Ano XXXV - nº 241
Índice
3
Eletrobras Eletronorte recebe
o Prêmio Nacional da Qualidade 2011
17
A revolução das redes
inteligentes de energia
24
entrevista
José da Costa Neto
Prêmios 1998/2001/2003
30
Celebre a vida,
Viva a Arte
34
Linhão de Guri:
dez anos de uma nova Roraima
42
Cavando o passado
do homem brasileiro
54
oficina para
fazer diferença
62
rabiscos
energizados
70
correio
contínuo
71
fotolegenda
A capa desta edição traz
a arte de Claudia Maria
Pereira Carvalho, talento
da Eletrobras Eletronorte
e umadas inspirações
da matéria Rabiscos
Energizados, que você
confere na página 62.
Na capa, a ilustração de
Claudia simboliza
o orgulhoe o desafio
permanentede ser a
primeira empresa
pública do setor elétrico a
levantar o troféu do
Prêmio Nacional
da Qualidade.
2
Ano XXXV - nº 241
SCN - Quadra 6 - Conjunto A
Bloco B - Sala 305
CEP: 70.716-901
Asa Norte - Brasília - DF.
Fones: (61) 3429 6146 / 6164
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Diretoria Executiva - Diretor-Presidente - Josias
Matos de Araujo - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Operação
- Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito
Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de
Imprensa: Michele Silveira - Equipe de Jornalismo:
Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566- DF) - César Fechine (DRT 9838DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira
(DRT 11298 - RS) - Assessorias de Comunicação
das unidades regionais - Estagiários: Diogo Alves
Ferreira e Antônia Erivanúzia Araújo Macedo - Fotografia: Alexandre Mourão, Roberto Francisco, Rony
Ramos, Assessorias de Comunicação das unidades
regionais - Arte da capa: Claudia Pereira - Arte
final da capa: Raphael Costa/Quê Comunicação
Revisão: Duo Comunicação - Diagramação: Jorge
Ribeiro - Impressão: Brasília Artes Gráficas - Tiragem: dez mil exemplares - Periodicidade: bimestral
Editorial
Olá,
Seu Severino Cavalcante mora na pequena Água Preta, interior de Pernambuco. Há cerca de
quatro anos ele nos presenteia com suas cartas pedindo exemplares da Corrente Contínua
que, segundo ele mesmo, tem orgulho de colecionar. Já o Seu George Ivanoff é morador da
paulista e histórica Santos. De vez em quando, nos brinda com seus telefonemas querendo
saber das próximas edições. São orgulhos que guardamos ao escrever cada nova reportagem
para a Revista.
Nos últimos meses eles sentiram falta da Corrente Contínua. E não é para menos. Uma
pausa para que, em nome deles, e de cada um dos nossos leitores, ela voltasse cheia de
energia.
E aqui está. Novo layout, mais leveza, versão digital, mais imagens e diversidade. Garimpamos
das vozes de vocês, leitores, aquilo que sugeriam a cada edição. Geração, transmissão,
tecnologia, arte, cultura, meio ambiente...nossas editorias vão além de si próprias e trazem
para as páginas da Corrente Contínua uma diversidade com a cara do Brasil.
Apesar da pausa, as matérias não deixam de trazer o que há de novo e apaixonante do
cotidiano de quem faz o Setor Elétrico brasileiro. Em cada linha, a dedicação e o talento de
uma equipe que tem orgulho de registar a história da energia.
É o que você verá nas matérias sobre os dez anos da Interligação Brasil-Venezuela ou em
cada ação ambiental organizada ou motivada pelas equipes da Regional de Tocantins. Um
mergulho na arqueologia nos dá a certeza de que a construção de um empreendimento de
geração ou transmissão pode render milhões de anos de história. Uma diversidade que tem
nome e sobrenome: Eletrobras Eletronorte. A primeira empresa pública do Setor Elétrico a ser
reconhecida com o Prêmio Nacional da Qualidade, nossa matéria especial de capa.
Na entrevista desta edição, o presidente da Eletrobras, José da Costa Neto, fala sobre os
investimentos, os desafios e diz porque a Eletronorte é um exemplo de eficiência no Setor
Público.
Estas são só as primeiras páginas. Nas próximas edições teremos um novo Diário e a estreia
das colunas Corrente da História, Ideias, além de outras novidades.
Acreditamos que renovar compromissos é uma conquista. E por isso a Corrente Contínua
preserva sua tradição de jornalismo plural, informativo e provocador. Mas o traz de cara
nova. Um layout inspirado nas novas tendências de leitura e identificado com o conceito de
energia limpa e renovável.
Esperamos que goste. E que faça desta leitura uma fonte de energia para a construção de um
Brasil e de um mundo sustentáveis de verdade.
Um fraterno abraço,
Redação da Revista Corrente Contínua
3
A caminho
da excelência
Numa conquista inédita, a Eletrobras Eletronorte é a primeira
estatal do Setor Elétrico a receber o reconhecimento máximo
no PNQ, por meio da Superintendência de Geração Hidráulica
Érica Neiva
Sala São Paulo, na capital paulista, 5 de dezembro de 2011. Por volta das 21h30, sobem ao palco
o diretor de Operação da Eletrobras Eletronorte,
Wady Charone, e o superintendente de Geração
Hidráulica, Antonio Bechara Pardauil. Na plateia, o som de apitos, cornetas, e o colorido da
serpetina e dos balões denuncia uma força de
trabalho apaixonada e orgulhosa. E não é para
menos: nessa noite, a Eletrobras Eletronorte
tornou-se a primeira estatal do Setor Elétrico a
receber o reconhecimento máximo do Prêmio
Nacional da Qualidade 2011, na sua 20ª edição,
por meio da Superintendência de Geração Hidráulica, que abrange as usinas de Tucuruí (PA),
Curuá-Una (PA) e Samuel (RO).
Numa cerimônia com mais de mil convidados,
representando 15 organizações entre empresas públicas e privadas, a Eletrobras Eletronorte
mostrou que a paixão pelo que se faz é essencial
numa conquista como essa. “Amamos o que fazemos. Amamos a Eletrobras Eletronorte. A Usina Hidrelétrica Tucuruí implementa cerca de
60 melhorias por ano. Somos detentores de 42
patentes e o caráter sistêmico de nossas ações
possibilita a integração e otimização dos processos”, disse o diretor de Operação, Wady Charone, que destacou a importância do trabalho
em equipe e das lideranças.
A premiação é o maior reconhecimento à excelência da gestão das empresas brasileiras. Nesta edição do Prêmio, a Eletrobras Eletronorte e
outras três empresas - Rio Grande Energia (RS),
CPFL Paulista (SP) e Companhia Energética do
Ceará (CE) - atenderam de forma harmônica e
balanceada a todos os fundamentos da excelência avaliados por oito critérios: Liderança, Estratégias e Planos, Pessoas, Processos, Clientes,
Sociedade, Resultados, Informações e Conhecimento. Todas apresentaram resultados excepcionais no desempenho de suas gestões.
O objetivo da Eletrobras Eletronorte é, a cada dia,
consolidar-se como referência no setor público de
energia elétrica. Para o superintendente de Geração Hidráulica, Antônio Augusto Pardauil, receber
a premiação máxima da Fundação Nacional da
Qualidade nos 20 anos da entidade tem um significado especial. “Neste ano tivemos pontuações
maiores, que demonstram o grau de amadurecimento no processo de gestão das empresas. Mas
no nosso caso específico, por sermos uma empresa pública, o significado é ainda maior, pois mostra o comprometimento da Empresa em atender
a todos os critérios por meio de uma gestão profissional e uma evolução constante”.
O engajamento e a mobilização das equipes da
Eletrobras Eletronorte são percebidos no depoimento do técnico em manutenção mecânica da
Usina Hidrelétrica Tucuruí, Antônio Jorge, que
esteve presente na cerimônia, em São Paulo. “É
uma honra participar da cerimônia e representar os colegas da minha área. O grande desafio é
manter a excelência nos processos, garantindo
segurança e qualidade”.
Histórico - Desde 1998, quando passou a adotar
o Modelo de Excelência da Gestão - MEG disse-
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minado pela Fundação Nacional da Qualidade
- FNQ, a Eletrobras Eletronorte aumentou sua
produção em 85% e conquistou um crescimento de 31% na satisfação dos clientes. Neste mesmo período, sua receita bruta passou de R$ 508
milhões para R$ 3,4 bilhões.
A conquista do PNQ pela Eletrobras Eletronorte
foi resultado de uma luta constante pela melhoria na qualidade dos processos. Em 2009, recebeu
o reconhecimento como destaque nos critérios
Pessoas e Liderança e, em 2010, o destaque em
Pessoas e Sociedade. Todo o esforço e dedicação
das lideranças e colaboradores da Empresa culmi-
naram no reconhecimento máximo, em dezembro de 2011. “Desde 1998, a Eletrobras Eletronorte
vem estabelecendo os critérios da FNQ. Esse é um
processo longo onde é fundamental formar uma
crença não apenas em relação aos líderes e dirigentes, mas em toda a força de trabalho. A formação de equipes sistêmicas que podem atuar em
várias unidades geradoras bem como em novos
empreendimentos é um diferencial
que agrega os nossos talentos. Adotar um trabalho sistêmico é sinônimo de uma maior qualificação
com o objetivo de diminuir custos,
gerar um produto mais competitivo e sustentável”, explica
Wady Charone.
Para Antonio Bechara
Pardauil, a conquista do
Prêmio nos 20 anos da
FNQ completa um ciclo.
“Participamos da FNQ desde o seu nascimento.
Agora o nosso desafio é consolidar o processo de
excelência em toda a Eletrobras Eletronorte e levá-lo às demais Empresas Eletrobras. Para nós, os
critérios Liderança e Pessoas são fundamentais,
uma vez que as lideranças definem o rumo dos
processos e as pessoas são ferramentas fundamentais para se obter as melhores práticas. Hoje
somos uma Empresa forte com um produto melhor e um preço mais competitivo”.
“O reconhecimento do PNQ é fruto de uma gestão integrada de todas as unidades da empresa.
isso é fundamental para uma conquista como
essa, pois a excelência não é isolada. ela só existe
se tiver como elemento motivador a integração”,
avalia o diretor-presidente da Eletrobras Eletronorte, Josias Matos de Araujo, no momento em
que a Diretoria levou o troféu para um encontro
com todos os empregados (foto acima, à esquerda). Segundo ele, o reconhecimento à Empresa,
por meio de Tucuruí, mostra que as empresas
Eletrobras estão atentas ao mercado
competitivo e no caminho da excelência da gestão, para garantir uma
sólida relação patrimônio/resultado.
Os números recordes
do PNQ 2011
A edição 2011 do PNQ teve
15 organizações reconhecidas, o maior número desde sua primeira edição, em
1992. São quatro empresas premiadas em 2011:
Rio Grande Energisa (RS), CPFL Paulista (SP), Companhia Energética do Ceará (CE) e a Eletrobras
Eletronorte, por meio de sua Superintendência
de Geração Hidráulica, reconhecidas por sua gestão excelente, aliada a um processo contínuo de
melhoria e adaptação às demandas do mercado.
Nesta edição do PNQ foram 41 candidatas. Dessas, 34 organizações eram de grande porte; duas
médias; uma pequena; e quatro sem fins lucrativos. Ao todo, foram seis do setor industrial e 35
de serviços.
Para o superintendente-geral da Fundação
Nacional da Qualidade, Jairo Martins, as empresas se destacaram entre as 41 candidatas
pelo elevado nível de qualidade da gestão. “As
organizações têm, claramente, evoluído em
suas práticas de gestão, tanto que a média da
pontuação das reconhecidas foi a mais alta já
obtida. Essa melhoria constante é resultado da
implantação de um programa permanente de
busca pela excelência dentro da companhia e
em parceria com suas entidades setoriais”.
Outro recorde no PNQ 2011 é o número de organizações visitadas pelos examinadores. Do to-
7
tal de participantes, 25 passaram para a etapa
de visitação e foram avaliadas por 430 examinadores que atuam de forma voluntária, totalizando 47.500 horas de trabalho durante sete
meses. Na 20ª edição do prêmio, a FNQ capacitou cerca de mil voluntários para atuar na Banca Examinadora.
O consultor especialista em Gestão Empresarial e voluntário do Comitê Técnico Critérios de
Excelência da FNQ, Ricardo Motta, explica que
existem pessoas que atuam como voluntárias
em várias frentes - examinador relator, sênior,
orientador e nos comitês temáticos. “Nos últimos seis anos tenho atuado como orientador
no processo de premiação. Atuo no Comitê Critérios, onde temos reuniões mensais presenciais ou virtuais. São aproximadamente 300
horas anuais de trabalho voluntário no comitê. Há também o trabalho voluntário na banca
examinadora que pode chegar a 100 horas por
ano”, relata Ricardo Motta.
“Algumas pessoas
questionam o
planejamento estratégico
diante de um cenário
de imprevisibilidade,
mas o seu objetivo é
reduzir os riscos”
Motta foi um das pessoas que ajudou a criar a
Fundação a partir de 1989. “Estudamos a ideia
da criação de um prêmio para o Brasil e a criação de uma entidade que fosse gerenciá-lo. Somos voluntários porque acreditamos na missão
da Fundação de desenvolver e disseminar os critérios de excelência. Contribuimos com a nossa
experiência, mas também aprendemos muito”.
Segundo ele, o modelo de excelência brasileiro
é um dos mais completos do mundo. “É importante destacar o papel da Fundação em disseminar o modelo para micro e pequenas empresas.
Cada vez mais organizações têm contato
com esse modelo independentemente
de concorrer a prêmios, com o objetivo
de melhorar sua gestão. É nítido que o
Brasil é o país da vez, que o mundo está
nos observando. Temos empresas que
são reconhecidas mundialmente”.
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Sobre o histórico do PNQ, Jairo Martins explica que o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade foi o primeiro a ser criado
pela Fundação, no período em que eclodiu o
processo de globalização. “Seus modelos de
gestão foram evoluindo de acordo com os
cenários socioeconômicos. Algumas pessoas
questionam o planejamento estratégico diante de um cenário de imprevisibilidade, mas o
seu objetivo é reduzir os riscos. Adotando critérios de qualidade as empresas estarão melhor preparadas para enfrentar os diferentes
cenários. Precisamos estar sempre em sintonia com o cenário socioeconômico para que o
modelo evolua em consonância com as necessidades de cada época. Nestes 20 anos houve
uma inauguração de um estilo brasileiro de
gestão”, diz Jairo Martins.
Cada ano o PNQ tem uma particularidade. Segundo o superintendente-geral da FNQ, em
2011, foram muito considerados os aspectos
socioambientais, éticos, e da cultura da inovação. “A nossa grande missão é disseminar
os critérios de excelência. Para isso atuamos
em universidades, associações setoriais, programas estudais. Por meio da disseminação
de casos de boas práticas se consegue difundi-las. Inicialmente, o Prêmio era muito voltado
para empresas de grande porte. Hoje micro,
pequenas e médias empresas usam os critérios que colaboram na sua sustentabilidade,
competitividade e longevitude”, afirma o superintendente.
No Senado, a
emoção da trajetória
O anúncio da Eletrobras Eletronorte com o reconhecimento
máximo da Fundação Nacional da Qualidade foi destaque na bancada da Comissão
de Infraestrutura do Senado.
Na ocasião o senador Delcídio
Amaral (PT) fez um pronunciamento reconhecendo a importância
de ser a única empresa pública do Setor
Elétrico a receber o
prêmio máximo de
gestão da qualidade, disputando com grandes
empresas privadas nacionais e estrangeiras.
O Senador também recordou o período em que
trabalhou na Eletrobras Eletronorte como chefe
de usina, de regional e depois como diretor da
Empresa. Do tempo em que esteve em Tucuruí
lembrou: “Comecei lá com uns 30 gatos pingados, que recrutei em Belém. Fomos treinando
os operadores, os engenheiros e técnicos de
manutenção até consolidá-los através de um
núcleo, naquela época chamado Núcleo Operacional de Tucuruí, que depois se transformou
na Regional de Geração de Tucuruí. Naquele
período começamos a instalar um programa de
controle da manutenção e da operação - Procom que visava colocar Tucuruí dentro das normas
de qualidade total que incluía
manutenção preventiva, qua-
lidade da manutenção, qualidade da operação,
saúde e segurança do trabalho. Hoje Tucuruí é
uma referência no mundo. E nós começamos lá
quietinhos, no início das fundações, das galerias de drenagem. Depois fomos fazendo a casa
de força, o vertedouro, o desvio do rio e sua posterior duplicação”.
Sobre o pioneirismo da Usina Tucuruí em inovações tecnológicas e os primeiros passos na
busca da qualidade, o Senador lembrou que
ela foi a primeira usina a empregar fibra ótica
na comunicação com subestação e a primeira
comandada à distância. “Tucuruí foi pioneira
em sistema digital no Brasil, quando ninguém
acreditava que podíamos fazer uma usina digitalizada. Hoje recebe o Prêmio Nacional da
Qualidade e isso começou com aquele time que
foi para lá, com as pessoas que acreditaram no
Brasil, que têm um potencial extraordinário
de crescimento. Acreditaram num projeto que
alavancou o desenvolvimento daquela
região. Portanto, eu não poderia deixar
de registrar e de parabenizar todas
aquelas pessoas que fizeram Tucuruí e parabenizar especialmente a
Eletrobras Eletronorte por realizar
um trabalho integrado à sua região, por participar e promover o
desenvolvimento da Amazônia”.
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“Cada dia que
passa é um
desafio a mais”
tivemos muitas melhorias e implementação
de práticas nos processos. A elaboração da nossa matriz de habilidades e competências está
num nível de estado da arte, e de acordo com
ela identificamos os gaps dos colaboradores.
Neste ano temos um grande desafio de integração das plantas das usinas Tucuruí, Curuá-Una
e Samuel, onde vamos identificar as habilidades
e competências de todos os colaboradores. Sou
uma entusiasta do meu processo. Cada dia que
passa é um desafio a mais.”
Huldaci Carvalho Moreira da Silva,
Centro de Treinamento, pedagoga
“Este é o primeiro ciclo do qual participamos
em Samuel. A nosso equipe está imensamente
feliz. Participar do PNQ é um aprendizado muito grande. Ingressamos há um ano e a equipe
de Tucuruí nos passou muita experiência. É
um grande privilégio estarmos representando
a Usina Samuel. É algo indescritível. Todos vibram. Foi uma descoberta nova conhecermos
o PNQ. Fizemos treinamentos internos e disseminamos para todos – mecânicos, eletricistas.
Por meio desse processo passamos a conhecer a
Empresa de uma forma mais profunda e descobrimos onde podemos mehorar.”
Camila Corassa, Comitê de Gestão Estratégica,
engenheira Química da Usina Samuel
“Estou na Empresa há 27
anos e desde 2001 fui envolvida no PNQ, sempre
nos critérios Capacitação
e Desenvolvimento. É
muito gratificante, pois é
o resultado de um trabalho, de um processo que
estamos desenvolvendo
há muito tempo. É o resultado de um trabalho bem
feito. Contamos com a colaboração da equipe do
Centro de Treinamento. Ao longo de dez anos
10
“Comecei na Empresa em
2007 e sempre trabalhei
com o PNQ. Para mim
foi uma satisfação muito
grande sermos Destaque
em 2009 e sermos premiados em 2011. É o reconhecimento do nosso
trabalho. Os critérios de
excelência estão incorporados na nossa rotina.
Respiramos PNQ e TPM. Hoje os fundamentos
do PNQ estão integrados aos do TPM. É um modelo de gestão integrada. Estou com um bebê
de oito meses, mas fiz questão de vir.”
Andreza Sassi, Comitê de Gestão
Estratégica, engenheira Química
“Hoje vivenciamos um
momento inédito. Estou
na Empresa há dez anos
e venho acompanhando
as tentativas. A cada ano
fomos crescendo na pontuação e hoje fechamos
com “chave de ouro”. É a
concretização de um sonho antigo. Obedecemos
vários critérios do PNQ
na realização das nossas atividades. Observam
na avaliação se as atividades estão integradas,
se há refinamento, continuidade e resultados.
Trabalho diretamente com o programa de ergonomia que começou em 2001 e ao longo dos
anos, de acordo com as análises críticas, fomos
implementando melhorias que aconteceram
em todos os postos de trabalho. Temos programa de ginástica laboral, academia focada na
prevenção de lesões, entre outros. Neste processo é fundamental a liderança e a união da
equipe. Cada um faz a sua parte visando construir um todo. O nosso maior desafio em 2012 é
conquistarmos o “World Class” do TPM. Daqui a
dois anos voltamos a participar do PNQ.”
Rejane Martins, área de
Qualidade de Vida, fisioterapeuta
“Estou em Tucuruí desde 1984. Esta é a primeira vez que estou vindo a
uma cerimônia de premiação. Sinto-me honrado de estar participando
do evento e representar
os colegas que ficaram. A
nossa área dá suporte à
manutenção e operação.
Vejo em todas as áreas
um grande avanço. Temos que aprender técnicas integradas que compreendem desde análise, comunicação com clientes e a relação com a
comunidade. Isto trouxe segurança e qualidade
ao nosso processo. O Prêmio não pára. Temos
sempre que nos atualizar para mantermos esta
qualidade e, consequentemente, o Prêmio. É um
reconhecimento do que fazemos.”
Antônio Jorge Nascimento Souza,
técnico em Manutenção Mecânica
“Estou com 25 anos de
Empresa e desde 1998
concorremos ao PNQ,
conhecido inicalmente
como PQGF. Percebo o
reconhecimento como
um produto de vontade
das pessoas, das lideranças que acreditaram
nisso. Existem muitos
modelos e ferramentas,
mas se não tivermos pessoas que acreditem e
lideranças que patrocinem, não vamos a lugar
nenhum. Os critérios foram sendo entendidos
pouco a pouco. As ferramentas foram sendo
trazidas. Num determinado momento da jornada o TPM também foi integrado ao processo.
Mesclamos as duas coisas num grande sistema
de gestão e o resultado é este que presenciamos hoje.
Este é um dia fantástico. Às vezes acho que a
ficha ainda não caiu. Este é o reconhecimento
máximo para uma empresa no Brasil em termos de qualidade da sua gestão. É difícil descrever em palavras este sentimento: é orgulho,
sensação de dever cumprido, “sangue, suor e
lágrimas”. É a sensação de que chegamos onde
queríamos. Entendo que para a Eletrobras Eletronorte é um prêmio muito importante. Hoje
no setor público somos referência com toda
certeza. Aquela usina no interior do Pará é referência na gestão do bem público. Igual pode ter,
mas melhor que nós é difícil. Nosso próximo
desafio é mantermos o nosso nível de qualidade. “Chegar no topo da montanha é difícil, mas
se manter lá é mais difícil ainda”. Conseguimos
alcançar um nível de excelência. Agora precisamos mantê-lo.”
