Rev. bras. zootec., 30(4):1332-1339, 2001
Estimativa da Ingestão Voluntária a partir das Características de Degradação do
Capim-Coastcross (Cynodon dactylon L. Pers.), sob pastejo, por Vacas em Lactação1
Telma Teresinha Berchielli 2, 5, João Paulo Guimarães Soares3, Luiz Januário Magalhães Aroeira4,5 ,
Cláudia Lopes Furlan3, Ana Karina Dias Salman3, Roselene Nunes da Silveira3,
Euclides Braga Malheiros2,5
RESUMO - O consumo de matéria seca (CMS) do capim-coastcross, sob pastejo, de vacas lactantes mestiças (HPB x Gir) e Gir,
foi calculado a partir da relação entre a digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) da forragem (extrusa colhida com animais esôfagofistulados) e a produção fecal obtida com auxílio do cromo mordante por meio de um modelo não-linear. A pastagem foi manejada com
uma taxa de lotação de 1,6 e 3,2 animais/ha, respectivamente para as épocas seca e chuvosa do ano, num sistema de pastejo rotativo com
três dias de ocupação e 27 dias de descanso. Quatro diferentes equações baseadas em variáveis de degradação ruminal foram utilizadas
para predizer o consumo de MS: CMS = -1,19 + 0,035 (a+ b) + 28,5c (1), CMS = -0,822 + 0,0748 (a+ b) + 40,7c (2), CMS = -8,286
+ 0,266a + 0,102b +17,696c (3) e CMS = [%FDN na MS]* [consumo de FDN ] / [(1-a-b)/K P +b/(c+ k p)]/24] (4). Os dados observados
utilizando as equações 1 e 2 (12,2 e 12,7 kg/vaca/dia respectivamente) foram similares entre si e superiores aos resultados obtidos na
equação 4 (7,8 kg/vaca/dia). Já o resultado obtido pela equação 3 (5,5 kg/vaca/dia) foi menor do que aqueles determinados pelas outras
equações, subestimando o CMS calculado a partir do cromo mordante (6,3 kg/vaca/dia). A predição do consumo de forrageiras tropicais
sob pastejo, utilizando equações baseadas nas variáveis de degradação, constitui um importante potencial para estas avaliações.
Entretanto, mais estudos devem ser realizados antes de se usarem estas equações na prática.
Palavras-chave: cromo mordente, degradabilidade, estimativa de consumo, equações de predição, forrageiras tropicais
Prediction of Dry Matter Intake Based on Ruminal Degradation from Milking Cows
Grazing Coastcross Bermudagrass
ABSTRACT - Dry matter intake (DMI) of coastcross bermudagrass grazing by crossbred Holstein-Zebu and Zebu lactating cows was
calculated using in vitro dry matter digestibility from extrusa (four esophageal fistulated cows) and fecal output estimate with mordent
chromium by the non linear model. Pasture was managed in a rotational system with three days of occupation and 27 days of resting period,
adopting a stocking rate of 1.6 and 3.2 cows/ha respectively during the dry and rainy season. Four different equations based on ruminal
degradation were used to predict dry matter intake: DMI = -1.19 + 0.035 (a+ b) + 28.5c (1), DMI = -0.822 + 0.0748 (a+ b) + 40.7c (2),
DMI = -8.286 + 0.266a + 0.102b +17.696c (3) and DMI = [%FDN na MS]* [FDN intake] / [(1-a-b)/K P +b/(c+ k p)]/24] (4). The coastcross DMI predicted by the equations were different from results obtained with the model (6.3 kg of dry matter/cow/day). The data achieved
using the equations 1 and 2 (12.2 and 12.7 kg/cow/day respectively) were similarand superior from results obtained by equation 4 (7.8 kg/
cow/day). Those values overestimated the results obtained using mordentchromium. The data obtained by equation 3 (5.5 kg/cow/day)
was lower than those determined by equations and underestimated the DMI calculated with external marker. The prediction of dry matter
intake from cows grazing tropical forages using equations based in ruminal degradation parameters constitutes an important potential for
those evaluations, but it should be still studied before being employed in practice.
