UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB:
Um estudo a partir de arranjos espaciais
VILMA LÚCIA URQUIZA CAVALCANTE
JOÃO PESSOA-PB
2008
VILMA LÚCIA URQUIZA CAVALCANTE
A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB:
Um estudo a partir de arranjos espaciais
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Geografia do Centro de
Ciências Exatas e da Natureza da Universidade
Federal da Paraíba, sob a orientação do
Professor Dr. Sérgio Fernandes Alonso, como
requisito para a obtenção do título de Mestre
em Geografia.
JOÃO PESSOA
2008
FICHA CATALOGRÁFICA
C736c
CAVALCANTE, Vilma Lúcia UrquizaC736c
A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB:
um estudo a partir de arranjos espaciais. / Vilma Lúcia
Urquiza Cavalcante .- João Pessoa-PB 2008.
117p.
Orientador: Dr. Sergio Femandes Alonso
Programa de Pós-Graduação (Mestrado em Geografia)
1 Centralidade. 2. Arranjos espaciais. 3. Patos
I.Título li. Universidade Federal da Paraíba-UFPB
BC
CDU: 91(047)
Francisco das Chagas Leite - Bibliotecário CRB 15/0076
VILMA LUCIA URQUIZA CAVALCANTE
A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB:
Um estudo a partir de arranjos espaciais
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Fernandes Alonso – Orientador
Universidade Federal da Paraíba – UFPB
____________________________________________________________
Profª Pós Drª Doralice Sátyro Maia – 1ª Examinadora
Universidade Federal da Paraíba – UFPB
____________________________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Pazera – 2º Examinador
INEP - MEC
JOÃO PESSOA
2008
Morada do sol capital do sertão
Aqui tem o patinho e também o verdão
Fizeste história com o algodão
Acolhe cidades de toda a região
O melhor São João também é aqui
No calor do teu povo podemos seguir
Da religião que nos alumia
Virgem padroeira Senhora D’Guia
Patos Pedacinho da Nação
Você vive no meu coração
Patos eu vou cantar
Moras em mim e sempre em ti irei morar
Tem a tradição no ramo coureiro
Exportas a arte até pro estrangeiro
De intelectuais também es celeiro
O sol brilha forte o ano inteiro
Na tua bandeira o azul e o branco
Para Santa Francisca só falta o manto
O passado, presente futuro eu canto
Cidade do sol, cidade do encanto
(SILVA, Patos Pedacinho da Nação)
AGRADECIMENTOS
Este é o espaço de reconhecimento e agradecimento, a todos os que
contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolvimento deste trabalho. São
muitos, e se acontecer de esquecer algum nome, me perdoem, trata-se da
ansiedade do momento. Lembro dos gestos e atitudes que vão além das marcas
desta escrita e expresso meu reconhecimento as pessoas que me acompanharam e
foram responsáveis, através do estímulo, carinho e apoio, para a conclusão desta
etapa de minha vida. Agradeço a honra e o privilégio de estar rodeada por pessoas
tão especiais, que compartilharam de minhas aspirações e contribuíram para a
concretização de meus sonhos e esperanças. Sinto-me feliz e emocionada ao
agradecer a todos e, menciono muito carinhosa e especial:
A DEUS, Força Superior, Fonte e Ordem de toda a energia do universo,
por iluminar os meus pensamentos, guiar os meus passos e apaziguar o meu
coração nos momentos de angústia e desespero.
Aos meus pais Sebastião Alves e Iracema Urquiza, pela vida, educação e
o desejo desta vitória.
Aos meus irmãos, Suely, Vilberto, Roberto, Francisco e em especial a
Roberval.
A Maria Luiza Urquiza da Nóbrega (minha tia Zizinha do coração). A
Marlene Cezar Bezerra (madrinha) presença tão marcante em minha vida, ao me
presentear com os estudos. A elas o meu eterno reconhecimento.
Ao Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPB e ao seu corpo
de professores e funcionários, em especial a Sônia, que sempre nos recebe tão
gentilmente.
Ao meu orientador Professor Dr. Sérgio Fernandes Alonso pela
compreensão e disponibilidade durante a realização desse trabalho.
Aos professores Drª Doralice Sátyro Maia, Dr. Ivan Targino e Dr. Eduardo
Pazera, pelas participações nas Bancas de Qualificação e Defesa. Agradeço a
disponibilidade nos momentos em que busquei ajuda.
Aos professores Dr. Eduardo Viana e Drª Adailza Martins (Dadá) pelo
exemplo de conduta e comprometimento com o ensino e com quem aprendi muito
sobre o ato de educar. Vocês vão além, são educadores.
Aos colegas de curso, com os quais tive a oportunidade de compartilhar
idéias e experiências.
E aos meus amigos, que mais merecem ser chamados de anjos da
guarda:
A Christianne Coelho e Padre Roberto, pelo apoio nesta jornada.
A Nilton Teruya, por me agüentar este tempo todo. Agradeço a
compreensão nas inúmeras vezes em que recorri à sua casa em busca de ajuda. A
Marisa Tayra Teruya pelo carinho, apoio, disponibilidade em caminhar comigo todo
este tempo.
A Betânia Oliveira e Adriano, agradeço pelas palavras, pelos gestos e
atitudes nas ocasiões freqüentes de fragilidade.
A Elianete, Elson, Deoclécio e Valdith que nos momentos difíceis me
encorajaram, acenando sempre a possibilidade da conclusão.
A Edivânia Gomes, Rosalve, amigos adquiridos na Especialização e que
estiveram presentes dando apoio.
A Maria Antério, que mesmo fora do plano material, está a interceder e
sempre me ensinou a alegria da vida. Sei que onde ela estiver, ficará feliz por esta
vitória.
A todos aqueles que oraram por mim, representados aqui por minha mãe,
Dione Antério, Djane Antério e Neta.
No meu espaço de trabalho, gostaria de registrar meu reconhecimento e
compartilhar minha alegria especialmente com:
Alana, Aretuza e Aristéia Candeia, pelas contribuições dadas ao meu
trabalho.
A Professora Maria Alves (Dapaz), coordenadora do Curso de Geografia
da FIP, pela compreensão durante este período.
Aos professores Marcone, Edílson, Xisto, Cilene Lima, colegas pelo
companheirismo.
A Francisca e Jader alunos do curso de Geografia por sua disponibilidade
e contribuição na realização das pesquisas de campo.
Ao pessoal da informática, Gieze e Jorge, sempre me dando suporte com
o computador, que insistia em me deixar na mão nos momento de sufoco.
Aos funcionários da Biblioteca: Francisco e Edilene, vocês foram
fundamentais no socorro com os livros e na compreensão com os prazos.
A Márcia Cleide, da secretaria geral pela presteza no fornecimento dos
dados dos alunos da FIP, para a pesquisa.
Aos amigos, que compreenderam o meu afastamento por tanto tempo!
Aos funcionários das instituições e órgãos administrativos pesquisados
pela solicitude no fornecimento das informações necessárias para a realização deste
estudo.
Aos motoristas e usuários de transportes alternativos, pelas entrevistas,
parte fundamental do trabalho de campo.
Muito obrigada a todos.
RESUMO
O presente trabalho intitulado “A Centralidade da cidade de Patos-PB: um estudo a
partir de arranjos espaciais” estuda a centralidade que a cidade de Patos, no sertão
paraibano exerce no contexto regional. A constatação da carência de pesquisas
acadêmicas produzidas sobre este tema despertou o desejo de realizar este estudo,
sob o olhar da ciência geográfica. Nesta perspectiva, procurou-se apresentar
aspectos de Patos, que no decorrer da sua história tornou-se, para a região onde se
localiza, um epicentro que foi sendo construído junto com as transformações da
sociedade. Este estudo utilizou fundamentos teórico-conceituais para explicar a
centralidade de Patos, sob a ótica de quatro arranjos espaciais (educação, saúde,
transporte e órgãos administrativos) responsáveis por este processo e que têm um
papel relevante no fortalecimento e na manutenção desta centralidade. A análise da
centralidade embasou-se prioritariamente na Teoria de Christaller. Para explicar e
ratificar a influência que a cidade de Patos exerce no sertão paraibano e que se
fortalece na medida em que estes arranjos espaciais retroalimentam sua dinâmica,
foram utilizados os seguintes instrumentos: observação, consulta a documentos e
questionários. Os resultados apontam para o fato de que, em virtude da posição
estratégica e da infra-estrutura, converge para a cidade de Patos um considerável
contingente populacional em busca dos serviços por ela oferecidos e com isso a
cidade passa a exercer uma forte influência sobre a região, do seu entorno e de
outras áreas que extrapolam os limites do estado da Paraíba.
Palavras-chave: Centralidade. Arranjos espaciais. Patos.
ABSTRACT
This work, entitled “Centrality in Patos town - Paraiba state: A research based on
spatial arrangements, approaches the centrality that Patos town, in Paraiba
backwoods, exerts in a regional context. The lack of academic researches about this
topic is a strong reason for this work under a geography view. Under this perspective,
it is intended to present some aspects of Patos that throughout its history became for
the region in which it is settled an epicenter that was being constructed along with
society changes. In this study, theoretical-conceptual foundations were used to
explain Patos centrality, under four spatial arrangements (Education, health,
transport and administrative organs) responsible for this process and that play an
important role in maintenance and strengthening of this centrality. The centrality
analysis was based mainly in Christaller theory. In order to explain and affirm the
influence of Patos town upon Paraiba backwoods and its strong influence as these
spatial arrangements combine to maintain this dynamic process, the following
procedures were made: observation, documents analysis and questionnaire. The
results show that due to strategic localization and infrastructure, a large number of
people move to Patos in search for the services offered in the town, and because of
that the city strongly influences its neighbor regions and other areas beyond the limits
of Paraiba state.
Key-Words: Centrality. Spatial arrangements. Patos.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
13
2 GÊNESE DA CENTRALIDADE DE PATOS
20
2.1 Localização da área de estudo
22
2.2 Os Meandros históricos: conquista e formação da cidade
27
2.3 Um olhar para a cidade no século XX e XXI
38
3 A REDE URBANA
48
3.1 A Centralidade da cidade de Patos no contexto da Rede Urbana
58
3.2 Patos e os níveis de centralidade das cidades brasileiras
64
4 A CENTRALIDADE E OS ARRANJOS ESPACIAIS DE PATOS
69
4.1 Educação
69
4.2 Procedência dos estudantes universitários
75
4.3 Saúde
81
4.4 Transporte
84
4.5 Órgãos Institucionais com sede em Patos
95
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
100
REFERÊNCIAS
104
APÊNDICES
111
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO 1 – (TRANSPORTE ALTERNATIVO)
112
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO 2 – (TRANSPORTE: ALTERNATIVO
PASSAGEIRO)
114
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Mapa de localização da cidade de Patos – PB
23
FIGURA 2 – Acesso viário da cidade de Patos–PB
26
FIGURA 3 – Caminhos do gado para Olinda/Recife
30
FIGURA 4 – Roteiros de penetração na conquista dos sertões paraibanos
32
FIGURA 5 – Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição,
localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro
37
FIGURA 6 – Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição,
localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro
39
FIGURA 7 – A segunda Igreja, na Rua Alegre
40
FIGURA 8 – Catedral após a reforma
40
FIGURA 9 – Rua grande – Atual Sólon de Lucena
41
FIGURA 10 – Mapa da rede ferroviária da Paraíba
43
FIGURA 11 – Área de abrangência da Diocese de Patos
45
FIGURA 12 – Rua Sólon de Lucena
46
FIGURA 13 – 6ª Gerência Regional de Educação e Cultura
70
FIGURA 14 – Faculdades Integradas de Patos – unidade I
72
FIGURA 15 – Faculdades Integradas de Patos – unidade II
72
FIGURA 16 – Universidade Federal de Campina Grande
73
FIGURA 17 – Universidade Estadual da Paraíba
74
FIGURA 18 – Procedências dos alunos universitários para a cidade de Patos
76
FIGURA 19 – Circulação do transporte na Rua Horácio Nóbrega
79
FIGURA 20 – Concentração dos transportes na Rua Horácio Nóbrega
80
FIGURA 21 – Concentração dos transportes Rua Horácio Nóbrega
80
FIGURA 22 – Hospital Regional Dep. Jurandy Carneiro
81
FIGURA 23 – Setor de urgência do hospital Regional de Patos
82
FIGURA 24 – Maternidade Peregrino Filho
82
FIGURA 25 – Área de procedência dos pacientes do Hospital Regional de
83
Patos
FIGURA 26 – Área de procedência dos pacientes do Hospital e Maternidade
Peregrino Filho
84
FIGURA 27 – Estação Rodoviária Ivan Bichara
85
FIGURA 28 – Percursos de linhas de ônibus Guanabara, que partem do
86
litoral para o interior do Estado e que passam pela cidade de Patos
FIGURA 29 – Mapa das distâncias e preços do transporte alternativo
88
FIGURA 30 – Ponto do transporte alternativo na Rua Horácio Nóbrega
93
FIGURA 31 – Ponto de transporte alternativo nas imediações do Mercado
Central
94
FIGURA 32 – Parte do Mercado Central
95
FIGURA 33 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 1
97
FIGURA 34 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 2
97
FIGURA 35 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 3
98
LISTA DE TABELAS
TABELA 1
TABELA 2
TABELA 3
TABELA 4
População e a área dos municípios da Micro-Região de
Patos (IBGE, 2007)
25
Procedência dos universitários por curso da FIP, Patos –
PB. 2008.1
77
Procedência dos universitários por curso da UFCG, Patos –
PB. 2008.1
78
Município de residência dos motoristas de transporte
alternativo
89
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1
QUADRO 2
QUADRO 3
Bens e serviços de baixa complexidade na cidade de Patos,
2007
65
Bens e serviços de média e elevada complexidade na
cidade de Patos, 2007
66
Cursos oferecidos por Instituições de Ensino Superiores
(IES) em Patos – PB no período 2008.1
71
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1
Movimentação de passageiros de transporte alternativo
90
GRÁFICO 2
Freqüências das viagens a Patos, por faixa etária, de
usuários do transporte alternativo
91
Motivação de viagens de moradores de outros municípios
92
GRÁFICO 3
INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste em um estudo sobre o fenômeno da centralidade
regional da cidade de Patos, localizada no sertão paraibano.
A letra da música em epígrafe apresenta a cidade, que se orgulha de
oferecer ao viajante que passa seus atrativos: lugares de religiosidade, festas
regionais, indústrias, serviços, além de envaidecer-se de ser também um “celeiro de
intelectuais”.
Mas a letra igualmente revela o “acolhimento” das cidades da região,
evidenciando uma característica que lhe é concedida e reconhecida desde os
tempos de formação, quando do processo de ocupação do interior nordestino: o de
ser um epicentro da vida sertaneja, ultrapassando os limites do estado da Paraíba, e
se estendendo as cidades dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, com
destaque na área de prestação de serviços.
Apesar deste reconhecimento generalizado e decantado em prosa e
verso, no âmbito acadêmico, faltam estudos mais sistematizados que proporcionem
dados empíricos consistentes, a partir dos quais seja possível a discussão de
parâmetros confiáveis que possam ser utilizados nos estudos sobre o tema da
centralidade regional e da elaboração de políticas de desenvolvimento regional, para
o Estado da Paraíba. Assim, esta dissertação - A centralidade da cidade de Patos
- PB: um estudo a partir de arranjos espaciais - consiste em um estudo sobre
alguns arranjos espaciais relacionados ao fortalecimento da cidade enquanto espaço
centralizador de serviços na região.
O município localiza-se a 305 quilômetros da capital João Pessoa, na
Mesorregião do Sertão Paraibano, com acesso pela BR-230. Apresenta população
de 97.276 mil habitantes (IBGE, 2007), e com economia concentrada em atividades
comerciais e de serviços relevantes para a mesorregião em que se encontra situada.
A questão central do trabalho é estudar a dinâmica dos arranjos espaciais
que faz com que a cidade assuma um status de epicentro do sertão, e que, a partir
daí, seja continuamente retroalimentada neste processo de centralidade.
14
Para tanto, evidencia-se a construção histórica de Patos, com o propósito
de contextualizar os arranjos espaciais selecionados para este estudo; a
identificação da área de influência de Patos; a identificação dos principais arranjos
espaciais (educação, saúde, transportes e órgãos institucionais) na região de
influência de Patos e a permanência destes arranjos espaciais na cidade de Patos.
Para estudar o universo do objeto deste estudo, são relevantes alguns
delineamentos preliminares pelos domínios da ciência geográfica, a fim de buscar
algumas considerações teórico-conceituais. Trata-se de reunir o conhecimento que
define o objeto de estudo, bem como reproduzir, no âmbito da idéia, os processos
que tal como elas produzem na realidade.
Na proposta de definição de um objeto para os estudos em Geografia,
Santos (2002a) considera que o nível de teorização é somente possível através de
um esforço de abstração, ao que só é possível chegar-se por intermédio das
categorias que definem uma dada realidade.
A ciência geográfica dispõe de alguns conceitos que segundo Corrêa
(2001) é capaz de sintetizar a sua objetivação, o que lhe confere uma identidade e
uma autonomia relativa no âmbito das ciências sociais. E que para Santos (op.cit.) a
autonomia pode ser encontrada pela unidade do objeto de estudo que é a sociedade
total e na definição de categorias analíticas fundamentais. Assim como define Silva
(2007, p. 9):
[...] a Ciência Geográfica, aqui considerada se identifica e toma para si
como importante categoria analítica o Espaço, que permite ampla gama de
visualização de realidade, quando não se confundindo com ela própria, e
possibilita a apreensão da totalidade-mundo enquanto microcosmo das
ações humanas e do envolver histórico.
O espaço apresenta uma multiplicidade de definições e significações,
sendo mutável no tempo, portanto é possível falar no espaço de uma casa, de uma
cidade, região etc. Fazendo-se, referência ao espaço das expressões das
materialidades geográficas, pode-se falar do espaço enquanto conteúdo abstrato:
espaço das relações sociais.
O espaço se concebe como o lugar da reprodução das relações sociais
de produção, ou seja, reprodução da sociedade. Assim, a formação social não pode
15
ser compreendida sem referência à noção de espaço, o qual deve ser considerado
segundo Santos:
Como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas
que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos
do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de
formas representativas de relações sociais do passado e do presente por
uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo
diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e
funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja
aceleração é desigual. Daí porque evolução espacial não se faz de forma
idêntica em todos os lugares. (op. cit., p. 153).
Dessa forma, em outra obra, Santos (1988, p. 15) afirma que “o espaço é
uma estrutura social dotada de um dinamismo próprio e revestida de certa
autonomia, na medida em que sua evolução se faz segundo leis que lhes são
próprias”.
Este conceito está fundamentado na relação indissociável entre espaço e
sociedade. Para Santos (1986, p. 62) “o espaço geográfico é considerado como uma
porção bem delimitada da sociedade local quanto das influências externas e até
mesmo estrangeiras, cujo peso nem sempre é perceptível à primeira vista”.
