•Classificação dos periódicos no Sistema QUALIS da CAPES – a mudança dos critérios é URGENTE! •Correlação da topografia tumoral e edema peritumoral com a resposta terapêutica à administração intranasal do álcool perílico nos gliomas malignos recidivos •Aspectos clínicos e epidemiológicos da cefaleia pós-traumática crônica •Escrevendo resumos mais informativos •Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior: revisão crítica da técnica cirúrgica •Histiocitose de células de Langerhans como causa de mielopatia •Cavernomas bulbares e ponto-bulbares •Cavernomas da medula torácica Volume 29 • Número 1 • Março • 2010 Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Órgão Oficial das Sociedades de Neurocirurgia de Língua Portuguesa (ISSN 0103-5355) Editores Gilberto Machado de Almeida Milton K. Shibata Editores Associados Atos Alves de Sousa (Belo Horizonte, MG) Benedicto Oscar Colli (Ribeirão Preto, SP) Carlos Umberto Pereira (Aracaju, SE) Eduardo Vellutini (São Paulo, SP) Ernesto Carvalho (Porto, Portugal) Fernando Menezes Braga (São Paulo, SP) Francisco Carlos de Andrade (Sorocaba, SP) Hélio Rubens Machado (Ribeirão Preto, SP) João Cândido Araújo (Curitiba, PR) Jorge Luiz Kraemer (Porto Alegre, RS) José Alberto Gonçalves (João Pessoa, PB) José Alberto Landeiro (Rio de Janeiro, RJ) José Carlos Esteves Veiga (São Paulo, SP) José Carlos Lynch Araújo (Rio de Janeiro, RJ) José Perez Rial (São Paulo, SP) Manoel Jacobsen Teixeira (São Paulo, SP) Marcos Barbosa (Coimbra, Portugal) Marcos Masini (Brasília, DF) Mário Gilberto Siqueira (São Paulo, SP) Nelson Pires Ferreira (Porto Alegre, RS) Pedro Garcia Lopes (Londrina, PR) Sebastião Gusmão (Belo Horizonte, MG) Sérgio Cavalheiro (São Paulo, SP) Waldemar Marques (Lisboa, Portugal) Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Diretoria (2008-2010) Presidente Conselho Deliberativo Presidente Luiz Carlos de Alencastro Cid Célio Jayme Carvalhaes Vice-Presidente Jorge Luiz Kraemer Secretário Secretário-Geral Kunio Suzuki Arlindo Alfredo Silveira D’ Ávila Conselheiros Tesoureiro Albert Vicent B. Brasil Marcelo Paglioli Ferreira Atos Alves de Sousa Secretário Permanente Carlos Roberto Telles Ribeiro Samuel Tau Zymberg Djacir Gurgel de Figueiredo Primeiro Secretário Evandro Pinto da Luz de Oliveira Alexandre Mac Donald Reis José Alberto Landeiro Presidente Anterior José Antonio Damian Guasti José Carlos Saleme José Carlos Saleme Presidente Eleito da SBN 2010 Léo Fernando da Silva Ditzel José Marcus Rotta Luis Alencar Biurrum Borba Presidente do Congresso 2010 Mário Gilberto Siqueira Silvio Porto de Oliveira Nelson Pires Ferreira Presidente Eleito do Congresso 2012 Paulo Andrade de Mello Marco Aurélio Marzullo de Almeida Sebastião Nataniel Silva Gusmão Secretaria Permanente Rua Abílio Soares, 233 – cj. 143 – Paraíso 04005-001 – São Paulo – SP Telefax: (11) 3051-6075/3051-7157/3887-6983 Home page: www.sbn.com.br E-mail: [email protected]; [email protected] Instruções para os autores Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia, publicação científica oficial da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e das Sociedades de Neurocirurgia de Língua Portuguesa, destina-se a publicar trabalhos científicos sobre neurocirurgia e ciências afins, inéditos e exclusivos. Em princípio, são publicados trabalhos redigidos em português, com resumo em inglês. Excepcionalmente, poderão ser redigidos em inglês, com resumo em português. Os artigos submetidos para publicação deverão ser classificados em uma das categorias abaixo: • A ordem preferencial de publicação será a cronológica, respeitando-se a proporcionalidade referida anteriormente. • Os direitos autorais de artigos publicados nesta revista pertencerão exclusivamente a Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia. É interditada a reprodução de artigos ou ilustrações publicadas nesta revista, sem o consentimento prévio do Editor. • Artigos originais: informações resultantes de pesquisa clínica, epidemiológica ou experimental. Resumos de teses e dissertações. Pretende-se que pelo menos a metade das páginas da revista seja destinada a esta categoria. 1.Um original e uma cópia do texto impresso e editado em espaço duplo, utilizando fonte 12, em face única de papel branco de tamanho “A4” ou “carta”, respeitando margem mínima de 2,5 centímetros ao redor do texto. • Artigos de revisão: sínteses de revisão e atualização sobre temas específicos, com análise crítica e conclusões. As bases de dados e o período abrangido na revisão deverão ser especificados. 2.Cópia em disquete ou em CD-ROM, digitado e formatado de maneira idêntica ao original impresso, com identificação do artigo e do processador de texto utilizado. 3.Duas coleções completas das ilustrações. • Relatos de caso: apresentação, análise e discussão de casos que apresentam interesse relevante. 4.Declaração, assinada pelo autor principal, de que o trabalho é inédito e submetido exclusivamente para publicação em Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia. Se for o caso, expressar o desejo de arcar com as despesas relativas à reprodução de ilustrações coloridas. • Notas técnicas: notas sobre técnica operatória e instrumental cirúrgico. • Artigos diversos: são incluídos nesta categoria assuntos relacionados à história da neurocirurgia, ao exercício profissional, à ética médica e outros julgados como pertinentes aos objetivos da revista. • Cartas ao editor: críticas e comentários, apresentados de forma resumida, ética e educativa, sobre matérias publicadas nesta revista. O direito à réplica é assegurado aos autores da matéria em questão. As cartas, quando consideradas como aceitáveis e pertinentes, serão publicadas com a réplica dos autores. Normas gerais para publicação • Os artigos para publicação deverão ser enviados ao Editor, no endereço apresentado a seguir. • Todos os artigos serão submetidos à avaliação de, pelo menos, dois membros do Corpo Editorial. • Serão aceitos apenas os artigos originais, cuja parte essencial não tenha sido publicada previamente. Os artigos, ou parte deles, submetidos para publicação em Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia não deverão ser submetidos, concomitantemente, a outra publicação científica. Destas restrições, estão excluídas as Sinopses e outras publicações de Congressos e Reuniões Científicas. • Não serão aceitos artigos que não corresponderem totalmente às normas aqui descritas. • Compete ao Corpo Editorial recusar artigos submetidos para publicação e de sugerir ou adotar modificações para melhorar a clareza e a estrutura do texto e manter a uniformidade no estilo da revista. • Os originais dos artigos recusados não serão devolvidos. Os autores serão comunicados por meio de carta. Normas para submeter os artigos para publicação Os autores devem enviar, ao Editor, o seguinte material: Normas para a estrutura dos artigos Sempre que possível, os artigos devem ser estruturados contendo todos os itens relacionados a seguir e paginados na sequência apresentada: 1. Página-título: título do artigo; nome completo de todos os autores; títulos universitários ou profissionais dos autores principais (máximo de dois títulos por autor); nomes das Instituições onde o trabalho foi realizado; título abreviado do artigo, para ser utilizado no rodapé das páginas; nome, endereço completo, e-mail e telefone do autor responsável pelas correspondências com o Editor. 2. Resumo: de forma estruturada, utilizando cerca de 250 palavras, descrevendo objetivo, métodos, principais resultados e conclusões; abaixo do resumo, indicar até seis palavras-chave, com base no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), publicado pela Bireme e disponível em http://decs.bvs.br. 3. Abstract: título do trabalho em inglês; verãos correta do resumo para o inglês; indicar KEY WORDS compatíveis com as palavras-chave, também disponíveis no endereço eletrônico anteriormente mencionado. 4. Texto principal: introdução; casuística ou material e métodos; resultados; discussão; conclusão; agradecimentos. 5. Referências: relacionar em ordem alfabética, pelo sobrenome do primeiro autor e, quando necessário, pelo sobrenome dos autores subsequentes; se existir mais de um artigo do mesmo autor, ou do mesmo grupo de autores, utilizar ordem cronológica crescente; nas referências utilizar o padrão de Vancouver; listar todos os nomes até seis autores, utilizando “et al.” após o sexto; as referências relacionadas devem, obrigatoriamente, ter os respectivos números de chamada indicados de forma sobrescrita, em local apropriado do texto principal; no texto, quando houver citação de nomes de autores, utilizar “e cols.” para mais de dois autores; dados não publicados ou comunicações pessoais devem ser citados, como tal, entre parênteses, no texto e não devem ser relacionados nas referências; utilizar abreviatura adotada pelo Index Medicus para os nomes das revistas; siga os exemplos de formatação das referências (observar, em cada exemplo, a pontuação, a sequência dos dados, o uso de maiúsculas e o espaçamento): Artigo de revista Agner C, Misra M, Dujovny M, Kherli P, Alp MS, Ausman JI. Experiência clínica com oximetria cerebral transcraniana. Arq Bras Neurocir. 1997;16:77-85. Capítulo de livro Peerless SJ, Hernesniemi JA, Drake CG. Surgical management of terminal basilar and posterior cerebral artery aneurysms. In: Schmideck HH, Sweet WH, editors. Operative neurosurgical techniques. 3rd ed. Philadelphia: WB Saunders; 1995. p. 1071-86. Livro considerado como todo (quando não há colaboradores de capítulos) Melzack R. The puzzle of pain. New York: Basic Books Inc Publishers; 1973. Tese e dissertação Pimenta CAM. Aspectos culturais, afetivos e terapêuticos relacionados à dor no câncer. [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 1995. Anais e outras publicações de congressos Corrêa CF. Tratamento da dor oncológica. In: Corrêa CF, Pimenta CAM, Shibata MK, editores. Arquivos do 7º Congresso Brasileiro e Encontro Internacional sobre Dor; 2005 outubro 19-22; São Paulo, Brasil. São Paulo: Segmento Farma. p. 110-20. Artigo disponível em formato eletrônico International Committee of Medial Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Writing and editing for biomedical publication. Updated October 2007. Disponível em http://www.icmje.org. Acessado em 2008 (Jun 12) 6. Endereço para correspondência: colocar, após a última referência, nome e endereço completos do autor que deverá receber as correspondências enviadas pelos leitores. 7. Tabelas e quadros: devem estar numerados em algarismos arábicos na sequência de aparecimento no texto; devem estar editados em espaço duplo, utilizando folhas separadas para cada tabela ou quadro; o título deve ser colocado centrado e acima; notas explicativas e legendas das abreviaturas utilizadas devem ser colocadas abaixo; apresente apenas tabelas e quadros essenciais; tabelas e quadros editados em programas de computador deverão ser incluídos no disquete, em arquivo independente do texto, indicando o nome e a versão do programa utilizado; caso contrário, deverão ser apresentados impressos em papel branco, utilizando tinta preta e com qualidade gráfica adequada. 8. Figuras: enviar duas coleções completas das figuras, soltas em dois envelopes separados; as fotografias devem ter boa qualidade, impressas em papel brilhante, sem margens; letras e setas autoadesivas podem ser aplicadas diretamente sobre as fotografias, quando necessárias, e devem ter tamanho suficiente para que permaneçam legíveis após redução; utilizar filme branco e preto para reproduzir imagens de filmes radiográficos; o nome do autor, o número e a orientação vertical das figuras devem ser indicados no verso delas; os desenhos devem ser apresentados em papel branco, elaborados profissionalmente, em dimensões compatíveis com as páginas da revista (7,5 cm é a largura de uma coluna, 15 cm é a largura da página); figuras elaboradas em computador devem ser incluídas no disquete, no formato JPG ou TIF; a resolução mínima aceitável é de 300 dpi (largura de 7,5 ou 15 cm); os autores deverão arcar com os custos de ilustrações coloridas. 9. Legendas das figuras: numerar as figuras, em algarismos arábicos, na sequência de aparecimento no texto; editar as respectivas legendas, em espaço duplo, utilizando folha separada; identificar, na legenda, a figura e os eventuais símbolos (setas, letras etc.) assinalados; legendas de fotomicrografias devem, obrigatoriamente, conter dados de magnificação e coloração; reprodução de ilustração já publicada deve ser acompanhada da autorização, por escrito, dos autores e dos editores da publicação original e esse fato deve ser assinalado na legenda. 10. Outras informações: provas da edição serão enviadas aos autores, em casos especiais ou quando solicitadas, e, nessas circunstâncias, devem ser devolvidas, no máximo, em cinco dias; exceto para unidades de medida, abreviaturas devem ser evitadas; abreviatura utilizada pela primeira vez no texto principal deve ser expressa entre parênteses e precedida pela forma extensa que vai representar; evite utilizar nomes comerciais de medicamentos; os artigos não poderão apresentar dados ou ilustrações que possam identificar um doente; estudo realizado em seres humanos deve obedecer aos padrões éticos, ter o consentimento dos pacientes e a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição onde foi realizado; os autores serão os únicos responsáveis pelas opiniões e conceitos contidos nos artigos publicados, bem como pela exatidão das referências bibliográficas apresentadas; quando apropriados, ao final do artigo publicado, serão acrescentados comentários sobre a matéria. Esses comentários serão redigidos por alguém indicado pela Junta Editorial. 11. Endereço do Editor: Milton K. Shibata Rua Peixoto Gomide, 515 – cj. 144 01409-001 – São Paulo, SP Telefax: (11) 3287-7241 E-mail: [email protected]; [email protected] Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia Rua Abílio Soares, 233 – cj. 143 – 04005-006 – São Paulo – SP Tels.: (11) 3051-6075/3051-7157/3887-6983 Fax: (11) 3887-8203 Este periódico está catalogado no ISDS sob o no- ISSN – 0103-5355 e indexado na Base de Dados Lilacs. É publicado, trimestralmente, nos meses de março, junho, setembro e dezembro. São interditadas a republicação de trabalhos e a reprodução de ilustrações publicadas em Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia, a não ser quando autorizadas pelo Editor, devendo, nesses casos, ser acompanhadas da indicação de origem. Pedidos de assinaturas ou de anúncios devem ser dirigidos à Secretaria Geral da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Assinatura para o exterior: US$ 35,00. Índice Volume 29 – Número 1 – Março de 2010 1 Editorial Classificação dos periódicos no Sistema QUALIS da CAPES – a mudança dos critérios é URGENTE! 7 Correlação da topografia tumoral e edema peritumoral com a resposta terapêutica à administração intranasal do álcool perílico nos gliomas malignos recidivos Julio Thomé Souza Silva, Raphael Moreira Texeira, Thereza Quirico-Santos, Clovis Orlando da Fonseca 14 Aspectos clínicos e epidemiológicos da cefaleia pós-traumática crônica Rodrigo Antônio Rocha da Cruz Adry, Catarina Couras Lins, Marcio Cesar de Mello Brandão 18 Escrevendo resumos mais informativos Débora Moura da Paixão Oliveira, Carlos Umberto Pereira 25 Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior: revisão crítica da técnica cirúrgica Paulo Henrique Aguiar, José Carlos Esteves Veiga, Adriana Tahara, Gustavo Rassier Isolan 32 Histiocitose de células de Langerhans como causa de mielopatia Relato de caso e revisão de literatura Fábio Teixeira Giovanetti Pontes, Adelmo Ferreira, Adriano Torres Antonucci, Johnathan de Sousa Parreira, Márcio Francisco Lehmann, Natally Marques Santiago, Luiz Henrique Garcia Lopes, Pedro Garcia Lopes, Wander Miguel Tamburus 37 Cavernomas bulbares e ponto-bulbares Discussão sobre dois casos Marcos Augusto Stávale Joaquim, Gustavo Cartaxo Patriota, Andre de Macedo Bianco 40 Cavernomas da medula torácica Considerações e relato de um caso-exemplo Marcos Augusto Stávale Joaquim, Gustavo Cartaxo Patriota, André de Macedo Bianco Contents Volume 29 – Number 1 – March, 2010 1 Editorial Classification of journals in the QUALIS System of CAPES – URGENT need of changing the criteria! 7 Correlation of tumor topography and peritumoral edema with therapeutic response to a new approach for recurrent malignant gliomas, intranasal administration of perillyl alcohol Julio Thomé Souza Silva, Raphael Moreira Texeira, Thereza Quirico-Santos, Clovis Orlando da Fonseca 14 Clinical and epidemiological aspects of chronic post-traumatic headache Rodrigo Antônio Rocha da Cruz Adry, Catarina Couras Lins, Marcio Cesar de Mello Brandão 18 Writing more informative abstracts Débora Moura da Paixão Oliveira, Carlos Umberto Pereira 25 Critical review of surgical techniques for posterior inferior cerebellar aneurysms Paulo Henrique Aguiar, José Carlos Esteves Veiga, Adriana Tahara, Gustavo Rassier Isolan 32 Langerhans-cells histiocytosis as a cause of myelopathy Case report and literature review Fábio Teixeira Giovanetti Pontes, Adelmo Ferreira, Adriano Torres Antonucci, Johnathan de Sousa Parreira, Márcio Francisco Lehmann, Natally Marques Santiago, Luiz Henrique Garcia Lopes, Pedro Garcia Lopes, Wander Miguel Tamburus 37 Surgery of medullary and pontomedullary cavernomas Discussion on two cases Marcos Augusto Stávale Joaquim, Gustavo Cartaxo Patriota, Andre de Macedo Bianco 40 Considerations on thoracic spinal cord cavernomas and case report Marcos Augusto Stávale Joaquim, Gustavo Cartaxo Patriota, André de Macedo Bianco Arq Bras Neurocir 29(1): 1-6, março de 2010 Editorial Classificação dos periódicos no Sistema QUALIS da CAPES – a mudança dos critérios é URGENTE! A Associação Médica Brasileira (AMB) preocupada com o futuro das publicações científicas brasileiras, depois da divulgação dos novos critérios QUALIS da CAPES, organizou uma série de encontros em sua sede em São Paulo. Os Editores das principais revistas médicas do país, diretores da ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos) e os coordenadores das áreas de Medicina II e Medicina III da CAPES trocaram informações e, acima de tudo, elaboraram propostas para aprimorar o processo de avaliação dos periódicos científicos brasileiros pelo novo sistema QUALIS da CAPES. A produção científica classificada pelo QUALIS constituirá um dos itens principais da avaliação dos programas de pós-graduação no último triênio. Considerando que a principal fonte de artigos científicos para as revistas brasileiras são provenientes dos programas de pós-graduação vinculados à CAPES, era muito importante afinar o discurso e garantir uma linguagem comum para todas as partes envolvidas. Do lado dos Editores há receio de que os novos critérios da CAPES possam criar uma subclasse de periódicos baseado exclusivamente no Fator de Impacto ISI. O critério anterior indicava, como ponto de corte, fator de impacto igual a 1. Recentemente, algumas revistas brasileiras conseguiram, com enormes esforços, atingir este patamar. Entretanto, os novos critérios além de considerarem apenas o fator de impacto, estabeleceram pontos de corte bem mais elevados. Adotando-se esta medida, as revistas brasileiras passariam a ser preteridas pelos orientadores e alunos de pós-graduação – os grandes