situação de exceção "A gestão efetiva das crises requer tanto de improviso como de preparação. Se falta a primeira, a gestão perde flexibilidade frente às condições em mudança; se falta a segunda, perde clareza em alcançar as respostas essenciais. Não nos devemos preocupar se a preparação nos parecer tão rígida que minimize a forma e as capacidades de improviso. Pelo contrário, o esforço de preparação em si, ainda que de forma modesta, aumenta a habilidade de improvisar." E.L.Quarantelli Versão 2.0 1ª Edição, 2012 ISBN 978-989-8646-05-7 9 789898 646057 situação de exceção PREFÁCIO O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem feito esforços consideráveis para melhorar a resposta às situações de excepção, catástrofe ou multivitimas, nomeadamente através da aquisição de material, equipamento e viaturas dedicados a estes cenários particulares da emergência médica. Mas, este esforço para que o Sistema Integrado de Emergência Médica trabalhe cada vez melhor não pode ficar apenas por aqui. É também fundamental melhorar a nossa capacidade de intervenção nos CODU, em diferentes cenários no terreno, melhorar as nossas competências técnicas e actualizar os conhecimentos, de forma permanente e continuada, habilitando todos os operacionais a intervirem da melhor forma possível em toda e qualquer situação de emergência médica de rotina e/ou de excepção. Assim, é com grande satisfação que lhe apresentamos o novo Manual de Situações de Excepção, onde poderá encontrar aquelas que são as boas práticas atuais, consensualizadas a nível nacional e internacional, sobre planeamento e actuação em diferentes cenários de excepção ou potencialmente de multivitimas. Todos aqueles que desempenham funções operacionais na emergência médica pré-hospitalar, têm a perfeita noção de que é, maioritariamente, nestes cenários que um bom planeamento e/ou uma boa e adequada abordagem inicial das vítimas, bem estruturada e sequencial, que muitas vidas podem e devem ser ganhas. Este Manual destina-se a todos os operacionais do INEM, permitindo-lhes aprofundar conhecimentos previamente adquiridos e também adquirir novas competências, habilitando-os a uma atuação de teor avançado que poderá fazer toda a diferença na vida daqueles que diariamente assistimos, em cenários muitas vezes complexos e hostis. Nestas páginas pode encontrar o trabalho de uma vasta equipa, nas áreas técnicas, pedagógicas e, também, audiovisuais, que trabalhou afincadamente para lhe poder disponibilizar este Manual, que esperamos que se venha a revelar como uma ferramenta útil do seu processo evolutivo de aquisição de novos e/ou melhores conhecimentos. A toda esta equipa, cuja composição encontrará na Ficha Técnica, aqui fica o agradecimento do INEM pelo bom trabalho realizado. Termino, afirmando que o INEM conta com todos e com cada um para garantir uma assistência tecnicamente qualificada, sempre com um elevado respeito e consideração pela vida humana, a todos aqueles que possam eventualmente necessitar do nosso saber e das nossas competências. Por isso, por essa responsabilidade acrescida, temos a obrigação de aproveitar cada dia como uma oportunidade única e irrepetível para aprendermos, para melhorarmos. Que este manual seja um dos instrumentos a utilizar na prossecução desse modo de vida. Miguel Soares de Oliveira Presidente do Conselho Diretivo do INEM situação de exceção ficha tÉcnica Autores Miguel Soares de Oliveira, Presidente do Conselho Diretivo do INEM Luís Meira, INEM (Departamento de Formação em Emergência Médica), Médico (Anestesiologia) Miguel Valente, INEM (Departamento de Formação em Emergência Médica), Enfermeiro Rodrigo Catarino, INEM (Departamento de Formação em Emergência Médica), Enfermeiro Validado pela Comissão de Peritos Ana Teresa Lufinha, Hospital Militar Principal, Médico (Anestesiologia) António Marques, Hospital de Santo António, Médico (Anestesiologia) Armando Almeida, Administração Regional de Saúde (Algarve), Enfermeiro Sónia Cunha, INEM (Delegação Regional do Norte), Psicóloga Cândida Durão, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Enfermeira Bruno Brito, Psicólogo Carlos Luz, Hospital Garcia de Orta, Médico (Cirurgia) Bruno Borges, INEM (Departamento de Emergância Médica), Coordenador de eventos de risco Daniel Ferreira, Hospital da Luz, Médico (Cardiologia) Ernestina Gomes, Hospital Pedro Hispano, Médico (Anestesiologia) COLABORADORES Luís Ladeira, INEM (Delegação Regional do Sul), Enfermeiro Fernando Próspero, Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro, Médico (Cirurgia) Francisco Abecasis, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Médico (Pediatria) Hélder Pereira, Hospital Garcia de Orta, Médico (Cardiologia) Design e Paginação David Rafachinho João João Mendes, Centro Hospitalar Lisboa Central, Médico (Medicina Interna) José Artur Paiva, Hospital de São João, Médico (Medicina Interna) Miguel Félix, Centro Hospitalar de Coimbra, Médico (Pediatria) situação de exceção ÍNDICE SECÇÃO 1 1.DEFINIÇÕES E CONCEITOS BÁSICOS12 a. Magnitude dos eventos: definições 12 b. Situação de exceção: o conceito14 2.TRIAGEM16 a. Triagem primária17 b. Triagem secundária 22 3.ETIQUETA DE TRIAGEM24 a. Como utilizar a etiqueta de triagem? 25 4.O INEM EM SITUAÇÕES COM MULTIVÍTIMAS 28 a. Proteção civil 29 b. Os agentes de proteção civil 29 i. Sistema integrado de operações de proteção e socorro 30 ii. Estruturas de coordenação no âmbito do SIOPS 30 c. A setorização dos teatros de operações 31 d Posto de comando operacional31 i. O papel do INEM31 ii. O centro de coordenação de doentes urgentes (CODU) 32 e. O princípio da coordenação 32 f. A chegada dos meios ao teatro de operações 33 g. O posto médico avançado 35 h. Comunicações36 i. Evacuação36 5.NRBQ (NUCLEAR, RADIOLÓGICO, BIOLÓGICO E QUÍMICO) 38 a. Agentes nucleares e radiológicos 40 i. Conceitos básicos da física nuclear 40 ii. Tipos de exposição às radiações 41 iii. Efeitos das radiações ionizantes no homem 41 iv. Cenários de ameaças envolvendo radiações 43 v. Resposta em caso de ocorrências envolvendo risco radiológico 44 b. Agentes biológicos46 i. Categorias dos agentes biológicos46 ii. Vias de exposição46 iii. Indícios de um possível ataque com agentes biológicos 47 iv. Resumo das características de alguns agentes biológicos 47 v. Resposta em caso de ocorrências envolvendo risco biológico 49 c. Agentes químicos 50 i. Agentes neurotóxicos 50 ii. Agentes vesicantes ou dermotóxicos 51 iii. Agentes sufocantes ou pulmonares 52 iv. Agentes hemotóxicos 52 v. Agentes incapacitantes 52 vi. Agentes irritantes 52 vii. Resposta em caso de ocorrências envolvendo agentes químicos 52 6. PRINCÍPIOS NA ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE EMERGÊNCIA DAS UNIDADES DE SAÚDE (PEUS)54 a. Elaboração do PEUS: princípios 55 b. Comentário final 56 7. PLANEAMENTO DE EVENTOS COM MULTIDÕES58 a. Classificação de eventos com multidões 59 b. Cuidados médicos em eventos com multidões 59 c. A experiência do INEM no EURO-2004 60 d. Classificação dos eventos de risco 61 e. O dispositivo de emergência médica 62 f. Exemplo de um dispositivo de emergência médica implementado na cartografia local 63 g. Exemplo de plano de comunicações64 8.INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL EM SITUAÇÕES DE CRISE 68 SECÇÃO 2 BIBLIOGRAFIA E SIGLAS72 10 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 11 12 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 1. DEFINIÇÕES E CONCEITOS BÁSICOS Definição e conceitos básicos 13 Num contexto de permanente possibilidade de ocorrência de uma catástrofe natural, epidemia, acidente tecnológico e/ou incidente nuclear, radiológico, biológico ou químico de grandes ou importantes proporções, é fundamental que diversas entidades realizem, periodicamente, uma análise da sua situação, tendo em consideração a envolvente interna e externa, em constante mutação, planeando, de forma sistemática e integrada, uma resposta de emergência a dar em qualquer um dos cenários acima referidos, ou a outro, que, pela sua natureza ou extensão, implique, momentânea ou permanentemente, um desequilíbrio entre as necessidades e os recursos existentes. A estrutura de emergência médica pela qual o INEM é responsável dispõe de meios operacionais fundamentais para uma resposta imediata em cenários de crise, que tem vindo a aperfeiçoar-se de forma progressiva. “ Problemas específicos requerem soluções específicas”. O objetivo deste manual é fornecer guidelines/orientações para as equipas de EPH por forma a definir um sistema de abordagem/gestão de multivítimas (ex. acidente grave, situação de exceção) que permita ultrapassar limitações impostas por diversas circunstâncias. Análise dos RISCOS Ameaça ou acontecimento de saúde pública • Epidemia, Pandemia e outros. Acidente resultante do desenvolvimento tecnológico • Incêndios; • Colapso de edifícios. Acidente industrial e/ou NRBQ • Nuclear, radiológico, biológico e químico. Transportes individuais ou coletivos, urbanos ou interurbanos: • Subterrâneos; • Terrestres; • Aquáticos: • Aéreos. Acidente com transportes • Fenómeno sísmico; • Situação meteorológica extrema: Inundação; Estado de seca; Avalanche. Acidente de origem natural Catástrofe relacionada com comportamento humano • • • • Figura 1 Circuitos automobilísticos; Espetáculos pirotécnicos; Atos de terrorismo e eventos bélicos; Manifestações culturais, artísticas e políticas. notas: situação de exceção 14 notas: Magnitude dos eventos: Definições Situação de exceção: O conceito Acidente Grave: Verifica-se uma ausência de definição e de enquadramento legislativo relativo a este conceito, encontrando-se apenas estipulado/definido os conceitos de acidente grave e de catástrofe (lei de bases da Proteção Civil). É um acontecimento inusitado (provocado por ação do homem ou da natureza), com efeitos relativamente limitados no tempo e no espaço, suscetível de atingir as pessoas e outros seres vivos, os bens e o ambiente. Lei de bases da Proteção Civil – Decreto Lei Nº 27/2006 Crise: Ações ou omissões induzidas por uma organização. Como exemplos: • Derrame de petróleo no Alasca em 1989 (Exxon Valdez); • Envenenamento por cápsulas comercializadas de Tylenol, nos EUA em 1982, pela empresa Johnson & Johnson (aparentemente foi colocado cianeto na constituição das mesmas). Desastres: Resultam de fenómenos naturais ou induzidos por uma ação humana externa. Como exemplos: • Explosão de um avião, voo 103 da PAN AM, em 1988 na Escócia; • Atentado do 11 de Setembro, no ano de 2001 em Nova Iorque. Catástrofe: Acontecimento súbito quase sempre imprevisível. É o acidente grave, ou a série de acidentes graves (de origem natural ou tecnológica), susceptíveis de provocarem elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas, afetando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconómico em áreas ou na totalidade do território nacional (Lei de bases da Proteção Civil – Decreto Lei Nº 27/2006). Segundo Thomas Birkland, são mais profundas que os desastres porque afetam áreas maiores, tornando incapazes as ações de resposta locais, na medida em que, também elas, são afetadas. Como exemplos: • Furacão Katrina, ano de 2005 nos EUA; • Tsunami no sul da ásia, em 2004. Apesar de não ser frequente, em território nacional, a declaração de acidente grave ou catástrofe, é frequente a existência de situações de exceção. Uma situação de exceção, no contexto de prestação de cuidados de emergência médica consiste fundamentalmente numa situação em que se verifica, de forma pontual ou sustentada, um desequilíbrio entre as necessidades verificadas e os recursos disponíveis. É, por sua vez, esta desigualdade que vai condicionar a atuação das equipas de emergência médica, nomeadamente, através de uma criteriosa coordenação e gestão dos recursos humanos e técnicos disponíveis, bem como de toda a informação disponível, em cada momento. Como exemplo de Situações de Exceção em Portugal há acidentes com elevado número de vítimas, incêndios florestais, incêndios urbanos/industriais e intoxicações, sendo também habitual embora, normalmente, sem grande número de vítimas, fenómenos naturais como aluviões, cheias e/ou inundações, ondas de calor e vagas de frio. Definição e conceitos básicos 15 ACIDENTES CRISES EMERGÊNCIA DESASTRE CATÁSTROFE CALAMIDADE FERIDOS Poucos Muitos Múltiplos Centenas Milhares VÍTIMAS MORTAIS Poucos Muitos Múltiplos Centenas Milhares DANOS Fracos Moderados Elevados Severos DISRUPÇÕES Fracos Moderados Elevados Fracos IMPACTOS GEOGRÁFICOS Localizados Dispersos Dispersos e difusos Difusos RECURSOS DISPONÍVEIS Elevados Suficientes Limitados Escassos ELEMENTOS DE RESPOSTA Poucos Muitos Centenas Centenas Milhares TEMPO DE RECUPERAÇÃO Minutos Horas Dias Dias Semanas Meses Anos Anos Décadas Tabela 1: Comparação da magnitude dos eventos notas: 16 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 2. TRIAGEM Triagem 17 A Triagem é um sistema utilizado por pessoal médico e de emergência para racionalizar recursos médicos limitados quando o número de vítimas a necessitar de apoio excede os recursos disponíveis para as tratar. A palavra triagem advém da palavra Francesa trier, que significa escolher, classificar, selecionar. • • • • • • Implementar utilização criteriosa de recursos críticos; Documentar as vítimas; Controlar o fluxo de vítimas; Determinar áreas de cuidados / vigilância; Distribuir os profissionais por áreas de assistência; Iniciar medidas terapêuticas. Baseia-se em 2 momentos diferentes, a triagem primária e a triagem secundária. TRIAGEM PRIMÁRIA Nesta etapa pretende-se triar de forma mais rápida um grande número de vítimas. Baseia-se no método “Simple Triage And Rapid Treatment” (START). Para realizar esta Triagem são usados discriminadores muito simples: • Vítima anda? Ferida? • Respira? Frequência respiratória (FR)? • Frequência cardíaca (FC)? Figura 2: Barão Dominique Jean Larrey (1766-1842) Muitos dos créditos da Triagem dos dias modernos, foram atribuídos ao barão Dominique Jean Larrey, um famoso cirurgião do exército de Napoleão, que desenvolveu um método para rapidamente avaliar e categorizar os feridos no campo de batalha e seguidamente evacuar aqueles que requeriam atenção médica urgente. É sempre uma decisão difícil, em ambiente hostil e dramático, com informações incompletas, sob pressão emocional, baseada em critérios de sobrevivência e com meios de socorro limitados. A classificação tem como propósito salvar tantas vidas quanto possível e assegurar a melhor prestação de cuidados segundo os recursos existentes (tendo por base uma visão geral de cada vítima). Com base nesses discriminadores (ver fluxogramas) é possível realizar uma divisão grosseira das vítimas em quatro categorias: • Prioridade 1 (cor vermelho) : Vítima emergente; • Prioridade 2 (cor amarelo): Vítima grave; • Prioridade 3 (cor verde): Vítima não grave; • Morto (cor preto). O fluxograma de triagem primária está desenhado para permitir não só a imposição da ordem, mas também para assegurar que perante um grande número de vítimas a triagem é feita de uma forma célere. Para crianças o fluxograma assume um carácter particular fazendo o enquadramento de acordo com o tamanho (em centímetros) e/ou peso (em kg), devido a óbvias diferenças fisiológicas (ex. valores normais de FR e FC): • Crianças de tamanho compreendido entre [100, 140]cm ou com peso estimado de [19, 32]Kg; • Crianças de tamanho compreendido entre [80, 100] cm ou com peso estimado de [11, 18]Kg; • Crianças de tamanho compreendido entre [50, 80] cm ou com peso estimado de [3, 10]Kg. emergente START morto grave não grave Figura 4: Categorização das vítimas de acordo com o método START (Triagem primária) Figura 3: A ambulância de Dominique Jean Larrey A triagem tem como objetivos principais: • Assistência precoce; • Aplicação de manobras “life-saving”; • Determinar o nível de urgência; FACTO Fórmula para cálculo do peso estimado de uma criança (>1 ano): PESO (Kg) = 8 + (2 x Idade em Anos) notas: situação de exceção 18 notas: Fluxograma de TRIAGEM (adulto) Área de receção de sobreviventes NÃO VÍTIMA ANDA? FERIDO? SIM PRIORIDADE 3 SIM NÃO morto NÃO RESPIRA? NÃO PERMEABILIZAR Via Aérea RESPIRA? SIM SIM fr? <10 cr/min >30 cr/min PRIORIDADE 1 [10, 29] cr/min fc? ≥120 bat/min <120 bat/min PRIORIDADE 2 Figura 5 – Fluxograma de Triagem Primária do Adulto Triagem 19 notas: Fluxograma de TRIAGEM (pediatria) 100-140cm 19-32 Kg VÍTIMA ANDA? SIM PRIORIDADE 3 NÃO morto NÃO RESPIRA? NÃO PERMEABILIZAR Via Aérea RESPIRA? SIM SIM <10 cr/min >30 cr/min fr? PRIORIDADE 1 [10, 30]cr/min TPC <2 SIM NÃO fc? <70 bat/min >140 bat/min [70, 140] bat/min PRIORIDADE 2 Figura 6 – Fluxograma de Triagem Primária da Criança (equivalente a criança com >5 anos de idade) (TPC – Tempo de preenchimento capilar) situação de exceção 20 notas: Fluxograma de TRIAGEM (pediatria) 80-100cm 11-18 Kg ALERTA, ANDA, MOVE MEMBROS? PRIORIDADE 3 SIM NÃO morto NÃO RESPIRA? NÃO PERMEABILIZAR Via Aérea RESPIRA? SIM SIM <15 cr/min >40 cr/min fr? PRIORIDADE 1 [15, 40]cr/min TPC <2 SIM NÃO fc? <70 bat/min >140 bat/min [80, 160] bat/min PRIORIDADE 2 Figura 7 – Fluxograma de Triagem Primária da Criança (equivalente a criança com idade entre os 2 e os 5 anos) (TPC – Tempo de preenchimento capilar) Triagem 21 notas: Fluxograma de TRIAGEM (pediatria) 50-80cm 3-10 Kg ALERTA, ANDA, MOVE MEMBROS? PRIORIDADE 3 SIM NÃO morto NÃO RESPIRA? NÃO PERMEABILIZAR Via Aérea RESPIRA? SIM SIM <20 cr/min >50 cr/min fr? PRIORIDADE 1 [20, 50]cr/min TPC <2 SIM NÃO fc? <90 bat/min >180 bat/min [90, 180] bat/min PRIORIDADE 2 Figura 8 – Fluxograma de Triagem Primária da Criança (equivalente a criança com menos de 2 anos de idade) (TPC – Tempo de preenchimento capilar) situação de exceção 22 notas: TRIAGEM SECUNDÁRIA A Triagem secundária é um processo contínuo, que pretende triar de uma forma mais precisa um grande número de vítimas. Baseia-se no Triage Revised Trauma Score (TRTS). Este método consiste na obtenção de três variáveis fisiológicas: Frequência Respiratória, estado de consciência (segundo a Escala de Coma de Glasgow) e Pressão Arterial Sistólica. A pontuação da TRTS (Figura 9) é igual à soma da Frequência Respiratória, da Tensão Arterial Sistólica e da Escala de Coma de Glasgow, codificadas de 0 a 4, para se obter uma pontuação TRTS de 0 a 12 pontos. A categorização das vítimas é atribuída segundo a pontuação obtida no TRTS, da seguinte forma: • TRTS = [1, 10] Prioridade 1; • TRTS = 11 Prioridade 2; • TRTS = 12 Prioridade 3; • TRTS = 0 Morto. Figura 9 – Sistema de Pontuação do TRTS; As etiquetas de triagem apresentam estes campos próprios no seu interior. Triagem 23 24 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 3. ETIQUETAS DE TRIAGEM Etiquetas de triagem 25 A etiqueta de triagem é um elemento mais organizativo do que assistencial (figura 10). Encontra-se acondicionada na bolsa de triagem disponível em meios INEM, no seu interior também se deve encontrar uma caneta/marcador e cartões plastificados com fluxogramas de triagem e um para “contagem” de vítimas. A etiqueta de triagem permite a operacionalização dos métodos de triagem, primária e/ou secundária. Apresenta diversas vantagens, já que permite: • Numerar as vítimas; • Registar a evolução da vítima e cuidados prestados; • Controlar a assistência das vítimas impedindo a duplicação de esforços; • Estabelecer um fluxo ordenado de vítimas; • Controlar a cadeia de evacuação, no que diz respeito à prioridade, hospital de destino e evacuação; • Evitar evacuações descontroladas; • Elaborar registos (dados pessoais, dados clínicos e tratamentos/intervenções executadas). Triagem Primária Registos, notas Identificação da vítima Triagem Secundária (verso) "Destacável" Figura 10: Etiqueta de triagem do INEM (respetivos campos de utilização) COMO UTILIZAR A ETIQUETA DE TRIAGEM ? 