.CK) ipen AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO IDENTIFICAÇÃO DOS VALORES ORGANIZACIONAIS DO INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES - IPEN: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA GESTÃO ORGANIZACIONAL BASEADA EM VALORES MÁRCIA ORRICO PUPAK Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Doutor em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear-Aplicações. Orientador: Dr. José Roberto Rogero Co-Orientador: Dr. Antonio C. Amaru Maximiano São Paulo 2003 INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES Autarquia associada à Universidade de São Paulo IDENTIFICAÇÃO DOS VALORES ORGANIZACIONAIS DO INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES - IPEN: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA GESTÃO ORGANIZACIONAL BASEADA EM VALORES. Márcia O nico Pupak Tese apresentada como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Doutor em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear - Aplicações. Orientador: Dr. José Roberto Rogero Co-Orientador: Dr. Antonio C. Amaru Maximiano Sao Paulo 2003 CCWfSSAO HMXm. DE B4ERÊIA ^'UQ£AfVSF-ra Ao meu querido pai (in me morían). cowssAo miom. oe EJERCÍA mCimisF-PíU Agradecimentos Para realizar este trabalho contei com a colaboração e o apoio de diversas Algumas foram lembradas e aqui relacionadas; àquelas que não foram dedico meus agradecimentos Ao Instituto encontro por Energéticas laços e Nucleares profissionais e - Ipen, instituição à qual me acadêmicos, oportunidade ímpar de poder realizar um curso de pós-graduação de ensino equivalente mencionadas em pensamento. de Pesquisas vinculada pessoas. às melhores universidades agradeço pela em uma instituição de ponta. As pessoas desta instituição demonstraram que os valores podem ser transmitidos por meio de ações diárias, bons exemplos, dedicação e perseverança. Aprendi que, para vencer os desafios, temos que insistir na busca de soluções e não desistir nunca! Agradeço especialmente ao Professor José Roberto Rogero, orientador incentivador, pelo apoio constante e pela transmissão de valores como e dedicação ao trabalho, e, especialmente, por sua característica Esse seu perfil, certamente, teve um papel fundamental e grande competência de "abrir portas". no desenvolvimento desta pesquisa. Ao Professor Antonio Tecnológica Carlos Amaru Maximiano, (NPGT) da Faculdade de Economia, do Núcleo de Política e Gestão Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), agradeço pela valiosa co-orientação e pelo incentivo nos momentos apropriados. Aos demais professores e funcionários do NPGT-FEA da USP, meu reconhecimento e agradecimento pela oportunidade de aprendizado oferecida ao longo do curso. A Maria das Graças Catunda Gondin, pessoa com raro talento de compreender e ajudar os seus semelhantes, meus sinceros agradecimentos por ter sido o veículo que me conduziu ao Professor Álvaro Tamayo. Quanto às qualidade do Professor Álvaro, ninguém melhor do que você, "minha amiga Gracinha", para mSSk) WOML DE Btff^íA r.liCL£AR/SP-!PEÍ descrevê-las: "Sua cultura ímpar e confiecimento associados a uma competência agradecimentos profundo da Psicologia humana rara, são exemplos Trabalíio, valiosos...' fvleus ao Professor Tamayo pelos ensinamentos acerca do tema de minha pesquisa e por sua valiosa colaboração, desenvolvimento Social e do imprescindíveis para o sucesso e bom deste trabalho. Agradeço a l^artha l\Aarques Ferreira Vieira pelo ouvido amigo, assim como a Afonso Rodrigues de Aquino, Luís Filipe C. P. de Lima e aos demais companheiros da Diretoria de Ensino do Ipen. tviuito obrigada pela amizade nos tempos de estresse elevado. Ao meu companheiro pelo amor, paciência momentos e amigo afetuoso de todas as horas, Cleto Caduda, e compreensão que se fizeram necessários nos agradeço inúmeros em que precisei optar entre o trabalho e o lazer, prescindindo a sua companhia. Por último, mas não menos importante, gostaria de agradecer, de maneira muito especial, a minha mãe, Maria Geralda Orrico, pelas infindáveis vezes em que me ajudou, incentivou e guiou para os caminhos mais acertados e, sem a qual, não teria sido possível concluir esta importante etapa de minha jornada. IV "Nós percebemos e entendemos os seres humanos através das Janelas da ciência e da história e das artes e línguas; na verdade, toda frase é um prisma, através do qual ocorrem as percepções que os valores que moldam lingüísticas também moldam nossas a do modo expressões experiência do mundo a nossa volta, assim como de nós mesmos. Propositalmente ou não. Quem quer que ensina valores."(Lipman, M. 1990). cmssk) maom. DÊ B E R € Í A Nuofwsp-tPEM ensine, IDENTIFICAÇÃO DOS VALORES ORGANIZACIONAIS DO INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES - IPEN: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA GESTÃO ORGANIZACIONAL BASEADA EM VALORES. Márcia Orrico Pupak RESUMO O t r a b a l h o c o n d u z i d o n o Instituto d e P e s q u i s a s Energéticas e N u c l e a r e s Ipen o b j e t i v o u identificar o s v a l o r e s s u b m e r s o s n a c u l t u r a o r g a n i z a c i o n a l d e s t e instituto. A h i e r a r q u i a i d e n t i f i c a d a d e v a l o r e s o r g a n i z a c i o n a i s , s e g u n d o a percepção d a s p e s s o a s q u e compõem u m a organização, f o i u m a d a s m a i s i m p o r t a n t e s contribuições d e s t e e s t u d o p a r a o avanço d o " e s t a d o d a arte". N a p e s q u i s a d e c a m p o f o r a m u t i l i z a d a s d u a s a b o r d a g e n s metodológicas p a r a a obtenção d e d a d o s primários: a q u a n t i t a t i v a e a q u a l i t a t i v a . N o método q u a n t i t a t i v o f o i utilizado o Questionário de Valores Organizacionais. O questionário f o i a d a p t a d o às n e c e s s i d a d e s d o Ipen c o m a introdução d o p l a n o I D E A L d e percepção o b j e t i v a n d o a Gestão d e V a l o r e s , q u e p o d e m s u b s i d i a r a alta direção, c o m b a s e e m i n d i c a d o r e s , individualizar o s v a l o r e s q u e n e c e s s i t a m d e u m a atuação p a r t i c u l a r v i s a n d o à m e l h o r i a d o c l i m a o r g a n i z a c i o n a l . O questionário contém u m a lista c o m 3 8 v a l o r e s , c a d a q u a l s e g u i d o d e s u a significação para m e l h o r compreensão d o s r e s p o n d e n t e s . A o s r e s p o n d e n t e s f o i s o l i c i t a d o avaliar, n u m a e s c a l a d e O a 6 , a s e g u i n t e p e r g u n t a : "Na sua opinião, quanto cada um desses valores são importantes como princípios orientadores da vida organizacional de sua instituição?" E s s a avaliação l e v o u e m consideração d o i s níveis d e percepção: o R E A L e I D E A L . A população p e s q u i s a d a foi constituída p o r 1 . 0 0 0 s e r v i d o r e s , d o s q u a i s 5 5 3 p e s s o a s r e s p o n d e r a m a o questionário, i.e., u m t o t a l d e 5 5 , 3 % d a população r e t o r n o u o s questionários. N o método q u a l i t a t i v o f o i u t i l i z a d o u m Questionário Semí-Estruturado de Entrevista, construído c o m b a s e e m questões f u n d a m e n t a i s s o b r e a instituição. E s s e Questionário f o i a p l i c a d o a u m a a m o s t r a i n t e n c i o n a l d e 1 5 p e s s o a s - c h a v e d a organização. C o m e s s a s d u a s a b o r d a g e n s metodológicas f o i possível identificar o s v a l o r e s o r i e n t a d o r e s d a v i d a o r g a n i z a c i o n a l , b e m c o m o v e r i f i c a r a congruência e n t r e os valores transmitidos e aqueles percebidos pelos servidores d o Ipen. O estabelecimento d e u m sistema d e valores consistente b a s e a d o , sobretudo, no q u e s e p o d e c h a m a r d e v a l o r e s f u n d a m e n t a i s , o u Core Valúes, q u e são a q u e l e s q u e resistirão a o t e m p o e às pressões d e mudanças a m b i e n t a i s e x t e r n a s , são e l e m e n t o s e s s e n c i a i s p a r a a c o n q u i s t a d o s u c e s s o d e u m a instituição. O c o m p r o m i s s o d a altadireção d o I p e n f o i o d e e s t a b e l e c e r o Core Valúes d a Instituição c o m b a s e n o s valores hierarquizados nesta pesquisa. VI IDENTIFICATION OF ORGANIZATION VALUES OF THE ENERGY AND NUCLEAR RESEARCH INSTITUTE - IPEN: CONTRIBUTION FOR ORGANIZATION MANAGING BASED ON VALUES. Márcia Orrico Pupak ABSTRACT The a i m of the study conducted at E N E R G Y A N D N U C L E A R R E S E A R C H I N S T I T U T E - I P E N w a s t o identify t h e u n d e r l y i n g v a l u e s o f its c u l t u r e . T h e hierarchical values identified with the perception of t h e e m p l o y e e constituent o n e of t h e m o s t i m p o r t a n t part o f this s t u d y . O n f i e l d w o r k w e r e e m p l o y e d t h e q u a n t i t a t i v e a n d qualitative m e t h o d s utilized t o g a t h e r p r i m a r y d a t a . T h e q u e s t i o n n a i r e utilized o n q u a n t i t a t i v e m e t h o d c o n t a i n s a list w i t h 3 8 v a l u e s , e a c h o n e f o l l o w e d b y a p a r e n t h e t i c a l e x p l a n a t i o n t h a t clarifies its m e a n i n g . T h e t a s k o f e a c h r e s p o n d e n t w a s to rate, o n a s c a l e f r o m 0 t o 6 , t h e i m p o r t a n c e o f e a c h v a l u e a s g u i d i n g p r i n c i p l e s in o r g a n i z a t i o n a l life. It w a s a s k e d t o r e s p o n d e n t s , t o c o n s i d e r t h e rating in t w o levels o f p e r c e p t i o n : R E A L p l a n , a n d I D E A L p l a n . T h i s i n s t r u m e n t w a s a d a p t e d specifically t o I P E N , with t h e i n t r o d u c t i o n o f t h e I D E A L p l a n , in o r d e r t o m a k e p o s s i b l e t h e m a n a g e m e n t o f v a l u e s f o r later w o r k w i t h s o m e g r o u p s , c o n s t i t u e n t b y c h o s e n e m p l o y e e s o f t h e Institute, in o r d e r t o e l a b o r a t e t h e " C o r e V a l u e s " . T h e p o p u l a t i o n i n v e s t i g a t e d o n this m e t h o d w a s c o n s t i t u e n t b y 1 . 0 0 0 e m p l o y e e s a n d 5 5 3 q u e s t i o n n a i r e s , i.e., 5 5 , 3 % , q u e s t i o n n a i r e s w e r e t u r n e d b a c k . O n q u a l i t a t i v e m e t h o d it w a s used o n e Semi-structured Interview with 12 questions, applied o n a s a m p l e c o n s t i t u e n t b y 1 5 m o s t i n f l u e n t p e r s o n s of t h e o r g a n i z a t i o n . T h o s e t w o m e t h o d o l o g i e s e m p l o y e d p e r m i t t e d identify t h e h i e r a r c h i c a l o r g a n i z a t i o n v a l u e s a n d a l s o find o u t if t h e r e a r e c o n g r u e n c y b e t w e e n t h e v a l u e s t r a n s m i t t e d a n d t h e p e r c e p t i o n of t o d a y v a l u e s . T h e c o n s i s t e n c y o f v a l u e s s y s t e m s it is b a s e d o n a s e t o f f u n d a m e n t a l v a l u e s called " C o r e V a l u e s " , i.e. b y c o m m i t t i n g t o a c o m m o n p u r p o s e a n d a s e t o f v a l u e s that will persist n o m a t t e r e n v i r o n m e n t a l c h a n g e s a r o u n d t h e o r g a n i z a t i o n . A s c o n s e q u e n c e , t h e institutional c o m m i t m e n t is t o f o r m w o r k i n g g r o u p s , inside t h e S t r a t e g i c P l a n n i n g R e v i s i o n , in o r d e r t o e l a b o r a t e t h e " C o r e V a l u e s " b a s e d o n t h e v a l u e s identified o n this r e s e a r c h . çmssk) HKiom. DE EWERSIA rwaf;yvsp-iP£M vil SUMARIO Página 1 INTRODUÇÃO 01 2 OBJETIVOS DO ESTUDO 05 2.1 Justificativa 05 2.2 Contribuições Originais da Pesquisa 06 2.3 Questões de Pesquisa 07 3 O PROBLEMA DE PESQUISA 09 3.1 Contextualização da Energia Nuclear no Mundo 10 3.2 Evolução do Programa Nuclear Brasileiro 16 3.2.1 Programa Autônomo de Tecnologia Nuclear 22 3.3 Instituto de Pesquisas Nucleares e Energéticas - IPEN 28 3.3.1 Aspectos Históricos Relevantes 28 3.3.2 Missão e Objetivos Estratégicos 30 3.3.3 Estrutura Organizacional 31 3.3.4 Perfil do Quadro de Pessoal 32 3.3.5 Fundadores e Superintendentes 34 3.3.6 Cultura da Excelência na Gestão 36 4 REVISÃO DA LITERATURA 44 4.1 Concepção da Natureza de Valor 44 4.2 Definições e Conceitos de Valor 47 4.3 Natureza dos Valores Básicos 49 4.4 Valores Básicos 50 4.4.1 Estrutura e Psicometria dos Valores Básicos 53 4.4.2 Valores e Necessidade 60 4.4.3 Valores e Atitudes 65 4.4.4 Valor, Moral e Ética 66 4.4.5 Transmissão e Educação de Valores nas Escolas 69 4.4.6 Mudança de Valores 72 4.5 Valores Organizacionais 74 cosiste HKiOm. Œ ENERfâA wcim/sF-ím Vlll 4.5.1 Objetivos Organizacionais versus Individuais 76 4.5.2 Estrutura Motivacional dos Valores Organizacionais 77 4.5.3 Cultura Organizacional 82 4.5.4 Clima Organizacional 87 4.5.5 Mensuração dos Valores Organizacionais 90 4.5.6 Ideologia Central das Organizações 91 4.6 Fundamentação Teórica 98 5 METODOLOGIA DE PESQUISA 100 5.1 Limitações do Estudo 101 5.2 O Método Psicométrico 102 5.2.1 O Instrumento para Coleta de Dados 102 5.2.2 Procedimentos para Coleta de Dados 106 5.2.3 População Pesquisada 107 5.2.4 Tratamento Estatístico dos Dados 108 5.3 O Método Inferencial 108 5.3.1 Procedimentos para Coleta de Dados 109 5.3.2 Amostragem do Método Inferencial 110 5.3.3 O Instrumento para Coleta dos Dados Qualitativos 110 5.3.4 Fatores de Interferência do Pesquisador 112 5.3.5 Mensuração dos Conteúdos Orais 112 5.3.6 Procedimentos da Análise de Conteúdo 113 5.3.7 Seleção de Trechos das Entrevistas 114 6 RESULTADOS 126 6.1 Dados do Método Quantitativo 126 6.1.2 Dados da Questão Aberta do Método Quantitativo 136 6.2 Dados do Método Qualitativo 139 7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 140 7.1 Análises e Discussão dos Dados Quantitativos 140 7.2 Análise dos Dados Segundo a TMVO 147 7.3 Análise e Discussão da Questão Aberta 159 7.4 Análise e Discussão dos Dados Qualitativos 161 IX 8 GESTÃO BASEADA EM VALORES - UMA CONTRIBUIÇÃO 168 9 ANÁLISE CRÍTICA DO PROBLEMA DE PESQUISA 173 10 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS 176 APÊNDICE A - Questionário de Valores Organizacionais 181 APÊNDICE B - Roteiro de Semi-Estruturado de Entrevista 186 APÊNDICE C - Perfil dos Entrevistados 189 APÊNDICE D - Documentos de Primeira-Mão das Entrevistas 201 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 330 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 341 LISTA DE TABELAS PÁGINA T A B . 3.3.4.1 P l a n o d e C a r r e i r a s p a r a a Área d e Ciência e T e c n o l o g i a 33 T A B . 3.3.4.2 Nível d e E s c o l a r i d a d e 33 T A B . 3 . 3 . 4 . 3 Q u a d r o d a força d e t r a b a l h a d o r e s e v e n t u a i s 33 T A B . 3.3.6.1 Q u a d r o d e m o n s t r a t i v o d a evolução d o c l i m a organizacional 41 Natureza d o s valores 4§ T A B . 4.4.1.1 D e z t i p o s m o t i v a c i o n a i s d e v a l o r e s 57 T A B . 5.2.1.1 O s v a l o r e s e s u a s significações 103 T A B . 5.2.1.2 Distribuição d o s v a l o r e s s e g u n d o o s f a t o r e s 105 T A B . 4.1.1 T A B . 6.1.1 Tabulação d o s r e s u l t a d o s s e g u n d o o s t r a t a m e n t o s Estatísticos e f e t u a d o s n o p l a n o R E A L T A B . 6.1.2 127 Tabulação d o s r e s u l t a d o s s e g u n d o o s t r a t a m e n t o s Estatísticos e f e t u a d o s n o p l a n o I D E A L 128 T A B . 6.1.3 Classificação d a s médias e m c a d a u m d o s 3 8 v a l o r e s 129 T A B . 6.1.4 Classificação d o s desvios-padrão 130 T A B . 6.1.5 Hierarquização d o s v a l o r e s , s e g u n d o o cálculos d a s médias e d o desvios-padrão, n o s p l a n o s R E A L e I D E A L T A B . 6.1.6 Valores hierarquizados e seus fatores motivacionais. T A B . 6.1.7 Média e desvio-padrão d o s v a l o r e s , s e g u n d o os cinco fatores Motivacionais do instrumento d e coleta d e dados T A B . 6.1.8 131 132 133 Média e desvio-padrão d o s v a l o r e s , s e g u n d o os cinco fatores Motivacionais d o instrumento d e coleta d e dados 134 T A B . 6.1.9 135 I n d i c a d o r e s d o s níveis d e satisfação e insatisfação T A B . 6.1.1.1 Citações d a questão a b e r t a T A B . 6.2.1 Totalização p o r questão d a s p a l a v r a s d o Dicionário ctMssto miom. t ^ EWEÍ^A mcnAñ/sp-iPíU 136 XI Léxico 139 T A B . 7.1.1 Valores priorizados n o piano R E A L 141 T A B . 7.1.2 T o t a l d a s médias e desvios-padrão p o r f a t o r - R E A L 142 T A B . 7.1.3 T o t a l d a s médias e desvios-padrão p o r f a t o r - I D E A L 143 T A B . 7.1.4 Valores priorizados no plano IDEAL 144 T A B . 7.1.5 I n d i c a d o r e s d o s níveis d e satisfação 145 T A B . 7.2.1 Percepção d o R E A L : p r i m e i r o e i x o d a T M V O 148 T A B . 7.2.2 Percepção d o R E A L : s e g u n d o e i x o d a T M V O 149 T A B . 7.2.3 Percepção d o R E A L : t e r c e i r o e i x o d a T M V O 150 T A B . 7.2.4 Percepção d o I D E A L : p r i m e i r o e i x o d a T M V O 151 T A B . 7.2.5 Percepção d o I D E A L : s e g u n d o e i x o d a T M V O 152 T A B . 7.2.6 Percepção d o I D E A L : t e r c e i r o e i x o d a T M V O 153 T A B . 7.3.1 T o t a l d e citações c l a s s i f i c a d a s p o r f a t o r 162 T A B . 7.3.2 I n t e r e s s e s a q u e s e r v e m o s v a l o r e s c i t a d o s n a questão 163 T A B . 7.4.1 R e s u l t a d o d a análise d e conteúdo 165 LISTA DE FIGURAS PAGINA F I G . 3.3.3.1 O r g a n o g r a m a s i m p l i f i c a d o d o Ipen F I G . 3.3.6.1 32 Produção científica e tecnológica d o I p e n (ano-base 2001) 40 FIG. 4.4.1.1 Estrutura bidimensional dos tipos motivacionais e v a l o r e s básicos 59 F I G . 4 . 4 . 2 . 1 H i e r a r q u i a d a s n e c e s s i d a d e s : pirâmide m o t i v a c i o n a l 61 F I G . 4 . 5 . 3 . 1 Níveis d a c u l t u r a o r g a n i z a c i o n a l ( S c h e i n , 1 9 8 5 . ) 83 F I G . 4 . 5 . 4 . 1 M o d e l o d a Relação e n t r e V a l o r e s O r g a n i z a c i o n a i s e Comportamento. FIG. 4.5.6.1 D i a g r a m a d e Peters e W a l t e r m a n (1982) 90 96 F I G . 4.6.1 Relação e n t r e t e o r i a s T M V e T M V O F I G . 7.2.1 E s t r u t u r a teórica d o s t i p o s m o t i v a c i o n a i s d o s v a l o r e s organizacionais F I G . 7.2.2 99 146 Bi-avaliação s e g u n d o a s t e o r i a s m o t i v a c i o n a i s d o s v a l o r e s básicos e o r g a n i z a c i o n a i s , r e s p e c t i v a m e n t e , TVM e TVMO F I G . 7.2.3 156 Bi-avaliação s e g u n d o a s t e o r i a s m o t i v a c i o n a i s d o s v a l o r e s básicos e o r g a n i z a c i o n a i s , r e s p e c t i v a m e n t e , TVM e TVMO cmssk) Hí£io«AL œ ENERVA rwcLEAivsp-ra 157 1 INTRODUÇÃO Numerous books written over the last decade have stated both the need for, and power of, an organizational culture whose strategies, processes, and people are managed by a common vision, purpose, and set of values. Blanchard, K., 1997.^ O Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN percorreu, a o longo d e sua existência, uma trajetória singular no contexto d a energia nuclear e suas aplicações. Foi f u n d a d o e m 31 de agosto d e 1956, s o b a denominação d e Instituto de Energia Atômica - lEA, por meio d o Decreto Federal de número 39.872, para atuar e m âmbito nacional n a s aplicações pacíficas da energia nuclear, nas áreas d e pesquisas científicas, no desenvolvimento tecnológico e na formação de recursos h u m a n o s . O l E A foi criado c o m o objetivo d e abrigar e m suas instalações o primeiro reator nuclear d e pesquisa d o Hemisfério Sul, o IEA-R1, doado para o Brasil pelo g o v e r n o norte-americano no âmbito d o Programa Átomos para a Paz. A façanha d e construir u m a infra-estrutura para a instalação d o reator, o q u e requereu c o n h e c i m e n t o s tecnológicos altamente avançados para a época, conferiu à equipe d e cientistas brasileiros honrarias até então conquistadas por poucos países. D a fase d e instalação até o pleno f u n c i o n a m e n t o d o reator passaram-se a p e n a s 11 meses, u m prazo exíguo para u m projeto d e tal envergadura, cujo mérito foi conferido ao líder da equipe de pesquisadores brasileiros, o Prof. Dr. Marcello D a m y de Souza Santos C o n f o r m e relato d e Malheiros (1995), o Prof. D a m y teria proferido a seguinte frase durante a inauguração das instalações d o reator no lEA: "... transformamos um pasto que existia no antigo Instituto Butantã em uma instalação nuclear Na época não existia nada na Cidade Universitária de São Paulo. Em 11 meses fizemos o prédio, montamos o reator e o pusemos em funcionamento. Até hoje é um recorde internacional de construção. Tivemos tanta pressa por uma razão muito simples: não tínhamos dinheiro para comprar o reator, mas havia a possibilidade de ganharmos um prêmio oferecido pelo Programa Átomos para a Paz, pelo qual os EUA doariam o primeiro reator que ' B L A N C H A R D , K e n . Managing by Values, 1997. entrasse em funcionamento. O CNPq achou que o Brasil deveria entrar nessa corrida e procurar conseguir o reator... E nós ganhamos o prêmio. O IPEN d e m o n s t r o u ter preservado, a o longo d a s décadas, sua razão de ser, a p e s a r d e t o d a s a s adversidades q u e enfrentou. A d a p t o u - s e a o s novos cenários externos e modernizou-se internamente, s e m , contudo, perder s u a identidade. Fez-se reconhecido e respeitado nacional e internacionalmente pela competência estabelecida e pelo padrão d e excelência conquistado. O s esforços conjuntos e c o m p l e m e n t a r e s conquistados por todos fizeram c o m q u e o IPEN adquirisse competência e maturidade profissional suficientes para torná-lo u m a instituição líder e m s e u setor, reconhecido por outras Instituições d e Pesquisa e Desenvolvimento ( P & D ) e a d m i r a d o por todos c o m o u m a organização b e m sucedida! Q u a i s são o s e l e m e n t o s básicos presentes na cultura d o IPEN q u e contribuíram para o s u c e s s o d a instituição? E m decorrência dessa e d e outras perguntas n a s c e u o interesse por desvendar o s m e a n d r o s d a cultura d o I P E N , e esse foi o ponto d e partida para o desenvolvimento desta pesquisa axiológica. O estudo d e valores organizacionais t e m sido objeto d e poucas pesquisas científicas, muito e m b o r a seja u m t e m a d e g r a n d e relevância. Milton Rokeach (1979), u m d o s m a i s citados pesquisadores d o t e m a "Valores", liderou, durante q u a s e d u a s décadas, a s pesquisas axiológicas, e apresentou u m a d e suas definições d a seguinte f o r m a : "Os valores organizacionais constituem o núcleo central da cultura de uma instituição e são eles que determinam os padrões de comportamento de grupos sociais." O c o n h e c i m e n t o d o s valores organizacionais por parte d o corpo diretivo pode trazer importantes aportes para a definição d a s estratégias e políticas organizacionais. Isso p o r q u e o s valores representam o s hábitos, a maneira d e pensar, d e sentir e d e agir d e todos que participam d e u m a organização. S e g u n d o Perron (1987), o s valores d e u m a organização têm caráter tanto explícito quanto implícito. Eles são explícitos q u a n d o e x p r e s s o s verbalmente pelas pessoas q u e o s p o s s u e m e m seu c a m p o d e consciência, o u m e s m o quando ^ M A L H E I R O S , T . Histórias Secretas do Brasil Nuclear, 1995. reconhecidos visualmente e m d o c u m e n t o s , oficiais o u não, d a instituição. O caráter Implícito d o s valores s e define pelo fato d o sujeito n e m sempre poder contar c o m a capacidade imediata d e verbalizá-los por não e s t a r e m no c a m p o de consciência. A p e s a r d o caráter implícito, não se conclui q u e o s valores sejam inconscientes; o q u e se pode dizer é q u e eles existem d e m o d o latente. O s valores não precisam ser verbalizados organização, porque, d e u m a forma explicitamente pelos m e m b r o s da o u d e outra, eles são transmitidos subliminarmente e m d o c u m e n t o s expedidos, oficialmente o u extra-oficialmente, e por isso qualquer p e s s o a poderá perceber que uns o u outros valores pertencem a sua c o m u n i d a d e . No contexto d e globalização, as organizações q u e desejarem sobreviver a o teste d o t e m p o precisam planejar o n d e e c o m o d e s e j a m vencer, b e m c o m o definir, claramente, missão, visão e valores organizacionais. A missão define qual o negócio d a organização, seus objetivos e a estratégia a ser adotada para alcançá-los; a visão d e s c r e v e a posição que ela deseja alcançar no futuro e o s valores e padrões d e c o m p o r t a m e n t o s d o grupo. N e s s e processo, o s valores organizacionais têm um papel prioritário, pois, quanto mais valores compartilhados, m e l h o r e s e mais fortes o s modelos mentais d e conduta e de s e n s o d e direção c o m u m entre o s m e m b r o s d a organização. P o r q u e o s valores são a s raízes d e sustentação d e u m a cultura e, c o m o alguns estudos já c o m p r o v a r a m , muito e m b o r a o s valores não sejam verbalizados n o dia-a-dia da organização, praticamente todos o s m e m b r o s desta s a b e m quais valores regem e orientam o f u n c i o n a m e n t o d o grupo. C o m o a f i r m a m Carr e Littman (1990): "Um décimo da individualidade de uma instituição é visível e corresponde ao seu organograma, suas regras, seus regulamentos e outros pronunciamentos públicos. Os outros nove décimos estão escondidos da visão externa. São os valores, hábitos, maneiras de pensar, sentir e agir dos gerentes e funcionários e os princípios operacionais não-oficiais que, combinados à visão oficial (e algumas, contradizendo), constituem a cultura de uma organização." O objetivo d a presente pesquisa, prioritariamente, é suprir u m a lacuna institucional no q u e s e refere à identificação d e seus valores organizacionais. Para a consecução desse objetivo foi necessário considerar a organização c o m o u m a coletividade "única", analisar o s diversos cenários nacionais e internacionais determinantes d a s relações d a instituição c o m o meio físico e social, c o m p r e e n d e r o f u n c i o n a m e n t o d a estrutura organizacional e o sistema social interno c o m o formadores d e s s a cultura organizacional. O trabalho estruturado e m capítulos d e s c r e v e a instituição "Foco" e apresenta o s d i v e r s o s estágios d e pesquisa, c o n f o r m e ordenação descrita a seguir: • N o primeiro capítulo apresenta-se u m a breve Introdução d o objeto d e pesquisa; • N o s e g u n d o capítulo são descritos o s objetivos, a s contribuições originais e a s questões d e pesquisa; • N o terceiro capítulo é apresentado o P r o b l e m a d e Pesquisa, o n d e são e v i d e n c i a d o s o s cenários mundial e nacional d a Energia Nuclear. D e s t a c a - s e nesse capítulo a contextualização d a instituição "Foco", e m q u e são evidenciados alguns tópicos relevantes d a organização; • N o q u a r t o capítulo são apresentados o s diversos trabalhos e autores q u e contribuíram para o "estado d a arte" e para a fundamentação teórica desta pesquisa; • N o quinto capítulo são expostos o s métodos d e pesquisa adotados; • N o s e x t o e sétimo capítulos, respectivamente, são apresentados o s resultados estatísticos, a s análises e a s discussões d o s resultados; • N o oitavo capítulo, c o m o contribuição á díade análise-síntese, é a p r e s e n t a d o u m roteiro d e c o m o s e d e v e administrar u m a organização tendo c o m o base o s valores organizacionais; • No nono capítulo são apresentadas algumas observações d o p e s q u i s a d o r diante do problema d e p e s q u i s a e s t u d a d o ; • N o décimo capítulo são a p r e s e n t a d a s a s conclusões b e m c o m o a l g u m a s sugestões para futuros trabalhos sobre o t e m a . Como estrutura final, o texto conta ainda c o m a s referências bibliográficas, a bibliografia r e c o m e n d a d a e o s apêndices c o m o s instrumentos d e pesquisa e transcrições das entrevistas e m p r e e n d i d a s na pesquisa. 2 OBJETIVOS DO ESTUDO A s proposições básicas deste estudo são a s seguintes: Objetivo geral: Identificar o s valores organizacionais d o IPEN e, verificar a congruência entre o s valores percebidos pelos servidores e aqueles transmitidos pelos f u n d a d o r e s e/ou pessoas-chave d a instituição. Objetivos específicos: a) Estabelecer o conjunto d e valores hierarquizados (prioridades axiológicas) s e g u n d o a percepção d o s funcionários avaliada e m dois níveis, i.e., o R E A L e o IDEAL; b) Levantar o s indicadores d e satisfação e insatisfação d o s valores percebidos n o nível R E A L e n o IDEAL; c) Qualificar o s valores transmitidos pelas p e s s o a s - c h a v e d a instituição (quais valores, q u e m mais influenciou e qual o melhor meio d e transmissão d e s s e s valores na organização); d) Verificar o grau d e congruência entre o s valores transmitidos e aqueles percebidos pelos funcionários; e) Disponibilizar d a d o s q u e subsidiem a instituição na revisão d e seu planejamento estratégico para elaboração d e u m código d e ética; f) Contribuir para a melhoria d a gestão organizacional d e instituições d e C & T c o m a disponibilização d e u m roteiro d e gestão baseada e m valores; 2.1 Justificativa U m a organização d e v e procurar identificar o s seus valores e mostrá-los a todos porque, q u a n t o mais valores compartilhados existirem n o ambiente organizacional, melhor será o clima e mais rica a cultura d a organização. Essa identificação colabora para o estabelecimento d e u m sistema d e valores consistente b a s e a d o , sobretudo, n o q u e s e p o d e c h a m a r d e valores f u n d a m e n t a i s o u Core Valúes, aqueles q u e resistirão a o t e m p o e ás pressões d e mudanças ambientais externas. São elementos essenciais para a conquista d o sucesso d a instituição e, principalmente, para a manutenção d o estado d e excelência a l m e j a d o por qualquer organização. A gestão d o s valores e m u m a organização permite levantar indicadores eficazes q u e irão subsidiar a alta direção d a organização a individualizar aqueles que necessitam d e u m a atuação particular, v i s a n d o à melhoria d o clima organizacional. S e g u n d o o s autores Deal e K e n n e d y (1982): "O sucesso de uma organização depende de seus valores, eles fornecem um senso de direção comum para todos os empregados e um guia para o comportamento diário." 2.2 Contribuições originais da pesquisa A s contribuições advindas d a pesquisa p o d e m ser assim resumidas: • Suprimento d e u m a lacuna institucional n o que s e refere à identificação dos valores organizacionais d o I P E N ; • F o r n e c i m e n t o d e elementos para o efetivo alinhamento entre o s valores organizacinais e a s práticas gerenciais; • O s Índices d e satisfação/insatisfação e l e n c a d o s na pesquisa constituem indicadores q u e , se b e m trabalhados pela alta direção p o d e m resultar e m maior motivação das p e s s o a s q u e f o r m a m a organização; • F o r n e c i m e n t o d e subsídios para o estabelecimento d o Core Valúes; • F o r n e c i m e n t o d e subsídios para o estabelecimento d o Código d e Ética d o IPEN; • A p o r t e d e d a d o s históricos e peculiares para o acervo d a Divisão d e Informação e Documentação Científica (Biblioteca), coletados nas entrevistas c o m a s pessoas-chave d a instituição; • Contribuição para melhoria da gestão organizacional com a disponibilização d e u m roteiro d e gestão b a s e a d a e m valores, q u e viabilizem a implementação das seguintes práticas d e R.H.: > A l i n h a m e n t o estratégico - cultura e o s valores nela praticados; > Contratação por compatibilidade - o potencial d o servidor é evidenciado q u a n d o este procura crescer, m u d a r e desenvolver-se a o enfrentar os desafios; > Investimento n a s pessoas - treinamento b a s e a d o n a socialização d o s indivíduos, transmissão dos valores, crenças, rituais e outros elementos da cultura organizacional; > R e c o m p e n s a s e reconhecimentos - a s práticas gerenciais devem buscar motivar o s indivíduos c o m r e c o m p e n s a s intrínsecas, baseadas no prazer, realização pessoal, metas desafiadores e trabalho e m e q u i q u e q u e valorizam a s pessoas; > R e s p o n s a b i l i d a d e coletiva - práticas gerenciais c o m ênfases n a s equipes senso promovem responsabilidades um d a s pessoas comum propiciando de autonomia e maior integração d o s m e m b r o s d a cultura. 2.3 Questões de pesquisa A s questões d e pesquisa são a s seguintes: 1. Quais são o s e l e m e n t o s básicos presentes n a cultura d a organização q u e contribuíram para o sucesso d a m e s m a ? 2. Q u a i s o s valores priorizados que, segundo a percepção d o s funcionários, estão presentes hoje n o I P E N ? 3. Quais são o s valores q u e necessitam d e u m a atuação d a alta direção, v i s a n d o á melhoria d o clima organizacional? 4. Q u a i s o s principais valores transmitidos pelas pessoas-chave d a organização? 5. C o m o e s s e s valores, na opinião d o s entrevistados, f o r a m p r e s e r / a d o s atê o s dias atuais? 6. Qual(quais) o ( s ) melhor(es) meio(s) d e transmissão d e valores na organização? 7. Existe congruência entre o s valores p e r c e b i d o s e a q u e l e s transmitidos pelas p e s s o a s - c h a v e d a organização? 8. O s valores priorizados têm a l g u m a relação c o m o sucesso d a organização? 9. Quais indicadores p o d e m subsidiar u m a gestão b a s e a d a e m valores? 10. A s políticas e práticas d a organização estão alinhadas c o m seus valores? 1 1 . Qual o papel d a gerência n o sentido d e administrar o s valores e a cultura d a organização? 3 O PROBLEMA DE PESQUISA A estrutura de urna organização pode ser simplesmente definida como a soma total das maneiras pelas quais o trabaltio é dividido em tarefas distintas e como é feita a coordenação entre essas tarefas. I^intzberg, H, 1995.^ A s mudanças p r o c e s s a d a s na sociedade, n o s últimos t e m p o s , n o s planos político, económico-social e cultural c o l o c a m e m x e q u e paradigmas e crenças por e l a instituída. Estudos realizados d e m o n s t r a m q u e a transformação mais importante ocorrida n o século 2 0 não foi o avanço tecnológico, m a s , sim, a s alterações na percepção social coletiva propiciadas por e s s e avanço. H o u v e u m a mudança qualitativa na atitude d o s seres h u m a n o s frente aos mais diversos p r o b l e m a s e, nessa mudança, está implícita a quebra d e antigos p a r a d i g m a s e a transformação d e c o m p o r t a m e n t o s e valores d e diferentes grupos sociais. P o r isso, o grande legado deixado para a h u m a n i d a d e foi a orientação r u m o à valorização dos fatores h u m a n o s nas organizações. Hoje, mais d o q u e nunca, a cultura d a excelência n a s e m p r e s a s prega o estabelecimento d e práticas d e gestão para o b o m atendimento d a s necessidades d o s funcionários, d o s clientes, d o s parceiros, dos acionistas, enfim, d e todas a s partes envolvidas. A s p e s s o a s p a s s a r a m a aceitar q u e são responsáveis pela solução d e problemas d o s núcleos n o s quais estão inseridas, b u s c a n d o , ativamente, oportunidades d e melhoria n a condição d e vida d o ser h u m a n o . O s institutos d e pesquisa (IP's) têm sido objeto d e diversos estudos por parte d e pesquisadores, t e m a s c o m o c o m p r o m e t i m e n t o organizacional, evasão de cérebros, motivação e tantos outros têm sido e x p l o r a d o s à exaustão. Por quê, então, funcionários d e organizações c o m o o IPEN encontram motivação para a realização d e seu trabalho, m e s m o e m condições adversas? O que há d e c o m u m na cultura d e certas organizações q u e a s d e s t a c a m d a s demais? S e g u n d o d e p o i m e n t o d e Collins et a l . (2000) e m Feitas para durar: práticas bem-sucedidas de empresas visionárias: 10 "... as empresas enfrentam contratempos e erram em alguma fase de suas vidas, e algumas até passam por dificuldades... no entanto, as empresas visionárias têm uma incrível capacidade de recuperação, conseguindo dar a volta por cima das adversidades". Nessa linha d e raciocínio, destaca-se o d e p o i m e n t o d o orientador deste trabalho, u m a das pessoas-chave na organização q u e afirma o seguinte: "O IPEN tem uma força de Inércia muito grande. Essa força faz com que a máquina continue camintiando, mesmo em condições adversas. A Instituição permaneceu protegida ao longo de seus 46 anos de existência, imune às agressões que sofreu, graças a essa força de inércia." José Roberto Rogero, 2001." Reflexões questionamentos como sobre essa o intrincado nos remetem mundo a uma organizacional. infinidade Portanto, de para c o m p r e e n d e r a inter-relação entre o todo e a s partes o u entre individual e o global das organizações, faz-se necessário conhecer o s diversos cenários. É necessário desvendar o s princípios organizacionais que presen/am a identidade d a instituição sem, contudo, deixar d e estimular o progresso. Este capítulo foi estruturado c o m o objetivo d e apresentar essa contextualização externa e interna da instituição, objeto d o presente estudo. 3.1 Contextualização da energia nuclear no mundo "Desde o começo do século somos testemunhas de um desenvolvimento veloz e inaudito dos conhecimentos sobre o átomo. A detonação da primeira bomba atômica em 1945 mostrou ao mundo todo que fora possível liberar a energia do núcleo atômico..." Curie,!., 1948.^ U m a peculiaridade d a s grandes descobertas é q u e elas lançam mais perguntas d o q u e r e s p o n d e m . Muito e m b o r a a teoria atomística tenha sido edificada n o século 5 a . C . pelos filósofos gregos Leucipo e Demócrito, poucas ^ M I N Z T Z B E R G , H . Criando Organizações Eficientes - Estruturas em cinco configurações, p 1 0 . 1995. " R O G E R O , J . R. D e p o i m e n t o c o l e t a d o e m e n t r e v i s t a c o m o p a r t e d a m e t o d o l o g i a d e p e s q u i s a . ^ T E N N E N B A U M , J . , E n e r g i a N u c l e a r , p. 3 0 1 , 2 0 0 0 . c o í ^ s ^ ^ momi DE M R S I A i^ucuiAfvsF-fPEPi 11 descobertas atraíram tantas perguntas interessantes e frutíferas quanto à d e s c o b e r t a d a radioatividade e dos e l e m e n t o s radioativos^. N o início d o século 19, pesquisadores c o m o J o h n Dalton (1766-1844), G a y - L u s s a c ( 1 8 0 5 - 1 8 0 8 ) , Michel Farady (1791-1867), Dimitri Mendeleev (18341907) e J . J . T h o m p s o n (1856-1940). T h o m p s o n foi u m d o s principais físicos d o período d e transição entre a Física Clássica e a Física Moderna d o século 2 0 . O s físicos Robert A . Millikan (1868-1953) e W i l h e l m C. Röntgen (1845-1923) realizaram e s t u d o s sobre a carga do elétron durante muitos anos e t r o u x e r a m importantes contribuições para o d e s e n v o l v i m e n t o d a física atômica. A s s i m , n o a n o d e 1895, W i l h e l m C. Röntgen descobriu u m tipo d e radiação q u e atravessava corpos, p a s s a n d o a chamá-la d e raios-X. E m 1896, o físico francês A n t o i n e Henri Becquerel (1852-1908) descobriu a radioatividade, e s t a b e l e c e n d o q u e os sais d e urânio emitiam radiações análogas ás dos raios-X e q u e i m p r e s s i o n a v a m c h a p a s fotográficas. D o ponto d e vista léxico, radioatividade é u m a propriedade da matéria (o q u e fica e v i d e n c i a d o pelo sufixo "dade"), e d o ponto d e vista científico, a radioatividade é possivelmente a única propriedade d a matéria q u e d e p e n d e exclusivamente d o núcleo d o átomo. No mês d e julho d o a n o d e 1898, a cientista Marie-Curie (1867-1934) a n u n c i o u t e r descoberto, j u n t a m e n t e c o m s e u marido, Pierre Curie (1859-1906) e c o m o químico G u s t a v e Bémont (1867-1932), o s e l e m e n t o s químicos polônio e rádio, t e n d o sugerido q u e o processo d e emissão d e radiação pelas substâncias deveria ocorrer e m nível atômico. Isso não deixou d e ser surpreendente para a época! O e s t u d o d a radioatividade levou o s pesquisadores a verificar a existência d e três tipos d e radiação; Raios o u Partículas o (alfa); Raios o u Partículas ß (beta) e Raios y (gama). Foi assim q u e o cientista Ernest Rutherford (1871-1937) e s t a b e l e c e u o modelo atual d e átomo, t e n d o patenteado q u e a radioatividade era u m a propriedade q u e ocorria e m nível m e n o r q u e o atômico, o u seja, e m nível nuclear. O s cientistas Niels Bohr (1885-1962) — q u e estudou o problema d a estabilidade d o átomo d e Rutherford e e s t a b e l e c e u hipóteses quânticas n o ^ T e x t o extraído d a publicação: "História d a E n e r g i a N u c l e a r - C N E N v a i às E s c o l a s " . 12 movimento d o s elétrons —, M a x Planck ( 1 8 5 8 - 1 9 4 7 ) — q u e pesquisou a quantização d a energia n o estudo d a radiação d o c o r p o negro — e Albert Einstein (1879-1955) — q u e d e s e n v o l v e u a Teoria d a Relatividade — contribuíram i m e n s a m e n t e para o desenvolvimento d a física atômica e nuclear. Desde a descoberta d a teoria d o átomo e m 1905 até q u e o h o m e m fizesse a utilização d o s e u c o n h e c i m e n t o p a s s a r a m - s e 3 7 anos, e c o m isso s e descortinou u m a nova era para a h u m a n i d a d e . S e g u n d o relato d e T e n n e n b a u m (2000), o s E U A n o período entre guerras, d e 1919 a 1939, lutaram contra s u a pior crise: a G r a n d e Depressão d e 1929. E s s a crise d e s e n c a d e o u a fúria d e milhões d e p e s s o a s d e s e m p r e g a d a s que teriam perdido s e u s bens e e c o n o m i a s . O m u n d o foi sacudido por a c o n t e c i m e n t o s dramáticos, pesquisadores q u e v i n h a m d a Europa traziam a idéia de se construir u m a b o m b a atômica n o s E U A . Foi a s s i m q u e n a s c e u o c h a m a d o Projeto M a n h a t t a n , n o m e simplificado para Manhattan Engineering Project O Projeto M a n h a t t a n teve c o m o objetivo desenvolver e construir a r m a s nucleares. Foi u m e m p r e e n d i m e n t o único e m toda a história d a ciência e d a tecnologia m u n d i a l . Foi u m projeto d e guerra e, c o m o tal, teve por direção geral u m militar d o setor d e engenharia d o exército, o General Leslie R. Groves. O General G r o v e s e r a u m administrador c o m p e t e n t e e autoritário q u e teve o b o m senso d e escolher u m cientista brilhante para c o m a n d a r u m t i m e d e gênios: o físico Robert Oppenheimer (1904-1967). Oppenheimer, como diretor do Laboratório Central e m L o s A l a m o s , N o v o México, n o s Estados Unidos, revelou ter u m a admirável c a p a c i d a d e gerencial; c o m a n d a v a cientistas que, confinados e m seus locais d e trabalho e m o r a n d o longe d e suas famílias, f o r a m divididos e m equipes para q u e u n s não s o u b e s s e m o q u e o s outros e s t a v a m criando. U s a v a m n o m e s falsos e e s c r e v i a m tudo e m código, proibidos até d e pronunciar palavras que o s p u d e s s e m denunciar, c o m o "físico". O e m i n e n t e físico italiano Enrico Fermi (1901-1954) foi q u e m introduziu novos conceitos d e mecânica quântica na universidade d e s e u país naquela época. Publicou diversos trabalhos sobre nêutrons e e s c r e v e u u m a teoria sobre o decaimento beta. F e r m i esteve n o Brasil n o verão d e 1934, e m São Paulo, e s e encontrou c o m Gleb W a t a g h i n (1899-1986), u m d o s primeiros catedráticos d a 13 F a c u l d a d e d e Filosofia, Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo''. Eram a m i g o s e companfieiros d a Escola Normal d e Pisa. A presença d e a m b o s o s pesquisadores em território brasileiro contribuiu imensamente para o d e s e n v o l v i m e n t o d a Ciência Brasileira. O Instituto d e Física d a Universidade d e C a m p i n a s leva o n o m e d e Gleb W a t a g h i n . E m 2 d e d e z e m b r o d e 1942, Fermi c o o r d e n o u a primeira reação e m cadeia controlada, atividade d e pesquisa desenvolvida dentro d o Projeto Manhattan. A primeira explosão d e b o m b a atômica d a história mundial ficou c o n h e c i d a pelo n o m e d e 'Gadget', e ocorreu no deserto d o N o v o México, a cerca de 1 0 0 quilômetros d a cidade d e A l a m o g o r d o , às 5 horas, 2 9 minutos e 4 5 s e g u n d o s d o d i a 16 d e julho d e 1945. A eufoha provocada pelo teste nuclear ocorrido e m A l a m o g o r d o durou muito pouco. Foi u m a emoção passageira, pois o estado d e espírito d o s cientistas era péssimo. Eles já s a b i a m q u e o governo a m e r i c a n o planejava u m ataque nuclear a o Japão, o último inimigo q u e ainda não havia sido derrotado (alemães e italianos já tinham sido v e n c i d o s na Europa). Segundo Mirov (1979), Oppenheimer, responsável científico pelo Projeto M a n h a t t a n , teria proferido a s seguintes palavras a o ouvir a explosão d a b o m b a atômica: "Esperamos até que a explosão passasse, saímos do abrigo e depois era tudo muito solene. Sabíamos que o mundo nunca mais seria o mesmo. Alguns riram, outros choraram. Muitos permaneceram calados. Cumprimos o trabalho do diabo". A i n d a s e g u n d o o supracitado autor, o Presidente d o s Estados Unidos da América, o sr. Harry T r u m a n , teria alertado: "A bomba atômica é demasiado perigosa para ser abandonada num mundo sem lei. Este é o motivo porque não pretendemos revelar o seu segredo enquanto não descobrirmos meios adequados para controlá-lo, de maneira a nos proteger e também ao resto do mundo contra o perigo da destruição total." ^ Na m a d r u g a d a d e 6 d e agosto d e 1945, o s E U A lançaram a primeira b o m b a atômica sobre a cidade d e Hiroshima e, três dias depois, a segunda sobre a c i d a d e d e N a g a s a k i , a m b a s n o Japão. E s s e s dois episódios catastróficos M A R T I N S , B . J . História da Energia Nuclear, p . 1 5 , [ s . d ] . * O L Y M P I O , G . O Brasil e a era atômica, p . 3 0 , [ s . d ] . 14 pulverizaram mais d e 2 5 0 mil h o m e n s , mulheres e crianças, e marcou a s gerações q u e vieram depois. Diversos países, após esses episódios, começaram u m a corrida nuclear. O clima d e m e d o imperava, e u m a política d e monopólio d a b o m b a atômica começou a nortear o m u n d o e m prol d a p a z e d a estabilidade. Não há dúvida n e n h u m a d e q u e a maior parte d a s nações r e c o n h e c e u o s perigos d a proliferação d a s a r m a s nucleares e q u e elas ofereceriam p o u c a s v a n t a g e n s e consideráveis riscos. Nesse contexto, e m 1954, ocorreu a primeira conferência d e Genebra que resultou, c o m o deliberação, a criação d a Agência Internacional d e Energia Atômica (AIEA) e m 1 9 5 7 . A AIEA, organização autônoma e integrante d a s Organizações das Nações Unidas ( O N U ) , foi f u n d a d a c o m o objetivo d e controlar e promover o u s o pacífico d a energia atômica e p r o m o v e r a transferência pacífica de tecnologia nuclear das g r a n d e s potências. C o n c e b i d o nos a n o s d e 1960, o Tratado d e Não-Proliferação (TNP) d e A r m a s Nucleares foi criado s o b a égide d a AIEA, tendo por objetivo evitar u m a guerra nuclear e instaurar u m a cooperação Internacional para a utilização civil d a energia nuclear. O T N P foi acordado entre a s cinco potências nucleares: E U A , Rússia, França, Reino Unido e China. Estes países c o m p r o m e t e r a m - s e a não transferir a r m a s nucleares a outros países, n e m m e s m o ajudá-los a adquiri-las. Outrossim, c o m p r o m e t e r a m - s e a facilitar o intercâmbio d a tecnologia nuclear para fins pacíficos e a negociar o d e s a r m a m e n t o nuclear c o m o s países não integrantes d o T N P . O Brasil manteve-se crítico e m relação a o T N P por considerá-lo discriminatório, e só o assinou n o dia 18 d e s e t e m b r o d e 1998 n o m a n d a t o d e F e r n a n d o Henrique Cardoso. A constituição brasileira é a referência básica d a política nuclear, e proíbe, n o artigo 2 1 , a utilização d e s s a energia para fins q u e não sejam exclusivamente pacíficos. O Brasil firmou acordos internacionais para o desenvolvimento d e aplicações pacíficas d a energia nuclear. O acordo c o m a Argentina d e u origem á Agência Brasileiro-Argentina, Contabilidade e Controle d e Materiais Nucleares ( A B A C C ) , a o A c o r d o Quadripartite, assinado entre o s governos d o Brasil e d a Argentina e a s agências A I E A e A B A C C , firmado e m d e z e m b r o d e 1991 e m V i e n a , sobre salvaguardas a b r a n g e n t e s , e a o Tratado d e 15 Tlàtelolco para a proscrição d e a r m a s nucleares n a América Latina e Caribe, assinado e m agosto d e 1 9 9 1 . Incontestavelmente, a energia nuclear é u m a opção mundial e m termos energéticos, e s p e c i a l m e n t e para aqueles países c o m g r a n d e d e p e n d e n c i a d o petróleo, produto q u e permite a obtenção d e óleo combustível, diesel e gás natural, e l e m e n t o s básicos para a geração térmica d e energía. M u n i d a d e u m a argumentação ambientalista, a indústria nuclear retoma as esperanças d a ocorrência d e u m n o v o boom nuclear. A s bases d e s s a expectativa estão alicerçadas e m quatro argumentos principais: • Exaustão d o s combustíveis fósseis; • Diminuição d a emissão d e CO2; • Dificuldades na utilização d e grandes blocos d e energia renovável • A u m e n t o d a segurança d a nova geração d e reatores. Existe u m amplo e n t e n d i m e n t o d e q u e a s reservas exploráveis d e óleo e gás se extinguirão e m 5 0 anos, e n q u a n t o a s d e carvão p o d e m durar mais d e 2 0 0 anos. T e m - s e o conhecimento d a existência d e 4 3 3 reatores nucleares instalados e m 2 9 países. O s E U A reúnem e m s e u território o maior número d e reatores d e potência (103), q u a s e 2 5 % d e todos o s existentes e e m operação hoje no m u n d o (dados d e 1999). Deve-se notar q u e , tanto e m termos d e c a p a c i d a d e instalada e m usinas nucleares c o m o d e geração nucleoelétrica, apenas três países r e s p o n d e m por q u a s e 6 0 % d o total mundial (fonte eletronuclear). S e todos esses reatores f o s s e m substituídos por usinas a carvão d e c a p a c i d a d e equivalente, cerca d e 2,6 bilhões d e toneladas d e CO2 seriam adicionados á atmosfera mundial anualmente, i.e., 9 % d e todas a s emissões oriundas d e combustíveis fósseis. Portanto, a reduzida geração d e CO2 na s u a utilização torna a energia nuclear u m a opção atrativa por responder a o risco d o a q u e c i m e n t o global. Outros aspectos d a energia nuclear d e v e m ser considerados: d o ponto d e vista econômico, a energia nuclear c o s t u m a ter u m a excelente v a n t a g e m sobre os combustíveis fósseis. Essa v a n t a g e m praticamente d e s a p a r e c e u e m razão dos crescentes custos resultantes d a s n u m e r o s a s exigências c o m o s aspectos d e segurança. 16 D o ponto d e vista d a s aplicações pacíficas d a energia nuclear, a s pesquisas c o n c e n t r a m - s e n a s áreas d a saúde, indústria, meio ambiente e agricultura, q u e têm u m a g a m a imensa d e produtos e serviços q u e trazem enormes benefícios para a população mundial a e x e m p l o d a s atividades desenvolvidas n o IPEN.^ 3.2 Evolução do Programa Nuclear Brasileiro "A ciência é viva e nentium dos seus capítulos está encerrado." Damy, M. 1993.^° A tiistória d a energia nuclear n o Brasil iniciou-se n o pós-guerra, c o m a s pressões a m e r i c a n a s para alcançar o controle d e propriedade d a s reservas mundiais d e torio e urânio nos países possuidores d e tais reservas naturais, muito e m b o r a exista o registro d e q u e o s primeiros estudos n o c a m p o d a física moderna t e n h a m tido inicio n a década d e 1930, na Faculdade d e Filosofía, Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo (USP). Além d e nossas reservas d e torio e urânio, havia também, por parte d o s E U A , u m g r a n d e interesse nas fabulosas reservas brasileiras d e arela monazítica. N e s s e sentido, e m troca d a arela monazítíca brasileira, o s americanos p r o m e t i a m transferência d e tecnologia na área nuclear. A s s i m , e m setembro d e 1945, u m mês após a explosão d a s b o m b a s n a s c i d a d e s d e Hiroshima e N a g a s a k i , foi a s s i n a d o o primeiro acordo atômico c o m o Brasil, oportunidade e m q u e este v e n d e u cerca d e 5.000 toneladas d e areia monazíticas a o s E U A por u m período d e três a n o s . A f a s e nacionalista d e desenvolvimento d o setor nuclear n o Brasil teve início n a década d e 1950, q u a n d o o governo brasileiro p a s s o u a controlar a s exportações d e minérios nucleares, a estabelecer reservas e estoques estratégicos, a estimular o desenvolvimento d e tecnologias nacionais n o setor nuclear e, e s p e c i a l m e n t e , q u a n d o o s g r a n d e s institutos e centros d e pesquisas brasileiros f o r a m criados. ^ Disponível e m : h t t p : / / w w w . e n e r q i a a t o m i c a . h p q . i q . c o m . b r / . A c e s s o e m : 3 d e o u t u b r o d e 2 0 0 2 . ^° F E R N A N D E S , E . J o r n a l Hora do Povo, edições 1 4 , 1 5 , 1 8 e 2 4 d e a g o s t o e 4 e 5 d e s e t e m b r o de 1993. 17 E m 1949, o Centro Brasileiro d e P e s q u i s a s Físicas ( C B P F ) foi f u n d a d o por um grupo de eminentes cientistas de competência comprovada internacionalmente, entre eles o Prof. César Lattes (descobriu o M e s o n P ) , José Leite Lopes, J a y m e T i o m n o e Roberto Salmerón ( S h w a r t z m a n , 1979). O físico Cesare M a n s u e t o Giulio Lattes iniciou s u a carreira científica e m m e a d o s d a década d e 1940, n o então Departamento d e Física d a F a c u l d a d e d e Filosofia, Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo. Publicou trabalhos científicos sobre a abundância d e núcleos n o universo s o b a orientação d o físico russo Gleb W a t a g h i n . O C B P F foi criado c o m o objetivo d e d e s e n v o l v e r a investigação científica básica e atividades acadêmicas d e pós-graduação e m física teórica e experimental, b e m c o m o promover o intercâmbio cultural entre universidades e instituições científicas brasileiras e estrangeiras n o c a m p o d a s pesquisas físicas e matemáticas. S e g u n d o S c h w a r t z m a n , o C B P F n u n c a c h e g o u a entrar d e forma decisiva na área d a energia nuclear, e poucos a n o s após s u a criação foi vítima d e sérias crises institucionais d e repercussão pública. E m 1 9 5 1 , o então Presidente d a República, Getúlío V a r g a s , criou o Conselho Nacional d e Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o C N P q (na época d e n o m i n a d o C o n s e l h o Nacional d e Pesquisas), c o m atribuições para controlar a s reservas brasileiras d e urânio e tório. Para presidi-lo foi n o m e a d o u m grande n o m e d a história brasileira, o Almirante Álvaro Alberto d a Motta e Silva (1889-1976), o g r a n d e idealizador d o C N P q . O Almirante Álvaro Alberto foi u m mito para a c o m u n i d a d e científica brasileira por s e u s trabalhos pioneiros e m pesquisas d e b a s e , por ter difundido a Teoria d a Relatividade d e Einstein, por ter trazido a o Brasil o físico italiano Enrico Fermi, por ter sido o "Pai d a Tecnologia Nuclear n o Brasil". P o r essas razões recebeu, e m 1987, u m a h o m e n a g e m póstuma d o então Presidente d a República José Sarney, c o m a instituição d o Prêmio Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia c o n c e d i d o pelo C N P q a o s pesquisadores q u e s e distingam e m duas de 12 áreas d o c o n h e c i m e n t o selecionadas previamente e e m sistema d e rodízio. U m a entre as muitas ações do Almirante Álvaro Alberto e m favor d o Brasil foi s u a atuação e m reunião d a O N U n o s E U A , q u a n d o , e m n o m e d o g o v e r n o brasileiro, propôs o acordo c h a m a d o d e Princípio d a s Compensações Específicas. U m a c o r d o comercial para q u e o s minerais estratégicos brasileiros não f o s s e m s i m p l e s m e n t e comercializados, m a s , s i m , q u e h o u v e s s e uma troca d e 18 tecnologia envolvida n a s negociações, c o m o por e x e m p l o , a prioridade d e instalação d e reatores nucleares e m território brasileiro.^'' E m 1 9 5 3 , foi f u n d a d o e m Minas Gerais o Instituto d e Pesquisas Radioativas (IPR), vinculado à Comissão Nacional d e Energia Nuclear ( C N E N ) q u e , a partir d e 1956, p a s s o u a operar u m reator experimental d o tipo Triga, d e urânio enriquecido a 1 0 0 K W . Foi n o IPR q u e s e criou o G r u p o d o Tório, q u e tratou d e desenvolver projetos d e energia nuclear a partir d o tório s e m a n e c e s s i d a d e d a importação d o urânio enriquecido. Desejoso d e q u e o Brasil compartilhasse d o s resultados e d o esforço concentrado e m pesquisa nuclear e por antever dificuldades futuras n o comércio nuclear internacional, o Almirante Álvaro Alberto adquiriu três ultracentrifugas d a A l e m a n h a e m 1954, cuja entrega foi vetada pelos EUA. A partir d e 1955, o Ministério d a s Relações Exteriores d o Brasil, o Itamaraty, p a s s o u a d e s e m p e n h a r u m importante papel n o estabelecimento d e políticas e a c o r d o internacionais, f a v o r e c e n d o a área nuclear brasileira. Diversos a c o r d o s diplomáticos f o r a m assinados c o m o s E U A , a e x e m p l o d o Acordo d e Cooperação para o D e s e n v o l v i m e n t o d e Energia Atômica c o m Fins Pacíficos, d o P r o g r a m a Conjunto para o R e c o n h e c i m e n t o e a Pesquisa d e Urânio n o Brasil e d o P r o g r a m a Átomos para a Paz. E m 31 d e agosto d e 1956, o lEA, atual I P E N , foi criado p o r melo d e u m convênio f i r m a d o c o m a U S P e o C N P q para atuar e m p e s q u i s a s científicas pacíficas n a área nuclear, e m nível nacional, e para abrigar o primeiro reator d e pesquisa d a América Latina. O lEA, o p e r a n d o u m reator tipo piscina d e 10 M W (megawatts) e o c u p a n d o e m suas diversas atividades cerca d e 1.000 pessoas, constituiu-se n o centro d e pesquisas atômicas mais importantes d o país. O físico Marcello D a m y d e Souza Santos, j u n t a m e n t e c o m Mario S c h e m b e r g , O s c a r Sala e outros, s o b a orientação d e GIen W a t a g h i n , integrou o grupo pioneiro d e cientistas que, a partir d a década d e 1940, a s s e n t o u a s bases da física m o d e r n a n o Brasil, e m particular d a física nuclear, e q u e e m poucos anos projetou o país n o cenário científico internacional. ( D a m y , 1994.) No R i o d e Janeiro, e m 1954, a Universidade Federal f u n d o u o primeiro curso d e engenharia nuclear que, n o s 10 primeiros a n o s d e atividade, graduou Disponível e m : h t t p : / / w w w . c o m c i e n c l a . b r / r e p o r t a q e n s / n u c l e a r / . A c e s s o e m : 1 5 d e j a n e i r o d e 2001 w m e n o s d e 1 0 0 p e s s o a s ( S h w a r t z m a n , 1979). Decorrida m a i s d e u m a década, após a criação d e s s e curso n o Rio d e Janeiro, n o a n o d e 1976, e m São Paulo, foi criado o P r o g r a m a d e Tecnologia Nuclear d o IPEN e m associação c o m a U S P , tendo por finalidade a formação d e pesquisadores e m nível d e mestrado e doutorado. O presidente Juscelino Kubitschek d e s i g n o u u m a comissão especial que s e e n c a r r e g o u d e implementar a s diretrizes g o v e r n a m e n t a i s e u m a política nacional d e energia nuclear. U m a d e s s a s diretrizes foi a criação d a C N E N e m 10 de o u t u b r o d e 1956, e o Almirante Otacílio C u n h a foi n o m e a d o presidente d a organização. A C N E N , naquela época, e r a vinculada diretamente à Presidência da República, órgão responsável por regulamentar e fiscalizar o setor nuclear, promover pesquisas e o s usos pacíficos d a energia nuclear, cujas aplicações a b r a n g e m inúmeras áreas — d e s d e geração d e energia elétrica, p a s s a n d o por aplicações n a indústria e meio ambiente, até o uso cotidiano d e medicina nuclear. Na p a s s a g e m d a década d e 1950 para a d e 1960, o Brasil, consciente das limitações impostas pelos E U A , procurou, c o m iniciativas isoladas, m a s promissoras, d e alguns pesquisadores brasileiros, desenvolver u m a política nuclear m a i s autônoma. U m primeiro esforço sistemático, e m nível d e governo, foi o d e implantar u m a central nuclear c o m transferência d e tecnologia. A partir d a década d e 1 9 6 0 o desenvolvimento d o setor nuclear no Brasil foi m a r c a d o pelo início d o s estudos d e viabilidade d a Introdução d e tecnologia nuclear e m larga escala n o País. E m 1967, a C N E N , ainda vinculada ao Ministério d a s Minas e Energia, firmou u m acordo para a construção d a primeira central d e geração d e energia nuclear. O lugar escolhido foi A n g r a d o s Reis, principalmente pela proximidade c o m o s g r a n d e s centros d o sudeste. U m a concorrência internacional foi aberta e m 1970 para a c o m p r a d o reator d e A n g r a 1, e foi v e n c i d a pela e m p r e s a norte-americana W e s t i n g h o u s e , subsidiária d a e m p r e s a G e n e r a l Electric. E m 7 d e abril d e 1972 o Brasil assinou u m acordo c o m o s EUA, por meio d o qual eles forneceriam urânio enriquecido e u m reator d e potência P W R (Reator d e Água Pressurizada). O contrato tipo caixa-preta, assinado e m W a s h i n g t o n c o m a W e s t i n g h o u s e , foi considerado pelos cientistas brasileiros c o m o u m a m e r a c o m p r a d e e q u i p a m e n t o s , pois não previa a transferência d e 20 tecnologia nuclear. Por e s s e motivo, o acordo não poderia ser considerado c o m o u m verdadeiro início d e u m a política brasileira d e d e s e n v o l v i m e n t o nuclear. Os controles d e exportação de material d e aplicação nuclear tornaramse mais efetivos na primeira metade da década de 1970, q u a n d o foi formado o Comitê Z a n g g e r . N a q u e l a oportunidade, o s países e x p o r t a d o r e s d e itens d e aplicação nuclear decidiram estabelecer u m a lista d e materiais e e q u i p a m e n t o s (trigger list) q u e permitisse identificar os projetos nucleares e m desenvolvimento nos países não detentores desses materiais. A partir daí, p a s s a r a m a exigir salvaguardas para a s transferências (exportações), o u , s i m p l e s m e n t e , cancelar a e n c o m e n d a . M a i s tarde, a trigger list fo\ adotada pelo Clube d e Londres (grupo de países supridos d e material nuclear). E m 1975, e m s u a primeira reunião, o Clube d e Londres estudou a possibilidade d e estabelecer diretrizes c o m requisitos q u e p u d e s s e m servir d e orientação a o s países supridores d e material nuclear n o s seus processos d e exportação. A trigger list e a s diretrizes, a partir d e 1977, f o r m a r a m a base d e controle para exportações d e itens nucleares pelos países m e m b r o s . Após o sucesso relativo d o clube, regimes d e controle d e exportação surgiram e m outras áreas. A preocupação principal d o s países exportadores continuava sendo a proliferação d e a r m a s d e destruição e m m a s s a . O A c o r d o Brasil-República Federal da A l e m a n h a foi assinado e m 1975, sob protestos d o g o v e r n o norte-americano. O s alemães tinham perdido a concorrência para o fornecimento da primeira usina brasileira e já estavam presentes na Argentina, c o m a Atucha 1, e a e m p r e s a S I E M E N S havia se estabelecido a q u i . Além d o mais, o parlamento da A l e m a n h a havia imposto u m a moratória à energia nuclear por quatro anos a sua indústria nuclear. A união c o m o Brasil a salvaria da falência. O acordo c o m a A l e m a n h a , entretanto, não significou u m a g r a n d e melhoria e m relação à transferência de tecnologia. O contrato continuava a ser n o estilo "caixa-preta" e pressões populares na Europa dificultavam o e n v i o de material radioativo para o Brasil. O a c o r d o Brasil-República Federal da A l e m a n h a previa a c o m p r a de oito usinas nucleares, a transferência de tecnologia d o ciclo d e combustível e uma usina d e r e p r o c e s s a m e n t o d e combustível, s o b o controle d e salvaguardas da cwissÃo momi DE mmh Nucit/^'SP-ra 21 AIEA.^^ A Agência teria o direito d e examinar e aprovar o s planos das instalações e d o e q u i p a m e n t o especializado, inclusive d o s reatores nucleares, unicamente para assegurar q u e não seriam utilizados para fins militares.''^ O controle exercido pela A I E A não era d o a g r a d o das Forças A r m a d a s Brasileiras e n e m dos civis q u e se viam impedidos d e dominar o ciclo d o combustível nuclear. O g o v e r n o brasileiro, a o assinar o P r o g r a m a Nuclear B r a s i l - A l e m a n h a em 1975, optou pela construção d e reatores P W R e pela adoção d o desenvolvimento d e transferência d e tecnologia d a A l e m a n h a para o Brasil. Essa decisão significava u m a grande mudança n a política nuclear brasileira e e r a totalmente contrária a o s anseios d o s técnicos e especialistas militares e civis brasileiros. O Brasil precisava dispor d e u m P r o g r a m a Nacional d e Energia Nuclear, pois e s t u d o s previam a necessidade d e s e construir centrais nucleares e protótipos d e potência c a p a z e s d e gerar até 2 0 0 0 M W para a região Centro-Sul brasileira. Cientistas brasileiros d o setor nuclear ficaram frustrados c o m a s novas diretrizes g o v e r n a m e n t a i s d e Importar a s centrais nucleares alemãs e m v e z d e buscar o c a m i n h o d a pesquisa c o m o s inúmeros profissionais capazes d e alcançar esse objetivo n o Brasil. A competência brasileira adquirida até aquele m o m e n t o não seria aproveitada n o desenvolvimento d e tecnologias g e n u i n a m e n t e nacionais. A s s i m , o s P & D d o setor nuclear, c o m o o I P E N , t o m a r a m a sábia decisão d e enviar seus talentos h u m a n o s para a s m e l h o r e s internacionais durante esse período de marginalização universidades para q u e eles c o m p l e m e n t a s s e m o s estudos d e pós-graduação. Dessa f o r m a , u m grande contingente d e pesquisadores brasileiros aproveitou o s incentivos governamentais c o m o p r o g r a m a s d e bolsas d e estudos no exterior, por e x e m p l o , a s d o C N P q e d a C A P E S (Coordenadoria d e Aperfeiçoamento d e Pessoal d e Ensino Superior) e d a F A P E S P (Fundação d e A m p a r o ás P e s q u i s a s d o Estado d e São Paulo), respectivamente d a s esferas federal e estadual, e partiu para países c o m o França, A l e m a n h a e o s EUA. Outro p r o g r a m a d e capacitação d o s p e s q u i s a d o r e s brasileiros foi o Programa d e R e c u r s o s h u m a n o s para o Setor Nuclear, o Pró-Nuclear, concebido Disponível e m : h t t p : / / w w w . i i s . c o m . b r / ~ m p o r t o / n u c l e a r . h t m . A c e s s o e m 1 8 d e f e v e r e i r o d e 2 0 0 3 " I V I A R T I N S . J . B . R e v i s t a B r a s i l e i r a N u c l e a r , n°7, d e z e m b r o d e 1 9 9 5 . 22 pelo M E C , C N P q , N U C L E B R A S e C N E N , c o m recursos d o F u n d o Nacional d e D e s e n v o l v i m e n t o Científico e Tecnológico ( F N D C T ) , q u e propiciou também capacitação e aperfeiçoamento dos pesquisadores brasileiros. F o r a m e s s e s profissionais q u e , a o retornarem a o país n o final d a década d e 1 9 7 0 , tornaram-se os grandes responsáveis pelo s u c e s s o d o P r o g r a m a Autônomo d e Tecnologia Nuclear o u P r o g r a m a Nuclear Paralelo. Este programa foi c h a m a d o d e paralelo o u autônomo porque o oficial e r a o Programa Nuclear B r a s i l - A l e m a n h a . U m outro a c o n t e c i m e n t o q u e m a r c o u a história d a energia nuclear n o Brasil, além d e ter contribuído c o m recursos h u m a n o s altamente capacitados para as pesquisas desenvolvidas no P r o g r a m a Autônomo d e T e c n o l o g i a Nuclear, foi o Projeto Conversão d o Urânio, o c h a m a d o Projeto P R O C O N , desenvolvido no IPEN e m decorrência d a assinatura, e m 2 5 d e março d e 1980, d e u m Convênio c o m o Ministério d e Minas e Energia e o G o v e r n o d o Estado d e São Paulo para produção d e hexafluoreto d e urânio. 3.2.1 Programa Autônomo de Tecnologia Nuclear "É imprescindível que o Brasil tome uma direção que o conduza a novas formas de desenvolvimento com iniciativas autônomas, único meio capaz de reduzir nossa vulnerabilidade internacional. É imperioso reconhecer que qualquer sociedade é inviável produzindo somente matérias-primas e produtos primários." Alves, R. N., 1987.-^^ O d e s e n v o l v i m e n t o d o P r o g r a m a Autônomo d e Tecnologia Nuclear foi c o n c e b i d o c o m o objetivo d e suprir a s necessidades brasileiras não atendidas n a área pelo A c o r d o B r a s i l - A l e m a n h a , tendo o domínio d o ciclo d o combustível nuclear o g r a n d e desafio perseguido por pesquisadores e técnicos brasileiros. R e p r e s e n t o u e representa, até hoje, u m a conquista tecnológica alcançada por u m clube muito seleto d e a p e n a s cinco países. Infelizmente, fontes fidedignas, c o m informações e d a d o s sobre esse p r o g r a m a , não f o r a m a m p l a m e n t e divulgadas para a sociedade e o meio científico e m geral. O d o c u m e n t o encontrado na literatura foi o trabalho d o Prof. R e x 23 Nazaré A i v e s por ocasião d o lançamento d o P r o g r a m a Autônomo, e m agosto d e 1979, q u e e r a q u e m ocupava o cargo d e Diretor Executivo da CNEN. Posteriormente, o Prof. R e x Nazaré foi c o n v i d a d o pelo g o v e r n o federal para coordenar o referido programa — a p r e s e n t a d o e m 6 d e maio d e 1 9 8 7 à Subcomissão d o s Direitos Políticos, d o s Direitos Coletivos e Garantias, d a Comissão d a Soberania e d o s Direitos e Garantias d o H o m e m e d a Mulher, d a Assembléia Nacional Constituinte. A análise d o s antecedentes históricos, d o s interesses políticos e d a s necessidades tecnológicas, forneceram e l e m e n t o s para c o m p r e e n d e r pesquisadores e técnicos civis e militares culminaram porque p o r desenvolver o Programa Autônomo. A s s i m , o s fatos resumidos abaixo f o r a m baseados n o trabalho d e R. N. A l v e s (1987). E m t e r m o s d o cenário internacional, países c o m o a A l e m a n h a , Holanda e Inglaterra e r a m co-prophetárias d a tecnologia d e enriquecimento d o urânio por meio d o consórcio U R E N C O , e, a l e g a v a m q u e o s outros participantes não c o n c o r d a v a m c o m a transferência d o processo d e ultracentrifugação. O s Estados Unidos u s a v a m a tecnologia d e difusão g a s o s a . C o m o alternativa para o Brasil, restou ficar c o m o d e jato centrífugo (tecnologia e n g a v e t a d a havia mais d e 2 0 anos e, por natureza, ineficiente). E m t e r m o s d o cenário nacional, d o m i n a r a c o m p l e x a tecnologia nuclear do e n r i q u e c i m e n t o d o urânio tornou-se u m a questão d e soberania, caso contrário a opção seria a eterna importação d e radioisótopos, não calibrar o s dosímetros clínicos, não irradiar o s alimentos e m prol d a eliminação d e contaminação microbiológica e não gerar energia elétrica (produzir energia elétrica a partir d a energia atômica é muito mais barato d o q u e c o m qualquer hidrelétrica, termelétrica o u estação a gás). E m t e r m o s históricos, relata-se q u e a m a d u r e c i a na Marinha a idéia d e que o Brasil deveria s e preparar para construir u m s u b m a r i n o c o m propulsão nuclear. O Almirante Massimiliano d a Fonseca, ministro d a Marinha e m 1978, acabara d e encontrar-se c o m o então contra-almirante Othon Luiz Pinheiro d a Silva, q u e c h e g a r a d e u m programa d e pós-graduação n o Instituto d e Tecnologia A L V E S , R N . Programa Nuclear Brasileiro. Apresentado por Rex Nazaré A l v e s , em 06 de maio de 1987 à subcomissão dos direitors políticos, dos direitos coletivos e garantias da comissão da soberania e dos direitos e garantias do homem e da mulher da assembléia nacional constituinte. 24 da Universidade d e IVIassacInussets n a área nuclear. O contra-almirante trazia na b a g a g e m u m a noção clara d a importância d a tecnologia d e enriquecimento isotópico d e urânio por ultracentrifugação, frente ás tecnologias d e difusão e jetnozzle. A visão estratégica d o s oficiais d a Marinha f e z c o m q u e f o s s e m feitas prospecções e m t e r m o s d a competência nacional n a área nuclear, q u e viesse a se associar e c o m p o r o embrião d o projeto q u e começava a f o r m a r u m a m a s s a crítica. O cenário tecnológico nacional, avaliado pela Marinha, indicava q u e a única instituição brasileira q u e dispunha e m s e u q u a d r o d e funcionários técnicos c o m p e t e n t e s , recém-regressados d e cursos d e pós-graduação n o exterior, era o I P E N . Aliás, instituição q u e se encontrava à m a r g e m d o a c o r d o c o m a A l e m a n h a . Foi assim q u e e m 1979 s e iniciou a parceria entre o Centro Tecnológico d a Marinha e m São Paulo ( C T M S P ) e o I P E N , para q u e juntas desenvolvessem o projeto d e enriquecimento isotópico de urânio por ultracentrifugas para posterior utilização pela Marinha n a propulsão nuclear. Em 1 9 7 9 , início d o P r o g r a m a , a Marinha implantou o Centro Experimental d e A f ^ M A R , no interior d o Estado d e São Paulo, a cerca d e 2 0 0 k m d a costa paulista, n o p e q u e n o município d e Iperó, próximo a Sorocaba. A palavra A r a m a r t e m o pseudônimo d e "Estação d e Ensaios d e E q u i p a m e n t o s a Vapor", c o m p o s t a d a s três primeiras letras d e Araçoiaba, n o m e indígena d o local, q u e significa " C a s a d o Sol", e a s três primeiras letras d a palavra Marinha. A s s i m , A r a m a r é a C a s a d o Sol d a Marinha. C o n f o r m e relato d o contra-almirante Mario Cezar Flores naquela época, "o projeto A r a m a r será u m centro d e testes d e propulsão, inclusive para o submarino nuclear, c o n f o r m e tecnologia já aplicada e m outros países, c o m o a Inglaterra. O s testes c o m o reator d o submarino, movido a energia nuclear, serão feitos e m terra". O P r o g r a m a Autônomo foi desenvolvido d a seguinte f o r m a : a parte experimental d o projeto para a construção d o propulsor naval e m A r a m a r e a parte d e d e s e n v o l v i m e n t o d o ciclo d o combustível era feita n o I P E N , onde a Marinha Instalou a Coordenadoria para Projetos Especiais ( C O P E S P ) , tendo o Almirante O t h o n Luiz Pinheiro d a Silva c o m o presidente d a C O P E S P e diretor d o I P E N . A s s i m , c o m o afirmou o Almirante O t h o n , "Aramar poderá capacitar o país. 25 as e m p r e s a s d e engenharia d e projetos e a indústria nacional para o q u e v e m a ser o futuro energético d o mundo". A coordenada estratégia do Programa q u e permitia Autônomo a utilização otimizada baseava-se numa d o s recursos ação humanos, financeiros e materiais disponíveis n o país. Objetivava d e s e n v o l v e r competência nacional autônoma indispensável ás aplicações pacíficas d a energia nuclear d e f o r m a c o e r e n t e c o m a s necessidades nacionais, d e f o r m a a: • Garantir a segurança d a s centrais nucleares, instalações nucleares e radioativas; • Preservar a saúde d o h o m e m e a s condições d o m e i o a m b i e n t e ; • P r o m o v e r a utilização d e técnicas nucleares na saúde, n a indústria e na agropecuária; • Desenvolver tecnologia própria visando à redução d e vulnerabilidades, particularmente nas áreas sensíveis e d e materiais; • Substituir a importação d e radioisótopos, materiais, e q u i p a m e n t o s e instrumentação; • Controlar a s reservas e estabelecer o s e s t o q u e s d e minerais nucleares e d e minerais d e interesse para a energia nuclear; • A g r e g a r tecnologia autônoma a o p r o c e s s a m e n t o d e matérias-primas minerais nacionais d e forma a evitar sua evasão a preço vil; • Construir a s instalações e m escala semi-industrial, indispensáveis a caracterizar o domínio tecnológico e a viabilidade industrial d o s processos; • A s s e g u r a r o confinamento e a disposição final d o s rejeitos nucleares d e m o d o a garantir a proteção d o h o m e m e d o m e i o a m b i e n t e ; • Garantir a capacidade d e autodeterminação e d e convívio c o m as d e m a i s nações e m t e r m o s d e igualdade d e direitos. O P r o g r a m a Autônomo envolveu, além d o s p e s q u i s a d o r e s e técnicos d a Marinha e d o I P E N , e m p r e s a s d e engenharia c o m o a P R O M O N e outras, mais d e 150 indústrias, tendo e m vista q u e o projeto foi u m a simbiose q u e ajudou a s e m p r e s a s a aprimorar seus produtos, u m a v e z q u e a n e c e s s i d a d e d e segurança A L M E I D A , R . A construção de São Paulo, n ° 2 1 0 1 , p . 1 0 - 1 3 , d e 1 6 / 0 5 / 8 8 . D e p o i m e n t o d o A l m i r a n t e Othion Luiz Pinheiro d a Silva sobre o C e n t r o Experimental d e A r a m a r , A t a l h o tecnológico. 26 era absoluta e c o m níveis d e exigências d e tal o r d e m q u e , a partir d e Aramar, multas delas g a n h a r a m certificados d e qualidade q u e permitiam a exportação para o m e r c a d o internacional. O almirante O t h o n afirmou ainda q u e : "... até 1987, o projeto foi mantido em sigilo por questões estratégicas. Concordo que não se pode negar à população o direito de saber o que está acontecendo, mas confirmo a necessidade do sigilo. Nessa época nenhum pais ajuda o outro. Se não tivéssemos mantido o segredo, provavelmente não teríamos conseguido importar os equipamentos de medição que utilizamos para acompanhar o trabalho. Após a divulgação as portas se fecharam, mas ai as etapas fundamentais já haviam sido concluídas". A parceria I P E N / C T M S P registrou, n o final d e 1 9 8 2 , a primeira experiência d e enriquecimento isotópico d e urânio c o m centrífugas construídas totalmente n o Brasil. O "salto tecnológico" obtido c o m o Ciclo d o Combustível Nuclear, q u e é o conjunto d e etapas d o processo Industrial q u e transforma o mineral urânio d e s d e o seu estado natural até a s u a utilização c o m o combustível dentro d e u m a usina nuclear, foi obtido graças a pesquisadores e técnicos, a todos q u e contribuíram para o desenvolvimento d e s s a tecnologia d e ponta n o país. "Um processo como o do Ciclo do Combustível, em nível mundial, equivale a dizer que quem sabe fazer não conta como faz e quem quer fazer tem duas opções: ou compra um pacote tecnológico pronto e fechado ou então parte do zero para desenvolver seus sistemas", afirmou o almirante Othon.^^ A tecnologia adquirida foi aplicada n o Brasil, p o r brasileiros, a d o t a n d o se soluções e inovações compatíveis e a d e q u a d a s às n o s s a s necessidades e condições econômicas. O alto grau d e inovação d a tecnologia alcançada por nossos p e s q u i s a d o r e s foi obtido por países c o m o a Holanda, Inglaterra e A l e m a n h a . Já E U A , União Soviética, China e França c o m p l e t a m o seleto grupo d e países q u e p r o d u z e m urânio enriquecido c o m o método d e difusão gasosa, q u e exige instalações d e maior porte d o que as d e A r a m a r . Com relação a o conhecimento científico alcançado, o s maiores progressos f o r a m c o n s e g u i d o s pelo IPEN, por m e i o d o grande aporte d e recursos A L M E I D A , R.A construção de São Paulo, n°2101, d e 1 6 / 0 5 / 8 8 . 27 da Marinha, a g r a n d e interessada n o desenvolvimento d o sistema d e propulsão d o s u b m a r i n o nuclear, s e g u n d o d e p o i m e n t o d o então Diretor d e Materials José Roberto R o g e r o . O s motivos q u e levaram a Marinha a perseguir tal objetivo f o r a m expressos pelo almirante Massimillano d a seguinte f o r m a : "Os individuos tentam tomar reais os sonlios que acalentam a busca de um propósito ampio que poderíamos chamar, genericamente, de felicidade. Dentro da diversidade que caracteriza os seres humanos, alguns desejos lhes são comuns, como a satisfação de necessidades básicas para uma vida digna, o autorespeito e o direito de gerir seu próprio destino. As nações, como expressão de um conjunto de grupos sociais que optaram por viver juntos, apresentam também aspirações semelhantes às dos indivíduos que as compõem." E m 4 d e s e t e m b r o d e 1987, o então presidente d a república José Sarney a n u n c i o u a conquista d o enriquecimento d e urânio. Hoje o Brasil domina o ciclo d o combustível para reatores nucleares d e pesquisa, estando a tecnologia para reatores d e potência pronta para a industrialização a ser feita pelas Indústrias Nucleares d o Brasil (INB). A I N B , herdeira d a s subsidiárias d a Nuclebrás, conta c o m a transferência d a tecnologia desenvolvida pelo C T M S P e IPEN para o e n r i q u e c i m e n t o d o urânio a ser u s a d o c o m o reator d e potência (3,2%) e reator d e pesquisas (20%).^^ Vinte e sete a n o s depois d a assinatura d o a c o r d o B r a s i l - A l e m a n h a , pode-se dizer q u e o q u e resta desse acordo é a usina d e A n g r a 2 (Angra 1 estava fora d o acordo), q u e ficou pronta 2 5 anos após a assinatura d o c h a m a d o "Acordo d o Século". A n g r a 3 está ainda nas fundações. Hoje, graças a o P r o g r a m a Autônomo d e T e c n o l o g i a Nuclear, o C T M S P assinou e m 2 0 0 2 , c o m a INB, u m convênio d e mútua cooperação a s s e g u r a n d o o f o r n e c i m e n t o d e urânio enriquecido e m 2 0 % para a fabricação d o combustível nuclear para n o s s a s usinas nucleares A n g r a 1 e 2. " C i c l o d e R e p o r t a g e n s - " O P o d e r N a v a l " , Revista ComctenciaAQQl. C i c l o d e R e p o r t a g e n s - Revista Comciencia, 10/08/2000. 38 3.3 O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares — IPEN "As organizações de alto padrão parecem ter desenvolvido culturas Internas que incorporaram valores e práticas de seus grandes lideres. Assim, pode-se verificar a sobrevivência desses valores por multas décadas, mesmo depois da saída do guru original." Peters e Waterman (1986). A organizada contextualização e m seções para d a instituição foco d o presente u m meltior e n t e n d i m e n t o estudo foi d a abrangência e c o m p l e x i d a d e d a organização, o Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares IPEN. Para elaboração desta fase d o trabalho f o r a m utilizadas informações extraídas d e d o c u m e n t o s internos d a organização, tais c o m o : Relatónos d e Gestão d o s a n o s d e 1 9 9 9 , 2 0 0 0 e 2 0 0 1 ; Relatório d o Prêmio Paulista d a Qualidade d a Gestão 2002; Planejamento Estratégico — Plano Diretor; Publicação Órbita IPEN; Pesquisa d e Clima Organizacional; Relatório C A P E S para a Avaliação d o P r o g r a m a d e Pós-Graduação e m Tecnologia Nuclear; Proposta para Ensino e T r e i n a m e n t o Especializado n o I P E N , dentre outros. 3.3.1 Aspectos Históricos Relevantes E m 31 d e a g o s t o d e 1956 foi criado, pelo Decreto Federal n° 39.872 d a Presidência d a República, n o s moldes d o convênio f i r m a d o entre o C N P q e a U S P , na cidade d e São Paulo, o l E A , subordinado administrativa, técnica e cientificamente a o C o n s e l h o Nacional d e Pesquisas. Até 19 d e fevereiro d e 1963 o l E A ficou juridicamente ligado a o C N P q e, a partir desta data, foi transferido para a C N E N . Esse vínculo c o m a C N E N p e r m a n e c e u até 7 d e j u n h o d e 1972, q u a n d o por m e i o d e Convênio c o m a U S P , o l E A p a s s o u a pertencer àquela Universidade. Esse instituto tinha por finalidade: desenvolver pesquisas sobre a energia atómica para fins pacíficos; produzir radioisótopos para estudos e experiências e m qualquer ponto d o país; contribuir para a formação e m ciência e tecnologia nucleares d e cientistas e técnicos provenientes das várias unidades d a Federação; estabelecer bases, dados construtivos e protótipos d e reatores 29 destinados a o aproveitamento d a energia atômica para fins industriais, tendo e m vista a s n e c e s s i d a d e s d o país. O instituto d e s e n v o l v e u suas atividade t e n d o c o m o módulo central o Reator I E A - R 1 , o qual deve-se à iniciativa d o Prof. Dr. Marcello D a m y d e Souza Santos. E m 16 d e s e t e m b r o d e 1957, o reator atingiu s u a criticalidade, i.e., e passou a ser ativo. Desde a primeira operação, diga-se d e p a s s a g e m , b e m sucedida, até o s dias atuais, o Reator IEA-R1 continua o p e r a n d o , batendo u m recorde d e traballio felizmente s e m qualquer acidente e m todos estes anos d e operação, c o m p r o v a n d o ser u m e q u i p a m e n t o muito confiável. E m 16 d e março d e 1979, o instituto, a o vincular-se á Secretaria d e Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia d o G o v e r n o d o E s t a d o d e São Paulo ( S I C C T ) , p a s s o u a c h a m a r - s e Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares, IPEN. Localizado n o c a m p u s d a Universidade d e São Paulo, o instituto ocupa u m a área d e cerca d e 500.000 m^, sendo q u e seus laboratórios e instalações totalizam 101.000 m ^ d e área construída. É hoje u m a autarquia estadual vinculada à Secretaria d e Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e T u r i s m o d o G o v e r n o d o Estado d e São Paulo, gerida técnica e administrativamente pela C N E N , d e s s e m o d o e s t a n d o vinculada a o Ministério d a Ciência e Tecnologia ( M C T ) d o G o v e r n o Federal e associado á U S P na sua finalidade d e ensino. O IPEN t e m uma destacada e reconhecida atuação e m vários setores d a atividade nuclear, d a pesquisa á prestação d e sen/iços d e valor econômico estratégico para o país, possibilitando estender o s benefícios d a energia nuclear a s e g m e n t o s m a i o r e s d e nossa população. A multidisciplinaridade c o m q u e são caracterizadas a s atividades d o instituto t e m permitido a condução d e u m amplo e variado p r o g r a m a d e pesquisa e desenvolvimento e m outras áreas. N a área d e ensino e informação, por e x e m p l o , o IPEN t e m d e s e m p e n h a d o u m papel e x t r e m a m e n t e importante n a formação específica d e técnicos d e nível médio e superior nas diversas áreas d e atuação d o instituto. D e s d e a década d e 1960, o IPEN associado à U S P na s u a finalidade d e ensino t e m oferecido cursos, c o m o o s seguintes: Instrumentação Eletrônica; Radíoproteção e Dosimetria; Operadores d e Reator; Laboratório d e Radioisótopos e Radiações; Habilitação Profissional d e Técnico e m Mecânica; Habilitação Profissional d e Técnico e m Química; Habilitação Profissional d e Técnico e m 30 Metalurgia, q u e contribuíram para a formação d e u m a grande parcela de profissionais q u e hoje se e n c o n t r a m inseridos no m e r c a d o d e trabalho. U m outro exemplo d e curso q u e foi preponderante na formação d o s recursos h u m a n o s d o instituto foi o Curso de Ciência e Engenharia Nuclear, oferecido e m nivel d e especialização Lato Sensu e m associação c o m a Escola Politécnica d a U S P . Esse curso foi multo importante na formação técnica d o s profissionais, principalmente devido ao fato d e q u e posteriormente as disciplinas cursadas f o r a m incluidas na grade curricular daquele q u e viria a ser o curso de pós-graduação Stricto Sensu do IPEN. A pós-graduação e m Tecnologia Nuclear d o IPEN foi criada e m 1976 e m associação c o m a U S P , tendo por finalidade a formação d e pesquisadores e m nivel de m e s t r a d o e doutorado. O caminho trilhado pela pós-graduação d o IPEN d e s d e a s u a criação t e m sido coroado d e pleno sucesso. C o m competência, o Programa d e T e c n o l o g i a Nuclear transformou-se n u m paradigma d e eficiência na formação d e recursos h u m a n o s para as áreas nucleares e correlatas. 3.3.2 Missão e objetivos estratégicos A missão: Produzir conhecimentos científicos, desenvolver tecnologia, gerar produtos e serviços e formar recursos h u m a n o s nas seguintes áreas: saúde, biotecnologia, radíoproteção e segurança nuclear, energia e meio ambiente, engenharia d e sistemas e tecnologia d e reatores nucleares, tecnologia d e materiais e ciclo d o combustível nuclear. Os objetivos permanentes: • Realizar pesquisas científicas e d e s e n v o l v i m e n t o s tecnológicos nas suas áreas d e competência; • Manter o e n s i n o d e pós-graduação e a oferta d e curso d e capacitação e treinamento especializado para seus funcionários e a sociedade e m geral; • Gerar novos produtos e serviços, utilizando técnicas nucleares; valorizar seus profissionais; atuar d e forma orientada pela d e m a n d a d e seus clientes; • Buscar c o n s t a n t e m e n t e o estado da arte e a excelência n a s suas áreas d e atuação. CíMssAo mciorni DE mEim WUCLEAÍVSP-IPEI 31 3.3.3 Estrutura organizacional Toda organização existe num contexto geográfico e social e está inserida no mercado com características precisas e com correntes bem definidas; dessa forma, ela é forçada a definir o seu tipo de relacionamento com o meio físico e social. Tamayo et al., 2000. E m 1997, o superintendente d o IPEN, j u n t a m e n t e c o m a alta direção do instituto e c o m a pad:icipação d o s seus servidores e d a s gerências intermediárias, iniciou a retomada d o Planejamento Estratégico d a instituição. A estrutura organizacional atualmente existente n o I P E N é d o tipo matricial balanceada, definida c o n f o r m e o resultado d o planejamento estratégico realizado. A estrutura d o I P E N , o b e d e c e n d o a critérios estabelecidos pelo Governo Federal, t e m a s seguintes características: u m conselho superior; u m superintendente; u m conselho técnico administrativo; seis diretorias — Diretoria de Ensino e Informação Científica e Tecnológica, Diretoría d e Infra-estrutura; Diretoria d e Administração; Diretoria Técnica, Diretoria d e Segurança Radiológica e Diretoria d e Projetos Especiais —; 10 unidades d e p e s q u i s a s constituidas pelos centros d e excelência — Centro d o Reator d e Pesquisa ( C R P q ) , Centro d e Radiofarmácia (CR), Centro d e Lasers e Aplicações ( C L A ) , Centro d e Ciência e Tecnologia d o s Materials ( C C T M ) , Centro d e A c e l e r a d o r e s Ciclotrón (CAC), Centro d e E n g e n h a r i a Nuclear (CEN), Centro d e Combustível Nuclear (CCN), Centro d e Química e Meio Ambiente ( C Q M A ) , Centro d e Tecnologia d a s Radiações (CTR) e o Centro d e Biologia Molecular ( C B M ) —; quatro assessorias, u m a coordenação e u m a secretaria — Assessoria d e Comunicação Social, Assessoria Jurídica, A s s e s s o r i a Técnica, Assessoria d e Relações Institucionais, Coordenação d a Q u a l i d a d e e Secretaria d a Superíntendência. N o Plano Diretor estão caracterizadas a s áreas funcionais d o IPEN e m consonância c o m a s diretorias e definidas a s competências d a s principais lideranças d a Instituição. N e s s e modelo, o s diretores e x e r c e m u m papel c o m características d e ação estratégica, ação política, coordenação programática e atitude prospectiva d e "inteligência" d a organização; o s centros são a s unidades estratégicas d e negócios d o I P E N , e a t u a m c o m o u n i d a d e s executivas d e negócios d o s p r o g r a m a s estabelecidos n o Plano Diretor d o instituto. 32 U m o r g a n o g r a m a c o m características matriciais define não só a s atribuições d o s diretores e gerentes d o s centros d e pesquisa, m a s também a organização d a s atividades e m torno d e Planos d e Negócios que, conjuntamente, são orientados pelo Plano Diretor. A F I G 3.3.3.1 mostra o o r g a n o g r a m a simplificado d o IPEN s e g u n d o a estrutura básica d o G o v e r n o Federal. MCT Conselho Superior -, 1- Superintendência CTA (Conselho Técnico Administrativo) Diretorias Assessorías e Coordenações Unidades de Pe^qMlsg (Centros e Laboratórios) FIGURA 3.3.3.1: Organograma simplificado do IPEN. 3.3.4 Perfil do quadro de pessoal O q u a d r o d e pessoal p e r m a n e n t e d o IPEN conta c o m 1083 (dados d o Plano Diretor d o I P E N d e 2 0 0 2 ) funcionários estatutários d o G o v e r n o Federal. O s funcionários do IPEN, apesar d e serem servidores públicos, têm u m c o m p o r t a m e n t o pró-ativo característico d e e m p r e g a d o s d e e m p r e s a s vencedoras, e esta é u m a característica d a instituição. C o m o a T A B . 3.3.4.1 ilustra, são três o s níveis d e carreira para a Área de C & T . A tabela apresenta o s respectivos percentuais d e funcionário d o IPEN e m cada u m a d e s s a s carreiras. 33 TABELA 3.3.4.1: Plano de Carreiras para a Área de Ciência e Tecnologia Carreira Pesquisa e m Ciência e Tecnologia Desenvolvimento Tecnológico Gestão, P l a n e j a m e n t o e Infra-estrutura e m C & T % 12 52 36 Na T A B . 