Textos produzidos pelo Presidente da SBN, Ricardo Moreira de Souza,
durante a sua participação no XXI Curso de Editoração Científica da
ABEC, em São Paulo, de 27 a 29 de junho de 2013
Impressões # 1
Caros sócios da SBN,
a primeira manhã do curso da ABEC aqui em São Paulo foi simplesmente excepcional. O
Prof. Gilson Volpato (Unesp) mostrou para um plenário de mais de 200 editores de
periódicos científicos brasileiros como a evolução da comunicação está afetando a
linguagem, a estrutura, a forma de apresentação de dados etc dos artigos científicos que
estão sendo publicados nos melhores periódicos do mundo.
O Prof. Volpato destacou a importância dos autores e editores de periódicos terem em
mente que, além de alta qualidade científica, os artigos científicos precisam ter também
alta qualidade de comunicação: captar instantaneamente a atenção dos leitores (cada vez
mais jovens e "sem tempo"), comunicar rapidamente as mensagens principais (resultados
e conclusões), ser agradáveis ao leitor (fáceis de ser entendidos), e utilizar mais e
melhor recursos gráficos, sons, vídeos e inúmeras outras possibilidades existentes hoje e
num futuro próximo com a evolução da tecnologia da informação.
Com este objetivo, o Prof. Volpato destacou a importância de nós re-avaliarmos (não
necessariamente abolirmos) conceitos e "regrinhas" de redação e publicação científica que
nós aprendemos anos atrás. Como exemplo: o novo conceito de que o Abstract de um
artigo não precisa ser um "resumo" do trabalho, ou seja, que o Abstract não precisa ser
uma miniatura do artigo, aquelas 100 a 300 palavras nas quais os autores são obrigados
a "espremer" a Introdução, Justificativa, um pouco de Material e Métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão!!!
Ao invés disto, propôs o Prof. Volpato, o Abstract deve ser visto como a segunda parte de
um artigo que mais chama a atenção de um leitor "que não tem tempo". De fato, logo
após nós lermos o título do trabalho, todos nós vamos direto ao Abstract, para ver se nos
interessa!! Portanto, o Abstract deve somente expandir a ideia inicial que o leitor obteve
ao ler o título, ter uma introdução do tema de não mais do que uma sentença e
descrever somente os resultados e conclusões, para que o leitor "sem tempo" rapidamente
perceba a relevância do artigo. Aí sim, o leitor que foi "capturado" pelo Abstract irá
"desacelerar" e fazer o download o artigo para lê-lo com atenção e em detalhes.
Interessante, não?
Um abraço a todos.
Impressões # 2
Caros sócios da SBN,
Agora, na tarde de 27/6, no curso da ABEC abordaram-se as questões de indexação dos
periódicos e bibliometria. Os mais de 200 editores aqui presentes ficaram abismados – eu,
inclusive - com a imensa diversidade de bases de dados existente no mundo, privadas,
públicas e autônomas, um universo muito além do WebofScience, Scopus e
Scielo. Diversas bases de dados citadas não eram conhecidas por nenhum dos editores
presentes!!
Os palestrantes mostraram a "filosofia" (o objetivo ou interesse) de cada base de dados,
pois há bases de dados criadas com intuitos comerciais (ex. WebofScience), para orientar
a elaboração de políticas públicas (ex. Lilacs) ou simplesmente para divulgar o
conhecimento (ex. Edubase). Mais importante, os palestrantes destacaram que a busca
por indexações não deve ser o objetivo central de uma Editoria, mas sim entender e
cumprir as exigências para aceitação pelas bases indexadoras. Amadurecer a linha
editorial e as normas do periódico, amadurecer o corpo editorial, revisores ad-hoc e
autores no sentido de atender a essas exigências é o mais importante, pois isto melhora a
qualidade dos artigos e do periódico, aumentando o retorno de benefícios à sociedade por
real investido em projetos de pesquisa e bolsas de estudo. Com esta meta em mente, o
aceite nas bases de indexação ocorrerá naturalmente ao longo do tempo. Ou seja, há um
longo e frutífero caminho a ser percorrido pelo corpo editorial, autores e revisores que vai
muito além da pergunta restrita e ansiosa "Quando teremos um fator de impacto?"
