CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS Antes de entender a vida como um processo evolutivo, os seres vivos eram considerados criações divinas, falando-se em criacionismo, e, assim criados, os seres vivos não mudavam ao longo do tempo, era o chamado fixismo. Esse pensamento dominou a ciência desde a Antiguidade até meados do século XX. Essa forma de pensar explica a interpretação fixista de muitos naturalistas como Lineu, que foi um dos pioneiros a propor um sistema de classificação dos seres vivos. O início das ideias evolucionistas começou a ocorrer a partir de 1858, quando dois naturalistas ingleses (Charles Darwin e Alfred Russel Wallace) revolucionaram a interpretação do mundo vivo com a divulgação de suas ideias sobre evolução por Seleção Natural. Os sistemas de classificação que não se baseiam em relações de parentesco evolutivo entre grupos de seres vivos são considerados artificiais, enquanto os sistemas que procuram compreender essas relações são chamados naturais. Um grande marco na classificação dos seres vivos foi estabelecido por Karl Von Linné (1707-1778), conhecido como Lineu. Apesar de ser fixista, propôs um sistema de classificação que agrupa os seres vivos pelas semelhanças, em categorias de classificação (Reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie). A sistemática é a ciência dedicada a inventariar e descrever a biodiversidade e compreender as relações filogenéticas entre os organismos. Inclui a taxonomia (ciência da descoberta, descrição e classificação das espécies e grupo de espécies, com suas normas e princípios) e também a filogenia (relações evolutivas entre os organismos). Em biologia, os taxonomistas são os cientistas que classificam as espécies em outros táxons a fim de definir o modo como eles se relacionam evolutivamente. O objetivo da classificação dos seres vivos, chamada taxonomia, foi inicialmente o de organizar as plantas e animais conhecidos em categorias que pudessem ser referidas. Posteriormente a classificação passou a respeitar as relações evolutivas entre organismos, organização mais natural do que a baseada apenas em características externas. Para isso se utilizam também características ecológicas, fisiológicas, e todas as outras que estiverem disponíveis para os táxons em questão. É a esse conjunto de investigações a respeito dos táxons que se dá o nome de Sistemática. Nos últimos anos têm sido tentadas classificações baseadas na semelhança entre genomas, com grandes avanços em algumas áreas, especialmente quando se juntam a essas informações aquelas oriundas dos outros campos da Biologia. A classificação dos seres vivos é parte da sistemática, ciência que estuda as relações entre organismos, e que inclui a coleta, preservação e estudo de espécimes, e a análise dos dados vindos de várias áreas de pesquisa biológica. O primeiro sistema de classificação foi o de Aristóteles no século IV a.C., que ordenou os animais pelo tipo de reprodução e por terem ou não sangue vermelho. O seu discípulo Teofrasto classificou as plantas por seu uso e forma de cultivo. Nos séculos XVII e XVIII os botânicos e zoólogos começaram a delinear o atual sistema de categorias, ainda baseados em características anatômicas superficiais. No entanto, como a ancestralidade comum pode ser a causa de tais semelhanças, este sistema demonstrou aproximar-se da natureza, e continua sendo a base da classificação atual. Lineu fez o primeiro trabalho extenso de categorização, em 1758, criando a hierarquia atual. A partir de Darwin a evolução passou a ser considerada como paradigma central da Biologia, e com isso evidência da paleontologia sobre formas ancestrais, e da embriologia sobre semelhanças nos primeiros estágios de vida. No século XX, a genética e a fisiologia tornaram-se importantes na classificação, como o uso recente da genética molecular na comparação de códigos