Key Words: degradability, intake, mordanted chromium, prediction equations, tropical forages
Introdução
O baixo potencial produtivo da maioria das pastagens
nas principais bacias produtoras de leite, no Brasil, constitui, sem dúvida nenhuma, uma das mais importantes
limitações na produção de leite do rebanho bovino brasileiro (MARTINS et al., 1995). Entretanto, a utilização do
1
2
3
4
5
capim-coastcross vem se tornando crescente, principalmente por ser capaz de fornecer forragem de alta
qualidade, além de resistir aos fatores adversos de clima
(ALVIM et al., 1996). Há evidências de que sistemas de
pastejo rotativo devem ser associados a altas taxas de
lotação, visando ao melhor aproveitamento do potencial
de produção do pasto (DERESZ et al., 1994).
Trabalho financiado pela FAPESP.
Professor da FCAV/UNESP - Jaboticabal. E.mail: [email protected]
Aluno de Pós-graduação da FCAV/UNESP - Jaboticabal, SP.
EMBRAPA - Gado de Leite.
Pesquisador do CNPq.
1333
BERCHIELLI et al.
Nos trópicos, onde os ruminantes são alimentados
HOVEL et al. (1986), ØRSKOV et al. (1988),
com forragens de digestibilidade mais baixas, o conVON KEYSERLINGK e MATHISON (1989) e
trole físico do consumo é ainda mais pronunciado do
SHEM et al. (1995) usaram as variáveis a, b e c da
que aquele proveniente de pastos de clima temperado.
fórmula: Y(t) = a + b (1- e-ct), para descrever a
São, portanto, recomendadas, para as avaliações do
degradabilidade da MS ou da PB, incubadas em sacos
consumo potencial das forrageiras, estimativas a
de náilon no rúmen (ØRSKOV e McDONALD,
1979) e predizer consumo de alimentos. Este método,
partir do enchimento físico do rúmen provocado pelo
volumoso estudado (MADSEN et al., 1997).
entretanto, apresenta limitações, já que alguns alimentos não ostentam padrões de degradação que
Devido às dificuldades para se determinar o
sigam o modelo proposto. Para superar este problema,
consumo de matéria seca diretamente, usando-se
MADSEN et al. (1994) desenvolveram um método,
animais em pastejo, vários métodos indiretos são
no qual a taxa de degradação do alimento no rúmen
utilizados, considerando a produção fecal e a
é combinada com sua taxa de passagem, com o
digestibilidade da matéria seca consumida. A proobjetivo de se estimar o enchimento físico do órgão.
dução fecal dos animais, nestes casos, pode ser
Neste caso, o consumo potencial do alimento é desdeterminada baseando-se na relação entre a quancrito pelo seu enchimento do rúmen e a unidade usada
tidade de um indicador administrado ao animal e sua
é dia e a capacidade de um animal de ingerir o
concentração nas fezes. Em contraste com dosaalimento é fornecida em kg. O consumo é, então,
gem de um indicador empregado diariamente, a
predito em kg/dia, dividindo-se a capacidade de
utilização do cromo mordante pode ser uma alternaingestão do animal (kg) pelo enchimento do rúmen
tiva, sendo administrado em única dose (dose
(dia). Como o enchimento do rúmen é principalmente
pulso), seguido por coletas sucessivas das fezes
causado pela fração fibrosa do alimento, as variáveis
para se caracterizar a concentração de marcador
de degradação e taxa de passagem baseiam-se na
encontrado nas mesmas fezes (POND et al., 1989).
FDN da forrageira avaliada (MADSEN et al., 1997).
Vários trabalhos vêm sendo realizados sobre preObjetivou-se com este estudo comparar quatro
dição do potencial de ingestão e digestibilidade dos
equações de predição de consumo voluntário de
alimentos a partir de seus componentes químicos.
matéria seca a partir dos parâmetros de degradação
Este método, no entanto, é criticado pelo fato de a
in situ com o método que considera a relação entre a
ingestão e a digestibilidade das alimentos, em rumidigestibilidade in vitro da matéria seca da forragem
nantes, serem influenciados não somente pela come a produção fecal obtida por meio de modelo nãoposição química dos alimentos, mas também pelas
linear, utilizando vacas em lactação mestiças e Gir em
características do animal e do manejo alimentar
pastagem de capim-coastcross.