3.3.4.2 são apresentados o s níveis d e escolaridade d o s funcionários d o IPEN (dados d e 2002), cuja média d e idade é d e 4 2 a n o s . Nesse particular, f a z - s e necessário destacar o elevado número d e doutores e mestres e m relação á população total d e funcionários. TABELA 3.3.4.2: Nível de escolaridade um. 139 154 162 31 597 0 NhfeI de Escolaridade Doutores Mestres Nível Superior c o m especialização Nível Superior Nível Médio & Fundamental Número d e funcionários analfabetos Além d o q u a d r o d e funcionários públicos federais, o IPEN conta ainda c o m quatro outros tipos d e perfis d e profissionais, cuja força d e trabalho é constituída por colaboradores eventuais (vide TAB.3.3.4.3). TABELA 3.3.4.3: Quadro da força de trabalhadores eventuais Universo Força d e trabalho N° % Funcionários Públicos Federais 1083 68,54 Comissionados 16 01,01 Bolsistas e estagiários 320 20,25 E m p r e s a s Terceirizadas 138 08,73 T r a b a l h o Voluntário 23 01,14 TOTAL 1580 100% 34 3.3.5 Fundadores e superintendentes A s p e s s o a s - c h a v e q u e o c u p a r a m o cargo d e superintendente d o IPEN, d e s d e a sua fundação, e m 1956, e m o r d e m cronológica, f o r a m a s seguintes: 1) Marcello Damy de S. Santos, d e 31 d e agosto d e 1956 a 19 d e fevereiro de 1961. 2) Luiz Cintra do Prado, d e 2 0 d e fevereiro d e 1961 a 18 d e março d e 1963; 3) Rômulo Ribeiro Pieroni, d e 19 d e fevereiro d e 1963 a 4 de j u n h o d e 1979; 4) Hernani A. Lopes de Amorin, d e 6 de j u n h o d e 1979 a 2 3 d e n o v e m b r o d e 1982; 5) Durvaldo Gonçalves, d e 2 4 d e n o v e m b r o d e 1982 a 4 de j u n h o d e 1985; 6) Cláudio Rodrigues, d e 5 d e j u n h o d e 1985 a 2 8 d e m a i o d e 1990, 7) Spero Penha Morato, d e 2 9 d e maio d e 1990 a 5 d e m a i o d e 1995; 8) Cláudio Rodrigues, d e 6 d e maio d e 1995, a o s dias atuais, setembro d e 2003. Dentre esses sete h o m e n s q u e m a r c a r a m a história d o I P E N , dois deles m e r e c e m u m destaque especial neste capítulo. O primeiro deles, o Prof. Marcello Damy. Relembrar algumas p a s s a g e n s d e s u a vida é c o m o reativar a memória c o m fatos inesquecíveis d a história nuclear brasileira. A o Prof. Marcello D a m y c o u b e a responsabilidade d e liderar e c o o r d e n a r a s obras d e infra-estrutura para a instalação d o primeiro reator de pesquisa, o I E A - R 1 . E s s e reator foi d o a d o pelo G o v e r n o A m e r i c a n o , dentro d o P r o g r a m a Átomos para a P a z , e foi a pedra f u n d a m e n t a l d a criação d o l E A . Naquela época, o Prof. D a m y proferiu a s seguintes palavras: " O s j o v e n s p e s q u i s a d o r e s s a b i a m que estavam trabalhando para solucionar o s problemas d a fonte energética d o futuro. Essas e outras razões levaram o s físicos d a minha geração à convicção d e q u e a energia atômica seria c a p a z d e promover a redenção d o Brasil". F u n d a d o r e pnmeiro superintendente d o instituto, o Prof. D a m y o c u p o u também a presidência da C N E N , foi m e m b r o d a Junta d e G o v e r n a d o r e s d a A I E A n o período d e 1961 a 1964 e, entre o s a n o s d e 1969 e 1972, foi m e m b r o d o Comitê Internacional d e D a d o s Nucleares d a AIEA, dentre muitas outras atividades desenvolvidas no cenário Nacional e Internacional. O s e g u n d o d e s t a q u e é o Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni, pesquisador e cientista, médico e doutor e m Física. Foi o pioneiro n o Brasil e m Medicina 35 Nuclear. O Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni foi também u m educador, professor por vocação e formação. A n t e s d e vir a ocupar o cargo d e superintendente d o IPEN, o Prof. Dr. Pieroni foi chefe d e pesquisas n o período d e 1 9 5 6 a 1957, chefe d a Divisão d e Radiobiologia entre 1 9 5 7 a 1963 e diretor d o instituto durante nove anos. D e personalidade marcante, extraordináría c a p a c i d a d e d e trabalho, d i n a m i s m o I n c o m u m e persistência nos objetivos à frente d o instituto, imprímiu-lhe ritmo notável. Expandiu o instituto e m todos o s setores e providenciou a construção d e edificios c o m o o s d a administração, d a biblioteca Terezine Arantes Ferraz, processamento Metalurgia Nuclear, de dados; dos departamentos Engenharia Química, Radioquímica d e Física e Nuclear, Radioisótopos, Proteção Radiológica, Processos Industriais. Praticamente toda a infra-estrutura predial hoje existente no IPEN é devida a o período d e gestão d o Prof. Pieroni. Cuidou p e s s o a l m e n t e d a formação d e s e u corpo d e especialistas, enviando-os para capacitação e especialização no extenor, e m universidades d e ponta d e diversos países. Foi u m grande incentivador d e publicações científicas e trabalhos dos p e s q u i s a d o r e s d o instituto. Colaborou c o m entidades médicas f a z e n d o crescer a produção d e radioisótopos, b e m c o m o d a síntese d e moléculas m a r c a d a s . D e u especial atenção á organização d e cursos d e aperfeiçoamento, tanto e m nível superior quanto e m nível médio. N o período d e 1966 a 1975, e m colaboração c o m a Escola Politécnica d a U S P , ofereceu e m nível d e pósgraduação o C u r s o d e Ciências e Tecnologia Nucleares, pioneiro n o país na formação d e recursos h u m a n o s nessa área. E m sua trajetória d e mais d e 16 anos d e trabalho a p a i x o n a d o e d e dedicação total a o instituto, e c o m o dito por muitos q u e o c o n h e c e r a m , o Prof. Pieroni era "o primeiro a chegar e o último a sair d a s dependências d o instituto". E m 1 9 7 9 o Prof. Dr. Rômulo Ribeiro Pieroni, substituído n a superintendência, entregou a São Paulo u m a instituição sólida e respeitada p o r suas conquistas materiais e culturais e pela excelência d o trabalho q u e ali s e realizava — e até hoje s e realiza —; morre o g u r u , m a s seus valores c o n t i n u a m por muitas e muitas décadas. 36 3.3.6 Cultura da excelência na gestão no IPEN "É muito meltior ousar fazer coisas grandiosas e triunfar gloriosamente, mesmo que com alguns fracassos no meio do caminfio, do que se igualar àquelas pobres almas que não aproveitam nem sofrem muito, pois vivem na penumbra cinza de quem não sabe o que é a vitória nem a derrota." Theodore Roosevelt, 1899.''^ Projeto de excelência na pesquisa tecnológica No Brasil, e m abril d e 1997, a Associação Brasileira das Instituições d e Pesquisa Tecnológica (ABIPT) idealizou o Projeto d e Excelência na pesquisa tecnológica, d o q u a l participariam organizações sócias q u e a t u a m e m pesquisa e desenvolvimento, a e x e m p l o d a Empresa Brasileira d e Pesquisa Agropecuária ( E M B R A P A ) , d o I N T , d o C E N P E S d a Petrobrás, d o C D T N ( d a C N E N ) , entre outras organizações n o contexto d e C & T n o país. O Projeto d e Excelência na Pesquisa d a A B I P T t e m por objetivo básico melhorar o d e s e m p e n h o dos institutos d e pesquisas tecnológicas, visando buscar a excelência nas gestões d e s s a s organizações. T o m a n d o por referência o Prêmio Nacional d a Q u a l i d a d e ( P N Q ) ; o Projeto d e Excelência d a A B I P T permite que a s organizações d e p e s q u i s a s integrantes d o m e s o s e i n t e r c o m p a r e m , seja na forma c o m o trabalham para atingirem seus objetivos, seja n a f o r m a d e indicadores d e desempenho. E m 1996, n u m a atitude pró-ativa d a superintendência e d a alta direção j u n t a m e n t e c o m gerências e servidores, iniciou-se o processo d e mudança organizacional para o estabelecimento da cultura d a excelência n a gestão. E m 1 9 9 8 , d a n d o prosseguimento às ações d e melhoria d a gestão técnico-administrativa, a alta direção da instituição, n u m gesto audacioso, teve a iniciativa d e participar d o Projeto d e Excelência n a Pesquisa Tecnológica organizado pela A B I P T . A participação d o IPEN nesse projeto propiciou a identificação d a s m e l h o r e s práticas e, posteriormente, possibilitou a o instituto trocar suas experiências c o m outras instituições. E s s e foi o s e g u n d o passo n a direção das práticas q u e aceleraram o processo d e renovação e reorganização d a gestão d a organização. " Citação extraída do site:<litpp:// www.nobel.se>, [S.l.],[s.d.]. Disponível em 12 de novembro de 2001. 37 A reorganização d a estrutura organizacional era o p a s s o seguinte a ser seguido. A criação d e unidades d e pesquisa c o m u m a estrutura mais simplificada, c o m maior agilidade, foco claro e m áreas d e negócios e d o t a d o s d e autonomia financeira e administração participativa foi o passo seguinte. U m outro desafio foi a retomada dos trabalhos para o estabelecimento d o planejamento estratégico d a instituição. O esforço conjunto d e todos trouxe c o m o primeiro resultado a definição d a missão d o I P E N , a s diretrizes estratégicas globais, o s objetivos conjunturais, a s funções, p r o g r a m a s e s u b p r o g r a m a s e a melhor definição d o tripé d e atividades d o I P E N : pesquisa e desenvolvimento, produtos, serviços e ensino. O s princípios d e gestão pela qualidade f o r a m introduzidos q u a n d o d a retomada d o p l a n e j a m e n t o estratégico. C o m b a s e n e s s e s princípios, a alta direção participou d a formulação d a s estratégias e d a busca d e oportunidades para a instituição, demonstrando liderança e comprometimento com as necessidades e anseios das partes interessadas. As premiações T o d a s e s s a s práticas e m gestão r e n d e r a m r e c o n h e c i m e n t o e ânimo aos gestores e funcionários d o I P E N , e todos s e o r g u l h a r a m d e ter quebrado o t a b u d e q u e n o setor público existe falta d e preparo e acomodação. A busca constante pelo desenvolvimento aprimoramento d e novas de parcerias, pesquisas, a oferta produtos e serviços, d e novas frentes o para o aperfeiçoamento e a capacitação d e recursos h u m a n o s , o g o s t o pelo desafio e a v o n t a d e d e acertar estão presentes n o cotidiano d e t o d o s o s servidores. E m 2002, o I P E N conquistou o s seguintes prêmios: • IVIedalha d e Prata d o Prêmio Paulista d e Q u a l i d a d e na Gestão, conferido pelo G o v e r n o d o Estado d e São Paulo; • Segunda melhor pontuação entre a s 13 instituições d e pesquisa e d e s e n v o l v i m e n t o avaliadas pela Associação Brasileira d a s Instituições d e Pesquisa Tecnológicas (ABIPT); • Certificação d a n o r m a I S O 9001/2000 — Gestão d a qualidade — d o s centros d e pesquisa d o instituto, a saber: C R , C E N , C R P q e Centro d e A c e l e r a d o r e s Ciclotrón ( C A C ) . 38 E m s e t e m b r o d e 2 0 0 3 , o IPEN recebe, p o r indicação d o Instituto d e Estudos e Pesquisa d a Qualidade (IQ) e d a revista Pesquisa Mais, o Prêmio Master d e Ciência e Tecnologia 2003, por s u a atuação na área d a inovação tecnológica e pelos benefícios oferecidos á população e e m p r e s a s nacionais. O prêmio é c o n c e d i d o após pesquisa d e m e r c a d o c o m profissionais d e e m p r e s a s variadas, mídia especializada, universidades e consultorias q u e indicam a s instituições, personalidades e empresas q u e mais colaboram para o desenvolvimento científico e tecnológico por meio d e s e u s projetos d e pesquisa. O u t r o s s i m , e m s e t e m b r o d e 2 0 0 3 , o IPEN foi selecionado c o m o u m d o s três melliores n a categoria "Instituto d e Pesquisa" d a região s u d e s t e e indicado para concorrer a o Prêmio N a c i o n a l d a F i n e p d e Inovação Tecnológica tendo concorrido c o m outros 103 projetos inscritos na região d e São Paulo. É d e s s e conjunto d e competência q u e t o d o s s e o r g u l h a m . O esforço conjunto d e todos o s funcionários d a organização t e m permitido a o IPEN continuar s e n d o o maior instituto d e pesquisas d a área nuclear na América Latina. O superintendente d o instituto, Dr. Cláudio Rodrigues, e m declaração d e editorial na publicação Órbita IPEN^° atesta que: "O IPEN é uma instituição de sucesso e a sensação de missão cumprida é inevitável, sem arrogância ou convencimento, mas com satisfação dos que amam a pesquisa, o trabalho e sobretudo a instituição." Novos desafios Nos últimos a n o s , três aspectos c a u s a r a m impacto na instituição: o primeiro diz respeito á mudança n o quadro das e m p r e s a s brasileiras q u e b u s c a m , cada v e z m a i s , a capacitação tecnológica c o m o instrumento para criar novas opções e enfrentar a concorrência c o m o s produtos importados; o s e g u n d o está relacionado ás mudanças n o s p r o g r a m a s d e governo, principalmente sob o ponto de vista d e f i n a n c i a m e n t o d a atividade d e pesquisa, o q u e t e m levado o s institutos d e P & D a refletir quanto a o futuro d e suas atividades, privilegiando a discussão sobre a troca d e c o n h e c i m e n t o s entre pesquisadores e setor empresarial. O terceiro relaciona-se às dificuldades na gestão d e seus recursos h u m a n o s , notoriamente decorrentes d a introdução d o R e g i m e Jurídico Único e m 1990. 39 A p e s a r d e s s e contexto, o IPEN v e m b u s c a n d o e c u m p r i n d o novos desafios, s o b r e t u d o n o q u e se refere à inovação d a gestão e à preocupação com a valonzação profissional d e seus colaboradores traduzida pelas seguintes atividades d e f l a g r a d a s e m busca d a cultura d a excelência. Pesquisa d e valores E m 14 d e agosto d e 2 0 0 1 , foi a p r o v a d a e realizada a pesquisa d e identificação d o s valores organizacionais d o I P E N por parte d o C T A . C o m o ações subseqüentes a o levantamento d o s valores priorizados pelos funcionários, nessa pesquisa foi definido q u e , q u a n d o d a revisão d o planejamento estratégico, o grupo q u e terá a incumbência d e identificar os principais valores comporá o Core Valúes d o instituto. A t i v i d a d e s acadêmicas O internacionais, reconhecimento, do alto grau por parte d e outras de profissionalismo instituições nacionais e e bom desempenho organizacional, c o m p r o v a d o s por indicadores, a e x e m p l o d o s d a área d e ensino. O IPEN deposita na área d e ensino a-importante atribuição d e formar recursos h u m a n o s e m atendimento às d e m a n d a s d a s o c i e d a d e . N e s s e sentido é que nos últimos a n o s essa área v e m a m p l i a n d o s e u f o c o d e ação. A s principais realizações d a área d e ensino, registradas entre o s a n o s d e 1999 e 2003, são as seguintes: • P r o g r a m a d e pós-graduação e m T e c n o l o g i a N u c l e a r : obteve o conceito "6" d a C A P E S para o trienio 2001/2003 (conceito c o n t e n d o s o m e n t e para p r o g r a m a s d e pós-graduação d e excelência, cuja nota máxima é sete), c o m p r o v a n d o a q u e nível chegou o I P E N ; • D i s c i p l i n a s o p t a t i v a s : disponibilizadas, n u m total d e 2 6 disciplinas, para estudantes d e graduação d a U S P , n a s áreas d e energia nuclear, aplicações e correlatas, q u e f o r a m incorporadas às grades curriculares d e várias u n i d a d e s d a U S P ; • C u r s o s d e pós-graduação Lato Sensu: f o r a m disponibilizados para a sociedade brasileira, e m convênio c o m o Centro Estadual d e Educação 20 Órbita IPEN, a n o 3 , número 1 3 , n o v e m b r o / d e z e m b r o d e 2 0 0 2 . 40 Tecnológica Paula Souza, o CEETEPS, firmado e m 2 0 0 1 , novas alternativas d e cursos para o aperfeiçoamento profissional e a capacitação de funcionários e da população e m geral. • Cursos de extensão: e m 2003 o IPEN amplia ainda mais a sua participação n o ensino superior d o Brasil, c o m a oferta d e 39 cursos d e curta duração. O s cursos d e extensão oferecidos pelo IPEN são ministrados por u m pessoal altamente capacitado n a s diversas áreas d e atuação d o instituto. Esses cursos v i s a m atender às d e m a n d a s d e urna c o m u n i d a d e específica d e profissionais. Produção científica e tecnológica E m t e r m o s d e sua produção científica e tecnológica, o IPEN, e m 2 0 0 1 , processou u m total d e 9 0 4 publicações, entre periódicos nacionais e internacionais, participação e m eventos nacionais e internacionais, capítulos d e livros e r e s u m o s d e trabalhos e m eventos nacionais e internacionais e 548 relatórios técnicos. Confira os números na FIG. 3 . 3 . 6 . 1 , a seguir. aP. 282 548 164 Periódico • P. P e r i ó d i c o • P. e v e n t o • P. e v e n t o SCap. de nacional Internacional nacional internacional livros HRelatórios Técnicos ElT. Resumo Even.Intern. • E v e n .N a c ¡o n a I T. R e s u m o FIGURA 3.3.6.1: Produção científica e tecnológica do IPEN (ano-base 2001). Pesquisa de clima S o b o ponto de vista d e Katz e K a h n (1966), a visão d a organização c o m o u m sistema aberto abre as portas para q u e estas passem a ser consideradas e m u m contexto ambiental de c o m p o r t a m e n t o individual e grupai. cmssk) mjym D€ mtmh moimsp-ipm 41 A descoberta psicologicamente d a organização significativo levou como u m ambiente à introdução d o conceito subjetivo e d e clima organizacional e d e u origem a Inúmeras pesquisas nessa área. U m dos critérios d o Projeto d e Excelência, d o qual o IPEN participa, é o da Satisfação d o s Funcionários e Motivação, avaliado por m e i o d e u m a pesquisa de clima organizacional q u e representa cerca d e 2 5 % d o total d o tópico d e gestão e políticas d e recursos h u m a n o s . O IPEN t e m realizado sucessivas pesquisas, num total d e três, e estas têm tido o importante papel d e permitir q u e a direção avalle objetiva e quantitativamente a opinião d o s funcionários sobre diversos pontos d e interesse, tanto d a instituição c o m o d e s e u s funcionários, permitindo assim q u e s e t o m e m medidas no sentido d e melhorar o s aspectos investigados na pesquisa. A T A B . 3.3.6.1 apresenta a evolução d o s itens tratados n a s pesquisas realizadas nos a n o s d e 1999, 2000 e 2 0 0 2 . TABELA 3.3.6.1 Quadro dennonstrativo da evolução do clima organizacional^^ 1999 Variáveis % Avaliaç.Despemp 38 10° I 36 11° I 60 7° S Benefícios 42 8° I 57 40 S 74 3° B Chefia - Escolha 14 13° I 15 13° I 22 13° I Chefia - Estilo 63 3° S 67 30 s 69 40 S Chefía-Satisfação 51 40 S 50 70 s 60 6° S Comunicação 48 7° I 48 8° I 61 5° s Estrutura 29 12° I 34 12° I 44 12° I Integração 50 5° s 52 5° s 57 9° s Missão 79 r B 87 r B 89 1° B Objetivos 74 2° B 82 2° B 86 2° B Planejamento 48 6° I 52 6° S 58 8° S Realização/Reconh. 39 90 I 40 10° I 50 10° I 11° I 43 90 I 49 11° I Serviços - A /1 21 2002 2000 34 Lugar Avaliaçã % Lugar Avaliaçã % Lugar Avaliaçã F o n t e : A s p e s q u i s a s d e c l i m a o r g a n i z a c i o n a i s r e a l i z a d a s n o I P E N c o n t a r a m c o m a participação d e funcionários d a D i r e t o r i a d e Administração e o s r e s u l t a d o s d a 3 ^ f a s e f o r a m d i v u l g a d o s e m 07/03/2003. 42 T e n d o e m vista q u e o clima organizacional d e p e n d e d a participação e d o c o m p r o m e t i m e n t o d e cada u m dos m e m b r o s d a organização, o I P E N , e m u m a ação conjunta, procura viabilizar a excelência e u m melhor ambiente d e trabalho para t o d o s . Outras ações D u r a n t e o a n o d e 2001 f o r a m implantados n o I P E N três p r o g r a m a s d e melhoria na gestão d e pessoas, tais c o m o : P r o g r a m a d e Sugestões d o IPEN; P r o g r a m a Ações d e Cidadania d o IPEN e P r o g r a m a d e Melhoria d a Comunicação entre o s Servidores e o Superintendente. C o m o s u b p r o g r a m a s destes programas, f o r a m criados também o Café com o Superintendente e o Fale c o m o Superintendente, cujas ações desenvolvidas têm c o m o objetivo melhorar a qualidade d e vida não só d o quadro de funcionários d a instituição, m a s também d e seus dependentes, d o s funcionários terceirizados e d a c o m u n i d a d e circunvizinha. Avaliação do Plano Diretor N o p e r i o d o d e 11 a 13 d e d e z e m b r o d e 2 0 0 2 foi realizado o Seminário Interno d e Avaliação d a s atividades d o Plano Diretor d e 2 0 0 2 , conforme determinação d a superintendência. O seminário reuniu o comitê técnico d e avaliação c o m p o s t o pela direção d o instituto, o s gerentes d e centros, chefes d e divisão, substitutos d a s chefias e representantes dos servidores e dos clientes no conselho consultivo dos centros, o q u e resultou e m 9 5 avaliadores convocados e 7 2 avaliações preenchidas e e n c a m i n h a d a s à Assessoria d e Relações Institucionais (SAR) para consolidação d o s resultados. O seminário teve c o m o novidades a realização d e u m a exposição d e cartazes referentes às atividades d o Seminário d e Avaliação d o Plano Diretor d e 2002, a m o n t a g e m d e estendes apresentando a s atividades d o instituto e o C D R O M Institucional. Foi também exposta a m e d a l h a d e prata referente a o P P Q G 2002, o u t o r g a d a a o IPEN e m cerimónia realizada e m 9 d e d e z e m b r o d o m e s m o ano n o Palácio d o s Bandeirantes. 43 T o d a s a s atividades foram avaliadas pelas chefias d o instituto e representantes, por m e i o d o preenchimento d o Instrumento d e Avaliação d a s Atividades d o Plano Diretor d o IPEN 2 0 0 2 . E m 2 0 0 2 , a e x e m p l o d o a n o anterior, a s três atividades q u e obtiveram a s m a i o r e s médias finais f o r a m premiadas na f o r m a d e valor orçamentário, c o n f o r m e divulgado n a instituição por meio d e u m c o m u n i c a d o interno. 44 4 REVISÃO DA LITERATURA "O conhecimento do novo, representado pelo estado da arte sobre um certo assunto, tem evoluído sempre, sendo transmitido de uns para outros." Goode & Hati, 1979.^^ N e s t e capítulo são apresentados o s aspectos relativos à revisão d a literatura e à fundamentação teórica q u e permitiram o d e s e n v o l v i m e n t o d o t e m a d e pesquisa. O capítulo foi organizado e m t e m a s relacionados a o s pressupostos e objetivos deste estudo, d e forma a contextualizar o s diversos temas relacionados a o s valores. N a parte relativa à fundamentação teórica foram relacionadas, s o m e n t e , aquelas q u e e m b a s a r a m a s análises d o estudo. 4.1 Concepção da natureza de valor O e s t u d o filosófico d o s valores t e m origem n a Grécia. A união d o prefixo A X I A + o sufixo L O G O S resulta n a palavra A X I O L O G I A , isto é, o r a m o d o c o n h e c i m e n t o q u e tem por objeto o estudo d a noção d e valor d e m o d o geral. N o final d o século 18, a teoria d o s valores p a s s o u a ocupar lugar d e d e s t a q u e n a A l e m a n h a , Inglaterra e América, porém, d e v e - s e a Nietzsche a divulgação d o t e r m o dentro d a filosofia m o d e r n a . S e g u n d o Perron (1987), Nietzsche teria afirmado o seguinte: " O homem é o criador dos valores, mas esquece a sua própria criação e vê neles algo que transcendente, de eterno e verdadeiro, quando os valores não são mais algo humano, demasiado humano." N o início d o século 19, M a x W e b e r a d o t o u o termo valúes d e Nietzsche, q u e foi abson/ido s e m resistências n o vocabulário d a sociedade m o d e r n a d a época. O novo significado d e valores introduzia alguns conceitos sobre moral: "a moral seria u m a idéia subjetiva e relativa, u m simples c o s t u m e e convenção e peculiar aos indivíduos e sociedades". G o o d e , W i l l i a m J . & H a t t , P a u l . Métodos Nacional, 1979. em pesquisa social. São Paulo, C o m p a n h i a E d i t o r a 45 Nas ciências sociais, o conceito foi utilizado durante muito t e m p o e m u m sentido restrito e técnico. S o m e n t e por volta d o a n o d e 1930 o termo Valor passou a s e r utilizado n a antropologia, sociologia e n a s ciências políticas. O s primeiros e s t u d o s n o c a m p o d a psicologia a p o n t a v a m n a direção d e q u e o s valores não p o d e r i a m acontecimentos ser observados "privados", diretamente, i.e., o s valores seriam pois s e tratavam d e categorias intencionais contingentes d a comunicação verbal e não diretamente observáveis. Outra corrente d e estudos sobre a concepção d a natureza d o Valor envolve d u a s posições unilaterais: o subjetivismo axiológico e o objetivismo axiológico. No subjetivismo, o s valores são atribuídos aos homens, são considerados c o m o u m a reação d o h o m e m diante d o objeto, aquilo q u e o h o m e m cria. N o objetivismo, o s valores são entendidos c o m o algo próprio, inerente a o objeto possuidor d e u m a existência ontológica. A T A B . 4.1.1 apresenta a s duas correntes frente à natureza dos valores e alguns n o m e s d e representantes c o m a s teses f u n d a m e n t a i s e interpretação crítica. 46 TABELA 4.1.1: Natureza dos valores Objetivismo Axiológico Subjetivismo Axiológico Concepção Scheller; Nicolai Alguns teóricos E. Durl<liein; Charles S t e v e n s o n ; M a x HusserI; 1. A . Richards; Alfred Ayer; Hartean; do assunto Alejandro Korn; R.B. Perry; Lamblias d e A z e v e d o ; Otávio Derisi. Antonio C a s o ; Bouglé. Transfere o valor d o objeto para o Separação radical entre o Tese sujeito e 0 f a z depender d o m o d o valor e a realidade o u fundamental dos c o m o a presença d o objeto o independência afeta. Não s e deseja o objeto valores c o m respeito a o s em que se porque vale — Isto é, porque bens satisfaz a u m a necessidade —, e n c a r n a m ( b e m = coisa m a s vale porque o d e s e j a m o s , o valiosa). independência d o s necessitamos. Q u a n d o recusa por A c o m p l e t o a s propriedades d o valores c o m respeito a objeto — q u e a s naturais, q u e a s todo sujeito criadas pelo h o m e m — q u e podem determinar a atitude valorizada d o sujeito. T e n t a n d o reduzir o valor a u m a m e r a vivencia, u m estado psíquico. 0 valor é subjetivo porque para O s valores são Interpretação existir necessita d a existência d e essenciais. Suas da tese d e t e r m i n a d a s reações psíquicas q u a l i d a d e s não c o m a s quaís o sujeito individual d e p e n d e m d o sujeito q u e se identifica. as capta d o s bens e m que se acham incorporadas. O s valores d e p e n d e m d o objeto, o sujeito a p e n a s capta s e u valor — real o u potencial. Recusa por completo a s A existência d o valor não Crítica propriedades d o objeto — quer a s pressupõe naturais, quer a s criadas pelo n e c e s s a r i a m e n t e a d e u m h o m e m — q u e p o d e m determinar b e m ; este, pelo contrário, a atitude valorizadora d o sujeito. pressupõe n e c e s s a r i a m e n t e o valor q u e nele e n c a r n a . S e g u n d o V a s q u e z (1982) apud L u z (1992), o s valores existem n a s coisas d e d u a s maneiras: c o m o objeto natural e c o m o objeto h u m a n o . Na primeira, o s valores são e n t e n d i d o s c o m o algo próprio e inerente a o objeto e não d e criação d o h o m e m , existe n a condição d o objeto, c a r e c e n d o de juízo d e valor e interessa a p e n a s a o cientista. N a segunda, o s valores são atribuídos aos h o m e n s , eles existem diante d e u m a reação frente a o objeto. 47 C o m isso concluía-se q u e a s coisas criadas pelo h o m e m teriam u m valor, tanto o s s e u s atos quanto o s produtos d e sua atividade. E s s a s concepções não esclareciam d e fato o q u e seriam valores e suas características, explicavam de a l g u m a f o r m a q u e o s valores surgiam d a relação entre o h o m e m e o objeto. 4.2 Definições e conceitos de valor De a c o r d o c o m definição d o Michaelis (1998),^^ a palavra "valor", substantivo masculino, possui os seguintes significados: • Preço atribuído a u m a coisa d e estimação, valia, m e r e c i m e n t o , préstimo; • Qualidade d o q u e t e m força; talento; c o r a g e m , esforço d e ânimo, intrepidez, valentia; • Relação entre a coisa apreciável e a m o e d a corrente n o país, e m d e t e r m i n a d a época e e m d e t e r m i n a d o lugar; • Para a filosofia, o significado d e valor surgiu q u a n d o o conceito-palavra p a s s o u a indicar qualquer objeto d e preferência o u d e escolha; o caráter d o s seres pelo qual são mais o u m e n o s d e s e j a d o s o u estimados, por uma p e s s o a o u grupo; • Para o s gregos, a teoria d o s valores é também c h a m a d a d e "axiologia", o n d e o prefixo "axis" significa precioso, valioso, e o sufixo "logia" significa tratado; • Para a e c o n o m i a política, significa estimativa econômica d a riqueza, o u ainda, apreciação feita pelo indivíduo d a importância d e u m b e m , c o m base na utilidade e limitação relativa d a riqueza, e levando e m conta a possibilidade d e s u a troca por quantidade maior ou m e n o r de outros bens. Segundo descritas Perron (1987), muitas f o r a m às definições d e valores por diversos autores, cada u m a buscava satisfazer a objetivos específicos e a necessidades e c a u s a s defendidas. N a época, o crescente número d e conceitos d e valor existia n u m círculo restrito d e psicólogos e especialistas e m ciências sociais, e não a p o r t a v a m muita clareza conceituai o u c o n s e n s u a l . O s estudos dos valores tiveram início d e maneira empírica e partiram de idéias preconcebidas; 23 Michaelis Moderno Dicionário este fato não contribuía muito da Língua Portuguesa. para q u e fosse C i a . M e l h o r a m e n t o s d e São P a u l o , 1 9 9 8 . 48 desenvolvida u m a estrutura básica d e valores necessária para o processo cumulativo d e conhiecimento para a época. Nos início d o s a n o s cinqüenta, Kluckhohn (1951) apresentava u m a definição d e valor, e esta foi u m a das contribuições mais m a r c a n t e s para a época. Dizia ele: "Valor é uma concepção de algo desejado, implícita ou explicitamente, distinta de um indivíduo ou característico de um grupo, que influi na seleção dos meios e dos fins da ação, a partir de modalidades disponíveis." Segundo Perron (1987), Kluckhohn (1951) escreve de forma generalizada a o tratar d e algo desejável, e d e maneira especifica a o referir-se a u m desejável q u e influencia a seleção d o s m e i o s e d o s fins d a ação. C o m o salientaram Perron (1987) e outros pesquisadores d a época, tais c o m o Kohiberg (1963a), Piaget ( 1 9 5 7 ) e Scott (1965), o s valores c o n d u z i a m a m o d o s d e conduta idealizados. Por o u r o lado, u m a outra linha d e pesquisa inclinava-se a afirmar q u e os valores são finalidades d e existência, e nessa corrente d e p e n s a m e n t o e n c o n t r a m - s e o s e s t u d o s d e alguns autores, tais c o m o Morris (1956), R o s e m b e r g (1960), Smith ( 1 9 6 3 , 1 9 6 9 ) e W o o d r u f f (1942). A literatura ressalta a s grandes contribuições d e Milton R o k e a c h sobre a natureza d o s v a l o r e s básicos. R o k e a c h (1973), após analisar o s pontos d e vista dos p e s q u i s a d o r e s d a época sobre a polêmica e m torno d a realidade dos valores, e x p r e s s o u s u a opinião dizendo q u e a s realidades concebidas s o b a forma d e valores são m o d a l i d a d e s d e ser o u d e agir, e finalidades d e existência q u e , para u m indivíduo s i t u a m - s e n u m a o r d e m d e preferência, u m a e m relação á outra. O autor a p r e s e n t a a seguinte definição d e valores: "Um sistema de valores, nada mais é do que uma disposição fiieràrquica de valores, uma classificação ordenada de valores ao longo de um contínuo de importância." R o k e a c h , 1967. A i n d a s e g u n d o R o k e a c h (1973): 49 "Um valor é uma crença duradoura em que um modo especial de conduta ou estado definitivo da existência é pessoal e socialmente preferível a um modo inverso ou oposto de conduta ou estado definitivo de existência." A revisão d a literatura levantada entre o s a n o s d e 1 9 3 0 e 1970 f a z referência a outros pesquisadores q u e também c o l a b o r a r a m para a definição d e valor, entre o s quais são relacionados a seguir alguns d o s principais expoentes: Allport e V e r n o n ( 1 9 3 1 ; 1960); Allport, V e r n o n e Lindzey (1970); Albert e K l u c k h o h n (1959); D u k e s (1955); Super (1969); Tisdale (1961). Muitas outras definições d e valor têm sido e n c o n t r a d a s n a literatura. D o ponto d e vista d a compreensão psicológica, T a m a y o (1993) apresentou a seguinte conceituação: "Valor diz respeito à oposição que o ser tiumano estabelece entre o principal e o secundário, o essencial e o acidental, o desejável e o indesejável e entre o significante e o insignificante. Ela expressa a ausência de igualdade entre as coisas, os fatos, os fenômenos ou as idéias. Desta forma, a palavra valor aplica-se em todas aquelas circunstâncias em que uma delas é Julgada superior á outra, em que uma delas é objeto de preferência. O valor implica, portanto, no rompimento da indiferença do sujeito diante dos objetos, dos eventos ou das idéias. A manifestação de preferência por algo ou por alguém é, talvez, o comportamento mais comum da vida cotidiana. Neste sentido, a palavra expressa uma experiência comum a todo ser humano." 4.3 Natureza dos valores básicos O s valores só existem e se realizam n o h o m e m , pelo h o m e m e para o h o m e m . Para melhor compreensão d o s valores organizacionais, objeto d o presente estudo, faz-se necessário, inicialmente, c o n h e c e r a natureza dos valores básicos o u valores pessoais. O s valores básicos têm a s seguintes características: • T o d a s a s p e s s o a s p o s s u e m o s m e s m o s valores, o q u e o s diferencia entre si é o grau d e prioridade; • O número total d e valores básicos é relativamente p e q u e n o ; • A s p e s s o a s hierarquizam seus valores s e g u n d o três níveis d e prioridades: individual, "societal" (relativo á sociedade) e sócio-institucional (sobrevivência e bem-estar dos grupos). C o n f o r m e exposto por R o e e Ester (1999), dois pesquisadores d o assunto, existe u m a grande lacuna n o c a m p o d a s pesquisas d a definição d a 50 natureza hierárquica d o s valores seguidos por grupos, s e j a m eles sociais, políticos, religiosos e entre nações (união de diversos grupos). Várias são as dificuldades a p o n t a d a s por pesquisadores c o m o Hofstede (1980,1984), Inkeles e Smith (1974) e S c h w a r t z (1992), e uma delas seria o fato d e não existir suficientes evidências q u e c o m p r o v e m q u e os valores hierarquizados n o nível "societal" (pessoas o r g a n i z a d a s e m comunidades) são d e fato compartilhados por todos o s indivíduos q u e compõem essas comunidades, e o m e s m o se aplica no nível sócio-institucional. Estudiosos do assunto atestam existir um certo nível de h o m o g e n e i d a d e n o s valores, porém esta h o m o g e n e i d a d e não parece ser u m a condição suficientemente necessária para o c o m p a r t i l h a m e n t o . Por outro lado, assumindo q u e o s valores são compartilhados por indivíduos pertencentes a c o m u n i d a d e s , não exclui n e m previne a ocorrência d e divergências e conflitos. A l g u m a s outras inconveniências são apontadas pelos autores quando, por e.g., se afirma q u e o s valores culturais derivam d o s valores básicos por mera agregação. P e s q u i s a d o r e s d e f e n d e m que essa linha d e p e n s a m e n t o incorre n u m risco d e inconsistência causal, facilmente evidenciado a o se tratar d e mudança d e valores. U m a mudança cultural d e valores não é o p e r a c i o n a l m e n t e definida c o m o uma mudança d a s o m a dos valores básicos. A literatura aponta para diferentes correntes q u e ressaltam a importância d e s e distinguir o s valores e m geral d o s valores específicos a o s diferentes domínios d a vida. Por e.g. trabalho é u m domínio d a vida, portanto o s valores d o trabalho têm u m a implicação mais específica d o q u e os valores e m geral. A s subseções a seguir foram organizadas d e f o r m a a apresentar o s valores básicos e a interface d o s valores c o m alguns domínios d a vida h u m a n a ; os valores coletivos serão apresentados e m seguida. 4.4 Valores básicos O s seres h u m a n o s estabelecem abstrações e generalizações que representam d e m o d o esquemático e c o m p a c t o o resultado d e suas vivências a c u m u l a d a s , e esse fato orienta os indivíduos sobre o q u e poderá acontecer nessa o u naquela circunstância. O processo d e abstração estabelece u m conjunto coí^sÂo mami DE mmA mcmmp-sm 51 de padrões q u e servirão d e padrão d e comparação para qualquer Informação decorrente das situações d a vida cotidiana. R o k e a c h (1973) apresentou u m a outra definição d e valor: "Uma crença estável de que um determinado modo de conduta ou uma finalidade de existência, que é pessoal ou socialmente preferível ao seu oposto ou à sua contrapartida." Q u a n d o u m a determinada situação exige u m a t o m a d a d e decisão é c o m u m q u e o s indivíduos s e vejam diante d e u m conflito entre dois o u mais valores e, seja qual f o r a forma a ser utilizada para resolver o s conflitos, o sistema de valores d e s t e indivíduo correrá o risco d e s e r modificado o u consolidado d e acordo c o m o tipo d e solução t o m a d a . U m valor é efetivo n a medida e m a s idéias e o s sentimentos coincidem c o m a ação. E m c a s o d e dissociação d e u m o u outro d e s s e s e l e m e n t o s da ação, teremos então o q u e o autor McLaughlin (1965), a p u d Perron (1987), c h a m o u d e os pseudovalores. Isto é, a concepção s o m e n t e d e u m desejo puramente e m âmbito intencional d e p e n d e n t e unicamente d e u m a pretensão social, pois esta ação não teria repercussão sobre o c o m p o r t a m e n t o observável. E m função d e s s e s conceitos, o s autores a f i r m a m q u e o s valores influenciam tanto na satisfação d a s necessidades q u a n t o n a s atitudes h u m a n a s , inter/êm d e f o r m a motivacional na personalidade e a g e m sobre a conduta d o s indivíduos. E ainda d e s e m p e n h a m u m papel p r e p o n d e r a n t e n o relacionamento interpessoal, interferindo n o c a m p o d a s atrações e repulsões e influenciando na maneira c o m o a s p e s s o a s s e apresentam ( T a m a y o e G o n d i n , 1996). S o b a ótica d e Kluckhohn (1951), R o k e a c h (1973) e Perron (1987), dentre outros seguidores, o s valores são d e p e n d e n t e s d e três e l e m e n t o s básicos q u e influenciam o s h o m e n s n o s e u processo d e hierarquização, a saber: • C o g n i t i v o : pertencente a o ato d e adquirir c o n h e c i m e n t o , o u seja, o s indivíduos concebem seus valores por meio d e abstrações, d a s generalizações c o m experiências b e m sucedidas. • A f e t i v o : a s experiências emotivas b e m - s u c e d i d a s d e t e r m i n a m o caráter afetivo, a "desejabilidade" e a "preferência" a certos valores e m relação a o 52 q u e é b o m o u m a u , correto o u incorreto, verdadeiro o u falso, melfior ou pior para si (Kluckhohn, 1951). • C o n a t i v o : pertencente à força d e vontade, à ação intencional, isto é, à seleção d e u m m o d o entre outros d e c o m p o r t a m e n t o e m f a c e d e u m a d e t e r m i n a d a situação. S e g u n d o Kelly (1955) a p u d Perron (1987), o s valores não são u m a simples resposta a estímulos, m a s u m dos e l e m e n t o s constitutivos d o m e c a n i s m o d e avaliação utilizado pelas p e s s o a s para definir e avaliar o meio a m b i e n t e e suas opções. N o Brasil, o pesquisador Álvaro T a m a y o ( u m d o s colaboradores d o pesquisador S h a l o m H. Schwartz) v e m a muitos a n o s d e s e n v o l v e n d o trabalhos sobre esse tema. Para Tamayo (1993), o s indivíduos estabelecem a hierarquização d e s e u s valores Influenciados por três elementos: • T e m p o : o s valores não são imutáveis, m a s são suficientemente estáveis para atestar a continuidade n o processo d e evolução d a personalidade e, ao mesmo tempo, variam suficientemente para acompanhar as modificações m a r c a n t e s q u e s e o p e r a m n a p e s s o a e n a sociedade a s s o c i a d o a o desenvolvimento d o valor; • D e s e j o : o valor s e situa n o prolongamento d e u m a necessidade e é associado a u m a o r d e m d e primazia. O s valores e f e t u a m - s e por meio d e p r o c e s s o s d e deliberação e d e decisão. O processo d e decisão possui a s seguintes etapas: 1) d e avaliação d a s expectativas, d o s c o n t r a t e m p o s e d a s exigências decorrentes d a s variáveis situacionais; 2 ) d e determinação dos tipos d e c o m p o r t a m e n t o apropriados para o m o m e n t o . • Esforço: associado a o e m p e n h o necessário d o indivíduo para obter suas metas. Para o autor, para s e c o m p r e e n d e r o c o m p o r t a m e n t o d e u m a pessoa faz-se necessário conhecer s e u sistema d e valores. U m a grande parcela d o s valores básicos t e m origem genética, outra parte é resultante d e d e m a n d a s sociais (cognição) e u m a outra parcela é decorrente d e necessidades individuais e psicológicas e, n e s s e particular, sofrem Influências familiares, d e a m i g o s , d e professores e outras pessoas d o círculo afetivo d o indivíduo. 53 Perron (1987), e m s u a obra, r e s u m e a s diversas e t a p a s dos trabalhos desenvolvidos p o r Allport (1937), Kluckhohn (1951), Morris (1956) e Rokeach (1973) q u a n t o à definição d o s valores básicos: "São representações abstratas ou cognições normativas (crenças) relativas a objetos desejáveis, e que orientam para a ação, em situações que exigem uma tomada de posição." 4.4.1 Estrutura e psicometria dos valores básicos O e s t u d o desenvolvido e m u m período d e 2 5 a n o s pelos pesquisadores Williams ( 1 9 5 1 , 1 9 6 7 , 1 9 6 8 , 1971), G o l d s e n , R o s e n b e r g , S u c h m a n e Williams (1960) propiciaram a compilação d e teorias sobre a natureza d o s valores básicos e a s influências destes sobre comportamento e mudança d e valores, especialmente pesquisas culturais relativas às macro-mudanças d a sociedade. A s s i m , o s autores defiram o s valores básicos, c o m o : • G e r a d o s pelo desejo e pelas motivações q u e t e m o s pelas coisas; • Orientadores d o c o m p o r t a m e n t o e m resposta a d e m a n d a s sociais e n e c e s s i d a d e psicológica; • A p r e n d i d o s e d e t e r m i n a d o s pela cultura e s o c i e d a d e vigente, e s e g u n d o a s experiências pessoais; • Concepções daquilo q u e é b o m para si e para a s o c i e d a d e e m q u e s e está inserido; • Susceptíveis às mudanças na sociedade e situacional. A revisão d a literatura realizada por R o e e Ester (1999) apresenta alguns autores q u e , s e g u n d o suas pesquisas, p o s t u l a r a m a s dimensões e orientações d o s valores básicos e m diferentes sociedades. Nesse sentido. R o e e Ester citam alguns a u t o r e s q u e realizaram estudos conceituais e operacionais c o m a estrutura d o s valores básicos ( e m poucas dimensões) q u e representam o c o m p o r t a m e n t o d e diferentes sociedades, a saber: • P a r s o n s e Shils ( 1 9 5 1 ) distinguiram cinco dimensões bipolares o n d e s e estruturariam o s valores básicos, i.e., s e g u n d o a s áreas d e interesse, desejo e n e c e s s i d a d e d o s indivíduos: Afetividade v e r s u s Neutralidade 54 afetiva; Individualismo vs Coletivismo orientado; Universalismo vs Particularismo; Atribuição v s Realização e, Especifico v s Difuso; • K l u c k h o h n e Strodtbeck (1961) distinguiram outras cinco orientações d e valores, e n c o n t r a d a s nas diferentes culturas p e s q u i s a d a s pelos autores: Natureza humana (boa o u má); Posição humana frente à natureza (julgo o u domínio); Tempo (passado o u futuro); Atividade (ser o u fazer); Relacional (linear ou individual). A l g u n s outros autores propuseram dimensões diferenciadas d e valores para o nível individual e usaram técnicas psicométricas para medir a hierarquização d e s s e s valores. U m b o m e x e m p l o d e s s e tipo d e pesquisa f o r a m os trabalhos dos seguintes autores: • Allport, V e r n o n e Lindzey (1960), c o m o estudo psicométrico c h a m a d o d e Study of Valúes desenvolveram diferentes escalas d e valores para o s níveis individuais: teórico, econômico, social, político e religioso; • S u p e r (1969), c o m o estudo Work Valúes Inventory propôs u m inventário c o m o s seguintes valores: altruísmo, estético, criatividade, estimulação intelectual, econômico, independência, segurança, realização, prestigio, circunvizinhança, relação gestão, de retorno supervisão, associação, variedade e modo de vida; • R o k e a c h ( 1 9 7 3 , 1979) construiu s u a teoria b a s e a d a na escala de valores c h a m a d a Rokeach Value Survey, com 3 6 itens: o 18 valores terminais (sociais e pessoais), a saber: Amizade verdadeira. Felicidade, Harmonia interior, igualdade. Liberdade, Maturidade, Um mundo mais bonito, Um mundo em paz. Prestigio social, Realização, Segurança da família, Segurança nacional, Salvação da alma. Respeito por si mesmo, Uma vida afetiva bem sucedida, Uma vida agradável, Uma vida confortável, Uma vida estimulante. o 18 valores instrumentais (morais e d e competência), a saber: Alegre, Ambicioso, Capaz, Controlado, Corajoso, Criativo, Espírito aberto. Independente, Intelectual, Limpo, Lógico, Meigo, Obediente, Polido, Prestativo, Responsável e Sincero. R o k e a c h e s u a equipe têm dedicado u m considerável esforço para desenvolver e estandardizar u m instrumento d e m e d i d a relativamente simples, 55 fornecendo d a d o s d e caráter quantitativo, visando a nnedir sistennas d e valores d e indivíduos e g r u p o s sociais. A s s i m , a escala d e valores d e R o k e a c h foi u m a referência durante muitos anos, e m b o r a contestada por alguns pesquisadores. S h a l o m H. Schwartz, u m d o s g r a n d e s e x p o e n t e s d a pesquisa sobre valores foi u m d o s pesquisadores q u e contestou a escala d e valores d e R o k e a c h e, para tal, d e d i c o u u m a boa parte d e seus trabalhos à construção d e u m modelo de estrutura para o s conteúdos universais d o s valores q u e p u d e s s e substituir a escala d e R o k e a c h . C o m efeito, S c h w a r t z iniciou suas p e s q u i s a s objetivando testar a teoria de R o k e a c h (1974, 1992, 1996). Dessa f o r m a , realizou trabalhos conjuntos c o m diversos outros p e s q u i s a d o r e s , entre eles Bilsky (Schwartz e Bilsky, 1987, 1990). Os autores realizaram a primeira pesquisa conjunta c o m u m a amostra c o m p r e e n d i d a p o r 4 5 5 israelenses e 331 alemães a o s quais aplicaram a escala de valores Rokeach Value Survey. U m a d a s contestações à escala d e R o k e a c h feita pelos pesquisadores Schwartz e Bilsky seria a d e que R o k e a c h não teria incluído e m s e u questionário n e n h u m indicador direto para o q u e foi considerado pelos autores c o m o o oitavo domínio, o "Poder Social". Por c o n s e g u i n t e , o s autores postularam s u a s definições conceituais e operacionais para oito domínios motivacionais d e valores: prazer, segurança, poder social, realização, autodeterminação, pró-social, c o n f o r m i d a d e restritiva e maturidade. O u t r o s s i m , o s autores m a p e a r e m e s s e s valores d e acordo c o m o tipo de interesse a q u e serviriam, se individualismo o u coletivismo e a q u e tipos d e objetivo s e referiam, s e terminal o u instrumental. S e g u n d o S c h w a r t z e Bilsky (1990), para a compilação de toda e qualquer teoria faz-se necessário confirmar estas pesquisas com numerosas outras amostras, com uma representação cultural diversificada. D e s s a forma, o s autores ampliaram suas amostras, objetivando adicioná-las ás pesquisas anteriormente d e s e n v o l v i d a s , c o m novas a m o s t r a s d e outras cinco sociedades. Austrália (N=479), E s t a d o s Unidos (N=1409), H o n g - K o n g (N=424), Espanha ( N = 4 4 1 ) e Finlândia ( N = 1 8 4 ) . Nessa n o v a pesquisa, ainda foi utilizado o instrumento d e medida d e Rokeach Value Survey, c o m a escala d e 3 6 valores, 18 terminais e 18 instrumentais ( R o k e a c h , 1973). 56 E m 1992, S c h w a r t z realiza nova pesquisa objetivando dar continuidade aos estudos anteriormente realizados, b u s c a n d o a universalidade d o s tipos d e valores e a dinâmica d a s relações entre eles. D e s s a feita, S c h w a r t z utilizou 4 0 a m o s t r a s c o m p o s t a s por dois grupos ocupacionais d e professores e estudantes, oriundos d e 2 0 países, c o m u m a diversidade d e 13 idiomas e c o m d o g m a s d a s oito maiores religiões, incluindo o s ateístas. N e s s a pesquisa, Schwartz também utilizou a escala d e Rokeach Value Survey, m a s c o m u m diferencial: dessa v e z f o r a m a p r e s e n t a d o s 56 valores distribuidos e m d u a s listas (ao invés d o s 3 6 valores d a escala d e Rokeach); na primeira lista, u m total d e 3 0 valores, d o s quais f o r a m a c r e s c e n t a d o s mais 12 valores a o s 18 d a escala original d e R o k e a c h ; n a s e g u n d a lista constavam 2 6 valores, d o s quais f o r a m acrescentados oito valores a o s 18 d a escala original d e Rokeach. E m decorrências d a s diversas pesquisas realizadas por Schwartz (1968, 1974, 1990, 1992, 1994, 1996), b e m c o m o a q u e l a s realizadas j u n t a m e n t e com s e u colaborador Bilsky (1987, 1 9 9 0 ) e m diferentes e diversificadas sociedades, p u d e r a m construir u m a escala d e valores c o m 5 6 itens. A escala d e valores d e Schwartz convergia para 11 tipos motivacionais: H e d o n i s m o , Segurança, Poder, Realização, Autodeterminação, Benevolência, Universalismo, C o n f o r m i d a d e , Tradição, Estimulação e Espiritualidade. D o s 11 tipos motivacionais d e valores Schwartz sugeriu q u e a Espiritualidade deveria ser testada e m futuras pesquisas, pois n o s e u entender, não poderia ser aplicado c o m o u m tipo motivacional universal. E m 1993, S c h w a r t z e T a m a y o ampliaram s u a s pesquisas a d a p t a n d o a escala d e 5 6 itens à realidade brasileira. Dessa f o r m a , f o r a m introduzidos mais quatro valores específicos e peculiares à cultura Brasileira, a saber: sonhador, esperto, v a i d o s o e trabalhador. E quanto a o tipo motivacional Universalismo, tendo sido o b s e r v a d a a realidade brasileira, passou a ser c h a m a d o d e Filantropia. Em conclusão, c o m a s pesquisas transculturais realizadas por Schwartz e s e u s colaboradores d e s d e o s a n o s d e 1960, verificou-se q u e o s valores não são universais e que, subjacente a o s valores, existem motivações e que e s s a s motivações, s i m , seriam universais. S c h w a r t z c o m p i l o u a Teoria Motivacional d o s V a l o r e s ( T M V ) — o u Valores Básicos o u Pessoais — a partir d a 57 identificação d o s 10 tipos motivacionais d e valores. N a T A B . 4.4.1.1 são a p r e s e n t a d o s o s 10 tipos motivacionais d e valores, a s m e t a s a q u e s e r v e m e a que interesses, individuais, coletivos o u mistos. TABELA 4.4.1.1 — Dez tipos motivacionais de valores Tipos Motivacionais HEDONISMO Metas a que se destinam Prazer e gratificação sensual para si mesmo Interesses INDIVIDUAIS REALIZAÇÃO INDIVIDUAIS PODER SOCIAL 0 sucesso pessoal obtido por meio de uma demonstração de competência Controle sobre as pessoas e recursos, prestígio. AUTODETERMINAÇÃO Independência de pensamento, ação e opção. INDIVIDUAIS ESTIMULAÇÃO Excitação, novidade, mudança e desafio. INDIVIDUAIS CONFORMIDADE Controle de impulsos e ações que podem violar normas sociais ou preiudicar os outros. Respeito e aceitação dos ideais e costumes da sociedade. Promoção do bem estar das pessoas íntimas. COLETIVOS Integridade pessoal, estabilidade da sociedade, do relacionamento e de si mesmo. Tolerância, compreensão e promoção do bem estar de todos e da natureza. MISTOS TRADIÇÃO BENEVOLÊNCIA SEGURANÇA UNIVERSALISMO INDIVIDUAIS COLETIVOS COLETIVOS MISTOS Verifica-se q u e cinco d o s 10 tipos motivacionais d e valores s e r v e m principalmente a o s interesses individuais, i.e., poder, realização, hedonismo, estimulação e autodeterminação. Esses valores f o r m a m regiões contíguas e opostas a outras regiões também contíguas, c o m p o s t a s p o r três outros tipos d e valores q u e s e r v e m principalmente a interesses coletivos, i.e., benevolência, tradição e c o n f o r m i d a d e . S c h w a r t z hipotetizou q u e valores adjacentes não são conflitivos, por e x e m p l o : realização e h e d o n i s m o , o s dois valores s e r v e m a o s interesses individuais e b u s c a m satisfazer metas pessoais. P o r outro lado, o s valores opostos como poder e benevolência, além d e satisfazerem a interesses diferentes, têm metas conflituosas, pois, poder visa o controle sobre outras p e s s o a s e benevolência visa a promoção e o b e m estar das outras pessoas. A s pesquisas transculturais conduzidas por S c h w a r t z (1990, 1 9 9 2 , 1994, 1 9 9 6 ) v i s a v a m , entre outras comprovações, obter respostas para a 58 intrincada relação entre o s valores priorizados pelos indivíduos e suas atitudes, seus c o m p o r t a m e n t o s e papéis d e s e m p e n h a d o s para a consecução dos objetivos individuais, sociais e d e trabalho. S e g u n d o S c h w a r t z a relação estrutural entre o s valores e o s tipos motivacionais é dinâmica e pode ser sintetizada por m e i o d e d u a s dimensões bipolares: 1. Abertura à mudança vs Conservação N o eixo A b e r t u r a à Mudança situam-se valores relativos à estimulação e autodeterminação. Valores b a s e a d o s e m motivações individuais q u e b u s c a m seguir seus próprios interesses sejam eles intelectuais o u afetivos. N o eixo conservação s i t u a m - s e valores que v i s a m preservar o status quo d o s indivíduos, i.e., segurança; c o n f o r m i d a d e e tradição. 2. Autopromoção vs Autotranscendência N o eixo autopromoção situam-se valores relativos a o s interesses individuais, tais c o m o , poder; realização e h e d o n i s m o . N o eixo autotranscendência situam-se motivações q u e n o s levam a transcender o s n o s s o s interesses individuais e a pensar mais n o s outros. V i s a m resultados coletivos c o m o a promoção d o bem-estar d o s outros e d a natureza. Nesse eixo situam-se valores relativos à benevolência e universalismo. A estrutura é dinâmica n o sentido d e q u e o s valores q u e s e situam na coluna d a direita p o d e m s e deslocar para a e s q u e r d a (e vice-versa); o s valores adjacentes são compatíveis e o s opostos não se a t r a e m por q u e são conflitivos. Na F I G . 4.4.1.1 estão representadas a s d u a s dimensões d o s tipos motivacionais d e valores: abertura à mudança vs conservação e autopromoção vs autotranscendência 59 A UTOTRANSCENDENCIA BENEVOLENCIA A B E R T U R A / \ \^ \ / UNIVERSALISMO TRADIÇÃO \ \ AUTODETERMINAÇÃO^ CONFORMIDADE ^ A ESTIMULAÇÃO M U D A N Ç A SEGURANÇA \ V HEDONISMO \ REALIZAÇÃO PODER SOCIAL \ / y/^ AUTOPROMOÇÃO FIGURA 4.4.1.1: ESTRUTURA BIDIMENSIONAL DOS TIPOS MOTIVACIONAIS DE VALORES BÁSICOS I c o N s E R V A Ç Ã O 60 O principal aspecto d a Teoria Motivacional d o s Valores Básicos, compilada por Schwartz, é a distinção entre valores e a s motivações subjacentes, para a consecução d e objetivos visando à satisfação d e n e c e s s i d a d e s individuais. 4.4.2. V a l o r e s e n e c e s s i d a d e s "Se todas as necessidades estão satisfeitas e o organismo é dominado pelas necessidades fisiológicas, quaisquer outras poderão tornarse inexistentes ou latentes. Podemos então caracterizar o organismo como simplesmente faminto, pois a consciência fica inteiramente dominada pela fome. Todas as capacidades do organismo servirão para satisfazer a fome..." Maslow, 1975, p. 342. M a s l o w (1954) procurou c o m p r e e n d e r o q u e dá energia, dirige e sustenta o c o m p o r t a m e n t o h u m a n o . O autor definiu q u e o c o m p o r t a m e n t o motivacional d o s individuos é explicado pelas s u a s necessidades. Entende-se que a motivação é o resultado d o s estímulos q u e a g e m c o m força sobre os indivíduos, levando-os a ação. Para q u e haja ação o u reação é preciso q u e u m estímulo seja i m p l e m e n t a d o , seja decorrente d e algo externo o u proveniente d o próprio o r g a n i s m o . Essa teoria nos dá idéia d e u m ciclo, o ciclo motivacional. Q u a n d o o ciclo motivacional não se realiza, sobrevém a frustração d o indivíduo, que poderá assumir várias atitudes: a) C o m p o r t a m e n t o ilógico o u sem normalidade; b) Agressividade por não poder dar vazão à insatisfação contida; c) N e r v o s i s m o , insônia, distúrbios circulatórios e digestivos; d) Falta d e interesse pelas tarefas o u objetivos; e) Passividade, baixa auto-estima, má vontade, p e s s i m i s m o , resistência às modificações, insegurança, não colaboração etc. Q u a n d o a necessidade não é satisfeita e não sobrevém a s situações anteriormente mencionadas, não significa que o indivíduo permanecerá e t e r n a m e n t e frustrado. D e alguma maneira a necessidade será transferida ou c o m p e n s a d a . Daí percebe-se que a motivação é u m estado cíclico e constante na vida pessoal. A teoria d e Maslow (1954) é conhecida como u m a d a s mais importantes teorias d e motivação. Para ele, a s necessidades d o s seres h u m a n o s COWfôSÂO mmM DE EtERéiA mojmsF-fPEU 61 o b e d e c e m a u m a hierarquia, o u seja, uma escala d e valores a s e r e m transpostos. Isso significa q u e n o m o m e n t o e m q u e o indivíduo realiza u m a necessidade, surge outra e m s e u lugar, exigindo sempre q u e a s p e s s o a s b u s q u e m meios para satisfazê-la. P o u c a s o u n e n h u m a pessoa procurará r e c o n h e c i m e n t o pessoal e status s e suas n e c e s s i d a d e s básicas estiverem insatisfeitas. (Maslow, 1959.) O c o m p o r t a m e n t o h u m a n o também foi objeto d e análise d e Frederick W . Taylor,^"* q u a n d o enunciava o s princípios d a administração científica. A diferença entre Taylor e M a s l o w é q u e o primeiro s o m e n t e enxergou a s necessidades básicas c o m o elemento motivacional, enquanto percebeu q u e o indivíduo não sente única e e x c l u s i v a m e n t e o segundo necessidade financeira. A Teoria Motivacional de Maslow (1954) é baseada e m dois a g r u p a m e n t o s : deficiência e crescimento. A s necessidades d e deficiência são a s fisiológicas, d e segurança, d e afeto e d e estima, e n q u a n t o a s necessidades d e crescimento são a q u e l a s relacionadas a o a u t o d e s e n v o l v i m e n t o e autorealização do ser h u m a n o . E m outras palavras, s e g u n d o Maslow, a s n e c e s s i d a d e s h u m a n a s estão organizadas e dispostas e m níveis, n u m a hierarquia d e importância e d e influência c o m o n u m a pirâmide e m cuja base estão a s n e c e s s i d a d e s mais baixas (necessidades fisiológicas) e n o topo, a s n e c e s s i d a d e s mais elevadas (as necessidades d e auto-realização). V i d e FIG. 4.4.2.1 NECESSIDADES DE AUTOREALIZAÇÃO NECESSIDADES DE STATUS E ESTIMA NECESSIDADES SOCIAIS NECESSIDADES DE SEGURANÇA NECESSIDADES (AFETO) FISIOLÓGICAS FIGURA 4.4.2.1 Hierarquia das necessidades: pirâmide motivacional ^""Taylor, F . W . P r e c u r s o r d a Teoria da Administração Científica. D e s e n v o l v e u e s t u d o s s o b r e a racionalização d o t r a b a i t i o d o s operários. S u a s idéias p r e c o n i z a v a m as práticas d a divisão d o trabalho. 62 De a c o r d o c o m Maslow, a s necessidades fisiológicas constituem a sobrevivência d o indivíduo e a preservação d a espécie: alimentação, sono, repouso, abrigo etc. São a s mais prementes, dominando a direção d o c o m p o r t a m e n t o d o ser h u m a n o q u a n d o este s e encontra insatisfeito. A s s i m , u m a pessoa d o m i n a d a por tais necessidades tende a perceber a p e n a s o s estímulos q u e v i s a m satísfazê-la, s u a visão d e presente e futuro ficam limitadas e d e t e r m i n a d a s por tal necessidade. Para M a s l o w é impossível para u m a pessoa faminta pensar e m conceitos e sentimentos c o m o liberdade, amor, sentimentos humanitários, respeito e e t c , pois tais conceitos e s e n t i m e n t o s "não e n c h e m o estômago". (Maslow, 1975, p.343.) A s n e c e s s i d a d e s d e segurança s u r g e m na medida e m que as n e c e s s i d a d e s a c i m a estão razoavelmente satisfeitas. São necessidades q u e levam a s p e s s o a s a s e proteger d o s perigos, s e j a m eles reais o u imaginários, físicos o u abstratos. O o r g a n i s m o pode ser f o r t e m e n t e d o m i n a d o por tal n e c e s s i d a d e , e a s s i m c o m o a s necessidades fisiológicas, estas também p o d e m d o m i n a r a s funções perceptivas e cognitivas d o ser h u m a n o , levando-o a pensar e ter c o m o prioridade a satisfação d e s s a s necessidades. Para Douglas McGregor (1975), analisando tal necessidade no contexto organizacional, atitudes arbitrárias p o d e m gerar incertezas e refletem discriminação o u favoritismo, b e m c o m o políticas administrativas imprevisíveis são d e s e n c a d e a d o r a s d e s s a necessidade n o s trabalhadores d e t o d o s os níveis hierárquicos, o q u e p o d e acarretar e m desmotivação e m relação a o trabalho o u á organização. Voltando a Maslow: tendo sido satisfeitas, razoavelmente, as n e c e s s i d a d e s a c i m a , s u r g e m a s necessidades sociais, o u seja, d e participação, de aceitação por parte d o s c o m p a n h e i r o s , d e a m i z a d e , d e afeto e d e amor. Essas n e c e s s i d a d e s existem para todo ser h u m a n o . M a s l o w afirma q u e s e referem à n e c e s s i d a d e d e afeto d a s p e s s o a s q u e são importantes para nós (namorado, filhos, a m i g o s ) . Diz o autor: "A pessoa passa agora a sentir, mais intensamente do que nunca, a falta de amigos, de um namorado, de um cônjuge ou de filtios. Seu desejo de atingir tal satisfação será mais forte do que qualquer coisa no mundo. " 63 Para o autor, a frustração dessas n e c e s s i d a d e s leva à falta d e adaptação e a psicopatologias graves no ser h u m a n o . (Maslow, 1975, p. 350.). As necessidades de estima envolvem a auto-apreciação, a autoconfiança, a necessidade d e aprovação social e d e respeito, d e status, prestigio e consideração, além d e desejo d e força e d e adequação, de confiança perante o m u n d o , independência e autonomia. A satisfação d e s s a necessidade gera sentimento d e autoconfiança, valor, capacidade, sentimentos d e utilidade. O contrário leva a sentimentos d e inferioridade, fraqueza e d e s a m p a r o . (Maslow, 1975, p. 351.) Em s e u comentário c o m relação a essa n e c e s s i d a d e , McGregor afirma que as organizações oferecem poucas oportunidades d e satisfação dessas necessidades para a s pessoas dos níveis hierárquicos mais baixos. M a s l o w diz q u e a s necessidades d e auto-realização são a s mais elevadas e que revelam u m a tendência d e todo ser h u m a n o a realizar plenamente o seu potencial e d e s e autodesenvolver continuamente. O autor afirma que: "Essa tendência pode ser expressa como o desejo de a pessoa se tornar sempre mais do que é e de vir a ser tudo o que pode ser" Maslow, 1975, p. 352. O a p a r e c i m e n t o d e s s a s necessidades supõe q u e a s anteriores estejam satisfeitas: fisiológicas, d e segurança, d e amor e d e estima. Diferentemente d a s outras, a necessidade de auto-realização não se extingue pela plena saciação. Q u a n t o maior for a satisfação experimentada por u m a p e s s o a , tanto maior e mais importante parecerá à necessidade. (Hampton, 1992, p. 56.) E m síntese, para M a s l o w (1954) essas necessidades e n g l o b a m três tipos d e motivos o u necessidade d o s indivíduos: biológica, interação c o m o s outros e relacionamentos c o m o self. O s desejos mais altos d a escala só serão realizados q u a n d o os q u e estão mais abaixo estiverem mais o u menos satisfeitos. M a s l o w afirma ainda q u e sua teoria motivacional não é a única a explicar o c o m p o r t a m e n t o h u m a n o , pois n e m todo c o m p o r t a m e n t o é determinado pelas necessidades. A f i r m a ainda que as necessidades f u n d a m e n t a i s são e m grande parte inconscientes. R o k e a c h (1973) contesta a teoria d e M a s l o w d i z e n d o q u e ele não distingue d e forma sistemática os valores d a s necessidades. O autor afirma q u e 64 Maslow define auto-atualização c o m o u m a necessidade e, a o m e s m o t e m p o , c o m o u m valor d e o r d e m superior. (Maslow 1959.) S e g u n d o Perron (1987, p. 21), outra distinção importante entre valor e necessidade reside n a natureza d a relação q u e o s u n e a o s objetos o u situações suscetíveis d e satisfazê-los. O u seja, o objeto q u e sacia a s necessidades fisiológicas é c a p a z d e satisfazer s o m e n t e aquela n e c e s s i d a d e . P o r exemplo, o alimento sacia s o m e n t e a necessidade d e comer, o líquido, a d e beber, enquanto que o s valores p o s s u e m u m a ligação polivalente c o m o s objetos que, por s u a natureza, p o d e m satisfazê-lo. A pessoa q u e valoriza o h e d o n i s m o , por e x e m p l o , poderá saciar suas n e c e s s i d a d e s d e prazer e gratificação sensual d e diferentes maneiras c o m diferentes objetos c o m o forma d e satisfazer e s s e valor. Afirma Perron: "Os objetos e as situações próprias para satisfazer os valores são intercambiáveis, ao passo que o mesmo não se dá com as necessidades." Ainda segundo Perron, a duração d o ciclo d a repetição e d e imediaticidade d a gratificação são dois outros e l e m e n t o s q u e p o d e m salientar a diferença entre valor e necessidade. A s necessidades mais básicas exigem repetições freqüentemente mais imediatas; por outro lado, a satisfação d o s valores p o d e ser atendida e m u m prazo maior, e, m e s m o depois d e satisfeita, poderá d e m o r a r mais l o n g a m e n t e até q u e s e torne u m a nova n e c e s s i d a d e . Outro autor q u e aborda aspectos relacionados a valores e necessidades é S c h w a r t z (1994), q u e afirma e m s u a teoria motivacional d o s valores básicos: "Os valores não são universais — universais são as motivações que levam os indivíduos a se comportar, de um modo ou de outro, para a satisfação de suas necessidades e objetivos." A i n d a s e g u n d o o autor: " O s valores básicos têm origem em três exigências individuais universais: as necessidades biológicas do organismo, as necessidades sociais de interação e as necessidades socioinstitucionais de sobrevivência e bem-estar dos grupos." 65 A i n d a d e a c o r d o c o m Schwartz, a grande diferença na estrutura d o s valores está n a f o r m a c o m o cada indivíduo constrói s e u sistema d e valores visando satisfazer suas n e c e s s i d a d e . R e s u m i n d o , c a d a u m d o s autores aqui citados postularam q u e o s valores e x p r e s s a m a s necessidades d o s seres h u m a n o s , s e j a m elas individuais, biológicas, sociais o u socioinstitucionais. 4.4.3 Valores e atitudes Valores e atitudes freqüentemente, c o n f u n d e m são dois conceitos bastante o s indivíduos. A s atitudes distintos e, têm a s seguintes características: (a) têm origem nas experiências subjetivas; (b) são t o m a d a s e m f a c e d e u m objeto; (c) Incluem s e m p r e u m a dimensão avaliativa. Além disso, a s atitudes são fruto d e interações sociais obtidas por processos d e comparação, identificação e diferenciação q u e n o s permite, e m d e t e r m i n a d o s m o m e n t o s , t o m a r nossas posições diante d o s outros. D e n o t a m uma predisposição à reação, verbal o u não verbal, d e f o r m a favorável o u desfavorável frente a u m objeto, u m a p e s s o a , u m a instituição o u u m a c o n t e c i m e n t o . As atitudes sofrem influência d e três componentes: cognição, afetividade, c o m p o r t a m e n t o . 1- cognição s e refere ás percepções e opiniões sobre u m a qualidade o u u m atributo d e u m objeto; u m a realidade, conhecimento ou informações sobre a existência d e u m objeto; reflexões mentais para imaginar e m a p e a r o ambiente. 2- afetividade refere-se a sentimentos e emoções associados á percepção d a realidade relativa a m e d o , raiva, amor, ódio, simpatia, inveja e desprezo, q u e c o r r e s p o n d e m a u m a variedade de respostas individuais e m face d e outra pessoa, u m a situação, u m a instituição, u m lugar, u m evento o u a processos. 3associadas comportamento a objetos. refere-se Essas ás intenções intenções podem e revelar ações um c o m p o r t a m e n t o verbal. Muito e m b o r a , exista u m a distância entre o q u e 66 as pessoas pensam, falam (comportamento verbal) e agem ( c o m p o r t a m e n t o não verbal). A literatura f a z referência a alguns autores q u e conceituaram atitudes. Nesse contexto p o d e m ser citados M. R o k e a c h (1976), I. Ajzen e M. Fishbein (1980) e R. Eiser (1986). S u a s posições f o r a m assim resumidas: S e g u n d o R o k e a c h (1968): "Distingue-se uma atitude de um valor porque ela se relaciona com a organização de diversas crenças, relativas a um objeto ou a uma situação específica, predispondo o indivíduo a particulares e diferentes respostas. Um valor diz respeito a uma só crença de gênero muito particular." R o k e a c h (1976) foi o primeiro pesquisador q u e verificou q u e a s atitudes são ações carregadas d e afetividade frente a u m objeto o u pessoas. O autor ressalta e m s e u trabalho sete elementos para distinguir valores das atitudes: valor é u m a crença única; atitude é u m a configuração d e crenças; valor transcende o s objetos e a s situações; atitude relaciona-se diretamente c o m o s objetos e situações; o s valores existem e m número mais reduzido; a s atitudes existem e m número diversificado e a m p l o e, o s valores, e m relação à personalidade e a o sistema cognitivo d o s individuos, são mais centrais, d e m o d o a d e t e r m i n a r e m , a o m e s m o t e m p o , a s atitudes e o c o m p o r t a m e n t o . Ajzen e Fishbein (1980) analisaram a relação entre a s atitudes e o c o m p o r t a m e n t o não verbal e concluíram q u e a s atitudes são a p e n a s u m d o s fatores q u e influenciam o c o m p o r t a m e n t o . O pesquisador Eiser (1986), a o revisar a literatura concernente à relação entre atitude e c o m p o r t a m e n t o , concluiu que: "Um comportamento específico implica numa atitude particular e esta é dependente das circunstâncias." 4.4.4 Valor, moral e ética O antropólogo Claude Lévi-Strauss apud D u r k h e i m (1984) afirma q u e o h o m e m é u m s e r biológico (isto é, produto d a natureza) e a o m e s m o t e m p o u m ser social (isto é, produto d a cultura), resultando, portanto, e m u m ser ambíguo, produto d a natureza e d a cultura. Portanto e l e está sujeito às leis naturais e 67 culturais q u e muitas v e z e s são conflitantes, c o m o por e x e m p l o , n o caso d o s desejos incestuosos (natural) e d a sua proibição (cultural). A instituição familiar é o elo d e ligação entre o s e r biológico e o ser psicosocial. O ser t i u m a n o não n a s c e c o m o conceito d e f a m i l i a , pois esta implica e m u m m o d e l o d e significação, cognição e organização d e s s e parentesco e m t e r m o s culturais. T e n d o e m vista q u e não se nasce c o m a consciência d o significado d e família, o m e s m o ocorre c o m o s conceitos d e valores, d e moral e de ética, q u e são introjetados a partir d a experiência d e vida. Valor, moral e ética, três d o s conceitos introjetados pelos Indivíduos a partir d e suas expenência d e vida, são explicados, por alguns autores, d a seguinte f o r m a : De a c o r d o c o m R o k e a c h (1973), valor é u m a crença duradoura e m u m m o d e l o específico d e conduta o u estado d e existência, q u e é pessoalmente o u socialmente a d o t a d o e q u e está e m b a s a d o e m u m a conduta pré-existente. O s valores p o d e m expressar o s sentimentos e o propósito d e n o s s a s vidas, tornandose muitas v e z e s a base d e nossas lutas e dos nossos c o m p r o m i s s o s . A cultura, a s o c i e d a d e e a personalidade a n t e c e d e m o s valores e a s atitudes, sendo o c o m p o r t a m e n t o sua maior conseqüência. Barton e Barton (1984) d e s c r e v e m q u e o estudo d a moral consiste e m questionar-se sobre q u e é correto o u incorreto, o q u e é u m a virtude o u u m a m a l d a d e n a s condutas h u m a n a s . Para o s autores, a m o r a l i d a d e é u m sistema d e valores d o qual resultam normas q u e são consideradas corretas por u m a d e t e r m i n a d a sociedade, c o m o por e x e m p l o , o s 10 m a n d a m e n t o s , o s códigos civil e penal etc. Para C o h e n e Segre^^, a lei moral o u o s s e u s códigos caracterizam-se por u m a o u mais n o r m a s q u e usualmente têm por finalidade o r d e n a r u m conjunto de direitos o u deveres d o indivíduo e d a sociedade. Para q u e s e j a m exeqüíveis, porém, torna-se necessário q u e u m a autoridade a s i m p o n h a , s e n d o q u e , e m caso de desobediência, essa autoridade terá o direito d e castigar o infrator. O autor Gert (1970), e m seu estudo sobre o t e m a , propõe cinco n o r m a s básicas d e moral: 1) Não matar; 2) Não causar dor; 3) Não inabilitar; 4 ) Não privar C O H E N , C . Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho ( F M U S P ) ; S E G R E , M . Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho, d a U S P . Breve Discurso sobre Valores, Moral Eticidade e Ética. 68 da liberdade o u d e oportunidades; 5) Não privar d o prazer. A s s i m c o m o ocorre com todos o s códigos d e moral, a s proibições vêm s e m p r e precedidas d e u m "não", ficando implícito q u e todos p o s s u e m esses desejos, e q u e eles d e v e m ser reprimidos, c a s o contrário haverá castigo. Para o m e s m o autor, a moral pressupõe três características: 1) Seus valores não são questionados; 2) Eles são impostos; 3) A desobediência às regras pressupõe u m castigo. Segundo Segre (1991) a ética é u m a reflexão crítica sobre a moralidade, porém não se deve confundir c o m moral, pois a moral é a regulação dos valores e c o m p o r t a m e n t o s considerados legítimos por u m a determinada sociedade, u m povo, u m a religião, uma certa tradição cultural etc. Entre a moral e a ética há u m a tensão p e r m a n e n t e : a ação moral busca u m a compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por s u a v e z , e x e r c e u m a permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la o u transformá-la. A ética existe c o m o u m a referência para o s seres h u m a n o s e m sociedade, d e m o d o tal q u e a sociedade possa s e tornar c a d a v e z mais h u m a n a . A ética e a moral não são u m conjunto de verdades fixas, imutáveis, que se move historicamente, s e amplia e s e adensa. Para Barton e Barton (1984) a ética não é p u r a m e n t e teoria. É u m conjunto de princípios e disposições voltados para a ação historicamente produzidos, cujo objetivo é balizar as ações h u m a n a s . A ética não basta c o m o teoria, n e m c o m o princípios gerais acordados pelas nações, povos, religiões etc. Nem basta que a s constituições dos países r e p r o d u z a m e s s e s princípios (como a Constituição Brasileira o f e z , e m 1988). É preciso q u e c a d a cidadão incorpore esses princípios c o m o u m a atitude prática diante d a vida cotidiana, d e m o d o a pautar seu comportamento. Isso traz uma conseqüência inevitável: freqüentemente o exercício pleno d a cidadania (ética) entra e m colisão frontal c o m a moral vigente. U m indivíduo se tornará ético q u a n d o puder c o m p r e e n d e r e interpretar um código de ética, além de atuar d e acordo c o m o s princípios por ele propostos. Entretanto, caberá também a o indivíduo a possibilidade de discordar d o posicionamento ético e justificar uma atuação diferente d a proposta pelo código. É j u s t a m e n t e esse tipo d e exercício q u e propiciará modificações n o s códigos, não Disponível e m ; h t t p : / / w w w . c f m . o r q . b r / r e v i s t a / b i o 1 v 2 / b r e v e d i s . l i t m l , a c e s s o e m : 2 7 d e j u n t i o d e 2003. 69 obstaculizando a evolução d a sociedade e a resolução d o conflito ético, permitindo o desenvolvimento. S e g u n d o S e g r e (1991), nas sociedades democráticas o s códigos d e ética representam a consolidação d o s principios éticos a s s u m i d o s por u m a s o c i e d a d e , e o q u e m a i s s e a p r o x i m a d e u m "Código d e Ética" é a Declaração Universal d o s Direitos d o H o m e m . Para ser ético não basta t e r conhecimento d o código d e ética, é necessário também haver assimilação e a m a d u r e c i m e n t o d e certos conceitos d o q u e é agir c o m o u m "ser h u m a n o " . 4.4.5 Transmissão e educação de valores nas escolas "Percebemos e entendemos os seres humanos através das janelas da ciência, da história, das artes e das línguas; na verdade, toda frase é um prisma, através do qual ocorrem as percepções de modo que os valores que moldam nossas percepções lingüísticas também moldam a experiência do mundo a nossa volta, assim como de nós mesmos. Propositalmente ou não, quem quer que ensine, ensina valores." M. Lipman, 1990. Várias são a s questões levantadas por e d u c a d o r e s c o m relação transmissão d e valores e a educação moral n a s escolas; algumas d a s interrogações mais freqüentes são a s seguintes: d e v e m a s escolas ensinar valores? Q u e valores d e v e m a s escolas desenvolver n o s seus alunos? C o m o s e processa a transmissão d e valores e m uma sociedade o u e m u m a instituição? A questão sobre ensinar valores n a escola é extremamente controversa e t e m dividido o s docentes e m dois g r a n d e s g r u p o s — o s q u e r e s p o n d e m afirmativamente e o s q u e o p t a m pela negativa e r e m e t e m a educação moral para a família, a igreja o u outras instituições. Entretanto, n a s últimas duas décadas t e m havido u m c o n s e n s o entre o s cidadãos, a s famílias e o s partidos da maior parte d o s países quanto á necessidade d e q u e a s escolas d e s e m p e n h e m u m papel mais ativo n o d e s e n v o l v i m e n t o dos valores nos alunos. S e g u n d o Lickona (1991), existem importantes razões q u e d e v e m ser bem c o m p r e e n d i d a s pelos cidadãos, tais c o m o : • A transmissão d e valores é, e s e m p r e tem sido, u m a tarefa d a civilização, das sociedades e m geral; 70 • A s grandes questões morais confrontam a s p e s s o a s c o m questionamentos do tipo: D e q u e m o d o devo viver minha vida? D e q u e m o d o d e v e m viver os outros? D e q u e m o d o d e v e m o s conviver c o m a natureza? • A s d e m o c r a c i a s , na medida e m q u e são regimes políticos e m q u e as pessoas e x e r c e m u m papel determinante, s e n t e m especial necessidade d e desenvolver o s valores dos cidadãos; • O papel d a s escolas na promoção d o s valores torna-se particularmente importante, n u m a época e m q u e milhões d e crianças r e c e b e m pouca educação moral na família e e m q u e a Igreja perde gradualmente sua influência. Beltrão e N a s c i m e n t o (2000) apresentam u m a importante afirmação: " N e n h u m a forma d e educação é neutra o u independente d e valores". O s valores morais o u éticos, conforme definido por Perron (1987), se f u n d a m e n t a m e m prescrições o u proibições, e q u a n d o d e s o b e d e c i d o s geram no indivíduo sentimentos d e culpa. O s valores morais o u éticos implicam e m u m a submissão o u rejeição d e u m conjunto d e regras prescritivas o u proibitivas q u e regem o relacionamento d o indivíduo com seus semelhantes. A educação moral é tão antiga quanto a própria educação e é b e m mais restrita d o q u e o d a educação d e valores. Esta consiste e m sensibilizar as pessoas para o s a s p e c t o s afetivos d e s u a vida intra e interpessoal, ensinar-lhes as maneiras de identificar a d e q u a d a m e n t e suas vivências e c o m o manifestá-las, bem c o m o reconhecer a s vivências d a s outras p e s s o a s e c o m o reagir d e forma adequada. Lickona (1991) defende u m a teoria d e q u e a educação moral não só deve formar cidadãos q u e u s e m a inteligência e m benefício d o s outros e d e si próprios, m a s também q u e contribuam para a construção d e u m mundo mais justo. Afirma ainda q u e a existência d e u m a heterogeneidade d e valores na sociedade contemporânea não é impeditiva para s e encontrar u m pequeno número d e valores q u e constitua u m a base ética c o m u m . Nesse sentido, várias têm sido as metodologias utilizadas para desenvolver e transmitir valores n a s escolas. U m a delas, a m a i s antiga, é a doutrinação. Essa metodologia prega q u e o b o m e x e m p l o d o s professores é fundamental na doutrinação de condutas, tais c o m o : virtudes d e patriotismo, de cwissÂo MAciomL BJERQA MUCLEWSP-IPEN 71 trabalho, d e honestidade, d e altruísmo e d e c o r a g e m p o d e m moldar o "caráter" dos alunos e o c o m p o r t a m e n t o d e respeito e d e cuidado, entre outros. Raths, Harmin & S i m o n (1966) a p r e s e n t a r a m , n a década d e 1960, u m a outra metodologia clarificação c o m o alternativa a educação moral d o s valores. Essa metodologia rejeita, n a s escolas — a explicitamente, a de doutrinação c o m a educação d o caráter e propõe q u e o s professores, n u m clima de não diretividade e d e total neutralidade, a j u d e m o s alunos a clarificar seus próprios valores, a assumi-los e a pô-los e m prática. E m seguida surge a a b o r d a g e m pela narrativa, c e n t r a d a na narração de histórias pessoais o u coletivas n a s quais s e c o l o c a m e s e v i v e m conflitos e escolhas morais. Transmitir valores d e u m a geração para outra por meio d e narrativas orais contribuíram, a o longo d a s décadas, para a transmissão d o s valores d e geração e m geração. Isso porque nossos p e n s a m e n t o s e ações estão estruturados e m práticas discursivas. U m outro autor q u e defende essa metodologia é Lapsiey (1996); ele afirma q u e a narrativa é u m a forma d e discurso e s p e c i a l m e n t e interessante, porque contar histórias é uma atividade central d a vida h u m a n a . Outros autores c o m o D a y & T a p p a n (1996) e T a p p a n & Brown (1989) levantaram a hipótese d e q u e a s pessoas se d e s e n v o l v e m m o r a l m e n t e através das narrativas q u e o u v e m dos familiares, dos e d u c a d o r e s , d o s líderes (religiosos, políticos e d a s organizações). Porque aquele q u e t e m c o m o objetivo transmitir a l g u m a coisa para alguém estará s e m p r e transmitido o s valores próprios o u o s valores vigentes n a organização e m q u e atua. Puebla (1997) afirma aínda q u e v i v e m o s u m m o m e n t o histórico crucial, e m q u e ainda p o d e m o s colaborar para a criatividade, a participação responsável e a cooperação n a construção d e u m a c o m u n i d a d e h a r m o n i o s a baseada e m amor, energia d e crescimento e d e transformação, respeito, v e r d a d e , retidão e justiça. O primeiro p a s s o consiste e m s e dar conta d a importância d e q u e o s professores praticam e s s e s valores e m todos o s m o m e n t o s , já q u e a verdadeira qualidade h u m a n a é d a d a por eles. Cória-Sabini e Oliveira (2002) afirmam o seguinte e m s e u estudo: é preciso q u e mais professores s e p r o p o n h a m a adotar u m a atitude d e educação e m valores n a s s u a s práticas, d e forma sistemática e, principalmente, amorosa. 72 pois a prática d o c e n t e impregnada d e afetividade p o d e ser u m elemento d e transformação d o caos q u e s e tornou o cotidiano d a h u m a n i d a d e . 4.4.6 Mudança de valores "Os valores mudam em função das necessidades internas das pessoas." Rol<each, 1979. O psicólogo social Milton R o k e a c h é u m a referência e m termos d e valores. N e s s e sentido faz-se necessário conhecer s u a teoria sobre valores "terminais" e "instrumentais" para entender a conceituação d a d a pelo autor sobre mudança d e valores. O autor afirma que u m a pessoa ter u m d e t e r m i n a d o valor significa dizer que e l a acredita, d e maneira relativamente estável, q u e u m determinado objetivo existencial, tal c o m o liberdade, uma vida confortável, amizade verdadeira, o u u m m o d o específico d e s e comportar, tal c o m o ser alegre, sincero, criativo, honesto, é por e l a preferido a u m objetivo existencial o u a u m a maneira d e s e comportar oposta a e s s a s . O s objetivos existenciais, R o k e a c h o s d e n o m i n o u d e valores terminais, e as m a n e i r a s c o m o a s pessoas s e a d e q u a m para alcançar seus objetivos foram d e n o m i n a d a s d e valores instrumentais. U m "sistema d e valores" para Rokeach diz respeito à organização d e crenças relativamente estáveis, d a s maneiras preferíveis d e s e comportar para alcançar o s objetivos existenciais e m u m contínuo d e importância relativa. Afirma ainda que, comparativamente, os valores terminais (existenciais) estão situados n u m a área central, n o self, e os valores instrumentais n u m a área mais periférica e m relação a o sistema d e valores d o s indivíduos. Dessa m a n e i r a , o autor alega q u e a s mudanças d e valores p o d e m ocorrer relacionadas às seguintes situações: 1. Mudança n a s necessidades individuais e na percepção d o s objetivos e d e m a n d a s d a s o c i e d a d e ; 2. Mudança motivada pela necessidade d e manutenção o u a u m e n t o d a auto-estima o u pela n e c e s s i d a d e d e coerência entre as atitudes, crenças, comportamento e valores, e a 73 autoconcepção d o self (Aronson, 1968; Rokeach, 1968; G r e e n w a l d e Ronis, 1978); 3. Mudanças decorrentes d a maturação, educação, persuasão e terapia, assim c o m o a s decorrentes d e p r o g r e s s o s econômicos, culturais, tecnológicos e sociais. Para R o k e a c h , e m r e s u m o , e m qualquer u m d o s casos ocorrerá mudança d e valores q u a n d o houver u m a alteração na autoconcepção o u no a u m e n t o d a autoconsciência acerca d a s contradições internas d o self iniciados c o m o resultado d e a l g u m a auto-insatisfação experimentada. Para alguns autores, q u a n d o u m a mudança s e p r o c e s s a e m nível "societal", o mais apropriado seria o e m p r e g o d o t e r m o "diferença d e valores". Isso p o r q u e a s diferenças naturais existentes entre o s indivíduos, tais c o m o , diferenças raciais, sexo, status social, papel d e s e m p e n h a d o , idade, religião e outras a s s e m e l h a d a s , e s e p r o c e s s a m e m nível d o s indivíduos e m grupo. Por e x e m p l o , diferenças n o status social o u na idade cronológica d o s indivíduos podem implicar e m diferença na autoconcepção d o s indivíduos e, e m contrapartida, levam á diferença n o sistema d e valores, bem c o m o nas atitudes e c o m p o r t a m e n t o s relacionados a e s s e s valores. A l g u m a s pesquisas culturais e m p r e e n d i d a s têm p r o c u r a d o analisar e c o m p r e e n d e r melhor o t e m a . A seguir, citam-se alguns autores e estudos relacionados a esse t e m a : Inglehart (1977; 1990) realizou estudos para d e m o n s t r a r mudança n o perfil d o s valores e verificou a ocorrência d e diferença n o s valores entre a s sucessivas gerações d e indivíduos d o s países ocidentais. Similar pesquisa foi realizada por Ester et a l . (1993), objetivando analisar a diferença d e opinião d e valores entre indivíduos e g r u p o s e m população dos países d a Europa e América d o Norte. O s autores o b s e r v a r a m q u e não s e nota diferença n o perfil d e valores q u a n d o o s indivíduos estão inseridos e m grupos o u c o m u n i d a d e s grandes. M a s , q u a n d o o s indivíduos estão inseridos e m grupos m e n o r e s , percebe-se q u e o s valores vigentes são progressivamente baseados n a s escolhas e preferências individuais, diferentemente do que acontece q u a n d o inseridos e m instituições tradicionalmente g r a n d e s , c o m o , por e x e m p l o , a s igrejas. U m a d a s hipóteses levantadas pelos autores seria para a c h a m a d a t e s e d a modernização, o u seja, o processo d e modernização leva a o 74 processo d e individualização q u e ocasiona a fragmentação d o s valores e a perda da h o m o g e n e i d a d e nas sociedades. U m a outra hipótese seria a d e q u e o s valores básicos intedigados n o passado a o s sistemas d e valores institucionais (como o das igrejas) teriam perdido s u a força n o s dias atuais para entidades o u grupos menores. A s hipóteses levantadas até o m o m e n t o , sobre o t e m a mudança d e valores, tanto e m nivel individual quanto grupai, não alcançaram o ponto para uma confirmação geral d a s evidências para a formulação d e generalizações. Alguns e x e m p l o s d e estudos realizados f o r a m a p r e s e n t a d o s nesse contexto, porém, s e n d o o c o n h e c i m e n t o científico o único c a m i n h o seguro para atingir a v e r d a d e d o s fatos, n e s s e particular aplica-se b e m a célebre frase proferida pelo fundador d a psicologia social m o d e r n a , Kurt Lewin:^^ " N a d a é tão prático c o m o uma boa teoria". 4.5 Valores organizacionais O c o m p o r t a m e n t o organizacional é o e s t u d o d o f u n c i o n a m e n t o e d a dinâmica das organizações e d e c o m o g r u p o s d e indivíduos s e c o m p o r t a m dentro delas. T e n d o e m vista q u e u m a organização é u m sistema cooperativo racional, ela s o m e n t e p o d e alcançar seus objetivos s e a s p e s s o a s q u e a compõem c o o r d e n a r e m s e u s esforços a f i m d e alcançar algo q u e individualmente j a m a i s conseguiriam. S u r g e a s s i m u m a interação entre a s p e s s o a s e a organização, c h a m a d a d e p r o c e s s o d e reciprocidade, o n d e a organização espera q u e a s pessoas realizem s u a s tarefas e, e m retorno, c o n c e d e - l h e s incentivos e r e c o m p e n s a s . E m contrapartida, a s pessoas o f e r e c e m s u a s atividades e trabalho e s p e r a n d o certas satisfações pessoais. A decisão d e participar d e s s a interação é parte essencial d a teoria d o equilíbrio organizacional. O equilíbrio reflete o êxito da organização e m remunerar seus participantes c o m quantias a d e q u a d a s (sejam de dinheiro o u d e satisfações não-materiais) e motivá-los a continuarem fazendo parte d a organização, garantindo c o m isso sua sobrevivência. O s princípios e crenças o r d e n a d o s hierarquicamente (prioridades axiológicas), relativos a tipos d e estrutura o u a m o d e l o s d e c o m p o r t a m e n t o s ^® Kut Lewin é o f u n d a d o r d a m o d e r n a p s i c o l o g i a s o c i a l e p i o n e i r o n o u s o d e t e o r i a , u s a n d o a experimentação p a r a t e s t a r tiipóteses. 75 organizacionais q u e orientam a vida d a organização (função) e q u e servem a interesses individuais, coletivos o u mistos (aspecto motivacional), foram c h a m a d o s d e v a l o r e s organizacionais. A busca d e soluções para o crescimento e a efetividade d a s organizações reforça a relevância d o impacto c a u s a d o pelos valores coletivos, o u seja, pela s o m a d o s valores básicos q u e configuram a cultura, o clima, e, conseqüentemente, o c o m p o r t a m e n t o d o s sistemas sociais. Dessa f o r m a , podese fazer u m paralelo d e toda a teoria dos valores c o m o ambiente organizacional, uma v e z q u e o s valores vigentes e m u m a organização representam a escolha, consciente o u não, d e conduta d o s individuos. Para compreensão d o s valores organizacionais é necessário ter o s c o n h e c i m e n t o s , preliminares, sobre a s definições e conceitos d e valor básicos (como foi feito neste trabalho). Allport (1962) e Schein (1965) partilham d a opinião d e q u e u m a organização não é constituida por partes físicas, m a s por estruturas d e eventos, interações e atividades por ela executadas. S e n d o a s s i m , sua verdadeira estrutura é constituída pelo seu próprio f u n c i o n a m e n t o . Diversos estudos realizados por diferentes autores, tais c o m o , Freitas (1994), Deal & K e n n e d y (1988), Hofstede (1980), Hofstede, Neuijen, Ohayv & Sanders (1990), Peters & W a t e r m a n (1982), S c h w a r t z & R o s (1995), T a m a y o (1998) e Triandis (1994, 1995), sinalizaram n a direção d e q u e o s valores organizacionais constituem o núcleo central d a cultura d e u m a organização. Para os autores Kotter e Heskett (1994), a cultura organizacional é definida pelos valores c o m p a r t i l h a d o s pelas pessoas e m u m grupo. E, s e g u n d o Davis (1984), a cultura corporativa é u m padrão d e crenças e valores compartilhados. U m a incursão na literatura mostra q u e p o u c o s e s t u d o s têm sido feitos para a identificação d o s valores organizacionais. O pesquisador Álvaro T a m a y o (1988) definiu e m u m d e seus estudos três a b o r d a g e n s para a utilização e m estudo d o s valores organizacionais. A primeira consiste e m estudar o s valores a partir dos d o c u m e n t o s oficiais, tais c o m o , relatórios anuais, d o c u m e n t o s históricos e todo tipo d e d o c u m e n t o redigido por m e m b r o s d a organização. O inconveniente nessa a b o r d a g e m é a dicotomia entre o q u e s e e s c r e v e e o q u e s e verbaliza, pois pode existir u m a não correspondência c o m o s valores e n c o n t r a d o s na prática da organização. U m a segunda abordagem seria a seleção de um grupo representativo d o t o d o , a partir d o qual levantar-se-iam seus valores. A s s i m , 76 estatisticamente, cliegarla-se à média d o s valores d a população total d a organização. N e s s a a b o r d a g e m também pode existir erro na coleta d a amostra representativa d o todo. A terceira a b o r d a g e m seria a partir identificação d o s valores organizacionais, por m e i o d e instrumentos q u e viabilizem o levantamento da percepção d o s indivíduos q u e a compõem. O s valores d e u m a organização c a p t a d o s s e g u n d o a percepção d e seus funcionários não têm sido objeto d e muitos estudos sistemáticos. P e s q u i s a d o r e s d i z e m q u e isso s e deve a o fato d e q u e o s instrumentos d e medidas são muitas vezes inadequados para avaliar a percepção d o s funcionários q u a n t o a o s valores vigentes e m suas organizações. 