produtores da ciência brasileira – criando-se assim um círculo vicioso ao qual seria difícil a sobrevivência dos nossos periódicos. Pelo lado da CAPES, falou o Professor João Pereira Leite, que além de coordenador da área de Medicina II, é também o atual representante da área de saúde no CTC - Conselho Técnico Científico - órgão máximo da CAPES. Este, durante uma de nossas reuniões, fez detalhada explanação sobre os critérios adotados nos triênios anteriores e o impacto dos mesmos sobre os Programas de pós-graduação do Brasil. Explicou ainda que, frente à evidente melhoria do nível dos programas era preciso elevar o ponto de corte ou de separação para melhor discriminá-los e estratificá-los qualitativamente. A partir dos dados provenientes dos programas - colhidos pelo sistema coleta CAPES - foi observado que muitos tinham mais de 50% - alguns mais de 80% - de sua produção científica publicada em periódicos dos estratos mais elevados. A CAPES por sua vez decidiu pela criação de um número maior de estratos para poder reclassificar os periódicos. Foi proposta uma escala decrescente segundo o valor do fator de impacto: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Além disso, criou um fator de equivalência segundo o qual, a soma de publicações em revistas de estratos inferiores seria equivalente a um número menor de publicações dos estratos superiores. Assim, por exemplo, para uma determinada área, 2 artigos B1 equivaleriam a 1,2 artigo A1; 1 artigo B1 + 1 artigo A2 equivaleriam a 1,4 artigo A1; 3 artigos B2 equivalem a 1,2 A1. Segundo o professor João Leite “Essa equivalência beneficiaria as revistas com diferentes níveis de qualificação”. O professor Leite informou ainda que a nova classificação foi elaborada com base na mediana do fator de impacto das revistas, obtidas junto ao Journal Citation Reports (JCR) e calculados anualmente pelo ISI Web of Knowledge. Para o cálculo da mediana foi elaborada uma lista das revistas em que cada área da CAPES publica. De posse desta lista, bem como dos respectivos fatores de impacto, foi calculada a mediana para cada área e construída a nova estratificação que varia entre A1, A2, B1 até B5 e C. Os Editores contrargumentaram o professor Leite lembrando que a característica trienal do processo de avaliação CAPES conferiria um relativo descompasso para a reclassificação dos periódicos, a saber: várias revistas brasileiras terão seu fator de impacto aumentado ou publicado pela primeira vez ao longo de 2010, em especial as que acabaram de entrar para o ISI. Além Arq Bras Neurocir 29(1): 1-6, março de 2010 disso, teriam que esperar três anos para mudar de categoria dentro do novo QUALIS! Outro questionamento dos Editores diz respeito à escolha do fator de impacto publicado pelo Journal Citation Reports (JCR) como ÚNICO e universal índice para aferição da qualidade dos periódicos. É grande o desvio-padrão dos valores dos fatores de impacto das revistas. Certamente por isso a CAPES utilizou a mediana destes índices para analisar o comportamento da produção dos Programas de pós-graduação. De fato, segundo este critério, algumas especialidades médicas, como as cirúrgicas, têm suas melhores revistas com fator de impacto mais baixo, o que poderia implicar um viés que lhes seria extremamente desfavorável. Os dois lados concordaram que a valorização dos periódicos brasileiros é importante para o crescimento e desenvolvimento científico nacional. Para garantir e estimular este círculo virtuoso é preciso, entre outros, estimular e fomentar a citação de artigos de autores nacionais, intensificar os esforços de Editores, revisores e autores dos periódicos para aumentar a qualidade dos artigos e, por outro lado, obter maior apoio dos órgãos governamentais, principalmente da CAPES e do CNPq, no que diz respeito, respectivamente, à administração de recursos financeiros e à estratificação qualitativa. Os resultados destas discussões foram apresentados em diversos encontros de Editores, coordenadores de Programas de pós-graduação e pesquisadores sendo complementados por novas sugestões. Que estas ideias, abaixo descritas, sirvam de conclusão para este editorial e que representem, ao mesmo tempo, uma ferramenta importante para a mudança dos critérios de classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES por parte dos organismos responsáveis. As propostas são as seguintes: • A análise qualitativa dos periódicos brasileiros deve ser reavaliada e não envolver somente o Fator de Impacto publicado pelo Journal Citation Reports (JCR); • Devem ser consideradas e respeitadas as particularidades de cada área de interesse ou de cada especialidade; • O parque editorial brasileiro, diferente do restante do mundo que é mantido basicamente pela iniciativa privada, é mantido à custa de Universidades públicas e privadas e associações científicas de classe; • Os periódicos brasileiros necessitam de maior apoio e incentivo, que poderão vir na forma de: Bolsa para Editores, apoio financeiro à publicação, maior visibilidade para os periódicos nacionais no exterior, critérios mais objetivos e abrangentes para classificação qualitativa, e apoio diferenciado e correspondente ao desempenho de cada revista; • Apoio à internacionalização dos periódicos científicos por meio de suporte para profissionalização do processo editorial e divulgação das revistas em outros países; • Atualização contínua da classificação dos periódicos junto ao novo QUALIS sem precisar esperar pelo prazo da avaliação trienal; • Participação de representantes de classe (ABEC, AMB, entre outros) no processo decisório junto ao sistema QUALIS da CAPES; • Estímulo vigoroso à citação diretamente na fonte que são os programas de pós-gradua ção (por exemplo, determinando que Programas de PG notas 6 e 7, além de deverem obrigatoriamente ter uma porcentagem de publicações em revista de alto impacto, devam ter também cotas percentuais de publicações em periódicos nacionais. Com isto estarão contemplados os dois extremos da produção científica, pois os jovens e futuros pesquisadores iniciam sua carreira publicando em periódicos nacionais sob orientação de pesquisadores experientes. Por fim, para corroborar todas estas ações e preocupada com o desenrolar das repercussões do novo QUALIS da CAPES e outras avaliações de periódicos, a ABEC (Associação Brasileira dos Editores Científicos) dedicou em seu último Encontro Nacional de Editores Científicos, realizado em novembro de 2009, três dias ao Fórum de áreas. Neste, representantes da CAPES e Editores de todas as áreas do conhecimento científico discutiram longamente o assunto e ao final propuseram as Diretrizes do Fórum de Áreas do XII Encontro Nacional dos Editores Científicos – 2009, que serão oportunamente enviadas a todas as agências brasileiras de fomento, e que deverão ocorrer periodicamente, pois o processo é contínuo. 2 Editorial Arq Bras Neurocir 29(1): 1-6, março de 2010 Assinam este Editorial: Editorial Adagmar Andriolo Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial Aécio Flávio Meireles Souza Revista GED Alberto Queiroz Farias Revista Arquivos de Gastroenterologia Alfredo José Afonso Barbosa Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial Antonio Spina França Netto Revista ARQUIVOS DE NEURO-PSIQUIATRIA Arnaldo José Hernandez Revista Brasileira de Medicina do Esporte Aroldo F. Camargos Revista Femina Benedito Barraviera Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases Bogdana Victoria Kadunc Surgical & Cosmetic Dermatology da Soc. Brasileira de Dermatologia Bruno Caramelli Revista da Associação Médica Brasileira Carlos Eduardo Aguilera Campos Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade Carlos Brites Brazilian Journal of Infectious Diseases Dejair Caitano do Nascimento Hansenologia Internationalis Domingo M. Braile Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular Dov Charles Goldenberg Revista Brasileira de Cirurgia Plástica Edmund Chada Baracat Revista da Associação Médica Brasileira Edna T. Kimura Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia Edson Marchiori Revista Radiologia Brasileira Eduardo de Paula Vieira Revista Brasileira de Coloproctologia Eros Antônio de Almeida Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica Geraldo Pereira Jotz Revista Brasileira de Cirurgia Cabeça e Pescoço Gilberto Camanho Revista Brasileira de Ortopedia Gilberto Friedman Revista Brasileira de Terapia Intensiva Giovanni Guido Cerri Radiologia Brasileira Ivomar Gomes Duarte Revista de Administração em Saúde Izelda Maria Carvalho Costa Anais Brasileiros de Dermatologia João Ferreira de Mello Júnior Brazilian Journal of Otorhinolaryngology Joel Faintuch Revista Brasileira de Nutrição Clínica José Antônio Baddini Martinez Jornal Brasileiro de Pneumologia José Antonio Livramento Revista Arquivos de Neuropsiquiatria José Eduardo Ferreira Manso Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões José Luiz Gomes do Amaral Revista da Associação Médica Brasileira Linamara Rizzo Battistella Revista Acta Fisiátrica Luís dos Ramos Machado Revista Arquivos de Neuropsiquiatria Luiz Felipe P. Moreira Arquivos Brasileiros de Cardiologia Luiz Henrique Gebrim Revista Brasileira de Mastologia Marcelo Madeira Revista Brasileira de Mastologia Marcelo Riberto Revista Acta Fisiátrica Marcus Bastos Jornal Brasileiro de Nefrologia Mário Cícero Falcão Revista Brasileira de Nutrição Clínica Mario J. da Conceição Revista da Sociedade Brasileira de Anestesiologia Mauricio Rocha e Silva Revista Clinics Milton Artur Ruiz Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia Milton K. Shibata Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia Mittermayer Barreto Santiago Revista Brasileira de Reumatologia Nelson Adami Andreollo Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva Osvaldo Malafaia Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva Regina Helena Garcia Martins Brazilian Journal of Otorhinolaryngology Renato Soibelmann Procianoy Jornal de Pediatria Ricardo Baroudi Revista Brasileira de Cirurgia Plástica Ricardo Fuller Revista Brasileira de Reumatologia Ricardo Guilherme Viebig Arquivos de Gastroenterologia Ricardo Nitrini Dementia & Neuropsychologia Rita Cristina Mainieri R. de Moura Revista da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego Rogério Dedivitis Revista Brasileira de Cirurgia Cabeça e Pescoço Ronaldo Damião Urologia Contemporânea Sergio Lianza Revista Medicina de Reabilitação Sigmar de Mello Rode Brazilian Oral Research Winston Bonetti Yoshida Jornal Vascular Brasileiro Zuher Handar Revista Brasileira de Medicina do Trabalho 3 Arq Bras Neurocir 29(1): 1-6, março de 2010 Editorial Classification of journals in the QUALIS System of CAPES – URGENT need of changing the criteria! Due to its concern about the future of Brazilian scientific journals after new criteria were adopted by the QUALIS system of CAPES (Brazilian Federal Agency for the Improvement of Higher Education), the Brazilian Medical Association (Associação Médica Brasileira - AMB) has held several meetings at its headquarters in São Paulo to discuss this matter. Editors of the main Brazilian medical journals, directors of the Brazilian Association of Scientific Editors (Associação Brasileira de Editores Científicos – ABEC), and coordinators of the areas Medicine II and Medicine III of CAPES exchanged information and came out with proposals aimed at improving the evaluation process of Brazilian scientific journals by the new QUALIS system of CAPES. The classification of the scientific production according to the QUALIS system will be one of the main items of the three-year evaluation of graduate programs. Since most scientific articles published in Brazilian journals are produced within graduate programs supported by CAPES, it was very important to fine tune the speech and make sure that all the parties involved speak the same language. The editors of scientific journals are afraid that the new criteria adopted by CAPES may create a subgroup of journals exclusively based on the ISI Impact Factor. The previous criterion recommended an impact factor of 1 as a cutoff point. Recently, some Brazilian journals have achieved this goal after putting a great load of effort into it. However, in addition to considering only the impact factor, the new criteria established much higher cutoff points. If this measure is adopted, Brazilian journals will be despised by graduate academic advisors and students – who are the main producers of science in Brazil – thus creating a vicious cycle within which Brazilian journals will hardly survive. Professor João Pereira Leite spoke on behalf of CAPES. In addition to being the coordinator of the area Medicine II, he is also the current representative of the health area in the Technical Scientific Council, which is the main department of CAPES. During one of the meetings, professor Leite provided a detailed explanation about the criteria adopted for three-year evaluation and their impact on Brazilian graduate programs. He also explained that, in face of the evident improvement of the quality of graduate programs, it was necessary to increase the cutoff point or the separation point in order to better differentiate these programs and classify them in terms of their quality level. Based on data from the graduate programs – collected using the data collection system of CAPES – it was found that many programs had more than 50% (some of them even had 80%) of their scientific production published in journals classified at higher levels of the classification scale. On its turn, CAPES decided to create a larger number of levels with the purpose of reclassifying the Brazilian journals. A decreasing scale based on the impact factor has been suggested: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, and C. In addition, CAPES also created an equivalence factor according to which the number of articles published in journals belonging to the lower levels of the scale would be equivalent to a smaller number of articles published in journals belonging to the higher levels of the classification scale. Therefore, for example, for a certain area, 2 articles B1 would be equivalent to 1.2 article A1; 1 article B1 + 1 article A2 would be equivalent to 1.4 article A1; 3 articles B2 would be equivalent to 1.2 article A1. According to professor Leite: “Such equivalence would bring benefits for journals with different qualification levels.” Professor Leite also informed that the new classification system was designed based on the median of the journals’ impact factor provided by the Journal Citation Reports (JCR) and calculated every year by the ISI Web of Knowledge. A list of journals including each area of CAPES was made to calculate the median. The median for each area was based on this list and on the respective impact factors; then, a new classification system ranging from A1 to C was created. Arq Bras Neurocir 29(1): 1-6, março de 2010 The editors reminded professor Leite that the three-year evaluation process of CAPES would cause a relative disagreement for the reclassification of the journals, since several Brazilian journals will have their impact factor increased or published for the first time during 2010, mainly those that have just been indexed in the ISI. In addition, these journals would have to wait for three years to change their classification in the new QUALIS! Another aspect that was questioned by the editors is related to the choice of the impact factor published by the JCR as the ONLY and universal index to assess the quality of the journals. There is a high standard deviation in the impact factors of different journals. Certainly, that is the reason why CAPES used the median of these indexes to analyze the scientific production of graduate programs. Actually, according to this criterion, some medical specialties, such as those related to surgery, have their best journals with a lower impact factor, which might result in a bias that could be extremely unfavorable for them. Both the editors and CAPES agree that valuing the Brazilian journals is important for the Brazilian scientific growth and development. With the purpose of keeping and stimulating this virtuous cycle, it is necessary to promote and foster the citation of articles published by Brazilian authors, intensify the efforts of editors, reviewers and authors to increase the quality of the articles and, on the other hand, make sure that the governmental agencies, especially CAPES and CNPq, provide support for the management of the financial resources and qualitative classification of the journals. The results of these discussions were presented in several meetings attended by editors, coordinators of graduate programs and researchers, and new suggestions were made. The ideas described below will be used as the conclusion of this editorial and, at the same time, we hope that they serve as an important tool to convince the agencies to change the criteria of journal classification in the QUALIS system of CAPES. Our suggestions are as follows: • The qualitative analysis of the Brazilian journals should be reassessed and it should not include only the Impact Factor published by the JCR; • The specific characteristics of each area of interest or each specialty should be taken into consideration and respected; • The Brazilian publishing industry, in contrast with what happens in other countries where it is financed by private investors, is financially supported by public and private universities and scientific associations; • Brazilian journals need to receive more support and stimuli, which may be provided as: financial remuneration for editors, financial support for journals, greater visibility for national journals abroad, more objective and encompassing criteria for the qualitative classification, and support based on the performance of each journal; • Support for the internationalization of scientific journals by fostering the professionalization of the editorial process and promotion of the journals in other countries; • Continuous update of the journal classification system within the new QUALIS with no need to wait for the three-year period of assessment; • Participation of scientific associations (ABEC, AMB, among others) in the decisionmaking process regarding the QUALIS system of CAPES; • Strong stimulation of citations directly in the source of scientific production, that is, graduate programs (for instance, recommending that graduate programs classified as 6 or 7, in addition to being required to have a percentage of articles published in journals with high impact factor, should also have a percentage of articles published in Brazilian journals. This measure includes both ends of the scientific production, since young and future researchers begin their careers publishing in national journals under the supervision of experienced researchers. In conclusion, to show its agreement with all these measures and its concern with the consequences of the new QUALIS of CAPES and other evaluation procedures of journals, ABEC devoted three days to the forum of the areas during its last National Meeting of Scientific Editors, which was held in November 2009. During this meeting, members of the staff of CAPES and editors of all the areas of scientific knowledge held long discussions on this topic and came up with the suggestion of