UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Instituto de Psicologia e Ciências da Educação
Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo
do Ensino Básico e no Ensino Secundário
Consequências da tecnologia no ensino das artes visuais
Realizado por:
José Manuel Mendonça Naves Pinto
Supervisionado por:
Prof.ª Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires
Orientado por:
Dr.ª Carla Marina Fernandes Gil
Constituição do Júri:
Presidente:
Arguente:
Vogal:
Prof. Doutor Carlos César Lima da Silva Motta
Prof. Doutor Célio Gonçalo Cardoso Marques
Prof.ª Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires
Dissertação aprovada em:
18 de Julho de 2014
Lisboa
2014
U
N I V E R S I D A D E
L
U S Í A D A
D E
L
I S B O A
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Instituto de Psicologia e Ciências da Educação
Mestrado em Ensino de Artes Visuais
no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário
Consequências da tecnologia no ensino das artes
visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
Lisboa
Julho 2013
U
N I V E R S I D A D E
L
U S Í A D A
D E
L
I S B O A
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Instituto de Psicologia e Ciências da Educação
Mestrado em Ensino de Artes Visuais
no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário
Consequências da tecnologia no ensino das artes
visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
Lisboa
Julho 2013
José Manuel Mendonça Naves Pinto
Consequências da tecnologia no ensino das artes
visuais
Relatório de estágio apresentado ao Instituto de
Psicologia e Ciências da Educação da Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada
de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em
Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e
no Ensino Secundário.
Coordenador de mestrado: Prof. Doutor Carlos César
Lima da Silva Motta
Supervisora de estágio: Prof.ª Doutora Maria Adelaide
Gregório dos Santos da Fonseca Pires
Orientadora de estágio: Dr.ª Carla Marina Fernandes Gil
Lisboa
Julho 2013
Ficha Técnica
Autor
Coordenador de mestrado
José Manuel Mendonça Naves Pinto
Prof. Doutor Carlos César Lima da Silva Motta
Supervisora de estágio
Prof.ª Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires
Orientadora de estágio
Dr.ª Carla Marina Fernandes Gil
Título
Consequências da tecnologia no ensino das artes visuais
Local
Lisboa
Ano
2013
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
PINTO, José Manuel Mendonça Naves, 1974Consequências da tecnologia no ensino das artes visuais / José Manuel Mendonça Naves Pinto ;
coordenado por Carlos César Lima da Silva Motta ; supervisionado por Maria Adelaide Gregório dos
Santos da Fonseca Pires ; orientado por Carla Marina Fernandes Gil. - Lisboa : [s.n.], 2013. Relatório de estágio do Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no
Ensino Secundário, Instituto de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Lusíada de
Lisboa.
I - GIL, Carla Marina Fernandes, 1963II - PIRES, Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca, 1939IV - MOTA, Carlos César Lima da Silva, 1948LCSH
1. Arte - Ensino e estudo
2. Arte - Inovações tecnológicas
3. Escola Secundária Quinta do Marquês (Oeiras, Portugal) - Ensino e estudo (Estágio)
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto de Psicologia e Ciências da Educação - Teses
5. Teses - Portugal - Lisboa
1.
2.
3.
4.
5.
Art - Study and teaching
Art - Technological innovations
Escola Secundária Quinta do Marquês (Oeiras, Portugal) - Study and teaching (Internship)
Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto de Psicologia e Ciências da Educação - Dissertations
Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon
LCC
1. N85.P56 2013
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
1
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
2
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
3
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
AGRADECIMENTOS
À Sandra e ao Manuel.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
4
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
APRESENTAÇÃO
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
Foi intenção do autor desenvolver um trabalho centrado em aspectos práticos do
computador e da tecnologia digital, quando aplicados ao universo do design e da
arquitectura. Isto aconteceu para compensar a tendência inicial de falar em termos
gerais o que acontece como consequência da inclusão destas tecnologias no nosso
quotidiano em tantas e variadas actividades (incluindo no ensino). Tentou-se evitar
dispersão e focar o trabalho naquilo que influencia, em termos práticos, a vida
profissional e académica na área de estudo do design.
O ponto de partida da pesquisa bibliográfica foi o desenvolvimento do design de
acordo com o modelo da escola da Bauhaus e, graças à pesquisa encontrada de
investigadores académicos do MIT, perceber as evoluções que prometem mudanças
práticas no panorama tecnológico e na sociedade actual.
O objectivo era testar algumas das questões práticas e possíveis mudanças sociais
durante o estágio e estabelecer algumas conclusões básicas. Mais do que apresentar
resultados definitivos, a virtude deste trabalho será o conjunto bibliográfico encontrado
e sintetizado, na certeza de que desenvolvimentos importantes poderão surgir no
futuro.
Finalmente foram incluídas duas componentes axiológicas: em primeiro lugar
referentes à importância de compreender o contexto social do autor como parte
integrante da expressão artística, o que pode ajudar a compreender a filtragem do
panorama tecnológico actual para a realidade portuguesa de acordo com realidades
culturais e económicas; em segundo lugar também foi incluída uma referência ao
desenho como método intemporal para registar o pensamento conceptual.
Palavras-chave: Tecnologia, Ensino, Artes
José Manuel Mendonça Naves Pinto
5
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
PRESENTATION
Technological changes to Visual Arts Teaching
José Manuel Mendonça Naves Pinto
It was the author’s intention to develop a work centered in practical issues of today’s
digital technologies when applied to general design (including architecture). This
happened to compensate the initial tendency for speaking in general terms because we
are confronted with so many consequences in our daily life (teaching included) and, to
avoid dispersion, we focused on what did in fact change in practical terms that can give
us clues about the importance of such technologies and how they might change our
professional and academic life.
This work started from the example of the importance of art studies towards the
development of contemporary design according to the model of the Bauhaus school
and then evolved thanks to the research of the MIT investigators that defined some
practical changes of today’s technology and society.
The objective was to test some of these practical questions and possible social
changes during his internship and establish some basic conclusions. More than
definitive results, the virtue of such work will be the study itself and its bibliographic
research, with the certainty that important developments might be achieved in the
future from this point.
Finally, it were included two axiological components: first regarding the importance of
understanding social context as part of the artistic expression which will help to
understand the selection methods regarding the full technological panorama and the
concrete application in Portuguese reality according to cultural and economic realities;
also a reference to drawing as timeless method for conceptual thought and expression
was incorporated on the work.
Keywords: Technology, Teaching, Arts
José Manuel Mendonça Naves Pinto
6
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
SUMÁRIO
1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO ...................................................................................... 9
Tema ........................................................................................................................ 9
Introdução justificativa............................................................................................... 9
Objectivos ............................................................................................................... 12
Finalidade ........................................................................................................... 12
Objectivos gerais ................................................................................................ 12
Objectivos específicos ........................................................................................ 12
Objectivos específicos em currículo oculto .......................................................... 13
Problema ................................................................................................................ 13
Hipótese.................................................................................................................. 13
Metodologia ............................................................................................................ 13
Estudo de caso ................................................................................................... 14
População ............................................................................................................... 15
Síntese dos Capítulos Seguintes ............................................................................ 15
2º CAPÍTULO: ENQUADRAMENTO TEÓRICO .......................................................... 17
Bauhaus.................................................................................................................. 17
Enquadramento histórico-social .............................................................................. 22
Três paradigmas básicos da cultura visual.............................................................. 23
A tecno-cultura e a história...................................................................................... 27
O autor de Alberti .................................................................................................... 29
As limitações do projecto de Alberti ........................................................................ 31
As novas possibilidades do projecto na era digital .................................................. 32
Teoria da variabilidade digital.................................................................................. 33
O objectile ............................................................................................................... 42
Nota sobre o Objectivo 1 ..................................................................................... 43
O autor colectivo ..................................................................................................... 44
Nota sobre o Objectivo 2 ..................................................................................... 47
Sociedade Digital e nova progressão na aprendizagem.......................................... 48
Nota sobre o Objectivo 3 ..................................................................................... 49
Rizoma ................................................................................................................... 49
Princípio da multiplicidade................................................................................... 50
Princípio da ruptura assignificante ...................................................................... 51
Princípio da Cartografia e da Decalcomania ....................................................... 52
A importância do contexto social na Arte ................................................................ 54
O desenho enquanto processo ............................................................................... 74
Breve resumo dos objectivos a verificar em aula .................................................... 81
3º CAPÍTULO: RECOLHA E ANÁLISE DE DADOS ................................................... 82
Análise da concretização dos objectivos: ................................................................ 82
José Manuel Mendonça Naves Pinto
7
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Objectivo1: perceber as novas possibilidades de projecto e produção de objectos
de design ............................................................................................................ 82
Objectivo 2: actuar como um autor colectivo ....................................................... 87
Objectivo 3: Identificar as novas possibilidades de estudo em contexto digital.... 91
4º CAPÍTULO: CONCLUSÕES ................................................................................... 93
Desenvolvimento da virtualização dos projectos ..................................................... 93
Um novo grau de aproximação ao objecto final................................................... 95
Formação do professor ....................................................................................... 95
Objectivo 1: novas possibilidades de projecto e produção de design ...................... 96
Filtragem dialógica da tecnologia para o contexto português .............................. 96
Novo repertório formal e inclusão do cliente no processo de design ................... 98
Objectivo 2: actuar como um autor colectivo ........................................................... 99
Objectivo 3: identificar as novas possibilidades de estudo em contexto digital ...... 100
Disposição da sala de aula ............................................................................... 100
O problema do copy/paste ................................................................................ 101
Referências........................................................................................................... 103
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 106
Anexo A– Pedido de autorização à Direcção da escola para o desenvolvimento
da pesquisa....................................................................................................... 110
Anexo B – Pedido de autorização aos encarregados de educação para o
desenvolvimento da pesquisa ........................................................................... 112
Anexo C – Questionários sobre as modificações feitas ao design das peças de
alunos seleccionados como casos de estudo.................................................... 115
Anexo D - Pauta de avaliação do professor estagiário ..................................... 124
Anexo E – Planificação das aulas ..................................................................... 129
Anexo F - Caracterização da escola ................................................................ 132
José Manuel Mendonça Naves Pinto
8
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
1º CAPÍTULO: INTRODUÇÃO
TEMA
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
INTRODUÇÃO JUSTIFICATIVA
Este trabalho estará direccionado para o campo do design por vocação do seu autor e
pela convicção de que as questões a estudar terão influencia em todos os campos da
expressão artística pela relação da arte com o contexto social (1).
O design e a arquitectura assumem um lugar natural no grupo disciplinar das Artes
Visuais e recordo-me da disciplina de Teoria do Design que integrava o currículo do
ensino secundário quando frequentei este nível de ensino. É uma área que requer
constante actualização pelo modo como a sociedade desafia, constantemente, o
designer e o arquitecto pois as evoluções técnicas tendem a ser rapidamente
integradas nestas formas de expressão.
Neste sentido será referido o exemplo da escola da Bauhaus, caso fundamental da
relação entre ensino, arte e produção que ajuda a ilustrar como a arte pode mudar o
quotidiano das pessoas de um modo generalizado. Estando a sua actividade situada
na primeira metade do século XX , importa perceber o que mudou em tempos mais
recentes com a chamada digital turn, ou seja, a introdução dos meios digitais no
controlo dos processos de produção.
Segundo a bibliografia estudada, a lógica do design tem-se mantido relativamente
estável desde a Bauhaus até aos nossos dias pois o designer produz um protótipo que
origina uma matriz constante cujo preço de produção é amortizado pelo número de
cópias produzidas embora as últimas décadas prometam alterar esta noção.
Outra mudança no horizonte promete incidir sobre o estatuto do autor de Alberti,
caracterizado pela total propriedade intelectual sobre a peça projectada assim como o
paradigma visual da igualdade que marca a era moderna substituindo o da
semelhança tão presente nos períodos Românico e Gótico. Esboçado por Alberti no
renascimento, este modelo de autor vai influenciar os meios de produção ainda
artesanais do Renascimento até à sua plena implementação na época industrial.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
9
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Na fase pre-Albertiana a autoria tinha um carácter de partilha entre vários
intervenientes provocado por factores socioculturais. No caso da arquitectura, a longa
duração do trabalho a desenvolver e a forte componente escultórica da Igreja ou
Catedral, para além das tradições sociais da construção civil, provocavam a
dissolução do autor num grupo colectivo. Seria mais natural, perante a substituição de
um arquitecto que o seu sucessor fizesse uma série de modificações ao projecto
inicial.
As aspirações de reconhecimento intelectual renascentistas depressa encontraram
nas peças desenhadas segundo a geometria descritiva, meios de estabelecer uma
matriz fixa à qual todos os intervenientes da construção do edifício ou do objecto
tinham de cumprir.
O repertório formal e o estatuto do autor eram definidos por essa matriz fixa: o projecto
e a sua exacta reprodução garantia a relação entre o que era intelectualmente
idealizado e o resultado final. Todo o processo tinha as suas restrições, quer ao nível
da intervenção de terceiros, quer ao nível da variação das formas. Lembramos que em
edifícios do período gótico como igrejas, o escultor tinha alguma margem de reajustar
a imagem do conjunto através do desenvolvimento das suas peças e, ainda no inicio
do século XX, Antoní Gaudi desafiava as convenções Albertianas com uma
arquitectura em constante evolução escultórica de difícil representação pelo desenho
técnico.
Surgem agora nas últimas duas décadas as novas possibilidades do projecto nesta
era digital com indicadores de que prometem uma boa receptividade por parte da
generalidade das pessoas.
Os sistemas de produção de controlo digital permitem registar e armazenar a matriz
base do projecto Albertiano mas também abrem novas possibilidades que inquietam o
processo de design se tivermos em conta as exigências individuais dos utilizadores.
Neste momento, em objectos de design, as formas projectadas podem ultrapassar a
matriz de projecto inicialmente definida pelo autor, ou seja, uma forma pode variar
durante uma sequência de peças e essa variabilidade pode ser estabelecida pelo
projectista mas também ser o próprio utilizador final a customizar o design inicialmente
estabelecido.
Estas consequências da evolução tecnológica prometem abalar as fundações do
projecto Albertiano se forem acolhidas com receptividade por parte da população
José Manuel Mendonça Naves Pinto
10
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
geral. Algumas empresas multinacionais prometem estudar estas novas vias e as
razões são evidentes: no caso de um fabricante de mobiliário poderá ser necessário
responder às necessidades de clientes que pretendem ajustar os móveis ao espaço
onde ficarão colocados. Num mundo em constante crescimento, o espaço promete ser
um dos luxos do século XXI, e porque razão não haveriam os cidadãos de optimizar
este recurso precioso?
Mesmo no campo do design gráfico existem já, na europa, jornais que são impressos
com os assuntos filtrados segundo o cliente e depois entregues num quiosque junto à
sua casa. A informação customizada reage à torrente dos media e centra o utilizador
nos seus temas prioritários.
Estas questões têm uma aparência que poderia parecer secundária numa primeira
análise mas, se tivermos em conta o enquadramento teórico que apresentamos no
Capítulo
II,
prometem
alterar
dois
pilares
do
design contemporâneo
com
consequências ao nível dos aspectos psicológicos e das competências dos alunos que
pretendem desempenhar estas profissões.