4.5.1 Objetivos organizacionais vs individuais U m d o s t e m a s preferidos d o s behavioristas^^ é o conflito entre os objetivos q u e a s organizações procuram atingir e o s objetivos q u e individualmente cada participante pretende alcançar. A interdependência entre a s necessidades do indivíduo e a s d a organização é imensa, pois a vida e o s objetivos d e a m b o s estão i n s e p a r a v e l m e n t e entrelaçados. O importante é q u e o alcance d o objetivo de u m a d a s partes nunca prejudique o u tolha o alcance d o objetivo d e outra. A m b a s a s partes d e v e m contribuir m u t u a m e n t e para o alcance d e seus respectivos objetivos. O s a s p e c t o s organizacionais levantados pela teoria d o behaviorismo q u e interferem n e s s a interdependência são o s seguintes: • O processo decisório — o s gestores d e v e m escolher a melhor alternativa ( c o n s c i e n t e m e n t e o u não) para a organização para q u e o processo atenda às n e c e s s i d a d e s dos indivíduos d a m e s m a . • O processo d e escolha d a liderança — a liderança d e p e n d e d o indivíduo, de seus s e g u i d o r e s e das condições e m q u e ocorre o processo d e escolha da m e s m a . U m b o m líder precisa entender a organização, o s funcionários q u e a compõem e suas inter-relações. B E H A V I O R I S N O , palavra d e origem inglesa, s e refere a o estudo d o c o m p o r t a m e n t o q u e surgiu c o m o u m a proposta para a psicologia, para tomar c o m o objeto d e estudo o comportamento d o s indivíduos. 77 • O p r o c e s s o d e comunicação — n o processo d e comunicação n u m a organização formal existe u m a autoridade n o s diferentes níveis hierárquicos para determinar o q u e s e d e v e fazer o u o q u e não se deve fazer c o m relação à e m p r e s a . Por outro lado, q u a n d o n o processo d e comunicação existe o c o n s e n t i m e n t o , o que s e observa são a s seguintes condições: o comunicação é mais b e m entendida e aceita o existe compatibilidade entre o objetivo d a organização e o s interesses pessoais o • existe aptidão física e mental para concordar A estrutura organizacional — o s conflitos entre o s interesses d a empresa e dos funcionários são inevitáveis. A estrutura e os processos organizacionais muitas v e z e s são incoerentes c o m a s expectativas d o s funcionários, q u e por vezes s e s e n t e m impotentes para sugerir novas diretrizes e n e m s e m p r e encontram u m canal aberto para expô-las. U m a m e t o d o l o g i a eficaz para lidar c o m e s s e s problemas e q u e o s gestores m o d e r n o s estão utilizando diz respeito a o processo d e analise d o s valores organizacionais a partir d a percepção d o s e m p r e g a d o s de uma organização, q u e s e equivale d e observadores internos envolvidos ativamente n o processo c o m p o r t a m e n t a l coletivo ( T a m a y o e G o n d i n , 1996). 4.5.2 Estrutura motivacional dos valores organizacionais Entre o s colaboradores d e Schwartz n o Brasil, o pesquisador A. Tamayo v e m desenvolvendo diversos estudos sobre valores vinculados principalmente a e n t e n d e r q u e m é e c o m o é o brasileiro. Além disso, T a m a y o e seus colaboradores têm dedicado atenção a o s valores sociais, sexuais, valores de escolha profissional, b e m c o m o valores organizacionais, objeto d e suas mais recentes pesquisas. Entre a s p e s q u i s a s realizadas por T a m a y o citam-se alguns d e seus principais trabalhos, a saber: Hierarquia d e valores e fatores sociais e m brasileiros (Tamayo, 1986); Influência d o sexo e d a idade sobre o sistema d e valores (Tamayo, 1988); Estrutura motivacional dos valores ( T a m a y o & Schwartz, 1993); Escala d e valores s e x u a i s (Tamayo, 1993); Valores sexuais d e adolescentes d e escola pública e privada ( T a m a y o & Barbosa, 1993); Hierarquia d e valores trans- 78 culturais e brasileiros ( T a m a y o , 1994); V a l o r e s sexuais, gênero e prática religiosa ( T a m a y o et al.,1995); O s valores organizacionais ( T a m a y o , 1996); Escala d e valores organizacionais (Tamayo & G o n d i n , 1996); O s Valores Organizacionais: sua relação c o m satisfação no trabalho ( T a m a y o , 1998); Inventário d e valores organizacionais (Tamayo et al., 2000); Prioridades axiológicas e c o m p r o m e t i m e n t o organizacional ( T a m a y o et al. 2001), entre outros. S e g u n d o T a m a y o et al. (2000), toda e m p r e s a cria s u a própria cultura, seu próprio clima d e trabalho, suas crenças, tradições, usos, rituais, rotinas, n o r m a s , valores e t a b u s . O s aportes d e Allport (1962) e Schein (1965) têm sido importantes para o s autores, e m face d a afirmação d e q u e " u m a organização não está constituída por partes físicas, m a s por estruturas d e e v e n t o s , d e interações, de atividades por e l a executadas. O prédio o n d e f u n c i o n a m a s p e s s o a s q u e a integram e o e q u i p a m e n t o técnico q u e utilizam não constituem a s u a estrutura. A sua verdadeira estrutura é constituída pelo s e u próprio f u n c i o n a m e n t o " . Outro autor q u e contribuiu c o m aportes para a s recentes pesquisas d e T a m a y o et al. (2000) foi Katz e K a h n (1978), a o d e s c r e v e r e m c o m o s e n d o o s papéis, as normas e os valores os três principais elementos q u e definem e orientam o funcionamento das organizações. Katz e K a h n (1978) definiram q u e o s papéis p r e s c r e v e m formas d e c o m p o r t a m e n t o a s s o c i a d a s a tarefas e definem a s funções e cargos. A s normas e procedimentos, a s exigências e o s valores a s justificações e aspirações ideológicas mais generalizadas. Para o s autores, a s normas estão enraizadas nos valores e p o d e m ser c o n s i d e r a d a s c o m o u m a operacionalização d o s valores. O s valores são mais a b r a n g e n t e s q u e a s n o r m a s e constituem u m a espécie d e ideologia. T a m a y o e G o n d i n (1996), e m estudos anteriores, h a v i a m enfatizado a existência d e três aspectos a s e r e m considerados a o s e estudar o s valores organizacionais, a saber: o aspecto cognitivo, o motivacional, a função d o s valores e organização hierárquica d o s m e s m o s . O aspecto cognitivo d o s valores é essencial, u m a v e z q u e eles são crenças relativas a o q u e é e a o q u e não é desejável na e m p r e s a . São formas d e se conhecer a realidade organizacional, expressam respostas prontas e privilegiadas a p r o b l e m a s organizacionais e a p r e s e n t a m c o m o modelos a s soluções o u o s c o m p o r t a m e n t o s q u e d e r a m certo na e m p r e s a . A percepção d a s 79 prioridades axiológicas d a organização por parte d o s e m p r e g a d o s é resultado d e u m p r o c e s s o cognitivo e m q u e o indivíduo a p r e n d e u a representar mentalmente u m m o d e l o interno d a e m p r e s a . O aspecto motivacional é a raiz d o s valores organizacionais; eles e x p r e s s a m a direção e a intensidade emocional c o m q u e o s indivíduos a g e m s e g u n d o s e u s interesses e desejos para atingir a s metas organizacionais. N e s s a linha d e raciocínio, o s pesquisadores S c h w a r t z (1994) e Feather (1995) a f i r m a r a m q u e "os valores p o d e m motivar o indivíduo a agir, d a n d o à s u a ação a direção e a intensidade emocional". A s s i m , a função d o s valores organizacionais é a d e orientar a vida d a e m p r e s a e guiar o c o m p o r t a m e n t o d o s s e u s m e m b r o s . T a m a y o et al. (2000) a p r e s e n t a m e m seus estudos a afirmação d e Deal e K e n n e d y (1988, p.22): "Os valores organizacionais podem influenciar fortemente o que as pessoas realmente fazem. Não somente o comportamento do indivíduo é influenciado pelos valores, mas também o julgamento que ele faz do comportamento dos outros." A o contráho d o que afirmaram Allport (1962) e Schein (1965), T a m a y o et a l . ( 2 0 0 0 ) c o r r o b o r a m a idéia d e q u e a fonte d o s valores organizacionais é constituída por exigências d a organização e d o s indivíduos q u e a compõem. O u t r o s s i m , o s autores, a o pesquisarem sobre valores organizacionais, levaram também e m consideração o s estudos d e S c h w a r t z & R o s (1995) a o afirmarem que o s valores básicos ( o u pessoais) p o d e m ser analisados e m nível individual e de dimensão cultural, pois o s valores e x p r e s s a m p r o b l e m a s básicos encontrados pelas s o c i e d a d e s para regular a atividade h u m a n a . E m decorrências desses postulados, T a m a y o et al. (2000) concluíram que a s organizações são constituídas por indivíduos q u e também f o r m a m a s sociedades, e q u e t o d o s o s indivíduos e n c o n t r a m o s m e s m o s problemas e exigências universais, q u e são as seguintes: 1. A relação entre o indivíduo e a coletividade — o indivíduo pertencente a u m grupo precisa adequar seus interesses individuais a o s da coletividade, e n e m s e m p r e existe h a r m o n i a entre estes dois interesses. 2. A estrutura da organização — a estrutura organizacional estabelece f o r m a s d e condução, execução e gestão dos interesses d a organização. 80 3. A relação da organização com o meio ambiente físico e social — toda organização ocupa u m lugar concreto n o universo. A inter-relação desta c o m outras organizações e c o m os problemas da c o m u n i d a d e na qual está inserida definem a sua relação c o m o meio ambiente físico e social. Tamayo et al. (2000) destacaram q u e " u m a organização (i.e., indivíduos o r g a n i z a d o s e m grupos) para poder subsistir t e m q u e procurar respostas e encontrar fontes que a s auxiliem a lidar c o m essas três necessidades ou problemas". O s autores apresentaram c o m o conclusão desse trabalho três dimensões bipolares para representar a s alternativas de respostas d a s organizações face a o s três problemas universais encontrados n a s organizações: 1) a u t o n o m i a (individualismo) vs. conservadorismo (coletivismo); 2) hierarquia (estrutura hierárquica) vs. igualitarismo (estrutura igualitária); 3) domínio vs. harmonia (formas d e lidar com o ambiente interorganizacional). (Schwartz & Ros, 1995, a p u d T a m a y o et al., 2000.) Por conseguinte, a s três dimensões constituem a base teórica para a construção d a Teoria Motivacional dos Valores Organizacionais, a saber: Autonomia vs. conservadorismo Essa dimensão representa o conflito entre o s interesses individuais e os d a coletividade. O s problemas individuais p o d e m ser solucionados pelas organizações c o n c e d e n d o autonomia para inventar, criar, trabalhar, decidir e inovar. O s valores característicos d o individualismo (autonomia) são centrados na autodeterminação (criatividade, curiosidade) q u e g a r a n t e m a o indivíduo o direito de perseguir, n a sua vida organizacional, suas próprias diretrizes intelectuais. São valores importantes empregado particularmente n a s organizações c o m o u m a entidade autônoma, habilitada q u e percebem para perseguir o seus próprios interesses e fixar suas metas e m harmonia c o m a s metas e normas d a organização. E m oposição a isso estão a s necessidades coletivas, o n d e a l g u m a s organizações t e n d e m para o conservadorismo c o m o u m a forma d e minimizar o s problemas d a coletividade. O s valores característicos a o s interesses d o grupo se referem à n e c e s s i d a d e d e conservação d o s usos, c o s t u m e s e estruturas d e poder. Esses valores geralmente enfatizam a manutenção d o status quo na organização, na interdição d e c o m p o r t a m e n t o s q u e p o s s a m perturbar a s normas cmsskí MAQom DE mmiA N U O B W S P - I P E M 81 e a s tradições d a e m p r e s a . O s valores d e s s e pólo são sociocêntricos c o m o o conservadorismo. Hierarquia vs. igualitarismo E m t e r m o s estruturais a s organizações s e situam entre esses dois pólos. A estrutura define o sistema social d a organização, c o m o a s funções d e v e m s e r e x e c u t a d a s , a s relações entre a s diversas unidades e o s m e m b r o s d a e m p r e s a . A s soluções d a d a s a esses p r o b l e m a s s e situam n u m continuo entre a hierarquia a o igualitarismo. O s valores característicos d e u m a estrutura hierárquica enfatizam u m a forma q u e garanta o c o m p r o m e t i m e n t o d o s m e m b r o s d a organização à s u a missão, t e n d o c o m o valores característicos, autoridade, poder social, influência, fiscalização e supervisão, e expressam u m a preferência nítida pela hierarquia. No outro pólo, a opção pela estrutura igualitária expressa a preocupação c o m o b e m - e s t a r dos outros e d a organização e m geral. O s valores característicos d e u m a estrutura igualitária implicam e m p o u c o s níveis d e autoridade e a opção por u m gerenciamento d o tipo participativo, o n d e a justiça social, a igualdade, a responsabilidade e a eqüidade estejam presentes na organização. Harmonia vs. Domínio T o d a organização existe n u m contexto geográfico e social e está inserida n o m u n d o d o m e r c a d o com características precisas e c o m concorrentes b e m definidos. U m a organização, a o definir seus valores centrais estará também manifestando s u a f o r m a d e lidar c o m a s outras organizações, o meio físico e social. A s organizações p o d e m estar centradas n a auto-afirmação e no domínio dos recursos materiais, d o mercado, d a tecnologia e d o c o n h e c i m e n t o na área específica d e atuação. N e s s a s organizações p r e d o m i n a m valores c o m u m a marcada tendência a o s u c e s s o pela eficácia e eficiência d e s e u s m e m b r o s . A s suas relações c o m outras organizações p o d e m ser definidas, principalmente, pelo desejo d e s u c e s s o e d e domínio e pela v o n t a d e nítida d e impor o s seus produtos e a sua i m a g e m . Por outro lado, a s organizações p o d e m estar centradas n a proteção d a natureza, cooperação, integração interorganizacional e enfatizar a harmonia c o m a natureza e c o m a s outras organizações. Essas organizações dão pnoridade a harmonizar-se c o m o ambiente externo por meio d e u m a relação pacífica e d e 82 cooperação c o m o m e i o ambiente e a sociedade, p r o m o v e n d o valores c o m o a paz, a tolerância e a cooperação. (Barnett & Carroll, 1987; Staber, 1992; apud T a m a y o et al. 2000.) N o capítulo 7 f o r a m analisados e discutidos o s resultados d a pesquisa com base nessas três dimensões d a Teoria Motivacional d o s Valores Organizacionais — T M V O , b e m c o m o c o m a s d u a s dimensões d a Teoria Motivacional d o s V a l o r e s Básicos q u e propiciam u m a dupla análise d a interrelação das n e c e s s i d a d e s e motivações individuais c o m a s d a organização. 4.5.3 Cultura organizacional A palavra cultura derivou metaforicamente d a idéia d e cultivo, d o processo d e lavrar e d e desenvolver a terra, c o m o descrito por M o r g a n (1996). A o falar d e cultura, refere-se, tipicamente, a o padrão d e d e s e n v o l v i m e n t o refletido nos sistemas sociais, n a ideologia, n o s valores, n a s leis e rituais cotidianos. A palavra é também habitualmente usada para fazer referência a o grau d e refinamento evidente e m tais sistemas d e crenças e práticas. A m b o s o s usos, c o m o explica M o r g a n (1996), derivam d a s obsen/ações d o século 19 a respeito das s o c i e d a d e s "primitivas" a o transmitir a idéia d e q u e diferentes sociedades manifestam diferentes níveis e padrões d e d e s e n v o l v i m e n t o social. N o s dias d e hoje, o conceito d e cultura v e m sendo usado mais genericamente para significar q u e diferentes grupos d e p e s s o a s têm diferentes estilos d e v i d a . S e g u n d o Fleury et a l . (1996) são diversos o s elementos formadores d e u m a cultura: o histórico d a organização, o processo d e socialização, a s políticas d e recursos h u m a n o s , o p r o c e s s o comunicação, a s técnicas d e investigação e a organização d o processo d e trabalho. O s pesquisadores Fleury et a l . (1996) c o n s t a t a r a m q u e nos últimos anos v e m a u m e n t a n d o consideravelmente o número d e p e s q u i s a s sobre o tema da cultura organizacional. A s pesquisas têm sido c o n d u z i d a s s o b o s mais diversos e n f o q u e s teórico-metodológicos. S e m q u a l q u e r pretensão d e esgotar o tema, a l g u m a s propostas f o r a m selecionadas para contextualizar a s diferentes linhas d e pesquisa. N a perspectiva d o psicólogo social Edgard S c h e i n (1990), a cultura organizacional é o conjunto d e pressupostos básicos (pressupostos básicos são conjecturas a n t e c i p a d a s o u respostas prévias sobre o q u e é, o q u e s e faz, o q u e 83 acontece). Q u a l q u e r ação positiva pode s e tornar u m pressuposto q u e u m grupo inventou, descobriu o u desenvolveu a o aprender c o m o lidar c o m problemas d e adaptação externa na integração interna. Para S c h e i n (1965), se a organização vivenciou experiências c o m u n s , pode existir u m a forte cultura organizacional q u e prevaleça sobre a s várias subculturas d a s u n i d a d e s . O q u e s e observa é q u e g r u p o s c o m background ocupacional s e m e l h a n t e tendem a desenvolver culturas próprias n o interior d a s organizações, c o m o , por exemplo, a cultura d o s gerentes, d o s engenheiros, d o sindicato etc. O autor afirma que o problema e m cultura organizacional é distinguir as particularidades d e cada grupo social dentro d e u m a cultura mais ampla. Ainda q u e u m a cultura p o s s a ser aprendida e desenvolvida c o m a experiência, Schein define diferentes níveis d e cultura conforme ilustrado n a FIG. 4.5.3.1 abaixo. Artefatos e Criações • Relativo ao ambiente físico e social da organização; • Padrões de comportamentos visíveis, documentos públicos. Visíveis mas nem sempre decifráveis VALORES Pressupostos Inconscientes • Como os membros do grupo percebem, pensam e sentem; • Comportamentos adequados para solucionar problemas. Invisíveis e tidos como certos FIGUIRA 4.5.3.1: Níveis da cultura organizacional. (Schein, 1985.) N o primeiro nível, o s artefatos visíveis s e referem a o ambiente construído d a organização, á arquitetura, a o layout, á maneira c o m o a s p e s s o a s se v e s t e m , a o s padrões d e c o m p o r t a m e n t o visíveis e a o s d o c u m e n t o s públicos, c o m o m a p a s o u cartas. É possível descrever c o m o u m g r u p o constrói o s e u 84 ambiente e quais são o s padrões d e c o m p o r t a m e n t o discerníveis entre o s seus membros. O segundo comportamento nível d i z respeito d a s pessoas. Como a o s valores esses que governam o são difíceis d e s e observar diretamente, para o s identificar é preciso entrevistar o s m e m b r o s - c h a v e d a organização o u realizar a análise d e conteúdo d e d o c u m e n t o s formais da organização. Esses valores expressam o q u e a s p e s s o a s reportam ser a razão d o seu comportamento, o q u e na maioria das vezes são idealizações o u racionalizações. A s razões subjacentes a o s e u c o m p o r t a m e n t o p e r m a n e c e m , entretanto, e s c o n d i a s o u inconscientes. O terceiro nível se refere a o s pressupostos inconscientes q u e d e t e r m i n a m c o m o o s m e m b r o s d e u m g r u p o p e r c e b e m , p e n s a m e s e n t e m . Na medida e m q u e certos valores compartilhados pelo grupo conduzem a determinados comportamentos e esses comportamentos se mostram adequados para solucionar p r o b l e m a s , o valor é g r a d u a l m e n t e t r a n s f o r m a d o e m u m pressuposto inconsciente sobre c o m o a s coisas realmente são. E m u m outro estudo desenvolvido por Schein (1985) sobre cultura e liderança, o autor mostra q u e esses dois problemas estão inter-relacionados. O autor argumenta que a cultura ajuda a explicar diversos fenômenos organizacionais, interfere n a efetividade d a organização e q u e a liderança é o processo f u n d a m e n t a l pelo qual a s culturas são f o r m a d a s e modificadas. S c h e i n (1985) definiu o papel d o líder c o m o gestor d a cultura organizacional, para criá-la, modificá-la e até m e s m o destruí-la. E m seguida afirma q u e , cultura e liderança são "dois lados d a m e s m a m o e d a " , e q u e n e n h u m a das d u a s p o d e ser entendida por si só. U m a outra linha d e pesquisa conduzida por M. P a g e s et al. (1993) foi baseada e m profissionais d e e m p r e s a s européias, e cujo resultado apresenta d a seguinte característica: " O indivíduo está ligado á organização não apenas por laços materiais e morais, por vantagens econômicas e satisfações ideológicas, mas também por laços psicológicos. A estrutura inconsciente de seus impulsos e de seus sistemas de defesa é ao mesmo tempo modelada pela organização, mas também se enxerta nela de tal forma que o indivíduo reproduz a organização não apenas por motivos racionais, mas por razões mais profundas que escapam á sua consciência." 85 O pesquisador Blanchard (1997) defende u m a teoria b a s e a d a n a administração por valores, claros e b e m definidos e i m p r e g n a d o s n o dia-a-dia d a e m p r e s a c o m o s e n d o u m grande desafio. S e g u n d o B l a n c h a r d , para s e ter u m a cultura organizacional motivada se faz necessário fazer u m a gestão organizacional b a s e a d a e m três pilares, a saber: 1. Missão, propósitos e valores "claros" e b e m definidos; 2. Missão, propósitos e valores "comunitários" totalmente i m p r e g n a d o s n a organização; 3. Missão, propósitos e valores "alinhados" às práticas diárias e na rotina d o dia-a-dia. Para A l v e s (1997) apud Broxado (2001), o s valores são o s elementos centrais d a cultura d e uma organização, sendo a seguinte sua definição d e cultura organizacional: "Um padrão complexo de crenças, valores, pressupostos, símbolos, móveis, máquinas e utensílios, normas e políticas, freqüentemente personificado em heróis, difundido na empresa pelos canais de comunicação, pela maior ou menor quantidade de comunicação verdadeira e original, e pela adesão maior ou menor dos mitos, estórias, rituais e sua abrangência no processo cultural inteiro." E s s e conjunto d e elementos culturais é o reflexo d a s escolhas o u preferências d a liderança empresarial, e é d e f o r m a consciente o u inconsciente compartilhada p o r t o d o s d a e m p r e s a tanto n o a m b i e n t e interno c o m o para o reflexo n o a m b i e n t e externo. A cultura organizacional é u m a espécie d e lente através d a qual a s p e s s o a s vêem o m u n d o e q u e a s leva a considerar o seu m o d o de vida o mais natural. N a concepção d o autor, o s valores organizacionais têm o seguinte significado: "São idéias, reflexões e sentido compartilhados que as pessoas têm do que é vital, importante e acessível para o grupo a que pertencem. Nascem do ambiente que circunda o indivíduo (percepções, aprendizagens, convivências, educação familiar) e são guias que dão sentido à vida dos membros do grupo, correlacionando e juntando duas atividades." 86 Para o pesquisador iHofstede (1980), q u e há mais d e urna década s e dedica a o e s t u d o d e cultura organizacional, a s diferenças culturais se manifestam de diferentes f o r m a s , o n d e o s símbolos, o s heróis, o s rituais e o s valores são manifestações d o s p o v o s e d e sua cultura. Hofstede "camadas representa d e u m a cebola". essas Nessa manifestações representação, e m níveis o s símbolos como as são o s representantes d a s manifestações mais superficiais d e u m a cultura e o s valores, as mais profundas. O s heróis e rituais situam-se n u m a c a m a d a intermediária dessa cebola. Para Hofstede o s níveis d e uma cultura têm o s seguintes significados: • Os símbolos são a s palavras, gestos, figuras o u objetos q u e transportam u m significado particular que é a p e n a s r e c o n h e c i d o pelos q u e partilham a cultura; • Os heróis são pessoas, vivas o u falecidas, reais o u imaginárias, q u e p o s s u e m características altamente valorizadas n u m a determinada cultura e q u e por isso s e r v e m d e modelos d e c o m p o r t a m e n t o ; • Os rituais são atividades coletivas, t e c n i c a m e n t e supérfluas, para atingir fins d e s e j a d o s , m a s considerados c o m o essenciais n u m a determinada cultura: c o m o f o r m a s d e cumprimentar o u transmitir respeito a o s outros, cerimônias sociais o u religiosas constituem a l g u n s e x e m p l o s ; • Os valores f a z e m parte das primeiras coisas q u e a s crianças a p r e n d e m d e f o r m a muitas v e z e s inconsciente. O s psicólogos d o desenvolvimento p e n s a m q u e por volta d o s 10 anos a maioria d a s crianças t e m o s e u sistema básico d e valores solidamente adquirido, e q u e s e torna muito difícil modificá-lo após essa idade. Pelo fato d e s u a aquisição precoce, a maioria d e n o s s o s valores são inconscientes. É difícil falar sobre eles, e não são d i r e t a m e n t e perceptíveis d o exterior. P o d e m ser deduzidos através d a f o r m a c o m o a s pessoas atuam e m face d e circunstâncias várias. A i n d a s e g u n d o Hofstede (1990), cada u m d e nós transporta padrões d e p e n s a m e n t o s , s e n t i m e n t o s e d e ações potenciais, q u e são resultado d e u m a a p r e n d i z a g e m contínua. Essa aprendizagem s e dá e m b o a parte n o decurso d a infância, período e m q u e s o m o s mais susceptíveis à a p r e n d i z a g e m e assimilação. Q u a n d o certos padrões d e pensamentos, sentimentos e c o m p o r t a m e n t o s s e 87 instalam n a m e n t e d e cada u m d e nós, c h a m a m o s a e s s e processo d e programação m e n t a l . A programação mental é Iniciada n a familia, continua n a vida d o bairro, na escola, n o s g r u p o s d e jovens, n o local d e trabalho e na c o m u n i d a d e . A s programações mentais são usualmente d e s i g n a d a s pelo t e r m o cultura. Esse termo t e m muitos significados, todos derivados d e sua fonte latina, q u e s e refere à lavoura d a terra. Na maioria d a s línguas ocidentais, "cultura" é equivalente a "civilização" o u "refinamento d a mente", e o resultado d e s s e refinamento é, muitas v e z e s , a educação, a arte e a literatura, o u cultura n o sentido restrito. N o entanto, a cultura c o m o programação mental c o r r e s p o n d e a u m sentido mais lato da palavra, acepção c o m u m e n t e a d o t a d a entre o s antropólogos sociais. 4.5.4 Clima organizacional A palavra "clima" t e m origem n o g r e g o Klima, q u e significa tendência, inclinação. Q u a n d o s e e x a m i n a a evolução d a teoria administrativa, ê possível perceber q u e , a partir d e determinado estágio, a s organizações começam a ser c o m p a r a d a s a o r g a n i s m o s vivos. M o r g a n (1996), e m s e u livro Imagens da Organização, traduzido por Bergamini e C o d a , c o m p a r a metaforicamente a s organizações a seres vivos, fazendo u m paralelo entre moléculas e indivíduos, células e grupos, organismos complexos e organizações. O s pesquisadores Bergamini e C o d a (1997) d e d i c a m u m trabalho específico á pesquisa d e clima organizacional n a s organizações. C o d a (1997) relata a importância c o m q u e a s e m p r e s a s brasileiras têm tratado t e m a s c o m o motivação e satisfação no trabalho. Para C o d a , motivação é u m a energia direta o u intrínseca, ligada a o significado e á natureza d o próprio trabalho realizado. Satisfação é u m a energia indireta ou extrínseca, ligada a aspectos como salário, benefícios, reconhecimento, chefia, colegas e várias outras condições q u e precisam ser atendidas n o a m b i e n t e d e trabalho. São e s s e s aspectos extrínsecos o s elementos básicos f o r m a d o r e s daquilo q u e é c h a m a d o d e clima organizacional, e q u e nada mais é d o q u e o indicador d o nível d e satisfação ( o u Insatisfação) experimentado pelos e m p r e g a d o s n o trabalho. 88 A literatura contemporânea afirma que, quando os empregados p e r c e b e m q u e existe n o lugar de trabalho u m potencial para a satisfação das suas necessidades psicológicas, envolvem-se c o m mais e n t u s i a s m o n o trabalho e dedicam mais t e m p o e esforço ao m e s m o . Por outro lado, muito e m b o r a o s efeitos d a insatisfação n o trabalho não t e n h a m sido ainda suficientemente m a p e a d o s pelas organizações brasileiras, sabe-se, c o m o relata C o d a (1997), q u e a s prováveis conseqüências negativas estão ligadas a o c o m p r o m e t i m e n t o d a saúde física e metal d o s e m p r e g a d o s , stress, faltas, baixa produtividade e desempenho n o trabalho, inércia organizacional e, finalmente, dificuldade d e implantação eficaz d e programas d e melhoria d a qualidade. E m outubro d e 1 9 9 1 , foi criada, n o Brasil, a Fundação para o Prêmio Nacional d a Q u a l i d a d e ( F P N Q ) que, d e s d e 1992, administra o Prêmio Nacional d a Qualidade ( P N Q ) . E s s e prêmio é u m reconhecimento, na f o r m a d e u m troféu, a excelência n a gestão d a s organizações sediadas n o Brasil, e está b a s e a d o e m u m conjunto d e sete critérios a partir d o c o m p a r t i l h a m e n t o d e experiências entre organizações d o s setores público e privado. Entre e s s e s critérios, encontra-se o item "Satisfação d o s Funcionários e Motivação", q u e é avaliado por meio d e pesquisas d e clima organizacional. O P N Q revolucionou a gestão d a s organizações brasileiras e e m especial a s d o setor público, c o m o foi o caso d o IPEN q u e , e m abril d e 1 9 9 7 , aderiu a o Projeto d e Excelência n a Pesquisa Tecnológica d a ( A B I P T ) , t o m a n d o por referência o P N Q . A s pesquisas d e clima organizacional s e caracterizam c o m o u m canal de comunicação entre a direção e o corpo d e e m p r e g a d o s d a organização. R e p r e s e n t a m u m m o d o constante d e obter e d e fornecer f e e d b a c k , m a n t e n d o o foco voltado para a s necessidades dos e m p r e g a d o s . C o n s t i t u e m u m a ferramenta valiosa q u e permite identificar, categorizar e analisar a s percepções q u e o s integrantes d e u m a organização têm sobre a própria e m p r e s a . Elas m a p e i a m o ambiente interno d a organização c o m o u m ponto d e partida igualmente válido para a mudança e o desenvolvimento organizacional. Configura, portanto, u m diagnóstico s o b r e a situação atual d a e m p r e s a , t o m a n d o p o r base a s opiniões d e seus integrantes, q u a s e e m caráter clínico, o u seja, v i s a n d o levantar disfunções ou p r o b l e m a s q u e mereçam correção. 89 C o n f o r m e m e n c i o n a d o por C o d a (1997), o s níveis d e satisfação n o trabalho estão tão baixos nos dias d e hoje q u e s e torna multo difícil afirmar q u e o s fatores relativos a o clima organizacional têm a p e n a s u m papel indireto e m relação ã motivação. E s s e s fatores são q u a s e confundidos c o m a própria motivação direta, h a v e n d o u m a crença generalizada n a s organizações brasileiras d e q u e as p e s s o a s só dão importância a o s fatores externos e não a o conteúdo d o próprio trabalho realizado. Finalizando, C o d a (1997) vai mais além e diz q u e u m próximo passo na evolução d o uso d e pesquisas d e clima organizacional seria o d e s e incluir temas que permitissem empregados avaliar até q u e ponto de empreender existe a predisposição entre os mudanças, e quais mudanças necessárias. O autor ainda discorre sobre a n e c e s s i d a d e seriam mais urgente d e se desenvolver o a p r e n d i z a d o tanto adaptativo quanto d e inovação, através d e u m p r o c e s s o d e aquisição, disseminação e c o m p a r t i l h a m e n t o d e informações q u e nada mais é d o q u e a essência e a base d a pesquisa d e clima organizacional. T a m a y o (1998) realizou u m a pesquisa c o m o objetivo d e estudar a relação entre a percepção dos valores d e u m a organização e o s c o m p o r t a m e n t o s d e c o m p r o m e t i m e n t o organizacional afetivo, cidadania organizacional e satisfação no trabalho. Utilizou u m a amostra c o m p o s t a por 4 9 0 sujeitos d e 10 e m p r e s a s diferentes. Utilizou quatro escalas d e mensuração: escala fatorial d e valores organizacional d e T a m a y o & Gondin (1996), escala d e satisfação n o trabalho, escala de comportamento de cidadania organizacional e escala de c o m p r o m e t i m e n t o organizacional afetivo d e Siqueira (1995). C o m o conclusão, o autor verificou existir congruência entre o s três c o m p o r t a m e n t o s organizacionais e s t u d a d o s e o s valores organizacionais, q u e p o d e m s e r explicados pela própria função d o s valores q u e é a d e orientar a vida d a organização e, e m conseqüência, o c o m p o r t a m e n t o organizacional d o s seus m e m b r o s . A percepção das prioridades axiológicas d a organização dá origem a u m a i m a g e m mental d a e m p r e s a q u e oferece a o e m p r e g a d o a possibilidade d e predição e controle d o s e u próprio c o m p o r t a m e n t o e d o c o m p o r t a m e n t o dos outros. A F I G . 4.5.4.1 ilustra a relação dinâmica entre a percepção d a s prioridades axiológicas e o c o m p o r t a m e n t o organizacional. 90 Vida Organizacional: Comportamentos, normas, tradições, rituais, diretivas gerenciais. VALORES Imagem Mental da Empresa Comportamento: • Cidadania; • Comprometimento; • Satisfação. J FIGURA 4.5.4.1: Modelo da Relação entre Valores Organizacionais e Comportamento (Tamayo, 1998) No cotidiano d a s organizações, o e m p r e g a d o toma conliecimento d e diretivas gerenciais, tradições e rituais existentes, observa o c o m p o r t a m e n t o d e colegas, d e chefes, d e diretores, analisa a s rotinas d e trabalho e a s formas gerais de agir na m e s m a . A partir desses elementos, infere a s prioridades axiológicas d a organização. D e certa forma, c o m o relata T a m a y o (1998), o s valores são as causas atribuídas pelo e m p r e g a d o para explicar o c o m p o r t a m e n t o observado e a vida d a organização. O s valores, se considerados c o m o princípios que orientam a vida d a organização, são utilizados pelos e m p r e g a d o s para dar sentido a o m u n d o no qual trabalha. 4.5.5 Mensuração dos valores organizacionais S e g u n d o Perron (1987), é útil definir c o m precisão a noção de valor d o ponto d e vista operacional e é também indicado considerar atentamente a maneira d e medir a s manifestações dos valores. Para Perron são três o s métodos de medida d o s valores: 1) o de observação e inferência, 2) o q u e s e inspira nos princípios d e análise fenomenológica e 3) o q u e utiliza questionários, inventários ou escalas. A b a i x o se apresentam a s descrições dos três métodos d e acordo com Perron: 1) O método de observação ou inferencial — aplica-se a diversos tipos d e conteúdos d e observação o u d e informação. C o m a utilização desse método e o auxílio da técnica de análise dos conteúdos verbais ou escritos p o d e m ser percebidos o s valores subjacentes às realizações d e u m indivíduo o u d e um grupo d e p e s s o a s . A s vantagens d o método inferencial na mensuração dos valores são a s d a observação ambiental exata e d o conteúdo a ser estudado. 2) O método fenomenológico — f u n d a m e n t a - s e na autodescrição e é e m p r e g a d o n o estudo d e personalidade ( B e m , 1970) e, mais particularmente, no cmssk) MACiof^vL ct mmh mamisp-\m 91 do autoconceito, q u e consiste e m recollier a s respostas d o sujeito a perguntas b e m simples, tais c o m o : "Quais são o s s e u s valores?" A v a n t a g e m d e s s e método é q u e o sujeito não se prende a n e n h u m a escala o u listas d e conteúdos preestabelecidos pelo pesquisador, o sujeito relata o s conteúdos q u e s e e n c o n t r a m n o seu c a m p o d e consciência. 3) O método psicométrico — utilizado para medir, por meio d e questionários, inventários, escalas o u outros instrumentos análogos, o s valores percebidos pelos sujeitos d e u m a população. E m relação a o s dois outros métodos, o inferencial o u o fenomenológico, o psicométrico t e m a v a n t a g e m d e ser aplicado d e m o d o mais fácil e a u m a amostra grande d e sujeitos. Outra v a n t a g e m é a ausência d e erros inerentes ás inferências e ás interpretações. Além d o m a i s , este método propicia u m a variada g a m a d e análises quantitativas dos d a d o s . O método psicométrico utiliza-se d e técnicas c o m escalas e m pontos q u e não c o l o c a m o sujeito diante d e u m a escolha forçada. A escala e m pontos mais c o n h e c i d a é a d e Likert (1932), q u e a construiu para medir a s atitudes. Há vários outros tipos d e escalas e m ponto, c o n f o r m e a natureza d o continuum utilizado, o número d e pontos e s e u tipo. A s escalas p o d e m ser bipolares o u unipolares, c o n f o r m e s e e s t e n d e m do pólo negativo a o positivo, p a s s a n d o por u m ponto zero, o u então p o d e m iniciar e m zero o u e m u m mínimo até atingir u m nível máximo e, p o d e m ter u m número par ou i m p a r d e pontos. A g r a n d e maioria d a s escalas oferece opções e m pontos d e 1 a 5, o u pode utilizar-se d e expressões c o m o mínimo e máximo. O s e s c o r e s d o s sujeitos são analisados estatisticamente, obtendo-se resultados q u e se situam dentro d e u m a população e não s o m e n t e c o m o d a d o s d o indivíduo. U m a d a s críticas ãs escalas e m p o n t o s são n o sentido d e q u e o s sujeitos p o d e m tender a dar poucas respostas n o s e x t r e m o s d a escala, fenômeno descrito c o m o erro d a tendência central. N e s s e s casos, p o d e m ser normalizados o s e s c o r e s para minimizar esse erro d a tendência central. 4.5.6 Ideologia central das organizações Segundo psicólogo francês Pages et a l . (1993), a ideologia p r e d o m i n a n t e n u m g r u p o social o u e m u m a instituição constitui d e fato u m a 92 bricolage^^ d e e l e m e n t o s disparatados resultantes d e influências variadas, iieranças d e períodos diferentes. U m a classe, ainda q u e d o m i n a n t e , só pode impor u m a ideologia c o n f o r m e seus interesses particulares n a medida e m q u e c o n s e g u e integrar a s ideologias próprias daqueles q u e e l a quer submeter. Deve oferecer u m a interpretação real relativamente coerente c o m a s práticas sociais dos m e m b r o s d a instituição e lhes fornecer u m a concepção d o m u n d o conforme suas aspirações. Para Pagès et al. (1993), o s funcionários c o m p a r t i l h a m cada v e z mais da ideologia d e u m a instituição n a medida e m q u e participam d e s u a elaboração, e m u m vasto processo d e autopersuasão, o q u e contribui para a s u a própria submissão. Além disso, quanto maior a interação d o s funcionários c o m a ideologia d a organização, maior será s u a contribuição para u m a produção competente. A s mais recentes referências bibliográficas sobre comportamento organizacional, mais especificamente n o q u e se refere aos e s t u d o s sobre eficácia e eficiência e organizações competentes, reservam u m espaço considerável a o s valores vigentes n e s s a s organizações. O s pesquisadores Collins et al. (1995) realizaram u m a pesquisa q u e foi desenvolvida junto a e m p r e s a s excepcionais e q u e s o b r e v i v e r a m a o teste d o t e m p o , o u seja, q u e c o m p l e t a r a m pelo m e n o s 100 a n o s , e m média, d e s d e a sua fundação. O s autores descobriram alguns princípios eternos d e gerenciamento q u e distinguiram e d e s t a c a r a m a s e m p r e s a s excepcionais e s t u d a d a s d a s demais existentes n o m e r c a d o d e s d e o século passado c o m o s seguintes métodos, a saber: 1) D a r a s f e r r a m e n t a s — C o m o nível d e aceleração d a s mudanças tecnológicas, o a u m e n t o d a concorrência global e o s ciclos d e vida cada vez mais curtos d o s produtos, a vida útil d e qualquer idéia específica continuará a diminuir. Não importa s e é u m a grande idéia, ela s e tornará obsoleta m a i s rápido d o q u e e m qualquer ponto n o passado. C o n s i d e r a n d o q u e t o d o s o s líderes m o r r e m , a o s e dar ferramentas, procura-se transcender essa realidade imutável. O u seja, o foco t e m d e estar, e m primeiro lugar, n a formação das caracteristicas d a organização. o t e r m o francês bricolage f o i u t i l i z a d o s e m tradução p o r não t i a v e r e m português u m a p a l a v r a c o m o s e n t i d o c o r r e s p o n d e n t e q u e v e m a s e r : é a atividade de aproveitar coisas usadas, quebradas ou apropriadas para outro uso, em um novo arranjo, ou em uma nova função. 93 Segundo Collins et a l . , mais d o q u e n u n c a a s e m p r e s a s não conseguirão s e manter d e pé c o m o s métodos tradicionais d e controle: hierarquia, sistemas, orçamentos etc. Até m e s m o ir a o escritorio vai s e tornar m e n o s relevante, já q u e a tecnologia permite q u e a s p e s s o a s t r a b a l h e m a partir d e locais remotos. N u m futuro próximo, a s e m p r e s a s serão cada v e z mais mantidas por sua ideologia. O s autores afirmam q u e a s pessoas ainda têm u m a necessidade h u m a n a d e pertencer a algo d e q u e p o s s a m s e orgulhar. Elas necessitam d e valores e d e u m objetivo q u e p o s s a m dar significado às s u a s vidas e a o s seus trabalhos. Elas precisam estar ligadas a outras pessoas, c o m p a r t i l h a n d o com elas crenças e aspirações e m c o m u m . Mais d o q u e nunca, o s e m p r e g a d o s exigirão a u t o n o m i a operacional a o m e s m o t e m p o e m q u e exigirão q u e a s organizações às quais estão ligados d e f e n d a m algo. 2) Metas Audaciosas (MA) — A s metas a u d a c i o s a s motivam a s p e s s o a s a trabalhar e a s e dar conta d e q u e trabalhar é excitante. A s e m p r e s a s que b u s c a m a g r a n d e z a terão d e estimular i n c a n s a v e l m e n t e mudanças e melhorias antes q u e o m u n d o as exija. A s e m p r e s a s q u e imitam a evolução d a s espécies mais aptas — aquelas q u e tentam várias coisas e aplicam o q u e dá certo — terão maiores chances d e sobreviver n u m a m b i e n t e imprevisível e mutante; a s outras provavelmente serão extintas. Para Collins et al. (1995), a s metas a u d a c i o s a s têm o poder de: • Envolver — d e v e ser algo concreto, excitante, voltado para algo altamente específico; • Estimular — motivar a s p e s s o a s a perseguir a satisfação d e suas n e c e s s i d a d e s , e por esse motivo e l a d e v e s e r claramente b e m transmitida d e f o r m a q u e precise d e p o u c a o u n e n h u m a explicação sobre sua consecução; • Exigir desafios — elas geralmente estão muito longe d a zona d e conforto e e x i g e m u m grande c o m p r o m i s s o e e m p e n h o para atingi-las; • Estimular o progresso — por si só, u m a m e t a audaciosa poderá continuar estimulando o progresso mesmo q u e o s líderes da organização desapareçam antes d a sua conclusão. 94 • Preservar o núcleo e estimular o progresso — a s e m p r e s a s terão d e adotar a dinâmica d o Y I N e Y A N G , o u seja: preservar o núcleo e estimular o progresso. Para o s autores, uma m e t a audaciosa s e m p r e corre o risco inerente d e , u m a v e z atingida, fazer c o m q u e a organização e m p a q u e e fique vivendo a síndrome d o " c h e g a m o s lá". U m a e m p r e s a t e m d e estar preparada para evitar isso c o m a s metas audaciosas, c o m outros métodos q u e v e n h a m a estimular o progresso contínuo d a e m p r e s a . A s e m p r e s a s q u e sobreviverão n o século 21 terão d e s e tornar cada v e z mais fanáticas quanto a preservação d e sua ideologia central e c a d a v e z mais agressivas q u a n t o a conceder autonomía operacional a o s seus e m p r e g a d o s . O s autores a f i r m a m q u e : "Se uma organização desejar vencer os desafios de um mundo em constante transformação, ela tem que estar preparada para mudar tudo em si, exceto sua crenças básicas, á medida que for progredindo na vida corporativa. A única vaca sagrada de uma organização deve ser sua filosofia básica". Por outro lado, os pesquisadores Peters e Walterman (1982) identificaram nas e m p r e s a s de alto padrão pesquisadas ( a m o s t r a g e m inicial d e 7 5 c o m p a n h i a s altamente reputadas), oito atributos q u e caracterizam a s e m p r e s a s c o m o inovadoras e d e alto padrão, tais c o m o : 1. Uma firme disposição para agir — Fazer, decidir, tentar manter-se ágil, i.e., e v i t a r e entorpecimento, e m contraponto a o crescimento. 2. Ao lado e junto do cliente — Priorizar atender com qualidade, rapidez e confiabilidade o s clientes. 3. Autonomia e iniciativa — Criatividade e liderança, a s e m p r e s a s i n o v a d o r a s são aquelas que forjam e p r o m o v e m líderes Inovadores. 4. Produtividade através das pessoas — O respeito a o s indivíduos a u m e n t a a motivação e, conseqüentemente, a qualidade e a produtividade. 5. Mãos à obra orientadas por valores — "A filosofia básica d e u m a e m p r e s a influi muito mais sobre suas realizações d o q u e seus recursos econômicos o u tecnológicos, s u a estrutura organizacional, s u a inovação e c r o n o g r a m a s . " (Depoimento d e T o m W a t s o n Jr., filho d e T h o m a s W a t s o n , f u n d a d o r d a I B M , e m 1914.) 95 6. Ater-se ao conhecido — "Nunca entre n u m negócio q u e você não conlieça", palavras d e Robert. W . J o h n s o n , d a e m p r e s a J o h n s o n & Johnson. 7. Formas bem simples e equipes dirigentes pequenas — A estrutura organizacional d a s e m p r e s a s d e alto padrão m o s t r a r a m u m a "elegante simplicidade" e equipes dirigentes reduzidas, o u seja, p o u c o s niveis d e comando. 8. Propriedades flexíveis simultâneas — básicos da empresa, o u seja, IVIantendo-se centralizadas o s princípios nos seus valores e descentralizadas nas ações. O b s e n / a - s e q u e o s oito atributos identificados por Peters e W a l t e r m a n (1982) n a s e m p r e s a s d e alto-padrão, s e m exceção, s e referem ás p e s s o a s q u e compõem a s e m p r e s a . O m e s m o foi verificado por Collins et a l . (1995) n a s e m p r e s a s visionárias; o sucesso s e baseia na ideologia central, tendo e m vista que a s p e s s o a s n e c e s s i t a m d e valores e d e u m objetivo q u e possa dar significado às suas v i d a s e aos seus trabalhos. C o m o conclusão da pesquisa conduzida por Peters e W a l t e r m a n (1982), o s autores apresentaram u m m o d e l o d e estrutura organizacional b a s e a d o e m três pilares, e m face às três necessidades f u n d a m e n t a i s d a s organizações, para a s q u a i s d e v e m estar preparadas para d a r respostas apropriadas, s e quiserem ultrapassar o século 2 1 . São elas: 1) N e c e s s i d a d e d e eficiência e m relação a o s e l e m e n t o s básicos; 2) N e c e s s i d a d e d e uma inovação constante e regular; 3) N e c e s s i d a d e d e evitar a escleroso, garantindo u m mínimo d e sensibilidade e d e reação às principais ameaças; C o m três pilares d e sustentação: 1) Pilar d a estabilidade, e m resposta à necessidade d e eficiência c o m relação a o s elementos básicos; 2) Pilar e m p r e e n d e d o r , destinado a responder á necessidade d e u m a inovação constante e regular; 3) Pilar d e "romper-com-o-hábito", e m resposta à necessidade d e evitar a escleroso. O d i a g r a m a apresentado na FIG. 4.5.6.1 é b a s e a d o na manutenção d e uma forma subjacente simples e coerente, e, a o m e s m o tempo, no 96 d e s e n v o l v i m e n t o e manutenção d e valores p e r m a n e n t e s a m p l o s e a o m e s m o t e m p o flexíveis. (3) Romper com os velhos hábitos (mudança de atenção) (2) (1) Capacidade empreendedora (iniciativa) Estabilidade FIGURA 4.5.6.1: Diagrama de Peters e Walterman (1982) N a opinião d o s autores, o s traços m a r c a n t e s d o primeiro pilar, o d a estabilidade, são a simplicidade d a f o r m a básica subjacente d o s valores d o m i n a n t e s e a s interfaces minimizadoras e simplificadoras d a velha estrutura organizacional. E m outras palavras, poderia parecer estranho falar d e valores a propósito d e u m a estrutura organizacional, m a s s e m p r e é preciso lembrar q u e a estrutura organizacional definida e m termos mais a m p l o s é, n a realidade, o padrão d e comunicação. O s traços marcantes d o s e g u n d o d o pilar e m p r e e n d e d o r são o s sistemas d e avaliações d e medidas e a utilização d o s e l e m e n t o s d a equipe d e direção d a corporação. Q u a n d o a f o r m a é simples e não d e p e n d e d e grandes sistemas integradores é perfeitamente possível sobreviver c o m sistemas mais simples e c o m e q u i p e s dirigentes m e n o r e s para administrar a organização. N a visão d o s autores, a s divisões organizacionais c o m o transportes, finanças e pessoal, d e v e m trazer para dentro d e seus m u r o s todos o s recursos e apoios dirigentes d e q u e possam necessitar, para que possam ter capacidade e m p r e e n d e d o r a e iniciativa. O s traços marcantes d o terceiro pilar, o d e romper c o m o s velhos hábitos, baseia-se e m técnicas estruturais q u e viabilizem u m a reorganização constante e regular, fundamental para enfrentar desafios e pressões para mudar 97 e, a o m e s m o t e m p o para q u e a organização possa m a n t e r toda a integridade subjacente dos valores. E m resumo, trata-se da coexistência d e u m a firme direção central c o m u m máximo d e a u t o n o m i a individual, n u m processo a p a r e n t e m e n t e paradoxal a que o s autores d e n o m i n a r a m de "guardar o doce e comê-lo a o m e s m o tempo". O s autores citam que T h o m a s W a t s o n , f u n d a d o r d a I B M , teria dito: " O s valores são realmente t u d o o q u e importa". Outras figuras marcantes d e e m p r e s a s excepcionais, c o m o Lèvi-Strauss, Bill Hewlett e D a v e Packard disseram que "viviam e respiravam pelos seus valores". S e g u n d o Collins et al. (1995), para s e definir a ideologia central d e uma organização d e v e s e r f o r m a d o u m g r u p o constituído por p e s s o a s - c h a v e dessa organização. T e n d o c o m o subsídios o s valores hierarquizados, c o m base e m pesquisa q u e leve e m consideração a percepção dos funcionários. O número d e pessoas-chave para participar d a definição d a ideologia central varia d e acordo c o m o t a m a n h o e a idade d a instituição. Esse grupo d e p e s s o a s - c h a v e não deve consistir a p e n a s d e alguns chefes, apesar d e q u e alguns deles p o s s a m estar presentes. O s valores q u e constituirão a ideologia central d a u m a organização não d e v e m exceder a seis, d e v e m passar pelo teste do t e m p o , o u seja, o s valores d o núcleo central d e v e m persistir e continuar a guiar a instituição e m todas a s circunstâncias. D i g a m o s , por e x e m p l o , q u e o valor "qualidade" foi b e m cotado na percepção d o s servidores d e u m a instituição; o grupo e n c a r r e g a d o d e realizar o trabalho d a ideologia central deverá s e perguntar s e qualidade, daqui a 10 anos, será igualmente importante c o m o guia para essa instituição. D i g a m o s q u e daqui a 10 anos a velocidade e a potência sejam valores mais importantes para essa instituição. C o m o proceder então c o m o valor qualidade? Ele poderá ser priorizado c o m o u m a estratégia d a instituição? Sendo a s s i m , o s p r o g r a m a s d e melhoria d a qualidade seriam u m m e c a n i s m o para estimular o progresso? "As estratégias p o d e m m u d a r d e a c o r d o c o m a mudança das condições d e mercado, m a s os valores centrais d e v e m p e r m a n e c e r intactos." (Collins et al.,1995.) A ideologia central d e u m a organização não d e v e ser criada o u estabelecida. D e v e - s e fazer u m a introspecção para q u e ela seja autêntica. 98 É preciso acreditar nos valores, na missão e nos objetivos c o m paixão! C a s o contrário, eles ficarão na retórica e não serão n e m reais n e m centrais. 4.6. Fundamentação teórica A Teoria Motivacional d o s Valores Básicos - TMV e a Teoria Motivacional dos Valores Organizacional - TMVO, d e S c h w a r t z et al. forneceram as bases teóricas para análise dos d a d o s desta pesquisa. Ambas a s teorias n o s auxiliam a verificar q u e o s valores são b a s i c a m e n t e o s m e s m o s , sejam a q u e l e s básicos relacionados a o s indivíduos sejam a q u e l e s organizacionais o u culturais, relacionados ás sociedades, a o s países, enfim a o s povos. Porque o número total d e valores é relativamente p e q u e n o e a s p e s s o a s hierarquizam seus valores segundo seus três níveis de prioridade: individual, societal e sócio-institucional. Estas duas teorias possibilita-nos perceber q u e a s motivações individuais são b a s i c a m e n t e a s m e s m a s , o q u e a s diferenciam entre si são c o m o as p e s s o a s o u a s instituições priorizam seus valores, e, ainda, c o m o esses valores s e relacionam entre s i . Q u a n d o o s valores individuais estão e m sintonia c o m o s organizacionais a s p e s s o a s c o n s e g u e m , e m grupo, d e s e m p e n h a r melhor seus papeis e m sociedade e alcançar seus objetivos c o m satisfação. A F I G U R A 4.6.1 a seguir d e m o s t r a d e f o r m a esquemática a relação entre o s valores individuais e grupais. 99 AUTOTRANSCENDÊNCIA A B E R T U R A IGUALITARISIVK ^ CONSERVADORISMO DOMINIO M U D A N ç A AUTOPROMOÇÃO FIGURA 4.6.1 - Relação entre as Teorias dos Valores Básicos e Organizacional. C O N S E R V A Ç Ã O 100 5 METODOLOGIA DE PESQUISA "Não importa quantos cisnes brancos possamos obsen/ar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos." K. Popper, 1999.^^ O m o d e r n o filósofo da ciência Mário B u n g e (1976f° ensina q u e a verdade na natureza é u m a função assintótica d e c o n h e c i m e n t o s a c u m u l a d o s , tanto e m bases objetivas quanto subjetivas. E m b o r a a m b a s sejam abordagens válidas, n e m m e s m o o sinergismo entre elas pode garantir a elucidação completa da v e r d a d e , d a qual poder-se-ia alcançar g r a n d e proximidade, m a s nunca domínio c o m p l e t o . O método selecionado para o d e s e n v o l v i m e n t o desta pesquisa foi o d e estudo d e c a s o q u e pode ser aplicado a u m o u a múltiplos casos. D e acordo c o m Yin (1988), "o e s t u d o d e caso é a forma de se fazer pesquisa social empírica a o investigar-se u m fenômeno onde o contexto não é claramente definido, e e m situação e m q u e mais d e uma fonte d e evidências é usada". Por outro lado, a definição apresentada por Bruyne (1982) apud Alperstedt (2001), "o estudo de caso consiste e m u m a análise intensiva, empreendida e m u m a organização e q u e busca reunir informações tão n u m e r o s a s e d e t a l h a d a s quanto o possível, c o m vistas a apreender a totalidade de uma situação". A o estudo foi atribuído u m corte transversal, restringindo a coleta d e dados a u m d e t e r m i n a d o m o m e n t o d o t e m p o . B a s i c a m e n t e existem dois tipos d e dados utilizados e m pesquisas de c a m p o : dados primários e secundários. Os dados pnmários são coletados originalmente pelo pesquisador, e os dados secundários são aqueles já disponibilizados n o a m b i e n t e e materializados sob a forma d e artigos especializados, livros, d o c u m e n t o s organizacionais, dentre outros. N e s s e trabalho foram utilizadas duas metodologias d e pesquisa, uma para obtenção d e d a d o s quantitativos e a outra para d a d o s qualitativos. Foram utilizados dois instrumentos para coleta d e dados primários: 29 P O P P E R , K a r l . A lógica da pesquisa cientifica. São P a u l o ; C u l t r i x , 1 9 9 9 . ^° B U N G E , M . Tratado de Filosofia Básica. São P a u l o , E d u s p , 1 9 7 6 ; v o l . 2 ; Sennântica Interpretação e Verdade, p p . 9 3 - 1 4 1 . COUeSto mMH. DE EMERÔA íaUOfAÍVSP-IPÊfl II- 101 1. Para obtenção d e d a d o s objetivos e quantitativos foi utilizado c o m o instrumento o "Questionário d e valores organizacionais" (vide APÊNDICE A). 2. Para obtenção d e dados subjetivos e qualitativos foi utilizado c o m o instrumento u m roteiro semi-estruturado d e entrevista (vide APÊNDICE B ) . Nos estudos d o s valores organizacionais têm sido utilizadas, geralmente, a b o r d a g e n s q u e partem d a análise d e d a d o s secundários. N e s s e s casos, o maior inconveniente é q u e freqüentemente existe incongruência entre o s valores estabelecidos n o papel e o s q u e são realmente praticados na organização. N e s t e trabalho foram utilizados s o m e n t e d a d o s primários, e é importante ressaltar q u e a m b a s a s ferramentas f o r a m a d a p t a d a s á realidade d o instituto. Para a obtenção d e d a d o s quantitativos foi utilizado o método psicométrico. C o m esse método buscou-se captar a percepção d o s sujeitos por meio d e técnicas psicométicas, fazer comparações entre a s respostas d o s sujeitos, u n s e m relação aos outros o u cada u m i n d e p e n d e n t e dos d e m a i s . E m t e s t a g e m psicométrica é d e s u m a importância minimizar o s erros de interferência d o pesquisador. Para tal, recomenda-se a utilização d e instrumentos para coleta d e dados c o m o questionários o u escalas, q u e permitem fazer comparações p a r e a d a s e ordenadas. Para a obtenção d e dados qualitativos foi utilizado o método inferencial. Esse método é aplicado e m técnicas d e pesquisa q u e v i s a m inferir sobre o s valores vigentes e m u m a cultura a partir d a observação sistemática, c o m o n u m a situação d e entrevista, por exemplo. N e s s e caso, o tipo d e instrumento r e c o m e n d a d o são o s roteiros com perguntas visando balizar o pesquisador sobre o q u e perguntar e c o m o perguntar. 5.1 Limitações do estudo U m a v e z q u e não é possível analisar a cultura organizacional e m s u a totalidade e m função d e s u a complexidade, impõe-se a necessidade d e delimitar parte d e s s a cultura a f i m d e tornar factível a pesquisa. Q trabalho e m questão considera o s valores o cerne de u m a cultura organizacional e, por conseguinte. 102 capta a s percepções e opiniões daqueles q u e compõem a organização, i.e., seus recursos h u m a n o s , viabiliza o desvendar dessa cultura. 5.2 O método psicométrico Nesta pesquisa foi utilizado u m instrumento desenvolvido por T a m a y o & G o n d i n (1996) c h a m a d o Escala d e Valores Organizacionais. Essa escala enfatiza q u e o s valores organizacionais têm três dimensões: a cognitiva, a motivacional e a estruturante (descritas n o capítulo referente a o e m b a s a m e n t o teórico). O método psicométrico para a obtenção d e d a d o s objetivos o u quantitativos t e m a v a n t a g e m d e ser aplicado d e m o d o simples a u m grande número d e p e s s o a s ; c o m e l e p o d e m ser obtidas informações d e u m a ampla população, c o m o foi o objeto d a pesquisa e m questão, q u e b u s c o u captar a percepção d a população d a instituição. 5.2.1 O instrumento de coleta de dados O instrumento Escala d e Valores Organizacionais, construído por T a m a y o e G o n d i n (1996), obedecera às seguintes fases d e s d e a s u a construção até a validação d o Instrumento: 1) Fase de construção do instrumento: Inicialmente foi feito o levantamento d o universo d e servidores efetivamente e m exercício na administração central e n a s 10 unidades d e pesquisa d o C N P q ; A população constituída pelas 10 unidades d o C N P q perfaz u m total d e 1976 servidores; e s s e s sujeitos f o r a m a g r u p a d o s por s e x o (masculino e feminino), segundo a s diferentes unidades d e trabalho; U m a amostra randõmica d e 5 3 2 servidores foi extraída d a população total, s e n d o 2 6 6 d o s e x o masculino e 2 6 6 d o s e x o feminino (os sujeitos selecionados deveriam possuir o s e g u n d o g r a u completo, c o m o instrução mínima); O s sujeitos f o r a m estimulados a Identificar a hierarquia d o s valores vigentes n a organização, segundo a percepção d e cada u m ; D o s 5 3 2 servidores selecionados, 3 3 9 r e s p o n d e r a m a o questionário, d o s quais 12 f o r a m invalidados; a a m o s t r a final foi constituída por 3 2 7 103 respondentes, s e n d o 166 h o m e n s e 161 mulheres, c o r r e s p o n d e n d o a u m a taxa de a p r o v e i t a m e n t o d e 6 1 % , considerada satisfatória; O instrumento, e m s u a fase final d e construção, resultou e m u m a lista c o m 4 8 valores, c a d a u m seguido por u m a curta descrição; 2) Fase de validação do instrumento O instrumento foi administrado à amostra c o m p o s t a por 5 3 7 sujeitos d e 16 diferentes organizações, públicas e privadas, s e n d o 2 5 8 d o sexo masculino e 2 7 9 d o f e m i n i n o , c o m idade média d e 5 9 a n o s e t e m p o médio d e serviço n a organização d e 10,5 anos. A p l i c a d a u m a análise fatorial c o m rotação oblíqua, revelou-se a existência d e cinco fatores q u e explicavam 5 2 , 8 % d a variância observada. U m a carga fatorial é considerada significativa q u a n d o esta for igual o u superior a 0,40 (valores e s t e s compatíveis c o m a s exigências para a validação d o instrumento). A escala d e valores organizacionais, após a f a s e d e validação, resultou e m u m a lista c o m 3 8 (trinta e oito) valores, c a d a u m deles seguido por u m a curta descrição d e sua significação. (Vide T A B . 5.2.1.1.) TABELA 5.2.1.1: Os valores e sua significação ABERTURA (Promoção d e u m clima propicio ás sugestões e a o diálogo.) AMIZADE (Clima d e relacionamento a m i s t o s o entre o s e m p r e g a d o s . ) BENEFICIOS (Promoção d e programas assistenciais aos funcionários.) COLEGUISMO (Clima d e compreensão e apoio entre o s funcionários.) COMPETENCIA (Auto-suficiência na área d e atuação profissional.) COMPETITIVIDADE (Capacidade para competir c o m similares.) COMPROMETIMENTO (Identificação c o m a missão d a organização.) COOPERAÇÃO (Clima d e ajuda mútua.) CRIATIVIDADE (Capacidade d e inovar n a organização.) DEDICAÇÃO (Promoção a o trabalho c o m afinco.) DEMOCRACIA (Participação dos e m p r e g a d o s nos p r o c e s s o s decisórios.) EFICACIA (Fazer a s tarefas d e forma a atingir o s objetivos e s p e r a d o s . ) EFICIENCIA (Execução das tarefas da organização d e f o r m a correta.) FISCALIZAÇÃO (Controle d o serviço executado.) FLEXIBILIDADE (Administração q u e se a d a p t a às situações concretas.) HARMONIA ( A m b i e n t e d e relacionamento interpessoal a d e q u a d o . ) HIERARQUIA (Respeito aos níveis d e autoridade.) HONESTI DADE (Promoção d o c o m b a t e à corrupção n a organização.) INCENTIVOA PESQUISA (Incentivo à pesquisa relacionada c o m interesses d a INTEGRAÇÃO INTERORGANIZACIONAL (Intercâmbio com outras JUSTIÇA (Imparcialidade nas decisões administrativas.) MODERNIZAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS (Preocupação e m investir n a OBEDIENCIA (Tradição d e respeito às ordens.) 104 ORGANIZAÇÃO (Existência d e n o r m a s claras e explícitas.) PLANEJAMENTO (Elaboração d e planos para evitar a improvisação n a PLANO DE CARREIRAS (Preocupação c o m a carreira funcional d o s POLIDEZ (Clima d e cortesia e boas maneiras n o relacionamento cotidiano.) PONTUALIDADE (Preocupação c o m o c u m p r i m e n t o d e horários e POSTURA PROFISSIONAL (Promover a execução das funções ocupacionais d e PROBIDADE (Administrar d e maneira a d e q u a d a o dinheiro público.) PRODUTIVIDADE (Atenção voltada para a produção e prestação d e serviços.) QUALIDADE ( C o m p r o m i s s o c o m o a p r i m o r a m e n t o dos produtos e serviços.) QUALIFICAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS ( P r o m o v e r a capacitação e RECONHECIMENTO (Valorização mérito na realização d o trabalho.) RESPEITO (Consideração ás p e s s o a s e opiniões.) SOCIABILIDADE (Estimulo às atividades sociais fora d o a m b i e n t e d e trabalho.) SUPERVISÃO ( A c o m p a n h a m e n t o e avaliação contínuos d a s tarefas.) TRADIÇÃO (Preservar usos e c o s t u m e s vigentes n a organização.) 3) Tratamento estatístico para validação do instrumento S e g u n d o T a m a y o e G o n d i n (1996), a matriz d a s intercorrelações foi analisada fatorialmente utilizando-se o axis factoring, c o m o eigenvalue d e 1,5 e rotações obliqua e ortogonal. N o primeiro caso, o s autores utilizaram o método oblimin, e n o s e g u n d o , o varimax. Essa dupla rotação visou, s e g u n d o o s autores, à melhor representação d a estrutura fatorial da escala. O s p r e s s u p o s t o s teóricos, porém, implicavam correlação entre o s fatores, já que representavam c o m p o n e n t e s d a cultura organizacional e alguns deles pelo m e n o s deveriam estar relacionados. D e s s a f o r m a , a rotação oblíqua foi a m a i s indicada. Para o cálculo da precisão d e c a d a u m dos fatores, foi utilizado o coeficiente alpha d e Cronbacii. A análise fatorial revelou a existência d e u m total d e cinco fatores, q u e explicam 5 2 . 8 % d a v a n a n c i a observada, c o m u m a carga fatorial igual o u superior a 0,40 ( H a r m a n , 1960). D e z itens foram eliminados por não terem a p r e s e n t a d o , e m n e n h u m d o s fatores, cargas fatoriais compatíveis c o m a s exigências d o critério adotado. A seguir, os cinco fatores são apresentados, c o m s u a s respectivas variâncias: 1) Eficácia e eficiência — u m a variância d e 3 8 , 3 % ; 2) Interação n o trabalho — uma variância d e 5,1 %; 3) Gestão — u m a variância d e 4 , 1 % ; 4) Inovação — u m a variância d e 3 % ; 5) Valorização d o Servidor — u m a variância d e 2 , 3 % . 105 Na T A B . 5.2.1.2 pode-se observar a distribuição d o s 3 8 valores, s e g u n d o o s cinco fatores extraídos d a análise fatorial. TABELA 5.2.1.2: Distribuição dos valores segundo os fatores. FATORES EFICÁCIA EFICIÊNCIA INTERAÇÃO NO TRABALHO GESTÃO INOVAÇÃO RESPEITO SERVIDOR DISTRIBUIÇÃO DOS 38 VALORES Competência; Comprometimento; Dedicação; E Eficácia; Eficiência; Planejamento; Pontualidade; Produtividade e qualidade. Total: 09 valores. Abertura; Amizade; Benefícios; Coleguismo; Competitividade; Cooperação; Criatividade; D e m o c r a c i a ; Flexibilidade; Sociabilidade. Total: 10 valores. Tradição; Hierarquia; Obediência; Fiscalização; Supervisão; Postura profissional; Organização. Total 07 valores. Incentivo á pesquisa; Integração interorganizacional; Modernização d e recursos materiais e probidade. Total: 04 valores. Respeito; R e c o n h e c i m e n t o ; Qualificação d e recursos AO h u m a n o s ; Polidez; Honestidade; Plano d e carreiras; Harmonia e justiça. Total: 08 valores. 4) Instruções fornecidas na fase de validação O questionário apresenta u m a lista c o m 3 8 valores, e u m a explicação, entre parênteses, q u e auxilia a compreensão d o significado d e c a d a valor. A tarefa d e c a d a r e s p o n d e n t e ê a d e avaliar quão importante são e s s e s valores c o m o princípios orientadores d a vida d a organização. 5) Explicação fornecida aos respondentes na fase de validação E n t e n d e - s e por "valores organizacionais" o s princípios q u e orientam a vida d a s organizações, pois são o s valores q u e p e r m e i a m a s relações entre o s h o m e n s e d e t e r m i n a m seus padrões d e c o m p o r t a m e n t o . O b s e r v e b e m q u e não se trata d e avaliar o s seus valores pessoais, m a s , s i m , o s valores orientadores da vida d a s u a organização. 6) A escala em pontos utilizada no instrumento Para a avaliação foi utilizada u m a escala e m pontos d e O (zero) a 6 (seis), o n d e o O (zero) significa " N a d a Importante", o 3 (três), "Importante", e o 6 (seis), " E x t r e m a m e n t e Importante", c o n f o r m e m o d e l o abaixo: 106 2 1 0 Nada Importante 3 Importante 4 5 6 Extremamente Importante S e g u n d o Perron (1987), a escala e m pontos s e apresenta c o m o u m a técnica maleável e versátil, e se aplica tanto ás avaliações d e objetos c o m o ás operações d a s realidades subjetivas e a s autodescrições. O s escores d o s sujeitos são analisáveis estatisticamente, obtendo-se resultados q u e se situam dentro d e u m a população e não s o m e n t e c o m o dados do indivíduo referentes a e l e m e s m o . O q u e impediria saber s e e l e está e m nível alto o u baixo e m relação a u m a norma estabelecida. T a m a y o e G o n d i n (1996) a p r e s e n t a m c o m o conclusão a importância d e se ter u m a ferramenta válida para avaliar valores organizacionais; u m a outra característica, pouco c o m u m , apontada pelos autores é a d e ser o instrumento relevante tanto e m nível macro o u institucional q u a n t o e m nível micro o u individual. O APÊNDICE A disponibiliza o instrumento d e coleta d e d a d o s utilizado na presente pesquisa, c o m a l g u m a s adaptações à f e r r a m e n t a original. 5.2.2 Procedimentos para a coleta de dados Dados Quantitativos Na pesquisa d e c a m p o foram adotados o s seguintes critérios: • Apresentação d a pesquisa, d a ferramenta e d o s critérios a serem adotados para a coleta de dados, para o Conseltio Técnico Administrativo ( C T A ) d o I P E N ; • Aprovação d a pesquisa por parte d o C T A e m 1 4 / 0 8 / 2 0 0 1 ; • Esclarecimento d o s objetivos d a pesquisa j u n t o às diretorias e demais chefias e a g e n d a m e n t o d e palestras para a população e m geral; • Divulgação d a pesquisa c o m a s seguintes informações padronizadas para a população alvo: o A pesquisa buscou levantar o s valores percebidos pelos funcionários c o m o s e n d o aqueles q u e orientam a vida d a organização; o A tarefa d e cada respondente foi a d e assinalar, n u m a escala de O a 6, a Importância d e cada valor para a vida d a organização; 107 o A avaliação foi feita e m dois niveis, R E A L e I D E A L ; o A percepção d o s valores no plano R E A L , significando o quanto o valor é importante na realidade atual; o A percepção d o s valores no plano IDEAL, significando o quanto cada valor deveria ser importante para a vida d a organização; o U m a questão aberta foi incluída, a o final d o questionário, objetivando a manifestação livre d e c a d a r e s p o n d e n t e acerca de outros valores q u e deveriam fazer parte d a cultura d a organização. A ferramenta utilizada para captar a percepção d o s funcionários foi a d a p t a d a às necessidades d o instituto e m atenção às solicitações d a alta direção. O foco dos gestores foi n o sentido d e s e buscar identificar possíveis discrepâncias entre o s valores percebidos nos dois planos, R E A L e IDEAL, d e f o r m a a s e conhecer o grau d e satisfação e insatisfação quanto às necessidades d o s funcionários. Esses indicadores são considerados d e alta relevância para auxiliar o c o r p o gerencial n a condução d a s estratégias e políticas rumo a excelência d a organização. 5.2.3 População p e s q u i s a d a A população pesquisada foi c o m p r e e n d i d a pelo universo d e 1.084 ( u m mil e oitenta e quatro) funcionários d a instituição. D e s s e total, 8 4 indivíduos não participaram d a pesquisa devido a o fato d e estarem e m g o z o d e férias, licença médica o u outro tipo d e dispensa oficial. D o total d e 1.000 funcionários (N=1000), efetivamente, e m exercício na Instituição, 5 5 3 (quinhentos e cinqüenta e três) questionários f o r a m respondidos, ou seja, u m percentual de 5 5 . 3 % do total d a população pesquisada. A pesquisa não foi estratificada a t e n d e n d o à solicitação d a alta direção, q u e considerou importante a obtenção d a percepção d e todos, igualmente, não importando gênero, idade, nível de escolaridade, t e m p o d e serviço o u outras possíveis variáveis. Ficando a possibilidade d e u m a estratificação para u m a oportunidade futura. Visando melhor compreensão d a s instruções fornecidas àqueles individuos c o m baixa escolaridade, foi d i s p e n s a d o a eles u m tratamento especial 108 quanto a o p r e e n c h i m e n t o d o questionário, b e m c o m o esclarecimentos mais detalhados q u a n t o á significação d e alguns d o s valores. Para o s demais funcionários, f o r a m estabelecidos ciclos d e palestras itinerantes e m cada unidade da instituição, c o m o objetivo d e uniformizar a s informações e obter u m a maior adesão á p e s q u i s a , c o m u m a ação mais personalizada e m cada unidade. N a s palestras f o r a m utilizados recursos d e áudio-visual objetivando u m a melhor ilustração d a pesquisa, c o m e x e m p l o s práticos d o questionário. 5.2.4 Tratamento estatístico dos dados Para tratamento d o s dados f o r a m e m p r e g a d o s o s seguintes cálculos estatísticos: d e s v i o padrão; média d e respostas, notas máximas e mínimas; abstenções d e respostas e amplitude e m o d a . O t r a t a m e n t o estatístico aplicado aos resultados d a s 5 5 3 respostas viabilizou verificar c o m o o s 3 8 valores foram hierarquizados pelos respondentes. 5.3 O método inferencial S e g u n d o Perron (1997), o método inferencial s e aplica a diversos tipos de conteúdos d e observação o u d e informação transmitida d e f o r m a oral o u escrita. O conteúdo das informações orais transmitidas p o d e ser captado por meio de entrevistas, s e n d o possível inferir sobre o s valores vigentes a partir d a observação sistemática d o c o m p o r t a m e n t o e das palavras proferidas. Nesse particular, é d e f u n d a m e n t a l importância a qualidade d o entrevistador n o sentido d e criar u m a situação o n d e a s respostas d o s informantes sejam fidedignas e válidas, b e m c o m o n o d e registrar a s respostas d e forma precisa e c o m p l e t a . P o r outro lado, s e g u n d o Selltiz et al. (1987), o s informantes d e v e m ser e n c o r a j a d o s a emitir opiniões francas, não t e m e r q u e suas atitudes sejam reveladas s e m s u a s permissões. Nessa f a s e d a pesquisa, a coleta d e d a d o s primários foi realizada c o m o auxílio d e u m roteiro semi-estruturado d e perguntas (vide APÊNDICE B). A metodologia utilizada para a construção d o roteiro estruturado d e entrevista foi baseada n a T e o r i a d e Schein (1990, 1995), pois, s e g u n d o o autor, é d e vital importância d o papel d o ( s ) fundador(es) e d o corpo diretivo n a formação d a cultura organizacional. 109 N e s s e sentido, a s entrevistas c o m a s p e s s o a s - c f i a v e d a organização foram o ponto d e partida d a coleta d o s d a d o s qualitativos. Nas entrevistas foram transmitidas Informações relevantes sobre circunstâncias e acontecimentos críticos d e s d e a fundação d a instituição e sobre p e s s o a s q u e tiveram participação ativa na história d a organização. C a d a entrevistado t e v e a oportunidade d e s e expressar livremente e aportar contribuições inéditas sobre a organização, q u e muitas v e z e s não estão descritos e m n e n h u m d o c u m e n t o formal. 5.3.1 Procedimentos da coleta de dados Dados Qualitativos A pesquisa de campo para a coleta d e d a d o s qualitativos foi c o m p r e e n d i d a por entrevistas c o m a s pessoas-chave d a instituição (N=15). A s entrevistas f o r a m realizadas f a c e a f a c e c o m o s entrevistados e gravadas c o m o consentimento d o s m e s m o s . Para a s gravações, q u e tiveram uma duração média d e 4 0 minutos, f o r a m utilizadas fitas K-7. Posteriormente, o conteúdo das gravações foi ouvidos e transcrito para d o c u m e n t o d o Microsoft-MS Word. O material transcrito d e cada entrevistado passou a constituir documentação d e primeira-mão (as transcrições n o original). O conteúdo d a s entrevistas, g r a v a d o e m fitas K-7, foi c o m p a c t a d o e m formato IVIP3 (sistema d e compressão d e s o m d e músicas e v o z e s e m geral) e inserido e m fitas "Disque C o m p a c t Enregistrable" — C D - R , c o m 7 4 minutos d e duração, n u m total d e 15 fitas, o u seja, u m a para c a d a entrevista (buscou-se u m sistema q u e viabilizasse a compactação d a s fitas K-7 e m u m único m e i o eletrônico, d o tipo D V D , objetivando u m melhor a r m a z e n a m e n t o d o s d a d o s para posterior doação a o a c e r v o d a Biblioteca d o IPEN). A s entrevistas constituem u m a rica fonte d e d a d o s para pesquisa d e valores, pois auxiliam n o esclarecimento d e aspectos culturais d a instituição. A técnica d e entrevista é apropriada por revelar informações complexas, e m o c i o n a l m e n t e carregadas d e sentimentos, subjacentes à opinião expressa d e c a d a entrevistado (Selltiz et al.;1974). 110 5.3.2 Amostragem do método inferencial U m d o s inconvenientes d a utilização do método inferencial para mensuração d o s valores subjacentes ao discurso oral d o s entrevistados é q u e sua aplicação só pode ser feita a u m número muito reduzido d e sujeitos. No presente estudo de caso foram entrevistadas 15 pessoas-chave (por o r d e m d e realização), q u e tiveram participação ativa n a história da instituição, a saber: 1. Dr. Spero Penha Morato (entrevista realizada e m 04/04/2001). 2. Prof. Dr. Rui Ribeiro Franco (entrevista realizada e m 23/05/2001). 3. Dr. Claudio Rodrigues (entrevista realizada e m 28/06/2001). 4. Dr. Edson R o m a n da Silva (entrevista realizada e m 07/08/2001). 5. Dr. Roberto Fulfaro (entrevista realizada e m 11/09/2001). 6. Dr. José Roberto Rogero (entrevista realizada e m 14/09/2001). 7. Dr. José Roberto Maiorino (entrevista realizada e m 14/09/2001). 8. Almirante Othon Luiz Pinheiro d a Silva (entrevista realizada e m 28/09/2001). 9. Engenheiro Odair Marchi Gonçalves (entrevista realizada e m 08/10/2001). 10. Dra. Linda V . E. Caldas (entrevista realizada e m 17/10/2001). 1 1 . Dr. Rex Nazaré (entrevista realizada e m 30/11/2001). 12. Dr. Laércio V i n h a s (entrevista realizada e m 30/11/2001). 13. Dr. Shigueo W a t a n a b e (entrevista realizada e m 14/01/2002). 14. Dra. Constância P a g a n o d a Silva (entrevista realizada e m 18/01/2002). 15. Dr. Alcídio Abrão (entrevista realizada e m 03/09/2002). Nota d e esclarecimento: O Prof. Marcello D a m y de S o u z a Santos, u m a d a s p e s s o a s - c h a v e no contexto cultural d a organização, não foi entrevistada. Por esse motivo foram utilizados d a d o s secundários coletados e m u m livro editado pelo I P E N , b a s e a d o e m u m a entrevista q u e ele c o n c e d e u a o jornalista Eduardo F e r n a n d e s do Jornal Hora do Povo, datado d e setembro d e 1993. 5.3.3 O instrumento para coleta dos dados qualitativos O roteiro semi-estruturado foi construído c o m base e m questões f u n d a m e n t a i s sobre a instituição. S e g u n d o Schein, deve-se analisar a s crenças, os valores e as convicções dos criadores o u portadores d a cultura. A s perguntas q u e fizeram parte do roteiro semi-estruturado, n u m total de 12 questões, foram as seguintes: coMtssfe miom. DE m^mh mamsp-ipm 111 1. E m quais circunstâncias foi criado o instituto? 2. Q u a i s f o r a m a s principais pessoas q u e participaram d a s u a fundação? 3. Quais f o r a m o s acontecimentos críticos q u e m a r c a r a m decisivamente a tiistória d a instituição? 4. S o b seu p o n t o d e vista, o q u e p e r m a n e c e até lioje na instituição d e s s a fase inicial? (Citar alguns valores, rituais, símbolos, p e r s o n a g e n s e outros.) 5. L e m b r a - s e d e acontecimentos q u e p r o v o c a r a m à instituição problemas para o s quais ela não dispunha d e solução apropriada? 6. C o m o reagiram o s m e m b r o s d a instituição a e s s e s incidentes? 7. N a s u a opinião, qual a razão d e ser d a Instituição? S u a missão continua a m e s m a d e s d e a época da fundação? S e não, o q u e m u d o u ? 8. N a s u a opinião, quais foram o s principais valores q u e orientaram a vida d a instituição, n o p a s s a d o ? 9. Eles c o n t i n u a m t e n d o o m e s m o grau d e importância nos dias d e hoje? 10. Quais são o s valores, na s u a opinião, q u e c o n t i n u a m atuais nos dias d e hoje? I I . Q u a l ( q u a i s ) o(s) valor(es), na sua opinião q u e seriam opostos àqueles q u e orientaram a vida d a instituição? Poderia citá-lo(s)? 12. Quais seriam a s características principais d a instituição n a sua opinião? Muito e m b o r a o s cientistas sociais façam distinções entre opiniões, sentimentos e atitudes, assim c o m o todos nós o f a z e m o s , e s s a s questões são relativamente subjetivas, isto é, não são verificáveis por fontes externas, s e g u n d o Selltiz et al. (1987). O roteiro semi-estruturado possibilita a o entrevistador conduzir entrevista mais solta, o q u e leva o entrevistado a emitir respostas mais espontâneas, e s p e c i a l m e n t e nos casos e m q u e a s perguntas v e r s a m sobre questões sociais e comportamentais. Devido a o fato d o entrevistador ficar vulnerável a diferentes entonações d e v o z e mudanças na formulação d a s perguntas, c o m o s diversos entrevistados, e m pesquisas d a área d e h u m a n a s c o m o esta, o roteiro d e perguntas s e torna mais apropriado. 112 5.3.4 Fatores de interferência do pesquisador Procurou-se minimizar o s aspectos d e vieses o u interferência d o pesquisador, conforme regras d e condutas e m situação d e entrevista contidas n o manual d e Selltiz et al. (1987). A relação entre o entrevistado e o entrevistador p o d e m ser influenciada por valores pessoais, expectativas e estrutura d e personalidade d e a m b a s a s partes. Q u a n d o o entrevistador possui u m a opinião f o r m a d a sobre o assunto e m estudo o u q u a n d o d e s c o n h e c e o t e m a , 'também poderão ocorrer vieses. O s fatores d e interferência o u vieses n u n c a p o d e m ser c o m p l e t a m e n t e eliminados, e m especial n a s pesquisas sociais — q u e d e p e n d e m d e dados coletados p o r meio d e relatos orais —, m a s p o d e m s e r mininriizadas. Na presente pesquisa, a metodologia utilizada n a s entrevistas foi apropriada e propiciou a o s entrevistados, espontaneidade, nas respostas. 5.3.5 IVIensuração dos conteúdos orais A análise d e conteúdo é a técnica utilizada para m e n s u r a r conteúdos verbais e escritos d e u m indivíduo o u grupos d e indivíduos. É u m a técnica objetiva, sistemática e quantitativa d o conteúdo manifesto n a s comunicações, c o n f o r m e descrito por Berelson (1952) apud Selltiz et a l . (1987). A análise d e conteúdo consiste e m substituir a carga opinativa e interpretativa d o pesquisador, por "procedimentos p a d r o n i z a d o s , convertendo materiais brutos e m d a d o s passíveis d e tratamento científico", conforme descrito por Selltiz et al. (1987) A s categorias d e análise, u s a d a s para a classificação d o s conteúdos, d e v e m ser claras e explicitamente definidas, d e f o r m a q u e outros indivíduos p o s s a m aplicá-las a o m e s m o conteúdo a fim d e c o m p r o v a r a s conclusões obtidas. O analista não p o d e selecionar e descrever a p e n a s o q u e lhe parece interessante, m a s precisa classificar m e t o d i c a m e n t e todo o material significativo d a amostra, c o n f o r m e salientado por Lasswell e s e u s colaboradores a p u d Selltiz et al. (1987) acerca d a técnica d e análise d e conteúdo. A quantificação d e u m conteúdo e m i n e n t e m e n t e qualitativo é u m a exigência pelo fato d e ser u m processo mais exato q u e a exploração o u descrição qualitativa. O grande diferencial utilizado na presente pesquisa para a 113 quantificação d o conteúdo oral foi o e m p r e g o d e u m software d e origem francesa d e n o m i n a d o Spiiinx. O Sphinx, versão Plus para utilização e m W i n d o w s , foi disponibilizada pela F a c u l d a d e d e Contabilidade, Economia e Administração, FEA, d a U S P , para o d e s e n v o l v i m e n t o e p r o c e s s a m e n t o dos d a d o s qualitativos d a presente pesquisa. Esse software é equiparado à lupa d e " S h e d o c k H o l m e s " devido à praticidade e rapidez c o m q u e processa fatos e v i d e n c i a d o s . Aliado à potência d e cálculo d o c o m p u t a d o r , o software possibilita produzir d e maneira q u a s e q u e instantânea u m a quantidade impressionante d e resultados estatísticos precisos (freqüências, p o r c e n t a g e n s , intervalos d e confiança, médias, desvios-padrão e outros). U m d o s pontos fortes d o Sphinx são a s análises d e conteúdo d a s questões d e texto, o u análise lexical. O trabalho d o pesquisador q u e utiliza u m software c o m o o Sphinx é basicamente o d e construir o u m dicionário léxico. O s conteúdos d a s questões abertas, c o m o auxílio d o Sphinx, p o d e m s e r t a b u l a d o s seja através d e u m a análise d e conteúdo lexical seja transformando-os e m questões f e c h a d a s c o m a utilização d e u m recurso d e recodificação d o software. O s d a d o s coletados n a s 12 questões d o roteiro semi-estruturado d e perguntas f o r m u l a d a s ás 15 pessoas-chave totalizaram a ocorrência d e 1 8 0 possibilidades, combinações e m q u e p o d e m aparecer a s palavras selecionadas pelo pesquisador para c o m p o r o dicionário léxico, c o n f o r m e tabelas apresentadas nos Capítulos 6 e 7, respectivamente, "Resultados" e "Análise d o s Dados". 5.3.6 Procedimentos da análise de conteúdo O software Sphinx foi utilizado c o m o propósito d e quantificar, s e m a interferência d a p e s q u i s a d o r a , a s citações mais m a r c a n t e s para o contexto desta pesquisa, o u seja, aspectos relacionados a o s valores. N a m e d i d a e m q u e o s dados eram inseridos, aleatoriamente, e r a atribuído u m número ordinal c o r r e s p o n d e n t e a cada entrevistado, para q u e p o s t e r i o r m e n t e houvesse a correspondência d a s citações c o m o respectivo entrevistado. T a l procedimento foi necessário, t e n d o e m vista q u e o software utilizado não relacionava seu conteúdo a o sujeitos entrevistados. A identificação atribuída a cada entrevistado foi a seguinte: Entrevistado 1 - Dr. Alcídio Abrão. 114 Entrevistado 2 - Almirante Othon Luiz Pinheiro d a Silva Entrevistado 3 - Dr. Claudio Rodrigues Entrevistado 4 - Dra. Constancia P a g a n o Entrevistado 5 - Dra. Linda V . E. Caldas Entrevistado 6 - Dr. Edson R o m a n Entrevistado 7 - Dr. José Roberto R o g e r o Entrevistado 8 - Dr. Spero Penha Morato Entrevistado 9 - E n g . Odair Marchi Gonçalves Entrevistado 10 - Dr. Roberto Fulfaro Entrevistado 11 - Dr. R u b e n s Maiorino Entrevistado 12 - Dr. Laércio V i n h a s Entrevistado 13 - Dr. Rui Ribeiro Franco Entrevistado 14 - Dr. Rex Nazaré Entrevistado 15 - Dr.Shigueo W a t a n a b e 5.3.7 Seleção de trechos de algumas entrevistas A l g u n s trechos f o r a m selecionados c o m o objetivo d e ilustrar a l g u m a s das citações mais m a r c a n t e s n o s relatos d o s entrevistados n o universo d a s 12 questões f o r m u l a d a s . O peri'il d e cada entrevistado e u m r e s u m o d a experiência profissional e acadêmica d e cada u m , b e m c o m o a s entrevistas, na integra, fazem parte d o APÉNDICE C. QUESTÃO 1 — Sobre o histórico Entrevistado n° 2 "O primeiro reator brasileiro, d o a d o pelo Programa Átomos para a P a z , foi conquistado graças a o espírito e m p r e e n d e d o r d o e m i n e n t e físico paulista, o Prof. Marcello D a m y d e S o u z a Santos, q u e c o o r d e n o u a construção d a base para a instalação d o reator." Entrevistado n° 3 " U m a coisa q u e m a r c o u o lEA, d e s d e o início, foi o espírito e m p r e e n d e d o r e a determinação! O desafio e o c u m p r i m e n t o d e g r a n d e s metas que, aparentemente, p o d e m até parecer impossíveis d e serem atingidas." 115 "O importante é que foi lançado o desafio e esse desafio foi cumprido; e o reator está ai, ao redor do qual foi criado o lEA. Entrevistado n° 6 "O instituto foi criado na década d e 1950, mais especificamente e m 1956, por u m grupo d e pesquisadores d o Instituto d e Física d a U S P , q u e tinha o desafío d e implantar a p e s q u i s a e o desenvolvimento tecnológico d o país na área nuclear." Entrevistado n° 7 "Na m i n h a visão, o d i n a m i s m o d o Prof. Pieroni á frente d a direção d o IBA foi d e vital importância para a condução d a s políticas externas. Estávamos e m pleno regime militar, e, devido a o b o m relacionamento c o m o s órgãos governamentais e c o m o r e g i m e vigente, esse fato viabilizou a liberação d e verbas e possibilitou o investimento e a construção d a infra-estrutura. O s diversos prédios e e q u i p a m e n t o s d o instituto f o r a m todos erguidos n a gestão d o Prof. Pieroni." Entrevistado n° 8 "Assim n a s c e o Instituto d e Energia Atômica, n u m clima d e grande euforia e entusiasmo e m prol d o Brasil e d a s pesquisas nucleares q u e imperavam na época." Entrevistado n° 9 "A partir d a i , ficou m a r c a d a a história d o IPEN c o m o v e n c e d o r d e desafíosl Essas coisas a p a r e n t e m e n t e são impossíveis, m a s c o m a reunião d e a l g u m a s pessoas a b n e g a d a s e a união d e forças, a s coisas a c o n t e c e m ! " Entrevistado n° 12 "O Programa Átomo para P a z previa a doação d e reatores d e pesquisa àqueles países q u e d e m o n s t r a s s e m ter competência para a construção d a s Instalações desses reatores." Entrevistado n° 14 "Por razões obvias, pela experiência a c u m u l a d a e dedicação d o grupo, s o b a responsabilidade d o Prof. D a m y , a operação foi u m s u c e s s o . A s s i m , o Brasil 116 obteve o mérito d e ter e m nosso país o pnmeiro reator nuclear d a América latina, doado pelo G o v e r n o A m e r i c a n o , e essa foi à pedra f u n d a m e n t a l d o nascimento d o lEA." QUESTÃO 2 — Quais os nomes da equipe de fundadores da Instituição Entrevistado n" 1 Desde o s primeiros t e m p o s , o Prof. IVIarcello D a m y c o n t o u c o m a colaboração dos doutores: Fausto Walter Lima, q u e e r a engentieiro químico e responsável pela Divisão d e Radioquímica e Produção d e Radioisótopos; Rômulo Ribeiro Pieroni, principal p e s q u i s a d o r da Divisão d e Radíoproteção e Radiobiologia; Luiz Cintra d o Prado, d a Divisão d e Física Nuclear; Paulo Saraiva d e T o l e d o , q u e foi o responsável pela instalação física d a máquina (o reator), e era o responsável pela Divisão d e Física d e Reatores, e Tharcísio D a m y d e S o u z a Santos, d a Divisão d e Metalurgia Nuclear. QUESTÃO 3 — Acontecimentos críticos, quais foram. Relacione-os Entrevistado n" 4 "O m a r c o q u e s e seguiu à instalação d o reator ocorreu e m 1959. Foi q u a n d o fizemos a primeira produção d e radioisótopos. E s s e foi u m grande acontecimento no instituto, ocasião e m q u e tivemos presentes aqui n o l E A vários políticos d e destaque d a época." Entrevistado n" 5 "Gostaria d e relacionar alguns acontecimentos q u e m a r c a r a m a história d a instituição: • Início d a operação d o reator I E A - R 1 , e m 1957; • Início d a produção d o iodo 1 3 1 , e m 1959; • Início d o curso d e pós-graduação, e m 1976; • Domínio d a tecnologia d o ciclo d o combustível nuclear, e m 1987; • Início d a operação d o reator I P E N - M B 0 1 , e m 1988; • A u m e n t o d a potência d o reator IEA-R1 para 4 M W , e m 1997; 117 • Criação d o C I E T E C , e m 1997." QUESTÃO 4: Valores, rituais que permanecem na cultura da instituição Entrevistado n° 5 " C o m relação a o s valores, poderia citar alguns, tais c o m o motivação, qualidade, competência, comprometimento e dedicação c o m a missão d o I P E N ; o respeito entre o s pesquisadores, iniciativas d e cooperação entre o s grupos d e pesquisa e o d e s e n v o l v i m e n t o d a tecnologia nuclear s e m p r e f o r a m às m o l a s mestres d a instituição. C o m o p e r s o n a g e m importante para a instituição, poderia citar o Prof. Dr. Marcello D a m y d e S o u z a Santos." Entrevistado n° 9 "Na m i n h a opinião, o q u e p e r m a n e c e na cultura d o IPEN é o espírito e m p r e e n d e d o r , a persistência d o s servidores e m vencer desafios. A consciência de s e r m o s possuidores d e u m a competência técnica e o orgulho de termos o recontiecimento d e s s a competência, pelos pares nacionais e internacionais." QUESTÃO 5 — Como os problemas institucionais foram resolvidos? Entrevistado n" 3 "A expectativas d o s servidores d a casa é que a s p e s s o a s e n t e n d a m o que o IPEN faz, isto ê, qual a s u a missão. A s pessoas q u e t r a b a l h a m n o IPEN têm u m a particularidade: elas receberam c o m o herança u m a cultura q u e v e m d o s professores D a m y e Pieroni, q u e é a d e aceitar grandes desafios, d e serem os agentes d e mudanças n a s áreas d e s u a competência. Não p o d e m o s aceitar ser m e n o r e s d o q u e isso! O IPEN não aceita u m a posição m e n o r d o q u e essa. O IPEN, pelas razões históricas e culturais d e seus f u n d a d o r e s e s e u s sucessores, está preparado para g r a n d e s desafios\ Ele quer ser ator principal, ele não quer ser coadjuvante! Ele não quer ser menor, isso é cultural! E q u a n d o isso não a c o n t e c e , você agride a c o m u n i d a d e e a cultura d a instituição." 