COMPORTAMENTO DE COMPRA DOS PRODUTORES COM RELAÇÃO A FERTILIZANTES FOLIARES* Ricardo Messias Rossi1 Marcos Fava Neves2 Dirceu Tornavoi de Carvalho3 Resumo O presente trabalho, de natureza exploratória e qualitativa, visa caracterizar o processo de decisão de compra pelos citricultores paulistas em relação a fertilizantes foliares. Foram analisados distintamente os pequenos, médios e grandes citricultores, em relação aos cinco estágios básicos do processo de decisão de compra individual: reconhecimento do problema, busca de informações, avaliação de alternativas, decisão de compra e comportamento póscompra. Foi observada a dificuldade dos citricultores em reconhecer os objetivos e mensurar os resultados de um tratamento com fertilizantes foliares. Termos de indexação: Citricultura; gerenciamento Agrícola; adubação. Summary BUYING PROCESS CHARACTERISTICS OF CITRUS GROWERS FROM SÃO PAULO STATE RELATED TO FOLIAR FERTILIZERS The main target of the present article, which is exploratory and qualitative, is to give an overview of the buying process of the citrus growers from Sao Paulo State related to foliar 1 Mestrando em Administração de Empresas pela FEARP-USP. Pesquisador do PENSA ([email protected]). Professor de Marketing e Estratégia da FEARP/USP. Pesquisador do PENSA (www.fearp.usp.br/fava) 3 Professor de Marketing da FEARP/USP ([email protected]) 2 )!) # %#* - )!) /" # +" ,)" " # !0 + )! ! " #$ %" &# #' ( - #". ! % 12 # 34 4562 1337 34314538 fertilizers. Small, medium and large growers were analyzed considering the five basic steps of individual buying process: need arousal, information search, evaluation behavior, purchase decision and post purchase feelings. It was noticed the difficulty of the Citriculturists to recognize the targets and measure the results of foliar fertilizer applications. Index terms: Buying process; citriculture; foliar fertilizers. I. Introdução A citricultura é atividade rural de suma importância para a agricultura e a economia brasileira. O Estado de São Paulo acolhe o maior número de citricultores do país (cerca de 87%), esses podem ser divididos em pequenos, médios e grandes proprietários rurais. Para Smith (1971), existem três possibilidades de classificação das propriedades agrícolas em função do tamanho: o minifúndio ou microfúndio, o latifúndio e a unidade média agrícola. O agricultor de tamanho médio exerce as três funções econômicas básicas, isto é, as de capitalista ou empresário, administrador e trabalhador. Já para Procópio (1997), os antigos parâmetros de tamanho de propriedade e estrutura do patrimônio, cedem espaço ao novo parâmetro de produtor que agrega ou não eficiência ao sistema, determinando a profissionalização como a nova concepção do produtor rural. Com mais de um milhão de hectares de plantas cítricas em seu território, o Brasil tornouse, na década de 80, o maior produtor mundial. Grande parte da produção brasileira de laranja destina-se à indústria do suco, localizada no Estado de São Paulo, responsável por 70% das laranjas e 98% do suco que o Brasil produz (ABECITRUS, 2003). O setor, tal como praticamente todos no agronegócio, tem ciclos de alta e de baixa rentabilidade. Em 2001 o Brasil colheu a menor safra de laranja dos últimos dez anos, devido à descapitalização dos produtores, associada aos efeitos da seca de 1999/2000 e problemas 2 fitossanitários crescentes, que contribuíram para que a erradicação (diminuição da área plantada em torno de 17% em relação a safra anterior) de árvores atingisse quantidade recorde (FNP, 2002). Essas adversidades, principalmente na segunda metade da década de 90, aceleraram a concentração da produção, tornando obrigatória à profissionalização dos citricultores. A transformação do antigo “fazendeiro” em “empresário rural” é questão de sobrevivência e dessa forma é muito importante desenvolver e aplicar técnicas de gerenciamento agrícola. O aumento da exigência dos consumidores mundiais por qualidade dos produtos alimentícios em geral é um fato constatado. Os citricultores, principalmente aqueles que enviam seus frutos para o mercado in natura, procuram a melhoria das características de seu produto. Um importante fator no processo produtivo para conseguir excelência dos frutos cítricos é a nutrição vegetal. A adubação foliar vem sendo destacada