UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB: Um estudo a partir de arranjos espaciais VILMA LÚCIA URQUIZA CAVALCANTE JOÃO PESSOA-PB 2008 VILMA LÚCIA URQUIZA CAVALCANTE A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB: Um estudo a partir de arranjos espaciais Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Geografia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação do Professor Dr. Sérgio Fernandes Alonso, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Geografia. JOÃO PESSOA 2008 FICHA CATALOGRÁFICA C736c CAVALCANTE, Vilma Lúcia UrquizaC736c A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB: um estudo a partir de arranjos espaciais. / Vilma Lúcia Urquiza Cavalcante .- João Pessoa-PB 2008. 117p. Orientador: Dr. Sergio Femandes Alonso Programa de Pós-Graduação (Mestrado em Geografia) 1 Centralidade. 2. Arranjos espaciais. 3. Patos I.Título li. Universidade Federal da Paraíba-UFPB BC CDU: 91(047) Francisco das Chagas Leite - Bibliotecário CRB 15/0076 VILMA LUCIA URQUIZA CAVALCANTE A CENTRALIDADE DA CIDADE DE PATOS-PB: Um estudo a partir de arranjos espaciais BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Fernandes Alonso – Orientador Universidade Federal da Paraíba – UFPB ____________________________________________________________ Profª Pós Drª Doralice Sátyro Maia – 1ª Examinadora Universidade Federal da Paraíba – UFPB ____________________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Pazera – 2º Examinador INEP - MEC JOÃO PESSOA 2008 Morada do sol capital do sertão Aqui tem o patinho e também o verdão Fizeste história com o algodão Acolhe cidades de toda a região O melhor São João também é aqui No calor do teu povo podemos seguir Da religião que nos alumia Virgem padroeira Senhora D’Guia Patos Pedacinho da Nação Você vive no meu coração Patos eu vou cantar Moras em mim e sempre em ti irei morar Tem a tradição no ramo coureiro Exportas a arte até pro estrangeiro De intelectuais também es celeiro O sol brilha forte o ano inteiro Na tua bandeira o azul e o branco Para Santa Francisca só falta o manto O passado, presente futuro eu canto Cidade do sol, cidade do encanto (SILVA, Patos Pedacinho da Nação) AGRADECIMENTOS Este é o espaço de reconhecimento e agradecimento, a todos os que contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolvimento deste trabalho. São muitos, e se acontecer de esquecer algum nome, me perdoem, trata-se da ansiedade do momento. Lembro dos gestos e atitudes que vão além das marcas desta escrita e expresso meu reconhecimento as pessoas que me acompanharam e foram responsáveis, através do estímulo, carinho e apoio, para a conclusão desta etapa de minha vida. Agradeço a honra e o privilégio de estar rodeada por pessoas tão especiais, que compartilharam de minhas aspirações e contribuíram para a concretização de meus sonhos e esperanças. Sinto-me feliz e emocionada ao agradecer a todos e, menciono muito carinhosa e especial: A DEUS, Força Superior, Fonte e Ordem de toda a energia do universo, por iluminar os meus pensamentos, guiar os meus passos e apaziguar o meu coração nos momentos de angústia e desespero. Aos meus pais Sebastião Alves e Iracema Urquiza, pela vida, educação e o desejo desta vitória. Aos meus irmãos, Suely, Vilberto, Roberto, Francisco e em especial a Roberval. A Maria Luiza Urquiza da Nóbrega (minha tia Zizinha do coração). A Marlene Cezar Bezerra (madrinha) presença tão marcante em minha vida, ao me presentear com os estudos. A elas o meu eterno reconhecimento. Ao Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPB e ao seu corpo de professores e funcionários, em especial a Sônia, que sempre nos recebe tão gentilmente. Ao meu orientador Professor Dr. Sérgio Fernandes Alonso pela compreensão e disponibilidade durante a realização desse trabalho. Aos professores Drª Doralice Sátyro Maia, Dr. Ivan Targino e Dr. Eduardo Pazera, pelas participações nas Bancas de Qualificação e Defesa. Agradeço a disponibilidade nos momentos em que busquei ajuda. Aos professores Dr. Eduardo Viana e Drª Adailza Martins (Dadá) pelo exemplo de conduta e comprometimento com o ensino e com quem aprendi muito sobre o ato de educar. Vocês vão além, são educadores. Aos colegas de curso, com os quais tive a oportunidade de compartilhar idéias e experiências. E aos meus amigos, que mais merecem ser chamados de anjos da guarda: A Christianne Coelho e Padre Roberto, pelo apoio nesta jornada. A Nilton Teruya, por me agüentar este tempo todo. Agradeço a compreensão nas inúmeras vezes em que recorri à sua casa em busca de ajuda. A Marisa Tayra Teruya pelo carinho, apoio, disponibilidade em caminhar comigo todo este tempo. A Betânia Oliveira e Adriano, agradeço pelas palavras, pelos gestos e atitudes nas ocasiões freqüentes de fragilidade. A Elianete, Elson, Deoclécio e Valdith que nos momentos difíceis me encorajaram, acenando sempre a possibilidade da conclusão. A Edivânia Gomes, Rosalve, amigos adquiridos na Especialização e que estiveram presentes dando apoio. A Maria Antério, que mesmo fora do plano material, está a interceder e sempre me ensinou a alegria da vida. Sei que onde ela estiver, ficará feliz por esta vitória. A todos aqueles que oraram por mim, representados aqui por minha mãe, Dione Antério, Djane Antério e Neta. No meu espaço de trabalho, gostaria de registrar meu reconhecimento e compartilhar minha alegria especialmente com: Alana, Aretuza e Aristéia Candeia, pelas contribuições dadas ao meu trabalho. A Professora Maria Alves (Dapaz), coordenadora do Curso de Geografia da FIP, pela compreensão durante este período. Aos professores Marcone, Edílson, Xisto, Cilene Lima, colegas pelo companheirismo. A Francisca e Jader alunos do curso de Geografia por sua disponibilidade e contribuição na realização das pesquisas de campo. Ao pessoal da informática, Gieze e Jorge, sempre me dando suporte com o computador, que insistia em me deixar na mão nos momento de sufoco. Aos funcionários da Biblioteca: Francisco e Edilene, vocês foram fundamentais no socorro com os livros e na compreensão com os prazos. A Márcia Cleide, da secretaria geral pela presteza no fornecimento dos dados dos alunos da FIP, para a pesquisa. Aos amigos, que compreenderam o meu afastamento por tanto tempo! Aos funcionários das instituições e órgãos administrativos pesquisados pela solicitude no fornecimento das informações necessárias para a realização deste estudo. Aos motoristas e usuários de transportes alternativos, pelas entrevistas, parte fundamental do trabalho de campo. Muito obrigada a todos. RESUMO O presente trabalho intitulado “A Centralidade da cidade de Patos-PB: um estudo a partir de arranjos espaciais” estuda a centralidade que a cidade de Patos, no sertão paraibano exerce no contexto regional. A constatação da carência de pesquisas acadêmicas produzidas sobre este tema despertou o desejo de realizar este estudo, sob o olhar da ciência geográfica. Nesta perspectiva, procurou-se apresentar aspectos de Patos, que no decorrer da sua história tornou-se, para a região onde se localiza, um epicentro que foi sendo construído junto com as transformações da sociedade. Este estudo utilizou fundamentos teórico-conceituais para explicar a centralidade de Patos, sob a ótica de quatro arranjos espaciais (educação, saúde, transporte e órgãos administrativos) responsáveis por este processo e que têm um papel relevante no fortalecimento e na manutenção desta centralidade. A análise da centralidade embasou-se prioritariamente na Teoria de Christaller. Para explicar e ratificar a influência que a cidade de Patos exerce no sertão paraibano e que se fortalece na medida em que estes arranjos espaciais retroalimentam sua dinâmica, foram utilizados os seguintes instrumentos: observação, consulta a documentos e questionários. Os resultados apontam para o fato de que, em virtude da posição estratégica e da infra-estrutura, converge para a cidade de Patos um considerável contingente populacional em busca dos serviços por ela oferecidos e com isso a cidade passa a exercer uma forte influência sobre a região, do seu entorno e de outras áreas que extrapolam os limites do estado da Paraíba. Palavras-chave: Centralidade. Arranjos espaciais. Patos. ABSTRACT This work, entitled “Centrality in Patos town - Paraiba state: A research based on spatial arrangements, approaches the centrality that Patos town, in Paraiba backwoods, exerts in a regional context. The lack of academic researches about this topic is a strong reason for this work under a geography view. Under this perspective, it is intended to present some aspects of Patos that throughout its history became for the region in which it is settled an epicenter that was being constructed along with society changes. In this study, theoretical-conceptual foundations were used to explain Patos centrality, under four spatial arrangements (Education, health, transport and administrative organs) responsible for this process and that play an important role in maintenance and strengthening of this centrality. The centrality analysis was based mainly in Christaller theory. In order to explain and affirm the influence of Patos town upon Paraiba backwoods and its strong influence as these spatial arrangements combine to maintain this dynamic process, the following procedures were made: observation, documents analysis and questionnaire. The results show that due to strategic localization and infrastructure, a large number of people move to Patos in search for the services offered in the town, and because of that the city strongly influences its neighbor regions and other areas beyond the limits of Paraiba state. Key-Words: Centrality. Spatial arrangements. Patos. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 13 2 GÊNESE DA CENTRALIDADE DE PATOS 20 2.1 Localização da área de estudo 22 2.2 Os Meandros históricos: conquista e formação da cidade 27 2.3 Um olhar para a cidade no século XX e XXI 38 3 A REDE URBANA 48 3.1 A Centralidade da cidade de Patos no contexto da Rede Urbana 58 3.2 Patos e os níveis de centralidade das cidades brasileiras 64 4 A CENTRALIDADE E OS ARRANJOS ESPACIAIS DE PATOS 69 4.1 Educação 69 4.2 Procedência dos estudantes universitários 75 4.3 Saúde 81 4.4 Transporte 84 4.5 Órgãos Institucionais com sede em Patos 95 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 100 REFERÊNCIAS 104 APÊNDICES 111 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO 1 – (TRANSPORTE ALTERNATIVO) 112 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO 2 – (TRANSPORTE: ALTERNATIVO PASSAGEIRO) 114 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Mapa de localização da cidade de Patos – PB 23 FIGURA 2 – Acesso viário da cidade de Patos–PB 26 FIGURA 3 – Caminhos do gado para Olinda/Recife 30 FIGURA 4 – Roteiros de penetração na conquista dos sertões paraibanos 32 FIGURA 5 – Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição, localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro 37 FIGURA 6 – Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição, localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro 39 FIGURA 7 – A segunda Igreja, na Rua Alegre 40 FIGURA 8 – Catedral após a reforma 40 FIGURA 9 – Rua grande – Atual Sólon de Lucena 41 FIGURA 10 – Mapa da rede ferroviária da Paraíba 43 FIGURA 11 – Área de abrangência da Diocese de Patos 45 FIGURA 12 – Rua Sólon de Lucena 46 FIGURA 13 – 6ª Gerência Regional de Educação e Cultura 70 FIGURA 14 – Faculdades Integradas de Patos – unidade I 72 FIGURA 15 – Faculdades Integradas de Patos – unidade II 72 FIGURA 16 – Universidade Federal de Campina Grande 73 FIGURA 17 – Universidade Estadual da Paraíba 74 FIGURA 18 – Procedências dos alunos universitários para a cidade de Patos 76 FIGURA 19 – Circulação do transporte na Rua Horácio Nóbrega 79 FIGURA 20 – Concentração dos transportes na Rua Horácio Nóbrega 80 FIGURA 21 – Concentração dos transportes Rua Horácio Nóbrega 80 FIGURA 22 – Hospital Regional Dep. Jurandy Carneiro 81 FIGURA 23 – Setor de urgência do hospital Regional de Patos 82 FIGURA 24 – Maternidade Peregrino Filho 82 FIGURA 25 – Área de procedência dos pacientes do Hospital Regional de 83 Patos FIGURA 26 – Área de procedência dos pacientes do Hospital e Maternidade Peregrino Filho 84 FIGURA 27 – Estação Rodoviária Ivan Bichara 85 FIGURA 28 – Percursos de linhas de ônibus Guanabara, que partem do 86 litoral para o interior do Estado e que passam pela cidade de Patos FIGURA 29 – Mapa das distâncias e preços do transporte alternativo 88 FIGURA 30 – Ponto do transporte alternativo na Rua Horácio Nóbrega 93 FIGURA 31 – Ponto de transporte alternativo nas imediações do Mercado Central 94 FIGURA 32 – Parte do Mercado Central 95 FIGURA 33 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 1 97 FIGURA 34 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 2 97 FIGURA 35 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 3 98 LISTA DE TABELAS TABELA 1 TABELA 2 TABELA 3 TABELA 4 População e a área dos municípios da Micro-Região de Patos (IBGE, 2007) 25 Procedência dos universitários por curso da FIP, Patos – PB. 2008.1 77 Procedência dos universitários por curso da UFCG, Patos – PB. 2008.1 78 Município de residência dos motoristas de transporte alternativo 89 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 QUADRO 2 QUADRO 3 Bens e serviços de baixa complexidade na cidade de Patos, 2007 65 Bens e serviços de média e elevada complexidade na cidade de Patos, 2007 66 Cursos oferecidos por Instituições de Ensino Superiores (IES) em Patos – PB no período 2008.1 71 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Movimentação de passageiros de transporte alternativo 90 GRÁFICO 2 Freqüências das viagens a Patos, por faixa etária, de usuários do transporte alternativo 91 Motivação de viagens de moradores de outros municípios 92 GRÁFICO 3 INTRODUÇÃO Este trabalho consiste em um estudo sobre o fenômeno da centralidade regional da cidade de Patos, localizada no sertão paraibano. A letra da música em epígrafe apresenta a cidade, que se orgulha de oferecer ao viajante que passa seus atrativos: lugares de religiosidade, festas regionais, indústrias, serviços, além de envaidecer-se de ser também um “celeiro de intelectuais”. Mas a letra igualmente revela o “acolhimento” das cidades da região, evidenciando uma característica que lhe é concedida e reconhecida desde os tempos de formação, quando do processo de ocupação do interior nordestino: o de ser um epicentro da vida sertaneja, ultrapassando os limites do estado da Paraíba, e se estendendo as cidades dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, com destaque na área de prestação de serviços. Apesar deste reconhecimento generalizado e decantado em prosa e verso, no âmbito acadêmico, faltam estudos mais sistematizados que proporcionem dados empíricos consistentes, a partir dos quais seja possível a discussão de parâmetros confiáveis que possam ser utilizados nos estudos sobre o tema da centralidade regional e da elaboração de políticas de desenvolvimento regional, para o Estado da Paraíba. Assim, esta dissertação - A centralidade da cidade de Patos - PB: um estudo a partir de arranjos espaciais - consiste em um estudo sobre alguns arranjos espaciais relacionados ao fortalecimento da cidade enquanto espaço centralizador de serviços na região. O município localiza-se a 305 quilômetros da capital João Pessoa, na Mesorregião do Sertão Paraibano, com acesso pela BR-230. Apresenta população de 97.276 mil habitantes (IBGE, 2007), e com economia concentrada em atividades comerciais e de serviços relevantes para a mesorregião em que se encontra situada. A questão central do trabalho é estudar a dinâmica dos arranjos espaciais que faz com que a cidade assuma um status de epicentro do sertão, e que, a partir daí, seja continuamente retroalimentada neste processo de centralidade. 14 Para tanto, evidencia-se a construção histórica de Patos, com o propósito de contextualizar os arranjos espaciais selecionados para este estudo; a identificação da área de influência de Patos; a identificação dos principais arranjos espaciais (educação, saúde, transportes e órgãos institucionais) na região de influência de Patos e a permanência destes arranjos espaciais na cidade de Patos. Para estudar o universo do objeto deste estudo, são relevantes alguns delineamentos preliminares pelos domínios da ciência geográfica, a fim de buscar algumas considerações teórico-conceituais. Trata-se de reunir o conhecimento que define o objeto de estudo, bem como reproduzir, no âmbito da idéia, os processos que tal como elas produzem na realidade. Na proposta de definição de um objeto para os estudos em Geografia, Santos (2002a) considera que o nível de teorização é somente possível através de um esforço de abstração, ao que só é possível chegar-se por intermédio das categorias que definem uma dada realidade. A ciência geográfica dispõe de alguns conceitos que segundo Corrêa (2001) é capaz de sintetizar a sua objetivação, o que lhe confere uma identidade e uma autonomia relativa no âmbito das ciências sociais. E que para Santos (op.cit.) a autonomia pode ser encontrada pela unidade do objeto de estudo que é a sociedade total e na definição de categorias analíticas fundamentais. Assim como define Silva (2007, p. 9): [...] a Ciência Geográfica, aqui considerada se identifica e toma para si como importante categoria analítica o Espaço, que permite ampla gama de visualização de realidade, quando não se confundindo com ela própria, e possibilita a apreensão da totalidade-mundo enquanto microcosmo das ações humanas e do envolver histórico. O espaço apresenta uma multiplicidade de definições e significações, sendo mutável no tempo, portanto é possível falar no espaço de uma casa, de uma cidade, região etc. Fazendo-se, referência ao espaço das expressões das materialidades geográficas, pode-se falar do espaço enquanto conteúdo abstrato: espaço das relações sociais. O espaço se concebe como o lugar da reprodução das relações sociais de produção, ou seja, reprodução da sociedade. Assim, a formação social não pode 15 ser compreendida sem referência à noção de espaço, o qual deve ser considerado segundo Santos: Como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí porque evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares. (op. cit., p. 153). Dessa forma, em outra obra, Santos (1988, p. 15) afirma que “o espaço é uma estrutura social dotada de um dinamismo próprio e revestida de certa autonomia, na medida em que sua evolução se faz segundo leis que lhes são próprias”. Este conceito está fundamentado na relação indissociável entre espaço e sociedade. Para Santos (1986, p. 62) “o espaço geográfico é considerado como uma porção bem delimitada da sociedade local quanto das influências externas e até mesmo estrangeiras, cujo peso nem sempre é perceptível à primeira vista”. A partir dessa linha teórica de construção de pensar o espaço como parte integrante da dinâmica social que cria e associa, a história da sociedade mundial à local. Santos (1977,p.81) “diz que essa percepção do espaço pode servir como fundamento à compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social”. Ainda que se tenha clara a relação entre espaço e sociedade como indissociável, é relevante ressaltar, aqui, o discurso de Milton Santos quanto à categoria Formação Econômica e Social, como pertinente para validar a teoria que entende espaço e sociedade como inseparáveis e dentro de uma perspectiva econômica, social, política e cultural. Assim, Santos afirma que: O interesse nos estudos sobre as formações econômicas e sociais está na possibilidade que eles oferecem a permitir o conhecimento de uma sociedade na sua totalidade e nas suas frações, mas sempre um conhecimento específico, apreendido num dado momento de sua evolução. 