Valter Roma, assessor do Comitê de Gestão
Estratégica, engenheiro eletricista
“Para nós é uma satisfação imensa participar
deste momento que vem
sendo buscado há vários
ciclos. Tivemos a felicidade neste ano de sermos
uma empresa finalista
e premiada. Para nós a
avaliação do PNQ é fundamental. Percebemos a
cada ano uma melhoria
gradativa dos processos baseada no relatório
de gestão fornecido pela FNQ a cada avaliação.
Hoje posso assegurar que muitas das ações
que absorvemos e aplicamos foram oportunidades de melhorias indicados pela Fundação.
Hoje há um maior feedback entre a gestão e
os colaboradores. A alta gestão tornou-se mais
próxima do “chão de fábrica”, das pessoas que
fazem a Empresa no dia a dia. Isto pra nós foi
um incentivo fundamental para chegar aonde
chegamos”.
Wilson Ribeiro da Silva, analista de Recursos
Humanos da Assessoria Administrativa
11
A pentacampeã CPFL
Ao lado da Eletrobras Eletronorte, a CPFL Paulista (SP) foi uma das quatro empresas que receberam o PNQ 2011. A CPFL iniciou sua trajetória
de sucesso na aplicação de um modelo voltado
para excelência da gestão no âmbito do Prêmio
Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica - Abradee. Na época era adotado o
modelo de 500 pontos do Programa Gaúcho de
Qualidade e Produtividade - PGQP, que tinha
como base o Modelo de Excelência da Gestão
preconizado pela Fundação Nacional da Qualidade.
Desde 2000, as distribuidoras do Grupo CPFL
Energia obtiveram vários reconhecimentos na
categoria nacional e em perspectivas relacionadas à qualidade da gestão, responsabilidade
social, gestão operacional, econômico-financeira e avaliação pelo cliente. Em 2002, a CPFL
Paulista começou a participar do PNQ e três
anos depois foi reconhecida como Premiada,
consagrando-se como a primeira empresa do
Setor Elétrico a ganhar o PNQ. Esse resultado
repetiu-se em 2008. Em 2009 foi a vez da CPFL
Piratininga alcançar o mesmo reconhecimento
e, em 2011, além da conquista, pela terceira vez,
da CPFL Paulista, o Grupo também foi vencedor
do PNQ com a RGE, distribuidora que passou
a ser efetivamente operada pela CPFL Energia
em 2007. Com as duas vitórias de 2011, a CPFL
Energia tornou-se o grupo que mais venceu o
Prêmio: cinco vezes.
O gerente de Qualidade e Processos do Grupo
CPFL Energia, Mauro de Oliveira Sobrinho, que
é Lead Auditor certificado pelo International
Register of Certificated Auditors (IRCA) e Membro do Comitê Técnico Critérios de Excelência da FNQ, afirma que a excelência
e a competitividade estão presentes
no DNA da CPFL Energia. “A Empresa busca se diferenciar com
uma prestação de serviço de
alta qualidade aos seus clientes. A grande particularidade
da adoção dos fundamentos
e critérios de excelência da
FNQ é permitir um enfoque
abrangente e equilibrado
em relação a todas as partes
interessadas.
12
Os reconhecimentos obtidos e disseminados
pelas empresas do Grupo sinalizam que nossas
práticas de gestão são diferenciadas e voltadas
não só para as pessoas, mas também para os
acionistas, clientes, sociedade e fornecedores.
Ou seja, acreditamos que os resultados dos processos de avaliação nos permitem um diagnóstico abrangente da gestão”.
Com destaque para o negócio de distribuição,
a CPFL Energia apresenta os melhores indicadores técnico-operacionais do Setor Elétrico.
O grau de excelência na gestão propiciou premiações da Aneel, FNQ, Abradee, Guia Exame,
ISE, entre outros. Uma das iniciativas de inovação do Grupo, o Programa Tauron, nasceu com
o objetivo de obter um avanço importante na
operação de distribuição, em suas várias plataformas de negócios, com base em novas tecnologias, gestão de desempenho e gestão de
ativos e liderança. Um dos pilares desse projeto
é o investimento em smart grid, ou redes inteligentes, que vai promover uma transformação
no sistema elétrico, com ganhos na eficiência
do processo e, consequentemente, na qualidade do serviço.
Às vésperas de seu centenário, a CPFL Paulista, que deu origem ao Grupo CPFL Energia,
conquistou o PNQ de forma consecutiva em três ciclos. Para Mauro
de Oliveira a conquista representa além da constância de
propósitos, um compromisso
com sua agenda estratégica,
pautada em inovação de processos e crescimento organizacional. “A CPFL Paulista busca de
forma permanente a excelência da gestão e influencia
as demais empresas do
Grupo CPFL Energia e
do Setor Elétrico nacional no sentido de atingir resultados de forma sustentável. Além
do envolvimento das
pessoas e o papel das
lideranças, outro destaque é a capacidade
do Grupo em identificar necessidades de
mudanças antes mes-
mo de que elas aconteçam. A CPFL Paulista cultiva, desde sua origem, um diferencial de empreendedorismo que foi conquistado e solidificado
ao longo dos anos com base no compromisso e
na competência de seus profissionais”, destaca
o gerente.
A história da Coelce com
clientes cada vez mais exigentes
Distribuidora de energia no estado do Ceará,
a Coelce começou sua trajetória no PNQ, em
2009. A partir daí, ficou bastante claro para a
Empresa que era um instrumento estratégico
importante e neste mesmo ano, a Companhia
foi destaque no critério Cliente. Ainda em
2009, tirou o primeiro lugar no prêmio Abradee de satisfação de cliente de todo o Brasil,
com 92,7% de satisfação e recebeu o prêmio
de satisfação de cliente da América Latina. Em
2010 ficou como uma das finalistas do PNQ e,
em 2011, juntamente com a Eletrobras Eletronorte e CPFL recebeu o reconhecimento máximo do Prêmio.
O presidente da Coelce, Abel Rochinha, avalia
que há características que são críticas para se
ter um bom resultado. “A primeira, que considero fundamental, é uma relação cultural de
respeito ao cliente que já existe na Companhia
há anos. Temos 20 contatos com clientes por
minuto. A cada três segundos se tem um contato com cliente de algum lugar do Ceará. Se
não tivermos paixão pelo que fazemos é complicado, pois o número de operações é enorme.
A segunda característica é o nosso planejamento estratégico que tem quatro
perspectivas – colaborador, cliente,
acionista e sociedade. Tentamos um
equilíbrio e uma harmonia constantes entre os quatro. Reflexo disso é
que estamos há seis anos na Exame e
quatro na Great Place como uma das
melhores empresas para se trabalhar
no Brasil. Neste ano, ficamos classificados na Exame como melhor empresa
para se trabalhar no Norte e Nordeste”.
A Coelce também é destaque em seus projetos sociais. Em 2011 ganhou o primeiro
lugar na Abradee como melhor do Brasil em responsabilidade social. O Ecoel-
ce, que é um projeto em que se paga conta de
luz com lixo reciclável, foi escolhido pela ONU,
como um dos 10 melhores projetos do planeta.
“Hoje temos 360 mil famílias inscritas no Programa, das quais 100 mil famílias usam regularmente. Há, inclusive, famílias que há dois
anos pagam sua conta de luz com o lixo reciclável”, explica Abel.
O Presidente afirma ainda que dirigir uma
Companhia em que as pessoas têm paixão pelo
que estão fazendo é algo extremamente gratificante. “Para isso, por exemplo, paramos mensalmente a Coelce durante duas horas com uso de
videoconferência para diversos locais no Estado. São aproximadamente mil pessoas. Nesses
momentos prestamos contas do mês anterior –
resultados, índices, lucro, número de acidentes,
pontos positivos e negativos. Os colaboradores
também se manifestam com perguntas diversas. É algo que aproxima as pessoas e estreita
sua relação com a Empresa. O envolvimento
dos colaboradores e o comprometimento é alto.
As pessoas se sentem parte do processo”.
A Coelce tem a certeza que o cliente é cada vez
mais exigente. E que para fazer mais com menos, é preciso usar a criatividade e
profissionalismo. “Diante das demandas da sociedade temos que
ser mais participativos e transparentes. Quando você desafia
as pessoas, elas saem da “zona
de conforto”. Estamos trabalhando agora em dois níveis.
Um é o MEG, em que
trabalhamos dos níveis gerenciais para
cima, com o objetivo de aprimorar o
modelo. Outro é a
gestão da rotina,
fazendo com que
as operações diárias sejam cada vez
mais previsíveis e
mais questionadas
pelos próprios colaboradores, que são
mais de 8 mil diretos
e indiretos/empresas
parceiras, além dos
1,3 mil do quadro.
13
“Pode, sim, haver
excelência no
setor de serviços
públicos no Brasil”
A primeira participação da Eletrobras Eletronorte no PNQ deu-se por meio da Superintendência de Geração Hidráulica, então Regional de
Produção e Comercialização de Tucuruí - CTC, em
2000. O foco naquela época era ainda o Prêmio
Nacional da Gestão Pública - PQGF. Em 2002, a
Eletrobras Eletronorte conquistou a Faixa Ouro
e o Prêmio Qualidade do Governo Federal e, a
partir de 2003, a então CTC submeteu seu sistema de gestão à avaliação da Fundação Nacional
da Qualidade, por meio de sua participação no
Prêmio Nacional da Qualidade. Nos anos 2003,
2004, 2006, 2007 e 2008, a Empresa foi “organização visitada”. Em 2009, obteve reconhecimento como destaque nos Critérios 1-Liderança e
6-Pessoas. Em 2010 foi reconhecida nos Critérios
4-Sociedade e 6-Pessoas, esse pelo segundo ano
consecutivo. Em 2011, após a participação em
nove ciclos de avaliação, a Superintendência de
Geração Hidráulica foi agraciada com o maior
reconhecimento à gestão no Brasil, o Prêmio Nacional da Qualidade, sendo a primeira empresa
pública do Setor Elétrico brasileiro a conquistá-lo. Nesta entrevista, o superintendente de Geração Hidráulica da Eletrobras Eletronorte, Antonio Bechara Pardauil, fala sobre o dia a dia do
PNQ e dos desafios que vem pela frente.
De que maneira a Empresa vivencia
os critérios do PNQ no seu dia a dia,
com a sua força de trabalho?
A Superintendência de Geração Hidráulica, por
meio da metodologia japonesa TPM, pratica os
11 fundamentos, respondendo aos Critérios
e requisitos do Modelo de Excelência da
Gestão - MEG. Hoje, todas as atividades
executadas na Superintendência são
ligadas a um dos pilares do TPM, por
meio do seu Plano Estratégico, que é
desdobramento do Plano Corporativo
e da Diretoria. Assim, cada colaborador participa e vivencia os critérios de excelência, que estão
baseados nos fundamentos do
MEG. Esta é uma forma inédita
tanto de praticar os fundamentos como os pilares do TPM,
cuja aplicação transcende em
muito a ideia original de gerir
apenas a produção, e se transformou no Sistema de Gestão da
Superintendência, utilizando-se de
várias ferramentas integradas de análise e solução de problemas.
O que significa para a Eletrobras
Eletronorte ser a única empresa pública
a receber a premiação máxima?
Significa que pode, sim, haver excelência no
setor de serviços públicos no Brasil. Certamente há dificuldades adicionais se compararmos
com a iniciativa privada, e a velocidade de implantação do sistema de gestão tende a ser menor. Neste ponto é que entra em cena um dos
fundamentos da excelência: “Liderança e Constância de Propósitos”. Se a organização possuir
uma liderança persistente, determinada e decidida a fazer acontecer, é possível. Nosso caso
prova isto.
Quais os principais resultados capazes
de mostrar a evolução da Usina Hidrelétrica
Tucuruí nos critérios exigidos pela Fundação
Nacional da Qualidade - FNQ?
Segundo nosso Relatório de Avaliação do Ciclo, há espaço para melhorias nos processos
de gestão relativos a clientes, inclusive quanto à integração de suas práticas, à sociedade e
aos processos (todos com desempenho na casa
dos 70%, um nível considerado muito bom).
Com relação aos resultados, as oportunidades
de melhoria concentram-se no desempenho
econômico-financeiro e clientes. É importante
ressaltar que, com as informações do próprio
Relatório de Avaliação, cada área com oportunidades de melhoria pode planejar como
resolvê-las e passar a um nível superior de desempenho. Aliás, este é o principal ganho da
participação em ciclos de avaliação externos,
como o PNQ.
Na sua opinião, quais fatores propiciam
o reconhecimento do PNQ por várias
empresas da área de energia elétrica?
Dentre tantos, podemos citar o aumento expressivo do Índice de Desenvolvimento - ID
nos últimos cinco anos; a redução significativa dos custos com pessoas, materiais, serviços e outros; a diminuição, pela metade, dos
desligamentos forçados da Usina Tucuruí nos
últimos cinco anos; o alto nível de satisfação
da força de trabalho, além do aumento contínuo da produção de energia e do faturamento,
entre outros.
Há alguns anos a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica - Abradee decidiu recomendar o uso do MEG como base para
a gestão de todas as suas empresas associadas, como forma de reverter a avaliação ruim
que vinha recebendo dos seus clientes, que são
principalmente os consumidores residenciais
e industriais de baixa tensão. Para motivá-las,
criou inclusive um prêmio setorial de qualidade. Assim, a cultura da excelência acabou se
disseminando pelas empresas de distribuição,
que hoje, dado o grau de maturidade de sua
gestão, concorrem diretamente ao PNQ.
Quais os próximos desafios
para manter os reconhecimentos?
Qual é o diferencial
dessa trajetória?
O principal desafio deste período é a Certificação da Superintendência de Geração Hidráulica
– OGH no nível “World Class” da metodologia
TPM, o mais elevado patamar da metodologia,
seu estado da arte. E isso será feito de forma
inovadora, apresentando um TPM enriquecido
com diversos requisitos do MEG e considerando
todas as plantas de geração hidráulica interligadas da Eletrobras Eletronorte (as usinas Tucuruí, Samuel e Curuá-Una) e também a Superintendência de Engenharia de Geração.
É importante destacar, nestas conquistas todas,
a participação de toda a família Eletrobras Eletronorte, que nunca poupou esforços ou esmoreceu nesta busca de mais de dez anos. Mesmo nos
momentos mais críticos, quando alguns resultados teimavam em não ser o que desejávamos,
houve sempre o sentimento de que aquilo era só
um pequeno teste para nossa capacidade de superação. E os obstáculos sempre foram vencidos
graças ao empenho e superação pessoal de cada
um, buscando sempre um jeito novo de vencer
os desafios. Sem essa equipe e sem essa disposição de encarar os desafios, certamente não teríamos chegado a este nível de reconhecimento,
nada menos do que Classe Mundial.
Mesmo sendo uma empresa Classe Mundial,
a Eletrobras Eletronorte possui processos
que precisam ser melhorados? Quais?
15
Tecnologia
A revolução das redes
inteligentes de energia
Entre as novidades que vêm por aí estão a substituição dos
atuais medidores de energia, a possibilidade de o consumidor
optar pela energia pré-paga e até de disponibilizar energia
para a rede, se possuir alguma fonte de geração em casa
César Fechine
Uma verdadeira revolução está prestes a acontecer no setor elétrico brasileiro. E ela começa a
partir dos estudos que estão sendo conduzidos
para implantar as redes inteligentes de energia,
denominadas smart grids. Entre as novidades
que vêm por aí estão a substituição dos atuais
medidores de energia, a possibilidade de o consumidor optar pela energia pré-paga e de disponibilizar energia para a rede, se possuir alguma
pequena fonte de geração em casa. Várias instituições públicas e privadas investem recursos e
trabalham nos projetos e estudos para modernizar as redes de energia elétrica no Brasil.
Uma das primeiras mudanças neste sentido
ocorreu no último mês de novembro, quando a
Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel,
em reunião pública da Diretoria, aprovou a alteração da estrutura tarifária aplicada ao setor
de distribuição de energia. O novo regulamento
prevê a aplicação de tarifas diferenciadas por
horário de consumo, oferecendo tarifas mais
baratas nos períodos em que o sistema é menos utilizado pelos consumidores. A nova sistemática, que será aplicada a cada distribuidora
a partir de sua revisão tarifária, entre 2012 e
2014, modifica padrões vigentes desde a década de 1980 e considera as mudanças que ocorreram na oferta e na demanda de energia nesse
período.
Para os consumidores de baixa tensão, seja os
residenciais, comerciais, industriais e de áreas
rurais, a principal mudança é a criação da modalidade tarifária branca, que será uma alternativa à convencional, hoje em vigor, e oferecerá três diferentes patamares para a tarifa de
energia, de acordo com os horários de consumo.
De segunda a sexta-feira, uma tarifa mais barata será empregada na maioria das horas do dia;
outra mais cara, no horário em que o consumo
de energia atinge o pico máximo, no início da
noite; e a terceira, intermediária, entre esses
dois horários. Nos finais de semana e feriados,
a tarifa mais barata será empregada para todas
as horas do dia.
A proposta da tarifa branca é estimular o
consumo em horários em que a tarifa é mais
barata, diminuindo o valor da fatura no fim
do mês e a necessidade de expansão da rede
para atendimento do horário de pico. A tarifa
branca será opcional e, caso o consumidor não
pretenda modificar seus hábitos de consumo,
a tarifa convencional continuará disponível. A
tarifa branca, entretanto, somente começará a
valer quando as distribuidoras substituírem os
medidores eletromecânicos de energia pelos
eletrônicos, assunto que também está em estudo na Aneel.
Outra mudança, válida a partir de janeiro
de 2014, é a criação das Bandeiras Tarifárias
Verde, Amarela e Vermelha, que funcionarão
como um semáforo de trânsito e se refletirão
em diferença de tarifa para o consumidor. A
Bandeira Verde significa custos baixos para
gerar a energia. A Bandeira Amarela indicará
17
um sinal de atenção, pois os custos de geração estão aumentando. E a Bandeira Vermelha indicará que a situação anterior está se
agravando e a oferta de energia para atender
a demanda dos consumidores ocorre com
maiores custos de geração, como por exemplo, o acionamento de grande quantidade de
termelétricas para gerar energia, que é uma
fonte mais cara do que as usinas hidrelétricas. O público alvo serão todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional – SIN, de
alta e baixa tensão.
Eletrobras
Um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) desenvolvido pela Eletrobras e que está
iniciando a fase de testes no município de Parintins, no Amazonas, marca a última fase dos
estudos de um sistema automatizado para modernizar a rede de distribuição de energia elétrica. Com custo de R$ 22 milhões, o projeto-piloto
em Parintins tem por finalidade automatizar
100% do serviço do fornecimento de energia.
O trabalho inclui a modernização de todo o
sistema, com a substituição dos medidores
convencionais por medidores inteligentes. Os
Projeto-piloto de
automatização dos
medidores de energia
elétrica está em teste
na cidade de Parintins,
no Amazonas
novos equipamentos irão permitir aos clientes
fazer o monitoramento do consumo por meio
de um display, dispositivo digital que será entregue em cada unidade consumidora. O projeto
conta com a parceria da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ e tem a sua
conclusão prevista para dezembro de 2012.
De acordo com a assistente da diretoria de Distribuição da Eletrobras, engenheira Elaine França
Fonseca, que coordena o projeto no Amazonas,
os testes que irão definir as novas tecnologias a
serem adotadas com as respectivas funcionalidades para o sistema smart grid serão todos embasados no resultado do projeto. “A gente quer
realmente usar o que há no mercado, ver o que
podemos utilizar, os impactos nos hábitos dos
consumidores, como os processos internos das
empresas serão afetados, a relação da empresa
com os clientes e se os equipamentos eletrônicos vão funcionar corretamente. Haverá várias
mudanças, principalmente com a medição inteligente e a automação de rede”, destaca.
Com o novo sistema, o consumidor poderá ter
acesso ao seu consumo via internet, fazer o
monitoramento, saber em que horário existe o
maior uso e, a partir daí, fazer o uso racional da
energia elétrica.
Foto: Alfredo Fernandes/Agecom
Medidores e religadores
Uma novidade que acompanha os smart grids
são os medidores inteligentes compostos por
sensores que serão instalados nos transformadores e irão medir a temperatura dos equipamentos no intuito de evitar possíveis sobrecargas. A rede inteligente também contará com
dispositivos chamados religadores, equipamentos totalmente automatizados, dotados de
alta tecnologia que têm por finalidade localizar
defeitos na rede de distribuição em curto espaço de tempo.
“Os equipamentos serão instalados na rede
e irão permitir que a empresa isole apenas o
trecho onde está ocorrendo o defeito e mantenha o fornecimento de energia para os demais
clientes que não foram diretamente afetados
pelo problema. Isso significa dizer que a rede
estará automatizada”, explica Elaine.
Os medidores inteligentes, ao chegarem ao consumidor final, vão fornecer os insumos não só
para faturamento, mas para a troca de dados,
pois serão instrumentos bidirecionais, estabelecendo um canal de comunicação real da distribuidora com o cliente e permitindo a chamada
geração distribuída. Isso significa que se o cliente instalar um painel solar ou um dispositivo
eólico poderá passar parte da energia produzida
para a rede. Em Parintins, esse tipo de teste contempla a instalação de painéis solares em cerca
de 150 casas, que serão conectadas à rede.
Haverá mudanças também nos modelos de negócios, pois a leitura será feita de forma remota,
e o projeto de Parintins tem o objetivo também
de preparar o plano de expansão para as empresas do Sistema Eletrobras. “Parintins
não é só um piloto de teste de tecnologia, mas de
processo para determinar
o modelo de negócio. Atualmente, nós estamos
instalando os religadores, que permitirão a comunicação
remota, por meio
de fibra óptica e
também de rádio”,
afirma Elaine.
20
Para a aquisição dos medidores do projeto em
Parintins, a cidade foi dividida em quatro lotes. A licitação do primeiro lote acaba de ser
concluída. “A documentação está toda correta
e estamos na fase de avaliação do proponente. Nós vamos iniciar agora o teste de conceito,
que consiste em avaliar o funcionamento da
solução ofertada. Inicialmente, foram licitados
3.400 medidores para os clientes e 90 medidores para transformadores de distribuição”, diz
Elaine.
O projeto inclui o balanço energético, que consiste na medição de cada consumidor individual e a soma dos consumidores no transformador para comparar as medições do circuito
secundário, o faturamento e a perda real.
Serviços
“A troca dos medidores eletromecânicos por
aparelhos digitais, entretanto, representa apenas 1% do que se chama de smart grid, que seria
uma rede para prover vários tipos de serviços”,
alerta Flávio Roberto Antônio, gerente de Negócios de Telecomunicações e Acompanhamento
da Eletronet. Autor do trabalho “Antecipando o
Futuro para Atender a Demanda de Smart Grid”,
Flávio explica que, com os medidores inteligentes, os provedores terão a possibilidade de oferecer serviços como internet e a leitura e emissão da fatura automaticamente.