como prática fundamental para obtenção de qualidade diferenciada (o nutriente potássio vem sendo relacionado com a espessura da casca dos frutos, o boro com o grau fertilização das flores, o nitrogênio com a formação de nova “vegetação” nas plantas, entre outros). Creste (2000), ressalta que a manutenção de uma “ótima” nutrição vegetal auxilia na melhoria da qualidade dos frutos nos seguintes aspectos: uniformidade da coloração, peso, maior tempo de prateleira, espessura de casca, entre outros quesitos. Responsável por cerca de 17% do orçamento total da atividade rural citrícola (GHILARDI et al, 2001), a adubação (via solo e foliar) tem sido considerada como fundamental para atingir alta produtividade e conseqüente maximização dos lucros. A adubação foliar pode ser definida como a aplicação de nutrientes vegetais na parte aérea das plantas. Esta prática é comum no manejo cultural de plantas cítricas e vem se desenvolvendo, em termos de volume de produto aplicado, muito nos últimos anos. O aumento da demanda por fertilizantes foliares em diversas culturas agrícolas tem incentivado a instalação de empresas nacionais e multinacionais no setor. 3 Se por um lado a adubação foliar pode ser um fator positivo no processo produtivo, por outro, a falta de conhecimento e definição sobre técnicas e produtos mais adequados para essa prática podem ser desvantajosos. Segundo Green (1997), a pressão do mercado consumidor em exigir mutuamente qualidade e diminuição de custos leva o produtor a minimizar os valores agregados inúteis que aumentam os custos sem trazer vantagens ao produto. É fundamental analisar o comportamento do produtor rural em relação à adubação foliar, uma vez que, ainda existem muitas controvérsias (época e número das aplicações, dosagens, fontes de nutrientes, resultados esperados, entre outros) e “pontos” a serem explorados em relação a este emergente mercado. O presente trabalho está mais focalizado nos pequenos e médios produtores, por acreditar que a diferenciação do produto seja muito importante para estes como alternativa para acréscimo da lucratividade e a viabilização da manutenção de sua atividade. O processo de tomada de decisão pelo consumidor individual é constituído pelo reconhecimento do problema, busca de informações, avaliação de alternativas, compra e experiência pós-compra. Estes cinco estágios estão propostos em textos de Kotler (1998), Czinkota et al (2001), Etzel et al (2001) e Sheth et al.(2001). Após comprar um produto, o consumidor experimenta algum nível de satisfação ou insatisfação (Kotler, 1998). O presente artigo visa caracterizar o processo de decisão de compra por parte dos citricultores em relação a fertilizantes foliares. Por meio de instrumentos de pesquisa foram caracterizados os citricultores, o processo de decisão de compra e preferências desta classe de produtores agrícolas. Os objetivos específicos do estudo são encontrar semelhanças e diferenças entre as classes de citricultores (pequenos, médios e grandes) em relação às etapas do processo de decisão de compra, para direcionar as estratégias empresariais. 4 II. Material e Métodos Foram levantados aspectos gerais do processo de decisão de compra pelos citricultores em relação a fertilizantes foliares para, que a partir desses conhecimentos, pudessem ser entendidos melhor o comportamento de compra desses produtores rurais. Para atingir os objetivos propostos para esse trabalho, foi escolhida a utilização da pesquisa exploratória. As análises realizadas são provenientes de dados primários obtidos por meio de entrevistas com trinta citricultores paulistas, utilizando-se um questionário contendo questões abertas e fechadas. O Estado de São Paulo abriga a grande maioria dos produtores de laranja e das indústrias de extração de suco do País. As indústrias (Sucocítrico Cutrale Ltda., Citrosuco Paulista S.A., Citrovita Agro Industrial Ltda., Cargill Citrus Ltda., LouisDreyfus Citrus S.A. e outras) além de extratoras de suco, possuem pomares próprios responsáveis por cerca de um terço da produção cítrica do Brasil. Como o objetivo do presente trabalho é analisar o processo de decisão de compra individual e não o empresarial, foram descartadas as entrevistas com representantes das indústrias, por apresentarem comportamento de compra claramente