A partir dessa linha teórica de construção de pensar o espaço como parte
integrante da dinâmica social que cria e associa, a história da sociedade mundial à
local. Santos (1977,p.81) “diz que essa percepção do espaço pode servir como
fundamento à compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a
serviço do homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há
sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social”.
Ainda que se tenha clara a relação entre espaço e sociedade como
indissociável, é relevante ressaltar, aqui, o discurso de Milton Santos quanto à
categoria Formação Econômica e Social, como pertinente para validar a teoria que
entende espaço e sociedade como inseparáveis e dentro de uma perspectiva
econômica, social, política e cultural. Assim, Santos afirma que:
O interesse nos estudos sobre as formações econômicas e sociais está na
possibilidade que eles oferecem a permitir o conhecimento de uma
sociedade na sua totalidade e nas suas frações, mas sempre um
conhecimento específico, apreendido num dado momento de sua evolução.
16
[...] Defini-la é produzir uma definição sintética da natureza exata da
diversidade e da natureza específica das relações econômicas e sociais que
caracterizam uma sociedade numa época determinada. [...] Modo de
produção, formação social – essas três categorias são interdependentes.
[...] a formação social não pode ser compreendida sem referência à noção
de espaço. (1982b, p. 12-14).
A partir da percepção dessa ligação indissociável entre espaço e
sociedade, na produção da organização social e econômica, vista na cidade de
Patos através de sua centralidade.
Diante do que exposto, o conceito de espaço é o referencial teórico
norteador deste estudo, na análise e na constituição da centralidade do espaço da
cidade de Patos - PB, como reflexo da sua dinâmica e das transformações que a
sociedade produz no decorrer do tempo histórico.
A pesquisa foi pautada em levantamento bibliográfico e ampla pesquisa
empírica, conforme as etapas a seguir:
Etapa 1: coleta e compilação de dados de identificação das fontes e das
técnicas da pesquisa, através das seguintes ações:
9 Levantamento bibliográfico sobre a área em estudo (localização, aspectos
físicos, históricos, socioeconômicos, educacionais e de saúde);
9 Leituras sobre o tema centralidade e rede urbana;
9 Seleção de órgãos públicos e privados para levantamento de dados da
pesquisa;
9 Elaboração de questionários e roteiros de entrevistas para motoristas e
usuários de transporte alternativo.
Etapa 2: trabalho de campo:
9 Pesquisa nos seguintes locais:
(1) Cagepa;
(2) Energisa;
(3) Correios;
(4) Banco do Nordeste;
17
(5) 6º Núcleo Regional de Saúde;
(6) 5ª Regional de Polícia Civil;
(7) 6º Núcleo Regional da Procuradoria do Estado;
(8) Diocese de Patos;
(9)
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE;
(10)
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE;
(11)
3º Batalhão da Policia Militar;
(12)
Prefeitura Municipal;
(13)
Secretarias das instituições de ensino superior;
(a) Faculdades Integradas de Patos (FIP);
(b) Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – Campus
Patos);
(c) Universidade Estadual da Paraíba (UEPB - Campus VII);
(d) Universidade do Vale do Acaraú (UVA);
(e) Pólos de Educação a Distância (EAD).
9 Aplicação de questionários semi-estruturados para a população envolvida
com “transporte alternativo” 1 (diagnóstico de motivação):
o para os motoristas;
o para os passageiros usuários.
9 Foi realizado também um registro fotográfico para visualização dos
elementos que refletem a centralidade e a influência da cidade de Patos.
Etapa 3: sistematização dos dados e conclusões.
1
O transporte alternativo ou informal está sendo utilizado no âmbito deste trabalho como aquele que
constitui de serviço de viagens (inter-municipal, inter-estadual) prestado por motorista (proprietário ou
não) de veículos particulares, que apresentam situação reconhecida legalmente ou não para a
população. Este serviço apresenta-se como alternativa aos serviços de ônibus regulares e tem se
projetado de forma ampla nos últimos anos, merecendo, por si só, estudos mais detalhados.
18
A questão metodológica fundamental é a necessidade de consorciação
entre fontes escritas – análises já produzidas por estudiosos e documentação
primária e a observação e interpretação dos relatos das pessoas entrevistadas.
Essa metodologia propiciou conhecer o objeto de estudo da pesquisa e
problematizá-lo a partir de observações, pesquisa empírica, subsídio teórico,
entrevista e informações obtidas em órgãos e entidades diversas. Tudo isso deu
suporte para a confecção dos mapas e escrita do trabalho, sendo essa a última
etapa da pesquisa. O trabalho apresenta a seguinte estrutura:
A primeira parte, intitulado A gênese da centralidade de Patos, percorre
meandros físicos e históricos que vão desenhando a região e apresenta os arranjos
espaciais que vão conferir à cidade a idéia de centralidade.
A segunda parte, Rede Urbana, destaca a centralidade da cidade de
Patos no contexto da rede urbana, a partir de uma discussão sobre a rede urbana
brasileira e os níveis de centralidade das suas cidades.
Finalmente, a terceira parte, A centralidade e os arranjos espaciais de
Patos, apresentam os arranjos espaciais selecionados e a sua relevância para a
permanência da centralidade da cidade no sertão paraibano. Os arranjos escolhidos
para retratar e confirmar esta posição de Patos foram os serviços oferecidos pelos
setores da educação, saúde, transporte alternativo e da existência de vários
escritórios de órgãos públicos e privados instalados na cidade em função da sua
posição estratégica, da infra-estrutura e dos equipamentos oferecido pela mesma.
Trata-se de uma abordagem inicial, que pretende contribuir para a
reflexão em torno dos temas de desenvolvimento regional na Paraíba e dialogar com
os estudos acadêmicos sobre o tema.
19
Volve um olhar risonho sobre Patos
Que é tua, desde o seu primeiro dia,
E para Deus dirige os nossos atos,
Ó Virgem Santa, Senhora da Guia!
As tuas bênçãos para nós tão caras,
Manda durante toda a nossa vida,
Sobre o vale formoso do Pinharas,
Onde quiseste erguer a tua Ermida.
Nas horas intranqüilas da tormenta,
O teu riso de amor e de alegria,
Seja vigor, que a nossa força aumenta,
Seja farol que para o Céu nos guia!
E, se amar não soubermos ao Senhor,
Ama-o por nós, e dize ao bom Jesus,
Que faça nosso o teu imenso amor,
Como ele, filhos teus, nos fez na Cruz!
(Dom Fernando Gomes, Hino de Nossa Senhora da Guia)
20
2 GÊNESE DA CENTRALIDADE DE PATOS
Este estudo parte do princípio de que os homens ao produzir sua
existência, sua história, produzem também um espaço.
A construção do espaço ocorre e se enreda no processo de constituição
dos sujeitos, no uso e na apropriação dos valores histórico-sociais e culturais.
Portanto, perceber o espaço consiste num movimento de apreensão de tramas
tecidas em torno de sua geografia, sua história, sua economia, sua política e as
práticas sociais dos sujeitos envolvidos.
No âmbito deste estudo, o espaço está sendo tomado como resultado e
representações de relações várias, estabelecidas entre o espaço físico e a
sociedade que o ocupa. Neste sentido, Santos esclarece:
Instância econômica e a instância cultural-ideológica. Isso significa que,
como instância, ele contém e é contido pelas demais instâncias, assim
como cada uma delas o contém e é por ele contido. A economia está no
espaço, assim como o espaço está na economia. O mesmo se dá com o
político-institucional e com o cultural-ideológico. Isso quer dizer que a
essência do espaço é social. Nesse caso, o espaço não pode ser apenas
formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo
conjunto é a Natureza. O espaço é tudo isso, mas a sociedade; cada fração
da natureza abriga uma fração da sociedade atual (1992, p. 1-2).
A partir da intensificação do fenômeno de mundialização, ocorrido do
século XX, as sociedades abriram-se para uma circularidade mais ampla de
influências culturais e econômicas diversas e de informações. Neste contexto, as
relações de identidade dos sujeitos são fabricadas pelo seu modo de vida nos
espaços que construíram e pelos quais transitam. Ou seja, os sujeitos se apropriam,
criam, definem, (des) constroem, legitimam e relacionam-se nos espaços.
É válido ressaltar, nesta perspectiva, que a sua própria natureza é
resultado de ações que lhe atribuem um dinamismo e uma funcionalidade específica,
construindo uma significação social, como fato e fator, que segundo Carlos:
Um espaço que, em última instância, é uma relação social que se
materializa formalmente em algo passível de ser apreendido, entendido e
21
aprofundado. Um produto concreto, a cidade, o campo, o território – nessa
perspectiva o espaço, enquanto dimensão real que cabe intuir – coloca-se
como elementos visíveis, representação de relações sociais reais que a
sociedade é capaz de criar em cada momento do seu processo de
desenvolvimento. Conseqüentemente, essa forma apresenta-se como
história, especificamente determinada, logo concreta (2001, p. 28).
Neste contexto, a cidade se apresenta, como:
[...] uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo
do processo histórico e que ganha materialização concreta, diferenciada,
em função de determinações históricas específicas. [...] A cidade, em cada
uma das diferentes etapas do processo histórico, assume formas,
características e funções distintas. Ela seria assim, em cada época, o
produto da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder
nela centralizado (CARLOS, op. cit., p. 57).
A cidade de Patos como realização humana, uma criação que vai se
constituindo ao longo do processo histórico como um ponto de confluência regional
no sertão da Paraíba, assume em função de uma posição estratégica, central e uma
acessibilidade viária um papel de destaque, tornando-se centro intermediário entre
cidades maiores e menores em diferentes redes urbanas no contexto estadual.
A constituição da cidade de Patos se estabelece num processo histórico
mais amplo, relacionado à formação do perfil territorial brasileiro, que, a partir do
século XVI, situa-se no bojo da configuração do mundo americano, atrelado às
relações de formação e reprodução do capital. Neste contexto, a localidade
estudada interage no processo de formação do seu espaço a partir da suas várias
relações produtivas com o capitalismo em desenvolvimento e ganha visibilidade
regional.
Neste processo encontram-se estratégias e movimentos centralizadores,
estando este ato firmado num contexto imbricado nas condições econômicas,
sociais, políticas e ambientais, que, juntas tornam as cidades pontos estratégicos
dos planos de ações e planejamentos, centrados nas condições de desenvolvimento
que cada uma, por si, necessita para seu desempenho no contexto da hierarquia
das cidades.
22
Um dos fatores que contribuiu e continua sendo um forte atrativo para a
formação e a permanência da centralidade da cidade é a sua localização geográfica.
2.1 Localização da área de estudo
O município de Patos está localizado na mesorregião do Sertão
Paraibano e faz parte da microrregião do próprio nome (Patos) na porção central do
Estado (Figura 1).
Segundo o IBGE (2007), a sede do município fica a 245 m altitude em
relação ao nível do mar, distando cerca de 310 km da capital do Estado – João
Pessoa. Localizada no centro do estado, o município apresenta uma posição
geográfica privilegiada que lhe proporciona uma importância singular, determinada
pelos paralelos 70 01 ’28” de Latitude Sul e 370 16’ 48” Longitude Oeste.
Limite-se, ao norte com o município de São José de Espinharas (a 28 km
de distância), ao sul, com São José do Bonfim (a 16 km de distância), ao leste, com
São Mamede e a oeste, com Santa Terezinha (a 20 km de distância) (Ver Figura 1).
Neste espaço, as feições geográficas naturais também contribuem de
forma direta para caracterizar a região, em que esta situada o município que tem seu
território localizado nas áreas aplainadas do Sertão Paraibano, conhecida como
Depressão de Patos, pertencente ao conjunto de depressões periféricas e
interplanálticas semi-áridas que envolvem o Planalto da Borborema na Paraíba.
Esse conjunto recebe duas denominações: uma que o chamou de Superfície
Sertaneja (AB’SABER apud MOREIRA; GATTO, 1981) e a outra de Depressão
Sertaneja denominada pelo RADAMBRASIL (1981).
23
24
Seu território está inserido climaticamente no domínio semi-árido
subequatorial e tropical que constitui o chamado Polígono das Secas 2 . Em razão do
seu clima, pelas elevadas temperaturas é popularmente conhecida como “Morada do
Sol”.
Seus solos em função das condições da semi-aridez são, na sua maioria,
rasos pedregosos e fortemente condicionados pelas rochas-mãe, por apresentar
uma cobertura vegetal pouco densa e caducifólia que favorece a ação mecânica do
escoamento difuso. A hostilidade dos elementos climáticos faz com que o regime
das chuvas seja caracterizado pela torrencialidade 3 .
O município tem uma população de 97.276 mil habitantes e uma
densidade demográfica de 191,2 hab/Km2, corresponde ao 4º lugar na hierarquia
das cidades do Estado da Paraíba. A população urbana é de 93.605 mil habitantes. 4
O município também apresenta a maior população do sertão paraibano,
bem superior aos municípios como Sousa (63. 783 hab), Cajazeiras (56.051 hab),
Pombal (31.524 hab), Catolé do Rocha (27.548 hab) e Itaporanga (22. 433) que se
destacam também nesta região.
A microrregião de Patos é a sede do município do mesmo nome, é
integrada por nove municípios conforme Tabela 01. De Acordo com os dados
expostos na Tabela percebe-se a diferença populacional existente entre Patos e as
demais cidades que compõe a microrregião na qual estão inseridas, tornando-se um
dos fatores, juntamente com a sua posição geográfica privilegiada, relevante para o
fortalecimento da sua centralidade.
2
Esta área não apresenta uniformidade, compreendendo porções mais e menos chuvosas, mais e
menos exposta às secas periódicas [...] Em áreas como a Chapada do Apodi e trecho do Sertão do
Ceará e da Paraíba o período seco se estende por mais de 8 meses apresentando também
associações vegetais xerófilas (ANDRADE, 1983, p. 95).
3
Esta torrencialidade das chuvas do Sertão sempre presente foi descrita por Coriolano de Medeiros
(apud ALMEIDA, 1980) “No alto sertão a chuva avança de qualquer dos pontos cardeais. Com
imensa surpresa observei uma tarde no município de Patos, vir do poente pesado e prolongado
aguaceiro".
4
Os dados foram obtidos no IBGE (2007), agência Patos.
25
TABELA 1 - População e área dos municípios da Microrregião de Patos
CIDADE
POPULAÇÃO
ÁREA (Km²)
1
AREIA DE BARAÚNAS
2.096
96
2
CACIMBA DE AREIA
3.485
233
3
MÃE D’ ÁGUA
4.017
177
4
PASSAGEM
2.124
112
5
PATOS
97.276
513
6
QUIXABA
1.433
117
7
SANTA TEREZINHA
4.644
358
8
SÃO JOSÉ DE ESPINHARAS
4.913
726
9
SÃO JOSÉ DO BONFIM
3.180
152
123.168
2.484
TOTAL
FONTE: População recenseada e estimada, segundo os municípios - Paraíba – 2007. Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem_final/tabela1_1_12.pdf.
Acesso em 8 de maio de 2008.
A sua localização privilegiada lhe assegurou uma centralidade para onde
convergem dezenas de municípios, destacando-se como centro de comercialização,
prestação de serviços com ênfase na educação e saúde.
Em função da sua localização no estado e com vetores viários
interligando-a com toda a Paraíba e viabilizando o acesso aos Estados do Ceará,
Pernambuco e Rio Grande do Norte sua centralidade torna-se importante. Está
ligada ao sistema nacional de transporte por dois grandes eixos viários centrais: a
rodovia BR 230 e a Rede Ferroviária do Nordeste nos sentidos Leste, Oeste,
também é servida por rodovias transversais, asfaltadas, fazendo ligações
intermediárias com os Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte. A cidade
possui também uma pista de vôos asfaltada utilizada para o transporte diário de
serviço do correio e pequenas cargas. Estes elementos lhe permitem uma grande
acessibilidade viária (Figura 2).
A sua importância geoeconômica próxima ao centro geográfico da
Paraíba e a proximidade com os Estados do Pernambucano e Rio Grande do Norte,
quer por sua vizinhança com a microrregião do Pajeú (PE), com a microrregião de
Caicó e de Currais Novos (RN), lhe concede condições para centralizar as atividades
econômicas de produção e de comercialização.
26
27
2.2 Os Meandros históricos: conquista e formação da cidade
Para enfatizar a importância da relação entre a Geografia e a História,
tratada nesta seção, recorre-se ao conceito expresso por Milton Santos (1997, p.39)
no qual o espaço geográfico constitui "um sistema de objetos e um sistema de
ações" que:
[...] é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história
se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais,
que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados,
objetos técnicos, mecanizados e, depois cibernéticos fazendo com que a
natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina.
A colonização presume domínios territoriais atuando numa lógica de
interesses materiais e simbólicos e numa ordenação do espaço conquistado. A
posse da terra, que posteriormente se tornaria o Brasil, segundo Brum (1999, p.
123):
Foi fruto da expansão marítima e mercantil da Europa, com Portugal na
vanguarda desse movimento. O móvel das grandes navegações e dos
grandes descobrimentos foi o comércio, ou mais precisamente os lucros que
ele poderia proporcionar. Em Portugal, país católico, o objetivo oficialmente
definido era ‘dilatar a fé e o império’. Na prática, mais o Império do que a Fé
(1999, p. 123).
Este processo de conquista e povoamento teve início na região que hoje
se chama Nordeste. Como afirma Andrade (1981, p. 14):
[...] a ocupação do espaço nordestino se processou na época da expansão
colonial européia, como um dos capítulos da revolução comercial, e que
essa ocupação foi feita em função da produção de determinadas
mercadorias, demandadas no mercado europeu e cuja produção só era
possível, então em determinadas áreas do mundo tropical.
28
O território que se constitui hoje como a região Nordeste, foi formado pela
motivação de atender à demanda do mercado europeu e dentro desta ótica a colônia
servia como mercado consumidor para as suas exportações de manufaturas e fontes
de abastecimento de matéria-prima e metais preciosos. É o colonialismo e o
mercantilismo que determinaram a orientação da economia para o comércio exterior,
para a exportação da produção desse espaço.
A cultura do açúcar transformou a paisagem do litoral nordestino, e o
território foi distribuído a partir das cartas de sesmarias. Para Melo (2002, p. 33),
A primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda no século XVI. Na
segunda metade do século XVII e, principalmente no século XVIII, essas
sesmarias alcançaram os pontos mais distantes do território paraibano, o
que representou a expansão deste, com incorporação das terras sertanejas
à colonização.
Dando ênfase Melo (op.cit.) continua ressaltando que a sesmaria 5 , cuja
distribuição está nas bases da formação do latifúndio monocultor (cana-de-açúcar)
no Litoral e Brejo, e do binômio pecuária-algodão, no Sertão, foi a mais importante
forma de ocupação do território paraibano.
As grandes fazendas e engenhos necessitavam de animais de tração e
de corte, cuja cultura, contudo, foi se configurando como uma atividade secundária,
tendo se desenvolvido como atividade complementar à economia açucareira de
exportação que ocupou progressivamente, espaços mais afastados do Litoral,
conhecidos como áreas de abertura de fronteira. Assim a pecuária dividia
inicialmente as mesmas terras que o açúcar. À medida que novas áreas foram
incorporadas à produção açucareira, o gado foi sendo afastado para as terras do
sertão nordestino.
