I N S T I T U T O social desenvolvimento P Ó L I S IDÉIAS PARA A AÇÃO MUNICIPAL N o 231 2006 ESCOLA DE FORMAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA Capacitar os profissionais da área de saúde, especialmente levando-se em conta a realidade da comunidade, favorece a implementação de políticas de atendimento à população voltadas para a promoção da saúde. A prestação de serviços em saúde pública, mais do que atender casos individuais, volta-se para a saúde da comunidade, enfocando a prevenção da doença e a promoção da saúde. Este enfoque requer dos profissionais uma formação geral que lhes permita lidar com problemas cotidianos, e não voltados apenas para o tratamento do doente isolado da realidade em que vive. Para isso, os profissionais devem aprofundar sua capacidade de trabalhar em equipes multi e transdisciplinares, dialogar com as famílias e os diferentes grupos presentes nas comunidades e lidar com os diversos problemas que interferem na saúde, como ausência de saneamento adequado, falta de oportunidades de emprego e renda, situações de violência e exclusão, etc. O Programa Saúde da Família busca a interação e a interlocução de equipes de saúde com a comunidade, promovendo políticas públicas amplas que previnam mais do que remedeiem (Veja DICAS Programa Médico da Família de Londrina e Programa Médico da Família de Niterói) . A formação tradicional dos profissionais da saúde, no entanto, seja de nível médio, como auxiliares de enfermagem, seja de nível superior, como médicos e enfermeiros, é muito mais voltada para as especializações, que abordam um ou outro tipo de doença, ou para o atendimento individual realizado em hospitais e ambulatórios. Essa formação deixa em segundo plano as ações preventivas vinculadas às políticas públicas. Ao investir no Programa Saúde da Família, a Prefeitura Municipal de Sobral-CE (170 mil hab.) teve dificuldades para encontrar profissionais cuja formação se adequasse às características do Programa, prejudicando assim o atendimento à população. Além disso, o fortalecimento da rede de Agentes Comunitários de Saúde também exigia um processo de formação específica e continuada. Para atender a estas demandas, criou-se a Escola Municipal de Formação em Saúde da Família Visconde de Saboya. HISTÓRICO O Programa Saúde da Família de Sobral começou a ser implementado em 1997. Atualmente cobre a totalidade do município, contando com 48 equipes de Saúde da Família vinculadas às 31 Unidades Básicas de Saúde. A implantação de equipes de Saúde da Família, a reforma de Unidades Básicas e contratação de Agentes Comunitários de Saúde, não teriam sido suficientes para mudar a realidade em Sobral se não fossem desenvolvidas ações que promovessem a educação continuada dos profissionais da saúde. A partir das reuniões semanais entre todos os funcionários de saúde para troca de experiências e informações, a Secretaria de Saúde foi delineando, desde 1999, um projeto pedagógico para esta formação continuada. Depois de dois anos realizando ações descentralizadas, o município conseguiu recursos do SUS para construir a sede da Escola, que passou a coordenar os cursos de formação oferecidos a todos os profissionais envolvidos com Saúde da Família no município e, aos poucos, oferecer este serviço a outros municípios do Ceará. FUNCIONAMENTO A s ações da Escola baseiam-se na lógica de utilizar o próprio sistema de saúde para formar os profissionais, levando o processo educacional para dentro do espaço de trabalho e não criando espaços separados. Para isso, foi criada a figura do preceptor. Há dois tipos de preceptores: os preceptores do território e os de especialidade. Os preceptores do território são “facilitadores de práticas de educação permanente”. Não são necessariamente da área de saúde, há também administradores, e foram selecionados a partir de suas características pessoais. Atualmente há oito preceptores deste tipo em Sobral, e se dedicam exclusivamente a isto. Acompanham o trabalho realizado nos territórios e as ações dos residentes, identificando as necessidades de aprendizagem. Reúnem-se semanalmente para discutir os casos e demandas referentes ao processo