Com as redes inteligentes, as concessionárias
poderão obter benefícios como a redução dos
custos operacionais, leitura do consumo à distância e emissão de faturas, localização das
falhas na rede de distribuição, diminuição do
tempo de interrupção, automatização das redes
de transmissão, recomposição dos sistemas de
transmissão com mais agilidade e controle automático da geração.
Os benefícios para o consumidor serão
o fornecimento de energia elétrica
com melhor qualidade, a possibilidade de geração local de energia elétrica, um regime de tarifação variável,
criação de um perfil pré-determinado, informação em tempo real sobre
o uso de energia elétrica, entre outros.
Conforme explica Flávio, “quando
se automatiza a rede, o consu-
midor pode instalar um painel solar em casa,
gerar energia e injetar na rede. Eu posso, por
exemplo, ter uma microusina em casa e vender
o excedente para a CEB, no caso de Brasília, ou
ter o direito a algum tipo de compensação no
gasto”.
Na área de distribuição,
a Eletrobras vai investir
US$ 709 milhões na
implantação de
equipamentos de
comunicação em suas
redes para torná-las
mais inteligentes
Outra possibilidade é a integração de eletrodomésticos inteligentes. “Se eu entrar na internet e programar o micro-ondas para ligar
às 18h30, quando chegar em casa a comida
vai estar pronta. Existem eletrodomésticos
que poderão ser programados para ligar ou
desligar na hora que eu quiser. São coisas que
poderão ser feitas pela internet, se o equipamento tiver um desses cabos azuis conectados
à rede”, acrescenta.
Numa analogia com o Setor Elétrico, as empresas constroem as unidades geradoras, as subestações, as linhas de transmissão em 230 e 500
kV, entregando a energia para as distribuidoras,
que, por meio de outras subestações, fazem chegar a energia às residências dos consumidores
em 127V ou 220V. No setor de telecomunicações isso é bem parecido: a transmissão de dados é feita por canais de 40 GB e as operadoras
disponibilizam canais para os consumidores
com 3 MB, o que é mil vezes menos.
O trabalho apresentado por Flávio durante o XXI SNPTEE, realizado em
Florianópolis (SC), utilizou os
dados das Centrais Elétricas de
Santa Catarina S/A – Celesc
que mostram que há 32 unidades geradoras no Estado,
112 subestações de transmissão, 38 subestações de
distribuição, 15 mil religa-
dores, 151 mil transformadores de rua e mais
de 2,3 milhões de consumidores. Estima-se
que em todo o País, 65 milhões medidores de
unidades residenciais precisarão ser trocados
nos próximos anos. “Cada consumidor, cada
transformador e cada função de transmissão
precisará de um medidor eletrônico. Multiplica
isso para todo o País. Então, haverá um impacto
muito grande na produção industrial, além da
necessidade de software e de pessoas para controlar e monitorar tudo isso”, diz Flávio.
Perdas
Em relação às perdas ocasionadas por desvios
e furtos de energia, os conhecidos “gatos”, que
atualmente correspondem a 30% para a Eletrobras Amazonas Energia, por exemplo, o sistema
do smart grid irá proporcionar a identificação
precisa do lugar exato onde são efetuados. Os
desvios serão identificados por meio de um sistema que realiza a medição no modo global,
inclusive do transformador, onde será possível
identificar o problema. Além disso, a rede inteligente possibilitará a coleta de informações
em tempo real e as inspeções também vão contar com equipes de prontidão.
Na área de distribuição, a Eletrobras vai investir US$ 709 milhões na implantação de equipamentos de comunicação em suas redes para
torná-las mais inteligentes e dotá-las futuramente de tecnologias de smart grid. O projeto
deve atender às seis empresas de distribuição
da Eletrobras nas regiões Norte e Nordeste.
Paulo Lucena, diretor da Divisão de Análise e Acompanhamento de Gestão
Técnica e Distribuição da Eletrobras,
explica que o objetivo é explorar os
recursos de Infra-estrutura de Medição Avançada – AMI (Advanced
Metering Infrastructure) com o foco
na redução das perdas. “Este projeto
contempla a revitalização das
redes e a construção de alimentadores para melhorar
o sistema de distribuição
e algumas ações na parte
institucional. O AMI é um
passo intermediário para a
exploração de recursos do
conceito smart grid”.
21
Esta estrutura de medição avançada é um marco
tecnológico para as empresas, segundo Lucena,
porque vai permitir explorar os recursos de telemedição. “Em parte das unidades consumidores
das nossas distribuidoras, a medição será feita
remotamente. Os dados serão coletados por intermédio de um sistema de comunicação e concentrados num sistema no centro de medição
em Brasília”, acrescenta.
Telecomunicações
Os dados gerados e tratados com a implantação
das redes inteligentes de energia serão transportados por meio das fibras ópticas instaladas
nos cabos OPGW (Optical Groud Wire), ou cabos
para-raios, das empresas do Setor Elétrico. Atualmente, a Eletrobras Eletronorte possui 6.157
km de linhas de transmissão com os cabos de
fibras ópticas. Essa rede atende às necessidades
de comunicação operativa e corporativa entre
as unidades da Empresa e oferece canais de comunicação para as operadoras de serviços de
telecomunicações.
Essa rede também possibilita a geração de receitas significativas para a Eletrobras Eletronorte, que possui contratos firmados com diversas
operadoras de telefonia. “O faturamento com
os serviços de telecomunicações foi de R$ 45,5
milhões em 2011. E a expectativa é chegarmos
a R$ 7 milhões por mês até o final de 2012”, informa Carlos Magno de Sá Abadá, superintendente de Telecomunicações.
A rede de fibras ópticas da Eletrobras Eletronorte já está a serviço da inclusão digital no Estado
do Pará, por meio de um Termo de Cooperação
Técnica que permite o uso da rede para atransmissão de dados em alta velocidade – é o Programa Navega Pará. O convênio está sendo renovado. “É importante salientar que o limite de
municípios contido no convênio é de 14, mas o
Governo do Pará, utilizando a
infraestrutura implantada, estendeu o atendimento a mais
de 40 municípios ao longo do
Estado”, diz Abadá (foto à direita).
Com a recente assinatura de
um Termo de Cooperação Técnica, a Eletrobras Eletronorte
também vai ceder capacidade
para a Telebrás implantar o
Plano Nacional de Banda Larga – PNBL, em Belém (PA).
Convênio firmado com o Governo do Estado do Tocantins
também vai possibilitar a implantação do programa “Tocantins Conectado”, que prevê a disponibilização da infraestrutura da Eletrobras
Eletronorte. O governo estadual vai investir R$
30 milhões em equipamentos, rádios e softwares para construir a rede de serviços corporativos. Outros convênios serão celebrados em breve com os estados do Acre e Maranhão.
“Hoje, uma parte pequena das nossas instalações não são atendidas pelos cabos de fibras
ópticas. Mas estamos trabalhando para suprir
100% dos nossos sistemas”, afirma o engenheiro Dilermando de Santana Lacerda (abaixo à
esquerda), gerente de Projetos e Implantação
de Telecomunicações.
Dilermando explica que a Telebras está estruturando um circuito no Brasil para interligar todas as regiões com a banda larga. “Nós estamos
ajudando neste projeto com investimentos que
chegam a R$ 12 milhões. E onde nós não temos
capacidade, a Telebras vai nos suprir”, diz.
Rede convergente
A Eletrobras Eletronorte também licitou
switches e roteadores para instalar em todas as suas subestações e implantar a rede
convergente, onde trafegam a rede administrativa, a rede corporativa, os
sistemas de gerenciamento elétrico e o SAP-R3.
Por intermédio da rede convergente, é feito o
tráfego de vídeo, voz e dos dados operativos e
corporativos, bem como dos outros que tenham
características IP (Protocolo Internet).
“Tais serviços são fornecidos
em forma de circuitos lógicos,
como se estivessem em redes
fisicamente separadas e isoladas. As fibras ópticas das linhas
de transmissão são utilizadas
como meio físico de transporte,
conectadas aos equipamentos
de telecomunicações”, informa o engenheiro Rosemberg
Lobato (abaixo à direita), que
integra a equipe da gerência
de Projetos e Implantação de
Telecomunicações, e autor do
trabalho “Experiências Adquiridas na Implantação da Rede
Eletronorte que Utiliza Convergência e Aplicações
de Serviços em Ambientes IP sobre Cabos OPGW”.
Esse trabalho está possibilitando à Empresa
utilizar a infraestrutura de rede e de serviços,
reduzindo custos de operação e manutenção,
garantindo a confiabilidade, disponibilidade e
segurança, bem como oferecendo serviços que
podem ser reaproveitados em diferentes redes
de acesso. A utilização dessa rede inteligente
possibilitou uma economia para a empresa de
cerca de R$ 2 milhões em 2010.
Todas as mudanças que vêm por aí visam à
sustentabilidade do Setor Elétri- co, com
o uso racional de energia, a
automação da medição e a
diminuição das perdas. Segundo Flávio, a sustentabilidade é o grande objetivo.
“O uso racional de energia
por parte do consumidor
brasileiro e a definição
das
tecnologias
de smart grid
vão fazer com
que as fontes
alternativas
sejam corretamente exploradas”.
23
Entrevista
José da
Costa Neto
“Eficiência
é fundamental”
17 de janeiro de 2011. O ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, anuncia o nome do engenheiro José Carvalho da Costa Neto como novo
presidente da Eletrobras. Funcionário de carreira da Cemig, que presidiu em 1998, Costa Neto
assumiu a presidência da Holding com a missão
de consolidar o processo de integração das Empresas, aumentar o valor de mercado e viabilizar a internacionalização da Companhia.
Nesta entrevista à Corrente Contínua, Costa
Neto fala sobre concessões, matriz energética
e investimentos da Eletrobras. Segundo ele, o
modelo do Setor Elétrico brasileiro é uma referência mundial, pela sua conveniente estruturação que permite a segurança do suprimento,
modicidade tarifária e universalidade do atendimento. Sobre a participação da Companhia
no mercado, Costa Neto é taxativo: “Eficiência
é fundamental para que as empresas sobrevivam no mundo competitivo de hoje”. Confira a
entrevista.
A previsão de investimentos da Eletrobras
para 2012 chega a R$ 13,3 bilhões, a maior
parte concentrada em geração, com R$ 6,8 bilhões.
Quais são os empreendimentos prioritários?
Deveremos investir R$6,8 bilhões em geração,
R$3,8 bilhões em transmissão, R$1,9 bilhões em
distribuição e R$0,8 bilhões em instalações gerais.
Na geração estamos participando da construção de cerca de 23,0 GW, entre projetos corporativos e através de Sociedades de Propósito
Específico - SPE’s, em parceria com outros agentes, sendo que cerca de 12,0 GW, pertencem às
Empresas Eletrobras.
Entre os projetos de geração se destacam as
usinas hidrelétricas de Belo Monte, Jirau, Santo
Antonio, Teles Pires, a usina nuclear de Angra
III, além de diversos projetos eólicos e alguns
solares, estes últimos em nível de desenvolvimento tecnológico.
Ainda na previsão de investimentos para 2012, a
Eletrobras estima R$ 3,8 bilhões para transmissão.
São prioritariamente obras de ampliação?
Qual a necessidade real de reforço nas linhas
do Sistema Interligado Nacional para reduzir
perdas e atender a demanda de energia no Brasil?
Estamos investindo tanto na expansão como
na revitalização do sistema existente.
A transmissão tem a função primordial de integrar energeticamente as diversas bacias hidrográficas e transportar grandes blocos de
energia elétrica até os centros consumidores e,
por isso, é de fundamental importância para o
Sistema Interligado Nacional – SIN.
Entre os projetos de expansão em construção se
destacam as Linhas de Transmissão de escoamento da energia de Jirau e Santo Antonio para
a região Sudeste.
O programa de revitalização do sistema existente está sendo dinamizado. Em 2011 produzimos um relatório compreendendo um amplo
diagnóstico de nossas instalações de geração e
transmissão pertencentes à rede básica e a definição das obras necessárias para melhoria da
confiabilidade e qualidade de nossos serviços.
Com essas obras pretendemos reduzir os desli-
gamentos, as interrupções e o tempo de restabelecimento do sistema.
Entre os projetos que integram a estratégia de
internacionalização da Eletrobras estão a usina
de Tumarín, na Nicarágua, além da Linha de
Transmissão compartilhada com o Uruguai e
as usinas binacionais de Garabi e Panambi, com
a Argentina. Como está esse processo e como
as Empresas Eletrobras participam dele?
O processo de internacionalização é estratégico
para as Empresas Eletrobras por seguir o caminho que todas as grandes empresas de energia
elétrica do mundo já trilham.
O consumo de energia elétrica do Brasil corresponde a cerca de 3% do consumo mundial.
Isso significa dizer que passando da dimensão
nacional para a mundial, nosso nicho negocial
é multiplicado por 33, e que vamos trazer mais
oportunidades para as empresas de engenharia, fabricantes e empreiteiras brasileiras.
Há ainda um outro componente, de estratégia
nacional, já que a interligação energética entre os países da América Latina, um dos pontos
mais importantes do processo de internacionalização da Eletrobras, é essencial para o desenvolvimento regional, algo que é do interesse estratégico do Brasil. Já estabelecemos um amplo
portfólio de projetos no exterior, os quais apresentam diversos estágios de desenvolvimento.
“O processo de
internacionalização
é estratégico para as
Empresas Eletrobras por
seguir o caminho que
todas as grandes empresas
de energia elétrica
do mundo já trilham”
Dentre esses projetos figuram a Hidrelétrica
Tumarin, cujos estudos de viabilidade técnico-econômica, projeto básico e estudos ambientais já foram concluídos, estando agora em
discussão final os aspectos institucionais e os
relacionados à venda da energia.
25
A LT de 500 kV que interligará o SIN, a partir de
Candiota, ao sistema uruguaio nas imediações
de Montevidéu, deverá entrar em operação em
outubro de 2013.
A obra já foi iniciada do lado uruguaio, que tem
uma extensão de 350 km, enquanto do lado
brasileiro, com uma extensão de 63 km, ainda
depende da correspondente licença ambiental.
As hidrelétricas de Panambi e Garabi, localizadas no Rio Uruguai, na fronteira do Brasil com a
Argentina, terão juntas a capacidade instalada
de cerca de 2.200 MW e tiveram os respectivos
inventários concluídos e aprovados.
Controlada pela União, a Eletrobras é dona
de 39% da capacidade total de geração do País,
mas está na expectativa de uma decisão de
Governo que pode alterar esse cenário.
Qual a melhor solução para as concessões?
Creio que o mais prudente seria renovar as
concessões com redução de preços e tarifas, de
modo a beneficiar os consumidores, pois grande parte dos investimentos nas respectivas concessões já foi amortizada.
Uma nova licitação, a meu ver, provocaria muita insegurança no setor elétrico, num momento importante para o País, quando as empresas
precisam de segurança para investir a fim de
atender à demanda que já citei.
“O setor elétrico
brasileiro tem um
histórico importante
de responsabilidade
socioambiental,
que não é devidamente
reconhecido pela
sociedade brasileira”
Naturalmente que essa redução de preços e tarifas trará impactos significativos para a Eletrobras. Por isso estamos nos preparando para absorver esse impacto considerando estratégias
de redução de nossos custos, incremento de receitas e conveniente reestruturação financeira
de nosso “funding”.
26
As Empresas Eletrobras são empresas
públicas, mas que também precisam ser
eficientes e estarem sujeitas às regras de mercado.
Como o senhor analisa a importância da
participação das Empresas em programas
como o Luz Para Todos, por exemplo?
As empresas Eletrobras atuam fundamentalmente como agentes do setor elétrico, dentro
de um mercado competitivo, mas têm também
funções delegadas pelo Governo na gestão de
programas setoriais com Luz para Todos, Proinfa e Procel, fundos setoriais como RGR, CCC e
CDE e de bens da União (BUSA).
De uma forma geral a empresa é ressarcida dos
custos incorridos na gestão desses programas e
fundos.
O sucesso de todos estes Programas estratégicos para o desenvolvimento econômico e social
do País é motivo de orgulho para todos os nossos empregados.
Estamos empenhados para melhorar nossos resultados financeiros, aumentando nosso valor
de mercado para possibilitar a manutenção ou
incremento de “market share” do sistema Eletrobras.
Hoje, um dos principais problemas para os
empreendimentos de geração e transmissão de
energia são os atrasos das licenças ambientais.
Que alternativas as Empresas Eletrobras
estão buscando para resolver esses impasses?
As Empresas Eletrobras cumprem a legislação
brasileira, que é das mais avançadas do mundo
e motivo de orgulho para nosso País. Para atender à legislação usamos a criatividade e a experiência do nosso corpo funcional.
Um bom exemplo dessa capacidade inovativa
são as usinas-plataforma, um conceito revolucionário que usaremos na implantação das usinas do Complexo de Tapajós. Essas usinas serão
construídas de maneira a afetar minimamente o
meio ambiente, sem a construção, por exemplo,
de vilas de trabalhadores, e operadas quase totalmente de forma remota. Os poucos trabalhadores necessários trabalharão em turnos de 15 ou
21 dias e viajando de helicóptero, como acontece
nas plataformas de petróleo em alto-mar.
Estamos procurando capacitar cada vez mais
nosso pessoal para a gestão e elaboração dos estudos ambientais e operacionalização de suas
recomendações, além de incrementarmos nosso relacionamento institucional com os órgãos
ambientais.
Ainda na questão ambiental é preciso dizer
que o Setor Elétrico, especialmente as empresas
públicas, tem um forte compromisso com ações
de compensação ambiental. O que falta ao
Setor para que tenha reconhecida a sua
responsabilidade com as regiões e
comunidades onde há empreendimentos?
É verdade que o Setor Elétrico brasileiro tem
um histórico importante de responsabilidade
socioambiental, que não é devidamente reconhecido pela sociedade brasileira.
“O modelo brasileiro é
uma referência mundial,
pela sua conveniente
estruturação que permite
a segurança do
suprimento, modicidade
tarifária e universalidade
do atendimento”
Essa falta de reconhecimento, porém, creio que
pelo menos parcialmente, é de responsabilidade nossa, das pessoas que militam no Setor.
Tradicionalmente, interagimos pouco com formadores de opinião de outros setores e somos
mesmo avessos a contatos com a mídia, por
exemplo. Tendemos a ficar centrados em nós
mesmos, nos nossos planos, que discutimos em
nossos fóruns e encontros, mas não os apresentamos à sociedade, buscando o diálogo. Esse
afastamento acaba, no fim das contas, prejudicando a nós mesmos e é essa atitude que precisamos mudar.
Já avançamos alguma coisa, mas, acredito, há
muito trabalho a fazer nesse campo. Vamos
aproveitar os eventos de comemoração dos 50
anos da Eletrobras para procurar difundir nossas práticas de compensação ambiental em
nossos empreendimentos.
O Brasil é reconhecido mundialmente pela sua
matriz limpa e baixos índices de emissão de gases
de efeito estufa. Como a Eletrobras tem investido
nessa matriz? Qual o cenário para as fontes
alternativas nas Empresas Eletrobras?
O Brasil possui 88% de sua geração de energia
elétrica proveniente de fontes limpas, que não
emitem CO2, e pode manter essa situação privilegiada por mais 20 anos. Nós, das Empresas
Eletrobras, daremos, certamente, uma grande
contribuição para isso. Estamos investindo pesadamente na construção de parques eólicos e
em pesquisa de ponta em geração fotovoltaica, helioelétrica e com resíduos, além, claro, de
continuarmos com nosso programa de investimentos em hidroeletricidade, sem esquecer
também a energia nuclear, uma fonte limpa de
enorme futuro.
Como o senhor avalia a participação das
empresas do Sistema nos últimos leilões?
O modelo brasileiro já pode ser uma referência
mundial para o mercado de energia?
A Eletrobras, como braço empresarial do Governo Federal, tem grande responsabilidade na
consecução dos objetivos centrais do modelo
setorial, relativamente à confiabilidade e qualidade do serviço, modicidade tarifária e universalidade do atendimento e tem cumprido muito bem este desafio.
Ao mesmo tempo, como empresa com ações na
Bolsa, deve garantir uma adequada remuneração a seus acionistas. Assim sendo, nos últimos
leilões, temos participado de forma competitiva, mas sempre garantindo a agregação de
valor a nossos acionistas, com os nossos lances
vencedores.
O modelo brasileiro é uma referência mundial,
pela sua conveniente estruturação que permite
a segurança do suprimento, modicidade tarifária e universalidade do atendimento.
A unificação das empresas Eletrobras completa
dois anos em março de 2012. São empresas com
histórias de identidade com as diversas regiões
do País, além de quadros funcionais distintos.
Como está o Sistema hoje?
Que desafios dessa integração ainda
precisam ser vencidos?
27
Entendo o sentido unificação, como a integração estratégica e sinergia operacional entre as
empresas.
versatilidade, flexibilidade e rapidez, mas com
controle público, buscando metas e focando em
resultado. A Eletrobras está nesse caminho?
Na verdade, a unificação das Empresas Eletrobras começou em 2008, com as mudanças nos
estatutos de cada uma delas, realizadas para
dar um maior alinhamento estratégico entre
elas, sob o comando da holding. Em março de
2010, houve apenas a unificação das marcas
das empresas, uma ação que deu visibilidade a
um processo que começara dois anos antes.
Não tenho dúvidas disso. Há um entendimento crescente entre os dirigentes das empresas
e também entre os demais colaboradores de
que não há mais espaço, no mundo de hoje,
para processos baseados em conceitos antigos
rígidos, burocráticos e lentos, ineficientes, em
suma. O fato de uma empresa, ou um grupo de
empresas, ser grande não é mais garantia de sobrevivência num mundo competitivo, como foi
em outros tempos. No mundo dos negócios de
hoje, não é mais o forte que engole o fraco ou
o grande que engole o pequeno; é o veloz que
engole o lento.
Hoje, quase quatro anos após seu inicio, já avançamos muito, com a emissão do Planejamento
Estratégico, do Plano Diretor de Negócios e agora na elaboração do Plano de Negócios, com os
novos processos de governança e gestão implantados e com alguns serviços compartilhados já realizados.
“A Eletrobras Eletronorte
é, certamente, uma das
empresas de ponta no
nosso Sistema no que
se refere à eficiência
empresarial. Eficiência
é fundamental para
que as empresas
sobrevivam no mundo
competitivo de hoje”
Mas temos ainda muito a avançar na governança e gestão, incluindo a reorganização administrativa com a eliminação de atividades
redundantes e com o compartilhamento de recursos, com a reformulação, automação e informatização dos processos operacionais e administrativos, com a capacitação do pessoal, com a
introdução da meritocracia e com a exploração
de forma mais profunda da energia entre nossas empresas.