1.Triar de acordo com fluxograma (START) apropriado (adulto ou criança); 2.Dobrar a etiqueta de acordo com a prioridade atribuída (1, 2, 3 ou MORTO); 3.Remover o destacável da etiqueta (neste momento não precisa de ser preenchido adequadamente); 4.Colocar a etiqueta de forma visível na vítima. Em simultâneo deve ser efetuado registo na “contagem de vítimas” (nº e prioridade). Triagem primária da vítima Figura 11: Face da etiqueta correspondente à prioridade 1, de cor vermelho (Vítima emergente) Figura 12: Documento de apoio disponível na bolsa de triagem para contagem de vítimas e respetivas prioridades atribuídas A bolsa de triagem possui separadores. Sugere-se que no seu interior as etiquetas já se encontrem acondicionadas por prioridades (1,2 ou 3), ou seja, prontas a colocar na vítima. A etiqueta “Morto” é um cartão independente da etiqueta de triagem (sem qualquer campo de preenchimento): A recolha do destacável proveniente da etiqueta de triagem é muito importante: • Terminada a fase da Triagem Primária é através da contagem dos destacáveis que é possível identificar o número de vitimas tríadas e a prioridade atribuída às mesmas; • A informação proveniente desta contagem deverá ser entregue a quem se encontra a coordenar a operação. notas: situação de exceção 26 notas: • Num teatro de operações as vítimas devem ser encaminhadas e/ou transportadas de acordo com as zonas definidas (ex. vítimas com prioridade 1 para o PMA); • As vítimas etiquetadas como “MORTO”, não devem constituir uma preocupação na drenagem/encaminhamento para as equipas de emergência (salvo indicação em contrário); • A triagem secundária é um processo contínuo (baseado no TRST), assim sempre que a vítima for (re)avaliada deve-se proceder aos registos nos campos próprios da etiqueta; • Se ao efetuar uma avaliação da vítima o somatório de pontos lhe atribuir outra prioridade, deve voltar a dobrar-se a etiqueta para a prioridade correspondente e informar quem estiver a coordenar no local. Fluxo de vítimas Triagem secundária Figura 13: Campos correspondentes à avaliação da vítima (triagem secundária) Figura 14: Campo correspondente às notas de tratamentos/intervenções Etiquetas de triagem 27 • Assim que possível, deve ser preenchido o campo relativo aos dados pessoais da vítima. Fluxo de vítimas Triagem secundária Figura 15: Campo correspondente aos dados pessoais da vítima; Cada etiqueta possui um número de identificação único assinalado neste campo e no destacável. Cadeia de evacuação Controlo das vítimas transportadas De acordo com as circunstâncias, quem gere o teatro de operações pode ter que tomar decisões como: • evacuar as vítimas com uma determinada ordem (ex. prioridade atribuída, de acordo com meios disponíveis); • evacuação em simultâneo ou parcial; • evacuar para a mesma unidade de saúde ou para diferentes unidades de saúde; • Ao evacuar/transferir a vítima, o destacável permanece SEMPRE no posto de triagem (ex. PMA), através do qual se pode: Saber por quem foi transportada a vítima, quem fez o acompanhamento e qual o seu destino; Identificar o número de vítimas, tipologia (sexo e prioridade) e identificação (nº de série da etiqueta); Ter um breve resumo da vítima (dados, história, medicação). Figura 16: Campos da etiqueta correspondentes ao destacável (possui frente e verso) notas: 28 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 4. O INEM EM SITUAÇÃO COM MULTIVÍTIMAS O inem em situação com multivítimas 29 Na situação de acidente grave ou catástrofe, ou no caso de perigo de ocorrência destes fenómenos, são desencadeadas operações de proteção civil em harmonia com os planos de emergência previamente elaborados, com o objetivo de promover a unidade de direção nas ações a desenvolver, a coordenação técnica e operacional dos meios a alocar e a adequação das medidas de carácter excecional a adotar. Proteção Civil A proteção civil é a atividade desenvolvida pelo Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais, pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas com a finalidade de prevenir riscos coletivos inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram. A atividade de proteção civil tem carácter permanente, multidisciplinar e plurissectorial, cabendo a todos os órgãos e departamentos da Administração Pública promover as condições indispensáveis à sua execução, de forma descentralizada, sem prejuízo do apoio mútuo entre organismos e entidades do mesmo nível ou proveniente de níveis superiores. São objetivos fundamentais da proteção civil, a prevenção dos riscos coletivos e as ocorrências deles resultantes; a atenuação dos riscos coletivos e o limitar dos seus efeitos no caso das ocorrências de acidente grave ou de catástrofe descritas; o socorro e a assistência a pessoas e outros seres vivos em perigo e proteger bens e valores culturais, ambientais e de elevado interesse público; o apoio na reposição da normalidade da vida das pessoas em áreas afetadas por acidente grave ou catástrofe. notas: A atividade de proteção civil exerce-se nos domínios de: • Levantamento, previsão, avaliação e prevenção dos riscos coletivos; • Análise permanente das vulnerabilidades perante situações de risco; • Informação e formação das populações, visando a sua sensibilização em matéria de autoproteção e de colaboração com as autoridades; • Planeamento de soluções de emergência, visando a busca, o salvamento, a prestação de socorro e de assistência, bem como a evacuação, alojamento e abastecimento das populações; • Inventariação dos recursos e meios disponíveis e dos mais facilmente mobilizáveis, ao nível local, regional e nacional; • Estudo e divulgação de formas adequadas de proteção dos edifícios em geral, de monumentos e de outros bens culturais, de infraestruturas, do património arquivístico, de instalações de serviços essenciais, bem como do ambiente e dos recursos naturais; • Previsão e planeamento de ações atinentes à eventualidade de isolamento de áreas afetadas por riscos. Os agentes de proteção civil São agentes de proteção civil, de acordo com as suas atribuições próprias: • Os corpos de bombeiros; • As forças de segurança; • As forças armadas; • A autoridade marítima e autoridade aeronáutica; • O INEM e demais serviços de saúde; • Os sapadores florestais. A Cruz Vermelha Portuguesa exerce, em cooperação com os demais agentes e de harmonia com o seu estatuto próprio, funções de proteção civil nos domínios da intervenção, apoio, socorro e assistência sanitária e social. Impende especial dever de cooperação com os agentes de proteção civil sobre as seguintes entidades: • Associações humanitárias de bombeiros voluntários; • Serviços de segurança; • Instituto Nacional de Medicina Legal; • Instituições de segurança social; • Instituições com fins de socorro e de solidariedade; • Organismos responsáveis pelas florestas, conservação da natureza, indústria e energia, transportem, comunicações, recursos hídricos e ambiente; situação de exceção 30 notas: • Serviços de segurança e socorro privativos das empresas públicas e privadas, dos portos e aeroportos. Os agentes de proteção civil e as instituições referidas, sem prejuízo das suas estruturas de direção, comando e chefia, articulam-se operacionalmente nos termos do Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (SIOPS). Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (SIOPS) O Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (SIOPS) é o conjunto de estruturas, normas e procedimentos que asseguram que todos os agentes de proteção civil atuam, no plano operacional, articuladamente sob um comando único, sem prejuízo da respetiva dependência hierárquica e funcional, conforme Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de Julho. O Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro visa responder situações de iminência ou de ocorrência de acidente grave ou catástrofe. O princípio do comando único assenta nas duas dimensões do Sistema, a da coordenação institucional e a do comando operacional. Coordenação Institucional Comando Operacional Estruturas de Coordenação no Âmbito do SIOPS: A coordenação institucional é assegurada, a nível nacional e a nível de cada distrito, pelos centros de coordenação operacional (CCO), que integram representantes das entidades cuja intervenção se justifica em função de cada ocorrência em concreto. Os CCO são responsáveis pela gestão da participação operacional de cada força ou serviço nas operações de socorro a desencadear. O Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), assegura que todas as entidades e instituições de âmbito nacional imprescindíveis às operações de proteção e socorro, emergência e assistência previsíveis ou decorrentes de acidente grave ou catástrofe se articulam entre si, garantindo os meios considerados adequados à gestão da ocorrência em cada caso concreto. Os Centros de Coordenação Operacional Distrital (CCOD), asseguram que todas as entidades e instituições de âmbito distrital imprescindíveis às operações de proteção e socorro, emergência e assistência previsíveis ou decorrentes de acidente grave ou catástrofe se articulam entre si garantindo os meios considerados adequados à gestão da ocorrência em cada caso concreto. NACIONAL DISTRITAL MUNICIPAL CCON CCOD CMPC Presidente da ANPC Comandante Operacional Distrital Presidente da Câmara Municipal CNOS CDOS COM Comandante Operacional Nacional Comandante Operacional Distrital Comandante Operacional Municipal Tabela 2: Estruturas de Coordenação Institucional e Operacional de acordo com o SIOPS A Autoridade Nacional de Proteção Civil dispõe de uma estrutura operacional própria, o Comando Nacional de Operações de Socorro competindo‐lhe, nos termos da lei, assegurar o comando operacional das operações de socorro e ainda o comando operacional integrado de todos os corpos de bombeiros de acordo com o previsto no regime jurídico dos bombeiros portugueses (Decreto Lei nº134/2006). O inem em situação com multivítimas 31 A setorização do teatro de operações notas: Um teatro de operações (TO) organiza-se em setores a que correspondem zonas geográficas ou funcionais conforme o tipo de acidente e as opções estratégicas consideradas, sendo que, cada setor do teatro de operações tem um único responsável. As zonas de intervenção configuram-se como áreas circulares (muitas vezes virtuais), de amplitude variável e adaptadas às circunstâncias e à configuração do terreno, podendo compreender: • ZONAS DE SINISTRO (ZS): Superfície na qual se desenvolve a ocorrência, de acesso restrito, onde se encontram exclusivamente os meios necessários à intervenção direta, sob a responsabilidade exclusiva do posto de comando operacional; • ZONAS DE APOIO (ZA): Zona adjacente à ZS, de acesso condicionado, onde se concentra os meios de apoio e logísticos estritamente necessários ao suporte dos meios de intervenção ou onde estacionam os meios de intervenção para resposta imediata; • ZONAS DE CONCENTRAÇÃO E RESERVA (ZCR): Zona onde se localizam temporariamente meios e recursos disponíveis sem missão imediata, se mantém um sistema de apoio logístico e assistência pré-hospitalar e onde têm lugar as concentrações e trocas de recursos pelo posto de comando operacional; • ZONAS DE RECEÇÃO DE REFORÇOS (ZRR): Zona de controlo e apoio logístico, sob a responsabilidade do centro de coordenação de operações distrital da área do sinistro, onde se dirigem os meios de reforço atribuídos pelo CCON antes de atingirem a ZCR do teatro de operações. zONA de receção de reforços zONA de concentração e reserva zONA de apoio zONA sinistro Figura 17: Setorização do TO Zonas de Sinistro e de Apoio (constituídas nas áreas consideradas de maior perigo) Zonas de concentração e reserva e zona de receção de reforços podem sobrepor-se em caso de necessidade. Figura 18: Posto de comando operacional Posto de Comando Operacional O posto de comando operacional é o órgão diretor das operações no local da ocorrência destinado a apoiar o responsável das operações na preparação das decisões e na articulação dos meios no teatro de operações. O posto de comando operacional tem por missões genéricas: • A recolha e o tratamento operacional das informações; • A preparação das ações a desenvolver; • A formulação e a transmissão de ordens, diretrizes e pedidos; • O controlo da execução das ordens; • A manutenção das capacidades operacionais dos meios empregues; • A gestão dos meios de reserva. O PAPEL DO INEM O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) é o organismo do Ministério da Saúde responsável por coordenar, em território continental, o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM). Em matéria de proteção civil, deve orientar a atuação coordenada dos agentes de saúde nas situações de acidente grave ou de catástrofe, integrando a organização definida nos planos de emergência: • Coordena todas as atividades de saúde em ambiente pré-hospitalar, a triagem e evacuações primárias e secundárias, referenciação e transporte para as unidades de saúde adequadas, bem como a montagem de postos médicos avançados; • Executa a triagem e o apoio psicológico a prestar às vítimas no local da ocorrência, com vista à sua estabilização emocional e posterior referenciação para as entidades adequadas; • Assegura um sistema de registo de vítimas desde o Teatro de Operações até às unidades de saúde de destino. situação de exceção 32 notas: O INEM, enquanto agente de Proteção Civil, através dos seus oficiais de ligação, integra estruturas de direção e coordenação, nomeadamente, a Comissão Nacional de Proteção Civil (CNPC); as Comissões Distritais de Proteção Civil (CDPC); o Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON); os Centros de Coordenação Operacionais Distritais (CCOD), bem como, os Posto de Comando Operacionais Conjuntos instalados nos locais das ocorrências. O centro de orientação de doentes urgentes (codu) Se nas situações diárias é fundamental a estreita colaboração entre as diversas entidades, em ocorrências de maior complexidade esta interligação deverá ser reforçada e ampliada, por forma a garantir uma gestão de informação eficiente que garanta uma resposta concertada, organizada e adequada. Assim, a interligação entre entidades, Bombeiros, Cruz Vermelha Portuguesa, Forças de Segurança, Autoridade Nacional de Proteção Civil e INEM, através das suas estruturas de coordenação e através dos seus oficiais de ligação, deve ter um carácter permanente e contínuo, para que, equipas multidisciplinares e diferenciadas cheguem em tempo útil ao teatro de operações. De forma simples e objetiva, aos CODU compete: • Receber os pedidos de ajuda/socorro; • Acionar recursos adequados que irão intervir, no âmbito da saúde, no local da ocorrência; • Articular a gestão da ocorrência com as Salas de Situação de outras entidades (CDOS; PSP; GNR, entre outros) • Garantir o início de um sistema de gestão de operações eficaz; • Reforçar o teatro de operações (TO) sempre que se justifique; • Garantir o acompanhamento técnico às Equipas no TO; • Efetuar o adequado levantamento de vagas hospitalares. O CODU procede ainda, de acordo com a ocorrência em causa e de acordo com as normas internas em vigor, à execução de algumas medidas excecionais, nomeadamente, a notificação da estrutura hierárquica do INEM, informando o Conselho Diretivo, o Diretor Regional respetivo, o Diretor de Emergência Médica, o Centro de Intervenção e Planeamento de Situações de Exceção e Gabinete de Marketing e Comunicação. Em função da magnitude da ocorrência, ou em função de determinadas especificidades, por determinação superior, poderão ser acionados para o local da ocorrência recursos adicionais (humanos e materiais), com o objetivo de reforçar a resposta primária (recursos normais) e/ou pela necessidade de coordenação institucional à escala da ocorrência. Assim, sempre que necessário, poderão ser acionados os seguintes recursos de exceção: • Equipa de Intervenção em Situações de Exceção; • Equipa de Intervenção em Incidentes Tático-Policiais; • Viatura de Intervenção em Catástrofe (VIC); • Viatura