A Prática do Empreendedorismo no Ensino Superior e a Aproximação da
Universidade com o Mundo do Trabalho: o Caso Oriente - Agência de
Orientação Empresarial da Metodista de Minas
DANIELA ASSIS ALVES FERREIRA
DENILSON APARECIDA LEITE FREIRE
MÁRCIO ROSA PORTES1
RESUMO: O artigo apresenta o projeto de extensão Oriente da Metodista de Minas como uma iniciativa
pedagógica que possibilita a prática do empreendedorismo no ensino superior, a articulação teoria e prática e a
aproximação da Universidade com o mundo do trabalho. Na revisão da literatura foram identificados autores de
vertente economista que associam o empreendedorismo ao desenvolvimento econômico e a criação,
desenvolvimento e gerenciamento de empresas. Identificou-se, também, autores de formação
comportamentalista. A metodologia proposta baseou-se nas tipologias descritiva e explicativa. A estratégia
metodológica utilizada foi a do estudo de caso. A pesquisa foi feita com fontes secundárias e desenvolveu-se em
duas etapas: uma pesquisa bibliográfica e outra documental. Para o estudo foram levantados os resultados
apresentados pelo projeto de extensão Oriente - Agência de Orientação Empresarial, desenvolvido pelo curso de
Administração do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix - Metodista de Minas, nos anos de 2008 e
2009. Ao analisar os dados desses dois anos foi possível perceber que dentre os empreendedores que procuraram
a Oriente, cerca de 5% possuíam curso superior. Dessa forma, pode-se inferir que a maioria dos alunos que
formam no ensino superior ainda quer encontrar um emprego formal. No mesmo sentido, outra inferência é a de
que a universidade continua preparando os alunos para conseguirem um emprego e não para empreenderem suas
carreiras em um negócio próprio. As pesquisas revelaram, ainda, que dentre aqueles que não possuem curso
superior, cerca de 7% procuraram auxilio na universidade; muitos procuraram auxilio em escolas técnicas,
demonstrando, mais uma vez, a distância entre o meio acadêmico e os empreendedores. Por fim, constata-se que
por meio de práticas pedagógicas como o projeto de extensão oriente é possível promover a aproximação da
universidade com o mundo do trabalho, bem como a convivência interativa entre educadores e educandos.
PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo, Ensino Superior.
1
Professores do Centro Universitário Metodista de Minas Izabela Hendrix de Belo Horizonte - MG
1 INTRODUÇÃO
Os dados da pesquisa GEM Brasil (2010) demonstram que apesar do empreendedorismo ser
tema de interesse nos contextos empresariais, políticos e acadêmicos, uma grande parte dos
empreendedores nacionais, cerca de 90%, não participou de atividades educacionais
relacionadas à abertura de negócios.
Segundo ainda o relatório, mesmo com a inserção do ensino do empreendedorismo nas
instituições educacionais do país, a maioria dos empreendedores brasileiros buscou outros
tipos de organizações para desenvolver as suas competências empreendedoras. Dentre as
alternativas mais procuradas estão: as associações empresariais, tais como as associações
comerciais, câmaras de comércio, federações de indústrias, Sebrae, Senac, Senai e Sesc,
dentre outras.
Para os pesquisadores do GEM (2010, p. 112), “esse cenário mostra a tardia e morosa
capacidade das instituições educacionais nacionais de adaptarem seus currículos às novas
necessidades do mundo do trabalho.”
Foi baseado nestas questões que o presente artigo buscou demonstrar como a educação,
principalmente no ensino superior, pode contribuir para a difusão do empreendedorismo. O
objeto de pesquisa forão os resultados dos anos de 2008 e 2009, apresentados pela Oriente Agência de Orientação Empresarial, projeto de extensão do Centro Universitário Metodista
Izabela Hendrix - Metodista de Minas.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Empreendedorismo
Para Baron e Shane (2007), definições são sempre traiçoeiras e para uma área nova como o
empreendedorismo a tarefa se torna ainda mais complexa. Por ser um campo novo de saber,
conforme afirma Dolabela (1999b), de apenas duas décadas, considera-se que ainda está em
fase pré-paradigmática e que demorará muitos anos para atingir uma base científica, apesar de
ser, hoje, um campo fértil de pesquisas e publicações.