16 [...] Defini-la é produzir uma definição sintética da natureza exata da diversidade e da natureza específica das relações econômicas e sociais que caracterizam uma sociedade numa época determinada. [...] Modo de produção, formação social – essas três categorias são interdependentes. [...] a formação social não pode ser compreendida sem referência à noção de espaço. (1982b, p. 12-14). A partir da percepção dessa ligação indissociável entre espaço e sociedade, na produção da organização social e econômica, vista na cidade de Patos através de sua centralidade. Diante do que exposto, o conceito de espaço é o referencial teórico norteador deste estudo, na análise e na constituição da centralidade do espaço da cidade de Patos - PB, como reflexo da sua dinâmica e das transformações que a sociedade produz no decorrer do tempo histórico. A pesquisa foi pautada em levantamento bibliográfico e ampla pesquisa empírica, conforme as etapas a seguir: Etapa 1: coleta e compilação de dados de identificação das fontes e das técnicas da pesquisa, através das seguintes ações: 9 Levantamento bibliográfico sobre a área em estudo (localização, aspectos físicos, históricos, socioeconômicos, educacionais e de saúde); 9 Leituras sobre o tema centralidade e rede urbana; 9 Seleção de órgãos públicos e privados para levantamento de dados da pesquisa; 9 Elaboração de questionários e roteiros de entrevistas para motoristas e usuários de transporte alternativo. Etapa 2: trabalho de campo: 9 Pesquisa nos seguintes locais: (1) Cagepa; (2) Energisa; (3) Correios; (4) Banco do Nordeste; 17 (5) 6º Núcleo Regional de Saúde; (6) 5ª Regional de Polícia Civil; (7) 6º Núcleo Regional da Procuradoria do Estado; (8) Diocese de Patos; (9) Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE; (10) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; (11) 3º Batalhão da Policia Militar; (12) Prefeitura Municipal; (13) Secretarias das instituições de ensino superior; (a) Faculdades Integradas de Patos (FIP); (b) Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – Campus Patos); (c) Universidade Estadual da Paraíba (UEPB - Campus VII); (d) Universidade do Vale do Acaraú (UVA); (e) Pólos de Educação a Distância (EAD). 9 Aplicação de questionários semi-estruturados para a população envolvida com “transporte alternativo” 1 (diagnóstico de motivação): o para os motoristas; o para os passageiros usuários. 9 Foi realizado também um registro fotográfico para visualização dos elementos que refletem a centralidade e a influência da cidade de Patos. Etapa 3: sistematização dos dados e conclusões. 1 O transporte alternativo ou informal está sendo utilizado no âmbito deste trabalho como aquele que constitui de serviço de viagens (inter-municipal, inter-estadual) prestado por motorista (proprietário ou não) de veículos particulares, que apresentam situação reconhecida legalmente ou não para a população. Este serviço apresenta-se como alternativa aos serviços de ônibus regulares e tem se projetado de forma ampla nos últimos anos, merecendo, por si só, estudos mais detalhados. 18 A questão metodológica fundamental é a necessidade de consorciação entre fontes escritas – análises já produzidas por estudiosos e documentação primária e a observação e interpretação dos relatos das pessoas entrevistadas. Essa metodologia propiciou conhecer o objeto de estudo da pesquisa e problematizá-lo a partir de observações, pesquisa empírica, subsídio teórico, entrevista e informações obtidas em órgãos e entidades diversas. Tudo isso deu suporte para a confecção dos mapas e escrita do trabalho, sendo essa a última etapa da pesquisa. O trabalho apresenta a seguinte estrutura: A primeira parte, intitulado A gênese da centralidade de Patos, percorre meandros físicos e históricos que vão desenhando a região e apresenta os arranjos espaciais que vão conferir à cidade a idéia de centralidade. A segunda parte, Rede Urbana, destaca a centralidade da cidade de Patos no contexto da rede urbana, a partir de uma discussão sobre a rede urbana brasileira e os níveis de centralidade das suas cidades. Finalmente, a terceira parte, A centralidade e os arranjos espaciais de Patos, apresentam os arranjos espaciais selecionados e a sua relevância para a permanência da centralidade da cidade no sertão paraibano. Os arranjos escolhidos para retratar e confirmar esta posição de Patos foram os serviços oferecidos pelos setores da educação, saúde, transporte alternativo e da existência de vários escritórios de órgãos públicos e privados instalados na cidade em função da sua posição estratégica, da infra-estrutura e dos equipamentos oferecido pela mesma. Trata-se de uma abordagem inicial, que pretende contribuir para a reflexão em torno dos temas de desenvolvimento regional na Paraíba e dialogar com os estudos acadêmicos sobre o tema. 19 Volve um olhar risonho sobre Patos Que é tua, desde o seu primeiro dia, E para Deus dirige os nossos atos, Ó Virgem Santa, Senhora da Guia! As tuas bênçãos para nós tão caras, Manda durante toda a nossa vida, Sobre o vale formoso do Pinharas, Onde quiseste erguer a tua Ermida. Nas horas intranqüilas da tormenta, O teu riso de amor e de alegria, Seja vigor, que a nossa força aumenta, Seja farol que para o Céu nos guia! E, se amar não soubermos ao Senhor, Ama-o por nós, e dize ao bom Jesus, Que faça nosso o teu imenso amor, Como ele, filhos teus, nos fez na Cruz! (Dom Fernando Gomes, Hino de Nossa Senhora da Guia) 20 2 GÊNESE DA CENTRALIDADE DE PATOS Este estudo parte do princípio de que os homens ao produzir sua existência, sua história, produzem também um espaço. A construção do espaço ocorre e se enreda no processo de constituição dos sujeitos, no uso e na apropriação dos valores histórico-sociais e culturais. Portanto, perceber o espaço consiste num movimento de apreensão de tramas tecidas em torno de sua geografia, sua história, sua economia, sua política e as práticas sociais dos sujeitos envolvidos. No âmbito deste estudo, o espaço está sendo tomado como resultado e representações de relações várias, estabelecidas entre o espaço físico e a sociedade que o ocupa. Neste sentido, Santos esclarece: Instância econômica e a instância cultural-ideológica. Isso significa que, como instância, ele contém e é contido pelas demais instâncias, assim como cada uma delas o contém e é por ele contido. A economia está no espaço, assim como o espaço está na economia. O mesmo se dá com o político-institucional e com o cultural-ideológico. Isso quer dizer que a essência do espaço é social. Nesse caso, o espaço não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto é a Natureza. O espaço é tudo isso, mas a sociedade; cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual (1992, p. 1-2). A partir da intensificação do fenômeno de mundialização, ocorrido do século XX, as sociedades abriram-se para uma circularidade mais ampla de influências culturais e econômicas diversas e de informações. Neste contexto, as relações de identidade dos sujeitos são fabricadas pelo seu modo de vida nos espaços que construíram e pelos quais transitam. Ou seja, os sujeitos se apropriam, criam, definem, (des) constroem, legitimam e relacionam-se nos espaços. É válido ressaltar, nesta perspectiva, que a sua própria natureza é resultado de ações que lhe atribuem um dinamismo e uma funcionalidade específica, construindo uma significação social, como fato e fator, que segundo Carlos: Um espaço que, em última instância, é uma relação social que se materializa formalmente em algo passível de ser apreendido, entendido e 21 aprofundado. Um produto concreto, a cidade, o campo, o território – nessa perspectiva o espaço, enquanto dimensão real que cabe intuir – coloca-se como elementos visíveis, representação de relações sociais reais que a sociedade é capaz de criar em cada momento do seu processo de desenvolvimento. Conseqüentemente, essa forma apresenta-se como história, especificamente determinada, logo concreta (2001, p. 28). Neste contexto, a cidade se apresenta, como: [...] uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo histórico e que ganha materialização concreta, diferenciada, em função de determinações históricas específicas. [...] A cidade, em cada uma das diferentes etapas do processo histórico, assume formas, características e funções distintas. Ela seria assim, em cada época, o produto da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder nela centralizado (CARLOS, op. cit., p. 57). A cidade de Patos como realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo histórico como um ponto de confluência regional no sertão da Paraíba, assume em função de uma posição estratégica, central e uma acessibilidade viária um papel de destaque, tornando-se centro intermediário entre cidades maiores e menores em diferentes redes urbanas no contexto estadual. A constituição da cidade de Patos se estabelece num processo histórico mais amplo, relacionado à formação do perfil territorial brasileiro, que, a partir do século XVI, situa-se no bojo da configuração do mundo americano, atrelado às relações de formação e reprodução do capital. Neste contexto, a localidade estudada interage no processo de formação do seu espaço a partir da suas várias relações produtivas com o capitalismo em desenvolvimento e ganha visibilidade regional. Neste processo encontram-se estratégias e movimentos centralizadores, estando este ato firmado num contexto imbricado nas condições econômicas, sociais, políticas e ambientais, que, juntas tornam as cidades pontos estratégicos dos planos de ações e planejamentos, centrados nas condições de desenvolvimento que cada uma, por si, necessita para seu desempenho no contexto da hierarquia das cidades. 22 Um dos fatores que contribuiu e continua sendo um forte atrativo para a formação e a permanência da centralidade da cidade é a sua localização geográfica. 2.1 Localização da área de estudo O município de Patos está localizado na mesorregião do Sertão Paraibano e faz parte da microrregião do próprio nome (Patos) na porção central do Estado (Figura 1). Segundo o IBGE (2007), a sede do município fica a 245 m altitude em relação ao nível do mar, distando cerca de 310 km da capital do Estado – João Pessoa. Localizada no centro do estado, o município apresenta uma posição geográfica privilegiada que lhe proporciona uma importância singular, determinada pelos paralelos 70 01 ’28” de Latitude Sul e 370 16’ 48” Longitude Oeste. Limite-se, ao norte com o município de São José de Espinharas (a 28 km de distância), ao sul, com São José do Bonfim (a 16 km de distância), ao leste, com São Mamede e a oeste, com Santa Terezinha (a 20 km de distância) (Ver Figura 1). Neste espaço, as feições geográficas naturais também contribuem de forma direta para caracterizar a região, em que esta situada o município que tem seu território localizado nas áreas aplainadas do Sertão Paraibano, conhecida como Depressão de Patos, pertencente ao conjunto de depressões periféricas e interplanálticas semi-áridas que envolvem o Planalto da Borborema na Paraíba. Esse conjunto recebe duas denominações: uma que o chamou de Superfície Sertaneja (AB’SABER apud MOREIRA; GATTO, 1981) e a outra de Depressão Sertaneja denominada pelo RADAMBRASIL (1981). 23 24 Seu território está inserido climaticamente no domínio semi-árido subequatorial e tropical que constitui o chamado Polígono das Secas 2 . Em razão do seu clima, pelas elevadas temperaturas é popularmente conhecida como “Morada do Sol”. Seus solos em função das condições da semi-aridez são, na sua maioria, rasos pedregosos e fortemente condicionados pelas rochas-mãe, por apresentar uma cobertura vegetal pouco densa e caducifólia que favorece a ação mecânica do escoamento difuso. A hostilidade dos elementos climáticos faz com que o regime das chuvas seja caracterizado pela torrencialidade 3 . O município tem uma população de 97.276 mil habitantes e uma densidade demográfica de 191,2 hab/Km2, corresponde ao 4º lugar na hierarquia das cidades do Estado da Paraíba. A população urbana é de 93.605 mil habitantes. 4 O município também apresenta a maior população do sertão paraibano, bem superior aos municípios como Sousa (63. 783 hab), Cajazeiras (56.051 hab), Pombal (31.524 hab), Catolé do Rocha (27.548 hab) e Itaporanga (22. 433) que se destacam também nesta região. A microrregião de Patos é a sede do município do mesmo nome, é integrada por nove municípios conforme Tabela 01. De Acordo com os dados expostos na Tabela percebe-se a diferença populacional existente entre Patos e as demais cidades que compõe a microrregião na qual estão inseridas, tornando-se um dos fatores, juntamente com a sua posição geográfica privilegiada, relevante para o fortalecimento da sua centralidade. 2 Esta área não apresenta uniformidade, compreendendo porções mais e menos chuvosas, mais e menos exposta às secas periódicas [...] Em áreas como a Chapada do Apodi e trecho do Sertão do Ceará e da Paraíba o período seco se estende por mais de 8 meses apresentando também associações vegetais xerófilas (ANDRADE, 1983, p. 95). 3 Esta torrencialidade das chuvas do Sertão sempre presente foi descrita por Coriolano de Medeiros (apud ALMEIDA, 1980) “No alto sertão a chuva avança de qualquer dos pontos cardeais. Com imensa surpresa observei uma tarde no município de Patos, vir do poente pesado e prolongado aguaceiro". 4 Os dados foram obtidos no IBGE (2007), agência Patos. 25 TABELA 1 - População e área dos municípios da Microrregião de Patos CIDADE POPULAÇÃO ÁREA (Km²) 1 AREIA DE BARAÚNAS 2.096 96 2 CACIMBA DE AREIA 3.485 233 3 MÃE D’ ÁGUA 4.017 177 4 PASSAGEM 2.124 112 5 PATOS 97.276 513 6 QUIXABA 1.433 117 7 SANTA TEREZINHA 4.644 358 8 SÃO JOSÉ DE ESPINHARAS 4.913 726 9 SÃO JOSÉ DO BONFIM 3.180 152 123.168 2.484 TOTAL FONTE: População recenseada e estimada, segundo os municípios - Paraíba – 2007. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem_final/tabela1_1_12.pdf. Acesso em 8 de maio de 2008. A sua localização privilegiada lhe assegurou uma centralidade para onde convergem dezenas de municípios, destacando-se como centro de comercialização, prestação de serviços com ênfase na educação e saúde. Em função da sua localização no estado e com vetores viários interligando-a com toda a Paraíba e viabilizando o acesso aos Estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte sua centralidade torna-se importante. Está ligada ao sistema nacional de transporte por dois grandes eixos viários centrais: a rodovia BR 230 e a Rede Ferroviária do Nordeste nos sentidos Leste, Oeste, também é servida por rodovias transversais, asfaltadas, fazendo ligações intermediárias com os Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte. A cidade possui também uma pista de vôos asfaltada utilizada para o transporte diário de serviço do correio e pequenas cargas. Estes elementos lhe permitem uma grande acessibilidade viária (Figura 2). A sua importância geoeconômica próxima ao centro geográfico da Paraíba e a proximidade com os Estados do Pernambucano e Rio Grande do Norte, quer por sua vizinhança com a microrregião do Pajeú (PE), com a microrregião de Caicó e de Currais Novos (RN), lhe concede condições para centralizar as atividades econômicas de produção e de comercialização. 26 27 2.2 Os Meandros históricos: conquista e formação da cidade Para enfatizar a importância da relação entre a Geografia e a História, tratada nesta seção, recorre-se ao conceito expresso por Milton Santos (1997, p.39) no qual o espaço geográfico constitui "um sistema de objetos e um sistema de ações" que: [...] é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois cibernéticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. A colonização presume domínios territoriais atuando numa lógica de interesses materiais e simbólicos e numa ordenação do espaço conquistado. A posse da terra, que posteriormente se tornaria o Brasil, segundo Brum (1999, p. 123): Foi fruto da expansão marítima e mercantil da Europa, com Portugal na vanguarda desse movimento. O móvel das grandes navegações e dos grandes descobrimentos foi o comércio, ou mais precisamente os lucros que ele poderia proporcionar. Em Portugal, país católico, o objetivo oficialmente definido era ‘dilatar a fé e o império’. Na prática, mais o Império do que a Fé (1999, p. 123). Este processo de conquista e povoamento teve início na região que hoje se chama Nordeste. Como afirma Andrade (1981, p. 14): [...] a ocupação do espaço nordestino se processou na época da expansão colonial européia, como um dos capítulos da revolução comercial, e que essa ocupação foi feita em função da produção de determinadas mercadorias, demandadas no mercado europeu e cuja produção só era possível, então em determinadas áreas do mundo tropical. 28 O território que se constitui hoje como a região Nordeste, foi formado pela motivação de atender à demanda do mercado europeu e dentro desta ótica a colônia servia como mercado consumidor para as suas exportações de manufaturas e fontes de abastecimento de matéria-prima e metais preciosos. É o colonialismo e o mercantilismo que determinaram a orientação da economia para o comércio exterior, para a exportação da produção desse espaço. A cultura do açúcar transformou a paisagem do litoral nordestino, e o território foi distribuído a partir das cartas de sesmarias. Para Melo (2002, p. 33), A primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda no século XVI. Na segunda metade do século XVII e, principalmente no século XVIII, essas sesmarias alcançaram os pontos mais distantes do território paraibano, o que representou a expansão deste, com incorporação das terras sertanejas à colonização. Dando ênfase Melo (op.cit.) continua ressaltando que a sesmaria 5 , cuja distribuição está nas bases da formação do latifúndio monocultor (cana-de-açúcar) no Litoral e Brejo, e do binômio pecuária-algodão, no Sertão, foi a mais importante forma de ocupação do território paraibano. As grandes fazendas e engenhos necessitavam de animais de tração e de corte, cuja cultura, contudo, foi se configurando como uma atividade secundária, tendo se desenvolvido como atividade complementar à economia açucareira de exportação que ocupou progressivamente, espaços mais afastados do Litoral, conhecidos como áreas de abertura de fronteira. Assim a pecuária dividia inicialmente as mesmas terras que o açúcar. À medida que novas áreas foram incorporadas à produção açucareira, o gado foi sendo afastado para as terras do sertão nordestino. 