de Intervenção Nuclear, Radiológica, Biológica e Química; • Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência; • Hospital de Campanha. O princípio da coordenação Perante situações de exceção importa estabelecer linhas orientadoras para a intervenção inicial, uma vez que, a sua aplicação converge para qualquer intervenção em acidente grave ou catástrofe. Sempre que uma força de socorro de uma qualquer das organizações integrantes do SIOPS seja acionada para uma ocorrência, o chefe da primeira força a chegar ao local assume de imediato o comando da operação e garante a construção de um sistema evolutivo de comando e controlo da operação. O sistema de gestão de operações é uma forma de organização operacional que se desenvolve de uma forma modular de acordo com a importância e o tipo de ocorrência (figura 19). O primeiro meio do INEM a chegar ao local assume, por inerência, a coordenação das ações em matéria de saúde, competindo ao elemento mais diferenciado a interligação com o Comandante das Operações de Socorro (COS). Uma vez que a coordenação estratégica de qualquer cenário evolui em função da complexidade e tipo de ocorrência, importa perceber, quando e como, no âmbito do SIEM/INEM, esta alteração de coordenação estratégica acontece: • Por indicação do CODU; • Por indicação do Diretor Regional; • Por indicação do Diretor de Emergência Médica; • Por indicação do Presidente do INEM. O inem em situação com multivítimas 33 notas: Chefe da primeira equipa a chegar ao local Mais graduado dos bombeiros no local Sem bombeiros no local Com bombeiros no local Comandante do CB na área de atuação Comandante designado pelo CODIS Estrutura de comando da ANPC Figura 19: Processo evolutivo do COS (Fonte: ANPC) • Sempre que, por determinação superior, sejam enviados recursos de exceção para qualquer ocorrência (Equipa de Intervenção em Situações de Exceção e/ou Equipa de Intervenção em Incidentes Tático-Policiais), o responsável da equipa, por inerência, assume a coordenação estratégica da ação em matéria de saúde; • Desde que uma ocorrência seja classificada pelas forças de segurança competentes como um Incidente Tático-Policial (ITP), estas chamarão a si a gestão da mesma. À chegada dos meios ao teatro de operações As ações de gestão inicial devem prevalecer em detrimento das ações de prestação de cuidados de emergência imediatos, logo, é fundamental que a primeira equipa a chegar ao local da ocorrência resista à tentação, no que diz respeito à prestação de cuidados, e garanta sim, a gestão inicial da ocorrência (ex. imagine um cenário com 30 feridos e à chegada de uma equipa de EPH, a mesma opta por iniciar manobras de RCP a uma vítima em PCR, sem antes avaliar o cenário e determinar o número/tipo de feridos). SAFETY SEGURANÇA DO CENÁRIO SIZE UP AVALIAR CENÁRIO SEND INFORMAR SET UP ASSUMIR COMANDO START TRIAR O grande objetivo é salvar o maior número de vítimas e só será possível atingir esse objetivo, com um processo de gestão organizado e eficiente. De acordo com a bibliografia e recomendações/ orientações nacionais e internacionais, a primeira equipa de emergência médica a chegar ao local de ocorrência, em articulação com o primeiro comandante das operações de socorro (COS), deve iniciar uma avaliação sistematizada, por forma a estimar os danos e necessidades da ocorrência. Neste sentido, recomenda-se a utilização do modelo “The Virginia 5`S Initial Action Set “ baseado na metodologia dos cinco S, aplicados à avaliação inicial de cenários de exceção (figura 20). Figura 20: “Mass casualty incident management, the Virginia model, 2000” Quando já existem equipas de emergência médica no TO, este processo já se encontra em curso, pelo que, a prioridade imediata será estabelecer contato com quem está a assumir funções de Coordenação (INEM) para receber orientação/missão e entrar no cenário devidamente enquadrado. situação de exceção 34 notas: Segurança do cenário: Assumir Comando: Avaliar cenário: Nesta fase deve ser clarificada a forma como se irá proceder à triagem primária, nomeadamente, quem a faz e que algoritmo de triagem será usado, para que todos atuem de maneira semelhante, podendo ainda ser necessário efetuar uma adaptação do algoritmo a ser utilizado, bem como, proceder à distribuição das etiquetas de triagem em vigor. Logo que possível, os locais para onde serão enviadas vítimas P-3 e/ ilesos, bem como, os centros de receção de familiares, devem ser apoiados com equipas de psicólogos. Deve também ficar definido se as equipas de emergência médica irão efetuar a triagem primária na zona do sinistro (ZS) ou se, as equipas de busca e salvamento efetuarão o resgate de todas as vítimas para uma zona intermédia, e só aí, nesse local se efetuará a triagem primária. Este tipo de abordagem é aplicado quando existem muitas vítimas, por vezes até dispersas, e, os recursos de emergência médica são insuficientes. Em qualquer ocorrência normal, a variável segurança é fator determinante para o sucesso da equipa, assim, num cenário de elevada complexidade a avaliação desta variável deverá ser mais abrangente, alargada e adequada à magnitude da ocorrência. Devem ser consideradas as ameaças reais e no imediato, bem como, as eventuais ameaças que possam surgir no decorrer das ações de socorro. Pense, não entre em pânico! A avaliação inicial e a informação obtida, é um passo fundamental para estabelecer um plano de ação, assim, devem ser focados os seguintes aspetos: • Tipo e causa da ocorrência? • Dimensão estimada da ocorrência e a sua gravidade? • Número aproximado de feridos e a sua gravidade? • Área envolvida e quais as suas acessibilidades? Informar: Nos primeiros minutos e após a avaliação do cenário, é obrigatório que a informação recolhida, mesmo que sumária, seja passada de imediato ao CODU da área. Só assim será possível iniciar um processo de gestão planeado e articulado que permitirá o envio de recursos adicionais em tempo útil e de forma estruturada. É também com base na informação disponibilizada que o CODU iniciará o processo de levantamento de vagas hospitalares. Esta informação (que é diferente de uma passagem de dados) deverá ser concisa e muito objetiva, informando qual o número estimado de vítimas, qual o cenário encontrado e que reforços (meios) são, para já, necessários! Solicite Ajuda! • Onde e como iniciar/efetuar o processo de Triagem Primária? • Locais para colocar as vítimas (prioridade 1, 2, 3)? • Locais para montagem de Postos Médicos Avançados (PMA)? • Locais para ilesos? • Locais para receção de familiares? • Zona mortuária temporária (necrotério)? Triar: Tendo em conta a estratégia delineada, começar, garantindo a triagem no método de START (Simple triage and rapid treatment). O inem em situação com multivítimas 35 notas: TEATRO DE OPERAÇÕES BUSCA E SALVAMENTO MORTOS Triagem primária CB,INEM, CVP feridos Evacuação primária ZT CB, INEM, CVP, FA posto / área de triagem inem, cvp Triagem secundária INEM, CVP mortos FERIDOS GRAVES Transporte: CB, CVP, FA Evacuação secundária Transporte: CB, INEM, CVP, FA CB, CVP, FA Unidade de Saúde ZCAP ZRnM ilesos / ligeiros Figura 21: Gestão de um teatro de operações (FA – Forças Armadas; CB – Corpos de bombeiros; ZT – Zona de Transição; ZRnM – Zona de Reunião de Mortos; ZCAP – Zona de Concentração e Apoio à População) O posto médico avançado (pma) O PMA é um espaço físico organizado, onde serão prestados os cuidados de emergência necessários para assegurar que as vítimas são estabilizadas e transportadas nas melhores condições possíveis até à unidade de saúde mais adequada. Para o adequado controle de um fluxo ordenado de vítimas para as Unidades de Saúde, de forma a evitar a mera transferência de uma situação caótica do pré-hospitalar para o hospitalar, as vítimas podem aguardar no PMA, pelo momento mais oportuno para a sua transferência para a unidade de saúde adequada. Desta forma promove-se um melhor controlo da situação, evitando o transporte apressado e caótico das vítimas para o Serviço de Urgência (SU) mais próximo, fazendo com que se esgote a capacidade de resposta desse SU, contribuindo para o insucesso da operação, podendo, inclusive, agravar o prognóstico das vítimas mais graves. O PMA não é obrigatoriamente uma estrutura física com requisitos específicos, pode ser: • Um espaço físico virtual, delimitado (ex. com fita balizadora); • Uma estrutura física fixa, adaptada (ex. um ginásio, uma escola ou um pátio); • Uma estrutura móvel específica (ex. uma tenda insuflável); • Outra estrutura ou área que no momento se entenda útil e segura para a situação em causa. O PMA deverá estar organizado em áreas de atendimento, de acordo e compatíveis com as prioridades das vítimas, de forma a rentabilizar e gerir os recursos disponíveis. É também comum que se tente, sempre que possível, não colocar os feridos ligeiros, catalogados como verdes, de baixa prioridade, no PMA, uma vez que este tem, normalmente, dimensões reduzidas e deve ser preferencialmente disponibilizado para as vítimas mais graves, catalogadas como encarnadas ou amarelas. Por razões de prudência e atendendo ao facto de que a situação clínica das vítimas é dinâmica e não estática, mesmo as vítimas consideradas, num primeiro momento, como menos graves devem manter-se sob vigilância por elementos das equipas médicas, uma vez que a sua situação (tal como a de qualquer outra vítima) poderá, eventualmente, agravar-se. Figura 22: PMA situação de exceção 36 notas: Comunicações As comunicações de emergência num cenário multivítimas assumem também um papel fundamental, o fluxo de informação deverá estar assente num plano de comunicações estruturado e organizado que garanta a troca de informação entre equipas e que permita também a troca de informação com níveis de decisão. Este fluxo não deve ser quebrado. Evacuação Um aspeto importante no transporte secundário, para além do tipo de meio, é o nível de acompanhamento das vítimas. Este deverá ser também analisado, estando dependente do nível de gravidade das vítimas a transportar versus o número de equipas diferenciadas disponíveis. Ideal será o acompanhamento por uma equipa médica de todos os doentes críticos. Os fatores acima mencionados, bem como a distância e tempo de transporte podem influenciar a decisão de transporte imediata. Cabe ao INEM, através dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes, coordenar a evacuação dos feridos para as Unidades de Saúde. Da decisão de evacuação secundária consta ainda a análise e opção pelo melhor meio de transporte disponível, que poderá ser o helicóptero ou uma ambulância. Para essa análise deverá contribuir a disponibilidade de meios, o tempo previsível do transporte, as condições de voo, a eventual existência de contraindicações clínicas para o aerotransporte, entre outras. Em suma, pode-se afirmar que, a gestão de emergência perante um cenário multivítimas está sempre a recomeçar, a sua análise é permanente, a síntese é contínua e o seu método é cíclico. Figura 23: Hospital de Campanha do INEM O inem em situação com multivítimas 37 38 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 5. NUCLEAR/ RADIOLÓGICO, BIOLÓGICO E QUÍMICO NRBQ NRBQ 39 Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 ataques terroristas concertados ao World Trade Center e Pentágono (1) perpetrados por vários suicidas da rede terrorista Al-Qaeda de Osama Bin Laden, utilizando quatro aviões comerciais (um acabou por cair na Pensilvânia, não atingindo o alvo previsto – Casa Branca?), provocaram uma mudança radical na opinião pública relativamente à perceção da vulnerabilidade que a sociedade apresenta face à ameaça terrorista. Exemplo disto são os acontecimentos subsequentes relacionados com o medo de ataques com Anthrax, que chegaram a raiar a histeria coletiva. Nem o atentado terrorista no metropolitano de Tóquio (2), com gás Sarin, tinha conseguido tal impacto apesar do número elevado de vítimas (superior a 5.000). Apesar da gravidade deste ataque, executado em 20 de março de 1995 por 10 seguidores da seita japonesa Aum Shinrikyo de Asahara Shoko, o nível de alarmismo inicial rapidamente desapareceu, sobretudo após a prisão dos principais envolvidos no ataque. A sigla NBQ, utilizada para englobar um conjunto de ameaças que se restringia praticamente ao campo militar, no período pós 11 de setembro rapidamente integrou o vocabulário do cidadão comum, que passou a acompanhar com apreensão a evolução da conjuntura internacional e a crescente preocupação dos governos “ocidentais” com a segurança interna, face à possibilidade da utilização por grupos terroristas de dispositivos Nucleares, agentes Biológicos ou Químicos. Recentemente, esta sigla sofreu um “upgrade” para NRBQ (Nuclear/Radiológico, Biológico e Químico), pela possibilidade (inclusivamente levantada em alguns documentos na posse de membros capturados de grupos terroristas) da utilização dos denominados Dispositivos de Dispersão Radiológica, vulgarmente conhecidos por “Bombas Sujas” (Dirty Bombs). Também a expressão “armas de destruição maciça” (em inglês: WMD ou Weapons of Mass Destruction) passou a ser utilizada com frequência. Esta expressão designa a utilização dos agentes NRBQ (por vezes, também designados por “agentes não convencionais”) como armas desenvolvidas para provocar um número de vítimas elevado. No entanto, as ameaças com agentes englobados na designação NRBQ não se limitam a cenários de terrorismo. A possibilidade de um acidente numa central nuclear ou numa unidade industrial é um cenário bem real e as consequências poderão ser semelhantes: um número elevado de vítimas. Nestes casos, geralmente é utilizada a expressão HAZMAT (Hazardous Materials, em inglês) para designar a libertação acidental de matérias perigosas: todas as substância potencialmente tóxicas para o ambiente ou para os seres vivos, incluindo microorganismos, plantas, animais e seres humanos e que inclui agentes químicos, biológicos e radiológicos. Porque muito do que é utilizado ou consumido pelo Homem é produzido com recurso a matérias perigosas, o número destas substâncias é extraordinariamente elevado. Como exemplos recentes, podem ser referidos os casos da central nuclear de Fukushima (3) – Japão, da contaminação acidental de contentores de transporte de um precursor de gelado (4) nos EUA e do acidente na fábrica da Union Carbide em Bhopal (5) – Índia. Uma vez que a principal diferença entre risco NRBQ e HAZMAT reside na intencionalidade da libertação, os agentes NRBQ formam um grupo mais restrito de substâncias perigosas que podem ser transformadas em armas terrivelmente eficazes de um modo simples. Além de uma elevada toxicidade/patogenicidade, a sua produção, armazenamento e manuseamento são relativamente fáceis e possuem caraterísticas que permitem a sua dispersão em locais onde podem produzir um número elevado de vítimas. FACTO (1)Vítimas: 3.020 mortos (2.792 no World Trade Center, 188 no Pentágono e 40 na Pensilvânia) e 2.337 feridos; (2)Libertação intencional de gás Sarin no metro de Tóquio: 12 mortos e mais de 5.000 feridos; (3)Sismo seguido de tsunami, com paragem do fornecimento de energia e dos sistemas de arrefecimento de 3 dos 6 reatores da central. Atualmente (setembro de 2012), a situação ainda não está controlada e não existe reconhecimento oficial do número de vítimas embora seja certa uma extensa contaminação ambiental e a necessidade de evacuação de milhares de residentes da região afetada (11 de março de 2011); (4)Contaminação de contentores de transporte de um precursor de gelado com estirpes de Salmonella que afetou 224.00 pessoas, em 41 estados dos EUA (setembro de 1994); (5)Libertação de metil-isocianato: mais de 2.500 mortos e 200.000 feridos/ afetados (noite de 2 para 3 de dezembro de 1984). notas: situação de exceção 40 notas: AGENTES NUCLEARES e RADIOLÓGICOS Conceitos básicos de física nuclear As radiações existem por todo o lado. As emissões radiofónicas, os radares, os fornos micro-ondas ou os telemóveis são apenas algumas das muitas utilizações benéficas de diferentes tipos de radiações. A própria luz solar (visível) é uma forma de radiação. Todos os exemplos referidos atrás são formas de radiação não-ionizante. No entanto, alguns elementos têm a capacidade para emitirem radiação ionizante. Ao contrário das não-ionizantes, as radiações ionizantes podem provocar lesões a nível de constituintes celulares fundamentais, transferindo energia para alguns desses constituintes e provocando o aparecimento de iões (carregados eletricamente). Alguns exemplos destes elementos radioativos são o Urânio, o Plutónio, o Cobalto ou o Césio. Se alguns podem ser utilizados de um modo benéfico, como o Cobalto 60 (60Co), utilizado no tratamento de várias neoplasias (radioterapia), a sua utilização com intuitos criminosos ou quando envolvidos em acidentes que resultem na sua libertação descontrolada para o ambiente, podem causar graves efeitos no Homem e no ambiente. Existem dois tipos de radiações ionizantes: • Radiações com partículas: radiação (alfa), radiação ß (beta) e feixes de neutrões; • Eletromagnéticas: radiação (gama) e Raios X. Os feixes de neutrões apenas surgem durante uma reação nuclear (explosão nuclear ou no interior de um reator) e os Raios X são emitidos quando uma corrente elétrica de grande intensidade atinge um alvo de tungsténio, no interior de uma ampola de vácuo. Tecido Ou seja, os feixes de neutrões e os Raios X resultam de fontes artificiais (6). Pelo contrário, as radiações , ß e ocorrem na natureza como resultado das caraterísticas de alguns elementos naturalmente radioativos como o Plutónio, ou de alguns isótopos instáveis (7) de elementos normalmente não radioativos, como o Iodo 131 (131I). Os vários tipos de radiação têm diferentes capacidades de penetração (Fig. 24), facto que justifica alguns dos seus efeitos e as diferenças verificadas em termos de eficácia das medidas de proteção. Além da capacidade de