•
Estará o aluno e futuro autor preparado para lidar com um projecto que
pode variar ao longo da sua produção?
•
E do ponto de vista do estatuto do autor, como será aceite a participação
de outros intervenientes no processo de projecto e produção?
Estas são as duas questões principais que norteiam este trabalho e se aliam a um
terceiro facto que surge pela obra de Gilles Deleuze, uma referência teórica no campo
da filosofia aplicada aos meios digitais e à sociedade da informação. O seu conceito
de progressão rizomática implica que, para os novos alunos, a componente vocacional
ganha terreno na construção de um corpo de conhecimento que tira proveito das
ligações que surgem entre plataformas de interesse na internet. Este corpo de
conhecimento destaca-se da anterior estrutura arborescente que era veiculada pelos
meios convencionais de ensino onde existia um tronco comum de temas impostos ao
aluno a partir do qual eram fornecidas ligações para diferentes ramos.
A progressão actual será mais um entrelaçar de possibilidades que depende cada vez
mais da vocação do aluno mas que importa orientar segundo um processo educativo
para que seja um meio de enriquecimento e não de dispersão.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
11
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Mencionamos finalmente o currículo oculto a desenvolver em aula:
O dialogismo é apresentado no Capítulo II como uma estratégia de ensino que importa
manter ao longo de todos os temas que estudamos. Ensina ao aluno que existe uma
relação entre aquilo que fazemos e a sociedade à qual pertencemos e ajuda
a
perceber como surgiram muitas das obras que nos servem agora como moldura
contextual para as nossas expressões.
O desenho, enquanto processo, destina-se a constatar que conquistou um estatuto de
etapa clássica no percurso conceptual não sendo de todo uma hipótese dispensar este
meio de síntese do pensamento de projecto.
Sendo este o resumo deste trabalho gostaria de salientar que se pretende que sejam
abertas novas janelas de investigação para o futuro com este contributo inicial pois
pretendeu-se dar resposta às questões : o que traria este estudo de novo para o
ensino? Em que se aplicaria na prática?
OBJECTIVOS
FINALIDADE
Desenvolver no aluno capacidades de estudo e trabalho, no campo das artes visuais,
em ambiente digital.
OBJECTIVOS GERAIS
Conhecer uma nova área de possibilidades no projecto e expressão artística e definir
possíveis novas respostas.
Analisar qualitativamente o seu próprio método de estudo e sistema de trabalho.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
Objectivo 1: Perceber as novas possibilidades de projecto e produção de objectos de
design
Objectivo 2: Actuar como um autor colectivo
José Manuel Mendonça Naves Pinto
12
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Objectivo 3: Identificar novas possibilidades de estudo em contexto digital
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS EM CURRÍCULO OCULTO
Aplicar o dialogismo no ensino
Acreditar que o desenho será um meio clássico de representação que acompanhará
os meios digitais
PROBLEMA
Consideramos que o problema, neste campo de ensino, se tornará mais
compreensível se o introduzirmos do seguinte modo:
O sistema de ensino não está a compreender os novos campos abertos pela digital
turn, nos meios de projecto e nas expressões visuais, assim como as novas
competências a desenvolver para responder aos desafios actuais.
HIPÓTESE
Uma vez conscientes dos novos campos de estudo, os alunos interessados podem
ganhar competência para uma nova área de trabalho, uma vez que os processos
digitais tendem a ser comuns na arquitectura e no design.
METODOLOGIA
a) Investigação bibliográfica
b) Estudo de caso de uma turma do 12º ano de uma escola secundária do
Concelho de Oeiras usando:
- Questionários dirigidos aos mesmos alunos
- Exercícios práticos de avaliação
José Manuel Mendonça Naves Pinto
13
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
- Trabalho desenvolvido ao longo das aulas de estágio
ESTUDO DE CASO
O estudo de caso consiste numa análise detalhada de um único fenómeno ou sujeito.
Num estudo desta natureza a escolha da entidade a investigar não necessita de
obedecer a critérios de representatividade para se proceder a generalizações de
carácter estatístico. Salientando a dependência do trabalho do aluno pelo contexto
social que o rodeia, sublinhamos Yin quando refere que o estudo de caso deve ser
aplicado quando se pretende dar resposta a “questões acerca de um conjunto
contemporâneo de acontecimentos, sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum
controle” (Yin,2008, Case study research: design and methods, p.28). É uma visão que
ajuda a perceber como o próprio professor procura adaptar-se a mudanças de
contexto provocadas por meios de produção industrial ou outros movimentos sociais
que este não pode controlar sozinho.
Este tipo de estudo tem em conta uma série de variáveis referentes a um único
acontecimento ao longo de um período de tempo e contexto comuns. Apesar da
escolha da amostra ser crucial não podemos falar de uma investigação por
amostragem segundo uma definição estatística.
Coutinho (2) considera que quase tudo pode ser um caso: um indivíduo, um pequeno
grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma nação.
Podemos considerar que o estudo de caso se debruça sobre uma situação específica
que considera adequada para os objectivos a concretizar procurando compreender os
seus aspectos essenciais e característicos e, desse modo, contribuir para a
compreensão global de um certo fenómeno de interesse.
De acordo com Rodriguez Gómez (3) o estudo de caso tentou respeitar os critérios
para a sua validade que podem ser sintetizados em: a acessibilidade à informação
pretendida ser viável; existência de uma boa relação com os informantes; a
informação recolhida ser passível de revelar qualidade e credibilidade; facilidade em
estabelecer interacções com pessoas e na consulta de documentos.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
14
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Depois da definição da unidade de análise, foram efectuadas todas as diligências
numa investigação deste tipo de acordo com as referências bibliográficas acima
mencionadas.
POPULAÇÃO
Aulas: observação in loco de uma turma do 12º ano da área de Artes Visuais
Responderam ao questionário 22 alunos
Realizaram exercícios práticos 22 alunos
SÍNTESE DOS CAPÍTULOS SEGUINTES
Para além da formalização inicial do trabalho, pretendeu-se no Capítulo II fazer uma
síntese estruturada da pesquisa bibliográfica de modo a que seja perceptível a
sequência lógica do pensamento justificativo. Começa-se por uma analogia histórica
sobre a aplicação da arte ao design e depois tenta-se perceber o que pode ter mudado
no contexto da procura e produção de objectos durante as décadas recentes,
recorrendo a fontes que se procuraram fidedignas.
Durante esta descrição são incluídas referências aos objectivos nos pontos do texto
onde são mais pertinentes.
A componente teórica inclui uma vertente filosófica pois pareceu-nos importante
manter o alinhamento com a teoria do ensino em meios digitais aos mais diversos
níveis e em particular no caso da comunicação e expressão visual. A obra de Gilles
Deleuze, referência internacional nesta matéria, surge em forma simplificada para
nortear as averiguações que foram feitas quando se investigava a progressão do aluno
em assuntos de estudo do seu interesse num meio digital de múltiplas possibilidades
como a internet.
Ainda no Capítulo II optou-se por apresentar, na parte final desta sequência de
pesquisa, a componente do ensino segundo um método Dialógico que deve muito às
aulas do Prof. Ricardo Zúquete durante o primeiro ano do mestrado. De um modo
muito simplificado, o dialogismo procura alertar o aluno para o carácter social da sua
José Manuel Mendonça Naves Pinto
15
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
expressão e o trabalho ganha significativamente do ponto de vista cultural com este
esclarecimento e participação por parte do professor e dos alunos. Pareceu adequado
incluir este tema sob a forma de um currículo oculto o qual se vai desenvolvendo
paralelamente aos objectivos do programa a leccionar tal como foi verificado nas aulas
da Prof. Adelaide Pires igualmente no primeiro ano do mestrado.
Finalmente descreve-se o desenho enquanto processo pois, sendo este trabalho
direccionado para uma vertente tecnológica, importa sublinhar que o desenho faz já
parte de um repertório clássico que não me parece ser algum dia substituível por
qualquer tecnologia.
Este enquadramento teórico estabelece o porquê dos objectivos específicos que serão
averiguados no Capítulo III através dos métodos descritos e finalmente serão
estabelecidas conclusões práticas e sugestões no Capítulo IV.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
16
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
2º CAPÍTULO: ENQUADRAMENTO TEÓRICO
BAUHAUS
A componente teórica estudada neste trabalho resulta do exemplo de sucesso para o
enquadramento da arte na sociedade: a escola da Bauhaus.
Através do exemplo desta incontornável escola pretendeu-se rever e actualizar os
princípios conceptuais de aliança entre arte e meios de produção para incluírem os
futuros processos de projecto e fabrico através de meios digitais.
A inclusão destes princípios no sistema de ensino apresentam inúmeras possibilidades
a estudar com os alunos em ambiente de aula, pois como a história demonstra o meio
académico pode ser um laboratório de experimentação no campo do design e também
da arquitectura e artes, este foi o exemplo da Bauhaus.
Como será inevitável, a natureza das expressões em estudo terá um núcleo
significativo no campo do design pois esta actividade é a que mais rapidamente
transporta a criatividade e intencionalidade conceptual à generalidade da população
através de diversos objectos que são também o ponto de partida para consequências
ao nível de actividades de maiores meios como a arquitectura. Apesar disso as
expressões do aluno podem influenciar campos de maior liberdade como a pintura e a
escultura pois todo o enquadramento socioeducativo é importante na manifestação
artística segundo uma perspectiva dialógica (1).
A escola da Bauhaus será referida aqui de forma sintética pois é sobejamente
conhecida no campo das Artes Visuais e, devido ao vasto campo de assuntos a
desenvolver, o Capítulo II ficou centrado em aspectos aplicados no domínio desta tese
que prometem influenciar a curto prazo o design e seu processo de ensino. A
importância pedagógica fica demonstrada fazendo a necessária analogia com os
processos correspondentes da Bauhaus e tentaremos determinar alguns dos aspectos
mais importantes que serão novidade no ensino do design contemporâneo.
Apenas a título de recapitulação ficam aqui alguns dos aspectos fundamentais da
Bauhaus que darão algum enquadramento ao que pretenderemos estudar ao longo
deste capítulo.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
17
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Síntese dos aspectos fundamentais
da Bauhaus
A Bauhaus foi criada pelo arquitecto
alemão Walter Gropius, o qual após a
segunda guerra mundial, proclamou que
a
máquina
(a
produção
industrial)
precisava de ser humanizada pela
Ilustração 1 – “As peças de Design de Marianne Brendt espelham o
sociedade.
espírito da Bauhaus” (Bauhaus Archives,2010,Berlim)
Nas suas palavras: “Elos mais próximos
precisavam de ser forjados entre a máquina e o indivíduo criativo, por isso estabeleci
oficinas que treinavam alunos em dois modos – como artistas e como artesãos.
Frequentemente pensa-se que era tudo baseado em trabalho artesanal, mas de facto
era um local de preparação. Não se pode compreender uma máquina até se ter
compreendido as ferramentas do nosso trabalho”.
Gropius usava as oficinas da Bauhaus como analogia preparatória para a aplicação do
trabalho dos alunos aos meios de produção industrial, algo que aconteceu
exemplarmente naquela escola.
Nas suas oficinas artistas e artesãos preparavam os alunos a trabalharem de forma
criativa e inovadora. A arte enaltecia o lado humano e criativo do indivíduo enquanto a
oficina simbolizava o lado racional da produção industrial.
Gropius acreditava que, nos primeiros momentos de aprendizagem, o aluno se devia
concentrar nas possibilidades técnicas da sua época em vez de ficar preso a
referências historicistas. Desta forma canaliza-se a criatividade para os aspectos
essenciais da produção contemporânea e salienta-se a lógica dos processos abrindo
caminho para formas novas, libertas de preconceitos estéticos mas lógicas na
resposta aos meios de produção que
precisam de ser humanizados.
Podemos estabelecer uma analogia
completa deste pensamento de Gropius
com o momento actual que se avizinha a produção industrial de controlo digital
já implementada no campo das artes
gráficas e a começar a ocupar terreno
Ilustração 2 – “Cadeira Wassily” , (Bauhaus Archives,2010,Berlim)
José Manuel Mendonça Naves Pinto
18
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
no
design
de
equipamento
e
na
arquitectura.
A arte funciona como elemento catalisador
da criatividade e inovação em todo o
processo sendo introduzidos no seu ensino
métodos inspirados no lado científico e
racional
que
envolve
harmonizando-os
com
a
os
produção
e
processos
criativos. Esta foi a função conceptual
desempenhada pela formação no trabalho
Ilustração
3
–
“Círculo
cromático
de
Itten”
(Bauhaus
oficinal.
Archives,2010,Berlim)
No curso inicial da Bauhaus tentava-se
sujeitar forma e cor a leis científicas. Kandinsky ensinava que as formas primárias
(triângulo, círculo e quadrado) representam qualidades análogas às encontradas nas
cores primárias e Joahannes Itten explorava a cor de forma científica no seu círculo
cromático.
As preocupações sociais estavam igualmente presentes sendo manifestadas na
arquitectura onde a casa Am Horn pretendia ser acessível a qualquer trabalhador e os
seus interiores tiravam partido do design Bauhaus para complementar os espaços a
um preço acessível mas com qualidade no seu uso; a filosofia de Gropius era uma
consequência das aspirações sociais da época.
Quando a Bauhaus se mudou para Dessau por motivos políticos estava já a produzir
plenamente para a indústria e a escolha daquela cidade estava relacionada com a
dinâmica industrial existente.
O novo edifício da escola desenhado
por Gropius era construído em betão
armado e com recurso a amplas
superfícies
de
vidro.
Devido
à
tecnologia usada demorou apenas um
ano a ser construído; o seu programa
unificava os espaços onde estudantes
viviam e trabalhavam sendo apontado
Ilustração 4 - Casa Am Horn (Bauhaus Archives,2010,Berlim)
José Manuel Mendonça Naves Pinto
como um exemplo daquilo que mais
19
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
tarde seria o estilo internacional.
O edifício exemplificava o desejo
pelo directo e pelo simples que
existia na arquitectura europeia,
fundia o lado técnico das oficinas
e laboratórios da época com a
arte e afastava-se da visão
tradicional da escola de artes. O
Ilustração 5 - Edifício de Dessau, (Bauhaus Archives,2010,Berlim)
objectivo de conciliar arte e
ciência tornava-se evidente no projecto de Gropius.
A Bauhaus fechou em 1933 mas os seus professores espalharam-se pelo mundo
livre, sobretudo em Chicago onde os edifícios projectados pela Escola de Chicago, sob
a influência de Mies Van de Rohe, demonstram, ainda hoje, a validade dos conceitos
ensaiados.
Quais os novos factos que este trabalho pode estudar?
Os resultados obtidos pela Bauhaus baseavam-se nos paradigmas da produção da
sua época que se têm mantido, relativamente constantes, até aos nossos dias.
A síntese, tal como era entendida na Bauhaus, não faz sentido nesta lógica pois foi
pensada para a repetição de peças com moldes fixos.