5 As sesmarias eram as regiões incultas e despovoadas, que os reis de Portugal ou os governadores das capitanias concediam às pessoas de merecimentos de serviços, quer para nela tratarem da agricultura, quer para situarem os seus gados. (JOSÉ OCTÁVIO, 1983, p. 76). Elas faziam parte do sesmarilismo Este sistema teve suas origens em Portugal e foi criado com o objetivo principal de promover a ocupação produtiva de terras não agricultadas através de doações realizadas pelo Estado. No Brasil, este sistema remonta aos primórdios da colonização no século XVI, quando a concessão de sesmarias era atribuição dos capitães donatários ou dos governantes das capitanias reais, como era o caso da Paraíba. Poderemos ver adiante então, como o sistema de concessões de sesmarias esteve na origem da estrutura fundiária do sertão da Paraíba nas primeiras décadas de sua colonização. (GUEDES, 2006). 29 Esta atividade pecuária foi se configurando como fornecedora de alimentos (carne-de-sol) e força motriz (bois e cavalos para os engenhos de açúcar do litoral durante a época da moagem da cana). Assim, a cana-de-açúcar foi também indiretamente responsável pela ocupação das áreas situadas mais para o interior, no Agreste e no Sertão, considerada de boa qualidade para a pecuária ultraextensiva em campo aberto. O gado foi o grande responsável pela chegada do colonizador no sertão. A criação do gado também se destacou por possibilitar, segundo Brum (op.cit., p. 134), “a ascensão social de brancos pobres e mestiços, sobretudo pernambucanos e baianos, muitos deles transformados em proprietários de fazendas de criação, desde o final do século XVII”. Saindo da Bahia, atravessando o rio São Francisco em direção ao atual estado de Pernambuco o gado percorreu todo o interior, chegando aos estados do Piauí e do Maranhão. Partindo desses dois focos começou a expansão para o todo o Sertão. Os caminhos do gado eram muitos longos e para chegar ao seu destino faziam-se intermináveis percursos. Havia pessoas para condução destes animais (os vaqueiros) e neste trajeto, iam surgindo vários povoados que começavam a gerir uma vida social no sertão. A passagem pela região onde se formaria o povoado de Patos e outras localidades, como Sousa, Pombal e Taperoá, fazia parte de uma rota que vinha das terras do Piauí rumo à atual cidade de Olinda, em Pernambuco, conforme mostra a Figura 3. 30 FIGURA 3 - Caminhos do Gado para Olinda/Recife FONTE: Andrade (1986, p. 154) A conquista do Sertão e das Espinharas 6 se inscreve neste quadro de expansão da fronteira geográfica da região nos séculos XVII e XVIII. O processo de ocupação durou aproximadamente 52 anos, entre 1670 e 1722, forjada em meio a negociações e embates violentos com as tribos indígenas da região. 7 Após este período, iniciou-se então, a fase de construção da soberania dos proprietários, cujos grupos familiares estão na base da formação do caráter 6 A área das Espinharas aqui mencionada se refere à região onde começaram a surgir as primeiras fazendas de gado nas terras ocupadas pelas tribos dos Pegas e Panatis. 7 Esta mobilização ficou conhecida como entradas e bandeiras, cujo exemplo mais significativo consiste nas expedições entradistas paulistas, processo percebido em toda a extensão do interior brasileiro. Sobre o tema para o caso da Paraíba, ver Gonçalves (2007). 31 oligárquico da vida econômica, política e social que caracterizaria todo o território brasileiro. A ocupação do território de Patos insere-se, portanto, neste processo histórico de formação do Sertão da Paraíba, contada por Andrade (1984, p. 114): [...] na segunda metade do século XVIII, o sertão paraibano era alcançado por correntes migratórias vindas do Sul, da Bahia, e por correntes que subiam a Borborema em seu trecho menos íngreme, pelo vale do Ingá e desciam para o sertão dos Cariris Velhos. A motivação econômica da conquista era a pecuária bovina e cavalar, de vez que os engenhos de açúcar necessitavam de um permanente abastecimento da carne – a caça já começava a rarear – e de animais de trabalho para o transporte da cana dos partidos para as moendas e do açúcar dos engenhos até os portos. Os animais eram ainda utilizados como força motriz, naqueles engenhos que não dispunham de água suficiente, e no transporte de lenha e de outros carregos. A área a ser ocupada pelos pecuaristas tinha de ser muito extensa porque, tratando-se de terras de clima semi-árido, com estação seca anual, às vezes prolongada por vários anos e técnicas de criação muito rudimentares, necessitava-se de muitos hectares para alimentar uma rês. Esse espaço, antes inóspito pelo olhar do europeu (colonizador) começou a configurar-se frente às necessidades do homem. O espaço ganhou novos elementos simbólicos que deram visibilidades e dizibilidades a práticas culturais fortes e marcantes. A religiosidade posteriormente será construída como elemento de identidade. À frente desse processo de ocupação está a família Oliveira Ledo, que se constituiu como mais importante tronco ancestral das “primeiras famílias do sertão”, oriundos da bacia do médio curso do São Francisco em terras da Bahia. 8 A sua afirmação econômica foi fortemente assentada num discurso de práticas cristãs. Nesta frente pioneira, três nomes são citados na conquista e formação humana do Cariri e dos sertões ocidentais: Teodósio de Oliveira Ledo, Francisco de Oliveira Ledo e Manoel Garro. Com base na Figura 4 identificam-se os caminhos da penetração do Sertão Paraibano. Estas rotas passavam já pelo espaço que mais tarde definiria o território da cidade de Patos. 8 Ver Lewin (1993), que analisa o processo de ocupação de todo o território nordestino e especificamente paraibano, a partir das bases familiares e da organização das parentelas oligárquicas. 32 Na segunda metade do século XVII, João Pereira de Oliveira foi o primeiro a implantar em solo das Espinharas as primeiras fazendas de gado. Esta terra 33 localizava-se próximo ao encontro de dois rios: Cruz e Farinha, 9 que proporcionava uma verdadeira encruzilhada de caminhos, onde os tropeiros faziam paradas, atraídos pela água corrente e pela fartura das pastagens. Sobre estas terras, Wanderley (1994, p. 23-24) fez o seguinte relato: João Pereira de Oliveira, residente em sua propriedade ‘Farinha’, termo da Espinhara, adquirida por seu pai, conforme sesmaria chamada ‘Data da Ribeira dos Espinharas’ de 1670 assinada por Alexandre de Souza Ribeiro, Capitão Mor e Guerra do Estado do Brasil, vendeu-a ao coronel Domingos Dias Antunes. Coevo era o Sargento-Mor José Gomes Farias, proprietário de ‘Itatiunga’, ou ‘Pedra Branca’, limite da ‘Farinha’, vendida depois ao referido Domingo Dias Antunes. Com o falecimento de Domingo Dias Antunes o seu patrimônio foi dividido por seu dois herdeiros – Mariana Dias Antunes, esposa do alferes João Gomes de Melo, e Antônio Dias Antunes. Por sua vez Antônio Dias Antunes vendeu a sua partilha ao Capitão Paulo Mendes de Figueiredo, já morador na fazenda ‘Patos’, denominação firmada por existir ali uma lagoa, à margem do rio Espinharas, onde se juntavam muitos Patos. De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (1960, p. 319320), o nome da cidade de Patos provém do topônimo Lagoa dos Patos, que passou a designar o nome desta cidade. Nesta lagoa, hoje aterrada, às margens do Rio Espinharas, se originou a povoação, mais tarde denominada cidade de Patos. Dentre as diversas formas de ordenamento e orientação no espaço possível, é essencial atentar para a importância dos eixos fluviais, fundamentais para a orientação dos primeiros colonizadores sertanejos, conforme ressalta Gonçalves et al. (1999, p. 25): Os rios constituíam as principais vias de penetração no sertão paraibano. A facilidade de circulação e a disponibilidade de água condicionaram a ocupação das margens fluviais e produziram o ‘povoamento de ribeira’, isto é, a instalação de grandes fazendas de gado ao longo dos rios. As principais ribeiras do sertão da Paraíba, nos fins do século XVIII, eram a ribeira do Cariri, a do Piancó, a do Piranhas, a do Sabugi, a do Patu, a do Rio do Peixe, a do Seridó e a do Espinharas. 9 Com a união dos dois cursos o rio passa a ser chamado pelos índios, de Pinharas, traduzido para a língua dos brancos como Espinharas. 34 Estas linhas fluviais eram chamadas de ribeiras 10 . Nestas paisagens, o gado ia se espalhando como a riqueza local, juntamente com o apresamento de índios, que na lógica mercantilista consistia numa mercadoria. Para Silva e Araújo (1985), a colonização do Sertão Paraibano foi baseada numa distribuição de terras baseada em forma de sesmarias, e os sesmeiros eram trabalhadores, geralmente mamelucos, que se ocupavam da criação de gado e plantio de algodão, atividades desenvolvidas nos vales dos rios Taperoá, Espinharas, Piancó, Piranhas e do Peixe. Construir o espaço também implicava em construir elementos simbólicos de constituição desse próprio espaço. A fé cristã, representada na construção de capelas em terrenos doados, via de regra, pelas elites locais. As tramas da história iam se definindo a partir de uma ordem localizada, a produção mercantilista da época. O espaço do poder familiar em Patos ia sendo fabricado a partir dos interesses políticos e econômicos e simbolicamente demarcados nas doações, cujos registros permanecem na história da cidade: Paulo Mendes de Figueiredo e sua esposa, Maria Teixeira de Melo, e o alferes João Gomes de Melo e sua Mulher, Mariana Dias Antunes, aspiravam fundar uma povoação com a proteção de Nossa Senhora da Guia. Em 26 de março de 1766 é doado por estas famílias o patrimônio de sua futura protetora e ereção de sua capela, sessenta mil réis de terras no sítio Patos, e outros sessenta mil réis no sítio Pedra Branca. No dia 11 de novembro de 1768, Simão Gomes de Melo e sua esposa Josefa Faustino Barreto, Domingos Dias Antunes e sua esposa Ana Teresa de Figueiredo, João Gomes de Melo, Felipe Gomes de Melo e do Capitão Paulo Mendes de Figueiredo, ratificaram a doação de cento e vinte mil réis de terras para patrimônio da Capela Nossa Senhora da Guia, nos sítios Patos e Pedra Branca. Em 1772 tem início a construção da capela Nossa Senhora da Guia hoje Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nas terras dos Pegas e Panatis, que se incorporou à freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Pombal (PARAÍBA, 1985, p. 29). No dia 28 de novembro de 1768 foi ratificada essa doação de terras à Igreja por parte das famílias proprietárias. Em 1772 teve início à construção da capela, e no mesmo período era incorporada à Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Pombal, e instalada, no dia 04 de maio deste corrente ano, 10 Porção de terreno banhado por um rio; pequeno rio, ribeirão grande. (DICIONÁRIO CARTOGRÁFICO, p. 595). 35 registrada na Carta Régia, datada de 26 de julho de 1766 (FERNANDES, F.S., 2003, p. 37). No percurso dos acontecimentos, os aspectos relacionados ao divino e ao profano iam configurando a vida social sertaneja. Os espaços de sociabilidade iam sendo guiados pela mescla de diferentes interesses dos sujeitos envolvidos e sempre amparados num discurso atrelado à fé católica na forma de celebrações e costumes que iam se estabelecendo de forma definitiva na cultura local. A conclusão da capela implicou num processo de concentração de habitações nos seus arredores. Faz parte da gênese da maior parte das cidades nordestinas formarem-se ao redor de uma capela, sob a invocação de um santo ou santa, que passava a padroeiro ou padroeira, após a elevação do povoado a vila. As Santas eram preferidas na escolha dos oragos 11 , a exemplo do que aconteceu com Patos. Em 1788, por Provisão, foi criado o Distrito de Patos, subordinado a Pombal. O aumento considerável no número de fiéis motivou o surgimento de um movimento popular em defesa de sua elevação a Paróquia com a criação de Freguesia de Nossa Senhora da Guia. No dia 06 de outubro de 1788, através da Provisão Régia de nº 14, com seu desmembramento da Gloriosa Senhora Santana do Seridó (cuja sede localizava-se em Caicó, no Rio Grande do Norte), e incorporada à Diocese de Olinda coordenada pelo Bispo Dom Frei Tomaz da Encarnação Costa e Lima, sendo seu primeiro vigário o Padre José Inácio da Cunha Souto Maior. Na sessão de 5 de março de 1830, o Conselho do Governo da Província da Paraíba encaminhou ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, o Marquês de Caravelas, o pedido de criação de três novas Vilas e Câmaras: Bananeiras, Amélia do Piancó e Imperial dos Patos. A primeira foi desmembrada de Areia e as outras duas de Pombal. Em 1831 a Assembléia Geral assina o ato criando a primeira escola desta povoação. Não há registros do ensino em Patos anterior a esta data. Depois de 66 anos subordinada à vila de Pombal, Patos, no dia 9 de maio de 1833, foi elevada à categoria de Vila. Nesta data verificou-se a emancipação 11 O santo da invocação que dá nome a uma capela. 36 política de Patos, pois de acordo com a legislação do Império, a elevação de uma povoação à categoria de vila, dava-lhe o status de município, com autonomia e Conselho Administrativo próprio. Vale ressaltar que tanto as vilas como as cidades eram governadas pela Câmara, nas vilas compostas de sete membros e nas cidades de nove, constituindo esta a única diferença. A escolha dos vereadores se daria através de um processo eletivo baseado no critério de posses, onde o mais votado seria o Presidente. Não havia Prefeito, mas existia na estrutura das Câmaras a existência de um Procurador, que era empregado, nomeado por quatro anos, ao qual competia exercer atribuições de natureza executiva. Embora tenha existido Prefeito, como executivo municipal em algumas províncias isoladas, somente em fins do século XIX foi criado o cargo para todos os municípios do Brasil, seja nas cidades, seja nas vilas. Neste mesmo ano em que Patos é elevada a categoria de Vila é criada a Agência dos Correios. Em 1845, a população paroquial de Patos era de 1.524 fogos e 15 eleitores, e em 1851, a estatística registra de 4.406 habitantes livres e 600 escravos. (FERNANDES, F.S., 2003 p. 65). O desenvolvimento comercial neste período consistia na criação de gados e na prática da agricultura. Em 1853, é fundada, na Paróquia de Nossa Senhora da Guia, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Em 24 de fevereiro de 1855, Patos já tinha, agregadas à sua igreja principal, as capelas de Santa Luzia, Santa Maria Madalena, Nossa Senhora da Conceição do Estreito e Nossa Senhora da Conceição de Passagem. No ano de 1855, os limites da Vila de Patos eram: ao nascente – São João; pelo poente, com Piancó e Pombal; pelo sul, com Município de Ingazeira, da Província do Pernambuco e, pelo norte, com a vila de Caicó, no Rio Grande do Norte. Neste período Patos contava com os Distritos da Vila de Santa Luzia que se destacava pela criação de gado, cavalos, ovelhas e cabras e o da Serra do Teixeira que se sobressaia na agricultura. (FERNANDES, op.cit., p. 67). Quase dez anos depois, no ano de 1860, em visita a Patos, o Presidente da Província, Luiz Antônio da Silva Nunes, que tomara a si o propósito de conhecer todo interior da província, ao visitar a Matriz, fez o seguinte comentário: “a Matriz não é das piores, mas ameaça ruína e tem uma grande fenda no arco do cruzeiro”. 37 No entanto, somente anos mais tarde, a partir de 1878, o padre Joaquim Alves Machado, filho da cidade, assumiu o cargo de Vigário Titular de Nossa Senhora da Guia e promoveu a reforma da Matriz, justificada também pelo já grande número de fiéis. Mas esta medida não foi suficiente para solucionar o problema do espaço, o que acarretou uma consulta popular sobre a viabilidade da construção de uma nova igreja, mais espaçosa. Foi assim que, em 1893, foi assentada a pedra fundamental da igreja que posteriormente seria a nova Matriz Nossa Senhora da Guia, na então Rua Alegre, depois chamada de Rua Grande e atualmente Solon de Lucena. FIGURA 5 - Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição, localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro. FONTE: <www.patosemrevista.com.br>. Acesso em: 26 jun. 2008. Mesmo iniciada uma nova paróquia, a antiga matriz também foi reformada e atualmente é conhecida por igreja de Nossa Senhora da Conceição. 38 Com a expansão da Vila, favorecida pela posição geográfica, a povoação “dos Patos”, vai se firmando como um epicentro dos caminhos de viajantes que cruzavam o território paraibano em todos os sentidos, chegando, desta forma, a despertar nas autoridades, a necessidade de criação de um novo município tendo por sede a localidade. Deste período, Mariz (1945, p. 69) a descreve, de forma poética, a forma pela qual a cidade se tornaria uma referência que perdura até os dias de hoje: Patos, o núcleo, a sede, era realmente ’ma carícia num meio áspero’, os que vinham percorrendo as nossas antigas vilas e cidades, tristes no seu isolamento e no seu atraso, os que vinham sedentos de amenidade e de estilo, chegavam a vossas portas como num oásis. Fernandes (op. cit.) relata que no final do século XIX, conforme censo de 1892, a população estimada da Vila era de 800 almas, 138 prédios: três sobrados, o edifício em que funcionou o Conselho Municipal, a Cadeia Pública, estabelecimentos de ferragens e outros. Também aponta a existência de diversas ruas, um grande pátio – o da Matriz – onde, em toda segunda-feira, acontecia a feira semanal, que constituía o ponto máximo da vida econômica local, com o afluxo de sitiantes, comerciantes de fora e da própria Vila. O autor ainda informa que a vila irrompe o século XX com a presença de escolas primárias e uma economia baseada na agricultura e pecuária. Contava também com engenhos para a fabricação de rapadura, bolandeiras de descaroçamento de algodão e várias fazendas de gado. Toda esta vida social ia sendo fomentada por um fluxo constante de viajantes que por ali se encontravam e iam fortalecendo o lugar como um ponto de referência no sertão, que interligava viajantes da Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. 2.3 Um olhar para a cidade no século XX e XXI A Vila de Patos é elevada à categoria de cidade, conforme a Lei 200 de 24 outubro de 1903, oficializada em 1º de fevereiro de 1904, numa cerimônia 39 presidida por Sizenando Flórida de Sousa, Presidente do Conselho Municipal. Em dezembro deste mesmo ano, Sizenando Flórida de Sousa e José Pedro Cabral são nomeados para os cargos de prefeito e vice-prefeito e tomam posse em 31 de janeiro de 1905. (FERNANDES, F. p. 144), e o aniversário da cidade é comemorado no dia 24 de Outubro. Finalmente, em 1906, concluída a construção da igreja que seria a nova Matriz de Nossa Senhora da Guia, ocorreu a sua transferência para a Rua Alegre (depois Rua Grande e atualmente Solon de Lucena). O início de suas atividades aumentou ainda mais o número de fiéis. A seguir, uma imagem da nova Matriz de Nossa Senhora da Guia. FIGURA 6 - Paróquia de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja da Conceição, localizada na Praça João Pessoa, (atual Praça Edvaldo Mota) - Centro. FONTE: <www.patosemrevista.com.br>. Acesso em: 26 jun. 2008. 