5
As sesmarias eram as regiões incultas e despovoadas, que os reis de Portugal ou os governadores
das capitanias concediam às pessoas de merecimentos de serviços, quer para nela tratarem da
agricultura, quer para situarem os seus gados. (JOSÉ OCTÁVIO, 1983, p. 76). Elas faziam parte do
sesmarilismo Este sistema teve suas origens em Portugal e foi criado com o objetivo principal de
promover a ocupação produtiva de terras não agricultadas através de doações realizadas pelo
Estado. No Brasil, este sistema remonta aos primórdios da colonização no século XVI, quando a
concessão de sesmarias era atribuição dos capitães donatários ou dos governantes das capitanias
reais, como era o caso da Paraíba. Poderemos ver adiante então, como o sistema de concessões de
sesmarias esteve na origem da estrutura fundiária do sertão da Paraíba nas primeiras décadas de
sua colonização. (GUEDES, 2006).
29
Esta atividade pecuária foi se configurando como fornecedora de
alimentos (carne-de-sol) e força motriz (bois e cavalos para os engenhos de açúcar
do litoral durante a época da moagem da cana). Assim, a cana-de-açúcar foi
também indiretamente responsável pela ocupação das áreas situadas mais para o
interior, no Agreste e no Sertão, considerada de boa qualidade para a pecuária ultraextensiva em campo aberto.
O gado foi o grande responsável pela chegada do colonizador no sertão.
A criação do gado também se destacou por possibilitar, segundo Brum (op.cit., p.
134), “a ascensão social de brancos pobres e mestiços, sobretudo pernambucanos e
baianos, muitos deles transformados em proprietários de fazendas de criação, desde
o final do século XVII”.
Saindo da Bahia, atravessando o rio São Francisco em direção ao atual
estado de Pernambuco o gado percorreu todo o interior, chegando aos estados do
Piauí e do Maranhão. Partindo desses dois focos começou a expansão para o todo o
Sertão.
Os caminhos do gado eram muitos longos e para chegar ao seu destino
faziam-se intermináveis percursos. Havia pessoas para condução destes animais (os
vaqueiros) e neste trajeto, iam surgindo vários povoados que começavam a gerir
uma vida social no sertão.
A passagem pela região onde se formaria o povoado de Patos e outras
localidades, como Sousa, Pombal e Taperoá, fazia parte de uma rota que vinha das
terras do Piauí rumo à atual cidade de Olinda, em Pernambuco, conforme mostra a
Figura 3.
30
FIGURA 3 - Caminhos do Gado para Olinda/Recife
FONTE: Andrade (1986, p. 154)
A conquista do Sertão e das Espinharas 6 se inscreve neste quadro de
expansão da fronteira geográfica da região nos séculos XVII e XVIII. O processo de
ocupação durou aproximadamente 52 anos, entre 1670 e 1722, forjada em meio a
negociações e embates violentos com as tribos indígenas da região. 7
Após este período, iniciou-se então, a fase de construção da soberania
dos proprietários, cujos grupos familiares estão na base da formação do caráter
6
A área das Espinharas aqui mencionada se refere à região onde começaram a surgir as primeiras
fazendas de gado nas terras ocupadas pelas tribos dos Pegas e Panatis.
7
Esta mobilização ficou conhecida como entradas e bandeiras, cujo exemplo mais significativo
consiste nas expedições entradistas paulistas, processo percebido em toda a extensão do interior
brasileiro. Sobre o tema para o caso da Paraíba, ver Gonçalves (2007).
31
oligárquico da vida econômica, política e social que caracterizaria todo o território
brasileiro.
A ocupação do território de Patos insere-se, portanto, neste processo
histórico de formação do Sertão da Paraíba, contada por Andrade (1984, p. 114):
[...] na segunda metade do século XVIII, o sertão paraibano era alcançado
por correntes migratórias vindas do Sul, da Bahia, e por correntes que
subiam a Borborema em seu trecho menos íngreme, pelo vale do Ingá e
desciam para o sertão dos Cariris Velhos. A motivação econômica da
conquista era a pecuária bovina e cavalar, de vez que os engenhos de
açúcar necessitavam de um permanente abastecimento da carne – a caça
já começava a rarear – e de animais de trabalho para o transporte da cana
dos partidos para as moendas e do açúcar dos engenhos até os portos. Os
animais eram ainda utilizados como força motriz, naqueles engenhos que
não dispunham de água suficiente, e no transporte de lenha e de outros
carregos. A área a ser ocupada pelos pecuaristas tinha de ser muito
extensa porque, tratando-se de terras de clima semi-árido, com estação
seca anual, às vezes prolongada por vários anos e técnicas de criação
muito rudimentares, necessitava-se de muitos hectares para alimentar uma
rês.
Esse espaço, antes inóspito pelo olhar do europeu (colonizador) começou
a configurar-se frente às necessidades do homem. O espaço ganhou novos
elementos simbólicos que deram visibilidades e dizibilidades a práticas culturais
fortes e marcantes. A religiosidade posteriormente será construída como elemento
de identidade.
À frente desse processo de ocupação está a família Oliveira Ledo, que se
constituiu como mais importante tronco ancestral das “primeiras famílias do sertão”,
oriundos da bacia do médio curso do São Francisco em terras da Bahia. 8 A sua
afirmação econômica foi fortemente assentada num discurso de práticas cristãs.
Nesta frente pioneira, três nomes são citados na conquista e formação humana do
Cariri e dos sertões ocidentais: Teodósio de Oliveira Ledo, Francisco de Oliveira
Ledo e Manoel Garro.
Com base na Figura 4 identificam-se os caminhos da penetração do
Sertão Paraibano. Estas rotas passavam já pelo espaço que mais tarde definiria o
território da cidade de Patos.
8
Ver Lewin (1993), que analisa o processo de ocupação de todo o território nordestino e
especificamente paraibano, a partir das bases familiares e da organização das parentelas
oligárquicas.
32
Na segunda metade do século XVII, João Pereira de Oliveira foi o primeiro
a implantar em solo das Espinharas as primeiras fazendas de gado. Esta terra
33
localizava-se próximo ao encontro de dois rios: Cruz e Farinha, 9 que proporcionava
uma verdadeira encruzilhada de caminhos, onde os tropeiros faziam paradas,
atraídos pela água corrente e pela fartura das pastagens.
Sobre estas terras, Wanderley (1994, p. 23-24) fez o seguinte relato:
João Pereira de Oliveira, residente em sua propriedade ‘Farinha’, termo da
Espinhara, adquirida por seu pai, conforme sesmaria chamada ‘Data da
Ribeira dos Espinharas’ de 1670 assinada por Alexandre de Souza Ribeiro,
Capitão Mor e Guerra do Estado do Brasil, vendeu-a ao coronel Domingos
Dias Antunes. Coevo era o Sargento-Mor José Gomes Farias, proprietário
de ‘Itatiunga’, ou ‘Pedra Branca’, limite da ‘Farinha’, vendida depois ao
referido Domingo Dias Antunes. Com o falecimento de Domingo Dias
Antunes o seu patrimônio foi dividido por seu dois herdeiros – Mariana Dias
Antunes, esposa do alferes João Gomes de Melo, e Antônio Dias Antunes.
Por sua vez Antônio Dias Antunes vendeu a sua partilha ao Capitão Paulo
Mendes de Figueiredo, já morador na fazenda ‘Patos’, denominação firmada
por existir ali uma lagoa, à margem do rio Espinharas, onde se juntavam
muitos Patos.
De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (1960, p. 319320), o nome da cidade de Patos provém do topônimo Lagoa dos Patos, que passou
a designar o nome desta cidade. Nesta lagoa, hoje aterrada, às margens do Rio
Espinharas, se originou a povoação, mais tarde denominada cidade de Patos.
Dentre as diversas formas de ordenamento e orientação no espaço
possível, é essencial atentar para a importância dos eixos fluviais, fundamentais
para a orientação dos primeiros colonizadores sertanejos, conforme ressalta
Gonçalves et al. (1999, p. 25):
Os rios constituíam as principais vias de penetração no sertão paraibano. A
facilidade de circulação e a disponibilidade de água condicionaram a
ocupação das margens fluviais e produziram o ‘povoamento de ribeira’, isto
é, a instalação de grandes fazendas de gado ao longo dos rios. As
principais ribeiras do sertão da Paraíba, nos fins do século XVIII, eram a
ribeira do Cariri, a do Piancó, a do Piranhas, a do Sabugi, a do Patu, a do
Rio do Peixe, a do Seridó e a do Espinharas.
9
Com a união dos dois cursos o rio passa a ser chamado pelos índios, de Pinharas, traduzido para a
língua dos brancos como Espinharas.
34
Estas linhas fluviais eram chamadas de ribeiras 10 . Nestas paisagens, o
gado ia se espalhando como a riqueza local, juntamente com o apresamento de
índios, que na lógica mercantilista consistia numa mercadoria.
Para Silva e Araújo (1985), a colonização do Sertão Paraibano foi
baseada numa distribuição de terras baseada em forma de sesmarias, e os
sesmeiros eram trabalhadores, geralmente mamelucos, que se ocupavam da criação
de gado e plantio de algodão, atividades desenvolvidas nos vales dos rios Taperoá,
Espinharas, Piancó, Piranhas e do Peixe.
Construir o espaço também implicava em construir elementos simbólicos
de constituição desse próprio espaço. A fé cristã, representada na construção de
capelas em terrenos doados, via de regra, pelas elites locais. As tramas da história
iam se definindo a partir de uma ordem localizada, a produção mercantilista da
época.
O espaço do poder familiar em Patos ia sendo fabricado a partir dos
interesses políticos e econômicos e simbolicamente demarcados nas doações, cujos
registros permanecem na história da cidade:
Paulo Mendes de Figueiredo e sua esposa, Maria Teixeira de Melo, e o
alferes João Gomes de Melo e sua Mulher, Mariana Dias Antunes,
aspiravam fundar uma povoação com a proteção de Nossa Senhora da
Guia. Em 26 de março de 1766 é doado por estas famílias o patrimônio de
sua futura protetora e ereção de sua capela, sessenta mil réis de terras no
sítio Patos, e outros sessenta mil réis no sítio Pedra Branca. No dia 11 de
novembro de 1768, Simão Gomes de Melo e sua esposa Josefa Faustino
Barreto, Domingos Dias Antunes e sua esposa Ana Teresa de Figueiredo,
João Gomes de Melo, Felipe Gomes de Melo e do Capitão Paulo Mendes
de Figueiredo, ratificaram a doação de cento e vinte mil réis de terras para
patrimônio da Capela Nossa Senhora da Guia, nos sítios Patos e Pedra
Branca. Em 1772 tem início a construção da capela Nossa Senhora da Guia
hoje Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nas terras dos Pegas e
Panatis, que se incorporou à freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso,
de Pombal (PARAÍBA, 1985, p. 29).
No dia 28 de novembro de 1768 foi ratificada essa doação de terras à
Igreja por parte das famílias proprietárias. Em 1772 teve início à construção da
capela, e no mesmo período era incorporada à Freguesia de Nossa Senhora do
Bom Sucesso de Pombal, e instalada, no dia 04 de maio deste corrente ano,
10
Porção de terreno banhado por um rio; pequeno rio, ribeirão grande. (DICIONÁRIO
CARTOGRÁFICO, p. 595).
35
registrada na Carta Régia, datada de 26 de julho de 1766 (FERNANDES, F.S., 2003,
p. 37).
No percurso dos acontecimentos, os aspectos relacionados ao divino e
ao profano iam configurando a vida social sertaneja. Os espaços de sociabilidade
iam sendo guiados pela mescla de diferentes interesses dos sujeitos envolvidos e
sempre amparados num discurso atrelado à fé católica na forma de celebrações e
costumes que iam se estabelecendo de forma definitiva na cultura local.
A conclusão da capela implicou num processo de concentração de
habitações nos seus arredores. Faz parte da gênese da maior parte das cidades
nordestinas formarem-se ao redor de uma capela, sob a invocação de um santo ou
santa, que passava a padroeiro ou padroeira, após a elevação do povoado a vila. As
Santas eram preferidas na escolha dos oragos 11 , a exemplo do que aconteceu com
Patos.
Em 1788, por Provisão, foi criado o Distrito de Patos, subordinado a
Pombal. O aumento considerável no número de fiéis motivou o surgimento de um
movimento popular em defesa de sua elevação a Paróquia com a criação de
Freguesia de Nossa Senhora da Guia. No dia 06 de outubro de 1788, através da
Provisão Régia de nº 14, com seu desmembramento da Gloriosa Senhora Santana
do Seridó (cuja sede localizava-se em Caicó, no Rio Grande do Norte), e
incorporada à Diocese de Olinda coordenada pelo Bispo Dom Frei Tomaz da
Encarnação Costa e Lima, sendo seu primeiro vigário o Padre José Inácio da Cunha
Souto Maior.
Na sessão de 5 de março de 1830, o Conselho do Governo da Província
da Paraíba encaminhou ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do
Império, o Marquês de Caravelas, o pedido de criação de três novas Vilas e
Câmaras: Bananeiras, Amélia do Piancó e Imperial dos Patos. A primeira foi
desmembrada de Areia e as outras duas de Pombal.
Em 1831 a Assembléia Geral assina o ato criando a primeira escola desta
povoação. Não há registros do ensino em Patos anterior a esta data.
Depois de 66 anos subordinada à vila de Pombal, Patos, no dia 9 de maio
de 1833, foi elevada à categoria de Vila. Nesta data verificou-se a emancipação
11
O santo da invocação que dá nome a uma capela.
36
política de Patos, pois de acordo com a legislação do Império, a elevação de uma
povoação à categoria de vila, dava-lhe o status de município, com autonomia e
Conselho Administrativo próprio.
Vale ressaltar que tanto as vilas como as cidades eram governadas pela
Câmara, nas vilas compostas de sete membros e nas cidades de nove, constituindo
esta a única diferença. A escolha dos vereadores se daria através de um processo
eletivo baseado no critério de posses, onde o mais votado seria o Presidente. Não
havia Prefeito, mas existia na estrutura das Câmaras a existência de um Procurador,
que era empregado, nomeado por quatro anos, ao qual competia exercer atribuições
de natureza executiva. Embora tenha existido Prefeito, como executivo municipal em
algumas províncias isoladas, somente em fins do século XIX foi criado o cargo para
todos os municípios do Brasil, seja nas cidades, seja nas vilas.
Neste mesmo ano em que Patos é elevada a categoria de Vila é criada a
Agência dos Correios. Em 1845, a população paroquial de Patos era de 1.524 fogos
e 15 eleitores, e em 1851, a estatística registra de 4.406 habitantes livres e 600
escravos. (FERNANDES, F.S., 2003 p. 65). O desenvolvimento comercial neste
período consistia na criação de gados e na prática da agricultura.
Em 1853, é fundada, na Paróquia de Nossa Senhora da Guia, a
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Em 24 de fevereiro de 1855, Patos já
tinha, agregadas à sua igreja principal, as capelas de Santa Luzia, Santa Maria
Madalena, Nossa Senhora da Conceição do Estreito e Nossa Senhora da Conceição
de Passagem.
No ano de 1855, os limites da Vila de Patos eram: ao nascente – São
João; pelo poente, com Piancó e Pombal; pelo sul, com Município de Ingazeira, da
Província do Pernambuco e, pelo norte, com a vila de Caicó, no Rio Grande do
Norte. Neste período Patos contava com os Distritos da Vila de Santa Luzia que se
destacava pela criação de gado, cavalos, ovelhas e cabras e o da Serra do Teixeira
que se sobressaia na agricultura. (FERNANDES, op.cit., p. 67).
Quase dez anos depois, no ano de 1860, em visita a Patos, o Presidente
da Província, Luiz Antônio da Silva Nunes, que tomara a si o propósito de conhecer
todo interior da província, ao visitar a Matriz, fez o seguinte comentário: “a Matriz não
é das piores, mas ameaça ruína e tem uma grande fenda no arco do cruzeiro”.
37
No entanto, somente anos mais tarde, a partir de 1878, o padre Joaquim
Alves Machado, filho da cidade, assumiu o cargo de Vigário Titular de Nossa
Senhora da Guia e promoveu a reforma da Matriz, justificada também pelo já grande
número de fiéis.
Mas esta medida não foi suficiente para solucionar o problema do espaço,
o que acarretou uma consulta popular sobre a viabilidade da construção de uma
nova igreja, mais espaçosa. Foi assim que, em 1893, foi assentada a pedra
fundamental da igreja que posteriormente seria a nova Matriz Nossa Senhora da
Guia, na então Rua Alegre, depois chamada de Rua Grande e atualmente Solon de
Lucena.
FIGURA 5 - Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição,
localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro.
FONTE: <www.patosemrevista.com.br>. Acesso em: 26 jun. 2008.
Mesmo iniciada uma nova paróquia, a antiga matriz também foi reformada
e atualmente é conhecida por igreja de Nossa Senhora da Conceição.
38
Com a expansão da Vila, favorecida pela posição geográfica, a povoação
“dos Patos”, vai se firmando como um epicentro dos caminhos de viajantes que
cruzavam o território paraibano em todos os sentidos, chegando, desta forma, a
despertar nas autoridades, a necessidade de criação de um novo município tendo
por sede a localidade.
Deste período, Mariz (1945, p. 69) a descreve, de forma poética, a forma
pela qual a cidade se tornaria uma referência que perdura até os dias de hoje:
Patos, o núcleo, a sede, era realmente ’ma carícia num meio áspero’, os
que vinham percorrendo as nossas antigas vilas e cidades, tristes no seu
isolamento e no seu atraso, os que vinham sedentos de amenidade e de
estilo, chegavam a vossas portas como num oásis.
Fernandes (op. cit.) relata que no final do século XIX, conforme censo de
1892, a população estimada da Vila era de 800 almas, 138 prédios: três sobrados, o
edifício em que funcionou o Conselho Municipal, a Cadeia Pública, estabelecimentos
de ferragens e outros. Também aponta a existência de diversas ruas, um grande
pátio – o da Matriz – onde, em toda segunda-feira, acontecia a feira semanal, que
constituía o ponto máximo da vida econômica local, com o afluxo de sitiantes,
comerciantes de fora e da própria Vila.
O autor ainda informa que a vila irrompe o século XX com a presença de
escolas primárias e uma economia baseada na agricultura e pecuária. Contava
também
com
engenhos
para
a
fabricação
de
rapadura,
bolandeiras
de
descaroçamento de algodão e várias fazendas de gado.
Toda esta vida social ia sendo fomentada por um fluxo constante de
viajantes que por ali se encontravam e iam fortalecendo o lugar como um ponto de
referência no sertão, que interligava viajantes da Paraíba, Ceará, Rio Grande do
Norte e Pernambuco.