As formas geométricas puras eram o resultado final para aplicação em moldes que
eram usados na produção de peças segundo a sua repetição exaustiva. Assim
conseguia-se economias de escala onde os custos de fabrico da matriz a repetir eram
amortizados com o número de unidades produzidas.
Aquilo que pretendemos estudar é a alteração destes pressupostos e as suas
consequências.
Em primeiro lugar os sistemas de produção de controlo digital não têm de funcionar
necessariamente segundo uma lógica de um molde de produção dispendiosa a
amortizar pelo número de peças produzidas. Pelo contrário, as peças podem ser
adaptadas em cada unidade produzida de acordo com os objectivos de cada cliente.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
20
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Os novos sistemas digitais armazenam uma determinada configuração de base que
existe sob uma forma virtualizada na memória do computador do sistema havendo a
possibilidade de alterar essa forma em cada unidade produzida pois as máquinas de
produção têm flexibilidade e adaptabilidade.
Do ponto de vista da composição da peça a produzir, o autor deixa de ter a certeza
que está perante o objecto final quando conclui o seu protótipo e passa a ter, como
possibilidade, a intervenção à posteriori do cliente.
Se nos aspectos formais isto é importante, apresenta-se como revolucionário se
considerarmos o estatuto do autor.
A existência dos open ends vai provocar uma mudança no modo como o aluno encara
o seu trabalho. O estatuto do designer/projectista como único responsável intelectual
das peças começa a ser questionado e orientado no sentido de um agenciamento
onde surge como gestor de um processo de um ou vários intervenientes em vez de ser
protagonista único.
O que acontece do ponto de vista psicológico e humano relativamente a estes
campos?
•
motivação para desempenhar o seu trabalho
•
capacidade de integrar a intervenção de outras pessoas
•
interesse pelo novo repertório formal
•
interesse por novas lógicas compositivas
Estes são alguns factores que motivaram a nossa pesquisa, mas recapitulemos do
ponto de vista teórico no número seguinte a razão destas afirmações finais.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
21
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-SOCIAL
O presente estudo deve muito ao trabalho dos investigadores de Massachusetts
Institute of Technology (MIT) e respectivas publicações, sobre temas contemporâneos
que careciam de enquadramento teórico geral.
Muito se especulou sobre o suposto isolamento que as novas tecnologias podiam
trazer mas como conclui Peter Hall em Cities of Tomorrow, a nova urbanidade das
cidades principais dos países mais desenvolvidos é composta por toda uma rede de
novas profissões que se interligam no espaço dependentes da proximidade e do
contacto pessoal. Aquilo que se pensava ser um factor de isolamento tornou-se num
factor de aglomeração segundo relações humanas a nível pessoal e laboral que urge
estudar (4).
A produção em meios digitais que muito cedo se manifestou na minha profissão
específica (arquitectura) envolve todos os meios tradicionais acrescidos de novas
tarefas num processo de constante revisão de conjunto e aprendizagem, e a suposta
distância que separaria os intervenientes revelou-se numa crença que subestimava o
poder insubstituível das relações humanas directas na resolução de problemas.
[…] though these new industrial sectors might develop anywhere, in the mid-1990s the
evidence was that they were growing in traditional urban places […] The reason was
clear enough: like all creative activities, they depended on interaction, on networking
[…] which was more likely to be found in such places than anywhere else. Further, they
related to other more traditional live performing arts which had always been here; and
these in turn related to urban tourism, one of the great growth industries [...] In other
words, there was a paradox. These new activities were supposed to substitute for faceto-face communication, but actually they depended on it, and in turn fortified the need
for it […] (HALL, 2002,Cities of tomorrow, p.408)
No contexto desta nova realidade de relações humanas tentou-se fazer o
enquadramento com o campo específico da arte e arquitectura, área deste mestrado
sendo de destacar o trabalho de Mario Carpo que auxiliou algumas das linhas
orientadoras que se seguem (5).
Portugal teve um período histórico de primeiro plano a nível mundial no passado
porque os seus líderes decidiram enfrentar questões tecnológicas, pois, num país
condicionado há que inventar o futuro.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
22
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Refira-se o papel das artes gráficas, como área vanguardista para o estudo da
produção. No período renascentista foram aplicados os princípios da produção em
série à reprodução de textos e imagens (Gutenberg cerca de 1440) e aqui surgiram os
paradigmas subsequentes ligados à produção repetitiva e estética da igualdade e a
possibilidade de um único autor por oposição ao agenciamento medieval , onde
manuscritos
eram
frequentemente
alterados
pelos
copistas
(que
haviam
inclusivamente desenvolvido uma cultura na qual a obra literária era passível de sofrer
adições e alterações no processo de reprodução).
Podemos encontrar na exacta repetição de textos e imagens pela imprensa
renascentista o contexto criativo que viria a manifestar-se para os outros sectores de
produção apenas na revolução industrial do século XVIII.
Se analisarmos as últimas duas décadas ao nível dos meios de projecto e produção
podemos encontrar algumas analogias com o carácter vanguardista das artes gráficas
no renascimento: o período que atravessamos pode igualmente ser considerado como
revolucionário, tendo surgido o controle digital que ultrapassa as limitações das
matrizes fixas que obrigavam à repetição pela igualdade ad infinitum, com a
salvaguarda de que as máquinas desenvolvidas já conseguem produzir mobiliário e
objectos segundo o novo paradigma digital, como se poderá constatar.
O presente estudo pretende ainda contribuir para a reflexão crítica e revisão do
enquadramento social do uso dos meios tecnológicos no domínio do projecto de
arquitectura, dos vários campos de expressão artística e na prática de ensino
correspondente.
TRÊS PARADIGMAS BÁSICOS DA CULTURA VISUAL
Ao longo da história, a cultura visual acompanhou o contexto tecnológico das diversas
épocas.
Apresentam-se, nas próximas páginas, três paradigmas típicos de diferentes épocas
históricas.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
23
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Começamos pelo fabrico
artesanal da época préindustrial. O carácter único
de cada objecto produzido
por este meio destaca o
aspecto
visual
semelhança.
constantes
da
Existem
e
variáveis
visuais, logo o observador
Ilustração 6 - A igualdade e a sociedade moderna: linha de montagem do Ford Model T
tem de desenvolver
a
capacidade para identificar
quais as peças que foram produzidas de forma análoga apesar de variações e
metamorfoses, sendo o conceito de semelhança uma noção complexa que depende
essencialmente da percepção humana.
Segue-se o paradigma da igualdade na comunicação visual que caracteriza a era
industrial. Este tipo de produção não surge em simultâneo em todos os sectores da
sociedade, antes se manifesta por conceitos intelectuais de racionalidade e produção
que surgem já durante o renascimento e que são aplicados a alguns sectores mais
vanguardistas ao nível de possibilidades de aplicação, campos de ensaio para o que
mais tarde virá atingir toda a produção humana, sendo a imprensa e as artes gráficas
o melhor exemplo.
Já em meados do século XV, a impressão por tipos móveis por Gutenberg dava
origem à palavra tipografia e fazia germinar o período moderno que iria levar à
racionalidade produtiva generalizada, então adiantada em relação ao seu tempo. O
homem moderno caminhava para a sociedade antevista nos ideais renascentistas,
materializada gradualmente ao longo dos séculos que culminaram com a
industrialização generalizada, processo gradual e secular, com experiências pioneiras
então como hoje. Para o ideal moderno o paradigma da igualdade na expressão visual
transmite segurança ao cidadão, da mesma forma que o comportamento de um
produto é assegurado pela sua exacta repetição visual.
Podemos falar em três paradigmas da linguagem visual, relacionados com iguais
modos diferentes de fazer:
José Manuel Mendonça Naves Pinto
24
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Objectos artesanais: a variabilidade implícita nos processos gera elementos
constantes e variações entre cópias; a identificação é baseada na semelhança visual,
podendo ser distinguidas com mais facilidade as épocas de produção.
Objectos produzidos mecanicamente: a produção mecânica exacta gera objectos
standartizados e a identificação visual é baseada na igualdade.
Objectos produzidos digitalmente: a identificação é baseada no reconhecimento de
padrões (derivados dos algoritmos na produção digital) mais ou menos evidentes do
ponto de vista visual, havendo novamente elementos constantes e variações entre
cópias, num processo que volta a equacionar a deriva provocada pela manualidade,
agora numa fase diferente da artesanal.
A lógica técnica da produção digital difere da produção mecânica tradicional nalguns
aspectos chave. Enquanto esta última é resultante de uma matriz fixa que tem de ser
rentabilizada por um grande número de repetições, a produção industrial de controlo
digital utiliza um mediador sob a forma de um script digital que pode ter origem num
simples computador pessoal sendo depois aplicado a diversas outras possíveis
máquinas. Existe, assim, uma divisão no tempo entre o autor do script e a produção
do objecto, surgindo também, a possibilidade de intervenção, por terceiros, a meio do
processo, pelo que podemos falar em autores de segunda ordem que intervêm dentro
de limites estabelecidos pelo autor principal, o qual deixa em aberto algumas
características intencionais do projecto.
Na produção industrial tradicional existem apenas variações acidentais a partir da
matriz fixa, que inclusivamente se podem tornar em objecto de apreciação por
coleccionadores, já que o resultado esperado é sempre o mesmo, mas na produção
digital a variabilidade torna-se um meio fundamental do processo.
Os objectos artesanais são feitos por medida, normalmente mais caros do que os
objectos produzidos em série mas têm maior adaptabilidade ao utilizador.
Na produção digital podemos não saber por completo as características das máquinas
que vão concretizar a matriz, existindo também a possibilidade de autores de segunda
ordem intervirem no processo de produção segundo as suas idiossincrasias.
Quanto à variabilidade: nos processos artesanais cada caso era discutido de forma
individual, devidamente negociado a priori; na produção digital o mesmo processo de
José Manuel Mendonça Naves Pinto
25
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
negociação pode agora ser
estabelecido digitalmente e
a variabilidade integrar um
processo criativo de préestabelecido pelo autor.
Existe assim uma deriva
específica
artesanal
da
e
da
cultura
cultura
contemporânea digital.
Ilustração 7 - Nova Iorque e a nova estética digital baseada na semelhança e
A
variação
conteúdos variáveis
como
um
considerada
problema
na
produção mecânica anterior é agora, no contexto digital, uma mais-valia do ponto de
vista económico que podemos ver em ambientes urbanos onde se substituem os
cartazes outdoor tradicionais por sistemas digitais que adaptam os conteúdos em
função de público e produtos. Um leitor pode receber um jornal customizado sendo
importante compreender este novo contexto cultural, pois existia anteriormente uma
certa previsibilidade visual. Também no design começa a ser estudada, por autores
como Bernard Cache, a hipótese de customização a partir de matrizes digitais, não
sendo de espantar que empresas de mobiliário pré-fabricado permitam, no futuro
próximo, a intervenção no desenho das peças pelo cliente a partir de software próprio.
A estabilidade visual dependia da produção em massa e os padrões de
reconhecimento gráfico ainda estão na base de muitas práticas culturais e sociais da
nossa vida contemporânea. Temos o hábito de procurar informação idêntica em locais
idênticos, mas isso não é obrigatório no contexto digital. A criação pela Adobe
Systems do formato de ficheiros digitais PDF (portable document format) denota a
dependência que a sociedade ainda mantém na organização fixa da era industrial, tal
não sendo necessariamente um aspecto negativo. A imprensa clássica é tão
importante para a sociedade moderna que mesmo depois da tecnologia digital
perpetuamos a sua mimesis.
Podemos considerar a produção mecânica de cópias idênticas como um período
histórico delimitado, inicialmente, pela produção artesanal e, actualmente, pela
produção digital. Existe variabilidade na arquitectura durante o primeiro e último
períodos mas a capacidade de estabelecer um design com variações de segunda
ordem na produção é específico da época digital.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
26
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
As
variabilidades,
caso
da
no
sociedade
artesanal denotam uma
degradação da fidelidade
dos
conteúdos
dificulta
que
o
reconhecimento,
seu
e
no
caso da sociedade digital
existe
um
potencial
excesso de informação
variável e, não podendo
falar numa degradação
Ilustração 8 - Andrea Palladio: Palazzo Chiericati, Vicenza. A arquitectura renascentista e o
espírito moderno da sistematização
de conteúdos, podem no
entanto
surgir
novas
dificuldades ao seu reconhecimento.
A TECNO-CULTURA E A HISTÓRIA
Se reflectirmos sobre o caso específico da arquitectura verificamos que esta se
encontra ligada à cronologia tradicional da revolução industrial do século XVIII no seu
conceito de modernidade pois a sua materialização depende da produção de diversos
objectos, por outro lado, o seu projecto depende das tecnologias da informação e já
havia sido influenciado pelo espírito racional da imprensa renascentista que produzia
os livros que divulgavam a arquitectura. Mesmo assim houve uma grande inércia do
ponto de vista sociológico em acompanhar a revolução industrial com os arquitectos
divididos no século XIX quanto à sociedade industrial e à herança cultural do
romantismo nos projectos que invocavam o passado.
Durante a segunda década do século XX, Le Corbusier argumentava que a
mecanização não podia voltar a ser contornada e os seguidores do movimento
moderno fariam finalmente a sua aplicação plena na arquitectura, com a estética a
reflectir os novos meios de produção. Forma e função ganhavam na racionalidade e
harmonização a produção.
Como foi mencionado anteriormente, existe um ponto anterior no tempo onde a
modernidade germina no campo do projecto, que é o renascimento. Graças à
José Manuel Mendonça Naves Pinto
27
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
imprensa, os novos livros e tratados de arquitectura transmitiam informação rigorosa e
a cultura da reprodução idêntica das imagens influenciou a consciência do valor da
repetição contribuindo para uma nova mentalidade de pensamento sistémico. Dentro
do espírito desta época de racionalidade valorizam-se e divulgam-se as ordens
arquitectónicas clássicas, baseadas na repetição de componentes construídos
demonstrada pelos modelos da arquitectura dos períodos Grego e Romano. As únicas
partes do processo arquitectónico que eram produzidas em série eram os livros mas a
valorização do racional produziu uma cultura de cópias idênticas começando os
diversos componentes de uma obra (colunas, capitéis, guarnições, etc.) a serem
produzidos por processos manuais sistematizados de modo a serem o mais
normalizados possível numa verdadeira antecipação da lógica mecanicista. A
repetição das imagens precedeu a repetição dos gestos do artesão demonstrando
que, como afirma Bakhtin (1) , para compreendermos uma expressão arquitectónica
devemos compreender o contexto da sua época.
A classe dos desenhos de arquitectura assim como das maquetes estava em
expansão no renascimento. Os desenhos eram enviados para obras cada vez mais
distantes, contribuindo para o aumento do distanciamento intelectual entre arquitecto e
construtor.