empresarial. Dessa forma o interesse ficou restrito ao universo dos produtores de citros individuais, sendo que se enfatizou os pequenos e médios produtores. Em seqüência foi definida, por critério de conveniência para os pesquisadores, a área do estudo. O estudo foi realizado com trinta citricultores paulistas das regiões de Olímpia, Bebedouro, Taiúva, Taiaçu, Jaboticabal, Borborema, Itápolis, Pirangi, Potirendaba e Ibitinga. Foram entrevistados grandes, médios e pequenos produtores. As regiões foram escolhidas por meio do critério de conveniência de acesso para os autores e devido a essas localidades possibilitarem a pesquisa de produtores das diferentes classes. Além do mais, essas localidades estão bem distribuídas na região citrícola do Estado de 5 São Paulo. O estudo realizado teve caráter exploratório e qualitativo, não havendo a preocupação de selecionar uma amostra de tamanho significativo. O questionário utilizado nas entrevistas era dividido em quatro partes: caracterização do produtor (10 questões), aspectos relacionados aos veículos de informação utilizados (5 questões), aspectos relacionados aos canais de distribuição de insumos agrícolas utilizados (10 questões) e aspectos técnicos sobre fertilizantes foliares (16 questões). As entrevistas foram conduzidas pessoalmente pelos autores, em uma única etapa, por meio de visitas as propriedades rurais. Em todos os casos foi entrevistado o “dono” da propriedade. A gama de informações coletadas propiciou a analise de aspectos relacionados as cinco etapas do processo de decisão de compra: reconhecimento do problema, busca de informações, avaliação de alternativas, compra e experiência pós-compra. No presente estudo foram considerados pequenos citricultores aqueles que possuíam na data da entrevista um número igual ou inferior a 10.000 plantas cítricas. Médios citricultores aqueles com pomares contendo de 10.001 até 100.000 plantas e, finalmente, grandes citricultores aqueles com mais de 100.000 plantas cítricas em sua (s) propriedade (s). Foram entrevistados dezessete pequenos produtores, onze médios e dois grandes. III. Resultados e Discussão 3.1. Reconhecimento do problema As empresas produtoras de fertilizantes foliares promovem a utilização de seus produtos baseadas em aspectos técnicos originários de pesquisas geradas tanto por universidades como por centros de estudos oficiais e privados, sendo o principal aspecto aquele relacionado com o balanceamento adequado de nutrientes na planta. Tal adequação nutricional poderia melhorar a 6 produtividade, aumentar a longevidade do pomar, aumentar a qualidade dos frutos, minimizar prejuízos provenientes de problemas fitossanitários, entre outros benefícios. Quando questionados a respeito da importância da aplicação de fertilizantes foliares, ficou clara a existência de dificuldade de justificativa pelos pequenos produtores. Embora muitos tenham se referido aos aspectos nutricionais, aparentemente não existia um conceito muito bem definido da real importância do produto. Algumas respostas como “melhorar a planta”, “escurecer o pomar” e “aumentar a vegetação”, indicam a falta de consciência exata da funcionalidade técnica do produto (considerada como o balanceamento nutricional). Tal dificuldade também foi observada nas respostas dos médios produtores. Embora, em geral, melhor preparada, essa classe de citricultores aparenta não saber exatamente a função exata dos fertilizantes foliares. Alguns justificam a utilização do produto para “aumentar pegamento da florada”, “aumentar o crescimento do fruto”, “engrossar a casca do fruto”, “segurar a carga” e “planta responder mais rapidamente do que com uma aplicação de adubo via solo”. A relação do equilíbrio nutricional com esses aspectos anteriormente citados depende de uma série de outros fatores bióticos e abióticos que ainda estão sendo investigados. Dessa forma, parece que tais resultados são difíceis de monitorar na prática, o que indica a inexistência de expectativas reais sobre os resultados de tratamentos com fertilizantes foliares. Os dois grandes produtores entrevistados também divergiram na opinião sobre a importância dos “foliares”. Enquanto o primeiro utilizou a justificativa aparentemente coerente da “correção de deficiências de microelementos” o segundo enfatizou os resultados descritos no parágrafo anterior (de difícil mensuração). Dos trinta entrevistados, apenas um não soube responder quantas aplicações de fertilizantes foliares que realiza por ano. Treze citricultores responderam três aplicações, oito responderam quatro ou mais aplicações e o restante respondeu duas ou menos aplicações. 