O Governo Federal já anunciou que pretende
dinamizar o serviço prestado pelas empresas
estatais. A ideia é ter empresas com habilidades
de mercado próprias de empresas privadas, como
28
Um processo dinâmico como esse, necessariamente, obriga os profissionais a se aperfeiçoarem sempre e a empresa, como contrapartida,
reconhecer os seus méritos. Esse é o círculo virtuoso provocado pela meritocracia, outra exigência no moderno mundo dos negócios.
Em 2011, a Eletrobras Eletronorte foi a primeira
empresa pública do Setor Elétrico a conquistar o
Prêmio Nacional da Qualidade. Qual a importância
de um reconhecimento como esse para a
Eletrobras nesse cenário de eficiência no
mercado e internacionalização da Companhia?
Esse reconhecimento é um exemplo eloquente
do que acabei de descrever. A Eletrobras Eletronorte é, certamente, uma das empresas de
ponta no nosso Sistema no que se refere à eficiência empresarial. Eficiência é fundamental
para que as empresas sobrevivam no mundo
competitivo de hoje.
O que o Brasil pode esperar das
Empresas Eletrobras nos próximos 10 anos?
O Brasil pode esperar uma “holding” forte para
tornar suas empresas cada vez mais eficientes,
dinâmicas, integradas e sinérgicas, que trabalharão duro para continuar fornecendo energia
elétrica de fontes limpas e renováveis, com qualidade e modicidade tarifária para os consumidores, retorno adequado aos acionistas e satisfação plena para os empregados, permitindo o
desenvolvimento do país e levando bem-estar
aos brasileiros.
Abre aspas
Dobrar a parcela da energia renovável é ambicioso, mas alcançável. Os benefícios superam
em muito os custos, os quais incluem crescente
insegurança energética e acelerada mudança
climática.
Energia renovável pode também ajudar a
superar a desigualdade e promover o acesso
universal à energia
Ban Ki-moon - Ban Ki-moon, secretário-geral
da ONU, reforçando 2012 como o Ano Internacional
da Energia Sustentável para Todos
Hoje, 1,4 bilhão de pessoas ainda não têm
acesso à eletricidade e os cálculos mostram que
o mundo terá de dobrar a produção de energia
até 2030
Temos uma Amazônia em que 41% de sua
área de quase seis milhões de quilômetros
quadrados são destinados a reservas indígenas e ambientais. Mas se pegarmos todos os
projetos hidrelétricos previstos para a região,
desde os inventariados até os já leiloados, teremos uma área somada desses reservatórios
de apenas 0,23% da área
Erton Carvalho - presidente do Comitê
Brasileiro de Barragens, em entrevista
à Corrente Contínua
Supachai Panitchpakdi - secretário-geral
da Conferência da ONU para o Comércio
e Desenvolvimento.
Pense nisso!
O Instituto Acende Brasil divulgou estudo
mostrando que o setor elétrico brasileiro totaliza 1,2% das emissões nacionais, enquanto globalmente a geração de eletricidade responde
por 28,8% do total das emissões. No Brasil, os
vilões das emissões são desmatamento, agricultura e pecuária, com 79,6%; transportes, com
6,1% e os processos industriais com 3,6%.
29
Cultura
Celebre a vida,
Viva a Arte
Projeto completa cinco anos de democracia cultural.
Com música, drama e comédia, os palcos da
Eletrobras Eletronorte, do auditório da
Companhia Energética de Brasília,
do Espaço Cultural T-Bone, e até
o Jardim Botânico, são espaços
para a festa da arte
Da Redação, com colaboração de Diogo Ferreira
Márcia Tauil
mostrou seu
talento no
Viva a Arte
O Brasil é um país rico, sua natureza é cheia
de valor. As pessoas daqui são elogiadas pelo
mundo inteiro por sua simpatia, sua alegria de
viver. E riqueza, se sabe bem, não é só dinheiro.
É conjunto. Aqui, arte e diversidade guardam
segredos em cada esquina, em cada pedaço de
cerrado ou de floresta. Ainda que escondidas,
surpreendentes. E esse é o sentimento de quem
acompanha as edições do Viva a Arte, um projeto cultural alternativo que tem como foco principal valorizar a produção artística desenvolvida no Distrito Federal.
Tudo começou em 2006, com o chamado “Sextas Musicais”. No palco do auditório da Eletrobras Eletronorte, em Brasília, artistas empregados da Casa se apresentavam no intervalo
do almoço, tocando seus instrumentos. O resultado? Uma plateia que não parou de crescer. O projeto cultural Viva a Arte completa
cinco anos com muito orgulho. Artistas locais
de Brasília, e também naturais de outros estados, deixam no Viva a Arte um pouco do seu
talento.
Criado pelo músico, e líder do Sindicato dos Urbanitários – STIU/DF, Rivaldo Alcântara o Boréu
– o Viva a Arte é um marco da valorização de artistas regionais. “O contato com a arte é importante e apoiamos o ideal perpetuado na música
‘Comida’, dos Titãs: A gente não quer só comida,
a gente quer comida, diversão e arte.”
E o Viva a Arte não parou de crescer e de ganhar
visibilidade. No seu palco já se apresentaram
artistas de projeção nacional, como Paulinho
Pedra Azul, Xangai, Simone Guimarães, Paulinho Tapajós, Marcello Lessa, Renato Motha, Tavito, Celso Blues Boy e Tunai. A cantora Márcia
Tauil mostrou seu talento no Viva a Arte e emocionou a plateia com um tributo a Elis Regina.
Para ela o projeto dá oportunidade para que a
música de qualidade de Brasília seja apresentada. “O Viva a Arte ajuda a divulgar o nosso trabalho; as pessoas nos conhecerem e participarem conosco, para que sejamos conhecidos nas
cidades”.
Segundo Boréu, o projeto foi idealizado por
Humberto Macedo, na época diretor de Promoções da Associação dos Empregados da Eletronorte. A ideia cresceu, mas mantinha o formato
artesanal e sem estrutura para se manter.
Depois de uma pausa de cerca de três anos, o
projeto voltou. E com força total. Boréu conta
orgulhoso que as dificuldades iniciais foramsuperadas. “Com a dimensão tomada pelo Viva
a Arte, era hora de captar recursos. Foi quando
surgiu a ideia de pedir o apoio à Eletrobras Eletronorte”.
A arte da parceria
Boréu explica que o Viva a Arte tem sua receita paga de forma detalhada. É definido antes
como o investimento será pago. O valor do cachê dos artistas, investimento em divulgação, o
serviço de contrarregra, aluguel de equipamentos, sonorização; os valores são detalhados e depois comprovados”, explica Boréu.
O Espaço Cultural T-Bone também teve apresentações. Conhecido pela promoção das noites culturais na quadra 312 Norte, em Brasília,
o Açougue Cultural é um orgulho da cidade. Lá,
os livros dividem espaço com os cortes de carne.
Funciona como uma biblioteca, onde as pessoas podem levar o livro, ler e devolver dias de-
Nesse caminho chegaram também novos
parceiros. O SESC/DF, o Açougue Cultural T-Bone e o Jardim Botânico de Brasília também
recebem o projeto. “Em 2011 os frequentadores do Jardim Botânico de Brasília também
tiveram a oportunidade de participar do Viva
a Arte. A iniciativa foi importante para atrair
o público para visitar o local em sua época
mais fraca de visitação, a época da seca. Depois Boréu.
31
pois. A Noite Cultural T-Bone é realizada duas
vezes por ano. É uma noite gratuita que integra
pessoas de todas as classes sociais e de todas
as idades. Em 1998, ano da primeira edição do
projeto, a Noite Cultural foi realizada dentro do
açougue e contou com trinta pessoas. Desde
então, já participaram mais de 150 mil pessoas
e mais de 500 artistas como Moraes Moreira,
Chico César, Guilherme Arantes, Célia Porto,
Tom Zé, Manassés, João Donato, Flávio Venturine, Geraldo Azevedo, Jorge Mautner, Nelson
Jacobina, Geraldo Azevedo, Belchior, Erasmo
Carlos, Banda Blitz, Alceu Valença, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Milton Nascimento, entre tantos outros.
No show de Milton Nascimento, que contou
com o patrocínio da Eletrobras Eletronorte, o Viva a Arte apoiou os artistas
locais que abriram a apresentação
de Milton. “O intercâmbio de artistas
consagrados com artistas locais é importante para a formação”, afirma Boréu (à direita).
Atualmente o Projeto Viva a Arte é
administrado pela Organização Não
Governamental ‘Vida Brasil’. Na coordenação está Rivaldo Alcântara, e na
produção executiva, Salomão di Pádua, Marcondes Silva e Seu Gomes.
E se a pergunta for “quem ganha com
isso”, os organizadores têm a resposta na ponta
da língua: “ganha a Empresa por ter sua imagem
vinculada à arte, garantindo o acesso à cultura e
ao entretenimento; ganha o artista, por ter seu
trabalho divulgado; e ganha o público da Eletrobras Eletronorte e redondezas, que assistem a
espetáculos de qualidade e gratuitos”.
Quem já passou por aqui
A história do Viva a Arte pode ser comparada
a um quebra-cabeça. A cada novo artista, uma
contribuição para os cinco anos do Projeto. Em
cada peça, os momentos, a reação do público e
o sentimento de ‘quero mais’. O primeiro espetáculo foi baseado nos antigos festivais de música, responsáveis por tornar talentos da época
em realidade. Cantores locais encenaram um
festival e interpretaram sucessos de artistas
consagrados.
32
Depois disso o projeto não parou mais. Em
2008 foi a vez do cantor Xangai, que se apresentou fazendo homenagem ao dia dos pais.
Paulinho Pedra Azul e Tunai também marcaram presença. O humorista Cláudio Falcão
mostrou As Pérolas de Berenice, espetáculo
de humor que em 2011 completou 20 anos de
história. O rap do Ataque Beliz, que a pouco
tempo concorreu a prêmio MTV , inaugurou
no projeto.
Depois de se apresentar no Você é Show – projeto
de talentos da Eletrobras Eletronorte – a banda
Athena levou seu hard rock para o Viva a Arte. O
vocalista da banda, Wilson de Castro, conta que
ficou “feliz da vida” ao receber o convite. “Quando
a gente voltou às atividades, em 2010, eu comentei com o baixista: vamos trabalhar um material aí que eu
queria apresentar para o pessoal do Viva a Arte, quem sabe
uma possibilidade de fazermos uma apresentação lá. Por
sorte, o convite chegou até a
gente graças ao Você é Show”.
Criada em 1993, a Athena
tem em seu repertório composições próprias em inglês
e em português. Wilson, que
é secretário da Superintendência de Suprimento de
Material e Serviços da Eletrobras Eletronorte, entrou na banda em 1994.
Nesse mesmo período começaram a tocar em
barzinhos e festivais. Em 2002 as atividades
foram encerradas, retomando só em 2010 com
nova formação. A banda é formada pelo vocalista Wilson, Wagner Bacelos no baixo e Thiago
na guitarra. “No início era banda de garagem,
mas depois de 18 anos de estrada muita coisa melhorou”, conta Wilson. Para ele, a grande
vantagem de participar do Viva a Arte foi a divulgação do trabalho.
Responsável por dar uma linguagem bem brasileira ao blues, Celso Blues Boy, tem seu talento reconhecido no Brasil e nos Estados Unidos.
No palco do Viva a Arte, inspirou fãs talentosos.
“Cheguei a ver um dos meus grandes ídolos,
o Celso Blues Boy, que eu considero um blues
bem brasileiro, e que sempre foi influência para
mim”, conta Wilson de Castro.
A arte da diversidade
Além de músicos, compositores e instrumentistas, os palcos do Viva a Arte também recebem
os talentos do drama e da comédia. A companhia de comédia Colapso apresentou dois comediantes. O ator e humorista Hugo Leonardo
mostrou com humor os dilemas e as dificuldades da carreira de ator nos dias de hoje, e
as dificuldades de realizar seu sonho de fazer
novela. Alessandra Vieira, a Madame Dolores,
apresentou ao público a arte de ser cartomante.
Com seus conhecimentos transcendentais, adquiridos em cursos à distância, parcelados em
algumas prestações. No final de suas apresentações no Viva a Arte, eles contaram como conseguiram marco importante para quem quer
construir as bases que sustentam seus lares. Os
artistas confessaram que iriam à Globo naquele final de semana. O público foi ao delírio, certo
de que o talento da dupla, que o fez rir durante
uma hora, seria reconhecido nacionalmente.
Depois dos aplausos Hugo Leonardo e Madame
Dolores falaram da expectativa: “é uma experiência muito importante para construir nossas
bases, enfim vamos comprar cimento e tijolos
na Globo Materiais de Construção no final de
semana...” Deu vontade de assistir? Fique de
olho na programação do Viva a Arte (www. projetovivaaarte.com.br)
Para o compositor, cantor, poeta e jornalista da
Eletrobras Eletronorte, Byron de Quevedo, participar do Viva a Arte foi uma experiência de
felicidade e de reencontro com amigos. “O Viva
a Arte é uma alternativa cultural interessante
para a cidade. A cada ano agrega mais nomes
importantes da música, do teatro e da performance que deixam nos shows a marca dos seus
talentos”. Criador do arrastarock - ritmo que
mistura a catira, rock, forró e blues – Byron avalia que o projeto cultural abre espaço para espetáculos generosos que dão oportunidade para
artistas se apresentarem de maneira tranquila
e democrática.
Nesses cinco anos, o casamento entre vida e
arte ofereceu muitos frutos. É toda sexta-feira,
no intervalo do almoço, cantar, sorrir e viver
sem ter a vergonha de ser feliz. Cantar, dançar,
aplaudir e brindar a alegria de ser um eterno
aprendiz. E ser parte desse show que tem que
continuar.
33
Transmissão
Linhão de Guri: dez anos
de uma nova Roraima
Esperado com muita expectativa, o Linhão foi inaugurado
em 13 de agosto de 2001. Depois disso, a história
de Roraima nunca mais foi a mesma.
Da Redação, com colaboração de Núzia Araújo
Dez anos sem os fantasmas da escuridão. Foi-se o tempo em que os roraimenses eram pegos
de surpresa pelas sombras dos blecautes. Hoje,
uma década após a chegada do Linhão de Guri a
Roraima, linha de transmissão de energia entre
Brasil e Venezuela, o que se vê é um cenário de
desenvolvimento e oportunidades.
Esperado com muita expectativa, o Linhão foi
inaugurado em 13 de agosto de 2001, pelos então presidentes Fernando Henrique Cardoso,
do Brasil, e Hugo Chavez, da Venezuela. Depois
disso, a história de Roraima nunca mais foi a
mesma. O empreendimento de interligação
energética Brasil/Venezuela consiste em um
projeto de caráter binacional construído pela
Eletrobras Eletronorte em parceria com a Eletrificación Del Caroni - Edelca, empresa responsável pela geração de energia hidrelétrica na
Venezuela.
A linha possui 706 quilômetros de extensão, ligando
Boa Vista ao complexo
hidrelétrico de Guri, em
Puertos Ordas, na Venezuela. No total, são 516
quilômetros de linhas
em território venezuelano,
sendo 290 km entre a
Usina Macágua II e a
subestação Las Claritas, com 720 torres na tensão de
400 kV, e 226
km até Santa Elena de Uairen, com 529 torres
em 230 KV, na fronteira com o Brasil.
O complexo venezuelano possui capacidade
instalada de 10 mil megawatts de potência. O
Linhão de Guri abastece, atualmente, cerca de
334 mil habitantes, principalmente, em Boa
Vista. Em território brasileiro são 190 km de linhas em 230 kV, localizadas ao longo da BR 174,
que liga Manaus a Venezuela, passando por
Boa Vista, Amajari e pela Terra Indígena São
Marcos, em Roraima.
O antes e o depois
Antes da interligação, Manaus e Boa Vista já
passavam por muitos estudos. O objetivo era
levar às regiões o fornecimento de energia
limpa e confiável. Segundo o gerente da Assessoria de Coordenação de Implantação de
Empreendimentos de Geração e Transmissão da Eletrobras Eletronorte, José Henrique
Machado Fernandes, o atendimento era feito
com equipamentos antigos, existiam muitas
interrupções, as máquinas eram térmicas e
constantemente quebravam. “Naquela época, a população de Roraima ficava horas, e até
mesmo dias, sem energia. Entre as alternativas que poderiam minimizar esses problemas
estavam o gás de Urucu e uma linha
de transmissão até a Venezuela, um
país que tinha muitos recursos hidrelétricos e um mercado competitivo que poderia atender ao Brasil.
A solução para tanta precariedade
só veio em 2001, com a chegada do
Linhão de Guri”.
35
O processo de implantação do Linhão contou
com aproximadamente 250 profissionais, entre eles engenheiros, projetistas, técnicos e
montadores. Um dos obstáculos estava nas
áreas com muitas árvores e morros, onde só foi
possível construir com o auxílio de um helicóptero para levar os equipamentos, já que não era
permitido abrir caminhos em meio à mata.
Pelo fato da Linha ter a maior parte do percurso
paralelo à BR 174, é possível ter o controle visual de quase todo o sistema. Uma das dificuldades está no acesso a um trecho de 16 torres que
estão localizadas no alto da Serra de Pacaraima,
município de Roraima. No período chuvoso só é
possível chegar caminhando por horas em ambiente de mata densa e com os perigos associados. O trecho que inviabiliza o tráfego de veículos
pelo local também é de difícil acesso e a base das
torres submersa. “Por ter um circuito simples, a
linha tem muita descarga atmosférica, mas diferente de dez anos atrás, em alguns minutos o
sistema é recomposto”, afirma José Henrique.
O contrato firmado entre a Eletrobras Eletronorte e a Edelca prevê fornecimento mensal
de energia em até 200 megawatts ao longo de
20 anos. Na opinião de José Henrique, as metas
das empresas estão sendo alcançadas de acordo
com o previsto. “Hoje, o pico de consumo alcança cerca de 100 megawatts de potência, ou seja,
metade do tempo já se passou e 50% do contrato foi cumprido”, afirma.
Manutenção de Baixo Custo
Assim como nas demais linhas de transmissão
da Eletrobras Eletronorte, o processo de manutenção do Linhão de Guri segue critérios de excelência. Um deles é o Plano de Manutenção Planejada – PMP, que compreende procedimentos
documentados que orientam a equipe quanto
ao número de homens/horas, logística, tempo e
periodicidade das inspeções. Após essas verificações são identificadas as não-conformidades
e a equipe, então, determina as atividades a serem realizadas.
Em termos de custos, a manutenção da linha de
transmissão de Guri é uma das mais baratas de
todo o sistema. Segundo um dos responsáveis
pela atividade na Eletrobras Eletronorte, o eletricista Jaider Esbell, isso se dá por motivos como o
36
comprimento, a robustez, a ausência de vandalismo e invasão de faixa, o tempo de operação e
a tecnologia empregada, já que a linha atravessa
a floresta por cima da copa das árvores.
Jaider conta que os fatores ambientais ainda
são os principais responsáveis pelo desligamento do sistema, em razão das descargas atmosféricas de grande frequência e as aves curicacas,
que usam as ferragens das torres como dormitórios, provocando a ruptura do isolamento e
o desligamento pelo depósito de excrementos
sobre as cadeias. “Para esse último problema foi
desenvolvido um dispositivo para inibir a ação
das aves, o que resultou num desempenho satisfatório e ambientalmente viável. Quando o
desligamento resulta em uma cadeia de isoladores vazada (queimada) essa cadeia é substituída”, explica o eletricista.
O mercado atual exige que a oferta de energia
tenha frequência, confiabilidade e constância.
Nesse sentido, as atividades realizadas em linha
viva, com a entrada do eletricista no sistema ligado, são as alternativas mais significativas no
setor. Assim, tanto o sistema quanto a segurança dos trabalhadores estarão garantidos.
Ainda segundo Jaider, uma das melhorias importantes que ocorreram nos últimos anos foram os avanços na supervisão digital, capazes de
identificar sinistros e ocorrências em tempo real,
com margem de erro igual ou perto de zero, além
de relés para religamento automático. “Acredito
que a filosofia da manutenção de linhas precisa
acompanhar os avanços e as tendências, tanto
de modernização de métodos e técnicas, bem
como a atualização de procedimentos e tomadas
de decisões. Quando falamos em manutenção,
falamos também do eletricista e sua equipe, que
são os operadores do fazer, os critérios de seleção
e a formação desse profissional”, destaca.
Responsabilidade
Socioambiental
O conceito de sustentabilidade tem como tríade indissociável os fatores social, ambiental e
econômico. Na construção do Linhão de Guri o
processo não foi diferente. Com diálogo e cooperação a obra serviu como referência de desenvolvimento sustentável.
37
Em 1997, estudos revelaram ser mais apropriado que a linha de interligação Brasil/Venezuela
acompanhasse o eixo da BR 174, atravessando,
dessa forma, a Terra Indígena São Marcos, onde
viviam os índios Macuxi, Wapixana e Taurepang. A assessoria indigenista da Eletrobras
Eletronorte, então, iniciou um longo processo
de consulta e negociação com os índios. Foram
realizadas reuniões, explicadas as características específicas do empreendimento e distribuídos materiais informativos.
As comunidades indígenas, inicialmente, permitiram que a Empresa realizasse um levantamento topográfico para a definição do traçado
da Linha. Além disso, solicitaram a realização
de estudos de impacto ambiental e a formação
de uma comissão composta pelo Ministério Púbico, Ibama, Funai, Governo do Estado de Rorai-
ma, organizações de apoio e organizações indígenas, para acompanhar os trabalhos.
Com o levantamento concluído, novas reuniões foram realizadas para avaliação do projeto.
Em 1998, após um longo processo, um termo
de compromisso foi firmado entre a Eletrobras
Eletronorte e a Comunidade da Terra Indígena
São Marcos. Entre as diretrizes estavam a recuperação das áreas degradadas em função da
construção das torres; a indenização de bens
individuais danificados e da massa florística
existente na faixa de servidão; além da participação da Eletrobras Eletronorte no processo de
desintrusão da Terra Indígena e na definição
da área urbana de Pacaraima. O termo também
definiu as indenizações das benfeitorias das fazendas existentes dentro de São Marcos, financiamento durante o período de construção da
Linha, e um sistema de vigilância na área.
Ainda em 1998, em meio às negociações, surge
o Programa São Marcos. Uma ação indigenista
e ambiental que tem como meta principal compensar os impactos ambientais decorrentes da
implantação da Linha. O Programa teve três fases, sendo que a primeira começou em 1998 e
durou até 2004. Nessa etapa foram criados dois
subprogramas, que foram vitais à implantação
da linha: o de Vigilância da Terra Indígena São
Marcos, para financiar os custos e fiscalizar a
retirada e prevenção da invasão de intrusos, e o
de Acompanhamento Ambi ental da Implantação da Instalação da Linha.