the Forum of the Areas Guidelines of the 12th National Meeting of Scientific Editors – 2009, which will be timely sent to all the Brazilian sponsoring agencies, which should be done periodically because this is a continuous process. Editorial 5 Arq Bras Neurocir 29(1): 1-6, março de 2010 The following editors approved this editorial: 6 Adagmar Andriolo Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial Aécio Flávio Meireles Souza Revista GED Alberto Queiroz Farias Revista Arquivos de Gastroenterologia Alfredo José Afonso Barbosa Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial Antonio Spina França Netto Revista ARQUIVOS DE NEURO-PSIQUIATRIA Arnaldo José Hernandez Revista Brasileira de Medicina do Esporte Aroldo F. Camargos Revista Femina Benedito Barraviera Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases Bogdana Victoria Kadunc Surgical & Cosmetic Dermatology da Soc. Brasileira de Dermatologia Bruno Caramelli Revista da Associação Médica Brasileira Carlos Eduardo Aguilera Campos Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade Carlos Brites Brazilian Journal of Infectious Diseases Dejair Caitano do Nascimento Hansenologia Internationalis Domingo M. Braile Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular Dov Charles Goldenberg Revista Brasileira de Cirurgia Plástica Edmund Chada Baracat Revista da Associação Médica Brasileira Edna T Kimura Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia Edson Marchiori Revista Radiologia Brasileira Eduardo de Paula Vieira Revista Brasileira de Coloproctologia Eros Antônio de Almeida Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica Geraldo Pereira Jotz Revista Brasileira de Cirurgia Cabeça e Pescoço Gilberto Camanho Revista Brasileira de Ortopedia Gilberto Friedman Revista Brasileira de Terapia Intensiva Giovanni Guido Cerri Radiologia Brasileira Ivomar Gomes Duarte Revista de Administração em Saúde Izelda Maria Carvalho Costa Anais Brasileiros de Dermatologia João Ferreira de Mello Júnior Brazilian Journal of Otorhinolaryngology Joel Faintuch Revista Brasileira de Nutrição Clínica José Antônio Baddini Martinez Jornal Brasileiro de Pneumologia José Antonio Livramento Revista Arquivos de Neuropsiquiatria José Eduardo Ferreira Manso Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões José Luiz Gomes do Amaral Revista da Associação Médica Brasileira Linamara Rizzo Battistella Revista Acta Fisiátrica Luís dos Ramos Machado Revista Arquivos de Neuropsiquiatria Luiz Felipe P. Moreira Arquivos Brasileiros de Cardiologia Luiz Henrique Gebrim Revista Brasileira de Mastologia Marcelo Madeira Revista Brasileira de Mastologia Marcelo Riberto Revista Acta Fisiátrica Marcus Bastos Jornal Brasileiro de Nefrologia Mário Cícero Falcão Revista Brasileira de Nutrição Clínica Mario J. da Conceição Revista da Sociedade Brasileira de Anestesiologia Mauricio Rocha e Silva Revista Clinics Milton Artur Ruiz Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia Milton K. Shibata Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia Mittermayer Barreto Santiago Revista Brasileira de Reumatologia Nelson Adami Andreollo Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva Osvaldo Malafaia Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva Regina Helena Garcia Martins Brazilian Journal of Otorhinolaryngology Renato Soibelmann Procianoy Jornal de Pediatria Ricardo Baroudi Revista Brasileira de Cirurgia Plástica Ricardo Fuller Revista Brasileira de Reumatologia Ricardo Guilherme Viebig Arquivos de Gastroenterologia Ricardo Nitrini Dementia & Neuropsychologia Rita Cristina Mainieri R. de Moura Revista da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego Rogério Dedivitis Revista Brasileira de Cirurgia Cabeça e Pescoço Ronaldo Damião Urologia Contemporânea Sergio Lianza Revista Medicina de Reabilitação Sigmar de Mello Rode Brazilian Oral Research Winston Bonetti Yoshida Jornal Vascular Brasileiro Zuher Handar Revista Brasileira de Medicina do Trabalho Editorial Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 Correlação da topografia tumoral e edema peritumoral com a resposta terapêutica à administração intranasal do álcool perílico nos gliomas malignos recidivos Julio Thomé Souza Silva1, Raphael Moreira Texeira2, Thereza Quirico-Santos3, Clovis Orlando da Fonseca4 Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, RJ, Brasil RESUMO Objetivo: Avaliar a correlação da topografia tumoral e edema peritumoral com a resposta terapêutica à administração intranasal do álcool perílico (AP) em uma coorte de pacientes com gliomas malignos recidivos. Métodos: Os autores revisaram retrospectivamente 67 pacientes com gliomas malignos recidivos que receberam administração intranasal de 440 mg de AP diariamente. Parâmetros avaliados incluíram aspectos clínicos e os de neuroimagem. Avaliação clínica incluiu dados demográficos, sintomas iniciais e sobrevida global. Dados de imagem incluíram topografia tumoral, volume tumoral, presença de desvio da linha média e extensão de edema peritumoral. Análise bioestatística foi realizada usando testes log rank. Sobrevida global foi medida e analisada pelo método de Kaplan Meier, incluindo intervalos de confiança de 95%. Resultados: Um total de 67 pacientes foi investigado, 52 (77,6%) com glioblastoma (GBM), 10 (14,9%) com astrocitoma anaplásico (AA) e 5 (7,4%) com oligodendrioglioma anaplásico (OA). Todos os cinco pacientes com OA apresentaram tumor de localização lobar. Nos AA, oito casos estavam localizados em região talâmica e dois em região lobar, enquanto que, nos GBM, 11 casos de localização talâmica e 41 lobares. A relação volume tumoral e edema peritumoral foi observada. Pacientes com regressão tumoral e edema peritumoral apresentaram resposta positiva enquanto que aqueles com regressão tumoral sem regressão do edema peritumoral não apresentaram boa evolução clínica. Pacientes com gliomas profundos sobreviveram significativamente mais tempo do que aqueles com gliomas lobares (log rank test, p = 0,0003). Presença de desvio da linha média (> 1 cm) foi estatisticamente significante como fator de risco para a sobrevida mais curta (log rank test, p = 0,0062). Conclusões: Este estudo sugere que: (1) pacientes com gliomas recidivos de localização profunda, estatisticamente, sobreviveram mais do que aqueles com tumores de localização lobar; (2) edema peritumoral é determinante na sintomatologia, provavelmente implicado na morbidade e pode estar relacionado com a característica invasiva dos gliomas malignos. Esses achados corroboram a teoria de que a interação entre as células dos gliomas e diferentes microambientes cerebral pode influenciar a fisiopatologia tumoral, resultando no desequilíbrio da homeostase tecidual e contribuindo para a piora do prognóstico. PALAVRA-CHAVE Gliomas. Administração intranasal, Álcool perílico. ABSTRACT Correlation of tumor topography and peritumoral edema with therapeutic response to a new approach for recurrent malignant gliomas, intranasal administration of perillyl alcohol Objective: To evaluate the correlation of tumor topography and peritumoral brain edema with the therapeutic response of intranasal administration of perillyl alcohol (POH) in a cohort of patients with recurrent malignant gliomas. Methods: We retrospectively reviewed 67 consecutive patients with recurrent malignant gliomas who received administration intranasal of POH 440 mg daily. The parameters evaluated were clinical features and the neuroimaging findings. Clinical data included demographics, initial symptoms, and overall survival. Imaging analysis included tumor topography, tumor size, presence of midline shift and extent of peritumoral edema. Biostatistics was carried out using log rank tests. Overall survival was measure and analyzed by Kaplan Meier method including 95% confidence intervals. A total of 67 patients were investigated, 52 (77.6%) with glioblastoma (GBM), 10 (14.9%) with anaplastic astrocytoma (AA) and 5 (7.4%) with anaplastic oligodendroglioma (AO). All five AO had lobar localization, AA were lobar in 8 cases and deep 1 Mestrando do curso de pós-graduação de Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 2 Graduando da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 3 Professora titular do Departamento de Biologia Celular e Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 4 Professor associado do Serviço de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 in 2 cases, whereas GBM were lobar in 41 cases and deep in 11 cases. Results: A relationship between the tumor size and the volume of peritumoral brain edema (PTBE) was observed. Patients with regression of the tumor and PTBE had positive response whereas those with regression of the tumor without PTBE regression had poor prognosis. Patients with deep tumors survived significantly longer than those with lobar gliomas (log rank test, p=0.0003). Presence of midline shift (> 1 cm) was a statistically significant risk factor for shorter survival (log rank test, p=0.0062). Conclusions: This study suggests that: 1) patients with deep localization in recurrent gliomas may survive significantly longer than those with tumors in a lobar localization; 2) presence of PTBE contributes strongly to symptoms, likely implicated in the morbidity and may be related to the invading potential of malignant gliomas. These findings may corroborate the theory of that interaction between glioma cells and different brain microenvironment can influence glioma pathobiology, resulting in the disruption of tissue homeostasis contributing to its poor prognosis. KEY WORDS Gliomas. Intranasal administration. Perillyl alcohol. Introdução Tumores astrocíticos dividem-se em duas classes distintas de acordo com a interação com o microambiente cerebral: localizados e difusos.1 Os astrocitomas localizados têm um padrão de crescimento circunscrito e limitado potencial invasivo, diferentemente dos astrocitomas difusos, que são caracterizados por uma elevada capacidade infiltrativa.3 Gliomas malignos, o subtipo mais comum de tumores primários cerebrais, são agressivos, altamente invasivos e contêm células neoplásicas e tecido estromal, o que contribui para sua heterogeneidade histológica.17 O crescimento da massa tumoral promove forte manifestação gliótica dos astrócitos normais que circundam o tumor – gliose reativa –, extinguindo um limite distinto do tumor a partir de tecido normal adjacente. Os exames de neuroimagem podem visualizar áreas com alto percentual de células tumorais e intensa neuroangiogênese, mas não áreas com baixa densidade de invasão de células tumorais.18 Portanto um dos impedimentos para o tratamento dos gliomas malignos tem sido o grau com que se expandem, infiltrando tecido circundante e ambiente peritumoral, tornando ineficaz a ressecção, a radioterapia, a quimioterapia ou a terapia genética.16 Autores usando modelo biomatemático de proliferação e migração dos gliomas hipotetisaram que o crescimento desses tumores na substância cinzenta profunda cerebral teria um intervalo de tempo maior comparado ao de lesões situadas na substância branca lobar, onde a invasão e a migração seriam mais rápidas.10,23 Células gliais transformadas que se caracterizam por processos de proliferação e neoangiogênese preferencialmente invadem estruturas anatômicas, como axônios mielinizados, membrana basal vascular e subepêndima, interagindo especificamente com seu microambiente.14 Essas interações também podem desempenhar um papel na sobrevivência do paciente: pacientes com glioblas8 toma multiforme localizado na substância cinzenta profunda sobrevivem estatisticamente por mais tempo do que pacientes com glioma lobar, independentemente do volume do tumor.21 Tem-se teorizado que essa diferença de sobrevida reflete a capacidade diferencial de invasão de células de gliomas que estão localizadas em diferentes microambientes. Portanto, em razão da eloquência biológica da massa cinzenta profunda do cérebro (tálamo e núcleos da base), pode-se esperar que gliomas profundos apresentem manifestações clínicas mais precoces.21 Edema peritumoral é determinante na sintomatologia causada pelos gliomas de alto grau caracterizando-se por extensa infiltração de células tumorais.24 Causa adicional efeito de massa, resultando em aumento da pressão intracraniana, acarretando déficits neurológicos por causa da desregulação da homeostase tecidual e da redução do fluxo sanguíneo cerebral. Por haver correlação positiva entre a presença de edema peritumoral com menor sobrevida e alta recidiva em pacientes portadores de gliomas malignos, é razoável considerar a presença de edema como um fator adicional a ser levado em conta ao traçar estratégias para o tratamento desses tumores.12 Embora a introdução de corticosteroides tenha simplificado o tratamento de pacientes com tumores iniciais, seu uso de forma prolongada é um problema crucial no contexto de gliomas malignos recidivos associados a edema, em razão de efeitos colaterais marcantes. Portanto, estudos que visam ao entendimento do processo evolutivo do edema peritumoral com ajuda da metodologia molecular tornam-se necessários; por exemplo, pesquisa mostra que a inibição do receptor do fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) pode ser uma via para estabelecer estratégia terapêutica para a resolução do edema peritumoral.25 Em nossos estudos clínicos4-7 estamos observando que a localização dos gliomas e a presença de edema peritumoral são fatores determinantes de sobrevida e recidiva tumoral. Topografia tumoral e edema peritumoral e a resposta terapêutica à administração do álcool perílico Silva JTS e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 O presente estudo objetiva investigar a correlação da resposta terapêutica do álcool perílico (AP) intranasal com a topografia tumoral e o edema peritumoral em uma série clínica de pacientes adultos com gliomas recidivos. Em virtude da compreensão das etapas de proliferação e migração serem importantes para buscar diretrizes específicas para procedimentos terapêuticos, procuramos discutir a influência do microssistema, ou seja, do estroma tumoral para a progressão e a invasão dos gliomas malignos. Pacientes e métodos A coorte foi composta de 67 pacientes com gliomas malignos recidivos, após terapia convencional, sendo 52 (77,6%) com glioblastoma multiforme (GBM), 10 (14,9%) com astrocitoma anaplásico (AA) e 5 (7,4%) com oligodendroglioma anaplásico (OA). O projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), com registro número Conep 9681 nº 25000.009267/2004-25, aprovado em julho de 2004. Critérios para inclusão Foram incluídos pacientes com glioma maligno recidivo com idade entre 20 e 70 anos e escore Karnofisky ≥ 70, independentemente de gênero, etnia e tempo de recidiva do tumor. Como critérios de elegibilidade foram considerados: paciente ter sido submetido a tratamento prévio convencional específico para este tipo de tumor (ablação cirúrgica do tumor, radioterapia e/ou quimioterapia); os valores basais dos exames de rotina, bioquímica do sangue e hematológicos; a avaliação cardiológica (ritmo cardíaco sinusal); avaliação de imagem pulmonar (ausência de lesão parenquimatosa). Os critérios de inclusão foram seguidos de modo rigoroso. Critérios de inelegibilidade Não foram incluídos: pacientes com doença maligna sistêmica; mulheres grávidas ou amamentando; tratamento prévio com qualquer droga experimental nos últimos 90 dias; tratamento concomitante com droga experimental; metástase a distância; alteração nas provas de função hematológica, renal, cardiovascular ou hepática; infecção em atividade; presença de doença concomitante sem controle clínico adequado, que possa interferir na participação do estudo; infarto do miocárdio há menos de seis meses. Métodos Os parâmetros avaliados incluíram as características clínicas e os achados em neuroimagens. Os sintomas iniciais de cada paciente foram relacionados com a localização do tumor no sistema nervoso central e com apresentação clínica. As variáveis clínicas foram: histologia (OA, AA ou GBM), tratamento prévio (biópsia ou excisão cirúrgica, radioterapia ou quimioterapia) e sobrevida global após a recidiva. Nas imagens de tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), o local (lobar ou profundo) e o tamanho (em cm2) foram registrados. Além disso, a extensão do edema peritumoral e os efeitos de massa-desvio da linha média (todos em cm) foram avaliados no início e no decorrer do tratamento com a administração intranasal do AP. Tumores lobares foram definidos como qualquer lesão tumoral, que não envolvem os gânglios basais. Todos os tumores limitados aos gânglios da base ou envolvendo-os foram classificados como lesões de substância cinzenta profunda. O tamanho do tumor foi mensurado em reforço de contraste-axial usando a escala dos maiores diâmetros perpendiculares da lesão. O tamanho do edema peritumoral foi medido nos mesmos cortes axiais utilizados para medições do tamanho do tumor, subtraindo o tumor do diâmetro do edema. A comparação foi mantida constante com o mesmo tipo de imagem axial (TC ou ressonância magnética). Análise bioestatística foi realizada utilizando curvas de Kaplan Meier, log rank e modelos de regressão Cox multivariada. A associação das variáveis categóricas com a sobrevida foi avaliada utilizando curvas de Kaplan Meier e teste log rank, e o significado das variáveis contínuas foi avaliado utilizando modelos de regressão Cox univariada. As variáveis que foram associadas com a sobrevida em análise univariada (p = 0,3) foram consideradas potenciais para inclusão no modelo multivariado. Resultados Os pacientes incluídos no estudo foram assim distribuídos: total de 67 pacientes, 40 homens e 37 mulheres, com idade variando de 28 a 69 anos; 52 pacientes com GBM, 10 com AA e 5 pacientes com OA. Todos os pacientes foram tratados previamente com cirurgia, radioterapia e quimioterapia. A distribuição das queixas iniciais (múltiplos sintomas possíveis) nos tumores iniciais está apresentada no gráfico 1. As demais características estudadas estão apresentadas na tabela 1. Topografia tumoral e edema peritumoral e a resposta terapêutica à administração do álcool perílico Silva JTS e col. 9 Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 Sonolência Alteração de comportamento Déficit de linguagem e cognição 2 Tonteiras Esquecimento Distúrbio visual Confusão mental Náuseas e vômitos Crise convulsiva Déficit neurológico focal 0 2 4 6 8 10 Cefaleia 12 16 14 Gráfico 1 – Sintomas apresentados em pacientes portadores de gliomas malignos em porcentagem. GBM AA OA 52 10 5 50 38-62 52,5 41-64 48.9 28-72 Gênero Homens Mulheres 31 21 6 4 3 2 Sítio primário do tumor Lobo frontal Lobo temporal Lobo perietal Lobo occipital Cerebelo 21 16 11 4 0 3 3 3 1 0 3 1 1 0 0 53,57% 25% 48,57% 10,71% 14,28% 7,14% 55,27% 22% 49,43% 13,11% 9,15% 8,64% 49% 65% 8% 12,46% 36% 7% Tratamento de tumor inicial Ablação cirúrgica Biópsia Radioterapia Quimioterapia 78% 22% 100% 100% 77% 23% 100% 100% 100% 0% 100% 100% Sobrevida livre de progressão (6° mês) 48,2% 60% 66,6% Edema no tumor inicial (RM) Ausente < 5 cm > 5 cm 5 (9,6%) 24 (46,2%) 28 (53,8%) 1 (10%) 7 (70%) 2 (20%) 3 (60%) 2 (40%) 0 Edema no tumor recidivo (RM) < 5 cm > 5 cm 19 (36,5%) 33 (63,4%) 6 (60%) 4 (40%) 5 (100%) 0 Total e pacientes Idade Média Limite Sintomas iniciais predominantes Cefaleia Crise convulsiva Déficit neurológico focal Déficit temporário de memória Confusão mental Alteração de comportamento Desvio de linha média no tumor inicial (RM) Ausente < 1 cm > 1 cm 8 (15,3%) 19 (36,5%) 25 (48,7%) 2 (20%) 6 (60%) 2 (20%) 3 (60%) 2 (40%) 0 Desvio de linha média no tumor recidivo (RM) Ausente < 1 cm > 1 cm 0 18 (35,5%) 34 (64,5%) 0 4 (40%) 6 (60%) 0 3 (60%) 2 (40%) 10 A análise de sobrevida nos três grupos (definidos como GBM, AA e OA) diferiu significativamente (Figura 1). Sobrevida em pacientes com AA e GBM localizados nos gânglios basais foi significativamente maior que aqueles com lesões lobares (teste log rank: p = 0,0003) (Figura 2). Pacientes com edema cerebral extenso (> 5 cm) apresentaram sobrevida menor que aqueles com edema moderado (Figura 3). Presença de desvio de linha média (> 1 cm) foi fator de risco estatisticamente significante para sobrevida menor (Figura 4). Não foi observada diferença significativa na sobrevida analisada pela extensão do procedimento cirúrgico (biópsia versus ressecção parcial ou total). 