7 Quando questionados em relação a quantidade considerada ideal de aplicações, dezenove produtores responderam quatro ou mais, nove produtores responderam três aplicações e apenas um respondeu duas aplicações. Um produtor não soube responder essa questão. Esses resultados mostram que os citricultores tendem a acreditar em diversas aplicações anuais e, além disso, acham que aplicam o produto com uma freqüência menor que a ideal. Dos diferentes insumos e defensivos agrícolas utilizados na citricultura, os acaricidas e os adubos de solo são considerados os mais importantes para manutenção da cultura. Em segundo plano ficam os inseticidas e os fungicidas, seguidos pelos fertilizantes foliares. Isso indica que provavelmente existe um menor grau de envolvimento, por parte do produtor, no processo de aquisição de fertilizantes foliares, principalmente devido ao menor risco percebido. Ressalta-se que embora importantes, os herbicidas não estavam entre as opções de resposta, e também não foram lembrados por nenhum dos entrevistados. Apesar da utilização de adubação foliar na cultura de citros já ter sido “incorporada” como parte dos tratamentos anuais, ainda não existe o reconhecimento claro do problema a ser resolvido por essa prática. O “caminho” do equilíbrio nutricional não parece estar evidente para muitos produtores, que continuam a utilizar o produto por crenças e aspectos culturais dessas pessoas. Embora o questionamento sobre a freqüência da realização de análises foliares por parte dos citricultores não estivesse contemplado no questionário, percebe-se que a utilização dessa ferramenta de acompanhamento nutricional é pouco usada. Tal fato é reforçado pelo fato das empresas de fertilizantes foliares oferecerem aos seus clientes, profissionais para realizar a correta coleta das folhas nas propriedades. Em alguns casos até o valor da análise cobrado pelos laboratórios é pago pelas empresas, buscando adquirir a confiança do produtor. Todavia, ainda 8 não parece existir um grande interesse por parte dos citricultores em relação a esse tipo de análise, sendo que esse fato merece um estudo mais aprofundado. 3.2. Busca de Informações Os pequenos citricultores tendem a considerar importante a participação em palestras e a leitura de boletins técnicos fornecidos pelos canais de distribuição de insumos agrícolas como fonte de informações técnicas. Essas modalidades foram consideradas mais importantes que veículos de comunicação em massa como televisão, revistas, jornais e internet. Esse resultado parece coerente, pois palestras e boletins apresentam informações mais específicas para os produtores. Esse comportamento também foi observado para médios produtores. No entanto, os dois grandes produtores entrevistados não consideram as palestras como fonte importante de informação técnica. A grande maioria dos pequenos citricultores, treze dos dezessete entrevistados, utiliza a assistência técnica fornecida pelas cooperativas ou revendas particulares. Esse tipo de assistência também é a preferida por oito dos onze médios produtores entrevistados, no entanto, para essa classe surge a alternativa dos consultores particulares (utilizado por dois entrevistados). Os grandes citricultores analisados utilizam tanto o serviço de consultores particulares como de técnicos de cooperativas ou revendas. A equipe técnica das cooperativas e das revendas particulares tende a exercer grande influência no processo de decisão de compra dos citricultores, principalmente entre os de pequeno e médio porte. A busca de informações em revistas especializadas parece não ser muito utilizada pelos pequenos citricultores. Seis entrevistados utilizavam esse veículo de comunicação. As revistas mais lidas por esses produtores são Globo Rural (Editora Abril, São Paulo) e Revista da Coopercitrus (Coopercitrus, Bebedouro). Talvez a leitura não seja prática muito comum dessa 9 classe de produtores, ou talvez não exista muita literatura especializada