A segunda fase veio a partir de 2004 e durou até
2008, quando o Programa completou dez anos.
Nessa etapa, a Associação do Programa São
Marcos – APSM passa a ser responsável direta
pela gestão e execução do Programa. Em 2006,
a entidade passa a se chamar Associação dos
Povos Indígenas da Terra São Marcos - APITSM.
Em 2009, iniciou-se um longo processo de negociação entre a Eletrobras Eletronorte, Funai e
comunidades indígenas de São Marcos, do qual
Jaider Esbell:
“Quando falamos
em manutenção,
falamos também
do eletricista
e sua equipe”
surge a terceira fase. Após várias reuniões e assembleias, as partes chegaram a um acordo e
firmaram um termo de compromisso que terá o
prazo de vigência de oito anos, ou seja, até 2017.
O convênio, no valor de R$ 8 milhões, é usado
para projetos produtivos nas comunidades.
O Programa São Marcos é apenas um dos inúmeros benefícios oriundos da construção do Linhão. O acordo de compensação pela utilização
da Terra Indígena para a passagem da linha garantiu o direito à terra de fato, pois na época ela
estava invadida por 104 fazendeiros.
Novos Tempos
Os riscos de apagões ficaram no passado junto
às altas tarifas de energia. “O que se vê é o reflexo de um Estado com estabilidade energética
em franco desenvolvimento, onde a sociedade
não precisa mais se preocupar com os racionamentos, nem com as interrupções frequentes.
Essa é a Roraima de hoje”. A afirmação é do
superintendente de Transmissão de Roraima,
Claudio Alípio dos Santos, sobre os avanços decorrentes da Interligação.
A construção do Linhão de Guri foi de fato um
avanço histórico no desenvolvimento econômico e social roraimense. O empreendimento despertou o interesse de empresários, investidores,
e o resultado foi a instalação de novas indústrias e estabelecimentos comerciais, a geração
de empregos, o fortalecimento do Estado e, consequentemente, melhor qualidade de vida para
a população local.
Na opinião de Alípio, a construção do Linhão
proporcionou para a Eletrobras Eletronorte o
reconhecimento como uma empresa vencedora de desafios. “A Estatal passou a ter seu primeiro contrato de importação de energia com
a tarefa de conduzir os indicadores energéticos,
pois os mesmos são diferenciados dos praticados no Brasil. Esta equação bem administrada
é muito importante porque nos permite atingir
as metas contratadas” ressalta.
Ainda segundo Alípio, muitas mudanças positivas ocorreram desde 2001. “Roraima agora dispõe de energia limpa e confiável. A expectativa
é de que o Estado se torne exportador de bens e
serviços para os países vizinhos”.
Interligação com
a América Latina
O Linhão de Guri foi o primeiro sistema de transmissão internacional construído, mantido e operado
pela Eletrobras Eletronorte. Na opinião do diretor
de Transmissão
da Eletrobras,
José Antônio
Muniz, isso
se traduz em
uma equipe que ca-
40
minha a passos largos, rumo à excelência. “A
importação energética da Venezuela foi um
passo muito importante para a consolidação
da Empresa, uma verdadeira escola em nível de
engenharia, e um projeto de sustentabilidade e
qualidade”, avalia.
Na época diretor de Engenharia da Eletrobras
Eletronorte, Muniz acompanhou de perto a chegada do Linhão a Roraima e, por isso, conhece
bem o drama vivido pelo Estado. “Lembro-me
que ajudamos a levar máquinas velhas de Manaus para Boa Vista que melhoraram, substancialmente, a situação local. Mas os equipamentos logo começaram a quebrar e tivemos fatos
lamentáveis, como, por exemplo, a morte de pessoas que estavam hospitalizadas e dependiam
de energia para sobreviver. Assim, o governo
tomou a decisão de buscar uma fonte próxima e
ao mesmo tempo confiável na Venezuela”, conta.
Muniz destaca que o Linhão contribuiu para
o fim da desigualdade energética do Brasil.
Segundo ele, durante a implantação da Linha
muitos obstáculos tiveram que ser vencidos.
“Foi um trabalho que exigiu profissionalismo,
paciência e determinação. Desenvolvemos projetos para minimizar os impactos ambientais
da obra e, tanto no Brasil como na Venezuela,
foram apresentadas alternativas para que as
comunidades indígenas não fossem prejudicadas. O fato é que tivemos muitas melhorias provenientes desta interligação, principalmente,
para a população de Roraima”.
Ainda segundo Muniz, a interligação do setor
elétrico brasileiro com a América Latina é um
sonho que se aproxima da realidade a cada empreendimento concretizado. “O Linhão de Guri
foi mais um de muitos sonhos que ainda serão
realizados. Para o futuro, o
que existe é um horizonte repleto de projetos com a missão
de levar desenvolvimento para milhares de pessoas
do mundo inteiro”, afirma.
Painel
Hidrelétricas Samuel e
Curuá-Una conquistam
premiações TPM
Depois de conquistar o Prêmio de Excelência em
Comprometimento Consistente em Total Productive Maintenance – TPM com a Usina Hidrelétrica Tucuruí, é a vez da Eletrobras Eletronorte
conquistar mais dois reconhecimentos pelo Japanese Institute for Plant Maintenance – JIPM:
Curuá-Una e Samuel receberam no mês de fevereiro, o resultado das auditorias que as certificam com o “TPM Excellence Award, A Category”
e “TPM Special Award”, respectivamente.
Para o diretor-presidente Josias Matos de Araujo, o reconhecimento mostra os resultados de
uma trajetória e de um esforço coletivo, que
fazem parte da estratégia de consolidação
da Eletrobras Eletronorte como uma Empresa Classe Mundial em 2014. “Essa é mais uma
demonstração de que a Eletrobras Eletronorte
está focada na excelência, alinhada com o novo
cenário do mercado mundial de energia. Uma
empresa pública, com todas as condições de ser
uma referência de qualidade e eficiência, como
já reconheceu o Prêmio Nacional da Qualidade,
conquistado por meio da Superintendência de
Geração Hidráulica em 2011”.
O diretor de Operação, Wady Charone Junior,
lembra que o TPM é um processo metodológico
no qual a Eletrobras Eletronorte já implementou inovações e melhorias aprovadas pelo JIPM,
e que está trazendo resultados muito positivos
para a Empresa. “Essa premiação faz com que
tenhamos ainda mais orgulho da nossa força
de trabalho que, cada vez mais, domina o processo e faz um novo acontecer na nossa Empresa, visando à redução de perdas e custos, e
promovendo medidas que levem ao aumento
da nossa receita”.
Localizada em Santarém, Curuá-Una foi incorporada à Eletrobras Eletronorte em 2006 e, des-
Em visita às usinas,
os auditores Tokutaro
Suzuki, Zensuke Matsuda
e Katsumasa Saito
de então, adota a metodologia TPM. A unidade
buscava o Prêmio Excelência Categoria A, com
o grande foco da auditoria na modernização da
Unidade Geradora 01.
Com três unidades geradoras e capacidade
instalada de 30,3 MW, Curuá-Una possui um
dos melhores Índices de Disponibilidade do
Brasil, se comparada a usinas desse porte. E
para manter esse nível, foi proposto como objetivo geral do TPM em Curuá-Una, o alcance
de 97,09% do ID com otimização dos custos
operacionais.
Em Rondônia, a Usina Hidrelétrica Samuel tem
potência instalada de 216 MW e é considerada
um marco na história local. Sua construção possibilitou que uma antiga colônia de pescadores
desse lugar ao município de Candeias do Jamari.
TPM
Em janeiro de 2011, a Eletrobras Eletronorte foi
a primeira empresa de geração e transmissão
de energia elétrica, no Brasil e no mundo, a receber o prêmio TPM em todas as suas unidades.
O prêmio é concedido pelo JIPM às empresas
que se destacam na aplicação da metodologia
conseguindo cumprir os requisitos para cada
nível de premiação e atingir excelentes resultados. A Usina Hidrelétrica de Tucuruí recebeu
o Prêmio Especial de Execução de TPM, a Regional de Transmissão de Roraima e Usina Hidrelétrica de Curuá-Una ficaram com o Prêmio de
Excelência - Categoria B, sendo que o Prêmio
de Excelência em Consistência e Comprometimento de TPM foi concedido às Regionais de
Transmissão do Mato Grosso, de Rondônia/
Acre, do Pará, do Maranhão e do Tocantins, à
Regional de Produção do Amapá e à Usina Hidrelétrica de Samuel.
41
Arqueologia
Cavando o passado
do homem brasileiro
Descobertas arqueológicas reveladas por hidrelétricas
e linhas de transmissão comprovam a presença humana
na Amazônia há pelo menos 13 mil anos
Alexandre Accioly
O Estado de Rondônia guarda em seu subsolo
um dos maiores tesouros arqueológicos do País.
Por ter sofrido a influência de pelo menos seis
das dez linguas indígenas correlacionadas com
a presença humana na Amazônia e no Brasil, e
agora, com a construção das usinas hidrelétricas
de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira, estudos
arqueológicos vem revelando traços comprovados deixados pelo homem de até 13,8 mil anos.
As concessionárias do Setor Elétrico brasileiro,
quando da construção de usinas hidrelétricas
e linhas de transmissão, promovem os estudos
e resgates arqueológicos nas áreas impactadas
por esses empreendimentos em todas as fases
do licenciamento ambiental. Antes das usinas
do Madeira, a área de influência da Usina Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari, já havia revelado a presença humana na região
há pelo menos nove mil anos.
gicos em seus empreendimentos desde a década
de 1980, tendo acumulado rico acervo de peças e
informações científicas desde então.
Atualmente, qualquer empreendimento relacionado à geração hidrelétrica, termelétrica,
eólica ou a sistemas de transmissão precisa
inserir em seu licenciamento ambiental os estudos de arqueologia preventiva. O salvamento
arqueológico realizado em áreas a serem alagadas por reservatórios hidrelétricos obedece
à Lei 3924/1961. Com a publicação da Resolução 001/1986, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – Conama,
tais estudos se estenderam também às linhas de transmissão
e usinas termelétricas. Também regem
a questão o artigo 20
Apoiada por instituições sérias
como o Smithsonian Institution
- instituição educacional e de pesquisa, fundada e administrada pelo
governo dos Estados Unidos, compreendendo 19 museus,
sete centros de pesquisa
e 142 milhões de itens em
suas coleções -, que faz a
datação do material coletado em campo pela técnica do Carbono-14 (14C),
a Eletrobras Eletronorte
realiza estudos arqueoló-
43
da Constituição Federal, que coloca os sítios arqueológicos como bens da União, a Resolução
Conama 237/1997 e a Portaria 230/2002, do
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - Iphan.
Nas décadas de 1980 e 1990 a Eletrobras Eletronorte concluiu diversos estudos arqueológicos
em suas usinas Tucuruí, Balbina e Samuel e
também em estudos de inventário, como Cachoeira Porteira, no Rio Trombetas (PA). Hoje,
a Empresa, com o apoio da Scientia Consultoria Científica, promove estudos de arqueologia
nas linhas de transmissão Ji-Paraná/Pimenta
Bueno/Vilhena; Rio Branco 1/Epitaciolândia;
Oiapoque/Calçoene; São Luís II/São Luís I; e São
Luís II/São Luís III. Em Sociedades de Propósito
Específico (SPEs) das quais é sócia, nas usinas
hidrelétricas Dardanelos, no Rio Aripuanã (MT),
e Belo Monte, no Rio Xingu (PA); e nas linhas
Porto Velho/Araraquara e Porto Velho/Abunã/
Rio Branco. (ver mais nas páginas 47 a 49).
Quebrando paradigmas
O arqueólogo Eurico Theofilo Miller, (ver box),
que trabalha na Eletrobras Eletronorte desde o
final da década de 1980, começou a se interessar pelo passado humano ainda menino. Mas
foi em Rondônia, estudando a região do Rio
Jamari, que fez descobertas importantes para
novos conhecimentos na arqueologia e na história da migração do homem brasileiro.
44
Os estudos, naquela época, iniciaram-se seguindo a lógica estabelecida: procurar sítios de terra
preta – rica em sedimentos orgânicos, restos de
fogueira e alimentação -, sinal de que aquele solo
recebeu ocupação humana, ou seja, foi local de
uma aldeia indígena no passado. Os pesquisadores sabiam que para encontrar a terra preta
bastava identificar a palmeira urucuri - do tupi
urikurí, é natural das várzeas altas desde o Acre e
o Rio Purus até o Baixo Amazonas, no Pará e Amapá. Ocorre também no Planalto Central e no pantanal matogrossense forma os famosos acurizais.
“Cavamos em mais de 90 sítios que foram aldeias na região de Samuel e conseguimos resgatar uma grande coleção de cerâmicas que, num
primeiro momento, nos causou estranheza por
sua correlação com a cultura tupi-guarani, o que
depois foi confirmado pela datação do 14C. Uma
história de nove mil anos nos foi revelada na
área do reservatório da Usina. Naquele tempo, os
trabalhos arqueológicos privilegiavam as margens do Rio Amazonas como trecho principal,
mas descobrimos que nos afluentes, como o Madeira e o próprio Jamari, ocorriam outras culturas pré-ceramistas tão valiosas quanto aquelas
descobertas no litoral, por exemplo,” conta Miller. Em outras escavações feitas no percurso da
linha de transmissão Ji-Paraná/Rolim de Moura,
ele e sua equipe descobriram lascas de carvão
relacionadas à presença humana, datadas pelo
Smithsonian Institution em 13,8 mil anos, uma
descoberta sem precedentes até então.
Na Revista Brasileira de Linguística Antropológica, editada pela Universidade de Brasília
– UnB, Eurico Miller explica melhor sua teoria,
que coloca Rondônia como referência arqueológica: “Desde 1958, a ‘terra natal’ do tronco Tupi
foi proposta como tendo sido a mesopotâmia
Guaporé-Madeira e Aripuanã. Em 1913, a Missão Rondon encontrou falantes de línguas tupi-guarani e suas malocas no Alto Ji-Paraná. Desde 1974, temos estado in loco, testando teórica
e empiricamente essa hipótese (...). O mesmo
vínculo entre dados arqueológicos, etno-históricos e linguísticos encontrado na faixa costeira
foi testado na ‘terra natal’, tendo resultado na
mesma correlação. A busca empírica pela ‘terra natal’ do tronco Tupi chegou até o seu miolo,
através da correlação de dados da arqueologia
de campo, datações 14C, linguística histórica e
fontes etno-históricas”.
por uma cultura sobre outra, uma tradição anterior e posterior à outra, mas todas originadas
de uma das dez línguas do tronco tupi, sendo
seis presentes no passado de Rondônia. “Arqueologia é linguística, não pode dissociar. A regra
nos diz que etnia linguística e cultura material
são variáveis interdependentes. Então, o tupi-guarani não fazia a mesma cerâmica necessariamente, mas toda a cerâmica tupi-guarani
foi feita por gente que falava a mesma língua”,
ensina. (ver mais em entrevista na página 53).
O que Miller quer dizer é que existem elementos indissociáveis, apesar de interdependentes,
à arqueologia, que são a língua, o clima, o movimento dos oceanos e as atividades vulcânicas
e tectônicas. Assim, as análises do subsolo rondoniense demonstram as influências sofridas
45
Os estudos realizados por Miller e suas equipes
demonstram que o movimento migratório de
populações indígenas no Brasil se deu tanto do
interior para o litoral como ao contrário também. Na região amazônica foram descobertas,
por exemplo, urnas funerárias com as mesmas
características daquelas descobertas no litoral
brasileiro. E com até 5,1 mil anos de idade. “Mas
não encontramos essas características em nenhum outro lugar da América do Sul ou do Pacífico, dando-nos a certeza de que a cultura tupi-guarani é formativa de si mesma e isso quebrou
o paradigma de que o Pacífico foi o formador de
tudo, ou o que veio antes tem origem no Equador ou na Colômbia”, afirma o arqueólogo.
Linhas de transmissão
Em relação aos estudos arqueológicos em percursos de linhas de transmissão, Eurico Miller
é taxativo: devem ser feitos em toda a extensão do empreendimento e em todas as cavas de todas as torres, e
não por amostragens em trechos
descontínuos. Sua conclusão é devido ao trabalho realizado quando da construção da Interligação
Norte-Sul, que conecta a Usina
Hidrelétrica Tucuruí ao Sistema
Interligado Nacional - SIN, desde
Imperatriz (MA) até Brasília (DF).
“Na linha Norte-Sul, mais preci-
46
samente no Maranhão, nos arredores de Imperatriz, encontramos sítios onde não deveria,
por tese, haver nenhuma ocupação humana.
É preciso avaliar o clima e a vegetação atuais
como eram no passado a partir de testemunhos fósseis. Nossa metodologia foi avaliar as
cavas de todas as torres do sistema. Nas extremidades, encontramos sítios de 11 mil anos.
Estudando uma colina onde, a princípio, não
deveria ter havido ocupação, encontramos no
seu topo evidências de carvão e lascas datadas
pelo Smithsonian, para o nosso espanto, em 24
mil anos!”.
Bacharel e licenciada em ciências sociais e doutora em ciências humanas pela Universidade
de São Paulo – USP, a doutora Solange Bezerra
Caldarelli é diretora da Scientia Consultoria
Científica, empresa que vem prestando consultoria à Eletrobras Eletronorte na área de arqueologia. Coordenadora de mais de 50 projetos
de prospecção e de salvamento arqueológico
nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte
do País, Solange tem vários artigos publicados
e participações em congressos de arqueologia e de meio
ambiente.
Segundo ela, “os projetos de
geração hidrelétrica, por se
encaixarem em bacias hidrográficas, que tiveram importante papel na penetração e expansão do território
nacional, pelo fato de que os
rios constituem referências naturais importantes para o deslocamento territorial, costumam
incidir sobre grande quantidade e diversidade
cultural e funcional de sítios arqueológicos. No
caso de linhas de transmissão, onde o traçado
é definido em função, principalmente, da topografia, e com um desenho ‘artificial’, cai tanto
a quantidade, quanto a diversidade de sítios
arqueológicos. O maior número de sítios estará
sempre nos trechos de maior potencial arqueológico da área atravessada pela linha e podem
ocorrer trechos em que aparecem poucos sítios
arqueológicos ou mesmo nenhum”.
Solange Caldarelli acredita que, sem dúvida, os
empreendimentos podem trazer dados novos
para o quadro da arqueologia brasileira. “Bons
arqueólogos fazem boa arqueologia, seja ela
aplicada ao licenciamento ambiental, seja ela
acadêmica. Mas é preciso lembrar que a pesquisa arqueológica é lenta, pois ela não se resume
ao campo, mas necessita de análises de laboratório, que sempre demandam mais tempo que
a pesquisa de campo e, quanto maior o número
de material recuperado em campo, maior será
tempo para a análise e a geração de conhecimento, já que ela depende do cruzamento e
interpretação dos dados de campo e de laboratório”.
A pesquisadora afirma ainda que o Setor Elétrico “tem sido um bom parceiro para a geração e
a extroversão do conhecimento produzido pelas pesquisas arqueológicas, em especial no século XXI, com gestores e empreendedores mais
abertos às questões ambientais e culturais que
se interrelacionam com a implantação desses
empreendimentos”.
Novas obras, novas descobertas
A Scientia Consultoria Científica está realizando estudos arqueológicos em várias obras da
Eletrobras Eletronorte e em outras nas quais
ela tem participação acionária. Confira resumidamente:
Linha de transmissão Ji-Paraná/Pimenta Buento/
Vilhena (RO) – Obra de responsabilidade da Eletrobras Eletronorte, cujos estudos arqueológicos contam com o apoio do Museu de Arqueologia Regional de Presidente Médici (RO). Nesses
estudos foi possível retomar uma importante
problemática arqueológica, referente à ocupação de grupos Tupi.
A arqueologia não possui o mesmo volume de
dados trabalhados pela linguística, mas foram
encontrados registros associados a pelo menos
duas famílias distintas. A cerâmica tupi-guarani, correlata de falantes de línguas tupi-guarani,
e a cerâmica tupi-ocidental, correlata dos grupos
Tupi do território de Rondônia. Nessas cerâmicas são encontradas características comuns, que
dificilmente ocorreriam idiossincraticamente.
A área do Alto Madeira pode ser, então, vista
como um grande mosaico de línguas e culturas,
interpretado de diversas maneiras por linguis-
47
tas e etnólogos. A diversidade de fases e tipos
de sítios arqueológicos na bacia do Rio Madeira
pode estar associada a essa pluralidade cultural. Vale ressaltar a importância de algumas
cronologias obtidas. Se forem confirmadas, serão as primeiras evidências materiais que corroboram hipóteses linguísticas defendidas por
arqueólogos há bastante tempo.
Linhas de transmissão Rio Branco 1/Epitaciolândia e Rio Branco 1/Sena Madureira (AC) – Obra
de responsabilidade da Eletrobras Eletronorte,
cujos estudos arqueológicos contaram com o
apoio da Universidade Federal do Acre – Ufac.
Num dos dois sítios analisados foi feita uma simulação da distribuição espacial dos recipientes cerâmicos e pode ser observado que parece
ter se constituído com as casas distribuídas no
entorno de uma praça circular.
Existe a hipótese de o sítio arqueológico ser um
testemunho de ocupação dos antepassados dos
Kaxinawa na área hoje cortada por esta linha.
48
difícil acesso. De dimensão diminuta - menos
de 20 m² de área -, corresponde certamente a
um acampamento de curta duração, de onde se
possuía uma visão privilegiada dos arredores.
Tratar-se-ia de um assentamento defensivo? De
um bando em fuga?
Linhas de transmissão São Luís II/São Luís I e
São Luís II/São Luís III (MA) – Obra da Eletrobras
Eletronorte, cujos estudos arqueológicos contaram com o apoio do Centro de Pesquisas de
História Natural e Arqueologia da Secretaria de
Cultura do Estado do Maranhão.
No início, vistorias avaliaram a possibilidade
de realocação ou deslocamento de algumas torres para locais que não afetassem os recursos
arqueológicos. Ficou acordada a necessidade de
implantação de um programa sistemático de
resgate arqueológico nos quatro sítios que seriam diretamente afetados pelas obras, que, ao
final, foram resgatados e aguardam análises de
laboratório.
Linha de transmissão Norte-Sul III – Trecho 2 –
Obra de responsabilidade da empresa Integração Transmissora de Energia S.A – Intesa.
Linha de transmissão Porto Velho (RO)/Araraquara (SP) – Obra das empresas Norte Brasil
Transmissora de Energia S/A e Estação Transmissora de Energia .