40 FIGURA 7: A segunda igreja, na Rua Alegre (Sólon de Lucena) FONTE: Acervo pessoal (1970) FIGURA 8: Catedral após reformas FONTE: Acervo pessoal (1976) 41 A estação telegráfica chega em 1908, e um vislumbre da vida urbana no início do século XX se apresenta a seguir (Figura 9). O comércio, inicialmente localizado na praça da primeira Igreja Nossa Senhora da Guia (depois Praça João Pessoa e atualmente, Praça Edvaldo Mota) foi expandindo-se pelas imediações e concentrando-se na Rua Grande (atual Solon de Lucena). FIGURA 9 - A Rua Grande – Atual Solon de Lucena. FONTE: www.patosemrevista.com.br. Acesso em 26 jun. 2008. Em 1914, a imprensa é inaugurada através do primeiro jornal, a ‘A Voz do Sertão’ e posteriormente surgiu também ‘O Jornal do Sertão’. Na década de 1920 já existiam várias escolas que ofereciam os cursos primário, secundário e médio, inclusive os sistemas de: externato, internato e semiinternato e aulas noturnas para o ensino das “Ciências Comerciais”. Neste período já se inicia um pequeno processo de convergência de alunos dos arredores em busca dos serviços educacionais que a cidade oferecia. Na década de 30 são criadas escolas estaduais através de decretos, a exemplo o Grupo Escolar Rio Branco (1933). Em 1937 é instalado o Ginásio Diocesano e em 1938 a Congregação das Filhas do Amor Divino, representada pelas suas religiosas para fazerem o Ginásio Cristo Rei funcionar. A partir do 42 funcionamento desses do Ginásio Cristo Rei, com o Normal Livre e o Diocesano com o curso primário e ginasial, acontece uma arrancada na educação nesta cidade. Em junho de 1931 aconteceu a primeira Feira de Gado. O ciclo do gado aqui entendido como fator econômico impulsionador e mantenedor que fez de Patos uma referência regional, perdurou desde os primeiros tempos da ocupação territorial até os anos 1940. Entre 1940 até 1950 Patos possuía a maior feira de gado do Sertão do Estado da Paraíba, que nos meses de junho a agosto, quando a feira atingia o seu auge chegava-se a ter feiras com 2.000 a 2.500 reses, tornando-se um dos maiores acontecimento local (FERNANDES, A.S., 2003). Entre as décadas de 1930 e 1940 o algodão despontava como uma nova possibilidade de crescimento econômico, e provocando inclusive a chegada da linha férrea da Rede de Viação Cearense (1944), ligando Patos a Fortaleza. Percebe-se que a ferrovia que chega a cidade vem do Ceará e não do estado da Paraíba. A Figura 10 mostra o Mapa da Rede Ferroviária – século XIX, embora em Patos este meio de transporte só tenha chegado no século XX. É apenas em 1958 que é inaugurado o trecho que liga Patos a Campina Grande, percebe-se a posição estratégica da cidade, servindo como ponto intermediário entre o sertão e Campina Grande importante centro comercial do interior paraibano. As grandes usinas de algodão atraem duas poderosas organizações da indústria e do comércio algodoeiro; a Anderson Clayton & Cia Ltda. (americana) e a SANBRA (argentina), atraídas pelas condições especiais oferecidas pelo Governo Estadual de Argemiro Figueiredo (1935-1940), configuradas na isenção de impostos e as facilidades de crédito e câmbio. Na década de 1940, por conta da conjuntura nacional, das pragas, das secas, as colheitas do algodão decresceram. O problema do algodão em Patos era decorrente também e principalmente da conjuntura nacional. Este ciclo prolongou-se até a década de 1970. 43 FIGURA 10 - Mapa da rede ferroviária da Paraíba FONTE: Gonçalves et al. (1999, p. 25) Continuando na década de 1940, o governo do Estado ampliou o número de escolas estaduais na zona urbana e rural, como também nos seus distritos entre eles: Cacimba de Areia, Passagem, Salgadinho, Santa Terezinha, São José de Espinharas e São José do Bonfim. Neste período, os Ginásios Diocesanos e Cristo Rei com o sistema de internato, tinham sob seus cuidados, alunos de mais de vinte municípios sertanejos, entre eles: Sousa, Cajazeiras, Catolé do Rocha, Brejo do Cruz, Misericórdia (atual Itaporanga), Piancó, Coremas e também dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e Alagoas. (PARAÍBA, 1985). Pode-se mencionar ainda, um breve período de exploração aurífera na região, ocorrido entre os anos 1940 e 1950, no garimpo de São Vicente localizado no município de Catingueira. Esta mina influenciou na economia de Patos uma vez que alguns dos proprietários eram residentes em Patos. Em 1941 o Banco do Brasil é instalado na cidade. Este fato merece destaque em razão da infra-estrutura que estava se formando e que determinaria a convergência para a cidade da população do seu entorno em função dos serviços oferecidos. Em 1948 é autorizada pela Lei nº 9 a doação de um terreno, à Legião Brasileira de Assistência (LBA) para a 44 construção do Hospital Regional de Patos. No mesmo ano ocorre a inauguração do novo conjunto elétrico adquirido pela Prefeitura Municipal para a iluminação urbana. A partir de 1930, a instalação das usinas de algodão, fomentou a indústria têxtil, e a partir dos anos cinqüenta ganhou impulso as fábricas de produtos alimentares, confecções, calçados, couro, mais de 150 (FERNANDES, F.S., 2003). A partir, principalmente da década de 1960, as veredas e caminhos iam se convertendo em rodovias, ferrovias que, assumindo um fator proeminente para a de uma hinterlândia. A BR 230 fortaleceu ainda mais a posição da cidade como um grande centro de distribuição de mercadorias e serviços para todo o Sertão Paraibano, incluindo vários municípios do estado do Rio Grande do Norte e Pernambuco. Nesta década é instituída a Fundação Francisco Mascarenhas (1964), uma entidade jurídica, com finalidade educacional de nível superior, com sede na cidade de Patos. As décadas de 1970, 1980 e 1990 são marcadas pelo crescimento impulsionado pelo comércio e indústria de tal forma que sua dependência do mercado de Campina Grande diminuía na medida em que começava a estender relações econômicas com centros maiores como Recife. Em busca de mercados maiores Recife passa a ser uma opção para os compradores. Cresce o setor educacional, especialmente o do superior. São autorizadas na década de 70 a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos, Faculdade de Ciências Econômicas de Patos, a Escola de Agronomia e Medicina Veterinária, mantidas pela Fundação Francisco Mascarenhas. Os cursos de Agronomia e Veterinária foram sendo encampados pela Universidade Federal da Paraíba, hoje Universidade Federal de Campina Grande. Nas décadas finais do século XX e início do século XXI toda uma malha de serviços de infra-estrutura se instala – bancos, emissora de rádio, jornais, transporte, hotelaria, escola – fortalecendo a oferta de serviços na região e epicentro dos deslocamentos de um significativo contingente populacional, fazendo com que a cidade apresente uma população flutuante. Ainda é importante observar o fenômeno conhecido como turismo religioso, que representa uma fonte de renda proporcionada por romeiros humildes 45 que vêm da própria região em peregrinação a alguns lugares, como a Cruz da Menina, por exemplo. FIGURA 11 - Área de abrangência da Diocese de Patos. FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007, adaptado pela autora). Embora não tenha sido objeto da pesquisa de campo, é interessante observar que a cidade concentra, inclusive no plano da religiosidade, um papel de centralizador das atividades da Igreja, conforme se pode visualizar na Figura 11, que apresenta a área de abrangência da Diocese de Patos: Na Figura 12, a atual Rua Sólon de Lucena, que concentra as atividades comerciais e reflete as transformações históricas, através de um processo contínuo de (re) construção da sua linha comercial. 46 FIGURA 12: Rua Sólon de Lucena FONTE: Acervo pessoal (2008) O setor primário tem sido reaquecido com a perspectiva de uma produção significativa em torno da cultura do algodão colorido, que tem sido desenvolvida pela Embrapa e se apresentado no mercado como um produto ecológico, surgido a partir das preocupações ambientais no século XXI. Atualmente, de acordo com os dados do IBGE (2005), o município se apresenta como a sexta economia do Estado e está classificado como capital regional. 47 Num cantinho da minha pátria amada e dentro do meu coração Está minha terra adorada de sonhos e de tradições O seu nome foi tirado da lagoa dos patos tranqüilos de lá. No mundo uma terra tão boa eu creio, meu Deus, que não há. Patos, te amo Patos, Patos, eu sempre hei de amar A riqueza escondida no teu seio não pode ninguém calcular. De artista, a cidade é um esteio, são lindas as morenas de lá. Nos teus campos é bonita a alvorada nos rios que correm por lá. As loiras meninas douradas derramam perfume no andar. Patos, te amo Patos, Patos, eu sempre hei de amar O progresso foi chegando de repente e os patos fugiram de lá Deixando a saudades na gente e a ânsia de vê-los voltar. Os seus filhos nos recantos mais distantes sussurram seu nome sutil. São homens de feito brilhantes amando e honrando o Brasil Patos, te amo Patos, Patos, eu sempre hei de amar (Amaury de Carvalho, Hino de Patos) 48 3 A REDE URBANA A palavra rede tem a sua origem no termo francês réseuil (originário do latim retiolus) e significava, inicialmente, um conjunto de linhas entrelaçadas. Por analogia, chamamos nós às intersecções destas linhas. Pode-se fazer uma comparação com as vias de acesso até determinados lugares ou de vias de comunicação, de elementos vivos ou não de fontes de energia e de informações. O ordenamento do espaço em redes tem como função primordial facilitar e agilizar a comunicação e a circulação dos fluxos entre um ponto e outro do espaço, podendo isto ser observado em todas as escalas de análise, desde o espaço local, até o espaço globalizado. De acordo com Corrêa (2001) as redes se manifestam, sobretudo em uma cada vez mais complexa rede urbana cujos centros são do ponto de vista funcional, simultaneamente especializados e hierarquizados, focos, portanto de diversos fluxos. O estudo das redes conforme foi colocado está relacionado com a urbanização, com a divisão territorial do trabalho e com a diferenciação crescente que esta estabeleceu entre as cidades, tornando-se assim, um recurso valioso para a compreensão da dinâmica territorial do país. A temática acerca da rede urbana vem provocando polêmicas discussões no âmbito geográfico, no período compreendido entre os anos de 1960 a 1990. Corrêa (2001) e Santos (1982b) analisaram a rede urbana brasileira e suas metamorfoses diante das transformações estruturais que ocorreram no país a partir de meados do século XX, contribuindo para essa discussão no Brasil. A rede urbana é algo a ser analisado a partir do urbano, urbanização e aglomeração urbana, pois sem essas três categorias fica impossível conhecer esse fenômeno, que em cada parte do mundo tem forma e característica muito particular no que diz respeito a sua definição como fenômeno. No que se refere sua definição como fenômeno não se pode deixar levar em consideração um conjunto de elementos. 49 Para melhor entendimento do que seja rede urbana é importante a definição dessas categorias. Urbano - é uma abstração do espaço social, que é o espaço total. Atribuise, ao termo urbano, o que se considera próprio das cidades. Não se deve fazer referência ao urbano apenas pelo espaço físico das cidades, mas também pela sua organização social, política e econômica e também pelo modo de vida típico das cidades. Segundo Corrêa (1995, p. 11): A ação destes agentes, é complexa, derivada da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção e dos conflitos de classe que dela emergem. Assim, estas ações provocam um constante processo de reorganização espacial que se realiza através da incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade. Assim, o espaço urbano extrapola os limites físicos das cidades, pois essas características também são encontradas em parcelas do espaço rural. É um dos elementos de estudo do planejamento urbano (CORRÊA, op. cit.). É, portanto, um produto resultante de ações sociais, econômicas e político-institucionais acumuladas através do tempo no espaço físico. Urbanização - A urbanização aqui é entendida como um processo de transformação da cidade e de generalização do modo de vida urbano. No estágio atual do processo de urbanização impõe-se um modo de vida absolutamente distinto do modo de vida tanto das cidades pré-industriais (obras) quanto do modo de vida rural. Estes passam a existir na sociedade urbana como resíduos de épocas anteriores. Tais resíduos dos modos de vida anteriores ao modo de vida urbano atual são fundamentais na análise. Para Davis (1982, p. 14): O fenômeno urbanização não é nada mais do que uma forte concentração populacional no estabelecimento urbano, que poderia ser caracterizada pela passagem de uma forma menos densa para uma densidade populacional mais elevada (1982, p. 14). 50 Davis (op. cit) acredita que o processo de urbanização tem início e fim, mas o crescimento das cidades não tem um limite. Isso implica que a migração da população de campo para a cidade não pode ser um processo permanente, pois ela é muito inferior em alguns países e o crescimento vegetativo das cidades não tem fim e continua crescendo. Winth (1973, p. 96) diz que, para fins sociológicos, “a cidade pode ser definida como um núcleo relativamente grande, denso e permanente de indivíduos socialmente heterogêneos”. Dessa forma, são enfatizadas as variáveis; tamanho, densidade, heterogeneidade e permanência. Segundo Souza (1999) o espaço urbano não se limita a cidade, esta e o espaço rural se mesclam. A partir dessa definição podemos pensar a urbanização como o local onde está a produção, as classes sociais e a divisão do trabalho. Ela é resultado de um conjunto de ações humanas, que procuram modificar a natureza para seu conforto e melhoria na qualidade de vida. Aglomeração urbana - Com relação ao tempo histórico de surgimento as aglomerações urbanas datam tempos de certa forma muito remotos, pois existem alguns dados que comprovam que as primeiras cidades tenham originado-se há mais ou menos três mil anos a.C. Munford (1998) sugere que as primeiras aglomerações sedentárias teriam ocorrido junto a antigos locais cerimoniais, uma vez que, mesmo no período nômade os grupos humanos retornavam periodicamente a determinados locais ou cavernas, provavelmente para funções rituais. As aglomerações urbanas surgiram nas proximidades de rios onde era favorável a prática agrícola para garantir a subsistência da população onde ali estava se aglomerando. Durante os vários períodos da história humana as aglomerações urbanas passaram por uma série de características, que diferenciaram as mesmas a cada período histórico. Dentre as características pode-se citar a da cidade primitiva que tinha como feição a cidade eram fossos, a muralha e o palácio real, posteriormente essas cidades foram adquirindo novas características a cada fase do desenvolvimento da humanidade (MUNFORD, 1998, p. 19). Um dos fatores que mais contribuíram para o desenvolvimento e o crescimento dos espaços urbanos foram os fluxos migratórios, que se iniciaram no continente europeu e espalharam-se nos demais continentes. 51 Os estudos sobre redes urbanas têm se constituído em uma importante tradição no âmbito da Geografia devido à consciência do significado que o processo de urbanização passou a ter, sobretudo a partir do século XIX, ao refletir e condicionar mudanças cruciais na sociedade, no entanto não podendo deixar de ressaltar a importância dos conceitos acima mencionados para se entender o que seja rede urbana. Como o espaço, as redes urbanas apresentam grandes dificuldades de conceituações em virtude da amplitude da temática. Corrêa define como: Um conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si. É [...] um tipo particular de rede na qual os vértices ou nós são os diferentes núcleos de povoamento dotados de funções urbanas, e os caminhos ou ligações dos diversos fluxos entre esses centros [...] a rede urbana é um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel [...] é [...] articular toda a sociedade em uma dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução (2001, p. 93). O autor ainda coloca que a rede urbana, é um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações sociais especializadas, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução. Dentro dessa linha de pensamento a cidade é vista como um organismo urbano que atende às necessidades primárias e imediatas das populações locais. Assim, esta definição abrange organismos de tamanhos diversos, fornecedores de diferentes serviços conforme a época e o lugar onde se situam (SANTOS, 1982b). A cidade pode ser entendida como uma morfologia material e o urbano, como uma morfologia social (LEFÉBVRE, 1991, p. 49). Nesse sentido, a cidade, para o autor, seria “Realidade presente, imediata, dado prático-sensível, arquitetônico – e por outro lado o ‘urbano’, realidade social composta de relações a serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento”. A cidade é a base material onde se desenvolvem as relações sociais que em conjunto definem o modo de vida urbano, ou simplesmente, o urbano. Tal modo de vida, inclusive, tende a se generalizar a ponto de predominar na sociedade como um todo, formando a sociedade urbana, que está além da cidade (morfologia 52 material), podendo estar também fora dela, nas morfologias rurais, no campo, que se urbaniza, mesmo que a cidade não esteja nele. O urbano (como modo de vida) efetivamente pode estar. No entanto, tem-se de tomar cuidado com essa distinção entre a cidade e o urbano colocada acima, pois ela pode tornar-se perigosa, porque “o ‘urbano’ não é uma alma, um espírito, uma entidade filosófica” (LEFÉBVRE, op. cit, p. 49), estando dialeticamente vinculado à cidade, a uma base prático-sensível indispensável. Uma base que constitui, muitas vezes, um centro (ou centros) dessa vida urbana que, segundo a interpretação de Lefébvre (1975), tende a se generalizar por toda a sociedade, configurando a sociedade urbana, na qual o rural e todos os modos de vida anteriores não desaparecem, mas tornam-se residuais. A cidade preexiste em relação ao processo de urbanização, o qual tem como indutor o processo de industrialização. Para Lefébvre (op. cit.), a cidade era uma obra, no sentido de uma obra de arte, antes da industrialização. O modo de vida urbano, engendrado nas cidades pré-industriais, fazia com que o espaço fosse apropriado pelos seus cidadãos. O valor de uso do espaço predominava sobre o valor de troca. No entanto, a partir da industrialização, a cidade converte-se em produto do capital e a seu serviço. O valor de troca passa a predominar sobre o uso. Além disso, esse novo urbano se generaliza, tendencialmente, à toda a sociedade, faz com que a cidade (pré-industrial) imploda e exploda, configurando em determinados locais as grandes metrópoles, que têm um poder de controle sobre extensas porções do território. Um controle que está longe dos cidadãos (estes, agora alienados, não se apropriam do espaço), que está nas mãos dos agentes do capital (LEFÈBVRE, op. cit.). No estágio atual do processo de urbanização impõe-se um modo de vida absolutamente distinto do modo de vida tanto das cidades pré-industriais (obras) quanto do modo de vida rural. Estes passam a existir na sociedade urbana como resíduos de épocas anteriores. Tais resíduos dos modos de vida anteriores ao modo de vida urbano atual são fundamentais na análise. Por isso, surge a abordagem das diversas espacialidades / temporalidades / sociabilidades que se sobrepõem vinculadas, sendo muito 53 complicado tratar de uma sem tocar nas outras, ou seja, seria como falar em espaço sem sociedade, ou em sociedade sem espaço, ou então separar o tempo do espaço e vice-versa. Não há história sem espaço e tampouco espaço sem história. Se o espaço é social, tem uma história. E a história, sendo social, também ocorre em determinados espaços com implicações específicas; por isso, tem uma espacialidade, ainda que, muitas vezes, omitida. Também aqui recorre-se a Lefébvre (1975), quando ele parte da idéia de que a cidade “é um espaço-tempo e não somente uma projeção de uma estrutura social, da sociedade como um todo em um mero espaço” (p. 142). A rede urbana é, pois, tida aqui como uma categoria socioespacial, o que inclui diversas espacialidades / temporalidades / sociabilidades sobrepostas. Esse entendimento sobre a rede urbana aqui exposto foi o ponto de partida para a busca da compreensão da importância da centralidade da cidade de Patos. Vale ressaltar, que Patos deve ser entendida como uma espacialidade que tem sua existência determinada pela relação dos processos históricos mais amplos com os processos sociais que ocorrem na escala local e regional. Por sua vez, a sociabilidade desta cidade está vinculada à idéia de um determinado modo de vida, ou seja, uma organização geral das relações sociais entre os indivíduos e entre os grupos num determinado momento. Em suma, estes três termos remetem à mesma idéia geral, porém o acento é que os torna diferentes. Ou seja, se falamos em espacialidade, coloca-se o acento no espaço, se usa o termo temporalidade, acentua-se o tempo e assim por diante. Dependendo do autor, o termo utilizado pode variar, mas a idéia que está por trás no uso desses termos é basicamente a mesma. Magnani (2000), por exemplo, prefere usar o termo sociabilidade. Martins (1992), por sua vez, utiliza o termo temporalidade para designar esta coexistência de tempos datados diversos. Além disso, a noção de espacialidade traz consigo a idéia de processo em permanente movimento, ou seja, não se trata do espaço em si, como objeto analítico, mas do espaço na história, pensado como processo histórico, incluindo tanto o realizado quanto o possível, num constante movimento dialético. Mesmo porque não existe espaço a priori, ele só pode ser pensado como espaço social, não sendo uma categoria independente da realidade. 