(MERTENS, 1987).
O uso da técnica in situ para avaliar alimentos
também tem se tornado um método alternativo devido
a sua simplicidade e natureza direta, além de tornar
possível a determinação das taxas de degradação
(HOVELL, 1986). O AGRICULTURAL AND
FOOD RESEARCH COUNCIL- AFRC (1993) vem
adotando a técnica in situ como método padrão para
caracterizar a degradabilidade ruminal do nitrogênio
e por apresentar resultados semelhantes àqueles
obtidos pela técnica in vivo.
Segundo VON KEYSERLINGK e MATHISON
(1989), a técnica in situ poderia ser mais eficiente
como método para estimar a digestibilidade e a
ingestão voluntária de forragens, se as taxas de
passagem e degradação fossem medidas e utilizadas
para predizer estes fatores, além de apresentar alta
correlação com a ingestão voluntária (R=0,82), quando
comparada com a digestibilidade i n v i v o
(CHENOST et al., 1970).
Material e Métodos
Área experimental e manejo da pastagem
O pasto de capim-coastcross no período anterior
ao início do experimento foi adubado com 200 kg de
N/ha/ano e 66 kg de K/ha/ano, divididos em três
aplicações. Na primeira quinzena de outubro de 1996,
aplicaram-se 330 kg de adubo N-P-K (20-0-20) e, nos
meses de dezembro de 1996 e março de 1997, o adubo
foi aplicado na forma de sulfato de amônio 335 kg por
aplicação em cada mês.
O experimento foi desenvolvido em quatro épocas, nos meses de julho e novembro de 1996; janeiro
e abril de 1997, referentes ao final da seca; início;
pico e final das águas, respectivamente. Durante as
épocas, experimentais utilizou-se uma área total de 10 ha
de capim-coastcross para o período seco do ano
(julho) e 5 ha no chuvoso (janeiro a abril), num
1334 Rev. bras. zootec.
sistema de pastejo rotativo divididos em piquetes de
0,5 ha, com três dias de ocupação e 27 dias de
descanso. A taxa de lotação adotada foi de 1,6
animal/ha no mês de junho e 3,2 animais/ha nos meses
de novembro, janeiro e abril.
Animais e dietas
Foram utilizadas 16 vacas de 30 a 90 dias de
lactação, com ordem de lactação superior a dois e
peso vivo médio de 422 e 490 kg, subdivididas em dois
grupos de oito vacas da raça Gir e oito vacas
mestiças (Gir x Holandês), com produções leiteiras
de 6,4 e 10,6 kg/vaca/dia, respectivamente, que recebiam, além do pasto, suplementação de concentrado
na quantidade fixa de 3 kg/animal/dia, parcelados nas
duas ordenhas. O concentrado oferecido era composto por 55,0% de milho, 28,7% de farelo de soja,
10,9% de soja-grão integral, 3,0% de mistura mineral
e 2,4% de calcário.
Os animais foram agrupados por produção de leite
na lactação anterior e durante todo período os mesmos permaneceram na pastagem de capim-coastcross,
saindo apenas para as ordenhas.
Coleta de extrusas
Para a coleta de extrusas de cada piquete foram
utilizados quatro vacas secas, fistuladas no esôfago,
sendo duas mestiças (Gir x HPB) e duas Gir, colocadas na pastagem antes da entrada dos animais experimentais nos piquetes.
Os animais foram submetidos a jejum prévio de 12
horas e as coletas foram feitas durante 30 minutos.
Coletaram-se as extrusas referentes a cada vaca, as
quais foram misturadas e secas em estufa de circulação forçada de ar a 55ºC.
As amostras secas foram divididas em três porções: a primeira foi usada para determinação da
digestibilidade in vitro da matéria seca (TYLLEY e
TERRY, 1963), a segunda para o tratamento da fibra
em detergente neutro com dicromato de sódio
(Na2Cr 2O7.2H2O), COLUCCI (1984) e a terceira
para a determinação da degradabilidade in situ da
matéria seca (MEHREZ e ØRSKOV, 1977).