disponível. Em contraste com a leitura, a maioria desses produtores, catorze dos dezessete entrevistados, assistem programas agropecuários pela televisão, sendo que o programa Globo Rural é o mais assistido pelos entrevistados. Os médios produtores, por sua vez, utilizam revistas agropecuárias para busca de informações. Nove dos onze entrevistados lêem alguma revista, sendo a Revista Coopercitrus lembrada por oito produtores. Essa classe de citricultores assiste programas agropecuários pela televisão, fato confirmado por oito dos onze entrevistados, novamente o programa Globo Rural foi o mais citado. Os grandes produtores utilizam variadas revistas para obter informações técnicas. Em relação aos programas de televisão, um grande respondeu que utiliza e outro respondeu que não. É interessante ressaltar a existência de maior número de informações específicas para a citricultura em textos do que em programas de televisão. Uma das principais fontes de informação a respeito das características de insumos e defensivos agrícolas é o material informativo elaborado pelas empresas produtoras de fertilizantes foliares para divulgar e esclarecer dados técnicos sobre seus produtos. No caso dos fertilizantes foliares, a maioria das empresas elabora “folderes” contendo informações relevantes como: composição do produto, indicações, instruções de uso, explicações sobre nutrição vegetal entre outras. Em muitos casos esse material é de boa qualidade e está acessível aos produtores. No entanto, quinze dos dezessete pequenos citricultores analisados não utilizam esse tipo de material para obter informações. Aproximadamente metade dos médios produtores entrevistados e os dois grandes citricultores também não utilizam essa fonte de informação. Esse fato merece destaque, pois a elaboração desse material consome tempo e recurso das empresas e aparentemente não está atingindo seu objetivo. Existe a necessidade de investigar melhor as causas dessa situação. 10 É importante salientar a grande relevância da interação entre produtores na busca de informações. Já faz parte da cultura rural a troca de experiências entre “fazendeiros”. Também é notada a existência de produtores considerados “formadores de opinião”, sendo esses fonte de informação e recomendação de produtos para outros citricultores. 3.3. Avaliação de alternativas Não parece existir uma preferência definida de nenhuma classe de produtores por tipos, composições, marcas, embalagens e outros atributos relacionados a fertilizantes foliares. Alguns produtores preferem utilizar os denominados “sais comuns” (uréia, ácido bórico, MAP, sulfatos, cloretos e outros) por considerarem mais “concentrados” e “baratos”. Por outro lado, existem citricultores que defendem o uso de produtos líquidos ou em pó compostos de misturas balanceadas de elementos. Tais produtores justificam sua preferência pela praticidade e equilíbrio nutricional. Outra parte dos produtores prefere utilizar produtos formulados com elementos separados, para que seja possível “preparar” sua própria mistura com a concentração e os elementos mais adequados. Em relação aos tamanhos de embalagem, observa-se que tanto para produtos líquidos como em pó, a conveniência de tamanho fica em segundo plano em relação ao preço. Pequenos produtores preferem embalagens de menor tamanho, para evitar “sobra” de produto. Em alguns casos os médios e grandes citricultores também preferem embalagens menores para facilitar o “manuseio”. Todavia, o preço por litro ou quilograma de fertilizante é muito relevante, assim muitas vezes embalagens maiores são preferidas. Quando questionados a respeito da preferência de uma embalagem pequena na “dose certa”, aproximadamente metade dos pequenos e médios citricultores respondeu não estar disposto a pagar mais por esse tipo de embalagem. Os que concordaram com a idéia ressaltaram que a diferença de preço deveria ser pequena em relação a 11 embalagens maiores. Os dois grandes produtores não estão dispostos a pagar mais por essa embalagem na “dose certa”. Grande parte dos pequenos produtores teve dificuldade em responder quais são os fatores mais importantes no momento de selecionar um fertilizante foliar. Alguns não têm “parâmetros” de escolha. Alguns pontos apresentados como importantes foram a “idoneidade da empresa fabricante”, “formulação” e a “recomendação”. Apesar de também apresentarem dificuldade nessa questão, os médios citricultores apresentaram alguns aspectos mais claros, como: “concentração do produto”, “fonte dos nutrientes”, “marca” e “qualidade”. Um grande produtor ressaltou a “idoneidade” da empresa fabricante como um ponto importante, enquanto que o segundo destacou o fator “preço”. No momento da avaliação das alternativas, aspectos comerciais tendem a exercer maior influência que aspectos técnicos, pois esses últimos aparentam não estar muito consolidado na “mente” do produtor. 