54 Nesse sentido, a noção de espacialidade, conforme definido anteriormente, é mais potente como objeto analítico. No entanto, se a cidade e o urbano têm uma existência no local que é datada, isso quer dizer que existem outras espacialidades que o precedem e outras que são posteriores à sua estruturação como uma área que se caracteriza como uma rede urbana. A idéia desta rede urbana que se apresenta no cotidiano, parte da compreensão que a cidade não é uma criação isolada, mas está em relação com o espaço de outras cidades, distantes ou próximas, e em diferentes graus estabelece um controle do território que circunda. Em termos simples constitui-se no conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si. Corrêa (2001) faz uma referência a essa idéia, quando afirma que a rede urbana é um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações sociais, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução. E que a formação da rede urbana é um produto da história. O autor citado entende que são necessárias, pelo menos, três condições para a formação de uma rede urbana. Primeiramente trata-se de uma sociedade vivendo em economia de mercado, com transações comerciais envolvendo bens produzidos localmente e bens produzidos externamente. Isto pressupõe uma mínima divisão territorial do trabalho. Em segundo lugar deve haver pontos fixos no espaço onde, de modo permanente ou temporário, as transações são realizadas. [...]. Em terceiro lugar deve haver um mínimo de interações entre esses pontos fixos, interações que refletem e ratificam uma diferenciação hierárquica e/ou em termos de especialização produtiva entre eles (CORRÊA, op. cit., p. 94). Mas o processo de rede urbana que se configura na definição acima está atrelado a uma divisão territorial do trabalho, a qual reflete uma hierarquia urbana e uma especialização funcional das cidades, e também se impõe como uma condição à divisão territorial do trabalho, pois a cidade em suas origens constitui-se “[...] uma expressão da divisão entre trabalho manual e intelectual” (CORRÊA, 1989, p.49). Em outras palavras a divisão territorial do trabalho. Os elementos no qual são chamados de dinâmica interna da cidade são: a produção, a circulação e a moradia, esses elementos são componentes da divisão territorial do trabalho. A produção refere-se à vida cotidiana das pessoas que vivem 55 na cidade e nela atuam, suas atividades como: lazer, de educação, de trabalho e de descanso. A circulação de pessoas e mercadorias é outro elemento da dinâmica interna da cidade, para que a vida nas cidades possa ocorrer, é preciso que as pessoas possam circular por sua malha viária, como também participar individual e coletivamente de sua produção. O outro elemento é a moradia, que é uma necessidade humana básica, que nas cidades ganha contornos muito complexos. A cidade, assim, é extremamente dinâmica e se estrutura segundo uma organização interna. Em termos de Brasil, esta dialética espacial é caracterizada pelas forças que atuam para dotar as áreas urbanas periféricas de melhores condições de infraestrutura e condições de vida, a partir de movimentos sociais definidos pela força centrífuga do processo de urbanização. Na visão de Lefebvre (op. cit.), a noção de dialética espacial tem muita influência da noção presente de realidade onde a face real, encarrega-se da luta concreta entre o centro urbano decisório e a periferia, num jogo de dominação e dependência. Para aproximação do estado da arte do sistema urbano no Brasil, esta dialética tem de ser compreendida como a existência de um espaço dinâmico, característica essencialmente urbana, que permita a ocorrência do processo de urbanização e que tenha componentes estruturais bem definidos em termos de estrutura social e estrutura urbana. São os tipos de sistemas existentes e em ação, as formas sociais e urbanas resultantes e as inter-relações das atividades humanas, ou seja, da divisão territorial do trabalho dentro do espaço urbano em determinados contextos históricos. Para Santos (1982), a dinâmica social determina a velocidade e características do fenômeno urbano em quatro instâncias ou superestruturas, a saber, a urbanização como processo, onde o processo de urbanização está relacionado aos processos socioeconômicos em curso, o componente estrutural população, a configuração espacial resultante e a produção de bens e consumo decorrentes do modo de vida de cada localidade. O espaço urbano, segundo Santos (1982a), deve ser visto como uma realidade objetiva em permanente processo de transformação, sendo ao mesmo tempo um efeito e uma condição do movimento de uma sociedade global e globalizada. 56 A influência da realidade socioeconômica e dos mecanismos de mercado sobre a realidade espacial urbana ocupa-se permanentemente de modo a se ajustar, fazendo com que o processo de criação do espaço e o modo de produção se tornem inseparáveis, estreita e cotidianamente relacionados. O tema urbanização brasileira sugere uma perspectiva de análise na qual a urbanização deve mesmo ser entendida como um processo, onde é necessário identificar os conceitos, categorias e métodos que se articulam na leitura de situações concretas de urbanização. O espaço enquanto fenômeno e objeto produzido é justificado pelas categorias forma, função e estrutura, inter-relacionadas dentro do processo ou da ação contínua no tempo. Essas categorias definem o espaço com relação à sociedade e não possuem sentido se tomadas isoladamente. A análise do processo de urbanização objetiva explicar como o processo histórico da rede urbana de Patos é multifacetado materializa-se numa certa organização social no espaço. A noção mais ampla de um espaço dinâmico, em constante movimento e que permita a ocorrência da urbanização enquanto processo é o ponto de partida da dialética espacial. De acordo com Souza (1988), alguns elementos caracterizam a complexidade da questão da rede urbana no Brasil podendo ser estudados amiúde: Continentalidade do território; Ritmo e características da ocupação territorial; Características específicas do processo histórico e de desenvolvimento do país; Ritmo e características específicas do processo de urbanização. Ainda segundo Souza, alguns fatores explicativos permitem a compreensão do fenômeno de urbanização e da dinamicidade da rede urbana no Brasil: Comportamento demográfico; Grau de modernização e organização dos transportes; Nível de industrialização; Competitividade empresarial e inserção global; 57 Tipos de atividades e relações que mantém com grupos sociais envolvidos; Criação e retenção local do valor adicionado e da mais-valia gerada; Grau de redistribuição da renda entre os produtores; Efeitos diretos e indiretos da modernização e da globalização sobre a política, sociedade, cultura e ideologia. A cada momento histórico, a combinação destes fatores confere o nível de urbanização e o expansionismo da rede urbana que espacialmente resulta no padrão de distribuição das cidades pelo território, a forma da rede urbana, bem como o perfil urbano do país, ou seja, o tamanho respectivo das cidades dentro do sistema urbano brasileiro. De acordo com Maricato (2004), a rede urbana brasileira é extremamente desigual e concentrada: Enquanto 13 municípios – com mais de 1 milhão de habitantes – respondem por mais de 20% de toda a população do país, tem-se 4614 municípios – com menos de 20 mil habitantes – concentrando menos de 20% da população. A evolução do sistema urbano brasileiro, de acordo com IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2000), possui algumas tendências e características de suma importância na identificação e no entendimento do fenômeno urbano contemporâneo, que são a concentração industrial e a divisão territorial do trabalho (MARICATO, 2004, p. 61). Problemas e características comuns a todas as cidades brasileiras, independente da categoria de tamanho: Inexistência ou insuficiência de saneamento básico, particularmente nos sistemas de coleta e tratamento de esgoto; Inadequada destinação e/ou tratamento de resíduos sólidos e lixo urbano; Inexistência ou insuficiência de vegetação arbórea nas ruas, praças e avenidas, que permitam atingir o índice mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde – OMS – que é de 12 m² de área verde por habitante; Existência de vazios urbanos; Ocupação desordenada do território; Deterioração dos recursos naturais, solo, água e ar; 58 Concentração dos equipamentos e serviços urbanos nas áreas mais centrais. Maricato (op. cit.) ressalta que tanto as cidades de grande, médio ou pequeno porte, ou até mesmo os distritos municipais, possuem características comuns baseadas nos problemas gerais e diferencia-se pela ocorrência de fenômenos com certo grau de especificidade, carreados por sua localização geográfica e conjuntura socioeconômica. Muitos efeitos e conseqüências são perceptíveis na realidade cotidiana da vida urbana nas cidades brasileiras, à medida que se detectam seus problemas e se analisam suas características. Indubitavelmente o efeito mais duro sentido é o da deterioração da qualidade de vida, especialmente nas áreas urbanas. 3.1 A Centralidade da cidade de Patos no contexto da rede urbana A teoria regional utilizada neste estudo para compreender esta centralidade, foi a teoria dos lugares centrais desenvolvidas por Christaller (1933) sob a ótica de Corrêa (2001). Esta teoria empenhou-se compreender a dinâmica urbana a partir dos conceitos chaves de centralidade, localidade central, região de influência das cidades polarizadas, estabelecendo uma hierarquia urbana fundamentada em fluxos de bens e serviços. Com base nesta percepção a centralidade da cidade de Patos pode ser entendida não apenas por sua privilegiada posição geográfica, mas também por apresentar um conjunto de funções de bens e serviços. A cidade oferece atividades primárias e secundárias que se destinam tanto para a população interna quanto para a população das localidades adjacentes, que não dispõem dessas atividades. Com isso, os estudos dos lugares centrais na rede urbana brasileira, realizados por Corrêa (op. cit.), analisam as cidades a partir da relação com suas funções centrais, ou seja, cada cidade tem uma funcionalidade por conta dos seus serviços. É com esta perspectiva que a centralidade se constrói como conceito, se definindo como importância relativa de um lugar com respeito à região do seu 59 entorno. Para Correia (op. cit.) a centralidade trata de um tema relevante que é a organização espacial da distribuição de bens e serviços, tornando-se uma particularidade do conjunto social estabelecido. A centralidade no dizer de Correia (op. cit.) enriquece a visão geográfica da sociedade, isto é, enriquecer nossa compreensão sobre as diferentes formas de espacialização da sociedade. Assim, como diz Sposito (2004, p. 181) “[...] à centralidade de um núcleo, refere-se ao seu grau de importância a partir de suas funções centrais: maior número delas, maior a sua região de influência, maior a população externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade”. Dentro desta linha de abordagem o IBGE (2000) apresenta o conceito trabalhado por Christaller (op. cit.) que são o alcance espacial máximo e o alcance espacial mínimo. O alcance espacial máximo se refere a uma área determinada por uma distância a partir da localidade central, dentro do quais os possíveis consumidores deslocam-se para a localidade central, na busca de obter bens e serviços (IBGE, 1993). A população externa a essa área, em função dos maiores custos com transportes, deslocar-se-ia para outras localidades mais próximas, em busca de consumo. Esta primeira área, então, seria constituída da região complementar de uma dada localidade central (IBGE, 2000 p. 17). E o alcance espacial mínimo diz respeito à área em torno de uma localidade central que abrangeria um número mínimo de consumidores que são suficientes, economicamente, para que se instale uma atividade de bens e serviços, o que caracteriza sua função central. A partir dessas proposições, fica estabelecida uma diferenciação na oferta de bens e serviços. Quando uma função central fosse de consumo freqüente, poucos consumidores seriam suficientes para proporcionar sua viabilidade econômica. Assim, ela necessitaria de um reduzido alcance espacial mínimo e, por outro lado, também seria reduzido o seu alcance espacial máximo, uma vez que, devido à oferta generalizada em outros centros dessa mesma função central, haveria impeditivos relativos aos custos com transportes ao deslocamento na busca de tal função. Já em relação aos bens e serviços de menor freqüência de consumo, seria necessário um maior alcance espacial mínimo tendo em vista o maior número de consumidores exigidos à sua viabilidade econômica, sendo, portanto, também mais ampla a área que conteria tal população. Dada a periodicidade de sua freqüência de consumo, tais funções centrais suportariam maiores custos com transportes, possibilitando, por esse 60 motivo, a existência de um maior alcance espacial máximo. Por esses motivos, seriam em pequeno número as localidade centrais a oferecerem tais funções e maiores seriam as distâncias entre elas (IBGE, 2000, p. 18). A partir dessa diferenciação metodológica proposta, na oferta de bens e serviços, pode-se estabelecer uma hierarquia entre as localidades centrais. Assim de acordo com Sposito (2004, p. 182): Alguns níveis de natureza da hierarquia urbana, como maior o nível hierárquico de uma localidade central, menor o seu número e mais distanciada está ela de uma outra do mesmo nível; maior o nível hierárquico de um centro, maior a sua hinterlândia e maior o total de sua população atendida; mais alto o nível hierárquico, o número de funções centrais é maior do que em um centro de nível inferior. É no processo histórico que deu origem a construção da cidade de Patos que se encontram os elementos para explicar a formação da sua rede urbana e a posição que ocupa na hierarquia do Estado. Como foi visto no capítulo anterior o surgimento de povoados no sertão que posteriormente se tornariam cidades esteve fortemente relacionado com as atividades primárias (agricultura e pecuária). Patos surge em meio as fazendas de gado e como ponto de apoio aos tropeiros que faziam paradas atraídos pela água e pastagens, sua localização geográfica lhe permitiu o desenvolvimentos de funções urbanas como transporte, comunicação, serviços que concorreram para originar a rede urbana. A partir do século XX, com a existência de uma infra-estrutura que se fortalecia com a convergência de uma população de áreas próximas em razão dos equipamentos urbanos, a função de entroncamento rodoviário e o maior contingente populacional a cidade lidera a posição de destaque na hierarquia urbana no sertão. De acordo com a classificação elaborada pelo IBGE, Patos na hierarquia do Estado é identificada como um centro regional. Outro aspecto a ser considerado pelo IBGE (2000) é a relação entre o nível hierárquico e funções urbanas, em que a oferta de funções é maior quanto maior for a hierarquia do centro, o que possibilita ao centro a existência de população maior e de um maior número de empregos. 61 Christaller (op. cit.), também propõe, segundo os arranjos espaciais para as redes urbanas, que se baseiam em três princípios IBGE (2000), modelos: de mercado, de transporte e administrativo. Estes se referem à maneira como a rede de localidades centrais seria estruturada. [...] - princípio de mercado – preconiza, que para cada centro de um dado nível hierárquico, haveria três outros centros de nível imediatamente inferior. Segundo esse princípio, seria constituída uma rede com menor número de centros. Já segundo o princípio dos transportes, existiria uma minimização do número de vias disponíveis à circulação e os principais centros iriam alinhar-se ao longo daquelas mesmas vias. Nesse caso, o número de centros de uma dada rede seria maior que no princípio de mercado e, aqui, a cada centro de um determinado nível hierárquico, haveria quatro outros de nível imediatamente inferior. Finalmente, no princípio administrativo [...], não existiria a superposição de áreas de influência, como ocorreria nas proposições anteriores. [...]