genéticos. Programas de computador específicos são usados na análise matemática dos dados. Em fevereiro de 2005 Edward Osborne Wilson, professor aposentado da Universidade de Harvard, onde cunhou o termo biodiversidade e participou da fundação da sociobiologia, ao defender um "projeto genoma" da biodiversidade da Terra, propôs a criação de uma base de dados digital com fotos detalhadas de todas a espécies vivas e a finalização do projeto Árvore da vida. Em contraposição a uma sistemática baseada na biologia celular e molecular, Wilson vê a necessidade da sistemática descritiva para preservar a biodiversidade. Do ponto de vista econômico, defendem Wilson, Peter Raven e Dan Brooks, a sistemática pode trazer conhecimentos úteis na biotecnologia, e na contenção de doenças emergentes. Mais da metade das espécies do planeta é parasita, e a maioria delas ainda é desconhecida. De acordo com a classificação vigente as espécies descritas são agrupadas em gêneros. Os gêneros são reunidos, se tiverem algumas características em comum, formando uma família. Famílias, por sua vez, são agrupadas em uma ordem. Ordens são reunidas em uma classe. Classes de seres vivos são reunidas em filos. E os filos são, finalmente, componentes de alguns dos cinco reinos (Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia). A nova ordem da vida Em sã consciência, poucas pessoas se arriscariam a colocar lado a lado porcos e baleias, como se fossem parentes próximos. Sair chamando galinhas de dinossauros ou cobras, animais rastejantes por excelência, de bichos de quatro patas causaria um grau parecido de estranheza. Contudo, mudanças como essas, com cara de absurdo, mas fundamentadas pela própria história da vida na Terra, são algumas das consequências mais instigantes do PhyloCode (uma abreviação inglesa para “código filogenético”), um novo sistema para denominar e classificar os seres vivos, que promete reconduzir a evolução, de longe a ideia mais importante e unificadora da Biologia, de volta a seu devido lugar. O principal idealizador do PhyloCode é o americano Kevin de Queiroz, um californiano de 45 anos que é, ele próprio, um enigma classificatório. “Sim, o meu sobrenome é português”, diz Queiroz, “mas o meu avô era mexicano e se chamava Padilla. Ele mudou de nome várias vezes, volta e meia adotando nomes portugueses. Queiroz é o nome que ele usava quando meu pai nasceu.” Para completar, o especialista em répteis do Museu Nacional de História Natural, em Washington, também tem sangue japonês. “Acho que meus nomes e meu sangue são bem misturados”, brinca. De qualquer maneira, essa confusão genealógica não atrapalhou os traços característicos da personalidade do pesquisador: ordem, lógica, coerência interna. “Eu sou uma pessoa que se esforça muito para ser logicamente consistente. E, além disso, gosto muito de pensar sobre as consequências lógicas das coisas, e isso às vezes leva a ideias novas, como a nomenclatura filogenética.” Apesar de esquisita, essa palavrinha de origem grega tem um significado que não é nem um pouco extravagante: a filogenia consiste em olhar a diversidade das formas de vida como uma grande família, organizando criaturas em grupos de parentesco e descendência. Tudo muito de acordo com a biologia evolutiva, sem dúvida. Mas acontece que a maneira usada para organizar os seres vivos há quase 250 anos, argumenta Queiroz, não leva esse princípio básico em conta. De fato, o sistema até hoje usado para designar as formas de vida, conhecido de qualquer um que já tenha usado o indefectível Homo sapiens para incrementar uma redação de colégio, é a nomenclatura lineana. Seu criador, o botânico sueco Carl von Linné ou Carolus Linaeus (1707-1778), elaborou o conceito de um nome duplo, ou binômio, de origem latina ou grega, cujo primeiro termo (Homo) designava o gênero, um agrupamento mais amplo de organismos, enquanto o segundo (sapiens) era