021 0,044 0,032 0,019 0,062 0,014 0,029 0,066 0,030 0,017 0,027 RN 0,021 0,040 0,027 0,068 0,021 0,067 0,034 0,045 0,025 0,046 0,025 0,026 PB 0,041 0,035 0,125 0,194 0,081 0,077 0,041 0,128 0,034 0,016 0,048 0,035 PE 0,030 0,008 0,020 0,037 0,013 0,016 0,042 0,021 0,015 0,025 0,028 0,030 AL 0,020 0,014 0,008 0,034 0,022 0,026 0,029 0,020 0,040 0,033 0,023 0,026 SE 0,100 0,083 0,019 0,049 0,020 0,039 0,020 0,043 0,030 0,036 0,012 0,030 BA 0,054 0,016 0,033 0,067 0,022 0,012 0,036 0,017 0,036 0,061 0,013 0,027 MG 0,027 0,010 0,021 0,031 0,012 0,032 0,014 0,032 0,039 0,027 0,043 0,019 ES 0,033 0,036 0,024 0,035 0,022 0,054 0,051 0,045 0,069 0,032 0,054 0,048 RJ 0,023 0,041 0,029 0,042 0,014 0,071 0,031 0,049 0,017 0,018 0,009 0,018 SP 0,020 0,013 0,046 0,046 0,021 0,055 0,015 0,045 0,019 0,017 0,016 0,009 PR 0,041 0,060 0,015 0,038 0,019 0,041 0,017 0,033 0,016 0,015 0,013 0,020 SC 0,018 0,015 0,023 0,028 0,023 0,040 0,022 0,044 0,021 0,019 0,013 0,021 RS 0,052 0,016 0,074 0,027 0,085 0,056 0,019 0,066 0,013 0,020 0,017 0,017 MS 0,031 0,009 0,045 0,055 0,017 0,174 0,080 0,250 0,049 0,020 0,011 0,047 MT 0,045 0,068 0,016 0,145 0,033 0,024 0,038 0,086 0,025 0,029 0,033 0,092 GO 0,019 0,014 0,029 0,025 0,025 0,048 0,027 0,065 0,026 0,020 0,017 0,043 DF 0,112 0,043 0,041 0,208 0,106 0,237 0,041 0,091 0,028 0,007 0,027 0,025 BRASIL 0,027 0,009 0,033 0,038 0,013 0,059 0,023 0,039 0,010 0,018 0,013 0,012 Tabela 4: Variações das distribuições de salários Var l(e) 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 RO 1,39 0,90 1,07 1,45 0,50 0,64 1,34 1,15 0,21 0,45 0,12 1,35 AC 0,25 0,45 0,17 0,07 0,20 0,45 0,27 0,75 0,28 0,18 0,20 0,66 AM 0,53 0,66 0,29 0,43 0,71 0,29 0,22 0,59 0,96 0,75 0,12 1,39 RR 0,89 0,87 0,21 0,31 0,34 0,51 0,49 0,74 0,20 0,40 0,51 0,79 PA 0,17 0,44 0,13 0,16 0,24 0,16 0,17 0,32 0,24 0,24 0,29 0,66 AP 0,62 0,88 0,31 0,26 0,11 0,41 0,73 0,39 0,55 0,73 0,60 0,95 TO 0,86 1,06 0,22 0,80 0,24 0,23 0,17 0,16 0,30 0,11 0,20 0,44 MA 0,22 0,35 0,66 1,25 0,42 0,16 0,33 0,68 0,23 0,12 0,67 1,18 PI 1,42 0,49 0,31 0,29 0,25 0,54 0,18 2,57 0,22 0,09 0,31 0,74 CE 0,27 0,81 0,21 0,17 0,35 0,27 0,14 0,51 0,17 0,30 0,18 0,66 RN 0,24 0,51 0,21 0,08 0,18 0,15 0,94 0,21 0,14 0,97 0,10 0,63 PB 0,05 0,19 0,11 0,21 0,13 0,15 0,13 0,09 0,13 0,13 0,19 0,23 PE 0,14 0,53 0,08 0,11 0,17 0,25 0,29 0,18 0,23 0,21 0,22 0,58 AL 0,35 0,85 0,18 0,53 0,26 0,21 0,14 0,49 0,88 1,01 0,08 0,99 SE 0,23 0,40 0,07 0,08 0,16 0,11 0,07 0,45 0,28 0,17 0,13 0,50 BA 0,31 0,55 0,14 0,30 0,15 0,24 0,30 1,22 0,64 0,23 0,28 0,64 MG 0,29 0,86 0,08 0,14 0,20 0,36 0,22 0,48 0,26 0,14 0,20 0,45 ES 0,46 0,72 0,16 0,19 0,29 0,37 0,22 0,50 0,26 0,23 0,22 0,62 RJ 0,16 0,67 0,06 0,08 0,17 0,18 0,14 0,38 0,13 0,16 0,18 0,30 SP 0,14 0,57 0,10 0,14 0,24 0,18 0,23 0,35 0,40 0,15 0,25 0,34 PR 0,24 0,58 0,11 0,19 0,33 0,20 0,24 0,44 0,38 0,22 0,23 0,65 SC 0,20 0,83 0,17 0,17 0,59 0,48 0,20 0,62 0,70 0,59 0,19 0,83 RS 0,25 0,74 0,10 0,16 0,22 0,29 0,22 0,46 0,45 0,45 0,20 0,60 MS 0,19 0,57 0,08 0,09 0,22 0,31 0,23 0,44 0,24 0,12 0,15 0,60 MT 0,30 0,67 0,19 0,17 0,33 