de formação. Já os preceptores de especialidade são profissionais da rede de saúde do município, como ginecologistas, pediatras, obstetras, psiquiatras, etc., que se disponibilizam para atuar como preceptores. Dedicam parte do seu tempo de trabalho assumindo esta função, sempre ligada à sua especialidade e no território em que já trabalham. Foram capacitados no âmbito do projeto da Escola, recebem acompanhamento constante e são remunerados pela tarefa. Sua atuação é junto à equipe de saúde no local em que ocorrem os atendimentos. Por exemplo, uma vez por semana a preceptora de pediatria vai a um posto. Neste dia os profissionais atendem em conjunto com ela, especialmente os casos mais graves. Ao mesmo tempo em que a preceptora realiza o atendimento conjunto, também vai orientando e comentando o caso. A partir de observação e de reuniões semanais com os funcionários das unidades, os preceptores buscam captar as demandas de formação. São eles, portanto, os responsáveis por levar as demandas à Escola e, junto com uma equipe pedagógica, desenvolver ações que dialoguem com as necessidades dos profissionais de saúde de cada território. A partir dessas demandas levantadas pelos preceptores, são desenvolvidos cursos – muitas vezes ministrados nas próprias unidades e sempre com base nas questões levantadas pelos funcionários do local. Toda a equipe de preceptores passa semanalmente por atividades de formação em pedagogia com auxílio de um pedagogo da Escola. RECURSOS A sede da Escola é na região central do município, contando com auditório, sala de videoconferência, laboratório de informática, biblioteca e duas salas de aula. Como o objetivo é que as atividades sejam desenvolvidas nos diversos territórios, cada unidade de saúde conta com uma sala de aula onde é ministrada a maioria dos cursos. A Escola tem 40 funcionários, entre preceptores, coordenadores, pedagogos, bibliotecárias, profissionais de comunicação e informática, vigilância e limpeza. O custo mensal da Escola é da ordem de R$ 75 mil reais. Além dos recursos repassados pelo SUS para a prefeitura de Sobral, a Escola realiza projetos para outras organizações, sendo remunerada por estes projetos. No caso da residência, por exemplo, cujo objetivo é capacitar profissionais da saúde em geral e não apenas os que atuam no município, há recursos do Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde arca com 50% do custo e o município com outros 50%. Também no caso do curso seqüencial para Agentes Comunitários de Saúde eram formados, no início, apenas Agentes do próprio município, e a fonte de recursos também era apenas municipal. Quando o curso passou a ser exigência do Ministério da Saúde, a Escola de Saúde da Família de Sobral passou a aceitar Agentes de outros municípios, que assumem os custos desta qualificação. PARCERIAS Por não ter reconhecimento como instituição de ensino, os cursos da Escola são realizados em parceria. A principal parceria é com a Universidade do Vale do Acaraú que auxilia o desenvolvimento dos cursos de residência em Saúde da Família. Em parceria com a Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará, têm sido desenvolvidos os cursos técnicos para Agentes Comunitários em toda a macrorregião, que abrange 61 municípios. Com a Escola de Saúde Pública de Cuba, a Escola de Formação implementou um curso de mestrado em Saúde da Família. PRINCIPAIS CURSOS Residência em Saúde da Família: Em parceria com a Universidade do Vale do Acaraú, foi criado o primeiro curso de residência em Saúde da Família. Diferentemente dos cursos de residência ou especialização em geral, busca levar os docentes para a realidade dos alunos que, por sua vez, estão inseridos na realidade das comunidades. O curso é voltado para todos os profissionais do Programa Saúde da Família, como médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos e educadores físicos. Para garantir a formação na prática e, ao mesmo tempo, ampliar a formação no âmbito do PSF do município, foram criados os Núcleos de Saúde Integral. Estes núcleos buscam ampliar e apoiar as equipes de saúde de forma integral e intersetorial. Há atualmente cinco Núcleos em Sobral