Segundo Dolabela (1999b), o empreendedorismo é um neologismo derivado da livre tradução
da palavra entrepreneushipi e utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor e
às suas características e atuação. Os primeiros autores que escreveram sobre
empreendedorismo, tais como Cantillon (1755) e Jean-Baptiste Say (1803)ii, associavam o
empreendedorismo ao desenvolvimento econômico. Desta forma, eles não estavam
interessados somente em economia, mas também em criação, desenvolvimento e
gerenciamento de empresas.
Foi o austríaco Schumpeter (1959) citado por Dolabela (1999a), quem deu impulso ao tema
empreendedorismo, associando o empreendedor à inovação e tornando-o o agente que inicia e
explica o desenvolvimento econômico (SCHUMPETER citado por DOLABELA, 1999a).
2
Na mesma perspectiva de Dolabela, Portes (2006) afirma que na visão de Schumpeter a “nova
combinação de meios de produção”, ou seja, a inovação é o fenômeno principal do
desenvolvimento econômico e o empreendedor tem a função de realizar essa inovação.
Continuando, Portes (2006) diz que Schumpeter associou o empreendedor ao
desenvolvimento econômico e mostrou como as ações inovadoras podem introduzir
descontinuidades cíclicas na economia. Destaca, também, que Schumpeter atribuiu ao
empreendedor três papéis: a inovação, o assumir riscos e o permanente rompimento de
paradigmas estabelecidos, expondo assim a economia a um constante estado de desequilíbrio.
Contudo, apesar de ampliar a visão sobre o empreendedor, alguns autores afirmavam que
Schumpeter ainda focava os seus estudos sob uma ótica economista. Tais autores, segundo
Dolabela (1999b), estavam mais preocupados com os aspectos comportamentais, isto é, com o
perfil e as características que fazem com que uma pessoa se torne um empreendedor ou não.
Para Dolabela (1999b), o pesquisador que verdadeiramente iniciou a contribuição das ciências
do comportamento para o estudo do empreendedorismo foi David C. MacClelland que
afirmava que os empreendedores possuíam uma grande necessidade de realização e, com isso,
tinham a motivação para empreender.
Na opinião do autor, as pesquisas dos comportamentalistas contribuíram para a definição das
características empreendedoras, possibilitando aos futuros empreendedores compreender
quais as razões que os levaram a abrir um negócio.
Hoje, tem-se os estudos pós comportamentalista em relação ao empreendedorismo. Tais
estudos ampliaram a visão acerca do empreendedorismo, vendo-o não só de forma econômica
ou de forma comportamental, mas como uma força capaz de alterar o contexto social na qual
está inserida.
A definição proposta por Filion (1999) sobre o empreendedorismo demonstra essa nova
concepção sobre o empreendedorismo. Para ele, o empreendedor é alguém que imagina,
desenvolve e realiza suas visões.
Para Filion (1999), a visão é um conjunto de idéias e objetivos que se quer atingir no futuro.
Ela está divida em três categorias:
Visões emergentes: resulta das idéias acerca dos produtos/serviços imaginados pelo
empreendedor antes do empreendimento.
Visão central: surge das visões emergentes e se torna no escopo claro de atuação do
empreendedor. Essa visão é composta de dois elementos: 1) externo, o espaço que o
produto irá ocupar no mercado e 2) interno, a empresa capaz de viabilizar o
produto/serviço.
Visões complementares: são informações gerenciais adquiridas pelo empreendedor
que irão dar suporte à visão central.
3
Na opinião de Portes (2006), o estudo do empreendedorismo atraiu o interesse de
especialistas de quase todas as disciplinas das ciências humanas a partir dos anos 90. A
aparente confusão refletiu a lógica e as culturas divergentes dessas disciplinas.
Provavelmente, a partir dos anos 2000, o empreendedorismo se tornou um dos principais
pontos de aglutinação das ciências humanas, porque foi um dos poucos assuntos que atraiu
um número considerável de especialistas de uma variedade ampla de disciplinas e de escopo
teórico ou interpretativo.
2.2 Empreendedorismo no Brasil
Segundo o Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), no Brasil o
empreendedorismo iniciou-se a partir de 1990 com a abertura da economia. A entrada de
produtos importados com maior qualidade e com um menor cursto trouxe problemas
competitivos para alguns setores econômicos brasileiros. Este novo cenário levou as empresas
a se adaptarem a essa nova realidade. Empresas de todos os tamanhos e setores tiveram que se
modernizar para poder competir e voltar a crescer.