118 Entrevistado n° 7 "Digo s e m p r e a todos: O IPEN t e m u m a força d e inércia muito g r a n d e . A p e s a r d e pisarmos n o breque, a máquina continua c a m i n h a n d o devido a s u a força d e inércia. A s s i m vejo o I P E N . E l e resistiu a todas a s intervenções externas por c a u s a d a sua força d e inércia, isso fez c o m q u e a instituição ficasse protegida d a s agressões q u e sofreu". Entrevistado n°15 "E a s s i m por diante... Nós tínhamos q u e enfrentar q u a l q u e r desafio e achar a solução para ele!" QUESTÃO 6 — Reação dos membros da instituição aos incidentes críticos Entrevistado n° 1 "Nossas e q u i p e s c o n s e g u i a m solucionar o s p r o b l e m a s mais inusitados c o m g r a n d e criatividade e multa competência. Passávamos horas debruçados sobre livros e e m reuniões para solucionar os problemas q u e s u r g i a m . " Entrevistado n° 13 " N o s s o objetivo foi alcançado, c o n s e g u i m o s ! A universidade abriu a s portas para nós. O reitor disse: 'Você está oferecendo á universidade u m curso d e pósgraduação e m u m a área e setor u m que é própria d e vocês, d o IPEN'." QUESTÃO 7 — Qual a razão de ser da instituição? Entrevistado n° 5 "A razão d e s e r d a instituição é desenvolver tecnologias nucleares e transferir o l<now-fiow adquirido para a sociedade. A missão d a instituição continua a m e s m a d e s d e s u a fundação, m a s ela foi seguindo a evolução d a s perspectivas tecnológicas d o país. Dois e x e m p l o s q u e poderia citar são a criação d a pósgraduação c o m a U S P e d o C I E T E C . " Entrevistado n° 6 119 "O I P E N , e m 1997, d e u inicio a o seu planejamento estratégico. Pela primeira vez, foi feito u m trabalho organizado d e análise d a s ameaças e d a s oportunidades d o cenário externo a o instituto, quanto às competências e o s pontos fortes e fracos." Entrevistado n° 9 "Mas, n e s s e contexto todo, algo m u d o u ! A p e s a r d e todas essas pujanças tecnológicas d a instituição c a m i n h a n d o n o limiar d o c o n h e c i m e n t o cientifico, o que s e podia notar era q u e a administração d o IPEN não a c o m p a n h a v a essa evolução n o m e s m o ritmo! A direção e a administração d a casa estava formatada dentro d e u m a estrutura verticalizada, fortemente iiierárquica e q u e precisava s e r rapidamente m o d e r n i z a d a ! " QUESTÃO 8 — Valores que orientaram a vida da instituição. Entrevistado n° 4 "A competência é u m valor que s e m p r e orientou a casa. Hoje e m dia, tem-se d a d o muito valor a o funcionário n o sentido d e valorizar o s treinamentos d o s recursos h u m a n o s e a valorização profissional." Entrevistado n" 6 "No p a s s a d o , o s princípios básicos q u e o r i e n t a v a m a vida d a instituição e r a m fortemente ancorados n o conhecimento científico e no desenvolvimento tecnológico. O I P E N , até a década d e 1990, era u m a instituição c o m níveis d e excelência na área d o c o n h e c i m e n t o científico e tecnológico. O instituto s e m p r e procurou estar à frente e m termos d e d e s e n v o l v i m e n t o d e ciência d e ponta, b e m c o m o n a formação d e seus recursos h u m a n o s . Então, e s s e s e r a m o s valores mais fortes n o p a s s a d o d a vida organizacional d o I P E N . " Entrevistado n° 8 "Acho q u e é a realização, o desafio de conseguir fazer a s coisas acontecerem." 120 Entrevistado n° 9 "Diria q u e os valores são os seguintes: seriedade, honestidade, probidade, coleguismo, respeito aos pares e, porque não, amor à instituição e até patriotismo." Entrevistado n° 10 "O fato d e o IPEN estar s e habilitando a o Prêmio Nacional d a Qualidade por meio da participação n o Projeto d e Excelência t e m conferido melhores resultados nas práticas administrativas d o instituto. T e m contribuído para a conquista d e valores organizacionais importantes entre a s áreas tecno-científica d o instituto, c o m o uma convivência mais harmônica entre os funcionários e a conquista d e u m a maior democracia interna. São e s s e s o s valores q u e a casa está procurando ressaltar e m sua cultura." Entrevistado n° 11 "A instituição s e m p r e foi impulsionada pela motivação das metas estratégicas audaciosas." Entrevistado n° 15 "A competência e a dedicação sempre existiram nos grupos d e pesquisadores do IPEN. A superação de desafios sempre foi uma característica comportamental da organização. A competência é fundamental! O indivíduo q u e não t e m competência está perdido! O IPEN ainda tem pesquisadores muito competentes." QUESTÃO 9 — Esses valores continuam tendo o mesmo grau de importância nos dias de hoje? Entrevistado n° 1 "Os c o n h e c i m e n t o s e o s valores submersos e m tudo que transmitimos aos nossos alunos... é c o m o se o s transmitíssemos a o s nossos filhos. O IPEN mantém vivo todos e s s e s e n s i n a m e n t o s d e competência d e rigor técnico, d e dedicação à pesquisa e a o instituto e m todos seus pupilos." 121 Entrevistado n° 4 " N a m i n h a opinião, d e v e haver u m a hierarquia na casa. U m a questão d e ordem na t o m a d a d e decisões, n o trato entre funcionários e chefia. Considero, inclusive, q u e a hierarquia é u m valor indispensável á instituição, é necessária para q u e a competência seja u m valor preponderante. S e m hierarquia não há o r d e m , s e m o r d e m não há competência e qualidade nos serviços prestados." Entrevistado n" 7 " A base d a formação d e nossos pesquisadores f o r a m o s valores transmitidos pelos f u n d a d o r e s d a Instituição. Nosso instituto e seus servidores f o r m a m u m a c o m u n i d a d e diferenciada d o s demais institutos d e pesquisa. E por que? Porque apesar d e s e r m o s u m instituto público, a s p e s s o a s q u e aqui trabalham não o f a z e m c o m o e m u m a repartição pública. P o r q u e isso? Qual a diferença? S e formos pensar, temos tudo para sermos u m a repartição pública, somos funcionários públicos, não p o d e m o s ser demitidos, f a z e m o s greves e não s o m o s d e s c o n t a d o s , o saláno é baixo, porém n o s a p o s e n t a m o s c o m o salário integral e outras regalias." O q u e n o s torna diferentes? Atribuo a o Prof. Pieroni, u m d e nossos f u n d a d o r e s , ter conseguido imprimir o s seus valores e s e u ritmo d e trabalho a todos nós servidores d o I P E N . Ele era u m a p e s s o a extremamente rígida e disciplinada, q u e trabalhava 2 4 horas por dia para o instituto! Esses valores f o r a m p a s s a d o s d e geração para geração. Passei para todos o s m e u s orientados e alunos esses e n s i n a m e n t o s q u e m e f o r a m transmitidos. Valores c o m o qualidade, d e q u e s e d e v e trabalhar e produzir c o m qualidade, foram transmitidos d e s d e a época d o Prof. Pieroni. O I P E N , s e m p r e teve u m a administração centralizada e rígida voltada para o trabalho e a produção, e c a r r e g a m o s e s s e s valores até hoje! N o s dias d e hoje, a o s p o u c o s , a gestão centralizada v e m sofrendo a l g u m a s mudanças. Considero, portanto q u e a construção d a nossa cultura f o r a m e m cima d e s s e s valores, e a c h o também q u e é e s s a a b a s e q u e torna o IPEN u m a instituição diferente!" Entrevistado n" 15 " S e o instituto começar a juntar gente c o m p o u c a competência, todos o s seus valores s e p e r d e m ! P o r e x e m p l o , a pessoa começa a produzir pouco, e para e s c o n d e r u m a ineficiência p o d e vir a ser d e s o n e s t a ; então a honestidade é u m 122 valor d e g r a n d e importância. Plano d e carreiras c e r t a m e n t e é u m valor Importante, porque o funcionário deve ter incentivo para continuar s u a carreira. O reconhecimento está associado a o desejo d a coletividade e m ter o fruto d e s e u trabalho aceito, é também u m valor importante e m t e r m o s organizacionais. Valores c o m o probidade e honestidade d e p e n d e m d a s condições dadas pela instituição, e, finalmente, u m outro valor d e s u m a importância para a organização é a escolha d e s e u s recursos h u m a n o s , pois s e o R H não for qualificado, não haverá competência." QUESTÃO 10 — Valores que continuam atuais nos dias de hoje Entrevistado n" 3 "Se c o n s e g u i r m o s manter o s valores vigentes na instituição, conseguiremos manter o I P E N vivo. A c h o q u e a cultura precisa não s o m e n t e s e r mantida, m a s também t e m q u e ser transmitida. N a medida e m q u e c o n s e g u i r m o s transmitir o s valores d a n o s s a cultura para a s pessoas mais novas, fazer c o m q u e os jovens s e fixem e a b s o r v a m nossa cultura, a continuidade d o IPEN estará assegurada." Entrevistado n° 14 No m e u entender, n o I P E N , a presença d e h o m e n s competentes é muito forte. Existe também u m sentimento bastante evidente d e a m o r pela instituição. U m outro valor f u n d a m e n t a l e q u e deveria estar presente e m todos o s m o m e n t o s é a ética. Outro valor importante q u e deveria estar mais presente na cultura d e nosso país é o d e agregar e transmitir conhecimento. Q u a n d o você m e apresenta o resultado d e sua pesquisa, o n d e plano de carreiras está f o r t e m e n t e evidenciado n o plano IDEAL, o q u e poderia dizer? Existiu n o p a s s a d o d a instituição u m plano d e carreiras q u e hoje está defasado. Para exemplificar b e m o resultado d e s u a pesquisa, no plano IDEAL, v o u fazer referência à pirâmide d e Maslow: q u a n d o u m a p e s s o a t e m suas necessidades satisfeitas, essa necessidade deixa d e ser importante e, conseqüentemente, u m outro nível d e satisfação s e fará necessária. Q u a n d o observo, presente na s u a pesquisa, valores como honestidade, plano de carreiras, reconhecimento, probidade e qualificação de recursos humanos, m e assusto! Porque isso significa 123 que esses valores entraram como necessidade. Os individuos estão carentes desses valores. Q u a n t o a o s valores identificados no plano R E A L , e s s e s são o s q u e deveriam continuar a ser perseguido e deveriam continuar a pautar a instituição c o m o u m todo. Entrevistado n° 15 C o m relação a o resultado d e sua pesquisa d e valores, poderia dizer o seguinte: • COMPETÊNCIA - E m primeiro lugar, não poderia ter sido apresentado u m resultado diferente deste. S e não houver COMPETÊNCIA, não adianta, inclusive, ter dinheiro. • Q U A L I D A D E - E m s e g u n d o lugar, poderia dizer q u e é quase u m a conseqüência direta d a COMPETÊNCIA. • H I E R A R Q U I A (no sentido orientador-aluno) - Ela d e v e ser natural, não d e v e s e r imposta. H o u v e u m período n o IPEN q u e a H I E R A R Q U I A era exercida n u m sentido militar (não colocaria a H I E R A R Q U I A e m terceiro lugar). • P R O D U T I V I D A D E - Também é muito importante e está ligada à COMPETÊNCIA. C o m COMPETÊNCIA s e c o n s e g u e u m trabalho PRODUTIVO. • EFICIÊNCIA - Depende mais d a organização d o instituto. A administração central deve ter EFICIÊNCIA n a condução d e s u a gestão. • OBEDIÊNCIA - Está associada à H I E R A R Q U I A . • EFICÁCIA - S e u m trabalho é realizado c o m COMPETÊNCIA e Q U A L I D A D E , ele é eficaz. O s objetivos f o r a m atingidos." QUESTÃO 11 — Valores opostos, poderia citá-lo(s)? Entrevistado n° 3 "Os valores que p r e c i s a m o s introduzir no IPEN são aqueles q u e poderão propiciar o atendimento d a d e m a n d a d e nossos clientes q u e b u s c a m a inovação. 124 Precisamos viabilizar a visibilidade e a transparência d o IPEN para o m u n d o externo." Entrevistado n° 12 "Em a l g u m grau acredito existir u m certo bairrismo entre o s paulistas, funcionários do I P E N , e o s cariocas, funcionários d a C N E N , IRD e l E N , e incluo aí também o instituto d e Belo Horizonte. C o m o o IPEN é u m instituto muito forte e capaz d e fazer tudo n a área nuclear, pelo fato d e ter u m a competência estabelecida nessa área, isso o torna, d e a l g u m a maneira, imbatível. Não existe espaço para o s outros institutos d a C N E N . " Entrevistado n" 14 "Existe u m ditado popular muito importante: 'Casa q u e não tem pão, todo m u n d o reclama e ninguém t e m razão'. Então, todas a s v e z e s q u e , por a l g u m a razão alheia á v o n t a d e d a maioria, há u m a dificuldade salarial, começam a prevalecer outros valores. O q u e s e deve fazer nesses casos é achar soluções compreensíveis e m relação ás pessoas q u e trabalham para permitir q u e elas continuem realizadas e dedicadas à instituição s e m q u e falte pão e m suas casas!" QUESTÃO 12 — Quais as características principais da instituição? Entrevistado n" 5 "Defino c o m o características principais d a instituição a tradição q u e perdura desde a s u a fundação e a liderança q u e a instituição t e m n o cenário nacional no desenvolvimento d a tecnologia nuclear e correlata. U m a outra característica é a integração d o instituto c o m a U S P e a sociedade e a formação d e u m R H altamente qualificado e m todos o s níveis." Entrevistado n° 7 " U m a instituição multidisciplinar que não atua mais só no c a m p o nuclear, e essa multidisciplinaridade nos abre muitos flancos d e atuação, p o d e m o s concorrer c o m qualquer instituição d e pesquisa d o país." Entrevistado n" 8 125 "A garra e a v o n t a d e d e vencer, a competitividade, a combatividade, a competência, o f a z e r m o s b e m . São essas a s principais características. U m a outra coisa importante é q u e o s últimos superintendentes d o I P E N f o r a m pessoas oriundas d a casa. A escolha d e dirigentes para a casa é u m ponto importante." Entrevistado n° 9 "Considero a principal característica d a instituição a v o n t a d e d e transpor obstáculos e vencer desafios. Entretanto, hoje se a p r e s e n t a m d e forma mais ampla e abrangente, c o m objetivos e metas mais claros e transparentes. A s novas características a p o n t a m f i r m e m e n t e para o futuro e para a modernidade. U m a m o d e r n i d a d e q u e visa à melhoria contínua, s e m p r e alinhada c o m os aspectos sociais e d e qualidade d e vida." Entrevistado n" 14 "Definiria, e m primeiro lugar, a competência. E m seguida, u m embrião constante de formação e recursos h u m a n o s . O fundamental é q u e n o I P E N existe o pioneirismo na c l o n a g e m d e competência." 126 RESULTADOS "Cada paradigma representa urna forma de olliar a natureza, e o confiecimento que de um deriva não se soma ao de outro, mas se opõe a ele como uma nova interpretação, supostamente mais eficiente, da realidade." J. C. R. Pereira, 1999. 6.1 Dados do método quantitativo Os d a d o s brutos d a pesquisa f o r a m tratados e m planilhas d o Excel, c o m fórmulas q u e viabilizaram os seguintes tratamentos estatísticos: média, abstenções, nota máxima, nota mínima, amplitude, m o d a , desvio-padrão e total de notas, para c a d a u m a das respostas, no total d e 3 8 valores d o instrumento. Este capítulo foi organizado n o sentido d e apresentar e m forma d e tabelas o s resultados encontrados e m cada u m d o s tratamentos estatísticos efetuados. N o capítulo seguinte, os d a d o s serão a p r e s e n t a d o s segundo a hierarquização d o s primeiros 2 0 valores e classificados s e g u n d o o s tratamentos estatísticos. Na T A B . 6.1.1 foi compilado o resultado d a s respostas n o plano R E A L e, na T A B 6.1.2 o resultado d a s respostas no plano I D E A L , e m cada u m d o s 38 valores, s e g u n d o o s diferentes tratamentos estatísticos estabelecidos. 127 TABELA 6.1.1 — Tabulação dos resultados segundo os tratamentos estatísticos utilizados, plano REAL Cálculos Valor 01 Valor 02 Valor 03 Valor 04 Valor 05 Valor 06 Valor 07 Valor 08 Valor 09 Valor 10 Valor 11 3,130 3,359 3,028 3,171 3,684 3,263 3,181 3,015 3,103 3,090 2,322 Duplicadas 0 1 3 1 0 1 2 0 0 1 1 Abstenções 18 15 15 20 15 19 17 22 21 19 19 Nota Máxima 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 Nota Mínima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amplitude (máx-min) 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 Média Moda (N < Freq.) 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 DP 1,338 1,365 1,405 1,409 1,333 1,451 1,429 1,466 1,450 1,466 1,563 Total Notas 1675 1804 1620 1687 1982 1733 1699 1601 1651 1647 1238 Valor 16 3,118 0 12 6 0 6 3 1,400 1687 Valor 17 3,546 2 17 6 0 6 3 1,504 1894 Valor 18 3,153 0 18 6 0 6 3 1,733 1687 Valor 19 3,351 0 18 6 0 6 3 1,556 1793 Valor 20 3,119 0 18 6 0 6 3 1,466 1669 Valor 21 2,726 1 15 6 0 6 3 1,587 1464 Valor 22 2,920 0 10 6 0 6 3 1,516 1586 Valor 23 3,446 0 13 6 0 6 3 1,438 1861 Valor 24 2,950 0 31 6 0 6 3 1,507 1540 CONT. Valor Valor Valor Valor 12 13 14 15 3 , 3 9 9 3,457 2,956 2,886 0 2 0 0 23 11 23 12 6 6 6 6 0 0 0 0 6 6 6 6 3 3 3 3 1 , 4 0 3 1 , 3 1 8 1,497 1,389 1839 1874 1561 1530 Valor 25 2,724 0 15 6 0 6 2 1,450 1466 CONT. Valor 26 2,231 1 20 6 0 6 1 1,697 1187 Valor 27 3,203 0 16 6 0 6 3 1,374 1717 Valor 28 3,321 0 12 6 0 6 3 1,640 1797 Valor 29 3,257 0 19 6 0 6 3 1,364 1736 Valor 30 3,258 0 26 6 0 6 3 1,686 1717 Valor 31 3,523 1 12 6 0 6 3 1,423 1899 Valor 32 3,651 0 13 6 0 6 3 1,410 1972 Valor 33 3,367 2 12 6 0 6 3 1,552 1815 Valor 34 2,577 1 20 6 0 6 3 1,588 1371 Valor Valor Valor 35 36 37 3,007 2,371 2,985 2 1 0 11 16 11 6 6 6 0 0 0 6 6 6 3 3 3 1,553 1,563077 1,411 1624 1271 1618 Valor 38 3,325 1 12 6 0 6 3 1,432 1796 128 TAB. 6.1.2 — Tabulação dos resultados segundo os tratamentos estatísticos utilizados, no plano IDEAL Valor Cálculos Média Duplicadas Abstenções Nota Máxima Nota Mínima Amplitude (máx-mln) Moda (N < F r e q . ) DP Total Notas Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor 4 5 7 1 2 3 6 8 9 11 10 4,944 4,890 4,996 4,971 5,215 4,579 4,895 4,986 4,937 5,022 4,567 0 0 0 0 1 0 1 1 0 1 1 34 23 33 29 24 28 35 25 28 30 30 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 5 6 5 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 1,038 1,136 1,098 1,107 1,042 1,402 1,210 1,081 1,102 1,054 1,263 2561 2587 2638 2610 2712 2372 2561 2633 2592 2622 2384 CONT. Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 5,081 5,094 4,372 4,644 4,859 4,487 5,316 5,226 4,884 5,011 5,163 4,397 4,872 5,019 0 2 1 0 1 0 3 0 0 0 0 0 0 1 22 24 29 28 32 22 22 26 22 25 23 25 36 28 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 5 5 6 6 6 5 6 6 6 6 5 6 6 1,043 1,014 1,249 1,075 1,125 1,277 1,061 1,107 1,111 1,204 1,032 1,318 1,150 1,078 2683 2705 2278 2429 2566 2338 2823 2770 2574 2656 2742 2322 2519 2630 CONT. Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor 26 27 28 29 30 31 32 33 34 36 35 37 38 5,312 4,871 4,552 4,779 5,266 4,762 5,201 5,245 5,278 5,081 4,178 4,405 3,942 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 1 1 0 26 19 25 26 28 26 26 25 30 27 30 24 26 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 4 6 5 3 1,036 1,189 1,352 1,130 1,058 1,193 0,979 0,959 0,942 1,065 1,423 1,226 1,532 2837 2572 2399 2519 2765 2510 2741 2733 2787 2673 2181 2326 2074 129 Na T A B . 6.1.3 f o r a m compilados o s d a d o s relativos às médias d e repostas, e m c a d a u m d o s 3 8 valores c o m p a r a n d o , o s dois planos R E A L e I D E A L , c o m a s respectivas classificações. TABELA 6.1.3— Classificação das médias em cada um dos 38 valores Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Classificação média REAL Média Classíf. Valor 01 - Abertura 3,130 20° 02 - Amizade 9° 3,359 03 - Benefícios 25° 3,028 04 - Coleguismo 18° 3,171 3,684 1» 05 - Competência 06 - Competitividade 13° 3,263 07 - Comprometimento 17° 3,181 08 - Cooperação 3,015 26° 09 - Criatividade 23° 3,103 10 - Dedicação 24° 3,090 11 - Democracia 37° 2,322 12-Eficácia 3,399 7° 13 - Eficiência 5° 3,457 14 - Fiscalização 2,956 29° 15 - Flexibilidade 32° 2,886 16 - Harmonia 3,118 22° 17 - Hierarquia 3,546 3° 18 - Honestidade 3,153 19° 19 - Incentivo à pesquisa 10° 3,351 20 - Integ. Interorganizacional 21° 3,119 21 - Justiça 2,726 33° 22 - Mod. recursos materiais 31° 2,920 23 - Obediência 6° 3,446 24 - Organização 2,950 30° 25 - Planejamento 2,724 34° 26 - Plano de carreiras 2,231 38° 27- Polidez 3,203 16° 28 - Pontualidade 3,321 12° 29- Postura profissional 3,257 15° 30- Probidade 3,258 14° 3 1 - Produtividade 4° 3,523 32 - Qualidade 3,651 2° 33 - Qualificação dos RH 3,367 8° 34 - Reconhecimento 2,577 35° 35 - Respeito 3,007 27° 36 - Sociabilidade 2,371 36° 37 - Supervisão 2,985 28° 38 - Tradição 11° 3,325 Classificação média IDEAL Valor Média Classif.. Valor 01 4 , 9 4 4 19° Valor 02 4 , 8 9 0 22° Valor 03 4 , 9 9 6 16° Valor 04 4 , 9 7 1 18° Valor 05 5 , 2 1 5 7° Valor 06 4 , 5 7 9 30° Valor 07 4 , 8 9 6 21° Valor 08 4 , 9 8 6 17° Valor 09 4 , 9 3 7 20° Valor 10 5 , 0 2 2 13° Valor 11 4 , 5 6 7 31° Valor 12 5 , 0 8 1 12° Valor 13 5 , 0 9 4 10° Valor 14 4 , 3 7 2 36° Valor 15 4 , 6 4 4 29° Valor 16 4 , 8 5 9 26° Valor 17 4 , 4 8 7 33° Valor 18 5,316 1° Valor 19 5 , 2 2 6 6° Valor 20 4 , 8 8 4 23° Valor 21 5 , 0 1 1 15° Valor 22 5 , 1 6 3 9° Valor 23 4 , 3 9 7 35° Valor 24 4 , 8 7 2 24° Valor 25 5 , 0 1 9 14° Valor 26 5 , 3 1 2 2° Valor 27 4 , 8 7 1 25° Valor 28 4 , 5 5 2 32° Valor 29 4 , 7 7 9 27° Valor 30 5 , 2 6 6 4° Valor 31 4 , 7 6 2 28° Valor 32 5 , 2 0 1 8° Valor 33 5 , 2 4 5 5° Valor 34 5 , 2 7 8 3° Valor 35 5 , 0 8 1 11° Valor 36 4 , 1 7 8 37° Valor 37 4 , 4 0 5 34° Valor 38 3,942 38° 130 Na T A B . 6.1.4 foram apresentados na primeira coluna os 3 8 valores, na segunda o s resultados d o s desvios-padrão e na terceira coluna a classificação (ou priorização) daqueles valores c o m m e n o r o u maior D P . Destacam-se em negrito o s três valores com menores desvios-padrão nos planos R E A L e IDEAL.. TABELA 6.1.4 — Classificação dos Desvios-Padrão. <• Classificação dp DP - REAL i ^^Clas.sificagáo do DP - mm Valor 01 1,338 3° Valor 01 1,038 7° Valor 02 1,365 5° Valor 02 1,136 24° Valor 03 1,405 10° Valor 03 1,098 17° Valor 04 1,409 11° Valor 04 1,107 19° Valor 05 1,333 2° Valor 05 1,042 8° Valor 06 1,451 20° Valor 06 1,402 36° Valor 07 1,429 15° Valor 07 1,210 29° Valor 08 1,466 23° Valor 08 1,081 16° 18° Valor 09 1,450 19° Valor 09 1,102 V a l o r 10 1,466 21° Valor 10 1,054 10° V a l o r 11 1,563 32° V a l o r 11 1,263 32° V a l o r 12 1,403 9° Valor 12 1,043 9° Valor 13 1,318 1° Valor 13 1,014 4° Valor 14 1,497 24° Valor 14 1,249 31° Valor 15 1,389 7° V a l o r 15 1,075 14° Valor 16 8° Valor 16 1,125 22° Valor 17 1,400 1,504 25° Valor 17 1,277 33° Valor 18 1,733 38° Valor 18 1,066 13° Valor 19 1,556 30° Valor 19 1,107 20° Valor 20 1,466 22° Valor 20 1,111 21° Valor 21 1,587 33° Valor 21 1,204 28° Valor 2 2 1,519 27° Valor 22 1,032 5° Valor 23 1,438 17° Valor 23 1,318 34° Valor 2 4 1,507 26° Valor 2 4 1,150 25° Valor 2 5 1,450 18° Valor 2 5 1,078 15° Valor 2 6 1,697 37° Valor 26 1,036 6° Valor 2 7 1,374 6° Valor 27 1,189 26° Valor 2 8 1,640 35° Valor 28 1,352 35° Valor 2 9 1,364 4° Valor 29 1,130 23° Valor 30 1,686 36° Valor 30 1,058 11° Valor 31 1,423 14° Valor 31 1,199 27° Valor 3 2 1,410 12° Valor 32 0,979 3° Valor 3 3 1,552 28° Valor 33 0,959 2° Valor 3 4 1,588 34° Valor 34 0,942 1° Valor 3 5 1,553 29° Valor 35 1,065 12° Valor 3 6 1,563 31° Valor 36 1,423 37° Valor 3 7 1,411 13° Valor 37 1,226 30° Valor 3 8 1,432 16° Valor 38 1,532 38° 131 Na T A B . 6.1.5 foram compilados o s resultados escalares d o s valores tiierarquizados s e g u n d o a s médias e o desvio-padrão. D e s t a c a m - s e em negrito aqueles valores c o m a maior média d e respostas e o s três m e n o r e s desviospadrão. TABELA 6.1.5 — Hierarquização dos valores, segundo o cálculo das médias e dos desvios-padrão, nos planos REAL e IDEAL Hierarqubeação REAL Competência Qualidade Hierarquia Produtividade Eficiência Obediência Eficácia Qualificação do RH Amizade Incentivo à pesquisa Tradição Pontualidade Competitividade Probidade Postura profissional Polidez Comprometimento Coleguismo Honestidade Abertura Integ. Interorganiz. Harmonia Criatividade Dedicação Benefícios Cooperação Respeito Supervisão Fiscalização Organização Mod. rec. materiais Flexibilidade Justiça Planejamento Reconhecimento Sociabilidade Democracia Plano de carreiras M 1" 20 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13° 14° 15° 16° 17° 18° 19° 20° 21° 22° 23° 24° 25° 26° 27° 28° 29° 30° 31° 32° 33° 34° 35° 36° 37° 38° DP 2° 12° 25° 14° 1° 17° 9° 28° 5° 30° 16° 35° 20° 36° 4° 6° 15° 11° 38° 3° 22° 8° 19° 21° 10° 23° 29° 13° 24° 26° 27° 7° 33° 18° 34° 31° 32° 37° Hierarquização IDEAL Honestidade Plano de carreiras Reconhecimento Probidade Qualificação do RH Incentivo à pesquisa Competência Qualidade Mod. recursos Materiais Eficiência Respeito Eficácia Dedicação Planejamento Justiça Benefícios Cooperação Coleguismo Abertura Criatividade Comprometimento Amizade Integ. interorganizacional Organização Polidez Harmonia Postura profissional Produtividade Flexibilidade Comprometimento Democracia Pontualidade Hierarquia Supervisão Obediência Fiscalização Sociabilidade Tradição M 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13° 14° 15° 16° 17° 18° 19° 20° 21° 22° 23° 24° 25° 26° 27° 28° 29° 30° 31° 32° 33° 34° 35° 36° 37° 38° DP 13° 6° 1° 11° 2° 20° 8° 3° 5° 4° 12° 9° 10° 15° 28° 17° 16° 19° 7° 18° 29° 24° 21° 25° 26° 22° 23° 27° 14° 36° 32° 35° 33° 30° 34° 31° 37° 38° 132 Na T A B . 6.1.6, n a primeira coluna, f o r a m a p r e s e n t a d o s o s valores hierarquizados e, na s e g u n d coluna, o s fatores motivacionais. TABELA 6.1.6 — Valores hierarquizados e seus fatores motivacionais. Classificação REAL Fator Motivacional Valores Classificação IDEAL Fator Motivacional Valores Competência Eficácia e eficiência Honestidade Respeito ao servidor Qualidade Hierarquia Produtividade Eficácia e eficiência Plano de carreiras Gestão Eficácia e eficiência Reconhecimento Probidade Respeito ao servidor Respeito ao servidor Inovação Eficiência Eficácia e eficiência Qualificação do RH Respeito ao servidor Obediência Gestão Incentivo á pesquisa Eficácia Eficácia e eficiência Competência Inovação Eficácia e eficiência Eficácia e eficiência Qualificação do RH Respeito ao servidor Qualidade Amizade Interação trabalho Incentivo à pesquisa Tradição Pontualidade Inovação Gestão Mod. recursos materiais Inovação Eficiência Eficácia e eficiência Respeito Respeito ao servidor Eficácia e eficiência Eficácia Eficácia e eficiência Competitividade Interação trabalho Dedicação Eficácia e eficiência Probidade Inovação Gestão Planejamento Justiça Eficácia e eficiência Respeito ao servidor Benefícios Interação trabalho Postura profissional Polidez Respeito ao servidor Comprometimento Eficácia e eficiência Cooperação Interação trabalho Coleguismo Interação trabalho Interação trabalho Honestidade Respeito ao servidor Coleguismo Abertura Abertura Interação trabalho Criatividade Interação trabalho Integ. Interorganiz. Inovação Comprometimento Eficácia e eficiência Harmonia Respeito ao servidor Amizade Interação trabalho Criatividade Interação trabalho Integ. Interorganiz. Inovação Dedicação Eficácia e eficiência Interação trabalho Organização Polidez Gestão Benefícios Cooperação Interação trabalho Respeito ao servidor Harmonia Postura profissional Respeito ao servidor Gestão Gestão Produtividade Eficácia e eficiência Fiscalização Gestão Flexibilidade Interação trabalho Organização Gestão Competitividade Interação trabalho Mod. recursos materiais Inovação Democracia Interação trabalho Flexibilidade Interação trabalho Eficácia e eficiência Justiça Planejamento Respeito ao servidor Pontualidade Hierarquia Eficácia e eficiência Supervisão Gestão Recontiecimento Resp. sen/idor Obediência Gestão Sociabilidade Interação Trabalho Fiscalização Gestão Democracia Interação trabalho Sociabilidade Interação trabalho Plano de carreiras Resp. servidor Tradição Gestão Respeito Supervisão Interação trabalho Respeito ao servidor Gestão 133 Na T A B . 6.1.7 f o r a m compilados o s resultados d a s médias e d o s desvios-padrão s e g u n d o o s cinco fatores motivacionais d o instrumento d e coleta de dados, s e g u n d o o plano R E A L . T A B . 6.1.7 — Média e desvio-padrão d o s v a l o r e s n o s c i n c o f a t o r e s - R E A L DP Eficiênc/Eficácia M DP InteraçãoTrabalho IVI DP Gestão 1.74 Competência 3.07 1.89 Abertura 3.56 2.09 Tradição 3.78 1.72 Comprometimento 3.57 1.66 Amizade 3.94 1.67 Hierarquia 3.66 1.71 Dedicação 3.53 1.58 Coleguismo 3.68 1.69 Obediência 3.98 1.64 3.36 1.66 Cooperação 3.06 1.71 Fiscalização 4.07 1.67 Eficácia Eficiência 3.47 1.90 Criatividade 2.93 1.74 Supervisão M 4.22 3.46 2.00 Planejamento 2.58 2.18 Democracia 3.70 1.61 Postura prof. 3.33 1.94 Pontualidade 4.15 1.82 Benefícios 3.56 1.82 Organização 3.75 1.81 Produtividade 3.44 1.50 Flexibilidade 3.94 1.78 Qualidade 2.28 2.20 Competitividade 2.04 1.84 Sociabilidade CONTINUAÇÀO DP Inovação Respeito ao Servidor 1.97 incentivo à pesquisa IVI 3.39 DP 4.64 1.79 Respeito 4.35 1.81 Integração i n t e o r g a n i z a c i o n a l . 3.09 2.11 Reconhecimento 4.71 1.64 Modernização d o s r e c u r s o s ateríais 3.94 1.95 Qualificação d o R H 4.57 1.90 Probidade 3.71 1.54 Polidez 4.45 1.83 Honestidade 3.08 2.33 Plano d e carreiras 3.45 1.53 Harmonia 3.51 1.96 Justiça Na T A B . 6.1.8 f o r a m compilados o s resultados d a s médias e d o s desvios-padrão s e g u n d o o s cinco fatores motivacionais d o instrumento de coleta de dados, s e g u n d o o plano I D E A L . 134 T A B . 6.1.8 — Média e desvio-padrão d o s v a l o r e s n o s c i n c o f a t o r e s - I D E A L M DP Eficiênc/Eficácia IVI DP InteraçãoTrabalho M 1.03 Abertura 3.94 DP Gestão Tradição Obediência 5.21 1.04 Competência 4.94 4.89 1.21 Comprometimento 4.89 1.13 Amizade 4.48 1.53 1.27 5.02 1.05 Dedicação 4,97 1.10 Coleguismo 4.39 1.31 5.08 1.04 Eficácia 4.98 1.08 Cooperação 4.37 1.24 Fiscalização 5.09 1.01 Eficiência 4.93 1.10 Criatividade 4.40 1,22 Supervisão 5.01 4.55 1.07 Planejamento 4.56 1.26 Democracia 4.77 1.13 Postura profissional 1.35 Pontualidade 4.99 1.09 Benefícios 4.87 1,15 Organização 4.76 1.19 Produtividade 4.64 1.07 Flexibilidade 5.20 0.97 Qualidade 4.89 1.40 Competitividade 4.40 1.42 Sociabilidade Hierarquia CONTINUAÇÃO M DP IVI DP Respeito ao Servidor Respeito 5.22 1.10 Inovação Incentivo à pesquisa 5,08 1.06 4.88 1.11 Integração i n t e o r g a n i z a c i o n a l . 5.27 0.94 Reconliecimento 5.163 1.03 Modernização d o s r e c u r s o s m a t e r i a i s 5.24 0.95 Qualificação do RH 5.26 1.05 Probidade 4.87 1.18 Polidez 5.31 1.06 Honestidade 5.32 1,03 Plano d e carreiras 4.85 1.12 Harmonia 5.01 1,20 Justiça 135 N a T A B . 6.1.9 f o r a m calculados o s indicadores d o s níveis d e satisfação e insatisfação. D e s t a c a - s e em negrito o valor q u e a p r e s e n t o u o maior índice d e insatisfação. TABELA 6.1.9 — Indicadores dos níveis de satisfação e insatisfação Descrição dos V a l o r e s REAL IDEAL DIFERENÇA ABERTURA 3,131 4,944 1,813 AMIZADE 3,359 4,890 1,531 BENEFÍCIOS 3.028 4,996 1,968 COLEGUISMO 3,171 4,971 1.800 COMPETÊNCIA 3,684 5,215 1,531 COMPETITIVIDADE 3,264 4,579 1.315 COMPROMETIMENTO 3,182 4,897 1,715 COOPERAÇÃO 3,015 4,987 1,972 CRIATIVIDADE 3,103 4,937 1,834 DEDICAÇÃO 3,090 5,023 1,933 DEMOCRACIA 2,323 4.567 2,244 EFICÁCIA 3,399 5,081 1.682 EFICIÊNCIA 3,458 5,094 1,637 FISCALIZAÇÃO 2,956 4.372 1,416 FLEXIBILIDADE 2,887 4,644 1,758 HARMONIA 3,118 4,860 1,742 HIERARQUIA 3,547 4,488 0,941 HONESTIDADE 3,153 5,316 2,163 INCENTIVO À PESQUISA 3,351 5,226 1,875 INTEGRAÇÃO I N T E R O R G A N I Z A C I O N A L 3,120 4.884 1,765 JUSTIÇA 2,726 5,011 2.285 MODERNIZAÇÃO D E R E C U R S O S M A T E R I A I ! 2,921 5,164 2,243 OBEDIÊNCIA 3,446 4,398 0.951 ORGANIZAÇÃO 2,950 4,872 1,922 PLANEJAMENTO 2,725 5,019 2,294 PLANO DE CARREIRAS 2,231 5,313 3,082 POLIDEZ 3,203 4.871 1,668 PONTUALIDADE 3,322 4,552 1.231 POSTURA PROFISSIONAL 3,257 4,780 1,523 PROBIDADE 3,258 5,267 2,009 PRODUTIVIDADE 3,523 4,763 1,240 QUALIDADE 3.652 5,201 1.549 QUALIFICAÇÃO D O S R H 3,367 5,246 1,878 RECONHECIMENTO 2,577 5,278 2,701 RESPEITO 3,007 5.082 2,074 SOCIABILIDADE 2,371 4,178 1,807 SUPERVISÃO 2,985 4,405 1,420 TRADIÇÃO 3,326 3,943 0,617 136 6.1.1 Dados da questão aberta do método quantitativo Na T A B . 6.1.1.1 foram compiladas, e m o r d e m alfabética, a s 9 2 citações correspondentes a o s 8 2 indivíduos q u e m a n i f e s t a r a m s u a opinião na questão aberta (N=553). Na última coluna foram relacionadas as repetições correspondentes a cada citação. TAB. 6.1.1.1 — Citações da questão aberta CITAÇÕES DA QUESTÃO ABERTA 1. Atividade afim com a instituição (estudo compatível com atividade). 2. Autonomia organizacional (capacidade para decisões inovadoras). 3. Bom senso (para resolver certos problemas). 4. Cidadania (promoção de atividades e discussões políticas; envolvimento nas questões políticas). 5. Clareza. 6. Colaboração profissional. 7. Competência técnica na administração e no trabalho de pesquisa. 8. Comprometimento quanto à satisfação dos clientes; relação com o público. 9. Compromisso da cúpula em defender os direitos dos sen/idores, junto ao governo. 1C Compromisso da organização com sua missão. 11 Condições profissionais: materiais, verbas, remuneração. 12 Conduta pessoal dos servidores. 13 Confiança. 14 Conhecimento das atividades internas do instituto. 1£ Conscientização para divulgação das atividades do I P E N . 16 Corpo diretivo mais interessado em resolver problemas dos servidores. 17 Corporativismo. 18 Critérios de avaliação. 1£ Culto à liderança. 2C Cursos mais voltados à área nuclear. 21 Democracia (quanto ao recebimento de benefícios materiais e de recursos humanos). 22 Democratização. 22 Disciplina (como uma forma de mudar hábitos ou formar hábitos). IA Discriminação dos níveis superiores com os níveis intermediários. 2£ Divulgação (maior dos serviços prestados à população; da formação de mestres e doutores para a graduação). 26 Eficácia da organização em promover melhorias. 27 Eficiência na aplicação de recursos. 26 Egoísmo. 2Ê Equipamento de trabalho. 3C Ética. 31 Evolução pessoal e profissional. 32 Excelência. 32 Explicar com clareza os comunicados transmitidos (certas palavras não entendo). 34 Falta de resposta aos funcionários, por parte do pessoal da APD, sobre troca de diretoria. 3£ Fidelidade (dedicação exclusiva ao serviço e não a outras atividades paralelas). 36 Fraternidade. X 2 3 2 2 2 2 137 CITAÇÕES DA QUESTÃO ABERTA (cont.) 37 Gastos com obras desnecessárias. 38 Homem primata, capitalismo selvagem. 3Ê Humildade. 4C Igualdade (oportunidades iguais a todos os servidores nos convites para palestras, cursos 6 outros). 41 Imagem institucional junto ao público. 42 Imparcialidade. 45 Importação de competência (contratação de pesquisadores de ponta). 44 Informalidade (estrutura informal funciona melhor). 4£ Infra-estrutura (elétnca, de salas, mesas, ferramentas, máquinas e outros; cuidado com 0 paisagismo do IPEN; acomodações adequadas e agradáveis para o trabalho). 4e Inovação. 47 Intercâmbio (de conhecimento técnico interno; entre bibliotecas da USP e do IPEN extensivo aos familiares). 48 Interesses pessoais. 4c Liberdade. 5C Liderança (estabilidade na supen/isão; chefias com maior conhecimento técnico e não indicadas por apadrinhamento). 51 Limpeza (manter limpo e organizado o setor de trabalho e equipamentos). 52 Manter metas de trabalho mais sérias. 52 Meio ambiente. 54 Melhor atendimento. 5e Menos preocupação com horário, mais preocupação com o trabalho. 5e Mérito profissional (reconhecimento das realizações profissionais). 57 Metas concretas. 58 Motivação. 5£ Necessidade de formação e contratação de pessoal. 6C Objetividade. 61 Otimismo. 62 Otimização dos recursos disponíveis. Valorização do dinheiro público. 6 : Parcerias com a sociedade. 64 Participação (técnicos nas reuniões, dos servidores na escolha das chefias, em mov. políticos; nas decisões do sindicato AssIPEN). 6£ Péssima qualidade dos serviços de lanchonete e restaurantes. 6C Plano de carreiras (cargos). 67 Políticas permanentes (de uso recursos, p. ex., água, energia e t c ) . 68 Posturas pára-militarizadas acentuadas em algumas lideranças. 6£ Preconceito. 7C Preocupação com os direitos dos servidores — aposentadoria. 71 Presen/ação de valores no nível departamental. 72 Procurar sentir se os servidores são confiáveis. 7C Profissionalismo. 74 Promoção de avaliação por mérito. 7£ Promoção dos valores da instituição. 7t Promover a satisfação dos clientes internos. 71 Qualidade de vida através do incentivo a práticas esportivas e alimentação adequada; acompanhamento da vida familiar do servidor quanto à saúde física e financeira; compromisso da organização com o social/plano médico; contato com familiares para saber conduta em família; servidores que maltratam familiares; serviço de enfermaria competente para não sobrecarregar o convênio) X 2 4 2 3 2 2 3 2 4 7 138 CITAÇÕES DA QUESTÃO ABERTA (cont.) 78 Reciclagem (para secretárias uma vez ao ano; treinamento para as secretárias de centros e diretorias em língua estrangeira/inglês básico; criar oportunidades para cientistas mais jovens). 7£ Redução do número de reuniões, inclusive da qualidade da pessoa convocada. 8C Reposição salário. Respeito (à formação técnica; à lei; ao profissional e humano). 81 Responsabilidade. 8Í Satisfação pessoal. 8: Segurança física (das instalações, dos servidores e no trabalho). 8A Senso crítico (cada qual deve saber o que representa para a sociedade). 8í Seriedade dos cursos de pós-graduação. 88 Setor de compras com maiores poderes para adquirir matenais de qualidade. 87 Setor de planejamento. 88 Suporte setorial (situar serviços de suporte para) 8Ç Transferência do servidor para outro local de trabalho (a pedido). 9C Transparência (nas decisões, nas atitudes de planejamento e de metas; nas informações). 91 Valorização (da parceria entre administração e áreas técnicas; do cliente externo; do nível médio administrativo; do servidor aposentado; do serviço de atendimento ao cliente; das instituições políticas públicas, fomento e empresarial). 92 Visão estratégica X 3 4 3 6 3 7 6 139 6.2 Dados do método qualitativo A s palavras selecionadas para c o m p o r o dicionário léxico f o r a m contadas c o m o auxilio d o software Sphinx e m c a d a u m a d a s 12 questões, o n d e C* representa o número de citações e R** o número de respostas em que ocorreram as palavras. Na T A B . 6.2.1 foi compilado o total d e v e z e s q u e cada u m a d a s palavras s e l e c i o n a d a s foi mencionada n a s 12 questões d o roteiro d e entrevista. Destaca-se em negrito aquelas palavras q u e f o r a m citadas u m maior número d e vezes. TABELA 6.2.1 — Totalização por questão das palavras selecionadas para compor o dicionário léxico. QUESTÕES FORMULADAS (N=12) LÉXICO ALCÍDIO COMPETÊNCIA COMPETITIVIDADE COMPROMETIMENTO DRA. CONSTÂNCIA COOPERAÇÃO DR. D A M Y DEDICAÇÃO DESAFIO EFICÁCIA EFICIENCIA ENTUSIASMO DR. FAUSTO HIERARQUIA INTEGRAÇÃO METAS MOTIVAÇÃO DR. PIERONI PÔS-GRADUAÇÃO PLANEJAMENTO PRODUTIVIDADE QUALIDADE RECONHECIMENTO SUPERVISÃO TRADIÇÃO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 TOTAL 4;4 7;7 3;2 9;6 6;3 3;3 2;2 9;4 5;3 13;7 5;3 5;5 1;1 1;1 1;1 1;1 3;3 1;1 1;1 1;1 3;2 2;2 28;8 20;11 14;7 5;4 1;1 1;1 3;3 1;1 1;1 12;6 2;2 7;6 1;1 6;5 1;1 2;2 1;1 1;1 1;1 1;1 1;1 3;3 i;i 1;1 2;2 2;2 1;1 1;1 2;2 11;11 5;5 1;1 1;1 1;1 1;1 6;2 1;1 1;1 1;1 3;2 1;1 1;1 4;1 1;1 1;1 1;1 i;i 2;2 1;1 1;1 5;3 13;10 43;9 8;5 8;3 2;1 2;1 4.1 8;1 7;4 2;2 7;3 2;2 5;2 5;2 1;1 5;3 2;1 1;1 1;1 1;1 1;1 5;3 2;2 2;1 7;2 5;2 3;2 1;1 1;1 1;1 1;1 1;1 1;1 1;1 1;1 3;3 1;1 *NUMERO DE RESPOSTAS** 1;1 7*;6** 68*;47** r;i** 2*;2** 5*;5** 7*;6** 68*;31** 6*;6** 33*;26** 2*;2** 6*;6** 6*;6** i9*;19** 10*;6** 2*;2** 11*;7** 6*;6** 93*;34** 28*;15** 10*;7** 1*;1** 28*;16** 5*;5** 1*;1** 140 7. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS "Quantitative researcti should begin with an Idea (usually articulated as a hypothesis), which then, through measurement, generates data and, by deduction, allows a conclusion to be drawn. Qualitative research, in contrast, begins with an intention to explore a particular area collects "data" (observations and interviews) and generates ideas and hypotheses from these data largely through what is known as inductive reasoning." Greenhaigh e Taylor, 1970.^^ A seguir são apresentadas as discussões d o s resultados, e m q u e se buscou fazer a s ligações e interpretações c o m base nas teorias apresentadas na revisão d a literatura. 7.1 Análise dos dados do método quantitativo ANÁLISE DO PLANO REAL O gráfico a b a i x o apresenta u m a boa vizualização d o c o m p o r t a m e n t o dos valores na cultura d o I P E N . N u m a escala d e O a 4 , faixa onde se situam as médias n o plano R E A L , observa-se q u e na superior d e s t a c a m - s e apenas três valores, o u seja: (05) competência, (32) qualidade e (17) hierarquia, os demais valores têm u m a média d e respostas próximas a m e d i a n a . Q u a n t o a o s desvios-padrão observa-se u m c o m p o r t a m e n t o d o s sete primeiros valores situado na faixa d e 1,31 1,38, o s e g u n d o outro grupo valores na faixa dos 1,40 a 1,497 e o último grupo c o m desvios na faixa d e 1,50 a 1,73 (valor 18 - Honestidade). P o d e - s e inferir q u e quanto a o último valor, e m termos d e desvio padrão, q u e o valor honestidade não existe u m a concordância d e opiniões quanto a o c o m p o r t a m e n t o deste valor da cultura d o I P E N . G R E E N H A L G H , T . & T A Y L O R , R. How to read a paper: Papers that go beyond numbers (Qualitative Research). B r i t i s h M e d i c a l J o u r n a l , ( 3 1 5 ) : 7 4 0 - 7 4 3 , 1 9 9 7 . Citação a p u d P e r e i r a ( 1 9 9 9 ) . 141 REAL (MédiasxDesvio Padrão) N a T A B . 7.1.1 foram relacionados o s valores hierarquizados no plano real. N a primeira coluna foi inserida a classificação d o s resultados c o m base n a s médias d a s respostas; n a segunda coluna, a classificação d o s resultados c o m base n o s desvios-padrão, e n a terceira coluna, o s fatores a s s o c i a d o s a cada u m dos valores. Observa-se q u e valor "Competência" obteve a maior média d e respostas d a população pesquisada, i.e., u m total d e 3,68, e a segunda m e n o s dispersão d e respostas c o m u m D P d e 1,33 e, q u e o valor "Eficiência" obteve o m e n o r desvio-padrão e u m a média d e respostas ligeiramente menor q u e o primeiro valor hierarquizado. Neste sentido, percebe-se q u e há u m a grande concordância d e opinião, dentre o s respondentes, d a existência d e u m a competência estabelecida entre a s partes, instituição e funcionários. A esta competência alia-se a eficiência d o s trabalhos realizados p o r todos o s funcionários. Q u a n t o a o s valores "Qualidade" e "Hierarquia", classificados e m terceiro e quarto lugares s e g u n d o a média d e respostas, também são valores típicos representantes d a cultura d o instituto. A T A B . 7.1.1 foi organizada d e m o d o a apresentar o s vinte primeiro valores escalares hierarquizados pelos servidores d o I P E N , s e g u n d o a percepção do plano R E A L . 142 TABELA 7.1.1 —Valores priorizados no plano Real. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Valores Competência Qualidade Hierarquia Produtividade Eficiência Obediência Eficácia Qualificação rh Amizade ncentivoà Pesquisa Tradição Pontualidade Competitividade Probidade Postura Profissional Polidez Comprometimento Coleguismo Honestidade Abertura Média 1° 2° 3» 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13° 14° 15° 16° 17° 18° 19° 20° D.P. 2° 12° 25° 14° 1° 17° 9° 28° 5° 30° 16° 35° 20° 36° 4° 6° 15° 11° 38° 3° Fatores Motivacionais Eficácia e eficiência Eficácia e eficiência Gestão Eficácia e eficiência Eficácia e eficiência Gestão Eficácia e Eficiência Respeito ao servidor Interação no trabaitio. Inovação Gestão Eficácia e eficiência Interação no trabalho Inovação Gestão Respeito ao servidor Eficácia e eficiência Interação no trabalho Respeito ao servidor Interação no trabalho A seguir, apresenta-se a hierarquia d e valores c o m base n a análise das médias e d o s desvios-padrão associados a o s cinco fatores para u m a discussão da percepção c o m b a s e nessa classificação. O cálculo d o escore a p r e s e n t a d o na T A B . 7.1.2 foi obtido mediante o somatório dos valores escalares atribuídos pelos sujeitos a o s itens q u e compõem o fator considerado dividido pelo número de itens (valores) d o fator. ( T a m a y o e G o n d i n , 1996.) TABELA 7.1.2 — Total das médias e desvios-padrão por fator - REAL FATORES Interação no trabalho Eficácia e eficiência Gestão Respeito ao servidor Inovação MEDIA 3.14 3.39 3.49 3.57 4.56 DESVIO-PADRÃO 2.69 1.77 1.76 1.88 1.83 O b s e r v a - s e q u e o fator inovação obteve a maior concentração d e respostas, c o m u m a média d e 4,56 e, o terceiro m e n o r desvio padrão, 1,83 (no 143 plano R E A L / C o m relação a e s s e fator a s percepções d o s servidores são compatíveis c o m a s atividades desenvolvidas na instituição, pois a instituição tem por missão p r o m o v e r o desenvolvimento científico e tecnológico, produzindo pesquisas d e qualidade e i m p l e m e n t a n d o políticas para a formação d e recursos h u m a n o s . Neste sentido, "inovar" é p r e p o n d e r a n t e m e n t e importante para a sobrevivência d a organização. O s itens q u e compõem este fator são: modernização de recursos materiais, probidade, incentivo à p e s q u i s a e Integração interorganizacional. Desde 1996, q u a n d o o IPEN d e u início à modernização d e sua gestão na busca pela excelência d e s u a s ações, o instituto t e m procurado manter c o m o diretnz o constante processo d e evolução e modernização, por meio de ações inovadoras. U m b o m e x e m p l o dessa preocupação por parte d o corpo diretivo d o IPEN foi a criação, e m 1998, d o Centro Incubador d e E m p r e s a s Tecnológicas d a Universidade d e São Paulo ( C I E T E C ) , n o c a m p u s d o I P E N , c o m o objetivo d e ampliar o índice d e sobrevivência e a competitividade d e e m p r e s a s para incentivar o crescimento d a e c o n o m i a brasileira, o a u m e n t o d a geração d e e m p r e g o s e d a c a p a c i d a d e d e exportação d o País. Q u a n t o a o s valores associados a o fator "Respeito a o Servidor" observa-se q u e estes tiveram a s e g u n d a maior média, u m total d e 3.57 (no plano R E A L ) , o q u e d e m o n s t r a q u e o s servidores r e c o n h e c e m a s ações empreendidas pela instituição d e valorização d o servidor, porém d e s e j a m ampliar e melhorar este nível d e satisfação n a cultura d a instituição. Estes valores são extremamente importantes para a motivação d o s servidores e, c o n s e q i j e n t e m e n t e , diretamente proporcional a o atingimento d o s objetivos organizacionais, u m a v e z q u e esta valorização/motivação reflete na relação d o instituto c o m o s clientes, e esta interrelação, s e positiva o u negativa, interfere na visão o u i m a g e m d a organização. O s valores a s s o c i a d o s a o s fatores "Eficácia e Eficiência" e "Interação no T r a b a l h o " obtiveram o quarto e o quinto lugares, r e s p e c t i v a m e n t e , c o m relação ao somatório d a s médias d e respostas. O s valores relativos a estes fatores p o d e m ser explicados pela característica meritocrática o u a exigência d e eficiência individual dos pesquisadores d a instituição. 144 ANÁLISE DO PLANO IDEAL O gráfico abaixo apresenta o c o m p o r t a m e n t o d o s valores Idealizados ou d e s e j a d o s na cultura d o I P E N . N o plano ideal a s médias d e respostas s e c o m p o r t a m n u m a escala mais alta, o u seja, entre 4 e 6. O b s e r v a - s e que na faixa escalar d e 5, o u seja, entre 5,31 e 5 , 0 1 9 e n c o n t r a m - s e quatorze valores, d o s trinta e oito existentes n o instrumento, a saber: (18), (26), (34), (30), (33), (19), (05), ( 3 2 ) , ( 2 2 ) , ( 1 3 ) , ( 3 5 ) , (12), (10), ( 2 5 ) . O s d e m a i s valores (os outros 2 3 valores) situam-se n a faixa escalar d e 4 , o u seja, entre, 5,011 a 4,17, a exceção do valor tradição q u e situa-se, n o plano ideal na faixa d e 3,94. E m t e r m o s d e desvios-padrão três d o s trinta e oito valores situam-se muito próximo a o um, na faixa d e 0,94 a 0 , 9 7 , a saber: o s valores (34) reconhecimento, ( 3 3 ) qualificação d o s recursos h u m a n o s e ( 3 2 ) qualidade, o u seja, quanto a este três valores existe u m a convergência d e percepções d e q u e estes precisam d e u m a grande atenção por parte d o s dirigentes d a instituição n o sentido d e implementar melhorias para u m a maior satisfação destes, na cultura da oranização. O s d e m a i s s e situam n u m a faixa a c i m a d e um, até o limite máximo d e 1,53, q u e s e trata d o valor tradição, o n d e não há u m a unanimidade na percepção d o s sen/idores quanto a preservação d o s u s o s e c o n s t u m e s vigentes na organização. IDEAL (MédIasxDesvIos Padrão) A seguir, apresenta-se na T A B . 7.1.3, o e s c o r e obtido mediante o somatório d o s valores escalares atribuidos pelos sujeitos n o plano IDEAL, relativo 145 aos itens q u e compõem o fator considerado, (o calculo é e n c o n t r a d o pela divisão d o número d e total d e valores dentro d e cada fator - T a m a y o e G o n d i n , 1996). TABELA 7.1.3 — Total das médias e desvios-padrão por fator - IDEAL FATORES Interação no trabalho Eficácia e eficiência Gestão Respeito ao servidor Inovação MEDIA 4.81 4.97 4.46 5.11 5.13 DEVIO PADRÃO 1.16 1.10 1.26 1.06 1.07 N o plano IDEAL, o fator "Inovação" também obteve o maior somatório de respostas, c o m o s e g u n d o m e n o r desvio-padrão. O b s e r v a - s e c o m esse somatório d e respostas que, d e u m a forma geral, o s servidores apontam para a necessidade d a instituição inovar ainda mais, modernizar a organização, e m t e r m o s d e recursos materiais, e, especialmente, d a r mais incentivo à pesquisa. Q u a n t o a o fator "Respeito a o servidor", p e r c e b e - s e q u e o s valores q u e compõem este fator, tais como "Honestidade", "Plano d e carreiras" e " R e c o n h e c i m e n t o " d e v e n a m estar mais presentes n a cultura d a organização. S e g u n d o o somatório d o desvio-padrão, u m a m e n o r dispersão d e respostas é indicativo de u m a grande unanimidade de pensamento. Os valores "Reconhecimento", "Qualificação d o R H " e "Qualidade", presentes neste fator, deveriam m e r e c e r m a i o r atenção por parte d o s gestores, pois a s necessidades relativas a estes valores parecem não estar sendo atendidas satisfatoriamente. S e g u n d o M c G r e g o r (1975, p. 5 0 ) , o s gestores d e u m a organização d e v e r i a m considerar melhor a s necessidades sociais d e s e u s recursos h u m a n o s , pois q u a n d o não satisfeitas estes poderão comportar-se d e m a n e i r a a impedir que sejam alcançados o s objetivos d a organização. Poderão tornar-se resistentes, antagônicos e hostis, muito e m b o r a esse c o m p o r t a m e n t o não seja a causa, mas, sim, u m a conseqüência d a falta d e "Respeito a o servidor" e, u m a v e z atendidas essas necessidades o c o m p o r t a m e n t o cessa. Segundo a teoria d e Maslow, as necessidades humanas são organizadas e dispostas e m níveis hierárquicos d e importância e d e influência. O autor d i z q u e q u a n d o a s necessidades básicas d o s indivíduos não estão sendo satisfeitas, eles não c o n s e g u e m s e motivar por outras coisas q u e não a satisfação d e s s a s necessidades. 146 A seguir, n a T A B . 7.1.4, f o r a m relacionados o s valores hierarquizados no plano IDEAL, n a primeira coluna; a média d a s respostas obtidas, na segunda coluna; o s desvios padrão, n a terceira coluna, e o s fatores motivacionais associados aos v a l o r e s , na quarta coluna. TABELA 7.1.4 —Valores priorizados no plano IDEAL 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Valores Honestidade Plano de carreiras Reconliecimento Probidade Qualificação do rh Incentivo à pesquisa Competência Qualidade Modernização recursos materiais Eficiência Respeito Eficácia Dedicação Planejamento justiça Benefícios Cooperação Coleguismo Abertura Priatividade Média 1° 20 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13° 14° 15° 16° 17° 18° 19° 20° D.P. 13° 6° 1° 11° 2° 20° 8° 3° 5° 4° 12° 9° 10° 15° 28° 17° 16° 19° 7° 18° Fatores Motivacionais Respeito ao servidor Respeito ao servidor Respeito ao servidor Inovação Respeito ao servidor Inovação Eficácia e eficiência Eficácia e eficiência Inovação Eficácia e eficiência Respeito ao servidor Eficácia e eficiência Eficácia e eficiência Eficácia e eficiência Respeito ao servidor Interação no trabalho Interação no trabalho Interação no trabalho Interação no trabalho Interação no trabalho N a T A B . 7.1.5 f o r a m evidenciados o s indicadores d o s níveis d e satisfação e insatisfação d o s sen/idores d a organização. Esses indicadores são e s p e c i a l m e n t e importantes para se fazer u m a gestão organizacional baseada e m valores. O s valores c o m maior e menor diferença entre a s médias d e respostas, nos dois planos, f o r a m d e s t a c a d o s e m negrito. O valor "Tradição" foi o valor c o m menor diferença entre a s médias, i.e., maior satisfação ou menor insatisfação, e o valor "Plano d e carreiras" obteve a maior diferença entre médias, e, conseqüentemente, maior nível de insatisfação ou menor satisfação. 147 TABELA 7.1.5 — Indicadores dos níveis de satisfação Descrição dos Valores Média IDEAL Média REAL PLANO DE CARREIRAS TRADIÇÃO 5.312 3.9429 2,231 3,325 Diferença entre Médias 3.081 0,617 7.2 Análise dos dados segundo a TMVO S e g u n d o T a m a y o et a l . (2000), a fonte d o s valores organizacionais é constituída por exigências d a organização e d o s indivíduos q u e a compõem. Schwartz (1999) verificou q u e , tanto n a s organizações q u a n t o n a s sociedades foram e n c o n t r a d o s o s m e s m o s problemas e exigências. E m decorrência dessas pesquisas, S c h w a r t z & Ros, (1995) definiram três dimensões bipolares representantes d a s três principais necessidades para a s quais a s organizações d e v e m procurar repostas, o u seja: A u t o n o m i a vs. C o n s e r v a d o r i s m o ; Hierarquia vs. Igualitarismo; Domínio vs. H a r m o n i a . A multiplicidade d e valores existente n a s organizações s e estrutura e m torno d e s s e s seis tipos motivacionais d e valores, c o m o a p r e s e n t a d o na F I G . 7.2.1: HARMONIA AUTONOMIA HIERARQUIA IGUALITARISMO CONSERVADORISMO DOMÍNIO FIGURA 7.2.1 — Estrutura teórica dos tipos motivacionais dos valores organizacionais A s organizações s e diferenciam u m a d a s outras na m e d i d a e m q u e e n c o n t r a m respostas variadas para e s s a s necessidades e exigências. Nesse sentido, o s valores priorizados na presente pesquisa nos f o r n e c e m evidências d e c o m o o I P E N se orienta e m função d a s respostas às necessidades d o s indivíduos a compõem. 148 A seguir, apresenta-se a distribuição d o s valores percebidos pelos servidores d o I P E N n o s planos REAL e IDEAL, e c o m o a organização s e situa n o continuum representado por esses três eixos: ANÁLISE DO PLANO REAL O primeiro eixo representa a dicotomia do ser humano, Individuo vs. Grupo. A primeira dimensão expressa o dilema entre o s interesses d o individuo e os d o grupo. N u m d o s pólos da primeira dimensão, situam-se valores relativos à A U T O N O M I A . E x p r e s s a m valores q u e representam a s necessidades individuais, de criatividade, d e auto-realização. A l g u m a s sociedades privilegiam relações harmoniosas e estreitas entre os seus m e m b r o s , n a s quais os interesses d o indivíduo não são vistos c o m o sendo diferentes dos d o grupo. No eixo oposto d a primeira dimensão, C O N S E R V A D O R I S M O , são expressos valores q u e representam a manutenção d o status quo, d a propriedade e da interdição d e c o m p o r t a m e n t o s q u e p o s s a m perturbar n o r m a s e a s tradições vigentes. No I P E N , a análise d o s valores relativos a o c o n s e r v a d o r i s m o indica que existe nessa cultura u m a forte tendência à manutenção d o status quo e estabilidade organizacional. Essa tendência pode ser observada a o serem priorizados valores c o m o "Amizade", "Tradição", "Pontualidade", "Probidade", "Postura profissional", "Polidez", " C o m p r o m e t i m e n t o e coleguismo" ( c o m grande confluência d e respostas). Porém, e m contrapartida, pode-se observar também que a cultura privilegia valores relativos à a u t o n o m i a , c o m o "Competência", "Qualificação d o R H " , "Incentivo à pesquisa" e "Abertura", q u e foram b e m priorizados pelos respondentes. O b s e r v a - s e , c o m o conclusão, existir na organização u m equilíbrio entre esses dois pólos. O s respondentes compartilham a percepção de q u e estão satisfeitos c o m o status quo conquistado a o longo d a existência d o I P E N . O s valores competência e abertura, relativos a o fator a u t o n o m i a , obtiveram um desvio-padrão próximo da média indicando homogeneidade entre os respondentes. E s s e fato corroborou a idéia d e q u e a organização privilegia suas competências individuais, atribuindo-lhes capacidade e oferecendo oportunidade de qualificação para seus recursos h u m a n o s , incentivando-os a pesquisar e 149 d a n d o abertura p a r a q u e s e u s pesquisadores p o s s a m s e desenvolver. E m u m instituto d e pesquisa c o m o o I P E N , onde a maior parte d a população é constituída por pesquisadores, valores q u e privilegiam a a u t o n o m i a d e s u a s ações são muito importantes, e , o s g e s t o r e s , a o a d o t a r e m esta postura, a t e n d e m às necessidades individuais d e s s a parcela d a população d e servidores s e m conflitos. Na T A B . 7.2.1 f o r a m relacionados o s resultados d a s percepções quanto a o s valores q u e representam a dicotomia entre o s interesses individuais versus interesses grupais. TABELA 7.2.1 Percepção do Real: Primeiro eixo da TMVO Priorização 1^ 8'. 10". 20'. AUTONOIVIIA vs. CONSERVADORISIVIO Competência (Dp=2o) Amizade (Dp=5°) Qualificação d o R H (Dp=28°) Incentivo à p e s q u i s a (Dp=30°) Priorização Tradição (Dp=16°) Pontualidade (Dp=35°) Probidade (Dp=36o) Abertura (Dp=3°) Postura profissional (Dp=4°) Polidez {Dp=6<') C o m p r o m e t i m e n t o (Dp=15°) C o l e g u i s m o (Dp=11°) 9'. 11^ 12^ 14^ 15^ 16". 17". 18". Dp=Desvio-padrão Observa-se uma maior homogeneidade na percepção dos r e s p o n d e n t e s q u a n t o a o s valores autonomia e abertura q u e tiveram o s deviospadrão ( D p ) mais baixos d o q u e o s outros valores d e s s e pólo. N o outro pólo, "Amizade", "Postura profissional" e "Polidez" foram o s valores q u e tiveram m e n o r desvios-padrão, indicativo de homogeneidade de pensamento entre os respondentes. O segundo eixo: estrutura organizacional Essa dimensão representa a f o r m a e n c o n t r a d a pela organização para definir s e u sistema social, o s papéis e a s n o r m a s q u e p o s s a m garantir u m c o m p o r t a m e n t o responsável d a organização. N o I P E N p e r c e b e - s e q u a s e que u m equilíbrio entre o s valores relativos à H I E R A R Q U I A e a o I G U A L I T A R I S M O . O s valores priorizados no eixo d a H I E R A R Q U I A situam-se e m terceiro e sexto lugares. "Hierarquia" e "Obediência" são valores q u e n o s dão indicações d e q u e o sistema social, o s papéis e as 150 práticas gerenciais definidas na organização foram estabelecidos e m bases hierárquicas. Outrossim, face a o s valores priorizados pelos servidores, percebe-se que a s mudanças organizacionais empreendidas pelo c o r p o diretivo desde 1997, c o m o processo d e excelência na gestão, c o m práticas q u e b u s c a m aproximar superintendência, corpo gerencial e servidores a ter u m a estrutura mais IGUALITÁRIA, está sendo percebida pelos indivíduos. Esses dois pólos d a segunda dimensão não são conflituosos. A s organizações, geralmente, se e n q u a d r a m n u m contínuo entre os dois pólos, o u m e s m o e m u m o u outro pólo. Na T A B . 7.2.2 foram apresentados o s resultados escalares c o m a s percepções d o s funcionados quanto a o s valores q u e r e g e m o c o m p o r t a m e n t o d a estrutura organizacional existente no I P E N . TABELA 7.2.2 — Percepção do REAL — Segundo Eixo da TMVO Priorização HIEIRARQUIA vs. Hierarquia (dp=25°) 6". Obediência (dp=17°) Dp=Oesvio-padrão IGUALITARISMO Honestidade (dp=38°) Harmonia (dp=8°) Priorização 19^ 22". Observa-se u m a heterogeneidade, e m a m b o s os pólos, entre a s percepções d o s respondentes devido a o fato d o s desvios-padrão ( D p ) serem altos c o m relação à média, c o m exceção d o valor "Harmonia", q u e mostrou possuir maior h o m o g e n e i d a d e . O terceiro eixo (relação da organização com o meio ambiente físico e social) A s organizações existem n u m contexto geográfico e social e se inserem n o m u n d o d o mercado c o m características precisas e com concorrentes b e m definidos. D e s s a f o r m a , a s organizações definem o tipo d e relacionamento a ser a d o t a d o frente a o meio físico e social d e suas relações. No IPEN se percebe u m a forte tendência d e inter-relacionar-se c o m outras instituições e o mercado c o m valores q u e a t e s t a m sua "Qualidade", "Produtividade", "Eficiência" e "Eficácia", e e s s e s valores a identificam c o m o D O M I N A N T E n o contexto geográfico e social. coMíssÂo m.Kmi DE mmA WUCL£AR/sp-¡PEM 151 Na T A B . 7.2.3 f o r a m apresentados o s resultados escalares d a s percepções dos funcionários quanto aos valores q u e d e f i n e m esta tendência. TABELA 7.2.3 — Percepção do REAL — Terceiro Eixo da TMVO 1 Priorização I 21^ 1 HARMONIA vs. Integração (Dp=22°) DOMÍNIO Qualidade (Dp=12°) Produtividade (Dp=14°) Eficiência (Dp=1°) Eficácia (Dp=9°) Competitividade (Dp=20°) Priorização 2". 4^ 5^ 7^ 13^ Dp=Desvio-padrão Observa-se, c o m o conclusão desta dimensão, q u e o valor "Eficiência" obteve a maior concentração d e respostas, o q u e d e n o t a u m a grande u n a n i m i d a d e n a s percepções. "Eficácia" aparece e m s e g u i d a c o m u m a dispersão c o m p a r a t i v a m e n t e u m pouco maior, m a s ainda a s s i m , b e m próxima d a média. U m a análise geral d o s resultados d a pesquisa, considerando-se o e s t u d o a p r e s e n t a d o por S c h w a r t z e R o s (1995) e f a z e n d o u m paralelo c o m o e s t u d o d a cultura organizacional, mostrou q u e o s resultados encontrados na presente pesquisa revelaram q u e a instituição IPEN a p r e s e n t o u , segundo a percepção d e s e u s servidores, u m a estrutura d e valores c o m ênfase n a s dimensões, no plano R E A L : CONSERVAÇÃO, HIERARQUIA E DOMÍNIO. ANÁLISE DO PLANO IDEAL O s valores idealizados pelos servidores e q u e definem c o m o a organização deveria se situar, e m resposta às n e c e s s i d a d e s expressas nos três eixos d a Teoria Motivacional d o s V a l o r e s Organizacionais, f o r a m o s seguintes: O primeiro eixo (indivíduo X grupo) Nesse primeiro eixo p e r c e b e - s e u m b o m equilíbrio entre autonomia e conservadorismo. Muito e m b o r a o s respondentes tenham identificado u m a prevalência por valores relativos á a u t o n o m i a . O s servidores gostariam q u e a s m e t a s d a organização f o s s e m priorizadas e m consonância e harmonia c o m a s metas e interesses pessoais. Idealiza-se u m a maior autonomia para a 152 qualificação d o s recursos humanos; mais incentivo para a realização de pesquisas; u m a maior abertura para atuar c o m competência. Idealiza-se, enfim, modernizar ainda mais a Organização! N o pólo oposto, relacionado a o c o n s e r v a d o r i s m o , foram idealizados valores c o m o " P l a n o d e Carreiras", "Probidade", "Beneficios" e possivelmente porque e s s a s necessidades não têm sido plenamente atendidas por parte d a organização. Na T A B . 7.2.4 foram relacionadas a s percepções d o s valores idealizados para esse primeiro eixo. TABELA 7.2.4 — Percepção do IDEAL — Primeiro Eixo da TMVO Priorização 5". r. %\ 14". 19". 20". AUTONOMIA vs. CONSERVADORISMO Qualificação d o R H (Dp=2°) Incentivo à pesquisa (Dp=20o) Competência (Dp=8°) Dedicação (Dp=10°) Planejamento (Dp=15°) A b e r t u r a (Dp=7o) Criatividade (Dp=18o) Priorização P l a n o d e C a r r e i r a s (Dp=6°) Probidade (Dp=11o) Beneficies (Dp=17o) Cooperação (Dp=16o) C o l e g u i s m o (Dp=19o) C o m p r o m e t i m e n t o (Dp=29°) A m i z a d e (Dp=24°) 2". 4". 16". 17". 18". 21". 22". Dp=Desvio-padrão O b s e r v a - s e c o m o conclusão q u e no pólo relativo à autonomia, os valores "Qualificação d o s recursos humanos" e "Competência" obtiveram percepções b e m homogêneas. N o pólo oposto, "Plano d e carreiras" obteve u m desvio padrão b e m próximo d a média, o q u e demonstra haver h o m o g e n e i d a d e entre a s percepções dos respondentes, a p o n t a n d o para u m a necessidade urgente de interferência d a administração d a instituição na busca pela superação d a discrepância existente. O segundo eixo: estrutura organizacional No pólo relativo a u m a estrutura hierárquica percebe-se, pela inexistência d e valores nesse eixo, q u e os servidores idealizam u m a estrutura igualitária para o I P E N . O s servidores idealizam u m a estrutura IGUALITÁRIA para a organização, o n d e valores c o m o "Honestidade", "Reconhecimento", "Respeito" e "Justiça" façam parte d o comportamento diário compartilhado por todos. Na T a b . 7.2.5 foram relacionadas a s percepções idealizadas nesse eixo. 153 TABELA 7.2.5 — Percepção do IDEAL — Segundo Eixo da TMVO HIERARQUIA vs. IGUALITARISMO Priorização Honestidade (dp=13o) 1". 3". Reconhecimento (dp=1°) Respeito (dp=12o) Justiça (dp=28°) 11". 15". Dp=Desvio-padrão O b s e r v a - s e nessa dimensão q u e o valor "Reconhecimento" obteve a menor dispersão d e respostas dentre o s 3 8 valores listados, o q u e demonstra haver u m a grande h o m o g e n e i d a d e na percepção d o s respondentes. Esse resultado aponta para u m a necessidade de gestão na busca de se superar a discrepância. Segundo a pirâmide das necessidades de Maslow, " R e c o n h e c i m e n t o " entra c o m o u m a d a s necessidades mais elevadas; é esse reconhecimento q u e motiva os indivíduos, e motivar significa impulsionar as pessoas a agir, daí a importância desse valor não entrar c o m o u m a necessidade. Para R o c k e a c h , r e c o n h e c i m e n t o é u m d o s objetivos existenciais, d e n o m i n a d o d e valor terminal, mais próximo d o self, e por isso m e s m o importante no sistema d e valores d o s indivíduos. O terceiro eixo (relação da organização com meio ambiente físico e social) Na percepção idealizada d o s servidores d o I P E N , os valores q u e identificam o relacionamento d a organização c o m o meio ambiente físico e social foram os seguintes: Qualidade, Eficiência e Eficácia. Esses valores são o s q u e melhor definem a interação da organização e d e seus servidores c o m seus pares, c o m o m e r c a d o , c o m o m u n d o acadêmico, tanto na produção d e seus produtos e serviços quanto no atendimento das necessidades d a sociedade no cumprimento de sua missão. A f o r m a q u e melhor define essa interação é representada pelo DOMÍNIO, q u e é p a u t a d o na competência d o s indivíduos e da organização. Na T A B . 7.2.6 f o r a m idealizados nesse terceiro eixo. relacionadas as percepções d o s valores 154 TABELA 7.2.6 — Percepção do IDEAL — Terceiro Eixo da TMVO 1 Priorização HARIViONIA vs. DOIVIÍNIO | Priorização Qualidade (dp=2o) 8", Eficiência (dp=4o) 10". Eficácia (dp=9°) 12". Dp=Desvio-padrão Observa-se nessa dimensão q u e o s valores "Qualidade", "Eficiência" e "Eficácia" tiveram u m a dispersão b e m próxima d a média significando u m b o m nível de compartilhamento d a s percepções e homogeneidade entre os respondentes. E m u m a análise geral d o s resultados d a pesquisa, considerando-se o estudo a p r e s e n t a d o por Schv\/artz e R o s (1995) e f a z e n d o u m paralelo c o m o estudo d a cultura organizacional, p e r c e b e m o s q u e o s resultados encontrados na presente pesquisa revelaram q u e a instituição IPEN a p r e s e n t o u , segundo a percepção d e s e u s servidores, u m a estrutura d e valores c o m ênfase n a s dimensões, n o plano IDEAL: AUTONOMIA, IGUALITARISMO e DOMÍNIO. Conclusão: C o m b a s e n a s três dimensões bipolares d a T e o r i a IVIotivacional d o s Valores Organizacionais o s servidores d o IPEN d e m o n s t r a r a m que: • Estão satisfeitos c o m a s conquistas incorporadas n a cultura d o IPEN até o presente m o m e n t o ; • Q u e r e m mudanças, m a s q u e não sejam radicais; • Querem continuar com a estabilidade adquirida pela organização, porém c o m mais autonomia; • A estrutura hierárquica q u e prevaleceu n a organização até o presente m o m e n t o t e v e a aquiescência d e todos, porém, o s servidores sinalizam querer um redesenho da estrutura organizacional q u e viabilize u m a estrutura mais moderna e ágil, d e f o r m a a permitir u m a maior troca d e informações entre os diversos órgãos e setores d a organização. Q u a n t o a o plano IDEAL, observou-se insatisfação e m t e r m o s d e valores como: " R e c o n h e c i m e n t o " e "Plano d e carreiras", ligados a fator "Respeito a o 155 servidor". O primeiro deles, "Reconhecimento", u m valor d e e x t r e m a importancia para a motivação d o s individuos. O valor " R e c o n h e c i m e n t o " lida c o m a necessidade intrínseca d o s seres h u m a n o s d e auto-estima e d e aceitação, portanto, de extrema importância para a motivação d o s individuos. T a l interpretação é sustentada pela Teoría d e Maslow, q u a n d o o autor d i z q u e a s necessidades d o s individuos o b e d e c e m a u m a hierarquia e q u a n d o alguma n e c e s s i d a d e e m u m determinado plano não foi satisfeita, conseqüentemente, suas motivações voltam-se totalmente para a satisfação d e s s a necessidade. Tanto Maslow quanto MacGregor tentaram dizer a o s profissionais de administração q u e " a s necessidades são o s únicos e verdadeiros motivadores". M a c G r e g o r afirma ainda mais: a motivação não v e m d a administração, m a s d o interior d o indivíduo, e, c o m o conseqüência, d a s necessidades intrínsecas. A m b o s o s autores, M a s l o w e McGregor, também disseram q u e a partir d o m o m e n t o q u e u m a necessidade é satisfeita, ela deixa d e ser motivadora d o c o m p o r t a m e n t o . E m r e s u m o , a m b o s o s autores q u e r e m dizer o seguinte: • A motivação ê a conseqüência d e necessidades não satisfeitas; • Somente as necessidades são os motivadores do comportamento; • A s necessidades são intrínsecas a o indivíduo; • A administração não p o d e colocar motivação nos Indivíduos. • A administração não p o d e colocar necessidades n o s indivíduos, i.e. o s administradores não p o d e m motivar, porque motivação d e p e n d e d e fatores internos; • Os administradores só podem satisfazer ou contra- satisfazer as necessidades iiumanas. Portanto, q u a n t o a o valor "Plano d e carreiras", e m s e tratando d e funcionalismo público, a alta administração d o instituto não t e m muito c o m o satisfazer e s s a s necessidades, tendo e m vista q u e esta decisão c o m p e t e a o poder público. Não obstante, por s e tratar d e u m a necessidade, o administrador deve buscar fatores de satisfação relacionados àquela necessidade, que servirá como centro de organização do comportamento do empregado. O s fatores de satisfação q u e poderiam modificam a direção c o m p o r t a m e n t a l (positivo o u 156 negativo), seriam por meio de recompensas e compensações, c o m a s quais o s gestores d a instituição p o d e m atuar para induzir c o m p o r t a m e n t o s positivos n o s servidores. O postulado d e Sctiwartz (1996) afirma q u e "as instituições são f o r m a d a s por indivíduos e o s valores priorizados por e s s e s indivíduos visam à consecução d e objetivos tanto individuais quanto d o trabalho". Isso n o s permite verificar a compatibilidade dos valores individuais c o m aqueles d a organização. Nas F I G S . 7.2.2 e 7.2.3 f o r a m a p r e s e n t a d o s o s valores, tanto individuais quanto organizacionais, c o m base n a s dimensões definidas por Schví/artz. 157 VALORES PRIORIZADOS NO PLANO REAL HIERARQUIA vs. IGUALITARISMO (TMVO) AUTOTRANSCENDENCIA (TVM) Honestidade (19°) Integração (21°) Harmonia (22°) (TVM) A B E R T U R A (TVM) Competência (1°) Qualificação do RH (8°) Incentivo à pesquisa (10°) Abertura (20°) Hierarquia (3°) Amizade (9°) Tradição (11°) Pontualidade (12°) Probidade (14°) Postura prof. (15°) Polidez (16°) Comprometimento ( Coleguismo (18°) M U D) A N C O N S E R V A 7a à o Ç A AUTONOMIA vs. CONSERVADORISMO (TVMO) Produtividade (4°) Eficiência (5°) Eficácia (7°) Competitividade (13°) AUTOPROMOÇÃO (TVM) HARMONIA vs. DOMINIO (TVMO) FIGURA 7.2.2 — Bi-avaliação segundo as Teorias Motivacionais dos Valores Básicos e Organizacionais, respectivamente, TVM e TVMO. 158 VALORES PRIORIZADOS NO PLANO IDEAL HIERARQUIA VS. IGUALITARISMO (TVMO) AUTOTRANSCENDENCIA (TVM) Honestidade (1°) Reconhecimento (3°) Respeito (11°) Justiça (15°) (TVM) A B E R T U R A M U D (TVM) C O Plano de carreiras (|2^ Probidade (4°) S Benefícios (16°) E Cooperação (17°) R V Col^uismo (18°) Comprometimento A Amizade (22°) Ç Ã O Qualificação do RH (5°) Incentivo à pesquisa (6°) Competência (7°) Modernização (9°) Dedicação ( 1 3 T Planejamento (14°) Abertura (19°) Criatividade (20°) A N Ç A AUTONOMIA vs. CONSERVADORISMO (TVMO) Qualidade (8°) Eficiência (10°) Eficácia (12°) AUTOPROMOÇÃO (TVM) HARMONIA vs. DOMINIO (TVMO) FIGURA 7.2.3 — Bi-avaliação segundo as Teorias Motivacionais dos Valores Básicos e Organizacionais, respectivamente TVM e TVMO A dupla avaliação d a hierarquia d o s valores s e g u n d o a s teorias motivacionais d o s valores básicos e organizacionais facilita o e n t e n d i m e n t o d e 159 que, cada u m d e nós d e acordo c o m a s u a hierarquia d e valores procura respeitar, c o m o mínimo d e divergência, seus valores c o m o s d o s d e m a i s individuos q u e integram a organização. Um outro aspecto a ser verificado, ao se fazer esta dupla avaliação é o de que os valores sejam eles individuais ou organizacionais, eles se organizam em dimensões praticamente iguais, pois todas as pessoas possuem os mesmos valores, o que os diferencia entre si é o grau de prioridade e as formas como os indivíduos estabelecem suas abstrações e generalizações como padrão de comportamento para sua vida cotidiana, individual ou organizacional. O s administradores d e v e m considerar que, o s valores organizacionais são a base d a previsibilidade do comportamento dos membros de uma organização e, a o c o n h e c e r m o s o s c o m p o r t a m e n t o d a s p e s s o a s estamos, na realidade, o b t e n d o a previsibilidade tão necessária a gestão organizacional. 7.3 Análise e discussão da questão aberta O instrumento utilizado para captar a percepção d o s servidores sobre o s valores vigentes, nos níveis R E A L e I D E A L , continha u m a questão aberta para coleta d e opiniões sobre valores que não constavam da lista apresentada no questionário. Portanto, a discussão e análise dos d a d o s neste capítulo s e farão, a p e n a s , c o m relação a valores citados (as citações n a íntegra c o n s t a m d o capítulo 6 ) . Os aspectos subjetivos e m questões d o tipo aberta têm u m tratamento específico, o u seja, o pesquisador procura padronizar a s diversas dimensões d o discurso e m classes d e palavras q u e nos permita concluir sobre o objeto d e estudo. A s p e s s o a s q u e s e manifestaram n a questão aberta fizeram citações as mais diversas, c o n f o r m e T A B E L A 6.1.1.1 insenda n o capítulo 6 d a subseção 6.1.1 referente a o s d a d o s d a questão aberta d o método quantitativo. Neste capítulo, s o m e n t e o s valores f o r a m ressaltados d a s citações e a g r u p a d a s e c o n f o r m e o s 5 fatores motivacionais d o instrumento utilizado para a coleta d o s d a d o s quantitativos. O s valores relatados pelos r e s p o n d e n t e s c o m o s e n d o aqueles q u e não c o n s t a v a m d o instrumento f o r a m o s seguintes: 160 1) Fator: Interação n o Trabalho Colaboração profissional; Otinnismo. 2) Fator: Eficácia e Eficiência Autonomia organizacional; Clareza. 3) Fator: Gestão Disciplina (como uma forma de mudar fiábitos ou formar fiábitos); Responsabilidade; Ética. 4) Fator: Respeito a o Servidor Fidelidade - dedicação exiusiva ao serviço Confiança; Fraternidade; Humildade; e não a outras Igualdade; Imparcialidade atividades; e, Cidadania; Liberdade. Na T A B 7.3.1 foram compilados os resultados das citações s e g u n d o o s cinco fatores d o instrumento. TABELA 7.3.1 — Total de citações classificadas por fator FATORES Interação no trabalho Eficácia e eficiência Gestão Respeito ao servidor Inovação TOTAL DE VALORES CITADOS NUMERO DE CITAÇÕES 02 02 03 08 00 15 Conclui-se, a partir d o s resultados a p r e s e n t a d o s na questão aberta, que o s r e s p o n d e n t e s mantiveram u m a coerência n a s percepções, e m a m b o s o s casos e m q u e o instrumento d o método quantitativo captou as opiniões d o s indivíduos, o u seja, subjetivamente ou objetivamente, estes expressaram estar insatisfeitos q u a n t o aos valores relacionados a o fator Respeito a o Servidor. Esses dados s e r v e m c o m o fortes indicadores para atuação dos gestores da organização visando a melhoria d a satisfação de seus servidores. Enfim, esta pesquisa tem por objetivo contribuir c o m dados relevantes sobre a cultura d a organização para q u e , c o m e s s e s indicadores os gestores possam convergir esforços para melhorar o s níveis d e coerência entre as práticas de gestão e o conjunto d e valores realmente praticados na organização. O s indicadores d e satisfação apresentados nesta pesquisa refletem algumas insatisfações d e seus servidores, tanto e m nível pessoal quanto organizacional, associados às exigências dos indivíduos q u e compõem a instituição. 161 O u t r o s s i m , o s valores b u s c a m o a t e n d i m e n t o às necessidades e interesses tanto individuais quanto coletivos e mistos, c o n f o r m e ressaltado exaustivamente n o referencial teórico q u e norteou este trabalho. 7.4 Análise e discussão dos dados qualitativos U m material qualitativo geralmente é d e n s o e longo, e gera u m a grande dificuldade n o t r a t a m e n t o d o s dados. Recorrer à análise d e conteúdo para interpretação d a s entrevistas foi indispensável para procurar afastar o perigo d a compreensão espontânea, intuitiva e livre; reduzir o risco d e gerar u m material d e conteúdo superficial, sobretudo uma análise linear e descritiva; o u ainda, realizar interpretações originadas de inferências destituídas de uma estrutura (fundamentação) lógica, e x p o n d o a s s i m u m a tendenciosidade d o pesquisador. Dessa f o r m a , a análise d e conteúdo foi a técnica utilizada neste trabalho e q u e consiste e m substituir a carga opinativa e interpretativa d o pesquisador por p r o c e d i m e n t o s padronizados, c o n v e r t e n d o materiais brutos e m dados passíveis d e tratamento científicos. C o n f o r m e Selltiz et a l . (1987) o b s e r v a r a m , o primeiro problema é decidir quanto a o s princípios q u e d e v e m s e r u s a d o s para o estabelecimento d e conjuntos d e categorias a s e r e m identificados n a s entrevistas. S e g u n d o o s autores, existe por parte d o s pesquisadores u m a grande dificuldade d e categorizar a s informações assistemáticas e m p r o c e d i m e n t o s classificatórios, e para tal se faz necessário adotar critérios rigorosos à pesquisa qualitativa. Os autores definiram alguns critérios para a realização das análises d e conteúdo, a saber: 1- A s categorias d e análise, usadas para a classificação d o conteúdo, d e v e m ser claras e explicitamente definidas, d e f o r m a q u e outros indivíduos p o s s a m aplicá-las a o m e s m o conteúdo a f i m d e verificar s u a s conclusões; 2- O analista não pode selecionar e descrever a p e n a s o q u e lhe parece interessante, m a s precisa classificar m e t o d i c a m e n t e todo o material significativo d e sua amostra; 3- A l g u m processo quantitativo deve ser utilizado para medições d a s várias idéias verbalizadas d e f o r m a a permitir u m a padronização para, posterior, comparação c o m outras a m o s t r a s o u material. 162 T e n d o e m vista esses preceitos básicos, utilizou-se o software Sphinx (1995) c o m o propósito d e auxiliar na quantificação d a s categorias d e palavras que s e pretendia levantar c o m o resultado d a pesquisa. A s categorias d e palavras foram sistematizadas após váhas leituras realizadas nas transcrições das entrevistas, objetivando u m a visão d e conjunto d e todos o s d e p o i m e n t o s . Certas características d e conteúdo auxiliaram a evidenciar núcleos d e sentido, n o s quaís foram construídas a s unidades d e análise q u e , posteriormente, p a s s a r a m a c o m p o r o dicionário léxico. O dicionário léxico teve por objetivo fazer a ponte d e ligação entre o s objetivos d e pesquisa e o s resultados q u e s e pretendia alcançar. A s categorias d e análise selecionadas para o s objetivos d a pesquisa f o r a m a s seguintes: • N o m e s d a s pessoas-chave q u e tiveram maior influência na cultura d o IPEN; • Valores q u e na visão d o s entrevistados teriam sido transmitidos n o p a s s a d o e q u e não p e r m a n e c e m na cultura nos dias d e hoje; • Quais f o r a m o s fatores motivacionais, n a opinião d o s entrevistados, q u e influenciaram fortemente os indivíduos a agir nos diferentes a c o n t e c i m e n t o s q u e m a r c a r a m a cultura d o I P E N ; • Qual o m e l h o r veiculo de transmissão dos valores, q u e teria propiciado a socialização d e s s e s valores na cultura d a instituição. O s resultados analíticos dessa sistematização f o r a m resumidos n a s tabelas a p r e s e n t a d a s a seguir: Na T A B . 7.4.1 apresenta-se os valores mais citados pelos entrevistados, n a s e g u n d a coluna, a freqüência das citações e. na terceira coluna, o número total d e ocorrências das citações entre a s 12 questões formuladas. TABELA 7.4.1 — Valores mais citados COMPETÊNCIA QUALIDADE HIERARQUIA COOPERAÇÃO EFICIÊNCIA C * = número d e v e z e s e m q u e o c o r r e r a m a s citações 68* 30 13 7 5 163 Na T A B . 7.4.2 f o r a m relacionados o s n o m e s d a s p e s s o a s - c h a v e mais citadas pelos entrevistados (ressalta-se, e m negrito, a forma c o m o e pessoa foi m e n c i o n a d a e reconhecida pelos entrevistados). T A B E L A 7.4.2 — P e s s o a s - c h a v e m a i s c i t a d a s Rômulo Ribeiro P I E R O N I Marcello D A M Y d e Sousa Santos F A U S T O Walter Lima ALCÍDIO Abrão C O N S T A N C I A P a g a n o G. da Silva 93* 68 19 12 4 C * = número d e v e z e s e m q u e o c o r r e r a m a s citações N a T A B . 7.4.3 apresenta-se, na visão dos entrevistados, o melhor meio de transmissão e socialização d o s valores presentes n a cultura d o I P E N . T A B E L A 7.4.3 — M e l h o r veículo t r a n s m i s s o r d o s v a l o r e s POS-GRADUAÇAO 76 C * = número d e v e z e s e m q u e o c o r r e r a m a s citações Na T A B . 7.4.4 apresentam-se, s e g u n d o a visão d o s entrevistados, as duas práticas estimuladoras d o progresso e q u e estiveram presentes na cultura da instituição d e s d e a sua criação. T A B E L A 7.4.4 — Práticas e s t i m u l a d o r a s d o p r o g r e s s o D E S A F I O (S) M E T A (S) 34 11 C * = número d e v e z e s e m q u e o c o r r e r a m a s citações C o m base nos dados coletados n a s entrevistas c o m a s p e s s o a s - c h a v e da instituição conclui-se o seguinte: © O s valores mais citados nas entrevistas Os valores mais citados foram Competência, Qualidade e Hierarquia. O valor Competência (o principal valor identificado na cultura d o IPEN). U m a definição clássica d e competência seguida por diversos autores, m a s mais diferentes áreas d o conhecimento, muito apropriada neste contexto é a seguinte: Competência é um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para que a pessoa desenvolva suas atribuições e responsabilidades. 164 S e g u n d o Dutra (2001): "A competência deve ser atribuída à organização e ao conjunto de pessoas que a compõem, pois o conjunto de competências de uma organização é oriundo da gênese e do processo de desenvolvimento, concretizados no patrimônio de conhecimentos que estabelecem as vantagens competitivas desta organização no contexto em que ela se insere". Sem dúvida nenhiuma, a competência é um atributo conferido aos indivíduos que compõem uma organização, que se adquiriram contiecimentos, desenvolveram habilidades e têm atitides positivas em relação à instituição, a qual comferem a ambos, instituição e servidores, os pré-requisitos necessários para representar a organização interna e externamente. A competência é uma via de mão dupla constituída de bens tangíveis e intangíveis, compreendida por um conjunto de recursos (bens tangíveis), conhecimentos, atitudes e habilidades (bens intangíveis) que agreguam valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. Dutra (2001) afirma ainda q u e a troca d e competências entre a organização e a s p e s s o a s constituem u m processo contínuo. A organização transfere seu patrimônio para a s pessoas para q u e elas p o s s a m s e aprimorar e s e preparar para enfrentar novas situações profissionais e pessoais, quer na organização o u fora dela. P o r outro lado, a s p e s s o a s , a o d e s e n v o l v e r e m suas capacidades individuais, transferem para a organização s e u aprendizado, capacitando esta organização para enfrentar novos desafios. Com o estudo desenvolvido no IPEN, pôde-se verificar que essa complementaridade existe, isto é, a competência das pessoas se alia ao patrimônio de conhecimentos da organização. Ou seja, existe na organização uma relação estreita entre essas competências. As pessoas que trabalham no IPEN, ao utilizar-se de forma consciente do patrimônio de conhecimento da organização, validam e aprimoram seu conhecimento e os agregam aos valores da organização. A organização e as pessoas que participam da instituição se mantêm mutuamente influenciadas, e este vínculo permite manter vantagens competitivas a ambos os atores ao longo do tempo. 165 O outro valor mais citado Qualidade pode-se afirmar q u e se relaciona com o valor competência e a m b o s conferem s u c e s s o à organização. C o m estes valores fortemente arraigados à cultura o I P E N , seus servidores procuraram manter padrões éticos d e conduta na prestação d e seus serviços e no desenvolvimento contínuo d a qualidade. É por e s s e motivo q u e hoje o IPEN é uma instituição líder n o seu setor! Q u a n t o a o valor Hierarquia observa-se pelo s e n s o c o m u m q u e este se encontra i m p r e g n a d o na cultura d o I P E N , d e s d e a s u a fundação. O instituto nasceu s o b a égide d a energia nuclear, n u m perído d e grande nacionalisto e, viveu u m a b o a parte d e s u a históha s o b o regime militar vigente no país. Pela instituição p a s s a r a m dirigentes militares o u m e s m o que, s e não eram militares foram orientados para atuar s o b padrões rígidos d e c o m p o r t a m e n t o . Por esse motivo, o instituto, durante muitos anos, se m a n t e v e f e c h a d o e m torno d e seus muros hierarquicamente construídos. Por esse motivo o valor Hierarquia foi percebido por todos c o m o u m valor importante na cultura, m e s m o nos dias atuais e m que, por mudanças d e cenário, interno e externo, esse valor sempre teve um papel p r e p o n d e r a n t e m e n t e forte n o c o m p o r t a m e n t o d e todos. Muito embora esteja, c o m o foi d e m o n s t r a d o n o s dados levantados nesta pesquisa, começando a ter u m a influência m e n o r n o c o m p o r t a m e n t o d e todos o s funcionários. • A s p e s s o a s - c h a v e d a instituição O n o m e mais citado dentre os fundadores foi o d o Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni. D e c i d i d a m e n t e , o Prof. Pieroni ( c o m o era c h a m a d o por todos) foi o h o m e m q u e mais m a r c o u a instituição e todos q u e o c o n h e c e r a m e m e s m o aqueles q u e não o c o n h e c e r a m s a b e m transmitir a l g u m relato sobre esta ilustre pessoa. A opinião geral é d e que, devido à s u a longa permanência na instituição (23 a n o s ) ele tena deixado raízes profundas, imprimiu valores e seu ritmo dinâmico e persistente. T o d o s são unânemes e m afirmar q u e : o Prof. Pieroni era o primeiro a chegar e o último a sair das dependências d o instituto. O Prof. Pieroni p e r m a n e c e u à frente d o instituto durante 2 3 anos: no período d e 19/02/1963 a 04/06/1979, c o m o superintendente d o IPEN, de 1957 a 1963, c o m o chefe d a Divisão d e Radiobiologia, e d e 1956 a 1957, c o m o chefe de pesquisas. A infra-estrutura predial e a área física o c u p a d a pelo IPEN no c a m p u s da U S P foi obra e graça d o Prof. Pieroni, q u e lutou junto a o s políticos da época 166 para a obtenção d e recursos financeiros, na tentativa d e fazer c o m que o instituto viesse a ser o q u e é hoje! O s e g u n d o n o m e mais citado pelos entrevistados foi o d o Prof. Marcello D a m y d e S o u s a Santos. O Prof. Marcello D a m y formou-se e m 1936 na primeira t u r m a d o c u r s o d e física d a U S P , e d e s d e então, suas pesquisas e honras a o mérito f o r a m multas. Suas pesquisas sobre física nuclear renderam a construção d o "Betatrón" da USP, q u e foi o primeiro acelerador a funcionar na América Latina ( e m 1950). Foi escolhido c o m o responsável, n o m e a d o pela U S P e C N P q , pela instalação d o reator de pesquisa n o lEA, hoje I P E N , q u e começou a funcionar e m 1957. Foi diretor-fundador do lEA, presidente d a Comissão Nacional de Energia Nuclear e m e m b r o d a Junta d e G o v e r n a d o r e s d a A I E A entre 1961 e 1964, e entre 1 9 6 9 e 1 9 7 2 , foi m e m b r o d o Comité Internacional de Dados Nucleares d a AIEA. É Professor Catedrático e Emérito d a U S P , da qual se aposentou e m 1968, ocasião e m que foi n o m e a d o diretor d o Instituto d e Física d a U N I C A M P e e n c a r r e g a d o d e sua implantação. C o m o acadêmico e docente, o Prof. Marcello D a m y d i s s e m i n o u e transmitiu valores c o m o aqueles identificados nesta pesquisa. • C o m o s e p r o c e s s a a transmissão d o s v a l o r e s n o IPEN A pós-graduação d o IPEN, cujo corpo docente é representado por 153 doutores credenciados, v e m cumprindo bem o papel d e socialização d o s valores presentes na cultura d a instituição. S e g u n d o o d e p o i m e n t o d e u m dos entrevistado nesta pesquisa, " S e conseguirmos manteres valores vigentes na instituição, conseguiremos manter o IPEN vivo. Acho que a cultura precisa não só ser mantida, mas também tem que ser transmitida. Na medida em que conseguirmos transmitir os valores da nossa cultura para as pessoas mais novas. Fazer com que as pessoas jovens se fixem e absorvam nossa cultura, acho que só assim a continuidade do IPEN estará assegurada". O s valores d o IPEN resistiram ao t e m p o porque foram transmitidos a todos o s indivíduos pelo processo da socialização. Eles f o r a m transmitidos pelas mais diferentes f o r m a s d e comunicação e relacionamento. M a s , o ponto forte e mais marcante, se p e n s a r m o s e m termos de diferencial e q u e distingue o IPEN dos d e m a i s institutos d e pesquisa, foi o fato d e nesse instituto haver, dentre suas atividades, u m "pé" nas atividades de ensino. A área d e ensino n o IPEN propiciou 167 que a relação orientador/orientando fosse a grande determinante pela transmissão d e valores, pois: "quem quer que ensine, ensina • valores". (Lipman, 1990). Práticas estimuladoras do progresso Historicamente, o s desafios e a s grandes metas f o r a m u m a constante na instituição. A s m e t a s desafiadoras uniram a todos, d e s d e o início da instituição, na busca por soluções e e m prol d e u m a organização c a d a v e z melhor. A o analisar o s incidentes críticos que m a r c a r a m a história da organização, não resta dúvida, a s metas desafiadoras estimularam e motivaram o s servidores da instituição d e s d e o a c o n t e c i m e n t o d o marco zero, q u e foi a instalação d o primeiro reator de pesquisa d a América Latina, o I E A - R 1 . Neste contexto é apropriado citar E. Schein. Para este autor, basta analisar a s crenças, valores e convicções dos criadores para s e perceber quais o s elementos mais marcantes da organização, como as pessoas-chave influenciaram e c o n t i n u a m a influenciar a cultura d a organização. Schein afirma que, m e s m o após a morte o u a saída d o s funddores é perceptível por todos (como é o caso d o IPEN) a s marcas deixadas por e s s e s h o m e n s c o m o elas são indeléveis e o poder q u e elas exercem d e uma geração para a s subseqüentes. A análise do contexto histórico do IPEN nos forneceu elementos para concluir que as metas e os desafios que sempre estiveram presentes no contexto da organização estabeleceram referenciais de comportamento de sucesso. Os servidores do instituto aprenderam que estabelecer metas passa por um processo contínuo de aprendizado e que neste caminho os acertos e erros são computados. Porém, o que se pôde verificar é que os grandes desfies e as metas audaciosas estimularam os indivíduos a perseguir os objetivos com afinco e alcançar resultados positivos. Os indivíduos da instituição abstraíram padrões de comportamento de sucesso e superaram as adversidades nas mais diversas oportunidades e tais situações serviram de parâmetro para outras ações igualmente positivas e bem-sucedidas. 