3.4. Decisão de compra Todos os dezessete pequenos produtores analisados adquirem seus produtos de cooperativas ou revendas particulares. Aparentemente existe uma certa fidelidade desse produtor pela empresa que fornece assistência técnica, uma vez que é dependente dessa forma de serviço. Apesar dos médios proprietários também utilizarem as cooperativas e revendas, surge à opção por grupos de compras formados por alguns produtores que se unem para comprar em conjunto determinados produtos de interesse comum. Essa forma de organização aumenta o poder de barganha dos produtores e vem se solidificando nos últimos anos, sendo uma forte tendência para o futuro. Os grandes produtores entrevistados também utilizam cooperativas e revendas, sendo 12 que á prática de compra direta da indústria não foi citada por nenhum citricultor, embora exista na prática, principalmente para grandes grupos, os chamados key accounts (clientes-chave). Quando questionados a respeito das características que influenciam na escolha do canal de compra, todas as classes de produtores responderam ser condições de preço e prazo de pagamento os fatores mais importantes. Essa resposta era esperada, apesar de que existam outros fatores relevantes como a assistência técnica fornecida, os produtos disponíveis, a ocasião entre outras. A maioria dos pequenos citricultores entrevistados gostaria que os canais de distribuição realizassem mais promoções de preço durante o ano, os médios também gostariam de palestras, além de promoções, e os grandes sugeriram a produção de mais boletins informativos. Honestidade, informação e simpatia foram os atributos mais apreciados em um vendedor pelos pequenos proprietários. Para o grupo dos médios citricultores, o conhecimento prático de técnicas e produtos foi um atributo mais citado para essa questão. Outras qualidades como honestidade, educação, competência, simplicidade, seriedade, experiência e informação também foram lembradas por este grupo de produtores. Para os grandes produtores, os atributos citados foram idoneidade, honestidade e competência. Quinze dos dezessete pequenos produtores entrevistados não tem computador conectado com a internet. Os únicos dois que possuem disseram não utilizar esse meio com freqüência. Quando questionados se comprariam produtos diretamente das empresas através da internet, treze responderam que não, embora metade desses entrevistados acredite que essa modalidade é uma tendência. As principais justificativas para não comprar via internet foram: falta de contato pessoal, desconhecimento da tecnologia, tecnologia ainda em desenvolvimento, falta de segurança, necessidade imediata dos produtos e falta de informação. Entre os médios citricultores, sete dos onze analisados possuem computador conectado a internet, e desses cinco utilizam com freqüência. A maioria dos entrevistados respondeu que 13 estaria disposto a comprar diretamente das empresas através da internet. A justificativa principal para a adoção dessa prática foi à possibilidade de obter preços mais baratos nos produtos. A facilidade dessa prática foi lembrada por um produtor. A maioria dos médios produtores acredita que a compra pela internet é uma tendência. A dificuldade do diálogo nessa modalidade de compra foi apontada por um produtor como possível barreira ao desenvolvimento dessa prática. Possuir computador conectado a internet e utilizá-lo com freqüência foi uma resposta comum dos grandes citricultores entrevistados. No entanto, eles não estão dispostos a utilizar esse meio para compra de produtos agrícolas. A justificativa utilizada por um desses produtores é a insegurança da inexistência do contato pessoal. Esse mesmo produtor acredita que essa tecnologia é uma tendência, que irá se desenvolver na medida que a credibilidade nesse sistema aumentar. Outro citricultor não acredita que essa tecnologia irá se desenvolver facilmente no “setor rural”. 