Se considerarmos que todas as artes visuais nascem pelo trabalho manual dos seus
autores e que há formas artísticas que evoluem para um estado que implica
transmissão de informação para ser executada materialmente por terceiros, tal será o
caso da arquitectura. A sua evolução de ofício ligado ao desempenho manual para
actividade artística e intelectual que se manifesta pelo projecto é um caso de estudo
sobre a importância dos contextos de produção. Do ponto de vista histórico podemos
dizer que anotações de algum género sempre existiram. Desenhos do período
helenístico sugerem que os arquitectos se guiavam de um modo geral por referências
a partir das quais estabeleciam proporção em obra. A ambiguidade deste assunto é
demonstrada por Vitrúvio que no seu tratado refere três tipos de desenhos
arquitectónicos: ichonographia, orthographia e scaenographia. Apesar destes
desenhos estarem relacionados com o método de projecto de arquitectura de Vitrúvio
e terem obviamente proporção, não há referência à escala, o que exige a presença do
arquitecto na obra para os descodificar, não dando uma relação directa entre desenho
e medida pensada para o construtor.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
28
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
No final do período medieval surgem alguns desenhos à escala o que leva a supor que
a construção à distância podia ser uma realidade entre os mestres construtores do
gótico.
Os arquitectos medievais tardios e renascentistas dependiam de conjuntos simples de
desenhos ortogonais sem no entanto haver uma teoria formalizada devido à falta de
definição sobre o infinito geométrico. As projecções paralelas foram, durante séculos,
uma prática sem teoria, apesar de Piero Della Francesca ter desenhado um retrato de
uma cabeça humana em planta e alçado, ligados por linhas paralelas cerca de
1480,ou seja, três séculos antes de Gaspar Monge ter publicado "Geometria
Descritiva".
De grande importância para este estudo, no capítulo das cópias idênticas, salienta-se
o trabalho de Alberti durante o período renascentista. De acordo com o seu contexto
não conseguiu uma teoria para as projecções paralelas mas estabeleceu uma
definição para a projecção cónica (perspectiva) primeiro no seu tratado de pintura e
posteriormente no de arquitectura. Podia assim estabelecer uma definição daquilo que
os arquitectos não deviam fazer: a perspectiva, cujas linhas não são passíveis de
medição directa no desenho. Tal como escreve no segundo livro De Re Aedificatoria,
os desenhos dos arquitectos, ao contrário dos pintores, requerem linhas e ângulos em
verdadeira grandeza, passíveis de medição directa. Alberti contribui de forma decisiva
para acentuar a diferença entre projecto e construção e os princípios geométricos que
estabeleceu permitiram um conjunto de ferramentas consistentes com a construção de
uma obra à distância, sem a presença constante do arquitecto.
O AUTOR DE ALBERTI
Para além da sua importância conceptual, o sistema de projecto de Alberti contribui
para a noção actual do autor. Os projectistas precisam, segundo ele de explorar e
desenvolver a ideia do edifício através de desenhos e maquetes num trabalho mental
aperfeiçoado pelo intelecto e educado pela imaginação. Existe a necessidade de rever
e aperfeiçoar o projecto até ser obtida a versão final, que uma vez entregue ao
construtor não pode ser alterada sendo esperado que todos os intervenientes
cumpram o projecto.
Independentemente da evolução relativamente à tradição medieval de projecto, estava
em jogo um novo estatuto do autor, até então sem precedentes.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
29
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Neste novo método de construir o trabalho específico do autor centra-se no projecto,
sendo o modo de reclamar a autoria baseado no facto de projecto e edifício serem
vistos como idênticos.
A igualdade entre ambos depende de um sistema de anotações e desenho rigoroso
que tornam a autoria do projecto extensível à obra construída. A propriedade
intelectual foi uma mudança de paradigma da autoria artesanal de Brunelleschi para a
autoria intelectual de Alberti.
Apesar de em 1450 esta técnica de construção poder ser potencialmente pior do que a
anterior, a ambição da autoria era comum entre escritores e académicos do contexto
de Alberti que conviviam com o facto da maior parte das reproduções dos textos
clássicos serem um mosaico entre trechos fiéis mas também adições e subtracções.
A moderna Filologia surgiu graças a este facto e sugere a existência de uma cultura da
variabilidade durante o final da idade média que dificultava as noções de original e
autor. Assim se explica a cronologia paralela entre o desenvolvimento da imprensa e a
procura da igualdade por Alberti que no tratado De Re Aedificatoria afirma que o
projecto é o original e o edifício a sua cópia. A nova lógica cultural e técnica da
repetição permitia aplicar os direitos de autor desde o original até todas as cópias
idênticas. Apesar dos desenhos arquitectónicos de Alberti não estarem relacionados
com nenhuma tecnologia de impressão o esprito do projecto transmitia procedimentos
sistémicos que se foram manifestando ao longo dos séculos posteriores.
Podemos dizer que Alberti estabeleceu uma matriz que não era física como na
imprensa mas usava desenho e anotação rigorosos e contribuiu para a criação de uma
tecno-cultura que mais tarde se estenderia à própria construção do edifício. Os seus
meios principais são desenhos à escala e anotações definidos no segundo livro do seu
tratado de arquitectura que antecipavam a teoria das projecções ortogonais,
contribuindo para o aumento das ferramentas matemáticas do arquitecto que, em
Vitrúvio, dependia de um sistema de módulos proporcionais correspondentes a
diversas partes do edifício, verdadeiras sequências modulares determinadas em obra
com diversos instrumentos sem que houvesse propriamente uma medição por unidade
abstracta (percursora do sistema métrico). A expansão da numeração árabe no
ocidente contribuiu para a adopção gradual do novo formato de desenho anotado de
Alberti em detrimento da proporção Vitruviana, tornando-se norma o cálculo e
anotação das dimensões no projecto.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
30
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Os estatutos de autor ao longo da história.:
Actualmente vivemos influenciados pelo sistema social implementado, na crença de
que o autor é o principal e único responsável pela concretização das obras artísticas
de diversas áreas. Se não fizermos um estudo histórico podemos até pensar que
sempre assim foi e que existe a obrigação de continuidade absoluta nesta matéria.
Devemos ter a consciência que a obra é uma consequência do contexto social que
determina a vida do autor (1) e existem épocas históricas onde este tem de saber
partilhar o sentido de autoria, por força do paradigma que a sociedade implementa.
AS LIMITAÇÕES DO PROJECTO DE ALBERTI
Nesta nova técnica tornava-se necessário ampliar homoteticamente o projecto para a
realidade e um segmento que não está cotado pode ser medido e ampliado segundo a
escala, mas a operação complica-se quando o segmento não é paralelo aos planos de
projecção. Um objecto que não consiga a medição no desenho (ou num rebatimento) é
de difícil construção, logo as ferramentas geométricas de representação ganham
relevância ao potenciarem o universo de formas que podem ser construídas, de um
ponto de vista prático.
Refiram-se dois exemplos: durante a segunda metade do século XIX Antoni Gaudi
abandonou o projecto por anotação para construir a Sagrada Família de forma préAlbertiana e, durante meados do século XX, Le Corbusier tinha no projecto da igreja
de Ronchamp (maquete e esquissos) uma manualidade escultórica, sobretudo na
cobertura em betão, que foi posteriormente racionalizada segundo superfícies
geométricas passíveis de desenho e medição.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
31
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
AS
NOVAS
POSSIBILIDADES
DO
PROJECTO
NA
ERA
DIGITAL
Desde a técnica Albertiana
surgiu
a figura
de um
mediador entre projecto e
construção
séculos,
que,
consistiu
desenhos
Ilustração 9 – “Corbusier: Igreja de Ronchamp e a dificuldade de representar a cobertura
em projecção ortogonal” , (Fondation Le Corbusier, 2013,Paris)
durante
representativos
em
geométricos
da
tridimensionalidade com as
convenções e constrangimentos respectivos.
Na última década do século XX, quando a revolução digital atingiu o projecto de
arquitectura, os arquitectos apercebem-se que, apesar de ser prático interagir com o
computador segundo uma projecção, as formas podem existir num espaço
tridimensional virtual. Todos os pontos do objecto são controlados neste espaço virtual
estando o objecto em 3D, surgindo novas possibilidades de representação e medição
(inclusivamente a possibilidade de fabricação directa, nalguns casos específicos, se
houver uma máquina para tal finalidade).
Este novo ambiente virtual de trabalho torna possível antever um processo contínuo
entre projecto e produção onde podem ter lugar autores de primeira e segunda ordem.
O novo método de projecto da era digital pode ter analogia a um estado ideal de
produção artesanal se considerarmos apenas o elemento mediador digital. No
imediato é difícil fabricar directamente os elementos projectados, mas reduzem-se os
limites de projecto derivados à geometria descritiva, permitindo um maior repertório
formal. O regime imposto pela geometria descritiva ganhava funcionalidade com
variações de temas baseados em sólidos simples, mas agora o repertório inclui até
formas livres que podem ser adquiridas digitalmente por scanner 3D. Objectos que
anteriormente eram apenas possíveis pela construção artesanal podem agora ser
projectados e construídos digitalmente e geometrias complexas impossíveis de serem
representadas durante o século XX começaram a surgir. Durante a década de 90, um
dos arquitectos mais aclamados a este nível foi Frank Ghery; os seus edifícios, em
particular o museu Guggenheim de Bilbao, trouxeram a revolução digital na
José Manuel Mendonça Naves Pinto
32
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
arquitectura para a ordem do dia. O seu processo de projecto tinha, como base,
maquetes que eram convertidas digitalmente num modelo tridimensional e as
superfícies livres tridimensionais que constituem o museu, foram construídas segundo
métodos industriais de controlo digital. Podemos considerar que Ghery manteve, por
agora, o paradigma do autor tradicional mas os seus edifícios marcam uma nova
forma de construir.
TEORIA DA VARIABILIDADE DIGITAL
Durante a década de noventa surge a teoria sobre processos algorítmicos de projecto
oferecerem possibilidades inéditas fase da materialização dos objectos pretendidos. A
teoria da variabilidade digital surge numa convergência de pensadores e suas ideias,
dos quais se destaca Gilles Deleuze com o seu livro sobre a Matemática de Leibniz e
a sua relação com o período Barroco (6), referência importante para os arquitectos
pois as regras matemáticas são igualmente usadas nos meios de produção; do
mesmo autor destaca-se também o conceito de Rizoma, expresso no livro com o
mesmo título (7) que reflecte sobre o novo enquadramento social e possibilidades de
progressão e aprendizagem pessoal.
Do ponto de vista da arquitectura houve muitas razões para confirmarem a importância
da matemática da continuidade de Leibniz para o projecto, durante década de
noventa. Os softwares de cálculo podiam facilmente manipular funções contínuas
colocando o cálculo diferencial ao alcance da maior parte dos arquitectos
independentemente de terem de desenvolver longas horas de cálculo matemático. Os
mecanismos de produção de controlo digital podiam construir ou imprimir uma série de
elementos curvos contínuos, tendo o termo “dobra” origem no ponto de inflexão do
gráfico de uma função contínua sendo o cálculo diferencial uma gestão deste universo
de continuidade e inflexões tantas vezes com analogia ao crescimento das formas
orgânicas na natureza.
A interpretação de Deleuze sobre a obra de Leibniz enaltece o espírito de uma (nova)
matemática da continuidade onde inflexões evitam fracturas e ultrapassam lacunas. As
formas podem mudar e terem metamorfoses que definem uma nova categoria de
objectos marcados não pelo que são , mas pelo que podem vir a ser e pelas leis que
descrevem a sua variação contínua (o objectile).
José Manuel Mendonça Naves Pinto
33
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Existe outro conceito no livro A
dobra: Leibniz e o Barroco que
será marcante na teoria da
variabilidade:
o
objectile.
A
definição de Deleuze representa
habilmente o novo objecto da
era
digital
que
deixa
a
materialidade fixa para segundo
plano.
Um
função
algoritmo
paramétrica)
(uma
pode
determinar uma infinidade de
Ilustração 10 – “Guggenheim de Bilbao. Frank Ghery” (Município de Bilbao,
2013)
variações
de
objectos
todos
individualizados de acordo com
os parâmetros variáveis mas mantendo um ADN comum na medida em que a função
subjacente é a mesma para todos.
O cálculo diferencial pela sua apetência para lidar com a continuidade e a
variabilidade, tornou-se uma ferramenta de design valorizada nos anos noventa.
O livro sobre Leibniz pode ser interpretado como uma vasta hermenêutica da
continuidade que Deleuze aplicou à matemática de Leibniz, sobretudo ao cálculo
diferencial, servindo-se da imagem ilustrativa do barroco nas artes: a inflexão como
figura unificadora através da qual diferentes segmentos e planos são unidos em linhas
e volumes contínuos. Este conceito pode manter-se puramente gerador, não tendo
que se relacionar com o aspecto final do produto individual mas sim com a
sequencialidade de evolução de um conjunto de objectos; as formas construídas
podem induzir a percepção de continuidade sugerindo evolução contínua no
desenvolvimento da forma.
O desenvolvimento dos softwares de CAD transportou-nos rapidamente para a
extrapolação de funções matemáticas a partir de linhas contínuas, pois dada uma
função matemática o computador pode visualizar uma família de curvas que partilham
o mesmo algoritmo e os seus parâmetros podem sofrer alterações criando
variabilidade.
Os arquitectos descobriram que a continuidade (inicialmente definida como uma
categoria visual pelos teóricos do século XVIII) era também uma função matemática
José Manuel Mendonça Naves Pinto
34
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
derivada
do
cálculo
diferencial que podia dar
origem
a
um
novo
repertório formal e também
funcional
como
atestam
obras como o Guggenheim
de F. Ghery.
No contexto da década de
noventa podemos deduzir
que a teoria de Deleuze,
assim como a história da
Ilustração 11 – “mobile arts pavillion.”,( Zaha Hadid,2013)
continuidade
como
característica
ontológica
inspiraram uma mudança
de
paradigma
na
arquitectura.
Os computadores não fazem as revoluções de forma gratuita mas, pelo contrário,
dependem do contexto social que guia a sua própria evolução técnica. Assim,
indiferentes a questões sobre a natureza do ser são ferramentas para a manipulação
da continuidade matemática. No final dos anos noventa podemos considerar que a
matemática se tornou num objecto de manufactura sendo as ferramentas digitais
aplicadas na concepção, representação e produção de objectos. Em grande parte o
cálculo ainda é o de Leibniz e a componente da leitura teórica de Deleuze tornou-se
de primeira linha, com o facto de que o cálculo diferencial é a linguagem matemática
que os computadores usam para visualizar e manipular formas contínuas.
As novas possibilidades de progressão individual segundo uma filosofia rizomática
estabeleciam analogia com o novo ambiente de vida da era digital onde os referenciais
dos países dão lugar às possibilidades globais conectadas segundo múltiplas
possibilidades, havia assim que procurar a resposta formal a este novo universo.
As teorias morfogenéticas cruzavam caminhos com a matemática em novas
ferramentas de projecto e a multiplicidade assinalava-se em edifícios como o museu
Guggenheim de Bilbao na sua filosofia de continuidade e no seu novo proposta de
estética adaptável. A continuidade entre Design digital e processos de fabrico produziu
José Manuel Mendonça Naves Pinto
35
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
peças de grande virtuosismo e
dificuldade formal e no início do
Século
XXI
surgiram
as
implicações sociais deste novo
processo global de projecto.