168 8 GESTÃO B A S E A D A E M V A L O R E S : U M A CONTRIBUIÇÃO "No longer is values-based organizational behavior an interesting philosophical choice — it is a requisite for sun/ival." K. Blanchard e O'Connor, 1997. V i m o s presenciando nos últimos t e m p o s a era d a gestão, seja ela d o c o n h e c i m e n t o , d a s pessoas, da tecnologia, da inovação, d a s organizações e, atualmente, o alinhamento d o s c o m p o r t a m e n t o s d o s colaboradores por meio da gestão b a s e a d a e m valores. N o início d o século, c o m a organização científica d o trabalho, a s pessoas f o r a m vistas c o m o simples extensão d a máquina, alimentando o processo produtivo. O s valores têm sido objeto de a l g u m a s poucas pesquisas onde se o b s e r v a q u e as empresas q u e divulgam s u a missão, visão e valores a g r e g a m u m diferencial na s u a marca. (R. V a r g a s , 2002.)^^ A gestão baseada e m valores prega q u e o verdadeiro gerenciamento dos valores organizacionais deve ser feito pelas p e s s o a s q u e compõem a organização, pois e s s e s se referem a c o m p o r t a m e n t o , atitudes, enfim, o lado h u m a n o das e m p r e s a s . P r i m e i r a contribuição: As pessoas que compõem a organização são os principais agentes gerenciadores de seus próprios valores. O s valores unem a s pessoas e m prol de objetivos c o m u n s , norteiam a s ações, p e r m e i a m a s relações e os c o m p o r t a m e n t o s d e todos o s funcionários. O processo d e gerenciamento por valores e m organização d e v e ser constituído pelas seguintes fases, a saber: F a s e I: O s valores organizacionais d e v e m ser identificados pelas partes interessadas d a instituição. A ideologia central d a organização deve conter esses valores; 32 A r t i g o p u b l i c a d o n a edição c o m e m o r a t i v a d o 10° décimo aniversário d a r e v i s t a T & D d e dezembro de 2002. 169 Fase A missão, a visão e os valores II; são os três pilares fundamentais da organização; F a s e III; A missão, a visão e o s valores d e v e m estar alinhados com os objetivos estratégicos e práticas diárias d a organização. N a prática, o processo de identificação d o s valores deve contar com o conhecimento, aprovação e conivência d a alta direção d a instituição. C o m foi o caso da pesquisa desenvolvida no IPEN. A identificação d a missão, visão e d o s valores d e v e m ser coerentes entre si e d e v e m constituir processos conjuntos. Q u a n t o mais simples, direto e de fácil compreensão f o r e m o s valores, maior a sua aderência e alinhamento c o m o s objetivos estratégicos. A identificação dos valores é u m processo colaborativo, pois o s valores não existem para as p e s s o a s e sim por elas e porque elas existem. A metodologia utilizada na pesquisa realizada no IPEN permitiu a identificação d o s valores, segundo a percepção d e seus funcionários. Na lista d e valores identificados levou-se e m conta u m a série d e tratamentos estatísticos para q u e f o s s e m pinçados aqueles q u e tivessem a grande unanimidade d o s votos. O s valores priorizados não foram identificados à revelia d o s funcionários, eles f o r a m objeto da percepção de 5 5 , 3 % d a população total d o I P E N . Para se atingir c o m sucesso as duas primeiras fases, o c o m p r o m e t i m e n t o da alta direção é d e vital importância, pois "a força propulsora da excelência organizacional está baseada na c a p a c i d a d e e no c o m p r o m e t i m e n t o da alta direção e m desenvolver um sistema d e gestão eficaz, q u e estimule a s pessoas a u m propósito c o m u m e duradouro, c o n s i d e r a n d o o s valores, as diretrizes e a s estratégias d a organização e c o m p r o m e t e n d o - s e c o m resultados". Segunda contribuição: VALORES CENTRAIS OU "CORE VALUES" São as doutrinas essenciais e duradouras da organização. Um pequeno conjunto de princípios gerais necessários à promoção da cultura da excelência de uma organização. 170 A compatibilização d o s valores priorizados pelos funcionários àqueles que realmente farão parte d o s valores centrais o u Core Values, q u e projetarão uma visão d e futuro e d e longo alcance d a organização, deverão ser tão fundamentais e fielmente seguidos q u e muito dificilmente serão modificados o u c o m p r o m e t i d o s a o longo d o s anos. O s valores centrais d e v e m ser declarados d e forma simples e direta. O s d i v e r s o s e x e m p l o s colhidos e m diferentes e m p r e s a s e na literatura têm c o m p r o v a d o q u e o s valores centrais não d e v e m e x c e d e r a o número d e seis, sendo q u e o ideal seria três o u quatro. Isso porque, a o s e listar mais d e seis valores, pode-se incorrer no erro d e não se estar representando o âmago d o s valores, o u seja, aqueles q u e são, realmente, centrais são considerados os Core Values d a organização. Na maioria d o s casos os valores centrais p o d e m ser reduzidos a algo e x t r e m a m e n t e simples e que forneça uma orientação substancial sobre aquilo que a organização considera s u a ideologia central, c o m p o s t a d o s valores centrais e dos objetivos estratégicos, a exemplo da Australian T e c h n o l o g y Organization -ANSTO, o Nuclear Science a n d u m dos "Benchmark" d o I P E N : ANSTO C o m base na visão e na missão d a organização, estão o s valores centrais o u Core Values d a A N S T O que são: • Segurança e qualidade nas nossas operações; • Excelência, criatividade e inovação no nosso trabalho; • C o m p r o m i s s o d e cooperar com respostas interdisciplinares; • Compreensão e atendimento às necessidades d o s nossos acionistas, parceiros e clientes; • Integridade na gestão d a excelência e d o s serviços prestados à sociedade australiana; • Perceptiva liderança e boa gestão. Conseqüentemente, tendo sido identificados o s valores organizacionais do I P E N , quais deverão ser o s próximos passos a serem adotados pela instituição na definição d e seu Core Values'? o ^ s f e mxmL DE ímm^ NUCLEAR/'SP-PEM' 171 Os valores a serem priorizados para a composição d o Core Valúes d e v e m estar alintiados às decisões estratégicas e às ações diárias, pois deverão servir d e guia para a instituição, independentemente d a s mudanças no ambiente externo. O s valores instituição d e v e m priorizados para a composição d o Core Valúes da ser os fiéis representantes d o s elementos internos da organização, s e m q u e n e n h u m a explicação racional deva ser fornecida. O s valores d o Core d e v e m ser gerenciados no sentido d e introjetá-los n o dia a dia d e todos o s funcionários d a instituição. Terceira contribuição: O verdadeiro sucesso do gerenciamento por meio de valores não reside na disseminação desses valores, mas sim na constatação de que as ações diárias dos funcionários estão impregnadas por esses valores. O processo d e disseminação deve contemplar todas as partes interessadas d a organização; todos d e v e m ter o e n t e n d i m e n t o claro d a missão, da visão e dos valores e c o m o estes se articulam às diretrizes organizacionais. A missão, a visão e os valores d e v e m ser veiculados e m todos o s canais d e comunicação existentes na organização, seja por meio eletrônico (intranet e Internet), marketing visual, por meio d e pôsteres, cartões d e mesa, agendas, m o u s e p a d , guias d e bolso e outros tantos meios. U m a outra excelente ferramenta q u e evidencia o alinhamento e o c o m p r o m e t i m e n t o d o s valores, missão e visão às práticas diárias e q u e motiva o s indivíduos consiste na instalação d e Mural. O s murais p o d e m ser afixados e m diversos locais e d e v e m ser utilizados para o relato d e histórias d e sucesso, sejam elas individuais o u e m grupo, d e funcionários q u e obtiveram sucesso na demonstração d o s valores e m suas rotinas diárias d e trabalho. O importante é essa o u qualquer outra ferramenta q u e v e n h a a ser utilizada pela organização auxilie n o sentido d e moldar a s atitudes e c o m p o r t a m e n t o s d o s funcionários, q u e propiciem a criação d e u m foco único entorno das praticas diárias d o trabalho. 172 A seguir, apresenta-se u m a proposta de gestão baseada e m valores organizacionais f u n d a m e n t a d a nas pesquisas desenvolvidas por Blanchard e 0 ' C o n n o r (1997) e baseada n a pesquisa implementada no IPEN. PROPOSTA DE GESTÃO BASEADA NOS VALORES ORGANIZACIONAIS Fase I: Identificação dos Valores Por meio dã percepção dos membros da organização. C o m a concordância da Alta Direção, Gerentes, Líderes, E m p r e g a d o s , Clientes e Acionistas. f a s e II: Disseminação dos Valores. Materiais d e Comunicação - posters, brochuras, calendários e outros. M e c a n i s m o s formais de Comunicação - C o m u n i c a d o s Internos, Circulares d a Superintendência e outros meios eletrônicos o u não. Práticas d e Comunicação Informal - e-mail, café d a manhã c o m o s u p e r i n t e n d e n t e , encontros informais, bate p a p o s e outros meios. Organização d e Eventos - encontros, celebrações e outros. Fase III: Alinhamento dos Valores com as Práticas Diárias o o o Práticas individuais A u t o - g e r e n c i a m e n t o e, d e s e n v o l v i m e n t o pessoal; Práticas d e liderança; Resolução d e p r o b l e m a s e, t o m a d a d e decisões. o o o o o o Práticas Grupais Dinâmicas e processos de g r u p o ; Técnicas construção d e melhoria d a performance d e g r u p o ; Facilitadores d e g r u p o . Práticas Organizacionais { Desenvol. d e estratégias i de gerenciamento; o Práticas reconhecimento \ e recompensas; o Gerenciamento de obstáculos e barreiras. o Mellioramento das Práticas Reavaliação; Revisão; Ações continuas para melhoria das práticas. 173 9. ANÁLISE CRÍTICA DO PROBLEMA DE PESQUISA "Não é só a presença de urna meta que estimula o progresso, é também o nivel de comprometimento com respeito à meta. De fato, uma meta não pode ser classificada como audaciosa sem um alto nivel de comprometimento com respeito a ela. Palavras proferidas por Tom Watson Jr, filho de Thomas Watson, fundador da IBM." Collins et al., 2000. Buscou-se neste trabalho encontrar respostas para alguns questionamentos sobre a instituição. A l g u m a s respostas f o r a m encontradas c o m base n a pesquisa desenvolvida, porém outras questões f o r a m lançadas e servirão de base para futuros trabalhos nesse c a m p o d e pesquisa. O b s e r v o u - s e , e m face das diversas leituras feitas para execução deste trabalho, u m a e n o r m e carência de estudos axiológicos nas organizações nacionais, tanto d o setor privado c o m o d o público. Nota-se q u e as organizações têm-se p r e o c u p a d o e m estimular mudanças e melhorias c o m o objetivo d e sobreviver às flutuações d o mercado ante a s exigências d o m u n d o globalizado. Porém, elas não têm percebido que o m e r c a d o m u d o u e passou a exigir u m a postura ainda mais pró-ativa d o s indivíduos e, conseqüentemente, d a s organizações. O perfil d o s profissionais exigido pelas corporações nos dias atuais passou d e obediente e disciplinado para u m perfil autônomo, empreendedor e inovador. O m e r c a d o d e trabalho passou a estimular e a apoiar indivíduos c o m iniciativa, criativos e autônomos, que auxiliem suas organizações a alcançar bons resultados e m a i s negócios. Esse novo perfil m u d o u , também, a percepção d o s dirigentes d e instituições públicas, o s quais passarram a e m p r e e n d e r ações n o sentido de capacitar e treinar melhor seus gestores para atuarem face a s exigências d o m e r c a d o . O e s t u d o d o contexto histórico d o IPEN possibilitou-nos verificar que o instituto t e m atuado, n o s últimos anos, d e f o r m a pró-ativa frente às diferentes mudanças ocorridas no ambiente físico e social. Fato este q u e capacitou o instituto para participar d o Projeto d e Excelência n a Pesquisa da A B I P T , buscando a excelência na gestão e, conseqüentemente, intercomparar-se c o m outros institutos d e P & D público. A pesquisa desenvolvida no IPEN de identificar os valores organizacionais veio atender às novas exigências d e boas práticas, onde é de 174 fundamental importância se ter-se conhecimento d o s valores q u e regem o c o m p a r t a m e n t o d o s servidores d e u m a organização, para q u e se busque a congruência entre as práticas gerencial e o s valores percebidos pelos indivíduos que a compõem. Esta pesquisa não teve a pretensão d e provar q u e os valores organizacionais identificados são os únicos elementos presentes na cultura d o IPEN q u e determinantes d o sucesso alcançado pela instituição. Não se buscou fazer estudos comparativos e m outros institutos d e pesquisa e, não foram encontrados n a literatura n e n h u m outro estudo similar a este, conduzido no IPEN. Não s e pode afirmar a existência direta d e u m a relação c a u s a e efeito. O u seja, o sucesso alcançado pelo IPEN está diretamente relacionado c o m os valores existentes e m s u a cultura. Entretanto, o s elementos básicos encontrados nesta pesquisa nos a p o n t a m na direção de q u e o IPEN é distinto d o s d e m a i s institutos de pesquisa pelos valores cultivados e transmitidos d e s d e a sua criação. T e n d o sido feita uma análise d a trajetória d a instituição e observado as diversas f o r m a s encontradas por esta, para lidar c o m o s acontecimentos críticos, conjetura-se q u e a s ações e m p r e e n d i d a s por todos, m a r c a r a m positivamente os caminhos trilhados o q u e resultaram e m pontos fortes, alavancadores de outras ações igualmente d e sucesso. Verificar c o m o a s experiências b e m sucedidas estimulam, m o t i v a m e p r o d u z e m u m a sensação d e satisfação, induzindo outras ações, igualmente, positivas, é impressionante! A s respostas obtidas c o m o presente estudo, q u e aliou as práticas metodológicas d o estudo científico às práticas d e gestão que serão viabilizadas tendo e m vista o s dados sobre a cultura do I P E N , motiva qualquer pesquisador! Este estudo viabilizou a obtenção d e a l g u m a s respostas sobre a cultura do Ipen foi importante verificar q u e o comprometimento dos servidores para com a instituição é u m valor determinante d o sucesso organizacional. Não se buscou, com esta pesquisa, encontrar simples correlações ocasionais associada a o s valores, ainda mais porque, o s valores identificados e hierarquizados nesta pesquisa já existiam n o âmago d a organização, s e m , contudo, terem sido clarificados. O senso c o m u m baseado na percepção empírica corrobora o resultado desta pesquisa. O s valores priorizados vieram comprovar q u e a Instituição v e n c e u a s adversidades a o longo d o s anos, não s o m e n t e por ter conseguido trilhado u m caminho c o m práticas v e n c e d o r a s , m a s por ter 175 descoberto extrair o melhor d e todos o s funcionários a cada dia. O conjunto d e valores (competência, hierarquia, produtividade e qualidade) uniu a todos, incessantemente, para juntos darem o melhor d e si para melhorar a performance da instituição e alcançar a excelência nas áreas e m q u e a t u a m . O c o m p r o m i s s o d a alta direção d a casa para c o m esta pesquisa foi no sentido d e s e estabelecer, n u m futuro próximo, o s valores q u e deverão compor o "Core V a l u e s " d a Instituição. A escolha d o s valores para c o m p o r o "Core Values" da Instituição, c o m base na literatura, deverão ser d e no máximo seis valores e esses conjunto deverá dever ter as seguintes premissas: > Devem estar alinhados às decisões estratégicas e as ações diárias de todos os servidores da instituição; > Servir de guia para a instituição, independente das mudanças no ambiente externo. > Devem ser os fiéis representantes dos elementos internos da organização, sem que nenhuma explicação racional deva ser fornecida; > Devem ser gerenciados, no sentido de que sejam introjetados no dia a dia de todos os funcionários da instituição. C o n s i d e r a n d o a s p r e m i s s a s acima e c o m base n o s resultados d a pesquisa sugere-se para o "Core Values" d o IPEN o q u e se s e g u e : > Trabalhamos com competência, eficiência e qualidade. > Valorizamos nossas equipes de trabalho. > Prestigiamos a excelência na prestação dos serviços à sociedade. > Atuamos pró-ativamemte com metas desafiadoras. > Promovemos programas assistenciais para nossos funcionários. 176 10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS "É justamente uma das qualidades peculiares do espirito humano não poder ficar passivo ao ver-se confrontado com uma contradição: ele se põe em movimento visando resolvê-la." Erich Fromm apud Coda e Bergamini, 1997. A presente pesquisa a o buscar suprir u m a lacuna Institucional no q u e se refere à identificação d e valores organizacionais c o n s e g u i u estabelecer u m a estreita e proficua relação entre uma pesquisa científica e s u a aplicação direta na gestão institucional. A s metodologias utilizadas no estudo d e c a m p o , quantitativa e qualitativa f o r a m convergentes e contribuíram para atingir o s objetivos propostos. A s respostas encontradas às questões d e pesquisa reforçam a hipótese d e q u e o fortalecimento da identidade d e u m a instituição baseia-se no compartilhamento d e valores, por parte d e todos àqueles q u e integram u m a organização. Este estudo foi contextualizado e f u n d a m e n t a d o c o m todo o rigor metodológico d e u m a pesquisa científica e procurou contribuir para c o m o avanço do estado d a arte. A s principais conclusões são a b o r \ ^ a 4 a seguir, relacionadas as questões d e pesquisa propostas: > P: Q u a i s são o s elementos básicos presentes na cultura d a organização q u e contribuíram para o sucesso d a m e s m a ? R: O s valores e a s crenças fundamentais construídas na cultura são o grande s u c e s s o da organização! O s valores priorizados na Instituição, tais como: Competência, Qualidade, Hierarquia, Produtividade e Eficiência contribuíram, p r e p o n d e r a n t e m e n t e , para o sucesso d a Instituição. "A competência e a dedicação s e m p r e estiveram presentes n a s atitudes d o s pesquisadores d o Ipen. A superação d e desafios s e m p r e foi u m a característica comportamental da organização. Competência é fundamental! O indivíduo q u e não t e m competência está perdido. S e m qualidade não se t e m competência e s e m competência não s e t e m sucesso!", (palavras d o entrevistado d e número 15). 177 > P: Quais o s valores priorizados que, s e g u n d o a percepção d o s funcionários estão presentes hoje n o /pen? R: O s valores priorizados f a z e m parte d a cultura d a instituição e regem o c o m p o r t a m e n t o d e s e u s servidores. Para exemplificar, cita-se o legado d o Professor Pieroni, pessoa e x t r e m a m e n t e rígida e disciplinada q u e imprimiu, e m todos a importância d a obediência e d o dever cumprido. Deixou c o m o herança s e u s valores que, apesar d e sua ausência d o instituto a muitos anos, seus valores atê hoje p e r m e i a m o c o m p o r t a m e n t o das p e s s o a s q u e trabalham na instituição. O c o m p o r t a m e n t o hieráquico u m outro legado d o Prof. Pieroni continua a ter u m a forte presença n a cultura, a e x e m p l o d a citação d e u m dos entrevistados: "O Ipen, s e m p r e teve u m a administração centralizadora e voltada para o trabalho e a produção, carregamos estes valores até hoje!" (palavras textuais d o entrevistado d e número 7). > P: Quais são aqueles valores que necessitam de u m a atuação d a alta direção, c o m vistas à melhoria d o clima organizacional? R: O s valores relacionados a o fator R E S P E I T O A O S E R V I D O R e INOVAÇÃO c o m o d e m o n s t r a d o n o s resultados e n a s análises d o s dados. A l g u n s valores presentes n e s s e s dois fatores, c o n f o r m e o s indicadores d o s níveis d e satisfação/insatisfação necessitam d e práticas gerenciais q u e melhorem a representatividades desses valores n o d i a a dia d a cultura organizacional. Administrar valores e a cultura d a e m p r e s a deve ser o papel d e u m a boa gerência. " O s valores q u e precisamos introduzir n o Ipen são aqueles q u e poderão propiciar o atendimento d a d e m a n d a d e nossos clientes, q u e b u s c a m a inovação. Para viabilizar a visibilidade e a transparência d o Ipen, para o m u n d o externo", (palavras d o entrevistado d e número 3). > P: Quais o s principais valores transmitidos pelas pessoas-chave da organização? R: O s valores mais citados pelas p e s s o a s - c h a v e d o Ipen f o r a m , praticamente, os m e s m o s s e g u n d o a percepção d o s servidos. Existe congruência entre o s valores transmitidos e aqueles percebidos, o u seja, competência, qualidade. m hierarquia são valores q u e foram transmitidos e são praticados, na atualidade, na cultura d a organização. A s metas desafiadoras citadas pelas pessoaschave d a organização sen/iram d e elo motivacional q u e impulsionou todos para a b u s c a d e soluções inovadoras. > P: C o m o e s s e s valores, na opinião d o s entrevistados, f o r a m preservados até os dias atuais? R: Foram preservados por meio d a socialização, d o s bons e x e m p l o s , d a s narrativas d e s u c e s s o , d o e m p e n h o , dedicação e perseverança d e todos, desde os fundadores. P o r meio d e d o c u m e n t o s produzidos, formais o u não formais, publicações, orientação d e alunos, enfim alguns veículos tangíveis outros não e, dentre esses intangíveis e n c o n t r a m - s e o s valores ocultos. A q u e l e s q u e não f o r a m expressos por meio d a palavra, m a s , conhecidos pelo senso c o m u m . > P: Qual (quais) o (s) melhor (s) meio (s) d e transmissão d e valores na organização? R: T o d o s o s m e i o s justificam o fim. A transmissão d e valores s e processa por diferentes meios, tais c o m o : a palavra escrita e verbal e, principalmente pela comunicação não verbal, transmitida n a s entrelinhas, nas ações e n a s atitudes. Q b s e r v o u - s e q u e a transmissão d e "pai para filho", referindo-se à relação orientador/orientado é o grande diferencial d o Ipen e o principal meio de transmissão d o s valores d o Instituto. A socialização d o s mais velhos para os mais novos, d o s mais experientes para o s q u e a n s e i a m por novos ensinamentos foi responsável pela manutenção d o s "status quo" da organização. "Se c o n s e g u i r m o s manter o s valores vigentes na instituição conseguiremos manter o Ipen vivo. A c h o q u e a cultura precisa não só ser mantida, m a s também t e m q u e s e r transmitida. Na medida e m q u e c o n s e g u i r m o s transmitir os valores d a nossa cultura para a s p e s s o a s mais novas. Fazer c o m q u e a s pessoas j o v e n s s e fixem e a b s o r v a m nossa cultura, a c h o q u e só a s s i m a continuidade d o Ipen estará assegurada", (palavras textuais d o entrevistado d e número 3). 179 > P: Existe congruência entre o s valores percebidos e aqueles transmitidos pelas p e s s o a s - c t i a v e d a organização? R: S i m . A congruência e a consistência entre o s valores percebidos e aqueles transmitidos pelas pessoas-chave d a organização são mostras d o alinhamento da organização c o m a s práticas gerenciais e o estilo operacional d e seus servidores. A p e s a r d e o s valores d a organização t e r e m sido identificados a p e n a s , q u a n d o d a realização desta pesquisa, o q u e s e pode notar ê q u e a s pessoas s e m p r e praticaram valores e tiveram padrões d e c o m p o r t a m e n t o congruentes c o m a q u e l e s identificados na pesquisa. O s valores subjacentes, presentes n a cultura d o Ipen d e s d e a s u a fundação f o r m a r a m u m poderoso sistema d e controle social para q u e , a s experiências bem-sucedidas e compartilhadas orientassem o c o m p o r t a m e n t o d e t o d o s para o b e m c o m u m . > P: O s valores priorizados têm alguma relação c o m o s u c e s s o d a organização? R: A s referências bibliográficas consultadas a o longo desta pesquisa d e m o n s t r a r a m q u e n a s e m p r e s a s o n d e o s u c e s s o foi alcançado, existem valores c o m p a r t i l h a d o s , existe consonância entre o s valores e a s práticas gerenciais. Entretanto, esta pesquisa não buscou relacionar c a u s a e efeito, porém princípios f u n d a m e n t a i s originados na gênese d a instituição, d e m o n s t r a r a m que e s s e s valores orientaram o c o m p o r t a m e n t o d a s p e s s o a s , para o sucesso alcançado pelo Ipen. "Considero a principal característica da Instituição a v o n t a d e d e transpor obstáculos e vencer desafios. Entretanto, hoje s e a p r e s e n t a m d e forma mais ampla e a b r a n g e n t e , c o m objetivos e metas m a i s claras e transparentes. A s novas características apontam firmemente, para o futuro e para a m o d e r n i d a d e . U m a m o d e r n i d a d e q u e visa a melhoria contínua, s e m p r e alinhada c o m o s aspectos sociais e d e qualidade d e vida", (palavras textuais do entrevistado d e número 9) > P: Q u a i s indicadores p o d e m subsidiar u m a gestão b a s e a d a e m valores? R: O s indicadores d e gestão baseada e m valores, d e c o r r e m d o nível d e satisfação e insatisfação d a s necessidades d o s indivíduos. A s práticas gerenciais d e v e m estar alinhadas e coerentes c o m o s valores vigentes n a 180 casa. O s funcionários identificam claramente q u a n d o há u m a incongruência entre o q u e s e diz e o q u e se f a z na prática, portanto é d e fundamental importância haver u m a consonância entre a s práticas e o s valores. O s indicadores são fortes balizadores d o s níveis d e insatisfação, c o m o o s gestores não c o n s e g u e m motivar as pessoas, pois motivação d e p e n d e d e fatores internos a cada indivíduos, o q u e este p o d e m fazer é buscar fatores d e satisfação relacionados à necessidades a p o n t a d a s n o s indicadores e atuar induzindo c o m p o r t a m e n t o s positivos n o s indivíduos d a organização. Como sugestão para futuros estudos recomenda-se o seguinte: U m a nova pesquisa c o m a utilização d e u m outro instrumento e c o m estratificação d a população, a f i m d e s e identificar s e há u m a percepção diversificada a o se considerar algumas d a s seguintes variáveis; escolaridade, idade, sexo, função, lotação, t e m p o d e serviço e outras. Para a Instituição recomenda-se priorizar o s valores q u e deverão c o m p o r a Ideologia Central o u o "Core Valúes" Organizacional. O s valores d a ideologia central d e v e m ser elencados, dentre aqueles hierarquizados pelos servidores. U m a analise d o s diversos cenários futuros, s e f a z necessáha, para que, c o m base na missão, nos objetivos e estratégias institucionais, valores d o "Core Valúes" sejam definidos. Observou-se n o s estudos e referências pesquisadas q u e , o número de valores q u e compõem a ideologia central d e u m a organização não d e v e exceder a seis (variam entre 3 e 6 valores), d e v e m ser e x t r e m a m e n t e simples e claramente descrito o significado daquele valor para q u e todos, indistintamente, e n t e n d a m a essência d a q u e l e s valores. Para outros Institutos d e Pesquisa r e c o m e n d a - s e utilizar a experiência e os passos apontados neste estudo para identificação organizacionais d e suas organizações. mWfSSfe HKimi ÜE ENERei^, mJCLEAR/SP-IPEfí d o s valores 181 APÊNDICE A — Questionário de valores organizacionais 182 INSTRUÇÕES Este questionário traz u m a lista d e valores e, entre os parênteses, encontra-se u m a explicação q u e pode ajudá-lo(a) a c o m p r e e n d e r o significado de cada valor, Sua tarefa é avaliar quão importantes são esses valores c o m o princípios orientadores da vida de s u a organização. Esta avaliação deve ser feita e m dois níveis; REAL: quanto c a d a valor é importante na realidade atual d e s u a organização; DESEJÁVEL: quanto c a d a valor deveria ser importante para sua organização, Entende-se por valores organizacionais o s princípios q u e o r i e n t a m a vida d a s organizações, pois são o s valores q u e p e r m e i a m a s relações entre o s h o m e n s e d e t e r m i n a m seus padrões d e c o m p o r t a m e n t o . O b s e r v e b e m q u e não s e trata de avaliar o s seus valores pessoais, mas, sim, os valores orientadores d a vida d e s u a organização. Avalie a importância dos valores d e sua organização n u m a escala d e O a 6, conforme abaixo: 0 Nada 1 2 Importante Importante 3 4 5 6 Extremamente Importante Lembre-se d e que quanto mais próximo do número 6, mais importante é o valor. Não iiá resposta certa ou errada! R e s p o n d a d e acordo c o m o s e u entendimento e interpretação. Não deixe n e n h u m item e m branco. A g r a d e c e m o s a sua colaboração. Não é necessário se identificar. 183 • • Observe que: Não se trata de apontar os seus valores pessoais, m a s , s i m , aqueles valores q u e orientam a vida organizacional d o IPEN; No nivel R E A L : D e v e ser avallado quanto cada valor é importante para a realidade atual d o IPEN; • No nivel DESEJÁVEL: D e v e ser avaliado quanto c a d a valor deveria ser importante; • Não há resposta certa o u errada. REAL DESEJÁVEL VALOR ABERTURA 0 1 2 3 4 5 6 (Promoção de clima propicio ás sugestões e ao diálogo.) AMIZADE 0 1 2 3 4 5 6 (Clima de relacionamento amistoso entre os empregados.) BENEFICIOS 0 1 2 3 4 5 6 (Promoção de programas assistenciais aos funcionários.) COLEGUISMO 0 1 2 3 4 5 6 (Clima de compreensão e apoio entre os funcionários.) COMPETENCIA 0 1 2 3 4 5 6 (Auto-suficiência na área de atuação profissional.) COMPETITIVIDADE 0 1 2 3 4 5 6 (Capacidade para competir com similares.) COMPROMETIMENTO 0 1 2 3 4 5 6 (Identificação com a missão da organização.) COOPERAÇÃO 0 1 2 3 4 5 6 (Clima de ajuda mútua.) CRIATIVIDADE 0 1 2 3 4 5 6 (Capacidade de inovar na organização,) DEDICAÇÃO 0 1 2 3 4 5 6 (Promoção ao trabalho com afinco,) DEMOCRACIA 0 1 2 3 4 5 6 (Participação dos empregados nos processos decisórios.) EFICACIA 0 1 2 3 4 5 6 (Fazer as tarefas de forma a atingir os objetivos esperados,) EFICIENCIA 0 1 2 3 4 5 6 (Execução das tarefas da organização de forma correta,) FISCALIZAÇÃO 0 1 2 3 4 5 6 (Controle do serviço executado,) FLEXIBILIDADE 0 1 2 3 4 5 6 (Administração que se adapta às situações concretas,) HARMONIA 0 1 2 3 4 5 6 (Ambiente de relacionamento interpessoal adequado.) HIERARQUIA 0 1 2 3 4 5 6 (Respeito aos niveis de autoridade,) HONESTIDADE 0 1 2 3 4 5 6 (Promoção do combate à corrupção na organização.) INCENTIVO A PESQUISA 0 1 2 3 4 5 6 (Incentivo à pesquisa relacionada com interesses da organização,) INTEGRAÇÃO INTERORGANIZACIONAL 0 1 2 3 4 5 6 (Intercâmbio com outras organizações.) 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 184 JUSTIÇA (Imparcialidade nas decisões administrativas.) MODERNIZAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS (Preocupação em investir na aquisição de equipamentos, programas de informática e outros.) OBEDIENCIA (Tradição de respeito às ordens,) ORGANIZAÇÃO (Existência de normas claras e explicitas.) PLANEJAMENTO (Elaboração de planos para evitar a improvisação na organização.) PLANO DE CARREIRAS (Preocupação com a carreira funcional dos funcionários.) POLIDEZ (Clima de cortesia e boas maneiras no relacionamento cotidiano.) PONTUALIDADE (Preocupação com o cumprimento de horários e compromissos.) POSTURA PROFISSIONAL (Promover a execução das funções ocupacionais de acordo com as normas da organização.) PROBIDADE (Administrar de maneira adequada o dinheiro público.) PRODUTIVIDADE (Atenção voltada para a produção e prestação de serviços.) QUALIDADE (Compromisso com o aprimoramento dos produtos e serviços.) QUALIFICAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS (Promover a capacitação e treinamento dos funcionários.) RECONHECIMENTO (Valorização mérito na realização do trabalho.) RESPEITO (Consideração às pessoas e às opiniões.) SOCIABILIDADE (Estimulo às atividades sociais fora do ambiente de trabalha) SUPERVISÃO (Acompanhamento e avaliação contínuos das tarefasj TRADIÇÃO (Preservar usos e costumes vigentes na organização.) 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 185 C a s o julgue necessário, acrescente aqui alguns outros valores q u e , s e g u n d o você, o r i e n t a m a v i d a d a organização e q u e não c o n s t a m d a lista acima. Identifique c o m u m D X D se esse valor faz parte da vida d a instituição o u s e ele ê desejável. VALOR AGRADECEMOS POR SUA VALIOSA DESEJÁVEL • • • • • • • • COLABORAÇÃO! 186 APÊNDICE B — Roteiro semi-estruturado de entrevistas 187 Prezado Senhor, MÁRCIA ORRICO PUPAK, aluna de doutorado com ênfase e m gestão, regularmente matriculada na pósgraduação do IPEN vem desenvolvendo pesquisa de campo como parte de seu trabalho sobre os VALORES ORGANIZACIONAIS do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN, e, esse trabalho compreende uma série de entrevistas com fundadores, superintendentes e diretores do IPEN/CNEN que contribuíram para a formação e transmissão desses valores aos demais servidores da instituição. A entrevista é fundamentalmente de natureza qualitativa e tem por objetivo captar os valores transmitidos pelos membros-chave da organização aos seus funcionários. Uma outra ferramenta a ser utilizada na coleta dos dados será o questionário "Inventário de Valores Organizacionais", o qual deverá ser aplicado a todos os funcionários do IPEN objetivando a identificação dos valores organizacionais percebidos como sendo aqueles formadores do núcleo central da cultura do instituto. A relevância do estudo em questão é determinada pela oportunidade de se ampliar o conhecimento sobre o tema, bem como contribuir para a compreensão dos fatos organizacionais que marcaram o IPEN. A definição de valores é assim expressa: "Valores são princípios ou crenças organizados hierarquicamente, relativos a estados de existência ou a modelos de comportamentos desejáveis, que orientam a vida das pessoas e expressam os interesses individuais, coletivos ou mistos". (Schwartz & Bilsky, 1987,1990.) Acreditando que o presente trabalho irá contribuir para a nova organização do IPEN, contamos com a colaboração de V. Sa. e agradecemos antecipadamente sua participação. Prof. Dr. JOSÉ ROBERTO ROGERO Orientador Obs: Para maiores esclarecimentos, contatar Márcia Orrico Pupak nos ramais 9379 ou 9113, ou no e-mail: mopupak(S)net.ipen.br m ROTEIRO DE ENTREVISTA 1 . E m quais circunstâncias foi criado o instituto? 2. Q u a i s f o r a m a s principais pessoas que participaram d a sua fundação? 3. Quais f o r a m o s acontecimentos críticos q u e m a r c a r a m decisivamente a tiistória d a instituição? 4. S o b seu ponto d e vista, o q u e p e r m a n e c e até hoje na instituição dessa fase? (Alguns valores, rituais, símbolos, p e r s o n a g e n s e/ou outros.) 5. P o d e lembrar-se d e acontecimentos q u e provocaram à instituição p r o b l e m a s para os quais ela não dispunha d e solução apropriada para resolvê-los? 6. C o m o reagiram o s m e m b r o s d a instituição a e s s e s incidentes? 7. N a s u a opinião, qual é a razão d e ser d a instituição? A sua missão continua a m e s m a desde a época da fundação? Se não, o q u e m u d o u ? 8. N a s u a opinião, quais foram o s principais valores que orientaram a vida d a instituição, n o passado? 9. Eles c o n t i n u a m tendo o m e s m o grau d e importância nos dias de hoje? 10. Q u a i s são o s valores, na sua opinião, q u e continuam atuais nos dias d e hoje? II.Qual(quais) valor(es), na s u a opinião, seriam opostos àqueles q u e orientam a vida d a instituição? Poderia citá-lo(s)? 12. C o m o você definiria a s características principais d a instituição? 189 APÉNDICE C — Perfil dos entrevistados 190 1. Dr. Alcídio Abrão Formação Acadêmica/Titulação: 1961 - Pós-doutorado, Boston College, BC, Estados Unidos. Instrumentação Analítica. 1965/71 - Doutorado em Química (Química Analítica), Universidade de São Paulo - USP. Título: Estudo do comportamento de extração de vários elementos por aminas de cadeias longas na presença de tiouréia como agente complexante; 1947/51 - Graduação em Química, Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Brasil. Área do coniiecimento: Atuação Profissional Vinculo institucional: 1. Indústrias Químicas Orquima S.A. - ORQUIMA, de 1952 a 1957, Regime: Dedicação Exclusiva. 2. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - CNEN/IPEN, desde 1957, Servidor público. Enquadramento funcional: Pesquisador (aposentado). Premióse Títulos: 2000 - Pesquisador Emérito, IPEN. 1999 - Auditório Dr. Alcídio Abrão, Diretoria de Materiais e Ciclo do Combustível - IPEN. 1999-Prêmio CRQ-IV, CRQ-IV. 1999 - Prêmio FritzFeigl,CRQ-IV. 1996 - Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, Área Tecnologia. 1993 - Diploma honor al mérito universitário, Faculdad de Ciencias Químicas, Universidad Nacional de Assunción, Paraguai. 1992 - Medalha Carneiro Felipe, CNEN. 1987 - Medalha Mérito Tamandaré, Ministério da Marinha. 1986 - Diploma de Honra ao Mérito, Comissão Nacional de Energia Nuclear. 2. Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva Formação Acadêmica/Titulação: 1978 - Nuclear Engineer Degree - Massachusetts Institute of Technology. Título Tese; Nuclear Fuel Performance Maps for Reactor Operational Decisions. 1978 - Master in Science in Mechanical Engieneering - Massachusetts Institute of Technology. Área do conhecimento: Gerenciamento de Projetos e Empreendimentos nas Áreas: Naval, Mecânica, e Nuclear 1966 - Engenharia Naval - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (cursou simultaneamente as especialidades de Arquitetura Naval e Máquinas) 1960 - Oficial de Marinha do Corpo da Armada - Escola Naval Atuação Profissional: • • • Atingiu o posto de vice-almirante no Corpo de Engenheiros e Técnicos Navais, o mais alto posto da carreira naval para oficiais engenheiros. De 1979 a 1994, fundou e foi responsável pelo Programa de Desenvolvimento do Ciclo do Combustível Nuclear e da Propulsão Nuclear para Submarinos. Autor do Projeto de Concepção das Ultra-Centrífugas para Enriquecimento de Urânio. cowssto miom DÊ ENERÊÍA NUCLEAS/SP-IPEM 191 • De 1982 a 1984, cumulativamente, funções na Marinha d o Brasil e Diretor de Pesquisas d e Reatores do IPEN. (Ocasião e m q u e foi construido o Reator I P E N - M B - 0 1 e reformado o reator IEA-R1.) • C o o r d e n o u o projeto e o desenvolvimento d o s Laboratorios Experimentais, necessários à validação experimental d o s equipamentos e c o m p o n e n t e s d o sistema d e propulsão nuclear de s u b m a r i n o s e o projeto e desenvolvimento desses e q u i p a m e n t o s e c o m p o n e n t e s e s u a fabricação na indústria brasileira. • De 1967 a 1974, atuou c o m o engenheiro no Arsenal d e Marinha do Rio de Janeiro, atuando c o m o chefe d a Divisão de Metalurgia, Divisão d e Oficinas Mecânicas e Eletricidade, Divisão d e O b r a s N o v a s e Departamento de Construção Naval. • • C o o r d e n o u o Programa de Construção d o s Navios d e Patrulha d a Amazônia d a Classe P e d r o Teixeira, d a s Fragatas Classe Niterói, d a s E D V P - Embarcações d e D e s e m b a r q u e de V e i c u l e s e Tropa e E D C G - Embarcações de Veículos e Carga Geral e troca do sistema de propulsão d o s navios hidrográficos d a Classe T a u r u s . Consultor d a Superintendência de Marinha Mercante e d o G E I P O T - Grupo Executivo da Política d e Transporte. A t u a l m e n t e , trabalha c o m o empresário. Diretor d a Aratec E n g . Consultoria S/C Ltda. • Consultor d a Eletronuclear e d a Junta Comercial d o Rio d e Janeiro. • Vínculo institucional: 1 - De 1955 a 1994, Marinha d o Brasil. 2- De 1982 a 1994, Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - I P E N . Prêmios e Títulos e Condecorações: Área Civil: • Grã C r u z d a O r d e m Cientifico Nacional. • M e d a l h a Carneiro Felipe d a Comissão Nacional d e Energia Nacional. • Título d e Cidadão Iperoense. Área Militar: • O r d e m d o Mérito Naval - C o m e n d a d o r . • O r d e m d o Mérito Militar - C o m e n d a d o r . • O r d e m d o Mérito Aeronáutico - C o m e n d a d o r . • O r d e m d o Mérito das Forças A r m a d a s - C o m e n d a d o r . • M e d a l h a d o Mérito Tamandaré. • M e d a l h a d o Pacificador. • M e d a l h a d o Mérito Santos Dumont. • M e d a l h a Militar d e Ouro, 3. Pr. Claudio Rodrigues Formação Acadêmica/Titulação: 1974-Pós-doutorado, California Institute of Technology, P a s a d e n a , Estados Unidos, Área do conliecimento: Conversão, Enriquecimento e Fabricação d e Combustível Nuclear, 1970 - D o u t o r a d o e m Ciências, Física Nuclear, Universidade Estadual d e C a m p i n a s - U N I C A M P , 1966 - Licenciado e m Física, Universidade d e São Paulo - U S P , 1964 - Bacharel e m Física, Universidade de São Paulo - U S P , 192 Atuação Profissional: Vinculo institucional: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N Cargos Ocupados: • Pesquisador d o l E A / I P E N - C N E N / S P , d e 1965 a 1994. • • Responsável pelo projeto, construção e operação do Espectrómetro d e Nêutrons do lEA, d e 1965 a 1969. Chefe do Laboratório d e Espectrometria d e Massa - lEA, d e 1969 a 1974. • Chefe d o A g r u p a m e n t o de Espectrometria do Departamento d e Engenharia Química e responsável pelo projeto, construção e implantação d o s Laboratórios d e Caracterização Isotópica e Controle d e Qualidade d e Materiais Combustíveis Nucleares - lEA, d e 1975 a 1977, • Responsável pelo projeto de instalação, gerente da Área d e Processos Especiais lEA/IPEN e c o o r d e n a d o r d o Projeto de Enriquecimento Isotópico d e Urânio por Centrifugação - 1978 a 1982. • Diretor do setor d e Materiais Nucleares - I P E N / C N E N - S P , d e d e z e m b r o d e 1982 a j u n h o d e 1985. • Superintendente d o I P E N / C N E N - S P , d e j u n h o d e 1985 a j u n h o d e 1990, • Consultor d a Coordenadoria para Projetos Especiais - C O P E S P , do Ministério da Marinha, de outubro d e 1990 a abril d e 1995, • Superintendente do I P E N / C N E N - S P , d e maio d e 1995 até atualmente, 2002, • Presidente d o C o n s e l h o Deliberativo d o Centro de Incubação de E m p r e s a s Tecnológicas C I E T E C , d e s d e j u n h o d e 1998, Prêmios e Distinções: • O r d e m do Mérito Naval - Brasil • Ministério d a M a r i n h a - 1 9 8 7 • O r d e m d o Mérito das Forças A r m a d a s • Estado Maior das Forças A r m a d a s - 1988 • W h o ' s w h o in the worid - 1 1 ^ edição ( M A R Q U I S - USA) • W h o ' s w h o in Science a n d Engineering - T edição ( M A R Q U I S - U S A ) 4. Dra. Constância Pagano G. da Silva Formação Acadêmica/Titulação: 1970/74 - Doutorado e m Ciências, Instituto d e Química d a Universidade d e São Paulo - U S P , Brasil, Titulo: C o m p o s t o s d e adição de percloratos d e e l e m e n t o s lantanidicos e d e tritio c o m a N,N,N,Ntetrametilamida d o ácido ftálico ( T M A F ) . Área do confiecimento: Produção de Radioisótopos, 1968/70 - Mestrado e m Tecnologia Nuclear, Escola Politécnica d a Universidade d e São Paulo USP, Área do Coniiecimento: Produção d e Radioisótopos, 1951 - Especialização e m Química Tecnológica Geral, Escola Politécnica d a Universidade de São P a u l o - E P / U S P , Brasil 193 1948/51 - Graduação e m Bacharel e m Química, Faculdade d e Filosofia Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo - Usp. Atuação Profissional Vinculo institucional: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N desde 1958. Vínculo: Servidor piJblico. E n q u a d r a m e n t o funcional: Pesquisador (aposentado). Cargos Ocupados: • Chefe d e Serviço d e Processo de Material Radioativo, d e 1 9 6 5 - 1 9 7 2 ; • Chefe d e P e s q u i s a A s s o c i a d a , de 1972-1973; • Diretora d e P r o c e s s a m e n t o d e Material Radiativo, d e 1973-1975; • C o o r d e n a d o r d o setor de Processamento d e Material Radiativo, d e 1975-1980; • Direção e Administração do Centro de Radiofarmácia Áreas de atuação: 1 - Produção d e Radioisótopos 2 - Físico Química Inorgânica 3 - Controle d e Q u a l i d a d e 5. Dra. Linda V. E. Calda Formação Acadêmica/Titulação 1988 - Pós-doutorado, Institui Für Strahienschutz, G S F , A l e m a n h a . 1977/80 - D o u t o r a d o e m Física Nuclear, Instituto d e Física d a Universidade de São Paulo. Titulo: Alguns Métodos d e Calibração e de Dosimetria d a Radiação Beta. Área do Confiecimento: Engenharia Nuclear, Aplicações d e Radioisótopos, Instrumentação para Medida e Controle d e Radiação. 1971/73 - M e s t r a d o e m Física Nuclear, Instituto d e Física d a Universidade d e São Paulo. 1968/71 - Graduação e m Física, Instituto de Física d a Universidade d e São Paulo. Linfias de Pesquisa 1. Materiais Dosimétricos 2. Dosimetria das Radiações 3. Calibração d e Instrumentos 4. D e s e n v o l v i m e n t o d e Detectores de Radiação 5. Dosimetria d e Altas D o s e s 6. Física Médica Atuação Profissional Vínculo institucional: Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N desde 1975. Vínculo: Servidor público. E n q u a d r a m e n t o funcional: Pesquisadora. Cargos Ocupados: • • Atual/2002 - Diretora do setor d e Segurança Radiológica. Direção e Administração d a Comissão d e Pós-Graduação e m Tecnologia IPEN/USP. Áreas de atuação 1 - Engenharia Nuclear. 2 - Aplicações d e Radioisótopos. 3 - Instrumentação para M e d i d a e Controle de Radiação. Nuclear 194 6. Dr. Edson Roman da Silva Formação Acadêmica/Titulação 1988 - Pós-graduação Latu-Sensu, Fundação Getúlio Vargas. Área do Coniiecimento: Recursos H u m a n o s . 1975 - Graduação: Administração de E m p r e s a s , Universidade São Marcos. Atuação Profissional: Vinculo Institucional: 1. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N desde 1993. Vinculo: Servidor público. E n q u a d r a m e n t o funcional: Analista e m C&T. 2. N u c l e m o n Minério Química Ltda, d e 1986 a 1990. E n q u a d r a m e n t o funcional: Superintendente Administrativo; d e 1990 a 1993: Diretor Administrativo, Cargos Ocupados: Atual/2002: Diretor d o setor d e Administração. Outras Atividades: C o o r d e n a d o r do C u r s o de Estudos de Política e Estratégica - C E P , da Associação dos Diplomados da Escola Superior d e Guerra - A D E S G / E S G , no período d e 1986 a 1987, 7. Dr. José Roberto Rogero Formação Acadêmica/Titulação 1979/81 - Pós-doutorado, Faculdade d e Medicina - Departamento de Biofísica,-Universidade d a Pensilvânia, U P E N , Estados Unidos, Área do Coniiecimento: Biofísica Molecular, 1972/78 - D o u t o r a d o no Instituto de Química, Universidade d e São Paulo, U S P , Título: Toxinas d o v e n e n o d e Crotalus durissus terrificus. Interação proteína-proteína e cinética de troca isotópica Hidrogénio-Tncio, Orientador: José M o u r a Gonçalves, 1966/1971 - Graduação e m Farmácia e Bioquímica, Universidade de São Paulo. Linhas de Pesquisa: • Estudos d o s efeitos d a radiação ionizante e m macromoléculas biológicas; • Efeitos biológicos d a s radiações; • Gestão e m Ciência e Tecnologia. Atuação Profissional: Vinculo institucional: Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N desde 1 9 7 1 . Vínculo: Servidor público. E n q u a d r a m e n t o funcional: Pesquisador. Cargos Ocupados: • C h e f e d a Divisão de Radiobiologia; • C h e f e d o D e p a r t a m e n t o d e Aplicações de Técnicas Nucleares e m Biologia e Medicina; • Diretor d e Aplicações d e Técnicas Nucleares; • A s s e s s o r d e Relações Institucionais; • Diretor d o setor de Materiais e Ciclo do Combustível; 195 2002: Diretor d e Ensino e Informação Cientifica e Tecnológica. Vínculo c o m pós-graduação ( C A P E S ) ; m e m b r o d o Comitê d e Avaliação d a s Engenharias 2 da C A P E S e presidente d a Comissão d e pós-graduação do C u r s o d e Tecnologia Nuclear - U S P . Áreas de atuação: 1 - Química d e Macromoléculas 2 - Biofísica Molecular 3 - Análise Institucional 4 - Aplicações de Radioisótopos 5 - Imunológica Aplicada 6 - Gestão d e institutos d e pesquisas 8. Pr. Spero Penha Morato Formação Académica/Titulação 1982-Pós-doutorado, Bell T e l e p h o n e Laboratories, B E L L L A B S , Estados Unidos, USA. Área do conhecimento: Propriedades Óticas e Espectroscopia d a Matéria C o n d e n s a d a ; Outras Interações d a Matéria c o m Radiação e Partículas. 1971/75 - Doutorado, University of Utah, Salt Lake City, Estados Unidos, USA. Titulo: Photodecomposition and Reactions of Hydroxyl Ions and Hydrogen Defects. 1969/71 - Mestrado e m Física, Instituto de Física, U S P , São Paulo, Brasil. 1963/67 - Bacharelado e licenciatura e m Física, Instituto d e Física, U S P . Linhas de Pesquisa: 1. Estudos sobre a Termoluminescência d o LIF. 2. Estudos teóricos (fenomenologia) sobre urna distribuição contínua d e armadilhas termoluminescentes d o C a F 2 . 3. Estudo d o s processos d e agregação d e centros d e cor a temperatura a m b i e n t e . 4 . Estudo experimental d o s processos d e tunelamento de elétrons entre d u a s vacâncias aniônicas para diferentes distâncias interatômicas. 5. Estudo experimental d a agregação d e centros F a baixas temperaturas. 6. Estudo d e reações fotoquímicas e m haletos alcalinos contendo impurezas 0 H - . 7. Estudos d e memórias ópticas e m haletos alcalinos. 8. Desenvolvimento d e lasers d e centros d e cor 9. Estudos d e modos locais de defeitos e m cristais iónicos. 10. Estudo d a luminescência (estado excitado) e das propriedades dielétricas d e cristais iónicos. 1 1 . Descoberta e e s t u d o de novos defeitos d o hidrogênio cristais iónicos. Atuação Profissional: Vinculo institucional: Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N , d e 1969 a 1995. Vínculo: Servidor piJblico. E n q u a d r a m e n t o funcional: Pesquisador. Cargos Ocupados: • Gerente da Área d e Materiais Dosimétricos do IPEN. • Gerente do Projeto de D e s e n v o l v i m e n t o de Materiais Especiais, Óptica e Espectroscopia. • C h e f e do D e p a r t a m e n t o d e Processos Especiais d o I P E N . • Diretor Substituto (interino) - Diretoria de Materiais Nucleares do I P E N . • Diretor de Segurança Nuclear d o IPEN. • Superintendente do Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - I P E N . 196 Diretor substituto d o setor d e Pesquisa e Desenvolvimento d a Comissão Nacional de Energia Nuclear. 2002: LaserTools Tecnologia Ltda - L A S E R T O O L S . E n q u a d r a m e n t o funcional: Presidente. Carga horária: 30. R e g i m e : Parcial. 9. Eng. Odair Marchi Gonçalves Formação Acadêmica/Titulação 1965/60 - Graduação e m Engenharia Civil, Universidade Mackenzie, São Paulo, Brasil. Atuação Profissional Vinculo institucional: Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N desde 1972. Servidor público. E n q u a d r a m e n t o funcional: Analista e m C & T . Cargos Ocupados: Atual/ 2002 - Diretor d a Diretoria d e Infra-estrutura. 10 Dr. Roberto Fulfaro Formação Acadêmica/Titulação 1965/70 - Doutorado e m Física, Universidade Estadual de C a m p i n a s - U N I C A M P . 1959/63 - Graduação e m Física, Universidade d e São Paulo. Linhas de Pesquisa 1. Aplicações d e Técnicas Nucleares Atuação Profissional: Vinculo institucional: Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N desde 1970. Vínculo: Servidor público. E n q u a d r a m e n t o funcional: Pesquisador. Cargos Ocupados: 2002 - Diretor d e P & D , Produtos e Serviços. Áreas de atuação: 1 - Aplicações d e Radioisótopos 2 - Instrumentação para Medida e Controle de Radiação 3 - Aplicações Industriais d e Radioisótopos 4 - Física Nuclear 5 - Aplicações d e Radioisótopos 6 - Instrumentação para Medida e Controle de Radiação 7 - Aplicações Industriais de Radioisótopos 8 - Física Nuclear 11. Dr. José Rubens Maiorino Formação Acadêmica/Titulação 1980 - Doutorado e m E n g e n h a r i a Nuclear, North Carolina State University, USA. Área do conhecimento: E n g e n h a r i a Nuclear. 197 1976 - Mestrado e m Engenharia Nuclear, Escola Politécnica da U S P . Área do conhecimento: Engenharia Nuclear. 1 9 7 4 - Graduação/Licenciatura e m Física, Universidade Estadual d e C a m p i n a s - U N I C A M P . Área do conhecimento: Física Linhas de Pesquisa: Física d e Reatores; Teoria d e Transporte. Atuação Profissional Vinculo institucional: Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares - C N E N / I P E N d e s d e 1974. Vinculo: Servidor público. E n q u a d r a m e n t o funcional: Pesquisador. Cargos Ocupados: Chefe d a Divisão d e Física d e Reatores Gerente d e Projetos Chefe d a Divisão d e Intercâmbio e Cooperação Técnica A s s e s s o r Técnico d a Superintendência A s s e s s o r Técnico d a D P D Diretor d e Reatores Atual/2002 - Diretor do setor d e Projetos Especiais Área de Atuação: Direção e G e r e n c i a m e n t o d e Projetos 12. Pr. Laércio Vinhas Formação Acadêmica/Titulação 1973 - Pós-doutorado, E u r o p e a n Atomic Energy Comunity, E U R A T O M , Bélgica. Área do conhecimento: Física da Matéria C o n d e n s a d a . 1970 - D o u t o r a d o , Universidade Estadual d e C a m p i n a s - U N I C A M P . Área do conhecimento: Física Nuclear 1965 - Especialização, Comissão Nacional d e Energia Nuclear - C N E N . Área do conhecimento: Engenharia Nuclear 1964 - Graduação, Universidade d e São Paulo. Área do conhecimento: Física. Linhas de Pesquisa: Metrologia nuclear; proteção radiológica; interação d a radiação c o m a matéria. Atuação Profissional Vinculo institucional: Comissão Nacional d e Energia N u c l e a r - C N E N Cargos Ocupados: • Diretor de Segurança Nuclear do IPEN • Presidente d a Comissão de Pós-Graduação d o IPEN • Atual/2002 • Diretor de Relações Internacionais da C N E N Áreas de atuação: 1 - Aplicações d e Radioisótopos 2 - Tecnologia d o s Reatores 3 - Combustível Nuclear 4 - Física Nuclear 198 13. Prof. Dr. Rui Ribeiro Franco Formação Acadêmica 1958 - Catedrático d e Petrologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras d a Universidade de São Paulo. Título: A s rochas termometamórficas d a série São R o q u e , São Paulo. 1952 - Livre Docência, Universidade d e São Paulo. Título: A s zeólitas d o s basaltos d o Brasil meridional (Gênese e Paragênese). 1944 - Doutor e m Ciências pela Faculdade d e Filosofia, Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo. Título: A faixa estañífera d o Rio G r a n d e d o Sul, Brasil. 1941/42 - Especialização e m Geologia na Universidade d e Cornell, U t h a c a , N e w Y o r k , USA. 1947/48 - Especialização e m Geologia na Faculdade d e Filosofia, Ciências e Letras da Universidade d e São Paulo. 1936/39 - D i p l o m a d o pela F a c u l d a d e d e Filosofia, Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo, Süb-Secção d e História Natural. 1940 - D i p l o m a d o pela Sub-Secção d e Didática. Atuação Profissional: • R e p r e s e n t a n t e d o s Livre-docentes na Congregação d a F a c u l d a d e d e Filosofia, Ciências e Letras d a Universidade d e São Paulo. • M e m b r o d o C o n s e l h o Técnico de Geologia da Faculdade d e Filosofia, Ciências e Letras da Universidade d e São Paulo. • C o o r d e n a d o r d o Instituto Geral de Geociências d a Universidade d e Brasília (1967). • e Diretor d e Publicações d a Sociedade Brasileira d e G e o l o g i a (1947/50). Secretário d a S o c i e d a d e Brasileira d e Geologia (1951/58). • Presidente d a S o c i e d a d e Brasileira d e Geologia (1960). • Presidente d a Associação Brasileira d e G e m o l o g i a ( 1 9 5 8 / 6 1 ) . • C h e f e d o C e n t r o Regional d e Geologia d a Faculdade Getúlio V a r g a s (1947). • Diretor Técnico d a revista Engenharia, • Editor d a revista d e G e m o l o g i a . • M e m b r o d o Comitê Provisório d o C E C T A L - Centro para Aplicação d a Ciência e d a T e c n o l o g i a a o Desenvolvimento d a América Latina, na qualidade de representante do CNPq. Mineração e Metalurgia. Atividades no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN • • • Responsável pela Divisão d e Ensino e Formação. Principal artículador, junto à Universidade de São Paulo, para a constituição d o programa d e pós-graduação e m Tecnologia Nuclear do IPEN. Ministrou disciplinas n a s u a área d e competência na pós-graduação e m Tecnologia Nuclear doIPEN. Orientou diversos alunos d o programa d e pós-graduação e m Tecnologia Nuclear nos niveis de m e s t r a d o e d o u t o r a d o . Participou d e diversas reuniões científicas, no País e no Exterior. • A p r e s e n t o u diversos trabalhos e m congressos e conferências. • • Atividades literárias/autor de três livros/tradutor diversas obras: 1. A s pedras preciosas 2. Noções d e Mineralogia e Geologia 199 3. O s Minerais d o Brasil - 3 volumes. Distinções Recebidas Prêmio José Bonifácio de A n d r a d e e Silva, Medalha de Ouro e D i p l o m a d a Sociedade Brasileira d e Geologia. 14. Dr. Rex Nazaré Formação Acadêmica/Titulação 1966/68 - D o u t o r a d o , Université de Paris VI (Pierre et Marie Curie), Paris, França Titulo: Etude d e q u e l q u e s proprietés d e niveaux lies et de niveaux virtueis excitésa laide d e neutrons d e résonance. Área do coniiecimento; Reações Nucleares e E s p a l h a m e n t o (Reações Específicas). Atuação Profissional Vínculo institucional: Instituto Militar de Engenharia - IME Áreas de atuação: 1- Desintegração Nuclear e Radioatividade. 2 - Reações Nucleares e E s p a l h a m e n t o (Reações Específicas). 3 - Aplicações Industriais d e Radioisótopos. 4 - Rejeitos d e Combustível Nuclear. 5 - Materiais Nucleares e B l i n d a g e m d e Reatores. 15. Dr. Stiigueo Watanabe Formação Acadêmica/Titulação: 1969 - Livre Docência, Universidade de São Paulo, Brasil. 1959/61 - D o u t o r a d o e m Física, Universidade de São Paulo, Brasil. Título: Counplig of single nucleón to triaxially Área do conhecimento; Física, Propriedades Óticas e Espectroscopia d a Matéria C o n d e n s a d a ; Outras Interações d a Matéria c o m Radiação e Partículas. Áreas de atuação Física d a Matéria C o n d e n s a d a Atuação Profissional: Vinculo institucional: Professor titular aposentado da Universidade d e São Paulo desde 1 9 6 9 . E n q u a d r a m e n t o funcional: Professor titular. Prof. Dr. Marcello Damy de Souza Santos ESCIJVRECIMENTO; O P r o f Marcello D a m y de S o u z a Santos não participou da pesquisa c o m o entrevistado. A l g u m a s citações apresentadas no presente trabalho d e tese são b a s e a d a s na Série Depoimentos sobre Energia Nuclear - v o l u m e 1, Editado pelo IPEN. 200 Principais etapas da carreira acadêmica e cientifica 1. Professor Assistente de Física Geral e Experimental do Instituto d e Física da U S P (IFUSP) no período d e 1 9 3 7 a 1 9 5 3 . 2. Diretor d o D e p a r t a m e n t o d e Física da FFCL d a U S P no período d e 1942 a 1949. 3. Responsável pela instalação d o Betatrón d o IFUSP e pela formação d e físicos nucleares na F F C L d a U S P e depois no I F U S P no período d e 1946 a 1956. 4. Professor Catedrático d e Física Geral e Experimental d o Instituto d e Física da U S P 5. Professor d o s cursos d e Física Nuclear e Física Atômica d o Instituto de Física d a U S P no período d e 1942 a 1 9 5 6 . 6. Responsável pela instalação do Reator de Pesquisas IEA-R1 n o Instituto d e Energia Atômica n o período d e 1956 a 1 9 5 7 , 7. F u n d a d o r e Diretor d o Instituto d e Energia Atômica d e 1957 a 1 9 6 1 . 8. Chefe d a Divisão d e Física Nuclear do lEA no período d e 1957 a 1 9 6 8 . 9. Presidente d a Comissão Nacional d e Energia Nuclear no período d e 1961 a 1964. 10. M e m b r o d a J u n t a d e Governadores d a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de 1961 a 1 9 6 4 . 1 1 . F u n d a d o r e Diretor d o Instituto d e Física da U N I C A M P no período de 1966 a 1973. 12. Professor Titular d e Física Nuclear (graduação e pós-graduação) d a U N I C A M P n o período de 1968 a 1 9 7 2 . 13. M e m b r o d o Comitê Internacional d e Dados Nucleares d a A I E A no período de 1969 a 1972. 14. Professor Titular d e Física Nuclear (graduação e pós-graduação) d a P U C / S P no período de 1973 a 1 9 9 4 . 15. Consultor Científico d o I P E N / C N E N - S P desde 1988. cmssk) mami DE mfm MUCÍI/ío^SP-IPEM 201 APÊNDICE D — Documentos de primeira-mão — entrevistas 202 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. ALCÍDIO ABRÃO Entrevista concedida em 03 de setembro de 2002. P:Em quais circunstâncias foi criado o instituto (lEA)? R: O Instituto Nacional d e Pesquisas - l E A foi criado pelo C N P q (Conselho Nacional d e P e s q u i s a s ) e m 31 d e agosto d e 1956, por meio d o Decreto Federal n. 39.872 da Presidência d a República, nos moldes d o convênio firmado entre o C N P q e a U S P (Universidade de São Paulo), na cidade de São Paulo. O referido convênio C N P q / U S P data d e Janeiro d e 1956 (Proc. R U S P 1614/57), e propõe a criação de u m órgão d e âmbito nacional para pesquisas d e energia atômica para fins pacíficos. Início das obras civis E m 2 3 d e s e t e m b r o de 1956 s e iniciavam a s obras d e engenharia civil relativas à construção d o predio que abrigaría e m breve o reator nuclear. E m 21 de março d e 1957, iniciavam-se a s instalações d o s c o m p o n e n t e s d o reator, e c o n t a v a - s e , nessa época, c o m u m pequeno g r u p o d e 2 5 pessoas, entre elas engenheiros, físicos e químicos. É b o m lembrar q u e existia na Cidade Universitaria A r m a n d o d e Salles Oliveira, além d o lEA, e m construção, apenas o prédio do Instituto d e Pesquisas Tecnológicas - IPT e parte das atuais instalações do Instituto d e Física, antigo Departamento d e Física d a Faculdade d e Filosofia, Ciências e Letras d a U S P . E m julho d e 1957, quando cheguei a o instituto, o s trabalhos para a construção d o prédio q u e abrigaría o reator q u e seria d o a d o pelo Programa Átomos para a P a z já haviam sido iniciados. Era u m trabalho e x t r e m a m e n t e excitante! V e r t o d o s envolvidos num projeto d e construção de uma piscina para a instalação de u m reator d e pesquisas era algo novo e u m desafio e n o r m e para todos nós. De fevereiro a setembro d e 1957 foi instalada a máquina, q u e passaria por todos o s testes necessários e exigidos d e u m e m p r e e n d i m e n t o c o m o esse, todos executados dentro d e u m apertado cronograma. E m 15 d e s e t e m b r o de 1 9 5 7 , iniciava-se a carga d o s elementos combustível. E e m 16 d e s e t e m b r o o reator estava crítico pela primeira vez! 203 Q u a n d o c o m e c e i no l E A , já existia o laboratóno d e Radioquímica, chefiado pelo Prof. Fausto Lima, e, juntamente c o m ele, p u d e m o s iniciar a s primeiras experiências nessa área. A o ser concluída, a piscina exigia nossa competência e m radioquímica; precisávamos colocar ali u m a água d e alta pureza, e e s s e foi o contexto inicial d o m e u trabalho para o instituto. P: Quais foram as principais pessoas que participaram da sua fundação/ R: Q Prof. Marcello D a m y d e Souza Santos dirigia o l E A , foi o primeiro diretor, fundador e idealizador d e todo o projeto para a instalação d o reator. Desde o s primeiros t e m p o s , o Prof. Marcello D a m y c o n t o u c o m a colaboração dos professores d o u t o r e s Fausto Walter Lima, q u e e r a engenheiro químico e responsável pela Divisão d e Radioquímica e Produção d e Radioisótopos, Rômulo Ribeiro Pieroni, principal pesquisador da Divisão de Radíoproteção e Radiobiologia, Luiz Cintra d o Prado, d a Divisão d e Física Nuclear. Paulo Saraiva d e Toledo, q u e foi o responsável pela instalação física d a máquina (o reator), era o responsável pela Divisão d e Física d e Reatores e Tharcizio D a m y d e Souza Santos, d a Divisão d e Metalurgia Nuclear. B a s i c a m e n t e e s s e s e r a m o s responsáveis pelas áreas d o l E A . O grupo, logo depois, c o n t o u c o m a participação d a Dra. Constância, e, logo depois, da Dra. Laura. N o final d e 1957, 1958, havia a o todo cerca d e 3 0 pessoas, entre pesquisadores, técnicos e administrativos. C o m o naquela época a U S P era u m lugar e r m o e d e difícil a c e s s o , havia u m microônibus q u e pegava o s funcionários n o Vale d o Anhangabaú. Esse transporte facilitava n o s s a locomoção, porque e r a m raras a s p e s s o a s q u e tinham carro n o instituto; s o m e n t e o s chefes tinham carro. P: Quais foram os acontecimentos críticos que marcaram decisivamente a iiistória da instituição? R: Naquela época, o e n t u s i a s m o acerca d a energia nuclear era e n o r m e e n o s contagiava. P o r e x e m p l o , q u a n d o entrei para o instituto e u não conhecia nada sobre reatores e passei a dominar o assunto c o m o s físicos a partir d a época d a construção d o prédio d o reator. Nossa motivação para o trabalho e r a tão grande q u e o expediente ia d a s 8 h às 18h, c o m u m a hora para o almoço. C o m o não tinha restaurante por perto, muitos d e nós levávamos o almoço d e casa. 204 Depois d o expediente, começavam o s cursos noturnos, d a s 19 hs até meia-noite. E r a m ministrados diversos cursos d e física nuclear d e tecnólogo, entre outros. O ônibus saía daqui s o m e n t e depois d a s aulas. Isto é, ficávamos dentro d o instituto d a s 8 h até meia-noite. Era d e s g a s t a n t e , m a s ninguém reclamava! Trabalhávamos também a o s sábados até a s seis d a tarde. Hoje, q u a n d o e u conto isso para a meninada eles tão risada, a c h a m inacreditável a nossa dedicação. T o d o esse ritmo d e trabalho foi e m p r e e n d i d o d e s d e o s primórdios n o instituto. Depois d a instalação d o reator, o s e l e m e n t o s combustíveis já tinham c h e g a d o , então e r a necessário começar o processo d e e n c h i m e n t o d a piscina. A piscina d o reator e o tratamento d e água, n u m v o l u m e d e 2 7 2 mil litros d e água, v o l u m e este até então i m p e n s a d o n o país e n a América Latina, o s problemas c o m a pureza d a água. A pureza deve ser maior d o que a d e u m a água destilada, e foi obtida por meio d e u m processo q u e c h a m a d o "purificação por troca iónica". N o porão d o reator existem tanques o n d e se dá o processo d e purificação d a água. O controle d e purificação d a água era muito grande, 24 horas por dia. A alcalinidade d a água e r a u m problema constante, devido a alguns elementos q u e , durante a construção d a piscina geralmente e n t r a v a m e m contato c o m a água (cal e cimento). E r a m e x t r e m a m e n t e prejudiciais para a pureza d a água, porque a alcalinidade poderia atacar o alumínio q u e revestia o s elementos combustíveis. E n q u a n t o e s s a água não atingiu a especificação a d e q u a d a o Prof. D a m y não pôde colocar o reator dentro d a piscina para atingir a criticalidade. Isto é, todo o trabalho d e purificação d a água d a piscina foi u m processo d e alta tecnologia. Para s a b e r m o s c o m o estava a qualidade d a água, iniciamos c o m u m processo rudimentar d e evaporação para s a b e r m o s quais o s resíduos o u matérias orgânicas s e e n c o n t r a v a m ali. S o m e n t e u m t e m p o depois é q u e c o n s e g u i m o s c o m p r a r u m aparelho, até simples, q u e s e c h a m a "ponte condutométrica", m a s q u e veio facilitar todo esse processo. E m s e t e m b r o d e 1957 o reator atingiu a criticalidade, isto é, começou a funcionar, e então a s análises por ativação tiveram início. O g r u p o d o Prof. Fausto Lima, q u e e r a especialista e m radioquímica, iniciou a irradiação d e amostras n o reator e depois fazíamos o tratamento químico e se fazia a separação usando c o m o detenção s o m e n t e o poder d e radiação, b e m c o m o a s primeiras produções 205 de radioisótopos i o d o - 1 3 1 ; fósforo-32; ouro-198 coloidal. O s aparelhos que faziam a c o n t a g e m d o tipo d e radioatividade n a s a m o s t r a s e r a m d o tipo "Gaiger". Somente u m t e m p o d e p o i s c o n s e g u i m o s comprar u m espectrómetro d e m a s s a . Enfim, poderia citar alguns outros incidentes críticos q u e m a r c a r a m muito nosso grupo, tais c o m o o incidente c o m o s primeiros elementos combustíveis q u e o c a s i o n o u corrosão e contaminação d a água d a piscina, nosso trabalho para a descontaminação d a água d a piscina, o primeiro sistema d e monitoração d e produtos d e fissão n o sistema d e tratamento d a água da piscina, a troca d o s e l e m e n t o s combustíveis, o histórico d a obtenção d o primeiro "urânio nuclearmente puro" n o Brasil, a primeira unidade piloto d o l E A e a produção d o primeiro diuranato d e amónio nuclearmente puro e s e u u s o seqüencial para o s vários outros produtos d o urânio usados n o ciclo d o combustível. P: O que permanece até hoje na Instituição dessa fase? (Alguns valores, rituais, símbolos, personagens e/outros.) R: Muita coisa está ainda viva n a instituição. A primeira é o espírito d e luta oriunda d o s primórdios e q u e , felizmente, ainda continua vivo, e o entusiasmo e m manter o reator e m operação, c o m u m recorde d e operação s e m incidentes. De lá pra cá, a l g u m a s coisas m u d a r a m , tais c o m o a s novas tecnologias para o tratamento d a água da piscina e para certificar o c o m p o r t a m e n t o d o s elementos combustíveis, para não repetir o incidente d e corrosão acontecido n o s primeiros t e m p o s d e operação d o reator. Tecnologias q u e então e r a m incipientes c o m o a produção d e radioisótopos e o s trabalhos n o ciclo d o combustível frutificaram e c r e s c e r a m . A análise por ativação neutrônica, q u e também se desenvolveu e n o r m e m e n t e , tendo sido bem humilde n o início d a s operações d o reator. O ciclo d o combustível e sua evolução. O s frutos dele colhidos e s e m e a d o s e m outros setores d a energia nuclear n o Brasil. N o começo tudo foi muito difícil, m a s tudo foi superado devido às nossas expectativas d e ter u m a tecnologia m o d e r n a . P: Acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? R: N o s s a s equipes c o n s e g u i a m solucionar o s p r o b l e m a s mais inusitados c o m grande criatividade e muita competência. Ficávamos horas debruçados sobre 206 livros e e m reuniões para a solução d o s problemas q u e surgiam. Por exemplo, poderia citar o s seguintes incidentes: Q u a n d o o reator está e m atividade, o radioisótopo q u e mais contribui para a radioatividade é o nitrogênio. Esse nitrogênio disperso e m meio aquoso e inclusive n o ar era b o m b a r d e a d o por nêutrons e se t r a n s f o r m a v a m e m nitrogênio radioativo, e esse e l e m e n t o vinha para a superfície d a piscina, q u e tem 10 metros de profundidade. E s s e problema nos afetou seriamente, até q u e o s físicos d e nossas equipes c o n s e g u i r a m solucionar o problema d a seguinte maneira: Eles colocaram u m a c h a p a d e revestimento logo abaixo d a superfície d a piscina, e essa chapa funcionava c o m o u m a barreira q u e bloqueava o nitrogênio radioativo de sair e contaminar o ar. O incidente mais preocupante foi a corrosão d o s elementos combustíveis n o s primeiros t e m p o s d e operação d o reator. O trabalho foi feito e m duas fases: primeiro h o u v e a transferência d o s e l e m e n t o s combustíveis para o compartimento oposto a o núcleo d o reator, e a descontaminação d a água era executada; era mantida fechada á comporta d e separação. Depois fizemos a descontaminação d o outro lado da piscina, tendo sido trazidos o s elementos para a posição original. Assim, esse incidente foi b e m resolvido com a descontaminação d a água d a piscina, a separação e a contenção d o s radiosótopos d e fissão e a introdução de sistema d e monitoração preventiva q u e passou a funcionar perfeitamente. U m a outra solução encontrada pelos físicos para problemas de detecção d e e s c a p e d e e l e m e n t o s combustíveis para a atmosfera foi c h a m a d o d e "Cheirador". P o r q u e ? E r a u m a espécie d e chapéu q u e fazia a aspiração d o entorno d o e l e m e n t o combustível. Então, assim q u e a l g u m elemento escapava para a atmosfera era detectado e barrado pelo chapéu/cheirador. P: Como reagiram os membros da instituição a esses incidentes? R: Nosso g r u p o era p e q u e n o e sempre reagia b e m e c o m e n t u s i a s m o para sanar problemas c o m o o s q u e relatei acima. S e m p r e tivemos u m a interação grande c o m os grupos d e físicos e químicos e tivemos auxílio d o nosso pessoal técnico. Nossa equipe interagia b e m c o m pesquisadores d e outros departamentos da U S P . A interação c o m o s outros países era mais difícil naquela época, não 207 tínhamos a c e s s o a Intemet e n e m a toda tecnologia d e comunicação q u e temos hoje! P: Qual é a razão de ser da instituição? A sua missão contínua a mesma desde a época da fundação? Se não, o que mudou? R: O principal objetivo está aliado à divulgação d a energia nuclear, q u e é multidisciplinar. A energia nuclear incorpora variados domínios d a investigação científica e requer avançada experiência tecnológica. Não s e opera u m reator s o m e n t e c o m o s operadores apertando botões, tornando-o crítico, corrigindo o u variando s u a potência. Isso requer u m a diversidade de profissionais: matemáticos, químicos, físicos, médicos, engenheiros, eletrônicos, mecânicos e pessoal para radíoproteção. O l E A , d e s d e o início, se p r e o c u p o u c o m a formação d e profissionais b e m treinados; c o m a criação d e u m a biblioteca especializada na área nuclear, c o m a produção d e radioisótopos para atendimento à s o c i e d a d e e m termos d e u m a medicina nuclear eficiente, c o m a irradiação d e alimentos, c o m cursos a serem ministrados para seus funcionários c o m o "Introdução à energia nuclear e e n s i n a m e n t o s d e radíoproteção", c o m o ensino visando à criação d a pósgraduação e m 1 9 7 6 , c o m o incentivo á publicação d e trabalhos científicos originais e revisões tecnológicas. O Projeto d e Conversão d o Urânio é u m b o m e x e m p l o d e projeto que, tendo c o n t a d o c o m o apoio d o IVlinisténo d a s Minas e Energia, d o G o v e r n o d o Estado d e São Paulo, d a Secretaria d e Planejamento d o G o v e r n o Federal, e c o m a supervisão d o e x - C o n s e l h o d e Segurança Nacional, teve c o m o objetivo completar o p r o g r a m a d e desenvolvimento, e m escala experimental, da produção de hexafluoreto d e urânio, por meio d e u m a tecnologia totalmente nacional e desenvolvida n o I P E N . C o m e s s e projeto, p u d e m o s provar a c a p a c i d a d e brasileira de desenvolver o processo químico para a fabricação d e flúor e hexafluoreto d e urânio e servir d e b a s e para definir o s parâmetros d e u m a usina industrial d e fabricação d e hexafluoreto. pesquisadores d o IPEN, Ficou a s s i m comprovada q u e conseguiram distinguir a competência d o s u m desenvolvimento tecnológico c o m o d o Projeto d e Conversão e d e m o n s t r a r nossa eficiência c o m p r o v a d a e m nossa missão. 208 Mais recentemente, o Departamento d e Engentiaria Química iniciou a instalação d o laboratório para estudos e m r e p r o c e s s a m e n t o e conversão de tório irradiado e m urânio 2 3 3 , na área d e r e p r o c e s s a m e n t o relacionado c o m o tratamento d e materiais irradiados. O s estudos d e análise d e segurança d e materiais irradiados v i s a m particularmente à capacitação para a tecnologia d e r e p r o c e s s a m e n t o d e combustíveis nucleares. C o m o f u n c i o n a m e n t o d a unidade d e purificação d e urânio por extração c o m solventes e m operação até o presente m o m e n t o , O IPEN purificou váhas toneladas d e urânio, e, a partir daí, foi instalando, s u c e s s i v a m e n t e , as demais fases d o ciclo d o combustível. No D e p a r t a m e n t o d e Engenharia Química são e s t u d a d o s o s processos de transformação d e c o m p o s t o s d e urânio e tório, e m operação d e purificação e conversão. Destaca-se aí o desenvolvimento, c o m tecnologia própria, d e u m processo para a obtenção d o hexafluoreto d e urânio e m escala piloto, a partir d o concentrado impuro, o yellow cake. A missão continua a m e s m a , ainda mais se considerarmos q u e a energia nuclear v e m s e n d o sempre utilizada para fins pacíficos e e m benefício da sociedade brasileira. Nesse sentido, a missão continua a m e s m a . Alguns projetos, c o m o , por exemplo, o d o Ciclo d o Combustível, p o d e ter sido concluído, aliás, c o m sucesso, c o m o muitos outros projetos, b e m c o m o outras pesquisas e d e s e n v o l v i m e n t o s p a s s a m a ser priorizada e m prol d e d e m a n d a s d a população brasileira. Infelizmente a s aplicações pacíficas d a energia nuclear não são tão largamente conhecidas pela população c o m o deveriam ser. Muitas vezes o q u e se sabe é d o q u a s e q u e total d e s c o n h e c i m e n t o d o s seus benefícios por parte d a sociedade. A o s e falar d e energia nuclear, a primeira figura q u e v e m á cabeça d a população é a da b o m b a atômica e dos desastres nucleares. P: Na sua opinião, quais são os principais valores que orientam a vida da instituição? R: Considero q u e tudo q u e fizemos até hoje no instituto v e m sendo transmitido para todos q u e por aqui p a s s a m . Desde políticos e até presidentes da república g o v e r n a d o r e s d e Estado e outros visitantes ilustres, c o m o foi o caso, por exemplo, da sra. Indira G a n d h i , enfim, a todos são transmitidos o s trabalhos q u e aqui são 209 realizados. T r a b a l h o s e m congressos, teses e dissertações escritas e m todos esses trabalhos são transmitidos nossos valores. P: Na sua opinião, o fato de o IPEN ter uma vertente de ensino (aliada às outras vertentes de P&d, Serviços e Produtos) muito atuante com uma pósgraduação estabelecida desde 1976, o torna um instituto diferenciado frente aos demais institutos de P&d existente no país? R: Perfeitamente, acho q u e esse fato é constatado c o m o s e n d o verdadeiro na realidade d o instituto. Para exemplificar cito o c a s o d a velha escola alemã q u e só admite u m professor q u e faça pesquisa, pois acreditam q u e só será u m b o m professor aquele q u e c o n h e c e na prática o s e u trabalho, conhece e m termos práticos d o laboratório, aquilo q u e vai ensinar. O lEA, n o s seus primórdios, tão logo c o n s e g u i u superar toda a fase de instalação d o reator, além d e continuar fazendo o d e s e n v o l v i m e n t o d e processos, equipamentos, máquinas, matenais e serviços, buscou cuidar ainda da instalação de u m curso d e pós-graduação aqui dentro d o instituto. Inicialmente, preocupado c o m a formação d e seus recursos h u m a n o s , realizou a firmação d e u m convênio c o m a Escola Politécnica d a U S P , e m 1969. Logo depois, tendo o Prof. Rui Ribeiro Franco à frente d a s negociações c o m a U S P , tratou d e instalar a s u a própria pós-graduação, cujo regulamento foi a p r o v a d o e m 1976, c o m duas áreas de concentração: Tecnologia Nuclear e Reatores Nucleares d e Potência. Desde então, se transmite a nossos alunos o que s e transmite a o s n o s s o s filhos, o IPEN mantém vivo todos e s s e s ensinamentos d e competência d e rigor técnico, de dedicação à pesquisa e a o instituto a todos seus pupilos. P: O sr. considera que todos esses valores continuam tendo a mesma importância nos dias de hoje? Os valores básicos continuam e quais outros valores foram sendo incorporados ao longo dos anos, na sua opinião? R: A manutenção d e seus valores continua a o longo d o s anos. A transmissão continua por meio d o s trabalhos de orientação, d a s pesquisas, dos desenvolvimentos tecnológicos. U m c a m p o d e pesquisa não s e esgota é c o m o u m a tese à pessoa não acaba u m a tese interrompe-se o trabalho para prestar sua defesa, m a s o t e m a d e trabalho continuará por muito t e m p o , m e s m o depois de defendida a tese. 210 A filosofia e o s objetivos d o IPEN continuam o m e s m o . A s aplicações pacíficas d a energía nuclear evoluem c o m o passar d o s t e m p o s , m a s não se esgotam. P: Que valores o sr. poderla citar em contraposição aos valores vigentes na instituição? E m contraposição o que poderia citar é a falta d e entusiasmo d e alguns j o v e n s q u e por aqui p a s s a r a m . M a s esse fato e u considero estar associado à fixação desse j o v e m n o I P E N , e m s e u quadro d e funcionários. Não temos a liberdade de contratação, pois estamos atrelados a determinações g o v e r n a m e n t a i s e m termos d a reposição d e nossos recursos h u m a n o s . Alguns j o v e n s que por aqui p a s s a m não se sentem estimulados por não p o d e r e m se fixar e por não terem c o m o ter uma vinculação mais forte c o m o instituto. Por exemplo, no m e u setor já s e p a s s a r a m mais d e 200 técnicos, muito p o u c o s p e r m a n e c e r a m aqui, u n s f o r a m para o Rio d e Janeiro, outros para A n g r a d o s Reis o u Poços d e Caldas, suas competências não foram utilizadas n o IPEN. A s s i m , vimos perdendo u m número g r a n d e d e j o v e n s que poderiam ser o futuro d e nosso instituto, tendo e m vista q u e muitos d o s pesquisadores estão se a p o s e n t a n d o . Esse é u m aspecto negativo q u e se contrapõe a tudo q u e lutamos e m transmitir, e se essa situação não m u d a r daqui a pouco não t e r e m o s mais para q u e m transmitir nossos c o n h e c i m e n t o s e valores, e eles irão vencer por não t e r m o s para q u e m transmitir. P: Em última análise, como o sr. definiria as características principais da instituição? R: A energia nuclear é u m a energia linda! Acredito q u e daqui alguns anos, a energia nuclear será a única solução energética n o futuro. A s d u a s tecnologias que mais conthbuíram para o desenvolvimento d o h o m e m e d o m u n d o atual foram a espacial e a nuclear. O IPEN continua sendo u m instituto d e pesquisa avançada c o m u m a e n o r m e contribuição d e pessoal. Por e x e m p l o , a U S P não t e m cursos d e radioquímica até hoje, o s j o v e n s vêm aprender radioquímica aqui no IPEN; não tinham estação por solventes, v i n h a m aprender aqui. A s s i m c o m o tecnologias por urânio, tóho, d o zircônio, berilio, o pessoal conta c o m esse instituto para muitos assuntos q u e só nós podemos solucionar, , cowfssto miom. DE B M A c o m nossas moB^sF-Ptu competências 211 estabelecidas. Fui procurado para fazer inúmeras identificações d e radioatividade e m minérios, por diversas vezes. Mineradoras que traziam minerais para saber se o material era radioativo o u não. V o u citar u m e x e m p l o b e m prático: houve u m a portaria d o Ministéno d a Marinha, nos a n o s 7 0 , q u e determinava q u e toda areia que era retirada deveria ser analisada pelo nosso instituto para saber se a m e s m a era areia monazítica, isto é, c o m radioatividade. O perigo era na área de construção, isto é, estar construindo residências c o m areia radioativa! E m contribuições c o m o essa, nossa instituição s e m p r e esteve presente. U m a preocupação c o m o meio ambiente e c o m a sociedade d e uma f o r m a geral, e m todos os setores q u e tivermos competência para atual nossa instituição está presente, c u m p r i n d o a sua missão! U m outro e x e m p l o b e m atual d e atuação d e nossos pesquisadores é sobre o fósforo gesso. O t e m a d e pesquisa d e u m a tese q u e estou estudando para participar d a banca d e defesa. É u m material sólido q u e resulta d a fabricação de ácido fosfórico a partir d e minónos, e ele tem radioatividade que fica estocada. A p r e g o a m - s e diversos usos para esse material, m a s antes d e s u a utilização a comissão v a i examiná-lo para definir o n d e ele poderá ser e m p r e g a d o . A sua radioatividade poderá ser eliminada o u reduzida d e acordo c o m nossas tecnologias apropriadas a cada caso. Essa é u m a d a s características da nossa instituição. Esse t e m a é atual! Cubatão está cheio d e s s e material. Nós v a m o s estudá-lo e definir o uso apropriado que a indústria poderá fazer desse material. 212 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO ALMIRANTE OTHON Entrevista concedida em 28 de setembro de 2001. P: Almirante, o sr. poderia nos relatar as circunstâncias de criação do instituto? R: Não fui testemunt-ia d a criação d o instituto, não sei s e felizmente o u infelizmente. Infelizmente, porque foi u m ato muito importante na história da pesquisa nacional, e, felizmente, porque naquela época ainda era muito j o v e m para participar d e s s e s fatos históricos. A história d e energia nuclear no Brasil é muito peculiar e tudo começou q u a n d o , na década d e trinta, tivemos u m a grande participação na história. Naquela oportunidade o m u n d o t o m o u c o n h e c i m e n t o d a s novas possibilidades que a s ciências físicas p o d e h a m proporcionar e m t e r m o s d a energia nuclear. Q u a n d o o m u n d o t o m o u c o n h e c i m e n t o d a s explosões atômicas e m Hiroshima e Nagasaki, deflagradas pelos Estados Unidos. No Brasil, a A c a d e m i a Brasileira d e Ciência propiciava a o s nossos cientistas o a c o m p a n h a m e n t o e o desenvolvimento d e t e m a s relacionados à energia nuclear. Durante a guerra, o u m e s m o no período pós-guerra, todos os t e m a s relativos à energia nuclear e r a m temas considerados d e segurança nacional, portanto controlados e restritos no m u n d o inteiro, inclusive n o Brasil. O C o n s e l h o Nacional de Pesquisa, o C N P q , q u e foi criado pelo Almirante Álvaro Alberto, membro destacadamente ativo da comunidade acadêmica brasileira e da Escola Naval, foi q u e m t o m o u iniciativas d e trazer n o m e s q u e s e d e s t a c a v a m n o cenário internacional na área científica para interagir c o m o s nossos físicos e cientistas, proferindo palestras para a c o m u n i d a d e acadêmica brasileira. T r o u x e eminentes personalidades c o m o Albert Einstein e Enrico Fermi, dentre outros expoentes d a área científica. P o d e h a dizer q u e , n o período pós-guerra, h o u v e n o Brasil u m a coincidência entre dois eventos. O primeiro deles foi a criação d o Programa Átomos para a P a z , concepção d o presidente d o s Estados Unidos, D. D. Eisenhower, q u e previa a doação d e u m reator d e pesquisa para o s países q u e c o n s e g u i s s e m implantar com sucesso a base para a instalação d e u m reator d e pesquisa, a ser d o a d o pelos E U A . Paralelamente, no Brasil, a Comissão 213 Parlamentar d e Inquérito (o presidente da comissão e r a u m paulista, o Dr. Dagoberto Salles) questionava sobre a exportação d e minérios brasileiros. Naquela época, a h u m a n i d a d e sabia pouco sobre a s ocorrências d e minério, e o Brasil já exportava areia monazitica para o s EUA, q u e é u m minério pobre e m termos d e urânio. A o assumir o governo brasileiro, o presidente Kubitschek voltou s u a atenção para o s temas levantados pela Juscelino Comissão Parlamentar d e Inquérito sobre a exportação d e urânio e suas implicações. Por esse motivo, o r d e n o u a criação d a Comissão Nacional d e Energia Nuclear, a C N E N . N a q u e l a época, o Almirante Alvaro Alberto estava sendo perseguido politicamente, e por esse motivo o presidente solicitou a o Ministro d a Marinha, Almirante M o t o s o Mala, q u e indicasse u m oficial d e marinha para o cargo de presidente d a C N E N . O Ministro escolheu então uma pessoa que, apesar d e ser pouco conhecida na c o m u n i d a d e nuclear, foi muito importante para o meio acadêmico, o Almirante Otacílio C u n h a . O Almirante Otacílio procurou se inteirar de todos o s m e a n d r o s d a c o m u n i d a d e nuclear, b u s c a n d o colher opiniões d o s cientistas d a área, dentre elas a o Almirante Álvaro Alberto. O Almirante demonstrou ser u m b o m gerente, pois executou u m excelente trabalho de gestão, ao costurar diferentes idéias sobre o assunto e sistematizá-las. Foi então q u e o Almirante Otacílio começou a perceber u m m o v i m e n t o e m nível nacional e internacional, q u e e r a o d a institucionalização d o c o n h e c i m e n t o . Então, c o m o era u m excelente gestor e estrategista, idealizou a implantação d e reatores n o s três centros nacionais mais desenvolvidos d o país: Minas Gerais, Rio d e Janeiro e São Paulo. A concepção original previa q u e s e f o s s e m instalados reatores, e m cada c o m u n i d a d e mais avançada d o país haveria u m foco e u m a concentração d e formação d e p e s s o a l , nessas áreas. Ele conseguiu sistematizar u m a idéia baseada na opinião d a c o m u n i d a d e científica da época, e era essa habilidade q u e o tornava u m g r a n d e gestor e estrategista, c o m o já mencionei anteriormente. O primeiro reator brasileiro, d o a d o pelo P r o g r a m a Átomos para a P a z , foi conquistado graças a o espírito e m p r e e n d e d o r d o eminente físico paulista, o Prof. Marcello D a m y d e Souza Santos, q u e c o o r d e n o u a construção da base para a instalação d o reator. A s obras para a implantação d o reator foram u m grande sucesso! F o r a m e x e c u t a d a s e m a p e n a s 11 m e s e s , fato nunca dantes conseguido por n e n h u m outro país, e esse fato garantiu a o Brasil e a São Paulo q u e fosse criado o então Instituto d e Energia Atômica - l E A , atual Instituto d e Pesquisas 214 Energéticas e Nucleares, I P E N . O l E A foi inaugurado para abrigar o primeiro reator d o hemisfério s u l ! P o d e m o s ousar dizer q u e o Prof. Marcello D a m y conseguiu reunir todos o s "astros" naquele m o m e n t o , d a n d o origem a u m a feliz coincidência d e fatos. Aliar u m a boa iniciativa a u m a feliz escolha, d e local e d e sede, a u m a c o m u n i d a d e científica altamente favorável a todos esses fatos. Esse evento conseguiu, então, trazer d e volta a m e s m a felicidade q u e esteve presente e m São Paulo, q u a n d o d a criação da U S P . O P r o g r a m a Átomos para Paz, na realidade foi c o m o u m "meã-culpa" para o s a m e r i c a n o s , q u e precisavam provar a o m u n d o q u e a energia nuclear poderia ser usada para fins pacíficos. T e n d o e m vista q u e a b o m b a atômica deflagrada pelos E U A havia dizimado toda u m a população civil, constituída d e pessoas inocentes c o m o aquelas q u e morreram n a s cidades d e Hiroshima e Nagasaki. Esse episódio m a r c o u e abalou o m u n d o inteiro, e isso foi u m a coisa imperdoável sob o aspecto humanístico. Por conseguinte, o s E U A queriam que os países que c o n s e g u i s s e m desenvolver pesquisa e m reatores s o m e n t e para o uso pacífico d a energia nuclear, c o m o aplicações na medicina, na agricultura e no meio ambiente, f o s s e m p r e m i a d o s com u m reator d e pesquisa, e o Brasil foi u m desses países. P: O que o sr. poderia nos relatar sobre os acontecimentos críticos que marcaram a história da instituição? Quais seriam os nomes que o sr. poderia apontar como participantes dessa época que ajudaram a formar a história do instituto? R: O l E A foi criado no a n o d e 1956, n u m cenário nacional e internacional favorável a o uso d a energia nuclear para aplicações pacíficas e não destrutivas. Esse s e g m e n t o foi o q u e mais floresceu n o l E A na sua f a s e inicial. Tivemos a sorte de contar c o m p e s s o a s q u e capitanearam a s principais pesquisas d o instituto. N a área d e aplicações d e técnicas nucleares, q u e é u m ponto d e inequívoca excelência do instituto, posso citar pessoas c o m u m a boa formação e altamente c o m p e t e n t e s , e o Dr. Pieroni é o e x e m p l o mais forte. Ele foi superintendente d o instituto por u m longo período, médico por formação e foi q u e m mais d e s e n v o l v e u essa área de aplicações d e técnicas nucleares d o instituto. Váhas outras pessoas f o r a m importantes e s e d e s t a c a r a m nessa área. 215 tais c o m o o Dr. Fausto L i m a , a Dra. Constância, o Dr. R o g e r o e muitos outros q u e foram f o r m a d o s dentro d e u m a escola d e p e n s a m e n t o constituida n o próprio Instituto. Naquela época, e no m e u entender, a área com menor desenvolvimento dentro d o IPEN era a d e Engentiaria. Por e x e m p l o , u m setor d a engenharia q u e teve u m desenvolvimento multo importante foi o setor d e química. Porque c o n t o u c o m a capacidade brilhante d o Dr. Alcídio Abrão, q u e tinha vindo de e m p r e s a privada d e s s a área e era u m excelente f o r m a d o r d e pessoal na área de química. Então essa área teve u m grande h o m e m q u e f o r m o u recursos h u m a n o s para e s s e setor dentro d o I P E N . Muito e m b o r a o Dr. Pieroni t e n h a sido médico, ele teve a capacidade para p e r c e b e r o impacto e o crescente impulso q u e teve início na década d e 1960 c o m o d e s e n v o l v i m e n t o d a s centrais nucleares no m u n d o , e e s s e e r a o grande diferencial q u e faltava a o I P E N . Ele p e r c e b e u que a área d e energia e r a u m a área e m e r g e n t e , e por e s s e motivo ele investiu fortemente n a formação d e recursos h u m a n o s n e s s a área para o IPEN. Dr. Pieroni m a n d o u formar muita gente n o exterior, na área d e engenharia d e reatores. N o a n o d e 1966, fiz minha primeira visita a o I P E N . Naquela época estava concluindo m e u curso na Poli e fui conhecer o reator d e pesquisa d o instituto, pois a c h a v a q u e o reator era u m c a m i n h o natural para a Marinha seguir. Já n o a n o d e 1974, q u a n d o precisei fazer u m a opção d e curso para m i n h a pósgraduação, optei por seguir para a área nuclear. E m 1978, t e n d o concluído m e u curso n o Instituto d e Tecnologia da Universidade d e M a s s a c h u s s e t s , m e reapresentei n a Marinha, a o Almirante Massimiliano d a F o n s e c a . O Almirante é uma pessoa formidável, c o m b i n a e m sua personalidade u m a visão estratégica a u m a alta d o s e d e ingenuidade. Ele m e perguntou então quais e r a m a s possibilidades e m t e r m o s nucleares para o Brasil, t e n d o e m vista q u e estava retornando d o s E U A c o m n o v a s perspectivas e c o n h e c i m e n t o s adquiridos nessa área. Disse então a o A l m i r a n t e que, para responder àquela pergunta deveria fazer visitas às instituições brasileiras da área nuclear para verificar o estágio d e desenvolvimento para q u e pudéssemos então, analisar o q u e s e poderia ser realizado e m termos de propulsão n o Brasil. C o m o e u era o único oficial d e marinha f o r m a d o e m energia nuclear, o Almirante depositou e m m i m todos o s recursos disponíveis 216 para q u e p u d e s s e m fazer a s investigações necessárias junto às instituições d e pesquisa, e u m dos institutos visitados por mim foi o I P E N . P: Sob seu ponto de vista, o que permanece na instituição dessa fase? R: Conduzir e dirigir u m a organização c o m o o IPEN é c o m o conduzir u m a orquestra, se m e permite fazer esse paralelo. Dirigir u m a organização c o m o o C T M e o IPEN é c o m o conduzir u m a orquestra, o m a e s t r o t e m q u e ter u m a profunda admiração por música e pelos músicos que compõem essa orquestra. O maestro não tem q u e competir c o m os seus músicos, e l e s a b e q u e o violinista, o flautista e o trompetista são muito melhores do q u e ele a o usar os seus instrumentos; a s u a tarefa é procurar a harmonia entre o s diversos instrumentos. Procurar essa harmonia é u m a tarefa muito importante! Durante o período q u e passei n o IPEN, busquei a harmonia e tinha u m a profunda admiração por todos, e isso tudo aliado a resultados. S e formos fazer u m a retrospectiva da história d o IPEN c o m a Marinha v a m o s verificar q u e aqueles a n o s f o r a m t e m p o s áureos c o m grandes resultados para a m b a s a s instituições e para o Brasil. Q u a n t o s países conseguiram viabilizar o ciclo d o combustível g a s t a n d o tão pouco! Quantos projetaram u m reator d e propulsão c o m tão pouco! E todas a s b a n c a d a s experimentais! Existem virtuosos n o IPEN até hoje! Há umas miríades de especialidades n o IPEN q u e trabalham juntos e tão b e m ! C o m o as boas orquestras, há a necessidade d e s e contratar talentos d e fora d e quando e m q u a n d o . E no IPEN também teve q u e trazer talentos d e fora e m algumas oportunidades. O IPEN t e m muita gente b e m formada. Q u a n d o você diz q u e o curso de pós-graduação é u m veículo transmissor d e valores, nisso você t e m plena razão. C o m o o IPEN t e m u m a pós-graduação f u n c i o n a n d o lá dentro, isso proporciona a o instituto uma renovação d e talentos muito g r a n d e . E esses novos talentos vão t o c a n d o a s músicas conforme ensinado pelos seus maestros. Dá-se toda a transmissão d e valores por meio d a pós-graduação. O grande perigo é a q u e a pós-graduação vire a razão d e ser d a instituição. U m a instituição d e pesquisa não deve ter a missão única da formação d e recursos h u m a n o s , isso é tarefa d a universidade. 