Iniciativas governamentais deram inicio a uma série de reformas, controlando a inflação e
ajustando a economia. Em 2000 surgiu um milhão de novos postos de trabalho. A cada ano, as
micro e pequenas empresas ganharam mais espaço e importância na economia. Hoje, de cada
100 empresas brasileiras, 95 são micro ou pequenas empresas. Juntas elas empregam cerca de
40 milhões de trabalhadores, mais da metade de toda mão-de-obra do País (SEBRAE,2010).
Segundo o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010)iii o Brasil ocupou a 13º
posição no ranking mundial de empreendedorismo em 2008. A Taxa de Empreendedores em
Estágio Inicial (TEA), isto é, novos empreendimentos com até 42 meses de funcionamento,
foi de 12%, o que significa que de cada 100 brasileiros em idade adulta (18 a 64 anos) 12
realizavam alguma atividade empreendedora até o momento da pesquisa.
Entretanto, segundo o GEM (2010) a motivação para iniciar uma atividade empreendedora é
um dos temas relevantes para a pesquisa. O relatório mede a taxa de empreendedorismo de
necessidade e a taxa de empreendedorismo por oportunidade. No empreendedorismo por
oportunidade diz-se daqueles indivíduos que iniciaram sua atividade para melhorar suas
condições de vida ao observar uma oportunidade de negócio para empreender. No
empreendedorismo de necessidade, os indivíduos se motivam diante de uma precisão de
renda.
O relatório aponta que o Brasil atingiu a razão de dois empreendedores por oportunidade para
cada empreendedor por necessidade. Se comparado às taxas dos países desenvolvidos, como
nos Estados Unidos cuja taxa é de 6,86 empreendedores por oportunidade para cada
empreendedor por necessidade, o Brasil ainda está em processo de evolução.
Este indicador demonstra que, no Brasil, abrem-se muitos negócios ainda baseado apenas na
necessidade, e tal fato pode levar o empreendimento ao fracasso uma vez que, sendo a
4
motivação apenas para suprir uma necessidade, aspectos importantes de gestão podem ser
desconsiderados.
O próprio relatório do GEM (2010) demonstra que existe falta de investimento em inovação
no Brasil, além do país possuir uma das mais baixas taxas de lançamento de produtos novos
(desconhecidos para o consumidor) e de uso de tecnologias disponíveis há menos de um ano
no mercado. Em uma lista de 43 países, considerando os empreendimentos recém iniciados
(com até 3,5 anos no mercado), o Brasil ocupa o 42º lugar no ranking.
Estes dados apontam a necessidade da evolução da cultura empreendedora no Brasil, em
busca do aumento da sua taxa do empreendedorismo de oportunidade. Um caminho, talvez,
seja o investimento em pesquisa e inovação através da educação.
2.3 Empreendedorismo no Ensino Superior
A universidade é rica também em virtude de seus paradoxos, que a fazem ao mesmo tempo
criar o germe da mudança e resistira si mesma. Por outro lado, pode assumir um papel
importante na nova realidade econômica mundial em que empresas de conhecimento se
transformam em uma das principais forças do desenvolvimento econômico (DOLABELA,
1999c).
Para Dolabela (1999c) é importante o papel reservado ao ensino do empreendedorismo, pois
esse ensino incentiva e procura desenvolver nos alunos os comportamentos e atitudes que
condizem à inovação, à capacidade de transformação do mundo e à geração de riqueza.
Corroborando com o ponto de vista de Dolabela, Volker (2001), afirma que capacitar uma
pessoa para produzir conhecimento, pesquisá-lo, acumulá-lo, manejá-lo é dar condições a essa
pessoa de participar efetivamente da riqueza mundial e um modo de torná-la rica.
O mesmo autor reforça o seu pensamento quando diz que capacitar uma pessoa para a
comunicação, para as interações, para as inter-relações, para as redes e para serem inovadoras
é uma forma de capacitá-las para a riqueza. Continuando, afirma que se empreender é à
capacidade de uma pessoa de gerar riquezas, ser empreendedor ganha vários sentidos, se
entendemos riqueza como conhecimento, comunicação, inovação, ética, caráter, etc.
Nesse contexto, o empreendedor se encaixa em qualquer campo, na pesquisa, no ensino, no
emprego ou na empresa. O conceito de empreendedorismo convive com qualquer sistema
econômico porque diz respeito à natureza humana (DOLABELA, 1999c).