penetração, outra caraterística distintiva destas radiações prende-se com a energia que lhes está associada. Os feixes de neutrões e as radiações são fontes de transferência de altas energias lineares ou High-LET (High Linear-Energy Transfer). Os restantes exemplos são designados por Low-LET (Low Linear-Energy Transfer). Por este motivo, embora a irradiação por radiações não represente um perigo significativo (são retidas na camada inerte da epiderme), a contaminação interna com substâncias emissoras de partículas causa lesões muito graves. FACTO (6)Na verdade, existem fontes naturais deste tipo de radiação, mas não na Terra; (7)Isótopos: átomos do mesmo elemento mas cujo número de neutrões é diferente (número atómico igual). Radioisótopo aplica-se a todos os isótopos que emitem radioatividade. Alumínio Figura 24- A capacidade de penetração das radiações ionizantes é diferente. Parede de betão Chumbo NRBQ 41 Tipos de exposição às radiações • Irradiação (externa); • Contaminação externa; • Contaminação interna. Irradiação significa que um indivíduo foi exposto a uma determinada quantidade de radiação ionizante, emanada de uma fonte com a qual não entrou em contacto direto. Neste caso, a quantidade de radiação absorvida pode ser reduzida ou abolida se o indivíduo exposto se afastar da fonte e/ou se proteger adequadamente. A irradiação pode ser sistémica (total) ou parcial. Contaminação significa que um indivíduo tem no seu organismo, na sua pele ou nas suas roupas material radioativo. A contaminação será interna se o material radioativo penetrou para o interior do organismo e externa se tal não se verificou. A contaminação externa requer a descontaminação (Fig. 25) imediata de modo a separar o material radioativo do indivíduo exposto. No caso da contaminação interna, verificou-se a entrada de material radioativo para o meio interno do indivíduo, por via inalatória, digestiva ou através de soluções de continuidade da barreira cutâneomucosa. Embora a descontaminação deva ser efetuada de forma adequada, não devemos esquecer que o indivíduo vai continuar exposto às radiações “a partir de dentro”, enquanto as substâncias radioativas não forem eliminadas ou excretadas. Em casos de contaminação interna, a substância radioativa tende a concentrar-se em tecidos específicos. Um exemplo deste facto é a acumulação de Iodo radioativo na tiróide. Por descontaminação, entende-se o conjunto dos processos que visam a remoção do material radioativo dos indivíduos contaminados. Embora este termo apenas se aplique no caso da contaminação externa, os objetivos das medidas utilizadas para promover a excreção e eliminação de substâncias radioativas do organismo são os mesmos: remover a fonte de radiação do indivíduo contaminado. Fig. 25 Unidade de descontaminação (INEM). Efeitos das radiações ionizantes no HOMEM As radiações ionizantes podem provocar lesões por dois mecanismos, embora, frequentemente, ambos estejam presentes em casos de exposição: • Efeitos diretos: Ação direta das radiações sobre o núcleo das células e, em particular, sobre o ADN, provocando alterações moleculares; • Efeitos indiretos: Ionização da água dos tecidos, com a formação de peróxido de hidrogénio e a criação de radicais livres. Estes radicais livres vão ser responsáveis por graves alterações moleculares. Devido à grande quantidade de água existente no corpo humano, estes efeitos são muito significativos. Seja através de mecanismos diretos ou indiretos, as consequências biológicas da exposição às radiações podem ser agrupadas em dois tipos: • Efeitos estocásticos: efeitos do tipo “tudo ou nada”, resultam da ação das radiações sobre algumas estruturas nucleares. Embora exista alguma capacidade de reparação de eventuais alterações do material genético, uma vez ultrapassada essa capacidade, surgem modificações permanentes. Embora a probabilidade de ocorrência deste tipo de efeitos dependa da dose, a gravidade não. Exemplos deste tipo de efeitos são as alterações cromossómicas e o desenvolvimento de neoplasias malignas; • Efeitos determinísticos: estes efeitos surgem com doses acima de um determinado limiar e são dosedependentes, isto é, a gravidade da alteração é proporcional à dose absorvida. Exemplos são a depressão hematopoética, a fibrose tecidular, a formação de cataratas ou a infertilidade. De modo a quantificar os efeitos das radiações ionizantes, utilizam-se as seguintes unidades de medida: • EXPOSIÇÃO (grandeza pouco utilizada): Capacidade das radiações para ionizarem o ar (aplica-se apenas à radiação e aos Raios X); As unidades são o Coulomb/Kg (C/Kg) [unidade do SI] e o Roentgen (R); 1 C/Kg = 3876 R; • DOSE ABSORVIDA: Quantidade de energia depositada numa determinada massa de um material ou tecido; As unidades são o Gray (Gy) [unidade do SI] e o RAD; 1 Gy = 100 RAD; • DOSE EQUIVALENTE: Quantidade de energia depositada num tecido, calibrada através de um fator de qualidade específico, de acordo com os efeitos previsíveis de cada tipo de radiação. Por exemplo, o valor de Q é 1 para as radiações e ß e 20 para a radiação e ß alguns feixes de neutrões de elevada velocidade; notas: situação de exceção 42 notas: As unidades são o Sievert (Sv) [unidade do SI] e o REM (REM: acrónimo de Roentgen Equivalent in Man); 1 Sv = 100 REM Dose equivalente = Dose absorvida x Q Q = fator de qualidade, específico de cada tipo de radiação. A dose equivalente é a grandeza utilizada para quantificar a exposição humana às radiações. Como exemplo, refira-se que a exposição máxima acumulada não pode ultrapassar os 50 mSv (milisieverts) por ano, no caso de profissionais expostos (ex. Serviços de Radiologia ou de Radioterapia). Em situações de exposição, as consequências vão depender da intensidade da fonte, da distância a essa fonte, do tipo de radiação envolvida e do tempo e tipo de exposição. Assim, em caso de irradiação com uma fonte de partículas , as consequências serão praticamente nulas uma vez que este tipo de radiação não ultrapassa a camada epidérmica. No entanto, se a mesma fonte causar contaminação interna, a radiação é extremamente destrutiva, causando morte celular extensa. As partículas ß, devido ao seu maior poder de penetração, ultrapassam a epiderme e podem provocar lesões nas camadas mais profundas da pele e tecido celular subcutâneo muito semelhantes a queimaduras térmicas (queimaduras beta). Podem ainda, a nível do cristalino, originar cataratas. Em caso de contaminação interna, os seus principais efeitos são alterações carcinogénicas, dose dependentes. A radiação , pela sua elevada capacidade de penetração constitui um risco de irradiação externa e interna, com efeitos carcinogénicos muito significativos, também dose dependentes. Os feixes de neutrões, por seu lado, são altamente destrutivos. Embora existam diferentes tipos de feixes de neutrões (de baixa e de alta velocidade), a sua elevada energia (High-LET) provoca danos tecidulares marcados o que, a juntar à sua capacidade de penetração, os torna uma fonte de lesões internas significativa. Adicionalmente, os neutrões têm a capacidade de provocar a libertação de radiação ao nível dos tecidos, ao colidirem com os átomos desses tecidos. Já foi referido que os efeitos da exposição às radiações são vários e podem surgir em momentos diferentes: imediatamente após a exposição ou vários anos depois. Assim, os efeitos médicos das radiações ionizantes podem consistir em lesões tecidulares e necrose focais, síndroma aguda por irradiação sistémica e efeitos a longo prazo. A este propósito importa distinguir duas situações: ocorrências de reconhecimento imediato (ex. acidentes em centrais nucleares ou instalações onde se sabe existir material radioativo) e ocorrências de reconhecimento tardio (ex. atos terroristas ou a contaminação acidental por material radioativo sujeito a deficiente controlo pelas autoridades competentes). Com exceção da deflagração de uma bomba atómica, os primeiros tendem a envolver “poucas” vítimas e estas são relativamente fáceis de identificar. Pelo contrário, as ocorrências de reconhecimento tardio podem envolver um número considerável de vítimas. Estas vítimas acabarão por recorrer a serviços de saúde dispersos, dificultando o diagnóstico e atrasando a associação entre a sua sintomatologia e uma ocorrência de tipo radiológico. Pela sua relevância e pela possibilidade de mais rapidamente poder ser identificada uma ocorrência de tipo radiológico, uma entidade clínica merece uma atenção particular: a Síndrome Aguda de Radiação (SAR). Esta entidade resulta da irradiação sistémica por radiações ionizantes e evolui em quatro fases distintas: • Fase prodrómica; • Fase latente; • Fase manifesta; • Fase de recuperação/morte. Durante a fase prodrómica, os sintomas dominantes são as náuseas, os vómitos e diarreia. Outra sintomatologia pode incluir dores abdominais, ardor ocular e febre. Esta fase é extremamente importante uma vez que o tempo de instalação entre a suposta (ou confirmada) exposição e o início das náuseas, vómitos e diarreia permite aferir da gravidade da exposição e do prognóstico individual. A fase latente consiste num período de relativa melhoria dos sintomas iniciais, especialmente com exposições sub-letais. A fase manifesta carateriza-se fundamentalmente por alterações a nível hematopoiético (compromisso de várias linhas celulares, com imunossupressão), gastrointestinal (lesões epiteliais com alterações da absorção de nutrientes e invasão bacteriana), pulmonar (pneumonite intersticial e fibrose), musculo-cutâneo (queda de pelos e alopécia, eritema e descamação cutânea, necrose de tecidos) e neuro-vascular (inconsciência, coma, convulsões e morte). A fase de recuperação/morte inicia-se no momento em que a capacidade de regeneração celular inicia um processo de reparação das alterações verificadas a este nível. Se este processo permitir que não surjam infeções ou falências orgânicas críticas, a vítima poderá sobreviver. Caso contrário, ocorre a morte. A rapidez com que estas fases vão surgir é dependente da dose de radiação absorvida e permite estabelecer o prognóstico: • Doses < 0,5 Sv: Sintomatologia ausente; • Doses < 1 SV: Náuseas e vómitos surgem até às 48 horas; • Doses < 2 Sv: Náuseas e vómitos surgem até às 24 horas; • Doses < 4 Sv: Náuseas e vómitos até às 12 horas e diarreia até às 8 horas; • Dose 4,5 Sv: 50 % de mortalidade sem tratamento; NRBQ 43 • Doses 10-30 Sv: Náuseas, vómitos e diarreia surgem nos 5 minutos iniciais; • Doses > 30 Sv: Lesões neuro-vasculares mortais em poucos minutos. notas: Cenários de ameaças envolvendo radiações Explosão nuclear Comparativamente às explosões convencionais, as explosões nucleares apresentam duas diferenças significativas: uma maior libertação de energia destrutiva e a presença de radiação e detritos radioativos. O poder destrutivo deste tipo de dispositivos é bem patente nos efeitos das explosões de Hiroshima (Fig. 26), onde uma bomba de 22 kiloton (8) causou 70.000 mortos e 70.000 feridos e Nagasaki (bomba de 15 kiloton causou 36.000 mortos e 40.000 feridos). Embora existam diferentes tipos de bombas nucleares, as lesões provocadas podem ser agrupadas em três tipos: • lesões provocadas pela explosão (“blast injuries”); • lesões térmicas; • lesões provocadas pela radiação. As lesões provocadas pela radiação são particularmente significativas no ponto de impacto (“ground zero” – zona de maior destruição) e nos segundos imediatos após a detonação, em que se verifica a libertação de grandes quantidades de raios e neutrões. A conjugação da(s) onda(s) de choque, a onda de calor e a libertação de radiação faz com que, nesta área, as probabilidades de sobrevivência sejam virtualmente inexistentes. Além das lesões referidas, a libertação de radionuclídos resultantes da fissão nuclear e a formação de nuvens de detritos radioativos causa a dispersão de material radioativo por áreas que, embora dependam das condições atmosféricas, podem ser muito vastas. FACTO (8)Kiloton (kilotoneladas): correspondência entre a potência de uma bomba nuclear e a quantidade de TNT necessária para produzir a mesma quantidade de energia. A maior bomba atómica jamais detonada (Rússia, 30 de Outubro de 1961) tinha uma potência de cerca de 50 megaton (megatoneladas), isto é, uma potência mais de 2.000 (!) vezes superior à bomba de Hiroshima. Fig. 26 O cogumelo nuclear resultante da explosão da Bomba atómica em Hiroshima (à esquerda) e a devastação provocada naquela cidade Japonesa pela bomba, batizada como “little boy”. situação de exceção 44 notas: Acidente com um reator nuclear Este tipo de acontecimento já ocorreu por mais que uma vez (fig. 27) e, apesar da maior parte dos reatores nucleares atualmente em funcionamento serem considerados muito seguros, a possibilidade de um ataque terrorista a uma instalação deste tipo não deve ser negligenciada. Também não deve ser ignorada a possibilidade de um ataque a depósitos de combustível nuclear utilizado mas ainda radioativo. Geralmente este tipo de instalações está sujeito a medidas de segurança menos apertadas que os reatores propriamente ditos. Neste tipo de cenários, existe a possibilidade de se verificar contaminação ambiental em larga escala. Dispositivo de Dispersão Radiológica DDR (bomba suja) Um DDR é um dispositivo que provoca a disseminação de material radioativo numa área significativa, sem recurso a uma explosão nuclear. Para que tal aconteça, basta associar um explosivo convencional a material radioativo. Neste cenário, a maior parte das vítimas seriam indivíduos que estariam próximos do DDR no momento da deflagração e as suas lesões resultariam sobretudo dos traumatismos provocados pela explosão. A utilização deste tipo de dispositivos apresenta um potencial destrutivo para além dos danos físicos e ambientais. A onda de pânico associada à deflagração de um engenho deste tipo terá, certamente, consequências gravíssimas. Ironicamente, do ponto de vista dos efeitos associados ao material radioativo, um DDR pode ser mais perigoso antes do que após a explosão. Dispositivo Radiológico Simples Um dispositivo deste tipo pretenderá “apenas” provocar a irradiação de um número significativo de indivíduos. A colocação de Cobalto 60 num local público (ex.: estação, aeroporto, centro comercial) pode causar a irradiação de um número considerável de pessoas, com uma gravidade que depende da proximidade e do tempo de exposição. Fig. 27 Dois dos quatro reatores da central nuclear de Fukushima (total de seis reatores) afetados pelo sismo + tsunami (à esquerda) e área de dispersão da nuvem radioativa formada em consequência desse acidente. Resposta em caso de ocorrências envolvendo risco radiológico A resposta dos sistemas de emergência neste tipo de ocorrências vai variar de acordo com o momento em que o risco de existirem vítimas ou áreas contaminadas com material radioativo é conhecido. Nos casos em que as vítimas abandonaram a zona contaminada antes de ser identificado o risco radiológico, a resposta vai centrar-se no isolamento da zona contaminada e na identificação de todas as potenciais vítimas. Se o risco radiológico (ou a sua confirmação) for declarado antes das vítimas abandonarem a zona quente (área contaminada), é possível estabelecer um cordão de segurança no perímetro da zona quente e um outro perímetro, definindo a zona de trabalho das entidades responsáveis pelo socorro. No caso específico dos acidentes envolvendo risco radiológico, além dos serviços que habitualmente intervêm em situações de emergência, devem ser contactadas as entidades (9) com conhecimentos, tecnologia e competências particulares nesta área. FACTO (9)Em Portugal devem ser contactadas a Divisão de Saúde Ambiental e Ocupacional da Direção Geral de Saúde - DGS (telefone 218 430 500), a Agência Portuguesa do Ambiente APA (telefone 214 728 200) e a Unidade de Proteção e Segurança Radiológica do Instituto Superior Técnico/Instituto Tecnológico e Nuclear - IST/ITN (telefone 219 946 292). NRBQ 45 De forma específica ou em colaboração com outras, compete a estas entidades a definição dos limites da zona quente, a assessoria técnica e a monitorização das vítimas e do pessoal dos serviços de emergência e segurança. Todo o dispositivo de socorro deve ser colocado fora da zona quente, apenas acessível a pessoal especializado e devidamente equipado com EPI (Equipamento de Proteção Individual) e equipamento de monitorização. O posicionamento exato do dispositivo depende, evidentemente, das condições geográficas mas respeitando sempre o princípio “upwind & uphill”, isto é, contra o vento (ex. se a direção do vento é de Norte para Sul, o dispositivo deve localizar-se a Norte da zona quente) e num local mais elevado. Deve ser criada uma área para descontaminação na periferia da zona quente (“upwind & uphill”), por onde todas as vítimas devem passar. O pessoal que entrar na zona quente também deve sair por esta zona. Todas as vítimas e elementos dos serviços de emergência que saírem da zona quente devem ser monitorizados e descontaminados. O tempo de permanência do pessoal que entrar na zona quente deve ser cuidadosamente monitorizado e controlado. O tempo máximo depende da dose absorvida, que não deverá exceder os 100 mSv (American Academy of Science, 1999). Todos os elementos das equipas de socorro devem possuir dosímetros individuais e, após a conclusão das operações de socorro, devem receber o tratamento, o aconselhamento e o follow up indicados, em função da dose absorvida. O tratamento de emergência a dispensar às vítimas, além da descontaminação, depende das lesões traumáticas (físicas e psicológicas) que estas apresentam. Todas as lesões (ex. feridas, fraturas) devem ser corrigidas o mais rapidamente possível, de modo a evitar o período em que a supressão hematopoiética é maior e a reparação e a cicatrização são mais afetadas. Posteriormente, após ser determinado o nível de contaminação interna (se existir) e o tipo de radioisótopos