As palestras que abordaram a bibliometria destacaram exatamente isto: a existência
de inúmeros outros índices de avaliação da qualidade de um artigo ou periódico, com
inúmeras vantagens em relação ao fator de impacto. Índices já em uso pela comunidade
científica internacional, baseados em números de citações que um artigo recebe após a
sua publicação, incluem o Scimago Journal Rank, Eigenfactor, Article Influence e Indice H,
entre outros. Portanto, em breve CNPq, Qualis e FAPs migrarão para esses índices. E,
num mundo que se move à velocidade da internet, qual é o valor do fator de impacto, que
é medido somente para períodos de 2 a 5 anos após a publicação do artigo? Para se
avaliar o impacto "em tempo real" de um artigo (dentro de 30 dias após a sua publicação) é
que estão surgindo as novas ferramentas da bibliometria, divididas nas áreas de
cientometria, infometria, webometria e altmetrics.
A mim ficou clara a necessidade de se profissionalizar a editoria de qualquer periódico,
seja Nematologia Brasileira ou Nematoda. Não é possível sobreviver neste cenário do
futuro que já chegou como nós estamos operando. Os autores e revisores precisam
entender a era de transformação que nós estamos vivendo, e o Editor-Chefe do periódico
precisa ter assessoria profissional nas áreas de computação, bibliometria, tradução e/ou
revisão gramatical e estilística do inglês e editoração. No meu entender, a publicação online de um novo periódico, Nematoda, economizará milhares de reais hoje gastos com
impressão e correios, que poderão ser investidos na modernização do periódico da SBN.
Um abraço a todos.
Impressões # 3
Caros sócios da SBN,
hoje (28/6) de manhã uma das discussões foi "Inglês ou não Inglês"? As vantagens,
desvantagens e mudanças embutidas na publicação dos periódicos brasileiros em inglês,
seja de forma exclusiva ou híbrida (aceite de manuscritos em ambos os idiomas ou
publicação "dupla" do artigo, com uma versão em português e outra em inglês).
O Prof. Murilo Zerbini expôs a experiência da Tropical Plant Pathology (TPP), que a
partir de julho de 2012 passou aceitar somente manuscritos em inglês. Ele destacou que a
decisão de qual idioma e formato adotar deve ser pautada na seguinte questão: qual é o
público-alvo do periódico? quem vai ler os artigos? Cientistas? Cientistas e
extensionistas? Professores? No caso da TPP, a resposta era clara: os leitores são
cientistas brasileiros e estrangeiros. Como todos os cientistas brasileiros lêem em inglês, a
editoria da TPP tinha certeza de que não haveria perda de leitores no Brasil, como de fato
não perdeu!!
Mas a exigência dos manuscritos serem submetidos em inglês criou uma nova dinâmica
para a TPP: 1) uma certa "fuga" de autores (e manuscritos) que não queriam ter o trabalho
e custo de traduzir seus artigos já redigidos em português; 2) por outro lado, houve
uma "seleção natural" que afastou manuscritos muito ruins, pois os autores perceberam
que teriam o manuscrito rejeitado, pois agora há revisores ad-hoc do exterior trabalhando
para a TPP, supostamente mais rigorosos...; 3) a necessidade de ajustar a secretaria da
TPP, pois a secretária não fala e nem escreve em inglês. Como se comunicar com os
autores, revisores etc.?; 4) uma enxurrada de manuscritos vindos do exterior, muitos
ótimos, mas outros péssimos...; 5) a percepção de que os brasileiros têm um ótimo inglês
(ou tentam melhorar), se comparado com o inglês falado e escrito de egípcios, chineses,
iranianos, etc!! Mesmo assim, o Prof. Zerbini destacou que após um primeiro impacto, o
número de submissões está aumentando, embora seja cedo para maiores projeções.
A Profa. Leta mostrou gráficos extraídos de Web of Science mostrando a baixíssima (cada
vez menor) contribuição do português e de outras línguas nacionais no universo da
publicação científica internacional. A migração dos periódicos para o inglês é crescente no
Brasil, em países desenvolvidos (França, Itália, Alemanha...), em desenvolvimento
(Polônia, México...) e mesmo na área de Humanas, normalmente refratária à publicação
em inglês.
Na seção "Tira-Dúvidas", uma técnica do Scielo respondeu a inúmeras dúvidas dos
editores sobre indexação dos periódicos, DOI, CrossRef, critérios para entrada e
manutenção na base de dados etc. Houve também discussão sobre plágio, formação de
"cartéis" entre periódicos para troca de citações etc.
Um abraço a todos.
Impressões # 4
Caros sócios da SBN,
hoje (28/6) à tarde o tema dos debates foi a publicação "fechada" X "aberta", ou seja, a
publicação em periódicos que restringem a leitura dos artigos para aqueles que compram o
artigo ou assinam o periódico X a publicação em periódicos que disponibilizam
imediatamente e gratuitamente os artigos.