10 Percentual de sobrevida Tabela 1 Características dos pacientes (n = 67) 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 50 100 150 300 Tempo (semanas) GBM AA OA Figura 1 – Análise de sobrevida por meio do estimador de Kaplan-Meier em pacientes portadores de gliomas malignos recidivos tratados com AP intranasal. Topografia tumoral e edema peritumoral e a resposta terapêutica à administração do álcool perílico Silva JTS e col. Percentual de sobrevida Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 1,0 Discussão 0,8 A observação mais importante desse estudo é que pacientes com tumores localizados em região talâmica e nos gânglios basais, independentemente do grau histológico, apresentam sobrevida maior que aqueles com tumores em localização lobar. Além disso, a análise da presença de edema peritumoral associada à presença de desvio da linha média foi estatisticamente significante. Embora os gliomas malignos não produzam metástases, as células tumorais migram ativamente através do parênquima cerebral e, assim, fazem surgir novos focos tumorais tornando-os imperceptíveis para ressecção cirúrgica eficaz.22 Estudos mostram que o crescimento da massa tumoral promove forte manifestação gliótica dos astrócitos normais que circundam o tumor – gliose reativa.2 Acredita-se que a migração das células tumorais aumente com o tempo, embora a densidade de células infiltrantes possa diminuir com a distância a partir da massa tumoral inicial.14 De fato, quando os gliomas recidivam após o tratamento, geralmente o fazem a cerca de 2 cm do local original.15 Atribui-se o desenvolvimento tumoral à influência do microambiente – estroma – que produz fatores de crescimento, citocinas e matriz extracelular e também participa no recrutamento de células endoteliais necessárias para a neovascularização do tumor.2 Hoelzinger e col.11 enfatizam que o processo bioquímico da migração dos gliomas inclui sinalizações autócrinas transmitidas por fatores de crescimento modulados por meio de receptores no tumor. Esses fatores secretados podem se difundir por intermédio do estroma peritumoral influindo células do parênquima que circundam a massa tumoral. Reciprocamente, células do parênquima cerebral normal que secretam ligantes podem estimular receptores em células de gliomas facilitando a migração ou criar um microambiente permissivo para progressão maligna. Essas interações possivelmente refletem a diferença do processo migratório das células de gliomas em distintos microambientes, influenciando a sobrevida dos pacientes: aqueles portadores de GBM localizado na região talâmica e gânglios da base sobrevivem estatisticamente mais tempo do que pacientes com glioma lobar.21 Swanson e col.23 estudando modelos matemáticos para quantificar crescimento e invasividade de gliomas concluíram que: (1) a velocidade de expansão é linear com o tempo, variando de cerca de 4 mm/ano para o glioma de baixo grau para cerca de 3 mm/mês nos casos de glioma de alto grau; (2) as células de glioma migram mais lentamente em substância cinzenta profunda em comparação com substância branca de localização lobar. Esses autores também sugerem que invasividade dos gliomas requer a conjunção de conceitos que incluem 0,6 0,4 0,2 0,0 5 0 15 10 20 Tempo (semanas) PROFUNDO LOBAR Figura 2 – Estimador de Kaplan-Meier mostrando diferença de sobrevida de acordo com a localização (lobar versus talâmico) em pacientes com gliomas malignos recidivos tratados com AP intranasal. Percentual de sobrevida 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 10 30 20 40 50 Tempo (semanas) < 5 cm > 5 cm Figura 3 – Estimador de Kaplan-Meier mostrando diferença de sobrevida de acordo com a extensão do edema peritumoral em pacientes com gliomas malignos recidivos tratados com AP intranasal. Percentual de sobrevida 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 20 40 60 80 Tempo (semanas) < 1 cm > 1 cm Figura 4 – Estimador de Kaplan-Meier mostrando diferença de sobrevida de acordo com o desvio da linha média em pacientes com gliomas malignos recidivos tratados com AP intranasal. Topografia tumoral e edema peritumoral e a resposta terapêutica à administração do álcool perílico Silva JTS e col. 11 Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 motilidade celular e crescimento proliferativo. Nossas observações estão consoantes com esses resultados: pacientes com gliomas malignos inicialmente localizados nos gânglios basais sobrevivem significativamente mais do que aqueles com gliomas em região lobar. Também observamos que em tumores lobares a presença de edema peritumoral é maior que em tumores de localização profunda, mas são necessários mais estudos de imagem para confirmação. Publicações da última década acerca da sobrevida em pacientes com gliomas malignos são retrospectivas e os fatores associados a prognóstico favorável são: menor faixa etária, ausência de déficit neurológico, grau histológico e localização em áreas não eloquentes.16 Estudo observacional13 fornece dados que indicam ressecção cirúrgica como fator importante na sobrevida de pacientes com gliomas malignos. Enquanto gliomas lobares podem ser tratados com excisão cirúrgica, autores19 recomendam biópsia estereotáxica para gliomas talâmicos porque os resultados não demonstraram melhoria significativa na sobrevida após ressecção extensa. Em nossa série, o grande número de pacientes com gliomas talâmicos iniciais não foi tratado com cirurgia citorredutora enquanto pacientes com localização lobar foram submetidos à excisão cirúrgica. Em um estudo retrospectivo,20 realizado em 145 pacientes operados (102 com GBM, e 43 com AA), os autores concluíram que o resultado após tratamento cirúrgico depende de idade dos pacientes e condições clínicas pré-operatórias, assim como a localização, a extensão da lesão e a extensão da ressecção do tumor. Em nossa série 78% dos pacientes com GBM, 77% dos pacientes com AA e 100% dos pacientes com OA foram submetidos a tratamento cirúrgico. Ressecção radical foi realizada em 46,3% e parcial em 29,3% dos pacientes. Observamos que a extensão do procedimento cirúrgico (biópsia versus ressecção parcial ou total) não proporciona diferença de sobrevida nos pacientes com AA e GBM. O que nossos resultados sugerem é que os resultados dependem da localização da lesão, da extensão do edema peritumoral e do estado clínico do paciente no pré-operatório. Gamburg e col.8 avaliaram a influência do desvio da linha média na sobrevida de 114 pacientes com GBM que foram tratados com ressecção cirúrgica e radioterapia e concluíram que a presença de desvio da linha média pode ser considerada fator prognóstico independente. Em nosso estudo para estabelecer correlação entre a presença do desvio da linha média maior que 1 cm e sobrevivência entre pacientes tratados com AP observamos que esse desvio foi um fator de risco estatisticamente significativo para sobrevida mais curta, enquanto que a ausência de desvio de linha média após 12 o tratamento com AP pode ser considerada prognóstico favorável. Stummer24 concluiu que edema vasogênico é um fator prognóstico para o meningioma e metástases cerebrais, mas não para os gliomas. Outro estudo,9 com 48 pacientes com GBM, concluiu que o grau de edema peritumoral é um fator significativo na sobrevida global. Nosso estudo constatou que o edema peritumoral em tumores iniciais e recidivantes pode ser um importante fator prognóstico para resposta terapêutica ao AP. Observamos também que AA e GBM se assemelham com padrões idênticos na configuração do edema cerebral vasogênico. Dados de nossos resultados nos permitem considerar como uma resposta negativa ao tratamento com AP a regressão do volume tumoral sem a regressão do edema peritumoral. Consideramos como resposta positiva a regressão tumoral concomitante à redução do edema peritumoral independentemente do grau histológico do tumor. Zhao e col.26 demonstraram que aumento da expressão da H-Ras e da atividade da via de sinalização Ras/ Raf/MEK contribui para o crescimento invasivo dos astrocitomas. Nosso estudo clínico com a administração intranasal do AP, um inibidor da Ras, para pacientes com gliomas recidivos, vem obtendo resultados de neuroimagem sugestivos de atividade antitumoral. No entanto, não consideramos como resposta positiva imagem de regressão tumoral sem a concomitante regressão do edema peritumoral. Poderá ser esperar demasiado que terapia anti-Ras aplicada de maneira isolada seja bem-sucedida contra os gliomas de alto grau. Deve-se levar em conta que esses tumores contêm inter-relação entre outras cascatas de sinalização ativadas além da Ras-RAF-Mek-ERK. Conclusão Os resultados obtidos em nosso estudo sugerem que: (1) localização tumoral, presença de edema e presença de desvio de linha média podem ser consideradas fatores preditivos de sobrevida em pacientes com gliomas malignos recidivos independentemente de seu grau histológico; (2) pacientes com tumores localizados nos gânglios basais apresentam sobrevida maior que aqueles com localização lobar; (3) pacientes com OA apresentam melhor resposta ao tratamento com AP intranasal que pacientes com glioblastoma ou AA. Em conclusão, nosso estudo demonstrou que pacientes com gliomas profundos podem sobreviver significativamente mais do que aqueles com localização lobar. Além disso, a presença de edema peritumoral e o desvio da linha média foram correlacionados signifi- Topografia tumoral e edema peritumoral e a resposta terapêutica à administração do álcool perílico Silva JTS e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 7-13, março de 2010 cativamente com menor tempo de sobrevida global no grupo de pacientes investigados. Isso pode corroborar a teoria de invasividade dos gliomas em diferentes microambientes do cérebro e pode ser um dado prognóstico de sobrevida. Um melhor entendimento da influência dos tumores no microambiente poderia conduzir a terapias que têm por alvo células geneticamente estáveis que circundam os gliomas, em vez de próprias células tumorais geneticamente instáveis, o que invariavelmente desenvolve resistência ao tratamento. A esse respeito, o monoterpeno AP tem atividade antitumoral por si só, mas em outra perspectiva vislumbramos sua utilização como solvente, permitindo a aplicação combinada de outros agentes quimioterápicos, por intermédio de uma única via de administração. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Arismendi-Morillo. Tumoral micro-blood vessels and vascular microenvironment in human astrocytic tumors. A transmission electron microscopy study. J Neurooncol. 2005;73:211-7. Billottet C, Jouanneau J. Tumor-stroma interactions. Bull Cancer. 2008;95:51-6. Cassoni P, Senetta R, Castellano I, Ortolan E, Bosco M, Magnani I, Ducati A. Caveolin-1 expression is variably displayed in astroglial-derived tumors and absent in oligodendrogliomas: concrete premises for a new reliable diagnostic marker in gliomas. Am J Surg Pathol. 2007;5:760-9. Da Fonseca CO, Landeiro JA, Clark SS, Quirico-Santos T, Da Costa Carvalho MG, Gattass CR. 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Hospital Universitário Antônio Pedro 24030-210 – Niterói, RJ E-mail: [email protected]; [email protected] Topografia tumoral e edema peritumoral e a resposta terapêutica à administração do álcool perílico Silva JTS e col. 13 Arq Bras Neurocir 29(1): 14-17, março de 2010 Aspectos clínicos e epidemiológicos da cefaleia pós-traumática crônica Rodrigo Antônio Rocha da Cruz Adry1, Catarina Couras Lins2, Marcio Cesar de Mello Brandão3 Hospital Geral Roberto Santos e Hospital Geral do Estado, Salvador, BA, Brasil RESUMO Contexto: Existem muitas controvérsias acerca da patogênese da cefaleia pós-traumática, se vem de alterações orgânicas devidas a um trauma cranioencefálico ou se os acometidos dessa condição buscam um ganho secundário. Objetivo: Descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos da cefaleia pós-traumática crônica (CPTC) em pacientes atendidos em dois hospitais de referência de Salvador, BA. Métodos: Foram estudados 33 pacientes que preencheram os critérios estabelecidos para CPTC. Resultados: Seis por cento apresentaram frequência de cefaleia inferior a 1 dia por mês; 49% apresentaram frequência de 1 a 7 dias por mês; 30%, de 8 a 14 dias por mês; 6%, por mais de 14 dias por mês, e 9% apresentaram cefaleia diariamente. Quanto à intensidade, 3% dos pacientes classificaram a cefaleia como leve, 30% como moderada e 67% como grave. Vinte e sete por cento caracterizaram sua cefaleia como “em pressão”, 61% como “pulsátil” e 12% como “em pontada”. O diagnóstico da CPTC foi migrânea em 79% dos pacientes e cefaleia tensional em 21% dos pacientes. Conclusão: A maior prevalência de migrânea nesses pacientes se deve ao fato de o trabalho ter sido realizado em um dos centros especializados. A uniformidade do padrão manifestado de cefaleia e a média de idade do aparecimento da cefaleia também falam a favor de uma causa orgânica para a CPTC, entretanto faz-se necessária a realização de estudos experimentais que possam comprovar essa teoria analisando os pacientes mais graves para reforçar a hipótese orgânica para origem da CPTC. PALAVRA-CHAVE Cefaleia pós-traumática crônica. ABSTRACT Clinical and epidemiological aspects of chronic post-traumatic headache Background: Current data describes 75% to 85% of chronic post-traumatic headaches (CPTH) have a clinical presentation of tension-type headache. Pathogenesis of post-traumatic headache has been controversial; is it an organic secondary lesion due to head trauma or is simulated on aim of a secondary gain. Objective: To describe the clinical and epidemiological aspects of CPTH in two headache centers in Salvador city (Bahia, Brazil). Method: We studied 33 patients that fulfilled the established criteria for CPTH. Results: The frequency of headache was less than 1 day/month in 6% of the patients, 1 to 7 days/month in 49%, 8 to 14 days/month in 30%, more than 14 days/month in 6% and 9% had daily headache. Intensity was analyzed and 3% of the patients referred mild headache, 30% moderate and 67% referred severe headache. Twenty-seven per cent characterized the headache as “pressing”, 61% as “pulsating” and 12% referred the pain manifesting like “sharp “. Migraine type was diagnosed in 79% of the patients and tension-type headache in 21%. Conclusion: A high prevalence of migraine may be explained by the recruitment of more severe patients in specialized centers and it supports the hypothesis of an organic pathogenesis for the CPTH. The uniformity of the pattern of headache and the average age of onset of headache also suggest an organic cause for the CPT, however it is necessary to perform experimental studies that can prove this theory. KEY WORD Chronic post-traumatic headache. 1 Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Geral Roberto Santos e Hospital Geral do Estado, Salvador, BA. 2 Acadêmica de Medicina da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA. 3 Chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Geral Roberto Santos e Hospital Geral do Estado, Salvador, BA. Arq Bras Neurocir 29(1): 14-17, março de 2010 Introdução A cefaleia é o sintoma mais proeminente após uma lesão na cabeça, no pescoço ou no cérebro. A cefaleia pós-traumática (CPT) inicia-se em até sete dias após o traumatismo craniano ou após a recuperação da consciência que se segue ao traumatismo e, se persistir por mais de três meses após a lesão, é denominada cefaleia pós-traumática crônica (CPTC). A CPTC pode estar associada a outros sintomas como irritabilidade, tontura, insônia, ansiedade, redução da memória, fadiga, redução da concentração, intolerância a ruídos e alterações da personalidade, formando a síndrome pós-traumática (SPT).21-24 Todos esses sintomas da SPT contribuem para baixa qualidade de vida e incapacidade nos pacientes. Existem poucas evidências que relacionam a incidência de cefaleia à gravidade do trauma; alguns estudos mostram ser mais frequente em traumatismos cranioencefálicos (TCE) moderados a leves.9,13,23,26 Em estudo retrospectivo realizado na cidade de São Paulo, Maset e col.13 encontraram incidência de TCE de 456 internações por cem mil habitantes, com maior acometimento na faixa etária entre 20 e 29 anos. Melo e col.14 revisaram 555 prontuários de pacientes admitidos vítimas de TCE em um serviço de emergência na cidade de Salvador em 2001: 7,7% dos TCEs eram moderados e 63,8% eram leves, o que traduz grande número de pacientes com potencial risco para desenvolverem a CPTC. O risco de se desenvolver cefaleia após um TCE varia de 30% a 90%, de acordo com fatores culturais e com o país estudado.20 A CPT torna-se crônica em aproximadamente 60% dos pacientes, mas geralmente desaparece dentro de 6 a 12 meses após o trauma, persistindo por mais de 1 ano em 33% dos pacientes e por mais de 3 anos em 15% a 20% deles.12 Entre as mulheres, a incidência de CPT é duas vezes maior, sendo seu curso de recuperação mais lento e incompleto.1,2,17,19 Após um TCE, pode desenvolver-se uma grande variedade de padrões de dor que podem assemelhar-se a cefaleias primárias. A cefaleia do tipo tensional é a mais frequente, ocorrendo em 75% a 85% dos pacientes, seguida da migrânea e da cefaleia cervicogênica.24 Bigal e col.1 estudaram gastos com episódios de cefaleias agudas em unidade de emergência em uma cidade do interior do estado de São Paulo em 1996, chegando ao valor de R$ 115,14 por paciente. Em 2001, eles estudaram os gastos do sistema público da mesma cidade com cefaleias e observaram um gasto de R$ 7,59 por habitante/ano.2 A realização desse estudo é justificada pela falta de estudos sobre a CPTC em nosso meio e pelo benefício de se proporcionarem intervenções mais direcionadas favorecendo os pacientes e, no âmbito econômico, Cefaleia pós-traumática crônica Adry RAR e col. o sistema público de saúde. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi o de descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos da CPTC. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo, em que foi feita uma análise qualitativa e quantitativa, realizada por meio da aplicação de um questionário aos pacientes portadores de CPTC atendidos em dois ambulatórios de cefaleia na cidade de Salvador. O diagnóstico da CPTC baseou-se nos critérios da segunda edição da classificação das cefaleias da Sociedade Internacional de Cefaleia (SIC) de 2005.24 Para a aplicação do questionário, foram selecionados os pacientes internados no Hospital Geral Roberto Santos e Hospital Geral do Estado, em Salvador, BA, no período de agosto de 2007 a setembro de 2008. O questionário foi aplicado a esses pacientes após a assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo paciente. Por intermédio da aplicação do questionário, foram obtidas informações acerca dos seguintes itens: 1) dados de identificação pessoal; 2) características do trauma — data, tipo, local, tempo decorrido para início da cefaleia, presença de perda de consciência e quanto tempo, exames confirmatórios, presença de contragolpe; 3) características da cefaleia — data do início, topografia das dores, caráter da dor, intensidade das crises, duração das crises, frequência mensal, presença de pródromo, presença de aura, fatores de agravamento/desencadeantes, faltas no trabalho no mês, necessidade de atendimento de emergência, número de comprimidos de resgate usados por mês, mudança nas características da cefaleia, presença de comorbidades, história familiar. Esse trabalho foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da instituição e foi aprovado para realização. Resultados Dos 118 pacientes portadores de cefaleia atendidos no período de coleta, 33 (28%) completaram os critérios para CPTC. Destes, a média de idade foi de 42 anos, variando de 13 a 70 anos, sendo 61% do sexo feminino. 15 Arq Bras Neurocir 29(1): 14-17, março de 2010 O tempo de história da CPTC variou de seis meses a cinco anos; radiografia do crânio havia sido feita em oito pacientes (24%) e, em quatro (12%), tomografia computadorizada (TC) de crânio. Todos os exames de imagem estavam normais. Dois pacientes (6%) apresentaram frequência da cefaleia menor que um dia por mês, 16 pacientes (49%) apresentaram frequência de um dia a sete dias por mês, dez pacientes (30%), de 8 a 14 dias por mês, dois pacientes (6%), por mais de 14 dias por mês, e três pacientes (9%) apresentaram cefaleia diária (Tabela 1). Tabela 1 Frequência mensal da CPTC N % Menos que 1 dia por mês 2 6 1-7 dias por mês 16 49 30 8-14 dias por mês 10 Mais de 14 dias por mês 2 6 Contínua 3 9 Total 33 100 Em relação à intensidade da cefaleia, um paciente (3%) a classificou como leve, dez pacientes (30%), como moderada, e 22 pacientes (67%), como grave. Nove pacientes (27%) caracterizaram sua cefaleia como “em pressão”, 20 pacientes (61%) a caracterizaram como “pulsátil”, e 4 pacientes (12%), como “em pontada”. Os principais sintomas associados à cefaleia foram ansiedade, cintilações, depressão, dor cervical, escotomas, fonofobia, fotofobia, irritabilidade, mal-estar, náusea, palpitação, parestesias, sudorese, tontura e vômito. Estudando-se as características das cefaleias de acordo com a classificação da SIC de 2005, foram encontrados os seguintes diagnósticos nos pacientes estudados: migrânea com aura em 12% dos pacientes, migrânea sem aura em 67% dos pacientes e cefaleia tensional em 21% dos pacientes. Discussão A etiologia da CPTC não é conhecida. Há controvérsia quanto a sua origem orgânica ou psicológica. Estudos anatomopatológicos post mortem do tecido cerebral encontraram lesões microscópicas incluindo a lesão axonal difusa.6,16 Estudos laboratoriais mostram alterações após TCE, sugerindo a presença de marcadores de lesão cerebral.10 Estudos de imagens de ressonância magnética encontraram lesões parenquimatosas,11 e outros utilizando a tomografia computadorizada 16 com emissão de pósitrons revelaram fluxo sanguíneo cerebral diminuído após o trauma. Outros trabalhos mostraram fluxo sanguíneo cerebral regional anormal e assimétrico e zonas focais de perfusão diminuída três anos após a lesão em pacientes com CPTC.7,18 Alterações metabólicas foram descritas,5,22 entretanto, juntamente a trabalhos de eletroencefalograma, de potenciais evocados e estudo de líquido cefalorraquidiano, se mostraram inconclusivas. Por outro lado, a depressão e o estresse parecem influenciar a CPTC.8 Estudos recentes revelam que a maioria das pessoas vítimas de um TCE moderado que interromperam a busca por compensação financeira em razão de dor e sofrimento apresentaram queda da incidência de CPTC e melhor prognóstico.3 Em países onde não existem leis que regulam a compensação financeira por trauma, a incidência de CPTC é menor.15 Este estudo foi realizado em dois centros especializados em acompanhamento de cefaleias, o que possibilitou estudo da CPTC em uma população mais variada, entretanto, houve um recrutamento não intencional dos casos mais graves, isto é, aqueles que recorrem a essas instituições. A taxa da CPTC neste estudo foi de 28% do total de pacientes com cefaleia dos ambulatórios, o que coloca o TCE como uma importante e frequente causa de cefaleia crônica. A CPTC parece predominar no sexo feminino,17,24 geralmente na média de 2:1. Em nosso estudo 60% dos pacientes com CPTC eram mulheres. A ausência de alterações nos exames de imagem foi um achado desse estudo, sugerindo um TCE leve. Alguns estudos relatam uma relação inversa entre a incidência da CPT e a gravidade do TCE.9,13,23,26 A migrânea foi o padrão primário mais frequente de CPTC, correspondendo a 76% das CPTCs contra 24% de cefaleia tensional. Esse dado está em desacordo com os dados mundiais que remetem 75% a 80% das CPTCs ao padrão tensional.1,23 Uma frequência maior de migrânea não sugere uma etiologia psicogênica para a CPTC, pois antes do trauma os pacientes nunca haviam relatado uma cefaleia tão rica em detalhes como a migrânea. Segundo Weiss e col.,25 o trauma não parece atuar como “gatilho” bioquímico para o aparecimento da CPT, pois em sua série de casos os TCEs eram leves, mas a hipótese é de que seja um fator de risco juntamente a predisposição genética, idade, gênero, estresse. Em 2007, Couch e col.4 mostraram que história de TCE aumenta em aproximadamente 15% os casos de cefaleia crônica diária (CCD) em um estudo de base populacional. O risco durante a vida de CCD aumenta com o aumento do número de TCE. A média de idade da população estudada foi mais alta do que a população com migrânea idiopática, dado Cefaleia pós-traumática crônica Adry RAR e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 14-17, março de 2010 semelhante ao encontrado por Weiss e col.,25 reforçando a hipótese orgânica da CPTC. Um total de 67% dos pacientes classificou sua cefaleia como grave, compatível com o padrão de dor da migrânea. 11. 12. 13. Conclusão A uniformidade do padrão de cefaleia manifestado e a média de idade do aparecimento da cefaleia falam a favor de uma causa orgânica para a CPTC, entretanto faz-se necessária a realização de estudos experimentais que possam comprovar essa teoria. 14. 15. 16. 17. Referências 18. 1. 19. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 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Sete de Setembro, 690, ap. 406 40060-001 — Salvador, Bahia E-mail: [email protected]. 17 Arq Bras Neurocir 29(1): 18-24, março de 2010 Escrevendo resumos mais informativos Débora Moura da Paixão Oliveira1, Carlos Umberto Pereira2 Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE Núcleo de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE RESUMO Objetivo: Mostrar os principais achados da pesquisa sobre resumos estruturados e discutir suas limitações, bem como fornecer aos autores inexperientes ou iniciantes as recomendações mínimas necessárias para a construção de um resumo estruturado. Método: Revisão sistemática da literatura médica sobre artigos relevantes. Resultados: Os resumos estruturados são tipicamente mais longos do que os tradicionais, mas são considerados mais informativos e acessíveis. Autores e leitores julgam ser mais úteis do que resumos tradicionais. Entretanto, existem críticas em relação ao uso de resumos estruturados e nem todos os periódicos os adotam. Conclusão: Os resumos estruturados exigem apresentação de achados de maneira sistemática, todavia são melhores que os tradicionais por serem adaptados para a maioria das investigações. A observação dos padrões dos resumos estruturados pode facilitar o processo de escrever, bem como a discussão das características dos resumos estruturados pode ser útil aos futuros autores. PALAVRA-CHAVE Resumos. ABSTRACT Writing more informative abstracts Objective: To show the main findings from research on structured abstract and to argue its limitations, as well as to supply the unexperienced or beginning authors the minimum recommendations necessary to the construction of a structured abstract. Method: Systematic medical literature review of the relevant papers was conducted. Results: The structured abstracts are typically longer than the traditional ones, but are considered more informative and accessible. Authors and readers judge to be more useful than traditional abstracts. However, structured abstracts are not universally adopted. Conclusion: The structured format demand presentation of findings in systematic way, however they are better that the traditional ones for being adapted for the majority of the inquiries. The comment of the standards of the structured abstracts can facilitate the process to write, as well as, the characteristics of the structured abstracts will help authors of abstracts. KEY WORD Abstracts. Introdução O objetivo do pesquisador é publicar achados importantes do estudo e contribuir para avanço da ciência; no entanto, comunicar bem os resultados das pesquisas é imperativo, assim sendo, o resumo só terá impacto se os leitores puderem compreendê-lo facilmente. O resumo é definido como a apresentação sintética dos pontos relevantes de um trabalho científico e deve refletir os dados fundamentais da investigação.3,17 O objetivo do resumo é, segundo Pereira e Oliveira,37 fornecer uma visão panorâmica do conteúdo da pesquisa. Outros autores8,16,33 acreditam que a finalidade básica deste é resumir o artigo de modo que os leitores possam decidir sobre a prioridade da leitura do artigo em questão. Os resumos estruturados possuem forma e estrutura bem definidas; contudo, para muitos pesquisadores não é fácil escrever um resumo ou compreender inteiramente seus objetivos e finalidade. O conhecimento da estrutura básica certamente facilita o processo de escrever, apesar de que escrever bem pode ser o resultado de experiência adquirida ao longo do tempo; no entanto, a 1 Enfermeira sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, mestranda do Núcleo de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE. 2 Professor doutor adjunto do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, neurocirurgião do Serviço de Neurocirurgia do Hospital João Alves Filho, Aracaju, SE. Arq Bras Neurocir 29(1): 18-24, março de 2010 tarefa pode ser facilitada com aprendizado de algumas técnicas, paciência e dedicação.3,16 O objetivo deste artigo é mostrar os principais achados das pesquisas sobre resumos estruturados, discutir suas limitações, bem como fornecer as recomendações mínimas necessárias para a construção de um resumo estruturado aos autores inexperientes ou iniciantes. Revisão da literatura Segundo Alexandrov e Hennerici,3 o jeito mais eficiente de comunicar um resultado é a escolha do título e da estrutura do resumo. À exceção do título, o resumo é a parte mais lida pela maioria das pessoas. Alguns autores5,16 o consideram a porta de entrada do estudo ou o ponto de partida da pesquisa bibliográfica. O resumo estruturado foi inicialmente proposto, em 1987, por um grupo de pesquisadores de 18 países, incluindo o Brasil, intitulado Ad Hoc Working Group for Critical Appraisal of the Medical Literature, com a intenção de permitir, ao leitor, avaliar a validade, a importância e a aplicabilidade de um estudo.2,7,16 Em 1988, a Revista Paulista de Medicina propôs a redação de resumos em formato estruturado por considerá-los mais informativos. A partir de então, outras revistas começam a adotar a redação de resumos estruturados em suas publicações.40 Resumo estruturado ou tradicional? No mundo competitivo, publicar faz a diferença e saber fazer um bom resumo é o diferencial para a publicação de um estudo.5,13 Uma vez que a estrutura do resumo é essencial, como decidir o que é melhor? Escrever um resumo estruturado ou um tradicional? Uma pesquisa realizada por Hartley e Sydes24 comparou três pares de resumos estruturados e tradicionais. Os resultados mostraram que havia diferenças entre os três pares; os resumos estruturados eram mais longos, mais informativos e avaliados como os de melhor leitura. Os achados indicaram que os resumos estruturados eram de alta qualidade, continham mais informação e eram mais fáceis de procurar do que são os resumos produzidos de maneira tradicional. O estudo de Sharma e Harrison45 avaliou seis jornais, três que adotavam resumos estruturados e três com resumos não estruturados, em relação ao impacto na qualidade, e concluiu que o formato estruturado possui mais qualidade de informação. O estudo corrobora com as pesquisas de vários autores.12,25,26,34,47 Escrevendo resumos mais informativos Oliveira DMP & Pereira CU Uma investigação realizada no Rio de Janeiro, em 1994, analisou 68 resumos tradicionais publicados na Revista Brasileira de Enfermagem, entre 1990 e 1993, demonstrou que a maioria dos resumos não facilitava a compreensão dos achados. Os autores, então, recomendaram a execução do modelo estruturado como forma de comunicar melhor o resultado de um estudo.11 Hartley,22 em 2004, em estudo de metanálise, comparando 31 pesquisas sobre resumos estruturados e tradicionais, mostrou que alguns investigadores acreditam que os resumos estruturados são bem aceitos por leitores e autores.21,26,47 O resultado da pesquisa sugere que, para muitos autores,12,19,26,34,47 comparados com os tradicionais, resumos estruturados contêm mais informação, porém nem sempre como mostram as pesquisas de Khosrotehrani e cols.32 Para outros pesquisadores,19,20 o resumo estruturado é mais fácil de se ler e mais fácil de procurar, embora autores como Booth e O’rourke,4 assim como Wilczynski e cols.,51 questionem, uma vez que, em suas pesquisas, os resumos estruturados não mostraram vantagem para a velocidade da busca. Os resumos estruturados, de acordo com alguns autores,18,34 facilitam a revisão para aceitação em congresso. De maneira geral, a literatura é unânime em afirmar que resumos estruturados são considerados melhores para esclarecimentos sobre o método e os resultados da pesquisa do que resumos não estruturados.16,20,42,44 Entretanto, existem algumas críticas na adoção de resumos estruturados, como mostra a investigação realizada por Hartley.22 Os achados mostraram que autores12,20,23,28 consideram que resumos estruturados ocupam mais espaço e, por conterem maior número de palavras, exigem mais tempo para a leitura. Spitzer46 acredita que o resumo estruturado exige um formato rígido, o que impede a criatividade dos autores. Outros pesquisadores descrevem que nos resumos estruturados pode haver as mesmas omissões e distorções que ocorrem em resumos tradicionais.14,20,38,39,41,43,47 Haynes e cols.27 descreveram que os resumos estruturados tiveram poucos erros em relação aos tradicionais, mas Pitkin e cols.39 discutiram o reverso disso, acreditando que, por ter maior comprimento, pode haver maior número de erros. Hartley20 não encontrou nenhuma diferença nos graus de distorção ou erros entre resumos tradicionais e estruturados, mas os resumos estruturados pesquisados eram versões reescritas dos tradicionais. Os defensores do resumo estruturado afirmam que este tem muitas vantagens: os leitores podem identificar as revisões relevantes; os vieses podem ser detectados; os resultados e as conclusões podem ser apreciados criticamente; a estrutura ajuda os autores a apresentarem seus resultados; os elementos vitais de uma revisão são 19 Arq Bras Neurocir 29(1): 18-24, março de 2010 identificados; as buscas computadorizadas de literatura são possíveis.12,16,19,20,26,34,42,44,47 A confecção – Uma vez que nos decidimos pelo resumo estruturado, como confeccioná-lo? Segundo Nahas e Ferreira,35 o que chama mais a atenção para uma pesquisa é o título. Os autores consideram o título a maior arma para seduzir o leitor; deve refletir com precisão o conteúdo do artigo. Os leitores e os revisores verificam geralmente o título e, se interessados, leem as últimas sentenças antes que leiam o resumo completo. Alexandrov e Hennerici3 descreveram que o autor tem aproximadamente 15 segundos para convencer o leitor e, por isso, o título não deve ser excessivamente curto nem excessivamente longo. Após o título, expõem-se o nome, credenciais e local de atividade do autor.3,17 Entretanto, para outros,3,16,33,36 uma pesquisa começa a ser observada com origem no resumo, e a informação nele contida fará o leitor decidir-se se abandona o artigo ou o lê em profundidade. Assim sendo, ter embasamento para escrever um resumo eficientemente claro que transmita os achados de um estudo é essencial. Atualmente, tornou-se muito importante escrever um resumo com a apresentação exata dos dados que permita aos leitores identificar rapidamente o conteúdo de um estudo e analisar se é pertinente para sua pesquisa. Os resumos sem esses dados são considerados de baixa prioridade, tendo em vista que com o crescimento da publicação on-line, na maioria das vezes, os resumos são a única parcela substantiva do artigo encontrada em muitas bases de dados eletrônicas; dessa maneira, os autores necessitam ter cuidado para que eles reflitam exatamente o conteúdo do artigo.8,16 Em geral, para assegurar-se disso, a literatura recomenda escrever o resumo após ter terminado um esboço do paper.33 O resumo estruturado deve, sobretudo, apresentar concisão e objetividade, contendo os itens necessários para que o leitor possa fazer uma avaliação da validade, da importância e da aplicabilidade: indicar os principais objetivos; descrever os métodos empregados; resumir os resultados e enunciar as principais conclusões. Atualmente, a estrutura mais usada é IMRAD (Introduction, Methods, Results And Discussion); entretanto, pode haver variações nos formatos dos resumos de diferentes periódicos, uma vez que nem todos os resumos de artigos originais são estruturados.16,17,33 A comunidade científica preconiza que os resumos estruturados devem conter de 150 a 200 palavras, muito embora, de maneira geral, a grande maioria contenha 20 até 250 palavras.7,33 Entretanto, autores como Day e Gastel8 sugerem que, se for possível expor o estudo em cem palavras, não há razão para usar 200, já que o uso de construções prolixas é inútil. O resumo deve ser tão informativo como possível sem ser demasiado longo. Um resumo muito extenso poderá ser rejeitado para uma publicação.1,17,27 Introdução – O que é? Para quê? A seção de introdução deve ser a mais curta de um resumo, podendo conter somente uma única sentença.3,16 Deve ser concisa e clara, focalizando os pontos principais, empregando o menor número de palavras para exprimir o pensamento.37 Nessa seção, expõem-se os objetivos da pesquisa. Na redação dos objetivos, usa-se a forma infinitiva dos verbos. Os mais utilizados são: analisar, comparar, conhecer, correlacionar, descrever e determinar.17,33 A hipótese da pesquisa deve ser claramente indicada. 