0,46 0,28 0,60 0,34 0,24 0,19 0,81 GO 0,42 0,68 0,24 0,11 0,33 0,32 0,30 0,56 0,30 0,19 0,20 0,60 DF 0,12 0,17 0,04 0,14 0,90 0,21 0,05 0,52 0,05 0,03 0,04 0,20 BRASIL 0,16 0,57 0,08 0,14 0,26 0,20 0,21 0,37 0,30 0,14 0,20 0,44 Tabela 5: Variações das distribuições de mão de obra Observando ambas tabelas podemos perceber que, na maioria dos estados e no Brasil, as menores variações se deram entre os anos 2002 e 2006. Como ilustração, podemos acompanhar estas distribuições para o Brasil na figura 8. Distribuição de mão de obra por nível de escolaridade Distribuição de salários por nível de escolaridade 0,6 3 0,5 2,5 0,4 2003 2004 0,3 2003 2 2004 1,5 2005 0,2 2006 0,1 2005 1 2006 0,5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura 8: Distribuições estacionárias de salários e mão de obra no Brasil Por esta razão consideraremos o ano de 2006 como aquele onde atingimos o estado estacionário para estas distribuições. No Apêndice 2 incluo uma tabela mostrando esta distribuição estacionária de salários para cada estado e para o Brasil. Estas distribuições correspondem à curva salários-educação para cada um dos estados brasileiros e para todo o Brasil. Finalmente, utilizamos esta distribuição de salários para inferir a curva de gastos com educação. Na equação (12) temos uma fórmula para calcular o percentual do salário que é utilizado para atingir cada nível de escolaridade na situação estacionária, ou seja, quando um trabalhador escolhe para o seu descendente o mesmo nível de escolaridade dele. O valor do fator de desconto utilizado foi de 0,93; este é o valor médio dos fatores de desconto sugeridos por Issler and Piqueira (2000), quando o fator para fluxos anuais é 0,9 e para fluxos trimestrais anualizado é 0,96. Portanto, como no problema do trabalhador (4) o tempo está medido em gerações, se considerarmos que uma geração para formar um novo trabalhador é de 25 anos, então o fator de desconto será β = 0,9325 = 0,163 . Assim, o gasto marginal de um ano adicional de estudo é igual a 16,3% do ganho marginal (em termos de salários) que este ano adicional proporciona. Na tabela 6 reportamos os percentuais dos salários utilizados para manter cada nível de educação ao longo das gerações. Ela foi construída utilizando a fórmula (12). e = 2 e = 3 e = 4 e = 5 e = 6 e = 7 e = 8 e = 9 RO Nível 7,79% 8,15% 8,81% 9,51% 8,84% 12,26% 12,72% 14,87% AC 7,29% 5,60% 7,67% 9,13% 7,52% 10,99% 13,21% 14,74% AM 8,82% 7,94% 9,07% 10,16% 10,01% 12,06% 13,83% 15,10% RR 12,49% 11,05% 13,17% 12,62% 11,83% 14,07% 14,09% 15,68% PA 4,84% 5,34% 6,78% 7,63% 7,70% 9,91% 11,81% 14,33% AP 2,92% 2,78% 8,11% 9,12% 6,69% 12,55% 12,31% 14,85% TO 4,20% 4,58% 5,36% 6,53% 5,00% 9,32% 10,35% 13,66% MA 9,54% 10,48% 11,21% 11,78% 11,13% 12,64% 13,97% 15,13% PI 4,33% 5,30% 6,39% 6,59% 5,91% 9,65% 10,73% 13,71% CE 5,51% 5,46% 7,83% 8,80% 8,99% 10,62% 13,28% 14,59% RN 4,95% 6,59% 8,04% 7,91% 7,69% 10,28% 12,37% 14,46% PB 5,34% 5,51% 6,95% 8,46% 7,64% 9,74% 11,66% 13,47% PE 5,47% 5,91% 8,06% 9,54% 8,64% 10,32% 12,82% 14,42% AL 4,60% 4,90% 6,58% 6,37% 8,00% 9,07% 12,26% 