3.5. Comportamento pós-compra Dez pequenos produtores não souberam responder como avaliar o resultado da utilização de um fertilizante foliar. A falta de critérios técnicos de avaliação fica evidente em respostas como: “o produto melhorou o aspecto visual do meu pomar”, “alisou a casca das frutas” ou “estimulou mais vegetação”. Apenas um produtor utilizou justificativa mais clara: “ocorreu à correção dos sintomas visuais de deficiência de nutrientes”. Essa dificuldade em definir critérios de avaliação de resultado do tratamento com fertilizantes foliares é conseqüência da falta de consciência por parte da maioria dos citricultores entrevistados em relação a análise foliar. Quatro médios produtores também não souberam responder essa questão. As justificativas dessa classe de citricultores também estiveram baseadas no empirismo, como por exemplo: “melhorou o aspecto do pomar”, “apresentou uma boa relação custo/benefício” ou “observei uma 14 diferença visual no pomar”. Os grandes citricultores também não utilizaram explicações técnicas para justificar a utilização do produto. Essas respostas indicam a dificuldade de mensuração dos resultados de aplicações de fertilizantes foliares. Essa situação parece ser explicada por uma combinação de fatores como desinformação do produtor, despreparo dos vendedores, falta de consenso das equipes técnicas e consultores, grande variedade de produtos com características muito distintas disponíveis no mercado e pela complexidade de entendimento dos mecanismos nutricionais das plantas. A avaliação da produção de frutos e a análise custo/benefício seriam um bom referencial para a mensuração dos resultados de tratamentos com fertilizantes foliares. Contudo, esses aspectos estão ligados diretamente com várias outras práticas culturais, dificultando o isolamento do resultado obtido exclusivamente com a adubação foliar. A prática de análises foliares parece ser a melhor forma de acompanhamento dos resultados obtidos, sendo interessante tentar comparar o equilíbrio nutricional com indicadores econômicos e de desempenho. Em relação a sugestões de serviços adicionais que poderiam ser promovidos pelos distribuidores, onze pequenos citricultores não souberam responder. Algumas sugestões encontradas foram: “facilitar a participação dos produtores em eventos”, “organizar reuniões pequenas entre produtores para esclarecimento sobre novos produtos” (dia-de-campo), “fornecimento de serviço terceirizado de aplicação de insumos e defensivos”, “realizar análise do solo para o produtor” e a elaboração do “serviço de 0800 para informações técnicas”. Em relação às indústrias de insumos, os pequenos produtores gostariam que “os preços dos produtos fossem mais baratos”, “maior contato com o produtor” e “maior responsabilidade sobre as aplicações dos produtos”. As sugestões dos médios produtores em relação aos serviços adicionais que poderiam ser promovidos pelos distribuidores foram: “regulagem de máquinas”, “acompanhamento de 15 aplicações”, “fornecimento de serviços terceirizados”, “realização de análises de solo e foliar para os produtores” e “realizar cursos para treinamento de empregados rurais”. Das indústrias de insumos, esses produtores gostariam de “orientação técnica”, “acompanhamento de aplicações”, “maior contato com o produtor”, “apresentar mais trabalhos científicos sobre os produtos” e “preços mais baixos”. Apenas um grande produtor fez sugestões sobre essa questão dos serviços adicionais. Na sua opinião, tanto os distribuidores como a indústria de insumos, deveriam realizar um “monitoramento das aplicações e resultados de seus produtos”, para evitar a utilização inadequada e o conseqüente prejuízo dos produtores. A partir das respostas analisadas pode-se perceber a dificuldade dos produtores entrevistados em relação às questões técnicas da atividade produtiva. No entanto, é interessante não existir uma preocupação evidente com questões gerenciais, justamente o que nos parece pouco desenvolvido na administração dos pequenos e médios citricultores. IV. Conclusões e Implicações Gerenciais Era proposta deste artigo, por