17,37 Um estudo realizado por De Smet e cols.9 observou que 63% dos resumos submetidos para avaliação em um congresso médico não incluíam uma hipótese específica, somente um objetivo geral. Sessenta por cento daqueles resumos contendo uma hipótese específica foram aceitos para a apresentação, dos que apresentaram somente o objetivo geral, apenas 30% foram escolhidos para apresentação. Materiais e métodos – Como? Uma investigação realizada por De Smet e cols.9 verificou que a falta da documentação do método de avaliação era uma deficiência principal nos resumos. A seção de materiais e métodos deve descrever o delineamento do estudo, a população, o número dos pacientes estudados (tamanho da amostra), o período da coleta dos dados e as ferramentas usadas na aquisição de dados. Os dados não devem ser informados nessa seção. No resumo de trabalho do tipo relato de caso, as seções materiais e método são substituídas pela seção relato de caso.17,31,33 Resultados – O que foi encontrado? Os resultados são a parte mais importante do resumo. Representam a solução do problema estudado, fornecem os dados que respondem à pergunta da pesquisa. Apresente os dados claramente, evite sentenças longas e Escrevendo resumos mais informativos Oliveira DMP & Pereira CU Arq Bras Neurocir 29(1): 18-24, março de 2010 desconcertantes, siga a lógica simples. Conduza o leitor aos achados principais. Não especule nem dê opiniões. Descreva a maioria de dados relevantes, representativos com números e estatísticas. Comece descrevendo os dados do estudo com números reais; mostre números e porcentagens absolutos; adicione os valores de p; intervalos de confiança; mencione testes estatísticos de modo que os revisores possam julgar o significado das observações. Os detalhes da análise estatística são deixados geralmente no texto propriamente dito. Evite repetir dados.3,33 A pesquisa de De Smet e cols.9 analisou resumos submetidos a um congresso de radiologia em 1993 e constatou que 50% das seções de resultados foram julgadas limitadas ou vagas. A taxa de aceitação era de 87% para os resumos contendo excelentes detalhes nessa seção e somente 7% para os resumos marcados como vagos em detalhes. O estudo constatou que o nível de detalhes na seção dos resultados é fator importante para a aceitação do resumo. Discutir os resultados da pesquisa com os orientadores e coautores ajudará a determinar se os dados gerados foram suficientes para responder à pergunta da pesquisa no resumo.3,33 Conclusões – O que encontramos está de acordo com os objetivos? A seção de conclusão deve ser destaque do resumo, o impacto da pesquisa. Deve ser uma síntese. Deve ser direta, breve, específica e seguir o objetivo da pesquisa. Frequentemente, consiste em duas sentenças. A primeira resume os achados principais, e a última indica a interpretação ou implicações clínicas. Não há necessidade de discutir ou comparar os achados com outros no resumo.3,29,30,33 Um erro comum de iniciantes na pesquisa é apresentar informação e conclusão no resumo que não figurem no trabalho e muitos resumos discordam com o texto do artigo. Os autores devem ter cuidado para evitar as conclusões que não são claramente embasadas pelos resultados da pesquisa. As conclusões precisam ser baseadas nesses achados.29,33 Não superestime a importância dos achados da pesquisa. Evite reivindicações mesmo em estudos pioneiros. Seja específico focalizando os achados do estudo e o que significam.3,30 Não há necessidade de dizer que uma pesquisa adicional é necessária, uma vez que os cientistas nunca param suas explorações.3 A seção de conclusão é redigida no tempo verbal presente. Se o espaço permitir, pode-se começar com uma indicação de abertura: “nosso estudo mostra...” Escrevendo resumos mais informativos Oliveira DMP & Pereira CU e resume “os achados do estudo...” É recomendável usar a sentença “em conclusão”. Evite as expressões: “o autor descreve...”; “o autor encontrou...”; “o autor pesquisou...”; “neste trabalho, o autor expõe...” Dê preferência a: descreve-se, expõe-se.17 Seguir toda a metodologia é garantia que o trabalho será escolhido? Um estudo realizado em 2007 por Wenzel50 demonstrou que menos de 50% dos resumos apresentados em conferências têm seus artigos inteiramente publicados, porém as investigações de Alexandrov e Hennerici3 consideraram que esse número pode ser maior, chegando ao percentual de 60% a 75%. Uma investigação realizada por dos Santos e Pereira10 mostrou que seguir toda a metodologia não é garantia que o trabalho será escolhido. A cada ano, milhares de resumos são submetidos para apresentação em conferências e revisões para publicação, diminuindo as chances de um trabalho ser selecionado.3,18 O estudo de dos Santos e Pereira10 avaliou e comparou a qualidade dos resumos apresentados no congresso da Sociedade Brasileira de Infectologia, realizado em 2005. A hipótese era que o material de melhor qualidade seria escolhido para a apresentação oral. A pesquisa comparou os 63 resumos selecionados para a apresentação oral com uma amostra aleatória (n = 63) dos 664 resumos registrados como apresentações em pôster. A qualidade dos resumos foi considerada de moderada a boa. A pesquisa concluiu que a hipótese testada não foi confirmada; ou seja, nem todo material de boa qualidade foi escolhido. O estudo chama a atenção dos organizadores de congressos para uso de critérios de avaliação da qualidade dos resumos. No sentido de evitar essas distorções, Timmer e cols.48 publicaram um questionário contendo itens utilizados pelos revisores como indicador da qualidade de um resumo estruturado (Quadro 1). Autores como Hopewell e cols.29 estudaram o CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials), outro instrumento de ajuda a autores de resumos a fornecer detalhes e claridade necessários aos leitores que desejam avaliar a validade e a aplicabilidade de uma experimentação. O instrumento busca: critério de eleição dos pacientes, local e data da coleta; como os participantes foram alocados para a intervenção; conhecimento científico e explanação de motivos; objetivos específicos e hipóteses; como o tamanho da amostra foi determinado; se interpretação dos resultados está de acordo com a hipótese do estudo, possui bias ou imprecisão e perigo de associação com multiplicidade de análise e resultados. 21 Arq Bras Neurocir 29(1): 18-24, março de 2010 Quadro 1 Instrumento indicador da qualidade de um resumo estruturado Qualidade da Avaliação sim parcialmente não n/a A pergunta/objetivo foi descrita suficientemente? Delineamento evidente e apropriado para responder à pergunta do estudo? Características dos sujeitos são suficientemente descritas? Sujeitos apropriados para a pergunta do estudo? Controles usados e apropriados? (se não tem controle, checar não ) Métodos de seleção dos sujeitos são descritos e apropriados? O estudo randomizado foi possível, ele foi descrito? (se não foi possível, checar n/a) Se cegar os investigadores para a intervenção foi possível, isso foi relatado? (Se não possível, n/a) Se cegar os sujeitos para intervenção foi possível, isso foi relatado? (Se não possível, n/a) Resultados bem-definidos e capazes de medir viés (bias)? Meios da avaliação relatados? Confusão explicada? Amostra com tamanho adequado? Análise estatística apropriada? Testes estatísticos indicados? Valor de p ou intervalo de confiança indicado? Resultados descritos com detalhes suficientes? Os resultados suportam as conclusões? Soma (itens) Adaptado de Timmer e cols.48 Quais cuidados tomar para ter o resumo escolhido? O resumo é a parte fundamental do trabalho sendo o primeiro parágrafo considerado o mais impactante. Entretanto, a escolha de um título dinâmico e informativo é o que chama mais a atenção.17,37 Certifique-se de que o resumo seja conciso, porém contenha os elementos principais do artigo, reflita o conteúdo, enfatize as ideias e siga todas as regras.3,16,17,33,37 O International Committee of Medical Journal Editors31 recentemente atualizou as exigências para resumos submetidos aos jornais biomédicos, as quais foram seguidas pela maioria dos jornais. De acordo com o comitê, um resumo deve fornecer o contexto para o estudo, indicar suas finalidades, os procedimentos básicos, os métodos, os principais achados, seu significado estatístico e as principais conclusões; deve enfatizar aspectos novos e importantes do estudo.16,17 Ter cuidado com o texto, ser claro, usar terminologia específica é importante; um texto sem pompa nem rebuscamento estimula à leitura agradável e torna-se de fácil e rápida compreensão. O resumo deve ter as qualidades essenciais do texto científico: clareza, concisão e precisão. Entretanto, para consegui-lo, é necessário rever o texto várias vezes para corrigi-lo e cortar o supérfluo. Tente evitar a voz passiva, se puder. Procure utilizar frases pouco extensas e sempre em 22 ordem direta.36 Revisar a ortografia, bem como o texto do abstract escrito em inglês. Mostrar o esboço aos colegas para crítica é sempre útil.3,17,36,49 Considere os regulamentos específicos feitos pelos organizadores de conferências e jornais que são diferentes no estilo e no contexto. O formato requerido para resumos estruturados difere de jornal a jornal, e alguns jornais usam mais de uma estrutura; os autores devem preparar seus resumos no formato especificado pelo jornal ou pelos eventos científicos que escolheram.16,17 Seguir as recomendações quanto às normas de impressão do texto é aconselhável, tipo e tamanho de fonte, tamanho do espaçamento entre as linhas, tipo de editor de texto, apresentação do título, nome e número de autores, endereço do autor principal e instituição onde o trabalho foi realizado.17 A aceitação de um resumo está basicamente condicionada à qualidade do conteúdo e à observação estrita das normas para publicação de cada revista. Não aderindo às regras para submissão de um trabalho, corre-se o risco elevado de não ser aprovado.3,6,17 Grimm,15 em 2005, comparou os critérios de revisões editor-escolhidas e autor-sugeridas; os investigadores encontraram pouca diferença na qualidade das revisões entre os dois grupos. Entretanto, as revisões autor-sugeridas eram mais prováveis à aceitação do manuscrito (47% contra 35%) e menos prováveis à rejeição (10% contra 23%). Escrevendo resumos mais informativos Oliveira DMP & Pereira CU Arq Bras Neurocir 29(1): 18-24, março de 2010 Alexandrov e Hennerici3 acreditam que selecionar com cuidado a categoria apropriada para a submissão do resumo de acordo com o tema é importante, se selecionada apropriadamente, é provável que o resumo seja classificado por pares com interesses e familiaridade similares. Considerações finais É recomendável que a frase inicial do resumo não repita o que está dito no título.3,16 O uso de abreviações, números, tabelas e referências bibliográficas de maneira geral não são citados no resumo exceto em casos raros. As abreviações somente devem ser usadas quando um termo se repete várias vezes. Nesse caso, a abreviatura será dada entre parênteses em sua primeira menção no texto e será utilizada a seguir. A referência bibliográfica só é citada eventualmente, quando se menciona uma modificação de método.8,16,17 Palavras-chave: Para fins de indexação, o resumo deve incluir termos representativos e palavras-chave relacionadas ao assunto. É recomendável evitar a repetição de palavras que já constem no título. Use termos utilizados em buscas bibliográficas e que podem ser importantes na localização do artigo. Devem ser mencionadas por ordem alfabética.7,33 A palavra abstract em inglês significa muito mais que apenas resumo. A palavra, dividida em sílabas, significa o AB – absolutely (absolutamente) STR – straightforward (estratégico) ACT – actual data presentation and interpretation (apresentação e interpretação de dados atuais).3 O abstract não precisa ser necessariamente uma tradução literal do resumo em português, porém o tamanho, o conteúdo e as qualidade das informações devem ser as mesmas. A estrutura gramatical do inglês é distinta do português; traduções literais podem não soar bem. Evite o uso de dicionários para traduzir termos técnicos específicos; é melhor verificar em publicações de língua inglesa.17,49 A literatura sugere que os resumos estruturados são melhores que os tradicionais por serem mais informativos, facilitam a revisão por pares, podem ser adaptados para a maioria das investigações, incluindo revisões e estudos experimentais. São mais fáceis de compreender uma vez que o texto é escrito em parágrafos mais curtos, ajudam os autores a não omitir dados relevantes e revelam erros metodológicos. No entanto, o formato requer que os autores organizem e apresentem seus achados de maneira sistemática. Escrever um bom resumo requer atenção considerável aos detalhes, visto que uma boa pesquisa merece um resumo claramente escrito. Escrevendo resumos mais informativos Oliveira DMP & Pereira CU Tivemos a pretensão de fornecer as recomendações mínimas necessárias para a construção de um resumo estruturado. Esperamos que tenham sido úteis aos futuros autores. Detalhes adicionais poderão ser encontrados na literatura sobre o tema bem como em livros-textos especializados. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 17. 18. 19. 20. 21. Abu-Ali AN, Hafidh JZ. How to Write an A+ Paper. ICTA. 2007;7:299. Ad Hoc Working Group for Critical Appraisal of the Medical Literature. A proposal for more informative abstracts of clinical articles. Ann Intern Med. 1987;106:598-604. Alexandrov AV, Hennerici MG. Writing good abstracts. Cerebrovasc Dis. 2007;23:256-9. Booth A, O’Rourke AJ. The value of structured abstracts in information retrieval from MEDLINE. Health Libr Rev. 1997;14:157-66. Brown JM. Driven to abstraction: writing an abstract for presentation or publication. J Intraven Nurs. 1989;12:326-8. Burgdorf WH. How to get your paper accepted in an Englishlanguage journal. J Dtsch Dermatol Ges. 2004;2:592-6. Cremmins E. The art of abstracting. 2.ed. Info Resources Press, April 1996. Day RA, Gastel B. 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Original recebido em novembro de 2009 Aceito para publicação em janeiro de 2010 Endereço para correspondência Débora Moura da Paixão Oliveira Av. Augusto Maynard, 245/404 49015-380 — Aracaju, SE Escrevendo resumos mais informativos Oliveira DMP & Pereira CU Arq Bras Neurocir 29(1): 25-31, março de 2010 Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior: revisão crítica da técnica cirúrgica Paulo Henrique Aguiar1, José Carlos Esteves Veiga2, Adriana Tahara3, Gustavo Rassier Isolan4 Divisão de Neurocirurgia, Hospital São Camilo, São Paulo, SP, Brasil Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, SP, Brasil Divisão de Neurocirurgia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, RS, Brasil RESUMO Objetivo: Revisão crítica dos aspectos anatômicos da abordagem dos aneurismas da artéria cerebelar inferior posterior (ACIP); a abordagem extremo-lateral e os detalhes de suas variantes foram analisados. Métodos: Revisão da literatura e análise da experiência dos autores. Resultado: A abordagem extremo-lateral é a melhor abordagem cirúrgica para os aneurismas da ACIP. As indicações de by-pass e tratamento endovascular também devem ser consideradas. A principal complicação é a fístula de liquor, mas isquemia do tronco, hematoma de leito cirúrgico, contusão cerebelar, lesão dos nervos bulbares e instabilidade condilar também devem ser citadas. Conclusão: O conhecimento da anatomia microcirúrgica é fundamental na abordagem dos aneurismas da ACIP. PALAVRAS-CHAVE Aneurisma intracraniano. Artéria cerebelar inferior posterior. ABSTRACT Critical review of surgical techniques for posterior inferior cerebellar aneurysms Objective: To review several aspects of posterior inferior cerebellar artery aneurysms regarding anatomy and approaches. Methods: A critical review of literature is performed with emphasis on the complications and surgical technical details. Results: the main approach advocated by the authors is the far-lateral approach and its variants. The indications of by-pass with saphenous or radial artery graft and endovascular treatment are also considered. The main complication is cerebrospinal fluid leakage, but brain stem ischemia, surgical bed hematoma, venous infarction, cerebellar contusion, bulbar nerve damage, condylar instability must also be mentioned. Conclusion: Knowledge of microsurgical anatomy is fundamental for any kind of procedure regarding clipping of posterior inferior cerebellar artery aneurysms. Endovascular treatment is a safe option in the majority of the cases. KEY WORDS Intreacranial aneurysm. Posterior inferior cerebellar artery. Introdução Os aneurismas da artéria cerebelar inferior posterior (ACIP) correspondem de 0,5% a 3% dos aneurismas intracranianos.26,33 A incidência é o dobro em mulheres, com idade média de 55 anos.36 Embora os resultados do tratamento cirúrgico sejam inferiores aos dos aneurismas da circulação anterior, estudos de microcirurgia e avanços tecnológicos têm melhorado o prognóstico.14,16,17,21,25,42,44 Os aneurismas nessa localização estão frequentemente relacionados aos ramos perfurantes do tronco.37 A tomografia de crânio em geral mostra hemorragia subaracnoide e intraventricular.48 Com base em nossa experiência com aneurismas da fossa posterior e em revisão da literatura, discutem-se os detalhes técnicos das abordagens desses aneurismas. 1 Professor livre-docente do Departamento de Neurologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. 2 Professor titular da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP. 3 Neurocirurgiã do Hospital São Camilo, São Paulo, SP. 4 Neurocirurgião e doutor pelo Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Arq Bras Neurocir 29(1): 25-31, março de 2010 Anatomia Posição dos aneurismas A artéria basilar, as vertebrais e a ACIP são formadas a partir de um plexo vascular em torno do tronco, o que resulta em muitas variações anatômicas.31 Essa característica embriológica é um fator importante na formação de pontos frágeis nos segmentos retos da ACIP.24 A ACIP pode se originar desde abaixo do forame magno até a junção vertebrobasilar,25 mas em 80% a 95% dos casos origina-se da porção intracraniana da artéria vertebral, a 8,6 mm do forame magno e 16,9 mm da junção vertebrobasilar.25 Origem duplicada se associa com aneurismas.23 A ACIP tem o trajeto mais complexo e variável dentre as artérias cerebelares.24 Pode ser dividida em cinco segmentos: medular anterior, medular lateral, tonsilomedular, telovelotonsilar e cortical (Figura 1).25 Os aneurismas distais geralmente apresentam-se com sangramento no quarto ventrículo.38,48 Localizam-se próximo ao ponto coroidal e frequentemente estão associados a malformações arteriovenosas (MAV), mais raramente a fístulas piais.15,27,32 Na fossa posterior, os aneurismas de MAV são mais frequentemente responsáveis por sangramentos que na região supratentorial, correspondendo à metade dos sangramentos.16,20,26,44,47 Um acesso combinado mediano e paracerebelar é realizado para abordagem da lesão. A retirada da tonsila cerebelar é necessária. Os aneurismas da junção ACIP-vertebral são incomuns e encontrados na origem extracraniana da artéria vertebral.12 a Avaliação cirúrgica A tomografia de crânio é útil para avaliação de calcificação da parede do aneurisma, graduação da hemorragia, presença de trombos e relação óssea (Figura 2). b Figura 2 – TC de crânio corte axial mostrando hemorragia cisternal por aneurisma de ACIP (Tomografia de crânio realizada no Serviço de Imagem do Hospital São Camilo). Figura 1 (a) – Visão de peça anatômica de artérias da circulação posterior evidenciando a ACIP e seus segmentos (peça cedida Dr Gustavo Isolan); (b) – Mostra angiografia digital com artérias da circulação posterior e os segmentos da ACIP: A-Anterior medular, B-Lateral Medular: C-tonsilo medular D-Telovelotonsilar E- Cortical . 