14,08% SE 6,26% 7,07% 8,62% 9,14% 9,26% 11,70% 13,31% 14,83% BA 5,87% 6,81% 8,43% 9,00% 9,21% 11,20% 13,13% 14,70% MG 4,18% 5,39% 5,84% 6,83% 6,44% 9,32% 11,26% 13,55% ES 7,81% 5,61% 6,47% 7,20% 6,82% 9,70% 11,33% 14,18% RJ 6,80% 6,38% 8,23% 9,00% 9,61% 11,27% 13,27% 14,81% SP 5,37% 6,63% 7,61% 8,41% 8,34% 10,35% 12,55% 14,35% PR 3,51% 5,59% 6,31% 7,04% 6,84% 9,30% 11,30% 13,92% SC 3,13% 4,90% 5,64% 6,15% 6,18% 8,65% 10,50% 13,41% RS 6,01% 7,27% 8,49% 9,27% 9,18% 11,07% 12,87% 14,51% MS 6,39% 6,59% 7,07% 7,96% 7,57% 10,16% 11,55% 14,21% MT 3,30% 2,83% 3,14% 5,88% 5,15% 6,22% 9,56% 12,89% 14,22% GO 7,62% 8,15% 8,04% 7,84% 9,00% 9,81% 11,95% DF 12,16% 10,92% 11,36% 11,93% 11,91% 13,75% 14,66% 15,62% 6,21% 7,41% 8,30% 9,10% 9,04% 10,95% 12,88% 14,58% BRASIL Tabela 6: Percentuais do salário utilizados para atingir o mesmo nível de escolaridade Cada entrada desta tabela deve ser lida da seguinte maneira. Ela é o percentual do salário que um indivíduo com nível de educação e irá gastar para proporcionar ao seu descendente o mesmo nível de educação e . Um percentual alto significa um diferencial salarial alto do indivíduo educado em relação ao analfabeto ( w(e) muito maior que w(0) ). Nesse caso, τ e = β (1 − w(0) / w(e)) será alto. Assim, se o prêmio à qualificação é alto em relação ao menor nível de escolaridade (Analfabeto no nosso caso) então, manter esse nível de qualificação para as próximas gerações comprometerá uma parcela maior da renda do indivíduo. Isto é compatível com o princípio de que capitais com maiores retornos devam ter investimentos maiores. Por exemplo, para o estado de Santa Catarina, um indivíduo com escolaridade de até 5 anos tem um retorno relativo ao Analfabeto de 0,22-0,18; que trazido a valor presente resulta 0,163 (0,22-0,18). Isto, como fração da renda dele é 3,13%. Por outro lado, o mesmo indivíduo no Distrito Federal teria que esse investimento é 12% da sua renda corrente. Isto porque no DF a renda do indivíduo com até 5 anos de escolaridade é quatro vezes maior que a renda do Analfabeto. Embora os números apresentados na tabela 6 sejam sensíveis à calibragem utilizada para o fator de desconto anual e para o número de anos que definem uma geração do trabalhador, eles dão uma especificação qualitativa importante de quais são os estados onde o custo da educação (como custo de oportunidade) é maior. Desta maneira, serve como sugestão de políticas públicas para investimentos em educação naqueles estados onde o custo de oportunidade de manter um nível de educação dado resulta alto evitando que haja mobilidade de trabalhadores para níveis educacionais com melhor remuneração. 