o nome pessoal e intransferível de cada espécie. As espécies lineanas eram agrupadas em gêneros, depois em famílias, ordens (a da humanidade, até hoje, é a dos primatas), classes e reinos. De qualquer lado que se olhe, a arquitetura teórica de Lineu (como é geralmente chamado em português) foi um avanço mais do que respeitável: para dar uma ideia, naturalistas europeus da era pré-lineana eram obrigados a chamar uma simples roseira silvestre de Rosa sylvestris alba cum rubore folio glabro. O binômio de Lineu reduziu ao mínimo necessário essa tagarelice latina e, de quebra, suas categorias ajudaram a impor um pouco de critério científico, como o uso de semelhanças anatômicas, em uma época em que os animais eram divididos em selvagens e domésticos, ou terrestres, aquáticos e aéreos. Rebocado, pintado e ampliado, o edifício lineano continua firme, de pé. O grande problema, porém, é que Lineu fixou seu sistema em 1758 – exatos 101 anos antes da publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin, o livro que instala de vez a evolução no trono da Biologia. Para Lineu, as subdivisões da vida eram só um recurso prático, organizacional: “A invariabilidade das espécies é a condição da ordem [na natureza]”, proclamava o naturalista, filho de um pastor luterano. É difícil achar algo mais distante do que queria Darwin: “Nossas classificações deverão se tornar, até onde for possível adequá-las, genealogias”. A frase, não por acaso, abre o artigo de Queiroz que se tornou o embrião do PhyloCode. [...] LOPES, Reinaldo José. A nova ordem da vida. Folha de S.Paulo, 12 maio 2002. Agora, responda às questões. 1. Após a leitura completa do texto, explique o título do artigo. 2. Qual é a relação entre o nome do pesquisador e a ascendência dele com o tema tratado no texto? 3. De acordo com o autor do texto, quais são as características necessárias para ser um bom pesquisador? 4. De acordo com o texto, o que significa filogenia? 5. Quais são as características da nomenclatura lineana descritas no texto? 6. Quais foram os avanços da proposta de Lineu? 7. Explique o significado da frase: “Rebocado, pintado e ampliado, o edifício lineano continua firme, de pé”. 8. Qual é a crítica de Queiroz ao sistema proposto por Lineu? Responda: 1. O que é classificar? 2. No que o trabalho de classificação dos seres vivos aproxima-se do trabalho de classificação dos objetos? 3. No século JVIII, Carl von Linné propôs um sistema para a classificação de plantas e animais. O sistema apresentado para dar nome aos seres vivos é conhecido como nomenclatura binomial. Nesse sistema, o nome científico de um organismo é composto de duas palavras. O do mico-leão-dourado, por exemplo, é Leontopithecus rosalia. No exemplo citado, as categorias taxonômicas que compõem o nome científico são: Leontopithecus rosália a) família ordem b) espécie família c) classe espécie d) gênero espécie e) Filo gênero 4. Os felinos fazem parte da grande família de mamíferos carnívoros, que vai desde o gato doméstico até o leão, o rei da selva. Habitam todos os continentes, exceto a Antártida e a Oceania. No continente americano, podem ser encontrados diversos representantes desse grupo, entre eles: Leopardus pardalis – jaguatirica Leopardus tigrinus – gato-do-mato Lynx rufus – lince-vermelho Leopardus wiedii – gato-maracajá Panthera onca – onça-pintada Lynx canadense – lince-canadense O grupo de felinos relacionados compreende: a) seis espécies e seis gêneros. d) seis gêneros de uma mesma espécie. b) seis espécies e três gêneros. e) quatro espécies de uma única ordem. c) seis gêneros de uma única família. 