Preparação do indicador e excreção fecal
A produção fecal foi estimada, nos 16 animais em
pastejo, usando-se a FDN da extrusa mordentada
com dicromato de sódio. O alimento marcado foi
pesado e colocado em cápsulas de gelatina, com
aproximadamente 6 g. Cerca de 30 g desse material
foram administrados a cada animal, em dose única,
por via oral, com auxílio de uma sonda esofageana.
A coleta de fezes foi feita diretamente no reto às
6, 9, 12, 24, 32, 36, 48, 56, 72, 80, 96, 104 e 120 horas
após a administração das cápsulas. A excreção fecal
dos alimentos nos períodos experimentais foi obtida
com base na relação:
Excreção fecal (kg/dia) = quantidade de indicador administrado (mg)
concentração do indicador nas fezes (mg/kg)
Consumo de matéria seca
As amostras de fezes foram analisadas em laboratório, para determinação do teor de cromo. A partir dos
resultados obtidos de cromo fecal foram confeccionadas as curvas de excreção para estimativas de consumo
da dieta. As produções fecais e as taxas de passagem
no rúmen foram calculadas usando-se as estimativas
dos parâmetros do modelo proposto por POND et al.
(1989), analisado estatisticamente usando-se o procedimento NLIN do programa SAS (SAS, 1990). Foram
fornecidos valores iniciais para os parâmetros, dentro do
espaço paramétrico de cada um e segundo os valores
esperados para os mesmos. Estes foram estimados
inicialmente utilizando-se o método Marquardt.
Tais valores, assim estimados, foram utilizados
novamente no NLIN, adotando-se para os ajustes das
curvas de excreção o método de Gauss - Newton.
A produção fecal total (PFT) diária foi obtida com
base na seguinte relação:
Y = [K0] L1 (t - τ). e -(L 1(t - τ)) ] / 0,59635
em que: Y = concentração do marcador;
K0 = concentração do marcador, se este é misturado
instantaneamente no compartimento; L 1 = parâmetro
de taxa de passagem dependente do tempo; t = tempo
decorrido da administração até o primeiro aparecimento do marcador nas fezes; e t = tempo após a
administração do marcador.
O consumo de MS de forragem (CMS) foi calculado pela fórmula:
CMS = Produção fecal/(1 - DIVMS)
em que: CMS = consumo de MS diária em kg;
PF = produção fecal em g/MS/vaca/dia; e
DIVMS = digestibilidade in vitro da extrusa.
O consumo de matéria seca de capim dos animais
experimentais foi calculado de forma indireta, ou
seja, subtraindo-se as produções fecais calculadas a
partir da digestibilidade do concentrado e da excreção
fecal total obtida no modelo.
Degradabilidade
A degradabilidade in situ da extrusa foi realizada
nas quatro épocas experimentais. Foram utilizadas
1335
BERCHIELLI et al.
Tabela 1 - Composição do capim-coastcross coletado por
três vacas mestiças, não lactantes, fistuladas no rúmen,
animais fistulados no esôfago (extrusa) e
previamente adaptadas durante sete dias na pastagem
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS)
de capim-coastcross, as quais recebiam também a
em quatro épocas experimentais
Table 1 - Chemical composition of coastcross bermudagrass
mesma quantidade de concentrado dos animais expecollected from esophageal fistulated animal (extrusa)
rimentais. Aproximadamente 5 g de extrusa seca
and dry matter in vitro digestibility (DMIVD) in four
different experimental seasons
foram acondicionados em sacos de náilon (7 x 14 cm)
% Matéria seca
e incubados no rúmen por 3, 6, 12, 24, 48, 72, 96 h.
% Dry matter
Para o cálculo da degradabilidade in situ da matéria
Épocas
PB
FDN
FDA DIVMS
seca (MS), foi utilizada a equação proposta por MEHREZ
Seasons
CP
NDF
ADF DMIVD
e ØRSKOV (1977), com recomendações propostas por
Final
da
seca
14,61
68,32
27,58
64,85
NOCEK (1988), expressa por: P = a + b (1 - e - c t),
End of dry season
em que P é a quantidade de nutriente degradado no
Início das águas
16,28
69,08
31,61
69,62
Beginning of rainy
tempo t; a, a fração rapidamente solúvel em água; b, a
season
fração insolúvel em água, mas potencialmente
Pico das águas
13,91
71,68
33,16
67,33
degradável; c, a taxa de degradação da fração b.