26 A ressonância do encéfalo avalia o tronco, a presença de hidrocefalia, cisternas e a relação com nervos bulbares. A angiografia cerebral, a angiotomografia e a angiorressonância avaliam a morfologia do aneurisma, sua relação com outros vasos e o fluxo nas duas vertebrais (Figura 3).29 O doppler das artérias vertebrais pode ser útil em casos de isquemias recorrentes. Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior Aguiar PH e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 25-31, março de 2010 a Figura 3 – Angiografia digital arterial mostra aneurisma na emergência da ACIP esquerda (Seta branca). Técnica cirúrgica O acesso extremo-lateral é dividido em três estágios: muscular, extradural e intradural (Figuras 4 a 6).45,46 O paciente é colocado em posição semissentada com a cabeça imobilizada em cabeceira de três pontos de fixação. Quando há forame oval patente, doença degenerativa cervical importante e pulmonar, optase pela posição supina.28 Alguns autores preferem a posição em park bench.36 Preconiza-se monitorização com potencial evocado e eletroneuromiografia do nervo facial, assim como potenciais evocados sensitivos e motores dos nervos cranianos X, XI e XII. Doppler transesofágico pode ser útil na detecção de embolismo aéreo durante o procedimento. Uma incisão reta é marcada na região retromastoidea até o pescoço e se procede a abertura por planos musculares. O passo-chave do estágio muscular é a identificação da artéria vertebral no triângulo suboccipital delimitado pelos músculos rectus capitis posterior major, oblíquos superior e inferior. As regiões retromastoide e sigmoide são expostas. Com um drill de alta velocidade e um craniótomo, realizamos uma craniectomia retromastoidea. O forame magno é aberto em sua porção lateral e horizontal, o condilo occipital é removido até a exposição do osso cortical do canal do hipoglosso. A artéria vertebral é visualizada no recesso da massa lateral de C1. O hemiarco posterior de C1 não precisa ser necessariamente retirado. A área pré-sigmoide também é exposta. A veia petrosa é coagulada e seccionada para abertura da área pré-sigmoide. O liquor é drenado das cisternas prépontina e ponto-cerebelar. Segue-se a artéria vertebral até o aneurisma. A embolização endovascular com molas pode ser uma opção dependendo de condições clínicas, posição e colo do aneurisma. A taxa de morbimortalidade pode chegar a 8,6%.33 Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior Aguiar PH e col. b c Figura 4 – (a) Identificação da artéria vertebral extradural após dissecção muscular, óssea retrossigmoidea e retromastoídea. Retirada parcial de metade da porção posterior do arco de C1; (b) Ressecção condilar parcial e visualização dos nervos IX, X, XI e XII (círculo) à direita; (c) Retirada do tubérculo jugular. 27 Arq Bras Neurocir 29(1): 25-31, março de 2010 a b c Figura 5 – (a) Paciente com cabeça fixada em Mayfield e posição semissentada. Monitoramento com potencial evocado; (b) Posição supina com abordagem lateral direita; (c) Posição semissentada para abordagem à esquerda, vista posterior. Num acesso suboccipital lateral-padrão, temos acesso à região ventral do tronco, lateralmente com exposição dos nervos VII ao XI. Os acessos transpetroso e transcondilar evitam a manipulação desses nervos ao proporcionar uma visão mais anterior e inferior dos nervos cranianos.13 O tubérculo jugular é removido extraduralmente, os nervos cranianos não são visualizados nessa etapa.41 Eles cursam superiormente e intradurais. Cautela é necessária para remoção do tubérculo sem lesão desses nervos por trauma ou aquecimento.46 O tubérculo também pode ser retirado intraduralmente.8 No triângulo entre os nervos IX, X, XI e o tronco, podem-se acessar a parte ventral do tronco, a artéria vertebral e ACIP.5,13,45 28 a b c Figura 6 – (a) Acesso extremo lateral em posição semi-sentada com exposição da artéria vertebral extra-dural (seta preta); (b) Visão microcirúrgica de aneurisma sacular de ACIP (seta branca); (c) Visão microcirúrgica do colo aneurismático dissecado e clipagem. Complicações A principal complicação é a fístula de liquor, por isso se mantém uma drenagem lombar externa no período perioperatório. Outras complicações incluem: isquemia de tronco, hematoma de leito cirúrgico, infarto venoso, contusão cerebelar, injúria de nervos bulbares e instabilidade condilar. Muitos autores reportam as taxas de complicações perioperatórias: paresia de nervos cranianos ocorre em 20% a 60% dos pacientes por manipulação cirúrgica, razão pela qual alguns defendem o tratamento endovascular.8,46 Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior Aguiar PH e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 25-31, março de 2010 Discussão O resultado dos pacientes com boas condições clínicas em geral também é bom. E vários pacientes com gradação pobre em termos clínicos alcançam bons resultados.19 Os principais acessos aos aneurismas de ACIP são: retrossigmoide, extremo-lateral retrocondilar e transcondilar.1,28,37-39,43 Dentre os vários acessos e modificações para os aneurismas da ACIP,3,10,11,14,34 preconiza-se o acesso extremo-lateral segundo Tedeschi45 com dissecção muscular, identificação extradural da artéria vertebral, craniectomia ou craniotomia suboccipital com ou sem retirada do atlas.1,6,7,36,45,46 Três modificações em relação ao côndilo occipital são possíveis: transcondilar pela articulação atlanto-occipital, supracondilar com acesso à região medial do canal do hipoglosso e tubérculo jugular,46 transcondilar com extensão lateral com acesso à parte baixa do clivus e à área pré-medular. Prefere-se a posição semissentada, pois nesta tem-se acesso ao aneurisma atrás do nervo vago abaixo da tonsila, evitando sua manipulação, que ocorre em outras posições.28 O fator mais importante na determinação do acesso cirúrgico é a lateralidade do aneurisma e a distância do forame magno. Sekhar e col.39 propuseram um protocolo de classificação e tratamento dos aneurismas saculares da circulação posterior: (1) aneurisma menor que 2 cm com relação domo/colo menor ou igual a 1,5; (2) aneurisma maior que 2 cm ou com relação domo/colo maior que 1,5. No primeiro caso, se o paciente tiver mais de 50 anos de idade, opta-se por tratamento endovascular; se tiver menos de 40 anos, o tratamento de escolha é a cirurgia. Nos pacientes com idade entre 40 e 50 anos o tratamento é individual. Pacientes do segundo tipo com idade inferior a 40 anos são operados; no entanto, se houver algum ramo originando-se do colo, um by-pass pode ser necessário. Pacientes com mais de 50 anos de idade, com aneurismas não rotos, são encaminhados para tratamento endovascular com embolização e balão ou stent como suportes. Nos casos entre 40 e 50 anos, o tratamento é individualizado. Nos aneurismas fusiformes, se o território do vaso principal tiver uma circulação colateral adequada, deve-se considerar a oclusão do vaso. Se as colaterais forem pobres, opta-se pelo by-pass ou pela reconstrução vascular com posterior exclusão do aneurisma da circulação. As opções de revascularização da ACIP são:4,39 sutura direta, interposição de enxertos, by-pass com a artéria occipital ou ACIP contralateral. Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior Aguiar PH e col. Aneurisma roto da ACIP na curva caudal já foi descrito em um paciente idoso com hematoma na cisterna magna.30 Lewis e col.24 defendem que a cirurgia permite melhor visualização da relação do vaso principal e ramos do colo, consequentemente melhor decisão no que se refere à oclusão do vaso principal e preservação das perfurantes. A cirurgia também é preferível quando um hematoma precisa ser drenado ou quando uma malformação arteriovenosa é acessível à cirurgia com baixa morbidade. Os clipes fenestrados são importantes na preservação dos vasos principais.9,43 Iihara e col.18 descreveram um caso de aneurisma gigante da junção ACIP-vertebral que continuou crescendo após a oclusão endovascular da artéria vertebral, sendo submetido à aneurismectomia.18 Achados histológicos sugerem neovascularização via vasa vasorum. A possibilidade da manutenção ou piora do efeito de massa também devem ser consideradas no tratamento endovascular desses aneurismas.2 Os aneurismas dissecantes espontâneos da ACIP também são raros.35,40 Ocorrem em homens de cerca de 45 anos de idade, no lado esquerdo, no segmento proximal da ACIP.40 Os principais sintomas são hemorragia subaracnoide e isquemia com síndrome de Wallenberg. A patogênese e o tratamento permanecem controversos. A angiografia revela lesões fusiformes, e a ressonância, hematoma intramural.35 O tratamento pode ser cirúrgico ou endovascular com bons resultados em 89,3% dos pacientes em bom estado clínico.22,40 O mais importante do tratamento dessa lesão é a necessidade de revascularização. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Avci E, Acevedo C, Fossett D. “Extreme lateral approach”. In: Fossett DT, Caputy AJ, editors. Operative neurosurgical anatomy. New York: Thieme, 2002. p.90-9. Awad IA. “Comments”. In: Iihara K, Murao K, Sakai N, Nagata I. 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Caldas que cedeu as imagens angiográficas deste artigo e também as que foram publicadas em “Abordagem atual aos aneurismas do topo da artéria basilar” (Vol. 28, edição nº4, Dezembro de 2009). Aneurismas da artéria cerebelar posterior inferior Aguiar PH e col. 31 Arq Bras Neurocir 29(1): 32-36, março de 2010 Histiocitose de células de Langerhans como causa de mielopatia Relato de caso e revisão da literatura Fábio Teixeira Giovanetti Pontes1, Adelmo Ferreira2, Adriano Torres Antonucci1, Johnathan de Sousa Parreira1, Márcio Francisco Lehmann2, Natally Marques Santiago1, Luiz Henrique Garcia Lopes2, Pedro Garcia Lopes3, Wander Miguel Tamburus2 Serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR, Brasil RESUMO Histiocitose de células de Langerhans é uma doença uni ou multifocal que acomete osso, tecido mole ou ambos. Relativamente incomum, abrange entidades clínicas anteriormente conhecidas como doença de Hand-Schüller-Christian, Abt-Letterer-Siwe, Hashimoto-Pritzker, granuloma eosinofílico e histiocitose X. Responsável por menos de 1% dos tumores ósseos, muito raramente leva a acometimento neurológico. Sua etiologia é desconhecida e seu tratamento, controverso. A ocorrência de um caso com comprometimento neurológico nos motivou a este relato. Paciente do sexo feminino, 4 anos de idade, com processo expansivo de C7 a T3 e paraparesia crural; após a cirurgia apresentou melhora importante já no segundo pós-operatório. Encontra-se em terapia complementar com corticoide e quimioterapia estando no nono mês de tratamento. Na revisão da literatura foram encontrados poucos relatos de manejo cirúrgico desse tipo de lesão, em razão de sua característica de doença autolimitada. O tratamento adequado pode variar dependendo das características do paciente e de seu comprometimento neurológico. Palavras-chave Histiocitose X. Histiocitose de células de Langerhans. Mielopatia. ABSTRACT Langerhans-cells histiocytosis as a cause of myelopathy.Case report and literature review Langerhans cell histiocytosis is a uni- or multifocal disease that affects bone, soft tissue, or both. Relatively uncommon, covers clinical entities previously known as Hand-Schüller-Christian disease, Abt-Letterer-Siwe, Hashimoto-Pritzker, eosinophilic granuloma and histiocytosis X. Responsible for less than 1% of bone tumors, rarely causes neurological impairment. Its etiology is unknown and the treatment controversial. We report a rare case with neurological impairment. A 4 year-old female children, presented with paraparesis due to expansive process at C7 to T3; soon after surgery showed significant improvement in the second postoperative day; she is in complementary therapy with corticosteroids and chemotherapy in the ninth month of treatment. In the review of the literature we found few reports of surgical management of this type of injury, due to its characteristic of self-limited disease. The appropriate treatment may vary depending on the characteristics of patients and their neurological impairment. KEY WORDS Histiocytosis X. Langerhans cell histiocytosis. Myelopathy. 1 Residente de Neurocirurgia do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP), Londrina, PR. 2 Professor de Neurocirurgia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR. 3 Professor titular de Neurocirurgia da UEL e chefe do Serviço de Neurocirurgia do HURNP, Londrina, PR. Arq Bras Neurocir 29(1): 32-36, março de 2010 Introdução Histiocitose de células de Langerhans é uma desordem relativamente incomum (incidência aproximada de 0,5 a 5,4 casos a cada milhão de habitantes por ano) envolvendo o sistema reticuloendotelial em crianças e adultos jovens.2 Abrange entidades clínicas anteriormente conhecidas como doença de Hand-Schüller-Christian, Abt-Letterer-Siwe, Hashimoto-Pritzker, granuloma eosinofílico e histiocitose X. Apesar de ter sido descoberta em 1893 por Hand, sua etiologia permanece incerta.1 Está associada a proliferações que formam tumorações, não existem evidências suficientes para considerá-la verdadeiramente neoplásica. O consenso geral parece ser o de que representa afecção reativa na qual a proliferação das células de Langerhans resulta de distúrbios na imunorregulação.4 É classificada como uma desordem de comportamento biológico variável, indo de uma forma maligna e letal até uma forma benigna e autolimitada. A histiocitose de células de Langerhans manifesta-se sob a forma de três entidades clinicopatológicas:12 ● A histiocitose disseminada aguda de células de Langerhans (doença de Letterer-Siwe) ocorre com maior frequência antes de 2 anos de idade. A manifestação clínica predominante é o aparecimento de lesões cutâneas que se assemelham a uma erupção seborreica e que são secundárias a infiltrações de histiócitos de Langerhans nas partes anterior e posterior do tronco e no couro cabeludo. A maioria das pessoas afetadas apresenta, ao mesmo tempo, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, lesões pulmonares e, ulteriormente, lesões osteolíticas destrutivas. A infiltração extensa da medula óssea muitas vezes leva à anemia, à trombocitopenia e à predisposição a infecções recorrentes, como otite média e mastoidite. A evolução da doença não tratada é rapidamente fatal. Com a quimioterapia intensiva, 50% dos pacientes sobrevivem cinco anos. ● As histiocitoses unifocal e multifocal de células de Langerhans (granuloma eosinofílico unifocal e multifocal) são outras duas variantes que se caracterizam por acúmulos expansivos e erosivos de células de Langerhans, geralmente nas cavidades medulares dos ossos. Os histiócitos estão misturados de forma variável com eosinófilos, linfócitos, plasmócitos e neutrófilos. Virtualmente, qualquer osso do sistema esquelético pode ser afetado, mais comumente a calota craniana, as costelas e o fêmur. Lesões semelhantes podem ser encontradas na pele, nos pulmões ou no estômago, sob a forma de lesões Histiocitose como causa de mielopatia Pontes FTG e col. unifocais ou como componente da doença multifocal. As lesões unifocais em geral afetam o sistema esquelético. Podem ser assintomáticas ou provocar dor e sensibilidade e, em alguns casos, fraturas patológicas. Essa é uma afecção indolente que pode curar de forma espontânea ou por meio de excisão ou irradiação. ● A histiocitose multifocal de células de Langerhans costuma afetar crianças entre 2 e 10 anos de idade que se apresentam com febre, erupções difusas — sobretudo no couro cabeludo e nos canais auditivos — e crises frequentes de otite média, mastoidite e infecções das vias aéreas superiores. Um infiltrado de células de Langerhans pode levar a discretas linfadenopatia, hepatomegalia e esplenomegalia. Em cerca de 50% dos pacientes, o comprometimento do pedículo hipofisário posterior leva ao diabetes insípido. A combinação de defeitos ósseos na calota craniana, diabetes insípido e exoftalmia é denominada tríade de Hand-Schüller-Christian. Muitos pacientes apresentam regressão espontânea, e outros podem ser tratados com quimioterapia. Relato do caso Paciente do sexo feminino, 4 anos de idade, apresentando, há 40 dias, cervicalgia associada à limitação da extensão e da flexão do pescoço e déficit motor em membros inferiores há cinco dias. Ao exame físico apresentava paraparesia crural, com força grau III, e hiper-reflexia nos membros inferiores. A ressonância magnética de coluna cervicotorácica evidenciou processo expansivo em região de C7 a T4, posterior ao saco dural, com compressão e alteração de sinal medular em T3 e comprometimento de partes moles fora do canal raquiano (Figuras 1 a 3). Como a paciente apresentava déficit neurológico de instalação recente, foi submetida à laminectomia T3-T4 de urgência e exérese total da lesão que ocupava o canal raquiano, sendo liberada a compressão do saco dural. A lesão extrarraquiana foi ressecada parcialmente. A paciente apresentou melhora importante da força já no segundo dia pós-operatório e, no seguimento, recuperou força grau V. O exame anatomopatológico mostrou tratar-se de histiocitose de células de Langerhans, confirmada por imunoistoquímica que revelou expressão para CD1a e para proteína S-100. Encontra-se em terapia complementar com corticoide estando no nono mês de tratamento, e há dois meses em regime de quimioterapia com vinblastina, sem sinais de recidiva da doença nos controles do terceiro mês (Figuras 4 a 6) e do sexto mês (Figuras 7 e 8). 33 Arq Bras Neurocir 29(1): 32-36, março de 2010 Figura 3 – Corte axial ao nível de T3 mostrando lesão à direita. Figura 1 – Corte sagital mostrando lesão comprimindo medula posteriormente. Figura 4 – Controle após três meses mostrando descompressão medular. Figura 2 – Corte coronal mostrando lesão em transição cervicotorácica. 