5. As categorias taxonômicas a que pertencem a onça-parda e a onça-pintada podem ser esquematizadas desta forma: Puma Puma concolor Chordata Mammalia Carnivora Felidae Panthera Panthera onca A análise do esquema permite armar que os dois animais estão incluídos na mesma categoria até: a) espécie. b) gênero. c) família. d) ordem. e) classe. A DEFINIÇÃO DE ESPÉCIE Ao olhar os diferentes indivíduos que formam a espécie humana, podemos perceber inúmeras diferenças. Entretanto, além das diferenças, temos muitas semelhanças. São essas semelhanças que nos permitem ser agrupados em uma única espécie. Todas as nossas diferenças desaparecem quando somos comparados a qualquer ser de outra espécie. Mas como definir onde começa outra espécie? ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO EM CINCO REINOS Robert H. Whittaker (1924- 1980) propôs, em 1959 a classificação dos seres vivos em 5 reinos. Baseou-se em três níveis de organização: Unicelular ou pluricelular; procarionte ou eucarionte e nutrição (autótrofos ou heterótrofos). EXERCÍCIOS 1. (UFMG) A partir dos seus conhecimentos sobre as regras de nomenclatura zoológica, responda: Com qual das fêmeas citadas abaixo o macho de Anopheles (Nyssorthynchus) triannulatus trianulatus pode cruzar e produzir descendentes férteis, ao longo de várias gerações: a) Anopheles (Nyssorthynchus) aquasalis. b) Anopheles (Nyssorthynchus) trianulatus davisi. c) Anopheles (Nyssorthynchus) albitarsis domesticus. d) Anopheles (Nyssorthynchus) brasiliensis. e) Anopheles (Nyssorthynchus) intermedius. 2. (Unirio - RJ) Lineu, em 1735, publicou um trabalho, no qual apresentava um plano para classificação de seres vivos. Nele estavam propostos o emprego de palavras latinas e o uso de categorias de classificação hierarquizadas. Deve-se também a Lineu a regra de nomenclatura binominal para identificar cada organismo. Nesta regra, entre outras recomendações, fica estabelecido que devemos escrever: a) em primeiro lugar o gênero, depois a família. b) em primeiro lugar o gênero, depois a espécie. c) em primeiro lugar a espécie, depois o gênero. d) em primeiro lugar a espécie, depois o filo. e) em qualquer sequência, gênero e filo. 3. O cão doméstico (“Canis familiaris”), o lobo (“Canis lúpus”) e o coiote (“Canis latrans”) pertencem a uma mesma categoria taxonômica. Esses animaisfazem parte de um(a) mesmo(a). a) gênero b) espécie c) subespécie d) raça e) variedade 4. (UFRN) Na moderna classificação, os seres vivos foram agrupados em cinco reinos biológicos. Assinale-os: a) bactéria, protozoário, fungo, vegetal e animal b) procarionte, eucarionte, protista, animal e vegetal c) protista, alga, protozoário, metazoa e metaphyta d) procarionte, eucarionte, monera, metaphyta e metazoa e) monera, protista, fungi, metaphyta e metazoa. 5. (UFGO) As categorias sistemáticas, ou taxas, colocadas ordenadamente, em graus hierárquicos, são: a) reino, divisão, classe, família, ordem, gênero, espécie. b) reino, classe, divisão, ordem, família, gênero, espécie. c) reino, divisão, classe, ordem, família, gênero, espécie. d) reino, classe, divisão, família, ordem, gênero, espécie. e) reino, divisão, classe, família, ordem, espécie, gênero. 6. (UFES) Têm maior grau de semelhança entre si dois organismos que estão colocados dentro de uma das seguintes categorias taxonômicas: a) classe. d) gênero. b) divisão. e) ordem. c) família. VÍRUS – UM GRUPO SEM REINO A virologia, ramo da ciência que estuda os vírus, teve seu início apenas no final do século XIX. Mesmo antes da descoberta desses seres ultramicroscópicos, já se supunha a sua existência, com o reconhecimento de agentes infecciosos capazes de atravessar filtros que retinham bactérias. Os vírus, cujo nome vem do latim e significa 'veneno' ou 'fluido venenoso', são hoje considerados seres vivos pela grande maioria dos cientistas. Mas não são inseridos em nenhum dos cinco reinos descritos no sistema de classificação em 5 reinos, por apresentarem certas características, como a de não possuírem organização celular. Características gerais dos vírus Os vírus são visíveis apenas ao microscópio eletrônico e constituídos basicamente por uma cápsula de natureza