A Universidade, através do ensino do empreendedorismo, busca a geração de riquezas por
meio da capacitação dos seus alunos para a aquisição das riquezas do conhecimento, da
comunicação e da criatividade, podendo conscientizar os seus alunos sobre a riqueza na forma
de bens e na forma de capital (humano, social, intelectual, monetário, entre outros). Essa
construção passa, evidentemente, pelos processos de produção, concentração, distribuição e
ampliação desses capitais (VOLKER, 2001).
5
Por fim, Volker (2001) defende uma Universidade valoriza a importância de ensinar aos
alunos a gerar riquezas, no sentido plural, desde a monetária até a ambiental, passando pela
comunicacional, a inovativa, a do conhecimento e, evidentemente, a dos valores éticos.
Diante do exposto, o presente artigo desenvolveu os argumentos teóricos como base na
experiência desenvolvida pelo projeto de extensão Oriente - Agência de Orientação
Empresarial.
3. METODOLOGIA
A metodologia para a pesquisa proposta baseou-se nas tipologias descritiva e explicativa
(GIL, 1996). A estratégia metodológica utilizada foi a de estudo de caso, por se tratar da
análise particular de uma instituição, pois segundo Tull (1976, p. 323), um estudo de caso
refere-se “a uma análise intensiva de uma situação particular”.
A pesquisa foi feita com fontes secundárias e desenvolveu-se em duas etapas: uma pesquisa
bibliográfica, através da revisão da literatura sobre o tema, e outra documental, que consistiu
no levantamento de informações no local onde ocorreu o estudo de caso.
Para esse estudo de caso foram levantados os resultados apresentados pelo Projeto de
Extensão denominado de Oriente - Agência de Orientação Empresarial, desenvolvidos pelo
curso de Administração do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix - Metodista de
Minas, nos anos de 2008 e 2009.
4. DESENVOLVIMENTO
4.1. Apresentação da Oriente - Agência de Orientação Empresarial
Trata-se de um projeto de extensão que busca mediar a relação universidade/sociedade e
proporciona aos profissionais a oportunidade de traduzir para o campo operativo os
conhecimentos que as universidades vêm produzindo. Para tanto é necessário que possa
propiciar a aproximação da academia com a sociedade, com profissionais que produzam
conhecimento científico e técnico, e que tenham habilidades para se socializarem de forma a
contribuir para sua autonomia.
Desta forma, a Oriente - Agência de Orientação Empresarial conta com os seguintes propostas
acadêmicas, com foco na atividade empreendedora:
1. Articular o ensino e a pesquisa com as demandas da sociedade, buscando o
compromisso da comunidade universitária com interesses e necessidades da sociedade
organizada, em todos os níveis (sindicatos, órgãos públicos, empresas, categorias
profissionais, organizações populares e outros organismos).
6
2. Estabelecer mecanismos de integração entre o saber acadêmico e o saber popular,
visando uma produção de conhecimento resultante do confronto com a realidade, com
permanente interação entre teoria e prática.
3. Democratizar o conhecimento acadêmico e a participação efetiva da sociedade na vida
da universidade.
4. Incentivar a prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência
social e política, formando profissionais-cidadãos.
5. Participar criticamente das propostas que visem o desenvolvimento, econômico, social
e cultural de empreendimentos.
6. Contribuir para reformulações nas concepções e práticas curriculares.
7. Favorecer a reformulação do conceito de “sala de aula”, que deixa de ser o lugar
privilegiado para o ato de aprender, adquirindo uma estrutura ágil e dinâmica,
caracterizada pela interação recíproca de professores, alunos e sociedade, ocorrendo
em qualquer espaço e momento, dentro e fora dos muros da universidade, conforme
pode ser visualizado na figura 4.1.
Figura 4.1 - Interações da Oriente - Agência de Orientação Empresarialiv
Acreditando na extensão como forma de estabelecer um diálogo entre a Universidade e a
sociedade, busca-se encontrar uma forma adequada de comunicação, para garantir o diálogo
entre o saber científico, o técnico e o saber popular. Buarque (1986, p. 32) considera que:
7
O conhecimento científico, tecnológico e artístico gerado na universidade e
institutos de pesquisa não são únicos. Existem outras formas de conhecimento
surgidas da prática de pensar e de agir dos inúmeros segmentos da sociedade ao
longo das gerações que, por não serem caracterizadas como científicas, são
desprovidas de legitimidade institucional. Estas práticas estão sendo recuperadas à
luz de uma atividade orgânica com a maioria da população.