2.3 Um olhar para a cidade no século XX e XXI
A Vila de Patos é elevada à categoria de cidade, conforme a Lei 200 de
24 outubro de 1903, oficializada em 1º de fevereiro de 1904, numa cerimônia
39
presidida por Sizenando Flórida de Sousa, Presidente do Conselho Municipal. Em
dezembro deste mesmo ano, Sizenando Flórida de Sousa e José Pedro Cabral são
nomeados para os cargos de prefeito e vice-prefeito e tomam posse em 31 de
janeiro de 1905. (FERNANDES, F. p. 144), e o aniversário da cidade é comemorado
no dia 24 de Outubro.
Finalmente, em 1906, concluída a construção da igreja que seria a nova
Matriz de Nossa Senhora da Guia, ocorreu a sua transferência para a Rua Alegre
(depois Rua Grande e atualmente Solon de Lucena). O início de suas atividades
aumentou ainda mais o número de fiéis. A seguir, uma imagem da nova Matriz de
Nossa Senhora da Guia.
FIGURA 6 - Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da
Conceição, localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo
Mota) - Centro.
FONTE: <www.patosemrevista.com.br>. Acesso em: 26 jun. 2008.
40
FIGURA 7: A segunda igreja, na Rua Alegre (Sólon de Lucena)
FONTE: Acervo pessoal (1970)
FIGURA 8: Catedral após reformas
FONTE: Acervo pessoal (1976)
41
A estação telegráfica chega em 1908, e um vislumbre da vida urbana no
início do século XX se apresenta a seguir (Figura 9). O comércio, inicialmente
localizado na praça da primeira Igreja Nossa Senhora da Guia (depois Praça João
Pessoa e atualmente, Praça Edvaldo Mota) foi expandindo-se pelas imediações e
concentrando-se na Rua Grande (atual Solon de Lucena).
FIGURA 9 - A Rua Grande – Atual Solon de Lucena.
FONTE: www.patosemrevista.com.br. Acesso em 26 jun. 2008.
Em 1914, a imprensa é inaugurada através do primeiro jornal, a ‘A Voz do
Sertão’ e posteriormente surgiu também ‘O Jornal do Sertão’.
Na década de 1920 já existiam várias escolas que ofereciam os cursos
primário, secundário e médio, inclusive os sistemas de: externato, internato e semiinternato e aulas noturnas para o ensino das “Ciências Comerciais”. Neste período já
se inicia um pequeno processo de convergência de alunos dos arredores em busca
dos serviços educacionais que a cidade oferecia.
Na década de 30 são criadas escolas estaduais através de decretos, a
exemplo o Grupo Escolar Rio Branco (1933). Em 1937 é instalado o Ginásio
Diocesano e em 1938 a Congregação das Filhas do Amor Divino, representada
pelas suas religiosas para fazerem o Ginásio Cristo Rei funcionar. A partir do
42
funcionamento desses do Ginásio Cristo Rei, com o Normal Livre e o Diocesano com
o curso primário e ginasial, acontece uma arrancada na educação nesta cidade.
Em junho de 1931 aconteceu a primeira Feira de Gado. O ciclo do gado
aqui entendido como fator econômico impulsionador e mantenedor que fez de Patos
uma referência regional, perdurou desde os primeiros tempos da ocupação territorial
até os anos 1940. Entre 1940 até 1950 Patos possuía a maior feira de gado do
Sertão do Estado da Paraíba, que nos meses de junho a agosto, quando a feira
atingia o seu auge chegava-se a ter feiras com 2.000 a 2.500 reses, tornando-se um
dos maiores acontecimento local (FERNANDES, A.S., 2003).
Entre as décadas de 1930 e 1940 o algodão despontava como uma nova
possibilidade de crescimento econômico, e provocando inclusive a chegada da linha
férrea da Rede de Viação Cearense (1944), ligando Patos a Fortaleza. Percebe-se
que a ferrovia que chega a cidade vem do Ceará e não do estado da Paraíba.
A Figura 10 mostra o Mapa da Rede Ferroviária – século XIX, embora em
Patos este meio de transporte só tenha chegado no século XX. É apenas em 1958
que é inaugurado o trecho que liga Patos a Campina Grande, percebe-se a posição
estratégica da cidade, servindo como ponto intermediário entre o sertão e Campina
Grande importante centro comercial do interior paraibano.
As grandes usinas de algodão atraem duas poderosas organizações da
indústria e do comércio algodoeiro; a Anderson Clayton & Cia Ltda. (americana) e a
SANBRA (argentina), atraídas pelas condições especiais oferecidas pelo Governo
Estadual de Argemiro Figueiredo (1935-1940), configuradas na isenção de impostos
e as facilidades de crédito e câmbio. Na década de 1940, por conta da conjuntura
nacional, das pragas, das secas, as colheitas do algodão decresceram. O problema
do algodão em Patos era decorrente também e principalmente da conjuntura
nacional. Este ciclo prolongou-se até a década de 1970.
43
FIGURA 10 - Mapa da rede ferroviária da Paraíba
FONTE: Gonçalves et al. (1999, p. 25)
Continuando na década de 1940, o governo do Estado ampliou o número
de escolas estaduais na zona urbana e rural, como também nos seus distritos entre
eles: Cacimba de Areia, Passagem, Salgadinho, Santa Terezinha, São José de
Espinharas e São José do Bonfim.
Neste período, os Ginásios Diocesanos e Cristo Rei com o sistema de
internato, tinham sob seus cuidados, alunos de mais de vinte municípios sertanejos,
entre eles: Sousa, Cajazeiras, Catolé do Rocha, Brejo do Cruz, Misericórdia (atual
Itaporanga), Piancó, Coremas e também dos estados do Ceará, Rio Grande do
Norte, Pernambuco, Bahia e Alagoas. (PARAÍBA, 1985).
Pode-se mencionar ainda, um breve período de exploração aurífera na
região, ocorrido entre os anos 1940 e 1950, no garimpo de São Vicente localizado
no município de Catingueira. Esta mina influenciou na economia de Patos uma vez
que alguns dos proprietários eram residentes em Patos. Em 1941 o Banco do Brasil
é instalado na cidade. Este fato merece destaque em razão da infra-estrutura que
estava se formando e que determinaria a convergência para a cidade da população
do seu entorno em função dos serviços oferecidos. Em 1948 é autorizada pela Lei nº
9 a doação de um terreno, à Legião Brasileira de Assistência (LBA) para a
44
construção do Hospital Regional de Patos. No mesmo ano ocorre a inauguração do
novo conjunto elétrico adquirido pela Prefeitura Municipal para a iluminação urbana.
A partir de 1930, a instalação das usinas de algodão, fomentou a indústria
têxtil, e a partir dos anos cinqüenta ganhou impulso as fábricas de produtos
alimentares, confecções, calçados, couro, mais de 150 (FERNANDES, F.S., 2003).
A partir, principalmente da década de 1960, as veredas e caminhos iam
se convertendo em rodovias, ferrovias que, assumindo um fator proeminente para a
de uma hinterlândia. A BR 230 fortaleceu ainda mais a posição da cidade como um
grande centro de distribuição de mercadorias e serviços para todo o Sertão
Paraibano, incluindo vários municípios do estado do Rio Grande do Norte e
Pernambuco. Nesta década é instituída a Fundação Francisco Mascarenhas (1964),
uma entidade jurídica, com finalidade educacional de nível superior, com sede na
cidade de Patos.
As décadas de 1970, 1980 e 1990 são marcadas pelo crescimento
impulsionado pelo comércio e indústria de tal forma que sua dependência do
mercado de Campina Grande diminuía na medida em que começava a estender
relações econômicas com centros maiores como Recife. Em busca de mercados
maiores Recife passa a ser uma opção para os compradores.
Cresce o setor educacional, especialmente o do superior. São autorizadas
na década de 70 a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos, Faculdade de
Ciências Econômicas de Patos, a Escola de Agronomia e Medicina Veterinária,
mantidas pela Fundação Francisco Mascarenhas. Os cursos de Agronomia e
Veterinária foram sendo encampados pela Universidade Federal da Paraíba, hoje
Universidade Federal de Campina Grande.
Nas décadas finais do século XX e início do século XXI toda uma malha
de serviços de infra-estrutura se instala – bancos, emissora de rádio, jornais,
transporte, hotelaria, escola – fortalecendo a oferta de serviços na região e epicentro
dos deslocamentos de um significativo contingente populacional, fazendo com que a
cidade apresente uma população flutuante.
Ainda é importante observar o fenômeno conhecido como turismo
religioso, que representa uma fonte de renda proporcionada por romeiros humildes
45
que vêm da própria região em peregrinação a alguns lugares, como a Cruz da
Menina, por exemplo.
FIGURA 11 - Área de abrangência da Diocese de Patos.
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007, adaptado pela autora).
Embora não tenha sido objeto da pesquisa de campo, é interessante
observar que a cidade concentra, inclusive no plano da religiosidade, um papel de
centralizador das atividades da Igreja, conforme se pode visualizar na Figura 11, que
apresenta a área de abrangência da Diocese de Patos:
Na Figura 12, a atual Rua Sólon de Lucena, que concentra as atividades
comerciais e reflete as transformações históricas, através de um processo contínuo
de (re) construção da sua linha comercial.
46
FIGURA 12: Rua Sólon de Lucena
FONTE: Acervo pessoal (2008)
O setor primário tem sido reaquecido com a perspectiva de uma
produção significativa em torno da cultura do algodão colorido, que tem sido
desenvolvida pela Embrapa e se apresentado no mercado como um produto
ecológico, surgido a partir das preocupações ambientais no século XXI.
Atualmente, de acordo com os dados do IBGE (2005), o município se
apresenta como a sexta economia do Estado e está classificado como capital
regional.
47
Num cantinho da minha pátria amada e dentro do meu coração
Está minha terra adorada de sonhos e de tradições
O seu nome foi tirado da lagoa dos patos tranqüilos de lá.
No mundo uma terra tão boa eu creio, meu Deus, que não há.
Patos, te amo Patos,
Patos, eu sempre hei de amar
A riqueza escondida no teu seio não pode ninguém calcular.
De artista, a cidade é um esteio, são lindas as morenas de lá.
Nos teus campos é bonita a alvorada nos rios que correm por lá.
As loiras meninas douradas derramam perfume no andar.
Patos, te amo Patos,
Patos, eu sempre hei de amar
O progresso foi chegando de repente e os patos fugiram de lá
Deixando a saudades na gente e a ânsia de vê-los voltar.
Os seus filhos nos recantos mais distantes sussurram seu nome sutil.
São homens de feito brilhantes amando e honrando o Brasil
Patos, te amo Patos,
Patos, eu sempre hei de amar
(Amaury de Carvalho, Hino de Patos)
48
3 A REDE URBANA
A palavra rede tem a sua origem no termo francês réseuil (originário do
latim retiolus) e significava, inicialmente, um conjunto de linhas entrelaçadas. Por
analogia, chamamos nós às intersecções destas linhas. Pode-se fazer uma
comparação com as vias de acesso até determinados lugares ou de vias de
comunicação, de elementos vivos ou não de fontes de energia e de informações.
O ordenamento do espaço em redes tem como função primordial facilitar
e agilizar a comunicação e a circulação dos fluxos entre um ponto e outro do espaço,
podendo isto ser observado em todas as escalas de análise, desde o espaço local,
até o espaço globalizado.
De acordo com Corrêa (2001) as redes se manifestam, sobretudo em uma
cada vez mais complexa rede urbana cujos centros são do ponto de vista funcional,
simultaneamente especializados e hierarquizados, focos, portanto de diversos
fluxos.
O estudo das redes conforme foi colocado está relacionado com a
urbanização, com a divisão territorial do trabalho e com a diferenciação crescente
que esta estabeleceu entre as cidades, tornando-se assim, um recurso valioso para
a compreensão da dinâmica territorial do país.
A temática acerca da rede urbana vem provocando polêmicas discussões
no âmbito geográfico, no período compreendido entre os anos de 1960 a 1990.
Corrêa (2001) e Santos (1982b) analisaram a rede urbana brasileira e suas
metamorfoses diante das transformações estruturais que ocorreram no país a partir
de meados do século XX, contribuindo para essa discussão no Brasil.
A rede urbana é algo a ser analisado a partir do urbano, urbanização e
aglomeração urbana, pois sem essas três categorias fica impossível conhecer esse
fenômeno, que em cada parte do mundo tem forma e característica muito particular
no que diz respeito a sua definição como fenômeno.
No que se refere sua definição como fenômeno não se pode deixar levar
em consideração um conjunto de elementos.
49
Para melhor entendimento do que seja rede urbana é importante a
definição dessas categorias.
Urbano - é uma abstração do espaço social, que é o espaço total. Atribuise, ao termo urbano, o que se considera próprio das cidades. Não se deve fazer
referência ao urbano apenas pelo espaço físico das cidades, mas também pela sua
organização social, política e econômica e também pelo modo de vida típico das
cidades. Segundo Corrêa (1995, p. 11):
A ação destes agentes, é complexa, derivada da dinâmica de acumulação
de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de
produção e dos conflitos de classe que dela emergem. Assim, estas ações
provocam um constante processo de reorganização espacial que se realiza
através da incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do
uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação
diferenciada da infra-estrutura e mudança do conteúdo social e econômico
de determinadas áreas da cidade.
Assim, o espaço urbano extrapola os limites físicos das cidades, pois
essas características também são encontradas em parcelas do espaço rural. É um
dos elementos de estudo do planejamento urbano (CORRÊA, op. cit.). É, portanto,
um produto resultante de ações sociais, econômicas e político-institucionais
acumuladas através do tempo no espaço físico.
ƒ Urbanização - A urbanização aqui é entendida como um processo de
transformação da cidade e de generalização do modo de vida urbano. No estágio
atual do processo de urbanização impõe-se um modo de vida absolutamente distinto
do modo de vida tanto das cidades pré-industriais (obras) quanto do modo de vida
rural. Estes passam a existir na sociedade urbana como resíduos de épocas
anteriores. Tais resíduos dos modos de vida anteriores ao modo de vida urbano
atual são fundamentais na análise. Para Davis (1982, p. 14):
O fenômeno urbanização não é nada mais do que uma forte concentração
populacional no estabelecimento urbano, que poderia ser caracterizada pela
passagem de uma forma menos densa para uma densidade populacional
mais elevada (1982, p. 14).
50
Davis (op. cit) acredita que o processo de urbanização tem início e fim,
mas o crescimento das cidades não tem um limite. Isso implica que a migração da
população de campo para a cidade não pode ser um processo permanente, pois ela
é muito inferior em alguns países e o crescimento vegetativo das cidades não tem
fim e continua crescendo. Winth (1973, p. 96) diz que, para fins sociológicos, “a
cidade pode ser definida como um núcleo relativamente grande, denso e
permanente de indivíduos socialmente heterogêneos”. Dessa forma, são enfatizadas
as variáveis; tamanho, densidade, heterogeneidade e permanência.
Segundo Souza (1999) o espaço urbano não se limita a cidade, esta e o
espaço rural se mesclam. A partir dessa definição podemos pensar a urbanização
como o local onde está a produção, as classes sociais e a divisão do trabalho. Ela é
resultado de um conjunto de ações humanas, que procuram modificar a natureza
para seu conforto e melhoria na qualidade de vida.
ƒ Aglomeração urbana - Com relação ao tempo histórico de surgimento
as aglomerações urbanas datam tempos de certa forma muito remotos, pois existem
alguns dados que comprovam que as primeiras cidades tenham originado-se há
mais ou menos três mil anos a.C.
Munford (1998) sugere que as primeiras aglomerações sedentárias teriam
ocorrido junto a antigos locais cerimoniais, uma vez que, mesmo no período nômade
os grupos humanos retornavam periodicamente a determinados locais ou cavernas,
provavelmente para funções rituais.
As aglomerações urbanas surgiram nas proximidades de rios onde era
favorável a prática agrícola para garantir a subsistência da população onde
ali estava se aglomerando. Durante os vários períodos da história humana
as aglomerações urbanas passaram por uma série de características, que
diferenciaram as mesmas a cada período histórico. Dentre as características
pode-se citar a da cidade primitiva que tinha como feição a cidade eram
fossos, a muralha e o palácio real, posteriormente essas cidades foram
adquirindo novas características a cada fase do desenvolvimento da
humanidade (MUNFORD, 1998, p. 19).
Um dos fatores que mais contribuíram para o desenvolvimento e o
crescimento dos espaços urbanos foram os fluxos migratórios, que se iniciaram no
continente europeu e espalharam-se nos demais continentes.
51
Os estudos sobre redes urbanas têm se constituído em uma importante
tradição no âmbito da Geografia devido à consciência do significado que o processo
de urbanização passou a ter, sobretudo a partir do século XIX, ao refletir e
condicionar mudanças cruciais na sociedade, no entanto não podendo deixar de
ressaltar a importância dos conceitos acima mencionados para se entender o que
seja rede urbana.
Como o espaço, as redes urbanas apresentam grandes dificuldades de
conceituações em virtude da amplitude da temática. Corrêa define como:
Um conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si. É [...]
um tipo particular de rede na qual os vértices ou nós são os diferentes
núcleos de povoamento dotados de funções urbanas, e os caminhos ou
ligações dos diversos fluxos entre esses centros [...] a rede urbana é um
produto social, historicamente contextualizado, cujo papel [...] é [...] articular
toda a sociedade em uma dada porção do espaço, garantindo a sua
existência e reprodução (2001, p. 93).
O autor ainda coloca que a rede urbana, é um produto social,
historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações
sociais especializadas, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço,
garantindo a sua existência e reprodução.
Dentro dessa linha de pensamento a cidade é vista como um organismo
urbano que atende às necessidades primárias e imediatas das populações locais.
Assim, esta definição abrange organismos de tamanhos diversos, fornecedores de
diferentes serviços conforme a época e o lugar onde se situam (SANTOS, 1982b).
A cidade pode ser entendida como uma morfologia material e o urbano,
como uma morfologia social (LEFÉBVRE, 1991, p. 49). Nesse sentido, a cidade,
para o autor, seria “Realidade presente,
imediata, dado prático-sensível,
arquitetônico – e por outro lado o ‘urbano’, realidade social composta de relações a
serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento”.
A cidade é a base material onde se desenvolvem as relações sociais que
em conjunto definem o modo de vida urbano, ou simplesmente, o urbano. Tal modo
de vida, inclusive, tende a se generalizar a ponto de predominar na sociedade como
um todo, formando a sociedade urbana, que está além da cidade (morfologia
52
material), podendo estar também fora dela, nas morfologias rurais, no campo, que se
urbaniza, mesmo que a cidade não esteja nele. O urbano (como modo de vida)
efetivamente pode estar.
No entanto, tem-se de tomar cuidado com essa distinção entre a cidade e
o urbano colocada acima, pois ela pode tornar-se perigosa, porque “o ‘urbano’ não é
uma alma, um espírito, uma entidade filosófica” (LEFÉBVRE, op. cit, p. 49), estando
dialeticamente vinculado à cidade, a uma base prático-sensível indispensável.
Uma base que constitui, muitas vezes, um centro (ou centros) dessa vida
urbana que, segundo a interpretação de Lefébvre (1975), tende a se generalizar por
toda a sociedade, configurando a sociedade urbana, na qual o rural e todos os
modos de vida anteriores não desaparecem, mas tornam-se residuais. A cidade
preexiste em relação ao processo de urbanização, o qual tem como indutor o
processo de industrialização.
