AGRICULTURA DA REGIÃO SERRANA FLUMINENSE: IMPACTOS E PERSPECTIVAS DOS PRODUTORES RURAIS PÓS TRAGEDIA OCASIONADA PELAS CHUVAS. Rodrigo Lopes Brochado1; Felipe Soares de Oliveira2; Moises da Fonseca Silva3; Almy Junior Cordeiro de Carvalho4; Paulo Cesar dos Santos5; Silvio de Jesus Freitas6. 1 Estudante do Curso de Agronomia – Laboratório de Fitotecnia (LFIT) – CCTA; [email protected]; 2 Estudante do Curso de Agronomia –LFIT – CCTA; [email protected]; 3 Bolsista de Extensão – LFIT - CCTA 4 Prof. de Fruticultura –LFIT – CCTA; [email protected]; (coordenador do Projeto) 5 Mestrando em Produção Vegetal –LFIT – CCTA; [email protected]; 6 Prof. de Grandes de Culturas –LFIT – CCTA; [email protected]. Resumo A Região Serrana do estado do Rio de Janeiro apresenta alguns dos melhores indicadores socioeconômicos. Atualmente, novas e outras já importantes atividades do setor agrícola têm se desenvolvido, como a agricultura orgânica, a hidropônica, fruticultura e a floricultura, detentoras de potencial de crescimento, especialmente pela proximidade da região metropolitana do Rio. Em janeiro de 2011 a região passou pela pior tragédia climática ocasionado por chuvas no Brasil. Houve a perda de quase toda a produção, o que não foi perdido, acabou não sendo comercializado pela ausência de infraestrutura para o escoamento da produção. Em algumas localidades, segundo os agricultores, 100% das lavouras foram perdidas. Através do exposto, este trabalho tem como objetivo identificar o perfil dos produtores da Região Serrana após a tragédia, e posteriormente, promover a difusão de tecnologias que possam minimizar as perdas e melhorar a qualidade dos produtos agrícolas comercializados. De acordo com os dados coletados a grande maioria (76,5%) dos produtores entrevistados foram afetados, e cerca de 70% obtém sua renda da agricultura. A maioria dos produtores sofreram e sofrem problemas na produção, escoamento, e comercialização dos produtos. Desta forma, é necessário voltar aos produtores entrevistados para reavaliamos às mudanças ocorridas desde o ultimo contato. Palavra chave: Desastre; Questionário; Agricultores; Levantamento. Introdução A Região Serrana do estado do Rio de Janeiro se destaca pela produção de hortaliças, floricultura e avicultura, que em sua maioria é oriunda pela agricultura familiar. Municípios como Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo se destacam a níveis nacionais no turismo e qualidade de vida. Localizada entre as montanhas da serra dos Órgãos, os municípios assemelham-se tanto pelas características físicas como pelo processo de ocupação. 1 O Brasil apresentava uma produção de 27.5 milhões de toneladas de fruteiras como, banana, caqui, goiaba, laranja, limão, maracujá e tangerina, que são as principais frutas produzidas na região serrana no ano de 2009, o Rio de Janeiro participa com 314 mil toneladas e a Região Serrana contribuía com cerca de 20% da produção do Estado (IBGE, 2012). Segundo dados do IBGE no ano de 2010, a produção de frutas da região não sofreu alteração significante em ralação ao ano anterior. Atualmente a região apresenta diversos setores de destaque, desde a indústria têxtil até a produção de hortaliças. Outra área de grande importância para a região é o turismo, devido ao clima agradável e a hospitalidade da região. É imprescindível ressaltar que esta é a região do estado que apresenta alguns dos melhores indicadores socioeconômicos. A Região Serrana Fluminense apresenta importantes atividades como a agricultura orgânica, a hidropônica e a floricultura, detentoras de um potencial de crescimento que tem sido observado e incentivado pelos órgãos fomentadores e a horticultura que já se constitui, há algum tempo, como uma atividade que deixa suas marcas na paisagem (EMATER-RJ). As chuvas ocorridas na região em janeiro de 2011 apresentou índices pluviométricos de 130 mm por dia, sendo o normal para o mês de 60 mm. Segundo especialistas, em alguns pontos, o índice deve ter ultrapassado 200 mm. Choveu em 24 horas metade do que era esperado para o mês (INMET). O desastre na região atingiu tanto a cidade como o campo, agricultores perderam a produção, benfeitorias, animais, insumos, assim como o escoamento da produção ficou prejudicado devido à falta de infraestrutura. Segundo agricultores da região, as águas invadiram casas e destruiu o que havia de próximo ao rio, diversas localidades ficaram sem energia elétrica durante vários dias. Em algumas localidades a lama se manteve por vários meses o que impedia a volta das famílias para suas casas, assim como a volta à atividade de agricultura. Segundo dado do governo do estado à chuva levou a centenas de mortes e vários feridos. Através do exposto verifica-se a necessidade da realização de estudos para identificar o perfil dos produtores da Região Serrana após a tragédia causada pelas