As pesquisas evidenciaram 25 sítios arqueológicos, um deles chamou a atenção. Trata-se
do Sítio Minaçu 14, implantado em área de
Foram prospectadas 3.874 praças de torres; as
subestações de Rondônia e São Paulo, assim
como as linhas de eletrodos a elas associadas;
seis canteiros de obras, sendo dois em Rondônia, dois em Mato Grosso, um em Goiás e um
em São Paulo; e identificados 43 sítios arqueológicos em praças de torres, sendo 31 em Rondônia, 11 em Mato Grosso e um em São Paulo.
A Norte Brasil vai estudar alternativas para
verificar as possibilidades técnicas de desviar
a linha de alguns sítios arqueológicos, privilegiando a preservação in situ.
Usina Hidrelétrica Dardanelos – Obra da empresa
Energética Águas da Pedra S/A. Foi detectada a
necessidade de desenvolver um projeto de etnoarqueologia junto às comunidades Cinta Larga
e Araras do Rio Branco. Foram realizadas prospecções arqueológicas no canteiro de obras e no
canal da usina, e identificados três sítios pré-coloniais. A configuração do empreendimento foi
modificada com o objetivo de evitar o impacto
direto a um dos sítios identificados e não houve
a necessidade de se realizar o resgate dele.
Dezesseis amostras de carvão foram enviadas
para um laboratório especializado em datações,
nos EUA. Os resultados indicam uma ocupação
humana associada à terra preta e ao nível cerâmico entre 460 e 1.490 anos a.C (antes de Cristo).
Usina Hidrelétrica Belo Monte – Obra da empresa Norte Energia S/A, cujos estudos arqueológicos contam com o apoio da Fundação Casa de
Cultura de Marabá (PA).
Até o momento foram realizadas prospecções
arqueológicas em dois canteiros de obras e
identificados 45 sítios arqueológicos, sendo que
para 15 deles o empreendedor conseguiu evitar
as interferências com alterações no projeto de
engenharia, privilegiando a preservação in situ.
Esses sítios apresentam significativa diversidade funcional e cultural, indicadas pelas suas dimensões e pelo tipo de cultura material presente (alguns com urnas funerárias). Os resgates
ainda estão em andamento, mas em 15 sítios já
foram concluídos.
Eurico Miller, a
história da história
Eurico Theofilo Miller é um nome conhecido e
reconhecido no mundo da arqueologia brasileira e mundial. Aos 79 anos ainda está na ativa, trabalhando na Superintendência de Meio
Ambiente da Eletrobras Eletronorte. Na Empresa, foi o responsável por grandes descobertas arqueológicas nas áreas de influência das
primeiras hidrelétricas construídas na Amazônia, notadamente Samuel, situada no Rio
Jamari, em Rondônia. “Nesses últimos 35 anos
de campo na Amazônia, presenciamos e vivemos, impotentes, situações dramáticas, mais
sobre o patrimônio arqueológico do que sobre
nós mesmos”, escreve ele na Revista Brasileira
49
de Linguística Antropológica, da UnB.
Professor que já formou gerações de arqueólogos brasileiros, não para de ensinar: “Com
um maior volume de empreendimentos
ocorrendo, outros arqueólogos serão iniciados na arqueologia dessa porção amazônica e, se não houver uma intercomunicação prévia para nivelar os procedimentos,
resultará uma confusão babilônica. Tudo o que
o envolve a reconstituição da história e da pré-história humana e ambiental devem ‘compor e
vestir’ um grande grupo interdisciplinar de pesquisadores como se fosse uma pessoa só, para
se entenderem, o que é fundamental”.
Miller começou cedo a carreira. Aos seis anos
de idade passeava com os tios pelas lavouras
plantadas pelos imigrantes alemães na região
de Rodeio Bonito, no Rio Grande do Sul, que lhe
mostravam artefatos antigos, expostos à flor
da terra, pertences dos “bugres”, como eram
chamados pelos gaúchos os índios Kaingangue. “Existem arqueólogos do asfalto e outros
rurais. Os primeiros vivem em oásis artificiais,
longe da natureza, mas quem fizer arqueologia tem mesmo é que atuar no campo. Na garupa dos meus tios conheci e coletei minhas
primeiras peças, guardadas em caixas de sapato e mais tarde doadas para a constituição
do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul
– Marsul. Olhava os artefatos Kaingangue e
pensava que pareciam a louça quebrada da
vovó”, relembra.
Metodologia da noite - Ao longo da sua vida de
arqueólogo, Eurico Miller desenvolveu várias
técnicas em seus estudos de campo. Uma delas
é especial: ao estudar a região de Touro Passo
(RS), onde foram descobertos fósseis de animais
extintos, como mastodontes, tatus e preguiças
gigantes, e até tigre-dente-de-sabre, primeiro
percebeu que os sítios palioíndios sofreram
influência de cinzas vulcânicas de erupções
andinas, carregadas pela corrente de ar que circunda o planeta a mais de dez mil metros de
altitude.
Depois, ao percorrer as margens de um rio, pesquisava nas camadas de terra alguma indicação do passado, mas nada encontrava em suas
caminhadas diárias. Uma noite antes dos trabalhos se encerrarem, ele não se deu por ven-
50
cido e decidiu fazer uma última incursão às
barrancas, munido de uma lanterna. “Peguei
a lanterna e saí com o faixo de luz paralelo às
margens e me espantei ao descobrir em certos
pontos o que viriam a ser lascas encobertas por
sedimentos de chuva, que não eram visíveis de
dia por conta do jogo de sombra e luz. De dia o
sal do suor escorre nos olhos e prejudica a visibilidade também. Minha persistência criou
uma nova metodologia de observação, que depois levei para a Amazônia, que é examinar as
cavas durante a noite com uma lanterna. Foi e
é um sucesso”, conta.
Eurico Miller não pensa em se aposentar. “Trabalho ainda porque quem não trabalha só incomoda. Seria um absurdo levar uma vida inteira
para aprender e não repassar esse conhecimento para as futuras gerações. Uma vez fui à uma
universidade levando a ideia de incrementar
o curso de arqueologia com estudos de campo,
mas a direção ficou mais preocupada com a
possibilidade dos alunos pegarem malária do
que adquirirem conhecimento, e a ideia não foi
adiante. Agora, com as hidrelétricas do Madeira e outras que virão, já poderíamos contar com
uma geração de arqueólogos amazônidas com
alto grau de conhecimento, sem precisar contratar profissionais em outras regiões. Outra lição
para as futuras gerações: em nossa profissão
ciências da terra é fundamental, imprescindível. Arqueólogo não deve ter história na cabeça,
mas ciência da terra”.
Homem já fazia
barragens há 7,5 mil anos
Na antiga Mesopotâmia, região onde floresceu
a humanidade entre os rios Tigre e Eufrates,
grandes obras hidráulicas para aproveitamento dos recursos hídricos foram implantadas há
7.500 anos. Cerca de dois mil anos antes de Cristo, o Código de Hamurabi se transformava também na primeira lei de segurança de barragens,
prevendo ressarcimentos pelo rompimento de
barragens e inundação de terras, e até a escravidão de quem não fizesse as devidas indenizações nesses casos.
O surgimento dos primeiros núcleos urbanos
na Mesopotâmia foi acompanhado do desenvolvimento de um complexo sistema hidráulico que favorecia a utilização dos pântanos, evitava inundações e garantia o armazenamento
de água para as estações mais secas. Já o Código de Hamurabi é um conjunto de leis criadas
por volta do século XVIII a.C, pelo rei Hamurabi
da primeira dinastia babilônica. O código é baseado na Lei de Talião, “olho por olho, dente por
dente”.
Nele está escrito, por exemplo: “Se alguém for
preguiçoso demais para manter sua barragem
em condições adequadas, não fazendo a manutenção desta, caso a barragem se rompa e todos
os campos forem alagados, então aquele que
ocasionou tal problema deverá ser vendido por
dinheiro, e o dinheiro deve substituir os cereais
que ele prejudicou com seu desleixo”.
História das barragens no Brasil – Informações
como estas fazem parte do acervo do Comitê
Brasileiro de Barragens - CBDB, recentemente
enriquecido pelo lançamento do livro A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e
XXI. São 520 páginas de muita informação técnica, histórica e científica, numa edição luxuosa, ainda disponível apenas para sócios, mas
em breve também na internet.
Nele ficamos sabendo, por
exemplo, que a mais antiga
barragem que se tem notícia
em território brasileiro foi
construída onde hoje é a área
urbana do Recife (PE), possi-
velmente no século XVI, antes mesmo da invasão holandesa, conhecida como Apipucos, que
na língua tupi significa ‘onde os caminhos se
encontram’. A história das hidrelétricas da Eletrobras Eletronorte também está registrada no
livro.
O presidente do CBDB, Erton Carvalho, explica
que “o livro colabora para o entendimento sobre barragens e para a divulgação cultural da
nossa história, ao abordar com abrangência o
desenvolvimento tecnológico para a construção das barragens brasileiras a partir de 1950,
quando se iniciou o desenvolvimento do Setor
Elétrico brasileiro. É destinado, principalmente, ao leitor interessado na história contemporânea brasileira, sem a exigência de que ele
seja possuidor de conhecimentos técnicos sobre o tema”.
Ilha de Marajó revela
complexo sistemas de
controle hidráulico
Entrevista com
Denise Pahl, arqueóloga
Em recente artigo publicado na revista Scientific American Brasil, a arqueóloga Denise Pahl
Schaan descreve a história dos primeiros grupos humanos que adentraram a Amazônia,
segundo ela, “há 11 mil e 200 anos, ao mesmo
tempo em que outras populações ameríndias
se aventuravam de norte a sul do continente”.
Em tempos de polêmicas sobre hidrelétricas
na Amazônia, dois trechos do artigo chamam
a atenção. O primeiro: “Os primeiros cacicados
amazônicos surgem na Ilha de Marajó, onde
técnicas de manejo de rios e lagos - com a
construção de barragens e viveiros de peixes-,
buscavam maximizar a pesca em áreas onde
inundações periódicas facilitavam a piracema.
Como resultado dessas obras, foram construídos gigantescos montes de terra, de até 12 metros de altura e três hectares de área (...)”.
O segundo trecho: “No Alto Xingu, construções
de terra, estudadas pelo arqueólogo americano
Michael Heckenberger, aparecem entre 1.200 a
1.600 d.C na forma de trincheiras (...). Aparecem
ainda montículos lineares e também reservató-
51
rios, barragens, canais e estradas que conectam
assentamentos, criando uma verdadeira paisagem urbana”.
Ou seja, a arqueologia comprova que índios
brasileiros já faziam barragens para controlar
as águas dos rios, como faz hoje o homem moderno, para gerar energia elétrica, e como seus
antepassados, para irrigar plantações, controlar
cheias e maximizar a pesca.
Denise Pahl concluiu mestrado em História/
Arqueologia na PUC-RS em 1996. Foi bolsista
no Museu Goeldi de 1997 a 1999. Em 1999 fez
doutorado em Antropologia/Arqueologia na
Universidade de Pittsburgh, EUA, concluído em
2004. A partir de 2005 diversificou seus interesses e começou a pesquisar no Acre (geoglifos
– ver edição 216 da revista Corrente Contínua,
de ago-set/2007) e em Santarém. Desde 2006,
é professora da Universidade Federal do Pará –
UFPA, onde, junto com colegas, criou o primeiro curso de pós-graduação em arqueologia da
Amazônia. Confira a entrevista.
Como a senhora analisa os estudos
realizados antes da construção de
empreendimentos energéticos, como
usinas e linhas de transmissão?
São estudos fundamentais para a proteção
do patrimônio arqueológico. Apesar de serem
empreendimentos lineares e aparentemente
causarem pouco impacto, as linhas de transmissão atravessam grandes extensões do território, onde se tem muitas possibilidades de
encontrar sítios arqueológicos no caminho.
Já as usinas, afetam áreas junto a rios, locais
onde, geralmente, havia populações assentadas no passado, sem falar das populações
atuais. Os estudos obrigatórios para estes e
outros tipos de empreendimentos, que são
exigidos a partir da resolução do Conama
de 1986, deram um enorme impulso à
arqueologia no País.
São importantes também para a melhor
compreensão da presença humana
no Brasil e na Amazônia?
Sem dúvida. Hoje em dia, 95% da
pesquisa arqueológica que se faz
no Brasil têm a ver com empre-
52
endimentos. As pesquisas arqueológicas realizadas ao longo das linhas de transmissão têm
possibilitado conhecermos regiões antes desconhecidas do ponto de vista da arqueologia.
Especialmente na Amazônia, onde temos problemas de acesso pela falta de estradas e alto
custo de outros meios de transporte rápido, a
pesquisa em linhas de transmissão trouxe novos dados para a compreensão da ocupação humana antiga na região.
Esses estudos já revelaram
descobertas importantes?
Sim. No Acre, descobrimos vários geoglifos ao
pesquisarmos ao longo da linha de transmissão que vai de Rio Branco a Epitaciolândia.
Em Rondônia, dezenas de sítios também foram assim descobertos. No Maranhão, sítios
muito antigos, geralmente difíceis de se descobrir, foram descobertos por causa da pesquisa em sistemas de transmissão. No Pará,
entre Belterra e Santarém, nossa pesquisa ao
longo da BR-163 identificou 112 sítios arqueológicos já ameaçados pela agricultura e em
vias de desaparecer. O registro que estamos
fazendo é fundamental para entendermos
o que foi o cacicado dos Tapajós. No Marajó,
uma pesquisa feita em função de uma hidrovia que acabou não sendo construída, possibilitou conhecermos a extensão das sociedades marajoara.
E o muiraquitã?
Existe ou é uma lenda?
Os pingentes de pedra verde, conhecidos como
muiraquitã, eram objetos de prestígio, trocados
entre as elites amazônicas antes
da conquista. Existem porque
são encontrados, principalmente, nos sítios arqueológicos ao longo dos rios
Tapajós e Trombetas. No
entanto, há muitas lendas sobre sua origem,
de que eram fabricados
dentro de um lago com
lama verde no fundo, e
coisas assim.
A concepção da língua
Entrevista: Aryon Dall’Igna
Rodrigues, professor emérito
da Universidade de Brasília - UnB
“Sendo a língua um dos principais constituintes das culturas humanas, os estudos linguísticos, tanto sincrônicos quanto diacrônicos, devem estar associados, naturalmente, não só ao
conhecimento dos diversos aspectos dessas culturas, como organização social, conhecimento
do respectivo meio ambiente, cultura material
e tecnológica, práticas artísticas e lúdicas, e
tradições históricas, mas também aos fatores
biológicos e psicológicos dos falantes, e ao meio
físico e social em que vivem”.
Palavras de Aryon Dall’Igna Rodrigues, professor emérito da Universidade de Brasília – UnB,
professor horis causa da Universidade Estadual
de Campinas – Unicamp, pesquisador honoris causa da Universidade Federal do Paraná UFPR; membro honorário da Linguistic Society
of America – LSA; e da Society for the Study of
the Indigenous Languages of the Americas –
SSILA, e membro fundador da Associação Brasileira de Linguística- Abralin.
Confira a entrevista:
Arqueologia e linguística
são elementos indissociáveis?
A arqueologia e a linguística são ambas disciplinas antropológicas, tomada a antropologia em
seu sentido lato, que é o estudo científico dos
seres humanos, tanto de suas características
físicas, como de seus aspectos culturais. Os estudos
antropológicos se distribuem em antropologia
física, ou bioantropologia, que pesquisa as
características físicas
ou raciais do homem,
e antropologia cultural, ou etnologia, que
estuda os usos e costumes de cada grupo
humano. No âmbito da antropologia situa-se
também a linguística, voltada para uma propriedade específica dos seres humanos, em contraste com os demais seres vivos, que é capacidade de linguagem, manifestada pelas línguas
presentes em todas as sociedades humanas.
Antes da construção de usinas hidrelétricas
e linhas de transmissão, são realizados estudos
arqueológicos nas áreas afetadas por esses
empreendimentos. Como o senhor analisa
a realização desses estudos?
O comportamento atual da Eletrobras Eletronorte é altamente louvável, pois permite o salvamento do conhecimento sobre os povos que
habitaram o Brasil há séculos e há milênios.
Dada à falta de pesquisas sistemáticas anteriores, esses estudos arqueológicos revelam novos
e inesperados conhecimentos, relevantes para
melhor conhecer a pré-história do homem no
território brasileiro. Contribuem, portanto, e
muito, para o conhecimento científico, já independentemente e em conexão com pesquisas
de outra natureza.
Como os estudos arqueológicos se unem às
outras disciplinas para formar uma visão
sistêmica sobre a história do homem?
O recente artigo de Eurico Theofilo Miller sobre
a cultura cerâmica do tronco tupi no Alto Ji-Paraná é um excelente exemplo da conjugação de
resultados da arqueologia com os da linguística
diacrônica e os da genética humana.
Os estudos realizados pela Eletrobras
Eletronorte em Samuel, Balbina e Tucuruí
contribuíram para esse conhecimento?
Foram justamente os resultados da pesquisa
arqueológica patrocinada pela Eletrobras Eletronorte que trouxeram evidências incontestáveis para o que antes havia ficado por 50 anos
apenas como uma hipótese formulada a partir
de comparações linguísticas.
Uma mensagem final.
Que o respeito pelo conhecimento científico
demonstrado pela Eletrobras Eletronorte sirva de exemplo para as demais empresas
de atividades análogas no Brasil e em
toda a América Latina.
53
Meio Ambiente
Uma agenda
de resultados
Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P sensibiliza
e conscientiza sobre uso racional dos recursos naturais
Érica Neiva e Vania Machado
Por definição, a Agenda Ambiental da Administração Pública - A3P é um convite ao engajamento individual e coletivo para a mudança
de hábitos e a difusão da ação. É um programa
que visa implementar a gestão socioambiental
sustentável das atividades administrativas e
operacionais do Governo. A A3P prevê a inserção de critérios socioambientais em todas as
esferas da administração pública por meio de
cinco eixos temáticos: uso racional dos recursos
naturais e bens públicos, gestão adequada dos
resíduos gerados, qualidade de vida no ambiente de trabalho, sensibilização e capacitação dos
servidores e licitações sustentáveis. Em poucas palavras, seria a política dos 5Rs: Reduzir,
Repensar, Reaproveitar, Reciclar e Recusar. A
proposta leva em conta as recomendações da
Agenda 21, que tem o propósito de redução e
eliminação de padrões insustentáveis de produção e consumo.
A A3P surgiu, em 1999, no Ministério do Meio
Ambiente - MMA. “Era uma iniciativa de um
grupo de servidores que, de forma voluntária,
buscava inserir no Ministério ações de gestão
ambiental, especialmente, as relacionadas à
gestão de resíduos sólidos. As ações dependiam, basicamente, do voluntarismo dos servidores envolvidos e estavam voltadas para o
próprio Ministério”, afirma a gerente de Projetos do MMA e coordenadora da A3P, Ana Carla
Leite de Almeida.
As principais ações da Agenda envolvem a
mobilização e conscientização para as ques-
tões socioambientais por meio de campanhas.
Para Ana Carla, a A3P é uma agenda positiva e,
por esse motivo, não encontra muitos obstáculos para a sua propagação. “De uma maneira
geral, é muito bem recebida pelos órgãos e entidades públicas. O que os servidores públicos
em geral levantam são os obstáculos para a
sua implantação. Nesse sentido, as contratações sustentáveis estão entre os eixos temáticos da A3P com a maior dificuldade de implantação”.
Todos os 100 órgãos e entidades públicas que já
aderiram à A3P possuem dados capazes de demonstrar que as campanhas de sensibilização
contribuem para aumentar a consciência sobre a necessidade de uso racional dos recursos
públicos e combate ao desperdício. “O que percebemos é que há de fato uma crescente conscientização por parte dos órgãos e entidades
públicas, e considero que isso já seja um grande
resultado já alcançado pela A3P. Cada vez mais
as sociedades cobram dos seus governos transparência e responsabilidade socioambiental.
É nesse cenário que a A3P pode se tornar uma
política pública que estimule programas de
mudança e melhoria contínua”, explica a coordenadora da A3P no MMA.
A A3P na Eletrobras Eletronorte
Para aderir à Agenda, em 2009, a Empresa seguiu cinco passos essenciais: criação da Comissão A3P, diagnóstico da instituição, desenvolvimento de projetos e atividades, mobilização e
sensibilização, e o monitoramento das ações.
As ações perpassam pela redução no consumo
de papel, energia, copos plásticos e água; implementação da coleta seletiva, destinação adequada dos resíduos perigosos; plano de capacitação; programas de qualidade de vida; saúde
e segurança no trabalho; aquisições de bens e
materiais, e contratações de serviçoes ambietalmente sustentáveis.
A coordenadora do Comitê na Eletrobras Eletronorte, Kátia Newton (abaixo, à direita), explica
que foram feitas campanhas internas de sensibilização sobre os eixos temáticos da Agenda.
“No início as pessoas tinham a visão de que a
A3P estava ligada estritamente à coleta seletiva. A gestão
dos resíduos é apenas um dos
quesitos da Agenda, que engloba ainda a qualidade de vida
da força de trabalho, compras
sustentáveis, uso adequado
dos recursos naturais, sensibilização e conscientização. Tivemos como benchmarking a experiência do Comitê de Gestão
Socioambiental da Câmara dos
Deputados – EcoCâmara”.
A gestão dos resíduos é feita na sede da Eletrobras Eletronorte desde dezembro de 2009,
quando foi assinado o termo de compromisso
com a cooperativa de catadores de materiais recicláveis Recicla Brasília. A cooperativa, que beneficia 53 famílias, é responsável pelo recolhimento semanal de resíduos recicláveis. Desde
então já foram recolhidas mais de 27 toneladas
de papel, papelão e copinhos descartáveis. “Temos que ter a conscientização da diferente natureza dos materiais. Se fizermos a separação,
facilita o trabalho da cooperativa. Obviamente temos que conscientizar os colaboradores a
produzir menos resíduos”, alerta Kátia.
“No nosso trabalho apresentamos os exemplos
de locais que estão trabalhando com a gestão
de resíduos, a exemplo de Tocantins, Tucuruí,
Pará, Brasília, Amapá e Rondônia. Um dos principais problemas apresentado por todas as empresas Eletrobras ainda são os copinhos descartáveis. Nesse sentido, fizemos a distribuição
das canecas na Eletrobras Eletronorte visando
diminuir o número de copos plásticos. É uma
pequena ação que faz a diferença”, afirma coordenadora.
56
Um novo cenário
na hora das compras
O governo brasileiro utiliza cerca de 15% do
Produto Interno Bruto (PIB) anual em produtos e serviços, algo em torno de R$ 600 bilhões.