. (IBGE, 2000, p. 19). Esses pressupostos teorizados por Christaller sobre a Teoria das Localidades Centrais são utilizados em vários estudos sobre centralidade, bem como em estudo sobre redes urbanas (em que os princípios de mercado, transporte e administrativos citados acima são aprofundados enquanto proposta teórica), sendo assim importante para a formação de um discurso que norteou parte da produção geográfica. Contudo surgem propostas que trazem uma perspectiva de compreensão, sob a ótica do modo de produção capitalista, em que considera como a produção, a distribuição e o consumo desempenham papel de destaque na organização da sociedade e do espaço. E dessa forma se faz conveniente postular uma abordagem em que repense a participação da penetração do capital na esfera da produção (varejista e de serviços) onde está inserida a dinâmica geográfica das localidades centrais. Dentro dessa linha de repensar os pressupostos teóricos das localidades centrais numa visão de produção e consumo capitalista, Corrêa considera que: [...] A organização espacial da distribuição que emerge, fundamentada na divisão social e territorial do trabalho, na existência de uma massa predominantemente assalariada, e na articulação entre diferentes áreas produtoras, tem como locais as cidades que se interligam através do comércio atacadista, varejista e dos serviços. Neste processo de articulação e integração, sob o domínio da produção capitalista, crescente e 62 diversificada, os mecanismos econômicos de alcance espacial máximo e mínimo e de economias da aglomeração adquirem um significado novo que é o da própria acumulação capitalista, e geram uma diferenciação hierárquica entre todos os centros de uma rede de distribuição. [...]. Isso significa que o processo de acumulação capitalista, fundamentado na produção industrial e no trabalho assalariado, tem uma dimensão espacial e esta tem como um de seus lugares a rede de localidades centrais tanto em nível regional como intra-urbano (2001, p. 18-19, 21) A constituição de localidades centrais em uma estrutura territorial se torna necessária ao processo de acumulação capitalista, pois é através destas localidades centrais que a difusão dos fluxos de mercadorias e financeiro ocorre, via sistema de distribuição em que os assalariados têm seu salário direcionado através do comércio varejista e da rede bancária para os grandes centros de decisão econômica, no dizer de Corrêa (2001, p. 20) “[...] possibilitando a acumulação capitalista. Do mesmo modo, parte dos lucros dos capitalistas é drenada para os centros de acumulação”. Pode-se afirmar que a posição de centralidade que algumas cidades dispõem se fundamenta como um meio através do qual a se verifica a reprodução capitalista. E não podemos negar que as relações entre sociedade, espaço e tempo são marcadas pelo processo de acumulação capitalista. Outro ponto a considerar, na proposta de teorizar o tema centralidade é buscar uma politização para o estudo da localidade central, e de acordo com Milton Santos (apud CORRÊA, 2001) traz uma dimensão política ao estudo da centralidade, quando trabalha como os conceitos de circuitos superior e inferior da economia e as suas diferentes projeções espaciais. O circuito superior é diretamente resultante da modernização tecnológica, enquanto o inferior é indiretamente resultante dessa modernização tecnológica, direcionado as pessoas que pouco se beneficiam com o progresso. Para o IBGE (2000) os circuitos superiores e circuitos inferiores em que se divide as localidades centrais apontam para a diferenciação de consumo entre os grupos sociais e, em paralelo, para um diferente comportamento espacial dentro do mesmo espaço de coexistência, como ocorre na própria reprodução do modo de produção capitalista. E nesta reprodução capitalista, as localidades centrais acabam por constituir um meio no qual se reproduz à diferenciação de classes sociais. Conforme ressalta Santos (apud CORRÊA, 2001, p 75-76) os circuitos interferem na localidade central: 63 [...] estruturando-a de modo a que cada centro atue simultaneamente nos dois circuitos, dispondo de duas áreas de influência. A interferência se faz, em realidade, através dos mecanismos básicos de estruturação da hierarquia urbana, o alcance espacial mínimo e máximo. [...]. No circuito inferior, o alcance espacial mínimo é reduzido nos três níveis de localidades centrais. O alcance espacial máximo, por sua vez, é relativamente maior na cidade local do que na intermediária. Na metrópole, apresenta tendência a confundir-se com os seus limites urbanos, ou seja, os bens e serviços oferecidos pelas atividades do circuito inferior não traem residentes fora do centro metropolitano, atendendo apenas à demanda de uma vasta população pobre citadina. A cidade local por sua vez, tem sua centralidade apoiada basicamente, nas atividades desse circuito, entre elas as que se reúnem nos mercados periódicos: atraem consumidores de uma relativa longa distância. No circuito superior, o alcance espacial mínimo assume certa expressão espacial, tanto na metrópole como nas cidades intermediárias. Na cidade local é hipotético, pois, efetivamente, a pequena localidade central não desempenha funções vinculadas a esse circuito. Constata-se que a discussão trazida por Santos (apud CORRÊA, 2001), à teorização das localidades centrais, os circuitos da economia urbana refletem a pobreza de parte da população, que tanto nas periferias das metrópoles como em localidades centrais estão inseridas no circuito inferior, já que o circuito superior está voltado para as atividades mais modernas e para a população de nível de renda mais elevada, que possui condições para esse consumo. Dessa forma, o estudo da centralidade urbana não pode negar essa visão de que a rede de localidades centrais tende a reforçar a estrutura de classes sociais, a partir da organização social que se desenvolve nos circuitos superior e inferior da economia. Pode-se dizer que a centralidade exercida pela cidade de Patos responsável pela construção da sua rede urbana e hinterlândia com forte influência a microrregião em que se encontra localizada e se estende não só pelo sertão paraibano, mas para áreas próximas dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte se dão em razão dos elementos trabalhados na proposta da Teoria dos lugares centrais. A influência direta sobre os municípios circunvizinhos, através da oferta de variados serviços, dentre eles a educação, assistência médico-hospitalar (hospitais, clínicas e consultórios médicos), a instalação de escritórios de vários órgãos institucionais de ordem pública e privada coordenando atividades em vários outros municípios, é que norteiam a sua centralidade. 64 3.2 Patos e os níveis de centralidade das Cidades Brasileiras A rede que é focada neste trabalho é a rede de lugares centrais e o IBGE (2000), coloca que: Esta rede, genericamente chamada de Lugares Centrais, seria um dos desenhos das redes geográficas existentes. Constitui, num dado momento, um agregado de pontos, os centros urbanos considerados, unidos por um caminho, direcionamento dos fluxos de pessoas à procura de bens e serviços e de informações, no meio de tantos outros momentos, outros pontos e tantas outras ramificações. Não obstantes, achamos que é uma rede representativa de condições reais, mais relacionada à distribuição de mercadorias e serviços do que à produção propriamente e, principalmente passível de ser concretamente estudada e operacionalizada (op. cit, p. 14). De acordo com a citação, as redes geográficas encontram-se vinculadas ao processo capitalista. Corrêa aponta para a idéia de que a: Rede de localidades cumpre simultaneamente dois papéis que são complementares: de um lado constitui-se em um meio para o processo de acumulação capitalista, e de outro, constitui-se em um meio para a reprodução das classes sociais. Isso significa que a rede de localidades centrais constitui-se em um meio através do qual a reprodução do modo capitalista se verifica (CORRÊA, apud IBGE , 2000, p. 24). Como as redes estão inseridas na organização do sistema capitalista elas não devem ser vistas: [...] de forma estanque, separadas dos modos de produção, que lhe garantem a mobilidade dos fluxos. Como aqueles modos de produção contam com agentes geradores e controladores de fluxos, pode-se afirmar que tais agentes acabem por controlar alguns ‘locais-nós’, privilegiados no território, sendo responsáveis pelo desenho e traça de diversas redes (IBGE, 2000, p. 14). De acordo com os estudos sobre as redes urbanas já mencionadas, o IBGE, utilizando a argumentação da Teoria das Localidades Centrais de Walter Christaller (1933) assim se posiciona para explicar a localidade central: Segundo sua proposição, existiriam elementos reguladores sobre o número, tamanho e distribuição das cidades. Independente de seus respectivos tamanhos, todo núcleo de povoamento é considerado uma localidade central, equipado de funções centrais. Essas funções seriam as de distribuição de bens e serviços para a população externa à localidade, residente em sua área de mercado ou região de influência. A centralidade 65 de uma localidade seria dada pela importância dos bens e serviços – funções centrais – oferecidos. Quanto maior fosse o número de funções, maior seria a centralidade, sua área de influência e o número de pessoas por ela atendida (CHRISTALLER,1933 apud IBGE, op.cit., p.17). O IBGE em seus estudos sobre centralidade urbana listou alguns elementos do setor terciário que subsidiaram a definição das funções ou níveis de centralidade. Foram definidas 46 funções centrais (bens e serviços), raros ou freqüentes que constituíram a base da investigação. Daquelas funções centrais foram consideradas de baixa complexidade e freqüentes nas cidades de hierarquia mais baixa ou de menor nível de centralidade. Outras trinta funções foram consideradas como geradoras de fluxo de média a elevada complexidade e definidoras de hierarquia/centralidade mais elevadas que aquelas primeiras (op. cit., p. 21). Ao situarmos os serviços oferecidos na cidade de Patos a esta listagem proposta pelo IBGE para verificação de oferta de bens e serviços, observamos que a cidade atende totalmente o nível de baixa complexidade e amplamente o nível de média e elevada complexidade, conforme apresentamos nos quadros a seguir. Conforme o Quadro 1, arroladas catorze funções de bens e serviços de baixa complexidade, observa-se que a cidade de Patos dispõe de todos os serviços: Nº Bens e Serviços de Baixa Complexidade Patos 01 Produtos para Agricultura e Pecuária (sacaria, arame farpado, inseticidas e ferramentas agrícolas) Ferragens e Louças em Geral Aparelhos Eletrodomésticos em Geral Filmes fotográficos e serviços de Revelação Móveis e Estofados Automóveis Novos Óculos com Receita Médica Hospital Geral (público ou particular) Laboratórios de Análise Clínicas (pertencentes ou não a hospitais) Cirurgiões Dentistas Agências Bancárias Serviços Gráficos (impressos em geral) Serviços de Contabilidade Serviço de Advocacia Sim 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim QUADRO 1 - Bens e Serviços de Baixa Complexidade na cidade de Patos, 2007 FONTE: Baseado no estudo Regiões de Influência das Cidades, 1993 (IBGE, 2000) 66 No Quadro 2, que arrola trinta funções de bens e serviços de média e elevada complexidade, encontramos a oferta de vinte e um itens. Nº Bens e Serviços de Média a Elevada Complexidade Patos 01 02 03 04 05 Tratores, Arados Mecânicos e seus Acessórios. Caminhões Novos. Aviões de Pequeno Porte. Motores e Bombas Hidráulicas em Geral. Serviços Autorizados de Eletroeletrônicos (conserto de vídeo cassetes, aparelhos de som, filmadoras e fornos de microondas). Persianas, Cortinas e Tapetes. Pratarias, Cristais e Objetos de Decoração. Artigos Importados (perfumes, bebidas e eletroeletrônicos). Instrumentos Musicais. Móveis para escritório Maquinas de Escrever (manual, elétrica e eletrônica). Computadores. Microcomputadores e Periféricos. Médico Pediatra. Médico Oftalmologista Médico Cardiologista Médico Oncologista e/ou Médico Nefrologista Cirurgias Especializadas (de olhos, cardiovasculares, neurocirurgias e transplante) Serviços Especializados de Saúde (tomografia computadorizada, medicina nuclear e hemodiálise) Equipamentos e Instrumentos Médico-Cirúrgicos. Serviços de Ortodontia Material e Equipamentos para Dentistas Oxigênio para Hospitais Instrumentos Óticos de Precisão (binóculos, lupas, microscópios, lunetas, entre outros) Agências de Turismo (incluindo compra e venda de passagens aéreas e terrestres) Escritórios e Agências de Publicidade (não incluindo serviços de propaganda volante e de alto-falantes). Serviços de Engenharia (não incluindo reformas e construções residenciais) Escritórios de Consultoria e Planejamento Cursos de Nível Superior (terceiro grau) Cursos de Pós-Graduação (somente mestrado e doutorado). Livros Técnicos e/ou Importados Sim Sim 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim QUADRO 2 - Bens e Serviços de Media e Elevada Complexidade na Cidade de Patos, 2007 FONTE: Baseado no estudo Regiões de Influência das Cidades, 1993 (IBGE, 2000) 67 Desta forma percebe-se que a cidade dispõe de uma gama de serviços e equipamentos urbanos como meios de comunicação (emissoras de rádios, rádios amadores, empresas telefônicas no sistema convencional e móvel celular, não só na zona urbana, como na zona rural, jornais, revistas, retransmissoras de TV), que fazem comunicação com todas as partes do estado, da região, do país e com o exterior, várias clínicas, consultórios, hospitais, instituições de ensino e um comércio diversificado. É ligada a todas as regiões do Estado e do País através de linhas regulares de transportes. O transporte varia entre o formal, o alternativo e o particular conta com o serviço de táxis, mototáxis e veículos de pequeno porte com destino a cidades circunvizinhas. Possui transporte ferroviário, cuja principal utilização é para o transporte de cargas. Contudo, a prestação de serviço de transporte coletivo urbano é explorado por uma única empresa. Desta forma, percebe-se que a cidade concentra determinadas funções e oferece bens e serviços que a projetam para o exercício da centralidade regional. 68 Patos dos meus tempos Hoje, assim tão distante, eu te envio lembranças, Sinto saudades de ti Do tempo em que era criança. Patos, cidade querida de um céu azul cor de anil. És parte da minha vida Oh! Lindo pedacinho do Brasil. Lembro os carnavais passados Que os anos não trazem mais. Lembro as cavalgadas da Rua do Prado Que o tempo deixou pra traz. Minha primeira escola A banda e a retreta. E a professorinha Antonieta (Antônio Emiliano) 69 4 A CENTRALIDADE E OS ARRANJOS ESPACIAIS DE PATOS O processo de construção da singularidade da cidade de Patos no sertão paraibano aponta que esse lugar geográfico esteve sujeito às contingências históricas, às condições econômicas e políticas, processos que são gerados tanto em nível local, como também global. O seu espaço foi construído com base na sua posição privilegiada e na produção de bens e serviços, num processo iniciado no lombo dos burros dos tropeiros ou nos cascos das boiadas, indo ou voltando do litoral, num movimento de trocas que visava complementar as necessidades de consumo das populações das diversas áreas do Estado. A cidade de Patos foi se configurando como um espaço favorável para oferecer bens e serviços à sua população local como também para aquela que se encontra em seu entorno. Esta característica revela o fenômeno que enseja este estudo: a questão da centralidade. Os arranjos espaciais selecionados para medir esta centralidade no âmbito desta pesquisa foram: educação, saúde, transporte (alternativo) e órgãos administrativos. Pretende-se mostrar como esses arranjos espaciais reforçam a centralidade da cidade sobre a região, que inclui cidades próximas aos estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco. Entre os arranjos espaciais selecionados, a Educação é um elemento de relevância para o fortalecimento desta centralidade porque atraem pessoas de todo o sertão, de outros estados da região Nordeste e do país. 4.1 Educação Como já foi mencionado na Gênese da Centralidade de Patos, é na década de 1930 que ocorre um crescimento do setor educacional da cidade. Um outro marco ocorre no final da década 60, com a instalação do primeiro curso superior (Economia), de caráter privado. Nas últimas décadas, o campo do ensino superior se estrutura na cidade, com várias instituições públicas e 70 privadas, e afirma a cidade de Patos como uma referência na área para todo o interior paraibano e outros estados. No que toca à administração do ensino básico, é na cidade de Patos que está localizada a 6ª Gerência Regional de Educação e Cultura – que administra as atividades educacionais de 64 escolas públicas estaduais de um total de 24 municípios e um contingente superior a 29 mil alunos. 12 (Ver municípios da 6ª Gerência na Figura 13). Figura 13: Área de abrangência da 6ª Gerência Regional de Educação e Cultura. FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007, adaptado pela autora). Este constante crescimento deve se, em parte, à expansão e exigência do mercado que atualmente exige profissionais mais qualificados. 12 A rede municipal conta com mais de 10 mil alunos efetivamente matriculados e aproximadamente 519 professores com variados níveis de formação (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE PATOS) 71 Como a educação básica (fundamental e médio) 13 estão presentes hoje em todos os municípios, a procura por este serviço nestes níveis vem diminuindo, e concentrando-se atualmente, no ensino superior, que representa um papel expressivo no fenômeno da centralidade, pela expansão das Instituições de Ensino Superior (IES) e de outros cursos. A pesquisa foi realizada nas seguintes instituições de ensino superior: 9 Faculdades Integradas de Patos (FIP), mantida pela Fundação Francisco Mascarenhas (Privada); 9 Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – Campus II Patos) (Pública); 9 Universidade Estadual da Paraíba (UEP) (Pública); 9 Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) (Privada); 9 Instituições de Ensino a Distância – EADACON (Privada). O quadro 3 apresenta os cursos oferecidos por todas as instituições envolvidas na pesquisa. Hoje a cidade já disponibiliza 25 cursos em diversas áreas, com tendência a aumentar nos próximos anos. CURSOS TOTAL DE CURSOS FIP Biomedicina, Direito, Economia, Enfermagem, Fisioterapia, Geografia, História, Jornalismo, Letras, Odontologia, Pedagogia, Sistemas de Informação 12 UFCG Campus Patos Biologia, Engenharia Florestal, Veterinária 3 UEPB Administração, Licenciatura em Licenciatura em Ciências Exatas 3 UVA Biologia, Matemática, Pedagogia 3 EADCON Administração, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Ciências Contábeis, Pedagogia 4 IES Total de cursos oferecidos na cidade Computação, 25 QUADRO 3 – Cursos oferecidos por Instituições de Ensino Superiores (IES) em Patos – PB no período 2008.1 Fonte: Secretaria das IES 13 Nos últimos cinco anos, o Governo do Estado cumpriu exigências estabelecidas por programas de políticas educacionais e expandiu o ensino médio para todos os municípios da Paraíba. Mesmo assim, a procura pelas escolas de ensino médio na cidade de Patos, por estudantes de outros municípios ainda ocorre, ainda que em proporções menores, mas agora, para escolas privadas. 72 As Faculdades Integradas de Patos (FIP), mantidas pela Fundação Francisco Mascarenhas, disponibiliza como já foi visto, o maior número de cursos distribuídos em duas unidades: 9 A primeira unidade localizada na Rua José Gomes Alves S/N Centro tem sua origem datada de 1968, quando foi instalado o primeiro curso superior (Economia) na cidade de Patos, sob a iniciativa do Senhor José Gomes Alves e desde então sempre novos cursos de graduação e pós-graduação estão sendo implantados. Atualmente nesta unidade funcionam apenas dois cursos (Figura 14). 