A capacidade de produzir em
massa séries de itens não
idênticos
conduziu
a
novos
debates teóricos segundo o
conceito
de
Objectile
de
Deleuze mas faltava estudar as
Ilustração 12 – “99 teapots : série de produção digital”,(Greg Lynn,2013)
implicações económicas.
Na sua formulação teórica básica a antiga produção em série (molde fixo) depende de
matrizes mecânicas cujo custo de produção tinha de ser amortizado através da sua
utilização ad infinitum, mas a eliminação das matrizes mecânicas nos processos de
produção digitais podem produzir variações sem custos extra ganhando espaço para
competirem com a produção básica.
Na produção digital a standartização já não representa um factor de economia e
consequentemente a customização não implica despesa. Muitos dos princípios
básicos da economia da produção industrial terão de ser revistos à luz deste novo
paradigma.
Voltando ao exemplo da imprensa que sabemos ser vanguardista do ponto de vista
histórico refira-se o que acontece quando se tem em conta a produção digital: um feixe
laser pode marcar individualmente cada pixel numa superfície de forma sempre nova
e independente da impressão que o antecedeu. Por outro lado uma chapa de offset
hipoteticamente usada apenas uma vez tornaria este processo extremamente
dispendioso. Uma impressora laser pode imprimir centenas de cópias idênticas ou
diferentes sendo o custo unitário igual em ambas as situações. O paradigma da
produção (digital) variável já está em pleno funcionamento na imprensa e será
certamente aplicado para os restantes tipos de produção onde a repetição de uma
sequência de acções era usada para gerar economias de escala, seguindo-se a
customização em massa que permite a adaptação de cada produto ao seu consumidor
final.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
36
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Uma série digital variável é definida, não pela
igualdade dos elementos produzidos, mas
justamente pelas variações entre todos os
elementos sequenciais de uma série. Cada
elemento tem pelo menos um factor em
comum com todos os outros. Em termos
técnicos podemos mencionar que existe pelo
menos um algoritmo comum a estes objectos.
Em termos visuais a série digital partilha pelo
menos
uma
projectista
Ilustração 13 – “teapots, peça individual” , (Greg Lynn,2013)
característica
controla
a
comum.
variabilidade
O
do
conjunto.
Ao longo da década de noventa e no início do novo século os projectistas
concentraram-se nas possibilidades formais oferecidas pelas funções contínuas
geradas de forma algorítmica que são facilmente manipuladas por computador. A sua
matemática assenta no cálculo diferencial e, sem surpresas origina formas curvas,
fluidas e contínuas.
Como consequência num processo de produção digital deste tipo um algoritmo pode
gerar uma infinidade de funções matemáticas e respectivas formas e superfícies
correspondentes, todas as quais partilham um algoritmo “invisível” de origem que em
muitos casos provoca atributos visuais que denunciam a sua matriz comum. Este é o
caso das teapots de Greg Lynn.
O conceito representa uma variabilidade contínua que tem se ser fixa em
determinados momentos para a produção. De acordo com esta lógica cada produto é
único e se produzirmos vários elementos , podemos falar numa lógica de produção em
série onde cada peça é diferente.
Isto é precisamente o oposto de uma lógica mecanicista onde a produção em série
reproduz componentes todos idênticos.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
37
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Segundo a exposição “non-stadard
architectures” no centro Pompidou em
Paris em Dezembro de 2003
este
novo modo de produção industrial é
designado como “nonstandard” e ao
falar em produção digital é a ele que
nos referimos.
Na produção digital, o que interessa
não é a forma de cada produto mas
sim as diferenças entre os vários
elementos da série. Um dos mais
eloquentes exemplos patentes na
referida exposição de Paris foram as
99 teapots desenhadas por Greg Lynn
para
o
fabricante
Alessi
que
demonstram este novo modo de
produção,
todas
diferentes,
no
entanto partilhando semelhantes no
aspecto de partilharem a mesma
Ilustração
14
–
“Mesas
definidas
pelo
comprador”,
(Bernard
Cache,2013)
tecnologia e o mesmo algoritmo
gerador.
As variações numa série nonstandard são determinadas pelo tipo de ferramentas
mecânicas que podem ser integradas numa linha de produção de controlo digital e
podemos considerar que os limites físicos actuais são temporários pois as máquinas
tendem a tornar-se maiores e mais versáteis. A programação em computador ganha
destaque neste processo pois a série depende do algoritmo da matriz comum a todos
os elementos produzidos.
Actualmente a produção digital já pode ser plenamente aplicada à produção de
mobiliário com parâmetros variáveis de acordo com cada cliente. De facto a “table
projective” apresentada por Patrick Beaucé e Bernard Cache na exposição de Paris
no centro Pompidou em 2004 é a demonstração prática deste princípio. Foi
apresentada a mesa lado a lado com o processo de fabrico. O cliente pode definir as
proporções da mesa sendo o ficheiro enviado para a fábrica que corta as peças e as
envia para a casa do cliente no dia seguinte.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
38
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Os
procedimentos
produção
digital
da
vão
revolucionar o mundo dos
tamanhos pré definidos até
no
vestuário
tradicionais
onde
as
medidas
de
S,M,L,XL deixam de fazer
sentido.
Apesar de serem todas
potencialmente diferentes,
Ilustração 15 – “Metropol Parasol, Sevilha 2012., (J.Mayer H./Jürgen Mayer H., 2013)
as mesas de Cache são
identificáveis pela semelhança ao invés da igualdade, razão pela qual este valor tende
a impor-se nas discussões sobre direitos de autor.
Esta mudança para a produção digital também promete afectar a cultura visual com o
abandono de um universo determinado por formas derivadas de processos repetitivos
para novos elementos variáveis.
Podemos questionar se esta variabilidade é uma ameaça para uma sociedade
teoricamente igualitária, mas devemos ter em consideração que o algoritmo
subjacente será sempre um elemento comum numa série e as possibilidades também
são comuns para todos os utilizadores.
A nível do reconhecimento sabemos que tecnicamente os elementos da serie
partilham um algoritmo matemático no processo gerador mas perceptualmente existe
muito trabalho de estudo para ser desenvolvido.
As máquinas não conseguem a semelhança entre elementos gerada no processo
total, apenas o treino da percepção humana o consegue fazer. O novo ambiente
humanizado pelo processo digital irá promover novos modos de reconhecimento
baseados na semelhança ao inverso da igualdade.
Vamos definir pattern recognition ou reconhecimento de padrões como o princípio
operador que serviu de base à cultura visual ocidental desde a antiguidade clássica
até à difusão em série de imagens pela imprensa.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
39
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
No
mundo
semelhanças
estruturas
algorítmico
ou
o
invisíveis
a
procura
de
reconhecimento
de
permite-nos
conferir
significados análogos a objectos diferentes
que partilham algo em comum.
A
produção
digital
vai
provavelmente
reestabelecer um universo análogo ao que
antecedeu a difusão da imagem impressa e
teremos de readquirir algumas competências
básicas em reconhecimento de padrões que
cinco séculos de cultura visual tipográfica
quase nos fizeram esquecer. Uma vez mais
vamos
ter
semelhanças,
de
aprender
analogias
e
a
reconhecer
aproximações
visuais.
Ilustração 16 – “a secção das peças pode variar de acordo
com o diagrama de momento flector poupando material” ,
(ISEL, 2013)
As tecnologias que agora se ensaiam na
produção de serviços de chá podem no
futuro aplicar-se à generalidade da produção.
Actualmente, no campo da construção, os componentes pré-fabricados de estruturas
são sobredimensionados pois a pré-fabricação actual implica que todos os
componentes têm de ser idênticos de acordo com um determinado molde.
Consequentemente a secção sujeita ao maior esforço determina todas as outras, na
peça pré-fabricada e muito material é desperdiçado. Graças à produção digital cada
secção poderia ter apenas o material necessário, de acordo com o diagrama de
momento flector dando origem a geometrias mais ricas do que a viga e pilar préesforçados de uso corrente.
Estas novas possibilidades também podem incidir no campo da responsabilidade
social se tivermos em conta novas formas de optimização dos recursos limitados do
planeta que podem atenuar algumas questões técnicas, económicas e sociais que
marcaram a produção mecânica dos últimos séculos.
Impacto geral na sociedade
Uma mudança social e tecnológica desta envergadura só pode ocorrer se os
benefícios económicos e práticos forem acompanhados por um consenso ideológico e
as novas formas resultantes da produção digital terão de ser culturalmente aceites.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
40
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Uma
nova
produção
condição
tem
de
de
ser
acompanhada por uma nova
condição de percepção .
No
mundo
da
mecanicista
valoriza-se
capacidade
formas
de
à
a
reconhecer
idênticas
correspondem
Ilustração 17 - Piscina olímpica de Pequim: padrões orgânicos inspirados em água
produção
lógica
que
da
reprodução exacta. No mundo
da
produção
digital
a
capacidade para reconhecer semelhanças e lidar com a abstracção e o incompleto
são qualidades que se valorizam segundo a produção variável.
Os adultos de hoje foram criados no universo mecânico da reprodução idêntica
estando logicamente mais treinados para reconhecerem formas idênticas . Em
contraste as crianças de hoje são criadas em contacto com o universo algorítmico da
internet e estão mais aptas a reconhecer semelhanças entre formas que mudam e
metamorfoseiam e lidar com elementos incompletos.
O futuro da produção digital vai depender dos avanços tecnológicos que irão gerar
novos sistemas de produção a curto prazo mas também da ascensão do
reconhecimento de padrões a partir de séries variáveis que vai originar um novo
universo formal.
Ao fim de cinco séculos de cultura tipográfica e produção em série de elementos
idênticos o novo conhecimento onde impera o reconhecimento de padrões preparase para fazer reviver muitos aspectos da produção pré-industrial onde o gesto e o
carácter único eram a regra.
Existe, sem dúvida, uma ironia nesta cultura de “novas máquinas” -levar à reavaliação
da percepção, na sociedade, de uma forma que fará reviver o gesto e afastar-nos do
culto da máquina. A percepção afasta-se, assim, de ser encarada como uma operação
mecânica e torna-se numa extensão orgânica da inteligência humana.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
41
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O OBJECTILE
Tal como Deleuze salientou, a matemática
da continuidade de Leibniz introduziu uma
nova ideia de objecto: o cálculo diferencial
não descreve objectos mas sim as suas
variações . No objectile uma função contém
um número infinito de objectos e cada
objecto individual faz parte de um algoritmo
Ilustração 18 - “Protótipos das 99 teapots “, (Greg Lynn,2013)
matemático, assumindo um papel dentro de
uma série.
O novo objecto da era digital que designamos por objectile tem o seu arquétipo na
proveniência matemática de Leibniz e Deleuze. O objectile está para um objecto da
mesma forma que uma função matemática pode gerar uma família de curvas. É um
objecto genérico.
O objecto específico e o seu acontecimento são encarados como entidades variáveis
mas dentro da lógica do objectile. No domínio técnico é um algoritmo generativo com
um open-end , uma possibilidade de intervenção de segunda ordem pelo autor
principal ou até pelo cliente do objecto final.
O designer do objectile é o autor das normas
gerais que determinam os aspectos comuns
de uma gama de objectos diversos. Através da
sua aplicação à produção podemos conseguir
que o conjunto geral tenha uma continuidade
proporcionada pela variação das peças. O
projecto ganhou uma dimensão para além do
que é entrando no domínio daquilo que pode
vir a ser.
Um ambiente open-source (ou de múltiplas
fontes)
Ilustração 19 – “Curva de Koch: princípio matemático que
gera várias sequências de formas distintas” , (ISEL, 2010)
José Manuel Mendonça Naves Pinto
pode
estar
aberto
a
variações
aleatórias mas baseadas numa estrutura prédefinida. Em termos ontológicos o objectile
42
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
representa a categoria geral à qual os objectos pertencem. O designer do objectile é
um autor “geral” ou até genérico que, sendo um modo de autoria aparentemente novo
já existia no paradigma pré-Albertiano da produção artesanal. Um autor pode fixar
parâmetros principais e deixar em aberto parâmetros secundários nos quais podem
participar autores de segundo grau.
A abertura de processos e a interactividade são questões inerentes à noção de
variabilidade digital.
NOTA SOBRE O OBJECTIVO 1
Neste ponto chama-se a atenção para o objectivo de perceber as novas possibilidades
de projecto e produção de objectos de design.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
43
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O AUTOR COLECTIVO
O pós-modernismo na arquitectura é
frequentemente associado com o
revivalismo
da
iconografia,
historicismo e simbolismo segundo
a influência de Charles Jencks, em
simultâneo com o que podemos
chamar pós-modernismo filosófico
de
Ilustração 20 – “Software BIM Revit e a integração entre as várias
especialidades no modelo virtual”, (Autodesk,2013)
Jean François Lyotard que
proclama
narrativas
a
fragmentação
obrigatórias
e
das
dos
grandes referenciais relativos a países que marcaram o século XX. À medida que a
digital turn influenciava a arquitectura novos conceitos de fluidez e multiplicidade a
nível social confirmavam a visão de Deleuze. No contexto pós-moderno de múltiplos
referenciais é lógico que esta revolução tenha acontecido de modo muito discreto.
Este ambiente de possível variabilidade foi frequentemente visto como uma libertação
relativamente aos limites do modernismo, permitindo a expressão do indivíduo para
além dos limites tecnológicos e sociais anteriores. O modelo “made on demand” é hoje
visto como emergente e possivelmente restruturante do ponto de vista económico.
Em todas estas questões as tecnologias digitais e os vários aspectos culturais da pósmodernidade interagiram demonstrando a importância do contexto social nas obras
realizadas, no caso da arquitectura com as novas possibilidades formais a aliarem-se
às programáticas.
A tecnologia continuou a evoluir desde a década de noventa e hoje existem questões
tecno-sociais relativamente às possibilidades participativas no processo de projecto.
Estabelecido o paradigma da variabilidade, mencionado anteriormente, concentramonos agora na participação interactiva.
No caso da arquitectura, o projecto sempre foi um acto de negociação entre muitos
participantes inclusivamente com sessões de intervenção públicas. O processo digital
de colaboração, aliado aos novos meios de produção pode chegar a formas
surpreendentes que não dependem necessariamente de um consenso entre as partes,
no verdadeiro sentido da conclusão de Robert Venturi sobre a complexidade e
contradição em arquitectura (8).
José Manuel Mendonça Naves Pinto
44
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Como é de esperar, o projecto deve ser construído num determinado momento,
fixando a forma arquitectónica mas o processo participativo tem novas possibilidades.
Modelos tridimensionais de edifícios podem ser usados no acto do projecto e também
para a gestão do edifício durante o seu ciclo de vida, uma vez que ao longo da história
foram usados para comunicar o projecto aos mais leigos, o complemento com
informação específica de gestão pode ser um caminho a seguir.
Questões relacionadas com a participação interactiva levam a temer o fim da autoria
baseada no paradigma de Alberti, que nos transportaria para um novo estágio de
múltiplos autores análogo ao do período gótico, por exemplo, onde vários mestres
tinham participação no mesmo edifício.