217 U m instituto d e pesquisa v a i ser s e m p r e avaliado pelas pesquisas q u e desenvolve. O IPEN t e m três vocações: a d e formação d e recursos i i u m a n o s , a de P & D e a d e produtos e serviços, ligados à parte d e aplicações biológica e energética d o I P E N . P: Em termos de contexto nacional e mundial, como o sr. vê o IPEN? R: Diria q u e n o I P E N há u m g r a n d e esforço na área d e biologia, q u e v e m progredindo já ha alguns a n o s . A área d e aplicações biológicas t e m sido b e m sucedida n a parte d e irradiações d e alimentos, nas aplicações d e radioisótopos e radioimunoensaios. A área d e aplicações biológicas c o n t o u s e m p r e c o m boas lideranças, daí o s u c e s s o . Já a área d e aplicações d a energia t e m u m a vocação para ir b e m , m a s atualmente falta u m estímulo. H o u v e u m afastamento d o p r o g r a m a c o m a Marinha e não houve n e n h u m outro p r o g r a m a q u e o substituísse. Então, n a parte energética, há u m a nítida estagnação. E isso contrasta c o m a década d e 1 9 8 0 , q u a n d o h o u v e u m crescimento muito g r a n d e d a parte energética. A parte energética tem u m a implicação estratégica e econômica muito g r a n d e e isso é bastante nítido, pois, n o s últimos anos, h o u v e u m a mudança d e filosofia quanto a o papel d o Estado, muito grande. M a s , o E s t a d o é u m ator e m todo o processo econômico. N a década d e 1990 surgiu a filosofia d e q u e o estado não precisa interferir, porque o m e r c a d o econômico dá conta d o recado sozinho! T e n h o a impressão d e q u e agora e s t a m o s c a m i n h a n d o para u m meio termo, o u seja, não desprezar a ação d e Estado. E m termos d e P & D a ação d o Estado é importantíssima. Então, voltando à área energética, diria q u e a s e n c o m e n d a s d e trabalhos por parte d o Estado vêm sofrendo d e u m a atrofia. Por e x e m p l o , e u tinha c o m o meta a construção d e u m reator d e teste d e materiais, e a c a b a r a m c o m esse projeto! Esse reator seria d e s u m a importância para a C N E N , m a s não houve interesse d o Estado, não sei s e calculado o u por não haver conhecimento do assunto. Por isso digo s e m p r e , para ser gerente d e u m a organização d e pesquisa t e m q u e ser maestro. Nesse sentido t e n h o m i n h a s dúvidas quanto a o atual dirigente d a C N E N (ele é u m burocrata d e Brasília). Falta a figura d e u m m a e s t r o d i z e n d o o q u e é importante! O músico, para q u e e l e m a x i m i z e s u a performance, precisa d e u m maestro q u e afine c o m seus instrumentos. 218 P: Como reagiram os membros da instituição a esses incidentes? R: O grande s u c e s s o d o IPEN é ter u m a área d e aplicações biológicas forte, porque é ela q u e m reflete para a sociedade todo o lado positivo d a energia nuclear. É impossível pensar nas aplicações d a medicina, n o s diagnósticos, s e m a parte d e aplicações d e técnicas nucleares. Felizmente, e s s a parte d e m a n d a m e n o s recursos e m a i s criatividade s e c o m p a r a d o s c o m a s áreas energéticas, q u e é altamente d e m a n d a n t e d e recursos e exige m e n o s criatividade. V o l t a n d o à pós-graduação d o I P E N , diria q u e é u m a grande escola d e virtuosos! N o I P E N existem d u a s orquestras e, t e m q u e s e formar músicos para essas duas orquestras. U m a orquestra q u e é c o m p o s t a pelos vírtuoses d a área biológica e a outra c o m o s d a parte energética. E a pós-graduação d o IPEN é q u e f o r m a as virtuosos para e s s a s d u a s áreas. T e r u m instituto d e pesquisa c o m u m a pós-graduação é ter u m a carga constante. É c o m o s e tivesse u m a alimentação perene d e n o v o s músicos para continuar tocando na orquestra! A grande evolução d a pós-graduação é q u e vai r e p o n d o o s recursos h u m a n o s q u e vão saindo. P: Quanto à missão do IPEN, o instituto tem em sua missão as partes energéticas, que o sr. disse ao longo da entrevista que essa área está atrofiada no IPEN. O sr. diria que a missão do IPEN vem sendo alterada por este motivo? R: Falta d e d e m a n d a , alguém ter q u e e n c o m e n d a r o desenvolvimento. D u a s razões estão a s s o c i a d a s a esse fato: n a s décadas d e 1 9 6 0 e 1 9 7 0 havia u m apelo muito g r a n d e q u a n t o à geração d e energia nuclear, q u e acredito, irá voltar a ser d e m a n d a n t e . A outra razão foi o término d o p r o g r a m a c o m a Marinha d o qual o IPEN participava e, tendo a s prioridades d a Marinha m u d a d o , e l a deixou d e d e m a n d a r projetos a o I P E N . A s s i m , a área energética caiu por essas d u a s razões. Acredito q u e e m termos mundiais o s p r o g r a m a s nucleares serão retomados a o longo desta década. Sabe por quê? O s E U A têm instalado, hoje, u m total d e 9 7 . 6 0 0 M W nucleares. O s EUA, só e m t e r m o s nucleares, têm u m a vez e meia m a i s potencial energético d o q u e o Brasil. Essas centrais foram projetadas para u m a vida útil d e 3 0 anos. M a s , depois s e c h e g o u à conclusão d e que elas teriam u m a vida d e 6 0 anos. M e s m o t e n d o essa vida útil d e 6 0 anos, ela 219 terminará e m 2 0 3 0 . O u seja, a partir d o ano 2020 c h e g o u a o final d a vida m e s m o . A s s i m , os E U A terão q u e repor e s s e s 97.600 M W instalados. Irão repor por outros 97.600 M W nucleares. Isso por várias razões: primeiro porque existe u m a atividade econômica implantada. S e g u n d o , já existe u m a situação crítica e m termos d e geração d e CO2 e, s e eles forem substituir e s s e s 9 7 . 6 0 0 M W por uma tecnologia q u e p r o d u z a CO2, a situação n o s E U A irá ficar m u i t o mais complexa! Terceiro porque existe u m inventário d e material fóssil que, c o m a desaceleração dos p r o g r a m a s militares existe u m a certa quantidade disponível. Q u a n d o o s E U A f o r e m substituir e s s a s centrais nucleares velhas p o r novas, m e s m o q u e eles continuem c o m o total d e 9 7 . 6 0 0 M W d e energia, p o r q u e existe ainda a possibilidade deles t e r e m a necessidade d e ampliar u m p o u c o a fatia nuclear, começará n o m u n d o inteiro, u m a nova corrida para a área nuclear. Porque o q u e ocasionou essa atrofia na área foi propiciada pela travada a m e r i c a n a . Estava h a v e n d o u m e n t u s i a s m o muito g r a n d e por parte d e países c o m o o Irã e outros, e o presidente Cárter t e v e q u e d a r u m a travada n o avanço. A g o r a , c o m o a s centrais nucleares estão c h e g a n d o a u m m o m e n t o crítico de s u a s vidas úteis, eles terão q u e retomar o p r o c e s s o d e crescimento d a área nuclear, e c o m o tudo o q u e começa por lá a c a b a refletindo aqui no Brasil, vai haver d e n o v o u m a renovação na área energética. Q triste é q u e s e tivéssemos u m b o m m a e s t r o n a C N E N teríamos c o m q u e m a n t e r a c o m u n i d a d e científica c o m a s pesquisas e m dia e não atrofiada c o m o está a g o r a . D e v e r i a m existir M e t a s Sínteses n o país, n o s institutos d e pesquisa, nas universidades e e m tudo. U m b o m e x e m p l o de Metas Sínteses é o Projeto G e n o m a . S e o s pesquisadores não tivessem metas sínteses, estivesse cada u m e m u m a direção, não teríamos c h e g a d o a o n d e c h e g a m o s e m t e r m o s dos avanços alcançados c o m o Projeto G e n o m a . O fato d e se t e r u m projeto orientando c h e g o u - s e a u m resultado favorável. Então, e m todas a s áreas deveria haver M e t a s Sínteses, a s s i m deveria s e r c o m a área energética. C a s o contrário cada u m começa a puxar para u m lado e não haverá harmonia n o conjunto. A grande v a n t a g e m q u e h o u v e n a década d e 1980 c o m o Projeto d a M a r i n h a foi o fato d e h a v e r e m Metas Sínteses q u e colocaram o pessoal d o I P E N c o m o d a Marinha trabalhando j u n t o s , resultando e m tudo q u e já foi relatado até agora, na entrevista. N o m o m e n t o e m q u e deixou d e haver uma motivação, todos continuam trabalhando, m a s o resultado da c o m u n i d a d e diminuí. 220 P: Almirante, além de todos os fatos relatados até o presente momento, o sr. gostaria de acrescentar algum outro? Se não, gostaria de ouvir seus comentário finais sobre os valores vigentes no IPEN. R: Q u e outros valores poderiam ser citados além d e todos até aqui relatados? Existem no IPEN valores c o m o uma excelência e n o r m e , u m a grande vontade d e realizar existe preparo e disposição e u m ambiente favorável. Portanto, todos estarão dispostos a ajudar e m qualquer coisa q u e o pessoal daquela c o m u n i d a d e quiser realizar. Q u a n d o todos pensam e m uma direção é porque a unanimidade é burra, e isso não a c o n t e c e c o m a c o m u n i d a d e d o I P E N . Existe u m a discordância interna muito favorável. Junto á c o m u n i d a d e d o IPEN não existe o "complexo d e vira-lata". Já dizia Nelson Rodrigues que, e n q u a n t o o Brasil tiver complexo d e vira-lata nós não c h e g a r e m o s a lugar n e n h u m . O u seja, e n q u a n t o o brasileiro achar q u e só o s gringos f a z e m a s coisas boas e corretas não c h e g a r e m o s a ser país d e primeiro m u n d o . N o IPEN não existe esse c o m p l e x o . Q u a n d o nós d a Marinha c h e g a m o s lá, e falamos "vamos trabalhar n a propulsão naval" todos toparam! Q u a n t o s países realizaram esse feito? Então esse valor existe no IPEN, Não t e m o s c o m p l e x o d e vira-lata. São valores muito importantes todos esses q u e existem na c o m u n i d a d e I P E N . Concluída a entrevista. [ cmssk) ímom. DE mm m<mñis?-m 221 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. CLAUDIO RODRIGUES Entrevista concedida em 28 de junho de 2001. P: Dr. Claudio, o sr. poderia relatar em que circunstâncias foi criado o instituto? (Devido a u m a fallía n o gravador, a s primeiras frases proferidas na entrevista ficaram s e m o d e v i d o registro) R: ... N a década p a s s a d a , o Brasil recebeu muitos ilustres visitantes, tais c o m o Albert Einstein e vários outros d e n t i s t a s internacionais, q u e participavam d e eventos d a área d e energia nuclear. Essa área começou a despertar o interesse do C N P q , q u e n a época e r a c o m a n d a d o pelo Almirante Alvaro Alberto. E m contrapartida, e m São Paulo, u m grupo liderado pelo Prof. Marcello D a m y d e Souza Santos, d a Universidade d e São Paulo, tinha g r a n d e s expoentes d a área da Fisica Nuclear. D a m y participou d a instalação d e u m acelerador "Betatron" n o Instituto d e Física d a U S P , q u e foi o primeiro acelerador q u e o Brasil construiu, o qual despertou o interesse d e j o v e n s d e n t i s t a s e d a s o c i e d a d e brasileira e internacional. L o n g o e m seguida, o Prof. Marcello D a m y vislumbrou a possibilidade de fazer c o m q u e o Brasil ingressasse na era da energia nuclear, q u e era o grande boom m u n d i a l . Nesse sentido, o D a m y , j u n t a m e n t e c o m u m grupo de d e n t i s t a s d a U n i v e r s i d a d e d e São Paulo, conseguiu a adesão d o C N P q e d a Universidade d e São Paulo para a instalação n o c a m p u s d a U S P d e u m Instituto de Energia Atômica, o l E A , q u e viria abrigar u m reator d e pesquisa q u e seria doado pelos E U A por meio d o Programa Átomos para a Paz. O então presidente dos Estados Unidos, Eisenhower, estava interessado e m fomentar o desenvolvimento d a energia nuclear c o m o u m a espécie d e contrapartida e u m a alternativa a o s planos Baruch e outros planos q u e limitavam o a c e s s o à energia nuclear e m países subdesenvolvidos. Esse p r o g r a m a criado pelo presidente Eisenhower, Átomos para Paz, previa a doação d e u m reator nuclear d e pesquisa àqueles países q u e c o n s e g u i s s e m realizar a instalação b a s e para abrigar esse reator. Foi a s s i m q u e o g r u p o liderado por Marcello D a m y v i u a possibilidade d e colocar u m reator nuclear aqui no Brasil, e, e m particular, n o c a m p u s d a U S P . E m 222 função disso, c o m o esse grupo era muito influente e muito ativo, conseguiu o consentimento d o governador do Estado d e São Paulo, d o C N P q e da U S P para pleitear esse reator d o s E U A . É importante ressaltar todos e s s e s fatos porque isso mostra b e m o espirito e m p r e e n d e d o r q u e já começava a existir no seio d o instituto d e s d e a s u a concepção, o m e s m o espírito q u e p e r m a n e c e até hoje no IPEN, e isso está muito moldado na personalidade d o Damy. O governador Jânio Quadros só aceitou assinar esse contrato c o m o s Estados Unidos porque acreditou na firmeza d e propósitos d e D a m y e seu grupo, e que eles construiriam as instalações para abrigar o reator n u m prazo menor q u e os 12 m e s e s contratuais d o g o v e r n o americano. Você pode imaginar, esse fato ocorreu e m 1956. A c e i t a m o s u m desafio d e construir num prazo d e 12 meses e c o m engenharia d e construção brasileira, c o m u m a estrutura d e parede d e concreto d e três metros d e espessura, c o m todas especificações q u e não e r a m c o m u n s n a e n g e n h a r i a civil nacional. Esse foi o pnmeiro grande desafio enfrentado pelo n o s s o instituto. U m d o s principais fatos q u e m a r c o u o l E A d e s d e o s e u início foi o espíhto e m p r e e n d e d o r e a determinação! O desafio e o c u m p r i m e n t o d e grandes metas q u e a p a r e n t e m e n t e p o d e m até parecer impossíveis d e serem atingidas, metas desafiadoras. Precisamos entender que, e m termos d a criação d o instituto, e s t a m o s relatando fatos q u e ocorreram n o a n o d e 1956. A U S P era um deserto, era u m barro só. Não havia n e n h u m tipo d e a c e s s o fácil, todas a s ruas eram d e terra. Não havia n e n h u m a facilidade d a engenharia c o m o a s q u e existem hoje. O grupo d o Prof. Marcello d e Souza Santos D a m y construiu a s instalações para abrigar u m reator nuclear d e pesquisa e dar início a o Instituto d e Energia Atômica, o lEA, e o f e z n u m prazo inferior a 12 m e s e s . E m 31 d e agosto d e 1 9 5 6 foi instituído, por meio d e u m decreto d o lEA, e e m setembro d o m e s m o ano o reator de pesquisa já estava operando. O desconto contratual prometido pelo Governo A m e h c a n o , por m e i o d o Programa Átomos para a P a z , foi c u m p h d o , d e tal maneira q u e esse reator foi d o a d o para o G o v e r n o Brasileiro. M a s o importante é que foi lançado u m desafio, e esse desafio foi cumprido, e o reator está aí, e m torno d o qual foi c h a d o o lEA. Então, o nascedouro d o Instituto está ligado a um grupo liderado respeitabilidade pelo Prof. estabelecida DAMY, q u e tinha além da competência e a e m nível nacional e internacional, tinha u m a característica q u e e u acho q u e é a phncipal e q u e existe n o IPEN até hoje, o 223 espírito E M P R E E N D E D O R . Você via n o s oltios do D a m y u m a v o n t a d e d e fazer as coisas, e e l e t e m isso até hoje! D a m y está c o m 8 5 a n o s , e até hoje, q u a n d o você c o n v e r s a c o m ele, você pode ver e m seus olhos a m e s m a determinação d e fazer a s coisas para melhorar o país, c o m esse envolvimento d o desenvolvimento científico e tecnológico. A c h o q u e isso foi o início d o instituto. O inicio d o IPEN s e deve a esse espírito próprio d e pessoas c o m o o D A M Y ! P: Além do Prof. Damy que outras pessoas o sr. poderia citar? R: É u m p o u c o difícil listar todos, pois não tenho todas a s informações e posso até faltar, não citando a l g u m a s pessoas q u e participaram fortemente desse período. M a s a c h o q u e o s professores q u e participaram d a equipe d o Prof. D a m y f o r a m alguns professores d o Instituto d e Física d a U S P , tal c o m o o Prof. Ivan. D o C N P q , o então presidente o Prof. Álvaro Alberto, q u e n o s d e u u m Importante apoio para q u e e s s e e m p r e e n d i m e n t o fosse para frente. N a U S P , o reitor q u e c e d e u o c a m p u s para abrígar a sede d o instituto, b e m c o m o seus professores, nos d e r a m demonstração d e apoio e d e valorização á condução d a energia nuclear. O G o v e r n o Federal, o Estadual, a U S P e o C N P q , e n f i m , todos se i r m a n a r a m n e s s a determinação para q u e o país entrasse para a elite d o s países q u e estaríam prontos para o desenvolvimento d a energia nuclear n o Brasil. Essa era a g r a n d e solução para g r a n d e s d e m a n d a s energéticas d o país, b e m c o m o para s u a s aplicações na indústria, na saúde e na área estratégica nuclear. P: Quaís foram os outros acontecimentos que marcaram decisivamente a história da instituição? R: Aí nós d e m o s alguns fatos interessantes. Por quê? O D a m y teve uma carreira muito rápida n a área d a energia nuclear no Brasil, e l e construiu o reator, criou o instituto, foi n o s s o pnmeiro diretor e depois, q u a n d o o presidente d a república era o dr. Jânio Q u a d r o s , ele foi ser o presidente d a Comissão Nacional d e Energia Nuclear. Existia, naquela época, u m grande movimento nacional d e se começar a buscar u m a instalação nucleoelétrica n o país, d e preferência u s a n d o a s reservas d e urânio e tório q u e tínhamos aqui. Então a linha pela qual s e decidiu naquele m o m e n t o e r a a linha d o s reatores d e urânio natural para usar a s competências nacionais e a s resenhas d e urânio existentes n o país, s e m precisar d e tecnologia de enriquecimento d o urânio, e o D a m y encabeçava, j u n t o c o m o pessoal d e Belo 224 Horizonte e outros pesquisadores e cientistas brasileiros, essa linha d e desenvolvimento, e por e s s e motivo ele foi para a C N E N . E s u c e d e u a ele aqui no I P E N , depois d e u m p e q u e n o período d o Prof. Luís Cintra d o Prado, o Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni. Então aí veio u m período q u e também marcou decisivamente o I P E N , q u e r o dizer: o D a m y criando o IPEN e construindo o reator dentro d o c a m p u s d a Cidade Universitária. É importante m e n c i o n a r q u e a primeira criticalidade d o reator, acontecida e m setembro d e 1957, constituiu u m marco, porque foi o primeiro reator nuclear a ser o p e r a d o no hemisfério sul. Aí você pode ver onde nós estávamos; s e passarmos u m a linha n o equador, dali para baixo não tinha ninguém q u e tivesse feito o q u e nós fizemos. Então havia u m e n o r m e m o v i m e n t o d a s o c i e d a d e e m relação a esse nosso trabalho c o m energia nuclear. Q u a n d o o Pieroni veio para cá ele apostou f o r t e m e n t e na expansão d o I P E N . Porque o q u e s e avizinhava e o q u e já existia e m outros países eram grandes centros d e pesquisa nuclear, c o m o era o caso d e O a k r i d g e National L a b - O R N L , Chalkriver Nuclear Laboratories - C R N L , e n f i m , vários centros c o m mais de 10 mil funcionários, 10 mil pesquisadores n o s Estados U n i d o s , já na França, g r a n d e s centros d e pesquisa nuclear, então, q u a n d o o Prof. Pieroni a s s u m i u o I P E N , ele e s t a b e l e c e u q u e aqui seria o grande centro d e pesquisa nuclear d o país! Inclusive e m suporte a e s s e programa nacional d e reatores nucleoelétricos, e s s e e m b a s a m e n t o científico necessário para o programa nacional d e energia nuclear seria colocado aqui. A q u i n o IPEN, seria possível o desenvolvimento necessário para o p r o g r a m a nuclear. Então, ele d e u início a u m a c a m p a n h a d e crescimento d o I P E N . O IPEN tinha u m a área d e 3 0 0 metros d e raio a o redor d o reator, quer dizer u m círculo. E m cinco a n o s d e gestão d o Prof. Pieroni nós c h e g a m o s praticamente a 5 0 0 mil metros q u a d r a d o s d e área dentro d o c a m p u s da U S P , q u e é a área q u e hoje o IPEN t e m . Então o I P E N hoje o c u p a 2 0 % d o c a m p u s d a U S P , e isso estava dentro d e u m programa, d e u m a estratégia q u e s e f o r m o u aqui n o I P E N , q u e sena necessário s e criar u m forte instituto d e pesquisa na área nuclear para sustentar u m programa. A s negociações d o IPEN c o m a U S P foram positivas, quero dizer, a s negociações para a ampliação d a área d o I P E N n o c a m p u s d a U S P f o r a m positivas. U m outro aspecto preocupante: Como seria a implantação d o s laboratórios? E a contratação d o s cientistas e pesquisadores? C o m o é q u e nós iríamos o c u p a r esse espaço? Q u a i s s e h a m a s linhas d e trabalho q u e seriam 225 necessárias s e implantar aqui n o I P E N , e m função d e s s e p r o g r a m a nuclear que o D a m y instalou e m nível nacional e que, m e s m o depois d a saída dele, continuou a idéia d e s e fazer u m grande programa nuclear? Aí, nós e s b a r r a m o s e m uma dificuldade! Não havia u m a sintonia entre a estratégia q u e s e m o n t o u aqui n o IPEN e a estratégia d a Comissão Nacional d e Energia Nuclear q u e já existia naquela época, pois e l a foi criada logo após a fundação d o I P E N , e m outubro d o m e s m o ano. Então, o q u e a c o n t e c e u ? N o início da década d e 1 9 6 0 começamos a ter u m a certa dificuldade para q u e o IPEN p u d e s s e realmente s e r responsável por algum d o s g r a n d e s desafios q u e a energia nuclear, c o n f o r m e e s t a v a sendo p r o g r a m a d a para o Brasil, iria necessitar. A p e s a r da área, nós não tínhamos recursos para m o n t a r o s laboratórios e n e m para a contratação d o s pesquisadores. E isso e m função d e s s e posicionamento não concordante entre a direção d o I P E N , naquele t e m p o c h a m a d o d e lEA, e a direção da Comissão Nacional d e Energia Nuclear. Já não e r a mais época d o D a m y , d o Jânio Q u a d r o s , e n f i m , a s coisas haviam m u d a d o n a área política. Então o q u e a c o n t e c e u d e importante e m função d e s s e s fatos foi o afastamento d o IPEN e d a Comissão Nacional d e Energia Nuclear. Por razões d e mérito, Pieroni c o n s e g u i u c o n v e n c e r o Governo d o E s t a d o d e São Paulo, na época d o Dr. A d e m a r d e Barros e depois d o Laudo Natel e e t c , d e q u e o governo precisaria investir fortemente n o instituto para q u e e l e p u d e s s e realmente responder a s d e m a n d a s na área tecnológica e científica q u e u m p r o g r a m a nuclear s e g u r a m e n t e iria necessitar. D a m e s m a f o r m a q u e foi criada a Universidade d e São Paulo, c o m o u m a resposta mais audaciosa e mais forte para atender a s d e m a n d a s e d u c a c i o n a i s do ensino superior, c o m o esforço estadual, então, se aceitou e m t e r m o s d e g o v e r n o estadual o desafio, d e q u e o g o v e r n o estadual precisaria investir no instituto. Nesse ponto ocorreu u m outro grande m o m e n t o d o IPEN! Nós c o n s e g u i m o s o s 5 0 0 mil metros q u a d r a d o s d e espaço e u m forte Investimento, mais u m forte investimento m e s m o , para a construção d e laboratórios, na contratação e formação d e pessoal bancado pelo g o v e r n o estadual. Claro q u e nós continuávamos a t e r o apoio d a Comissão Nacional d e Energia Nuclear, m a s o m a i s importante foi q u e a gestão d o Pieroni foi caracterizada por u m crescimento muito forte das áreas d e atuação d o I P E N . Nós saímos d e u m a área a o redor d o reator, o u seja, fazíamos u m pouco d e física nuclear, radioquímica, 226 começávamos a fazer radioisótopos para fins médicos, operar u m reator, a l g u m a coisa n a área d e radiobiologia para u m instituto c o m instalações importantes para a época, n a área d e química e metalurgia d o urânio, n a área d a s aplicações industriais d a energia nuclear, u m crescimento muito forte n a área d e radiobiología, u m estabelecimento d e urna c o m p e t e n c i a , q u e é f u n d a m e n t a l , na área d e engenfiaria nuclear, trazendo não só professores estrangeiros, m a s também f a z e n d o u m programa d e formação d e recursos h u m a n o s nessas áreas tecnológicas, q u e foi p o r onde o I P E N c a m i n h o u fortemente na década d e 1970. Então e s s e foi u m outro marco muito forte q u e , junto c o m o reator, foram responsáveis pelo IPEN d e hoje. P: Então o sr. diria que as liniias de pesquisa, a infra-estrutura da organização permanece, desde a época do Dr. Pieroni? R: Não, a s linhas não são a s m e s m a s , m a s e u diria q u e o s laboratórios, a cultura, a competência, a excelente formação d e seus profissionais f o r a m derivadas desse esforço d e ampliação d a área d e atnbuição d o I P E N . A s linhas não são iguais a s d e 20, 3 0 a n o s atrás, m a s o importante é q u e foi construída u m a infraestrutura física e d e recursos h u m a n o s c o m condições d e a c o m p a n h a r o estado da arte d a energia nuclear, b e m c o m o d o spin-offúa energia nuclear, porque nós p a s s a m o s a participar d e u m a c o m u n i d a d e internacional. Nós tínhamos, e m função d e s s e p r o g r a m a diversificado, u m a penetração e m nível internacional e por este motivo começamos a fazer parte da c o m u n i d a d e d e primeiro m u n d o da energia nuclear. T i v e m o s a oportunidade d e a c o m p a n h a r a s linhas q u e apareciam e m nível internacional e c o m o nosso pessoal estava altamente capacitado e participava d e s s a comissão, eles tiveram c o m o a c o m p a n h a r a evolução d a s linhas d e pesquisa d e ponta. Nesse sentido, o instituto continuou s e m a n t e n d o na ponta e e m áreas q u e considerava estratégicas, principalmente n a área d o ciclo do combustível nuclear. E s s e foi u m outro ponto importante n a história d o I P E N , pois n u m determinado m o m e n t o , o IPEN q u e estava u m p o u c o fora d o acordo B r a s i l A l e m a n h a d e Energia Nuclear; por diversas razões, começou a perceber q u e o acordo B r a s i l - A l e m a n h a não iria atender a s expectativas estratégicas d o governo brasileiro p r o c u r a m o s , então, buscar alternativas n o sentido d e verificar a o n d e essas expectativas p o d e r i a m ser atendidas. 227 Então, a única instituição brasileira q u e não estava "contaminada" c o m a tecnologia alemã decorrente d o acordo Brasil-Alemanina e r a o I P E N , q u e manteve u m p r o g r a m a meio "solo" e m relação a e s s e acordo. N o início d a década d e 1980, mais precisamente e m 1978, e m função de u m a constatação d e s s e "fracasso" d o a c o r d o nuclear, começou-se a vislumbrar a possibilidade d e s e apoiar o IPEN fortemente e m t e r m o s d e Governo Federal, n o sentido d e atender a d e m a n d a s estratégicas q u e não estavam a c o n t e c e n d o n o p r o g r a m a c o m a A l e m a n h a . D e s s a f o r m a , a C N E N e o IPEN voltam a ser g r a n d e s parceiros, culminando e m fins d e 1982, c o m a assinatura d e u m convênio entre o G o v e r n o d o Estado d e São Paulo e o G o v e r n o Federal, p a s s a n d o a gerência d o IPEN para a área d a Comissão Nacional d e Energia N u c l e a r / C N E N , para q u e o IPEN então p u d e s s e participar d e s s e n o v o programa de d e s e n v o l v i m e n t o d a energia nuclear que s e estabeleceu n o G o v e r n o Federal e m função d a s expectativas não atendidas c o m o acordo Brasil-Alemanha. Portanto, n o início d e 1982, o IPEN estava n o v a m e n t e integrado a o programa d a C N E N c o m a finalidade d e d a r a resposta que, s e g u n d o o G o v e r n o Federal, não estavam s e n d o atendida. Porém, havia u m outro fator importante: o desinteresse do G o v e r n o Estadual Paulista nos assuntos relativos a o p r o g r a m a nuclear. Dessa f o r m a ocorreu a p a s s a g e m d o n o m e d e l E A , Instituto d e Energia Atômica, para IPEN, Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares, q u e significou a transferência d a administração financeira d o G o v e r n o Estadual Paulista para o G o v e r n o Federal, d a gerência d o s assuntos relativos a o programa nuclear. Por q u e a mudança d e n o m e para pesquisa energética e nuclear? Porque nós estávamos e m plena crise d o petróleo, e se b u s c a v a m alternativas energéticas; d e s s a f o r m a , o G o v e r n o d o Estado d e São Paulo d e u orientações para o IPEN para q u e a instituição entrasse mais fortemente n a s pesquisas d e energias alternativas, principalmente na área d o hidrogênio. N e s s a época se criou n o IPT; o p r o g r a m a d o P A U L I P E T R O e o IPEN investiram n a área d o hidrogênio. M a s , essas mudanças não ocorrem e m u m período d e 2 4 horas; você, para entrar fortemente tecnológico e m u m a linha d e pesquisa o u p r o g r a m a é necessário haver instalações e d e desenvolvimento uma massa crítica de pesquisadores, d e nível razoável para q u e s e p o s s a d a r respostas a u m programa, e nós naquela época ainda não tínhamos. Então foi necessário formar essa m a s s a crítica, m a s c o m o formar o s recursos h u m a n s o para tal leva t e m p o . 228 assim, o I P E N não conseguiu enveredar por e s s a s linhas d e pesquisas energéticas mais alternativas, d o q u e se vinha f a z e n d o tradicionalmente. A verdade é q u e e m 1983, o própho Governo Federal r e c o n h e c e u isso e f e z esse convênio c o m o I P E N , para q u e f o s s e m i n c r e m e n t a d a s a s atividades de desenvolvimento e m tecnologia nuclear, d e interesse estratégico para o Governo Federal. A i a resposta d o IPEN foi altamente positiva, porque já vínhamos d e s e n v o l v e n d o tal atividade, porém, s e m o devido a p o i o g o v e r n a m e n t a l . E m 1 9 8 3 , a s pesquisas d o IPEN ligadas a o ciclo d o combustível nuclear e d e reatores, e m parceria c o m a Marinha, tiveram g r a n d e impulso e uma boa resposta foi d a d a a o G o v e r n o Federal, o n d e todas a s tecnologias d o ciclo d o combustível nuclear f o r a m d o m i n a d a s , inclusive o e n r i q u e c i m e n t o isotópico por centrífugas. Em 1982/83 fizemos a primeira experiência c o m sucesso d o enriquecimento isotópico d e urânio, c o m centrífugas construídas n o Brasil. Isso foi u m S U C E S S O ! Além disso, p o d e m o s dizer ainda q u e construímos u m reator d e pesquisa inteiramente nacional, e esse trabalho d e e n r i q u e c i m e n t o isotópico d o urânio, e m parceria c o m a Marinha, resultou n a criação d o Centro Experimental da Marinha e m IPERÓ, q u e hoje t e m instalações importantes na área de centrífugas. Então, todo e s s e desenvolvimento a c o n t e c e u e m decorrência d a aposta q u e o G o v e r n o Federal n a competência d o I P E N , o q u e não estava s e n d o d e v i d a m e n t e aproveitado e orientado e m função d e u m a estratégia nacional. N o início d a década d e 1990, devido a o d e s a c e l e r a m e n t o n o interesse g o v e r n a m e n t a l n e s s a s áreas, o IPEN a s e reposicionou internamente c o m u m a nova filosofia, o u seja, saímos d e u m cliente só, q u e e r a o g o v e r n o , para u m a visão multicliente, b u s c a n d o atender d e m a n d a s na área d e ciência e tecnologia na melhoria d a qualidade d e vida d a população brasileira, q u e é a nossa missão. P: Teria algum outro incidente crítico que o sr. poderia relatar, para o qual o IPEN não dispunha de solução apropriada? R: Sob o ponto d e vista técnico, e u considero q u e u m a decisão equivocada foi a q u e o Governo Estadual t o m o u e m fins d a década d e 1970, começo d a d e 1980, q u a n d o ele quis q u e o instituto viesse a responder a d e m a n d a s na área d a s energias alternativa, c o m o a s d e hidrogênio, gaseificação d e canhão e e t c , para as quais nós não estávamos preparados e para a s quais s e exigiam respostas 229 muito rápidas, p o r q u e e r a m respostas políticas. A instituição não tinha condições de atender a e s s a s d e m a n d a s e ela sofreu muito c o m isso! Não havia competência, não havia instalações, não havia u m a cultura para q u e pudéssemos atendê-las. A c h o q u e isso foi u m erro estratégico q u e foi corrigido logo a seguir, no G o v e r n o IVIontoro, o q u e propiciou a o IPEN s e reposicionar na s u a área d e competência. U m outro incidente crítico q u e não foi e n t e n d i d o n a c o m u n i d a d e IPEN foi a decisão d e s e buscar u m a sucessão d o P I E R O N I s e m u m a participação interna. O Pieroni foi sucedido, todas a s pessoas são sucedidas, ninguém é eterno, m a s a sucessão, e u diria, não foi a d e q u a d a . B u s c o u - s e u m a pessoa vinculada a C N E N d o R i o d e Janeiro, e a c o m u n i d a d e d e São Paulo entendeu esse fato c o m o u m r e v a n c h i s m o , apesar d e t e r sido u m a b o a indicação e q u e tinha inclusive u m b o m círculo d e a m i z a d e s , m a s ele não foi muito feliz. Por outro lado, o sucessor d e s s a p e s s o a foi u m militar, c o m caracteristicas d e pessoa indicada e m função d o regime militar vigente n o país, e esse segundo superintendente, também não obteve sucesso e m sua gestão. A expectativas d o s servidores da casa é q u e a s p e s s o a s e n t e n d a m o que o I P E N faz. A s p e s s o a s q u e trabalham no I P E N têm u m a particularidade: elas receberam c o m o herança u m a cultura q u e v e m d o D a m y , d o Pieroni, q u e é a d e aceitar G R A N D E S D E S A F I O S , d e ser o agente d e mudanças nas áreas nas quais ele tem competência. Você não poder ser menor d o q u e isso! O IPEN não aceita u m a posição m e n o r d o q u e e s s a . O I P E N , por razões históricas e culturais d e seus f u n d a d o r e s e s e u s sucessores, está preparado para g r a n d e s desafios! Ele quer ser ator principal, e l e não quer ser coadjuvante! Ele não quer ser menor, isso é cultural! E q u a n d o isso não acontece, você agride a c o m u n i d a d e e a cultura d a instituição. P: Dr. Claudio, o seu depoimento é extremamente importante para o meu trabalho, considerando que o sr. é o único superintendente que assumiu a direção do IPEN em dois períodos diferentes e que está, atualmente, na direção do IPEN, em gestão consecutiva desde maio de 1995. Então o sr. acha que os valores vigentes na organização desde o início do IPEN continuam todos presentes? 230 R: E u considero esse fato a grande virtude d o I P E N ! S e nós conseguirmos manter esses valores vigentes, não iremos conseguir manter o IPEN. Eu a c h o q u e essa cultura precisa não só ser mantida, m a s também t e m q u e ser transmitida. N a medida e m q u e c o n s e g u i r m o s transmitir e s s e s valores e nossa cultura para as pessoas mais novas. Fazer c o m q u e essas p e s s o a s se fixem e a b s o r v a m essa cultura, e u a c h o q u e só assim a continuidade d o IPEN está a s s e g u r a d a . O IPEN é u m instituto importante! S e analisarmos todos o s institutos d e pesquisa vinculados a o M C T , o IPEN é o maior instituto. Nós t e m o s 1.100 funcionários, 3 5 0 alunos e m nossa pós-graduação. O IPEN é u m a força n o cenário d e ciência e tecnologia que precisa ser utilizada e m função das d e m a n d a s estratégicas d e C & T . E para isso nós e s t a m o s preparados, para isso nós estamos aqui e para isso a sociedade nos paga. E u a c h o q u e a sociedade espera que nós continuemos a s s i m . A minha preocupação é tentar manter tudo isso d e alguma maneira, m a s isso não se faz sozinho, só o futuro dirá s e nós e s t a m o s sendo b e m sucedidos n a transmissão d e nossos valores. P: Quais valores o sr. poderia citar como opostos àqueles que orientam a vida da instituição, ou aqueles que não estão presentes no IPEN? R: O s valores q u e precisamos introduzir no IPEN são aqueles q u e poderão propiciar o a t e n d i m e n t o d a d e m a n d a d e nossos clientes q u e b u s c a m a inovação. Precisamos viabilizar a V I S I B I L I D A D E e a TRANSPARÊNCIA d o IPEN para o m u n d o externo. E s t a m o s trabalhando para q u e e s s e s valores estejam mais presentes n o I P E N . Hoje, participamos d a grade d e disciplinas optativas d o curso de graduação d a U S P , além d o crescimento d a nossa pós-graduação, cada v e z mais forte dentro da c o m u n i d a d e U S P . A o entrarmos mais fortemente na área d o ensino d a universidade, b u s c a m o s u m contato mais freqüente c o m alunos da graduação e d a pós, para q u e p o s s a m o s rejuvenescer o nosso campus, e q u e essa j u v e n t u d e possa vir a ser os nossos pesquisadores d e amanhã. Fomos buscar desafios importantes na área d e transferência d e competência e de c o n h e c i m e n t o s d o I P E N q u e viessem atender a u m a d e m a n d a d a s e m p r e s a s brasileiras, e, nesse sentido, criamos aqui no c a m p u s d o IPEN o C I E T E C , q u e vem a ser um CENTRO INCUBADOR DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA. O C I E T E C abriga a s micro e p e q u e n a s e m p r e s a s d e base tecnológica, cujo negócio está baseado e m tecnologia. Foi u m sucesso n o IPEN a iamssk) fmm. DE mm¡A mja£Â^sp-iP£M 231 criação d o C I E T E C ! Hoje t e m o s mais d e 5 3 e m p r e s a s , e v a m o s atingir, até o final do ano, mais d e 100 e m p r e s a s . Isso significa u m a miscigenação d a competência científica, d o pesquisador e d a ciência c o m u m a d e m a n d a real d a s e m p r e s a s brasileiras. A s e m p r e s a s q u e aqui estão incubadas estão voltadas para o m e r c a d o , elas têm valores outros q u e não o s valores q u e estão aqui, pois nós estamos f o c a d o s para u m desenvolvimento cientifico e elas estão focadas para o m e r c a d o e para u m a d e m a n d a ; portanto essa miscigenação e mistura d e valores são positivos dentro d e s s a nova orientação e posicionamento d o I P E N . Dr. Claudio agradeço a s u a colaboração. 232 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A DRA. CONSTÂNCIA PAGANO Entrevista concedida em 18 de Janeiro de 2001. D a d o s s o b r e a entrevistada: Dra. Constância, fornnada e m química pelo Instituto de Química d a U S P , chefia, d e s d e 1959, o Centro d e Radiofarmácia d o IPEN. P: Em quais circunstâncias foi criado o lEA? R: E m 1958, q u a n d o cheguei aqui, o instituto já havia sido c h a d o há dois anos. Era recém-formada e trabalhava no Centro d e Medicina Nuclear, q u a n d o , u m d i a , encontrei o Dr. Pieroni e lhe falei d o m e u entusiasmo c o m o Instituto d e Energia Atômica, e perguntei s e não havia u m a colocação para m i m n o lEA. C o m o minha formação e r a e m química, o Dr. Pieroni m e pediu para q u e fosse conversar c o m o Prof. Fausto Lima, chefe d o Setor d e Química d o instituto. L o g o e m seguida fui contratada e dei inicio a minha carreira n a radioquímica d o lEA. P: Quais foram as principais pessoas que participaram da fundação do lEA? R: E m 1958, q u a n d o aqui cheguei, e s t a v a m n o instituto o Prof. D a m y e o Prof. Fausto Lima (irmãos), o s Drs. Pieroni e Alcídio e a Dra. Laura. N a q u e l a época só havia esse p e q u e n o g r u p o n o instituto. E m termos d e construção só havia o prédio d o reator. O c a m p u s d o lEA, dentro d a U S P , e r a só o prédio d o reator e mais nada! Então, v e r o instituto crescer a o longo dos a n o s foi muito interessante. P: O que o sra. poderia relatar sobre os acontecimentos críticos que marcaram a história da instituição? R: O marco q u e s e seguiu à instalação d o reator ocorreu e m 1959, q u a n d o f i z e m o s a primeira produção d e radioisótopos. Esse foi u m grande acontecimento no instituto, ocasião e m q u e tivemos presentes aqui n o l E A vários políticos d e d e s t a q u e d a época. L o g o e m seguida, e m 1 9 6 1 , o Prof. D a m y m e convidou a fazer u m estágio na França, para fazer u m treinamento na parte d e produção d e radioisótopos, para q u e pudéssemos impulsionar a produção d e radioisótopos n o país. A o retornar, após cinco m e s e s , oficializamos o Setor d e Produção d e 233 Radioisótopos d o lEA. Esse setor ficou por u m b o m t e m p o f u n c i o n a n d o e m b a i x o do reator, e devido a isso nós o chamávamos d e "as cavernas". O l E A teve u m a participação importante na formação d o s médicos d e São Paulo. O Centro d e Radiobiologia d o instituto fazia o treinamento dos médicos q u a n t o à utilização d e radiofármacos, b e m c o m o o a t e n d i m e n t o a o s pacientes q u e n e c e s i t a v a m d o s radioisótopos aqui produzidos. O Dr. Pieroni c o m o médico sabia q u e a IVIedicina Nuclear d o país deveria evoluir muito a o longo dos a n o s , portanto a produção d e radioisótopos d o instituto deveria ter u m importante papel n o desenvolvimento d o Brasil, nessa área. Foi a s s i m q u e , u m dia, o Dr. Pieroni m e disse: "Vou construir u m prédio para o seu setor". P o r e s s e motivo, retornei à França, por volta d e 1973, para comprar todos o s e q u i p a m e n t o s necessários para o desenvolvimento d e s s a área. Retornei ao país c o m o proprietário dessa e m p r e s a , que nos a s s e s s o r o u na instalação d a s células. N e s s e meio t e m p o , durante a construção d a s novas instalações da área, ainda c o n s e g u i m e dedicar, por Insistência d o Dr. Pieroni, a minha formação acadêmica. Fiz o m e s t r a d o n a Escola Politécnica sobre a produção d o lodo 1 3 1 . Logo e m s e g u i d a , iniciei o doutorado n o Instituto d e Química d a U S P , que foi u m grande desafio! Foi na área d a química inorgânica m o d e r n a , sobre complexação de e l e m e n t o s lantanídeos, e tive q u e m e dedicar muito, foi u m desafio. E m 1974, concluí o d o u t o r a d o , q u e levei cerca d e três a n o s concluir. U m dia, o Dr. Pieroni, brincando c o m i g o , disse: "Ho! filha, (ele tinha e s s e m o d o carinhoso d e falar c o m as pessoas), s e você não acabar esse doutorado não te d o u promoção! E u disse; Dr. Pieroni, n u n c a pedi promoção". E ele retrucou: "É verdade!". E m 1975, f i z e m o s a inauguração d o D e p a r t a m e n t o d e Radioisótopos, ocasião e m q u e c o n t a m o s com a presença d o então G o v e r n a d o r L a u d o Natel. A s novas instalações n o s possibilitaram produzir radioisótopos a todo vapor. Foi assim q u e evoluímos d e u m p e q u e n o núcleo, e m b a i x o d o reator, para u m prédio construído e s p e c i a l m e n t e para a área d e produção d e radioisótopos. A t u a l m e n t e começamos a atingir u m estágio avançado, c o m novos produtos, m a i s segurança n o trabalho, melhoria nas células, automação d e alguns procedimentos, maior cuidado na proteção radiológica. A qualidade d e todos o s procedimentos utilizados na produção d e radiofármacos n o I P E N , d e s d e o s fornecedores d e matéria-prima até a entrega d o produto final às clínicas e 234 hospitais especializados e m IVIedicina Nuclear, p a s s a n d o pelo a r m a z e n a m e n t o d e reagentes, manutenção d o s e q u i p a m e n t o s e o próprio controle d e qualidade d o s radiofármacos produzidos, n o s possibilitou conquistar a I S O 9002. U m a grande realização para o n o s s o instituto, pois c o m essa certificação f i c a m o s habilitados a competir c o m qualidade e m todo o Mercosul, motivo d e g r a n d e entusiasmo e satisfação para t o d o s nós! Hoje, o IPEN é reconhecido nacional e internacionalmente, não só na produção de radioisótopos, m a s também e m todas a s outras áreas e m q u e atua. P: O que permanece na instituição dessa fase? Como a sra. vê a evolução do instituto nesses 45 anos de existência? R: N a radiofarmácia, poderia dizer q u e houve u m a evolução muito grande a o longo d e s s e s a n o s d e existência. S e m p r e tivemos u m a p o i o total d e todos os superintendentes, diretores e presentes d a C N E N . O período d e gestão d o Dr. Pieroni foi muito rico, e l e e r a muito ativo e muito exigente. Ele resolvia tudo n o instituto, p r o b l e m a s d e dinheiro, d o s funcionários, e l e c o n h e c i a t u d o e todos. O autoritarismo era u m a d e suas características, b e m c o m o o s e u a m o r á instituição. N a q u e l a época, vigia o regime militar n o g o v e r n o , então o autoritarismo era c o m u m e t o d o s aceitavam b e m esse clima. P: A sra. se lembra de algum acontecimento crítico que tenha marcado a instituição? R: Não m e lembro d e n e n h u m acontecimento crítico. N u n c a senti dificuldades aqui n o instituto. S e m p r e h o u v e muita união entre todos n a m i n h a área. U m p r o b l e m a d e q u e m e lembro, m a s foi b e m resolvido pela instituição, aconteceu devido a o a u m e n t o d a d e m a n d a por produção d e radioisótopos. A sociedade estava a d e m a n d a r cada v e z mais radioisótopos, e nossa produção não estava a c o m p a n h a n d o essa d e m a n d a . C h e g o u u m m o m e n t o q u e nós começamos a ter d e importar u m pouco d o iodo. O p r o b l e m a foi s e agravando, e c h e g o u u m a época e m q u e a importação já estava s e n d o total. Devido a esse problema, a instituição priorizou u m estudo sobre o a u m e n t o d a potência d o reator para 5 M W . E c o n s e g u i m o s ! Hoje o reator está f u n c i o n a n d o a u m a potência d e 5 M W . A produção d e radiofármacos, utilizados n o diagnóstico e terapia d e váhas 235 doenças, a t e n d e a n u a l m e n t e , a u m milhão e meio d e pacientes, e m mais d e 3 0 0 hospitais e clínicas d e todo o país. Dina, portanto, q u e t o d o s o s problemas d e p a r a d o s pela instituição f o r a m resolvidos por ela c o m desenvoltura e bravura suficientes para continuar na liderança e m tudo que faz. P: Estava lendo na nossa intranet, no dia de hoje, uma entrevista concedida pela sra. sobre a nacionalização do Tálio, Gálio e do lodo 131. Poderia relatar esses fatos? R: S i m , é v e r d a d e . Iniciamos a nacionalização d e s s e s e l e m e n t o s . O Tálio e o Gálio são produzidos n o Ciclotrón, e não e m reatores. Nós tínhamos u m Ciclotrón antigo q u e não n o s d a v a a possibilidade d e produzirmos t o d o s e s s e s elementos. Dessa m a n e i r a , a instituição adquiriu u m novo aparelho Ciclotrón, q u e nos possibilitou c h e g a r a o ponto d e nacionalizarmos esses e l e m e n t o s . O lodo 131 é produzido n o reator; e s t a m o s produzindo parte d a d e m a n d a nacional. Nossa expectativa é a d e nacionalizarmos toda a produção d e lodo 131 até o final deste ano. P: E quanto aos seus recursos humanos? O pessoal se especializa? R: O pessoal é muito interessado e d e muita responsabilidade. Para o pessoal q u e trabalha n a produção não existem sábados, d o m i n g o s e feriados. São turnos d e trabalho; às v e z e s o s matenais importados c h e g a m tarde d a noite e o nosso pessoal está s e m p r e aqui, para tudo. T o d o s aqui n o setor têm a consciência d e q u e o s pacientes d e p e n d e m d o s nossos radioisótopos e não s o b r e v i v e m s e m o s mesmos. P: Quanto à razão de ser da instituição, a nossa missão está muito ligada à produção de radiofármacos, como um compromisso nosso com a sociedade brasileira. Como a sra. vê esse assunto. R: A c h o q u e a missão d o instituto está s e n d o b e m cumprida. N o s s a preocupação c o m a produção d e novos c o n h e c i m e n t o s científicos, d e s e n v o l v i m e n t o d e tecnologias, geração d e produtos e sen/iços, e inclusive f o r m a n d o recursos h u m a n o s , t o d o s e s s e s s e g m e n t o s estão sendo b e m c u m p r i n d o j u n t o à sociedade. 236 P: Na sua opinião, que valores orientam a casa? R: A competência é u m valor q u e s e m p r e orientou a c a s a . Hoje e m dia, tem-se d a d o muito valor a o funcionário, n o sentido d e valorizar o treinamentos d o s recursos f i u m a n o s , valorização profissional o n d e estão s e n d o estabelecidos turnos d e serviços. Infelizmente, a valorização e m t e r m o s monetários não n o s é possível conceder, porque não d e p e n d e d e nós, do instituto, e sim d e u m a política federal. M a s valores relacionados a o respeito d o s servidores estão s e m p r e na pauta d e n o s s a s argumentações c o m o s dirigentes. P o r e x e m p l o , o diálogo q u e tenho c o m o s m e u s funcionários está presente n a s p e q u e n a s decisões, desde uma mudança d e sala, u m a reforma; procuro saber d a opinião d e todos. T e n h o u m a b o a interação c o m todos o s m e u s funcionários. F a z e m o s s e m p r e reuniões o n d e são c o l o c a d o s t e m a s sobre a qualidade d o serviço e a importância d e cada u m n o seu trabalho. É claro que, n u m grupo grande, vai existir u m o u outro q u e s e d e s t a q u e e m detrimento d e outros. M a s , d e u m a f o r m a geral, todos são d e d i c a d o s e d e s e m p e n h a m seu trabalho c o m competência e qualidade. P: Com relação aos valores que vigiam no passado com relação aos de hoje, a sra. percebe alguma mudança ao longo dos anos? R: A n t i g a m e n t e o s funcionários e r a m mais reprimidos. A obtenção d e resultados era o q u e existia d e mais importante — a s exigências inerentes a o trabalho. A g o r a o funcionário está mais à vontade, às vezes a c h o q u e até u m pouco além da conta. Por exemplo, questões relativas ao cumprimento d e horário: antigamente e s s e a s s u n t o era tratado c o m mais rigidez. Hoje há u m a grande flexibilização d o horário d e trabalho. Fui criada n u m sistema mais rígido, e s e m p r e prestei contas d e tudo q u e faço e q u a n d o faço. A c h o q u e u m a certa d o s e d e o r d e m n a c a s a não f a z m a l a l g u m . Por outro lado, o s funcionários são responsáveis por aquilo q u e f a z e m . P: Como estávamos conversando antes da entrevista, a pesquisa conduzida no instituto para identificação de seus valores, HIERARQUIA E A OBEDIÊNCIA foram priorizados dentre os primeiros. Como a sra. Interpreta esses dados da pesquisa? R: N a m i n h a opinião, d e v e haver u m a hierarquia n a c a s a . U m a questão d e o r d e m na t o m a d a d e decisões, n o trato entre funcionários e chefia. C o n s i d e r o , inclusive, 237 a hierarquia u m valor indispensável à instituição, para q u e a competência seja u m valor preponderante. S e m hierarquia não há o r d e m , s e m o r d e m não há competência e q u a l i d a d e nos serviços prestados. P: A sra. poderia citar algum valor em contraposição a esses valores vigentes na casa? R: N a minha opinião, não vejo n e n h u m valor q u e se c o n t r a p o n h a aos vigentes na casa. P: Como a sra. definiria as características principais da instituição. R: O a t e n d i m e n t o à s o c i e d a d e é a característica principal d a instituição. Nos dias de hoje, u m a característica q u e se faz muito importante é o e n t r o s a m e n t o c o m a s indústrias, universidades, instituições privadas e c o m o s outros institutos d e pesquisa. A n t i g a m e n t e éramos mais f e c h a d o s , não havia essa preocupação; essa característica m u d o u p o r q u e m u d o u o m u n d o , c o m a abertura das fronteiras entre os países e a c h e g a d a d a globalização. Foi u m a mudança d e paradigma q u e nos fez mudar e nos a b r i r m o s para além d e nossa fronteiras. C o m o e x e m p l o , poderia citar: 1) a instalação d o C I E T E C (Centro Incubador d e E m p r e s a s Tecnológicas), e m 1998, q u e n a s c e u n o I P E N e m decorrência d e u m a parceria d o I P E N / C N E N c o m a Secretaria d a Ciência, Tecnologia e D e s e n v o l v i m e n t o Económico d o Estado d e São Paulo, o S C T D E , c o m o Instituto d e P e s q u i s a s Tecnológicas d o Estado d e São Paulo, o IPT, a U S P e o Sen/iço d e A p o i o às Micro e P e q u e n a s E m p r e s a s d e São Paulo, o S E B R A E - S P . " O C I E T E C está incubando o futuro e d e s e n h a n d o , hoje, a cultura d o s e m p r e e n d e d o r e s que vão renovar o Brasil". E 2) a instalação n o c a m p u s d o IPEN d o C e n d o T e c (Centro Franco-Brasileiro d e Documentação Técnica e Científica) q u e apoia a Cooperação Científica e Tecnológica entre o Brasil e a França. E s s e s são dois b o n s exemplos d a abertura d o I P E N para novas parcerias. Participar a t i v a m e n t e d o desenvolvimento científico e tecnológico d o país é u m a das características d a instituição. Além d a s mudanças n o ambiente externo, o I P E N internamente também tem s e reestruturado, e o s processos d e gestão têm-se modernizado. Há cerca d e três a n o s v e m sendo organizado u m fórum d e discussão constituído pelo corpo gerencial e pelos funcionários, e ali t e m sido traçado o Plano Diretor d o 238 instituto, c o m o s e u o planejamento estratégico e todas a s linhas mestras d a casa. Portanto, dina a você o IPEN t e m se m o d e r n i z a d o tanto internamente quanto externamente. 239 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O Dr. EDSON ROMAN DA SILVA Entrevista concedida em 07 de agosto de 2001. P: Em quaís circunstâncias foi criado o lEA? R: Para o conjunto d a s seis primeiras perguntas d e s e u questionário posso afirmar que existem pessoas aqui na instituição q u e mellior poderiam respondêlas, pois f o r a m p e s s o a s que viveram esse período da história d o l E A . Estou n o instituto há pouco t e m p o , d e s d e 1993, s e c o m p a r a d o a s u a história d e 4 5 a n o s , e a todos o s episódios e pessoas q u e m a r c a r a m a instituição. C o m o estou n o instituto há s o m e n t e oito a n o s , conheço u m a parte d e sua história p o r q u e m e foi transmitida, e por esse motivo pode ser q u e e m m e u depoimento o c o r r a m a l g u m a s contradições. Isso porque q u a n d o não s e vive aquele m o m e n t o da história não se t e m u m a opinião própria, têm-se, s i m , opiniões d e diversas p e s s o a s e n e m s e m p r e essas opiniões são c o n c a t e n a d a s . Q u a n t o a sua primeira pergunta posso informar o q u e m e foi transmitido: o instituto foi criado na década d e 1950, m a i s especificamente e m 1956, por u m g r u p o d e pesquisadores d o instituto d e física d a U S P q u e tinha o desafio d e implantar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico d o país na área nuclear. N e s s a época s e d e s t a c a r a m figuras q u e até hoje estão aqui conosco, p e s s o a s c o m o o Prof. Marcello Damy. Pelo q u e sei, e l e participou d e u m projeto q u e previa a implantação d e pesquisas nucleares c o m o auxílio d o s E U A , e esse projeto envolvia u m concurso entre o s países participantes. A q u e l e país q u e terminasse a s obras d e instalação d o reator e m primeiro lugar, teria u m grande benefício, o u seja, teria o reator praticamente a custo zero. O Prof. D a m y topou e s s e desafio, c o n g r e g a n d o u m grupo d e p e s s o a s a b n e g a d a s , e conquistou u m espaço n o c a m p u s d a Universidade d e São Paulo, q u e naquela época era praticamente u m a f a z e n d a , o n d e seria instalado o reator nuclear. Por tudo o q u e nós s a b e m o s , o lEA cresceu e m torno desse reator nuclear. P: Além do nome do Prof. Damy, que outras pessoas poderiam ser apontadas como participantes dessa época? R: T e m o s n o instituto a l g u m a s fotografias antigas e a s p e s s o a s s e m p r e m e n o m e i a m a l g u m a s figuras q u e participaram d e s s e período d a história, porém o 240 n o m e mais forte é o d o Prof. Damy. Foi ele q u e m m a r c o u d e f o r m a preponderante o l E A c o m a instalação d o primeiro reator nuclear, u m desafio que foi liderado por ele c o m o auxílio d e outras pessoas. Portanto, o n o m e marcante na historia d o lEA é o d o Prof. Marcello Damy. P: O que o sr. poderia nos relatar sobre os acontecimentos críticos que marcaram a história da instituição? R: N e s s e aspecto, o a c o n t e c i m e n t o crítico que t e n h o c o m o relato foi a ida d o Prof. D a m y para a U N I C A M P , para instalar o doutorado na pós-graduação daquela universidade. Naquela época, não tínhamos a nossa pós-graduação instalada aqui no instituto, estávamos apenas iniciando a s conversações para tal implantação. Nesse contexto, u m a outra liderança forte q u e surgiu n o instituto foi a do Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni, q u e marcou por d u a s décadas o lEA. A entrada do Prof. Pieroni n o instituto marcou o início de seus g r a n d e s desafios. Assim c o m o foi u m desafio enfrentado pelo Prof. Damy, implantar o d o u t o r a d o na pósgraduação, na área de física, na U N I C A M P . P o d e m o s afirmar que u m a boa parte dos pesquisadores d o instituto pertencem a essa safra. P o d e m o s citar o Dr. Claudio Rodrigues (que é o nosso atual superintendente), e l e f e z s e u doutorado na U N I C A M P ; o Dr. Fúlfaro; o Dr. Bianquine e muitos outros que fizeram sua pósgraduação na área d e física na U N I C A M P . Naquela época, esse foi u m d o s m o m e n t o s crítico q u e m a r c o u a instituição, porque ocorreu u m a espécie d e cisão. Entre a s décadas d e 1950 e 1970, a l g u m a s lideranças s e ressaltaram na casa, s e n d o q u e , as d u a s mais importantes foram a s d o Prof. D a m y e do Prof. Pieroni. Outras lideranças que posso citar, e m contexto u m pouco diferente d o s anteriormente citados, são a s d o s professores Fausto Lima, Rui Ribeiro Franco, Tarcísio D a m y (irmão d o D a m y ) e outros. P: Sob seu ponto de vista, o que permanece na instituição dessa fase? R: Existem certos fatos q u e algumas vezes m e e m o c i o n a m , o respeito e o culto q u e os funcionários d o IPEN têm para c o m seus ídolos é u m deles, Posso citar que o nosso superintendente, o Dr. Claudio Rodrigues, e o Dr. Fúlfaro têm u m a verdadeira idolatria pelo Prof. Marcello D a m y e pelo Prof. Pieroni. A l g u m a s vezes (cmssk) m\om. oe B C ^ Í A füuoíwsp-KH 241 ouço comentários d e q u e o Dr. Pieroni teria sido u m l i o m e m muito rígido e e x t r e m a m e n t e exigente, m a s e m todas essa v e z e s p u d e senti q u e a s pessoas também têm u m e n o r m e respeito por ele, pela f o r m a c o m o m a r c o u a instituição. Ele foi u m h o m e m d e visão, estimulou a s p e s s o a s a completar s e u s estudos n o exterior, m a r c o u d e c i d i d a m e n t e o instituto. O s valores q u e p e r m a n e c e m na instituição até o s dias d e hoje são, e m primeiro lugar: o respeito p o r s e u s fundadores, pelos h o m e n s q u e m a r c a r a m o caminho a ser trilhado pela instituição; poderia dizer inclusive q u e e s s e s c a m i n h o s não foram desviados, m a s , s i m , q u e foram acrescidos n o v o s c a m i n h o s . A s s i m , p o d e m o s citar o s seguintes fatos: • O Prof. Damy, q u e m a r c o u a instituição c o m a instalação d o primeiro reator nuclear d e pesquisas. O reator continua até hoje n o I P E N e, atualmente, s u a potência foi a u m e n t a d a ! É u m a base importante d e pesquisa, inclusive na produção d e radioisótopos; • O Prof. Pieroni, q u e m a r c o u fortemente a instituição c o m a instalação da nossa pós-graduação. Incentivando o s servidores a completarem suas carreiras profissionais realizando cursos d e pós-graduação n o exterior. São esses o s pesquisadores q u e hoje são a s g r a n d e s lideranças d a instituição. Nesse contexto p o d e m o s citar: o Dr. Claudio, q u e foi para o s E U A fazer s e u pós-doutorado; o Dr. Pascoal, q u e foi para a A l e m a n h a fazer s e u doutorado e muitos outros e x e m p l o s . Portanto, a pós-graduação d o I P E N , iniciada pelo Prof. Pieroni, p e r m a n e c e firme e t e m d e m o n s t r a d o através d a s avaliações realizadas pela C A P E S q u e é u m a atividade estabelecida e consolidada n o IPEN; • A área d e radiofármacos c o n t o u c o m o apoio d o Dr. Fausto Lima (que era o chefe d a Dra. Constância). Hoje, p o d e m o s afirmar q u e a área d e radioisótopos é c o m p r o v a d a m e n t e u m g r a n d e sucesso n o I P E N . P o d e m o s citar q u e , atualmente, são m a i s d e dois milhões d e brasileiros q u e s e beneficiam com o s produtos advindos dos radioisótopos produzidos n o I P E N ; • U m a outra área q u e m a r c o u fortemente o instituto f o i a d o Elemento Combustível, cujas pesquisas resultaram n o e n r i q u e c i m e n t o isotópico d o urânio. O projeto foi desenvolvido pela IVIarinha e pelo I P E N n a década d e 1970, e c o n t o u c o m e x p o e n t e s c o m o o Dr. Cláudio e o Dr. R e x Nazaré, pelo lado da C N E N , e a d o Almirante O t h o n , pelo lado d a Marinha. Esse triunvirato 242 foi o responsável pela condução d o programa d e e n r i q u e c i m e n t o d e urânio n o pais (do U F 6 e das centrifugas). Esse evento m a r c o u o s a n o s d e 1970! • O grande d e s e n v o l v i m e n t o tecnológico q u e m a r c o u o s a n o s d e 1970 foram a s pesquisas d o ciclo d o combustível, elas a l a v a n c a r a m g r u p o s d e pesquisadores que se originaram d a área nuclear e hoje suas c o m p e t e n c i a s são aplicadas d e forma mais a m p i a para a sociedade. P o d e m o s citar vários e x e m p l o s típicos d e pesquisas q u e tiveram seu Início nessa área, são elas: a s pesquisas d o grupo d e Lasers, c a p i t a n e a d a s pelo Dr. Spero Penha M o r a t o , o s estudos c o m laser surgiram para ser aplicados n a s separações Isotópicas d o urânio. Por conseguinte, a s pesquisas c o m o laser saíram d a área nuclear, e hoje suas competências são aplicadas d e forma mais a m p l a para a sociedade. Suas aplicações vão d a área d e odontologia e meio a m b i e n t e para muitas outras áreas. A m e s m a coisa aconteceu c o m a área d e m a t e n a i s , q u e começou c o m o desafio d a zircônia, e hoje temos u m a área d e materiais q u e expandiu suas pesquisas para a área d e cerâmica, tratamento d e superfícies, p r o c e s s a m e n t o de matenais particulados e outras. • Então p o d e m o s dizer q u e o Prof. Marcello D a m y m a r c o u a década d e 1950; o Dr. Rômulo Pieroni, a s décadas d e 1960/70; o Dr. Claudio Rodrigues, a década d e 1 9 8 0 . A s s i m , todos eles c o m suas realizações m a r c a r a m a instituição e lhe d e r a m o norte até o s dias d e hoje. P: Lembra-se de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? R: Sobre e s s e s a c o n t e c i m e n t o s é b o m citar a p a s s a g e m d a década d e 1980 para a d e 1990. Nos a n o s d e 1980, o cliente principal d o IPEN e r a o Governo, era ele q u e m d e m a n d a v a a tecnologia d o Programa Nuclear Autônomo. Esse programa foi gerido pela M a r i n h a d o Brasil e pela C N E N , e o projeto tinha c o m o objetivo o enriquecimento d o combustível nuclear para o s u b m a r i n o nuclear. Nessa época, tínhamos u m cliente fortemente definido chamado Governo; esse cliente d e m a n d a v a u m a tecnologia sensível e isso era indicativo d e u m instituto f e c h a d o e m si m e s m o e c o m muito p o u c o contato c o m outros clientes externos. Naquela época, o s radiofármacos ainda eram insipientes, tínhamos q u a s e q u e u m a produção e x p e r i m e n t a l . O q u e aconteceu, então? A o p a s s a r m o s da década d e 1980 para a d e 1 9 9 0 , e s s e m o d e l o foi e m b o r a . 243 A razão disso foi termos c l i e g a d o a o e n r i q u e c i m e n t o d o ciclo d o combustível e, conseqüentemente, a Marinha foi desenvolver s e u modelo industrial e o I P E N ficou s e m s e u grande cliente q u e era o G o v e r n o . Devido a esse fato, o I P E N confrontou-se c o m u m grande p r o b l e m a . Q u e m iria custear o u q u e m iria f a z e r a s e n c o m e n d a s para u m a instituição c o m o o IPEN? Naquela época, o instituto tinha 1.800 funcionários. Q u e tipo d e ocupação essas pessoas poderiam ter n o futuro? Então, a c h o q u e esse foi o maior desafio q u e a instituição teve q u e enfrentar e vencer. Passar d e u m cliente único n o s a n o s d e 1980, u m cliente q u e exigia resen/a n o s assuntos, para u m a instituição q u e deixava d e ter u m só cliente; p o r e s s e motivo precisava buscar desafios para o corpo d e seus pesquisadores e tinha d e s e aproximar d a sociedade. Considero esse o acontecimento q u e provocou o maior problema para a instituição e para o s quais ela não d i s p u n h a d e solução naquele m o m e n t o . Ela t e v e q u e sair à procura de alternativas. P: Como os membros da instituição reagiram a esse incidente? R: Foi necessária u m a década para q u e o s m e m b r o s d a instituição p u d e s s e m reagir a esse episódio, q u e foi a década d e 1990. N e s s e periodo tivemos duas gestões d e superintendente, n o t a d a m e n t e m a r c a d a pelos D r s . Spero Penha Morato e Claudio Rodrigues ( q u e retornou n a década d e 1 9 9 0 para o s e u s e g u n d o período d e gestão). N o período d o Dr. Spero, o s grupos d e pesquisadores tiveram q u e sair à procura d a d e m a n d a das agências d e f o m e n t o devido à e s c a s s e z dos recursos g o v e r n a m e n t a i s para P & D . Naquela época, o grande q u e s t i o n a m e n t o d o instituto era: "O q u e a s agências d e f o m e n t o estão d e m a n d a n d o ? " A F A P E S P , por exemplo, está interessada e m laser, e m materiais, interessada n e s s e o u naqueles t e m a s . A s s i m , t e n d o e m vista q u e tínhamos a s competências instaladas no instituto d e s d e a época d o ciclo d o combustível, atender às d e m a n d a s dos editais das agências d e f o m e n t o s não s e tornou u m obstáculo para o s pesquisadores do instituto. A década d e 1 9 9 0 foi m a r c a d a por essa transição! Saímos d e u m período d e g o v e r n o e formos a o encontro d a s d e m a n d a s d a s agências d e fomento; continuávamos a produzir ciência, porém, u m a ciência orientada pela demanda, aquela formulada pelas agências de fomento. Paralelamente começávamos a desenvolver e a u m e n t a r nossa produção d e radiofármacos; 244 atingimos u m c r e s c i m e n t o acelerado na produção d e radioisótopos d a o r d e m d e 10% ao ano. N a s e g u n d a gestão d o Dr. Claudio Rodrigues, q u e t e v e início n o a n o de 1995, começamos u m período d e grandes transformações organizacionais, o u seja, n o s preparávamos para o desafio d e sair d e u m cliente único, para o atendimento d a s d e m a n d a s , enfim, tivemos q u e m u d a r totalmente, sair d e u m estilo d e instituição f e c h a d a para u m instituto aberto e m a i s participativo, u m instituto q u e precisa buscar todos o s tipos d e parcerias possíveis c o m a c o m u n i d a d e . Primeiro, c o m a c o m u n i d a d e d a Cidade Universitária, a U S P , com o IPT, o Butantã, e depois, c o m a c o m u n i d a d e externa. Conseqüentemente, o instituto precisava s e abrir para o m u n d o e essa foi a g r a n d e diferença d o instituto dos anos d e 1980 para o s d o s 1990. U m instituto q u e foi buscar u m modelo d e gestão para q u e p u d e s s e mostrar para a sociedade u m a transparência e m tudo que faz, na f o r m a d e gestão d o s recursos financeiros, d e s e u s recursos h u m a n o s e d e infra-estrutura, principalmente, ter u m conjunto d e resultados q u e pudesse mostrar claramente c o m o o I P E N utiliza o procede a o g e r e n c i a m e n t o d e s e u instituto. P: Na sua opinião, qual é a razão de ser da instituição? A sua missão continua a mesma desde a época da fundação? O que mudou? R: Q u a n t o à missão d a instituição p o d e m o s dizer q u e foi u m processo fruto da nova postura d e gestão d a casa. O u seja, na v e r d a d e , a missão não m u d o u muito d e s d e a época d a fundação, m a s havia u m problema: ela não era claramente definida. Não havia u m a missão q u e todos os funcionários s e identificassem c o m ela, q u e p u d e s s e m dizer "essa é a nossa missão". D e s s a m a n e i r a , a direção d o IPEN iniciou e m 1997 o planejamento estratégico d a Instituição. Pela primeira v e z foi feito u m trabalho o r g a n i z a d o d e analise das ameaças e d a s oportunidades d o cenário externo a o instituto. Q u a n t o ás competências, foi analisado seus pontos fortes e fracos. E n f i m , h o u v e u m a ampla discussão n a casa, q u e contou c o m a participação d e t o d o s o s funcionários, n a busca pela definição d a missão e d o s objetivos p e r m a n e n t e s d a instituição. A missão d o I P E N foi então definida (esse episódio v a i ficar para s e m p r e e m minha memória). A redação d e n o s s a missão começa c o m " N O S S O C O M P R O M I S S O É C O M A M E L H O R I A D A Q U A L I D A D E D E V I D A D A POPULAÇÃO BRASILEIRA"... É por e s s e motivo q u e todos nós 245 trabalhamos aqui n o I P E N ; para o crescimento científico, para o desenvolvimento de tecnologias, para a oferta d e novos produtos e sen/iços e para formar recursos h u m a n o s . U m a discussão q u e surgiu nessa época foi a d e q u e não s e inicia a definição d e u m a missão dessa f o r m a : " N O S S O C O M P R O M I S S O É C O M . . . " A discussão e m torno d e s s a polêmica envolveu g r a n d e parte d o s nossos trabalhos, e o b t i v e m o s c o m o resultado o seguinte posicionamento: a g r a n d e missão d o instituto é colaborar c o m a melhoria d a qualidade d e vida d a população brasileira, é por isso nós f a z e m o s a s coisas, e não o contrário, "nós f a z e m o s o que f a z e m o s e isso p o d e resultar n a melhoria d a qualidade d e vida d a população brasileira"... Foi colocado n a missão nosso grande valor, q u e é contribuir c o m a melhoria d a qualidade d e vida d a população brasileira. A partir daí, todos o s outros trabalhos f o r a m d e s l a n c h a n d o , organizados pela identificação clara d e n o s s a missão. A phmeira coisa q u e n o s p e r g u n t a m o s hoje, q u a n d o v a m o s realizar algum trabalho no I P E N , seja a o iniciarmos u m a nova linha d e pesquisa o u m e s m o u m a nova atividade é: Qual o reflexo disso para a m e l h o h a d a qualidade d e vida da população brasileira? Considero esse u m m a r c o definitivo e m t e r m o s d e nova gestão d o I P E N , d e i x a m o s d e fazer as coisas por fazer. N o s s o pnmeiro c o m p r o m i s s o é c o m a melhoria d a qualidade d e vida d a população brasileira! A definição d a missão d e v e ter sido concluída e m 1998, e d e lá para cá foram feitas d u a s pesquisas d e clima organizacional n o I P E N : u m a e m 1999 e outra e m 2000. E m a m b a s a s pesquisas a s d u a s variáveis que tiveram maior índice d e aprovação f o r a m a q u e l a s relacionadas c o m a missão e c o m o s objetivos permanentes. Tiveram u m g r a u d e identificação próximo a 9 0 % ! Isso para nós foi u m a grande vitória, foi o r e c o n h e c i m e n t o d e u m trabalho b e m feito; significa q u e o s funcionários d o I P E N s e identificam c o m o c o m p r o m i s s o d e melhoria da população brasileira, b e m c o m o c o m nossos objetivos p e r m a n e n t e s . P: Na sua opinião, quais são os principais valores que orientam a vida da instituição? R: N o p a s s a d o , o s princípios básicos q u e orientavam a vida d a instituição eram fortemente ancorados no c o n h e c i m e n t o científico e no desenvolvimento tecnológico. O I P E N , até a década d e 1990, e r a u m a instituição c o m níveis d e excelência n a área d o c o n h e c i m e n t o científico e tecnológico. O instituto buscava estar próximo d o " T o p " e m termos d e ciência e tecnologia, b e m c o m o na 246 formação d e s e u s recursos h u m a n o s . Então esses e r a m o s valores mais fortes no passado d a vida organizacional d o IPEN. A g r a n d e transformação foi e m decorrência d o n o v o m o d e l o d e gestão adotado pelo IPEN e m 1994, 1995 e 1996, na gestão d o Dr. Claudio. O q u e aconteceu: o IPEN não perdeu o foco nessa sua competência científica e tecnológica, m a s a g r e g o u a o foco alguns outros valores que e r a m mais tênues, tais c o m o : administração participativa, o u seja, hoje na casa t e m o s reuniões c o m a s chefias todos o s m e s e s e c o m o s servidores a cada dois m e s e s . Então, só não s a b e o q u e está s e f a z e n d o o u o q u e s e pretende fazer q u e m não quer saber. O s resultados d a s reuniões d e diretoria estão descritos na intranet d o I P E N , o s chefes estão instruídos a transmitir t o d a s a s informações para seus servidores. N o audífono, a cada dois m e s e s , q u a n d o acontece a reunião c o m o s sen/idores (participam sempre cerca d e 3 0 0 funcionários), é informado tudo o q u e foi feito e tudo o q u e s e pretender fazer na instituição, e então é aberto o t e m a para discussão. O maior avanço d o IPEN e m termos d e gestão foi introduzir valores d e administração participativa, d e a u m e n t o de respeito a o s servidores q u e aqui trabalham e d e solidariedade. O s valores d e solidariedade são para c o m nossa sociedade interna e externa. E m termos de solidariedade c o m a c o m u n i d a d e interna t e m o s o s seguintes programas em a n d a m e n t o n a casa: d e dependência química, q u e p o s s a auxiliar d e p e n d e n t e s de drogas o u d e álcool a se recuperar; política d e t r e i n a m e n t o extensiva a o s d e p e n d e n t e s d o s servidores c o m a c e s s o a s vagas n o s cursos d e capacitação e treinamento; vacinação e outras ações d e cidadania e solidariedade. Instituímos também u m prêmio d e excelência para o s funcionários q u e s e d e s t a c a r a m e m suas atividades, cada unidade c o m mais d e 10 sen/idores participam d e u m processo d e eleição daquele q u e é considerado, por s e u s c o m p a n h e i r o s d e trabalho, o d e s t a q u e d o ano! F a z e m o s isso há três a n o s e, c o m o ainda não está b e m s e d i m e n t a d o n a cultura d a casa, algumas v e z e s e n f r e n t a m o s problemas com a incompreensão d o s objetivos reais d o concurso, o u seja: alguns servidores q u e e l e g e m a q u e l e funcionário não por ele ter s e sobressaído profissionalmente, m a s s i m pelo nível salarial d o indivíduo. Porém, a cada a n o , v i m o s a c o m p a n h a n d o indicações mais apropriadas a o prêmio daqueles q u e realmente s e sobressaíram por seus níveis d e excelência. E m termos d e sociedade externa t e m o s trabalhado c o m a U S P e m u m programa d e incubadora d e cooperativa popular, onde são previstas visitas às populações carentes d a região para proporcionarmos 247 programas d e formação d e cooperativa para a geração d e oportunidades d e e m p r e g o s q u e p o s s a m gerar rendas para a q u e l a c o m u n i d a d e carente (que não seja só c o m carteira a s s i n a d a ) . Disponibilizamos para a população carente d o Butantã, por m e i o d a prefeitura regional, p r o g r a m a s d e t r e i n a m e n t o para melhorar o nivel d e qualificação d a c o m u n i d a d e . O administrador geral d o Butantã, o Prof. Eduardo Barbosa, n o s enviou correspondência d e a g r a d e c i m e n t o a uma participação nossa n o t r e i n a m e n t o d a população carente d a q u e l e bairro e, e m um determinado parágrafo, e s c r e v e u : "... Ele agora sabia q u e a energia mais forte que o I P E N havia d e s e n v o l v i d o não e r a a nuclear, e , s i m , a energia d a solidariedade". Isso é u m a coisa muito bonita e q u e n o s dá u m a e n o r m e satisfação. A i n d a c o m relação a o s valores, e s t a m o s iniciando u m trabalho d e identificação d o s valores ferramenta q u e está organizacionais sendo presente disponibilizada pela no IPEN presente (que é uma dissertação d e mestrado) a partir d o qual p o d e r e m o s ter a o p o r t u n i d a d e d e elencar aqueles valores q u e f a z e m parte d a rotina d a vida organizacional d o instituto. P: Na sua opinião, quais valores seriam opostos àqueles que orientam a vida da instituição? R: N a década d e 1980 o IPEN s e defrontou c o m u m outro g r a n d e problema q u e não mencionei n a questão a c i m a , mas q u e é a p r o p r i a d o ser citado nesta questão. Qual foi e s s e p r o b l e m a : O s funcionários q u e f a z i a m parte d o q u a d r o d o IPEN e r a m regidos pela C L T , e p a s s a m o s a ser funcionários públicos, regidos pelo R e g i m e Jurídico Único. Isso é u m a mudança d e cultura muito g r a n d e ! N o periodo de regime pela C L T , nós éramos funcionários d o G o v e r n o d o Estado d e São Paulo, e nesse r e g i m e d e trabalho existem d u a s balanças, a d o risco e a d a oportunidade, e n q u a n t o q u e n o R J U esses dois p e s o s não p a s s a m a ser mais relevantes, pois o s riscos não existem e n e m a s o p o r t u n i d a d e s . N o R J U você tem risco zero e o p o r t u n i d a d e s zero, a s pessoas só e n t r a m por c o n c u r s o público, a maioria d o s funcionários estão e m final d e carreira, g r a n d e parte d o q u a d r o d e funcionários têm s e a p o s e n t a d o , não p o d e m s e r demitidas a s pessoas q u e não trabalham o u q u e são ineficientes. A c h o que isso são valores antagônicos dentro da instituição, e é c o m p l i c a d o ! Dentro d a Instituição q u e s e apresenta c o m o u m a instituição m o d e r n a , u m a instituição q u e está b u s c a n d o a melhoria d a qualidade 248 de vida d a população brasileira, termos u m a parcela, q u e e u identificarla c o m o u m a parcela p e q u e n a dentro d a instituição, q u e s e protege atrás desse R J U , d e s s e regime d e estabilidade d e e m p r e g o . O regime d e estabilidade d e e m p r e g o é admitido e usado pelo e s t a d o , a favor d o estado e d a s o c i e d a d e c o m o u m todo. O u seja, a s p e s s o a s e a s atividades essenciais a o e s t a d o , por serem b e m desenvolvidas, não d e v e m ficar expostas a situações e a flutuações políticas d e s s e m e s m o e s t a d o . A estabilidade d e e m p r e g o não existe para proteger o servidor, ela existe para proteger a sociedade, o u seja, t e m o s u m serviço tão b e m prestado à sociedade q u e não v a i ser a troca d e prefeito o u d e u m superintendente q u e mudará isso. Então, o instrumento d a estabilidade é nesse sentido! E n f i m , usar a estabilidade d o e m p r e g o e m benefício próprio e não a favor da sociedade, m a s contra ela. Então e u acho q u e é u m g r a n d e problema, apesar de t e r uma parcela mínima n o IPEN q u e p o d e ser incluída n e s s e caso, m a s não se houver u m instrumento q u e possa alterar isso. O u seja, há p e s s o a s q u e se e s c o n d e m atrás d a estabilidade para fazer o mínimo possível, e e u a c h o q u e isso é u m valor contrário a t o d o s o s outros existentes no I P E N . P: Como o sr. definiria as características principais da instituição? R: E u acho q u e hoje a principal definição para a instituição, s e fosse usar s o m e n t e u m a palavra, é PRÓ-ATIVA. S e tivesse q u e colocar u m c a r i m b o hoje n o I P E N , e u colocaria e s s e c a h m b o . O IPEN é u m a instituição q u e não espera, ela faz acontecer! E u a c h o q u e o I P E N hoje não é caudatário. O I P E N hoje não deixar passar as oportunidades! Por e x e m p l o , n a área d e ciência e tecnologia, nossas pesquisas estão nos C E P I D ' S e n o s principais Centros d e Pesquisa e Inovação e Difusão Tecnológica criado pela F A P E S P ; no Instituto d o Milênio, criado pelo M C T ; t e m o s propostas inovadoras criadas pelo C I E T E C , e m parceha c o m e m p r e s a s ; n o s t o r n a r a m interlocutores c o m o Ministério d a Ciência e Tecnologia e, também c o m a Secretaria d e Ciência d e Tecnologia d o E s t a d o d e São Paulo; c o m o P r o g r a m a Brasil E m p r e e n d e d o r . Enfim, o IPEN saiu d e s e u m u n d o f e c h a d o e foi s e r u m instituto pró-ativo. S e f o r m o s colocar u m c a r i m b o hoje n o IPEN colocaríamos d e pró-ativo. É c o m o aquela música d o Geraldo Vandré. "Não espera, f a z acontecer!" A c h o q u e hoje a gente não espera não, a gente f a z acontecer. 249 P: Dr. Edson, o sr. gostaria de acrescentar alguma outra coisa? R: S i m . S a b e , o q u e gostaria d e dizer, tenho dito isso às v e z e s , e m algumas oportunidades, e e m certas ocasiões até m e emociono... Estou n o IPEN há pouco tempo, d e s d e 1993, porém trabalho n a área nuclear d e s d e 1976, o u seja, há 2 5 anos. T r a b a l h e i e m a l g u m a s e m p r e s a s d a área nuclear c o m o a D I B A I A S , DIBRÁS e outras. IVIas t e n h o notado q u e aqui n o IPEN encontro coisas muito favoráveis, u m respeito mútuo muito grande, a direção d o I P E N é muito c a m a r a d a , há u m bom diálogo entre t o d o s nós d o corpo diretivo, há u m a confiança mútua muito grande, p o d e m o s discutir s e m receio fatos d o s dia a dia. Você percebe q u e as pessoas aqui têm muita coisa b o a para oferecer, para trocar e doar, enfim, t e m sempre muita coisa b o a acontecendo. Então nesse a m b i e n t e é muito gostoso de a gente trabalhar. T e n h o dito às p e s s o a s que, s e m n e n h u m a s o m b r a d e dúvida, eu sou muito feliz d e trabalhar n o IPEN, muito feliz por ter a oportunidade d e estar participando d e u m m o m e n t o d e e n o r m e transformação n o instituto, d e fazer as coisas m u d a r e m e d e enxergar a s nossas digitais. D e t o d o s nós q u e participamos dessas transformações d o I P E N ! 250 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O DR. ROBERTO FULFARO Entrevista concedida em 11 de setembro de 2001. P: Dr. Fúlfaro, inicialmente eu gostaria de perguntar em quais circunstâncias foi criado o lEA? R: E m 1 9 5 6 , e s t a v a m e m evidência as pesquisas realizadas c o m algumas máquinas importantes, tais c o m o o acelerador Betatron e d e Vandergraaf. Naquela ocasião, u m a outra máquina importante e m nivel internacional era o reator de pesquisas, q u e não produzia partículas carregadas, e s i m , nêutrons, u m a partícula s e m carga, e q u e era a célula d o s reatores d e potência, q u e poderiam gerar energia elétrica. Organismos internacionais americanos ofereciam, através de p r o g r a m a s "Átomos para a Paz", u m reator d e pesquisa para aquele país q u e p u d e s s e fazer experimentos c o m nêutrons gerados n u m reator atômico por meio da fissão d o urânio 2 3 5 . N o Brasil, alguns professores titulares d o Instituto d e Física, s o b a coordenação d o Prof. Marcello D a m y d e Souza S a n t o s , habilitaram-se a esse programa. C o n s e g u i r a m vencer o desafio de construir, e m t e m p o recorde, a base para a instalação d e u m reator d e pesquisa p e q u e n o , d e 2 M W d e potência, q u e íha ser d o a d o pelo P r o g r a m a d o Governo A m e r i c a n o para o Brasil. N a verdade, esse reator veio viabilizar u m a extensão de u m a s novas linhas d e pesquisas d o Instituto d e Física d a U S P . C o m o essas pesquisas precisavam abrigar u m material estratégico c o m o o urânio, era necessário u m Instituto d e Pesquisa e m nível Federal, e esse foi o motivo para a criação d o Instituto d e Energia Atômica, o lEA. O l E A foi inaugurado e m 1956, e logo e m seguida, e m 1957, foi chada a C N E N — Comissão Nacional d e Energia Nuclear — à qual o l E A veio a s e vincular. P: Quais foram as principais pessoas que participaram da sua fundação? R: N a verdade, a condução dos trabalhos para a instalação d o reator d e pesquisa foi feita pelos seguintes professores: Marcello D a m y d e S o u z a Santos, professor titular d a disciplina d e física geral e experimental d a U S P ; Rômulo Pieroni, 251 professor doutor e m livre docência d o Instituto d e Física Geral d a U S P , e Paulo Saraiva d e T o l e d o , professor d e Física d e Reatores d a U S P . O Prof. Pieroni, q u e também e r a médico começou f a z e n d o experimentos c o m materiais produzidos e m reatores para aplicações médicas, que era o grande c h a m a m e n t o d a época. O Prof. Fausto W a l t e r Lima foi c h a m a d o para c o m p o r a equipe, para efetuar trabalhos d e radioquímica e o Prof. Tharcísio d e Sousa C a m p o s , irmão d o Damy, especialista e m metalurgia n a confecção d e e l e m e n t o combustível d e reator. E m função d o reator d e pesquisa f u n c i o n o u , durante muitos anos, quatro t e m a s Importantes n o Instituto, a saber: Aplicações d e Técnicas Nucleares, Materiais Nucleares (Combustível Nuclear), Reatores d e Pesquisa e a parte d e Biomedicína, n a produção d e radioisótopos. P: Quais foram os acontecimentos críticos que marcaram decisivamente a iiistória da instituição? R: Devido a o fato d o l E A ter construído toda a base d e instalação d o reator e m tempo recorde, o instituto ganhou reconhecimento internacional. Os a c o n t e c i m e n t o s críticos posteriores, m a r c a d o s pela instituição, f o r a m o s primeiros trabalhos d e produção d e material radioativo para uso médico, c o m o o lodo 1 3 1 , u s a d o no tratamento d a tireóide. E m termos d e ensino, u m a d a s atribuições d o l E A foi ministrar cursos para a formação d e médicos e para u s o e m a n u s e i o d e material radioativo. O instituto f o r m o u o s primeiros médicos n e s s a área, e depois e s s e s médicos começaram a adquirir o iodo 1 3 1 , produzido aqui n o l E A . U m a novidade tecnológica q u e surgiu n o m e r c a d o internacional d a medicina foi o gerador d e molibidênio e tecnécio. Inicialmente esse g e r a d o r e r a importado a preços altíssimos. Foi a s s i m q u e na década d e 1970, devido a dificuldades d e importação, o s médicos brasileiros solicitaram a o l E A o d e s e n v o l v i m e n t o d e s s e gerador. N o s a n o s d e 1980, o l E A p a s s o u a produzir o gerador d e Molibdênio e Tecnécio a t e n d e n d o a d e m a n d a d a classe médica. U m outro feito importante, ocorrido entre o s a n o s d e 1964 e 1966, foi o da equipe d a radioquímica, s o b a coordenação d o s professores Fausto Lima e Alcídio Abrão, q u a n d o começaram a trabalhar c o m o urânio. D e s e n v o l v e r a m u m método d e purificação d o urânio q u e lhes rendeu u m prêmio nacional c h a m a d o M o i n h o Santista, u m prêmio cientifico, super cobiçado, q u e conferiu a o l E A u m rigor na qualidade d e trabalhos importantes e b e m desenvolvidos. 