TE X TO • EDSON C ALDA S QUANTAS VEZES VOCÊ PRECISOU DO SEU CELULAR DURANTE O DIA E FICOU NA MÃO PORQUE ELE ESTAVA DESCARREGADO? PARA EVITAR QUE ISSO ACONTEÇA, CIENTISTAS DE TODO O MUNDO PESQUISAM NOVOS TIPOS DE CARREGADORES – E UM DELES FUNCIONA COMO UMA REDE WI-FI 52 SETEMBRO / 2014 278BATERIASsempreCHEIA.indd 52 15/08/2014 16:08:01 2014 / SETEMBRO 278BATERIASsempreCHEIA.indd 53 53 15/08/2014 16:08:01 Você ignorou o despertador e agora está atrasado para o trabalho. Como de costume, o celular sumiu. Enquanto tenta acordar, tateia os lençóis da cama até encontrá-lo sob o travesseiro. Um clique no botão faz com que a telinha revele: 15% de bateria. Na padaria onde você toma café o nível da carga do aparelho sobe um pouco. Dentro do ônibus, a caminho do trabalho, ela atinge metade. E na hora do almoço, naquele restaurante por quilo que vive lotado, a bateria finalmente chega a 100%. E Esse pode parecer um cenário A pesquisa coreana é apenas uma das inúmeras muito distante da realidade de iniciativas que têm como objetivo mudar a forma hoje, em que acontece exata- como carregamos nossos celulares. Em junho, o mente o oposto: os celulares Legion Meter, um projeto apresentado no Kicks- descarregam rapidamente ao tarter, evidenciou a necessidade de resolvermos longo do dia. Mas não é. Enge- esse problema o quanto antes. Trata-se de um nheiros do Instituto Avançado de Ciência e Tec- aparelhinho parecido com um pendrive que dimi- nologia da Coreia desenvolveram uma técnica que nui o tempo de carregamento de um gadget em permite abastecer diversos dispositivos à distância, 92%. Em poucos dias, o dispositivo conseguiu sem a necessidade de um emaranhado de fios. Ba- US$ 416 mil para financiar sua produção — mais tizada de Sistema Ressonante de Bobina Dipolo de 40 vezes a meta estipulada. Criado pela empre- (DCRS, na sigla em inglês), a tecnologia é uma sa norte-americana PLX Devices, ele serve tanto espécie de wi-fi de energia elétrica. para iOS quanto para Android. Basta encaixá-lo Um vídeo divulgado pelos pesquisadores ficou na entrada USB do seu computador e ligá-lo ao famoso na internet. Nele, alguns gadgets são car- celular. A previsão é de que o Legion Meter chegue regados simultaneamente a 5 metros de distância. ao mercado ainda neste ano. Eles chamam o conceito de “Wi-Power”, sistema que une dois objetos que ressoam na mesma fre- IDEIAS MIRABOLANTES quência para trocar energia. Os ressonadores — Um pouco mais distantes da comercialização, bobinas de cobre — são conectados por um campo outras iniciativas também propõem formas rela- magnético. A primeira bobina está ligada à fonte tivamente inusitadas de fornecer energia a gad- de energia e é responsável pela transmissão. Ela gets. Uma delas vem sendo desenvolvida pela preenche o espaço ao seu redor em uma frequên- Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. cia específica. Esse campo magnético, que não dá Trata-se de uma microbateria capaz de carregar choque nas pessoas, faz a mediação da energia com aparelhos 100 vezes mais rapidamente do que a outra bobina, que atua como unidade receptora as baterias convencionais. “Usamos uma arqui- (veja no quadro). “Eventualmente, teremos muitas tetura para controlar com precisão o tamanho zonas Wi-Power em restaurantes e nas ruas, que e os materiais através dos quais os elétrons e fornecerão energia elétrica sem fio para todos os íons viajam. Podemos manipular essa arquite- dispositivos eletrônicos”, disse a GALILEU o pro- tura para reduzir o tempo que leva para eles se fessor Chun T. Rim, responsável pela empreitada. transferirem a partir do ânodo para o cátodo, au- Para ele, até computadores, televisões e ventila- mentando a densidade de potência”, afirma Ja- dores serão carregados sem a necessidade de fios. mes Pikul, professor responsável pela pesquisa. 