Peak of rainy season
A degradabilidade efetiva (DE) foi calculada consideFinal das águas
14,26
70,46
27,90
69,18
End of rainy season
rando-se as taxas de passagem estimadas para cada
MS = matéria seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente
grupo de vacas do experimento de consumo usando-se
neutro, FDA= fibra em detergente ácido, DIVMS = digestibilidade in
o modelo de POND et al. (1989), segundo a equação
vitro da matéria seca.
DM = dry matter, CP = crude protein, NDF = neutral detergent fiber, ADF = acid
proposta por ØRSKOV e McDONALD (1979):
detergent fiber, DMIVD = dry matter in vitro digestibility.
DE = a + (b c)/c + k, em que a é a fração rapidamente
solúvel em água; b, a fração insolúvel em água, mas
potencialmente degradável; c, a taxa constante de
degradação da fração b; e k, a taxa de passagem no
rúmen da fração sólida do conteúdo ruminal.
Equações de predição
Análises estatísticas
A partir dos parâmetros de degradação, foram
estimados os consumos por meio das equações propostas por VON KEYSERLINGK e MATHISON
(1989), em que CMS = -1,19 + 0,035 (a+ b) + 28,5 c
(R 2 = 86%); ØRSKOV et al. (1988), em que
CMS = -0,822 + 0,0748 (a+ b) + 40,7 c (R2 = 89%);
SHEM et al. (1995), em que CMS = - 8,286 +0,266 a
+ 0,102 b +17,696 c (R2 = 90%); e MADSEN et al.
(1997), em que CMS= [%FDN na MS]* [Ingestão de
FDN] / [(1-a - b) / KP +b / (c+ k p)] /24.
O delineamento experimental adotado para a
comparação das equações foi em blocos casualizados
com dois tratamentos (Gir e mestiça (HPB x Gir)),
oito repetições (animais) e quatro blocos (meses). A
análise de variância e as médias foram comparadas
pelo teste de SNK e TUKEY 5%, pelo programa
ANOVA do SAS (1990) e segundo o modelo:
yijkl = µ + ti + mj + ek + mejk + te ik + tm ij +eijk
em que: yijk = valor para característica consumo em
kg/dia; %PV e g/PV0,75 de MS, do capim-coastcross
da iésima vaca mestiça ou gir, estimado no jéssimo
modelo na késsima época; µ = média geral constante
comum a cada observação; ti = efeito do tratamento
i ( i = 1 a 2 ); mj = efeito da equação j ( j =1 a 5);
ek = efeito da época k ( k = 1 a 4 ); me jk = efeito da
interação modelo x época; te ik = efeito da interação
tratamento x época; tmij = efeito da interação tratamento x modelo; e eijk = erro residual aleatório.
Análises laboratoriais
As amostras das extrusas utilizadas (Tabela 1)
pré-secas e moídas foram analisadas para proteína
bruta (PB), pelo método Kjeldahl (ASSOCIATION
OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS AOAC, 1980), fibra detergente neutro (FDN) e fibra
em detergente ácido (FDA) pelo método proposto
por VAN SOEST (1965). Para as análises da
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS),
seguiram-se as recomendações de TILLEY e TERRY
(1963). As determinações de cromo nas fezes foram
feitas a partir de digestão nitro-perclórica, usando-se
o espectrofotômetro de absorção atômica para as
leituras das amostras.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos por meio da incubação in
situ e as taxas de passagem calculadas podem ser
observados na Tabela 2. Nenhuma diferença (P>0,05)
1336 Rev. bras. zootec.
foi encontrada para as variáveis em relação as épocas estudadas. Os dados referentes a degradabilidade
efetiva da MS da extrusa (DE) calculadas a partir da
fórmula proposta por ØRSKOV e McDONALD
(1979) variaram respectivamente de 40,2 a 48,3 de
novembro 1996 a abril de 1997. Estes valores foram
semelhantes (45,5%) aos obtidos por AROEIRA et
al. (1996) e superiores (33,3%) aos observados por
BERCHIELLI et al. (1996), trabalhando com feno de
capim-coastcross.