4. CONCLUSÕES Para analisar a dinâmica das distribuições de salários e de mão de obra numa economia é necessário tomar em conta as forças de mercado que as determinam. Por um lado, as firmas demandam quantidades de trabalhadores com diversos níveis de educação para constituir a mão de obra agregada da economia. Por outro, os trabalhadores, tomando como dados os salários que eles recebem, decidem qual é o nível de educação que outorgarão aos seus descendentes por motivos altruístas. Desta maneira, fundamentos da economia como são preferências no consumo e altruísmo e tecnologias acabam determinando as distribuições dos salários e de trabalhadores em cada geração. Neste sentido, este trabalho faz uma análise detalhada destes elementos y de como as distribuições evoluem ao longo do tempo até alcançar perfis estacionários. Primeiramente estudamos o problema da firma; separando as atividades econômicas em cinco (Agropecuária, Comércio, Construção Civil, Indústria e Serviços) procedemos a estimar a equação de diferenciais de salário por qualificação e as respectivas elasticidades de substituição em cada setor e em cada estado da federação, assim como no Brasil todo. Os ajustes mostram alto grau de substituição entre os tipos de mão de obra e sempre um maior peso na mão de obra mais qualificada na composição da mão de obra agregada. Quando a estimação é feita para o Brasil todo o modelo fica melhor ajustado aos dados mostrando inclusive a presença de progresso tecnológico em quatro dos cinco setores como mostrado na tabela 2. Também é possível observar mudanças estruturais no setor Agropecuário a partir de 2002 e na Construção Civil nos anos 2004 e 2008 onde as presenças de crises relacionadas ao setor acabaram impactando nos salários. Quando o ajuste é feito agregando todos os setores os resultados são mais satisfatórios e os parâmetros assumem valores mais parecidos àqueles reportados na literatura internacional (Acemoglu (2002)). Resulta que para o Brasil a elasticidade de substituição entre mão de obra de indivíduos com educação Básica (até Ensino Médio Incompleto), Média (Ensino Médio Completo e Superior Incompleto) e Superior (Ensino Superior Completo) é 4,07 e os pesos na composição da mão de obra são 0,427; 0,616 e 1 respectivamente. Valores semelhantes foram achados para cada um dos estados da federação e estão reportados na tabela 3. Estas informações são muito úteis na modelagem do setor produtivo quando a mão de obra é desagregada por níveis de educação. Outro elemento analisado neste trabalho é a dinâmica e estacionariedade das distribuições de salários e de mão de obra, também discriminados pelo grau de escolaridade. Na Subseção 2.3 é proposto um modelo teórico que fundamenta esta dinâmica como resultante de decisões altruístas dos pais no investimento em educação dos filhos. Através de um exemplo simples verificamos como estas distribuições podem convergir e vimos como no estado estacionário (onde ambas as distribuições permanecem constantes) o gasto em educação está relacionado com a distribuição de salários. Conclui-se que no estado estacionário destas distribuições, o gasto para atingir um nível de educação e é 16,3% do excesso de remuneração deste nível educacional em relação à remuneração do analfabeto. Isto de fato é o valor presente do retorno que a educação proporciona. Assim, o tratamento dado neste trabalho conclui um resultado já proposto por outros autores (Mincer (1958), Schultz (1961) e Becker (1962)): a educação, vista