proteica em cujo interior existe apenas um tipo de ácido nucléico: DNA ou RNA. Destituídos de membrana plasmática, hialoplasma, organelas citoplasmáticas e núcleo, esses seres não possuem organização celular. Além disso, não apresentam metabolismo próprio e permanecem inativos quando fora de células vivas, podendo até mesmo formar cristais. Reproduzem-se apenas no interior de células vivas. Penetrando em uma delas, os vírus reproduzem-se em seu interior, utilizando a energia e o equipamento bioquímico da célula hospedeira. Por isso, são considerados parasitas intracelulares obrigatórios. A reprodução dos vírus No estudo do ciclo reprodutivo dos vírus, utilizaremos como exemplo os bacteriófagos ou fagos, vírus parasitas de certas bactérias. Quando um bacteriófago entra em contato com uma bactéria hospedeira, acopla-se a ela através da cauda e perfura sua membrana celular. Então, o ácido nucléico viral — no caso, o DNA — é injetado no interior da bactéria, permanecendo a cápsula proteica fora da célula. Uma vez no interior da bactéria, o DNA do bacteriófago passa a interferir no metabolismo celular, comandando a síntese de novos ácidos nucléicos virais, à custa da energia e dos componentes bioquímicos da bactéria. Paralelamente, e ainda utilizando o arsenal bioquímico da cé- lula hospedeira, o ácido nucléico viral comanda a síntese de outras moléculas, como proteínas, que basicamente organizam novas cápsulas. Em cada cápsula abriga-se um cerne de ácido nucléico, configurando a formação de um novo vírus. No final do processo, formam-se inúmeros novos vírus. As novas unidades virais promovem então a ruptura ou lise da membrana bacteriana e os novos vírus são liberados, podendo infectar outra célula e recomeçar um novo ciclo. Os vírus cujo material genético é o RNA(Retrovírus), tem um processo de reprodução um pouco diferente, uma vez que se injetar o seu RNA na célula, ela não irá reconhecê-lo como sendo dela e assim a reprodução não ocorreria. Para isso, estes vírus produzem uma enzima conhecida como transcriptase reversa (TR) que faz com que o processo de transcrição ocorra de modo invertido, desta forma a partir do RNA injetado pelo vírus, serve molde para a produção do DNA dentro da célula e a partir daí o processo de reprodução segue. Vírus (DNA) -> transcrição -> RNA -> tradução -> proteína Retrovírus (RNA) + TR -> transcrição invertida -> DNA -> transcrição -> RNA -> tradução -> proteína Vírus e antibióticos Considerados uma das maiores conquistas da ciência moderna, os antibióticos, juntamente com as vacinas e os soros, têm salvado mais vidas no mundo do que todas aquelas que as guerras já conseguiram matar. Os antibióticos atuam de diferentes maneiras sobre as células bacterianas. Podem bloquear a síntese da parede celular, desorganizar estruturalmente a membrana plasmática e agir sobre a atividade dos ácidos nucléicos, quando inibem a duplicação do DNA ou interferem na síntese de proteínas, bloqueando, por exemplo, a formação do RNA mensageiro (RNAm). Mas os vírus são organismos destituídos de organização celular. Não possuem parede celular nem membrana plasmática e se mostram absolutamente inertes quando fora de uma célula viva. Assim, os antibióticos não têm qualquer efeito sobre eles. Os vírus são, portanto, "imunes" à ação dessas substâncias. Porém, graças à natureza proteica da cápsula viral, que atua como antígeno, um organismo infectado pode se defender contra os vírus produzindo anticorpos específicos. Em alguns casos, a produção de anticorpos específicos pode ser "incentivada" através do uso de vacinas. Principais viroses humanas Os vírus são capazes de infectar quase todos os seres vivos, desde as bactérias até o ser humano. A seguir, destacaremos as principais doenças humanas provocadas pela ação infectante desses organismos (viroses). AIDS A Aids (sigla em inglês de Acquired Immuno-deficiency