meio de uma pesquisa exploratória e qualitativa, mostrar um panorama geral do processo de decisão de compra dos citricultores paulistas em relação a fertilizantes foliares. A limitação do presente estudo é a ausência de análises quantitativas a partir de uma amostra significativa dessa população. É evidente que os inúmeros pontos abordados devem ser explorados por novas pesquisas mais específicas. Aparentemente falta, por parte dos citricultores, uma clara percepção da real necessidade da utilização dos fertilizantes foliares. O fato de não estar bem definida essa necessidade, implica na falta de bons critérios técnicos de avaliação. De fato, a análise foliar deveria ser a base para 16 que os técnicos realizassem uma adequada recomendação de produtos foliares, todavia, tal prática não vem sendo muito utilizada pelos citricultores. Essa situação de desconhecimento, somada ao grande número de empresas produtoras de fertilizantes foliares com uma enorme gama de produtos distintos, confundem o consumidor dificultando o processo de fidelização. Dessa forma, no momento da decisão de compra, questões comerciais muitas vezes tornam-se mais importantes que o produto. A grande diversidade de produtores rurais (grandes, médios, pequenos, eficientes, não eficientes) existente, permite concluir que a disseminação das informações sobre adubação foliar deve ser feita diferentemente para os diversos segmentos existentes. O trabalho permite lançar, com restrições metodológicas aqui já levantadas, algumas implicações gerenciais para as empresas que vendem estes produtos: Na etapa de reconhecimento do problema, existe uma clara necessidade de educação maior dos produtores e dos profissionais de vendas na importância deste tipo de suplementação, número de aplicações e que deve ser traduzida em melhoria dos materiais de comunicação existentes e no trabalho da equipe de vendas e assistência técnica. O foco de mensagem pode ser no prejuízo do não uso, para uma maior atenção do produtor. Na etapa de busca de informações, observa-se que existe uma oportunidade forte de direcionamento dos veículos de comunicação utilizados conforme o tamanho e capacitação tecnológica do produtor, ou seja, existe a necessidade de se praticar mais segmentação de mercados. Para distribuição de material aos segmentos pode se usar as revendas e cooperativas mais fortemente, desenvolvendo formas para garantir que o material “alcance” o produtor rural. Também é interessante a realização de dias de campo ou reuniões menores e regionais com grupos de produtores, onde a troca de experiências seria estimulada. 17 Na etapa de avaliação de alternativas, percebe-se que pagar a mais por embalagem mais conveniente é algo que não tem dado resultado nos produtores entrevistados. Aqui cabe pesquisar outros serviços que poderiam ser adicionados e que realmente agregariam valor a venda, tal como aplicação do produto, considerando os desejos dos produtores (mais uma vez segmentação, algo fundamental para a força de vendas destas empresas trabalhar). Também existe espaço para as empresas trabalharem quais são os fatores fundamentais para se selecionar um fertilizante foliar, facilitando a decisão do comprador, principalmente o custo psíquico desta decisão. Na decisão de compra fica claro que o vendedor deve se adaptar ao tipo de produtor, tendo e oferecendo características que são as mais apreciadas por aquele cliente. Vale também aqui as condições de prazo e preços, então a engenharia financeira feita pela empresa vendedora e pelo canal é algo muito importante para a compra pelo produtor. Como facilitar este processo com boas idéias é a agenda de trabalho. Finalmente, no comportamento pós compra, observa-se enorme campo de trabalho em marketing. Mais depoimentos de casos de sucesso, que inclusive poderiam ser usados no reconhecimento da necessidade, bem como serviços adicionais conforme o tamanho do cliente e o seu volume de compras, tal como monitoramento de aplicação e análise de resultados. V. Agradecimentos Os autores agradecem a colaboração dos citricultores entrevistados e as importantes contribuições realizadas pelos revisores desse artigo. Referências Bibliográficas ABECITRUS, Associação Brasileira dos Exportadores de Citrus. 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