Na música, o século XX estabeleceu os direitos de autor para cada cópia em vinil e
depois CD, mas Mozart e Beethoven nunca publicaram sons, escreviam partituras que
tinham de ser interpretadas por músicos e cada actuação era única, mesmo quando
era o próprio compositor a dirigir a orquestra. A noção da música enquanto reprodução
idêntica é uma invenção da era industrial, pois durante séculos as interpretações eram
profusas
em
variações
e metamorfoses consoante cada acontecimento.
A
customização da era digital também atingiu parcialmente a música com a nova
possibilidade de adquirir temas musicais sem depender do antigo formato em disco ou
CD.
O estatuto moderno do autor teve o seu início com a definição renascentista que
podemos ver na arquitectura como “arte” de cópia idêntica ao projecto. O quadro legal
dos direitos de autor funciona actualmente na base de que existe um autor e um
arquétipo que os executantes devem reproduzir de forma exacta, e estão proibidos de
alterar. Este é o paradigma que a digital turn vem questionar. Os novos meios digitais
permitem o pensamento lateral de acordo com Edward de Bono (9) . Este vai
questionar os padrões de informação rotineiros em que os agentes do projecto
normalmente funcionam, provocando esses padrões com o input lateral de informação
nova e possivelmente levando à criatividade de novas soluções. Esta, segundo ele
vive da aglomeração de nova informação num processo inclusivo de várias fontes das
quais o projectista não pode ter a leviandade de rejeitar, pois é a visão lateral de
conjunto que pode questionar os padrões de informação com os quais nos movemos
habitualmente dando origem a novas soluções. Como refere “With vertical thinking one
concentrates and excludes what is irrelevant, with lateral thinking one welcomes
chance intrusions.” (Bono, 1976, Lateral thinking,p.41).
José Manuel Mendonça Naves Pinto
45
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Os múltiplos agentes que agora podem ter acesso ao processo de projecto podem
chegar, no limite à participação anónima e colectiva com muitas analogias existentes
entre a produção digital e a pré-industrial que esperemos contribua para uma nova
sociedade orgânica e ecológica.
Existem actualmente várias plataformas informáticas com robustez suficiente para o
design colaborativo, a maior parte desenvolvidas para várias equipas de designers que
trabalham no mesmo projecto. Para além disso podem-se também envolver na
corrente de projecto o cliente, os utilizadores finais e o cidadão.
A fotografia digital já não é a impressão da luz numa superfície e a manufactura digital
já não representa a repetição de um molde. A variabilidade tende a destacar-se do
paradigma autoral de Alberti que liga a descrição geométrica de um único autor à sua
cópia idêntica obrigatória. A separação entre concepção e fabrico (ou construção) dá
lugar a um novo processo com maior continuidade e fluidez, estendendo-se essa
evolução aos conceitos de propriedade intelectual que estão actualmente em mutação.
O argumento de que este método só pode ser aplicado a pequenos objectos de
manufactura é teoricamente irrelevante uma vez que qualquer obra de grandes
dimensões pode ser a reunião de componentes menores fabricados em produção
digital.
O novo paradigma visual ultrapassa a modernidade onde a igualdade era a norma; a
semelhança e mimesis ganham rapidamente terreno no processo criativo apesar de
poderem ser difíceis de defender num tribunal de direitos de autor.
Erwin Panofsky afirmou (10) que a deriva das formas da alta idade média estava
inscrita num conjunto de normas gerais fixas; o autor analisou este padrão de
diferenças dentro da repetição da arquitectura gótica como baseada numa relação de
géneros entre categorias gerais estáveis e acontecimentos particulares variáveis, algo
que pode voltar a acontecer. Podemos estabelecer uma analogia com o meio digital
onde cada objectile representa um conjunto de normas gerais fixas que podem originar
objectos infinitamente variáveis. O projectista tem agora que reconhecer semelhanças
e padrões
identificativos
entre as
variáveis
particulares
e saber
trabalhar
colectivamente.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
46
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
NOTA SOBRE O OBJECTIVO 2
Neste ponto da pesquisa teórica salienta-se a importância de preparar o aluno para
actuar como um autor colectivo.
Do ponto de vista social existe uma preocupação por reacções adversas por parte dos
arquitectos quanto à inclusão de terceiros no processo de projecto. Importa estudar as
reacções ao novo paradigma do autor, no âmbito deste trabalho ao nível dos alunos
José Manuel Mendonça Naves Pinto
47
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
SOCIEDADE DIGITAL E NOVA PROGRESSÃO NA APRENDIZAGEM
Neste ponto impõe-se uma breve síntese da obra do teórico mais influente para
compreender o novo sistema de conhecimento baseado no ambiente digital. Gilles
Deleuze influenciou o sistema académico, inicialmente nos Estados Unidos, e desde a
década de noventa a sua teoria ajudou a compreender as novas possibilidades de
aprendizagem e produção.
Através da internet o homem acede à informação segundo plataformas de interesse
que dependem do seu contexto de vida. Os planaltos de estudo interligam-se e
progridem entre si segundo uma fluidez rizomática de conhecimentos.
Este modelo de continuidade substitui os princípios rígidos do modelo arborescente
dos referenciais definidos pelo anterior paradigma cultural do século XX ainda muito
influenciado pela limitação geográfica e cultural. Os estudos de Deleuze sobre Leibniz
(6) e a sua matemática da continuidade tomam o cálculo como metáfora para
acontecimentos contextualizados, assim como os conceitos expressos no Rizoma (7)
são analogias para a época contemporânea de Deleuze. Devemos ter em conta que já
existiam redes informáticas (por exemplo as universitárias) que já permitiam novas
possibilidades de crescimento pela aprendizagem rizomática.
Por exemplo no seu livro Rizoma, Deleuze toma como referência a obra literária para
estabelecer uma série de princípios filosóficos de âmbito mais vasto (7).
Tem uma visão que se aproxima de Ponty (11) ao afirmar a importância da ontologia
na criação artística onde não podemos estabelecer uma diferença entre o discurso do
livro e a maneira como ele foi escrito (o seu contexto) estando igualmente de acordo
com M. Bakhtin que mais adiante será mencionado no sentido de compreender a
importância do assunto desta tese na sociedade contemporânea (1).
Fundamental para o paradigma digital é a visão da obra; esta deixa de ser um objecto
isolado e passa a ser encarada como um agenciamento em conexão com outros
agenciamentos. Entramos assim numa visão do autor colectivo do projecto pósAlbertiano. O ênfase vai para como a obra funciona, quais são as suas conexões e
intensidades, que multiplicidades contribuem para a sua metamorfose.
Deleuze manifesta uma oposição à racionalidade moderna que separa conceitos e
ideais intelectuais da vivência social prática.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
48
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O novo estatuto da obra surge em grande sintonia com as novas possibilidades da
sociedade contemporânea onde Deleuze num percurso da pós-modernidade vai
acompanhar a perda dos referenciais absolutos dos países e culturas tradicionais para
darem origem a uma comunicação que tende para a troca global de conhecimentos.
Nesta sociedade os interesses pessoais ganham protagonismo como bússola de
progressão que na multiplicidade consegue gerir este universo gigantesco de
informação.
Consideremos o referencial anterior: o sistema arborescente; este sistema nunca
compreendeu a multiplicidade como conceito, pois depende de uma unidade central
que sustenta toda a lógica. As relações entre círculos sucessivos dependem sempre
de um único sistema de valores que norteia a progressão, tendo o sistema uma lógica
binária, sempre referenciada ao axioma central, ao qual o sujeito tem de submeter os
seus interesses: o tronco da árvore.
Sempre que através de uma ideologia dominante se impõe ao cidadão um conjunto de
valores estamos perante este modelo que marcou a história ocidental do século XX.
NOTA SOBRE O OBJECTIVO 3
Pelo que foi acima mencionado e será adiante desenvolvido acredito que será
importante para o aluno Identificar os novos paradigmas de estudo em contexto digital.
RIZOMA
Deleuze questiona assim as verdades absolutas na vida em favor das relativas numa
visão alinhada com o entendimento segundo Kant, para quem o conhecimento
humano surge alicerçado na base relativista da percepção (12) tendo como
consequência a possibilidade existirem múltiplas referências em múltiplos contextos.
A compreensão da relação entre obra, autor e vivência exige assim uma unidade mais
compreensiva e uma totalidade mais extensiva: o sujeito acede a uma unidade mais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
49
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
alta de ambivalência ou de sobredeterminação numa dimensão continuamente
suplementar à do seu objecto.
O múltiplo há que fazê-lo, não ao juntar-lhe sempre uma dimensão superior, mas, pelo
contrário, o mais simplesmente à força da sobriedade, ao nível das dimensões de que
se dispõe, sempre n-1 (é apenas deste modo que o um faz parte do múltiplo, sendo
sempre subtraído). Subtrair o único da multiplicidade a construir, escrever a n-1.Um tal
sistema podia ser chamado Rizoma.(DELEUZE, 2006, Rizoma, p. 14)
A nova visão de referenciais culturais múltiplos permite, no limite, ultrapassar
eventuais dogmas da nossa cultura para a visualizar-mos num mosaico de relações no
novo contexto global da sociedade digital.
Quanto ao Rizoma enquanto eventual sistema de trabalho e ensino, existem alguns
princípios básicos de Deleuze que importa enumerar:
Princípio da conexão e heterogeneidade:
As linhas de um rizoma conectam elos semióticos, organizações de poder, ocorrências
que apontam para as artes, para as ciências. O rizoma é multidisciplinar.
Qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado com qualquer outro, e tem de sê-lo.
É muito diferente da árvore e da raiz que fixam um ponto de ordem.[…] elos semióticos
de qualquer natureza são conectados com modos de codificação muito diversos: elos
biológicos, políticos, económicos, etc., pondo em jogo não só regimes de signos
diferentes mas também estatutos de estados de coisas. (DELEUZE, 2006, Rizoma, p.
15,16)
Tal como Mikhail Bakhtin (1) demonstra, uma obra tem conteúdos semânticos e
pragmáticos dependentes de agenciamento colectivos de enunciação e todo um
enquadramento social. A obra é a expressão de um contexto mais vasto que está
implícito na sua forma. Uma obra aglomera actos muito diversos e não deve fechar-se
sobre si mesma mas desdobrar-se nas suas múltiplas dimensões.
PRINCÍPIO DA MULTIPLICIDADE
O conceito de unidade a priori que se subdivide em tipos é muito limitativa das
possibilidades na natureza.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
50
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Uma multiplicidade não tem sujeito nem objecto mas apenas determinações,
grandezas, dimensões que ao crescerem fazem com que a multiplicidade possa mudar
de natureza, mantendo leis que originam multiplicidade e crescem com ela. (DELEUZE,
2006, Rizoma, p.18)
O Rizoma assume uma característica fundamental para o objecto digital: o facto de um
agenciamento poder ter origem num autor que estabelece linhas de actuação a priori
que terão depois a possibilidade de evoluir nas suas dimensões com flexibilidade e
adaptabilidade à medida que aumentam as novas conexões. No novo objecto não
importa somente o tempo presente, o mais importante podem ser as novas
possibilidades das futuras evoluções.
As considerações filosóficas de Deleuze ganharam inicialmente protagonismo nos
estudos de teóricos universitários dos Estados Unidos, país com uma pressão de
linhas orientadoras nos campos das tecnologias digitais. Os seus estudos foram
fundamentais para a produção arquitectónica segundo filosofias de continuidade e
adaptabilidade de autores bem conhecidos.
Deleuze chega ao ponto de afirmar que
“O número deixou de ser um conceito
universal que tem referenciais fixos, e dimensões pré-estabelecidas para se tornar, ele
mesmo, uma multiplicidade variável segundo as dimensões consideradas” (DELEUZE,
2006, p. 19) , ou seja, para compreender a unidade entre diversos objectos deve-se
estudar a existência de sistemas suplementares aos mesmos. Fala-se sem dúvida em
estruturas mentais a priori e procedimentos algorítmicos que originam agora conjuntos
de objectos variáveis a partir dessa base inicial de instruções como foi mencionado
acerca do objectile (o novo objecto genérico que origina séries ). Existe agora a
possibilidade de deixar procedimentos estabelecidos que tornam o número dinâmico
de acordo com a matemática da continuidade de Leibniz (6).
PRINCÍPIO DA RUPTURA ASSIGNIFICANTE
Ao contrário de estruturas dependentes de valores absolutos, um Rizoma pode ser
interrompido num qualquer ponto e retomado segundo as suas linhas de fuga mais
convenientes. As linhas de fuga são aqui entendidas como os potenciais
desenvolvimentos futuros que a estrutura em rizoma permite, em complemento as
linhas de segmentaridade segundo as quais foi definido. Estas novas ligações podem
dar sempre lugar a novos crescimentos no interior da estrutura do rizoma,
enriquecendo-o.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
51
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Este princípio vai de encontro ao novo sistema de produção digital onde passa a existir
um elemento intermédio mediador que possibilita a intervenção de um número
acrescido de agentes em vários pontos do processo e da sua cronologia de produção
(5).
PRINCÍPIO DA CARTOGRAFIA E DA DECALCOMANIA
Deleuze considera o sistema em árvore como estando ligado ao conceito de decalque
e o sistema em rizoma ligado ao mapa.
Os modelos de valores absolutos impostos pelo sistema arborescente são indutores
de comportamentos em decalque na sua reprodução. Ao estar livre de um modelo
generativo absoluto o rizoma privilegia a experimentação directa sobre o real, tendo a
possibilidade de ser aberto e sofrer ligações nas suas dimensões, susceptível de
receber modificações constantes. O mapa tem entradas múltiplas de informação
contrariamente ao decalque que volta sempre ao mesmo valor.
Segundo Deleuze (2006, Rizoma, p. 38)
“A árvore inspira uma triste imagem do
pensamento, que não pára de imitar o múltiplo a partir de uma unidade superior de
centro ou segmento.”
Os sistemas arborescentes são dados à hierarquia, sendo como autómatos com
memórias centrais organizadas que obrigam a respeitar significados sem possibilidade
de adaptação. Podemos considerar esta visão como correspondente à produção
industrial básica da era moderna, com a visão rizomática aplicada, está agora em
questão a evolução para um novo estado a nível tecnológico social e produtivo.
O sistema arborescente é muito limitativo pois só pode haver entrada de informação
num único ponto segundo um sistema de progressão hierárquica. A actualmente
reflecte-se sobre a possibilidade de projecto e produção segundo sistemas acentrados
onde a comunicação se faz entre quaisquer pontos, aceitando evoluções no espaço e
no tempo. As operações podem coordenar-se e sincronizar-se independentemente de
uma instância central.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
52
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
No rizoma o grafo1 que regula a circulação de informação é, de certo modo, o oposto
ao grafo hierárquico do sistema arborescente.
Sistema arborescente e rizoma podem mesmo actuar de forma complementar sendo
inegável a importância rizomática no percurso pessoal de aprendizagem. A economia
global faz com que indivíduos ultrapassem os referenciais imediatos dos países de
origem para desenvolverem as suas vidas segundo motivações pessoais que
ultrapassam fronteiras.