252 Posteriormente, n a gestão d o Prof. Pieroni, o I P E N desenvolveu o dominio d o ciclo d o combustível nuclear fora d e qualquer planificação nacional. O lEA criou u m g r u p o para desenvolver pesquisas c o m u m gás d e hexafluoreto de urânio, t e n d o sido e s t e u m outro g r a n d e feito. Porém, indubitavelmente, há 2 5 anos atrás, o q u e d e u u m coroamento ao rigor d a s atividades científicas e a o volume d o s trabalhos científicos, foi a criação d a pós-graduação d o I P E N . Por esse motivo, e u c o n s i d e r o o IPEN u m dos institutos mais fortes d o país, devido a s u a pós-graduação. É isso q u e difere o IPEN d e qualquer outro instituto nacional. P: O que permanece na instituição da fase inicial até hoje? R: O que permanece forte n o IPEN é a super presença de seus professores/fundadores na instituição, q u e vieram d a Universidade d e São Paulo, q u e fizeram o t r e i n a m e n t o d e seus alunos c o m rigor científico e u m trabalho disciplinado. Esses professores são a m a s s a crítica q u e a c u m u l o u experiência e competência a o longo d o s a n o s , c o m dados e x p e r i m e n t a i s e aplicação de modelos teóricos, o u seja, s o u b e r a m realizar ciência científica! E tudo isso foi ensinado e transmitido pelos nossos professores a o s s e u s alunos mais novos. T o d a u m a transmissão d e c o n h e c i m e n t o s d e b a g a g e m científica e cultural. E a pós-graduação é u m instrumento muito útil, q u e n o s permite passar esses valores. Então, o q u e sinto q u e está muito presente n o I P E N , i m p r e g n a d o nos s e u s funcionários, é u m a hierarquia d o saber. A q u e l e q u e s a b e , q u e publica, q u e tem o rigor científico e q u e orienta s e u s alunos t e m o poder q u e a casa lhe confere. Isso é o q u e ficou n a casa d e s d e aquela época! Há u m a sinergia, u m a cooperação, u m a c u m p l i c i d a d e entre todos o s servidores d a casa, não importando e m q u e área d e atuação d o IPEN se esteja. M e s m o q u e e s s e s valores não sejam verbalizados, todos nós s a b e m o s quais são eles. P: Dr. Fúlfaro, o sr. se lembra de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quaís ela não dispunha de solução apropriada? R: R e c o r d o - m e d e u m fato ocorrido por volta d e 1 9 7 6 , 1 9 7 8 , q u a n d o d a assinatura d o acordo B r a s i l - A l e m a n h a . Nesse período foi criada Nuclebrás, 253 empresa q u e passaria a gerenciar o acordo c o m a A l e m a n h a e m termos nucleares. E m p r e s a s federais d e economia mista, b e m c o m o o s institutos d e pesquisa d a área nuclear d e Minas Gerais, o C D T N , e o s d o Rio d e Janeiro, lEN e IRD, f o r a m incorporados a Nuclebrás. O I P E N , por p r o b l e m a s políticos ficou excluído d e s s e a c o r d o . E então, c o m ousadia e livre iniciativa, o Prof. Pieroni, superintendente d o instituto naquela época, c o m a n d o u a inserção d e nossos pesquisadores n o c a m p o estratégico d o domínio d o ciclo d o combustível de reatores d e potência. A competência estabelecida n e s s a área fez c o m q u e o IPEN fosse p r o c u r a d o pela Marinha Brasileira q u a n d o esta precisou d e pesquisadores que d e s e n v o l v e s s e m projetos n a área estratégica d o ciclo d o combustível. A M a h n h a , n a p e s s o a d o Almirante Othon Luiz Pinheiro Silva, procurou o IPEN sabendo q u e aqui e s t a v a m o s melhores cientistas brasileiros, c o m a excelência das pesquisas, c o m o chapéu acadêmico e c o m o rigor científico requerido, e não nas e m p r e s a s ligadas a Nuclebrás, q u e tinham s o m e n t e u m a visão mais comercial d a área nucleari A s s i m , a Marinha e o IPEN a s s i n a r a m u m acordo para a construção d e u m propulsor naval, dando início a o P r o g r a m a Nuclear Paralelo. O desenvolvimento requerido para a construção d o propulsor para o submarino brasileiro e r a d o m i n a r o ciclo d o combustível nuclear, c o m o enriquecimento d o urânio. O d e s e n v o l v i m e n t o tecnológico conseguido c o m o enriquecimento d o urânio foi atingido graças à visão estratégica d o Prof. Pieroni e à competência e eficiência d o s p e s q u i s a d o r e s d o IPEN, aliadas à c a p a c i d a d e d e "endinheirar" da Marinha. T o d o s e s s e s fatos contribuíram para o s u c e s s o d o projeto que nos levou a conseguir o e n r i q u e c i m e n t o d o urânio, que é u m a d a s glórias d e qualquer país! É rarissimo u m país e m desenvolvimento, c o m o é o c a s o d o Brasil, conseguir o domínio d o e n r i q u e c i m e n t o d o urânio. C o m esta realização o IPEN driblou a marginalização d e pertencer a u m país e m d e s e n v o l v i m e n t o e passou a ser reconhecido internacionalmente por este d e s e n v o l v i m e n t o tecnológico. U m outro feito importante na época e m q u e o Prof. Pieroni estava à frente d o instituto foi o d e e l e ter proposto a criação d e u m curso d e pósgraduação para o I P E N . U m a pós-graduação vinculada à U S P e administrada pelo próprio instituto, u m a coisa inédita, e q u e além d e t u d o tinha u m excelente d e s e m p e n h o , e está, d e s d e a s u a inauguração, dentre a s m e l h o r e s pós d o país. 254 P: Como os membros da instituição reagiram a esses feitos? R: C o m o t o d o s o s episódios a c i m a e n v o l v i a m metas a u d a c i o s a s , havia s e m p r e o hsco d e n o s s o s pesquisadores se q u e i m a r e m ! U m outro d a d o importante a ser ressaltado é o fato d e o IPEN ser u m instituto d e p e s q u i s a d a área nuclear q u e tem o monopólio d a união n a produção de radioisótopos. N e s s a área, produção d e radioisótopos, existe u m c o m p o n e n t e comercial e u m aspecto competitivo muito g r a n d e . O I P E N , devido a esse fato, precisou d a r qualidade a o s produtos produzidos para poder resistir a qualquer crítica d o m e r c a d o . Dessa f o r m a , p r o c u r a m o s n o s e m p e n h a r n a obtenção da certificação d e qualidade d a ISO 9000, o q u e conferiu rigor aos n o s s o s produtos. O monopólio n o s obriga a produzir radioisótopos e oferecer todos o s produtos a o povo brasileiro c o m o parte d e nossa missão. P: Qual a razão de ser da instituição? Sua missão continua a mesma desde a época da fundação? Se não, o que mudou? R: O m u n d o m u d o u d e s d e a fundação d o instituto. A n t i g a m e n t e havia u m clima mais romântico, o s pesquisadores podiam s e d a r a o luxo d e se dedicar a novas linhas d e p e s q u i s a n a área d e física, p o r e x e m p l o . Hoje a instituição assumiu c o m p r o m i s s o s c o m a sociedade e c o m o g o v e r n o , e n o s s o s objetivos foram m u d a n d o . N o s s o c o m p r o m i s s o está ligado a nossa missão, e e l a foi escrita e definida j u s t a m e n t e para espelhar o q u e p r e c i s a m o s fazer. P r e c i s a m o s de doutores p r o d u z i n d o trabalhos e orientando alunos n a pós-graduação, t e m o s que gerar produtos e serviços. O nosso c o m p r o m i s s o é c o m a qualidade d e vida d o povo brasileiro, e nossa atividade está ligada a e s s e objetivo. P: Na sua opinião, quais foram os principais valores que orientaram a vida da instituição? R: O IPEN e s e u s dirigentes s e m p r e tiveram a sabedoria d e identificar projetos importantes e c o m grifes q u e n o s conferiram valor. Cito alguns d o s projetos mais importantes d e m i n h a área que nos conferiu valor, c o m o prova d e n o s s a eficiência e eficácia n o s trabalhos conduzidos no instituto, tais c o m o : a certificação d a ISO 9 0 0 0 ; o G M P ( G o o d Manufacture a n d Prácticos), certificação concedida pela vigilância sanitária q u e confere a o s nossos produtos a obtenção d e u m registro n o Ministério d a Saúde. Dessa f o r m a , conferimos certificações oficiais aos produtos e 255 serviços produzidos pelos pesquisadores d e nosso instituto. E s s a s certificações nada mais são d o q u e a comprovação d e q u e e m nosso instituto existem valores individuais e organizacionais fortemente enraizados. O I P E N , q u e recentemente passou a pertencer a o Ministério d a Ciência e Tecnologia, o M C T , a e x e m p l o d e outros institutos d e pesquisa, participa d e prêmios c o m o o d a Excelência e da Qualidade. N e s s e sentido, t o m a m o s a iniciativa d e participar d o Projeto d e Excelência, q u e objetiva parâmetros e indicadores a busca d a gestão pela excelência d e qualidade entre o s institutos procurando de pesquisa participantes, q u e são periodicamente avaliados por seus pares. O fato d e estar o IPEN s e habilitando a o Prêmio Nacional d a Q u a l i d a d e p o r m e i o d a participação no Projeto d e Excelência t e m conferido melhores resultados n a s suas práticas administrativas, e isso t e m contribuído para a conquista de valores organizacionais importantes entre a s áreas tecnocientífica d o instituto, c o m o uma convivência m a i s harmônica entre o s funcionários e a conquista d e u m a maior d e m o c r a c i a interna. São e s s e s o s valores q u e a c a s a está procurando ressaltar e m sua cultura. P: Que valores seriam opostos aos existentes na casa? R: Existe u m a competição que é milenar entre o pessoal q u e f a z a administração e o pessoal q u e f a z a execução d o s trabalhos. Esse tipo d e competição existe d e s d e o s t e m p o s d e R o m a , q u a n d o , p o r e x e m p l o , o s guerreiros q u e deveriam enfrentar batalhas para conquistar outros povos e n t r a v a m e m colisão c o m os administradores d e R o m a . N a visão d o s guerrilheiros, o s administradores não e n t e n d i a m n a d a sobre batalhas, e n a visão d o s administradores, o controle e o c o n t i n g e n c i a m e n t o d e v e r b a s e r a m necessários, queriam s e m p r e avaliar os guerreiros e s e u s gastos. Esses entraves são seculares e existentes até o s dias de hoje! N a s forças a r m a d a s o c o r r e m competições s e m e l h a n t e s . U m exemplo típico d i z respeito à manutenção d o s navios, q u a n d o a s intendências regulam verbas e a não liberação d e navios e m decorrência d o contingenciamento d e combustível e todos o s problemas d o gênero. N u m a instituição d e pesquisa c o m o a nossa, p r o b l e m a s semelhantes estão presentes n o relacionamento entre as duas partes. Hoje, n o I P E N , vimos procurando e m p r e e n d e r u m trabalho conjunto b u s c a n d o minimizar e s s e problema secular. O n o m e atribuído a o trabalho do pessoal d a área administrativo passou, m o d e r n a m e n t e , a ser c h a m a d o d e gestão. 256 A gestão d o s projetos, d e c u n h o científico o u técnico, é administrada pelas duas áreas m e i o e fim, d e u m a f o r m a mais adulta e participativa, diferentemente d o que a q u e existia antigamente. P o r e x e m p l o , o diretor administrativo d o I P E N , o Dr. Edson, participa d e todas a s reuniões técnicas c o m minha área, procurando viabilizar a solução d e t o d o s o s nossos problemas administrativos. Atualmente, o q u e seria urna ameaça o u u m hsco d e colisão entre a área d e execução e administrativa. A s s i m , c o n s e g u i m o s evitar u m clima d e ameaça e d e conflito, pois afinal d e contas s o m o s t o d o s participantes d e u m a m e s m a organização e buscamos o bem comum! P: Como o sr. definiria as caracteristicas principais da instituição? R: Somos u m a instituição c o m u m a chancela nuclear, c o m matéhas interdisciplinares, e q u e c r e s c e u tanto e s e aprofundou tanto, q u e hoje ela esbanja c o n h e c i m e n t o . P o d e atuar fortemente na área nuclear p r o p r i a m e n t e dita, m a s tem c o n h e c i m e n t o s suficientes para atuar e m áreas convencionais, e colocou isso até na sua missão. Atuar não só na área nuclear, m a s também e m áreas correlatas. Então, essa é a nova figura d a instituição, é u m instituto p o d e r o s o n o c a m p o d e tecnologia d e ponta e c a p a z d e receber e resolver qualquer tipo d e problema na área tecnocientífica. É a s s i m q u e vejo nossa casa. 257 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. LAÉRCIO VINHAS Entrevista concedida em 30 de novembro de 2001. Informações s o b r e o entrevistado: P e r m a n e c e u 2 5 a n o s n o I P E N , d e 1 9 6 5 a 1990, quando foi convidado a exercer cargos executivos n o I R D e, posteriormente, n a C N E N . P: Em quais circunstâncias foi criado o lEA? R: Q u a n d o c h e g u e i n o lEA, o Instituto havia c o m p l e t a d o oito a n o s d e existência, pois ele foi criado e m 1956 e c o m e c e i a trabalhar aqui e m 1964. O l E A foi criado n u m a época e m q u e o m u n d o inteiro fazia uso pacífico das aplicações d a energia nuclear. A s aplicações d a energia nuclear e r a m múltiplas, tanto para a geração d e energia c o m o para outros usos, tais c o m o n a medicina e na indústria. Naquela época havia u m g r u p o d e pesquisadores d e diferentes áreas, c o m o a química, fisica e biologia, q u e e s t a v a m interessados n a s aplicações pacíficas d a energia nuclear. N a U S P , a única instituição q u e atendia as características multidisciplinares d e pesquisadores era o l E A . A s s i m , vários professores titulares d a U S P elaboraram o projeto d e criação d o lEA, a o m e s m o t e m p o e m q u e o instituto s e candidatava, junto a o G o v e r n o A m e r i c a n o , a o Programa Átomos para a Paz, para a obtenção d e u m reator nuclear de pesquisa. B e m , v a m o s começar a contar a história d e s d e o início: n o f i m d a S e g u n d a Guerra M u n d i a l , o s países começaram a perceber q u e a energia nuclear tinha u m potencial bélico muito grande e, a o m e s m o t e m p o , v i s l u m b r a v a m outras aplicações pacíficas c o m seu uso. S e formos e x a m i n a r a história d a ciência, antes d a S e g u n d a Guerra M u n d i a l , p o d e r e m o s notar q u e o fluxo d e informações entre os pesquisadores d e s s a área era e x t r e m a m e n t e g r a n d e . N o início, a s pesquisas nucleares e r a m privilégio q u a s e absoluto d o s E s t a d o s Unidos d a América. Posteriormente, outros países c o m o a Rússia vieram a deter a s informações e a s pesquisas sobre a b o m b a atômica. E m seguida, o s E U A verificaram q u e não poderiam deter o u evitar q u e outros países fizessem u s o d a s informações d a energia nuclear. P o r e s s a razão, seria muito difícil q u e t o d a s a s informações nucleares c o n t i n u a s s e m a ser censuradas pelos E s t a d o s Unidos. O presidente 258 dos Estados Unidos, D. D. Eisenhower procurou a c h a r u m a maneira d e evitar a proliferação e incrementar o u s o pacífico d a energia nuclear. Foi assim q u e e m 1954 foi criado o P r o g r a m a Átomos para a P a z . A Agência Internacional d e Energia Atômica, a A I E A , foi chada tendo c o m o m e t a a salvaguarda, o u seja, evitar a proliferação d e a r m a s nucleares, b e m c o m o incrementar a transferência e a cooperação técnica n a área nuclear. O P r o g r a m a Átomo para P a z previa a doação d e reatores d e pesquisa àqueles países q u e d e m o n s t r a s s e m ter competência para a construção a d e q u a d a d e u m a Instalação para esse reator. Foi assim q u e n o Brasil, especificamente e m São Paulo, n o C a m p u s da U S P , foi chado o Instituto d e Energia Atômica, o l E A . S o b a liderança d o Prof. Marcello D a m y foi construída a base para a instalação d o reator d e pesquisa doado pelos EUA, dentro d o P r o g r a m a Átomos para a Paz. Portanto, o reator d e pesquisa lEAR1 foi o p n m e i r o reator da Améhca Latina, e foi instalado n o recém-chado lEA. P: Quaís foram as principais pessoas que participaram da sua fundação? R: O pnncipal articulador foi o Prof. Marcello D a m y d e S o u z a Santos, q u e era professor titular d a Física d a U S P e foi o grande m e n t o r d a criação do instituto. Junto c o m e l e havia u m g r u p o d e pesquisadores q u e incluía o s professores Fausto W a l t e r Lima, d a Divisão d e Radioquímica, Rômulo Ribeiro Pieroni, d a Divisão d e Radíoproteção e Radiobiologia, Paulo Saraiva d e Toledo, da Divisão de Física d e R e a t o r e s e Tharcizio D a m y d e S o u z a Santos, d a Divisão d e Metalurgia Nuclear. F o r a m basicamente esses o s q u a t r o pesquisadores que, s o b a coordenação d o Prof. Damy, q u e passou a exercer o c a r g o d e superintendente, organizaram o instituto. P: Quais foram os acontecimentos críticos que marcaram a instituição? R: O primeiro deles foi, efetivamente, a criação e a construção d a s instalações para abrigar o primeiro reator d e pesquisa d a América Latina. N o início d a era d a energia nuclear, praticamente todas a s atividades d o s centros nucleares d e pesquisa m u n d o afora s e desenvolviam e m torno d o s reatores nucleares. Naquela época, todas a s pesquisas e aplicações d a energia nuclear orbítavam e m torno d o reator. Hoje, diversificou-se u m pouco c o m o s aceleradores d e nêutrons e c o m a nova idéia d a s áreas correlatas d a energia nuclear. 259 U m a p e s s o a q u e contribuiu significativamente para o instituto foi o Prof. Pieroni que, d e a l g u m a maneira, conseguiu mudar a dimensão d a organização. T o d a a infra-estrutura d o I P E N foi construída na gestão d o Prof. Pieroni. Muito e m b o r a o Prof. D a m y tenha tido o mérito da criação d o instituto (aliás, ele foi m e u orientador de d o u t o r a d o ) , o g r a n d e idealizador foi o Prof. Pieroni. A ele d e v e m o s a visão d e estrategista q u e , graças a o s e u relacionamento e trâmite entre os políticos d o E s t a d o d e São Paulo e d a esfera Federal, possibilitou a viabilização de aportes financeiros substanciais. U m outro m o m e n t o e x t r e m a m e n t e importante d o instituto foi quando, em associação com a Marinha do Brasil, conseguimos alcançar o desenvolvimento tecnológico d e enriquecimento d o urânio. O enriquecimento se dá por m e i o d e u m salto tecnológico, não trata d e u m d e s e n v o l v i m e n t o q u e se c o n s e g u e a p e n a s p o r meio d a evolução d o c o n h e c i m e n t o . D e v e haver u m salto tecnológico, há u m gap q u e s e c o n s e g u e superar a p e n a s p o r insight, não é por intermédio d e u m a curva contínua d o c o n h e c i m e n t o q u e s e chega a esse desenvolvimento. P o r esse motivo existem poucos países n o m u n d o inteiro q u e detêm e s s a tecnologia, há s o m e n t e u n s sete o u oito países q u e conseguiram realizar essa façanha. Até mesmo os E U A têm problemas com a ultracentrifugação, p o r q u e não h o u v e o pleno domínio d e s s a tecnologia. U m outro fato expressivo na história d o I P E N foi a produção d e radioisótopos, q u e s e iniciou por volta d e 1959, 1960. E m 1 9 6 5 , q u a n d o cheguei no IPEN, a produção d e radioisótopos já e r a operacional e , naquela época, a responsabilidade por toda a produção d o IPEN estava, e está até o s dias d e hoje, a cargo d a Dra. Constância P a g a n o d a Silva. U m outro a c o n t e c i m e n t o crítico foi a formação d e recursos h u m a n o s , e para descrever m e l h o r essa etapa d a história d o instituto d e v o resumi-la e m três m o m e n t o s importantes: A primeira e t a p a foi q u a n d o o Instituto, e m associação c o m a Escola Politécnica d a U S P , criou u m p r o g r a m a d e mestrado por m e i o d e u m curso Lato Sensu c o m 1 4 4 0 horas/aula, o n d e ocorria a formação d o pessoal técnico d o I P E N . Esse curso s e intitulava C u r s o d e Ciência e E n g e n h a r i a Nuclear. A e x e m p l o dos p r o g r a m a s d e formação d e recursos h u m a n o s para a área nuclear q u e existiam n o s Estados Unidos, esse curso oferecia e m s u a carga curricular disciplinas c o m o física nuclear e d e reatores, física d e nêutrons, eletrônica 260 nuclear, b l i n d a g e m , proteção radiológica e algumas outras. Mais tarde, q u a n d o a pós-graduação n o Brasil começou a s e estruturar, foi criada u m a área d e pósgraduação e m associação c o m a Politécnica d a U S P . N o Curso de pós-graduação Strícto Sensu q u e se iniciava no Brasil, muitas disciplinas foram derivadas daquele curso Lato Sensu . E m seguida, e m 1976, foi criada a pós-graduação d o IPEN e m associação com a Universidade d e São Paulo, m a s sob gestão, coordenação e responsabilidade total d o instituto. U m terceiro m o m e n t o aconteceu por volta d e 1982 e 1983, q u a n d o surgiu uma corrente q u e defendia a extinção da pós-graduação d o I P E N . A idéia d e extinção d a pós d o IPEN originou-se d e u m m o v i m e n t o por u m a área nuclear integrada à Escola Politécnica d a U S P . A l g u m a s p e s s o a s c o n s e g u i r a m manter a pós-graduação e m u m ritmo d e desaceleração que, d e a l g u m a maneira, poderia ter sido e n c a r a d a c o m o u m a desobediência por parte d a C P G (Comissão d e PósGraduação), m a s q u e propiciou manter o curso d o IPEN operante, vivo nessa época d e crise. P: N a s u a opinião, q u a i s s e r i a m o s v a l o r e s o p o s t o s q u e e x i s t e m n o I P E N ? R: E m algum g r a u acredito existir u m certo bairrismo entre o s paulistas, funcionários d o I P E N , e o s cariocas, funcionários d a C N E N , IRD e l E N , e incluo aí também o instituto d e Belo Horizonte. C o m o o I P E N é u m instituto muito forte, e é capaz d e fazer tudo na área nuclear pelo fato d e ter u m a competência estabelecida nessa área, isso o s torna, de alguma maneira, imbatíveis, não existe espaço para os outros institutos d a C N E N . Por e x e m p l o , se lançarmos u m Edital para u m a concorrência, n o qual se solicita u m instituto da área nuclear para realizar tal e qual tarefa, s e m p r e será o IPEN o candidato mais qualificado para responder a esse edital, e ganhar, se for o caso. Há n o I P E N u m a busca constante pela h e g e m o n i a . Pode até ser inconsciente, m a s a verdade é q u e há. Na concepção d o I P E N é inadmissível qualquer tipo d e comparação c o m os outros institutos d a C N E N , pois os outros estão muito aquém d a competência estabelecida n o I P E N , a n d a m muito devagar! A C N E N não a d v o g a a nivelação por baixo, isto é, q u e s e d e v a andar c o m a velocidade d o m a i s lento. M a s , sob a ótica política d o I P E N , há q u e se desenvolver outros pólos, há s e m p r e aquele q u e diz: "Porque d a r dinheiro para 261 fulano, q u e não v a i fazer n a d a ? V a m o s dá-lo para p e s s o a s q u e entregarão o produto pronto amanhã". Não sei s e a palavra h e g e m o n i a é a m a i s correta, estou e m p r e g a n d o o t e r m o sob o ponto de vista político. N a v e r d a d e existe essa cultura impregnada n o I P E N , d a não aceitação d o dispêndio d a s v e r b a s públicas, já tão escassas, para o d e s e n v o l v i m e n t o d o s menores. U m outro valor oposto q u e vejo existir é o d a falta d e e n g a j a m e n t o . São aqueles indivíduos q u e trabalham d e forma protocolar, o u seja, aquele típico funcionáno público q u e a g e n o sentido d e s e livrar d e u m p r o b l e m a e não resolvêlo c o n v e n i e n t e m e n t e . É claro q u e n u m a população d e , a p r o x i m a d a m e n t e , mil funcionários, haverá s e m p r e a possibilidade d e existir e s s e tipo d e pessoa. Acredito q u e n o I P E N , este número d e pessoas seja m e n o r d o q u e a grande maioha d o s institutos (acredito q u e seja por causa d o alto g r a u d e engajamento), esse valor existe muito forte n a cultura d a instituição. O perfil típico d a pessoa que trabalha d e f o r m a protocolar é o daquela que s e p o r u m a c a s o está assinando u m papel e o b s e r v a r q u e são 17horas, f i m d o expediente e é c a p a z d e largar tudo, fechar a s u a pasta e ir e m b o r a ! P: Na entrevista que realizei com o Almirante Othon, ele se referiu ao cantor Nelson Rodrigues, ao dizer que o brasileiro precisa perder o complexo de cachorro vira-lata. No caso do pessoal do IPEN não existe esse valor de inferioridade, existe? O que o sr. acha desse posicionamento com relação ao IPEN? R: Você certamente deve ter visto um quadro q u e está afixado na superintendência. É uma foto aérea d o instituto, e logo abaixo está escrito assim: " I P E N , O M A I O R I N S T I T U T O D E P E S Q U I S A D A AMÉRICA LATINA". L e m b r o - m e b e m d e s s e q u a d r o porque q u e m bolou a frase fui e u ! Isso o c o r r e u nos idos d e mil novecentos e a l g u m a coisa, ocasião e m q u e e u era chefe d a Divisão d e Fisica Nuclear. N a q u e l a época, estava para acontecer u m a exposição d e ciência e tecnologia n o I P E N , e m e encarregaram d e fazer u m folheto c o m a cara d o instituto. A Secretaria d o Estado d e São Paulo n o s c o n c e d e r i a verba para divulgação d o I P E N . Contratei u m a agência d e publicidade para a confecção gráfica d o s folhetos, e c o m o não havia dinheiro para contratar o s serviços aéreos para a fotografia, subi e m cima d a caixa d ' água, tirei a foto e criei a frase sobre o IPEN. 262 P: De uma certa forma, aqueles que estão do lado de fora do IPEN podem em muitas situações dizer: "Que pessoal mais esnobe!". O que o sr. acha? R: A palavra m a i s apropriada seria soberba. M a s , s o b o ponto d e vista científico, diria q u e o pessoal d o I P E N t e m a humildade d o cientista e d o tecnologista, q u e por trabalharem c o m inovação p e r c e b e m q u e t e m s e m p r e q u e aprender cada v e z mais. Isso existe n o I P E N . Q u a n d o ocorre o sinergismo é q u a n d o s e dá o valor comportamental d e s o b e r b a . P:Quais são as características principais da instituição? R: A c h o que o I P E N é u m a instituição q u e se atualiza, q u e está s e m p r e focada no tempo. Tanto q u e , q u a n d o começou essa nova orientação d a gestão da excelência, o I P E N s e posicionou muito b e m e m comparação aos seus pares. U m b o m e x e m p l o disso é a revisão d e Plano Diretor q u e está e m curso n o I P E N , coisa q u e e m outros institutos está longe d e acontecer. E s s e poder d e renovação de idéias está muito presente n o I P E N . O IPEN não é u m a instituição estagnada. É u m a instituição dinâmica, pró-ativa, não é reativa! P: Existe mais alguma outra colocação que o sr. gostaria de acrescentar? R: S i m . É importante q u e s e diga q u e muito d o q u e aprendi na minha vida profissional s e d e v e a o s 2 5 a n o s d e atividades prestadas a o I P E N . M e s m o depois d e ter saído d o I P E N para vir trabalhar n a sede da C N E N , n o Rio d e Janeiro, considero q u e o s u c e s s o alcançado foi devido a o aprendizado ocorrido n o I P E N . Faz-se necessário citar q u e tive u m choque cultural muito g r a n d e q u a n d o saí d o IPEN e v i m morar n o Rio d e Janeiro. Q u a n d o a s s u m i a s primeiras funções administrativas n o Instituto d e Radiometria e Dosimetria da C N E N , a c o n t e c e r a m fatos administrativos q u e n o IPEN seriam óbvios, m a s , no I R D muitos procedimentos tiveram q u e ser criados, e ainda por c i m a não f u n c i o n a v a m . E s s e foi o grande c h o q u e cultural! O IPEN t e m u m a característica muito forte, s e m p r e foi institucional. O s outros institutos d a C N E N têm u m jeito de firma familiar, e, q u a n d o ocorre a p a s s a g e m d e u m a gestão familiar para u m a gestão institucional, há u m gap muito grande. O IPEN n u n c a teve o caráter d e u m a firma familiar, s e m p r e teve u m a estrutura e u m a postura profissional e institucional muito forte! O período e m q u e 263 adquiri m i n h a experiência profissional no I P E N foi muito b o m , e tenho muitas s a u d a d e s dele. V o l t a n d o a o assunto d o início desta entrevista, sobre a pós-graduação do I P E N , v o u contar alguns fatos porque o s considero até u m p o u c o jocosos. E m 1963, q u a n d o o l E A voltou a ser u m órgão vinculado a C N E N , havia c o m o superintendente d o instituto o Dr. Durvaldo Gonçalves, e c o m o dirigente máximo da C N E N , o Dr. R e x Nazaré. Nesse período, o I P E N participava j u n t a m e n t e c o m a M a h n h a d o Projeto Nuclear Paralelo, para a construção d e u m propulsor naval. O Almirante O t h o n Luiz Pinheiro da Silva, c o o r d e n a d o r e líder nato q u e e r a , começou a f o m e n t a r j u n t a m e n t e c o m o Dr. R e x Nazaré a Idéia d e q u e a pósgraduação d o I P E N era muito acadêmica, q u e deveria ter u m a c o m p o n e n t e mais prática n a s u a área tecnológica e deveria ter u m a visão mais para a área d a engenharia d o q u e para a nuclear. Nessa época e u era o presidente d a Comissão de Pós-Graduação, a C P G , d o IPEN, e o s doutores Spero P e n h a Morato, Paulo Iris e o F a y a e r a m t o d o s m e m b r o s da C P G . F o m o s c o n v o c a d o s para comparecer a uma reunião c o m o Dr. Durval, o Dr. Rex e A l m t e . O t h o n para tratar d o assunto do f e c h a m e n t o d a pós-graduação d o I P E N , e, e m paralelo, deveríamos iniciar a s negociações c o m a Escola Politécnica d a U S P , para a abertura d e u m a nova área dentro d a q u e l a pós-graduação q u e abrigaria o s futuros e n g e n h e i r o s para a área nuclear. Ficou a c o r d a d o q u e daquele d i a e m diante, a pós-graduação d o IPEN não deveria mais admitir n e n h u m estudante. Paralelamente, a t e n d e n d o ás exigências d e n o s s o s superiores, iniciamos a s negociações c o m a P O L I . Mas, n o entender d o s m e m b r o s d a C P G d o I P E N , seria u m fato inimaginável executarmos tais determinações. P o r esse motivo, na calada d a noite, íamos inserindo novos alunos a n o s s a pós. O s números não e s c o n d e m o s fatos d e u m a desaceleração da pós, pois se f o r m o s analisar o s gráficos d o curso d a q u e l e período v a m o s verificar q u e o número d e alunos ingressantes d e c a i u e x p o n e n c i a l m e n t e nesse período. M a s , pelo m e n o s não foi extinta e n e m f e c h a d a c o m o n o s foi exigido naquela reunião. T e n d o e m vista q u e a s bolsas d a C A P E S e d o C N P q ainda estavam disponíveis, havia a possibilidade d e ir c o l o c a n d o o s alunos, na calada da noite, e p a r a l e l a m e n t e fazíamos a s negociações c o m a P O L I , n u m ritmo lento, quase p a r a n d o . Decorridos cinco anos e t e r m i n a d o o m a n d a t o d o Dr. Durvaldo, a pós-graduação já e s t a v a totalmente revitalizada! 264 Há a l g u m t e m p o , e m tempos mais recentes, q u a n d o e u o c u p a v a o cargo d e diretor d o I P E N , o Dr. R e x m e disse: " L e m b r o - m e d e ter d a d o u m a ordem para você, a d e fechar a pós-graduação d o IPEN e não m e lembro d e ter lhe d a d o n e n h u m a contra-ordem e m sentido oposto". A v e r d a d e é q u e essa ordem f o i e n g a v e t a d a . Nós, o s m e m b r o s d a C P G c o n t r a h a m o s tudo e todos q u e eram favoráveis a e s s e movimento. Naquela ocasião, d e v o considerar q u e ocorreu, c l a r a m e n t e , u m ato d e desobediência! Não t e n h o a menor dúvida! C o s t u m o bhncar q u e , e n q u a n t o o s alunos d e f e n d i a m durante o dia, suas teses e, à noite, n o v o s alunos e r a m incluídos n a pós-graduação. N a q u e l a ocasião, tenho plena consciência d e q u e lutamos muito para manter a pós-graduação d o I P E N , e no m e u e n t e n d e r é e l a a grande responsável pela manutenção d o s valores q u e ainda estão v i g e n t e s n o I P E N . Digo q u e guardei a pasta d a s negociações na gaveta d o "miguel", q u e é aquela gaveta q u e devia conter a s coisas que não eram para não ser feitas o u realizadas. 265 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DE DRA. LINDA V. E. CALDAS Entrevista concedida em 17 de outubro de 2001. P: Em quais circunstâncias foi criado o instituto? R: O Instituto d e Energia Atômica, o l E A , foi criado n u m período d e grande desenvolvimento econômico d o país por u m g r u p o d e físicos d a U S P , q u e tinha por objetivo desenvolver tecnología, pesquisas científicas e formar recursos h u m a n o s na área nuclear. Poderia dizer que, d e f o r m a análoga, foram criados alguns outros institutos d e pesquisa, tais c o m o o I N P E e o C B P F . P: Quais foram as principais pessoas que participaram de sua fundação? R: O Prof. Dr. Marcello D a m y S. Santos, que foi o fundador; o Prof. Dr. Rômulo R. Pieroni, q u e acredito estava aqui nessa época; o Prof. Dr. Alcídio Abrão, o Prof. Fausto W . Lima, entre outros eminentes cientistas. P: Quais foram os acontecimentos críticos que marcaram decisivamente a historia da instituição? R: Gostaria d e relacionar alguns acontecimentos q u e m a r c a r a m a instituição: • Início d a operação d o reator IEA-R1 e m 1957; • Início d a produção d o iodo 131 e m 1959; • Início d o curso d e pós-graduação em 1976; • Domínio d a tecnologia d o ciclo d o combustível nuclear e m 1987; • Início d a operação d o reator I P E N - M B 0 1 e m 1988; • A u m e n t o da potência d o reator IEA-R1 para 4 M W e m 1997; • Criação d o C I E T E C e m 1997. P: Sob seu ponto de vista, o que permanece até hoje na instituição dessa fase? (Alguns valores, símbolos, rituais, personagens e/ou outros.) R: C o m relação a o s valores, poderia citar alguns, tais c o m o motivação, qualidade, competência, c o m p r o m e t i m e n t o e dedicação c o m a missão d o I P E N . O respeito entre o s p e s q u i s a d o r e s , iniciativas d e cooperação entre o s g r u p o s d e pesquisa e 266 O desenvolvimento d a tecnologia nuclear s e m p r e f o r a m a s m o l a s mestras d a instituição. C o m o p e r s o n a g e m importante para a instituição, poderia citar o Prof. Dr. Marcello D a m y d e S. Santos. P: Como a sra. acredita que foram transmitidos esses valores aos servidores do IPEN, de um modo geral? R. C o m o s bons e x e m p l o s . O s orientadores, o s gerentes e o s próprios colegas q u e trabalfiam aqui f o r a m e são aqueles q u e transmitem o s valores existentes na casa. P: Lembra-se de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? R: Não, não m e lembro. T e n t i o a lembrança d e q u e t o d o s o s problemas f o r a m resolvidos. P: Como reagiram os membros da instituição a esses incidentes? R: O s m e m b r o s d a instituição s e m p r e resolveram b e m seus problemas, s e m maiores conseqüências para a m e s m a . P: Na sua opinião, qual é a razão de ser da instituição? Sua missão continua a mesma desde a época da fundação? Se não, o que mudou? R: A razão d e s e r instituição é desenvolver tecnologias nucleares e transferir o know-how adquirido para a sociedade. A missão d a instituição continua a m e s m a d e s d e a fundação, m a s ela foi seguindo a evolução das perspectivas tecnológicas d o país. Dois e x e m p l o s que poderia citar são: a criação d a pós-graduação c o m a USP e a do CIETEC. P: Na sua opinião, quais foram os principais valores que orientaram a vida da instituição no passado? R: A criação d a tecnologia nacional na área nuclear e o espirito e m p r e e n d e d o r e pioneiro n a solução d e problemas tecnológicos. P: Eles continuam tendo o mesmo grau de importância nos dias de hoje? 267 R: O s valores c o n t i n u a m t e n d o o m e s m o g r a u d e importância nos dias d e tioje, e ainda a u m e n t a r a m . Há u m a identificação g r a n d e c o m a instituição, a s p e s s o a s v e s t e m a c a m i s a e realizam o s trabalfios c o m afinco. P: Quais são os valores, na sua opinião que continuam atuais nos dias de iioje? R: O s valores, n a m i n h a opinião, q u e c o n t i n u a m presentes n a instituição são motivação, competência, dedicação, qualidade, c o m p r o m e t i m e n t o c o m a missão e identificação c o m a instituição. P: Qual(quais) o(s) valor{es), na sua opinião, que seriam opostos àqueles que orientam a vida da instituição? Poderia citá-lo(s)? R: O s valores o p o s t o s a todos aqueles citados a c i m a são o individualismo, o carreirismo, o corporativismo. Esses valores estão presentes e s e opõem aos já citados. P: Como você definiria as caracteristicas principais da instituição? R: Defino c o m o características principais d a instituição a tradição q u e perdura d e s d e a s u a fundação e a liderança q u e a instituição t e m n o cenário nacional n o d e s e n v o l v i m e n t o d a tecnologia nuclear e correlatas. U m a outra caracteristica é a integração d o instituto c o m a U S P e a s o c i e d a d e e a formação d e u m R H altamente qualificado e m todos o s níveis. 268 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O DR. JOSÉ RUBENS MAIORINO Entrevista concedida em 14 de setembro de 2001. P: Dr. Maiorino, o sr. poderia relatar em que circunstância foi criado o instituto? R: Do ponto d e vista internacional, logo depois d a S e g u n d a Guerra Mundial e d o surgimento d a energia nuclear, todos o s países, m e s m o aqueles d e Terceiro Mundo, ficaram realmente preocupados e interessados n o assunto energia nuclear. Na década d e 1950 foi criado o C N P q , o l E A e a grande maioria d o s institutos d e p e s q u i s a s nucleares e m decorrência d a mobilização d e vários países q u e tinham o intuito d e s e dedicar a o estudo d a s aplicações d a tecnologia nuclear. T o d o s o s institutos d e pesquisa, m e s m o a q u e l e s e m países periféhcos, foram c h a d o s n e s s a época e nesse contexto. A fundação d o l E A e m 31 d e agosto d e 1 9 5 6 confunde-se c o m sua participação n o d e s e n v o l v i m e n t o d a tecnologia d e reatores nucleares n o país. A maioha d o s reatores d e pesquisa, a e x e m p l o d o IEA-R1 d e nosso instituto, foi implantada n e s s a época. S o b o ponto d e vista internacional, a chação d o l E A é simultânea à criação d e váhos institutos d e pesquisa q u e ocorreu no m u n d o inteiro. P: Quais as pessoas que participaram da criação do instituto? R: A coordenação d a construção d o reator IEA-R1 foi realizada por u m d o s mais brilhantes cientistas brasileiros, o Prof. Marcello D a m y d e S o u z a Santos, a partir d o projeto d a e m p r e s a a m e r i c a n a B & W e d o f i n a n c i a m e n t o d o Programa Átomos para a Paz. A implantação d o reator foi realizada e m u m t e m p o recorde d e 11 m e s e s . E m s e t e m b r o d e 1957, o reator IEA-R1 atinge s u a criticalidade q u e é a primeira d o hemisfério sul! A partir d a construção d o reator, e e m torno dele, vários grupos d e pesquisa f o r a m f o r m a d o s n o instituto, c o m o , por e x e m p l o , o d e Radioquímica e Produção d e Radioisótopos, liderado pelo Prof. Dr. Fausto W a l t e r Lima; o d e Radíoproteção e Radiobiologia, liderada pelo Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni; o d e Física Nuclear, liderada pelo Prof. Marcello D a m y ; o d e Física d e Reatores, 269 liderada pelo Prof. Paulo Saraiva de Toledo; o d e Metalurgia, liderada pelo Prof. Dr. Tharcisio D a m y d e Sousa Santos. A c r e s c e n t a - s e a e s s e g r u p o d e pioneiros a figura d o Prof. Dr. Alcídio Abrão, químico brilhante q u e sena o phncipal responsável pelas conquistas d a instituição n o d o m i n i o d o processo d o combustível nuclear e líder d a E n g e n h a d a Química n a instituição. A qualidade técnica d e s s e s pioneiros foi atestada n o s trabalhos publicados para a S e g u n d a Conferência Internacional d e G e n e b r a , e m 1958, q u e projetou a instituição recémfundada internacionalmente. P: O sr. poderia nos relatar sobre os acontecimentos críticos que marcaram a historia da instituição? R: A s atividades e m física e e n g e n h a d a d e reatores, d a s quais faço parte, iniciaram-se n o instituto q u a n d o da operação d o reator I E A - R 1 , b e m c o m o todas as outras p e s q u i s a s q u e p a s s a r a m a s e r centradas e m torno d o reator d e pesquisa. N a primeira m e t a d e d a década d e 1960, d e s t a c a m - s e as phmeiras expehências c o m o iodo 180; a s pesquisas e o d e s e n v o l v i m e n t o n a área d o ciclo do combustível; o s p h m e i r o s radioisótopos começaram a s e r produzidos n o país; o desenvolvimento d e processos para a química d o urânio, tóho, terras raras, zircônio, ráfnio, berilio e grafita. Enfim, e s s a s f o r a m a l g u m a s d a s pesquisas q u e tiveram início n o instituto na década d e 1960. O Prof. Pieroni, médico e físico bhihante, começou s u a s pesquisas na área d e medicina nuclear n o l E A . O Brasil estava n u m contexto internacional bastante favorável. N a q u e l a época tínhamos u m a c o r d o muito b o m c o m os franceses, então váhas d a s usinas-piloto q u e f o r a m instaladas aqui no instituto tiveram o h g e m na cooperação c o m os franceses. E m fins d a década de 1960, o contexto mundial era muito favorável à construção d e usinas nucleares. Nos EUA, por e x e m p l o , a s usinas nucleares começaram a s e r construídas, até d e u m a maneira intempestiva. Foi n e s s e período q u e iniciou n o Brasil às discussões s o b r e a s usinas nucleares q u e passariam a ser construídas e m A n g r a d o s Reis, por meio d o P r o g r a m a Nuclear B r a s i l - A l e m a n h a . Na década d e 1 9 7 0 inicia-se n o l E A a formação d o Centro d e E n g e n h a d a Nuclear ( C E N ) , c o m a s áreas d e física d e reatores e t e r m o hidráulica e estruturas. F o r a m a r r e g i m e n t a d o s d e z e n a s d e recém-formados d a Física e d a E n g e n h a d a , e eles d e r a m início a o p r o g r a m a d e formação d e mestres e m 270 Engenharia Nuclear d a Escola Politécnica d a U S P . N a época, e m vista d o ambiente nacional pela busca de novas opções energéticas, a missão d e desenvolver P & D foi dada a esse g r u p o c o m e n d o s s o g o v e r n a m e n t a l , pois e m termos internacionais a energia nuclear era considerada a mais promissora d a s pesquisas. O s reatores eram a s grandes estrelas d o m o m e n t o , tanto q u e aqueles refrigerados a hélio d e alta temperatura, m o d e r a d o s a grafite, o s c h a m a d o s H T G R (High T e m p e r a t u r e G a s Colled Reactor) e os G C F B R (Gas Colled Fast Breeder Reactor), d e s e n v o l v i d o s pela empresa A m e r i c a n a Gulf General Atomic, já nasceram f a m o s o s e tinham grande tradição na industrial nuclear. De todas a s conquistas que essa fase trouxe a o país e para o instituto, a maior contribuição foi a da formação d e u m a m a s s a critica d e engenheiros e pesquisadores q u e possibilitou ao país desenvolver, n a s décadas seguintes, outros p r o g r a m a s pela busca contínua d o a p r i m o r a m e n t o d a área nuclear. Poderíamos citar alguns grandes profissionais pioneiros n a formação d o s pesquisadores d o instituto, tais como o Prof. Roberto C a y que, aliás, foi m e u orientador e q u e começou a montar u m grupo muito forte na área de Engenharia Nuclear n o instituto; o Prof. Sigueo W a t a n a b e , d o Instituto d e Física da Universidade d e São Paulo, q u e foi orientador d o Dr. Spero Penha Morato, e muitos outros profissionais altamente c o m p e t e n t e s q u e constituíam a elite d o País. C o m a assinatura d o Programa Nuclear Brasil-Alemanha, e m 1975, o governo brasileiro o p t o u pela construção d o s reatores P W R (Pressurized W a t e r Reactor) e pela mudança da política nuclear, q u e passou a ser pela adoção d o desenvolvimento d e transferência de tecnologia d a A l e m a n h a para o Brasil. A s s i m , o p r o g r a m a d e reatores de alta temperatura p e r d e u s e u sentido e a instituição teve d e m u d a r seus objetivos para adaptá-lo às novas diretrizes governamentais. Para não perder a competência d e seus recursos h u m a n o s , desenvolvida para o p r o g r a m a nuclear, a instituição t o m o u a sábia decisão d e enviar o s e u R H para aperfeiçoamento acadêmico, P H . D . n o exterior, d e grande parte de seu staff. A s s i m , na segunda m e t a d e d a década d e 1970, aproveitando o programa P R O N U C L E A R e as bolsas d o C N P q e da F A P E S P , partem para vários países d e z e n a s d e profissionais do instituto. Serão e s s e s profissionais q u e ao retornarem d o s diversos países desenvolvidos na década d e 1980 irão contribuir para o s u c e s s o d o P r o g r a m a Nuclear Autônomo, o u Paralelo, que o l E A passou a COMISSÃO müom. DE mm PIUOBWSP-IPEM 271 desenvolver e m parceria c o m a Marinha. O b v i a m e n t e o s profissionais q u e p e r m a n e c e r a m n o país e não f o r a m para o exterior e n t r a r a m e m chse, e por esse motivo h o u v e u m grande esvaziamento d o IPEN c o m a perda d e recursos h u m a n o s , q u e evadiram para outras instituições d o própho setor nuclear, tais c o m o a C N E N , NUCLEBRÁS e F U R N A S , e m e s m o para outras d e outras áreas. N o fim d a década d e 1970, e m vista d a política estadual e m São Paulo de diversificação d a s pesquisas para váhas outras fontes d e energia, o instituto muda s e u n o m e d e I N S T I T U T O D E E N E R G I A ATÔMICA, l E A , para I N S T I T U T O DE P E S Q U I S A S ENERGÉTICAS E N U C L E A R E S , I P E N , n u m a tentativa d e abhr espaço para pesquisas c o m outras f o r m a s d e energia, a e x e m p l o d a energia solar. Entretanto, e m vista d o forte enraizamento cultural n a tecnologia nuclear dos p e s q u i s a d o r e s e engenheiros d o instituto, essa iniciativa não atingiu o s seus objetivos, d e m a n e i r a q u e das pesquisas energéticas, o nuclear continuava sendo a única área d e pesquisa d o instituto. No início d a década d e 1 9 8 0 , paralelamente a o programa d e transferência d e tecnologia d a A l e m a n h a para o Brasil c o n d u z i d o pela e m p r e s a estatal NUCLEBRÁS e suas subsidiadas, o Governo inicia u m programa d e desenvolvimento tecnológico autônomo, e n v o l v e n d o a CNEN e ministéhos militares ( M a h n h a , Aeronáutica e Exército). Dentro d a nova ohentação d e governo, mais u m a v e z o I P E N , e e m particular a área d e reatores e ciclo d o combustível, t e v e u m papel decisivo. E m vista d o s interesses d a M a h n h a d o Brasil n o d e s e n v o l v i m e n t o d a propulsão nuclear, nasce n o IPEN o s c h a m a d o s projetos R E M O e C I C L O N E , q u e objetivam a construção d e u m protótipo e m terra de u m propulsor nuclear para o s futuros s u b m a r i n o s nucleares brasileiros. C o m a p a s s a g e m d a gestão administrativa d o I P E N para a C N E N e a formação d a C o o r d e n a d o r i a d e Projetos Especiais, a C O P E S P , d a Marinha d o Brasil (atual C T M - S P ) , estabeleceu-se u m a colaboração entre a s partes n a área de reatores, e devido a o forte entrosamento entre o s participantes d o projeto formou-se u m a simbiose total entre o IPEN e a C O P E S P . A partir d a década d e 1 9 9 0 , c o m a s mudanças na política d e d e s e n v o l v i m e n t o d o programa autônomo e c o m a s políticas d e substituições d a s importações p o r u m m o d e l o neoliberal d e inserção político-econômico, o u globalização, ocorre u m a desaceleração d o p r o g r a m a d e reatores d o IPEN. T e n t o u - s e u m a estruturação d o programa nuclear brasileiro n o Governo d o 272 presidente Collor, p o r m e i o d e vários projetos q u e s e m p r e incluiam a participação do I P E N , c o m o por e x e m p l o , o s projetos R E N A P - 1 0 0 (Reator Nacional d e Água Pressurizada d e P e q u e n o Porte, até 100 M W E ) e R E T E M A (Reator para Testes de Materiais), entre outros. V a n o s estudos f o r a m d e s e n v o l v i d o s e m suporte a esses projetos, c o m o , por exemplo, o projeto conceituai d e u m Reator para Aplicações Médicas ( R E P A M ) , e m especial a técnica d e T e r a p i a por captura d e Boro ( B N C T ) , q u e foi desenvolvida por técnicos d a diretoria d e reatores d o IPEN. A partir d e 1 9 9 5 , c o m a s mudanças institucionais ocorridas n a C O P E S P d a M a r i n h a , q u e passou a ser d e n o m i n a d a m a i s tarde d e Centro Tecnológico d a M a n n h a e m São Paulo, o C T M - S P , ocorreu u m a mudança n o m o d o d e colaboração entre o IPEN e a Marinha: o s projetos passaram a ser realizados através d e termos aditivos a o convenio, principalmente o s d a s d e m a n d a s sociais q u e são o s radioisótopos para t r a t a m e n t o d e câncer utilizados na medicina. O projeto d e a u m e n t o d e potencia e modernização d o Reator I E A - R 1 , c o o r d e n a d o pela Diretoria d e Reatores d o I P E N , n a s c e d o re-direcionamento d a s prioridades d o instituto. V i s a v a u m a maior utilização d o reator, principalmente para a produção d e radioisótopos primários (Mo-99, 1-131, S m - 1 5 3 e t c ) . Dessa forma, esse projeto p a s s o u a ser prioritário para a área d e reator d o IPEN. O projeto constituía, b a s i c a m e n t e , n a adequação d o s s i s t e m a s (envelhecidos) e d e novos s i s t e m a s relacionados c o m segurança, d e f o r m a q u e o reator pudesse passar a o p e r a r c o m 5 M W d e potência c o n t i n u a m e n t e . O projeto incluía, também a certificação junto a C N E N (Relatório d e Análise d e Segurança). Foi c o m esse projeto q u e , e m s e t e m b r o d e 1997, 4 0 a n o s após a primeira criticalidade d o Reator I E A - R 1 , e s s e p a s s o u a operar a 5 M W d e potência c o m combustível inteiramente f a b r i c a d o n o I P E N . A t u a l m e n t e , o I P E N atravessa u m a fase d e p l a n e j a m e n t o estratégico e modernização d e s u a gestão. A s s i m , o IPEN passa a t e r centros d e excelência c o m suas diversas competências instaladas e distribuídas n o s seguintes centros: Centro d e E n g e n h a r i a Nuclear, o C E N ; Centro d e Reator d e Pesquisa I E A - R 1 ; Centro d e Combustível Nuclear; Centro d e Ciência e T e c n o l o g i a d e Materiais; Centro d e Laser e Aplicações; Centro d e Química e M e i o A m b i e n t e ; Centro d e Radiofarmácia; Centro d e Tecnologia d a s Radiações; Centro d e Engenharia Nuclear e dois laboratórios o d e Aceleradores Ciclotrón e o d e Biologia Molecular. 273 P: Lembra-se de acontecimentos que provocaram à Instituição problemas para os quaís ela não dispunha de solução apropriada? Como os membros da instituição reagiram a esses incidentes? R: O a c o r d o Brasil-Alemanina, e m 1975, não previa a participação do instituto, pois e r a b a s i c a m e n t e para a transferência d e d e s e n v o l v i m e n t o s tecnológicos e para a construção das Usinas Nucleares. O instituto já tinha u m a m a s s a crítica f o r m a d a por profissionais altamente c o m p e t e n t e s , portanto, e m colaboração c o m o Ministéno d a M a h n h a ( C O P E S P ) , o instituto dá a volta por cima e começa o p n m e i r o ensaio d e enriquecimento isotópico d e urânio pela tecnologia d e centrifugação, inclusive c o m centrífugas construídas n o lEA. A l g u n s projetos muito importantes d e s t a c a r a m - s e nessa época, a saber: o P R O C O N , Projeto Conversão, q u e produziu hexafluoreto d e urânio para o enriquecimento isotópico; o d a tecnologia d e fabricação d e combustível d e U 0 2 , típica d e reatores P W R (mais tarde essa tecnologia foi transferida para a Marinha d o Brasil), o s p r o c e s s o s d e fabricação d e combustível tipo "placa" utilizados pelo Reator I E A - R 1 , q u e f o r a m intensificados a partir d e 1985. E m 1988 a tecnologia d e fabricação estava d o m i n a d a e o s primeiros protótipos f o r a m introduzidos n o I E A - R 1 . Foi inquestionável a contribuição d a instituição n o domínio tecnológico d e praticamente t o d a s a etapas d o ciclo d o combustível e a transferência desta para a nação, principalmente para o programa d e propulsão naval d a Marinha d o Brasil, e m e s m o s e atualmente essas atividades e s t e j a m desativadas, o d e s e n v o l v i m e n t o e m processos físicos e químicos a d v i n d o s d e s s a s atividades tornou a área d e materiais e m e i o ambiente d o Instituto u m a d a s mais fortes d o país, principalmente e m aplicações e desenvolvimento d e L A S E R , caracterização físico-química, materiais cerâmicos, compósitos biológicos, mecânica d a fratura e ensaios metalográficos e t c , q u e possibilitaram a extensão d a s atividades institucionais a outras áreas além d a nuclear. Diria, portanto, q u e o s m e m b r o s d a instituição, e s p e c i a l m e n t e aqueles que participaram a t i v a m e n t e d e s s a s pesquisas e projetos, reagiram b e m a esse incidente. P: Na sua opinião, qual é a razão de ser da instituição? Sua missão continua a mesma desde a época da fundação? Se não, o que mudou? 274 R: A missão d o lEA, naquela época, era a d e fazer pesquisa c o m reatores a gás. Porém, q u a n d o o Brasil assinou o acordo nuclear c o m a A l e m a n h a , os reatores a Gás f o r a m e s q u e c i d o s e o pessoal começou a s e dedicar a outras pesquisas. N o final d a década d e 1970, q u a n d o p o r motivo politices houve a mudança d o n o m e d o instituto d e l E A para I P E N , h o u v e u m realinhamento d a s pesquisas desenvolvidas. A mudança da instituição d a esfera estadual para a federal levou o IPEN a buscar opções d e pesquisas e m áreas energéticas. A s s i m a missão d o l E A q u e descrevia pesquisas na área nuclear p a s s o u a ser incluída e m pesquisas d e áreas correlatas e não só na área nuclear. P: Na sua opinião, quais foram os principais valores que orientaram a vida da instituição, no passado? Eles continuam tendo o mesmo grau de importância nos dias de hoje? R: A instituição n o p a s s a d o era impulsionada pela motivação e pelas metas estratégicas a u d a c i o s a s . Atualmente, e u p o d e h a dizer q u e o país m u d o u , não sei se para m e l h o r ou pior, m a s a verdade é q u e o pais m u d o u ! A l g u m a s coisas para melhor e muitas para o pior! Essa nova mentalidade não estratégica de s e encarar a p e s q u i s a e a ciência, d e u m a f o r m a mais imediatista, voltada para o cliente, e n c a r a n d o o e n s i n o mais c o m o u m negócio, v e m distanciando a instituição d a área nuclear. O s profissionais d o I P E N estão procurando a excelência e m áreas não nucleares, c o m o a área d e lasers, d e materiais e outras. Inclusive a n o s s a pós-graduação e m Tecnologia Nuclear e u a c h o q u e ela está s e distanciando d o nuclear e s e direcionando mais para a s áreas correlatas. A parte acadêmica d o instituto, q u e e r a b a s i c a m e n t e nuclear, v e m s e desvinculando d o nuclear. O I P E N c o m o u m instituto estratégico d o M C T na área nuclear v e m p e r d e n d o e s s e s valores a o longo d o s a n o s , e e s s a s mudanças não são u m fenômeno exclusivo d o nosso instituto d e pesquisa. A área nuclear, devido a u m a nova o r d e m mundial, d e u m n o v o m o d e l o econômico d e globalização, v e m f a z e n d o c o m q u e o s institutos nucleares espalhados pelo m u n d o , e s p e c i a l m e n t e o s d a América Latina, p a s s e m p o r u m a transformação, por u m a pulverização d o s institutos d e pesquisa. E isso é u m fato extremamente lamentável para o s institutos d e pesquisa d a área nucleari 275 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO ENG. ODAIR MARCHI GONÇALVES Entrevista concedida em 08 de outubro de 2001. P: Em quais circunstâncias foi criado o instituto? R: S e você m e permite, gostaria d e comentar a l g u m a s coisas antes d e iniciarmos a entrevista. Para todas a s questões formuladas saliento q u e v o u expor a minha visão particular, s e m p r e s o b o ponto d e vista d e integrante d e u m a unidade d e apoio às áreas afins d a instituição. O t e m p o vivido nessa atividade proporcionoum e a o p o r t u n i d a d e de participar, e m grande parte, d a s realizações d a instituição. P u d e a c o m p a n h a r de perto o a n d a m e n t o e o progresso n a s diversas unidades d e s d e o início d e sua implantação. Gostada d e explicar também a s razões pelas quais e u v i m trabalhar n o I P E N . O s valores q u e aqui encontrei têm muito a ver c o m o s m e u s objetivos pessoais. N a época, trabalhava e m n u m a construtora d e n o m e R I C H T E R O T U F O S. A, u m a empresa muito importante n a construção d e prédios residenciais d e alto padrão e q u e tinha u m conceito fortemente estabelecido e m São Paulo e n o Guarujá, onde d e s e n v o l v e u a arquitetura d a g r a n d e m a i o h a d o s prédios d a o h a da praia. Nessa época, estava muito satisfeito c o m o m e u trabalho na construtora, e então recebi o convite para vir trabalhar n o IPEN. N o início d a década d e 1970, q u a n d o o l E A saiu d a esfera Federal e p a s s o u para a esfera d o Estadual, o instituto estava s o b a direção d o Dr. Pieroni. Devido a o fato d e o Dr. Pieroni ter obtido recursos financeiros para construir e instalar toda a infra-estrutura d o instituto. O Dr. Pieroni tinha c o m o meta realizar toda a obra e m cinco a n o s , e f o r a m e x a t a m e n t e e s s a s m e t a s audaciosas, o d i n a m i s m o e a visão de futuro d o Dr. Pieroni q u e m e m o t i v a r a m a vir trabalhar no lEA. O Dr. Pieroni q u e n a formar u m a equipe d e e n g e n h e i r o s pròpha, pois nessa época q u e m ajudava o instituto nessa área era o F U N D U S P . U m grupo d e seis e n g e n h e i r o s foi contratado c o m o objetivo d e construir o s prédios q u e compõem hoje o c o m p l e x o arquitetônico d o instituto. D o s seis engenheiros, três ficaram i n c u m b i d o s d a fiscalização, dois deles d o s projetos e u m d a parte d e especificação d a s obras. N a época não era praxe a contratação d e grandes 276 e m p r e s a s d e projetos, c o m o a P R O M O N e outras, e p o r e s s e motivo, f o r a m contratados e s s e s especialistas q u e f o r m a r a m u m g r u p o d e trabalhio s o b a coordenação d o Dr. Pieroni e outras pessoas d o instituto. Conseguimos realizações muito importantes e m termos d e e n g e n h a d a , mais especificamente considerando o estágio d e desenvolvimento tecnológico daquela época. D o s grandes efeitos d e engenharia, poderia citar o s seguintes: • O prédio de processamento de radioisótopos — para a construção desse prédio, h o u v e a necessidade d o r e b a i x a m e n t o d o lençol d e água. O E n g e n h e i r o V O L O M B E C K , q u e era o papa nessa parte d e fundação e m lençóis freáticos, c o o r d e n o u essas atividades aqui n o instituto e nosso g r u p o d e engenheiros teve a oportunidade d e a c o m p a n h a r d e perto todo esse desenvolvimento. • O prédio do "Bunl<er", o chamado laboratório de fontes intensas — u m prédio q u e pelas suas características deveria ser totalmente subterrâneo, e, por e s s e motivo, foi construído c o m t o d a s a s especificações alemãs utilizadas n o metrô d e São Paulo. E s s e prédio já vai completar 3 0 anos, e s e n d o totalmente subterrâneo, até hoje ainda não h o u v e nenhuma ocorrência d e infiltração. • O prédio do termohidráulica — o n d e hoje é o Centro d e Engenharia Nuclear. Foi construído c o m técnicas d e concreto protendido, q u e há 3 0 a n o s era u m a coisa muito nova, não s e e m p r e g a v a e s s a técnica. • O prédio do computador central — para poder abrigar u m computador daquelas dimensões era necessário haver u m piso técnico, o u seja, existia u m vão d e 1,20 metros por onde p a s s a toda a tubulação elétrica, hidráulica, e s g o t o , água fluvial, tutos d e ar-condicionado, e e s s a técnica era u m a inovação e m t e r m o s d e engenharia. Então, c o m o você pode verificar, e m t e r m o s d e engenharia f o r a m utilizadas tecnologias totalmente inovadoras, e todo o g r u p o q u e participou dessa fase d e construção d a infra-estrutura d o instituto aprendeu muito e se desenvolveu e x c e p c i o n a l m e n t e . Por volta d e 1976, q u a n d o g r a n d e parte da infraestrutura já havia sido construída, o g r u p o d e e n g e n h e i r o s começou a ser dissolvido. N e s s a época recebi u m convite d o Dr. Pieroni para continuar n o instituto, para c o o r d e n a r a equipe d e manutenção. Aceitei o convite e aqui permaneço até o s dias d e hoje. Todos o s outros e n g e n h e i r o s q u e deixaram o 277 instituto f o r a m facilmente absorvidos pelo m e r c a d o d e trabalho, o c u p a n d o altos postos e m e m p r e s a s d e destaque, c o m o por e x e m p l o , o engenheiro Mauro, diretor d a S c h a i n C u n , e m p r e s a d e engenharia q u e construiu o Hospital S i n o Libanês (dentre outras obras d e importância); o e n g e n h e i r o José Olinto foi para a C E S P , c o m o diretor d e transmissão; o engenheiro Ajan foi secretado de obras d a Prefeitura d e S a n t o André e hoje é diretor d o D e p a r t a m e n t o d e A g u a s . Isso prova a boa formação d o s recursos h u m a n o s q u e iniciaram s u a s carreira durante a construção d o I P E N . C o n s i d e r o - m e u m a pessoa feliz por ter v i n d o para cá e ter ficado aqui até hoje. C o n s i d e r o importante esse d e p o i m e n t o n o sentido d e demonstrar nossa participação n o g r a n d e desafio q u e foi a construção d o instituto, e c o m o a construção d e u m a organização p o d e contribuir para a formação e o desenvolvimento profissional d e todos. Primeiramente, a o responder a s u a pergunta, gostaria d e fazer referência a o g r u p o originário d o Instituto d e Física d a U S P , q u e participou d a fundação d o l E A na época d o pós-guerra, período e m q u e a energia nuclear ficou muito m a l vista devido à b o m b a atômica q u e foi lançada sobre a s cidades d e Hiroshima e N a g a s a k i . E m função disso, o s E U A criaram o P r o g r a m a Átomos para a P a z , objetivando o d e s e n v o l v i m e n t o d e pesquisas n a área nuclear voltada para aplicações pacíficas. O s E U A s e p r o p u n h a m a doar u m reator d e pesquisa àquele país q u e d e m o n s t r a s s e c a p a c i d a d e para construir u m a infra-estrutura a d e q u a d a para abrigar e s s e reator. A s equipes de físicos d o I P E N e d a U S P aceitaram esse desafio e construíram a b a s e para abrigar o reator, d o a d o pelo P r o g r a m a Átomos para a Paz. A construção d e s s a base s e d e u n u m t e m p o recorde d e 11 m e s e s , feito nunca antes realizado. A s s i m nasceu o lEA! O instituto c r e s c e u c o m o desafio d e abrigar o primeiro reator d e pesquisa d a América Latina, q u e b r a n d o barreiras e s u p e r a n d o obstáculos c o m o o fato d e o s projetos d e e n g e n h a r i a terem sido disponibilizados e m inglês. Esse entrave motivou a estruturação d e u m a equipe d e tradutores d e plantas d e engenharia, t e n d o sido necessário Inclusive o r e d e s e n h o d a s plantas originais. U m outro fato curioso foi o descrédito q u e o c o r p o técnico americano d o programa; ele não acreditava q u e pudéssemos realizar tal feito n u m prazo tão curto! Foi tão i n e s p e r a d o para eles o fato d e termos c o n s e g u i d o construir o prédio 278 para a implantação d o reator que eles d e i x a r a m d e cumprir a construção d a m e s a de controle d e s s e reator. A s s i m , q u a n d o faltavam a p e n a s três m e s e s para a instalação d o m e s m o , e não tendo sido entregue a m e s a d e controle por parte dos técnicos a m e r i c a n o s , c o m o medida paliativa eles n o s e n v i a r a m a m e s a d e controle q u e iiavia sido projetada para o reator d o Canadá. T e n d o e m vista q u e o projeto d e s s a m e s a não havia sido d e s e n h a d o para o n o s s o reator, o s técnicos d o instituto tiveram que, praticamente, refazer toda a m e s a d e controle. A p e s a r d e t o d a s adversidades, o reator IEA-R1 entrou e m chticalidade e m s e t e m b r o d e 1957, a n t e c e d e n d o u m mês para o término d o prazo contratado no P r o g r a m a Átomos para a Paz. A partir daí, a históha d o I P E N ficou m a r c a d a c o m o s e n d o a d e u m a vencedora d e desafios! Essas coisas a p a r e n t e m e n t e são impossíveis, m a s c o m a reunião d e a l g u m a s p e s s o a s a b n e g a d a s e a união d e forças, a s coisas acontecem! P: Quais foram as principais pessoas que participaram da sua fundação? R: A s p e s s o a s q u e participaram d a fundação d o instituto f o r a m , principalmente, os seguintes professores: Marcello D a m y d e Souza Santos, Fausto Walter d e Lima, Rômulo Ribeiro Pieroni e Paulo Saraiva d e T o l e d o . Basicamente foram esses quatro pesquisadores q u e v e n c e r a m esse desafio d e colocar o reator f u n c i o n a n d o e m 11 m e s e s . P: Quais foram os acontecimentos críticos que marcaram decisivamente a iiistória da instituição? R: Inegavelmente o início d a operação d o Reator I E A - R 1 , q u e p a s s o u a funcionar a partir d e s e t e m b r o d e 1957, foi o primeiro a c o n t e c i m e n t o q u e marcou a história da instituição. O reator foi inaugurado politicamente e m 1 9 6 1 , e m solenidade q u e contou c o m a presença d o então presidente d a República, o Dr. Juscelino Kubitschek, o g o v e r n a d o r d e São Paulo, o Dr. Jânio Q u a d r o s , e muitas outras autoridades. U m outro marco é o fato d e q u e o reator I E A - R 1 , foi primeiro reator atômico a o p e r a r n o Hemisfério Sul. A s outras g r a n d e s realizações foram o início d a produção d e radioisótopos e, posteriormente, o desenvolvimento d a usina piloto para a purificação d e urânio. 279 E m 1975, o l E A teve seu n o m e alterado para I P E N . Esse fato ocorreu num período e m q u e o Brasil passava por u m a grave crise d e energia advinda d o petróleo. A nova denominação objetivava abrir frentes d e pesquisa q u e b u s c a s s e m f o r m a s alternativas d e energia para o país q u e não v i e s s e m s o m e n t e da energia nuclear. O s outros g r a n d e s marcos q u e s e seguiram f o r a m : o domínio d o Ciclo d o Combustível Nuclear e o Programa Nuclear Alternativo. O programa nuclear paralelo ocorreu e m decorrência d e u m convênio a s s i n a d o entre o IPEN e a Marinha d o Brasil. P o s t e h o r m e n t e , o enriquecimento d o urânio e a fabricação d o s elementos combustíveis para o Reator I E A - R 1 . Hoje, t o d o s o s e l e m e n t o s combustíveis utilizados para n o abastecimento d e nosso reator são fabricados n o I P E N ; não são m a i s importados c o m o já foi u m dia. Mais recentemente, a mudança n a escala de produção de radiofármacos está associada a o a u m e n t o d a potência d o Reator I E A - R 1 , b e m c o m o a instalação d e u m novo Ciclotrón c o m potência d e 3 0 M W (o antigo era d e 28 M W ) . P: Sob seu ponto de vista, o que permanece até hoje na instituição dessa fase? (Alguns valores, rituais, símbolos personagens e/ou outros.) R: Na m i n h a opinião o q u e p e r m a n e c e na cultura d o IPEN é o espírito e m p r e e n d e d o r , a persistência d o s servidores e m v e n c e r desafios. A consciência d e s e r m o s p o s s u i d o r e s d e u m a competência técnica e o orgulho d e termos o r e c o n h e c i m e n t o d e s s a competência, pelos pares nacionais e internacionais. O amor pela instituição, s e n t i m e n t o q u e diversos profissionais d e m o n s t r a m a o recusar ofertas tentadoras para sair d o I P E N , o u naqueles casos de funcionários a p o s e n t a d o s q u e optam por continuar s u a s atividades n o instituto m e s m o s e m q u a l q u e r remuneração extra. Diversos são o s c a s o s d e p e s s o a s a p o s e n t a d a s q u e c o n t i n u a m atuando n o instituto, c o m o p o r exemplo, o Prof. Marcello D a m y , o Alcídio Abrão, o Gian Maria Sordi e vários outros (são tantos n o m e s q u e poderia c o m e t e r injustiças a o deixar d e citar a l g u m ) . Acho que isso é uma prova do amor pela instituição! Trago na lembrança o período de gestão do superintendente, Rômulo Pieroni, homem abnegado que não tinha horário para terminar o seu expediente no instituto. Começava a trabalhar ás 7h era o último a sair, normalmente por volta das 22h ou 23h. Gostava de acompanhar todas as 280 obras, e como não tinha tempo durante a semana, ele vinha ver as obras aos sábados e multas vezes até aos domingos. O corpo de engenheiros do instituto sempre o acompanhava durante as inspeções nos finais de semana. Posso dizer que o Dr Pieroni viveu para o IPEN, ou passou grande parte dos seus dias vivendo para o instituto. Ê uma demonstração de amor, e, sem dúvida nenhuma, esse é um valor que vai passando de funcionário para funcionário! O Prof Pieroni foi um grande transmissor de valores como dedicação e amor pela instituição. O s p e r s o n a g e n s q u e poderia citar são muitos, além daqueles todos já citados. O próprio perfil d o grupo d e f u n d a d o r e s foi o d e q u e m conseguiu reunir uma "massa crítica" d e pesquisadores competentes e abnegados que inegavelmente m a r c a r a m a história, c o m o por e x e m p l o : Prof. Alcídio Abrão (química); Prof. Rui Ribeiro Franco (pós-graduação); Dra. Constância P a g a n o Gonçalves d a Silva (radioisótopos); Prof. Moura Gonçalves (radiobiologia); Dr. José C a h o s Barbério (radiofarmácia); Dr. Tharcísio D a m y d e Sousa Santos (POLI-metalurgia); Dr. Pedro Bento C a m a r g o (reatores); Dr. Roberto Yushiyuty Ukay (termohidráulica); Dr. W l a d i m i r S a n c h e s (aplicações industriais). Enfim, são muitos o s n o m e s , m a s , n o m e u entender, m a s e s s e foi o grupo d e p e s q u i s a d o r e s q u e mais marcou o I P E N ! Q u a n d o mencionei o n o m e d o Dr. José Garios Barbério m e lembrei de u m a curiosidade q u e gostaria d e mencionar: T o d a a parte d e aplicação médica dos radioisótopos foi desenvolvida aqui n o instituto. N a q u e l a época, não existiam as clínicas q u e existem hoje. Então, todo o trabalho d e formação desses médicos que o p e r a m materiais nucleares n a s clínicas foi feito aqui n o I P E N . N a área q u e hoje é o nosso serviço médico funcionava c o m o u m a clínica. D e manhã cedinho, nós, o s engenheiros q u e s e m p r e madrugávamos, presenciávamos a chegada dos médicos e d a s ambulâncias, q u e c h e g a v a m c o m os pacientes q u e v i n h a m se tratar aqui n o I P E N . Para diagnóstico e radioterapia, era tudo feito aqui no IPEN. Esse foi u m papel importante que o IPEN exerceu na área d e medicina nuclear. 281 P: Lembra-se de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? R: Não, não m e recordo d e n e n i i u m . O u mellior, m e lembro d e outras instituições q u e v i e r a m buscar o apoio de n o s s a equipe n a solução d e s e u s p r o b l e m a s o u projetos particulares. Exemplos: • C o m a usina d e A n g r a I: q u a n d o houve p r o b l e m a s c o m o s elementos combustíveis, eles vieram buscar a solução aqui, c o m a equipe d o I P E N . Muitas v e z e s , inclusive o s técnicos, vieram a c o m p a n h a d o s d e técnicos alemães e a s nossas soluções f o r a m s e m p r e a c a t a d a s e reconhecidas. • Apoio a ELETRONUCLEAR • A p o i o a o s institutos d a C N E N : a o C D T N : n a busca d e soluções para a célula d e d e s m o n t e d e pára-raios radioativos; a o l E N : o I P E N teve u m a participação importante na solução d e problemas c o m a célula d e produção d e IODO 123, na implantação d o C E N T R O R E G I O N A L D E CIÊNCIAS N U C L E A R E S , e m Recife. O início d e s s e projeto contou c o m o apoio d o IPEN n a elaboração d o projeto básico d o leiaute d o Centro. P: Por falar em leiaute, gostaria que o sr. relatasse sua conversa com o arquiteto da FAU acerca da concepção dos prédios da USP e do IPEN. R: Participei d e u m a c o n v e r s a c o m u m arquiteto, o Prof. Cândido Malta C a m p o s Filho. Ele é u m professor da F A U e tem u m a certa projeção n o c a m p o urbanístico. T e m u m escritório d e arquitetura, já foi secretário d e planejamento d a Prefeitura e hoje ele está participando d o planejamento d o Plano Diretor da U S P . C o m e n t a n d o comigo s o b r e u m a foto aérea d o s prédios d a U S P , e l e começou a descobrir coisas curiosas, tais c o m o : o projeto d o I P E N , a s organizações d o s prédios são feitas e m núcleos. O s prédios são colocados o r t o g o n a l m e n t e , uns e m relação aos outros. M a s d e núcleo para núcleo não existe essa ortogonalidade. O u seja, cada conjunto d e prédios é mantido ortogonalmente. U m a das análises realizadas p o r parte d e s s e arquiteto foi no sentido d e que o projeto arquitetônico d o IPEN d e v a ter sido feito por u m físico, q u e c o n s c i e n t e m e n t e o u inconscientemente, projetou a planta d o I P E N p e n s a n d o na teoria quântica. Q u a n d o s e olha a planta d o I P E N , p e r c e b e - s e c o m o q u e u m a formação nucleari Isso é u m a curiosidade! 282 Q u a n t o aos prédios d a U S P , o Prof. Cândido falou u m pouco sobre sua arquitetura. Q u a n t o aos prédios das Biomédicas, d a Botânica, e n f i m , ele descreve que todo o t e c i d o urbano d o s prédios c o m relação às ruas e a o terreno foi projetado c o m u m a preocupação muito g r a n d e e m relação à preservação d o verde e d a natureza. S e a rua projetada possui u m a lintia sinuosa, então o s prédios s e g u e m a s linhas sinuosas d a r u a , procurando u m a harmonia c o m o ambiente. P o r outro lado, e m u m a parte mais plana d a U S P , o n d e fica a Raia Olímpica, f o r a m projetados o s prédios d a P O L I . N o projeto arquitetônico d o s prédios d a P O L I fica patente a postura d o s e n g e n h e i r o s d e formação rígida, originada d a s ciências exatas. Isso tudo é refletido n a arquitetura d o s prédios. O s prédios a c o m p a n h a m essa formação c o m u m a ordenação matemática, c o m linhas retas e paralelas. A s s i m são o s prédios d a P O L I . Essa é a visão d o Prof. Cândido, muito interessante, não? P: Como reagiram os membros da instituição a esses incidentes? R: S e m p r e r e a g i r a m muito b e m . P: Na sua opinião, qual a razão de ser da instituição? Sua missão continua a mesma desde a época da fundação? Se não, o que mudou? R: S i m , e m s u a essência. S e considerarmos a missão c o m o o c o m p r o m i s s o c o m a resposta e a t e n d i m e n t o às d e m a n d a s d o pais, tanto estratégicas c o m o sociais, contínua a m e s m a . O q u e m u d o u ? N o m e u entender o q u e m u d o u foi o país, o própho m u n d o m u d o u . Q u a n d o o lEA foi fundado, n o pós-guerra, a preocupação era c o m a tecnologia nuclear; o ponto d e vista e r a o d o c o n h e c i m e n t o científico e estratégico. A seguir, n u m outro m o m e n t o , p a s s o u a ser a geração d e energia e m substituição d o s energéticos à base d o petróleo. Depois foram o s aspectos sociais q u e p a s s a r a m a ser mais voltadas para a m e d i c i n a nuclear. E hoje, c o m a globalização, a preocupação c o m o d e s e n v o l v i m e n t o d e tecnologias aplicadas a novos matenais, a preocupação c o m o meio ambiente, o desenvolvimento d e lasers e irradiação voltados para processos alimentos etc. A t u a l m e n t e industriais e preservação d e também há u m a g r a n d e preocupação c o m a aproximação d o m e i o empresarial, o n d e s e t e m b u s c a d o e oferecido parcerias. No IPEN s e b u s c o u essa integração c o m o projeto d e incubadoras tecnológicas. 283 com a criação d o C I E T E C . Essa ação d e m o n s t r a claramente o espírito e m p r e e n d e d o r e d e pioneirismo q u e s e m p r e existiu e p e r m a n e c e até tioje n o IPEN. IVIas, nesse contexto todo, algo m u d o u ! A p e s a r d e todas essas pujanças tecnológicas d a instituição, c a m i n h a n d o n o limiar d o conhecimento científico, o q u e s e podia notar é que a administração d o IPEN não a c o m p a n h o u essa evolução n o m e s m o htmo! A direção e a administração d a casa estava formatada d e n t r o d e u m a estrutura verticalizada, fortemente hierárquica q u e precisava ser r a p i d a m e n t e modernizada! A s s i m , a l g u m a s iniciativas foram t o m a d a s . C o l o c o u - s e e m prática o exercício para a formatação d o planejamento estratégico d a organização, e esse processo e n v o l v e u cerca d e 100 servidores q u e tinham g r a n d e c o n h e c i m e n t o da instituição. Após alguns m e s e s d e trabalho, ficou definida e consolidada a missão da instituição. O n d e f o r a m definidos o s objetivos p e r m a n e n t e s , o s objetivos atuais e os objetivos estratégicos globais para o período 2 0 0 0 - 2 0 0 3 . F o r a m identificadas e definidas todas a s funções Institucionais, e estas foram divididas e m p r o g r a m a s e s u b p r o g r a m a s . A s p h m e i r a s ações previstas nesse p l a n e j a m e n t o estratégico foram logo i m p l e m e n t a d a s c o m a implantação da nova estrutura d o I P E N . A n o v a estrutura passou a contar c o m três diretohas funcionais ligadas às áreas fim d a instituição f o r a m assim d e n o m i n a d a s : Diretoha d e P & D , Diretoha de Ensino e Diretoria d e Projetos Especiais. Foram estabelecidas, também, a s Diretorias d e A p o i o , q u e são a s seguintes: Diretoria d e Gestão, Diretoria d e Segurança e Radíoproteção e Diretoria d e Infra-estrutura. F o r a m , igualmente criados nessa nova estrutura 10 centros d e competência, q u e foram distribuídos por função institucional, q u e são: Centro d e Lasers e Aplicações (CLA); Centro d e Combustível Nuclear ( C C N ) ; Centro d e Química e Meio A m b i e n t e ( C Q M A ) ; Centro d e Ciências e Tecnologia d e Materiais ( C C T M ) ; Centro d e Engenharia de Materiais ( C E M ) ; C e n t r o d e Tecnologia d a s Radiações (CTR); Centro d o Reator d e Pesquisa (CRPQ); Centro de Radiofarmácia ( C R ) ; Centro d e Cíclotrons (CLC). A partir daí foi possível estabelecer o Plano Diretor d o I P E N . T o d a s as atividades foram classificadas por função, p r o g r a m a e s u b p r o g r a m a s . O Plano 284 Diretor é r e v i s a d o a n u a l m e n t e , e passou a ser o d o c u m e n t o q u e norteia a s ações e decisões d a instituição. Dentro desse processo d e modernização d a gestão iniciou-se também u m programa d e qualidade n a instituição cujo primeiro resultado foi a certificação I S S O 9000 d a s instalações d a Radiofarmácia e a consolidação d e u m Manual d e Qualidade d o I P E N . A s ações d o processo d e qualidade ainda c o n t i n u a m na instituição, sendo previstas a s certificações d e mais quatro centros d o I P E N , b e m c o m o a integração d o m a n u a l d e qualidade com o s aspectos d o meio a m b i e n t e . Então, basicamente, e u diria q u e a razão d e ser d a instituição continua a m e s m a , só q u e essa evolução toda foi levando a instituição para aspectos mais atuais. P: Na sua opinião, quaís foram os principais valores que orientaram a vida da instituição no passado? R: Essa p e r g u n t a é u m pouco difícil de s e responder, m a s e u diria q u e o s valores são o s seguintes: seriedade, honestidade, probidade, c o l e g u i s m o , respeito a o s pares, e, p o r q u e não, a m o r á instituição e até patriotismo. P: Eles continuam tendo o mesmo grau de importância nos dias de hoje? R: S i m , na m i n h a opinião eles continuam tendo o m e s m o g r a u d e importância. Entretanto, estão s e n d o a g r e g a d o s outros valores. V a l o r e s q u e f a z e m parte d a s novas iniciativas d e inovação dos processos d e gestão. E s s e s novos valores são relativos a o e n g a j a m e n t o d a instituição n a s ações voltadas a o s aspectos sociais, tanto internos q u a n t o externos. A s novas ações sociais e d e cidadania dizem respeito à organização d e u m telecurso 2° grau, pesquisa d e clima, programa d e prevenção d e dependência química e outros cursos q u e , d e u m a f o r m a geral, são extensivos a o s filhos d o s funcionários. Então, todas essas ações vão incorporando n o v o s valores á organização. P: Quais são os valores, na sua opinião, que continuam atuais nos dias de hoje? R: T o d o s a q u e l e s citados n a questão anterior. 285 P: Qual(quais) o(s) valor(es) que, na sua opinião, seriam opostos àqueles que orientam a vida da instituição? Poderia citá-lo(s)? R: E m m i n l i a opinião, não existem valores opostos. O q u e houve foi u m a evolução natural d a f o r m a d e gestão e d o relacionamento c o m a s pessoas. A s circunstâncias d e c a d a m o m e n t o durante essa evolução naturalmente conduziram a essas atitudes, q u e e m certos m o m e n t o s p o d e h a m ser tratadas c o m maior hgidez e até autoritahsmo, e p a s s a r a m a ser tratadas d e maneira mais participativa. Hoje s e b u s c a a opinião d a s pessoas, e j u n t o s , c o m a contribuição das partes, c h e g a - s e à t o m a d a d a s decisões. Essa é a g r a n d e mudança; p a s s a m o s d e u m período d e autoritarismo para u m a f a s e participativa. T a l v e z seja essa a contraposição. P: Como você definiria as características principais da instituição? R: E m poucas palavras, e tentando resumir tudo o q u e falei, acho q u e a s principais caracteristicas são a vontade d e transpor o s obstáculos e vencer o s desafios; são e s s a s a s q u e continuam presentes. Entretanto, a p r e s e n t a m - s e d e forma mais a m p l a e abrangente, c o m objetivos e metas mais claras e transparentes. A s novas características a p o n t a m f i r m e m e n t e para o futuro e para a modernidade. U m a m o d e r n i d a d e que visa à melhoria contínua, s e m p r e alinhada com o s aspectos sociais e d e qualidade d e vida. 286 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. REX NAZARÉ Entrevista concedida em 30 de novembro de 2001. P: Em quais circunstâncias foi criado o lEA? R: V o u transmitir a visão d e u m individuo q u e , a o c h e g a r a o setor nuclear, encontrou o Insituto d e Energia Nuclear, o lEA, f u n c i o n a n d o . O Prof. D a m y foi a pedra f u n d a m e n t a l d a chação d o instituto. L o g o após o término d a Segunda Guerra Mundial ficou evidente q u e surgida u m a n o v a energia c o m diferentes aplicações. E s s a nova energia havia c h e g a d o a o c o n h e c i m e n t o d o grande público através d e algo muito desagradável, que f o i o u s o não pacífico d a energia nuclear, n a s b o m b a s atômicas q u e d e v a s t a r a m a s c i d a d e s d e Hiroshima e Nagasaki, n o Japão. U m fato interessante ocorreu e m seguida, e a repercussão negativa d a b o m b a atômica no m u n d o começou a ser alterada. O G o v e r n o A m e h c a n o c h o u o P r o g r a m a Átomos para a Paz, q u e previa a doação d e reatores d e pesquisa a o s países q u e s e c a n d i d a t a s s e m a difundir para o m u n d o a s aplicações pacíficas da energia nuclear. N o Brasil, São Paulo foi u m d o s phmeiros lugares e m q u e esse tema foi difundido. C o m o conseqüência d a presença d o Prof. W a t a b e na U S P , havia u m grupo d e p e s q u i s a d o r e s q u e s e dedicavam a e s t u d o s n a área nuclear. O Prof. Marcello D a m y d e S o u z a Santos era u m deles, e e s t a v a e m evidência por ter dedicado seus e s t u d o s à m o n t a g e m d o Betatrón. C o m a ascensão a o Governo d e São Paulo d e Jânio Q u a d r o s , e l e procurou incentivar a energia nuclear c o m a chação d o lEA. C o m a chação d o lEA, u m grupo d e p e s q u i s a d o r e s liderados pelo Prof. D a m y inscreveu-se n o P r o g r a m a Átomos para a P a z para concorrer a o prêmio: u m reator d e pesquisa. Para tal, e r a necessáho a construção d e u m a base para a instalação d o reator nuclear d e pesquisa. Por razões obvias, pela expenência a c u m u l a d a e dedicação d o grupo, s o b a responsabilidade d o Prof. Damy, a operação foi u m s u c e s s o . A s s i m , o Brasil obteve o méhto d e ter e m nosso país o pnmeiro reator nuclear da Améhca Latina, d o a d o pelo G o v e r n o A m e h c a n o , e essa foi a pedra f u n d a m e n t a l d o nascimento d o lEA. 287 P: Que outras pessoas o sr. poderia citar que participaram da criação do instituto? R: S e m dúvida n e n h u m a posso citar o Prof. Rômulo Pieroni, q u e foi q u e m substituiu o Prof. D a m y q u a n d o este a s c e n d e u à presidência d a C N E N , e o s professores Alcídio Abrão e Fausto Lima, q u e d e r a m iniciou a u m núcleo d e química forte no lEA. P: Que acontecimentos críticos marcaram a liistória do lEA? R: O s g r a n d e s m a r c o s d o lEA foram o s seguintes: • Instalação d a infra-estrutura e a construção d a piscina para o Reator lEAR1; • Início d a produção d e radioisótopos, aplicados e m diagnósticos e na m e d i c i n a nuclear; • Embrião d o núcleo d e química muito forte; • Criação, junto c o m a U S P , d e u m a pós-graduação na qual f o r a m formados n o m e s c o m o o s d o s Doutores: Claudio Rodrigues, Bianquini, Olga Mafra e Fúlfaro. S e g u n d a geração, a q u e s u c e d e u a d o Prof. D a m y , n a qual m e incluo apesar de não ter sido d e São Paulo e, sim d o Rio d e Janeiro. E m 1 9 7 5 , o Brasil assinava o acordo c o m a A l e m a n h a para a construção d e Usinas Nucleares e m A n g r a d o s Reis. E m decorrência desse acordo h o u v e u m a d e m a n d a n o país, para o desenvolver u m a nova tecnologia para o enriquecimento d o hexafluoreto d e urânio. E m reunião ocorrida n o a n o d e 1978, d a qual participavam diversos s e g m e n t o s d a área científica e tecnológica do Brasil, conduzida pela então Secretaria d o C o n s e l h o d e Segurança Nacional, verificou-se q u e o g r u p o d o Prof. Alcídio Abrão havia d o m i n a d o a tecnologia d o desenvolvimento d o hexafluoreto d e urânio. Esse fato d e altíssima relevância foi levado a o c o n h e c i m e n t o d o presidente d a República, Ernesto Geisel, e e m 12 d e março d e 1 9 7 9 o presidente d a República a p r o v o u o início d e u m programa autônomo para a condução d e pesquisas para a produção d o hexafluoreto d e urânio. E s s e programa contava c o m a s participações d a C N E N , d o C N P q , d a FINEP e d o I P E N , d a n d o início à construção d e u m a usina piloto para a produção d o hexafluoreto d e urânio. Posteriormente, e m agosto d e 1979, na época d o g o v e r n o d o presidente d a República João Figueiredo, constatou-se a necessidade do país vir a ser autônomo e m energia, na produção d e alimentos e e m 288 m e d i c a m e n t o s para q u e pudesse ser gerada u m a e c o n o m i a mais sustentável. O presidente resolveu então, dentro d a política d e substituição d a s importações, desenvolver um programa autônomo d e tecnologia nuclear. Incluiu nesse programa t o d o s o s órgãos envolvidos e m pesquisa científica e tecnológica d o país. N e s s e m o m e n t o , agosto d e 1 9 7 9 , surgiu o P r o g r a m a Autônomo d e Tecnologia Nuclear, q u e envolvia a C N E N e t o d o s o s institutos d e energia nuclear, o u seja, o I P E N , e m São Paulo, o C D T N , e m Belo Honzonte e o l E N e IRD, n o Rio d e Janeiro, e, ainda a s três força a r m a d a s f o r m a d a s pelos Ministênos da M a n n h a , d o Exército e d a Aeronáutica, além d e 18 universidades. É importante ressaltar o s m a r c o s f u n d a m e n t a i s d e s s e p r o g r a m a : o primeiro deles, a dominação da tecnologia d o hexafluoreto de urânio, e m e s c a l a piloto; o s e g u n d o , a parceha do I P E N c o m a Mahnha para realização d a p h m e i r a micro-cascata d e enriquecimento d e urânio c o m tecnologia totalmente nacional; a s pesquisas realizadas n a área d e produção d e radioisótopos; a construção d o reator d e potência zero, oriunda d a parceria IPEN/Marinha e, finalmente o desenvolvimento de várias tecnologias n a área d e materiais. P: Nessa época, o sr. já estava a frente da presidência da CNEN? R: Não. E m 1 9 7 9 e u ocupava o cargo de diretor executivo d a C N E N , e m substituição a o Almirante Otacílio C u n h a ( q u e faleceu e m setembro d e 1 9 7 4 , ainda n o exercício d o cargo), o q u e vinha f a z e n d o d e s d e fevereiro d e 1975. O Almirante Otacílio foi o primeiro presidente d a C N E N e , posteriormente, foi substituído pelo Prof. Marcello Damy. N a ocasião d o lançamento d o P r o g r a m a Autônomo, e m a g o s t o d e 1979, e u ainda o c u p a v a o c a r g o d e diretor executivo d a C N E N , e fui c o n v i d a d o pelo G o v e r n o federal a c o o r d e n a r o referido programa. E m setembro d e 1 9 8 2 a s s u m i o cargo d e presidente d a C N E N e m substituição a o Prof. Hervásio, p e r m a n e c e n d o no cargo até a ascensão d e Fernando Collor à Presidência d a República e m 1990. P: Tendo o sr. ocupado o cargo de presidente da CNEN, como poderia descrever o relacionamento IPEN/CEN daquela época até hoje? R: N o Brasil d e v e m o s raciocinar q u e qualquer esforço nacional dependerá d e ações conjuntas, pois, individualmente, s o m o s praticamente nada o u s o m o s muito pequenos. P r e c i s a m o s ter núcleos mínimos q u e c o m p o n h a m m a s s a critica d e 289 c o n h e c i m e n t o , e p o s s o afirmar que isso foi obtido n o período entre 1970 e 1990, época e m q u e funcionávamos c o m o u m t i m e só. É obvio q u e a s circunstâncias internacionais e r a m outras, a v o n t a d e e a s politicas globais d e s s a conjuntura também e r a m diversas das atuais. Inclusive c o m o pode s e r o b s e r v a d o na política brasileira d e substituição d e importação. P: Em termos de acontecimentos críticos, o sr. acha que o IPEN dispunha de soluções apropriadas para resolvê-los? R: O I P E N era o lugar o n d e podíamos agregar indivíduos q u e t i n h a m condições de d a r soluções para o pais. Volto a o ponto e m que afirmei, na pergunta antehor, que p r e c i s a m o s ter a humildade suficiente d e s e m p r e procurar outras pessoas e outras instituições para q u e j u n t o s p o s s a m o s formular e melhorar o s níveis d e c o n h e c i m e n t o . S e m dúvida n e n h u m a considero o I P E N , d e todos o s órgãos d o setor nuclear, aquele q u e reúne a s condições para operar c o m o catalisador. R: Dr. Rex, em termos de transmissão de valores, como o sr. vê a pósgraduação do IPEN? Como um elemento catalisador, formador e transmissor de valores para seus recursos humanos? R: S e m dúvida n e n h u m a precisamos ter a consciência d e q u e máquinas s e c o m p r a m e h o m e n s s e f o r m a m . O s recursos h u m a n o s f o r m a d o s pela pósgraduação d o I P E N possibilitam até o s dias d e hoje a o p a r q u e industrial d e São Paulo recrutar o s f o r m a n d o s d o I P E N . O I P E N , pelo fato d e ter e m s e u c a m p u s u m a pós-graduação, viabiliza a formação e a geração d e u m g r a n d e número de pessoas, possibilitando o processo d e reimplantação d e j o v e n s e m e m p r e s a s d a área nuclear. A única dúvida q u e tenho, atualmente, é s e n a v e r d a d e a formação desse contingente d e R H está sendo recrutada e incorporada n o q u a d r o p e r m a n e n t e d o s institutos d a área nuclear, porque é d e f u n d a m e n t a l importância dar lugar às n o v a s gerações. D a m e s m a maneira q u e posteriormente à geração d e Marcello D a m y surgiram a s novas gerações f o r m a d a s pelos doutores Claudio Rodrigues, Bianquini, Olga e outros c o m o já citei acima. S e m dúvida n e n h u m a é f u n d a m e n t a l q u e haja u m a reposição natural para q u e esse plantio e s e m e a d u r a d e novas competências continuem existindo. Julgo q u e , s e m d u v i d a n e n h u m a , u m d o s braços fortes d o I P E N , além d a tecnologia q u e produz, a formação d e recursos h u m a n o s seja talvez o grande valor q u e o IPEN tem n a sua sistemática. 