Syndrome), ou síndrome da imunodeficiência adquirida, é uma enfermidade caracterizada por uma intensa debilitação do sistema imune com o consequente desenvolvimento de um conjunto de infecções provocadas por diversos microrganismos oportunistas. A palavra síndrome refere-se a um conjunto de sinais e de sintomas que pode ser produzido por mais de uma causa. O termo imunodeficiência indica que o sistema imune do organismo encontra-se debilitado. Uma enfermidade é caracterizada como adquirida quando o indivíduo a contraiu em qualquer época de sua vida, sem influência hereditária. O vírus da Aids foi isolado em 1983, na França, a partir de um gânglio extraído de um paciente, pelo médico e professor Luc Montagnier. Foi batizado como HIV, sigla em inglês formada da expressão Human Immunodeficiency Virus e que quer dizer 'vírus da imunodeficiência humana'. O HIV é portador de RNA e de uma enzima denominada transcriptase reversa. O RNA do vírus, uma vez no interior de uma célula hospedeira, comanda uma retrotranscrição, isto é, a partir do RNA viral ocorre síntese de DNA, graças à ação da enzima transcriptase reversa. Por isso, os vírus como o HIV são chamados de retrovírus, por serem capazes de realizar retro transcrição. O DNA produzido comandará então a síntese de novas moléculas de RNA virais e das proteínas que constituirão as cápsulas virais, culminando com a formação de novos vírus. Veja a figura 3.5. O período de incubação do HIV no organismo é variável, em média de dois a três anos, mas pode ser superior a nove anos. Durante o período de incubação, o organismo vai produzindo anticorpos específicos para combater o vírus e, por meio de testes, é possível diagnosticar se um indivíduo é portador do HIV, mesmo que a enfermidade ainda não tenha se manifestado. O HIV invade e destrói os linfócitos T, glóbulos brancos do sangue, essenciais tanto para o funcionamento dos linfócitos B, produtores de anticorpos, quanto para a atividade fagocitária de outros glóbulos brancos. Assim, a destruição dos linfócitos T debilita o sistema de defesa do corpo, quadro clínico que caracteriza a Aids. Nessa situação, o organismo fica exposto ao desenvolvimento de inúmeras doenças oportunistas. Sintomas da Aids: Quando a Aids se manifesta, geralmente o indivíduo exibe aumento de gânglios linfáticos (ínguas), febres, diarreias, acentuado emagrecimento sem causas aparentes e suores notur-35 nos. Surgem também as doenças "oportunistas", que se instalam com mais facilidade em organismos debilitados: tuberculose, herpes e a monilíase, ou "sapinho", no tubo digestório, entre outros exemplos. A Aids torna-se mais evidente quando surge o sarcoma de Kaposi, tumor canceroso geralmente circundado por manchas marrom-amareladas. Os sarcomas desenvolvem-se inicialmente na pele do tronco e depois atingem a boca, o esôfago, o nariz, a perna e os órgãos internos. Uma das infecções responsáveis pela morte de muitos pacientes é a pneumonia causada pelo protozoário Pneumocystis carinii, que provoca febre, tosse seca, rigidez torácica e dificuldades respiratórias. Contágio e prevenção: O HIV pode ser transmitido por sangue, esperma e secreções vaginais contaminados, bem como de mãe para filho, por meio da placenta ou da amamentação. A transmissão por relações sexuais ocorre pelo intercâmbio de sangue entre os parceiros, uma vez que é comum o surgimento de microfissuras ou lacerações invisíveis nos tecidos dos órgãos genitais durante o ato sexual. Assim a transmissão pode ser processada das seguintes maneiras: ♣ relações sexuais com parceiro contaminado com HIV; ♣ transfusões com sangue contaminado com HIV; ♣ agulhas e outros instrumentos contaminados com HIV; ♣ placenta e amamentação de mães contaminadas com HIV. Na convivência social com indivíduo portador de HIV não há risco de o vírus penetrar nas células da pele de uma pessoa. Portanto, abraços, apertos de mão, uso