9 A segunda unidade localizada na Rua Horácio Nóbrega no bairro do Belo-Horizonte, onde é oferecido o maior número de cursos oferecidos pela instituição (Figura 15). FIGURA 14 - FIP – Unidade I, localizada na Rua José Gomes Alves S/N Centro FIGURA 15 - FIP – Unidade II, localizada na Rua Horácio Nóbrega, S/N, Bairro Belo Horizonte FONTE: Acervo pessoal (2008) FONTE: Acervo pessoal (2008) As Faculdades Integradas de Patos – FIP, tendo em vista a questão numérica dos serviços ofertados, é considerada hoje o maior complexo educacional do sertão paraibano. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente com mais de 3.000 (três mil) alunos matriculados, distribuídos por doze cursos. E já 73 se encontra em expectativa a chegada do curso de Educação Física, mais uma opção para os estudantes do sertão paraibano, que necessariamente não precisaram se deslocar para outros centros em busca de sua qualificação profissional, assim como alternativa para alunos de outros Estados. Universidade Federal da Paraíba (UFCG), Campus II Patos, localizada na Av. Santa Cecília s/n, Bairro do Jatobá, teve sua origem através da anexação da escola de Agronomia e Medicina Veterinária, da Fundação Francisco Mascarenhas, ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, através da Resolução nº 308 de 06 de dezembro de 1979. Em 11 de novembro de 1984 foi criado o Centro de Saúde e Tecnologia Rural através da Portaria 472 do Ministério da Educação e Cultura. Inicialmente foram implantados os Departamentos de Medicina Veterinária e Engenharia Florestal, curso que substituiu o de Agronomia. É hoje um dos centros de produção de conhecimento e geração de informações do Semi-Árido. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente com mais de 500 (quinhentos) alunos matriculados, com cursos que atraem alunos dos mais diversos estados brasileiros. O Campus da cidade de Patos conta também, com cursos de Mestrado (3) e Especialização (2). FIGURA 16 - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus II - Patos. Situada na Rodovia PB 110 S/N, Campus Universitário S/N, Bairro do Jatobá. FONTE: Acervo pessoal (2008) 74 A Universidade Estadual da Paraíba (UEP - Campus VII) foi instalada na cidade de Patos em 2006. No início do primeiro semestre de 2008 contava com aproximadamente mais de 800 (oitocentos) alunos matriculados. FIGURA 17 - Universidade Estadual da Paraíba localizada na Rua 5 de Agosto no Bairro Belo Horizonte. FONTE: Acervo pessoal (2008) A Universidade Estadual do Vale do Acaraú – (UVA) com sede em Sobral – CE, nasceu como Fundação Municipal, criada através da Lei nº 214, de outubro de 1968. Sucessivamente, foram criadas as Faculdades de Ciências Contábeis, Engenharia de Operações, Enfermagem e Obstetrícia e Educação, todas encampadas pelo governo do Estado Ceará em 10 de outubro de 1984, através da Lei nº 10.933, sob a forma de Autarquia. Com a promulgação da constituição do estado do Ceará, foi transformada em Fundação, em outubro de 1989, e, em 31 de março de 1994, foi reconhecida pelo Ministério da Educação – MEC, através da Portaria nº 821. Sua instalação na cidade de Patos ocorreu em novembro do ano de 1999. Não possui sede própria e funciona na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Manoel Vieira localizada na Praça Edvaldo Mota – 75 Centro. Com o Curso de Graduação em Pedagogia (turmas especiais) e os cursos de Licenciatura Específica em caráter temporário e excepcional, seu horário de funcionamento é aos sábados. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente com mais de 500 (quinhentos) alunos matriculados As Instituições de Ensino a Longa Distância (EAD) é uma nova modalidade do ensino que também já se encontra presente na cidade de Patos. O Ensino a longa distância aos poucos vem ganhando espaço na cidade. São utilizados canais disponíveis, entre eles um na web, através da tecnologia V-Sat, que disponibiliza voz, acesso à Internet e interatividade entre alunos e professores. São três instituições situadas na cidade de Patos: 9 A Eadcon a primeira referência do ensino a distância, instalada na cidade de Patos no ano de 2007, coligado ao Grupo Educacional UNINTER 9 A Unopar - Universidade Norte do Paraná, 9 CBED – Centro Brasileiro de Educação a Distância –, desde 2003 atua como uma unidade especializada em tecnologias aplicadas à educação a distância, em especial de telecomunicações via satélite, todas autorizadas pelo MEC. A EADCON localiza-se na Rua Pedro Firmindo nº 144, Ed. Estevam, sala 41, no 4º andar, forneceu o número de alunos com precisão, juntamente com as suas procedências. No início do primeiro semestre 2008 contava aproximadamente com mais de 100 (cem) alunos matriculados. 4.2 Procedência dos estudantes universitários Para a confirmação da hipótese da centralidade de Patos no campo do ensino superior, procedeu-se a um levantamento de declarações de residência, por ocasião do preenchimento de fichas de matrícula do primeiro semestre do ano de 2008, dos universitários das instituições envolvidas na pesquisa. 76 Os dados obtidos, referentes à procedência dos alunos, foram pesquisados nas respectivas secretarias destas instituições. No total geral, foram contabilizados cinco mil quinhentos e dez (5.510) dados de procedência. A visualização da Figura 18 evidencia uma regionalização da procura pelos cursos oferecidos pelas instituições. Ocorre uma convergência de alunos de todo o sertão paraibano, bem como de outros estados para a cidade, fomentando a centralidade já existente. No âmbito das Faculdades Integradas de Patos (FIP), os dados permitiram uma análise sobre o perfil preferencial dos alunos dos cursos conforme a procedência, conforme a tabela a seguir. FIGURA 18 - Procedência dos alunos universitários para a cidade de Patos. Fonte: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE 2007, adaptado pela autora). 77 TABELA 2 - Procedência dos universitários, por curso. FIP, Patos-PB. 2008.1. UNIDADE DA FEDERAÇÃO Curso de Graduação AL BA CE PA PB PE PI RN NC Total geral Bach. em Biomedicina 2 237 42 Bach. em Com. Social 2 140 Bach. em Direito 1 Bach. em Enfermagem 1 2 3 16 1 301 12 20 2 176 449 39 31 48 570 1 34 656 91 10 67 51 911 1 1 251 27 50 338 Lic. Plena em Geografia 100 7 3 110 Lic. Plena em História 134 14 4 152 Lic. Plena em Letras 175 17 9 201 Lic. Plena em Pedagogia 173 9 25 207 Bach. em Fisioterapia 1 2 40 2 1 7 2315 258 14 182 152 2966 FONTE: Secretaria dos cursos da FIP (2008) Observa-se, com relação à procedência destes alunos, que a cidade recebe hoje uma clientela dos diversos estados da região Nordeste (em especial dos estados do Pernambuco e Rio Grande do Norte), embora a predominância seja alunos do próprio estado e mais especificamente do sertão. Ocorre uma forte procura pelo curso de Direito e pela área de saúde, obedecendo um padrão comum entre os universitários. Os cursos de licenciatura atualmente são os menos procurados pelos alunos, talvez como um dos indicativos da crise pela qual passa a educação no país e pela própria saturação do número de profissionais formados na região. Mesmo deslocando-se diariamente da região de origem para as faculdades, a contratação de transportes, pelos estudantes, é financeiramente mais viável do que a manutenção de uma estadia em outros centros, como Campina Grande ou João Pessoa. 78 O mesmo levantamento revela, para a Universidade Federal de Campina Grande e seus cursos: TABELA 3 - Procedência dos universitários, por curso. UFCG, Patos-PB. 2008.1. UNIDADE DA FEDERAÇÃO Curso de Graduação AL BA CE PA PB PE PI RN TO MG SP MA RO PR Ciências Biológicas 54 Engenharia Florestal 2 1 6 6 105 13 14 Total Geral 66 3 1 Medicina Veterinária 2 14 23 2 199 42 1 51 1 1 5 1 Total Geral 2 16 24 2 358 61 1 71 1 1 8 2 1 1 140 1 343 1 549 Fonte. Secretaria dos cursos da UFCG (2008) No caso da UFCG, percebe-se que a maioria dos alunos é proveniente da região Nordeste, em especial do próprio estado da Paraíba, seguido do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e uma pequena parcela de outros estados do país. Pode-se afirmar que o setor educacional é hoje um grande responsável pela manutenção da influência que a cidade exerce em todo o sertão e atua como forte dinamizador da economia. Para confirmar esta hipótese, foi feito um registro fotográfico do movimento diário ocasionado pela presença constante de alunos da cidade e do seu entorno. Esta movimentação está aqui representada numa imagem da Rua Horácio Nóbrega, onde está localizada a unidade da FIP que concentra o maior número de cursos (dez no total), que tem sua paisagem modificada em função da movimentação dos estudantes. Nesta instituição os cursos da área de saúde são ofertados nos turnos da manhã e da noite. Os demais cursos funcionam no período noturno. Por ter poucos cursos funcionando no horário diurno o fluxo de movimentação é menor, ocorre com mais intensidade no início e no fim da manha. 79 As demais instituições também oferecem cursos diurnos o que gera uma movimentação nas suas imediações de transporte estudantis que vão desde os municipais, alternativos, convencionais e particulares. Na Figura 19 que registra a presença de transporte alternativo para locomoção dos estudantes de áreas próximas da cidade. Vale ressaltar que esta mobilidade é diária. FIGURA 19 - Circulação do transporte em frente à unidade II da FIP localizada na Rua Horácio Nóbrega, no Bairro Belo Horizonte. FONTE: Acervo pessoal (2008) À noite a Rua Horácio Nóbrega (Figuras 20 e 21) ganha outra dinâmica, um maior fluxo de veículos estacionados nela e nas suas adjacências que vão desde os alternativos, municipais e os particulares. Ocorre uma ocupação pelos veículos nos dois sentidos da rua como mostra a foto, além de desenvolver um micro comércio que envolve alimentação, papelaria, xérox, lan houses. 80 FIGURA 20 - Concentração dos Transportes nas proximidades da unidade II da FIP na Rua Horácio Nóbrega no Bairro Belo Horizonte. FONTE: Acervo pessoal (2008) FIGURA 21 - Concentração dos Transportes dos estudantes nas proximidades da Unidade II da FIP, na Rua Horácio Nóbrega no Bairro Belo Horizonte FONTE: Acervo pessoal (2008) 81 4.3 Saúde O segundo arranjo espacial selecionado nesta pesquisa foi o setor da saúde, por possuir um importante papel na posição ocupada pela cidade em todo o sertão, responsável também pela constante movimentação das pessoas que buscam atendimentos mais qualificados que os oferecidos por suas cidades. A assistência médica nesses locais que gravitam ao redor de Patos, em muitos casos, conta apenas com um clínico geral ou apenas com a assistência da saúde pública. A cidade também sedia a 6ª Gerência Regional de Saúde, que coordena as atividades referentes aos municípios sob sua responsabilidade. Composta por vinte e quatro municípios, os mesmos fazem parte do 6ª Gerência Regional de Educação e Cultura. O setor também responsável pelo aquecimento da economia local envolve o comércio, desde alimentação, hospedagem, medicamento etc. Em Patos, o setor de saúde dispõe de estabelecimentos de saúde de caráter público, privado, como hospitais, policlínicas, postos de saúde e algumas clínicas especializadas. A cidade conta com 56 estabelecimentos de saúde, entre públicos e privados. Entre os órgãos escolhidos para a pesquisa, optou-se pelos hospitais: Regional Deputado Janduhy Carneiro e Maternidade Peregrino Filho, por gerarem um fluxo maior por parte da população que busca este serviço. FIGURA 22 - Hospital Regional Dep. Janduhy Carneiro localizado na Rua HorácioNóbrega S/N no Bairro Belo Horizonte. FONTE: Acervo pessoal (2008) 82 FIGURA 23 - Setor de Urgência do Hospital Regional de Patos localizado na Rua Horácio Nóbrega no Bairro Belo Horizonte FONTE: Acervo pessoal (2008) FIGURA 24 - Maternidade Peregrino Filho localizada na Rua Elias Asfora S/N Bairro Jardim Guanabara. FONTE: Acervo pessoal (2008) Os órgãos públicos como o Hospital Regional de Patos e a Maternidade Peregrino Filho são espaços de recepção de um contingente populacional de vários municípios que busca um atendimento mais especializado ausente nas suas cidades 83 de origem. Embora os registros sejam apenas do estado, ocorre atendimento de cidades pertencentes a outros estados. Com a municipalização da saúde, a cidade também passou a desenvolver uma parceria com as prefeituras dos municípios de menor influência localizados no sertão paraibano para os serviços que as respectivas cidades não dispõem. E com isso ocorre uma mobilização freqüente de pessoas circulando pela cidade A partir da análise de prontuários de internação de pacientes nestes dois hospitais, no período janeiro / abril de 2008, realizou-se um mapeamento das procedências destes pacientes. O número de prontuários levantados totaliza 1.315 pacientes, e apresentam a seguinte distribuição regional: FIGURA 25 - Área de procedência dos pacientes do Hospital Regional de Patos FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE 2007). 84 FIGURA 26 - Área de procedência dos pacientes do Hospital e Maternidade Peregrino Filho Fonte: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007). As Figuras 25 e 26 reforçam a hipótese da centralidade da cidade de Patos, também na área da saúde. É importante lembrar que se considerar-se também os atendimentos sem internação, o volume de população atendida seria expressivamente maior. A área em destaque com a cor verde (Figura 24) mostra a área de influência da UNIMED, a maior cooperativa de saúde de caráter privado atuante no Estado da Paraíba, que concentra em Patos, tanto o seu escritório de representação como a maioria das clínicas e médicos associados. 4.4 Transporte Na seqüência da pesquisa, o terceiro arranjo analisado consiste na análise do deslocamento das pessoas da própria microrregião, de outras 85 microrregiões do estado e das cidades próximas aos limites dos estados do Pernambuco e do Rio Grande do Norte realizado pelo setor do transporte. Com distâncias relativamente próximas, uma rotina de circulação diária das pessoas é bastante comum, por uma série de motivações. Assim, a constância do deslocamento diário reafirma a hipótese da centralidade. A cidade está na rota de praticamente todos os deslocamentos ocorridos na região sertaneja, rumo ao litoral e outras áreas do país. As empresas de ônibus como a Guanabara, a Progresso, Itapemirim, Contijo, os transportes alternativos e particulares são os responsáveis pelos deslocamentos das pessoas. FIGURA 27 - Estação Rodoviária Ivan Bichara de Patos localizada na Praça da Independência s/n, Bairro Centro FONTE: Acervo pessoal (2008) A Figura 28 a seguir mostra, como exemplo, o percurso da Empresa Guanabara. As demais seguem aproximadamente o mesmo trajeto. A cidade é cortada no sentido leste-oeste pela BR 230, que partindo de Cabedelo segue na direção oeste até a fronteira com o vizinho estado do Ceará. Este mapa permite visualizar sua posição estratégica, tanto de passagem como de entroncamento viário, o que lhe permite um fluxo considerável de pessoas. 86 FIGURA 28 – Percursos de linhas de ônibus Guanabara, que partem do litoral para o interior do Estado e que passam pela cidade de Patos FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007) A pesquisa optou pela observação do transporte alternativo, pela sua utilização crescente pela população, e pela freqüência das viagens, pelas vantagens que os mesmos oferecem em relação aos transportes popularmente conhecidos como os de “linha”. A vantagem aqui mencionada se refere a: 1. Conforto - Embora os preços da passagem sejam os mesmos das linhas convencionais de ônibus, eles contam com o conforto em sua maioria de serem apanhados e deixados em suas residências; 2. Flexibilização de horário - Os horários estão mais adaptados com suas necessidades e não cumprem rigorosamente os horários de chegada e saída; 3. Vínculo de sociabilidade - Na maioria dos casos há um vinculo maior por parte dos usuários deste transporte. 87 Com base nos questionários e em conversas informais com os próprios motoristas estima-se um número aproximado 120 motoristas. Aqui não estão incluídos os motoristas que fazem a linha para Campina Grande e João Pessoa. É valido ressaltar que o trabalho informal, como se sabe, se refere aquelas atividades produtivas que é executada sem a regulamentação da legislação trabalhista vigente em um determinado país. Neste setor, estariam os trabalhadores sem carteira assinada e os não remunerados. O transporte alternativo é hoje uma realidade presente em todo o país é uma possibilidade de trabalho. Uma alternativa diante da falta de oportunidades no setor formal da economia. Eles são responsáveis pelos movimentos curtos, diários, mas que somados dão uma dinâmica na economia da cidade de Patos e ocasionando diariamente as interações na sua hinterlândia. Para uma melhor apreciação da centralidade da cidade de Patos através do funcionamento do transporte alternativo fez-se necessário recorrer à investigação através do uso de questionários buscando obter informações por parte dos motoristas e dos passageiros que usufruem deste transporte. Foram aplicados 72 questionários para os motoristas e 136 questionários para os passageiros. A pesquisa envolveu 13 pontos de transporte alternativo, localizados em sua maioria no centro da cidade ou em áreas próximas. Uma das perguntas feitas aos motoristas entrevistados consistiu em apurar se os mesmos estavam organizados em alguma categoria. Verificou-se que a maior parte da categoria não está organizada em qualquer tipo de associação (68%), enquanto 23% responderam afirmativamente e 8,3% não responderam. Com base na Figura 29 observa-se o destino da maioria destes transportes alternativos e o valor cobrado 14 . Observa-se que na distribuição do espaço a cidade ocupa o centro, e que as populações destes municípios se direcionam para Patos em sua maioria, na busca dos serviços que suas cidades não disponibilizam. Dessa forma a centralidade da cidade vai se mantendo e se fortalecendo através do seu crescimento econômico. Os valores das passagens mostram um pouco da dinâmica diária que gira nesta circulação de pessoas na cidade em busca de seus serviços. São pequenos 14 Estes valores podem já ter sofrido alterações em virtude dos aumentos no preço do combustível. 