que se dividem nas diferentes áreas do PSF realizando trabalhos de educação e promoção da saúde, por meio de oficinas, grupos de gestantes, grupos de caminhadas, discussões com hipertensos, acompanhamento psicológico, entre outras ações. A atuação dos residentes nos Núcleos possibilita desenvolver ações mais amplas nas equipes de Saúde da Família, integrando as categorias tradicionais a novas categorias de atenção à saúde. A Escola já formou cerca de 150 alunos nos cursos de residência que trabalham nos Núcleos de Saúde Integral ou nas equipes de Saúde da Família. Curso Seqüencial para Agentes Comunitários de Saúde: A criação do curso busca garantir aos Agentes Comunitários uma formação integral e em diversas áreas, sempre com foco nas práticas cotidianas dos agentes. O Ministério da Saúde, ao transformar os agentes em uma categoria profissional, desenvolveu um curso de formação técnica para agentes que é organizado de forma descentralizada pelos estados e regiões. A partir de então, Sobral ficou responsável por desenvolver um curso para toda a macrorregião, que envolve 61 municípios. O curso técnico é desenvolvido em três etapas que ocorrem em paralelo à formação dos agentes no ensino médio. Assim, ao concluir sua formação técnica, os agentes têm formação de nível médio também. As diretrizes gerais do curso são delineadas pelo Ministério, mas somam-se a elas as experiências dos cursos seqüenciais já ministrados pela Escola de Sobral. Já foram formados mais de 100 Agentes Comunitários neste curso seqüencial e, atualmente, todos os Agentes Comunitários de Sobral estão realizando o curso técnico. Qualificação de funcionários de nível médio: Esta qualificação busca atender os diversos funcionários que trabalham nas Unidades Básicas de Saúde. O curso abrange uma parte comum a todas as categorias e, em seguida, cursos específicos para áreas como vigilância, limpeza, auxiliares administrativos, etc. O objetivo é garantir que esses funcionários tenham uma formação mais completa e foquem seu trabalho em Saúde da Família. Além destes cursos, são oferecidos cursos de educação permanente para médicos, enfermeiros e dentistas, cursos de especialização em saúde mental e mestrado em educação na área de saúde. Regionalmente, a escola tem trabalhado com qualificação das equipes gestoras na macrorregião, auxiliando os municípios na formação de equipes para as secretarias de saúde e na criação de cursos de acordo com suas necessidades. RESULTADOS A partir da oferta de capacitação específica para os profissionais do Programa Saúde da Família, o município consegue implementar efetivamente uma política pública que enfoca a promoção da saúde, prevenindo situações de doença, mais do que remediando. A população tem garantido o seu direito a um atendimento que leva em conta as características próprias do território em que vive. Além disso, conta com profissionais que atuam de forma mais humanizada, que sabem dialogar e lidar com os diferentes problemas que interferem na saúde. A criação de uma Escola também abre espaços de discussão e aprendizagem, valorizando o saber dos profissionais da saúde que atuam no cotidiano da população. A criação dos Núcleos de Saúde Integral permite aos profissionais refletir sobre seu trabalho de atenção direta às famílias no contexto em que Leia os Boletins DICAS na Internet: http://www.polis.org.br/publicacoes/dicas aulics. Autoras: Gabriela Lotta e Veronika P Paulics. tins Jr ge Consultores: Tomaz Mar Martins Jr.. , Maria Inês V. do Amaral e Jor Jorge Kayano - Revisor: Renato Fabriga. Instituto Pólis - Rua Araújo, 124 - Centro - São Paulo - SP - Brasil CEP 01220-020 - Telefone: (011) 2174-6800 - Fax: (011) 3258-3260 http://www.polis.org.br - e-mail: [email protected] elas estão inseridas. O processo de formação específica e continuada também fortalece a rede de Agentes Comunitários de Saúde, além de cumprir com uma determinação do Ministério da Saúde. Ao oferecer uma formação específica em Saúde da Família, a Escola fortalece o vínculo com o Programa e com as comunidades, colaborando para reduzir a rotatividade destes profissionais, especialmente dos médicos e enfermeiros.