envolvidos, poderá ser instituído o tratamento apropriado. No entanto, para muitas das alterações provocadas pela exposição, o tratamento consiste apenas em medidas de suporte. Em caso de contaminação interna, a utilização de agentes quelantes específicos e de medidas que promovam a excreção da(s) substância(s) radioativa(s) devem ser instituídas logo que essas substâncias sejam identificadas. Em caso de imunossupressão importante, pode estar indicado o isolamento em ambiente “limpo” (unidades de neutropénicos) e, eventualmente, o transplante de medula. As vítimas com lesões que necessitem de correção cirúrgica e tenham recebido doses superiores a 2 mSv devem ser operadas no prazo de 48 horas. Após este período, o risco cirúrgico aumenta significativamente devido à supressão hematopoiética. Nas primeiras horas, a maior parte das situações de exposição aguda a radiações não requer tratamento específico, além do dispensado às lesões existentes. Desde que não exista contaminação interna, a dose recebida não seja significativa e as lesões traumáticas não obriguem a internamento, muitas das vítimas poderão ser acompanhadas em regime ambulatório. No caso concreto de acidentes com reatores nucleares, a probabilidade de ser libertado Iodo radioativo (125I e 131I) recomenda a utilização de Iodeto de Potássio (KI). Este fármaco, ligando-se aos recetores da tiróide, impede a fixação do Iodo radioativo, permitindo a sua posterior excreção. As doses de KI a utilizar são de 130 mg/dia para adultos e crianças > 1 ano e 65 mg para crianças < 1 ano. O KI deve ser iniciado até 4 horas após a exposição e administrado durante mais de 3 dias. Se o Iodo radioativo já foi fixado pela tiróide, o KI vai bloquear a sua excreção pelo que a sua administração deve ser precoce. notas: situação de exceção 46 notas: AGENTES BIOLÓGICOS A ocorrência de surtos envolvendo agentes biológicos, conhecidos ou desconhecidos, é possível: recorde-se o caso da Síndroma Respiratória Aguda (“Pneumonia Atípica”) e a mais recente preocupação com a Gripe das Aves. No entanto, uma das principais preocupações nos dias de hoje consiste na ocorrência de um ataque terrorista recorrendo a este tipo de agentes. Os seguintes agentes biológicos são geralmente apontados como tendo o maior potencial para utilização por terroristas: • Anthrax; • Tularemia; • Peste; • Varíola; • Toxina botulínica; • Febres víricas hemorrágicas (como as causadas pelos vírus Ébola e Marburg). Categorias de agentes biológicos O Center for Disease Control (CDC) dos Estados Unidos define três categorias para os agentes biológicos: Categoria A – Primeira alta prioridade Organismos que representam um alto risco para a segurança nacional porque: • Disseminam-se facilmente e transmitem-se por contacto direto; • Causam mortalidade elevada, com potencial para um grande impacto na saúde pública; • Podem causar pânico generalizado e disrupção social; • Requerem medidas especiais de saúde pública. A categoria A inclui: • Vírus da Varíola – Orthopoxvirus; • Bacillus anthracis (Anthrax); • Yersinia pestis (Peste); • Clostridium botulinum (Botulismo); • Francisella tularensis (Tularemia); • Filovírus: Febre Hemorrágica (FH) de Ébola e FH de Marburg; • Arenavírus: Febre de Lassa, FH Argentina e outros vírus relacionados. Categoria B – Segunda alta prioridade Organismos que representam um alto risco para a segurança nacional porque: • Disseminam-se de forma moderada; • Causam mortalidade moderada e baixa mortalidade; • Requerem reforço dos meios de diagnóstico e maior vigilância da doença. A categoria B inclui: • Coxiell burnetti (Febre Q); • Espécies de Brucella (Brucelose); • Alfavírus: Encefalite Venezuelana e Encefalite Equina; • Ricina (toxina); • Toxina épsilon do Clostridium perfringens; • Enterotoxina B do Staphylococcus; • Apêndice – agentes que podem contaminar a água e incluem: Espécies de Salmonella; Shigella dysenteriae; Escherichia coli (estirpe O 157:H7); Vibrio cholerae; Cryptosporidium parvum. Categoria C – Terceira alta prioridade Organismos que representam um risco potencial para serem usados no futuro como armas de destruição em massa: • Facilmente acessíveis; • Facilidade de produção e disseminação; • Potencial para provocar morbilidade e mortalidade altas e impacto público importante. Vias de exposição A categoria C inclui: • Vírus Nipah; • Hantavírus; • Vírus causadores de Febre Hemorrágica, transmitidos pela carraça; • Vírus causadores de encefalite, transmitidos pela carraça; • Febre amarela; • Tuberculose multirresistente. • Inalatória: Esta é a via que maiores preocupações levanta. Um ataque terrorista recorrendo à pulverização de uma zona de grande densidade populacional com um agente biológico adequado (ex. esporos de Anthrax) pode provocar milhares de vítimas; • Digestiva: Esta via também levanta algumas preocupações, sobretudo pela possibilidade da contaminação intencional de sistemas de abastecimento público de água; • Percutânea: Esta via não levanta grandes preocupações. A pele é uma barreira eficaz contra NRBQ 47 a maior parte dos agentes biológicos. No entanto a presença de soluções de continuidade pode levantar alguns problemas. Indícios de um possível ataque com agentes biológicos • Aumento rápido e inexplicável do número de doentes numa população sem fatores de risco; • Doentes com sintomatologia respiratória, gastrointestinal ou febre ou agravamento inexplicável deste tipo de quadros em doentes sem fatores de risco; • Doentes com doença endémica de determinada região mas pouco comum na zona onde se encontram, que surge numa época pouco comum ou com padrões incaraterísticos; • Aumento do número de casos fatais expetáveis para determinada doença; • Diagnóstico de uma doença com potencial para bioterrorismo reconhecido. Resumo das caraterísticas de alguns agentes biológicos Anthrax Provocado pelo Bacillus anthracis, microrganismo gram positivo esporulado. Este agente existe no solo (os esporos podem permanecer viáveis no solo ao fim de várias décadas e tem uma distribuição mundial. Transmissão: Por inalação, via digestiva e percutânea. Período de Incubação: 1 dia a 8 semanas (via inalatória) e 1 a 7 dias (via percutânea). Formas clínicas: • Cutânea: pápula, vesícula ou escara (Fig. 28), localizadas mais frequentemente na cabeça, mãos e antebraços; • Gastrointestinal: faringite com edema, náuseas e vómitos; diarreia sanguinolenta; • Gastrointestinal: faringite com edema, náuseas e vómitos; diarreia sanguinolenta; • Pulmonar: sintomas gripais, melhoria aparente Profilaxia: Vacina disponível. Tratamento: Para a forma pulmonar, antibioterapia EV (ciprofloxacina ou doxyciclina associadas a outros antibióticos, como gentamicina, rifampicina ou cloranfenicol) e suporte das funções vitais em ambiente de Cuidados Intensivos. Fig. 28 Aspeto das lesões cutâneas de Anthrax. Fig. 29 Alargamento do mediastino visível em radiografia de tórax de uma vítima de Anthrax pulmonar notas: situação de exceção 48 notas: Peste Provocada pela Yersinia pestis, microrganismo gram negativo. Reservatório: Roedores. Vetor: Pulgas. Transmissão: Por inalação e via percutânea. Período de Incubação: 2 a 7 dias. Formas clínicas: • Peste bubónica: pústula na zona de inoculação, adenopatias muito dolorosas e febre; • Peste septicémica: febre sem adenopatias e choque séptico; • Peste pneumónica: Febre, dispneia, tosse produtiva; evolução fulminante para falência respiratória, choque e morte. Profilaxia: Doxyciclina, 100 mg PO, durante 7 dias para as pessoas expostas a um aerossol deste agente. Tratamento: Antibioterapia (estreptomicina; cloranfenicol em caso de meningite por yersinia), que deve ser iniciada dentro de 24 h após início dos sintomas. Tularemia Provocada pela Francisella tularensis, microrganismo gram negativo. Reservatório: Coelhos, lebres e ratos. Vetor: Carraças, moscas e mosquitos. Transmissão: Por inalação, via digestiva e percutânea. Período de Incubação: 1 a 20 dias. Formas clínicas: • Úlcero-ganglionar: pápula ulcerada e adenopatias dolorosas; • Ganglionar: adenopatias dolorosas; • Tifoidal (septicémica): pneumonia e choque séptico, sem lesões cutâneas e adenopatias. Profilaxia: Vacina disponível. Tratamento: Antibioterapia (estreptomicina; gentamicina como alternativa). Varíola Considerada erradicada em 1980 pela OMS (último caso na Somália em 1977). Provocada pelo vírus da varíola (Orthopoxvirus). Reservatório: Por inalação. Período de Incubação: 7 a 17 dias. Formas clínicas: • Varíola major: síndrome gripal, febre e mialgias; lesões dérmicas: máculas, pápulas e vesículas (Fig. 30); as lesões surgem na face, membros superiores e inferiores e estendem-se ao tronco (extensão centrípeta). Esta forma de varíola tem uma mortalidade de 10 a 30 %, com a morte a surgir ao 5-6 dia; • Varíola minor: sintomas iniciais semelhantes à forma major mas com lesões cutâneas menos exuberantes e mais pequenas. Profilaxia: Vacina disponível. Tratamento: De suporte. NRBQ 49 notas: Fig. 30 Aspeto caraterístico das vesículas da varíola. Repare-se no seu aspeto umbilicado (à esquerda). À direita é visível o atingimento da face, tronco e membros superiores na forma major da doença. Botulismo (toxina) Conjunto de 7 toxinas (A a G) produzidas pelo Clostridium botulinum, microrganismo gram positivo esporulado. As toxinas atuam por bloqueio da junção neuro-muscular, inibindo a libertação de acetilcolina. A dose tóxica é de 0,001 g / Kg. Reservatório: Coelhos, lebres e ratos. Período de Incubação: 24 a 72 horas (inalação) e 12 a 36 horas (ingestão). Formas clínicas: Paralisia de nervos cranianos com diplopia, visão desfocada, midríase, ptose, fotofobia, disartria, disfonia e disfagia; paralisia descendente de início proximal; insuficiência respiratória de causa neuro-muscular. Profilaxia: Disponível. Tratamento: Administração de antitoxina bivalente (ativa contra toxinas A e B) ou heptavalente; tratamento de suporte. Ricina (toxina) Proteína com origem na planta que produz óleo de castor (extraída das sementes de ricinis communis). A ricina atua por inibição da síntese proteica. Reservatório: Por inalação e via digestiva. Período de Incubação: 8 a 24 horas. Formas clínicas: • Respiratória: insuficiência respiratória aguda; • Digestiva: vómitos e diarreia; necrose gastrointestinal, hepática e renal. Profilaxia: Indisponível. Tratamento: De suporte. Resposta em caso de ocorrências envolvendo risco biológico Infelizmente, um ataque com agentes biológicos representa uma situação apenas detetável várias horas ou dias após o ataque. A existência de períodos de incubação muito variáveis (mesmo para o mesmo agente) e as dificuldades diagnósticas já apontadas são fatores que favorecem efeitos potencialmente devastadores e transformam esta ameaça em verdadeiras armas de destruição maciça. A resposta possível baseia-se essencialmente em medidas de saúde pública: • identificar o(s) agente(s) em causa; • identificar o modo de disseminação do(s) agente(s) e eliminar o(s) foco(s) de infeção; • detetar, isolar (se indicado) e tratar os doentes; • identificar, isolar (se indicado) e iniciar medidas de profilaxia pós-exposição (se existente) nos infetados; • promover a vacinação (se existente) em massa ou, pelo menos, dos grupos de risco, como sejam os elementos dos serviços de saúde. situação de exceção 50 notas: AGENTES QUÍMICOS Pelas suas propriedades, os agentes neurotóxicos e vesicantes são os que apresentam maior potencial destrutivo. No entanto, apesar de menos tóxicos e mais difíceis de utilizar de forma eficaz, alguns agentes hemotóxicos e sufocantes apresentam propriedades que poderão encorajar a sua utilização. Entre essas propriedades destacam-se a sua rapidez de ação e a capacidade de penetrar ou deteriorar os equipamentos de proteção. Fig. 31 Soldados ingleses vítimas de um ataque com gás, durante a 1ª Grande Guerra Mundial. O primeiro registo histórico da utilização de um produto químico como arma remonta ao Séc. X AC, com a utilização de fumos de arsénico pelos Chineses. No entanto, a utilização “moderna” deste tipo de armas de uma forma eficaz verificou-se durante a 1ª Grande Guerra Mundial. Após várias tentativas mal sucedidas, o exército alemão utilizou cloro como arma na Batalha de Ypres, em Março de 1915. Neste primeiro ataque, segundo as forças aliadas, terão sido atingidos cerca de 5.000 soldados. Até ao final deste conflito, terão sido vítimas deste tipo de armas cerca de um milhão de soldados (Fig. 31). Nos anos seguintes assistiu-se ao desenvolvimento de numerosos agentes químicos e à utilização de alguns deles contra soldados inimigos e civis. Este cenário acabaria por dar origem à Convenção das Armas Químicas, assinada em 1993 pelos Estados Unidos da América, pela Rússia e por mais alguns países. Este tratado proibia o desenvolvimento, a produção, o armazenamento e a utilização de armas químicas. Após o atentado no Metro de Tóquio, a utilização de agentes químicos deixou de pertencer (quase) em exclusivo à esfera militar, ficando patente a facilidade com que este tipo de produtos podia ser obtido e utilizado com intuitos terroristas. De modo a sistematizar os numerosos agentes químicos existentes, eles são divididos em dois grandes grupos (agentes letais e agentes não-letais) e seis classes, de acordo com as suas principais caraterísticas: Classes de agentes químicos • AGENTES LETAIS (altamente tóxicos, com capacidade de provocar a morte, mesmo em baixas concentrações): Agentes neurotóxicos; Agentes vesicantes ou dermotóxicos; Agentes sufocantes ou pulmonares; Agentes hemotóxicos; • AGENTES NÃO-LETAIS (toxicidade relativa, geralmente não provocam a morte): Agentes incapacitantes; Agentes irritantes (para controlo de motins). Agentes neurotóxicos Dentro desta classe de agentes, destacam-se os seguintes: • Tabun (GA); • Sarin (GB); • Soman (GD); • GF; • VX. FACTO Entre parêntesis é indicada a designação militar NATO (tradicional). Por exemplo, para este tipo de agentes a letra G refere-se à origem (Germany) da maior parte destes agentes, enquanto a letra V representa o termo Venom (veneno ou tóxico). Os agentes neurotóxicos, existentes em vários arsenais químicos, raramente foram utilizados (provavelmente terão sido usados pelo Iraque durante a Guerra contra o Irão e contra os Curdos). Embora os Alemães tenham produzido grandes quantidades de munições contendo tabun e sarin durante a 2ª Grande Guerra Mundial, por motivos que permanecem desconhecidos, estas munições nunca foram utilizadas. Este tipo de agentes extremamente tóxicos carateriza-se, entre outras ações, pela inibição da acetilcolinesterase, provocando um excesso de acetilcolina (Ach). Esse excesso de Ach vai provocar a hiperestimulação de nervos, músculos e glândulas, com vários efeitos clínicos. O quadro clínico da exposição a agentes neurotóxicos depende do tipo de exposição (a vapor ou a líquido) e da concentração do agente. A exposição a vapor resulta num início de ação muito rápido, com a sintomatologia a aparecer poucos minutos após a exposição. Os primeiros sinais e sintomas surgem a nível dos olhos e nariz (muito sensíveis, mesmo com concentrações muito baixas): miose (com ou sem dor e congestão) e rinorreia. Para concentrações maiores, verifica-se o atingimento dos olhos, nariz e pulmões: visão desfocada e sensação de opressão torácica. Exposições mais intensas causam miose marcada, abundantes secreções pelo nariz e boca e sinais de insuficiência respiratória moderada a NRBQ 51 severa. Exposições severas causam a perda rápida de consciência, convulsões e progressão para paralisia flácida, apneia e morte. Os agentes neurotóxicos, em exposições não letais, provocam lesões cerebrais que causam alterações psicológicas que podem durar anos, como ansiedade, nervosismo, insónias ou dificuldade de concentração. A pré-medicação com piridostigmina confere alguma proteção contra os efeitos dos agentes neurotóxicos. Após a evacuação da zona contaminada e a descontaminação adequada, o tratamento inclui a administração de Atropina, Oximas (obidoxima ou pralidoxima) e Diazepam. Ventilação mecânica, aspiração de secreções e outras medidas de suporte, geralmente em Cuidados Intensivos, são frequentemente necessárias. Agentes vesicantes ou dermotóxicos Dentro desta classe de agentes, destacam-se os seguintes: • Gás de mostarda (HD); • Lewisite (L); • Fosgénio-oxima (CX). Estes agentes, devido à sua toxicidade e relativa facilidade de utilização, constituem os mais perigosos dos agentes químicos, juntamente com os neurotóxicos. Dos vários elementos deste grupo, o gás de mostarda constitui o principal representante. Existem vários tipos de gás de mostarda: mostarda sulfurada (H), mostarda sulfurada destilada (HD) e mostardas azotadas (HN1, HN2 e HN3). Destes vários tipos, a mostarda sulfurada destilada (HD) constitui o agente mais vezes utilizado e mais distribuído pelos arsenais químicos mundiais. Confirmadamente utilizada durante a 1ª Grande Guerra Mundial (1915-1919), onde terá causado cerca de um milhão de vítimas, e a Guerra Irão-Iraque (1982 a 1988), onde terá causado cerca de 45.000 vítimas, existem indícios de que a HD terá sido utilizada em muitas outras situações. De facto, as suas propriedades e a experiência na sua utilização, convertem a HD num dos agentes químicos mais disseminados. A Lewisite (L) partilha várias das propriedades da HD, mas não existe confirmação de alguma vez ter sido utilizada. No entanto, este agente integra vários arsenais químicos e, alguns países, dispõem também de uma mistura de Lewisite com HD. O Fosgénio-oxima (CX), não sendo um verdadeiro agente vesicante (provoca lesões urticariformes, sendo chamado por alguns autores um agente corrosivo), tem um interesse potencial pela degradação que causa nos equipamentos de proteção individual e pela possibilidade de utilização conjunta com outros agentes, nomeadamente o agente neurotóxico VX, potenciando a absorção deste através das lesões cutâneas