290 P: E quanto à energia nuclear, o que o sr. poderia dizer em termos do desenvolvimento do passado e do futuro? R: C o m o a c o n t e c e c o m tudo na vida, acontece também c o m a energia nuclear: há períodos e m q u e a n e c e s s i d a d e é maior d o q u e a d e m a n d a . C o m a ciência e tecnologia a c o n t e c e a m e s m a coisa, n e m s e m p r e o s indivíduos c o n s e g u e m enxergar o n d e poderão aplicá-la, o u a n e c e s s i d a d e q u e t e r e m o s dela n o futuro. No Brasil t e m o s u m conjunto grande d e necessidades básicas a serem atendidas, por esse motivo n e m sempre c o n s e g u i m o s phorizar coisas q u e d e v e n a m ser importantes para o desenvolvimento d o país c o m o u m todo. M a s , fazendo referência a u m d a d o d a época d o presidente João Figueiredo, "a energia tem q u e ser s e m p r e d e s e n v o l v i d a c o m recursos naturais nossos e c o m tecnologias q u e o Brasil disponha e d o m i n e " . S e formos observar nosso país, v a m o s ver que t e m o s u m potencial hidreléthco razoável; entretanto, se o c o r r e m períodos d e estiagem, os nossos p r o b l e m a s d e geração de energia começam a ser sensíveis. Por esse motivo, hoje e m d i a muito se fala sobre técnicas d e substituição, e a o se pensar nesse t e m a p r e c i s a m o s ter e m mente q u e nossas reservas d e petróleo e d e gás natural são finitas. T e m o s no Brasil reservas d e urânio, q u e poderá ser u m tipo de gerador d e energia e m largo uso, então, s e m dúvida n e n h u m a , a energia nuclear t e m e terá u m espaço maior no Brasil. P: Em termos culturais e de valores estabelecidos no IPEN, quais são os valores fortes que possam existir, na sua opinião, na cultura do instituto? R: N o meu entender, n o IPEN, a presença d e h o m e n s c o m p e t e n t e s é muito forte. Existe também u m c o m p o n e n t e bastante evidente d e a m o r pela instituição e, u m valor q u e é f u n d a m e n t a l e q u e deve estar presente e m todos o s m o m e n t o s , a ética. U m outro valor importante, q u e deveria estar mais presente na cultura de nosso país, é o d e agregar e transmitir c o n h e c i m e n t o . E m centros d e excelências, c o m o é o c a s o d o I P E N , d e v e h a ser compulsorio transmitir conhecimento para outras regiões d e nosso vasto país, o n d e esses c o n h e c i m e n t o s se fazem necessários para o d e s e n v o l v i m e n t o do Brasil c o m o u m todo. P: Nesse ponto da entrevista, se o sr. me permitir vou apresentar o resultado da pesquisa de campo para levantar a percepção dos servidores 291 do IPEN quanto aos valores vigentes na instituição. Foi solicitado nessa pesquisa que os servidores, numa escala de O a 6, informassem como eles percebem no nivel REAL e no IDEAL. Como o sr. poderá observar, no REAL os servidores percebem que a instituição tem valores muito fortes como COMPETENCIA, QUALIDADE, HIERARQUIA, PRODUTIVIDADE, EFICIÊNCIA, OBEDIÊNCIA E EFICÁCIA. Como o sr. tem citado o valor COMPETÊNCIA como um valor supremo e que existe na cultura do IPEN. Tendo em vista que nas entrevistas que tenho feito, com os fundadores, todos têm sido unânimes em afirmar que a COMPETÊNCIA é um valor forte no IPEN. Então, como podemos verificar, há uma sinergia e uma concordância de pensamentos entre os servidores e os fundadores de que o instituto é pautado por valores como a COMPETÊNCIA. Quanto aos valores apontados na pesquisa no nivel de percepção IDEAL, outros valores foram ressaltados, tais como: HONESTIDADE, PLANO DE CARREIRAS, RECURSOS RECONHECIMENTO, PROBIDADE, HUMANOS. Enfim, valores muito QUALIFICAÇÃO ligados DE à ética e às necessidades dos Indivíduos. P: O que o sr. poderia dizer sobre o resultado dessa pesquisa? R: S e você observar b e m , n a área científica há u m fato muito c u h o s o , e isso a sua pesquisa retratou muito b e m : H I E R A R Q U I A e OBEDIÊNCIA. A área científica tem c o m o prevalência, também, a COMPETÊNCIA. Portanto, quando se c o n s e g u e ajustar v a l o r e s c o m o COMPETÊNCIA, H I E R A R Q U I A e OBEDIÊNCIA, o resto conseqüentemente s e ajusta facilmente. E o n d e há COMPETÊNCIA, e essa é tranqüila e natural, existe a H O N E S T I D A D E , porque q u a n d o o indivíduo deixa d e ser honesto não poderá j a m a i s ser c h a m a d o d e c o m p e t e n t e , porque ser d e s o n e s t o é burrice! A ausência d e honestidade é u m a eficiência d e curtíssimo prazo! Ela a c a b a r a p i d a m e n t e e, sem dúvida n e n h u m a , t e m resultados efêmeros. Acredito e m d u a s coisas fundamentais na vida: U M B O M E X E M P L O E U M B O M P R O D U T O . N a minha vida s e m p r e procurei transmitir, para a q u e l e s que estavam a o meu lado, b o n s E X E M P L O S e u m b o m P R O D U T O . Q u a n d o você m e apresenta o resultado d a pesquisa n o plano IDEAL, onde P L A N O D E C A R R E I R A S está fortemente presente, o q u e poderia dizer? Existiu n o p a s s a d o d a instituição u m plano d e carreiras. Para exemplificar b e m o resultado d e s u a pesquisa v o u fazer referência à pirâmide d e M A S L O W , e m q u e 292 uma p e s s o a t e m satisfeita u m a necessidade sua e e s s a n e c e s s i d a d e deixa d e s e r importante para ela; então u m outro nivel d e satisfação s e fará necessário. Então, q u a n d o vejo presente na sua pesquisa valores c o m o H O N E S T I D A D E , P L A N O D E CARREIRAS, RECONHECIMENTO, PROBIDADE, QUALIFICAÇÃO DE R E C U R S O S H U M A N O S , m e assusto! Porque isso significa q u e e s s e s valores entraram c o m o n e c e s s i d a d e . O s indivíduos estão carentes d e s s e s valores. Aí, s e m dúvida n e n h u m a , e u lhe dina o seguinte: O S V A L O R E S I D E N T I F I C A D O S NO P L A N O R E A L SÃO O S V A L O R E S Q U E D E V E M C O N T I N U A R A S E R P E R S E G U I D O S E D E V E M C O N T I N U A R A P A U T A R A INSTITUIÇÃO C O M O U M TODO. P: Retornando à questão de número cinco, pergunto: o sr, se lembra de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? R: O e x e m p l o especifico n e s s e caso foi o seguinte (não sei e x a t a m e n t e o ano e m que s e d e r a m e s s e s fatos): o IPEN e r a vinculado a C N E N , e p o r meio d e u m convênio c o m o Estado d e São Paulo p a s s o u a vincular-se à Secretada d e Indústha e Comércio, Ciência e Tecnologia d o Estado d e São Paulo, e g e h d a técnica e administrativamente pelo G o v e r n o Federal e, esta foi a melhor solução para o I P E N . E x p l i c a n d o d e u m a outra forma: q u a n d o foi a c o r d a d o o P r o g r a m a Autônomo, verificou-se q u e o saláho d o s sen/idores d o instituto estava defasado, considerando q u e havia u m grupo considerável d e p e s s o a s c o m excelente nível de c o n h e c i m e n t o , c o m todas a s condições d e participar d e u m Programa Autônomo N a c i o n a l . Identificado o problema existente e m termos d e remuneração a d e q u a d a , para q u e e s s a equipe d e nível d e excelência p u d e s s e participar d o refehdo p r o g r a m a , verificamos q u e a situação salahal d o s servidores d o IPEN podeha ser resolvida c o m u m convênio c o m o Estado d e São Paulo. Dessa maneira, e m março d e 1 9 7 9 , o I P E N passou a ser g e n d o técnica e administrativamente pelo Governo Federal, a q u e m c a b e h a o p a g a m e n t o d o s servidores, e v i n c u l a d o à Secretaria d e Indústha, Comércio, Ciência e Tecnologia d o Estado d e São Paulo. 293 P: Como reagiram os membros da instituição a esses fatos? R: S e m dúvida n e n h u m a , n o m o m e n t o e m q u e foi t o m a d a essa decisão, h o u v e u m c o n s e n s o entre todos o s servidores. A aceitação foi total, não tivemos nenhuma perda e m t e r m o s d e recursos h u m a n o s , h o u v e aceitação. É fácil verificar e s s e s fatos. O s saláhos e s t a v a m d e f a s a d o s , e c o m o G o v e r n o Federal assumindo o p a g a m e n t o d a folha salarial, o s servidores p a s s a r a m a auferir saláhos atualizados; além d o quê, ainda tinham novas perspectivas e m termos d e plano d e carreiras. P: Em termos da razão de ser da instituição e sobre sua missão, o que o sr. poderia dizer? R: A razão d e ser d e qualquer instituição d e pesquisa, e m qualquer lugar d o m u n d o , é o c o n h e c i m e n t o e a sociedade; s e m c o n h e c i m e n t o e sociedade não há n e n h u m a razão d e ser e m u m a instituição. P: Na sua opinião, quais são os principais valores que orientaram a vida da instituição no passado? E no presente? R: Q u a n d o t r a b a l h a m o s por muitos anos n u m a determinada instituição, e depois nos a f a s t a m o s , a melhor coisa q u e a gente p o d e fazer é s i m p l e s m e n t e ajudá-la nos m o m e n t o s e m q u e isso é solicitado. U m a d a s c o i s a s q u e extraordináhas dentro d o I P E N é a manutenção d o s valores antigos, pois na minha opinião, quem preserva o passado terá futuro! P: Quais valores o sr. poderia citar como sendo opostos a todos os valores citados como pertencentes à cultura do IPEN? R: T e m u m ditado popular muito importante: C a s a q u e não tem pão, todo m u n d o reclama e ninguém t e m razão. Então, todas a s v e z e s q u e por a l g u m a razão alheia à vontade d a m a i o h a há u m a dificuldade salahal, começam a prevalecer outros valores. O q u e s e d e v e fazer nesses casos é achar soluções compreensíveis e m relação ás p e s s o a s q u e trabalham para permitir q u e elas c o n t i n u e m na instituição c o m realização e dedicação, s e m , n o entanto, deixar q u e falte o pão e m suas casas! 294 P: Como características principais da instituição, o que o sr. poderia citar? R: Definiria, e m primeiro lugar, A COMPETÊNCIA. E m seguinte, u m embrião constante d e formação d e recursos h u m a n o s . O f u n d a m e n t a l é q u e n o IPEN existe o p i o n e i h s m o n a clonagem d e competência. P: As perguntas se encerram aqui, o sr. gostaria de acrescentar alguma coisa? R: G o s t a d a d e dizer q u e louvo o fato d e o IPEN estar incentivando s u a tese, porque na v e r d a d e , a manutenção d e valores é u m a d a s coisas q u e era muito c o m u m no Brasil n o p a s s a d o , mas que começou a desaparecer. A n t i g a m e n t e nós comprávamos c a d e r n o s escolares e n a contracapa vinha impresso o Hino Nacional. Hoje t e m o s dificuldade d e aprender o s hinos. M a s a grande verdade é a seguinte, quem cultiva o passado terá futuro! 295 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. JOSÉ ROBERTO ROGERO Entrevista concedida em 14 de setembro de 2001. P: Dr. Rogero, o sr. poderla nos relatar em quals circunstâncias foi criado o lEA? Antes d e começar a r e s p o n d e r à pergunta, preciso relatar a s circunstâncias q u e m e t r o u x e r a m para o instituto. A s s i m , poderei transmitir mintia visão sobre o s fatos que, d e u m a certa f o r m a , são u m pouco parciais. E m 1 9 7 1 , cfieguei a o Instituto, ainda c o m o estudante. S o u d a área biológica, f o r m a d o e m Farmácia pela Universidade d e São Paulo. Q u a n d o v i m para o instituto fui trabalhar n o Setor d e Aplicações d e Tecnologia Nuclear, na área d e biologia e m medicina. Fui convidado pelo Prof. José Carlos Barbého para ser responsável pela produção d e radiofármacos d o instituto j u n t a m e n t e c o m a Dra. Constância. O Prof. Rômulo Pieroni foi superintendente d o l E A por u m periodo d e 17 anos, era médico e fisico. Tinha uma visão estratégica para o lEA, no sentido de q u e deveria haver u m forte investimento na área d e Radiobiologia. A s áreas das Aplicações Nucleares, na Biologia e na Medicina p r e c i s a v a m ser fortes dentro do instituto. O fato importante a ser ressaltado era q u e a área d e biologia não era o grande d e s t a q u e d o instituto; s o m e n t e a s p e s q u i s a s ligadas a o reator d e pesquisa, c o m o a s d o Ciclo d o Combustível Nuclear e produção d e radioisótopos, eram a s g r a n d e s c o q u e l u c h e s d o lEA, e faziam c o m q u e não p r o m o v e s s e m u m a boa visão d o instituto e m s u a totalidade, o u seja, tinha u m a d a realidade parcial do instituto. E s t a n d o n u m a área biológica dentro d e u m instituto d e pesquisas nucleares, o n d e o foco principal era a área nuclear, e s s e fato tornava a s coisas muito difíceis para nós. A s verbas para nosso setor e r a m e x t r e m a m e n t e limitadas, pois a s prioridades orçamentárias eram para o Projeto Autônomo, d o instituto com a Marinha, para o desenvolvimento d e pesquisas ligadas a o Ciclo d o Combustível Nuclear. Isso, apesar d e t o d o o carinho e incentivo q u e o Prof. Pieroni tinha c o m a área d e Aplicações da Biologia na Medicina, m e s m o a s s i m essa área sofria sérias restrições orçamentárias. Muito e m b o r a fosse j u s t a m e n t e o contrário às intenções do Prof. Pieroni, incentivo para q u e essa área viesse a s e tornar forte dentro d o 296 instituto. T e n d o explicado u m pouco sobre todo e s s e contexto n o qual m e inseri ao chegar n o instituto, posso começar a responder às suas perguntas. V o l t a n d o , então, a sua pergunta, apesar d e não ter participado d a s circunstâncias d e fundação d o instituto, e m 1956, a c h o q u e , devido a o fato d e ter conhecido o Prof. Pieroni; Fausto Lima, q u e foi o diretor d a área d e aplicações; Rui Ribeiro Franco, u m dos fundadores d a nossa pós-graduação, área c o m a qual s e m p r e tive muita afinidade; essas p e s s o a s conthbuíram d e a l g u m a maneira para a transmissão dos fatos sobre a chação d o lEA. V a m o s a o s fatos: o l E A foi chado n u m a época favorável à energia nuclear. O P r o g r a m a Átomos para a Paz, chado pelos Estados Unidos, previa a doação d e u m reator d e pesquisa a o país q u e conseguisse instalar e m s e u terhtóho e e m t e m p o recorde u m reator d e pesquisa q u e s e h a d o a d o pelo Governo A m e h c a n o . Foi nesse contexto internacional favorável à energia nuclear que foi c h a d o o instituto. S o b o c o m a n d o d o Prof. IVIarcello D a m y d e Souza Santos c o n s e g u i m o s instalar u m reator d e pesquisa n o lEA, d o a d o a o Brasil pelos Estados Unidos, por meio d o Programa Átomos para a Paz. Havia e m 1 9 7 1 u m a grande resthção, por parte d o s países desenvolvidos, a q u e o s c h a m a d o s "países e m d e s e n v o l v i m e n t o " acesso a tecnologias mais tivessem avançadas, e m especial, àquelas ligadas a o enriquecimento d o urânio. P o r isso foi muito difícil para o instituto trabalhar n a área nuclear. N a minha visão, o d i n a m i s m o d o Prof. Pieroni à frente d a direção d o lEA, foi d e vital importância para a condução d a s políticas externas. Estávamos e m pleno regime militar e, devido a o b o m relacionamento c o m o s órgãos g o v e r n a m e n t a i s e c o m o regime vigente, pode ser viabilizada a liberação d e verbas, o q u e possibilitou o investimento e a construção d a infra-estrutura. O s diversos prédios e e q u i p a m e n t o s d o instituto f o r a m todos erguidos n a gestão d o Prof. Pieroni. P: Além dos nomes já mencionados acima, que outras pessoas o sr. poderia citar como tendo participado desse período inicial do instituto? R: O Prof. Marcello D a m y d e Souza Santos foi o grande destaque na fundação d o lEA. E m t e r m o s d e liderança, considero o Prof. Pieroni c o m o a pessoa mais importante n a c a m i n h a d a d o lEA. A s outras fortes lideranças q u e o instituto teve 297 entre a s décadas d e 1950 a de 1970 f o r a m o s professores Fausto Lima, Rui Ribeiro F r a n c o , Tarcísio D a m y , o Prof. IVloura e outros. P: O sr. poderia relatar alguns acontecimentos críticos que marcaram a historia da instituição? R: Vários f o r a m o s acontecimentos críticos q u e m a r c a r a m decisivamente a historia d o instituto. A começar pelos 2 0 a n o s d e ditadura, c o m o regime militar vigente n o país. E s s e fato marcou muito a história d o Brasil e a d o instituto. Durante o período militar, a área nuclear, q u e e r a o phncipal foco d o instituto, foi d u r a m e n t e atingida, pois e r a u m a área considerada estratégica e d e segurança militar. P o r e s s e motivo o instituto não tinha a u t o n o m i a e n e m liberdade para discutir p r o g r a m a s ; a s coisas vinham d e cima para baixo e nós aqui n o instituto tínhamos q u e continuar trabalhando e t o c a n d o o barco! U m outro acontecimento marcante ocorreu e m 1979, q u a n d o o l E A passou a operar, p o r razões políticas e financeiras, c o m o n o m e d e Instituto d e Pesquisas Energéticas e Nucleares, I P E N , vinculado à Secretada d e Estado d o G o v e r n o d e São Paulo. Posteriormente, e m 1982, houve u m a outra mudança n o instituto. Desta feita, f o i a p a s s a g e m d a esfera Estadual para a Federal, o instituto passou a ser administrado pela Comissão Nacional d e Energia Nuclear, a C N E N , d a égide Federal. T o d a s e s s a s mudanças provocaram u m re-direcionamento no instituto pela b u s c a d e n o v o s caminhos: d e l E A para I P E N , significou q u e o instituto deveria passar a f o c a r mais a área energética e m e n o s a nuclear. O contexto e m que s e vivia n a q u e l e periodo era o da crise d o petróleo, época d a P A U L I P E T R O , época e m q u e o g o v e r n a d o r Paulo Maluf procurou d a r apoio às novas fontes d e energia para a superação d a crise d o petróleo. O I P E N estava presenciando u m a baixa n a área nuclear e, conseqüentemente, a p e r d a d o apoio financeiro para a mesma. Esses fatos certamente influenciaram enormemente a a vida d a instituição, o s servidores vivenciaram períodos d e greve, baixos salários, enfim, uma pressão interna muito grande. T e n d o sido excluído do Programa Nuclear Brasil-Alemanha, o IPEN associou-se à í\/larinha para o desenvolvimento d e u m P r o g r a m a Nuclear Paralelo, q u e previa pesquisas para s e alcançar o e n r i q u e c i m e n t o d o urânio. A 298 parceria d o IPEN c o m a Marinha durou 15 a n o s . F o r a m a n o s d e fartura financeira e d e g r a n d e desenvolvimento e treinamento d o s n o s s o s recursos h u m a n o s . O ápice d e s s a p a r c e h a foi e m 1984, q u a n d o foi a n u n c i a d o o s u c e s s o d o atingimento do processo d e enriquecimento de urânio, feito inédito para u m país d e Terceiro M u n d o c o m o o Brasil! T o d o s e s s e s fatos f o r a m muito m a r c a n t e s na história d a instituição, a troca d e n o m e , a mudança administrativa d o instituto d a esfera Estadual para a Federal, o redirecionamento d e foco para busca d e outras f o r m a s d e energia, o insucesso d o Programa Nuclear Brasil-Alemanha, e n f i m , todos e s s e s a c o n t e c i m e n t o s p o d e m ser a p o n t a d o s c o m o altamente ínfluenciadores d a história d a instituição. P: Como os membros da instituição reagiram a esses incidentes? R: A s expectativas d o s m e m b r o s d a instituição c o m relação à mudança para a C N E N , e m 1982, f o r a m positivas, porque a situação d o l E A no Estado era u m a situação m u i t o ruim; não havia mais recursos disponíveis para a s pesquisas, o s salários e s t a v a m defasados, o Estado d e São Paulo já vinha d e m o n s t r a n d o s e u desinteresse pela área nuclear. Então a mudança para a C N E N foi vista c o m olhos positivos! E, d e fato, a melhoria foi logo sentida por todos. O s salários m e l h o r a r a m ; h o u v e u m a melhoria na distribuição d e verbas orçamentárias. Mais tarde começaram a aparecer alguns e n t r a v e s n o relacionamento I P E N / C N E N , q u e existem até hoje, pelo fato d e e s t a r m o s s u b o r d i n a d o s a C N E N , não pela administração d a C N E N , q u e naquela época estava s o b o c o m a n d o d o Prof. R e x Nazaré q u e s e m p r e teve o I P E N e m g r a n d e consideração. O superintendente d o IPEN falava diretamente c o m o presidente d a C N E N . Porém, esse relacionamento m u d o u n a s d e m a i s administrações d a C N E N e isso m u d o u n o s governos posteriores, daí o s entraves q u e p e r m a n e c e m até hoje. M a s a visão naquela época era positiva e a s expectativas e r a m boas! Q u a n t o à visão d o s pesquisadores d a área d e aplicações, nós tínhamos a visão d e q u e a área de aplicações era d e s e g u n d a linha. E u s e m p r e fui contra e s s e posicionamento, pois n a m i n h a opinião e r a m a s aplicações d a tecnologia nuclear q u e iam d a r sustentação política para a área nuclear c o m o u m todo. Seja n a captação d e outras fontes d e energia o u para as aplicações militares, e t a n t o isso é v e r d a d e que a M a r i n h a e o I P E N s e uniram para a tocar o P r o g r a m a Nuclear Autônomo. F o m o s instados por diversas v e z e s , pela Marinha e 299 por a q u e l e s q u e t r a b a l h a v a m no P r o g r a m a Nuclear Paralelo, a profehr palestras de c o n v e n c i m e n t o para a s c o m u n i d a d e s d e S o r o c a b a , d e São Paulo, e m instâncias Federal e Estadual de políticos e para o público e m geral, e o s t e m a s dessas palestras e r a m s e m p r e o d a s aplicações d a tecnologia nuclear; era e l a que d a v a sustentação. Então, na m i n h a visão a s aplicações nucleares e s t a v a m corretas, porém, n a visão d o s dirigentes d a época não e r a b e m a s s i m , e isso contribuiu para q u e tivéssemos s e m p r e p o u c o s recursos para a n o s s a área. O s grandes aportes d e v e r b a s i a m para a s pesquisas c o m o o Ciclo d o Combustível, paras a s usinas, e esse fato é visível até n a s instalações e n a infra-estrutura disponível até hoje para e s s a s áreas dentro d o I P E N . P: E como o sr. definiria a evolução da área de aplicações de tecnologias nucleares até os dias de hoje? R: O q u e a c o n t e c e u foi o seguinte: após o anúncio d o enriquecimento d o urânio e a obtenção d o c o n h e c i m e n t o de todo processo d o ciclo d e combustível, o s acidentes nucleares e m Chernobyl e m 7 6 , o retrocesso n a construção d e novas usinas n o s E s t a d o s Unidos, todos e s s e s fatos propiciaram a q u e d a abrupta d o programa nuclear brasileiro. Até hoje ele não s e recuperou, há toda u m a resistência d a s o c i e d a d e n a s usinas d e A n g r a d o s Reis, agora q u e concluímos Angra II e não s a b e m o s c o m o será A n g r a III. O Programa Nuclear B r a s i l A l e m a n h a foi para o "espaço". Queriam construir oito o u nove usinas e m a l construíram u m a ! T o d o o dinheiro investido n o e n r i q u e c i m e n t o d o urânio foi para o lixo! Não s e u s o u n a d a ! Então isso claramente f e z c o m q u e o P r o g r a m a Nuclear Brasileiro d e s a p a r e c e s s e ! Agora, quanto às aplicações nucleares, e aí incluo também a produção d e radiofármacos, por outro lado, elas e s t a v a m b a s e a d a s e m projetos para o s quais a obtenção d e recursos d e p e n d i a m d a submissão desses às agências d e f o m e n t o nacionais e internacionais, tais c o m o o C N P q , F I N E P , F A P E S P e A I E A . A s s i m , a área de aplicações c o n s e g u i u s e manter n u m nível d e atuação b o m , cuja produção d e papers e trabalhos s e m p r e foi alto. A medicina nuclear c o n t i n u o u evoluindo a u m a boa taxa; a produção d e radiofármacos e a s pesquisas m u n d i a i s n a s aplicações continuaram c r e s c e n d o , tanto n a área d e alimentos c o m o n a d e medicina Então tudo isso fez c o m q u e s e mantivesse viva a área d e aplicações. 300 C o m a mudança d o s dirigentes d o IPEN e o g r a n d e esforço d o s pesquisadores dessa área, q u e fizeram u m b o m marketing d a s aplicações nucleares, é q u e t e m o s hoje no instituto a visão q u e e u tinha n o passado. O u seja, as áreas d e aplicações são "o porta-estandarte" d a área nuclear, é ela q u e m d e v e ir à frente para dar suporte ás outras pesquisas para a busca dos investimentos n a área nuclear, e d e outras fontes d e energia, e n f i m , a outras pesquisas. A c h o q u e hoje c o n s e g u i m o s ter essa consciência e m termos institucionais. A Diretoha d e Aplicações, e m termos d e projetos, d e produção científica d e alunos na pós-graduação, é a segunda maior diretoha d o IPEN. Isso d e m o n s t r a claramente q u e a área d e aplicações s e f e z importante para a instituição! U m outro a s p e c t o q u e s e faz importante citar é q u e n a unidade de pósgraduação d o I P E N , a área d e aplicações é aquela q u e s e m p r e teve o maior número d e o h e n t a d o r e s credenciados, o maior contingente d e alunos e, conseqüentemente, a maior produção científica, dentre a s três áreas da nossa pós-graduação. A s estatísticas não n e g a m e s s e s números! A parte acadêmica da área d e aplicações é a mais forte dentro d o IPEN! Esses aspectos todos relatados acima reforçam o grande sucesso d a área d e aplicações no I P E N d e hoje! P: N a s u a opinião, q u a l é a razão d e s e r d a instituição? S u a missão c o n t i n u a a m e s m a d e s d e a época d a fundação? S e não, o q u e m u d o u ? R: Q u a n d o fizemos o nosso planejamento estratégico e f o m o s discutir a missão, l e m b r o - m e d e q u e tivemos u m a resistência muito grande por parte d e alguns m e m b r o s d a c o m u n i d a d e I P E N . Grande parte d o s n o s s o s pesquisadores acha q u e o IPEN é u m instituto nuclear e q u e todas a s áreas q u e não sejam nucleares d e v e m ficar d e fora d a instituição! Então, q u a n d o f o m o s discutir o planejamento estratégico, u m d o s aspectos q u e foi mais discutido foi o p r o b l e m a d a s áreas correlatas, se elas deveriam ser incluídas e m nossa missão o u não. Felizmente, as áreas correlatas c o n s t a m d a nossa missão! V o u explicar e s s e problema d a s áreas correlatas dentro d a nuclear exemplificando c o m u m trabalho na minha área de atuação: se e s t a m o s trabalhando c o m o d e s e n v o l v i m e n t o d e u m a molécula q u e precisa ser m a r c a d a c o m radioisótopos para u m t r a t a m e n t o contra o câncer, que é u m a aplicação nuclear; não é possível se descartar todo o trabalho d e bioquímica, biofísica, d e química e de biologia q u e existe cmssk) mam. DE mfm i^ofAR/sp-fre H por trás d o 301 d e s e n v o l v i m e n t o d e s s a molécula. Não dá para fazer e s s a ruptura, aqui começa ou termina a área nuclear, n o desenvolvimento d e s s a pesquisa! Por outro lado, a base d a formação d e nossos pesquisadores foram o s valores transmitidos pelos f u n d a d o r e s d a instituição. N o s s o instituto e seus servidores f o r m a m u m a c o m u n i d a d e diferenciada d o s d e m a i s institutos d e pesquisa. P o r quê? Apesar d e s e r m o s u m instituto público, essa não é u m a repartição pública. Por que isso? Qual a diferença? S e f o r m o s pensar, t e m o s tudo para ser u m a repartição pública: s o m o s funcionários públicos, não p o d e m o s ser demitidos, f a z e m o s greves e não s o m o s descontados, o salário é baixo, m a s n o s a p o s e n t a m o s c o m o salário integral e outras regalias. Q q u e n o s torna diferentes? Atribuo a o Prof. Pieroni, u m d e nossos fundadores, ter conseguido imprimir o s seus valores e s e u ritmo d e trabalho e m todos nós, sen/idores d o IPEN. Ele era u m a p e s s o a e x t r e m a m e n t e rígida e disciplinada, e q u e trabalhava 24 horas por dia para o instituto! Q s e u htual d e trabalho e r a a s s i m : havia u m livro preto o n d e todos o s profissionais d a instituição d e v e n a m anotar s u a s atividades dianas, e ele lia p e s s o a l m e n t e e rubhcava todos os relatos d e todos o s pesquisadores d o I P E N . Ele não era u m a p e s s o a aberta a o diálogo, pelo m e n o s d o m e u ponto d e vista, e t o m a v a atitudes radicais administrativas e disciplinares; a s p e s s o a s tinham m e d o dele, m a s era u m a pessoa d e b o m coração, q u e impunha seu ritmo d e trabalho para a instituição. Ele dizia s e m p r e : "nós e s t a m o s aqui para trabalhar, não e s t a m o s aqui para enganar ninguém, muito m e n o s a sociedade! Você ganha a sua bolsa e s e u saláho, então eu q u e r o q u e você produza!" A c h o q u e isso ficou m a r c a d o e m cada u m d e nós! E isso p a s s o u d e geração para geração. E u passei para t o d o s o s m e u s ohentandos e m e u s alunos t o d o s o s ensinamentos q u e m e f o r a m p a s s a d o s . U m outro detalhe: o Prof. Pieroni colocava a o s e u lado p e s s o a s q u e p e n s a v a m igual a e l e . Hoje existe u m a nova filosofia d e trabalho, a d e q u e é preciso ter o p o n e n t e s na equipe; e l e não p e n s a v a a s s i m , só colocava e m s u a equipe s e u s s e m e l h a n t e s . P o r exemplo: o Prof. Moura Gonçalves, c o m q u e m trabalhei durante q u a s e 2 0 anos, era u m "Pieroni 2 " . Para ele não existia horáho, era necessáho trabalhar 24 horas. A preocupação d e horáho q u e foi transmitida por Pieroni e s t a v a associada a s u a preocupação c o m o trabalho. E s t a m o s aqui para trabalhar! E r a u m a preocupação nacionalista, brasileira, "estamos aqui 302 g a n h a n d o , o país está gastando esse dinheiro, então t e m o s q u e produzir, trabalhar!" O s fatos aqui relatados reforçam a idéia d e q u e o s valores foram transmitidos a t o d o s o s servidores d a instituição pelos nossos fundadores. Valores c o m o qualidade, d e q u e s e d e v e trabalhar e produzir c o m qualidade, f o r a m transmitidos d e s d e a época d o Prof. Pieroni. O I P E N s e m p r e teve u m a administração centralizada e rígida, voltada para o trabalho e para a produção, e c a r r e g a m o s e s s e s valores até hoje! A o s p o u c o s a gestão centralizada v e m sofrendo a l g u m a s mudanças. Considero, portanto, q u e a construção d a nossa cultura foi feita e m c i m a d e s s e s valores, e a c h o também q u e é essa a base q u e torna o I P E N u m a instituição diferente! B e m , falei d o lado rígido d o Prof. Pieroni, e por esse motivo acho q u e devo falar também d e s e u lado afável e b o n d o s o . L e m b r o - m e de q u e q u a n d o v i m para o IPEN trazia u m passado político c o m o líder estudantil na universidade. Devido a registros d e fatos c o m o esses, e m decorrência d a época d a repressão militar, sei q u e o Prof. Pieroni foi informado s o b r e m i n h a s atividades antirepressão, m a s m e s m o assim ele não colocou n e n h u m a objeção na minha permanência na instituição, pois naquela época existia u m a pressão muito grande para q u e p e s s o a s contrárias a o governo não p e r m a n e c e s s e m e m órgão públicos. Então, a c h o q u e isso mostra o outro lado, o lado h u m a n o q u e você identifica nas relações c o m a s p e s s o a s . Observo, também q u e t o d o o legado d e u m meio ambiente saudável foi construído pelo Prof. Pieroni, todas a s árvores q u e aqui estão f o r a m plantadas na s u a gestão. Ele criou u m local d e trabalho maravilhoso! Isso aqui é u m oásis q u e f a z parte d a inspiração dele e q u e foi passado para nós! Q u e m é q u e não g o s t a d e trabalhar nesse a m b i e n t e ? P: E o que teria mudado em termos de valores dessa época para os dias atuais? Os valores básicos continuam existindo? E quais outros valores foram sendo incorporados ao longo dos anos, na sua opinião. R: E n q u a n t o o Prof. Pieroni esteve presente n o I P E N , m a n t e v e esses valores bem vivos. A partir d o m o m e n t o e m q u e ele saiu e a instituição começou a ter outros superintendentes, cada um traz consigo u m a visão própria. Depois d o Prof. Pieroni, cuja gestão c o m p r e e n d e u u m p e r i o d o d e 16 a n o s , tivemos como superintendente o Prof. A m o r i n , q u e e r a u m a p e s s o a e x t r e m a m e n t e b o n d o s a . 303 m a s q u e não c o n h e c i a a c o m u n i d a d e d o I P E N , apesar d e pertencer à C N E N . O Prof. A m o h n introduziu na c o m u n i d a d e uma visão d e d e m o c r a c i a e d e liberdade, então t i v e m o s inicio d e u m período reivindicatóho n o I P E N . Q u e r dizer, o extremo oposto d a era Pieroni. E m seguida, t i v e m o s o Dr. Durvaldo Gonçalves, u m superintendente totalmente e s t r a n h o à nossa c o m u n i d a d e , militar e s e m a visão correta d o q u e é Ciência e T e c n o l o g i a . Dessa f o r m a , e s s a s outras figuras começam a introduzir valores diferentes n a instituição, e por isso o s valores iniciais começam a ficar u m pouco diluidos. D e p o i s d o s dois superintendentes citados tivemos outras duas gestões, a d o S p e r o Penha Morato e d o Claudio Rodrigues, q u e são pesquisadores d a casa c o m formação muito parecida c o m a d o Pieroni, e s p e c i a l m e n t e o Claudio Rodrigues. N a minha visão, a força e a motivação, a responsabilidade, o orgulho de pertencer a u m a c o m u n i d a d e q u e presta bons serviços à sociedade, todos e s s e s valores estão mantidos n a nossa cultura! Alguns valores p o d e m estar diluídos, m a s a sua essência continua! P: Você poderia citar que valores se chocam ou estão em contraposição aos valores vigentes na instituição? R: O q u e mais s e choca c o m o s valores tradicionais d a instituição são aqueles valores ligados à democratização d a gestão atual. Isso p o r q u e existiu u m período muito forte d e administração centralizada, c o m t o m a d a s d e posição d e cima para baixo. Então, q u a n d o surgiram no IPEN a s t o m a d a s d e decisões democráticas e participativas foi u m c h o q u e para a c o m u n i d a d e ! Não imaginávamos discutir a m p l a e a b e r t a m e n t e decisões na área nuclear, foi muito c h o c a n t e . Diria q u e hoje e s t a m o s a p r e n d e n d o a fazer isso d e forma coerente, c o m a s discussões sobre o nosso planejamento estratégico; iniciamos o periodo d e abertura sobre o s nossos problemas. Então, r e s p o n d e n d o a sua pergunta, vejo q u e o q u e s e c h o c o u c o m o s nossos valores básicos f o r a m fatos ligados à globalização d a informação, à democratização d a s decisões. N o s últimos cinco a n o s v i m o s imprimindo u m a nova visão d e abertura à n o s s a instituição, porém a resistência a essa abertura é muito g r a n d e ! Diria melhor, a resistência t e m mão dupla, o u seja, não só d a c o m u n i d a d e interna c o m o d a externa. Outra coisa q u e é preciso dizer claramente 304 é que o fato d e trabalharmos n a área nuclear é u m estigma, é u m a t a t u a g e m q u e c a r r e g a m o s para o n d e quer q u e sigamos. É u m a t a t u a g e m d a b o m b a atômica n o peito! Isso também n o s isola u m pouco d a c o m u n i d a d e externa. Hoje, graças a o esforço d o s atuais dihgentes, e s t a m o s m u d a n d o s e m n e n h u m a contribuição d a C N E N , s o m e n t e d e n o s s a comunidade interna. S e m p r e digo a todos: "O IPEN t e m u m a força d e inércia muito grande. É tanta força q u e , apesar d e pisarmos n o breque, a máquina continua a caminhar. A s s i m vejo o I P E N ! Ele resistiu a todas a s intervenções externas por causa d a sua força d e inércia, e isso f e z c o m q u e a instituição ficasse protegida d a s agressões q u e sofreu. U m exemplo q u e posso citar foi q u a n d o o Dr. Durvaldo que m a n d o u fechar a n o s s a pós-graduação e m s u a gestão. A p e s a r d e termos recebido u m a o r d e m , q u e foi encarada por q u a s e t o d o s c o m o u m a negativa, a pós-graduação não f e c h o u , a s atividades continuaram devagar, por debaixo d o s panos, m a s n u n c a parou. A força d e inércia atuou positivamente e m u m a situação d e perigo para a instituição. Q u a n d o d o Dr. Durvaldo terminou s e u período d e gestão, a pós-graduação retornou c o m tudo às s u a s atividades e continua aí até hoje, mais fort:e d o q u e nunca, e c o m o prova d e s s a plena realização p o d e m o s citar a avaliação d a C A P E S , n a qual c o n t a m o s , atualmente, c o m a nota 6 — nível de excelência! Por outro lado, o aspecto negativo d a força d e inércia também precisa ser m e n c i o n a d o . O u seja, a força d e inércia também protege a instituição d e situações i n o v a d o r a s e modernas; e s s a força atua c o m o q u e bloqueando o progresso. P: Com relação a esse assunto da força de inércia, como o sr. poderia descrever a reação dos membros da instituição à introdução da ênfase em gestão na pós-graduação do IPEN? R: E s s e é u m b o m e x e m p l o d o s aspectos negativos d a força d e inércia. V o u esclarecer melhor e s s e aspecto: q u a n d o iniciamos a s negociações no IPEN sobre a abertura d a n o s s a pós-graduação, para a formação d e u m q u a d r o d e servidores que p u d e s s e m s e especializar e melhor atuar na atualização d a gestão e administração d o I P E N , tivemos uma reação e n o r m e d o s m e m b r o s d a instituição, em especial aqueles orientadores que compunham a comissão d e pós- graduação. Nos foi p a s s a d o o conceito m o d e r n o d e formação na área d e gestão, 305 e para isso t i v e m o s q u e fazer u m corpo a corpo muito forte c o m todos o s f o r m a d o r e s d e opinião d a instituição. Retrocedendo u m pouco n o t e m p o , é importante dizer q u e o s f o r m a d o r e s d e opinião favoráveis à abertura d a pós-graduação c o m ênfase e m gestão começou durante o p e n o d o d o Dr. Spero, ocasião q u e alguns orientadores da instituição participaram d o curso P R O T A P d a F E A . O pessoal q u e f e z o P R O T A P foi aquele q u e ajudou na construção d a nova visão d a gestão d o IPEN. E m fins d e 1998, foi assinado u m convênio c o m o Núcleo d e Política e Gestão Tecnológica, o N P G T , d a Faculdade d e E c o n o m i a e Administração, a FEA, d a U S P , para a inclusão d a ênfase e m gestão tecnológica n a pós-graduação d o IPEN. N o primeiro a n o d e implantação, alguns critérios para a aceitação d o s alunos precisaram s e r revistos, t e n d o e m vista a corrida d e muitos alunos externos à c o m u n i d a d e I P E N . A t u a l m e n t e , foi fixado u m número máximo d e vagas e a s Incorreções foram acertadas e m t e m p o . Hoje t e m o s 2 0 estudantes distribuídos n o s níveis d e mestrado e doutorado, e a pnmeira leva d e pósg r a d u a n d o s t e v e início n o a n o d e 2 0 0 3 . A s p e s s o a s d a casa q u e estão s e aperfeiçoando n e s s a área serão aquelas q u e irão o c u p a r posição d e destaque nas próximas administrações d a instituição. P: O sr. vê a pós-graduação como uma forte fonte transmissora de valores na instituição? R: S e m dúvida n e n h u m a , a relação ohentador-aluno é u m a relação muito íntima. Aqueles o h e n t a d o r e s q u e b e m e x e c u t a m essa arte d e transmitir a seus alunos valores e c o n h e c i m e n t o s e informações têm u m a preocupação muito grande c o m a qualidade e c o m a formação d e s e u s alunos. Tive alguns alunos cujos pais m e procuravam para agradecer a s ohentações passadas durante a relação ohentando-ohentador. A l g u n s pais f o r a m até mais enfáticos a o m e transmitirem que sentiram mudanças até n o caráter d e seus filhos, então há nitidamente u m a influência muito g r a n d e na formação d o s alunos. Então, s e 1 0 % o u 1 5 % desses estudantes p e r m a n e c e r e m na instituição, você c o n s e g u i u transmitir e manter o s valores para a c a s a . A pós-graduação é u m m e i o d e comunicação d e valores f u n d a m e n t a l , e todos o s nossos fundadores f o r a m o h e n t a d o r e s . O Prof. D a m y , o Prof. Fausto Lima, o Prof. R u y e o Prof. Pieroni, q u e também teve u m número muito g r a n d e d e alunos e d e trabalhos publicados, depois o Spero, o Claudio, 306 Fúlfaro e e u , t o d o s nós t i v e m o s uma participação muito g r a n d e n a pós-graduação e, conseqüentemente, n a transmissão d e valores. O fato d e o IPEN ser um instituto q u e tem portas, muros, cercas e uma pós-graduação aqui d e n t r o n o s dá u m diferencial muito g r a n d e ! Não s o m o s u m a universidade, porque a universidade é aberta, há u m a liberdade implícita. Aqui não! Está-se aqui dentro oito horas por dia, então o a l u n o a c a b a entrando nesse ritmo, e aquele q u e não está, acaba c o m o o h e n t a d o r p e g a n d o n o s e u pé. O s bons orientadores e x i g e m d o s alunos c o m o s e eles f o s s e m funcionários, colocaos para trabalhar c o m o mão d e obra, apesar d e não s e r b e m assim! Então, d e s d e o inicio d a pós-graduação d o I P E N , p a s s a r a m por aqui cerca d e 6.000 alunos, durante todo e s s e t e m p o , e, claramente, é u m a f o r m a d e p a s s a g e m d e valores. O modelo d e n o s s o instituto é u m modelo d e s u c e s s o ; t e m o s u m a pós-graduação e m nosso c a m p u s e t e m o s u m a b o a relação c o m a U S P . A U S P t e m valores e padrões d e qualidade d e primeiro m u n d o , s u a produção científica, a qualidade dos trabalhos, s e u c o r p o d e professores, a graduação e a pós-graduação, o s laboratórios, o s projetos. Então nós t i v e m o s q u e m a n t e r s e m p r e a m e s m a qualidade d a U S P ; não p o d e m o s perder essa orientação, afinal d e contas, nossa pós-graduação é u m a unidade d a U S P , ela n o s aceita porque sempre mantivemos u m nível d e excelência na nossa área d e atuação que é a Tecnologia Nuclear. S e p e g a r m o s u m a matéria q u e saiu o Jornal d a U S P , na edição d e 10 a 16 d e s e t e m b r o d e 2 0 0 1 , p o d e m o s ver a distribuição d o s conceitos atribuídos a o s programas d e pós-graduação n o Brasil e na U S P . V a m o s verificar que no Brasil todo s o m e n t e 5 % t e m conceito 6, e n a U S P só 9 % tem e s s e conceito. O u seja, d e u m total d e 2 1 4 cursos d e pós-graduação d a U S P , só 2 0 cursos têm conceito 6 d a C A P E S , e é aí q u e nós e s t a m o s . P: Dr. Rogero, como o sr. definiria as características principais da instituição? R: T e n h o u m carinho muito grande pela instituição p o r q u e sinto u m b o m clima n o ambiente d e trabalho, apesar d e todas a s dificuldades d e nossa classe c o m o funcionários públicos. Não temos reajustes salariais, não t e m o s promoção o u avaliação d e d e s e m p e n h o confiável. Então, estas são a s características d o I P E N : é u m instituto d e pesquisa tecnológica, não é u m a universidade, e apesar d e ter uma unidade d e pós-graduação, não tem a missão d a universidade; também não 307 é u m a indústria, a p e s a r d e produzir radiofármacos. T r a b a l f i a m o s n u m niclio que é só n o s s o e isso n o s dá a certeza q u e a instituição v a i ter espaço nos próximos anos. P o s s o ir e m b o r a s a b e n d o q u e outras p e s s o a s virão e vão continuar m a n t e n d o a s atividades! Então, c o m essas características d e nicho d e trabalho b e m definido, c o m a modernização d a gestão e m curso n a instituição, c o m a democratização d a s decisões, quanto mais participativa, m a i s forte fica a instituição. V e j o u m futuro muito bhihante para ela, só l a m e n t o q u e t e n h a m o s perdido pessoas, e ainda e s t a m o s perdendo pela falta d e u m concurso. A Idade média é alta, daí t e r m o s a necessidade d e repor o s recursos h u m a n o s q u e estão indo e m b o r a . É u m a instituição multidisciplinar q u e não é m a i s só nuclear, e essa multidisciplinahdade nos abre muitos flancos d e atuação. P o d e m o s concorrer c o m qualquer instituição d e pesquisa d o país. A parte preocupante é a nossa relação c o m a C N E N , q u e é u m a relação q u e requer melhorias. T e r m o s u m a superintendência d o I P E N , o cargo diretivo mais alto n a hierarquia n o instituto, n o m e s m o nível hierárquico d e u m a superintendência d e recursos h u m a n o s o u d e informática d a C N E N é u m contrasenso! P o r outro lado, d e v e r i a m o s ter o nosso orçamento próprio e não depender da distribuição orçamentária d a C N E N , porque isso v a i s e m p r e depender d e fatores políticos, d e negociação, d e postura, d e r e l a c i o n a m e n t o s etc. E s p e r a m o s q u e o próximo governo faça mudanças n a estrutura d o s institutos para que p o s s a m o s melhorar ainda mais nosso I P E N ! 308 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO PROF. DR. RUI RIBEIRO FRANCO Entrevista concedida em 23 de maio de 2001. P: Em quais circunstâncias foi criada a pós-graduação do IPEN? R: E m 1966, a p o s e n t e i - m e d a Universidade d e São Paulo; e r a catedrático e m Petrologia, área d a IVIineralogia (porque a s roctias são f o r m a d a s d e minerais). Fui para Brasilia a convite d o reitor d a U n B , c o m o professor e diretor d o Instituto d e Geociêncla d a U n B , cargo q u e ocupei pelo período d e u m ano. E m 1967, o Prof. Rômulo Ribeiro Pieroni m e c o n v i d o u a ingressar para o grupo d o I P E N . Ele tinha a intenção d e char a pós-graduação, e a c h o u que e u p o d e h a trabalhar nesse sentido porque conhecia toda a estrutura d a universidade, b e m c o m o a pós-graduação. Aceitei o cargo e c o m e c e i a trabalhar no IPEN e m 1968, c o m o diretor d e Ensino e Formação. A o s poucos f o m o s estruturando o urso de pós-graduação d o I P E N . O curso foi concebido para atender às necessidades dos funcionários d o I P E N , e não d e v e h a c o n c e b e r o ingresso d e alunos externos à c o m u n i d a d e e m geral. D e v e h a ser dedicada à formação e à capacitação d o pessoal d o I P E N , q u e e r a constituído por físicos, químicos, matemáticos e pessoas d e outras áreas. Começamos a organizar o curso d e pós estruturando u m a equipe c o m professores q u e ministravam disciplinas c o m o minerais d e urânio e tóho, q u e são elementos fundamentais na energia atômica, b e m c o m o outras disciplinas, c o m o física, química e matemática. Convidávamos professores da U S P para d a r aulas no IPEN e para nos ajudar a implantar a pós, ministrando as disciplinas d o curso que começava a se constituir. O reitor d a Universidade d e São Paulo, o Prof. O h a n d o M a r q u e s d e Paiva, que era d a Escola d e Vetehnáha; o Dr. Josué C a m a r g o M e n d e s , vice-reitor (éramos o s três muito amigos). O curso d e pós-graduação foi estruturado c o m professores capacitados para ministrar disciplinas. N e s s e sentido, b u s c a m o s o interesse d a universidade e m acatar nosso curso c o m o parte integrante d a U S P , pois não havia n e n h u m outro curso c o m o enfoque e m tecnologia nuclear na Universidade d e São Paulo a não ser o d o I P E N . P: Nessa época o curso de pós-graduação do IPEN já havia recebido o nome de Programa de Tecnologia Nuclear? 309 R: S i m , nós estávamos oferecendo nosso curso para a universidade e gostaríamos q u e e l e f o s s e aceito c o m o parte integrante d a universidade, e essa foi a idéia f u n d a m e n t a l . Após u m período d e análise p o r parte d a universidade, análise d o curso, d a s disciplinas e d o s professores, ficou estabelecido o acordo de vinculação d o P r o g r a m a d e Tecnologia Nuclear c o m a U S P , s o b a nossa responsabilidade, porque o curso não é d a universidade, e, s i m , d o I P E N . P: Em 2001, a pós do IPEN completou 25 anos, graças ao seu empenho e trabalho. Na sua opinião, o objetivo foi alcançado plenamente? R: Nós queríamos f o r m a r e capacitar o s recursos h u m a n o s d o I P E N , então, nesse sentido, nosso objetivo foi plenamente alçandol O Dr. Pieroni m e d e u carta branca para realizar e s s e trabalho. O Pieroni era físico e médico, e foi u m gigante d a energia nuclear, tinha u m a visão muito b o a d o s p r o b l e m a s acerca d a energia nuclear. Foi u m g r a n d e incentivador e u m a pessoa c o m q u e m aprendi muito, pois saí da área d e petrologia para trabalhar c o m p e s s o a s c o m outras formações, e isso foi muito enriquecedor. Ele era u m h o m e m muito d e d i c a d o ! N o s s o objetivo foi alcançado. C o n s e g u i m o s ! A universidade abriu a s portas para nós. O reitor disse: "Você está o f e r e c e n d o à universidade u m curso de pós-graduação e m u m a área e u m setor q u e é própria d e vocês, d o IPEN". Porque não havia n a universidade u m a área d e concentração e m energia nuclear, essa área é própria d o I P E N . Nós oferecemos isso à U S P ! P: O sr. construiu toda a sua carreira na USP? R: Sim, fiz o vestibular, a graduação, o mestrado, o d o u t o r a d o , a Livre Docência e a Cátedra na U S P . T o d a a minha carreira acadêmica e profissional foi desenvolvida n a universidade. Inicialmente, g r a d u e i - m e e m História Natural, depois fiz u m a especialização n o s Estados Unidos, d e 1941 a 1 9 4 2 , curso equivalente a o mestrado, e u m a outra especialização e m Geologia na Universidade d e São Paulo. Entrei para a universidade e m 1 9 3 5 . O Prof. Luciano J a c q u e s d e Moraes foi m e u orientador n o mestrado (naquela época, para a conclusão d o mestrado, não havia a exigência d e u m a dissertação; era exigido s o m e n t e u m trabalho d e f i m d e curso). Depois fiz o doutorado e m Mineralogia, u m a subárea dentro d a Geologia. E m 1952, fiz a Livre Docência, q u e é u m a outra tese. 310 defendida perante u m a banca f o r m a d a por pessoas pertencentes à universidade (três convidados d e fora e dois d a universidade), e por último a Cátedra e m Petrologia, e m 1958. Notas da entrevistadora: • Prof. Rui p e r m a n e c e u à frente d a pós-graduação d o IPEN d e 1 9 6 8 a 1986, q u a n d o foi a p o s e n t a d o na compulsória, e desde então o Prof. tem se dedicado às G E M A S , ministra aulas para alunos interessados n o assunto e s e dedicada à identificação, certificação e atribuição de valor, a preço d e m e r c a d o , a cada uma d a s G E M A S identificadas. • E m 1955 f u n d o u a A B G M , Associação Brasileira d e G e m o l o g i a e Mineralogia. • Dez a n o s depois, e m 1966, escreveu seu primeiro livro, As pedras preciosas. • Traduziu u m total d e cinco livros: Gemas do Mundo, d e Walter S c h u m a n n ; A identificação das gemas, d e B. W . A n d e r s o n ; Rochas minerais, d e Walter S c h u m a n n ; Manual de mineralogia, d e J a m e s D. D a n a ; Cristalografia óptica, de Ernest E. W a h i s t r o m ; Principios de Geoquímica, d e Bhan Mason; Mineralogia aplicada, d e Helmut Kirsh; e Petrografia, d e Williams, Turner e Gilbert. • O Prof. Rui definiu que, c o m relação às g e m a s , a tarefa mais importante é a identificação d a pedra: "Para identificar uma pedra, não se pode usar s o m e n t e os olhos. Então, c o m o distinguir u m a pedra d a outra?". C o m u m aparelho específico p o d e m o s identificá-las. U m livro muito importante e fundamental para a identificação d e u m a pedra é A identificação das gemas, d e B. W . A n d e r s o n , u m dos livros traduzidos por ele. • D e s d e q u e deixou a universidade e o IPEN, voltou a o ponto d e partida, ou seja, para o c a m p o d a s g e m a s , o n d e começou c o m o f u n d a d o r d a A B G M , e m 1955. • U m a outra missão e m s u a carreira foi a d e dedicar-se a o ensino e formação de recursos h u m a n o s . "Foi por essa razão q u e o Pieroni m e c h a m o u para trabalhar no I P E N , para ajudar na formação do pessoal." • Participou d a redação, c o m outros três autores, c o o r d e n o u e revisou a edição do livro: Recursos minerais do Brasil, q u e g a n h o u o Prêmio Jabuti d e Literatura. " L e v a m o s cinco anos para escrevê-lo, viajamos muito pelo intehor 311 d o Brasil. O trabalho fotográfico, q u e é multo neo, foi d e responsabilidade d e Aurélio Bolsanelli." U m a cuhosidade sobre esse livro: " O ministro d a Minas e Energia d a época dos militares, Shigeaki Ueki, levava essa publicação, edição e m três v o l u m e s , para oferecer d e presente a o s anfitriões q u e o recebiam m u n d o afora". Foi consultor d o C N P q no período d e 1960 a 1 9 6 9 , o n d e atuava c o m o consultor Ad Hoc. Durante esses nove anos, o s presidentes d a República o indicavam c o m o m e m b r o d o C N P q ; recebeu a nomeação d o s seguintes presidentes: Dr. Juscelino Kubitschek, e m 1 9 6 0 , d o Dr. João Goulart, e m 1963, e no período militar recebeu a nomeação d o general Castelo Branco. E m 1960, f o i presidente d a Sociedade Geológica Brasileira, dentre outros cargos e funções que a s s u m i u durante muitos anos. 312 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. SHIGUEO WATANABE Entrevista concedida em 14 de janeiro de 2002. Dados sobre o entrevistado: O entrevistado p e r m a n e c e u n o IPEN n o período d e 1968 a 1976. P: Em quais circunstâncias foi criado o lEA? (O entrevistado preferiu não responder a essa pergunta, pois acredita q u e o s fatos relacionados à criação d o l E A já t e n h a m sido d e v i d a m e n t e relatados por outros entrevistados.) P: Quais foram as principais pessoas que participaram da fundação do lEA? (Esta p e r g u n t a está associada ã antehor.) P: Quais foram os acontecimentos críticos que marcaram a instituição. R: S o b o m e u p o n t o d e vista, alguns a c o n t e c i m e n t o s mais importantes m a r c a r a m a instituição. O fato d e o Dr. Rômulo Pieroni ter a s s u m i d o a superintendência d o l E A foi importante, ele foi u m a pessoa q u e s e d e d i c o u muito às atividades d o instituto. C o m o era u m h o m e m b e m articulado politicamente, conseguia, q u a s e s e m p r e , arrecadar v e r b a d o G o v e r n o Federal o u Estadual para o instituto. Foi c o m esses recursos q u e e m p r e e n d e u as obras d e construção d a infra-estrutura d o lEA. Q u a s e t o d a a infra-estrutura d o IPEN d e hoje é devida a o trabalho d o Prof. Pieroni. N e s s a época, aconteceu u m fato interessante: havia n o s países avançados u m processo d e dosimetria d a radiação, q u e d e u origem a u m aparelho q u e c h a m a d o "dosimetria por termoluminescência", cujo emprego favorecia d i r e t a m e n t e àqueles q u e trabalhavam e m áreas afetadas por radiação, b e m c o m o a o s centros d e pesquisa que u s a v a m radioterapia. O Dr. Pieroni, assim que s o u b e d a existência desse aparelho, adquiriu-o. Porém, c o m o se tratava d e u m a tecnologia inédita n o Brasil, o aparelho p e r m a n e c e u n o IPEN por q u a s e dois a n o s s e m q u e n e n h u m pesquisador fizesse u s o dele. Naquela época e u trabalhava n o Instituto d e Física e estava d e s c o n t e n t e c o m a s pesquisas e m física 313 nuclear q u e desenvolvia. O Prof. Pieroni m e c h a m o u e disse: "Shigueo, você quer aprender t u d o s o b r e termoluminiscência poderei pagar s u a ida para o extehor para q u e realize u m aperfeiçoamento". Minha resposta foi positiva: "Claro q u e aceito e s s e D E S A F I O " . Fui para Austin n o T e x a s , n o s E U A , onde há u m laboratóho q u e e m p r e g a a termoluminiscência e m radiobiologia. Eles irradiam m a c a c o s e m suas expehências. Permaneci três m e s e s nesse laboratóho. Depois, ainda no a n o d e 1967, m e r e c o m e n d a r a m mais três m e s e s d e estágio n o Hospital M D A n d e r s o n , n u m centro d e radioterapia especializado n o tratamento d e câncer. N e s s e s seis m e s e s , p u d e aprender não só a parte teóhca d o assunto, m a s também, e principalmente, o emprego do aparelho — dosimetria por termoluminescência. E m 1968, q u a n d o voltei d o s E U A , o Prof. Pieroni convidoum e para trabalhar no IPEN. O s primeiros estudantes q u e orientei foram: Reginaldo Muccillo, S p e r o P e n h a Morato e José Zanetic (este último só f e z mestrado n o IPEN e depois voltou para o Instituto d e Física d a U S P ) . O s pesquisadores: R e g i n a l d o Muccillo, Spero Penha Morato, Paulo Iris fizeram o mestrado n a Fisica d a U S P . Depois recomendei que f i z e s s e m o doutoramento no exterior. O S p e r o e o Paulo Iris foram para o s U S A , e o Reginaldo foi para o Canadá. Por volta d e 1972, o grupo d e estudantes s o b m i n h a orientação já havia subido para mais d e 2 0 estudantes, todos trabalhando no laboratório d e termoluminescência. A s pesquisas e m termoluminescência q u e conduzi n o IPEN d e s d e 1968, contribuíram, d e forma direta o u indireta, para a formação d e pelo menos 20 mestres. E m t e r m o s mundiais, a grande efervescência n a época direcionava a s pesquisas para a produção d e radioisótopos d e meia-vida curta. N o IPEN, o Prof. Pieroni percebeu q u e m e u grupo possuía grande competência e, por esse motivo, incentivou-os a d a r início às pesquisas sobre a produção d e radioisótopos d e meia-vida curta. A medicina nuclear no m u n d o começava a utilizar esses radioisótopos. Dessa forma, objetivando impulsionar as pesquisas c o m radioisótopos d e meia-vida curta, o Prof. Pieroni c o m p r o u para o IPEN o primeiro ciclotrón. U m a outra linha d e pesquisa q u e começava a t o m a r vulto e grande importância n o m u n d o e r a a d e desenvolvimento d e materiais. A s s i m , o Prof. Pieroni incentivou u m a outra parte d o nosso grupo a desenvolver pesquisas na área d e materiais. 314 O Prof. Pieroni, a p e s a r d e ser físico e médico, exercia c o m maestna a administração d o instituto. Conseguía identificar a s tendências mundiais e quais as pesquisas q u e poderiam impulsionar o instituto. A l i a n d o s e u forte tino a s u a c a p a c i d a d e d e captar recursos junto a o g o v e r n o , conseguía materializar suas idéias e a s tornava realidade n o instituto. U m outro m a r c o importante foi a cooperação bilateral entre I P E N / U S P e o Centro d e P e s q u i s a s d e Grenoble, na França. E m função d e s s a cooperação, recebemos seis franceses que foram extremamente importantes no desenvolvimento d e pesquisas na área d e materiais, mais especificamente sobre atrito interno d o s materiais. Nessa liniía d e pesquisa, alguns alunos c o m o o Luis Filipe e o S a d a m o (atuais pesquisadores d o IPEN) d e r a m inicio a seus trabalhos d e m e s t r a d o c o m o s c o n h e c i m e n t o s q u e o s franceses t r o u x e r a m sobre atrito interno dos materiais. U m a outra linha d e pesquisa que o s franceses t r o u x e r a m para o instituto foi sobre c r e s c i m e n t o d e cristais. Crescimento d e cristais é extremamente importante para a área d e materiais. Spero P e n h a Morato, depois d e ter concluído o m e s t r a d o c o m ênfase e m termoluminescência, interessou-se pelas pesquisas e m crescimento d e cristais. R e c o m e n d e i - o a ir realizar d o u t o r a m e n t o nos Estados unidos, e m U t h a h , objetivando desenvolver pesquisas s o b r e o crescimento d e cristais. C o m o s c o n h e c i m e n t o s adquiridos n o exterior, Spero, a o retornar para instituto, instalou o Laboratório d e Crescimento d e Cristais, e m Laser. Na década d e 1970 d e s e n v o l v e m o s o primeiro dosímetro brasileiro, c o m tecnologia e materiais nacionais. A área d e radíoproteção e dosimetria d a radiação d o IPEN foi u m sucesso! Naquela época, t o d o s o s dosímetros utilizados e m monitoração d e radiação e r a m importados a u m custo altíssimo para o Brasil. Por e s s e motivo, o dosímetro q u e d e s e n v o l v e m o s aqui n o instituto foi u m marco na área. Iniciamos a s pesquisas d o dosímetro c o m a utilização d e u m material c h a m a d o fluorita. O fluoreto d e cálcio natural, c h a m a d o fluorita, é u m material muito sensível à radiação. Posteriormente t o m a m o s c o n h e c i m e n t o d e pesquisas desenvolvidas n o s E U A c o m o sulfato d e cálcio, u m e l e m e n t o muito sensível à radiação e excelente para o desenvolvimento d e dosímetro. Foi assim q u e t o m a m o s c o n h e c i m e n t o d a s pesquisas realizadas por u m professor hindu e u m a professora f r a n c e s a . Convidei-os para vir a o Brasil para q u e p u d e s s e m cooperar c o n o s c o , auxiliando a desenvolver u m cristal c o m sulfato d e cálcio. Foi assim que, 315 pela primeira vez, produzimos e s s e cnstal aqui no I P E N . Até tioje, as doutoras Linda e Leticia c o n t i n u a m produzindo, e m escala comercial, e s s e s cristais. No Brasil houve u m período d e grande interesse e m polimerização a partir d e monômeros. Para isso s e fazia necessária a radiação c o m raios g a m a e elétrons. N e s s e sentido foi feito u m convênio c o m a Universidade d e Tóquio (antes d e e u entrar n o IPEN já havia esse convênio, e u m professor japonês passou q u a s e seis a n o s aqui no instituto. S e u n o m e era K a d o y ) , q u e n o s ajudou no d e s e n v o l v i m e n t o d e s s a s pesquisas, e mais tarde elas d e r a m origem ao Centro de T e c n o l o g i a das Radiações d o I P E N . Graças a esse convênio, conheci o Prof. Tabata, e juntos c o o r d e n a m o s , a pedido d o Itamaraty, sete simpósios nipo-brasileiros d e ciência e tecnologia, q u e f o r a m simpósios muito importantes para o Brasil. P: Lembra-se de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? R: S i m , o c a s o q u e relatei acima sobre o aparelho d e "dosimetria por termoluminescência" é u m e x e m p l o b e m típico. A instituição não dispunha e m s e u corpo técnico d e c o n h e c i m e n t o s suficientes para utilizar o aparelho. O Prof. Pieroni m e procurou n o Instituto d e Física e propôs q u e e u a p r o f u n d a s s e o s m e u s c o n h e c i m e n t o s nessa área, para que pudesse formar u m a m a s s a crítica suficiente para não só colocar e m uso o referido aparelho, m a s também formar seguidores nessa área. Foi a s s i m q u e a c o n t e c e u , e diria q u e assim a instituição costuma resolver seus p r o b l e m a s : b u s c a n d o a s soluções apropriadas para tal. Nós, o Prof. Pieroni e todos o s outros d o I P E N , tínhamos a m e s m a idéia. Não importava o n d e estava disponível a informação; íamos e m busca d a solução d e n o s s o s problemas e m qualquer parte d o m u n d o . Solicitávamos verba através d a F A P E S P o u d o C N P q , trazíamos o s professores o u íamos a o encontro deles n o s laboratórios e centros d e pesquisas e s p a l h a d o s m u n d o afora, para trazer para dentro d o Instituto a s soluções, a s novas pesquisas, o s novos d e s e n v o l v i m e n t o s , a s inovações. Os desafios sempre fizeram parte do nosso dia a dia! No p e r i o d o q u e passei no I P E N , tive a oportunidade d e receber pelo m e n o s 15 professores visitantes, entre eles, franceses, a m e r i c a n o s , j a p o n e s e s . Indianos. T o d o s contribuíram c o m novos c o n h e c i m e n t o s , n o s auxiliaram c o m 316 novas linhas d e pesquisa, desenvolvimentos d e n o v o s produtos e novas aplicações. Conthbuíram para o desenvolvimento d e diversas áreas d o instituto c o m a utilização d a termoluminescência c o m o u m fenómeno físico para o s seguintes e m p r e g o s : termoluminescência para a proteção radiológica; na física médica, n a área médica, n o desenvolvimento d e radioisótopos d e meia-vida curta; para a determinação d a idade d e cerâmicas, c o m o , por e x e m p l o , a cerámica d o s indios brasileiros (trabalho que, s o b minha ohentação, conthbuiu para diversas teses); para o desenvolvimento d e pesquisas c o m niobio, u m matehal supercondutor (o Brasil era u m grande produtor d e niobio, na cidade de Araxá). E assim p o r diante, tínhamos que enfrentar qualquer desafio e achar a solução para o s p r o b l e m a s ! P: Como os membros da instituição reagiram a esse incidente? R: Q u a n t o a e s s a pergunta, já está respondida na m e d i d a e m q u e relatei que, a cada problema, o s m e m b r o s d a instituição s e u n i a m e m busca d e soluções a p r o p n a d a s para resolvê-los. Houve p e q u e n o s incidentes negativos, porém, nada que tivesse relevância para ser relatado. P: Sob seu ponto de vista, o que permanece na instituição dessa fase? R: O Reator I E A R - 1 , q u e teve o h g e m c o m o Prof. Marcello D a m y ; o grupo d o Dr. Paulo Saraiva T o l e d o , q u e tocou a s pesquisas c o m reatores; a Radiofarmácia c o m a D r a . Constância d o grupo d o Prof. Fausto Lima. Esses grupos d e pesquisadores f o r a m o s precursores e m suas áreas n o I P E N , e a g r a n d e maioha deles já s e a p o s e n t o u , c o m exceção d a Dra. Constância. E m t e r m o s d e Infra-estrutura no período d e gestão d o Prof. Pieroni. O prédio d a e n g e n h a h a química foi construído u m p o u c o d e p o i s , contou c o m trabalho e dedicação d o Prof. Alcídio Abrão, pesquisador q u e ainda continua trabalhando n o I P E N (apesar d e estar a p o s e n t a d o ) . N o s últimos a n o s d e gestão do Prof. Pieroni, o s recursos já estavam mais e s c a s s o s , e por esse motivo a s construções f o r a m s e n d o m e n o s freqüentes. P: Na sua opinião, quais são os principais valores que orientam a vida da instituição? 317 R: A competência e a dedicação s e m p r e existiram n o s g r u p o s d e pesquisadores do i P E N . N o m e u grupo, por exemplo, todos tiveram g r a n d e avanço n a vida profissional, graças a o alto nível d e competência q u e s e m p r e d e m o n s t r a r a m ter. N e m todos ficaram n o I P E N , m a s m e s m o atuando e m outras instituições, soube que tiveram s u c e s s o . A superação d e desafios s e m p r e foi u m a caracteristica comportamental d a organização. T o d o s e s s e s valores contribuíram para a projeção d o n o m e d o IPEN, nacional e internacionalmente. A competência é f u n d a m e n t a l ! O indivíduo que não tem competência está perdido! O IPEN ainda t e m pesquisadores muito competentes. P: Qual a razão de ser da instituição? R: A razão principal está associada à importância q u e a radiação t e m na vida cotidiana d a s p e s s o a s . S e ela é e x t r e m a m e n t e perigosa por u m lado, por outro lado, s a b e n d o utilizá-la, s o m o s beneficiados. O s benefícios estão presentes e m todas a s áreas d e atuação d o I P E N . Seja n a s aplicações industriais e d e engenharia, n a s áreas d e caractehzação d e matenais, n a área d e saúde e biotecnologia, na medicina nuclear, física nuclear e radioquímica; no monitoramento e diagnósticos ambiental; n o tratamento d e lixo; produzindo e prestando serviços à s o c i e d a d e brasileira. U m a outra missão d a s mais Importantes d o IPEN é a formação d e seus recursos h u m a n o s . A pós-graduação d o IPEN n a área d e Tecnologia Nuclear t e m contribuído para o futuro d o país, e, por que não dizer, d o m u n d o . T o d o s d e v e m o s estar preparados para desenvolver reatores nucleares d e potência para a geração de energia. Por e n q u a n t o , o Brasil ainda dispõem d e energia hidroelétrica, m a s n o futuro essa energia será escassa. S e tivéssemos u n s três o u quatro reatores d e potência f u n c i o n a n d o b e m n o Brasil, não teríamos tido o s p r o b l e m a s energéticos que tivemos q u e enfrentar a b e m pouco t e m p o atrás. U m dia v a m o s ter que entrar pesado nessa área, e q u e m é que poderá f o r m a r todo e s s e contingente: o IPEN, que poderá suprir o m e r c a d o com o s recursos h u m a n o s p r e p a r a d o s para atuar na área d e reatores nucleares d e potência. O IPEN t e m prestado serviços muito importantes à sociedade e continuará a ter u m papel representativo, d e s d e q u e m a n t e n h a o nível d e competência d e s e u s pesquisadores. O I P E N progrediu e outros institutos 318 similares não progrediram n a m e s m a escala. O I P E N é u m instituto d a área nuclear q u e atingiu u m avanço muito g r a n d e ! P: O sr. atribui a supremacia do IPEN na área nuclear a quais fatores? R: O s outros institutos d a C N E N não c o n s e g u i r a m reunir gente c a p a z d e produzir, de buscar recursos, d e buscar c o n h e c i m e n t o s novos etc. N o IPEN s e m p r e t i v e m o s pesquisas d e phmeira linha. P e n a q u e só existe u m IPEN no Brasil, d e v e h a haver pelo m e n o s u n s dois o u três institutos c o m p e t e n t e s c o m o o IPEN na área nuclear com características multidisciplinares. P: Na sua opinião, quais valores seriam opostos àqueles que orientam a vida da instituição? R: Acredito q u e não existam valores opostos no I P E N . P: Como o sr. definiria as características principais da instituição? R: A s phncipais características são todas aquelas citadas anteriormente, isto ê, pesquisa e d e s e n v o l v i m e n t o e formação d e recursos h u m a n o s . Concluído o roteiro estruturado de perguntas, foi apresentado ao Prof. Shigueo o resultado da pesquisa de valores conduzida no IPEN em setembro de 2001. Sobre isso, a opinião do Prof. É a seguinte: C o m relação a o resultado d e sua pesquisa d e valores, poderia dizer o seguinte: • COMPETÊNCIA - E m primeiro lugar, não poderia ter sido apresentado u m resultado diferente desse. S e não houver competência, não adianta, inclusive, ter dinheiro. • QUALIDADE - E m s e g u n d o lugar, poderia dizer q u e é quase u m a conseqüência direta d a competência. • H I E R A R Q U I A - N o sentido orientador/aluno, acredito q u e ela deva ser natural, não d e v e ser imposta. H o u v e u m período n o I P E N q u e a hierarquia era exercida n u m sentido militar (não colocaria a hierarquia e m terceiro lugar). • PRODUTIVIDADE - Também é muito importante e está ligada à competência. C o m competência s e c o n s e g u e u m trabalho produtivo; 319 • EFICIÊNCIA - D e p e n d e mais d a organização d o instituto. A administração central d e v e ter eficiência n a condução d a sua gestão. • OBEDIÊNCIA - Está associada à liierarquia, • EFICÁCIA - S e u m trabalho ê realizado c o m competência e qualidade ele ê eficaz. O s objetivos f o r a m atingidos. No plano IDEAL, o s valores q u e d e v e n a m estar m a i s presentes no contexto organizacional: • H O N E S T I D A D E - S e o instituto começar a juntar g e n t e c o m pouca competência, t o d o s o s seus valores s e p e r d e m ! P o r e x e m p l o , a pessoa começa a produzir pouco, e para esconder u m a ineficiência pode vir a ser desonesta. • P L A N O D E C A R R E I R A S - Certamente ê importante, p o r q u e o funcionado d e v e ter incentivo para continuar sua carreira; • R E C O N H E C I M E N T O - Está associado a o d e s e j o d a coletividade e m ter o fruto d e s e u trabalho aceito. • P R O B I D A D E E H O N E S T I D A D E - D e p e n d e m d a s condições dadas pela instituição. • QUALIFICAÇÃO D O S R E C U R S O S H U M A N O S - S e não escolher bem o R H , não haverá competência. 320 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DR. SPERO PENHA MORATO Entrevista concedida em 04 de abril de 2001. P: Em quais circunstâncias foi criado o lEA? R: Q u e m meiiior poderia explicar o que a c o n t e c e u , todos o s fatos relativos àquele período, seria o Prof. Marcello D a m y , q u e viveu e participou d e todos os m o m e n t o s daquela época. Na mintia opinião, a s circunstâncias foram a s seguintes: naquela época, n a virada d a década d e 1950, o contexto vigente no país era d e grande nacionalismo. O Instituo d e Energía Atômica, o lEA, foi criado logo apôs a fundação d o Conselfio Nacional d e Pesquisas, o C N P q , pelo Almirante A l v a r o Alberto. Graças a expoentes como o Almirante A l v a r o Alberto e m u m ambiente totalmente nacionalista tivemos o inicio da criação d e organizações q u e p e r m a n e c e m até hoje no Brasil, tais c o m o o C N P q , a C N E N . Na realidade, a Comissão d e Energía Atômica começou existindo c o m o u m Departamento d e Energía Nuclear dentro do C N P q , e mais tarde, por razões políticas, tornou-se independente do C N P q . O l E A foi chado e m São Paulo e m decorrência d e u m forte m o v i m e n t o nacionalista e m prol d e São Paulo, o n d e pessoas c o m o o Prof. Marcello D a m y d e Souza Santos e outros físicos paulistas levaram o governador Jânio Q u a d r o e o presidente Juscelino Kubitschek a apoiar a instalação d o pnmeiro reator nuclear d e pesquisa, o I E A - R 1 , e m São Paulo. T e n d o à frente o Prof. D a m y , nasce então o Instituto d e Energia Atômica n u m clima d e grande eufoha e e n t u s i a s m o e m prol d o Brasil e das pesquisas nucleares que imperavam na época. T o d a s a s organizações q u e lidam c o m energia nuclear f o r a m chadas nessa m e s m a época, o l E A , e m São Paulo, a C N E N , no Rio d e Janeiro e o C D T N , e m Minas Gerais, q u e teve o ministro Israel V a r g a s c o m o u m d e seus chadores. O C D T N também nasceu e m decorrência do ambiente nacionalista e do espíhto mineiro, tendo c o m o ponto d e partida a s pesquisas desenvolvidas com o Tóho, u m dos elementos phncipais d a energia nuclear. Graças a pessoas c o m o o Prof. Marcello D a m y , q u e acreditava que poderíamos desenvolver energia nuclear c o m tecnologia própha e q u e ela lha solucionar o s problemas d e fonte energética brasileira é q u e se deu a chação do C0M5SÂ0 mam. m m¡m mamiP-tPíú 321 lEA. Importante mencionar também q u e , e m t e r m o s mundiais, iniciava-se o p e n o d o d e g r a n d e desenvolvimento tecnológico, e e m especial s o b o ponto d e vista energético. N e s s e contexto d e impulso nacional e mundial, brasileiros c o m o o s que já foram mencionados acima davam início ás g r a n d e s pesquisas e à institucionalização d a ciência. Pesquisadores c o m o o Prof. D a m y e outros d e s u a geração d e r a m início a o q u e hoje c o n h e c e m o s como o INSTITUTO DE P E S Q U I S A S ENERGÉTICAS E N U C L E A R E S , o I P E N , instituição q u e entrou para a históha nacional e internacional c o m a construção no pnmeiro reator d e pesquisa d a Améhca Latina. A institucionalização d a ciência s e f a z sentir também, e m termos d e Améhca Latina, n a Argentina, o n d e foi chado o Instituto Balseiro, localizado na cidade d e B a h i o c h e , f u n d a d o pelos Ingleses. O contexto mundial d e pós-guerra começava a requerer dos países o desenvolvimento d a ciência e tecnologia para sua viabilização econômica, e assim s e d e u o início d o período capitalista. O I P E N entrou para a históha mundial antes d e muitos outros países, c o m o , por e x e m p l o , o México, o n d e não houve a preocupação dos pesquisadores e d o s g o v e r n a n t e s c o m a institucionalização d a ciência n o sentido d e propiciar o d e s e n v o l v i m e n t o c o m pesquisas e tecnologias próphas. U m outro fato importante a ser ressaltado é a visita q u e o físico Albert Einstein f e z a o Brasil. Naquela época, físicos brasileiros c o m o o Damy, q u e c h e g a v a m d o extehor após a conclusão d e s e u s doutorados, e s t a v a m c o m suas idéias e s t a v a m ainda fervilhando. Muitas descobertas e s t a v a m s e n d o feitas, c o m o , por e x e m p l o , àquelas tendo a energia nuclear c o m o fonte d e geração d e energia elétnca. T o d o s esses fatos a c o n t e c e r a m logo depois d a explosão d a b o m b a atômica! O l E A n a s c e u no c a m p u s d a U S P , o n d e tudo e r a u m a g r a n d e várzea, u m a grande f a z e n d a , o n d e não havia nada! E graças a brasileiros c o m o o D a m y e outros físicos d e São Paulo foi c h a d o o lEA. P: Além dos pesquisadores já citados, quais outros o sr. apontaria como participantes dessa época? R: N a realidade, o papel d o s paulistas foi f u n d a m e n t a l . P o s s o citar: o governador Jânio Q u a d r o s , q u e apoiou a cnação d o instituto; o Dr. Ivan C u n h a Nascimento, 322 do Instituto d e Física d a U S P , q u e participou d a fundação d o l E A e foi m e u professor. A Universidade d e São Paulo, fundada e m 1934, possui a s marcas d e um contexto fiistórico, e m q u e importantes transformações sociais, políticas e culturais tiveram lugar a o longo d e s s e s anos. Havia alguns militares q u e s e p r e o c u p a v a m c o m o desenvolvimento d a tecnologia n o c a m p o d a aeronáutica. Foi assim que o ano d e 1950 culminou c o m a criação d o ITA, Instituto Tecnológico d e Aeronáutica. A Escola Politécnica d e Engenharia foi c h a d a n o a n o d e 1893. A s guerras, d e u m m o d o geral, por incrível q u e possa parecer, impulsionam o d e s e n v o l v i m e n t o tecnológico d o s países. C o m o por e x e m p l o , a Guerra d o Golfo, q u e serviu para testar u m a séhe d e novas a r m a s . S e você assistiu a o filme 2 0 0 1 ' Uma odisséia no espaço, você certamente deve se lembrar d a q u e l a cena e m q u e o m a c a c o pega u m fêmur e percebe que, a o bater c o m a q u e l e pedaço d e fêmur na cabeça d e s e u a d v e r s a d o , c o n s e g u e matá-lo. Então, a guerra é isso. N o s m o m e n t o d e turbulência c h a m - s e armas e tecnologias e a r m a m e n t o s são desenvolvidos; n a paz, o s h o m e n s c h a m o s institutos! O Instituto d e Física d a U S P s e m p r e foi n o s s o parceiro. O Laboratóho Betatrón foi instalado no Instituto d e Física, o n d e havia u m g r a n d e esforço pelo desenvolvimento d e pesquisas nessa área. Aliás, havia u m m o d i s m o ligado a e s s a s pesquisas naquela época. A s s i m , além das p e s s o a s citadas, posso incluir também o s professores Y u d a David G o l d m a n , q u e era d o conselho d o IPEN e Fausto Lima. N a realidade, as pesquisas não s e d e s e n v o l v e r a m s o m e n t e por meio d e e s t u d o s d e física; a química também é importante. P o r e x e m p l o , a química d a água; o s radioisótopos e n v o l v e m não só aplicações d e física c o m o d e química, também. P: Quais os fatos críticos que nnarcaram a instituição? R: U m a p e s s o a muito m a r c a n t e e d e personalidade na históha d o IPEN foi o Dr. Pieroni, q u e p e r m a n e c e u durante 17 a n o s na instituição. D e s d e a fundação d o lEA, tivemos alguns h o m e n s q u e m a r c a r a m a instituição, h o m e n s c o m o o Prof. D a m y , o Dr. Cintra, o Dr. Pieroni. Depois tivemos ( h o m e n s q u e exerceram o cargo d e superintendente) o Dr. A m o r i m , o Dr. Durvaldo, o Dr. Claudio, o Spero e o Claudio n o v a m e n t e (nas três últimas gestões). 323 Diria q u e o primeiro fato importante e q u e m a r c o u a instituição foi a demonstração d e q u e podíamos fazer radioisótopos. E, nesse p a p e l , o Dr. Fausto Lima teve u m a importância muito g r a n d e devido a radioquímica, b e m c o m o a Prof^ Constância. Não m e lembro e x a t a m e n t e q u a n d o c o n s e g u i m o s produzir o s primeiros radioisótopos, m a s o s primeiros radioisótopos produzidos n o Brasil provaram a n o s s a competência, q u e poderíamos desenvolver a medicina nuclear. O fato d e p r o d u z i r m o s radioisótopos e radiofármacos nos deu u m a independência muito g r a n d e ! A partir daí, toda a medicina nuclear teve u m impulso e u m desenvolvimento e n o r m e , pois descobrimos q u e poderíamos irradiar, tratar câncer, esterilizar, tudo graças aos radioisótopos e a o I P E N . Após a fundação d o lEA, a produção d e radioisótopos foi u m marco e x t r e m a m e n t e importante para o instituto! Vários outros marcos se seguiram n o período d o Dr. Pieroni. Posso citar vários outros m a r c o s , c o m o , por e x e m p l o , a produção d e U F 4 e depois a produção d e U F 6 (você deverá obter todos esses d a d o s e fatos c o m o Prof. Alcídio Abrão, q u e irá entrevistar). A i n d a n o período d o Pieroni, posso citar outro g r a n d e m a r c o , que foi a criação d a pós-graduação d o IPEN e m 1976. O s fatos q u e c u l m i n a r a m c o m a criação d a pós f o r a m o s seguintes: estávamos n u m a universidade, m a s devido à política militar vigente no país, tiavia no I P E N u m a política m u i t o f e c h a d a . E m contrapartida, n a universidade havia u m a política muito m a i s liberal. Então o pessoal d o I P E N q u e queria continuar seus estudos precisava fazer o mestrado e/ou d o u t o r a d o n a P O L I , por e x e m p l o , m e u mestrado foi h o m o l o g a d o n a P O L I . N o período d e 1970 a 1974, continuamos n o s s o s e s t u d o s n a POLI o u na U N I C A M P , c o m o foi o caso Dr. Claudio e o Dr. Fúlfaro, q u e fizeram o doutorado n a U N I C A M P orientados pelo Prof. D a m y . Depois d o doutorado na U N I C A M P , o Claudio, por e x e m p l o , foi para o C A L T E C fazer o pós-doutorado, e lá n o s e n c o n t r a m o s . Q u a s e todos nós continuamos nossos e s t u d o s no exterior devido a o g r a n d e estímulo d o Prof. Pieroni. N e s s e contexto, o Prof. Shigueo Watanabe, u m físico, foi u m a pessoa muito importante n a formação d o s profissionais d o I P E N . Muitos d e nós f o m o s crias dele, q u e e r a u m grande incentivador e orientador d e pessoas, c o m o por e x e m p l o , d a Dra. Linda Caldas; foi ele q u e m estimulou e contribuiu para q u e u m a série d e p e s s o a s d o IPEN saísse para continuar seus estudos no exterior. Portanto, o s professores 324 W a t a n a b e e Pieroni contribuíram e x t r e m a m e n t e para a formação d e u m a b o a m a s s a crítica n o I P E N , pessoas q u e a o retornarem d e s e u s estudos n o exterior foram o s g r a n d e s orientadores e f o r m a d o r e s d e outras p e s s o a s aqui d o I P E N . A s s i m a s coisas a c o n t e c e m : Dá-se uma ebulição... cria-se o reator, depois dá-se uma outra ebulição, produz-se os radioisótopos, depois mais outra ebulição e... Como já havia um grande número de doutores com boa formação, pessoas como o Claudio, o Fúlfaro, o Parente, a Olga, o Bianquine e eu, ao atingirmos uma massa crítica, criou-se a pós-graduação. Fizemos um curso de mestrado e outro de doutorado em Ciência e Tecnologia Nuclear, duas áreas de concentrações que permanecem até hoje no IPEN... Éramos todos p e s s o a s c o m G A R R A , p e s s o a s q u e arregaçavam a s m a n g a s e c o l o c a v a m a mão n a massa para fazer a s coisas a c o n t e c e r e m . Esse fato talvez contribua para q u e você possa entender p o r q u e a s coisas são assim até hoje no I P E N ! P: Após o ano de 1976, que outros fatos foram importantes? R: Depois d a chação d a pós-graduação, j u n t a m e n t e c o m a s pesquisas e m d e s e n v o l v i m e n t o e todas a s t e s e s defendidas n o instituto, u m a outra ebulição começava a acontecer. A s negociações c o m a W e s t i n g h o u s e para a construção de A n g r a 1 e, e m paralelo, a s negociações c o m a A l e m a n h a para c o m p r a r m o s u m pacote c o m p l e t o d e construção d e 30 usinas nucleares (que depois o pacote veio a contemplar 16 usinas, depois caiu para oito e hoje, t e m o s s o m e n t e u m a . Angra 2), talvez u m dia v e n h a m o s a construir A n g r a 3. T o d o a q u e l e entusiasmo d o s militares resultou n a construção d e A n g r a 2, c o m 1.300 M\N, e é u m a usina Alemã! V a m o s a o s fatos: o Dr. Pieroni, q u e era u m g r a n d e entusiasta e u m a pessoa lutadora, nos dizia s e m p r e : p o d e m o s contribuir c o m o desenvolvimento d o país f a z e n d o combustível nuclear. P o r q u e v a m o s c o m p r a r u m pacote completo dos alemães s e p o d e m o s , c o m o s pesquisadores q u e t e m o s aqui e m São Paulo, realizar p e s q u i s a s q u e n o s t r a g a m benefícios? Então, no a n o d e 1980, c o m o prêmio d e consolação, e também devido às inúmeras idas d o Pieroni à Brasília para negociar c o m o ministro Delfim Neto, c o n s e g u i m o s a verba q u e n o s propiciou d e s e n v o l v e r a s pesquisas q u e resultaram n o hexafluoreto d e urânio. 325 O a n o d e 1987 foi u m marco. P o r q u e 1987 foi m a r c a n t e ? Porque e m a l g u m lugar c o n s e g u i m o s fazer o hexafluoreto d e urânio. Então, u m outro grande m a r c o na históha d o lEA foi a inauguração d o P R O C O N (Projeto Combustível). Lá f o r a m desenvolvidas a s p h m e i r a s células d e U H F 6 (hexafluoreto d e urânio). Tínhamos o gás para fazer o enriquecimento d o urânio para nosso reator e podíamos fazê-lo o u por laser, e é a i q u e entram a s m i n h a s pesquisas, o u por ultra-centhfugação. Então o P R O C O N foi f u n d a m e n t a l para se chegar a o combustível. Aí t e m outras coisas que também são interessantes, c o m o o urânio IVIetálíco; não s e i s e a s p e s s o a s g o s t a m d e falar disso, isso d e u u m a Independência e n o r m e para a gente, m a s isso aqui está t u d o perdido hoje e m dia. O urânio metálico, por e x e m p l o : o grande interesse não é a s u a utilização militar, m a s , sim, a s u a utilização e m contêineres. O u seja, b l i n d a g e m ! O s subprodutos desse projeto, o P R O C O N , f o r a m o hexafluoreto d e urânio e o urânio metálico, q u e p a s s o u a ser usado e m b l i n d a g e m . D a i para frente, depois d o hexafluoreto, a c h o q u e outro m a r c o f o i , digamos assim, o IPEN ter e m b a r c a d o no p r o g r a m a d e ultracentrifugas j u n t a m e n t e c o m a M a h n h a e a C O P E S P , e todo e s s e projeto foi desenvolvido no I P E N , n u m a parte cedida p o r q u e tinha q u e s e r secreto, m a s c o m todos funcionados d o I P E N . Então, e m 1987, n a época d a phmeira gestão d o Claudio, deu-se a separação isotópica d o urânio por ultra-centhfugação. Ficou d e m o n s t r a d o q u e éramos c a p a z e s d e fazer a separação isotópica, e c o m esse feito e n t r a m o s para u m clube pequeno, d e a p e n a s cinco países, q u e foram capazes d e fazer a separação isotópica. Portanto, e m 1987 aconteceu u m outro fato importante n a área nuclear e n a história d o I P E N . D e s s e período e m diante, as coisas f o r a m mais conseqüência d e políticas q u e v i n h a m sendo traçadas desde o p a s s a d o , d a formação d e pessoal e outras políticas. A mudança d o n o m e d o l E A para I P E N surgiu d a necessidade d e se buscar n o v o s c a m i n h o s para a s pesquisas. E m 1984 d e s e n v o l v e m o s o phmeiro laser c o m o objetivo d e utilizá-lo tanto para separação isotópica c o m o para fazer o b a l a n c e a m e n t o d a centrífuga, e c o m isso começamos a desenvolver mais largamente a área d e laser n o instituto. Houve u m a disputa política entre a Marinha e a Aeronáutica e m torno d a s pesquisas c o m o laser, e a Aeronáutica ficou c o m o s lasers e o I P E N ficou c o m o grupo d e lasers, a s p e s s o a s não se transferiram. E r a t u d o feito aqui n o IPEN, separação por centrífuga e separação por laser, e r a t u d o secreto. Depois, o 326 projeto d e lasers foi transferido para São José d o s C a m p o s , para a Aeronáutica, e o projeto d a s centrífugas ficou c o m a IVIarinha. E e m 1987 ocorreu a separação isotópica. Considero e s s e u m marco! T e v e u m a outra coisa importante que foi o primeiro reator d e potência zero, o R P Z , instalado e m 1989. Foi u m outro m a r c o importante para o I P E N , q u e a c o n t e c e u antes d a entrada do ex-presidente Collor. A partir d e 1990, o IPEN perdeu muito d a s u a personalidade c o m a abertura d a e c o n o m i a , imposta pelo então presidente Collor d e IVIello. Esse fato prejudicou o desenvolvimento d o país, pois muitas coisas p o d i a m ser feitas aqui e e r a m c o m p r a d a s . H o u v e a intenção d e se privatizar tudo, m a s depois eles retrocederam. U m outro fato q u e m a r c o u o I P E N , e d e s s a feita negativamente, foi u m a mudança d o o r g a n o g r a m a d a C N E N . A partir d e 1990 p a s s o u - s e a d a r u m a g r a n d e ênfase à administração pública das organizações. A administração passou a ter prioridade multo g r a n d e ante a s áreas f i m . Essa estrutura foi e x t r e m a m e n t e deletéria para o I P E N , e e u tive q u e enfrentar e s s a estrutura, a administração que é u m a atividade m e i o p a s s o u a ter equivalência e a ter p e s o igual às atividades fim! Até hoje a gente sente isso n o IPEN! A t u a l m e n t e o I P E N possui 10 centros d e excelência. E o q u e são o s centros? São o s g r a n d e s geradores d e c o n h e c i m e n t o s , o n d e a s pesquisas são desenvolvidas. U m a estrutura administrativa p e s a d a q u e dá u m a relevância muito g r a n d e a s atividades meio, v e m marcar negativamente o I P E N e a e m p o b r e c e r a s áreas f i m . Essa estrutura c o m relevância na administração também prejudicou e e n c a m i s o u a área orçamentária d o I P E N . Esse foi u m a c o n t e c i m e n t o crítico q u e ocorreu no I P E N . O período entre 1990 e 1995 foi muito difícil! Durante a minha gestão, a receita d o IPEN cresceu bastante. N o m e u período como superintendente d o I P E N , também houve u m incentivo muito g r a n d e à pesquisa científica, p a s s a m o s d e 2 0 0 artigos por a n o para 5 0 0 artigos internacionais por a n o . M e u papel m a i s importante c o m o superintendente d o I P E N foi o d e incentivar o d e s e n v o l v i m e n t o d a s pesquisas científicas, pois não podíamos realizar outros grandes feitos devido às circunstâncias políticas d a época. D e lá para cá, u m outro marco importante foi a criação d o C I E T E C e m 1996/97, e q u e começou a f u n c i o n a r e m 1998. 327 P: Lembra-se de acontecimentos que provocaram à instituição problemas para os quais ela não dispunha de solução apropriada? Como reagiram os membros da instituição a esses incidentes? R: A estrutura(que ibrganizacional d a C N E N e d o I P E N : e u s e m p r e fui contra. A direção d a C N E N é muito rígida e muito míope c o m relação a esse ponto. O I P E N , por outro lado, é maior q u e a C N E N , então há u m a inversão: o maior s e n d o administrado pelo m e n o d Então e u acho q u e e m a l g u m m o m e n t o essa situação deve ser m u d a d a . O IPEN sofre as conseqüências d o encamisamento administrativo iniciado n a era Collor até hoje, 10 anos depois. P: Na sua opinião, qual é a razão de ser da instituição? Sua missão continua a mesma desde a época da fundação? Se não, o que mudou? R: A missão é a m e s m a , o u seja, geração d e c o n h e c i m e n t o , aplicação d e c o n h e c i m e n t o s , d e maneira q u e essas coisas todas resultem e m melhores condições d e vida para a população brasileira. Esse é o papel d a instituição. Então você forma o s recursos h u m a n o s para gerar c o n h e c i m e n t o s , e os conhecimentos vão s e transformar e m radiofármacos, e m aplicações, e m matehais, e m tecnologias q u e irão gerar benefícios para a população. A m a s s a crítica f o r m a d a c o m a s pesquisas desenvolvidas pelo p e s s o a l d a área d e matehais está no m e s m o estágio d e desenvolvimentos e m t e r m o s mundiais. Hoje o I P E N está m a i s moderno, m a s a missão continua a m e s m a . E u diha o seguinte: o Pieroni, n a s u a ânsia d e fazer as coisas a c o n t e c e r e m no IPEN, c h o u u m m o n t e d e fábrica aqui dentro e isso envolvia atividades muito perigosas. Por e x e m p l o , nós f a z e m o s radioisótopos aqui, m a s não s e i s e aqui é o melhor locar para s e desenvolver tais atividades; m a s , c o m o ele, o Pieroni, não queria q u e fosse feito longe dele, então o f e z aqui! O I P E N é u m a instituição de pesquisa, e a missão primordial é pesquisar. P: Na sua opinião, quais foram os principais valores que orientaram a vida da instituição no passado? Eles continuam tendo o mesmo grau de importância nos dias de hoje? R: E u a c h o q u e é a realização, e u acho q u e é o desafio d e você conseguir fazer a s coisas a c o n t e c e r e m . O s valores são esses, pesquisar e publicar; são esses o s valores d o s p e s q u i s a d o r e s . Hoje, acredito q u e esses valores ficaram mais 328 diluídos pelo fato d e haver u m a distorção administrativa/organizacional c o m o a que citei a c i m a , muito p e s o para a administração; e s s e s valores ficam mais a b a f a d o s pela pressão administrativa e pelo erro estrutural q u e existe hoje. M a s os valores estão aí. A integridade, a busca d a v e r d a d e , a busca conhecimento, esses são o s valores básicos existentes pelo no IPEN. Um administrador não t e m e s s e s valores, o papel dele é tocar o dia-a-dia d a e m p r e s a , da organização. O pesquisador, pelo contrário, não liga para o horário d e trabalho; a qualquer hora q u e você for a u m laboratório encontrará u m pesquisador. E s s e é o valor básico d a instituição: o s valores d o s pesquisadores, e não o s valores d o s funcionários d a administração. Infelizmente e u a c h o q u e não são o s m e s m o s ; e s s e s valores s e c o n f u n d e m u m p o u c o , eles a s s u m e m papéis q u e não d e v e r i a m assumir. O s valores básicos f u n d a m e n t a i s são o s valores d e p e s s o a s c o m o o Nilson, c o m o a Sônia, o Ambrósio, o Reginaldo Muccillo, o próprio Maiorino e o Fúlfaro, q u e f o r a m grandes pesquisadores. T o d o s eles são p e s s o a s q u e têm valores básicos f u n d a m e n t a i s q u e vão transmitindo a seus orientandos, d e pessoa para pessoa. Porque n a geração d e c o n h e c i m e n t o , na geração d e ciência, e s s e s valores p a s s a m . Q u a n d o você orienta u m aluno na pós-graduação, n a elaboração d e u m a tese, e s s e s valores p a s s a m . Q u e valores o s administradores p o d e m transmitir? N e n h u m . A p e s a r zelar pela coisa pública, pela "res" pública, daí q u e surgiu a palavra república. P: Quais valores, na sua opinião, seriam opostos àqueles que orientam a vida da instituição? Poderia citá-los? R: O s valores deletérios são o s valores d o s administradores, e isso gera u m conflito muito g r a n d e . O s valores opostos são aqueles contrários a o s valores acadêmicos d o s pesquisadores. A cultura d o funcionário público, a burocracia, o entrave d a s leis q u e e m p e r r a m o desenvolvimento d a s pesquisas, c o m o por e x e m p l o , a s leis d e importação. A origem d o s p r o b l e m a s , e u diria, está n o o r g a n o g r a m a d a C N E N , q u e permitiu q u e a s atividades m e i o t i v e s s e m peso igual ao das carreiras d e pesquisador. P: Como você definiria as características principais da instituição? R: A garra, a v o n t a d e d e vencer, a competitividade, a combatividade, a competência. F a z e m o s , e f a z e m o s b e m . São essas a s principais características. 329 U m a outra coisa importante é que os últimos superintendentes d o IPEN foram p e s s o a s oriundas da casa. A escolha de dihgentes para a casa é u m ponto importante! 330 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. A J Z E N , ICEK & F I S H B E I N , M. Understanding attitudes and socialbetíavior. E n g l e w o o d Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1980. predicting 2. A L B E R T , E. & K L U C K H O H N , C. Values, ethics and esthetics. Glencoe; Free Press, 1959. 3. A L M E I D A , R. A construção de São Paulo, n°2101, p. 10-13, 1988. 4. A L V E S , R. N. Programa Nuclear Brasileiro. Trabalho apresentado à Subcomissão dos Direitos Políticos, dos Direitos Coletivos e Garantias d a Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias d o H o m e m e da Mulher d a Assembléia Nacional Constituinte, Maio 1987. (BR 9 1 2 5 4 4 3 , INIS-BR - 2389). 5. A L V E S , S. Revigorando a Cultura da Empresa. São Paulo, Makron Books do Brasil, 1997. 6. A L L P O R T , F.H. 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