de utensílios domésticos, toalhas, roupas de cama, banheiros, transportes coletivos e locais públicos em geral, entre outros exemplos, não constituem vias de transmissão do HIV. A única maneira de não contrair o HIV é a prevenção, que consiste basicamente em: ♣ uso de preservativos ("camisinhas") nas relações sexuais; ♣ nas transfusões sanguíneas, a qualidade do sangue doado deve ser conhecida previamente por intermédio de testes realizados pelos bancos de sangue e que são capazes de detectar sangues contaminados pelo HIV; ♣ esterilização de materiais cirúrgicos e odontológicos, de agulhas e seringas ou, preferencialmente, utilização de agulhas e seringas descartáveis; ♣ não-utilização de instrumentos cortantes em sociedade, tais como navalhas, giletes, alicates de cutícula, etc; ♣ evitar gravidez e amamentação, no caso de mulheres portadoras de HIV. Não existem vacinas nem medicamentos para curar a Aids; algumas substâncias, no entanto, parecem retardar a evolução do mal no organismo infectado, como é o caso do AZT. RESPONDA: 1 - Atualmente, a grande maioria dos cientistas considera os vírus seres vivos. Em relação aos vírus: a) Identifique duas características exclusivas destes seres, ou seja, características que não são verificadas nos demais seres vivos. b) Cite duas características que permitem considerá-los seres vivos. c) Por que eles são considerados parasitas intracelulares obrigatórios? 2 - (Fuvest-SP) Bacteriófagos foram tratados com fósforo e enxofre radiativos. Sabendo que o fósforo se incorpora ao DNA e que o enxofre se incorpora às proteínas virais, que tipo de radiatividade você espera encontrar no interior de uma célula hospedeira desses vírus? Por quê? 3 - (Fuvest-SP) Com o objetivo de promover a reprodução de certo vírus bacteriófago, um estudante incubou vírus em meio de cultura esterilizada, que continha todos os nutrientes necessários para o crescimento de bactérias. Ocorrerá a reprodução dos vírus? Por quê? 4 - Cite cinco exemplos de viroses humanas. 5 - (Ufop-MG) A hepatite A é uma doença infecciosa associada a um vírus. Considerando um surto dessa doença numa determinada região, explique: a) Por que os alimentos e a água de abastecimento são imediatamente incriminados nesse surto? b) Por que, para prevenção dessa doença nessa situação, aconselha-se consumir água fervida e não apenas filtrada? 6 - (Vunesp-SP) O vírus responsável pela síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) é um retrovírus. Qual o tipo de ácido nucléico que constitui o material genético dos retrovírus? A denominação retrovírus refere-se a que característica desse vírus? 7 - (UFF-RJ) Nas últimas décadas, o mundo - em especial o Terceiro Mundo - presenciou o ressurgimento de inúmeras doenças, outrora consideradas "sob controle", e o surgimento de outras, especialmente as virais, destacando-se a síndrome da imunodeficiência adquirida (Sida/Aids), que constitui um verdadeiro cataclisma, alastrando-se em proporções assustadoras e atingindo indistintamente as populações. Sobre a infecção pelo vírus HIV, informe: a) as principais vias de contaminação; b) as medidas que devem ser utilizadas para o controle (contenção) desta doença. 8 - "O vírus da Aids destrói os linfócitos T, provocando a falência do sistema imune humano. O HIV pode ser transmitido para uma pessoa através de relação sexual com parceiro contaminado pelo vírus, por transfusão de sangue contaminado, pelo uso de seringa contaminada e também através de abraço, aperto de mão, toalhas e utensílios domésticos, como talheres e pratos." Você concorda com todas as afirmações contidas nesta frase? Explique. 