Foram observados também valores numéricos
mais elevados para a degradabilidade efetiva da MS
no mês de abril, quando comparada com as demais
épocas, sendo que este fato possa estar associado à
proporção de FDN (Tabela 1), além de menor taxa de
passagem (0,014 h-1 ) observada para a extrusa do
capim nesta época, o que, provavelmente, resultou
em aumento do consumo do pasto, obtido pelo modelo
linear (Tabela 3), em relação ao valor observado no
mês de janeiro.
O consumo médio de MS (CMS) total considerando o fornecimento de concentrado (2,6kg /vaca/
dia) foi de 6,3 kg/vaca/dia ou 1,4% do peso vivo (PV),
para as vacas Gir e mestiças, e o CMS do capimcoastcross (Tabela 3), ambos calculados com o
auxílio do modelo descrito por POND et al. (1989), foi
Tabela 2 - Fração solúvel degradável (a), fração insolúvel
potencialmente degradável (b), taxa de
degradação da fração b (c) e degradabilidade
efetiva (DE) considerando a média da taxa de
passagem (k) médias estimadas no experimento
de consumo da matéria seca (MS) em quatro
épocas experimentais
Table 2 - Degradable soluble fraction (a), potential degradable
insoluble fraction (b), degradation rate of “b” fraction
(c), and effective degradability (ED) considering the
average of rate passage (k) estimated in dry matter
intake experiment in four experimental seasons
Parâmetros de degradabilidade da MS
DM degradability parameters
Épocas
Periods
a
(%)
B
(%)
c
k
(% /h) (% /h)
DE
(%)
EF (%)
Final da seca
75,5
63,5
2,17
1,8
47,3
62,8
52,4
1,78
1,5
40,2
56,4
62,6
3,97
2,1
41,1
61,9
43,1
3,63
1,4
48,3
End of dry season
Início das águas
Beginning of rainy
season
Pico das águas
Peak of rainy season
Final das águas
End of rainy season
de 4,7 kg/vaca/dia ou 1% do PV para vacas mestiças
(HPB x Gir) com produção de leite de 10,6 kg/vaca/
dia e 2,7 kg/vaca/dia ou 0,7% de PV para vacas Gir
com produção de leite de 6,4 kg/vaca/dia.
Os resultados do CMS do capim-coastcross, sob
pastejo, foram mais baixos que (2,5%PV) os obtidos
por LOEMBA e MOLINA (1994) trabalhando com
novilhas e muito mais baixo que os 8,5 kg/vaca/dia
descrito por MILERA et al. (1987), com vacas produzindo 10 kg de leite por dia sem suplementação de
concentrado.
Os baixos consumos observados para o capimcoastcross, podem ter sido influenciados pela quantidade de concentrado ingerido, em que se verificou
que a participação do concentrado na MS total
consumida foi, em média, de 52,5% para as vacas Gir
e 39,05% para as mestiças (HPB x Gir).
Segundo relatos de HOLMES e WILSON (1990),
a cada kg de MS de concentrado, significa 0,5 a 0,8 kg
a menos de volumoso, ocorrendo portanto efeito de
substituição. Comportamento semelhante foi observado por LUCCI (1997) com vacas em lactação
sendo o efeito de substituição de 0,93 e 0,73 kg de
volumoso, quando os animais estavam com 3-6 e 7-12
semanas de lactação. O oferecimento do concentrado
pode ter reduzido a ingestão de volumoso em 2,4 kg
de MS, considerando efeito de substituição de 0,8 kg
de MS de volumoso por kg de MS de concentrado.
Os dados obtidos nas equações de predição (Tabela 4) foram estimados a partir dos valores médios
dos parâmetros de degradabilidade, haja vista que os
mesmos não apresentaram diferenças significativas
(P>0,05) para os grupos de vacas e também entre as
épocas estudadas. Desse modo, na comparação dos
valores de consumo calculado pelo modelo, foram
utilizados os dados médios para os dois grupos de
vacas Gir e Mestiças (HPB e Gir).
Todas as equações de predição utilizadas superestimaram o consumo do pasto obtido pelo modelo descrito por POND et al. (1989). Porém, deve ser mencionado que estas equações estavam baseadas no potencial de degradação da forragem no rúmen, além de
não considerar a influência exercida pela taxa de
substituição, causada pela ingestão de concentrado.