Para Lefébvre (op. cit.), a cidade era uma obra, no sentido de uma obra
de arte, antes da industrialização. O modo de vida urbano, engendrado nas cidades
pré-industriais, fazia com que o espaço fosse apropriado pelos seus cidadãos. O
valor de uso do espaço predominava sobre o valor de troca. No entanto, a partir da
industrialização, a cidade converte-se em produto do capital e a seu serviço. O valor
de troca passa a predominar sobre o uso.
Além disso, esse novo urbano se generaliza, tendencialmente, à toda a
sociedade, faz com que a cidade (pré-industrial) imploda e exploda, configurando em
determinados locais as grandes metrópoles, que têm um poder de controle sobre
extensas porções do território. Um controle que está longe dos cidadãos (estes,
agora alienados, não se apropriam do espaço), que está nas mãos dos agentes do
capital (LEFÈBVRE, op. cit.).
No estágio atual do processo de urbanização impõe-se um modo de vida
absolutamente distinto do modo de vida tanto das cidades pré-industriais (obras)
quanto do modo de vida rural. Estes passam a existir na sociedade urbana como
resíduos de épocas anteriores. Tais resíduos dos modos de vida anteriores ao modo
de vida urbano atual são fundamentais na análise.
Por
isso,
surge
a
abordagem
das
diversas
espacialidades
/
temporalidades / sociabilidades que se sobrepõem vinculadas, sendo muito
53
complicado tratar de uma sem tocar nas outras, ou seja, seria como falar em espaço
sem sociedade, ou em sociedade sem espaço, ou então separar o tempo do espaço
e vice-versa. Não há história sem espaço e tampouco espaço sem história.
Se o espaço é social, tem uma história. E a história, sendo social, também
ocorre em determinados espaços com implicações específicas; por isso, tem uma
espacialidade, ainda que, muitas vezes, omitida. Também aqui recorre-se a Lefébvre
(1975), quando ele parte da idéia de que a cidade “é um espaço-tempo e não
somente uma projeção de uma estrutura social, da sociedade como um todo em um
mero espaço” (p. 142).
A rede urbana é, pois, tida aqui como uma categoria socioespacial, o que
inclui diversas espacialidades / temporalidades / sociabilidades sobrepostas. Esse
entendimento sobre a rede urbana aqui exposto foi o ponto de partida para a busca
da compreensão da importância da centralidade da cidade de Patos. Vale ressaltar,
que Patos deve ser entendida como uma espacialidade que tem sua existência
determinada pela relação dos processos históricos mais amplos com os processos
sociais que ocorrem na escala local e regional. Por sua vez, a sociabilidade desta
cidade está vinculada à idéia de um determinado modo de vida, ou seja, uma
organização geral das relações sociais entre os indivíduos e entre os grupos num
determinado momento.
Em suma, estes três termos remetem à mesma idéia geral, porém o
acento é que os torna diferentes. Ou seja, se falamos em espacialidade, coloca-se o
acento no espaço, se usa o termo temporalidade, acentua-se o tempo e assim por
diante. Dependendo do autor, o termo utilizado pode variar, mas a idéia que está por
trás no uso desses termos é basicamente a mesma. Magnani (2000), por exemplo,
prefere usar o termo sociabilidade.
Martins (1992), por sua vez, utiliza o termo temporalidade para designar
esta coexistência de tempos datados diversos. Além disso, a noção de
espacialidade traz consigo a idéia de processo em permanente movimento, ou seja,
não se trata do espaço em si, como objeto analítico, mas do espaço na história,
pensado como processo histórico, incluindo tanto o realizado quanto o possível, num
constante movimento dialético. Mesmo porque não existe espaço a priori, ele só
pode ser pensado como espaço social, não sendo uma categoria independente da
realidade.
54
Nesse
sentido,
a
noção
de
espacialidade,
conforme
definido
anteriormente, é mais potente como objeto analítico. No entanto, se a cidade e o
urbano têm uma existência no local que é datada, isso quer dizer que existem outras
espacialidades que o precedem e outras que são posteriores à sua estruturação
como uma área que se caracteriza como uma rede urbana.
A idéia desta rede urbana que se apresenta no cotidiano, parte da
compreensão que a cidade não é uma criação isolada, mas está em relação com o
espaço de outras cidades, distantes ou próximas, e em diferentes graus estabelece
um controle do território que circunda. Em termos simples constitui-se no conjunto de
centros urbanos funcionalmente articulados entre si.
Corrêa (2001) faz uma referência a essa idéia, quando afirma que a rede
urbana é um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o
de, através de interações sociais, articular toda a sociedade numa dada porção do
espaço, garantindo a sua existência e reprodução. E que a formação da rede urbana
é um produto da história. O autor citado entende que são necessárias, pelo menos,
três condições para a formação de uma rede urbana.
Primeiramente trata-se de uma sociedade vivendo em economia de
mercado, com transações comerciais envolvendo bens produzidos
localmente e bens produzidos externamente. Isto pressupõe uma mínima
divisão territorial do trabalho. Em segundo lugar deve haver pontos fixos no
espaço onde, de modo permanente ou temporário, as transações são
realizadas. [...]. Em terceiro lugar deve haver um mínimo de interações entre
esses pontos fixos, interações que refletem e ratificam uma diferenciação
hierárquica e/ou em termos de especialização produtiva entre eles
(CORRÊA, op. cit., p. 94).
Mas o processo de rede urbana que se configura na definição acima está
atrelado a uma divisão territorial do trabalho, a qual reflete uma hierarquia urbana e
uma especialização funcional das cidades, e também se impõe como uma condição
à divisão territorial do trabalho, pois a cidade em suas origens constitui-se “[...] uma
expressão da divisão entre trabalho manual e intelectual” (CORRÊA, 1989, p.49).
Em outras palavras a divisão territorial do trabalho.
Os elementos no qual são chamados de dinâmica interna da cidade são:
a produção, a circulação e a moradia, esses elementos são componentes da divisão
territorial do trabalho. A produção refere-se à vida cotidiana das pessoas que vivem
55
na cidade e nela atuam, suas atividades como: lazer, de educação, de trabalho e de
descanso. A circulação de pessoas e mercadorias é outro elemento da dinâmica
interna da cidade, para que a vida nas cidades possa ocorrer, é preciso que as
pessoas possam circular por sua malha viária, como também participar individual e
coletivamente de sua produção. O outro elemento é a moradia, que é uma
necessidade humana básica, que nas cidades ganha contornos muito complexos. A
cidade, assim, é extremamente dinâmica e se estrutura segundo uma organização
interna.
Em termos de Brasil, esta dialética espacial é caracterizada pelas forças
que atuam para dotar as áreas urbanas periféricas de melhores condições de infraestrutura e condições de vida, a partir de movimentos sociais definidos pela força
centrífuga do processo de urbanização.
Na visão de Lefebvre (op. cit.), a noção de dialética espacial tem muita
influência da noção presente de realidade onde a face real, encarrega-se da luta
concreta entre o centro urbano decisório e a periferia, num jogo de dominação e
dependência. Para aproximação do estado da arte do sistema urbano no Brasil, esta
dialética tem de ser compreendida como a existência de um espaço dinâmico,
característica essencialmente urbana, que permita a ocorrência do processo de
urbanização e que tenha componentes estruturais bem definidos em termos de
estrutura social e estrutura urbana.
São os tipos de sistemas existentes e em ação, as formas sociais e
urbanas resultantes e as inter-relações das atividades humanas, ou seja, da divisão
territorial do trabalho dentro do espaço urbano em determinados contextos
históricos. Para Santos (1982), a dinâmica social determina a velocidade e
características do fenômeno urbano em quatro instâncias ou superestruturas, a
saber, a urbanização como processo, onde o processo de urbanização está
relacionado aos processos socioeconômicos em curso, o componente estrutural
população, a configuração espacial resultante e a produção de bens e consumo
decorrentes do modo de vida de cada localidade.
O espaço urbano, segundo Santos (1982a), deve ser visto como uma
realidade objetiva em permanente processo de transformação, sendo ao mesmo
tempo um efeito e uma condição do movimento de uma sociedade global e
globalizada.
56
A influência da realidade socioeconômica e dos mecanismos de mercado
sobre a realidade espacial urbana ocupa-se permanentemente de modo a se ajustar,
fazendo com que o processo de criação do espaço e o modo de produção se tornem
inseparáveis, estreita e cotidianamente relacionados. O tema urbanização brasileira
sugere uma perspectiva de análise na qual a urbanização deve mesmo ser
entendida como um processo, onde é necessário identificar os conceitos, categorias
e métodos que se articulam na leitura de situações concretas de urbanização.
O espaço enquanto fenômeno e objeto produzido é justificado pelas
categorias forma, função e estrutura, inter-relacionadas dentro do processo ou da
ação contínua no tempo. Essas categorias definem o espaço com relação à
sociedade e não possuem sentido se tomadas isoladamente. A análise do processo
de urbanização objetiva explicar como o processo histórico da rede urbana de Patos
é multifacetado materializa-se numa certa organização social no espaço. A noção
mais ampla de um espaço dinâmico, em constante movimento e que permita a
ocorrência da urbanização enquanto processo é o ponto de partida da dialética
espacial.
De acordo com Souza (1988), alguns elementos caracterizam a
complexidade da questão da rede urbana no Brasil podendo ser estudados amiúde:
ƒ Continentalidade do território;
ƒ Ritmo e características da ocupação territorial;
ƒ Características específicas do processo histórico e de desenvolvimento do
país;
ƒ Ritmo e características específicas do processo de urbanização.
Ainda
segundo
Souza,
alguns
fatores
explicativos
permitem
a
compreensão do fenômeno de urbanização e da dinamicidade da rede urbana no
Brasil:
ƒ Comportamento demográfico;
ƒ Grau de modernização e organização dos transportes;
ƒ Nível de industrialização;
ƒ Competitividade empresarial e inserção global;
57
ƒ Tipos de atividades e relações que mantém com grupos sociais envolvidos;
ƒ Criação e retenção local do valor adicionado e da mais-valia gerada;
ƒ Grau de redistribuição da renda entre os produtores;
ƒ Efeitos diretos e indiretos da modernização e da globalização sobre a
política, sociedade, cultura e ideologia.
A cada momento histórico, a combinação destes fatores confere o nível
de urbanização e o expansionismo da rede urbana que espacialmente resulta no
padrão de distribuição das cidades pelo território, a forma da rede urbana, bem como
o perfil urbano do país, ou seja, o tamanho respectivo das cidades dentro do sistema
urbano brasileiro. De acordo com Maricato (2004), a rede urbana brasileira é
extremamente desigual e concentrada:
Enquanto 13 municípios – com mais de 1 milhão de habitantes – respondem
por mais de 20% de toda a população do país, tem-se 4614 municípios –
com menos de 20 mil habitantes – concentrando menos de 20% da
população. A evolução do sistema urbano brasileiro, de acordo com IPEA –
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2000), possui algumas
tendências e características de suma importância na identificação e no
entendimento do fenômeno urbano contemporâneo, que são a
concentração industrial e a divisão territorial do trabalho (MARICATO, 2004,
p. 61).
Problemas e características comuns a todas as cidades brasileiras,
independente da categoria de tamanho:
ƒ Inexistência ou insuficiência de saneamento básico, particularmente nos
sistemas de coleta e tratamento de esgoto;
ƒ Inadequada destinação e/ou tratamento de resíduos sólidos e lixo urbano;
ƒ Inexistência ou insuficiência de vegetação arbórea nas ruas, praças e
avenidas, que permitam atingir o índice mínimo recomendado pela
Organização Mundial de Saúde – OMS – que é de 12 m² de área verde por
habitante;
ƒ Existência de vazios urbanos;
ƒ Ocupação desordenada do território;
ƒ Deterioração dos recursos naturais, solo, água e ar;
58
ƒ Concentração dos equipamentos e serviços urbanos nas áreas mais
centrais.
Maricato (op. cit.) ressalta que tanto as cidades de grande, médio ou
pequeno porte, ou até mesmo os distritos municipais, possuem características
comuns baseadas nos problemas gerais e diferencia-se pela ocorrência de
fenômenos com certo grau de especificidade, carreados por sua localização
geográfica e conjuntura socioeconômica. Muitos efeitos e conseqüências são
perceptíveis na realidade cotidiana da vida urbana nas cidades brasileiras, à medida
que
se
detectam
seus
problemas
e
se
analisam
suas
características.
Indubitavelmente o efeito mais duro sentido é o da deterioração da qualidade de
vida, especialmente nas áreas urbanas.
3.1 A Centralidade da cidade de Patos no contexto da rede urbana
A teoria regional utilizada neste estudo para compreender esta
centralidade, foi a teoria dos lugares centrais desenvolvidas por Christaller (1933)
sob a ótica de Corrêa (2001). Esta teoria empenhou-se compreender a dinâmica
urbana a partir dos conceitos chaves de centralidade, localidade central, região de
influência
das
cidades
polarizadas,
estabelecendo
uma
hierarquia
urbana
fundamentada em fluxos de bens e serviços.
Com base nesta percepção a centralidade da cidade de Patos pode ser
entendida não apenas por sua privilegiada posição geográfica, mas também por
apresentar um conjunto de funções de bens e serviços. A cidade oferece atividades
primárias e secundárias que se destinam tanto para a população interna quanto para
a população das localidades adjacentes, que não dispõem dessas atividades.
Com isso, os estudos dos lugares centrais na rede urbana brasileira,
realizados por Corrêa (op. cit.), analisam as cidades a partir da relação com suas
funções centrais, ou seja, cada cidade tem uma funcionalidade por conta dos seus
serviços.
É com esta perspectiva que a centralidade se constrói como conceito, se
definindo como importância relativa de um lugar com respeito à região do seu
59
entorno. Para Correia (op. cit.) a centralidade trata de um tema relevante que é a
organização espacial da distribuição de bens e serviços, tornando-se uma
particularidade do conjunto social estabelecido. A centralidade no dizer de Correia
(op. cit.) enriquece a visão geográfica da sociedade, isto é, enriquecer nossa
compreensão sobre as diferentes formas de espacialização da sociedade.
Assim, como diz Sposito (2004, p. 181) “[...] à centralidade de um núcleo,
refere-se ao seu grau de importância a partir de suas funções centrais: maior
número delas, maior a sua região de influência, maior a população externa atendida
pela localidade central, e maior a sua centralidade”.
Dentro desta linha de abordagem o IBGE (2000) apresenta o conceito
trabalhado por Christaller (op. cit.) que são o alcance espacial máximo e o alcance
espacial mínimo.
O alcance espacial máximo se refere a uma área determinada por uma
distância a partir da localidade central, dentro do quais os possíveis consumidores
deslocam-se para a localidade central, na busca de obter bens e serviços (IBGE,
1993). A população externa a essa área, em função dos maiores custos com
transportes, deslocar-se-ia para outras localidades mais próximas, em busca de
consumo. Esta primeira área, então, seria constituída da região complementar de
uma dada localidade central (IBGE, 2000 p. 17).
E o alcance espacial mínimo diz respeito à área em torno de uma
localidade central que abrangeria um número mínimo de consumidores que são
suficientes, economicamente, para que se instale uma atividade de bens e serviços,
o que caracteriza sua função central.
A partir dessas proposições, fica estabelecida uma diferenciação na oferta
de bens e serviços. Quando uma função central fosse de consumo
freqüente, poucos consumidores seriam suficientes para proporcionar sua
viabilidade econômica. Assim, ela necessitaria de um reduzido alcance
espacial mínimo e, por outro lado, também seria reduzido o seu alcance
espacial máximo, uma vez que, devido à oferta generalizada em outros
centros dessa mesma função central, haveria impeditivos relativos aos
custos com transportes ao deslocamento na busca de tal função. Já em
relação aos bens e serviços de menor freqüência de consumo, seria
necessário um maior alcance espacial mínimo tendo em vista o maior
número de consumidores exigidos à sua viabilidade econômica, sendo,
portanto, também mais ampla a área que conteria tal população. Dada a
periodicidade de sua freqüência de consumo, tais funções centrais
suportariam maiores custos com transportes, possibilitando, por esse
60
motivo, a existência de um maior alcance espacial máximo. Por esses
motivos, seriam em pequeno número as localidade centrais a oferecerem
tais funções e maiores seriam as distâncias entre elas (IBGE, 2000, p. 18).
A partir dessa diferenciação metodológica proposta, na oferta de bens e
serviços, pode-se estabelecer uma hierarquia entre as localidades centrais. Assim
de acordo com Sposito (2004, p. 182):
Alguns níveis de natureza da hierarquia urbana, como maior o nível
hierárquico de uma localidade central, menor o seu número e mais
distanciada está ela de uma outra do mesmo nível; maior o nível hierárquico
de um centro, maior a sua hinterlândia e maior o total de sua população
atendida; mais alto o nível hierárquico, o número de funções centrais é
maior do que em um centro de nível inferior.
É no processo histórico que deu origem a construção da cidade de Patos
que se encontram os elementos para explicar a formação da sua rede urbana e a
posição que ocupa na hierarquia do Estado. Como foi visto no capítulo anterior o
surgimento de povoados no sertão que posteriormente se tornariam cidades esteve
fortemente relacionado com as atividades primárias (agricultura e pecuária). Patos
surge em meio as fazendas de gado e como ponto de apoio aos tropeiros que
faziam paradas atraídos pela água e pastagens, sua localização geográfica lhe
permitiu o desenvolvimentos de funções urbanas como transporte, comunicação,
serviços que concorreram para originar a rede urbana.
A partir do século XX, com a existência de uma infra-estrutura que se
fortalecia com a convergência de uma população de áreas próximas em razão dos
equipamentos urbanos, a função de entroncamento rodoviário e o maior contingente
populacional a cidade lidera a posição de destaque na hierarquia urbana no sertão.
De acordo com a classificação elaborada pelo IBGE, Patos na hierarquia
do Estado é identificada como um centro regional.
Outro aspecto a ser considerado pelo IBGE (2000) é a relação entre o
nível hierárquico e funções urbanas, em que a oferta de funções é maior quanto
maior for a hierarquia do centro, o que possibilita ao centro a existência de
população maior e de um maior número de empregos.
61
Christaller (op. cit.), também propõe, segundo os arranjos espaciais para
as redes urbanas, que se baseiam em três princípios IBGE (2000), modelos: de
mercado, de transporte e administrativo. Estes se referem à maneira como a rede de
localidades centrais seria estruturada.
[...] - princípio de mercado – preconiza, que para cada centro de um dado
nível hierárquico, haveria três outros centros de nível imediatamente inferior.
Segundo esse princípio, seria constituída uma rede com menor número de
centros. Já segundo o princípio dos transportes, existiria uma minimização
do número de vias disponíveis à circulação e os principais centros iriam
alinhar-se ao longo daquelas mesmas vias. Nesse caso, o número de
centros de uma dada rede seria maior que no princípio de mercado e, aqui,
a cada centro de um determinado nível hierárquico, haveria quatro outros de
nível imediatamente inferior. Finalmente, no princípio administrativo [...], não
existiria a superposição de áreas de influência, como ocorreria nas
proposições anteriores. [...]. (IBGE, 2000, p. 19).