Este trabalho assume-se como alinhado nas investigações do MIT (5) sobre os novos
paradigmas da sociedade digital, nomeadamente as novas possibilidades do projecto,
a variabilidade, o autor colectivo, a progressão pelo universo da internet feita segundo
um sistema rizomático. O filósofo de eleição do novo contexto é Deleuze, muito
impulsionado pelas universidades Americanas e pelos arquitectos do final da década
de noventa que desenvolveram conceitos de continuidade e fluidez nas suas obras.
Quanto à real importância da tecnologia digital para tal concepção filosófica, Bakhtin
dir-nos-ia que de uma forma ou de outra isso faz parte do contexto, logo acabaria por
ficar impresso na obra (1), mas o que é certo é que Deleuze faz uma excelente
correspondência entre a filosofia e o meio digital e isso foi-lhe fundamental.
1
dispositivo matemático destinado a estugar interligações
José Manuel Mendonça Naves Pinto
53
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO SOCIAL NA ARTE
Origem do Dialogismo
Este tópico está alicerçado na Teoria elaborada por dois autores: Mikhail Bakhtin pela
obra teórica que desenvolveu sobre o fenómeno artístico/arquitectónico e Tzvetan
Todorov pelo modo como sintetizou e estruturou toda a Teoria de Bakhtin.
O trabalho de Todorov em “The Dialogical Principle” assenta em duas funções
fundamentais: trazer para a luz do dia o princípio dialógico e estruturar uma série de
conceitos fundamentais segundo uma hierarquia sequencial de capítulos, de modo
que o leitor facilmente transporta os fundamentos da teoria de Bakhtin para o presente
e o futuro.
Os conceitos enumerados por Todorov são agora transportados para o campo do
ensino, mantendo a coerência imprescindível para tal.
Abordaremos os conceitos que o professor deve seguir no processo de ensinoaprendizagem para um ensino dialógico.
Primeiro Conceito
Dialogismo: a base do método
Pensamentos sobre pensamentos, experiências sobre experiências, discursos sobre
discursos, textos apoiados com base em textos, aqui se encontra a diferença
fundamental das Ciências Humanas por oposição às Ciências Naturais.
Os registos artísticos analisados segundo as ciências humanas são sempre registos
dialógicos de uma determinada natureza:
José Manuel Mendonça Naves Pinto
54
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Existe uma relação entre o
texto (o objecto de estudo), o
contexto que envolveu a sua
produção e
o receptor à
medida que todas as reacções
de resposta são levantadas; só
assim
se
compreensão
atinge
da
obra
a
de
arte/arquitectura.
Ilustração 21 – “Kandinsky: a expressão artística enquanto um texto ou conjunto de
sinais coerentes”, (Bauhaus Archives,2013, Berlim)
A arquitectura é o encontro de dois textos: o preexistente criado pelo artista/autor e o
texto respondente criado pelo contemplador.
O texto deve ser apreendido não apenas pelo estudo das formas produzidas, mas
através do estudo das forças produtivas, que estão correlacionadas naquilo que
Bakhtin conceptualiza como Horizonte.
A tradução dessas forças vivas, que a natureza humana estabelece como sendo
necessariamente de ordem social, em aspectos e marcas que se reflectem no formal e
no material (que caracterizam o texto) no que podemos chamar uma tomada de vida
por parte da obra, ocorre dentro de uma matriz de opções que representam a
linguagem disponível pelo autor. Estamos assim perante o Horizonte da obra de
arquitectura/arte, importante para compreender o Dialogismo.
O Horizonte encontra-se, por sua vez, englobado no conceito de Contexto, pois este
para além do referido, contempla todas as possíveis dimensões envolventes à criação
do texto para além das forças vivas.
O Contexto engloba todo o Horizonte da obra de arquitectura, e aspectos tão simples
como a vivência do seu autor numa dada época, o círculo de amizades e debate
intelectual, etc.
A ideia de que se poderá compreender uma obra independentemente destes
intervenientes, é uma ideia que nunca nos permitirá compreender a totalidade do
processo artístico/arquitectónico.
Chegamos assim a uma etapa fundamental para o segundo conceito ( a expressão),
como adiante veremos; para já centremo-nos na compreensão (understanding).
José Manuel Mendonça Naves Pinto
55
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
A compreensão da obra de arquitectura baseia-se na relação do texto original criado
pelo autor com a reinterpretação feita pelo receptor num novo contexto. A
compreensão da obra de arte/arquitectura é, de certa forma, um acontecimento no
espaço e no tempo sempre único e pessoal.
A compreensão não trata de decalcar a experiência do autor na minha pessoa mas
sim de uma resposta dialógica, que pode provocar novas e diferentes perspectivas
axiológicas sobre o texto. A compreensão toma assim a forma de uma resposta
provocada pela obra de arquitectura, ou seja pelo objecto do conhecimento. Neste
aspecto a dualidade entre aquele que se expressa e o receptor é um facto irredutível.
A importância da compreensão para chegarmos ao conceito seguinte da expressão é
tal que Bakhtin a sintetiza dizendo que toda a compreensão é activa e já representa o
embrião de uma resposta. Só o conhecimento activo pode apreender o tema (o
significado da expressão) e toda a compreensão é dialógica.
Todo o acto de compreensão baseia-se assim na capacidade activa (por parte do
receptor) em responder ao estímulo provocado pela obra de arte.
A relação dialógica estabelecida no âmbito artístico/arquitectónico, e de forma mais
generalizada no âmbito das Ciências Humanas, não é apenas um código inequívoco,
mas uma constante relação dialógica entre texto e contexto ( a obra e todo o seu
Horizonte) e o contemplador.
A interpretação do texto é obrigada a penetrar na infinidade dos seus significados
potenciais, razão pela qual dificilmente se poderá considerar científica, no sentido de
absolutamente rigorosa nos termos de uma ciência exacta, além disso, a interpretação
de um texto é uma experiência profundamente cognitiva.
Salientamos o carácter único da experiência artística/arquitectónica e a importância da
formação e maturidade cultural por parte do contemplador pois é neste fenómeno
dialógico que a obra de arte encontra a sua realização.
Neste ponto do estudo, apesar de termos tomado contacto com características cruciais
ao fenómeno artístico/arquitectónico a compreensão por parte do receptor pode
adquirir todo o tipo de equívocos e conduzir a respostas dialógicas de alguma forma
absurdas sobre a intencionalidade da obra de arquitectura, o que não quer dizer que
sejam desprovidas de originalidade.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
56
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Assim sendo podemos, para já, dizer que qualquer pessoa pode experimentar um
dialogismo, mas nem todos conseguem uma expressão. Pressupõe esta frase que a
expressão representa o atingir de um nível mais elevado de desempenho. Passemos
pois à explicação que se impõe.
Segundo Conceito
A expressão
Para começar recordemos o conceito de texto:
Para o enquadramento do facto arquitectónico enquanto texto devemos considerar
que todo o acto humano é potencialmente um texto. Tanto o meu espírito como o do
outro não são um objecto , como nas Ciências Naturais e o acto humano surge através
da sua expressão em sinais, numa realização através de textos que numa dada época
são comuns ao próprio e ao outro, ou seja, têm um contexto próprio.
Se o texto for entendido num sentido mais lato, como um complexo de signos
coerente, poderemos postular que mesmo o estudo da arquitectura trata de textos, e
assim definir a obra arquitectónica enquanto um texto. Esta é um bom exemplo pois o
texto representa a parte realizada da obra no sentido em que perdura no espaço e no
tempo, impressa na materialidade e na espacialidade que a caracterizam, no entanto
existe uma nova dimensão fundamental: a unidade entre o texto e o seu contexto , que
designamos por expressão.
A expressão estabelece que:
A componente material e formal da arquitectura estabelecida enquanto texto constitui
apenas uma parte da expressão , mas existe outra parte fundamental que corresponde
ao Contexto.
Sem a compreensão da unidade de ambas as partes não compreenderemos a
plenitude do fenómeno arquitectónico; a expressão unifica o texto e o contexto e
restitui toda a intencionalidade , inteligência e erudição à Obra. O pleno conhecimento
esclarecido eleva o arquitecto quando constrói a sua dialogia ao grau de expressão.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
57
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O espaço, a matéria e as formas constituem apenas a parte material da expressão do
texto, existindo outra parte que é conceptualizada como extratextual que corresponde
ao contexto de enunciação ou simplesmente da obra, de um modo geral.
A situação extratextual entra na expressão como uma constituinte necessária da sua
estrutura semântica, neste aspecto a expressão pode ser comparada com um
entimema2.
A expressão contém:
A parte realizada : o Texto
A parte implícita ou extratextual : o Contexto
com:
O Horizonte Comum
A Avaliação comum da situação
Para além do Horizonte Comum, já abordado anteriormente surge agora a avaliação
comum da situação que recai sobre o autor mas representa o seu enquadramento
numa moldura sociocultural mais vasta, pois um dos postulados de ensinar
dialogicamente é que nenhum acto criativo surge desprovido de um enquadramento
que o antecede e lhe confere sentido.
O “eu” apenas pode concretizar-se numa obra quando se apoia no “nós”. Desta forma
toda a expressão se assemelha a um entimema social objectivo. É como um código
conhecido por aqueles que pertencem ao mesmo horizonte social
A expressão é construída num meio social, podemos conceber inclusivamente a
expressão mínima como englobando apenas dois intervenientes socialmente
organizados. Do ponto de vista do autor, mesmo quando não está na presença directa
da sua comunidade sociocultural ele pressupõe como receptor da sua expressão uma
imagem de um representante idealizado do grupo sociocultural ao qual pertence.
2
Entimema: Forma de silogismo em que uma das premissas não é expressa mas
presumida.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
58
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
A expressão é determinada pelas condições reais que a envolvem (podemos
considerar aqui as forças vivas), assim como pelo seu enquadramento social.
As reacções da sua comunidade sociocultural são assim integradas antecipadamente
na expressão do autor fazendo parte da sua própria génese.
A partir deste ponto impõe-se uma reflexão estruturada no texto Naked; Arte e
respondente/ Contexto que responde, do Prof. Ricardo Zúquete, sobre os Early
philosophical essays de Mikhail Bakhtin (13).
A compreensão das diversas áreas do conhecimento e cognição , seja arte ou estética,
pode ser feita pela leitura e entendimento das suas fronteiras. Qualquer ponto de vista
criativo, destas áreas, só terá correlação com outros pontos de vista de outras áreas.
Surge assim a “distinção criativa” […] Um acto cultural, fora de uma participação neste
processo cultural unitário , passa a considerar-se um “facto a nu”, (naked fact) cuja
distinção, selecção ou hierarquia será a partir de condições e avaliações arbitrárias.
(Zúquete,2003, Naked,p.1)
Continuando a citar:
Para além deste território de fronteira, ou espaço de limite das diversas áreas do
conhecimento, quanto ao território interior ou corpo deste conhecimento, Bakhtin diz
não existir como espaço neutral, de princípios ou conhecimentos determinados e
estáveis, mas que todas essas áreas do conhecimento se constituem sobre um espaço
de fronteira, local por onde perpassam tensões das indeterminadas possibilidades de
relação e troca em termos cognitivos. Assim seria um corpo imaginável composto pelas
incomensuráveis questões da epistemologia do conhecimento em constante equilíbrio
referencial de balanço, troca e contaminações, avaliando uma espécie de prestação
constante de todo o conhecimento, gerador de elementos transformadores, que dentro
dessa cultura unitária seriam avaliados e justificados e também factor de desequilíbrio
e descoberta de novas possibilidades ou outros equilíbrios possíveis. Por outras
palavras o equilíbrio fundamenta e confere significado ao acto cultural, que fora desta
sistematização unitária da cultura não é aferível e torna-se finito, impossibilitando
continuação. (Zúquete,2003, Naked,p.2)
Podemos constatar aqui a importância da comunidade sociocultural no artista, e, algo
até agora ainda não mencionado: a transversalidade do conhecimento cultural entre as
diversas áreas (arquitectura, literatura, escultura, pintura e mesmo áreas das ciências
naturais); a importância do território de fronteira para a plena compreensão do
Contexto da obra, continuando a citar:
Só nesta concreta sistematização , ou seja, nesta responsabilização e orientação não
mediata, e dentro da unidade cultural, esse fenómeno deixa de ser um simples facto
que existe , facto nu (naked fact), adquirindo significado e validação, tornando-se uma
José Manuel Mendonça Naves Pinto
59
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
espécie de mónade, ou seja, reflectindo tudo em si mesmo, e sendo reflectido em tudo.
(Zúquete,2003, Naked,p.2)
O acto cultural como mónade adquire o significado de uma substância que pertence e
indica todas as outras partes.
Esta passagem para as partes será a aquisição de significado e validação sobre uma
linha de enunciado geradora de significado. Ou seja, o facto nuclear, na sua
fundamentação gera um dispositivo como propunha Focault, sobre uma linha invisível e
3
indizível “estreitamente enredada nas outras é todavia desenredável” .
Nenhum acto cultural , de acordo com Bakhtin, terá relação com matérias
desordenadas indiferentes a valorações, sem pertença ao fio de um dispositivo e à sua
enunciação. Ao contrário, este acto tem sempre uma qualquer relação com matérias já
avaliadas e ordenadas de alguma maneira, e em relação às quais “tem que assumir,
responsavelmente, a sua própria valoração”. (Zúquete,2003, Naked,p.2)
Nesta última frase, sublinhada podíamos sintetizar a essência do dialogismo no ensino
e a importância fundamental da expressão para conseguir o objectivo que caracteriza
segundo Bakhtin o acto cultural.
Neste ponto devemos considerar como parte da expressão a leitura e interpretação
correcta de textos anteriores, restituindo-lhes o seu contexto de génese, que irá
permitir compreender a sua dimensão cultural (dimensão que para quem apenas
percepciona um naked fact permanece oculta). Podemos agora percepcionar esses
textos anteriores como expressões.
Do ponto de vista de Mikhail Bakhtin a expressão irá subsequentemente organizar a
essência, dando-lhe forma e organizando o seu sentido, Bakhtin afirma mesmo que
fora do domínio da expressão não existe qualquer essência, sendo a expressão o seu
berço.
Para terminar o tópico relativo ao conceito de expressão refiro resumidamente as
noções de significação e tema, que compõem igualmente a expressão
3
refere-se Gilles Deleuze segundo os princípios filosóficos e epistemológicos como
propõe Focault no seu “Dispositivo”
José Manuel Mendonça Naves Pinto
60
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Expressão:
Significação:
Consideramos todos os momentos da expressão que são reiterativos entre si em
todas as repetições, logo só ganhando sentido graças ao Tema.
Desenvolve-se num plano abstracto.
Tema:
O tema, tal como a expressão da qual faz parte é sempre único, pois resulta do
encontro da significação com um contexto único.
O tema é individual e não-reiterativo e manifesta a situação histórica concreta que
origina a expressão.
O tema contém a morfologia da expressão e também os seus aspectos extravertais.
Engloba uma série de valores axiológicos e sociais.
Podemos ainda reflectir sobre a consideração de Bakhtin em que afirma que as
expressões só são belas de acordo com a sua posição relativamente à unidade social
da vida e especialmente à unidade do horizonte ideológico e axiológico.