Segundo a coordenadoria de extensão da UNIMEP (1999) a extensão como dimensão do
Processo de Ensino deve efetivar três objetivos: o primeiro é a formação para o exercício da
profissão, que implica na formação pessoal, crítica, científica e técnica dos discentes. O
segundo trata do avanço do conhecimento, através da formação dos docentes envolvidos. E o
último objetivo passa por garantir que a extensão materialize parcerias com segmentos que
buscam subsídios da universidade para melhorar a qualidade de vida e aperfeiçoar e exercitar
a democracia plena.
Dentro deste entendimento, a Oriente – Agência de Orientação Empresarial efetiva os três
objetivos, pois contempla a participação dos discentes e docentes no desenvolvimento das
atividades que demandam conhecimento científico e técnico na área de empreendedorismo,
além da formação pessoal e crítica. Os docentes irão materializar parcerias com órgãos
havendo troca de conhecimentos, oferecendo apoio e orientação aos empreendedores,
buscando melhorar a qualidade de vida dos envolvidos, através dos serviços prestados,
possibilitando o melhor gerenciamento de seus negócios.
Esta agência tem como objetivo geral oferecer consultoria para empresas, projetos sociais,
artesãos e demais interessados em abrir e/ou melhorar a gestão do seu próprio negócio,
buscando facilitar o desenvolvimento sustentável desses empreendimentos.
Seus objetivos específicos são:
• Promover a inclusão social, através do empreendedorismo, por meio da geração de
trabalho e renda;
• Democratizar o acesso a captação de recursos;
• Impulsionar o empreendedorismo social, através do associativismo e o
cooperativismo;
• Contribuir para a melhora dos indicadores de qualidade de vida dos empreendedores;
• Capacitar os beneficiários, para serem entes ativos no processo de desenvolvimento;
• Introduzir novas tecnologias de gestão;
• Disseminar a cultura empreendedora;
• Estimular os envolvidos a conduzirem o processo de desenvolvimento dos negócios
sob a ótica da sustentabilidade, uma vez que organizados e comprometidos com um
objetivo comum, tornam-se responsáveis por implementar as ações planejadas, além
de monitorá-las, e ainda pela avaliação de todo o processo;
• Realizar consultorias técnicas para abertura e gerenciamento de negócio;
• Efetuar o acompanhamento de planos de negócio;
• Realizar cursos de temas de interesse do micro e pequeno empresário formal e/ou
informal.
8
4.2. Resultados da Oriente - Agência de Orientação Empresarial
4.2.1. Resultados do ano de 2008
No ano de 2008 a Oriente - Agência de Orientação Empresarial foi implantada como um
projeto de extensão da Metodista de Minas. As principais ações foram:
a) Projeto de Pesquisa para apuração do perfil dos empreendedores da Feira de Artesanato da
Afonso Penav, projeto em parceria com Banco do Brasil e ASSEAP (Associação dos
Expositores da Afonso Pena)
b) Elaboração e implementação do curso de capacitação em gestão de projetos sociais e
captação de recursos em parceria com a Fundação Metodista;
c) Pesquisa no entorno do Campus Cachoeirinha com imobiliárias e moradores para
identificar demandas do bairro para as lojas a serem construídas na região. A pesquisa foi
realizada com 12 imobiliárias e 100 moradores;
Neste primeiro ano a Oriente focou-se na atuação mercadológica, através do projeto de
pesquisa sobre o perfil dos empreendedores da feira dominical que ocorre na Avenida Afonso
Pena, em Belo Horizonte. A pesquisa foi iniciada no dia 6 de abril de 2008 e finalizada em
dezembro de 2008, objetivando identificar o perfil e as necessidades dos expositores, para
então traçar ações e planos de negócios que possam atender às demandas do público. As
demais atividades foram demandas surgidas expontâneamente.
A pesquisa contou com a participação direta de 40 alunos, previamente selecionados dos
cursos de Administração, Ciências Contábeis e Marketing. Tais alunos atuaram como
voluntários dentro do projeto de extensão Agência Oriente.