9 - (Unicamp-SP) Um pouco alarmado com a elevada ocorrência de dengue transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, um morador de Campinas telefonou para a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) e relatou que havia sido picado na mata, à noite, por um mosquito grande e amarelado. Relatou também que, no dia seguinte, começou a ter febre e sentir dor nas articulações. O biólogo da Sucen ao saber, ainda, que este senhor não tinha viajado para qualquer área endêmica da doença, tranquilizou-o dizendo que certamente não teria contraído a dengue, embora fosse importante que ele procurasse atendimento médico. Cite cinco fatos relatados acima que levaram o biólogo da Sucen a concluir que essa pessoa não estava com dengue. REINO MONERA O Reino Monera é composto pelas bactérias e cianobactérias (também conhecidas como algas azuis). Elas podem viver em diversos locais, como na água, ar, solo, dentro de animais e plantas, ou ainda, como parasitas. Esquema de uma Bactéria. As Bactérias A maioria de seus representantes são heterótrofos, mas existem também algumas bactérias autótrofas. Existem bactérias aeróbias, ou seja, que precisam de oxigênio para viver, as anaeróbias obrigatórias, que não conseguem viver em presença do oxigênio, e as anaeróbias facultativas, que podem viver tanto em ambientes oxigenados ou não. Bactérias saprófitas: são benéficas, uma vez que participam da decomposição da matéria orgânica morta, ou seja, reciclam a matéria orgânica presente na natureza; e algumas também participam da produção de alimentos, através da fermentação. Bactérias parasitas: são maléficas, podendo provocar doenças em plantas e animais. Veja no quadro abaixo algumas das principais doenças causadas por bactérias nos seres humanos. Forma das bactérias: Reprodução das Bactérias: A reprodução mais comum nas bactérias é assexuada por bipartição ou cissiparidade, onde duplicação do DNA bacteriano e uma posterior em duas células, conforme ilustrado na imagem ao ocorre a divisão lado. As bactérias também podem realizar a reprodução sexuada, que neste caso é qualquer processo de transferência de fragmentos de DNA de uma célula para outra. A reprodução sexuada mais comum é por conjugação, onde duas bactérias geneticamente diferentes se unem por meio de pontes citoplasmáticas. A bactéria doadora injeta parte de seu material genético na outra, denominada bactéria receptora. Ao separarem-se, a bactéria receptora sofre recombinações gênicas que serão transmitidas às células-filhas na próxima divisão celular. As Cianobactérias Semelhantes estruturalmente às bactérias, as cianobactérias (também conhecidas como cianofíceas ou algas azuis) são encontradas na água doce, na água salgada e em solos úmidos, bem como recobrindo superfícies rochosas e troncos de árvores. As cianobactérias não tem plastos, mas possuem pigmentos fotossintetizantes, como clorofila e ficocianinas, dissolvidos no hialoplasma. EXERCÍCIOS 1- (Fuvest – SP) Um estudante escreveu numa prova: “As bactérias não tem núcleo nem DNA.”. Você concorda com ele? Justifique. 2- (UFMG) Em que alternativa as duas características são comuns a todos os indivíduos do reino Monera? a) Ausência de núcleo e presença de clorofila b) Ausência de carioteca e capacidade de síntese proteica c) Incapacidade de síntese proteica e parasitas exclusivos d) Presença de um só tipo de ácido nucleico e ausência de clorofila e) Ausência de membrana plasmática e presença de DNA e RNA. 3- As bactérias são classificadas de acordo com sua forma. Elas podem apresentar forma esférica, de bastonete, de vírgula, entre outras. As bactérias de forma esférica e de bastonete são chamadas de : a) cocos e vibriões, respectivamente. b) cocos e bacilos, respectivamente. c) vibriões e bacilos, respectivamente. d) esferas e bacilos, respectivamente. 4- (FCMS-SP) O principal tipo de reprodução das bactérias é: a) a harmogogia. b) o brotamento. c) a cissipariedade. d) a segmentação. e) a isogamia. 5- (PUC-RJ) Muitas doenças humanas são produzidas por vírus. Marque da relação seguinte a única de origem bacteriana: a) gripe b) caxumba c) tétano d) sarampo e) varíola