Com esse volume de consumo, a Administração
Pública vem percebendo que, ao adotar critérios de sustentabilidade em suas contratações,
indiretamente acaba induzindo mudanças no
padrão de produção e consumo. Nesse cenário,
o Ministério do Planejamento tem promovido
e estimulado uma série de ações que
vão desde capacitação até parcerias
para compras sustentáveis.
Uma mostra dessa preocupação é o
Prêmio Equipe Sustentável e Melhor
Edital Sustentável. O objetivo é reconhecer o mérito de iniciativas dos órgãos do Setor Público nas licitações e
contratações sustentáveis. Estão habilitados a concorrer os órgãos da Administração Pública direta e indireta da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. As inscrições serão gratuitas
e os detalhes podem ser conhecidos na página
cpsustentaveis.planejamento.gov.br .
Na Eletrobras Eletronorte o caminho não é diferente. Há uma ação constante de interação
com a área de suprimentos, procurando inserir conceitos de sustentabilidade nos editais
de compras, destacando a importância de fornecedores que possuem certificações ambientais. Exemplos disso são a aquisição de motores
mais econômicos que não misturam combustível com óleo, diminuindo assim a emissão
de gases poluentes; a substituição de produtos
químicos que geram menos impactos nos reservatórios; e o compromisso de usar 10% de
papeis recicláveis.
Entre os próximos desafios na área de compras
sustentáveis está a implantação da logística reversa de cartuchos de impressoras e adoção de
sacos de cores diferenciadas para recolhimento
dos resíduos. “A ideia consiste na devolução dos
cartuchos usados para o fabricante, que os destina à reciclagem. Cada cartucho devolvido à
empresa fornecedora vai gerar renda para uma
entidade, que irá aplicá-los em projetos sociais.
Em relação à coleta seletiva, o objetivo é adquirir
junto à empresa fornecedora sacos de cores diferenciadas para separação dos resíduos por cor,
facilitando o trabalho da equipe da limpeza na
identificação do material reciclável destinado à
Cooperativa de Catadores”, explica Kátia Newton.
Apesar das dificuldades encontradas em ações
que exigem sensibilização e conscientização,
a Coordenadora acredita que já houve significativas melhorias, mas que faltam ser implementadas medidas para monitoramento e
quantificação das ações. “É importante sermos
multiplicadores dos princípios da sustentabilidade nas nossas áreas, atuando como ecocidadãos. A A3P não está apenas ligada à separação
dos resíduos. Passa por uma mudança de mentalidade e a prática de ações de sustentáveis no
dia a dia. É um trabalho de formiguinha e de
multiplicação contínua. Precisamos ser persistentes e acreditar”, diz Kátia.
O caminho dos multiplicadores
Até agora somente a Eletrobras Eletronorte é
signatária da A3P entre as Empresas Eletrobras.
Mas a multiplicação dos conceitos da Agenda
Ambiental já chega a Eletrobras Furnas, que já
começou a fase de análise e levantamento de
informações para a implantação do Programa.
A coordenadora da Comissão da Coleta Seletiva
da Empresa, Maristella Altomar Racero, esteve na
Sede da Eletrobras Eletronorte vivenciando um
pouco da experiência. “Acreditamos que foi muito
importante a visita que fizemos à Eletrobras Eletronorte, já que é uma das Empresas Eletrobras e
temos as mesmas características, principalmente
unidades que se localizam em lugares remotos
e muitas vezes as dificuldades, ou até mesmo as
oportunidades, estão nessas áreas”.
Segundo Trícia Amoras Alves (abaixo), coordenadora do Programa de Educação Ambiental
da Superintendência de Geração Hidráulica
- Divisão de Ações Ambientais de Geração, “as
oficinas promovem o despertar ambiental para
o problema do lixo, incentivando as pessoas a
transformá-lo em arte e decoração. Temos resíduos de plástico, especificamente as garrafas
PET, transformadas em vassouras, pufes e decoração natalina. Temos também o papel descartado pela força de trabalho, que se transforma
em objetos de decoração em papel machê, e os
pneus de borrachas inservíveis para a Empresa,
que se tornaram lindos pufes distribuídos pela
Superintendência”.
Chamar a atenção da comunidade para a importância da reciclagem e aproveitamento das
garrafas PET foi mais um desafio. Diversos pontos de coleta foram utilizados durante o ano
por meio de parcerias com os proprietários de
lanchonetes, padaria, supermercado e escolas
de educação infantil localizados na Vila Permanente da Usina Tucuruí. A parceria resultou na
doação de 6 mil garrafas, matéria-prima usada
na decoração natalina da Praça com Academia
ao Ar Livre e a montagem de belos presépios
distribuídos.
O trabalho realizado pelo Programa de Educação Ambiental também proporcionou, em
2011, o aproveitamento de tampinhas de garrafas PET na confecção de palhaçinhos coloridos.
Trícia explica que os brinquedos foram doados
aos alunos de educação infantil do município
de Tucuruí, em comunhão aos conhecimentos
trabalhados em sala de aula sobre cuidados
ambientais e coleta seletiva.
Oficinas para fazer a diferença
O Programa de Educação Ambiental da Usina
Hidrelétrica Tucuruí realiza oficinas educativas
para a força de trabalho e seus familiares, além
de atender a comunidade do entorno do empreendimento. Em 2011 foram realizadas 14 oficinas de reciclagem: sete oficinas para a força de
trabalho e seus familiares, e sete oficinas para a
comunidade em geral.
57
Ecocâmara. Uma
história de sucesso
A implementação de ações socioambientais
pela Câmara dos Deputados teve início antes da
adesão formal à Agenda Ambiental da Administração Pública - A3P, ainda em 2001 e 2002. A
assessora técnica do Comitê de Gestão Socioambiental - EcoCâmara, Jacimara Machado (à direita), explicaque as ações começaram quando
um grupo de servidores achou que seria justo
- socialmente e ambientalmente, e correto, que
a gestão dos resíduos recicláveis gerados pela
Casa fosse feita de modo diferenciado, incluindo aqueles grupos de pessoas que diariamente
retiravam dos coletores da Câmara seu sustento.
“Isso acontecia de forma desorganizada e esses
‘carroceiros’, como eram identificados na época, sequer estavam organizados sob a forma de
cooperativas. Foi dessa iniciativa que a Câmara,
por meio da área administrativa, e com a ajuda
da ONG Movimento de Meninos e Meninas de
Rua, decidiu proporcionar a esse grupo de carroceiros a oportunidade de organização formal, e
daí estabelecerem parceria para o recebimento
de todo e qualquer tipo de resíduo que pudesse
gerar renda ao grupo”, explica.
Foi durante esse movimento solidário que os
servidores da Câmara tiveram conhecimento
da proposta da A3P, coordenada pelo MMA, implementando então a coleta seletiva. Em 2003
esse grupo partiu para a elaboração de uma
proposta mais ampla: criar o EcoCâmara e assim passar a desenvolver internamente outras
ações de cunho socioambiental, seguindo a
proposta metodológica da Agenda, mas ainda
sem aderir formalmente à iniciativa. Somente
em 2009 a Câmara fez a sua adesão formal ao
Programa A3P.
Jacimara explica que, para consolidar as ações,
o Comitê precisava ser formalizado, fortalecendo sua ação com o apoio da Direção da Casa,
para que os Diretores entendessem o seu papel
e o seu comprometimento com este novo modelo gerencial. “Uma política socioambiental
foi elaborada e disseminada entre os tomadores de decisão, e as ações organizadas em áreas
temáticas (hoje são 11 áreas temáticas), cujos
coordenadores estão diretamente envolvidos e
são os executores principais e fornecedores de
resultados divulgados pelo Comitê por meio de
relatórios anuais. Para envolver ainda mais os
servidores integrantes do Comitê, a coordenação é rotativa e a cada dois anos um novo servidor fica a frente dos trabalhos e estabelece suas
metas e prioridades, as quais são realizadas
com o envolvimento dos demais integrantes do
Comitê e com o apoio da Direção Geral da Casa”.
A coordenadora-geral do Comitê de Gestão Socioambiental - EcoCâmara, Janice Silveira (acima no centro), destaca que a história de êxito
e sucesso do EcoCâmara também enfrentou
problemas. “Não se pode dizer que não houve
obstáculos, pois qualquer mudança de comportamento, seja ele de que natureza for, é sempre
vista como uma incomodação. Justamente por
conta disto, a escolha estratégica dos coordenadores de áreas temáticas e a convivência diária
amenizava as resistências e fortalecia o vínculo e o compromisso com as ações propostas.
Dentre as ações que conseguiram sensibilizar
os colaborados para participar não só da A3P,
mas também de outras ações socioambientais,
a mais importante foi a inserção da sustentabilidade como um pilar do planejamento estratégico da Casa em 2009”, afirma Janice Silveira.
Boas práticas - Alguns exemplos mostram que
as ações do EcoCâmara geram excelentes resultados, como a redução de 90% da geração de resíduos perigosos no Departamento Médico. Em
relação ao consumo de água os dados também
são animadores: houve economia com a nova
forma de manutenção do espelho de água; com
a substituição de garrafas de água mineral por
filtros de água; com a suspensão da irrigação
dos gramados durante um período e com a adequação de plantas que não necessitam de muita água no período de seca.
O coordenador-adjunto do Comitê de Gestão Socioambiental - EcoCâmara, Gilson Dobbin (acima
e as embalagens de produtos químicos. “Essas
lâmpadas foram substituídas por outras mais
econômicas e estão aqui até juntarmos uma
quantidade suficiente para destinar às empresas que possam reciclá-las”, afirma Carlos Augusto, lembrando que essa atitude é recente e
que antes essas lâmpadas eram jogadas no lixo
comum.
à direita), faz um balanço das atividades e dos desafios. “Ainda temos que trabalhar para ampliar
um entendimento coletivo. As ações do EcoCâmara estão registradas em nosso site, de forma
transparente e, além disso, estamos sempre dispostos a compartilhar experiências, por meio de
palestras, treinamentos externos, parcerias para
a realização de ações conjuntas, participação
em debates, articulação com a equipe do MMA
visando fortalecer a proposta da A3P. Temos no
site o ‘Registro de Boas Práticas’, uma área onde
estão ações adotadas por diversos setores e individualmente por pessoas que foram sensibilizadas, e são exemplos que fazem a diferença”.
No Tocantins, o despertar
de um novo tempo
No Tocantins, a Eletrobras Eletronorte, por meio
do Pilar de Meio Ambiente e da Comissão A3P,
vem tomando medidas que objetivam diminuir
o impacto ambiental das atividades exercidas
pela Empresa e por sua força de trabalho, trabalhando a conscientização tanto no trabalho
quanto em casa.
Um bom exemplo desse trabalho é a construção de um depósito para armazenar as sobras
de óleo geradas dos serviços de manutenção
em equipamentos na Subestação de Miracema.
“Antes esses tonéis ficavam em uma área descoberta. Agora o piso é impermeabilizado, o que
evita a contaminação do solo mesmo que haja
vazamento em algum desses tonéis. Além disso, esse óleo é vendido em leilão para empresas
que compram para refinar. Dessa forma, temos
a garantia de que esse material terá uma destinação correta”, explica o coordenador do Pilar
de Meio Ambiente e membro da A3P, Carlos Augusto dos Santos.
No mesmo depósito estão armazenadas as
lâmpadas fluorescentes que estão em desuso
Eletrobras Eletronorte
vence o Prêmio Melhores
Práticas da Agenda Ambiental
A Eletrobras Eletronorte conquistou o primeiro
lugar do Prêmio Melhores Práticas da Agenda
Ambiental na Administração Pública 2011, na
categoria Uso Sustentável dos Recursos Naturais, com o “Programa Educacional para Uso Racional de Energia nas escolas públicas de Tucuruí, no Pará”. Essa é uma premiação que tem o
objetivo de reconhecer o mérito das iniciativas
dos órgãos e instituições do setor público na promoção e na prática da A3P. O Prêmio acontece
anualmente e podem participar órgãos e instituições públicas parceiras formais da A3P, com
Termo de Adesão assinado.
Na opinião da ministra Izabella Teixeira, na categoria de usos sustentáveis de recursos naturais,
há outra visão de como usar melhor os recursos
naturais. “Um exemplo é o programa Educacional para Uso Racional de Energia nas Escolas Públicas de Tucuruí. Você estimula que, tendo uma
racionalidade econômica de uma divisão social,
temos uma melhor prática ambiental. A questão
ambiental é basicamente mudança de comportamento”, disse.
A coordenadora do Programa A3P na Eletrobras
Eletronorte, Kátia Newton, explica que vários
projetos desenvolvidos na Empresa atendem os
critérios para inscrição no Prêmio Melhores Práticas. “Temos conversado com as regionais e interagimos para promover a integração de ações
que são relacionadas ao conceito da A3P, estimulando iniciativas sustentáveis em toda a Empresa. Certamente teremos cada vez mais projetos
inscritos nas próximas edições. O Prêmio é um
reconhecimento e uma homenagem a todas as
equipes que atuam na Sede e nas regionais, e
que todos os dias superam o desafio de acreditar
que podemos mudar”, afirma Kátia.
Para a superintendente de Gestão da Inovação Tecnológica e Eficiência Energética, Neusa
Maria Lobato, o Prêmio mostra que muitas das
ações que já desenvolvemos têm aderência aos
programas do Governo. “Estamos muito felizes
em ver que um projeto trabalhado desde 2005
está integrado à A3P em razão das ações de sustentabilidade que realizamos e que revelam a
grande responsabilidade da nossa Empresa. Os
projetos de sustentabilidade precisam ter aderência ao nosso negócio e estamos gerando e
transmitindo energia com sustentabilidade”.
Economia e Credibilidade - O Programa tem o objetivo de conscientizar os alunos e toda a comunidade escolar quanto ao uso racional da energia elétrica. “A gente distribui material didático
nas escolas, os professores participam de uma
capacitação realizada pela Eletrobras Eletronorte, co os instrutores da Superintendência de Projetos e Programas de Eficiência Energética.
O acompanhamento dos resultados obtidos no
Programa é feito através de medições da conta
de energia dos alunos. “Nós passamos periodicamente pelas escolas para recolher as cópias
da conta de energia e em seguida cadastramos
no nosso sistema em Brasília. Essa medição é
feita a cada seis meses e atualmente estamos
atuando em quatro municípios – Tucuruí, Breu
Branco, Goianésia do Pará e Jacundá”, explica
Daniel.
Entre 2005 e 2009, participaram 32 escolas
municipais, com 816 professores capacitados
e mais de 32 mil alunos. Durante esse período
foram economizados 84.813 kWh, o que seria
suficiente para atender 129 residências, com
consumo de 110 kWh, por seis meses, considerando a realidade da região.
Coleta seletiva é
colocada em prática
na Regional Tocantins
E se a lógica é descartar tudo aquilo que não
tem mais necessidade de uso para Empresa, o
certo é dar um destino correto para esse material. Para isso, a Subestação de Miracema é do-
tada de lixeiras para coleta seletiva
do lixo: papel, plástico, vidro, metal e
restos de alimentos. No refeitório, até
as embalagens de marmitex devem
ser lavadas antes de jogadas no lixo.
O material que pode ser reciclado é
destinado à Cooperativa de Recicláveis Amigos da Natureza – Cooperan,
localizada no Setor Santa Bárbara,
na Capital tocantinense.
Em 2010 foram destinados à Cooperan 701,2 quilos de material reciclável. Em 2011 a meta estabelecida
era 708 quilos, no entanto, até o mês
de novembro, foram enviados para a
reciclagem um total de 1.268,70 quilos. “Isso mostra uma necessidade de
rever essa meta, pois é notório que
estamos reciclando muito mais, até
por conta de um entendimento melhor
do que pode ser reciclado”, explica Carlos
Augusto.
No Centro de Operação do Tocantins, essa iniciativa tem uma grande aliada. Dona Maria do
Carmo de Jesus é prestadora de serviço e diariamente recolhe tudo que pode ser reciclado.
“Pego tudo que é embalagem plástica, coloco
aqui no balde e quando está cheio levo para o
depósito. Com os papéis é a mesma coisa”, relata Dona Maria.
No escritório administrativo em Palmas, quem
faz esse serviço de separação do lixo é o prestador de serviços Kairon Soares. “De caixas de
papelão a garrafas pet, recolho tudo, separo e
à medida que tiver uma quantidade boa que
compense para o pessoal da Associação vir buscar”, explica Kairon.
Redução no consumo de energia - Outra iniciativa adotada pela Regional Tocantins é redução do consumo de energia elétrica. Em 2009,
a Regional acumulou uma economia de 318,21
mW/h. Já em 2010, a economia aumentou para
350,19 mW/h e, até outubro de 2011, chegou
a 358,50 mW/h. A meta para 2011 é 385,21
mW/h. “Não só a troca de lâmpadas proporcionou essa economia, mas também a conscientização da força de trabalho para desligar ar-condicionado, lâmpadas e computadores que não
estão sendo utilizados”, explica Carlos Augusto.
Pilhas e baterias - No caminho da reciclagem,
caixas foram disponibilizadas nos prédios que
compõem a Regional Tocantins para depósito
de pilhas e baterias usadas. Esse material, somado a outras baterias usadas no dia a dia da
Empresa, tiveram a destinação correta por meio
da contratação de uma empresa especializada,
que recolheu até agora 967 quilos de baterias e
chumbo ácido e 54 quilos de pilhas, baterias e
outros itens tecnológicos de pequeno porte. O
investimento nesse processo, considerado coleta onerosa, foi de R$ 6.247,20.
Adeus ao copo descartável - Percebendo que
as canecas fornecidas pela Agenda A3P nem
sempre eram utilizadas pelos colaboradores na
hora de tomar o cafezinho ou até mesmo água,
a Comissão A3P local resolveu combater o uso
do copo descartável, substituindo-os por copos
de vidro. “Estamos provocando essa mudança
de hábito junto à força de trabalho”, complementa a coordenadora da A3P local, Carla Afonso dos Santos. A substituição se dá aos poucos
e ainda há copos descartáveis disponíveis para
os visitantes, mas já se percebe uma redução
na aquisição desse material. De 2006 a 2010, a
Regional Tocantins adquiriu em média 159 mil
copos descartáveis. Em 2011 esse número caiu
para 128 mil, uma redução de 19,5%.
Compostagem em casa - O auxiliar administrativo Richardson Freire é membro da A3P na
Regional Tocantins. Em sua casa, a produção de
lixo orgânico é zero. Desde abril de 2011 ele faz
a compostagem em seu próprio quintal. “Cavei
62
buracos com cerca de 2,40 metros e neles jogo
restos de comida e em cima eu coloco terra e
uma camada de borra de café para espantar as
moscas, evitando assim também o mau cheiro.
Daqui uns meses essa terra compostada será
utilizada para renovar a adubação das minhas
plantas.”
Mais de mil árvores
Em 2009, Carlos Augusto dos Santos fez os
cálculos em relação à quantidade de CO2 (gás
carbônico) que a Regional estava emitindo, e
qual a quantidade de árvores que deveriam
ser plantadas para compensar essa emissão
anual de CO2. O resultado foi o plantio de
1.200 árvores para compensar as cerca de 180
toneladas de CO2.
Cálculo feito, mãos à obra. Começava a busca
por sementes para iniciar a compensação ambiental plantando mudas nos próprios pátios
das subestações de Miracema e Colinas. Inicialmente, cerca de mil sementes do Laboratório
de Germoplasma Florestal da Usina Tucuruí
foram plantadas. Nem todas se adaptaram ao
solo tocantinense, mas a divulgação desse trabalho contagiou a força de trabalho e muitos
começaram a trazer sementes para que o prestador de serviços José Pereira, o Seu Zé da Horta,
pudesse reproduzir mudas no espaço que antes
era destinado ao projeto de horta na Subestação de Miracema. Segundo Carlos Augusto, só
nas subestações de Miracema e Colinas, já foram
plantadas 1.148 árvores.
Rabiscos
energizados
Com o privilégio de guardar traços talentosos,
a Eletrobras Eletronorte divide com Brasília a honra
de acompanhar o retorno de grandes encontros
de ilustradores, cartunistas e chargistas
Byron de Quevedo
“O meu melhor
momento de criação
é na hora de dormir.
Anoto as ideias para não
esquecer até chegar
a uma solução
de maior clareza”.
Claudia Pereira, autora
da ilustração
63
Por algum tempo Brasília carregou o estigma
de ser uma cidade que não se via. Sua imagem
era construída por políticos, intelectuais e artistas de outros estados, e até do estrangeiro.
Um paradoxo, já que a cidade sempre foi reveladora de talentos. E é nesse sentido que os
formadores de opinião
daqui têm um árduo trabalho a fazer.
A Eletrobras Eletronorte
sempre teve valorosos
artistas que têm contribuído para construir essa
identidade. Essa história
começou com José Luiz
de Moura Pereira, o Zé
Luiz, projetista, ilustrador, chargista, cartunista
e estudioso da heráldica.
Ele se aposentou, mas
deixou a missão – e o
talento – da arte para os
filhos José Luiz da Silva
Pereira e Cláudia Maria
Pereira Carvalho, ambos
também chargistas, cartunistas e ilustradores de
bons traços, lotados na sede da Empresa, em
Brasília. Outra estrela do traçado eletricitário é
Andre Luís Mangabeira. Ele é chargista, ilustrador profissional e está sempre por aí a rabiscar
a vida cotidiana dos candangos. Nos corredores da Empresa, na capital federal, é comum
ouvir: “Ah, já pedi para o Magabeira fazer um
caricatura”, ou então “Lembra daquela charge
do Zé na última eleição?”, ou ainda “Lá na área
de Educação tem um quadro que a Claudia fez
com as caricaturas de todo mundo”. É a arte
cheia de energia.
Para resgatar todos esses traços fomos conhecer
os representantes do mais recente movimento
do traço crítico e da ilustração, o Rabiscão, que
está trazendo de volta a
importância que essa arte
merece. Que elas sempre
foram importantes e marcaram a história, é fato. O
que temos agora é um período de reenergização. E
ainda com o charme dos
rabiscos, os trabalhos se
mostram ainda mais interessantes com os modernos recursos da computação gráfica.
Quem é quem - Chargista e cartunista, são ilustradores. A diferença é
a forma de ver os alvos
para dar início à criação.
O chargista mostra as
questões sociais e faz críticas bem humoradas
dos problemas da cidade, da região, do país ou
do mundo. O cartunista pode fazer sua arte
com críticas sociais ou não, mas ele desenvolve também personagens; ou seja, são cartuns
que viram estórias em quadrinhos dentro de
um universo próprio e recorrente. Já o ilustrador tem uma ‘pegada’ mais comercial, editorial,
publicitária, trabalha por encomenda. Ainda
que tenham um trabalho autoral, o chargista
também atende um mercado de encomendas
quando tem seu trabalho reconhecido em jornais, revistas e, mais recentemente, na internet.