Esses pressupostos teorizados por Christaller sobre a Teoria das
Localidades Centrais são utilizados em vários estudos sobre centralidade, bem como
em estudo sobre redes urbanas (em que os princípios de mercado, transporte e
administrativos citados acima são aprofundados enquanto proposta teórica), sendo
assim importante para a formação de um discurso que norteou parte da produção
geográfica.
Contudo surgem propostas que trazem uma perspectiva de compreensão,
sob a ótica do modo de produção capitalista, em que considera como a produção, a
distribuição e o consumo desempenham papel de destaque na organização da
sociedade e do espaço. E dessa forma se faz conveniente postular uma abordagem
em que repense a participação da penetração do capital na esfera da produção
(varejista e de serviços) onde está inserida a dinâmica geográfica das localidades
centrais.
Dentro dessa linha de repensar os pressupostos teóricos das localidades
centrais numa visão de produção e consumo capitalista, Corrêa considera que:
[...] A organização espacial da distribuição que emerge, fundamentada na
divisão social e territorial do trabalho, na existência de uma massa
predominantemente assalariada, e na articulação entre diferentes áreas
produtoras, tem como locais as cidades que se interligam através do
comércio atacadista, varejista e dos serviços. Neste processo de articulação
e integração, sob o domínio da produção capitalista, crescente e
62
diversificada, os mecanismos econômicos de alcance espacial máximo e
mínimo e de economias da aglomeração adquirem um significado novo que
é o da própria acumulação capitalista, e geram uma diferenciação
hierárquica entre todos os centros de uma rede de distribuição. [...]. Isso
significa que o processo de acumulação capitalista, fundamentado na
produção industrial e no trabalho assalariado, tem uma dimensão espacial e
esta tem como um de seus lugares a rede de localidades centrais tanto em
nível regional como intra-urbano (2001, p. 18-19, 21)
A constituição de localidades centrais em uma estrutura territorial se
torna necessária ao processo de acumulação capitalista, pois é através destas
localidades centrais que a difusão dos fluxos de mercadorias e financeiro ocorre, via
sistema de distribuição em que os assalariados têm seu salário direcionado através
do comércio varejista e da rede bancária para os grandes centros de decisão
econômica, no dizer de Corrêa (2001, p. 20) “[...] possibilitando a acumulação
capitalista. Do mesmo modo, parte dos lucros dos capitalistas é drenada para os
centros de acumulação”. Pode-se afirmar que a posição de centralidade que
algumas cidades dispõem se fundamenta como um meio através do qual a se
verifica a reprodução capitalista. E não podemos negar que as relações entre
sociedade, espaço e tempo são marcadas pelo processo de acumulação capitalista.
Outro ponto a considerar, na proposta de teorizar o tema centralidade é
buscar uma politização para o estudo da localidade central, e de acordo com Milton
Santos (apud CORRÊA, 2001) traz uma dimensão política ao estudo da
centralidade, quando trabalha como os conceitos de circuitos superior e inferior da
economia e as suas diferentes projeções espaciais. O circuito superior é diretamente
resultante da modernização tecnológica, enquanto o inferior é indiretamente
resultante dessa modernização tecnológica, direcionado as pessoas que pouco se
beneficiam com o progresso.
Para o IBGE (2000) os circuitos superiores e circuitos inferiores em que
se divide as localidades centrais apontam para a diferenciação de consumo entre os
grupos sociais e, em paralelo, para um diferente comportamento espacial dentro do
mesmo espaço de coexistência, como ocorre na própria reprodução do modo de
produção capitalista. E nesta reprodução capitalista, as localidades centrais acabam
por constituir um meio no qual se reproduz à diferenciação de classes sociais.
Conforme ressalta Santos (apud CORRÊA, 2001, p 75-76) os circuitos
interferem na localidade central:
63
[...] estruturando-a de modo a que cada centro atue simultaneamente nos
dois circuitos, dispondo de duas áreas de influência. A interferência se faz,
em realidade, através dos mecanismos básicos de estruturação da
hierarquia urbana, o alcance espacial mínimo e máximo. [...]. No circuito
inferior, o alcance espacial mínimo é reduzido nos três níveis de localidades
centrais. O alcance espacial máximo, por sua vez, é relativamente maior na
cidade local do que na intermediária. Na metrópole, apresenta tendência a
confundir-se com os seus limites urbanos, ou seja, os bens e serviços
oferecidos pelas atividades do circuito inferior não traem residentes fora do
centro metropolitano, atendendo apenas à demanda de uma vasta
população pobre citadina. A cidade local por sua vez, tem sua centralidade
apoiada basicamente, nas atividades desse circuito, entre elas as que se
reúnem nos mercados periódicos: atraem consumidores de uma relativa
longa distância. No circuito superior, o alcance espacial mínimo assume
certa expressão espacial, tanto na metrópole como nas cidades
intermediárias. Na cidade local é hipotético, pois, efetivamente, a pequena
localidade central não desempenha funções vinculadas a esse circuito.
Constata-se que a discussão trazida por Santos (apud CORRÊA, 2001), à
teorização das localidades centrais, os circuitos da economia urbana refletem a
pobreza de parte da população, que tanto nas periferias das metrópoles como em
localidades centrais estão inseridas no circuito inferior, já que o circuito superior está
voltado para as atividades mais modernas e para a população de nível de renda
mais elevada, que possui condições para esse consumo.
Dessa forma, o estudo da centralidade urbana não pode negar essa visão
de que a rede de localidades centrais tende a reforçar a estrutura de classes sociais,
a partir da organização social que se desenvolve nos circuitos superior e inferior da
economia.
Pode-se dizer que a centralidade exercida pela cidade de Patos
responsável pela construção da sua rede urbana e hinterlândia com forte influência a
microrregião em que se encontra localizada e se estende não só pelo sertão
paraibano, mas para áreas próximas dos estados de Pernambuco e Rio Grande do
Norte se dão em razão dos elementos trabalhados na proposta da Teoria dos
lugares centrais. A influência direta sobre os municípios circunvizinhos, através da
oferta de variados serviços, dentre eles a educação, assistência médico-hospitalar
(hospitais, clínicas e consultórios médicos), a instalação de escritórios de vários
órgãos institucionais de ordem pública e privada coordenando atividades em vários
outros municípios, é que norteiam a sua centralidade.
64
3.2 Patos e os níveis de centralidade das Cidades Brasileiras
A rede que é focada neste trabalho é a rede de lugares centrais e o IBGE
(2000), coloca que:
Esta rede, genericamente chamada de Lugares Centrais, seria um dos
desenhos das redes geográficas existentes. Constitui, num dado momento,
um agregado de pontos, os centros urbanos considerados, unidos por um
caminho, direcionamento dos fluxos de pessoas à procura de bens e
serviços e de informações, no meio de tantos outros momentos, outros
pontos e tantas outras ramificações. Não obstantes, achamos que é uma
rede representativa de condições reais, mais relacionada à distribuição de
mercadorias e serviços do que à produção propriamente e, principalmente
passível de ser concretamente estudada e operacionalizada (op. cit, p. 14).
De acordo com a citação, as redes geográficas encontram-se vinculadas
ao processo capitalista. Corrêa aponta para a idéia de que a:
Rede de localidades cumpre simultaneamente dois papéis que são
complementares: de um lado constitui-se em um meio para o processo de
acumulação capitalista, e de outro, constitui-se em um meio para a
reprodução das classes sociais. Isso significa que a rede de localidades
centrais constitui-se em um meio através do qual a reprodução do modo
capitalista se verifica (CORRÊA, apud IBGE , 2000, p. 24).
Como as redes estão inseridas na organização do sistema capitalista elas
não devem ser vistas:
[...] de forma estanque, separadas dos modos de produção, que lhe
garantem a mobilidade dos fluxos. Como aqueles modos de produção
contam com agentes geradores e controladores de fluxos, pode-se afirmar
que tais agentes acabem por controlar alguns ‘locais-nós’, privilegiados no
território, sendo responsáveis pelo desenho e traça de diversas redes
(IBGE, 2000, p. 14).
De acordo com os estudos sobre as redes urbanas já mencionadas, o
IBGE, utilizando a argumentação da Teoria das Localidades Centrais de Walter
Christaller (1933) assim se posiciona para explicar a localidade central:
Segundo sua proposição, existiriam elementos reguladores sobre o número,
tamanho e distribuição das cidades. Independente de seus respectivos
tamanhos, todo núcleo de povoamento é considerado uma localidade
central, equipado de funções centrais. Essas funções seriam as de
distribuição de bens e serviços para a população externa à localidade,
residente em sua área de mercado ou região de influência. A centralidade
65
de uma localidade seria dada pela importância dos bens e serviços –
funções centrais – oferecidos. Quanto maior fosse o número de funções,
maior seria a centralidade, sua área de influência e o número de pessoas
por ela atendida (CHRISTALLER,1933 apud IBGE, op.cit., p.17).
O IBGE em seus estudos sobre centralidade urbana listou alguns
elementos do setor terciário que subsidiaram a definição das funções ou níveis de
centralidade.
Foram definidas 46 funções centrais (bens e serviços), raros ou freqüentes
que constituíram a base da investigação. Daquelas funções centrais foram
consideradas de baixa complexidade e freqüentes nas cidades de
hierarquia mais baixa ou de menor nível de centralidade. Outras trinta
funções foram consideradas como geradoras de fluxo de média a elevada
complexidade e definidoras de hierarquia/centralidade mais elevadas que
aquelas primeiras (op. cit., p. 21).
Ao situarmos os serviços oferecidos na cidade de Patos a esta listagem
proposta pelo IBGE para verificação de oferta de bens e serviços, observamos que a
cidade atende totalmente o nível de baixa complexidade e amplamente o nível de
média e elevada complexidade, conforme apresentamos nos quadros a seguir.
Conforme o Quadro 1, arroladas catorze funções de bens e serviços de
baixa complexidade, observa-se que a cidade de Patos dispõe de todos os serviços:
Nº
Bens e Serviços de Baixa Complexidade
Patos
01
Produtos para Agricultura e Pecuária (sacaria, arame farpado, inseticidas e
ferramentas agrícolas)
Ferragens e Louças em Geral
Aparelhos Eletrodomésticos em Geral
Filmes fotográficos e serviços de Revelação
Móveis e Estofados
Automóveis Novos
Óculos com Receita Médica
Hospital Geral (público ou particular)
Laboratórios de Análise Clínicas (pertencentes ou não a hospitais)
Cirurgiões Dentistas
Agências Bancárias
Serviços Gráficos (impressos em geral)
Serviços de Contabilidade
Serviço de Advocacia
Sim
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
QUADRO 1 - Bens e Serviços de Baixa Complexidade na cidade de Patos, 2007
FONTE: Baseado no estudo Regiões de Influência das Cidades, 1993 (IBGE, 2000)
66
No Quadro 2, que arrola trinta funções de bens e serviços de média e
elevada complexidade, encontramos a oferta de vinte e um itens.
Nº
Bens e Serviços de Média a Elevada Complexidade
Patos
01
02
03
04
05
Tratores, Arados Mecânicos e seus Acessórios.
Caminhões Novos.
Aviões de Pequeno Porte.
Motores e Bombas Hidráulicas em Geral.
Serviços Autorizados de Eletroeletrônicos (conserto de vídeo
cassetes, aparelhos de som, filmadoras e fornos de microondas).
Persianas, Cortinas e Tapetes.
Pratarias, Cristais e Objetos de Decoração.
Artigos Importados (perfumes, bebidas e eletroeletrônicos).
Instrumentos Musicais.
Móveis para escritório
Maquinas de Escrever (manual, elétrica e eletrônica).
Computadores. Microcomputadores e Periféricos.
Médico Pediatra.
Médico Oftalmologista
Médico Cardiologista
Médico Oncologista e/ou Médico Nefrologista
Cirurgias Especializadas (de olhos, cardiovasculares, neurocirurgias
e transplante)
Serviços Especializados de Saúde (tomografia computadorizada,
medicina nuclear e hemodiálise)
Equipamentos e Instrumentos Médico-Cirúrgicos.
Serviços de Ortodontia
Material e Equipamentos para Dentistas
Oxigênio para Hospitais
Instrumentos Óticos de Precisão (binóculos, lupas, microscópios,
lunetas, entre outros)
Agências de Turismo (incluindo compra e venda de passagens
aéreas e terrestres)
Escritórios e Agências de Publicidade (não incluindo serviços de
propaganda volante e de alto-falantes).
Serviços de Engenharia (não incluindo reformas e construções
residenciais)
Escritórios de Consultoria e Planejamento
Cursos de Nível Superior (terceiro grau)
Cursos de Pós-Graduação (somente mestrado e doutorado).
Livros Técnicos e/ou Importados
Sim
Sim
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
QUADRO 2 - Bens e Serviços de Media e Elevada Complexidade na Cidade de
Patos, 2007
FONTE: Baseado no estudo Regiões de Influência das Cidades, 1993 (IBGE, 2000)
67
Desta forma percebe-se que a cidade dispõe de uma gama de serviços e
equipamentos urbanos como meios de comunicação (emissoras de rádios, rádios
amadores, empresas telefônicas no sistema convencional e móvel celular, não só na
zona urbana, como na zona rural, jornais, revistas, retransmissoras de TV), que
fazem comunicação com todas as partes do estado, da região, do país e com o
exterior, várias clínicas, consultórios, hospitais, instituições de ensino e um comércio
diversificado.
É ligada a todas as regiões do Estado e do País através de linhas
regulares de transportes. O transporte varia entre o formal, o alternativo e o
particular conta com o serviço de táxis, mototáxis e veículos de pequeno porte com
destino a cidades circunvizinhas. Possui transporte ferroviário, cuja principal
utilização é para o transporte de cargas. Contudo, a prestação de serviço de
transporte coletivo urbano é explorado por uma única empresa.
Desta forma, percebe-se que a cidade concentra determinadas funções e
oferece bens e serviços que a projetam para o exercício da centralidade regional.
68
Patos dos meus tempos
Hoje, assim tão distante,
eu te envio lembranças,
Sinto saudades de ti
Do tempo em que era criança.
Patos, cidade querida
de um céu azul cor de anil.
És parte da minha vida
Oh! Lindo pedacinho do Brasil.
Lembro os carnavais passados
Que os anos não trazem mais.
Lembro as cavalgadas da Rua do Prado
Que o tempo deixou pra traz.
Minha primeira escola
A banda e a retreta.
E a professorinha Antonieta
(Antônio Emiliano)
69
4 A CENTRALIDADE E OS ARRANJOS ESPACIAIS DE PATOS
O processo de construção da singularidade da cidade de Patos no sertão
paraibano aponta que esse lugar geográfico esteve sujeito às contingências
históricas, às condições econômicas e políticas, processos que são gerados tanto
em nível local, como também global. O seu espaço foi construído com base na sua
posição privilegiada e na produção de bens e serviços, num processo iniciado no
lombo dos burros dos tropeiros ou nos cascos das boiadas, indo ou voltando do
litoral, num movimento de trocas que visava complementar as necessidades de
consumo das populações das diversas áreas do Estado.
A cidade de Patos foi se configurando como um espaço favorável para
oferecer bens e serviços à sua população local como também para aquela que se
encontra em seu entorno. Esta característica revela o fenômeno que enseja este
estudo: a questão da centralidade.
Os arranjos espaciais selecionados para medir esta centralidade no
âmbito desta pesquisa foram: educação, saúde, transporte (alternativo) e órgãos
administrativos. Pretende-se mostrar como esses arranjos espaciais reforçam a
centralidade da cidade sobre a região, que inclui cidades próximas aos estados do
Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Entre os arranjos espaciais selecionados, a Educação é um elemento de
relevância para o fortalecimento desta centralidade porque atraem pessoas de todo
o sertão, de outros estados da região Nordeste e do país.
4.1 Educação
Como já foi mencionado na Gênese da Centralidade de Patos, é na
década de 1930 que ocorre um crescimento do setor educacional da cidade.
Um outro marco ocorre no final da década 60, com a instalação do
primeiro curso superior (Economia), de caráter privado. Nas últimas décadas, o
campo do ensino superior se estrutura na cidade, com várias instituições públicas e
70
privadas, e afirma a cidade de Patos como uma referência na área para todo o
interior paraibano e outros estados.
No que toca à administração do ensino básico, é na cidade de Patos que
está localizada a 6ª Gerência Regional de Educação e Cultura – que administra as
atividades educacionais de 64 escolas públicas estaduais de um total de 24
municípios e um contingente superior a 29 mil alunos. 12 (Ver municípios da 6ª
Gerência na Figura 13).
Figura 13: Área de abrangência da 6ª Gerência Regional de Educação e
Cultura.
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007, adaptado pela autora).
Este constante crescimento deve se, em parte, à expansão e exigência do
mercado que atualmente exige profissionais mais qualificados.
12
A rede municipal conta com mais de 10 mil alunos efetivamente matriculados e aproximadamente
519 professores com variados níveis de formação (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE
PATOS)
71
Como a educação básica (fundamental e médio) 13 estão presentes hoje
em todos os municípios, a procura por este serviço nestes níveis vem diminuindo, e
concentrando-se atualmente, no ensino superior, que representa um papel
expressivo no fenômeno da centralidade, pela expansão das Instituições de Ensino
Superior (IES) e de outros cursos.
A pesquisa foi realizada nas seguintes instituições de ensino superior:
9 Faculdades Integradas de Patos (FIP), mantida pela Fundação
Francisco Mascarenhas (Privada);
9 Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – Campus II Patos)
(Pública);
9 Universidade Estadual da Paraíba (UEP) (Pública);
9 Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) (Privada);
9 Instituições de Ensino a Distância – EADACON (Privada).
O quadro 3 apresenta os cursos oferecidos por todas as instituições
envolvidas na pesquisa. Hoje a cidade já disponibiliza 25 cursos em diversas áreas,
com tendência a aumentar nos próximos anos.
CURSOS
TOTAL DE
CURSOS
FIP
Biomedicina, Direito, Economia, Enfermagem,
Fisioterapia, Geografia, História, Jornalismo,
Letras, Odontologia, Pedagogia, Sistemas de
Informação
12
UFCG
Campus Patos
Biologia, Engenharia Florestal, Veterinária
3
UEPB
Administração, Licenciatura em
Licenciatura em Ciências Exatas
3
UVA
Biologia, Matemática, Pedagogia
3
EADCON
Administração, Análise e Desenvolvimento de
Sistemas, Ciências Contábeis, Pedagogia
4
IES
Total de cursos oferecidos na cidade
Computação,
25
QUADRO 3 – Cursos oferecidos por Instituições de Ensino Superiores (IES) em
Patos – PB no período 2008.1
Fonte: Secretaria das IES
13
Nos últimos cinco anos, o Governo do Estado cumpriu exigências estabelecidas por programas de
políticas educacionais e expandiu o ensino médio para todos os municípios da Paraíba. Mesmo
assim, a procura pelas escolas de ensino médio na cidade de Patos, por estudantes de outros
municípios ainda ocorre, ainda que em proporções menores, mas agora, para escolas privadas.