A Profa. Ariadne fez um histórico do "movimento open access", que fundamenta-se no
conceito de que pesquisas custeadas com recursos públicos têm de ter os seus resultados
também públicos. Um conceito óbvio, democrático e cidadão, mas polêmico numa era em
que se cobra que Universidades e Institutos de Pesquisa públicos façam parcerias com
empresas, gerem patentes, inovações e produtos que aumentem o PIB brasileiro, como se
a geração de patentes e dólares fosse uma boa medida da eficiência da pesquisa pública...
A Profa. Ariadne destacou também que o formato open-access já responde por cerca de
12% dos artigos publicados em todo o mundo, e continua crescendo. Universidades e
mesmo editoras privadas têm se juntado ao movimento, criando modalidades
intermediárias, muitas vezes caras para o autor, que paga um valor bem alto para
disponibilizar o seu artigo, algo um tanto "non-sense". Por fim, a palestrante mostrou
dados indicando que artigos publicados em open access têm, em média, 336% mais
citações (= fator de impacto) do que artigos similares publicados na forma "fechada", pelo
simples fato de que os cientistas têm dificuldade de ler e citar o que eles não podem ler !
O Prof. Oliveira defendeu o oposto, relatando a experiência do Brazilian Journal of Physics,
que conseguiu se recuperar de uma extinção quase certa após fazer um acordo comercial
com a editora holandesa Springer, para fazer a publicação "fechada" do periódico. A
editora faz toda a parte de editoração, divulgação e venda dos artigos e assinaturas, e
disponibilizou a plataforma de submissão eletrônica, deixando o Editor livre para fazer o
trabalho intelectual e não braçal.
O professor destacou a grande visibilidade internacional do periódico (não obstante o fator
de impacto esteja apenas em 0,6) pois a Springer "trabalha" os seus produtos. Além
disto, a editora é em si um bom "cartão de visitas" para o periódico. Apenas um detalhe:
o custo disto para a Sociedade Brasileira de Física é de 50 mil dólares por ano.
Não obstante isto, eu já pedi orçamentos às editoras brasileiras Cubo e Zepellini, que
estão com bancas aqui no curso, só para nós termos uma ideia de quanto custaria este
mesmo serviço oferecido por uma editora brasileira. Juntas, essas editoras já assessoram
uns 40 periódicos brasileiros, dentre eles a Neotropical Entomology, Bragantia e Brazilian
Journal of Plant Physiology.
Tudo muito interessante... Um abraço a todos.
Impressões # 5
Caros sócios da SBN,
na última parte do curso da ABEC, passaram-se orientações aos editores de periódicos
sobre como submeter e aprovar editais de apoio à publicação, tanto do CNPq quanto de
FAPs. O Prof. Maurício também discutiu os detalhes de como preparar o periódico para
solicitar
a
indexação
no
Scielo,
PubMed
Central, PubMed
Medline
e WebofScience. Discutiu-se como a cientometria está saindo do fator de impacto (FI) e
evoluindo para outros índices, como o Scimago Rank, produzido pelo Scimago Lab em
cooperação com a Elsevier. A chamada Declaration Dora (http://am.ascb.org/dora/) tem
recebido grande apoio por clamar por menos FI e mais ciência na avaliação da Ciência.
A Profa. Neusa alertou os autores sobre editoras "predatórias", que oferecem publicar no
formato "open-access" mediante taxas de submissão, mas supostamente sem critérios de
qualidade, com corpos editoriais fictícios e sem que as editoras tenham sede física (só na
internet). Um professor dos EUA está "investigando" o assunto e publicando uma lista
destas editoras "predatórias", no site http://scholaryoa.com.
O Prof. Chieffi, editor de um periódico brasileiro da área de Parasitologia, comentou ser
normal que periódicos de áreas temáticas, mais restritas, tenham um FI menor do que
periódicos de amplo espectro, como Cell, Nature, Science ou a série PLOS, pelo motivo de
serem lidos (e citados) por mais cientistas. Há também o fator qualidade dos artigos,
lógico. A publicação de revisões, artigos e editoriais controversos aumentam o FI. Por
exemplo, dentre os periódicos estrangeiros da área de Parasitologia que publicam
principalmente artigos originais o FI varia de 1,12 a 2,35. Advances in Parasitology e
Trends in Parasitology, que publicam só revisões, têm FI de 3,77 e 5,51, respectivamente. Os periódicos brasileiros de Parasitologia têm FI de 0,7 a 1,36.
Um abraço a todos e obrigado pela atenção.
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