De Mundica para o mundo
Zé Luiz é paraense, casado, tem quatro filhos,
cinco netos e um bisneto. O nome artístico foi
uma homenagem dele ao seu pai. Mas a influência para o desenho vem de sua mãe, Mundica, ou Raimunda de Moura Pereira. Hábil desenhista pontilista, morreu ainda nova no parto
do quarto filho. Zé Luiz, herdeiro do talento dela,
é também um estudioso da heráldica e deverá lançar o seu livro “O Brasil Simbólico - Um
Atlas de Heráldica Oficial Brasileira”, em 2012.
O conteúdo do livro compreende as bandeiras,
os brasões, selos e os hinos, quando houver,
com a letra e partitura musical para ser cantada inclusive; transcrição das leis e decretos que
os criaram; o resgate de algum evento histórico
vinculado a esses símbolos; e quando possível,
a biografia dos autores das peças.
Segundo Zé Luiz, não se trata de um tratado
sobre heráldica, que abrange um vasto campo,
mas aborda temas correlatos. O nome Heráldico vem do germânico “Herald”, os Heraldos,
pessoas simples que ao som dos clarins anunciavam vitórias e feitos heróicos da comunidade. A heráldica, na Idade Média, começou como
arte e depois virou ciência, fazendo parte da
formação dos gentis homens da época. Eram
considerados cultos àqueles que dominassem
esses conhecimentos. “Minha mulher, Ocilene
da Silva Pereira, tem sido fundamental. O interesse dela pelas minhas atividades artísticas foi
muito importante para que eu prosseguisse na
minha carreira e finalizasse este meu livro.
No Brasil cultiva-se pouco as tradições e símbolos, como o fazem nos Estados Unidos e Europa.
Quando há alterações na bandeira, brasão, ou
hinos, deve-se toná-las conhecidas pelo País.
Surgem situações constrangedoras quando isso
não é levado a sério. Um exemplo: vi num Tribunal Superior de Brasília, a nossa bandeira ainda
contendo as 23 estrelas, ao invés das 27 correspondentes a todos os estados da federação. Isso
é um desrespeito e mostra falta de civismo nas
nossas altas instituições. Hoje os garotos não sabem cantar o hino nacional. Temos que respeitar
os nossos símbolos”, conta Zé Luiz.
As charges de Zé Luiz foram publicadas em vários
jornais e revistas e ele foi um colaborador permanente do Pasquim nos seus tempos áureos. Seu
personagem mais curioso é o Zé Ninguém, que
de tão menosprezando pela sociedade, perdeu a
sua própria identidade e também o seu corpo. Ele
existe e ninguém o vê; mas ele está lá e prova disso é que suas vestes aparecem aqui e ali.
O traço artesanal
Cláudia é formada em artes plásticas pela Fundação Brasileira de Teatro Dulcina. Iniciou a sua
vida como artista profissional aos 16 anos, dan-
do continuidade a sua diversão predileta: desenhar no escritório de arquitetura do seu pai, Zé
Luiz. Cláudia e seu irmão Luiz Carlos fizeram o
projeto gráfico do livro de heráldica dele. Suas
influências vieram de Walt Disney e Maurício
de Souza, entre outros artistas. Permaneceu na
Empresa seis anos e depois foi ajudar o seu pai
no atelier Estúdio Z, onde ficou por 13 anos. Há
quatro anos retornou.
Cláudia conta que, na
ilustração, os editores
dos livros sempre querem selecionar o que
deve ou não ir a público.
Segundo ela, o veredito
final deveria ser do escritor, pois é a sua obra é
que esta sendo versada
para a ilustração, o que
demanda sensibilidade.
“Quando me convidam
para ilustrar livros, por
exemplo, os editores já conhecem o meu traço
e os atendo dentro das minhas especificidades.
O meu melhor momento de criação é na hora
de dormir. Anoto as ideias para não esquecer
até chegar a uma solução de maior clareza. Um
exemplo foi o cartaz com que venci no Festival
Latino Americano de Arte e Cultura da UnB. Na
hora de dormir me veio uma ideia de uma grande asa de borboleta. Logo rabisquei e depois a
finalizei. Sempre participava desses concursos.
Na ocasião os cartazes artesanais eram muito
valorizados, como aqueles para os festivais de cinema e campanhas de governo, como vacinação,
recenseamento, antitabagismo etc.
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A sensibilidade e a leveza
da expressão feminina
O castelo medieval de Kelburn, na Escócia, foi
‘grafitado’ pelos brasileiros Nina Pandolfo, Nunca, e Os Gêmeos. Recentemente, o proprietário
entrou formalmente com um pedido para preservar os desenhos, já que a fachada se tornou
atração turística da região e teve repercussão
mundial. O sucesso dos nossos cartunistas seria
uma tendência ou uma moda transitória? Qual
é a grande novidade nesta área? Cláudia explica
que ultimamente o traço artesanal é visto como
valorizador do trabalho gráfico.
“As últimas propagandas da Red Bull mostram
isso, são desenhos animados usando a técnica
do acetato muito simples, mas de ótimos efeitos
comunicativos. É uma tendência também em outras áreas da comunicação visual. É um retorno
ao ponto de origem. Estão redescobrindo as belezas das artes com a direta intervenção humana.
A novidade agora é a presença da mulher. Durante décadas, só os homens faziam charges e
cartuns, mas isso mudou. Elas estão trazendo
para este tipo de expressão a sua sensibilidade,
inteligência e leveza”.
Lembra da Caderneta
de Poupança Colmeia?
José Luis da Silva, lotado na Gerência de Ações
Socioambientais, em Brasília, é também publicitário. Começou na década de 70, fazendo
comerciais para a televisão. Os brasilienses
já curtiram muito os seus desenhos da antiga
Caderneta de Poupança Colmeia, do Consórcio
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Ponta, e outros, produzidos pela Cartuns Produções Cinematográficas. Trabalhou também na
Sétima Arte Produções e depois chegou à Eletrobras Eletronorte, onde esta até hoje. “Naquela época tudo era feito à mão livre. Uma imagem era desenhada três vezes: se fazia o traço
de animação a lápis, depois o decalcava numa
folha de acetato, que era pintado quadro por
quadro. Para fazer cada segundo eram necessários 12 desenhos. Depois tudo era fotografado e
montado na prancheta, um trabalhão”.
José Luis teve suas charges publicadas nos principais jornais de cidade
e na internet. Iniciou na
Empresa como projetista,
porém logo se transferiu
para a área de comunicação e voltou a exercer as
artes gráficas. Paralelamente foi eleito dirigente
sindical e ilustrou publicações do Sindicato dos
Eletricitários – STIU/DF. “Vivi a fase da introdução dos computadores com o uso dos recursos
do photoshop. A charge está voltando porque ela
é dinâmica, ela reflete o dia-a-dia e isso é bom
para os meios de comunicação, pois é uma síntese dos acontecimentos sociais e vira motivo de
reportagens. A charge do passado é referencial,
um quadro da época, um marco instantâneo e é
sempre fonte de consulta”, avalia José Luís.
Uma imagem. Uma síntese
Outro fator de retorno dos chargistas aos veículos, segundo José Luís, “é que já tem uma meninada fazendo um bom material. As filmagens
oriundas dos cartuns Capitão America, Hook,
Batman, mostram que estes cartuns extrapolaram sua época, tanto na estética, quanto no texto. Eram trabalhos artesanais bem feitos. Então
todas estas facetas se somam e aqueles gibis
acabaram virando filmes. E não é só isso. Havia
neles conceitos e estéticas esmeradas”, explica.
Zé Luís exemplifica com a imagem que virou
símbolo do movimento contra os atores da crise
financeira americana “Occupy Wall Street”, inspirada num desenho do cartunista Shepard Fairey, baseada no rosto do revolucionário católico
Guy Fawkes, morto em 1606. Líder da rebelião
contra os monarcas, ele objetivava incendiar o
Parlamento e derrubar a família real britânica,
uma história de 400 anos. “Quando a imagem é
forte, acaba sendo usada em outros movimentos
ainda mais relevantes; ou seja, vira a síntese de
uma situação humana ou de uma época”.
O traço no cinema
As imagens e textos para charge, ilustração, desenho animado, cinema, entre outros, se tornaram muito fortes na década de 1970 e 80. Em virtude da demanda, os americanos começaram a
querer ver o que o resto do mundo estava fazendo. E foram buscar até artistas de um pequeno
estúdio argentino para fazer os traços do Scooby
Doo. Acabaram indo a Hollywood
para outras produções da Hanna
Barbera, mas houve uma desaceleração depois dos anos 80 e
a produção mundial começou a
entrar em decadência.
O resurgimento acontece logo a
seguir com os cartunistas e chargistas usando novas estéticas.
“O filme Rio, por exemplo, com
personagens humanizados, mostrou
o refino dos desenhistas brasileiros e transmite muita emoção.
Eu gosto mais da ilustração
com traços livres e da charge
política. A sua capacidade
de interpretar a sociedade, por exemplo, foi muito
combatida durante os anos
da ditadura. Mas esse tipo
de expressão estará sempre presente. As charges do
Jaguar, do Ziraldo, Henfil, por
exemplo, passaram a fazer parte deste capítulo
da história política do Brasil. A Graúna, Zé Ferino e o Bode Orelana (um intelectual que comia
livros)... quem não se lembra desses desenhos
perspicazes? O surgimento de novos gênios neste nível é difícil. O Henfil, por exemplo, era um
especialista em driblar os censuradores. Hoje os
chargistas são pautados pela linha editorial dos
jornais”, afirma Zé Luís.
O imoral e o libertário
José Luis lembra ainda as proibições impostas
no Brasil até a década 1980 e resgata a obra de
Carlos Zéfiro (1921-1992). “Eram tidas como
imorais, mas não deixavam de ser um panfleto
libertário contra aquele cenário de proibições
da época. Ele, a sua maneira, ajudou a romper
essas barreiras à liberdade de expressão. Havia
também os quadrinhos de terror, verdadeiras
obras de arte a cada quadro, aliados a roteiros
às vezes até muito criativos. Creio que a charge
teve um período muito importante na época da
ditadura, mas ela ainda continua como uma
ferramenta boa contra as coisas mal feitas, a
política deturpada e as picaretagens em geral”.
O adeus à biologia
Com um traço marcado pelo
humor, Mangabeira diz que
seu trabalho acompanhou a
trajetória de Ziraldo, Angeli,
Laerte, entre outros mestres
do cartum brasileiro. É admirador também dos ilustradores Mauro Souza, na área
editorial e publicitária; e de
Hiro Kawahara, o desenhista dos quadrinhos das bandejas do Mac Donald. “Ele, igual
a mim, também abandonou a
faculdade de biologia para
se dedicar às artes. O traço
dele é magnífico, mas há
outros também muito
bons. Planejo dar continuidade fazendo um
trabalho autoral, com
histórias criadas e ilustradas por mim, ou em
parceria com bons roteiristas”.
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Mangabeira observa que o cartunista de Brasília
não contava a história da cidade. “Talvez porque
muita gente não era daqui e não tinha lá muita
identidade com a região. Os nossos artistas precisam do apoio da mídia local. Vários cartunistas
do eixo Rio – São Paulo já tem os seus nomes consolidados. Mas estão surgindo cartunistas locais
e mostrando coisas de bom nível também, igual
ao Angeli, por exemplo. Tenho participado do
movimento Rabiscão. Creio que em breve a mídia
vai notar os seus talentos e dará a ele a merecida
importância, pois muitos já estão participando
do mercado internacional de ilustração de livros,
revistas e outras publicações. Afinal, charge nasce de um feeling que está no ar e os artistas, seja
lá de onde for, o captam”, avalia Mangabeira.
A hora do Rabiscão
Uma sexta-feira por mês. Os
maiores nomes da ilustração
candanga reúnem-se para um
bate-papo sobre ilustração,
mercado e outras coisas relacionadas ao tema. Com direito
a muitos rabiscos, é um encontro entre muita gente nova e
quem está no mercado há vários anos.
O Rabiscão surgiu em 2009,
com o objetivo de reunir profissionais da ilustração, residentes em Brasília,
num formato parecido ao praticado pelo Bistecão - o maior encontro de ilustradores de São
Paulo. O grupo mais frequente conta com Abipro, Amanda Grazini, Kako, Montalvo Machado,
Orlando Pedroso, Renato Alarcão e Tupixel. Ele
foi criado e organizado por Carlos Araújo e pelo
Werley Krohling.
Depois de cinco encontros, o ilustrador e publicitário André Zottich passou a organizá-lo. “Custeamos brindes, materiais e outras coisas relacionadas a agregar movimento. Mas o evento está
crescendo e seus custos também. Assim, resolvemos reformá-lo. O fundamento é conhecer novos
profissionais, fazer contatos e trocar experiências. Pretendemos fazer vários eventos em shoppings e praças abrindo espaço para oficinas de
formação de artistas. Este ano traremos artistas
de renome para um evento bastante expressivo.
Estamos garimpando os apoios”, afirma Zottich.
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Mais do que discutir os traçados dos discursos
e das ideias, o grupo promove ainda oficinas de
ilustração abertas a todas as idades, além de gratuitas. Na edição do mês de novembro de 2011, o
Rabiscão forneceu canecas que, depois de ilustradas, foram vendidas, com renda revertida a instituições de caridade. Havia ainda à disposição
painéis que foram pintados pelos participantes,
incorporados ao espaço de um shopping local, e a
uma grande exposição itinerante ao ar livre.
André Zottich fez cursos de arte, em São Paulo,
como ocupação extracurricular. Na faculdade
conheceu pessoas com visões diferenciadas, o
que o ajudou a desenvolver espírito crítico. “A
boa charge ou cartum exige maturidade. Os artistas atuais não são tão cáusticos como os que
viveram a época com restrições à liberdade de
expressão. Os cartunistas e ilustradores da nova
geração vêm no embalo da tecnologia e da facilidade de poder se expressar através dos meios
de comunicação, da internet. Creio que da nova
geração, o João Montanaro, é o que tem a visão
mais aprofundada da sociedade. Ele tem a veia
crítica do Laerte, Glauco, Ziraldo e outros dotados
do humor ácido e de conotação política”, explica.
Brasília é sempre vista através da política, escândalos, e quando alguém de fora tem que retratá-la, acaba trazendo esses clichês. Mas André crê
que isso está mudando. “Com a Copa do Mundo
temos que mostrar uma nova cidade. Os nossos ilustradores já são citados fora daqui e convidados a participar de vários eventos. O nosso
Rabiscão tem relevância no mercado nacional e
chegou a reunir 200 ilustradores na ultima edição. Através do email [email protected], os
interessados poderão esclarecer suas dúvidas,
participação e agenda.
Os cartuns, a
telona e os danosos
Os cartunistas utilizavam seus heróis para criticar
a sociedade da ocasião e o fizeram de forma convincente e com talento, principalmente nos períodos de guerras. Outras vezes esses super-heróis
eram utilizados como ferramenta de propaganda,
tentando justificar o envolvimento de nações nos
conflitos internacionais. Segundo André, eles mostravam a ação de guerra, mas pouco falavam dos
problemas sociais que geraram esses conflitos.
Estaria a nova geração de cartunistas e chargistas madura o suficiente para gerar trabalhos
com menos glamour e mais cientes da realidade?
Segundo André a conscientização já está acontecendo. “O Gabriel Bastos e o Fábio Moon estão
atentos nesta direção. Eles são quadrinovelistas
brasileiros que acabaram de ganhar o Prêmio
Eisner, considerado o Oscar dos quadrinhos, dado
pelos editores das maiores revistas de cartuns
dos Estados Unidos. Tem também a Marjane
Satrape que fala sobre a sua infância, durante a
revolução iraniana, suas dificuldades e sua saída
do Irã, de forma muito crítica. São experiências
que estão mostrando a grande contribuição dos
quadrinhos para o registro da história mundial”.
André cita ainda o exemplo de Quino, que idealizou a Mafalda. “Um personagem que via o mundo através de cenários de conturbações, mas sonhava com mundo melhor. Então Quino viu que
Os gibis premonitórios, como o Flash Gordon, do
americano Alex Raymond, na década de 1930,
mostravam inventos que vieram a se materializar
décadas mais tarde: carros anfíbios, o telefone celular,
as naves interespaciais, esteiras rolantes, redes de
computadores interligados e as ferramentas inteligentes
o mundo não melhorava e não publicou mais
histórias com ela, alegando que a Mafalda tinha
perdido a razão de viver. Aí está um exemplo de
um artista que foi até o limite da sua integridade e não se corrompeu”.
O Pica-pau o Road Runner são mundialmente
conhecidos como exemplos negativos de desenhos e foram, inclusive, proibidos em alguns países. Segundo André, são modelos de dominação
subliminares. “O Pica-pau sempre se dá bem em
cima de quem o desafia. Há outros com o mesmo perfil: o Jerry sempre se dá bem em cima do
Tom; o Papa Léguas, do Coiote. Ou seja, a mensagem é que, mesmo demonstrando fraqueza, eles
sempre vencerão no final e a reação sempre será
violenta. Infelizmente, na passagem de muitos
personagens das revistas em quadrinhos para a
televisão, tivemos casos extremamente danosos
como esses. Ou seja, não se faz uma crítica direta aos governos dos países, mas ao comportamento social e à cultura diferente. O adulto percebe a mensagens subliminares, mas a criança
apenas absorve seus conteúdos que ficam como
ensinamentos nas suas mentes”.
No Rabiscão discutimos estas questões também: o cuidado para não passar mensagens diferenciadas daquilo que se deseja. Esta é maior
contribuição do Rabiscão: alertar aos novos
ilustradores, cartunistas, chargistas e quadrinistas que uma vez criadas as imagens e levadas a públicos, elas ficarão plasmadas como realidade permanente e dificilmente poderá ser
deletada. Mesmo que o artista venha a mudar
o seu pensamento, a intenção da imagem será
uma eterna referência do seu pensar”.
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Parabéns
à
equipe de comunicação da Eletronorte pela
edição da revista Corrente Contínua
que traz na capa “O som da energia”. A
matéria “A música sem Fronteiras”, que
tem como tema a atuação da Orquestra do
Estado de Mato Grosso, leva o leitor a perceber a combinação perfeita de música erudita e
contexto popular/regional e também enfatiza a
importância de se estreitar o contato do público escolar com a música clássica. Sou mato-grossense de
coração e conheço de perto o trabalho da orquestra
e do maestro Leandro Carvalho. Certamente o apoio
cultural da Eletronorte tem contribuído, e muito, para
esse sucesso.
Renata Ribeiro - Brasília/DF
Amigos da Corrente Contínua,
Vocês, amigos, muito nos ajudaram e enriqueceram através desta excelente revista. Agradeço a atenção e espero
continuar recebendo aqui esse excelente veículo de comunicação.
Um abraço amigo,
Severino Cassiano Ferreira
Água Preta, Pernambuco
Parabéns pela linha editorial da Corrente Contínua, pelas
matérias, principalmente sobre a nossa cultura: “A música sem fronteiras” e “Na telona, a energia do Cinema Brasileiro”, dando maior leveza à Revista, resultando numa
leitura suave. Um verdadeiro acorde entre a cultura e a
técnica, ainda mais quando nos deleitamos nas páginas
sobre o Maranhão, ISO 9001:2008, e o brilho de Timon
com o Prêmio Procel Cidade Eficiente e o Plano Municipal
de Gestão Energética.
Arthur Quirino da Silva Neto
Eletrobras Eletronorte – Maranhão
Amigos da Corrente Contínua,
Parabéns pela forma como retratam o setor de energia
no Brasil. Fiquei muito feliz em saber do infocentro em
Belém. É muito importante ver as pessoas preocupadas
em incluir brasileiros e brasileiras na realidade tecnológica. Continuem com esses projetos.
Um abraço fraterno,
José Humberto Santos
Belém, Pará
Em nome do Bracier parabenizo a Eletronorte pela excelente revista que produz. Aproveito a oportunidade para
informar que podemos colocar os exemplares eletrônicos da revista no site do BRACIER, assim como fazemos
com a Revista CIER e a Revista da Ampla http://www.
bracier.org.br/pt/trabalhos.html
Atenciosamente,
Bruna Neves Lacerda
Relações Públicas Bracier - Comitê Brasileiro
da Comissão de Integração Energética Regional
70
Arícia,
Recebi alguns exemplares da revista Corrente Contínua
em que a Orquestra do Estado de Mato Grosso ilustra a
capa. Escrevo para parabenizá-la pela excelente profissional que você é!
Nenhum meio de comunicação até hoje conseguiu sintetizar a nossa história tão bem, com tanto zelo e detalhes como você. Qualquer leitor percebe que você se debruçou sobre a nossa história com um interesse genuíno
e realizou uma ampla pesquisa. Obrigada!
Sem falar na nossa Língua Portuguesa.... há anos eu não
lia uma matéria com uma revisão tão minuciosa.
Parabéns! Muito obrigada!
Um grande abraço,
Lúcia Carames Sartorelli
Orquestra do Estado de Mato Grosso
Aos jornalistas da revista Corrente Contínua,
Fico muito orgulhoso do setor elétrico brasileiro quando leio a Revista da Eletronorte. É impressionante como
uma empresa de geração e transmissão de energia pode
estar presente em tantos projetos importantes para o
País, desde um festival de cinema até programas indígenas. Parabéns pela matéria das certificações, que mostra
que uma empresa pública pode estar alinhada com o
que há de melhor em gestão.
Um grande abraço e parabéns a todos da redação.
Julio Almeida
São Paulo – SP
Obrigada pelo envio da revista Corrente Contínua e manifestamos o interesse em continuar recebendo a publicação.
Maria Hilda de Medeiros Gondim
Coordenadoria de Desenvolvimento de Coleção
Universidade Federal do Pará
Agradecemos o envio da revista Corrente. Gostaríamos
de continuar recebendo os exemplares.
Atenciosamente,
Neubler Nilo e Josemara Brito
Biblioteca Central - Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia
Fotolegenda
Cabeças, troncos e membros
Galhas se contorcem nuas
Rígidas ao sol a secar
Abrem-se matas antes verdes
Para o rebanho pastar
Cinzas toscas quedam brancas
Morte abrupta sobre serras
Na dança dos motosserras
Queria eu quem me dera
Outra música pra tocar
Segue o fogo na sequência
Cumprindo com obediência
Sua missão de arrasar
Bani-se dos campos sem clemência
Onça, cutia, cobra, lontra, carcará: tudo que há.
Fujam todos enquanto é tempo
Antes de o gado se espalhar.
Há de se desenvolver fortes membros
Pra fome humana desmembrar
Olhares meigos fitam troncos,
Sagradas em outras terras
Mugem cabeças condolentes
Até sua hora chegar
Texto: Byron de Quevedo
Foto: Rony Ramos
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Ano XXXV - nº 241