Foram pesquisados 815 expositores, de um universo de 2.700 expositores. Para garantir a
segurança e confiabilidade dos dados coletados, a amostra foi determinada a partir de um
coeficiente de segurança de 95,5% e de uma margem de erro de 3%.
A pesquisa revelou o perfil dos empreendedores expositores na feira. Em relação à
identificação do negócio, dos 815 expositores pesquisados 59% identificou-se como artesão e
22,9% como misto; apenas 18% se vê como manufatura, conforme pode ser verificado no
gráfico 1. Enquanto artesão ele é pessoa física e não tem acesso a benefícios que uma empresa
legalmente constituída encontra na obtenção de crédito, compra no atacado, dentre outras
Gráfico 4.1 – Classificação econômica do negócio
Fonte: ORIENTE (2008)
9
A pesquisa revelou que, somente na feira, são gerados em torno de 11.100 postos de trabalho
diretos. Em relação à liderança, 60% dos entrevistados afirmaram que a condução do negócio
é feminina; portanto, 1.890 mulheres estão à frente dos negócios da Feira, contra 661 homens.
Em relação ao tempo do empreendimento, 54,8% dos entrevistados possuem o negócio há
mais de 22 anos e que 42,6% expõem há mais de 22 anos na Feira. Isso indica que uma
parcela considerável dos negócios teve início na antiga Feira da Praça da Liberdade. Percebese, portanto, o predomínio de expositores com negócios consolidados.
Dentre os proprietários que afirmam possuir conhecimento gerencial, a maioria (60,4%) diz
possuir experiência prática; 12% possuem cursos técnicos profissionalizantes (SENAC,
SESC, SENAI, etc.); 11,6% já fizeram algum curso de extensão (Centro CAPE, SEBRAEMG, CDL, FIEMG, Faculdades, etc.); 11% já participaram de palestras, seminários,
encontros; 3,9% são formados em Curso de Administração ou Superior de Tecnológica em
Gestão; e apenas 1,1% possui Curso de Pós-graduação em Administração ou Gestão.
Questionados sobre quais as principais necessidades do negócio, 20,2% apontaram a
necessidade de apoio do poder público, 18,7% de maior divulgação da Feira, 14,2% o acesso
a máquina de cartão de crédito, 13,4% necessidade de acesso a linhas de crédito e
financiamento, 10,6% apoio da associação ou sindicato; 7% acesso a novas tecnologias; 6,8 %
treinamento em novas técnicas de produção; 5,7% treinamento em gerenciamento e somente
3,4% indicaram a necessidade de criação de melhores embalagens.
Em relação ao grau de instrução do proprietário, a maioria, com 42,1% dos entrevistados,
possui ensino médio completo, aparecendo em segundo lugar, com 18,7%, com ensino
fundamental completo. Por outro lado, um dado relevante é de que a grande maioria (93%)
dos entrevistados não tem curso superior.
A pesquisa revelou, assim, que apenas 7% possuem educação superior, corroborando com os
estudos realizados pelo GEM (2010), que revela que mais de 90% dos empreendedores não
têm, na educação superior, subsídios para abrir seus próprios negócios. Isso levou os
responsáveis do projeto Oriente à seguinte reflexão: será que além do universo da feira, em
outros segmentos, essa realidade se confirma?
Foi para responder essa questão que, no ano de 2009, a Oriente focou-se na orientação e
consultoria aos empreendedores, independente do segmento empresarial.
4.2.1. Resultados do ano de 2009
O principal objetivo para 2009 foi prestar serviços de orientação empresarial, por
agendamento, nas áreas administrativa, marketing, vendas, produção, finanças, contabilidade,
Plano de Negócios (estudo de viabilidade de negócios), publicidade, propaganda, informática,
gestão ambiental e jurídica, em parceria com o Núcleo de Práticas Jurídicas do curso de
Direito. Outra finalidade foi estabelecer uma aproximação entre o Centro Universitário
10
Metodista Izabela Hendrix e a comunidade empreendedora, demanda essa identificada nas
atividades da Agência Oriente no ano de 2008.
Nesse ano de 2009 foram atendidos 45 clientes, totalizando 350 horas de atendimento
devidamente registradas. A Agência Oriente realizou atendimentos agendados com
consultores(as) especialistas (professores(as) do Centro Universitário) que, acompanhados(as)
de alunos(as) extensionistas e alunos(as) voluntários(as), realizaram um diagnóstico da
situação atual apresentada pelo cliente e apontaram soluções a serem implementadas, com ou
sem acompanhamento.