como capital humano tem um retorno e, portanto uma taxa de investimento que deve ser mantida para preservá-lo. Para aplicar estes resultados ao caso brasileiro, primeiramente detecto a configuração das distribuições estacionárias para os salários em cada um dos estados brasileiros. Verifico que a distribuição correspondente ao ano 2006 é uma que se apresenta como ponto de acumulação destas distribuições. Na tabela A4 proporciono estas distribuições que de fato correspondem às curvas salário-educação para cada um dos estados brasileiros e para todo o Brasil. Finalmente, utilizando estas distribuições construo uma tabela descritiva (tabela 6) de como são os custos da (investimentos em) educação na situação estacionária. Isto é uma ferramenta útil na definição de políticas públicas de combate ao analfabetismo ou a baixos níveis de educação, pois localidades como custos de oportunidade da educação altos precisam de transferências (condicionadas) para facilitar o acesso dos trabalhadores a melhores níveis de educação. APÊNDICE 1 Neste Apêndice relato as estimativas dos ajustes das elasticidades de substituição e os pesos de cada tipo de mão de obra na composição da mão de obra em cada setor e cada Estado. Dada a grande variabilidade de dados e a pouca precisão nos ajustes (onde possivelmente se precise de inclusão de variáveis Dummy ou de variáveis de progresso tecnológico) optei por apresentar os resultados seguindo o seguinte critério: i) O ajuste deve ser com um R 2 maior que 0,5; ii) Se o valor-p do coeficiente 1 − ρ é maior que 10%, consideramos ρ = 1 , ou seja, os tipos de mão de obra são substitutos e iii) Não considero o resultado onde ρ > 1 com um valor-p menor que 5%. Todos estes critérios são os mais flexíveis que podem ser colocados para o reporte dos dados. AGROP RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF Sigma ‐ Subst 11,53 ‐ ‐10,84 ‐ 12,26 Subst Subst Subst Subst Subst 6,34 Subst Subst 9,56 7,89 Subst 4,50 14,03 4,61 5,56 10,31 Subst 8,58 Subst Subst alpha _B ‐ 0,21 0,23 ‐ 0,14 ‐ 0,26 0,23 0,21 0,17 0,22 0,22 0,28 0,23 0,11 0,19 0,28 0,20 0,27 0,28 0,58 0,22 0,25 0,25 0,43 0,27 0,12 alpha_M COMERC ‐ RO 0,42 AC 0,40 AM ‐ RR 0,33 PA ‐ AP 0,37 TO 0,37 MA 0,48 PI 0,33 CE 0,43 RN 0,46 PB 0,43 PE 0,39 AL 0,35 SE 0,36 BA 0,42 MG 0,39 ES 0,44 RJ 0,42 SP 0,63 PR 0,36 SC 0,42 RS 0,44 MS 0,53 MT 0,46 GO 0,34 DF Tabela A1 Sigma ‐ Subst 8,96 Subst Subst Subst ‐ ‐ ‐ Subst 5,00 ‐ ‐ 3,46 Subst Subst Subst Subst Subst Subst 6,85 ‐ Subst Subst 4,94 Subst ‐ alpha_ B ‐ 0,24 0,26 0,43 0,32 0,35 ‐ ‐ ‐ 0,20 0,68 ‐ ‐ 0,73 0,17 0,18 0,37 0,37 0,26 0,24 0,43 ‐ 0,38 0,47 0,65 0,34 ‐ alpha_M ‐ 0,36 0,41 0,59 0,43 0,52 ‐ ‐ ‐ 0,29 0,85 ‐ ‐ 0,91 0,25 0,27 0,47 0,48 0,36 0,34 0,54 ‐ 0,49 0,62 0,76 0,46 ‐ CONSTCIV Sigma RO ‐ AC 4,29 AM ‐ RR ‐ PA ‐ AP ‐ TO ‐ MA ‐ PI Subst CE Subst RN Subst PB ‐ PE ‐ AL 3,34 SE Subst BA ‐ MG Subst ES ‐ RJ ‐ SP Subst PR Subst SC Subst RS ‐ MS Subst MT ‐ GO 9,90 DF ‐ alpha_B ‐ 0,36 ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ ‐ 0,15 0,20 0,08 ‐ ‐ 0,61 0,08 ‐ 0,19 ‐ ‐ 0,23 0,18 0,28 ‐ 0,22 ‐ 0,31 ‐ alpha_M INDUST ‐ RO 0,58 AC ‐ AM ‐ RR ‐ PA ‐ AP ‐ TO ‐ MA 0,28 PI 0,30 CE 0,23 RN ‐ PB ‐ PE 0,54 AL 0,26 SE ‐ BA 0,33 MG ‐ ES ‐ RJ 0,37 SP 0,32 PR 0,42 SC ‐ RS 0,36 MS ‐ MT 0,41 GO ‐ DF Tabela A2 Sigma 5,97 6,06 ‐ Subst 3,01 2,19 2,99 1,75 2,67 2,28 3,07 2,94 2,78 1,35 3,68 2,20 2,80 5,42 ‐ Subst 2,72 3,22 4,78 4,20 2,97 2,75 Subst alpha_B 0,28 0,26 ‐ 0,12 0,39 0,56 0,44 0,67 0,40 0,53 0,28 0,54 0,37 2,20 0,22 0,35 0,42 0,23 ‐ 0,25 0,43 0,51 0,34 0,39 0,64 0,50 0,25 alpha_M 0,45 0,52 ‐ 0,30 0,64 0,98 0,55 1,07 0,57 0,66 0,50 0,59 0,53 1,12 0,52 0,71 0,56 0,42 ‐ 0,40 0,57 0,59 0,51 0,50 0,65 0,58 0,42 SERVIÇOS Sigma alpha_B RO Subst 0,23 AC Subst 0,21 AM Subst 0,18 RR ‐ ‐ PA ‐ ‐ AP ‐ ‐ TO 6,88 0,31 MA Subst 0,18 PI 7,61 0,23 CE Subst 0,18 RN Subst 0,20 PB 5,26 0,32 PE 3,72 0,32 AL Subst 0,17 SE 6,26 0,24 BA Subst 0,22 MG 6,62 0,30 ES Subst 0,23 RJ 9,72 0,25 SP 6,90 0,31 PR Subst 0,26 SC Subst 0,27 RS Subst 0,29 MS ‐ ‐ MT Subst 0,31 GO Subst 0,26 DF Subst 0,21 Tabela A3 alpha_M 0,46 0,35 0,32 ‐ ‐ ‐ 0,53 0,30 0,41 0,35 0,34 0,52 0,46 0,34 0,45 0,39 0,48 0,38 0,41 0,48 0,43 0,45 0,49 ‐ 0,45 0,41 0,37 APÊNDICE 2 Na análise desenvolvida na Subseção 3.3 concluímos que a distribuição de salários atinge a seu nível estacionário no ano 2006. A seguinte tabela mostra essa distribuição por nível de escolaridade, também vista como curva salário-educação, para cada um dos estados da Federação e para todo o Brasil. Nível e = 1 e = 2 e = 3 e = 4 e = 5 e = 6 e = 7 e = 8 RO 0,09 0,17 0,17 0,19 0,21 0,19 0,35 0,40 e = 9 1,00 AC 0,10 0,17 0,15 0,18 0,22 0,18 0,29 0,50 1,00 AM 0,07 0,16 0,14 0,17 0,19 0,19 0,28 0,49 1,00 RR 0,04 0,16 0,12 0,20 0,17 0,14 0,28 0,28 1,00 PA 0,12 0,17 0,18 0,21 0,23 0,23 0,31 0,44 1,00 AP 0,09 0,11 0,11 0,18 0,20 0,15 0,39 0,36 1,00 TO 0,16 0,22 0,23 0,24 0,27 0,23 0,38 0,44 1,00 MA 0,07 0,17 0,20 0,23 0,26 0,22 0,32 0,50 1,00 PI 0,16 0,22 0,24 0,26 0,27 0,25 0,39 0,46 1,00 CE 0,10 0,16 0,16 0,20 0,23 0,23 0,30 0,57 1,00 RN 0,11 0,16 0,19 0,22 0,22 0,21 0,30 0,47 1,00 PB 0,17 0,26 0,26 0,30 0,36 0,33 0,43 0,61 1,00 PE 0,12 0,17 0,18 0,23 0,28 0,25 0,31 0,54 1,00 AL 0,14 0,19 0,19 0,23 0,22 0,27 0,31 0,55 1,00 SE 0,09 0,15 0,16 0,19 0,21 0,21 0,32 0,49 1,00 BA 0,10 0,15 0,17 0,20 0,22 0,23 0,31 0,51 1,00 MG 0,17 0,23 0,25 0,26 0,29 0,28 0,39 0,55 1,00 ES 0,13 0,25 0,20 0,22 0,23 0,22 0,32 0,43 1,00 RJ 0,09 0,16 0,15 0,18 0,20 0,22 0,30 0,49 1,00 SP 0,12 0,18 0,20 0,22 0,25 0,24 0,33 0,52 1,00 PR 0,15 0,19 0,22 0,24 0,26 0,25 0,34 0,48 1,00 SC 0,18 0,22 0,25 0,27 0,28 0,29 0,38 0,50 1,00 RS 0,11 0,17 0,20 0,23 0,25 0,25 0,34 0,52 1,00 MS 0,13 0,21 0,21 0,23 0,25 0,24 0,34 0,44 1,00 MT 0,21 0,26 0,25 0,26 0,33 0,31 0,34 0,50 1,00 GO 0,13 0,24 0,26 0,25 0,25 0,28 0,32 0,48 1,00 DF 0,04 0,16 0,13 0,14 0,15 0,15 0,26 0,41 1,00 BRASIL 0,11 0,17 0,19 0,21 0,24 0,24 0,32 0,50 1,00 Tabela A4: Distribuição estacionária de salários relativos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACEMOGLU D., “Technical Change, Inequality, and the Labor Market”. 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