que provoca. Os agentes vesicantes caraterizam-se pela sua ação a nível da pele e mucosas. Embora existam algumas diferenças entre eles, serão apresentadas as caraterísticas da HD, uma vez que este é o principal representante do grupo. Embora conhecido como gás mostarda, a HD representa um risco de contaminação líquida e gasosa. Devido às suas caraterísticas, apresenta-se na forma líquida com temperaturas baixas, passando à forma gasosa à medida que a temperatura aumenta: a persistência (10) da HD diminui de 100 horas com uma temperatura de 10 oC para 7 horas com 38 oC. Pelos motivos apontados, a HD era utilizada preferencialmente durante a madrugada, altura em que as baixas temperaturas a mantinham essencialmente FACTO (10) Persistência: caraterística que define o nº de horas que um determinado agente químico permanece sob a forma líquida. Quanto menos voláteis, mais persistentes são os agentes. Esta caraterística permite dividir os agentes químicos em persistentes (HD e VX) e não persistentes (agentes neurotóxicos da “série” G, fosgénio e cianeto). sob a forma líquida. À medida que a temperatura aumentava, quantidades cada vez maiores de HD passavam à forma gasosa, constituindo uma ameaça várias horas após o ataque. Durante a 1ª Grande Guerra Mundial, cerca de 80 % das vítimas foram afetadas pela forma gasosa da HD. A HD afeta principalmente a pele, os olhos e as vias aéreas (as lesões pulmonares são a principal causa de morte). Podem ainda ser afetados o sistema gastrointestinal, o SNS e o sistema hematopoiético, após absorção sistémica. A HD na forma líquida afeta sobretudo a pele: após 2 a 48 horas após o contacto com a pele (dependendo da concentração), a HD provoca eritema semelhante a uma queimadura solar. Nestas zonas, algum tempo depois, surgem pequenas vesículas que coalescem para formar bolhas amareladas, contendo um líquido claro (Fig. 32). Uma caraterística importante da HD reside no facto de os indícios clínicos apenas surgirem algumas horas após o início das lesões tecidulares. Por este motivo, a descontaminação imediata é a única forma de evitar os efeitos da HD a nível da pele. A nível dos olhos, embora não se formem as típicas vesículas e bolhas, as lesões podem evoluir para conjuntivite, lesões da córnea e, nos casos mais graves, cegueira (menos de 1%). As lesões pulmonares são provocadas pela HD na forma gasosa e são a principal causa de morte. Estas lesões consistem na necrose da mucosa respiratória, surgindo nas vias aéreas superiores e podendo estender-se até aos alvéolos pulmonares, dependendo da concentração do agente. Embora raramente, pode surgir edema pulmonar hemorrágico (com concentrações muito altas). notas: situação de exceção 52 notas: O tratamento consiste na descontaminação imediata, no tratamento adequado das lesões, na prevenção de infeções secundárias e em medidas de suporte. O tratamento consiste em medidas de suporte e na administração de antídotos: nitrito de sódio + tiossulfato de sódio, EDTA ou hidroxicobalamina. Agentes incapacitantes Fig. 32 Lesões cutâneas caraterísticas da mostarda sulfurada destilada (HD). Agentes sufocantes ou pulmonares Dentro desta classe de agentes, destacam-se os seguintes: • Cloro; • Fosgénio (CG); • Difosgénio (DP). Não sendo dos agentes mais preocupantes como potenciais armas químicas, alguns dos representantes desta classe podem ser encontrados entre os produtos utilizados por muitas indústrias, tornando-os potenciais riscos tecnológicos. Este tipo de agentes carateriza-se pela sua ação direta a nível pulmonar, particularmente sobre a mucosa das vias aéreas e dos alvéolos. Carateristicamente, provocam edema pulmonar com insuficiência respiratória. O tratamento consiste em medidas de suporte, com particular importância para o controlo da via aérea, oxigenoterapia e ventilação mecânica. Agentes hemotóxicos Dentro desta classe de agentes, destacam-se os seguintes: • Cianeto de Hidrogénio (AC); • Cloreto de Cianogénio (CK). Este tipo de agentes carateriza-se pela inibição da utilização de oxigénio a nível celular (inibição da citocromo-oxidadese e da respiração aeróbica). O quadro clínico depende do tipo de exposição e pode ser fulminante (exposição a altas concentrações de gás) com perda de consciência, apneia, paragem cardíaca e morte em cerca de 5 minutos. A exposição a concentrações menores ou através de outras vias (digestiva ou percutânea) condiciona o aparecimento mais lento dos sintomas. Hiperpneia, cefaleias, dispneia e alterações do comportamento (excitação SNC), seguidas de diaforese, flushing, fraqueza muscular e vertigens. Finalmente, surge o coma e as pupilas ficam midriáticas e arreativas. Dentro desta classe de agentes, destacam-se os seguintes: BZ e outros anticolinérgicos. Este tipo de agentes carateriza-se pela sua ação de tipo anticolinérgico (bloqueio dos recetores muscarínicos no SNC). Estes agentes provocam alterações de comportamento (delírio, incapacidade de cumprir ordens e alterações do raciocínio), geralmente transitórias. O tratamento consiste na administração de fisiostigmina. A sua utilização como arma química apenas parece justificar-se no campo militar, não constituindo uma verdadeira ameaça terrorista. Agentes irritantes (para controlo de motins) Dentro desta classe de agentes, destacam-se os seguintes: • Clorobenzilideno malononitrilo (gás CS); • Cloroacetofenona (gás CN); • Adamsite (DM). Este tipo de agentes carateriza-se pela sua ação irritativa a nível das mucosas e da pele. Os principais efeitos ocorrem a nível ocular (congestão, blefarospasmo, dor, lacrimejo e fotofobia), nariz (dor e rinorreia), boca (salivação e ardor), vias aéreas (tosse produtiva, espirros, sibilos e sensação de ardor torácico), pele (eritema e ardor) e gastrointestinal (desconforto abdominal e vómitos). O CS e o CN têm efeitos semelhantes, embora o CN seja mais tóxico e mais difícil de manusear. Ambos são conhecidos como gás lacrimogénio, embora atualmente quase só seja utilizado o CS. A adamsite é conhecida como o gás do vómito, devido aos efeitos gastrointestinais que apresenta. Este tipo de agentes tem uma ação autolimitada e, geralmente, não requerem intervenções significativas do ponto de vista médico. No entanto, em algumas pessoas pode ser necessário algum tipo de tratamento. Resposta em caso de ocorrências envolvendo agentes químicos Muitas das considerações já efetuadas a propósito das ocorrências envolvendo risco radiológico, aplicam-se a ocorrências com agentes químicos. No entanto, um aspeto particular da utilização de agentes químicos deve ser realçado: pelas suas caraterísticas, a probabilidade de um ataque terrorista com agentes químicos num ambiente confinado será, eventualmente, maior que um ataque em espaço aberto. NRBQ 53 De facto, a maior facilidade para atingir concentrações eficazes num espaço confinado permitirá utilizar uma menor quantidade do agente químico. O exemplo do ataque no metro de Tóquio é um bom exemplo disto mesmo: um espaço confinado e um elevado número de pessoas, onde a libertação de um agente químico permite atingir concentrações significativas durante um período de tempo relativamente prolongado. As caraterísticas de uma situação deste tipo, exigem dos serviços de socorro e de emergência pré-hospitalar um elevado nível de preparação em termos de equipamentos de proteção individual e de recursos humanos devidamente treinados. A necessidade de entrar em ambiente contaminado para resgatar eventuais vítimas é um dos cenários onde o treino e a preparação têm um papel tão importante como a eficácia das medidas de proteção individual. notas: 54 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 6. PRINCÍPIOS DE ELABORAÇÃO DE UM PEUS (PLANO DE EMERGÊNCIA DAS UNIDADES DE SAÚDE) Prinicipios da elaboração de um peus 55 O objetivo deste capítulo é identificar os princípios básicos de elaboração de um “Plano de Emergência das Unidades de Saúde” (PEUS), plenamente desenvolvidos na orientação da DGS nº007/2010. Numerosos estudos realizados após o “11 de Setembro” demonstraram que as unidades de saúde e sobretudo os serviços de urgência têm grande dificuldade em lidar com vítimas resultantes de catástrofes/situações de exceção, mesmo quando em pequeno número. As razões para esta dificuldade são a confusão instalada, a falta de planeamento e a falta de treino/ preparação para situações desta natureza. Para além disso, frequentemente a unidade de saúde não está devidamente integrada nos esforços de planeamento para situações de catástrofe de outras entidades. Os principais “pontos fracos”/falhas, encontrados na resposta das unidades de saúde (sobretudo hospitalares) são: • Aviso tardio; • Estrutura de comando não definida; • Falta de comunicações; • Ausência de sistema de registo/ identificação adequado; • Falta de recursos logísticos; • Falta de política de relações públicas definida. O PEUS deve responder, genericamente, às seguintes questões: • Quais as possíveis catástrofes em que poderá estar envolvido? • Quais são as responsabilidades e capacidades reais do hospital? • Como se deve organizar de forma a maximizar essas capacidades? O PEUS é da responsabilidade de todos os sectores da unidade de saúde, todos devem nele participar e dele ter conhecimento. A criação do PEUS supõe a implicação de todas as atividades e logísticas institucionais da unidade de saúde. O PEUS deve definir, claramente, papéis, responsabilidades e hierarquias entre todos os envolvidos na resposta a uma situação de catástrofe. Está também demonstrado que as pessoas devem realizar funções similares às que realizam na sua rotina diária. Assim, os procedimentos a desenvolver durante uma catástrofe devem ser, o mais possível, baseados em procedimentos “standard” da unidade de saúde. ELABORAÇÃO DO PEUS: PRINCÍPIOS Na elaboração de um PEUS é necessário desenvolver as seguintes ações: 1. Normas e metodologia de alerta, ativação e desativação do plano de emergência: É fundamental definir o “Catálogo de Riscos”, (permite antecipar os principais problemas na área de intervenção da unidade de saúde) bem como o “Catálogo de Recursos” (humanos, valências, técnicos e outros). É essencial definir de que forma é efetuado o alerta, quais as pessoas/entidades a contactar; quem, quando e como faz a ativação/ desativação do plano. 2. Definição e organização da cadeia de responsabilidades, comando e controlo: A determinação clara da cadeia de comando é fundamental. A responsabilização específica de cada interveniente/entidade deve estar claramente definida para que possa ser cabalmente assumida. 3. Níveis e especificidades de ativação: Dependendo do risco/alerta, o plano deverá prever diferentes níveis de ativação, com diferentes mobilizações de recursos. Planos específicos de ativação devem estar previstos e descriminados (ex. NRBQ e Queimados). 4. Definição e organização das comunicações internas e externas: Os meios de comunicação devem estar descritos no Plano, os locais onde se encontram, os números de acesso, as vias de comunicação para outros intervenientes/ entidades (ex. lista de telefones internos, linha direta ao CODU, localização do Rádio INEM); 5. Sistematização das questões referentes à segurança dos profissionais no Serviço de Urgência e à segurança e acessibilidade nas imediações do Hospital: O acesso ao Hospital deverá ser controlado e a forma de acesso quando da ativação do Plano deverá estar definida (para os profissionais inclusive). É também importante o planeamento prévio, em articulação com as forças de segurança locais, para a existência de “corredores de emergência” de acesso à unidade de saúde. 6. Reorganização do Serviço de Urgência em caso de ativação do Plano: Para cada nível de ativação deve existir uma listagem de potenciais locais a utilizar como “reforço” da área do SU, sistema de triagem a adoptar, forma de evacuação do SU, dos seus utentes de rotina, dos familiares, entre outros. 7. Definição de postos de trabalho-chave (distribuição dos recursos humanos): Os primeiros elementos a responder a uma situação de ativação do Plano serão os que já se encontram, no momento, na unidade de saúde. Existem postos-chave que devem ser ocupados desde o início da ativação do Plano, e que devem estar previamente definidos, como seja o de Coordenador do Plano, o de Coordenador Clínico e outros; notas: situação de exceção 56 notas: 8. Conceção de “Action cards” para a designação de intervenções – organização e conteúdo: Cada um dos postos de trabalho-chave deve ter acesso um documento escrito onde está definido/escrito uma lista de “tarefas” a desenvolver para dar cabal resposta ao nível ativado. Esta lista deve consignar princípios de organização, além da listagem de tarefas a desempenhar. 9. Ativação de mais profissionais – regras e metodologia; organização do ponto de encontro; identificação dos profissionais e equipas de trabalho: A primeira resposta é assumida pelos profissionais que estão no SU em dado momento. De acordo com o nível de alerta previamente definido, deverá existir uma definição de regras e/ou orientações para convocar mais profissionais (ex. convocar os enfermeiros das enfermarias x ou y; ativar os elementos que entrarão de serviço/turno seguinte). A forma como estes profissionais são ativados também deve estar prevista e ser de fácil execução (ex. listagem de SMS pré-definida, telemóveis, chamada em “cascata”- cada um chama dois). A definição de um ponto de encontro deve também estar previsto para que seja possível efetuar o “briefing” e a eficaz distribuição dos profissionais, fomentando desta forma o reforço organizado das equipas. 10. Levantamento da situação e rentabilização dos meios em áreas estratégicas: Bloco Operatório, Cuidados Intensivos, Unidades Específicas (ex. Queimados), bem como enfermarias de retaguarda: Áreas Críticas, como o Bloco Operatório, a Unidade de Cuidados Intensivos, de Queimados ou Pediatria devem ser dotadas com a alocação preferencial de recursos. Outras áreas passíveis de ser utilizadas como enfermarias de retaguarda, (para onde possam ser transferidos doentes internados não-críticos) devem ser identificadas e o fluxo de doentes claramente definido, de forma a libertar outras áreas cruciais (ex. área da urgência). 11. Organização dos serviços de apoio clínicos e não clínicos: A resposta dos serviços de apoio clínico (ex. meios auxiliares de diagnóstico, laboratório de análises) à ativação do Plano deve estar definida, bem como a resposta dos serviços de apoio não clínicos (ex. farmácia, aprovisionamento). 12. Áreas de apoio específico: Devem estar previstas e definidas áreas específicas para: comunicação social; familiares; informações; Deve ainda ser definida uma área para “Necrotério/Morgue”. 13. Transporte de doentes: definição de critérios e meios, no transporte intra e inter-hospitalar: Quando e como os doentes serão transportados, se necessário deve estar previsto. A listagem de potenciais recursos (internos ou externos) para a realização de transportes inter-hospitalares deve estar elaborada. A forma de articulação com as entidades com competência e capacidade instalada nessa área deve estar previamente acordada. A coordenação e responsabilidades dos vários intervenientes no processo de transporte/ transferência também devem estar definidas. 14. Registos iniciais, contínuos, balanços periódicos e relatório final. Definição de assuntos, metodologia e critérios: A forma de registo e o(s) profissional(ais) que o faz(em) deve estar definida. Informações periódicas devem estar previstas e planeadas/ calendarizadas. A reunião final (“debriefing”), assim como um relatório final devem estar previstos de forma a responder a uma lista de pressupostos que de outra forma poderiam ser descurados. 15. Divulgação e formação: O Plano deve estar acessível a todos os profissionais. Deve ser disponibilizado na unidade de saúde, bem como junto das entidades que possam vir a ser envolvidas na ativação do Plano. Deverá existir um programa de formação, incluindo simulacros e exercícios, de forma a preparar os profissionais e testar o Plano. 