A Agência Oriente atendeu micros e pequenos empresários, formais e informais, dos mais
diversos segmentos, assim como futuros empreendedores que queriam abrir seu próprio
negócio.
As principais demandas em ordem decrescente de número de atendimentos realizados estão
apresentados no quadro 4.1:
QUADRO 4.1 - Percentual de atendimentos por áreas de gestão
Área
Finanças
(42%)
Principais Demandas
Viabilidade econômica de novos negócios
Formação do Preço de Venda
Análise de Crediário e Recuperação de Créditos
Prospecção de Novos Clientes
Fidelização de Clientes
Comunicação: Marca e Imagem
Análise de Concorrência
Motivação de equipes
Orientação Vocacional
Gestão e Controle de Estoques
Marketing
(36%)
Recursos Humanos
(12%)
Produção e Materiais
(10%)
Fonte: ORIENTE (2009).
Analisando o percentual de atendimentos por segmentos, obteve-se o seguinte resultado,
conforme demonstrado no Gráfico 4.2 – Percentual de Atendimentos por Segmento:
40,00%
35,30%
29,30%
35,00%
30,00%
25,00%
17,10%
20,00%
11,70%
15,00%
6,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Comércio
Serviço
ONG.s
Industria
Pessoa
Física
GRÁFICO 4.2 – Percentual de Atendimentos por Segmento
Fonte: ORIENTE (2009).
11
Este gráfico demonstra que, dentre os atendimentos, o setor comercial é o que apresentou
maior demanda da Agência Oriente. O segundo maior percentual ficou para o segmento de
serviços e o terceiro, para ONGs (Organizações Não Governamentais).
Em contrapartida, o menor percentual ficou para as pessoas físicas, contribuindo para o fato
que, como exposto na introdução deste artigo, afirma que os empreendedores que querem
abrir o seu próprio negócio ainda estão distantes das universidades e estas destes.
6. CONCLUSÃO
Analisar a contribuição da universidade para a disseminação do empreendedorismo
demonstrou os avanços e as limitações desta empreitada. Se por um lado, o projeto de
extensão Oriente demonstrou avanços, como os apresentados anteriormente, Por outro, o
estudo também vem explicitar o quanto os empreendedores que ainda não abriram o seu
próprio negócio estão distantes do meio acadêmico, e vice-versa.
As pesquisas e as atividades realizadas pelo projeto de extensão oriente nos anos de 2008 e
2009 demonstraram que dentre os empreendedores apenas cerca de 5% possuem curso
superior. Isto indica que a maioria dos alunos formados no ensino superior querem encontrar
um emprego formal. Isto pode demonstrar que a universidade continua preparando os futuros
profissionais para conseguirem um emprego e não para empreenderem suas carreiras em um
negócio próprio.
As pesquisas revelaram ainda que, dentre aqueles que não possuem curso superior, apenas
cerca de 7% procuraram auxilio na universidade, muitos procuraram auxilio em escolas
técnicas, demonstrando, mais uma vez, a distância entre o meio acadêmico e os
empreendedores.
Por inferência, pode-se apontar as seguintes razões pelas quais o empreendedor não busca a
universidade:
Desconhecimento, por parte dos empreendedores, das iniciativas acadêmicas;
Falta de divulgação à grande população dos projetos acadêmicos de apoio ao
empreendedorismo;
• A cultura de que a universidade é o campo do saber e o mercado é o campo da prática.
Portanto, como os empreendedores querem abrir seu próprio negócio tendem a não
procurar auxilio acadêmico;
• Distância da academia do mundo do trabalho: um focado nos aspectos teóricos e o
outro, nos aspectos práticos.
•
•
Contudo, essas são apenas inferências. O estudo revelou que, por não procurarem apoio na
abertura, muitos empreendedores, ao abrirem o seu empreendimento, logo se deparam com
uma série de dificuldades com as quais não conseguem lidar. Neste aspecto, a Oriente pôde
auxiliar aqueles que a procuraram.
12
Fica como aprendizado a importância de se pensar ações que, além de darem suporte às
empresas constituídas, dêem, principalmente, suporte àqueles empreendedores que desejam
abrir o seu próprio negócio, auxiliando-os na elaboração do planejamento do futuro negócio.