72
As Faculdades Integradas de Patos (FIP), mantidas pela Fundação Francisco
Mascarenhas, disponibiliza como já foi visto, o maior número de cursos distribuídos
em duas unidades:
9 A primeira unidade localizada na Rua José Gomes Alves S/N Centro
tem sua origem datada de 1968, quando foi instalado o primeiro curso
superior (Economia) na cidade de Patos, sob a iniciativa do Senhor
José Gomes Alves e desde então sempre novos cursos de graduação
e pós-graduação estão sendo implantados. Atualmente nesta unidade
funcionam apenas dois cursos (Figura 14).
9 A segunda unidade localizada na Rua Horácio Nóbrega no bairro do
Belo-Horizonte, onde é oferecido o maior número de cursos oferecidos
pela instituição (Figura 15).
FIGURA 14 - FIP – Unidade I,
localizada na Rua José Gomes Alves
S/N Centro
FIGURA 15 - FIP – Unidade II,
localizada na Rua Horácio Nóbrega,
S/N, Bairro Belo Horizonte
FONTE: Acervo pessoal (2008)
FONTE: Acervo pessoal (2008)
As Faculdades Integradas de Patos – FIP, tendo em vista a questão
numérica dos serviços ofertados, é considerada hoje o maior complexo educacional
do sertão paraibano. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente
com mais de 3.000 (três mil) alunos matriculados, distribuídos por doze cursos. E já
73
se encontra em expectativa a chegada do curso de Educação Física, mais uma
opção para os estudantes do sertão paraibano, que necessariamente não
precisaram se deslocar para outros centros em busca de sua qualificação
profissional, assim como alternativa para alunos de outros Estados.
Universidade Federal da Paraíba (UFCG), Campus II Patos, localizada na
Av. Santa Cecília s/n, Bairro do Jatobá, teve sua origem através da anexação da
escola de Agronomia e Medicina Veterinária, da Fundação Francisco Mascarenhas,
ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, através da
Resolução nº 308 de 06 de dezembro de 1979. Em 11 de novembro de 1984 foi
criado o Centro de Saúde e Tecnologia Rural através da Portaria 472 do Ministério
da Educação e Cultura. Inicialmente foram implantados os Departamentos de
Medicina Veterinária e Engenharia Florestal, curso que substituiu o de Agronomia. É
hoje um dos centros de produção de conhecimento e geração de informações do
Semi-Árido. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente com
mais de 500 (quinhentos) alunos matriculados, com cursos que atraem alunos dos
mais diversos estados brasileiros.
O Campus da cidade de Patos conta também, com cursos de Mestrado
(3) e Especialização (2).
FIGURA 16 - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),
Campus II - Patos. Situada na Rodovia PB 110 S/N, Campus
Universitário S/N, Bairro do Jatobá.
FONTE: Acervo pessoal (2008)
74
A Universidade Estadual da Paraíba (UEP - Campus VII) foi instalada na
cidade de Patos em 2006. No início do primeiro semestre de 2008 contava com
aproximadamente mais de 800 (oitocentos) alunos matriculados.
FIGURA 17 - Universidade Estadual da Paraíba localizada na Rua 5
de Agosto no Bairro Belo Horizonte.
FONTE: Acervo pessoal (2008)
A Universidade Estadual do Vale do Acaraú – (UVA) com sede em Sobral
– CE, nasceu como Fundação Municipal, criada através da Lei nº 214, de outubro de
1968. Sucessivamente, foram criadas as Faculdades de Ciências Contábeis,
Engenharia de Operações, Enfermagem e Obstetrícia e Educação, todas
encampadas pelo governo do Estado Ceará em 10 de outubro de 1984, através da
Lei nº 10.933, sob a forma de Autarquia. Com a promulgação da constituição do
estado do Ceará, foi transformada em Fundação, em outubro de 1989, e, em 31 de
março de 1994, foi reconhecida pelo Ministério da Educação – MEC, através da
Portaria nº 821. Sua instalação na cidade de Patos ocorreu em novembro do ano de
1999. Não possui sede própria e funciona na Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Monsenhor Manoel Vieira localizada na Praça Edvaldo Mota –
75
Centro. Com o Curso de Graduação em Pedagogia (turmas especiais) e os cursos
de Licenciatura Específica em caráter temporário e excepcional, seu horário de
funcionamento é aos sábados. No início do primeiro semestre 2008 contava
aproximadamente com mais de 500 (quinhentos) alunos matriculados
As Instituições de Ensino a Longa Distância (EAD) é uma nova
modalidade do ensino que também já se encontra presente na cidade de Patos. O
Ensino a longa distância aos poucos vem ganhando espaço na cidade. São
utilizados canais disponíveis, entre eles um na web, através da tecnologia V-Sat, que
disponibiliza voz, acesso à Internet e interatividade entre alunos e professores. São
três instituições situadas na cidade de Patos:
9 A Eadcon a primeira referência do ensino a distância, instalada na
cidade de Patos no ano de 2007, coligado ao Grupo Educacional
UNINTER
9 A Unopar - Universidade Norte do Paraná,
9 CBED – Centro Brasileiro de Educação a Distância –, desde 2003 atua
como uma unidade especializada em tecnologias aplicadas à educação
a distância, em especial de telecomunicações via satélite, todas
autorizadas pelo MEC.
A EADCON localiza-se na Rua Pedro Firmindo nº 144, Ed. Estevam, sala
41, no 4º andar, forneceu o número de alunos com precisão, juntamente com as
suas procedências. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente
com mais de 100 (cem) alunos matriculados.
4.2 Procedência dos estudantes universitários
Para a confirmação da hipótese da centralidade de Patos no campo do
ensino superior, procedeu-se a um levantamento de declarações de residência, por
ocasião do preenchimento de fichas de matrícula do primeiro semestre do ano de
2008, dos universitários das instituições envolvidas na pesquisa.
76
Os dados obtidos, referentes à procedência dos alunos, foram
pesquisados nas respectivas secretarias destas instituições. No total geral, foram
contabilizados cinco mil quinhentos e dez (5.510) dados de procedência.
A visualização da Figura 18 evidencia uma regionalização da procura
pelos cursos oferecidos pelas instituições. Ocorre uma convergência de alunos de
todo o sertão paraibano, bem como de outros estados para a cidade, fomentando a
centralidade já existente.
No âmbito das Faculdades Integradas de Patos (FIP), os dados
permitiram uma análise sobre o perfil preferencial dos alunos dos cursos conforme a
procedência, conforme a tabela a seguir.
FIGURA 18 - Procedência dos alunos universitários para a cidade de Patos.
Fonte: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE 2007, adaptado pela autora).
77
TABELA 2 - Procedência dos universitários, por curso. FIP, Patos-PB. 2008.1.
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
Curso de Graduação
AL BA CE PA PB
PE PI RN NC Total geral
Bach. em Biomedicina
2
237
42
Bach. em Com. Social
2
140
Bach. em Direito
1
Bach. em Enfermagem
1
2
3
16
1
301
12
20
2
176
449
39
31
48
570
1
34
656
91 10 67
51
911
1
1
251
27
50
338
Lic. Plena em Geografia
100
7
3
110
Lic. Plena em História
134
14
4
152
Lic. Plena em Letras
175
17
9
201
Lic. Plena em
Pedagogia
173
9
25
207
Bach. em Fisioterapia
1
2
40
2
1
7
2315 258 14 182 152
2966
FONTE: Secretaria dos cursos da FIP (2008)
Observa-se, com relação à procedência destes alunos, que a cidade
recebe hoje uma clientela dos diversos estados da região Nordeste (em especial dos
estados do Pernambuco e Rio Grande do Norte), embora a predominância seja
alunos do próprio estado e mais especificamente do sertão. Ocorre uma forte
procura pelo curso de Direito e pela área de saúde, obedecendo um padrão comum
entre os universitários.
Os cursos de licenciatura atualmente são os menos procurados pelos
alunos, talvez como um dos indicativos da crise pela qual passa a educação no país
e pela própria saturação do número de profissionais formados na região.
Mesmo deslocando-se diariamente da região de origem para as
faculdades, a contratação de transportes, pelos estudantes, é financeiramente mais
viável do que a manutenção de uma estadia em outros centros, como Campina
Grande ou João Pessoa.
78
O mesmo levantamento revela, para a Universidade Federal de Campina
Grande e seus cursos:
TABELA 3 - Procedência dos universitários, por curso. UFCG, Patos-PB. 2008.1.
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
Curso de
Graduação
AL BA CE PA PB PE PI RN TO MG SP MA RO PR
Ciências
Biológicas
54
Engenharia
Florestal
2
1
6
6
105 13
14
Total
Geral
66
3
1
Medicina
Veterinária
2
14
23
2
199 42 1 51
1
1
5
1
Total Geral
2
16
24
2
358 61 1 71
1
1
8
2
1
1
140
1
343
1
549
Fonte. Secretaria dos cursos da UFCG (2008)
No caso da UFCG, percebe-se que a maioria dos alunos é proveniente da
região Nordeste, em especial do próprio estado da Paraíba, seguido do Rio Grande
do Norte, Pernambuco, Bahia e uma pequena parcela de outros estados do país.
Pode-se afirmar que o setor educacional é hoje um grande responsável
pela manutenção da influência que a cidade exerce em todo o sertão e atua como
forte dinamizador da economia.
Para confirmar esta hipótese, foi feito um registro fotográfico do
movimento diário ocasionado pela presença constante de alunos da cidade e do seu
entorno. Esta movimentação está aqui representada numa imagem da Rua Horácio
Nóbrega, onde está localizada a unidade da FIP que concentra o maior número de
cursos (dez no total), que tem sua paisagem modificada em função da
movimentação dos estudantes. Nesta instituição os cursos da área de saúde são
ofertados nos turnos da manhã e da noite. Os demais cursos funcionam no período
noturno.
Por ter poucos cursos funcionando no horário diurno o fluxo de
movimentação é menor, ocorre com mais intensidade no início e no fim da manha.
79
As demais instituições também oferecem cursos diurnos o que gera uma
movimentação nas suas imediações de transporte estudantis que vão desde os
municipais, alternativos, convencionais e particulares. Na Figura 19 que registra a
presença de transporte alternativo para locomoção dos estudantes de áreas
próximas da cidade. Vale ressaltar que esta mobilidade é diária.
FIGURA 19 - Circulação do transporte em frente à unidade II da FIP localizada
na Rua Horácio Nóbrega, no Bairro Belo Horizonte.
FONTE: Acervo pessoal (2008)
À noite a Rua Horácio Nóbrega (Figuras 20 e 21) ganha outra dinâmica,
um maior fluxo de veículos estacionados nela e nas suas adjacências que vão desde
os alternativos, municipais e os particulares. Ocorre uma ocupação pelos veículos
nos dois sentidos da rua como mostra a foto, além de desenvolver um micro
comércio que envolve alimentação, papelaria, xérox, lan houses.
80
FIGURA 20 - Concentração dos Transportes nas proximidades da unidade II da
FIP na Rua Horácio Nóbrega no Bairro Belo Horizonte.
FONTE: Acervo pessoal (2008)
FIGURA 21 - Concentração dos Transportes dos estudantes nas proximidades da
Unidade II da FIP, na Rua Horácio Nóbrega no Bairro Belo Horizonte
FONTE: Acervo pessoal (2008)
81
4.3 Saúde
O segundo arranjo espacial selecionado nesta pesquisa foi o setor da
saúde, por possuir um importante papel na posição ocupada pela cidade em todo o
sertão, responsável também pela constante movimentação das pessoas que buscam
atendimentos mais qualificados que os oferecidos por suas cidades. A assistência
médica nesses locais que gravitam ao redor de Patos, em muitos casos, conta
apenas com um clínico geral ou apenas com a assistência da saúde pública.
A cidade também sedia a 6ª Gerência Regional de Saúde, que coordena
as atividades referentes aos municípios sob sua responsabilidade. Composta por
vinte e quatro municípios, os mesmos fazem parte do 6ª Gerência Regional de
Educação e Cultura. O setor também responsável pelo aquecimento da economia
local envolve o comércio, desde alimentação, hospedagem, medicamento etc.
Em Patos, o setor de saúde dispõe de estabelecimentos de saúde de
caráter público, privado, como hospitais, policlínicas, postos de saúde e algumas
clínicas especializadas. A cidade conta com 56 estabelecimentos de saúde, entre
públicos e privados. Entre os órgãos escolhidos para a pesquisa, optou-se pelos
hospitais: Regional Deputado Janduhy Carneiro e Maternidade Peregrino Filho, por
gerarem um fluxo maior por parte da população que busca este serviço.
FIGURA 22 - Hospital Regional Dep. Janduhy Carneiro localizado na Rua
HorácioNóbrega S/N no Bairro Belo Horizonte.
FONTE: Acervo pessoal (2008)
82
FIGURA 23 - Setor de Urgência do Hospital Regional de Patos localizado
na Rua Horácio Nóbrega no Bairro Belo Horizonte
FONTE: Acervo pessoal (2008)
FIGURA 24 - Maternidade Peregrino Filho localizada na Rua Elias Asfora
S/N Bairro Jardim Guanabara.
FONTE: Acervo pessoal (2008)
Os órgãos públicos como o Hospital Regional de Patos e a Maternidade
Peregrino Filho são espaços de recepção de um contingente populacional de vários
municípios que busca um atendimento mais especializado ausente nas suas cidades
83
de origem. Embora os registros sejam apenas do estado, ocorre atendimento de
cidades pertencentes a outros estados.
Com a municipalização da saúde, a cidade também passou a desenvolver
uma parceria com as prefeituras dos municípios de menor influência localizados no
sertão paraibano para os serviços que as respectivas cidades não dispõem. E com
isso ocorre uma mobilização freqüente de pessoas circulando pela cidade
A partir da análise de prontuários de internação de pacientes nestes dois
hospitais, no período janeiro / abril de 2008, realizou-se um mapeamento das
procedências destes pacientes. O número de prontuários levantados totaliza 1.315
pacientes, e apresentam a seguinte distribuição regional:
FIGURA 25 - Área de procedência dos pacientes do Hospital Regional de Patos
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE 2007).
84
FIGURA 26 - Área de procedência dos pacientes do Hospital e Maternidade
Peregrino Filho
Fonte: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007).
As Figuras 25 e 26 reforçam a hipótese da centralidade da cidade de
Patos, também na área da saúde. É importante lembrar que se considerar-se
também os atendimentos sem internação, o volume de população atendida seria
expressivamente maior.
A área em destaque com a cor verde (Figura 24) mostra a área de
influência da UNIMED, a maior cooperativa de saúde de caráter privado atuante no
Estado da Paraíba, que concentra em Patos, tanto o seu escritório de representação
como a maioria das clínicas e médicos associados.
4.4 Transporte
Na seqüência da pesquisa, o terceiro arranjo analisado consiste na
análise do deslocamento das pessoas da própria microrregião, de outras
85
microrregiões do estado e das cidades próximas aos limites dos estados do
Pernambuco e do Rio Grande do Norte realizado pelo setor do transporte.
Com distâncias relativamente próximas, uma rotina de circulação diária
das pessoas é bastante comum, por uma série de motivações. Assim, a constância
do deslocamento diário reafirma a hipótese da centralidade.
A cidade está na rota de praticamente todos os deslocamentos ocorridos
na região sertaneja, rumo ao litoral e outras áreas do país. As empresas de ônibus
como a Guanabara, a Progresso, Itapemirim, Contijo, os transportes alternativos e
particulares são os responsáveis pelos deslocamentos das pessoas.
FIGURA 27 - Estação Rodoviária Ivan Bichara de Patos
localizada na Praça da Independência s/n, Bairro Centro
FONTE: Acervo pessoal (2008)
A Figura 28 a seguir mostra, como exemplo, o percurso da Empresa
Guanabara. As demais seguem aproximadamente o mesmo trajeto. A cidade é
cortada no sentido leste-oeste pela BR 230, que partindo de Cabedelo segue na
direção oeste até a fronteira com o vizinho estado do Ceará. Este mapa permite
visualizar sua posição estratégica, tanto de passagem como de entroncamento
viário, o que lhe permite um fluxo considerável de pessoas.
86
FIGURA 28 – Percursos de linhas de ônibus Guanabara, que partem do litoral
para o interior do Estado e que passam pela cidade de Patos
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007)
A pesquisa optou pela observação do transporte alternativo, pela sua
utilização crescente pela população, e pela freqüência das viagens, pelas vantagens
que os mesmos oferecem em relação aos transportes popularmente conhecidos
como os de “linha”. A vantagem aqui mencionada se refere a:
1. Conforto - Embora os preços da passagem sejam os mesmos das
linhas convencionais de ônibus, eles contam com o conforto em sua
maioria de serem apanhados e deixados em suas residências;
2. Flexibilização de horário - Os horários estão mais adaptados com suas
necessidades e não cumprem rigorosamente os horários de chegada e
saída;
3. Vínculo de sociabilidade - Na maioria dos casos há um vinculo maior
por parte dos usuários deste transporte.
87
Com base nos questionários e em conversas informais com os próprios
motoristas estima-se um número aproximado 120 motoristas. Aqui não estão
incluídos os motoristas que fazem a linha para Campina Grande e João Pessoa.
É valido ressaltar que o trabalho informal, como se sabe, se refere
aquelas atividades produtivas que é executada sem a regulamentação da legislação
trabalhista vigente em um determinado país. Neste setor, estariam os trabalhadores
sem carteira assinada e os não remunerados.
O transporte alternativo é hoje uma realidade presente em todo o país é
uma possibilidade de trabalho. Uma alternativa diante da falta de oportunidades no
setor formal da economia. Eles são responsáveis pelos movimentos curtos, diários,
mas que somados dão uma dinâmica na economia da cidade de Patos e
ocasionando diariamente as interações na sua hinterlândia.
Para uma melhor apreciação da centralidade da cidade de Patos através
do funcionamento do transporte alternativo fez-se necessário recorrer à investigação
através do uso de questionários buscando obter informações por parte dos
motoristas e dos passageiros que usufruem deste transporte. Foram aplicados 72
questionários para os motoristas e 136 questionários para os passageiros. A
pesquisa envolveu 13 pontos de transporte alternativo, localizados em sua maioria
no centro da cidade ou em áreas próximas.
Uma das perguntas feitas aos motoristas entrevistados consistiu em
apurar se os mesmos estavam organizados em alguma categoria. Verificou-se que a
maior parte da categoria não está organizada em qualquer tipo de associação
(68%), enquanto 23% responderam afirmativamente e 8,3% não responderam.
Com base na Figura 29 observa-se o destino da maioria destes
transportes alternativos e o valor cobrado 14 . Observa-se que na distribuição do
espaço a cidade ocupa o centro, e que as populações destes municípios se
direcionam para Patos em sua maioria, na busca dos serviços que suas cidades não
disponibilizam. Dessa forma a centralidade da cidade vai se mantendo e se
fortalecendo através do seu crescimento econômico.
