Departamento de História A LINGUAGEM POLÍTICA DO PATRIOTISMO À ÉPOCA DAS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA IBÉRICA – LIBERDADES E CIDADANIAS NA EXPERIÊNCIA DE AUTONOMIA. Aluno: Renata Firmo Lessa Orientador: Marco Antonio Villela Pamplona Introdução A invasão da península ibérica pelas forças napoleônicas em 1807 e a subsequente deposição de Fernando VII do trono espanhol, substituído por José Bonaparte, deram lugar a uma conjuntura de “acefalia do reino”. As soluções políticas encontradas na Espanha, em primeiro lugar a Junta Central de Sevilha entre 1808 e 1810, e em segundo lugar o Conselho de Regência a partir de 1810, representaram para a América Hispânica uma oportunidade de experimentar certa autonomia a partir da criação de Juntas Governativas locais. A Região do Prata e, principalmente, as cidades de Buenos Aires e Montevidéu à época de suas respectivas independências foram o centro de nossa pesquisa. No caso de Buenos Aires, acompanhou-se a linguagem política e suas transformações em torno das mudanças políticas e das experiências de autonomia vividas a partir da Revolução de Maio. Foi analisada a “Gazeta de Buenos Aires” em suas edições dos anos de 1810 e 1811 e busca-se continuar acompanhando tais transformações, ao menos até a declaração da independência das Províncias Unidas do Prata em 1816. No caso de Montevidéu, que me coube, foram analisados diversos periódicos da década de 1820, em contextos variados de acordo com o ano de cada publicação. A Banda Oriental foi invadida em 1816 e formalmente incorporada em 1820 pelo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, passando a ser denominada Província Cisplatina. Logo, a produção de periódicos desse período em Montevidéu se insere em um contexto de dominação lusobrasileira. Com a proclamação da independência das províncias da América Portuguesa em 7 de Setembro de 1822 e o consequente rompimento com Portugal, a Cisplatina ficou dividida entre aqueles que apoiavam a continuação da união com o novo Império do Brasil, ou os chamados “imperiais” sob a liderança do general Carlos Frederico Lecor, e aqueles que preferiam mantê-la sob o controle de Portugal, os chamados “lusitanos” liderados por D. Álvaro da Costa, que não aderira ao movimento de D. Pedro. Posteriormente, os portugueses seriam efetivamente derrotados com o fim do cerco de Montevidéu, e a disputa seria resolvida. Em 1825, porém, iniciou-se a Guerra da Cisplatina, com o desembarque dos Trinta e Três Orientais na praia de Agraciada, com o objetivo de remover de vez o domínio imperial brasileiro da região. A guerra envolveu forças brasileiras, portenhas e orientais e terminou apenas em 1828 com a independência da região e criação da República Oriental do Uruguai. Em meio a essas distintas conjunturas, a linguagem política utilizada na América Hispânica sofreu muitas transformações. Se os mesmos vocábulos continuavam a ser empregados nos discursos, como “pueblos” e “libertad”, os seus conteúdos ou significados variaram de caso a caso. As experiências práticas vividas por aqueles homens deram lugar a novos significados àqueles termos do Antigo Regime que continuaram em uso. Objetivos O objetivo da pesquisa é investigar o valor conferido a determinados termos da linguagem política corrente quando das independências na América Ibérica e observar as Departamento de História mudanças em sua utilização e significado. Pretende-se observar como esses conceitos são influenciados e influenciam, simultaneamente, as transformações políticas em curso. Na documentação existente, conceitos como “pueblo”, “libertad” e “conciudadano” apresentam diferentes significados conforme o período, a região retratada e a posição política daquele que profere o discurso. Dessa forma, essa polissemia dos conceitos exige de nós uma análise contextual desse vocabulário político de modo a compreender melhor os significados empregados nos textos dos periódicos que informaram as ações da época. Metodologia Nossa pesquisa está centrada em duas cidades, Buenos Aires e Montevidéu, e toma por base o exame de periódicos. A mim coube a análise dos seguintes periódicos de Montevidéu durante a década de 1820: “El Pacifico Oriental de Montevideo” (1821-1822), “El Patriota” (1822), “La Aurora” (1822-1823), “El Ciudadano” (1823), “El Aguacero” (1823), “El Eco Oriental” (1827) e “El Observador Oriental” (1828). Nos encontros do grupo de pesquisa refletimos sobre textos teóricos e historiográficos lidos em conjunto - tais como os de Demétrio Magnoli [1] e João Paulo Pimenta [2]. Além disso, apresentamos passagens dos periódicos analisados, priorizando a discussão acerca do vocabulário político. As transformações de sentidos atribuídos aos conceitos de “pueblo”, “libertad” e outros associados à cidadania que estava sendo construída foram a grande preocupação em todos os estudos de caso. Conclusões No tratamento que pretendemos conferir à discussão do vocabulário político do patriotismo, com destaque para certos conceitos como “pueblo” e “libertad”, no período assinalado, atentamos para: os distintos contextos linguísticos aos quais os registros das fontes analisadas pertenciam, os agentes sociais que os produziram tais “atos de fala” e os significados por eles atribuídos aos conceitos empregados. A transformação da utilização e dos significados dos conceitos nos discursos em periódicos ocorreu sob diferentes contextos ao longo do século XIX. É também valorizando o estudos desses distintos momentos que contribuímos para o entendimento desses diversos significados. Referências 1 – MAGNOLI, Demétrio. O Estado em busca do seu território. In: JANCSÓ, István (Org.). Brasil: Formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec, 2003, p.285-296. 2 – PIMENTA, João Paulo. Estado e Nação no fim dos impérios ibéricos no Prata: 18081828. São Paulo: Hucitec, 2006, p.103-249.