34 Figura 5 – Controle após três meses mostrando ainda captação de contraste. Histiocitose como causa de mielopatia Pontes FTG e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 32-36, março de 2010 Figura 8 – Controle após seis meses mostrando ausência da lesão. Discussão Figura 6 – Controle após três meses demonstrando ausência de recidiva. Figura 7 – Controle após seis meses. Histiocitose como causa de mielopatia Pontes FTG e col. As células de Langerhans, tidas como parte do sistema fagocitário mononuclear, são HLA-Dr positivas que expressam o antígeno CD1. Apresentam citoplasma abundante, amiúde vacuolizado, em núcleos vesiculosos ovais ou indentados. É característica a presença de corpúsculos HX (grânulos de Birbeck) no citoplasma. À microscopia eletrônica, observa-se que estes possuem estrutura tubular, tipo bastonete, pentalaminar, com periodicidade característica e, às vezes, uma extremidade terminal dilatada (aspecto de raquete de tênis). A histiocitose de células de Langerhans do relato foi encontrada em uma criança do sexo feminino. Na literatura, é mais prevalente em indivíduos de cor branca e sexo masculino,6 embora tenham sido relatados casos em pacientes do sexo feminino.4,13,14 Oitenta por cento dos pacientes com diagnóstico de histiocitose de células de Langerhans têm idade inferior a 20 anos.10,12,14 A dor é o sintoma mais frequente5,9,11 e aparece em 87% do casos.6,9 A histiocitose de células de Langerhans de aparecimento unifocal costuma apresentar-se como lesão solitária no fêmur, no crânio, nas costelas, na pélvis ou nas vértebras.7,14 Segundo Silva,14 lesões solitárias em uma única vértebra acontecem em 10% dos casos vertebrais; a localização torácica acontece em 54% dos casos e a lombar, em 35%. Somente em 11% dos casos a coluna cervical é afetada. Sherk13 acha que o acometimento lombar é mais frequente que o torácico. O acometimento da coluna cervical, segundo Davidson,3 é provavelmente mais frequente que o relatado na literatura. A maioria dos autores tem recomendado a prática cirúrgica em histiocitose de células de Langerhans 35 Arq Bras Neurocir 29(1): 32-36, março de 2010 apenas em casos reservados, como em expansões extraósseas com compressão da medula espinhal ou ainda em casos de instabilidade vertebral, com necessidade de reconstrução ou enxerto.4,8,14 A corticoterapia revela bons resultados, quando utilizada em período prolongado.11 Alguns autores admitem a possibilidade de utilização de corticoides associados a vimblastina no tratamento inicial de lesões unifocais em crianças.9 No presente caso foram realizadas a cirurgia e a corticoterapia associadas à vimblastina, com resultados satisfatórios até o momento. 7. 8. 9. 10. 11. 12. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 36 Bertram C, Madert J, Eggers C. Eosinophilic granuloma of the cervical spine [review]. Spine. 2002;27:1408-13. Christopher WB, James GJ, Mervyn L, Blair C. 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São Paulo, 838/ap. 1801, Centro 86010-060 — Londrina, PR E-mail: [email protected] Histiocitose como causa de mielopatia Pontes FTG e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 37-39, março de 2010 Cavernomas bulbares e ponto-bulbares Discussão sobre dois casos Marcos Augusto Stávale Joaquim1, Gustavo Cartaxo Patriota1, Andre de Macedo Bianco2 Instituto de Neurociências, São Paulo, SP, Brasil Serviço de Neurocirurgia do Hospital Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil RESUMO Os autores discutem a cirurgia de remoção de cavernomas bulbares e ponto-bulbares mostrando dois casos como exemplos. Estratégicas para essas operações e suas indicações são analisadas. Cavernomas bulbares e ponto-bulbares são possivelmente removíveis com baixo risco cirúrgico. PALAVRAS-CHAVE Cavernoma. Angioma cavernoso. Cirurgia do tronco encefálico. ABSTRACT Surgery of medullary and pontomedullary cavernomas. Discussion on two cases The authors discuss the surgery for the removal of medullary and pontomedullary cavernomas. Examples are showed. Strategic parameters are commented. Medullary and pontomedullary cavernomas may be elegible for surgical removal with low surgical risk. KEY WORDS Cavernoma. Cavernous angioma. Brain stem surgery Introdução As cirurgias bulbar e ponto-bulbar progrediram e lesões benignas que imprimem riscos aos doentes devem ser profilaticamente removidas. Não é certo o conceito de observar e esperar (watch and wait) até que a lesão se torne sintomática, pois o primeiro sintoma de uma hemorragia bulbar pode ser a morte ou trazer sequelas importantes em relação a distúrbios motores e função dos nervos bulbares. Tais riscos são grandes em lesões anteriores, nas quais também a cirurgia pode causar tetraplegia por manipulação da decussação das pirâmides ou das origens da artéria espinhal anterior. Também são grandes os riscos na porção inferior do quarto ventrículo, onde superficialmente situam-se o núcleo do nervo hipoglosso, a área postrema e o núcleo motor dorsal do nervo vago e, profundamente, os núcleos do trato solitário e ambíguo. Entretanto, o risco calculado de uma bem estruturada cirurgia pode ser menor do que o risco da história natural da doença, desde que o doente tenha acesso a tais condições técnicas. Planejamento da cirurgia bulbar e da transição ponto-bulbar A ressonância nuclear magnética (RM) pré-operatória permite a escolha da osteotomia a ser realizada (craniotomia central, lateral ou extremo-lateral) de acordo com a localização da lesão e do ponto de intrusão escolhido. O ponto de intrusão é escolhido de acordo com as condições do trajeto cisternal e com a anatomia intrínseca do bulbo. A monitorização neurofisiológica é planejada de acordo com as áreas a serem manipuladas. Guia estereotáxico ou por neuronavegação é usado. A posição do paciente na mesa (semissentado ou em decúbito lateral) é escolhida de acordo com a conveniência da situação e a experiência do cirurgião. A anatomia extrínseca das superfícies bulbar e pontina relativas ao triângulo ou à porção inferior do quarto ventrículo, a disposição do obex, dos pedúnculos cerebelares inferiores, das olivas, do sulco bulbo-pontino 1 Neurocirurgião do Instituto de Neurociências, São Paulo, SP. 2 Neurocirurgião do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Nove de Julho, São Paulo, SP. Arq Bras Neurocir 29(1): 37-39, março de 2010 e a topografia do assoalho do quarto ventrículo são conhecidas.1,3-9 A anatomia intrínseca deve levar em conta a posição dos núcleos grácil e cuneiforme, hipoglosso, área postrema, motor dorsal do vago, vestibulares, trigeminais, ambíguo, trato acessório e abducente. Fibras pedunculares cerebelares, aferências e eferências dos núcleos e sistemas sensitivos de passagem são considerados. Na anatomia cisternal, as artérias cerebelares posteroinferiores e seus ramos, as artérias vertebrais, o sistema venoso espinhal e as raízes dos nervos bulbares são identificados e isolados. A estimulação nuclear e de raízes de nervos durante a cirurgia é útil.2,12 Cirurgia do cavernoma bulbar e ponto-bulbar Algumas lesões afloram na superfície bulbar externa ou no triângulo inferior do quarto ventrículo, e suas relações topográficas intrínsecas e cisternais são identificadas. Outras lesões não afloram, mas assim o fazem hematomas produzidos por ela com pseudocápsulas constituídas de sistema nervoso gliótico que não devem ser removidas, pois podem conter tecido funcionante isolado pela dissecção de fibras pelo hematoma. O tecido gliótico ao redor do cavernoma também é preservado. Outras lesões não são visíveis na superfície bulbar e são localizadas por estereotaxia ou neuronavegação. Ao se terminar a osteotomia de acesso, todas as possibilidades possíveis de intrusão regional no tronco encefálico devem estar previamente planejadas. Mínima manipulação é exigida. Relato dos casos Caso 1 – JE, 18 anos de idade. Apresentou paralisia facial periférica espontânea, anos antes. Recentemente realizou RM de crânio por queixa de “tonturas” sem alterações adicionais ao exame neurológico, exceto uma paralisia facial sequelar. O exame revelou um cavernoma de pedúnculo cerebelar inferior predominantemente, associado a um angioma venoso. Uma craniotomia occipital bilateral permitiu visualização completa do quarto ventrículo e dos pedúnculos cerebelares inferiores. A lesão aflorava em parte no pedúnculo cerebelar e expandia-se posterior e lateralmente. Embora parecesse à RM que havia amplo contato cisternal, a lesão estava coberta por tecido nervoso. Após sua retirada não houve acréscimo de déficits em relação ao quadro pré-operatório. O quadro de “tonturas” permaneceu por meses e regrediu completamente. O angioma venoso foi preservado. 38 Figura 1 – Caso 1: Imagens da RM pré- (acima) e pós-operatória (abaixo) do cavernoma bulbar. Nota-se a preservação do angioma venoso. Caso 2 – FSP, 35 anos de idade. Apresentou hemorragia bulbar e paralisia grave de nervos bulbares no passado, que regrediu totalmente. O estudo por RM revelou hematoma ponto-bulbar intrínseco no quarto ventrículo inferior associado a um cavernoma. Havia dúvida se toda a lesão seria o cavernoma, mas a reconstrução tridimensional por RM mostrou que se tratava de um hematoma organizado e que o cavernoma se situava em sua parede lateral. Uma craniectomia ampla occipital bilateral expôs a fossa posterior e o cavernoma foi abordado diretamente pela região vestibular, onde havia, lateralmente, uma fina cápsula do hematoma, que foi aberta, e a lesão, localizada. O conteúdo hemático liquefeito drenou por essa pequena abertura e a cavidade foi lavada com soro. O cavernoma, pequeno, foi visualizado e retirado. Não houve disfunção pós-operatória de nervos bulbares. Houve síndrome cerebelar persistente que obrigou reabilitação. Um angioma venoso foi preservado. Figura 2 – Caso 2: Imagens da RM com reconstrução tridimensional do tronco encefálico contendo a lesão e o hematoma. Nota-se a situação lateral da lesão. Cavernomas bulbares e ponto-bulbares Joaquim MAF e col. Arq Bras Neurocir 29(1): 37-39, março de 2010 Referências 1. 2. 3. 4. Figura 3 – Caso 2: Imagens da RM pré- (acima) e pós-operatória (abaixo) da exérese do cavernoma da porção inferior do assoalho do quarto ventrículo. Nota-se a preservação do angioma venoso. 5. 6. 7. Discussão O bulbo é um segmento fino do tronco encefálico, com maior concentração de fibras de projeção e de associação intrínseca. Contém importantes núcleos associados à vida vegetativa e à alimentação. Controla as funções cardíaca e respiratória. Sua lesão traz consequências graves. A região inferior do quarto ventrículo concentra as atividades velofaringolaríngeas sensitivas e motoras e sua lesão hemorrágica ou cirúrgica compromete gravemente a qualidade de vida. A possibilidade da abertura programada de uma janela óssea, do tráfego cisternal, poupando-se o conteúdo, e do trafego intra-axial, poupando-se os núcleos e fibras previamente determinadas pelo conhecimento anatômico, por uma tractografia e pelo mapeamento intraoperatório, permite a ressecção de lesões bulbares e ponto-bulbares. Tais lesões poderiam provocar hemorragias fatais ou gravemente sequelantes. Cavernomas bulbares são frequentemente ressecáveis e a verificação cirúrgica da exequibilidade da exérese está indicada na maioria das lesões. Cavernomas bulbares e ponto-bulbares Joaquim MAF e col. 8. 9. 10. 11. 12. Bogucki J, Gielecri J, Czernicki Z. 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Original recebido em setembro de 2009 Aceito para publicação em dezembro de 2009 Endereço para correspondência Marcos Augusto Stávale Joaquim Alameda Campinas, 1.360, 16° andar 01404-002 — São Paulo, SP Email: [email protected] 39 Arq Bras Neurocir 29(1): 40-42, março de 2010 Cavernomas da medula torácica Considerações e relato de um caso-exemplo Marcos Augusto Stávale Joaquim1, Gustavo Cartaxo Patriota1, André de Macedo Bianco2 Instituto de Neurociências e Serviço de Neurocirurgia do Hospital Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil RESUMO Os autores discutem o tratamento dos cavernomas da medula torácica e apresentam um caso como exemplo. Essas lesões são passíveis de ressecção cirúrgica preventiva de déficits neurológicos. PALAVRAS-CHAVE Cavernoma. Angioma cavernoso. Cavernoma medular. ABSTRACT Considerations on thoracic spinal cord cavernomas and case report The authors discuss the treatment of the thoracic spinal cord cavernomas. A case is presented. These lesions are elegible to be ressected before the neurological deficits occur. KEY WORDS Cavernoma. Cavernous angioma. Spinal cord cavernoma. Introdução O primeiro cavernoma medular foi descrito em 1900, e a primeira cirurgia, em 1912. Até 1985, apenas 19 casos haviam sido descritos na literatura. Com o advento da ressonância nuclear magnética (RNM) na década de 1980, o número de diagnósticos e cirurgias aumentou, o cavernoma foi reconhecido como causa de mielopatia aguda principalmente em jovens e os pacientes portadores de cavernomatoses puderam ter sua medula mapeada.3-5,9,15 Cavernomas podem se manifestar em qualquer idade e 10% deles são observados na população pediá trica, em que as manifestações parecem mais agudas. Costumam manifestar-se na quarta década de vida.3,7 Há predileção pela ocorrência na medula torácica e pode haver multiplicidade e ocorrência familiar, o que requer investigações. Podem estar associados a angiomas de pele ou órgãos internos ou ocorrer após a radioterapia.10,11,13 Ocorrem como lesões semelhantes a framboesas circundadas de gliose e um anel de hemossiderina. O plano gliótico é frequentemente infiltrado por prolongamentos dos cavernomas. As dimensões variam de milímetros a centímetros e o crescimento lento permite adaptabilidade medular. Às vezes, a superfície da medula está amarelada e há focos de hemorragias antigas adjacentes. Calcificações podem ocorrer.1,4 Diagnóstico Podem ocorrer sintomas agudos, progressivos ou episódicos e recorrentes. Os sintomas agudos devem-se a hemorragias, e hematoma intramedular associada pode ocorrer. Há déficits sensitivos, motores e esfincterianos e pode haver dor radicular correspondente ao nível medular do cavernoma ou pode ocorrer hemorragia subaracnoidea e hidrocefalia.2,5,6 1 Neurocirurgião do Instituto de Neurociências, São Paulo, SP. 2 Neurocirurgião do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Nove de Julho, São Paulo, SP. Arq Bras Neurocir 29(1): 40-42, março de 2010 Deterioração neurológica progressiva ocorre em 40% dos doentes, por pequenas hemorragias ou tromboses progressivas. Não ocorrem distúrbios hemodinâmicos medulares associados aos cavernomas, porque são lesões de baixo fluxo. Deterioração episódica recorrente com recuperação parcial e sequelas cumulativas pode ocorrer. Estima-se uma taxa de sangramento de 1,4% por ano.6 A RNM, hoje realizada imediatamente na presença de sintomas medulares, faz o diagnóstico. Há pouca captação de contraste nas aquisições em T1 e as imagens em T2 podem revelar aumento de sinal circundado por anel hipointenso de hemossiderina, podendo ocorrer também aumento de sinal por edema. A área de superficialização medular da lesão deve ser observada e, às vezes, a lesão parece aflorar na superfície, o que não se percebe ao microscópio. A angiografia medular não é usada, exceto quando se quer identificar relações com a artéria de Adamkiewicz ou com a artéria espinhal anterior.1,8 hemostáticos e cotonoides, sem pressão. O fluxo da lesão é baixo. O coagulador bipolar é pouquíssimo ou nada utilizado. Angiomas venosos adjacentes são preservados. A cavidade é inspecionada procurando-se expansões ectópicas do cavernoma. O fechamento dural pode ser trabalhoso. A monitorização neurofisiológica intraoperatória é fundamental. Deve haver contínuo diálogo entre o cirurgião e o neurofisiologista para que as lesões possam ser prevenidas e a monitorização não sirva para afirmar que a lesão já ocorreu. A cada leve movimento cirúrgico o neurofisiologista é informado enquanto assiste o procedimento no monitor de televisão da sala. Ele é inquerido se tal movimentação traz fenômenos eletromecânicos ou alterações dos potenciais. Às vezes, há piora neurológica transitória no pós-operatório, mas déficits iatrogênicos definitivos podem ocorrer. O risco é maior quando já há sintomas ou alterações neurológicas prévias e quando essas alterações estão evoluindo por mais de três anos.1,8 É realizada RNM no primeiro dia após a cirurgia, após três meses, um ano e dois anos. Microcirurgia A cirurgia objetiva reduzir a progressão dos sintomas ou proporcionar melhora neurológica, impedindo sangramentos e descomprimindo o tecido neural. Particularmente na medula torácica, menos calibrosa, a alta concentração de fibras proporciona sintomas graves e precoces. Lesões sintomáticas são removidas, assim como lesões assintomáticas de acesso propício e superficiais. Não se deve deixar lesão residual. A intrusão medular implica planejamento. Se a lesão aflorar na superfície, em geral, esta será o ponto de entrada, mas a disposição dos tratos, particularmente motores, é estudada. À RNM, a lesão é estudada em T1, e a aquisição em T2 mostra o anel de hemossiderina, que não faz parte da lesão e não precisa ser removido. Lesões de acesso posterior são alcançadas por laminoplastia. Lesões ventrolaterais e anteriores requerem vertebrectomias, acessos transtorácicos ou acessos posterolaterais ampliados.14 Após a abertura dural e aracnoidea, a inspeção da pia-máter pode raramente mostrar parte da lesão ou comumente uma área amarelada e clara. A ultrassonografia intraoperatória é útil.12 As mielotomias devem ser mínimas. Podem ser utilizadas a zona de entrada de raízes ou sulcos próprios da medula. A lesão é dissecada apenas em seu limite, com dissecação cortante ou com instrumentos laminares. Não se “empurra” ou “traciona” o tecido neural. Microcuretas são úteis e pode ser feita ressecção por partes ou “em bloco”. Sangramentos são pequenos e param apenas com o uso de agentes Cavernomas da medula torácica Joaquim MAF e col. Relato do caso RM, 30 anos de idade. Paciente relatou quadro de fraqueza distal no membro inferior direito, predominantemente no pé. Houve lenta, progressiva e leve piora. A RNM mostrou um cavernoma volumoso em relação às dimensões da medula torácica (Figura 1). Uma laminectomia permitiu acesso à lesão. Durante a manipulação cirúrgica lenta, o neurofisiologista avisou sobre alteração de potenciais motores. Preferiu-se não empurrar o tecido nervoso. Houve pequena piora motora do déficit já existente, não incapacitante, mas o paciente é capaz de deambular e dirigir automóvel adequadamente. Figura 1 – Ressonância magnética demonstrando cavernoma em medula torácica. 41 Arq Bras Neurocir 29(1): 40-42, março de 2010 Discussão A ressecção cirúrgica é indicada em pacientes sintomáticos ou com lesões acessíveis e superficiais. Há forte tendência atual em tratar pacientes assintomáticos quando o risco cirúrgico for baixo, e a tecnologia disponível, favorável. Neste caso tratava-se de paciente jovem, com sintomatologia progressiva e lenta, com lesão proporcionalmente grande em relação ao calibre da medula torácica. Seu prognóstico sem tratamento seria reservado. A técnica microcirúrgica e a monitorização intraoperatória permitiram ressecção de lesão (Figura 2) com mínimo acréscimo definitivo à disfunção motora que já estava presente. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Figura 2 – Controle pós-operatório. 15. Canavero S, Pagni CA, Duca S, Bradac GB. Spinal intramedullary cavernous angiomas: a literature meta-analysis. Surg Neurol.1994;41:381-8. Cantore G, Delfini R, Cervoni L, Innocenzi G, Orlando ER. Intramedullary cavernous angiomas of the spinal cord: report of six cases. Surg Neurol. 1995;43:448-52. Cosgrove GR, Bertrand G, Fontaine S, Robitaille Y, Melanson D. Cavernous angiomas of the spinal Cord. J Neurosurg. 1988;68:31-6. Deutsch H, Jallo GI, Faktorovich A, Epstein R. Spinal intramedullary cavernous: clinical presentation and surgical outcome. J Neurosurg. 2000;93:65-70. Deutsch H, Shrivistava R, Epstein F, Jallo GI. Pediatric intramedullary spinal cavernous malformations. Spine. 2001; 26:E427-31. Fontaine S, Melanson D, Cosgrove R, Bertrand G. Cavernous hemangiomas of the spinal cord: MR imaging. Radiology. 1988;166:839-41. Furuya K, Sasaki T, Susuki T, Kim P, Saito N, Kirino T. Intramedularry angiographycally occult vascular malformations of the spinal cord. 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