88 movimentos, movimentos curtos, mas que são relevantes para o aquecimento da economia local. FIGURA 29 - Mapa das distâncias e preços dos transportes alternativos da cidade Patos - PB. FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007) 89 TABELA 4 - Município de residência dos motoristas de transporte alternativo Patos/PB (2008). MUNICÍPIO DE RESIDÊNCIA TOTAL Areia de Baraunas 3 Catingueira 4 Cacimbas 3 Condado 6 Desterro 2 Emas 1 Malta 5 Maturéia 1 Nova Olinda 2 Olho D'Água 5 Passagem 4 Patos 5 Pombal 4 São Bentinho 3 São José Bonfim 2 São José de Espinharas 2 São Mamede 5 Salgadinho 5 Santa Luzia 7 Total de motoristas entrevistados 72 FONTE: Entrevistas com motoristas de transporte alternativo. Patos (Maio/2008) A Tabela 4 mostra o local de residência dos motoristas de transportes alternativos. Observa-se que maioria destes motoristas não reside na cidade de 90 Patos. Residem nas cidades que são gravitam ao redor de Patos, circulando diariamente pela cidade. GRÁFICO 1 - Movimentação de passageiros de transporte alternativo FONTE: Entrevistas com usuários de transporte alternativo. (Patos maio/2008). O Gráfico 1 visualiza a movimentação deste usuário quanto ao seu deslocamento. Confirmando o caráter de uma população flutuante na cidade. Eles chegam em sua maioria pela parte da manhã para realizarem tarefas relacionadas ao comércio, saúde, educação e/outros e retornam a sua origem na parte da tarde. Esta movimentação já faz parte da rotina da cidade. Uma pequena parcela está de passagem, já que Patos termina tornandose um ponto em muitos casos de parada “obrigatória”. Quando se perguntou a respeito do local de origem dos usuários do transporte alternativo, observou-se que o predomínio dos usuários residentes na própria microrregião de Patos e que transitam também na própria microrregião, o que mostra a articulação que existe de Patos com as demais cidades da microrregião em que está inserida. 91 GRÁFICO 2 - Freqüência das viagens a Patos, por faixa etária, de usuários de transporte ativo FONTE: Entrevistas com usuários de transporte alternativo. (Patos maio/2008). Com relação ao Gráfico 2 que trata da freqüência e da faixa etária dos usuários do transporte alternativo, verifica-se uma regularidade de fluxo durante todo o mês, variando apenas as faixas etárias. Com base nos dados, chega-se as seguintes deduções: As crianças não acompanham com regularidade os adultos, pelo próprio custo que isso causa como também pelas situações que os leva a cidade na maioria das vezes. São os adultos que realizam estes movimentos e que alimentam a centralidade da cidade, já que os mesmos estão em busca de suprirem as necessidades que não são encontradas nos seus locais de residência. Ocorre uma mudança de faixa estaria com relação a freqüência. Que muitos aposentados devem receber seus benefícios aqui, já que existe uma procura maior por parte desta parcela da população no final mês. A faixa etária entre 16 a 25 anos que se sobressai na primeira semana esta relacionada em sua maior parte ao setor educacional. É uma pequena parcela que paga o transporte, para estudar. A maioria das prefeituras disponibiliza este transporte para os estudantes. 92 GRÁFICO 3 - Motivação de viagens de moradores de outros municípios a Patos/PB. 2008 FONTE: Entrevistas com usuários de transporte alternativo. (Patos, maio/2008). A mobilidade como mostra o Gráfico 3 da população que usa o transporte alternativo com mais freqüência é motivada por três elementos em evidência: 39% com compras, ou seja, o comércio é um forte elemento de atração; seguido pelos pagamentos (23%), levando - se a supor pela realidade e prática do país que parte das transações realizadas no comércio envolve os parcelamentos o que de forma indireta os obriga a retornarem na cidade para efetuar seus pagamentos. A saúde que vem na seqüência, embora também esteja intimamente relacionada, já que os motiva também é a ausência destes serviços mais especializados. Como já foi mencionado, a municipalização da saúde fez com esta freqüência à cidade ficasse mais em evidência já que determinados exames têm necessariamente, que ser realizados na cidade de Patos e, em alguns casos, a própria procura por centros maiores passa pela cidade, justificando a saúde como centro de atração. O baixo percentual no quesito estudo de apenas 8% justifica-se porque a maioria das pessoas que se desloca para estudar utiliza o transporte de estudante, disponibilizado pelas prefeituras. 93 Com relação ao numero de passageiros por, carro, varia de quatro a mais de dez, dependendo do tamanho do veículo. Há que se observar ainda à existência de caminhões tipo “pau-de-arara”, (hoje com freqüência cada vez mais rara) que se dirigem principalmente para zonas rurais 15 . As figuras 30 e 31 ilustram a variedade dos transportes alternativos. Os quesitos tamanhos, localização do ponto e segurança, vão influenciar os passageiros nas suas escolhas. 16 Os locais em sua maioria estão próximo dos serviços procurados pelos passageiros, tentando aliar-se também um pouco ao seu destino. Existe um vínculo do usuário do transporte alternativo com o motorista, o que em alguns casos justifica a preferência do passageiro por este tipo de transporte. FIGURA 30 - Ponto de transporte alternativo na Rua Horácio Nóbrega FONTE: Acervo pessoal (2008) 15 16 Não entrevistamos nenhum motorista de caminhão em nossa pesquisa. Os lugares de concentração dos transportes são identificados pelos passageiros como pontos. 94 F:\fotos3\DSC_2935.JP G FIGURA 31 - Ponto de transporte alternativo nas imediações do Mercado Central FONTE: Acervo pessoal (2008) A Figura 31 ilustra um dos pontos do transporte alternativo, localizado no Mercado Central, a rua é ocupada por este transporte, pela quantidade de carros, já se sabe que é pela manhã, já que é o horário preferido da maioria dos passageiros, o horário comercial. A feira 17 é um local ainda bastante procurado pela população que reside na cidade e no seu entorno. Devido a diversidade de produtos ofertados na feira e a importância dessa forma de comércio para a cidade, Corrêa (2001, p. 66) ressalta que “no Nordeste brasileiro os mercados periódicos ou feiras constituem um dos componentes fundamentais da rede de localidades centrais, coexistindo com outros componentes de localização fixa”. 17 Feiras – lugares característicos do nordeste. A feira nordestina existe há muito tempo e a velocidade de seus fluxos é lenta. Envolve fluxo de mercadorias, pessoas e informações, e, através dela, realiza-se a integração entre áreas rurais, pequenas, médias e grandes cidades (CORRÊA, 2001, p.113). 95 O transporte alternativo revela com mais nitidez a centralidade da cidade de Patos, através da pesquisa percebe-se o deslocamento de um número considerável de pessoas que se deslocam diariamente para esta cidade. E todo este fluxo ocasiona uma movimentação na economia da cidade. São trajetos curtos, gastos em sua maioria pequenos, mas que dinamiza toda a economia da cidade, do comércio formal ao informal. Este fluxo alimenta o crescimento da cidade e da sua centralidade. F:\fotos3\DSC_2932.JP G FIGURA 32 - Parte do Mercado Central – Patos – PB FONTE: Acervo pessoal (2008) Os dias de maior movimentação da feira aqui na cidade de Patos é a segunda feira e o sábado. A Figura 32 visualiza uma parte do Mercado Central, nos dias das feiras, este espaço é bastante movimentado. O Mercado Público constitui-se num equipamento urbano relevante para o funcionamento da feira, pois o mesmo congrega uma diversidade de produtos que são comercializados em boxes e ao ar livre. 4.5 Órgãos Institucionais com sede em Patos 96 O campo das decisões governamentais ou empresariais tende a se localizar em sua grande maioria nas capitais, porém, a necessidade de um melhor gerenciamento das atividades bem como a necessidade de propiciar uma maior agilidade ao usuário e beneficiários de um determinado serviço público ou privado, faz com que o Estado ou empresa promovam uma descentralização, transferindo representações para cidades que apresentem uma centralidade e uma disponibilidade de equipamentos e serviços capaz de proporcionar meios de melhor gerenciar atividades junto às populações que residem distante das áreas metropolitanas. Neste sentido, a cidade de Patos oferece condições favoráveis para que isso ocorra. A sua relativa proximidade da capital em relação a todo o sertão paraibano, a acessibilidade viária, a infra-estrutura faz com que Patos seja uma dessas cidades escolhidas para abrigar escritórios de diversos órgão. As Figuras a seguir estão organizadas com o objetivo de mostrar a área de influência que a cidade de exerce. A centralidade da cidade se revela também através destes órgãos que tem suas representações instaladas aqui. Sua acessibilidade viária atrai para si uma série de equipamentos ligados a instancia estadual, federal e privada, servindo desta forma como entreposto administrativo dessas instituições com a sede na capital. A cidade conta com mais órgão além dos que foram mencionados, a exemplo da Polícia Federal, EMBRAPA, EMATER e outros. Procuraram-se órgãos diversificados, para identificar que a cidade também centraliza a coordenação de várias instituições com abrangências variadas em todo o sertão. 97 FIGURA 33 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 1 FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007). FIGURA 34 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 2 FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007). 98 FIGURA 35 - Área de abrangência de Entidades Polazirantes do grupo 3 FONTE: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE, 2007). Como se pode observar nos mapas, Patos concentra órgãos públicos e privados, atuando como pólo coordenador das atividades em todo o sertão paraibano. Assim, a cidade atua como centro de decisões e gestão no sertão paraibano, mesmo num âmbito territorial que extrapola os limites da cidade e da própria microrregião. 99 Sou filho lá do, Nordeste, De Patos das Espinharas Onde o sol é inclemente Onde as chuvas são mais raras Sou filho lá do Nordeste Do meu longínquo sertão Onde vivi minha infância Onde estar meu coração Ai, ai, ai, um dia voltarei Pra matar as saudades Dos lugares que deixei Ai, ai, ai, um dia hei de voltar Prá dar uma caçada E tomar um banho No meu Jatobá (Bráulio Bronzeado) 100 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalhou constou de uma reflexão sobre o fenômeno da centralidade regional da cidade de Patos e o objetivo foi mostrar esta centralidade sob o olhar da ciência geográfica. Neste trabalho, estudou-se a centralidade da cidade de Patos, priorizando quatro arranjos espaciais (educação, saúde, transporte alternativo e órgão administrativos) que embasa a importante posição ocupada por esta cidade na rede urbana, a qual essa cidade centraliza. Considerando a sua história, percebe-se que a cidade de Patos desde sua fase embrionária, sinalizava para tornar-se um núcleo central , quando já era um dos pontos de parada dos tropeiros, dos viajantes que vinham do litoral para o sertão e vice-versa. Este processo inicial deu-se ao longo dos séculos XVIII e XIX e vem se mantendo durante os séculos XX e XXI, através do fortalecimento de determinados segmentos da economia. Quanto aos arranjos selecionados para retratar a importância da centralidade da cidade observou-se que: ¾ A educação historicamente foi a primeira atividade do setor de serviços com destaque na manutenção da centralidade da cidade. Desde a década de quarenta do século passado, é que os estudantes das áreas adjacentes procuram a cidade para a realização dos seus estudos, oferecidos em especial por dois colégios particulares o Colégio Diocesano e o Colégio Cristo Rei e que atualmente esta procura dar-se em função do ensino superior. Hoje a cidade oferece mais de 25 cursos superiores, sem estar envolvido neste estudo os cursos de pós-graduação. A cidade é, sem dúvida, o grande centro universitário do sertão paraibano. ¾ No setor da saúde, sua influência se deve por oferecer alguns serviços médicos especializados, a existência de hospitais, clinicas e estarem 101 também próximas da fronteira dos Estados do Pernambuco e do Rio Grande do Norte. A cidade já conta com a presença de consultórios relacionados à saúde privada, o que a torna um grande espaço de recepção e de mobilidade diária. Contudo algumas indagações chamam a atenção á necessidades de atitudes políticas mais eficientes que melhorem e aumentem com qualidade a infra-estrutura deste setor, na área publica em função da sua procura e da importância na região. ¾ A acessibilidade viária é outro fator responsável pelo seu papel centralizador; localizada num importante entroncamento ferroviário e rodoviário sendo o trecho de movimento mais intenso através da BR230 e na proximidade da fronteira dos estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco, como também um ponto intermediário entre o sertão e o litoral, Patos mostra-se muito atrativa para a população que chega à cidade atraída pelos setores de educação e saúde que permite a ampliação e diversificação do setor terciário, como o comércio e a prestação de serviços, motivando mudanças internas na cidade, como o seu crescimento territorial, expansão urbana e a manutenção da sua centralidade que vai adaptando as transformações da sociedade, e permite o crescimento do transporte alternativo. Fica evidente a importância dos transportes alternativos para a manutenção desta centralidade, eles dinamizam com seus horários, suas flexibilidades este fluxo diário de pessoas que convergem para Patos, para o atendimento das suas necessidades, gerando uma movimentação em toda a economia formal e informal. ¾ Os órgãos administrativos, tanto de ordem pública como privada também são responsáveis pela manutenção da centralidade da cidade. Através deles pode-se perceber que a cidade com sua acessibilidade viária, sua infra-estrutura e a diversidade de equipamentos urbanos, torna-se atrativa para a instalação de seus escritórios. A cidade passa 102 a ser também o local central destes órgãos que coordena as atividades em todo o sertão paraibano. Certamente não foram esgotados os arranjos que confirmam a centralidade, e que a análise individual de cada um desses elementos, renderia outros trabalhos de pesquisa. Fica aqui a sugestão de sua realização em outro momento, mesmo assim essas preliminares, permitem um estudo da Centralidade de Patos, a partir desses arranjos para a posição de destaque que ocupa no sertão paraibano e que extrapola os limites do estado. Outro dado a ser considerado é que dentro rede urbana do estado da Paraíba a cidade de Patos é a mais expressiva referência de todo o sertão paraibano. O estudo desta centralidade baseou-se em um dos teóricos clássicos da geografia alemã, Walter Christaller, que buscou compreender a dinâmica urbana, a partir dos conceitos chaves de centralidade, localidade central, região de influência das cidades e polarização. Propondo uma hierarquia urbana baseada em fluxos de bens e serviços. A área de influência de uma cidade não é somente definida pela posição geográfica que ocupa, mas está associada a um conjunto de funções de bens e serviços que esta cidade oferece. E Patos se enquadra nesta situação. Em síntese, pode-se dizer que Patos uma cidade com um espaço central, com uma economia terceirizada em expansão e sendo um local plenamente institucionalizado, apresenta condições muito favoráveis, para o seu crescimento e para o desenvolvimento. Com isso, acredita-se que o futuro da cidade de Patos reside na (re) construção permanente dos arranjos que lhe dão esta singularidade no sertão paraibano. Como consideração final desse trabalho, fica a confirmação através dos arranjos selecionados que a centralidade da cidade se mantém em razão da dinâmica desses arranjos, que acompanha as transformações da sociedade. Que a manutenção desta centralidade é relevante para o contexto da economia, do crescimento e do desenvolvimento da cidade. Espera-se que, ao mencionar a importância dos quatros arranjos analisados para a manutenção desta centralidade, este estudo embora tímido, possa suscitar o desejo de estudos mais especializados acerca da temática, dos arranjos 103 selecionados, e de outros arranjos como formar de ensejar investimentos, para que sua população e das áreas por ela centralizada possa desfrutar de mais qualidade. 104 REFERÊNCIAS ALMEIDA, José Américo. A Paraíba e seus problemas. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura, 1980. ANDRADE, Manoel Correia de. Geografia Econômica. 12.ed.São Paulo: Alas, 1988a. ______. Nordeste: alternativas da agricultura. Campinas (SP): Papirus, 1988b. ______. Espaço, Polarização e Desenvolvimento: uma introdução à economia regional. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1987a. ______. Geografia Econômica do Nordeste: o espaço e a economia nordestina. São Paulo: Atlas, 1987b. ______. A Terra e o Homem no Nordeste. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1986. ______. Poder Político e Produção do Espaço. 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Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973. 111 APÊNDICES 112 APÊNDICE A UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA QUESTIONÁRIO 1 – (TRANSPORTE ALTERNATIVO) Nº de Questionário _________ PONTO Nº ______ Destino PATOS a _________________________ Preço da passagem: ___________ 1. Em relação ao veículo: ( ) motorista ( ) Proprietário ( ) motorista e proprietário 2. Naturalidade ______________________Local de residência: ( ) Patos ( )____________ 3. Faixa etária: a. ( ) 18 a 29 4. a) b) c) d) b. ( ) 30 a 39 c. ( ) 40 a 50 d. ( ) mais de 50 Com relação ao percurso: Quantas viagens são realizadas por dia ___________________________________________ Quantas viagens são realizadas nos sábados e domingos _____________________________ Quais as previsões dos horários de chegada a Patos _________________________________ Quais as previsões dos horários de saída de Patos___________________________________ 5. Há variação na procura por viagens, em determinados períodos do mês? ( ) sim ( ) não. Quando?___________________________________________ 6. Os seus horários de chegada e saída: a. ( ) são pré-estabelecidos b. ( ) funcionam de acordo com a chegada de passageiros. 7. O que as pessoas vêm fazer em Patos? 113 ( ) Saúde ( ) Educação ( ) Compras ( ) Pagamentos opções ( ) outros:______________________________________ ( ) Todas as 8. Organização da categoria e localização da sede: a. ( ) sindicato ________________________ b. ( ) cooperativa ______________________ c. ( ) associação _______________________ d. ( ) outro: ___________________________ 9. Os horários dos ônibus influenciam nos seus horários? ( ) sim ( ) não ( ) em parte como? _____________________________________________________________________ 10. O que você sugere para melhorar o seu trabalho? ___________________________________________________________________________ 114 APÊNDICE B UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA QUESTIONÁRIO 2 – (TRANSPORTE: ALTERNATIVO PASSAGEIRO) Nº de Questionário _________ PONTO Nº _______________ Destino de _____________________a ______________________ 1. Naturalidade ________________________ 2. Sexo: ( ) feminino 3. Faixa etária: a. ( b. ( c. ( d. ( e. ( ( Residência ________________________ ) masculino ) até 15 anos ) 16 a 20 ) 21 a 35 ) 36 a 50 ) mais de 50 4. Quantas vezes realizam esta viagem? a. ( ) 1 vez por semana b. ( ) mais de uma vez por semana c. ( ) quinzenalmente d. ( ) uma vez ao mês e. ( ) esporadicamente 5. Se você vem de outra cidade, indiquem quais as atividades a serem realizadas em Patos: a. ( ) Saúde 115 b. c. d. e. ( ( ( ( ) Educação ) Compras ) Pagamentos ) outra: ________________________ 6. A cidade de Patos atende as suas expectativas em termos de serviços? a. ( ) Sim b. ( ) Não. O que falta? ____________________________________________