16. Atualização: O Plano deverá ser revisto e atualizado periodicamente e essa periodicidade deve estar definida. COMENTÁRIO FINAL Porque um plano de emergência existe no papel, não significa que o hospital esteja preparado para uma catástrofe. Embora o plano seja importante, não deve criar a ilusão de que tudo já está pronto e preparado. Esta ilusão é denominada de “síndrome do plano no papel”. Para que o plano não seja “inútil”, algumas considerações: • Integração com outras entidades; • Aprovisionamento de recursos materiais; • Formação, treino e exercícios; • Aceitação pelos utilizadores. Prinicipios da elaboração de um peus 57 ELABORAÇÃO DO PEUS DGS, 2010 AUTOAVALIAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE • Conhecer a organização, estrutura e atividades das várias especialidades; • Análise de planos de emergência e exercícios/simulacros anteriores. PROCEDIMENTO DE ELABORAÇÃO DO PEUS • Definição do grupo de trabalho e do Gabinete de Crise; • Elaborado por sectores de atividades; • Criadas fichas de ação/protocolos; • Validação pelas várias equipas da unidade de saúde e submetido à apreciação do conselho de administração. PLANO DE FORMAÇÃO • Planificar formação baseada nos protocolos de ação; • Exercício/simulacro geral do PEUS de 2 em 2 anos. Figura 33 notas: 58 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 7. PLANEAMENTO DE EVENTOS COM MULTIDÕES Planeamento de eventos com multidões 59 Anualmente, um pouco por todo o país, é frequente a realização de eventos de grandes dimensões, Eventos Culturais, Comerciais, Competição, Desportivos, Científicos, Educação, Entretenimento, Institucionais, Políticos, Sociais, Particulares, Religiosos, entre outros, que, pela sua natureza, dimensão, crença e mediatismo, mobilizam um elevado número de pessoas, que se concentram num determinado local ou em determinados locais, aumentando assim a probabilidade de ocorrência de situações invulgares num determinado espaço geográfico. O conceito de “Mass Gathering Event” é variável na bibliografia internacional, no entanto, a maioria dos autores define “eventos com multidões” em função do número de pessoas envolvidas. Alguns autores defendem que “Mass Gathering Event” é um evento em que se juntam, no mesmo espaço físico, em simultâneo, mais do que mil (1000) pessoas, outros defendem que a expressão “Mass Gathering Events” só se aplica em eventos com mais do que vinte e cinco mil (25 000) pessoas. Em ambos os casos a definição é limitada, uma vez que, o único fator ponderado está relacionado com uma única variável (número de pessoas) quando, na verdade, a sua abrangência deveria ser mais ampla. Por exemplo, uma manifestação com mil (1000) pessoas numa aldeia do interior poderá ser designada como “Mass Gathering Event”, tendo em conta a localização, as acessibilidades, os recursos locais, sendo que, a mesma manifestação, com o mesmo número de pessoas, numa grande área metropolitana, o conceito poderá não ter aplicação. Apesar de se tratar de um aglomerado de pessoas aparentemente saudáveis, o número de ocorrências do foro da emergência médica é superior ao que seria de esperar para o mesmo número de pessoas, de acordo com as ocorrências verificadas na população geral. CLASSIFICAÇÃO DE EVENTOS COM MULTIDÕES Nem todos os eventos são iguais, motivo pelo qual, alguns autores sugerem a classificação de eventos em dois tipos (Sanders, 1986): • Categoria tipo 1: eventos de curta duração (< 6 horas), localizados em um espaço confinado, em que os espetadores estão todos sentados (ex. jogos de futebol, concertos musicais); • Categoria tipo 2: eventos de maior extensão no tempo (> 1 dia), com várias localizações ao longo dos dias, em que os espetadores estão em pé e mobilizam-se de um espaço para outro (ex. feiras). Esta classificação (tipo 1 e 2) não contempla eventos em que haja caraterísticas de um e de outro tipo em simultâneo, eventos em que os espetadores estão sentados mas têm uma duração de vários dias (ex. torneios de ténis; campeonato Europeu e/ou Mundial de Futebol) e eventos em que os espetadores se movimentam em área livre ou praticamente indeterminada e têm a duração de vários dias (ex. Ralis, Raids de automóveis como o Paris-Dakar) e ainda situações em que os espetadores estão em pé e em movimento, mas com uma duração inferior a seis horas (ex. comício/manifestação política, cultural, paradas ou outra). CUIDADOS MÉDICOS EM EVENTOS COM MULTIDÕES Os cuidados médicos prestados a este tipo de eventos, muitas vezes denominados de cuidados médicos em “mass gathering” podem, erradamente, ser entendidos como aqueles que se prestam em campos de desalojados e/ ou refugiados (em que o termo “mass gathering”, por definição, se aplica). Para cuidados médicos prestados neste tipo de eventos (desportivos, culturais, políticos ou outros) sugere-se utilizar a expressão “cuidados médicos em eventos de risco”, definida como “prestação de medidas preventivas, cuidados médicos, ou referenciação hospitalar a pessoas saudáveis que assistem ou participam em eventos desportivos, recreativos ou políticos de grandes dimensões” (Baker, 1986). As ocorrências esperadas num “Evento de Risco” são, na sua maioria, lesões minor, no entanto, podem ocorrer situações que necessitem da intervenção de equipas com formação em suporte avançado de vida. A maioria das situações clínicas relatadas é de patologia do foro respiratório, lesões traumáticas minor, lesões resultantes do sol/calor, cefaleias e doenças gastrointestinais, estando também relatadas alterações comportamentais, ansiedade e crises de pânico. A paragem cardiorrespiratória é rara, ocorre em 1:500 000 espetadores, a necessidade de transporte para hospital e/ou unidade de saúde é também, habitualmente, baixa (0,01 a 0,55 por mil espetadores). O planeamento de Dispositivos de Emergência Médica para Eventos de Risco deve estar assente nos seguintes princípios: 1.Reconhecer e responder de forma rápida e apropriada ao espetador que necessita de cuidados médicos de emergência; 2.Providenciar tratamento básico de forma rápida e eficiente; 3.Garantir o transporte, em tempo útil, para a unidade de saúde adequada; 4.Preservar as capacidades do SIEM local; 5.Ter em atenção a relação custo/benefício. notas: situação de exceção 60 notas: Assim, um dispositivo de emergência médica para um evento de risco, deve ser planeado e estruturado de forma a responder adequadamente a situações de emergência, bem como a dar resposta ao elevado número de situações minor, para que o espetador possa continuar a assistir ao evento e que, não aumente, desnecessariamente, a afluência à unidade de saúde mais próxima, podendo levar à sua incapacidade de resposta. Fase 2, durante cerca de um ano, antes do campeonato: • Visitas aos estádios para definição da equipa (dimensão e local); • Avaliação de acessibilidades (ex. aeroportos, estações de comboio, autoestradas); • Seminários, exercícios, simulacros; • Formação específica (Triagem, Catástrofe, NRBQ); • Jogos-teste; • Contratação de tradutores. As capacidades locais dos serviços de emergência médica devem ser preservadas, pois, as situações de emergência médica decorrentes do dia-a-dia continuam. Fase 3, durante o campeonato: • Criação de um Centro de Crise (24/24 horas); • Reforço do sistema de emergência: Aeroporto; Zonas de diversão; Principais acessos rodoviários; Treinos das equipas; reinos dos árbitros; • Criação de uma Equipa de Emergência Médica para cada jogo (cerca de 100 elementos/jogo). Quando se planeia a prestação de cuidados de emergência médica em eventos com multidões, a possibilidade de um acidente em massa, de causa natural ou tecnológica, deverá ser levada em linha de conta. A EXPERIÊNCIA DO INEM NO EURO 2004 O INEM participou no planeamento do Campeonato Europeu de Futebol (EURO), realizado em Portugal em Junho/Julho de 2004, integrando a Comissão de Segurança para o EURO 2004, com um Coordenador Nacional de Emergência Médica (Resolução de Conselho de Ministros nº 175/2003) e a Comissão de Acompanhamento Saúde do EURO 2004 (CASEURO, Despacho Conjunto nº 8/2004). Neste sentido competiu ao INEM: • A coordenação da Emergência Médica, constituíndose como a entidade coordenadora do Plano de Emergência do Ministério da Saúde; • O planeamento da resposta a situações de exceção; • O reforço dos meios de assistência. A atividade de planeamento e preparação foi dividida em 3 fases: Fase 1, inicial: • Acompanhamento da construção de estádios; • Reuniões com embaixadas; • Colaboração e dinamização elaboração Planos de Emergência Hospitalares, Aeroportos e Estádios; • Reuniões com outros “atores” do Sistema Integrado de Emergência Médica; • Reuniões com outros “atores” da Direção Geral de Saúde; Com base na experiência e conclusões obtidas durante o planeamento e execução do EURO2004, propõe-se uma nova classificação de eventos com multidões, um algoritmo de planeamento de eventos de risco e uma metodologia para a construção da Equipa. Planeamento de eventos com multidões 61 CLASSIFICAÇÃO DE EVENTOS DE RISCO Evento de curta duração (duração inferior a 12 horas): • Localizado (ex. jogo de futebol, concerto musical); • Disperso (localização diversa, de difícil delimitação geográfica; ex. Prova automobilística ou de ciclismo de âmbito nacional e/ou regional, passeio e/ou concentração de motociclistas); • Multi-localizado (com várias mas definidas localizações; ex: Comício e/ou manifestação política ou cultural, Parada musical). Evento de longa duração (duração superior a 12 horas): • Localizado (ex. Grande Prémio de Formula 1, Torneios de ténis); • Disperso (localização diversa, de difícil delimitação geográfica; ex. Rali de Portugal, Rali Paris-Dakar, campanha eleitoral); • Multi-localizado (com várias mas definidas localizações; ex. Campeonato Europeu de Futebol, Jogos Olímpicos). notas: ASSESS AVALIAÇÃO Avaliar características, riscos e necessidades BUILD CONSTRUIR Construção do modelo de funcionamento, da equipa, das norma e do suporte logístico CONFIRM TESTAR Confirmar e testar: modelo e equipa DEPLOY OPERACIONALIZAR Operacionalizar a coordenação e o dispositivo de emergência médico EVALUATE ANALISAR Analisar os resultados e os custos Figura 37: Algoritmo de planeamento de um evento com multidões (Miguel Soares de Oliveira, 2007) Figura 34: Campeonato Europeu de futebol de 2004 em Portugal A- Assess (Avaliação): Figura 35: Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil Figura 36: Rally Paris-Dakar Decorreu, no período compreendido entre 24 e 6 meses antes do evento: • Avaliar as caraterísticas do evento, face ao fim a que se destina, sempre que possível e caso aconteça, acompanhar a construção de infraestruturas; • Avaliar as principais necessidades, população envolvida, os países participantes, preocupações/ solicitações das embaixadas respetivas, avaliar a possível colaboração (bilateral) com as mesmas; • Avaliar o estado dos Planos de Emergência Gerais e/ou Específicos (ex. hospitais, aeroportos, estádios, autoestradas) existentes e colaborar na sua elaboração e/ou revisão; • Avaliar riscos e vulnerabilidades, eventuais ameaças (ex. acessibilidades, caminhos de evacuação e/ou penetração, zonas de risco, como autoestradas, aeroportos; zonas de diversão, infraestruturas sensíveis); • Avaliar as necessidades da Instituição/ entidade responsável pela Emergência Médica para cumprir a sua missão, especificamente para o evento (ex. Formação, Equipamento, Recursos Humanos). situação de exceção 62 notas: B- Build (Construir): Ocorreu no período compreendido entre 12 e 3 meses antes do evento: • Construção/ definição da lógica de funcionamento do dispositivo de emergência médica (“Modelo de Funcionamento”); • Construção/ definição da dimensão da equipa, de acordo com a lógica de funcionamento definida e as caraterísticas do evento; • Construção/ definição de protocolos de colaboração e/ou intervenção, com outras entidades envolvidas na Segurança e Socorro (ANPC, PSP, GNR, Bombeiros, Cruz Vermelha); • Construção/ definição de formas de colaboração com outras entidades da área da Saúde; • Construção do suporte logístico necessário ao funcionamento do dispositivo (ex. aquisição de material clínico, equipamentos, fardamentos, viaturas, alimentação, alojamento); • Construção da Equipa de Emergência Médica (ex. recrutamento, contratação, formação). C- Confirm (Confirmar/ Testar): Decorreu no período compreendido entre 3 meses e um mês antes do evento: • Confirmar/testar o modelo de funcionamento, a equipa e o equipamento. D- Deploy (Operacionalizar): Durante o evento: • Operacionalizar um Centro de Comando e Controlo para Coordenação Geral do Evento; • Operacionalizar o Dispositivo de Emergência Médica; • Operacionalizar as Equipas de Emergência Médica de reforço em zonas críticas (ex. aeroportos, acessos rodoviários). E- Evaluate (Analisar): Após o evento: • Analisar os resultados obtidos; • Analisar os custos. O DISPOSITIVO DE EMERGÊNCIA MÉDICA Se é aceitável que o tempo de resposta de uma equipa de suporte avançado de vida para um evento súbito na população geral, em meio urbano, seja inferior a 8 minutos, e seja esse um dos objetivos da maioria dos sistemas de emergência médica existentes no Mundo. Parece difícil, num evento cujas datas, caraterísticas e dimensões são previamente conhecidas, e em que a pressão da comunidade nacional e internacional é, eventualmente, “pesada”, que se aceitem os mesmos valores. Assim, propõe-se que todos os dispositivos de emergência médica para eventos de risco tenham as seguintes caraterísticas: Equipa; Equipamento; Viaturas; Equipamento NRBQ; Alimentação; Iluminação; Registos; Supervisão / Coordenação; Fardamento; Comunicações; Interligação SIEM local. 1.Equipa • Médicos e Enfermeiros o A equipa deve, obrigatoriamente, incluir médicos e enfermeiros com formação em Emergência, nomeadamente na área pré-hospitalar; o O número de elementos (Médico-Enfermeiro, equipa de Suporte Avançado de Vida) deve ser calculado para qualquer espetador que, no perímetro do evento ou nas suas imediações (até 1 000 m de raio de distância), necessite de cuidados de emergência médica e seja assistido em tempo igual ou inferior a 4 minutos. • Técnicos de ambulância de emergência (TAE) / Tripulantes de ambulância de socorro (TAS) o A equipa deve incluir elementos com formação ao nível do suporte básico de vida, desta, incluise como obrigatória, o Curso de Tripulante de Ambulância de Socorro e o Curso de Desfibrilhação Automática Externa (ambos creditados pelo INEM); o O número de elementos (TAE, equipa de Suporte Básico de Vida + DAE) deve ser calculado para qualquer espetador que, no perímetro interno do evento ou nas suas imediações (até 1 000 m de raio de distância), necessite de cuidados de emergência médica e seja assistido em tempo igual ou inferior a 3 minutos. • Psicólogos oRecomenda-se a sua presença, como parte integrante do dispositivo, não sendo no entanto considerada obrigatória. A sua presença deverá ser definida em função das caraterísticas do evento; o O número de elementos deve ser calculado para qualquer espetador que no perímetro do evento ou nas suas imediações (até 1 000 m de raio de distância) necessite de apoio psicológico de emergência seja assistido em tempo igual ou inferior a 15 minutos. Planeamento de eventos com multidões 63 • Cardiologistas oRecomenda-se a sua presença como parte integrante do dispositivo, não sendo no entanto considerada obrigatória. • Técnicos operadores de telecomunicações de emergências (TOTE) e operacionais de logística o A equipa deve incluir elementos com formação em TOTE e elementos de logística, o seu número deve ser considerados em função da dimensão da equipa. 2.Equipamento • Material de Suporte Avançado de Vida o Cada uma das equipas médicas de emergência (médico/enfermeiro), móveis, deve possuir obrigatoriamente equipamento de suporte avançado de vida, nomeadamente material de via aérea, incluindo material de entubação endotraqueal, ventilador portátil, monitordesfibrilhador portátil com capacidade para monitorizar sinais vitais, saturação periférica de O2, CO2 expirado, realização de ECG de 12 derivações. Deve ainda possuir fármacos de emergência e fluídos para administração endovenosa; o Este mesmo equipamento deve também existir no(s) posto(s) médico(s) fixo(s) (ex. PMA). • Material de Suporte Básico de Vida e Desfibrilhador Automático Externo o Considerado obrigatório para todas as equipas móveis de Técnicos de Ambulância de Emergência ou Tripulantes de Ambulância de Socorro existentes no local do evento. • Material Básico de Trauma o É considerado material básico de trauma, compressas, ligaduras, pensos, talas de imobilização, colares cervicais de todos os tamanhos, plano duro (com imobilizadores laterais de cabeça e com fitas), soros de limpeza e desinfetante cutâneo, bem como tesoura forte. • Material de pequena cirurgia o Este material (ex. fios de sutura, porta-agulhas, pinças, tesoura) é considerado facultativo, no entanto, a sua existência, em pelo menos um dos pontos do evento, é recomendada. • Fármacos de 2ª linha oEste material (paracetamol, ibuprofeno, metoclopramida, entre outros) é considerado facultativo, no entanto, a sua existência, em pelo menos um dos pontos do evento, é recomendada. • Posto Médico Avançado o Este “espaço” é obrigatório e é aqui que se concentram recursos, e onde as vítimas são, preferencialmente, estabilizadas; o É facultativo se este “espaço” é uma estrutura fixa no local do evento (ou adjacente) ou uma estrutura móvel montada, especificamente, para o acontecimento. 3.Viaturas • Viatura Médica Viatura tripulada com equipa médica (médico e enfermeiro com formação em Emergência Médica) e equipada com material de Suporte Avançado de Vida; Deverá responder a situações de emergência no interior do local do evento ou nas suas imediações, quando justificado; O seu número deve ficar definido de forma a cumprir os tempos acima sugeridos. • Ambulância de Socorro De acordo com a legislação em vigor; Devem existir em número suficiente para que possa responder a situações de emergência no interior do local do evento ou nas suas imediações, quando justificado, de forma a cumprir os tempos acima sugeridos; Devem ainda existir em número suficiente para que, sem prejudicar os tempos das ações de socorro, possam transportar qualquer vítima, para a Unidade de Saúde adequada, em menos de 10 minutos, após a sua estabilização. • Outras Viaturas de Catástrofe. É recomendado que exista no local do evento ou nas suas imediações, por forma a aumentar a capacidade da resposta perante um acidente em massa. Motociclos e/ou moto-quad. Fundamental em eventos em que a circulação de veículos automóveis seja fortemente condicionada. O posicionamento da equipa e dos recursos, deve ser evidenciado em layout próprio com cartografia local (Ex. Figura 38). 4.Equipamento NRBQ Este tipo de equipamento é considerado obrigatório em “Eventos com Multidões” de natureza internacional, sendo recomendado que esteja no local de qualquer evento local/nacional, considerado de risco, em função da análise efetuada pelos serviços de segurança estatais. Deverá estar incluído o equipamento de proteção individual, detetores de identificação do agente e equipamento de descontaminação. Habitualmente este tipo de intervenção é assegurado por outras forças, Regimento de Sapadores Bombeiros e Forças Armadas (DON N.º 3 da ANPC – NRBQ) mas a sua existência deverá ser confirmada e garantida. 5.Alimentação Refeições ligeiras, acondicionadas de forma a serem portáteis, sempre que a operacionalização do dispositivo para o evento tenha uma duração igual ou superior a 4 horas, devendo ser reposta a cada 12 horas. notas: situação de exceção 64 notas: 6.Iluminação Cada equipa deve possuir uma fonte de iluminação portátil (lanterna). 