Por fim, constata-se que por meio de práticas como o projeto de extensão Oriente é possível
promover a aproximação da Universidade com o mundo do trabalho, bem como a convivência
interativa entre educadores e educandos.
REFERÊNCIAS
BARON, A. Robert; SHANE, A. Scott. Empreendedorismo: uma visão do processo. São
Paulo: Thinson, 2007.
BUARQUE, Cristovam. Uma idéia de universidade. Brasília: UnB, 1986.
DOLABELA, Fernando. O segredo de Luísa: uma idéia, uma paixão e um plano de negócios
– como nasce o empreendedor e se cria uma empresa. São Paulo: Cultura, 1999a.
DOLABELA, Fernando. Oficina do empreendedor: a metodologia de ensino que ajuda a
transformar conhecimento em riqueza. São Paulo: Cultura, 1999b.
DOLABELA, Fernando. O ensino do Empreendedorismo: panorama brasileiro. In:
SEMINÁRIO
INTERNACIONAL
A
UNIVERSIDADE
FORMANDO
EMPREENDEDORES, 1., 1999, Brasília. Anais... Brasília: Confederação Nacional da
Indústria/Instituto Euvaldo Lodi Nacional, 1999c. p. 1-10.
FILION, Louis Jacques. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de
pequenos negócios. Revista de Administração. São Paulo, v. 34, no 2, p. 05-28, abril/junho,
1999.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
159 p.
GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR. Empreendedorismo no Brasil - 2008:
Empreendedorismo no Brasil 2008. Curitiba: IBQP, 2010. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/customizado/estudos-e-pesquisas/estudos-pesquisas/
empreendedorismo-no-brasil-pesquisa-gem/livro_gem_2008.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2010.
ORIENTE - Agência de Orientação. Empresarial. Curso de Administração. Centro
Universitário Metodista Izabela Hendrix. Relatório da Pesquisa da Feira da Afonso Pena:
maio 2008. Belo Horizonte, 2008. Relatório.
ORIENTE - Agência de Orientação. Empresarial. Curso de Administração. Centro
Universitário Metodista Izabela Hendrix. Relatório de Extensão: dez. 2009. Belo Horizonte,
2009. Relatório.
13
PORTES, Márcio Rosa. O processo visionário e o desenvolvimento de características e
habilidades empreendedoras: o caso Lapidart Ltda. 2006. 128 f. Dissertação (Mestrado em
Administração) - Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, Pedro Leopoldo, 2006.
SEBRAE. Site do Serviço Brasileiro de Apoio as Micros e Pequenas Empresas). Disponível
em: <http://www.sebraemg.org.br>. Acesso em: 12 mar. 2010.
TULL, D. S.; HAWKINS, D. I. Marketing Research, Meaning, Measurement and
Method. Macmillan Publishing Co., Inc., London, 1976.
UNIMEP. Síntese do 1º, 2º e 3º Fóruns de Extensão.
<http://www.unimep.com.br>. Acesso em: 04 dez. 2009.
Piracicaba, 90/91/92.
VOLKER, Paulo. O professor empreendedor. In: SEMINÁRIO EDUCAÇÃO SESI/SENAI,
1., 2001, Belo Horizonte, Minas Gerais. Anais... Belo Horizonte: Federação das Indústrias do
Estado de Minas Gerais/Rede SESIMINAS de Educação/SENAI Educação Profissional,
2001. p. 1-05.
i
Entrepreneuship vem do francês entrepreneur e significa “aquele que assume riscos e começa algo novo”.
Citados em Dolabela (1999b).
iii
G.E.M é um projeto de pesquisa sobre a atividade empreendedora que cobre mais de 60 países consorciados,
com representatividade em termos econômicos (aproximadamente 95% do PIB mundial) e demográficos (mais
de dois terços da população mundial).
iv
PORTES, Márcio Rosa. Belo Horizonte, 2010. Não publicado.
v
A Feira de Artesanato da Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte teve início na Praça da Liberdade em 1969.
Começou semanalmente como uma reunião de artistas plásticos que expunham seus trabalhos e se transformou
na "Feira Hippie" da Praça da Liberdade. Em 1991, devido ao tamanho alcançado, a Feira foi transferida para a
Avenida Afonso Pena.
ii
14
Download

A Prática do Empreendedorismo no Ensino Superior e a