Os dados observados utilizando-se as equações
VON KEYSERLINGK e MATHISON (1989) e
SHEM et al. (1995) (12,2 e 12,7kg/vaca/dia), respectivamente, foram similares (P>0,05) entre si e superiores (P<0,05) aos resultados estimado na equação
de MADSEN et al. (1997) (7,8 kg/vaca/dia). Já o
resultado obtido na equação proposta por ØRSKOV
1337
BERCHIELLI et al.
Tabela 3 - Consumo de vacas em pasto de capim-coastcross
Table 3 - Dry matter intake of the coastcross bermudagrass by grazing cows
Épocas
Seasons
Raças
Final da seca
Início das águas
Breeds
End of dry season
Beginning of rainy season
Gir
Pico das águas
Final das águas
Médias
Peak of rainy season End of rainy season
Means
%PV
kg/MS
%PV
kg/MS
%PV
kg/MS
%PV
kg/MS
%PV
kg/MS
% LW
kg/DM
% LW
kg/DM
% LW
kg/DM
% LW
kg/DM
% LW
kg/DM
0,68
2,83
1,13
4,38
0,26
1,14
0,56
2,48
0,62
2,71
0,85
4,41
1,17
5,35
0,49
2,35
1,29
6,62
0,95
4,68
0,76
3,62
1,15
4,86
0,37
1,75
0,92
4,55
-
-
Gir
Girolanda
Girolanda
Médias
Means
MS = matéria seca; PV = peso vivo.
DM = dry matter; LW = live weight.
et al. (1988) (5,5 kg/vaca/dia) foi menor (P<0,05) do
que aqueles determinados pelas outras equações,
subestimando o CMS calculado pelo modelo não
linear descrito por POND et al. (1989) (6,3 kg/vaca/
dia) (Tabela 4).
O resultado obtido por VON KEYSERLINGK e
MATHISON (1989) e SHEM et al. (1995), em
relação à porcentagem do PV (2,7 e 2,8% respectivamente), embora superestimando os valores obtidos
no modelo não linear, foi o que mais se aproximou dos
valores obtido por VILELA et al. (1996) (2,6%) e
ALVIM et al. (1997) (2,9%), trabalhando também
com o capim-coastcross sob pastejo com vacas
holandesas com suplementação concentrada de
2,6 kg de concentrado/vaca/dia. Estes resultados
podem estar relacionados à utilização dos parâmetros
a, b e c que, segundo os primeiros autores, superestimaram os valores obtidos em estudos com forragens de melhor qualidade.
Em estudos das características de degradação in
situ de forragens (a. MS, b. MS e c. MS) verifica-se
o quanto os parâmetros de degradação influenciam
na utilização do alimento pelo animal e sua relação
com a ingestão. Segundo MERTENS (1987), a utilização destes parâmetros podem levar a aumento de
precisão na estimativa da ingestão de matéria seca e
matéria orgânica, por meio da relação (a.MS + b.MS
+ c.MS).
As estimativas de ingestão de matéria seca foram
bem diferentes, quando se consideraram as frações (a)
e (b), nas equações de predição, no entanto, a inclusão
das taxas de degradação (c) e passagem de partículas
(Kp) deveria aumentar a habilidade de predição de
ingestão, principalmente com relação as equações de
SHEM et al. (1995) e ∅RSKOV et al. (1988).
O uso dos coeficientes desenvolvidos por
ØRSKOV et al. (1988) na equação ((A+B)+Kd)
resultou na estimativa das ingestões diárias de 5,5 kg/
MS/dia, superior ao obtido pelo modelo proposto por
POND et al. (1989). Entretanto, o valor obtido por
esta equação foi o que mais se aproximou do valor
estimado pelo mesmo modelo, podendo ter apresentado valor mais correto, pois esta teria sido desenvolvida utilizando forrageiras tropicais.
Usando-se as mesmas equações para estimar o
consumo de capim-tanzânia, sob pastejo, para vacas
em lactação, observou-se que os valores obtidos na
equação proposta por ØRSKOV et al. (1988) foram
os que mais se aproximaram dos valores estimados
com o modelo não-linear (BERCHIELLI et al., 2000).