54 SETEMBRO / 2014 278BATERIASsempreCHEIA.indd 54 15/08/2014 16:08:01 Energia pelo ar 1. Com três metros de comprimento e 20 centímetros de altura, o carregador conta com a bobina emissora por onde a corrente elétrica passa, gerando um campo magnético USANDO O CONCEITO DE INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA, PESQUISADORES COREANOS TRANSMITIRAM ENERGIA ATÉ UMA DISTÂNCIA DE CINCO METROS 2. Pelo ar, essas ondas eletromagnéticas são recebidas pela bobina receptora, que está acoplada aos dispositivos e transmite uma corrente elétrica contínua capaz de carregar a bateria bobina emissora carregador Aqui tem Wi-Power Com o avanço da tecnologia, os equipamentos fornecedores de energia serão capazes de distribuir maior potência em distâncias mais longas. Os smartphones e outros dispositivos também serão equipados com pequenas bobinas para que a indução eletromagnética seja realizada. Com um conceito semelhante ao do wi-fi, os dispositivos serão recarregados sem a necessidade de uma tomada. bobina receptora 3. O pico de energia transmitida foi de cerca de 1.400 watts, a uma distância de três metros entre as bobinas. O alcance máximo atingido pelo aparelho é de cinco metros A microbateria ainda precisa resolver desafios As baterias que equipam os gadgets hoje são técnicos antes de ser comercializada — o princi- feitas de íons de lítio. Especialistas são quase pal deles relacionado às limitações de fabricação. unânimes em apontar o material como o melhor Também não faltam ideias que, à primeira vista, disponível no mercado. O problema é que, a cada parecem mirabolantes. Na renomada universida- nova geração de aparelhos, a carga dura menos. de Virginia Tech, um pesquisador está testando Segundo Maria de Fátima Rosolem, da Área de Sis- baterias que realizam reações químicas entre as temas de Energia do Centro de Pesquisa e Desen- moléculas do açúcar para gerar energia. Segundo volvimento em Telecomunicações, a ineficiência seu principal criador, Zhiguang Zhu, elas terão tem a ver com o ganho rápido de funcionalidades dez vezes mais autonomia, recarga super-rápida que os celulares tiveram nos últimos anos. Hoje, (alguns segundos despejando o açúcar), ampla eles não servem apenas para fazer ligações, mas disponibilidade e alta segurança. “É uma tecno- para ouvir música, encontrar o caminho e até arru- logia revolucionária”, afirma ele. Já o pesquisador mar namorado: “A bateria tem evoluído, mas ainda Gianmario Scotti, da Aalto University, na Fin- não alcançou um tamanho adequado para atender lândia, criou células que substituem as baterias a toda essa demanda”. Ela diz que continuaremos recarregáveis tradicionais por um reservatório de usando baterias de íons de lítio nos próximos anos, etanol. Elas produzem energia a partir de reações ainda que com novos componentes. Isso porque eletroquímicas, mas há uma série de obstáculos: leva tempo até que uma nova tecnologia se consoli- para obter alimentação suficiente e constante, o de fora dos laboratórios. Enquanto não encontram álcool deve ser bombeado. E microbombas aumen- um jeito de viabilizar todos esses projetos, vamos tam o preço do dispositivo. Além disso, é preciso seguir colocando o celular para carregar cinco adicionar água para promover as reações, o que minutos antes de sair de casa e correndo o risco aumenta o volume total e o peso do aparelho. de ficar sem bateria já na metade do dia. INFOGRÁFICO : Alexandre Affonso /Editora Globo 278BATERIASsempreCHEIA.indd 55 2014 / SETEMBRO 55 15/08/2014 16:08:02