Os valores das passagens mostram um pouco da dinâmica diária que gira
nesta circulação de pessoas na cidade em busca de seus serviços. São pequenos
14
Estes valores podem já ter sofrido alterações em virtude dos aumentos no preço do combustível.
88
movimentos, movimentos curtos, mas que são relevantes para o aquecimento da
economia local.
FIGURA 29 - Mapa das distâncias e preços dos transportes alternativos da cidade
Patos - PB.
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007)
89
TABELA 4 - Município de residência dos motoristas de transporte alternativo
Patos/PB (2008).
MUNICÍPIO DE RESIDÊNCIA
TOTAL
Areia de Baraunas
3
Catingueira
4
Cacimbas
3
Condado
6
Desterro
2
Emas
1
Malta
5
Maturéia
1
Nova Olinda
2
Olho D'Água
5
Passagem
4
Patos
5
Pombal
4
São Bentinho
3
São José Bonfim
2
São José de Espinharas
2
São Mamede
5
Salgadinho
5
Santa Luzia
7
Total de motoristas
entrevistados
72
FONTE: Entrevistas com motoristas de transporte alternativo. Patos (Maio/2008)
A Tabela 4 mostra o local de residência dos motoristas de transportes
alternativos. Observa-se que maioria destes motoristas não reside na cidade de
90
Patos. Residem nas cidades que são gravitam ao redor de Patos, circulando
diariamente pela cidade.
GRÁFICO 1 - Movimentação de passageiros de transporte
alternativo
FONTE: Entrevistas com usuários de transporte alternativo. (Patos maio/2008).
O Gráfico 1 visualiza a movimentação deste usuário quanto ao seu
deslocamento. Confirmando o caráter de uma população flutuante na cidade. Eles
chegam em sua maioria pela parte da manhã para realizarem tarefas relacionadas
ao comércio, saúde, educação e/outros e retornam a sua origem na parte da tarde.
Esta movimentação já faz parte da rotina da cidade.
Uma pequena parcela está de passagem, já que Patos termina tornandose um ponto em muitos casos de parada “obrigatória”.
Quando se perguntou a respeito do local de origem dos usuários do
transporte alternativo, observou-se que o predomínio dos usuários residentes na
própria microrregião de Patos e que transitam também na própria microrregião, o
que mostra a articulação que existe de Patos com as demais cidades da
microrregião em que está inserida.
91
GRÁFICO 2 - Freqüência das viagens a Patos, por faixa etária, de usuários de
transporte ativo
FONTE: Entrevistas com usuários de transporte alternativo. (Patos maio/2008).
Com relação ao Gráfico 2 que trata da freqüência e da faixa etária dos
usuários do transporte alternativo, verifica-se uma regularidade de fluxo durante todo
o mês, variando apenas as faixas etárias. Com base nos dados, chega-se as
seguintes deduções:
ƒ
As crianças não acompanham com regularidade os adultos, pelo próprio
custo que isso causa como também pelas situações que os leva a cidade
na maioria das vezes.
ƒ
São os adultos que realizam estes movimentos e que alimentam a
centralidade da cidade, já que os mesmos estão em busca de suprirem as
necessidades que não são encontradas nos seus locais de residência.
ƒ
Ocorre uma mudança de faixa estaria com relação a freqüência.
ƒ
Que muitos aposentados devem receber seus benefícios aqui, já que
existe uma procura maior por parte desta parcela da população no final
mês.
ƒ
A faixa etária entre 16 a 25 anos que se sobressai na primeira semana
esta relacionada em sua maior parte ao setor educacional. É uma
pequena parcela que paga o transporte, para estudar. A maioria das
prefeituras disponibiliza este transporte para os estudantes.
92
GRÁFICO 3 - Motivação de viagens de moradores de outros
municípios a Patos/PB. 2008
FONTE: Entrevistas com usuários de transporte alternativo. (Patos,
maio/2008).
A mobilidade como mostra o Gráfico 3 da população que usa o transporte
alternativo com mais freqüência é motivada por três elementos em evidência: 39%
com compras, ou seja, o comércio é um forte elemento de atração; seguido pelos
pagamentos (23%), levando - se a supor pela realidade e prática do país que parte
das transações realizadas no comércio envolve os parcelamentos o que de forma
indireta os obriga a retornarem na cidade para efetuar seus pagamentos.
A saúde que vem na seqüência, embora também esteja intimamente
relacionada, já que os motiva também é a ausência destes serviços mais
especializados. Como já foi mencionado, a municipalização da saúde fez com esta
freqüência à cidade ficasse mais em evidência já que determinados exames têm
necessariamente, que ser realizados na cidade de Patos e, em alguns casos, a
própria procura por centros maiores passa pela cidade, justificando a saúde como
centro de atração.
O baixo percentual no quesito estudo de apenas 8% justifica-se porque a
maioria das pessoas que se desloca para estudar utiliza o transporte de estudante,
disponibilizado pelas prefeituras.
93
Com relação ao numero de passageiros por, carro, varia de quatro a mais
de dez, dependendo do tamanho do veículo. Há que se observar ainda à existência
de caminhões tipo “pau-de-arara”, (hoje com freqüência cada vez mais rara) que se
dirigem principalmente para zonas rurais 15 .
As figuras 30 e 31 ilustram a variedade dos transportes alternativos. Os
quesitos tamanhos, localização do ponto e segurança, vão influenciar os
passageiros nas suas escolhas. 16 Os locais em sua maioria estão próximo dos
serviços procurados pelos passageiros, tentando aliar-se também um pouco ao seu
destino.
Existe um vínculo do usuário do transporte alternativo com o motorista, o
que em alguns casos justifica a preferência do passageiro por este tipo de
transporte.
FIGURA 30 - Ponto de transporte alternativo na Rua Horácio Nóbrega
FONTE: Acervo pessoal (2008)
15
16
Não entrevistamos nenhum motorista de caminhão em nossa pesquisa.
Os lugares de concentração dos transportes são identificados pelos passageiros como pontos.
94
F:\fotos3\DSC_2935.JP G
FIGURA 31 - Ponto de transporte alternativo nas imediações do Mercado Central
FONTE: Acervo pessoal (2008)
A Figura 31 ilustra um dos pontos do transporte alternativo, localizado no
Mercado Central, a rua é ocupada por este transporte, pela quantidade de carros, já
se sabe que é pela manhã, já que é o horário preferido da maioria dos passageiros,
o horário comercial.
A feira 17 é um local ainda bastante procurado pela população que reside
na cidade e no seu entorno.
Devido a diversidade de produtos ofertados na feira e a importância dessa
forma de comércio para a cidade, Corrêa (2001, p. 66) ressalta que “no Nordeste
brasileiro os mercados periódicos ou feiras constituem um dos componentes
fundamentais da rede de localidades centrais, coexistindo com outros componentes
de localização fixa”.
17
Feiras – lugares característicos do nordeste. A feira nordestina existe há muito tempo e a
velocidade de seus fluxos é lenta. Envolve fluxo de mercadorias, pessoas e informações, e, através
dela, realiza-se a integração entre áreas rurais, pequenas, médias e grandes cidades (CORRÊA,
2001, p.113).
95
O transporte alternativo revela com mais nitidez a centralidade da cidade
de Patos, através da pesquisa percebe-se o deslocamento de um número
considerável de pessoas que se deslocam diariamente para esta cidade.
E todo este fluxo ocasiona uma movimentação na economia da cidade.
São trajetos curtos, gastos em sua maioria pequenos, mas que dinamiza toda a
economia da cidade, do comércio formal ao informal. Este fluxo alimenta o
crescimento da cidade e da sua centralidade.
F:\fotos3\DSC_2932.JP G
FIGURA 32 - Parte do Mercado Central – Patos – PB
FONTE: Acervo pessoal (2008)
Os dias de maior movimentação da feira aqui na cidade de Patos é a
segunda feira e o sábado. A Figura 32 visualiza uma parte do Mercado Central, nos
dias das feiras, este espaço é bastante movimentado.
O Mercado Público constitui-se num equipamento urbano relevante para o
funcionamento da feira, pois o mesmo congrega uma diversidade de produtos que
são comercializados em boxes e ao ar livre.
4.5 Órgãos Institucionais com sede em Patos
96
O campo das decisões governamentais ou empresariais tende a se
localizar em sua grande maioria nas capitais, porém, a necessidade de um melhor
gerenciamento das atividades bem como a necessidade de propiciar uma maior
agilidade ao usuário e beneficiários de um determinado serviço público ou privado,
faz com que o Estado ou empresa promovam uma descentralização, transferindo
representações
para
cidades
que
apresentem
uma
centralidade
e
uma
disponibilidade de equipamentos e serviços capaz de proporcionar meios de melhor
gerenciar atividades junto às populações que residem distante das áreas
metropolitanas.
Neste sentido, a cidade de Patos oferece condições favoráveis para que
isso ocorra. A sua relativa proximidade da capital em relação a todo o sertão
paraibano, a acessibilidade viária, a infra-estrutura faz com que Patos seja uma
dessas cidades escolhidas para abrigar escritórios de diversos órgão.
As Figuras a seguir estão organizadas com o objetivo de mostrar a área
de influência que a cidade de exerce. A centralidade da cidade se revela também
através destes órgãos que tem suas representações instaladas aqui.
Sua acessibilidade viária atrai para si uma série de equipamentos ligados
a instancia estadual, federal e privada, servindo desta forma como entreposto
administrativo dessas instituições com a sede na capital.
A cidade conta com mais órgão além dos que foram mencionados, a
exemplo da Polícia Federal, EMBRAPA, EMATER e outros. Procuraram-se órgãos
diversificados, para identificar que a cidade também centraliza a coordenação de
várias instituições com abrangências variadas em todo o sertão.
97
FIGURA 33 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 1
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007).
FIGURA 34 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 2
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007).
98
FIGURA 35 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 3
FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007).
Como se pode observar nos mapas, Patos concentra órgãos públicos e
privados, atuando como pólo coordenador das atividades em todo o sertão
paraibano. Assim, a cidade atua como centro de decisões e gestão no sertão
paraibano, mesmo num âmbito territorial que extrapola os limites da cidade e da
própria microrregião.
99
Sou filho lá do, Nordeste,
De Patos das Espinharas
Onde o sol é inclemente
Onde as chuvas são mais raras
Sou filho lá do Nordeste
Do meu longínquo sertão
Onde vivi minha infância
Onde estar meu coração
Ai, ai, ai, um dia voltarei
Pra matar as saudades
Dos lugares que deixei
Ai, ai, ai, um dia hei de voltar
Prá dar uma caçada
E tomar um banho
No meu Jatobá
(Bráulio Bronzeado)
100
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalhou constou de uma reflexão sobre o fenômeno da
centralidade regional da cidade de Patos e o objetivo foi mostrar esta centralidade
sob o olhar da ciência geográfica.
Neste trabalho, estudou-se a centralidade da cidade de Patos, priorizando
quatro arranjos espaciais (educação, saúde, transporte alternativo e órgão
administrativos) que embasa a importante posição ocupada por esta cidade na rede
urbana, a qual essa cidade centraliza.
Considerando a sua história, percebe-se que a cidade de Patos desde
sua fase embrionária, sinalizava para tornar-se um núcleo central , quando já era um
dos pontos de parada dos tropeiros, dos viajantes que vinham do litoral para o
sertão e vice-versa. Este processo inicial deu-se ao longo dos séculos XVIII e XIX e
vem se mantendo durante os séculos XX e XXI, através do fortalecimento de
determinados segmentos da economia.
Quanto aos arranjos selecionados para retratar a importância da
centralidade da cidade observou-se que:
¾ A educação historicamente foi a primeira atividade do setor de
serviços com destaque na manutenção da centralidade da cidade.
Desde a década de quarenta do século passado, é que os estudantes
das áreas adjacentes procuram a cidade para a realização dos seus
estudos, oferecidos em especial por dois colégios particulares o
Colégio Diocesano e o Colégio Cristo Rei e que atualmente esta
procura dar-se em função do ensino superior. Hoje a cidade oferece
mais de 25 cursos superiores, sem estar envolvido neste estudo os
cursos de pós-graduação. A cidade é, sem dúvida, o grande centro
universitário do sertão paraibano.
¾ No setor da saúde, sua influência se deve por oferecer alguns serviços
médicos especializados, a existência de hospitais, clinicas e estarem
101
também próximas da fronteira dos Estados do Pernambuco e do Rio
Grande do Norte. A cidade já conta com a presença de consultórios
relacionados à saúde privada, o que a torna um grande espaço de
recepção e de mobilidade diária. Contudo algumas indagações
chamam a atenção á necessidades de atitudes políticas mais eficientes
que melhorem e aumentem com qualidade a infra-estrutura deste
setor, na área publica em função da sua procura e da importância na
região.
¾ A acessibilidade viária é outro fator responsável pelo seu papel
centralizador; localizada num importante entroncamento ferroviário e
rodoviário sendo o trecho de movimento mais intenso através da BR230 e na proximidade da fronteira dos estados do Rio Grande do Norte
e Pernambuco, como também um ponto intermediário entre o sertão e
o litoral, Patos mostra-se muito atrativa para a população que chega à
cidade atraída pelos setores de educação e saúde que permite a
ampliação e diversificação do setor terciário, como o comércio e a
prestação de serviços, motivando mudanças internas na cidade, como
o seu crescimento territorial, expansão urbana e a manutenção da sua
centralidade que vai adaptando as transformações da sociedade, e
permite o crescimento do transporte alternativo. Fica evidente a
importância dos transportes alternativos para a manutenção desta
centralidade, eles dinamizam com seus horários, suas flexibilidades
este fluxo diário de pessoas que convergem para Patos, para o
atendimento das suas necessidades, gerando uma movimentação em
toda a economia formal e informal.
¾ Os órgãos administrativos, tanto de ordem pública como privada
também são responsáveis pela manutenção da centralidade da cidade.
Através deles pode-se perceber que a cidade com sua acessibilidade
viária, sua infra-estrutura e a diversidade de equipamentos urbanos,
torna-se atrativa para a instalação de seus escritórios. A cidade passa
102
a ser também o local central destes órgãos que coordena as atividades
em todo o sertão paraibano.
Certamente não foram esgotados os arranjos que confirmam a
centralidade, e que a análise individual de cada um desses elementos, renderia
outros trabalhos de pesquisa. Fica aqui a sugestão de sua realização em outro
momento, mesmo assim essas preliminares, permitem um estudo da Centralidade
de Patos, a partir desses arranjos para a posição de destaque que ocupa no sertão
paraibano e que extrapola os limites do estado.
Outro dado a ser considerado é que dentro rede urbana do estado da
Paraíba a cidade de Patos é a mais expressiva referência de todo o sertão
paraibano.
O estudo desta centralidade baseou-se em um dos teóricos clássicos da
geografia alemã, Walter Christaller, que buscou compreender a dinâmica urbana, a
partir dos conceitos chaves de centralidade, localidade central, região de influência
das cidades e polarização. Propondo uma hierarquia urbana baseada em fluxos de
bens e serviços. A área de influência de uma cidade não é somente definida pela
posição geográfica que ocupa, mas está associada a um conjunto de funções de
bens e serviços que esta cidade oferece. E Patos se enquadra nesta situação.
Em síntese, pode-se dizer que Patos uma cidade com um espaço central,
com uma economia terceirizada em expansão e sendo um local plenamente
institucionalizado, apresenta condições muito favoráveis, para o seu crescimento e
para o desenvolvimento. Com isso, acredita-se que o futuro da cidade de Patos
reside na (re) construção permanente dos arranjos que lhe dão esta singularidade
no sertão paraibano.
Como consideração final desse trabalho, fica a confirmação através dos
arranjos selecionados que a centralidade da cidade se mantém em razão da
dinâmica desses arranjos, que acompanha as transformações da sociedade. Que a
manutenção desta centralidade é relevante para o contexto da economia, do
crescimento e do desenvolvimento da cidade.
Espera-se que, ao mencionar a importância dos quatros arranjos
analisados para a manutenção desta centralidade, este estudo embora tímido, possa
suscitar o desejo de estudos mais especializados acerca da temática, dos arranjos
103
selecionados, e de outros arranjos como formar de ensejar investimentos, para que
sua população e das áreas por ela centralizada possa desfrutar de mais qualidade.
104
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111
APÊNDICES
112
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
QUESTIONÁRIO 1 – (TRANSPORTE ALTERNATIVO)
Nº de Questionário _________
PONTO Nº ______ Destino PATOS a _________________________ Preço da passagem:
___________
1. Em relação ao veículo:
( ) motorista
( ) Proprietário
( ) motorista e proprietário
2. Naturalidade ______________________Local de residência: ( ) Patos ( )____________
3. Faixa etária:
a. ( ) 18 a 29
4.
a)
b)
c)
d)
b. ( ) 30 a 39
c. (
) 40 a 50
d. (
) mais de 50
Com relação ao percurso:
Quantas viagens são realizadas por dia ___________________________________________
Quantas viagens são realizadas nos sábados e domingos _____________________________
Quais as previsões dos horários de chegada a Patos _________________________________
Quais as previsões dos horários de saída de Patos___________________________________
5. Há variação na procura por viagens, em determinados períodos do mês?
(
) sim (
) não. Quando?___________________________________________
6. Os seus horários de chegada e saída:
a. (
) são pré-estabelecidos
b. (
) funcionam de acordo com a chegada de passageiros.
7. O que as pessoas vêm fazer em Patos?
113
( ) Saúde
( ) Educação
( ) Compras
( ) Pagamentos
opções
( ) outros:______________________________________
(
) Todas as
8. Organização da categoria e localização da sede:
a. (
) sindicato ________________________
b. (
) cooperativa ______________________
c. (
) associação _______________________
d. (
) outro: ___________________________
9. Os horários dos ônibus influenciam nos seus horários? ( ) sim ( ) não ( ) em parte
como? _____________________________________________________________________
10. O que você sugere para melhorar o seu trabalho?
___________________________________________________________________________
114
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
QUESTIONÁRIO 2 – (TRANSPORTE: ALTERNATIVO PASSAGEIRO)
Nº de Questionário _________
PONTO Nº _______________
Destino de _____________________a ______________________
1. Naturalidade ________________________
2. Sexo: (
) feminino
3. Faixa etária:
a. (
b. (
c. (
d. (
e. (
(
Residência ________________________
) masculino
) até 15 anos
) 16 a 20
) 21 a 35
) 36 a 50
) mais de 50
4. Quantas vezes realizam esta viagem?
a. (
) 1 vez por semana
b. (
) mais de uma vez por semana
c. (
) quinzenalmente
d. (
) uma vez ao mês
e. (
) esporadicamente
5. Se você vem de outra cidade, indiquem quais as atividades a serem realizadas em Patos:
a. (
) Saúde
115
b.
c.
d.
e.
(
(
(
(
) Educação
) Compras
) Pagamentos
) outra: ________________________
6. A cidade de Patos atende as suas expectativas em termos de serviços?
a. (
) Sim
b. (
) Não. O que falta? ____________________________________________
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