Por outro lado, o coeficiente de variação obtido
para os valores estimados do consumo em kg/MS/dia
(13,7%) foi inferior ao obtido por HOVELL et al.
(1986), os quais observaram que as informações
obtidas com a incubação dos sacos de náilon no
rúmen explicam 98% da variação na ingestão e 35, 75
e 94% de variabilidade foram explicadas pelos teores
de PB, FDN e FDA do alimento, respectivamente.
As equações de SHEM et al. (1995) e ØRSKOV
et al. (1988) foram as que apresentaram coeficientes
de determinação mais elevados (R2 = 0,90 e 0,89),
respectivamente, segundo os mesmos autores, quando
também foram utilizadas para estimativas de consumo de forrageiras tropicais, embora no caso da
primeira o valor tenha sido muito superior em comparação com o modelo não-linear. Já a equação de
MADSEN et al. (1997) deveria refletir resultados
mais adequados, pois, mesmo apresentando diferença
significativa em relação ao consumo estimado no
modelo não linear, utilizou maior número de parâmetros
1338 Rev. bras. zootec.
Tabela 4 - Consumo de vacas em pasto de capim-coastcross
estimado pelas diferentes equações e pelo
modelo de POND et al. (1989)
Conclusões
Table 4 - Dry matter intake of the coastcross bermudagrass by
grazing cows, estimated by different equations and
POND et al. (1989) model
O consumo de matéria seca do pasto foi influenciado pelos parâmetros de degradação utilizados nas
equações de predição, entretanto, a predição do
consumo de matéria seca de vacas em pastejo de
forrageiras tropicais precisa ser mais estudado, com
número maior de animais, e mantidos preferencialmente em um sistema exclusivamente em pasto.
Consumo de matéria seca
Dry matter intake
Equação
kg de MS/dia
% PV
Equation
kg of DM/day
% LW
VON KEYSERLINGK 1
SHEM 2
ORSKOV 3
MADSEN 4
POND 5
CV (%)
12,18 ± 0,09 a
12,74 ± 0,09a
5,49 ± 0,09c
7,76 ± 0,09 b
3,69 ± 0,10d
13,07
2,66 ± 0,02a
2,79 ± 0,02a
1,19 ± 0,02c
1,70 ± 0,02b
0,80 ± 0,03d
9,18
1 MADSEN et al,(1997); 2 VON KEYSERLINGK e MATHISON (1989);
3 SHEM et al. (1995); 4 ∅RSKOV et al. (1988); 5 POND et al. (1989).
MS = matéria seca; PV = peso vivo.
a,b,c,d Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna,
diferem (P<0,05), pelo teste de SNK.
DM = dry matter; LW = live weight.
a,b,c,d Means, in the same column, followed by different letters are different (P<.05)
by SNK test.
relacionados com a qualidade da forragem ingerida
pelos animais, além da relação de utilização entre a
taxa de degradação da fração b combinada com a
taxa de passagem.
MERTENS et al. (1987) admitem que a ingestão
potencial está relacionada com a FDN presente no
pasto, ou seja, cada animal deve ingerir por dia 1,2%
do peso vivo de FDN. Pela equação de MADSEN et
al. (1997), estimou-se o consumo a partir do peso das
vacas e do valor de FDN da extrusa do capim,
registrando-se o valor de 7,7 kg de MS/animal/dia,
para os animais experimentais.
Enfim sabe-se que outras características da forragem podem ter influenciado a predição da ingestão,
como a taxa de redução de partículas maiores, o
tempo de colonização destas, assim como a taxa
constante de saída de digesta ruminal (ØRSKOV et
al. 1988), e que não estão presentes como variáveis
nestas equações, assim como o efeito de substituição
do fornecimento de concentrado.
Super-estimativas do consumo podem ter ocorrido
em função disto, pois McDONALD (1981), utilizando
forrageiras tropicais com elevada solubilidade em água
e não se considerando o tempo de colonização na
degradação da fração insolúvel (b) além do efeito
aditivo e substitutivo de outros alimentos da dieta,
observou que os valores preditos da qualidade e do
consumo de forragens estimados foram influenciados.
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Recebido em: 14/12/00
Aceito em: 21/02/01
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Estimativa da Ingestão Voluntária a partir das Características de