chuvas, pois através destes será possível identificar os reais prejuízos, as necessidades e as perspectivas futuras dos produtores rurais. Os objetivos específicos do projeto são: verificar através da aplicação de questionários o perfil dos agricultores após a tragédia ocasionada pelas chuvas na Região Serrana; caracterizar e analisar o processo produtivo; verificar as dificuldades enfrentadas tanto na produção quanto na comercialização da produção; promover a difusão de tecnologias que possam minimizar as perdas e melhorar a qualidade do produtos comercializadas pelos produtores; avaliar a viabilidade de futuros projetos que possam ser desenvolvidos visando à melhoria socioeconômica da região. Metodologia Foram elaborados e aplicados questionários contendo perguntas que ajudem na construção do perfil dos produtores agrícolas da Região Serrana, com o qual foi possível identificar os reais prejuízos, as necessidades e as perspectivas futuras dos produtores rurais. A aplicação dos questionários foi realizada em três municípios da Região Serrana, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, com 17 questionários aplicados a agricultores que foram selecionados pela EMATER-RJ e com supervisão dos órgãos regionais competentes (Secretaria da Agricultura e Sindicatos dos Produtores Rurais) a fim de otimizar a aplicação dos mesmo em áreas atingidas pelo desastre. O questionário abordou a real situação do produtor da região, com perguntas pertinentes como, tamanho da área agrícola; como é o retorno financeiro; se a principal fonte de renda é oriunda da atividade agrícola; quanto representa a participação da agropecuária em sua renda bruta da propriedade; qual é a condição das pessoas que trabalham em sua propriedade; para onde foi destinada sua produção; qual a porcentagem de perdas da produção depois da tragédia; além da produção, quais foram às outras perdas; 2 o escoamento da produção foi afetado; em quanto foi avaliado sua perda financeira; em quanto tempo o produtor levou para voltar a produzir; se possuía e procurou algum tipo de financiamento para retorna a atividade; pensou em abandonar a região serrana; possuía algum tipo de assistência; quais problemas ocorreram na sua produção; quais os principais problemas enfrentados na comercialização de sua produção; quais os fatores mais importantes para melhorar a produção. Resultado e Discussão Os 17 questionários abordados nas cidades de Teresópolis e Nova Friburgo, mostram o perfil do produtor rural da região, dados relevantes que mostram a fragilidade do agricultor perante o desastre e os problemas enfrentados antes e depois das chuvas, principais pontos que formam o gargalo da cadeia de produção dos agricultores. Constatamos que aproximadamente 76,5% dos produtores entrevistados foram afetados diretamente pelas chuvas ocorridas em 2011, o restante, 23,5%, não foi afetado por se encontrarem em áreas mais distantes da tragédia ou em locais mais seguros, relato dos próprios agricultores, mas que da mesma forma sofreram com os transtornos ocasionados pela forte chuva. Um dado importante a ser relatado é que dos entrevistados, 70,6 % obtêm a maior parte de sua renda familiar da atividade agrícola, evidenciando a dependência do produtor na agricultura, se tornando a principal renda e às vezes única fonte de sustento. Dentre os produtores que retiram seu sustento da agropecuária, a produção de hortaliças se destaca entra as outras atividades agrícolas, 57,69%, seguido da pecuária leiteira, 19,23%, fruticultura e avicultura, 11,53% cada. Segundo os próprios agricultores a região e propicia ao cultivo de hortaliças, devido ao clima da região e a topografia do terreno. É imprescindível ressaltar que a grande maioria desses agricultores são familiares, com produções diversificadas e na maioria das vezes com consumo próprio. Os agricultores que não possuem a renda total oriunda da propriedade agrícola, 29,6%, possuem outras fontes de renda, como aposentados e pedreiros que vêem na propriedade agrícola uma forma de renda extra e de melhor qualidade de vida. Na sua grande maioria o escoamento da produção cerca de 45% acontece para a capital do estado e cerca de 45,4% para a venda local. A maioria da comercialização local é efetuada com os atravessadores, que comercializam a mercadoria diretamente com a capital do estado. Há casos em que produtores realizam a venda direto com hotéis, restaurantes, e que segundo eles agregam valor aos seus produtos e da segurança no recebimento da produção. Muitos agricultores relataram que o baixo valor recebido pela venda dos produtos agrícolas é um dos gargalos para se produzir na região, essa realidade poderia ser mudada se houvesse uma cooperativa que representasse os mesmos, o que poderia aumentar a valor pago na produção por simples ações como o beneficiamento da produção. Entre