7.Registos É obrigatório que existam registos, quer clínicos, quer da atividade desenvolvida. Assim, deve existir um instrumento funcional que garanta esta premissa. 8.Supervisão/ Coordenação Geral A supervisão de um dispositivo de emergência médica tem de ser realizada, obrigatoriamente, por um Médico, com formação em Medicina de Emergência, Gestão de Serviços de Saúde e Sistemas de Emergência Médica. A coordenação estratégica e operacional poderá ser efetuada por um elemento não médico, desde que, este, possua formação académica nas áreas de planeamento e gestão de eventos, planeamento e gestão de emergência, organização e gestão de incidentes. 9.Fardamento A identificação da Equipa de Emergência Médica deve ser fácil, inconfundível e todos os elementos devem estar devidamente identificados. A sua função (ex. Médico, Enfermeiro, TAE, Psicólogo, Coordenador) deve ser facilmente percetível no fardamento. É facultativo, embora recomendado, a identificação da função em outros idiomas que não o Português. 10. Comunicações A existência de comunicações, bem como, um plano de comunicações bem definido é obrigatório (ex. figura 3). Assim é fundamental o estabelecimento de um plano de comunicações estratificado em função dos três níveis de atuação (estratégico, tático e de manobra). 11. Interligação ao Sistema de Emergência Médica local É obrigatório que o dispositivo de emergência médica específico de um determinado evento, seja do conhecimento do Sistema de Emergência Médica local, sendo igualmente obrigatório que a evacuação hospitalar, de qualquer vítima, seja coordenada pelo Sistema de Emergência Médica local. Perante qualquer situação que se verifique como potenciadora de ocorrência multívitimas, é obrigatória a notificação imediata do sistema de emergência médica local. Planeamento de eventos com multidões 65 EXEMPLO DE UM DISPOSITIVO DE EMERGÊNCIA MÉDICA IMPLEMENTADO NA CARTOGRAFIA LOCAL HOTEL 1 ALFA 7 TANGO 1 TANGO 6 HOTEL 2 ALFA 6 MIKE 1 TANGO 2 VMER 1 ALFA 1 (SIV) ALFA 2 TANGO 7 POSTO COMANDO TANGO 3 VMER 2 ALFA 3 TANGO 4 ALFA 5 MOTO 1 TANGO 5 ALFA 4 (SIV) Figura 38: Dispositivo de emergência médica Alguns eventos (ex. os automobilísticos), possuem requisitos específicos no âmbito da saúde e da segurança estipulados por normas internacionais. Estes requisitos incluem a qualificação dos operacionais, o número e tipo de recursos a envolver (humanos e materiais). Legenda: POSTO DE COMANDO - Centro de Comando e Controlo, Local onde estão representadas todas as entidades, forças e serviços segurança/socorro. MIKE - Equipa SAV Apeada (1 Médico e 1 Enfermeiro); TANGO - Equipa SBV/DAE Apeada (2 Técnicos de Ambulância de Emergência); VMER - Viatura Médica de Emergência e Reanimação ALFA - Ambulância de Suporte Básico de Vida (2 TAE) ALFA SIV - Ambulância de Suporte Imediato de Vida (1 Enfermeiro e 1 TAE) MOTO - Motociclo de Emergência HOTEL - Posto Médico Avançado (PMA) notas: situação de exceção 66 notas: EXEMPLO DE UM PLANO DE COMUNICAÇÕES Figura 39: Plano de comunicações Independentemente dos recursos tecnológicos utilizados como suporte à comunicação, a estrutura de comunicações é fundamental ao adequado funcionamento do dispositivo, pelo que, deve ser do conhecimento de todos os intervenientes. Planeamento de eventos com multidões 67 68 situação de exceção SECÇÃO 1 SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO 8. INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL em Situações de Exceção Intervenção psicossocial em situações de exceção Numa situação de exceção é fácil a atenção das equipas de socorro focar-se apenas nas condições físicas, ignorando os efeitos psicológicos nas vítimas. Estas vítimas psicológicas representam o chamado fenómeno icebergue, isto é, as vítimas físicas são apenas uma pequena fração do número total de vítimas a necessitar de cuidados, mas são as mais visíveis. Apesar de mais de 90% das pessoas sobreviver sem consequências psicológicas a incidentes críticos como incidentes naturais (ex. fogos florestais ou desabamentos de terras), estudos indicam que uma intervenção psicossocial precoce (até mesmo durante o incidente) e um correto acompanhamento por parte das equipas de EPH ajudam a melhorar o prognóstico das vítimas envolvidas, tornando-as mais cooperantes com o processo de apoio e emergência. REAÇÕES DE STRESS A UMA SITUAÇÃO DE EXCEÇÃO As reações de stress mais comuns numa situação de exceção encontram-se descritas no Manual de Trauma Psicológico, pois são respostas individuais a incidentes críticos, sendo que a diferença reside no número de vítimas envolvidas. Pela dimensão da situação, número de vítimas, circunstâncias e por todos os fatores envolvidos, existem determinadas especificidades que têm de ser tomadas em conta, nomeadamente, no que diz respeito a: • Pr i o r i d a d e s d e i n te r ve n ç ã o – Tr i ag e m, reconhecimento e direcionamento; • Aspetos organizacionais; • Articulação com outras entidades presentes. As catástrofes originam por cada vítima com danos físicos 4 a 10 vítimas com danos psicológicos. Figura 40 TIPOLOGIA DAS VÍTIMAS, NA PERSPETIVA PSICOSSOCIAL Habitualmente são consideradas vítimas aquelas pessoas que estão diretamente expostas a um incidente. No entanto, muitas outras devem ser consideradas. Deste modo, podemos classificar as vítimas de um acidente grave ou catástrofe da seguinte forma: 1.Vítimas Primárias: Diretamente expostas; 2.Vítimas Secundárias: Familiares das vítimas primárias; 3.Vítimas Terciárias: Profissionais envolvidos no salvamento; 4.Vítimas Quaternárias: Comunidade envolvida na catástrofe; 5.Vítimas de 5º Nível: Não envolvidas diretamente; 6.Vítimas de 6º Nível: O acaso evitou a exposição direta. Figura 41 Figura 42 notas: 69 situação de exceção 70 notas: QUESTÕES ORGANIZACIONAIS A atuação em situações de exceção difere, normalmente, pela qualidade e quantidade da situação produzida, de um evento considerado como uma emergência de rotina. Neste casos, a organização do evento deverá ser repensada para: • Colocar no local os meios e especialistas adequados ao incidente; • Dimensionar os meios ao incidente. Pelo fato de diferir das situações de rotina, ou seja, não serem tão frequentes, o treino das situações de exceção é primordial, para que tudo possa funcionar e os protocolos possam ser seguidos corretamente quando a situação surgir. Nestas situações o reconhecimento da delimitação de perímetros torna-se prioritário, pois a intervenção psicossocial baseia-se, em parte, no apoio à concentração de vítimas “não graves” e na colocação destas vítimas em contato com o seu apoio social. No entanto, outras funções podem ser pedidas à equipa de apoio psicossocial, e que, mais uma vez, dependem do que se passa em cada uma das áreas delimitadas. Poder-se-á afirmar que: Zona de Sinistro (ZS): Local onde o incidente ocorre ou ocorreu, onde estão as vítimas que necessitam de assistência e que não se movem por si, e onde intervêm apenas os elementos da equipa de EPH necessários à resolução do incidente. É muito raro a necessidade de um elemento da equipa de apoio psicossocial neste local. Pode, no entanto, ser solicitado a sua colaboração para estabilizar emocionalmente e manter a comunicação com vítimas encarceradas, soterradas ou presas no local por uma qualquer outra razão. A presença deste elemento pode libertar a equipa de EPH para outras funções que não a comunicação constante com a vítima. De novo, esta ação só se justifica quando a libertação da vítima demorar (normalmente, mais do que 1 ou 2 horas). Zona de Apoio (ZA): Onde estão colocados os meios necessários e equipas de apoio às EPH que se encontram a trabalhar na ZS. A intervenção da equipa psicossocial pode ser solicitada na zona de apoio essencialmente em duas situações. A primeira é o acompanhamento de vítimas “não graves” que se encontrem emocionalmente muito alteradas, direcionando-as para os locais de concentração de vítimas “não graves”. Pode ser solicitado também à equipa de apoio psicossocial o acompanhamento a elementos da equipa de EPH que, dado o forte impacto emocional do sinistro, se encontrem emocionalmente “bloqueados”. Zona de Concentração e Reserva (ZCR): onde se encontra a zona de concentração e reserva. É nesta Zona onde deverá existir um espaço dedicado às vítimas “não graves” e que serão alvo de acompanhamento por parte das Equipas Psicossociais. Estas vítimas terão acompanhamento e estabilização psicológica, e é onde se iniciarão os contatos com a sua rede familiar e/ou social, sendo apoiados pela equipa de apoio psicossocial para o efeito. ATUAÇÃO DA EQUIPA DE APOIO PSICOSSOCIAL A Equipa de Apoio Psicossocial está integrada no dispositivo que o INEM destaca para o local. Como mais uma valência, ativada à posteriori, a Equipa de Apoio Psicossocial responde diretamente ao elemento de coordenação do INEM que estiver disposto lo local. O que pode a equipa de EPH esperar da intervenção da Equipa de Apoio Psicossocial? A Equipa psicossocial, no local do incidente, terá as seguintes linhas de intervenção: 1.Dar apoio à equipa de EPH em alguma decisão relacionada com a gestão do sinistro; 2.Intervir diretamente com as vítimas do incidente; 3.Procurar redes de apoio para encaminhamento das vítimas. Apoio à equipa de EPH O apoio às equipas de EPH pode ser prestado, por exemplo, na escolha de locais mais apropriados para a instalação de determinadas valências, ou logísticas, como zona de concentração de cadáveres; zona de receção de sobreviventes (ilesos); apoio na comunicação a familiares ou conhecidos de vítimas do incidente; monitorização psicossocial dos restantes elementos das equipas de EPH, nomeadamente para os casos de “bloqueio”; rotação de equipas; apoio nas desmobilizações, entre outros. Este é um apoio apenas de aconselhamento, baseado no impacto psicológico que cada uma destas decisões pode acarretar, sendo dispensável, caso o elemento mais diferenciado do INEM no local achar que não é adequado. Intervir diretamente com as vítimas do incidente A Equipa Psicossocial intervém nas situações do foro emocional e social e a sua atuação é realizada com as vítimas triadas pelas equipas médicas com prioridades 3, vítimas “não graves”, mas também com familiares ou amigos que possam ocorrer ao local do incidente durante a resolução do mesmo. Nota para conhecimento das equipas de EPH: A Equipa Psicossocial também procede a triagem, sendo que as vítimas que se apresentam mais agitadas, com medo intenso ou terror, “imobilizadas” ou em Intervenção psicossocial em situações de exceção choque emocional serão consideradas prioritárias relativamente à intervenção dos psicólogos. O mesmo se aplica a vítimas vulneráveis como crianças, grávidas, idosos ou pessoas portadoras de deficiência. Esta intervenção prioritária pode ser realizada em 2 locais, ou diretamente na zona do incidente (caso seja necessário dar apoio a um encarcerado, soterrado ou a alguém que esteja em choque emocional) ou num local mais reservado, na Zona de Atuação da Equipa Psicossocial. As restantes vítimas que apresentem orientação espácio-temporal e estratégias adaptativas (coping) minimamente adequadas para garantir alguma autonomia serão concentradas em zona comum, na Zona de Atuação da Equipa Psicossocial, a fim de receberem apoio psicossocial, nomeadamente, contacto com familiares e/ou amigos, informações sobre a rede social de apoio, transporte, entre outros, que possam ser fornecidos pelo INEM ou por outras instituições. A psicoeducação é parte integrante da intervenção do psicólogo. notas: Independentemente dos recursos tecnológicos utilizados como suporte à c o m u n i c aç ão, a e s t r u t ur a d e comunicações é fundamental ao adequado funcionamento do dispositivo, pelo que, deve ser do conhecimento de todos os intervenientes. A articulação entre a equipa psicossocial e as restantes equipas tem como objetivos: • O s o c o r r o , e s t a b i l i z a ç ã o e encaminhamento de todas as vítimas, familiares e testemunhas; • O apoio às equipas de socorro presentes na ocorrência. Esta inter venção psicológica poderá ter lugar em diferentes momentos. Tal como acontece com as vítimas, também os profissionais se podem transformar em vítimas e desenvolver Reações de Stress que, apesar de normais, poderão evoluir para patologia psicológica / psiquiátrica. Procurar redes de apoio para encaminhamento das vítimas Qualquer situação de exceção provoca destabilização nas pessoas que vivenciam o evento, sendo que o tempo de recuperação é, normalmente, superior a uma situação de emergência de rotina. A Equipa de Apoio Psicossocial, mesmo durante o incidente, interage com outras entidades, como a Linha de Emergência Social, a Segurança Social, as Urgências Hospitalares, entre outros. O intuito desta articulação é referenciar as vítimas que tiveram direta ou indiretamente envolvidas na situação, assegurando que se irá dar continuidade ao melhor apoio possível até estarem totalmente recuperadas. Como Agir? A organização e apoio psicossocial nas situações de exceção dependem da dimensão e especificidade do incidente. Podemos dizer que a intervenção é qualitativamente progrediente, o que significa que quanto mais vítimas existirem maior é a necessidade de trabalhar com elementos de referência das vítimas e não diretamente com estas. Isto significa que, desde que exista uma proporção de 1 psicólogo para 5 vítimas é possível trabalhar diretamente com cada vítima, aplicando noções de primeiros socorros psicológicos. Quando este rácio psicólogo/vítima não se cumprir, verificando-se um número superior de vítimas por psicólogo, a intervenção é realizada diretamente com pais, professores, vítimas que se encontrem mais orientadas, elementos de socorro, sendo esta intervenção dirigida à orientação destes grupos para prestarem apoio mais direto às vítimas envolvidas. Existe então o efeito de multiplicação. Com um número elevado de vítimas, as funções do psicólogo são essencialmente gerir o contexto e planear zonas de receção, informação e suporte a vítimas, assim como, coordenar-se com outras organizações presentes no local. FACTO A cultura influencia a forma como cada indivíduo interpreta o significado duma situação traumática. Se uma situação de exceção for integrada nas expetativas culturais, a sua ocorrência pode ser menos perturbante. Assim, a intervenção com estes indivíduos deve ser adaptada de acordo com os seus costumes, crenças e valores. Aspetos relevantes de cada cultura: • Hierarquia etária; • Significado da morte; • Género; • Linguagem / Dialeto; • Espiritualismo / Religiões; • Estatuto Socioeconómico; • Individualismo / Comunitarismo; • Poder de soberania; • Saúde; • Grupos específicos de intervenção (ex.Crianças, idosos, portadores de deficiência); • Sexualidade; • Vestuário. N O TA : A E Q U I PA D E A P O I O PSICOSSOCIAL APOIA A EQUIPA DE EPH A ENTENDER ESTES ASPETOS RELEVANTES DE CADA CULTURA. 71 72 situação de exceção SECÇÃO 2 BIBLIOGRAFIA E SIGLAS 73 74 situação de exceção SECÇÃO 2 BIBLIOGRAFIA SECÇÃO 2 BIBLOGRAFIA ALVAREZ LEIVA, C. – Manual de Atención a Múltiples Víctimas y Catástrofes. España. Aran, 2002. Arbon P, Bridgewater FHG, Smith C. 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Diretivas Operacionais: Diretiva Operacional Nacional N.º 1/2010 – Dispositivo Integrado de Operações de Proteção e Socorro (DIOPS) Normas Operacionais: Norma Operacional Permanente/ANPC/1401/2012 – Sistema de Gestão de Operações (SGO) Planos de Emergência: Plano Especial de Emergência de Proteção Civil para o Risco Sísmico na Área Metropolitana de Lisboa e Concelhos Limítrofes – PEERS-AML IMAGENS (obtidas de diversas fontes): • Algumas imagens presentes neste manual foram retiradas de páginas eletrónicas de acesso livre, sendo, por este facto, díficil reconhecer a sua autoria. Neste sentido, o INEM encontra-se disponível, através do contato [email protected], para em futuras re-edições fazer o devido crédito de autor, ou retirar as mesmas, caso seja solicitado; • Fotografia (INEM); • Desenho dos autores/colaboradores; • APLICATIVO iOS (iPhone e iPad): WordFoto, Version 1.0.2., 2011 bitCycle (www.bitcycle.com 77 78 situação de exceção SECÇÃO 2 SIGLAS 79 ANPC Autoridade Nacional de Proteção Civil CB Corpo de Bombeiros CCO Centro de Coordenação Operacional CCOD Centro de Coordenação Operacional Distrital CCON Centro de Coordenação Operacional Nacional CDC Center of disease control CDOS Comando Distrital de Operações de Socorro CDPC Comissão Distrital de Proteção Civil CNOS Comando Nacional de Operações de Socorro CNPC Comissão Nacional de Proteção Civil CODIS Comandante Operacional Distrital OMS Organização Mundial de Saúde PCR Paragem cardiorrespiratória PEUS Plano de Emergência das Unidades de Saúde PMA Posto Médico Avançado PSP Polícia de Segurança Pública RCP Reanimação Cardiopulmonar SIEM Sistema Integrado de Emergência Médica SIOPS Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro START (triagem) Simple Triage Rapid Treatment TO Teatro de Operações CODU Centro de Orientação de Doentes Urgentes TOTE Técnico Operador de Telecomunicações de Emergência COS Comandante Operações de Socorro TPC Tempo de preenchimento capilar CVP Cruz Vermelha Portuguesa TRST (triagem) Triage Revised Trauma Score DDR Dispositivo de dispersão radiológica VIC Veículo de Intervenção em Catástrofe DGS Direção Geral de Saúde ZA Zona de Apoio Equipa EPH Equipa de Emergência Pré-hospitalar ZCAP Zona de Concentração e Apoio à População FA Forças Armadas FC Frequência cardíaca FR Frequência respiratória GNR Guarda Nacional Republicana Hazmat Hazardous Materials INEM Instituto Nacional de Emergência Médica NRBQ Nuclear, Radiológico, Biológico e Químico ZCR Zona de Concentração e Reserva ZRnM Zona de Reunião de Mortos ZRR Zona de Recessão de Reforços ZS Zona de Sinistro ZT Zona de Transição situação de exceção situação de exceção ISBN 978-989-8646-05-7 Versão 2.0 1ª Edição, 2012 9 789898 646057