todos os entrevistados apenas um produtor era cooperativado, localizada em Nova Friburgo e que comercializa morango. Entre os entrevistados, mais de 70% se disseram propícios para realizar parceria entre outros agricultores através de cooperativas e/ou associações, o que poderia melhorar a rendar da região, visto que, cerca de 52% dos entrevistados relataram que o retorno financeiro é médio. Esse retorno financeiro se agravou ainda mais devido às perdas ocorridas póstragédia, pois o solo ficou impróprio para plantação devido à lama e alguns casos pedras que caíram das encostas e foram levadas pela enxurrada destruindo tudo que encontravam pela frente, onde 23,6% dos agricultores perderam 100% de sua produção, e 23,6% com perdas acima de 70%, e dos 17 questionários aplicados apenas 4 entrevistados não sofreram nenhuma perda na produção. Além da perda de produção a chuva ocasionou perdas materiais como maquinário, irrigação, benfeitorias e que em alguns casos ultrapassaram R$ 100 mil reais. 3 Dentre os problemas na produção agrícola da região antes da tragédia, os mais relatados pelos entrevistados foram: perdas pós-colheita, baixo retorno financeiro, dificuldade de receber a produção vendida e a baixa produtividade. Produtores relataram a possibilidade de aumento da produtividade caso os preços dos insumos fossem mais barato ou se o houvesse uma compra coletiva através de cooperativas e/ou associações. Um dos grandes problemas também enfrentados na região é a dificuldade do recebimento pela venda da produção, muitas vezes os prazos são longos para o recebimento, e em alguns casos os agricultores são enganados pelos atravessadores que não pagam a produção. Devido à grande parte da produção ser destinada ao Rio de Janeiro, observamos que a falta de infraestrutura no escoamento da produção no pós-tragédia foi um dos pontos principais para as perdas dos produtos, onde 64,7% dos produtores se dizem prejudicados. Segundo os entrevistados, as estradas antes mesmo do ocorrido já não apresentavam condições adequadas para o escoamento, logo depois do ocorrido à situação se agravou, se tornando inviável a comercialização de sua produção. Outra problemática enfrentada pelos produtores foi o tempo para retomar as atividade na produtividade rural no pós-tragédia, sendo um ponto importante devido à maioria dos produtores retirarem seu sustento do campo, como já foi mencionado anteriormente, desta forma, verificou-se que os produtores demoram aproximadamente cerca de 1 ano, 6 meses, 3 meses e 1 mês, com a seguinte proporção de produtores 35,3%, 23,5%, 11,8% e 5,8% respectivamente, verificando que a maioria dos produtores entrevistados demoram de meio a um ano para o retorno. Esse tempo para normalizar a produção se deve principalmente segundo os produtores a, recursos financeiros 19,0%, preparo do solo 19,0%, estradas 14,3%, maquinário 9,5%, irrigação 4,8% e energia elétrica 4,8% o restante não foi afetado ou não sabe. Sendo uns dos principais problemas enfrentados para o retorno das atividades, o recurso financeiro seria uma ferramenta de auxílio na reabilitação da atividade visto que o capital recebido seria empregado nos principais problemas, já citados, mas a realidade foi adversa. Os produtores que possuíam algum tipo de financiamento antes da tragédia eram 47%, sendo que depois do ocorrido o numero de produtores que procuraram decresceu para 41,2%, confirmando a dificuldade do acesso ao recurso financeiro. Segundo os próprios produtores, o capital dificilmente é destinado aos produtores necessitados e a dificuldade de conseguir tal ajuda devido à burocracia. Apesar de todos esses problemas enfrentados pós-tragédia pelos agricultores, e que também aconteciam antes das chuvas, à maioria, 76,5%, não pensam em abandonar a região. Conclusão De acordo com os dados coletados a grande maioria (76,5%) dos produtores entrevistados foram afetados, e cerca de 70% obtém sua renda da agricultura. A maioria dos produtores sofreram e sofrem problemas na produção, escoamento, e comercialização dos produtos. Desta forma, é necessário voltar aos produtores entrevistados para reavaliamos às mudanças ocorridas desde o ultimo contato. Agradecimentos À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro pela concessão das Bolsas. 4 Referências Bibliográficas IBGE (2011) Dados da safra de Frutas do Rio de Janeiro. http://www.sidra.ibge.gov.br Acesso em 27/08/2011 EMATER – Rio (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro). Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro, 2010. MARAFON, Gláucio José. [et al]. Regiões de Governo do Estado do Rio de Janeiro: Uma Contribuição Geográfica. Rio de Janeiro: Gramma, 2005. SEBRAE. Disponível na internet. www.sebrae.com.br Data de acesso: Agosto de 2012. INMET. Disponível na internet. www.inmet.com.br Data de acesso: Julho de 2012. 5