A expressão é apenas o cenário de um determinado evento, reproduzindo todo um
contexto de relações sociais; autor e receptor não estão fora do evento arquitectónico
mas no seu interior, sendo os seus constituintes necessários. Só podemos considerar
o receptor/espectador da mesma forma que o próprio autor o considera: aquele para
quem a obra é orientada e por essa mesma razão determina a sua estrutura.
No primeiro livro assinado por Mikhail Bakhtin com o seu próprio nome surge a
dimensão final da expressão, destinada a desempenhar um grande papel, afirma este
que cada expressão está também relacionada com expressões anteriores, criando
assim relações intertextuais.
Nenhuma linguagem é neutra, contém sempre aspirações e avaliações de outros (é
habitada pelo outro) e o autor intervém no seu próprio contexto a partir de outros
contextos já impregnados da intencionalidade dos outros. A sua intencionalidade
encontra um mundo já habitado.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
61
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
É dentro das pré-existências que o processo artístico se deve movimentar
encontrando as suas opções de expressão.
Avançamos assim para o terceiro conceito fundamental.
Terceiro Conceito
Intertextualidade
De acordo com o mencionado: cada expressão tem sempre relações com outras
expressões anteriores; chamemos-lhe Intertextualidade.
A própria teoria da expressão é para Bakhtin um desvio inevitável para estudar
finalmente esta faceta da questão.
Bakhtin utilizou pela primeira vez o termo dialogismo para designar a relação entre
expressões, no entanto como vimos no primeiro conceito, o dialogismo engloba uma
grande multiplicidade de significados e Tzvetan Todorov, no alinhamento das próprias
concepções de Bakhtin especifica a relação entre expressões com o termo
Intertextualidade.
Assim sendo o termo Intertextualidade serve para designar as relações entre
expressões, com todas as implicações anteriormente constatadas, e salientando a
relação que uma expressão constrói com outras anteriores.
Duas obras, duas expressões. Estas quando justapostas entram numa espécie
particular de relação semântica, que chamaremos dialogico-intertextutal. Estas
relações são profundamente específicas devido ao facto da expressão ser única no
espaço e no tempo. Para além disso as relações dialógico-intertextuais devem ser
constituídas por expressões completas ou potencialmente completas através das
quais encontraremos o seu autor.
As relações dialógicas intertextuais são profundamente específicas e não podem ser
reduzidas a relações do tipo lógico, psicológico ou mecânico. É um tipo particular de
José Manuel Mendonça Naves Pinto
62
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
relação semântica , cujas partes devem ser constituídas por expressões completas (ou
consideradas como potencialmente completas) atrás das quais figura o autor.
A expressão é considerada como prova ou testemunho do autor.
Para evidenciar aquilo que é importante na avaliação de uma intertextualidade Bakhtin
afirma que quando duas expressões são provenientes de origens completamente
distintas elas interagem intertextualmente. Esse contraste de proveniências objectiva a
sua “concepção do mundo” assim como o sistema de valores axiológicos em questão.
A intertextualidade representa pois, o diálogo do autor presente com o autor de base,
sendo ambas as expressões absolutamente intencionais, responsáveis e aferíveis
como acto cultural pleno.
O aluno transpõe assim o dialogismo comum e entra no campo do conhecimento
esclarecido e erudito da expressão respondendo ao primeiro autor num acto válido
culturalmente a todos os níveis, que representa o objectivo principal do
ensino
dialógico.
Só na plena compreensão do texto e do contexto que constituem a expressão base,
pode o aluno responder a todos os textos que o precedem e que transformará em
expressões suas.
O sucesso na restituição do contexto é aqui considerado como fundamental para o
sucesso do aluno, e pode proporcionar-lhe a experiência de reviver mentalmente
épocas e personalidades de referência.
Devo salientar que foi aqui depurada a visão de Todorov , fundamentada em Bakhtin
sobre a intertextualidade, mas o importante não é o “decalcar” da intertextualidade no
campo original da literatura, mas sim a fundação de um conceito equivalente no
campo da educação.
Nenhuma expressão é privada de dimensão intertextual. Numa das suas primeiras
publicações Voloshinov/Bakhtin afirma que cada expressão é referente a pelo menos
dois sujeitos, sendo um potencial dialogismo.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
63
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Pelo menos dois homens, ou, mais precisamente o homem e o seu grupo social,
incarnado pelo seu representante ideal, que participa activamente a nível interno e
externo na expressão do primeiro.4
Nos seus últimos escritos Bakhtin vai insistir particularmente na intertextualidade,
referindo que qualquer tema de uma expressão, de uma forma ou de outra, já foi
abordado no passado, sendo impossível não encontrar expressões anteriores.
A orientação dialógico-intertextual é uma óbvia característica fenomenológica de toda
a expressão. É o objectivo natural das forças vivas que a integram. A expressão
alicerça-se na expressão do outro em todos os caminhos que conduzem à realização
do seu tema, e inevitavelmente entram em interacção.
Apenas o mítico e totalmente só Adão, querendo proferir uma palavra virgem para
realizar a primeira expressão poderia evitar estas reorientações que expressões
anteriores provocam no percurso para atingir o objecto da nossa própria expressão.5
As expressões que fazemos transportam dentro de si os traços de formulações
anteriores. A realidade material da existência já foi “tocada” pelo menos uma vez em
estados anteriores por outras expressões, que acabamos normalmente por encontrar.
A única distinção que pode ser estabelecida a este respeito não diz respeito à falta de
intertextualidade entre expressões, mas entre dois papéis :um fraco e outro forte, que
a intertextualidade pode desempenhar na obra de arte/arquitectura.
Aplicação do dialogismo no ensino
4
Voloshinov/ Bakhtin; Discurso na vida e discurso na arte
5
M. Bakhtin; Discurso no romançe em A imaginação dialógica
José Manuel Mendonça Naves Pinto
64
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Uma vez definida a importância de cada um dos conceitos vou apenas sintetizar a sua
aplicação no âmbito do ensino num exercício de arquitectura. Faço-o por ser a minha
formação base, o campo do conhecimento onde considero ter mais bases teóricas e
práticas. A transposição do exemplo mencionado poderá ser feita para o âmbito
alargado do ensino das artes visuais.
De forma sintética os objectivos intencionais são:
.1 Definir a moldura contextual do projecto
Vamos considerar a intervenção proposta no âmbito de um exercício de arquitectura
num local predeterminado da cidade de Lisboa. O primeiro passo consiste na definição
por parte do aluno da moldura contextual que o exercício específico impõe. Esta
definição obriga a uma filtragem dos textos envolventes e a uma hierarquização,
considerando os mais relevantes para o objectivo do projecto em causa.
O texto pode ser completamente fornecido pelo professor libertando o aluno desta
tarefa, mas dado o contexto sociocultural em que vivemos aconselho vivamente a
responsabilização dos alunos pela definição de molduras contextuais, factor
pedagógico compensador da ausência de limites e da não-linearidade que envolve a
vivência de muitos , num mundo sobrecarregado de informação e dialogo não-linear.
.2 Deduzir o significado das obras existentes (transformar o texto em expressão)
O aluno deve restituir o contexto e intencionalidade do objecto arquitectónico de
estudo:
Voltemos agora ao exercício de arquitectura. Na posse do texto o aluno distingue-se
no estudo da arquitectura pela visão responsável e culta que o arquitecto deve ter.
O aluno que no início poderá ver no texto um naked fact, vai caminhar na direcção do
encontro da arquitectura com a sua “dimensão oculta” de fenómeno de significação
cultural profundo. Assim sendo terá de transformar o texto existente em expressão
aprendendo o possível sobre o contexto que envolveu a sua produção. O contexto já
foi desenvolvido nos capítulos anteriores (nomeadamente no tema subordinado à
José Manuel Mendonça Naves Pinto
65
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
expressão), mas relembro que factores como as aspirações socioculturais, a
arquitectura enquanto mónade que reflecte todas as áreas do conhecimento humano
de uma dada época e o cunho pessoal do seu autor são temas que importa estudar,
assim como a relação do autor da expressão base com outras expressões anteriores
relevantes.
Recordo a inteligente relação de Le Corbusier com os traçados reguladores de origem
clássica; a proporção áurea representa um ideal transcendental humanista de uma
poética profunda que revela a arquitectura na sua dimensão mais nobre: o conceito
que tudo orienta e a tudo transcende.
Ao englobar todo o contexto no texto, este último passará a fazer sentido de uma
forma intencional e erudita para o aluno e eleva-o a um nível superior de quem apenas
lida com naked facts (facto comum na construção em Portugal).
A compreensão da intencionalidade que a expressão agora obtida revela permite
também ao aluno começar o seu próprio processo de expressão e entrar na próxima
fase.
.3 Projectar com intencionalidade entendendo o contexto (expressar)
Neste ponto o aluno que compreendeu a importância das fases anteriores está apto a
projectar a um nível em que a arquitectura é um statment do ponto de vista cultural e
ultrapassa a dimensão dos projectos feitos de forma gratuita, baseados em imagens
que fazem parte de informação por vezes pouco culta, que os media associados à
arquitectura entendem veicular.
A arquitectura de revista produz miragens em muitos alunos que não conseguem na
realidade entrar na dimensão cultural e perceber que a arquitectura não é apenas
imagem mas algo mais profundo e estruturante: o seu conceito.
Os exemplos de autores clássicos como Adolf Loos, Le Corbusier, Alvar Aalto, Louis I.
Khan, Alvaro Siza e tantos outros , só podem contribuir no sentido de inspirar o aluno
a entender o seu próprio contexto, como estes autores fizeram e fazem. O contexto
contemporâneo como mónade do seu tempo reflectido as aspirações mais
abrangentes da sociedade é o que se pretende.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
66
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
A capacidade do aluno em entender o seu próprio contexto é essencial nesta fase,
assim como constituir uma relação com as expressões de base, ou seja, os textos a
partir dos quais iniciou o seu exercício, empreendendo entre a expressão presente e a
expressão base a intertextualidade.
A intertextualidade é influenciada pelos aspectos comuns das expressões como o
Tema, por exemplo, e será alvo da próxima fase.
.4 Intertextualidade: revelar a aptidão em utilizar expressões de base para construir
novas expressões
A intertextualidade representa a relação entre expressões. Clarifiquemos do ponto de
vista pedagógico este conceito.
O termo original seria dialogico-intertextual segundo interpretação pessoal que fiz
sobre os escritos de Bakhtin mas Tzvetan Todorov resolveu adoptar o termo lançado
por Júlia Kristeva .
Detenho-me no termo original: dialogia-intertextual, este denota que voltamos à
génese de todo o método mas agora num nível superior.
A intertextualidade pressupõe uma dialogia entre a expressão proposta e a expressão
de base, sendo o Tema de cada uma das expressões um aspecto fundamental entre
outros ; consonante, dissonante, contraste, harmonia, provocação, podem fazer parte
das intenções do autor presente, no entanto não percamos de vista que a
intertextualidade versa essencialmente sobre a dimensão comum e contínua em que o
texto presente se alicerçou no texto base sendo este aspecto passível de avaliação
pelo professor.
A intertextualidade revela a aptidão em utilizar expressões de base para construir
novas expressões por parte do aluno e quanto mais o projecto se situar na fronteira de
trocas em que uma expressão contamina a outra mais interessante será.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
67
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Por uma Intertextualidade segundo Bakhtin
A aplicação destes conceitos à totalidade das ciências humanas e expressões
artísticas, (assim como à arquitectura) sempre foi o objectivo de Mikhail Bakhtin.
Falamos agora dos seus conceitos no campo de estudos de base essencial para
compreender o ser humano: a expressão verbal e posteriormente a literatura pois o
seu estado original permitirá acompanhar melhor a dinâmica do debate teórico sobre a
sua aplicação.
Mikhail Bakhtin e o seu enquadramento teórico
O termo intertextualidade surge nos escritos de Julia Kristeva da década de 60, ao
basear-se nos trabalhos do até então desconhecido teórico Mikhail Bakhtin, o trabalho
deste, hoje altamente influente a todos os níveis era à data desconhecido, muito do
qual nem fora sequer publicado.
O termo que Bakhtin sugerira dever destacar-se dentro do dialogismo surge assim
pela mão de Kristeva, sendo adoptado por Todorov posteriormente na sua síntese
sobre os escritos de Bakhtin intitulada “The Dialogical Principle”. O conceito de
intertextualidade é fundamental e tendo sido aceite por todos os críticos e não pode
ser dissociado do trabalho de Bakhtin.
O Bakhtin de hoje não é o mesmo em que Kristeva se baseou, pois temos a plena
visão da sua obra, no entanto convém relembrar o contributo da investigadora para
iniciar a sua divulgação . Qualquer conceito de intertextualidade depende dos seus
escritos como salienta Todorov.
No seu próprio contexto Bakhtin ultrapassa tanto os formalistas russos como Saussure
ao explicar que a linguagem existe em situações sociais específicas contendo uma
série de avaliações implícitas, assim sendo a linguagem como Saussure propunha não
passava de um “objectivismo abstracto”.
O conceito chave para Bakhtin é “expressão”, uma palavra que captura o humanismo
e especificidade social da linguagem. Tal como o próprio descreve “ a mera presença
da expressão tem significado histórico e social” revelando a interacção de indivíduos
em contextos socioculturais específicos.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
68
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O aspecto mais crucial da linguagem nesta perspectiva é responder sempre a
expressões anteriores e padrões pré-existentes de significado e avaliação, procurando
também respostas futuras. Surge assim a intertextualidade, na procura de responder
ao que foi dito anteriormente numa constante interacção.
A linguagem para Bakhtin é relacionável não pelo seu posicionamento num sistema
abstracto, mas devido à natureza concreta da sua situação social.
A palavra tem duas faces : determinada por quem a pronuncia e pela pessoa a quem
se dirige. A relação recíproca entre quem se expressa e quem recebe visa atingir o
ponto de vista do outro e até da sociedade de ambos.
A palavra é uma ponte lançada entre mim e o outro, dependendo de ambos num
território partilhado por ambos.
O dialogismo , para Bakhtin, é o elemento-chave constituinte de toda a linguagem, no
entanto importa esclarecer um aspecto chave:
Se estiverem envolvidos conflitos de ideologias (e classes sociais) pode haver
repressão do dialogismo perpetrada pelo poder estabelecido. Bakhtin fala mesmo de
como juízos de valor dialógicos podem ser alvo de repressão para serem convertidos,
pelo poder estabelecido, em expressões monológicas. O teórico russo menciona
mesmo uma tendência de luta pelo poder
simbolizada em expressões dialógicas
versus expressões monológicas.
Esta é a prova do verdadeiro carácter democrático de Mikhail Bakhtin (censurado pelo
regime soviético), esclarecendo qualquer dúvida que possa subsistir em teóricos que
debatam o assunto.
No que diz respeito ao autor Bakhtin nunca vai negar o seu papel, mantendo-o sempre
standing behind the work of art. O autor não pertence à obra de arte como sendo uma
voz autoritária, nem retira as personagens de uma imaginação completamente original.
Ao explorar os possíveis significados de um texto Bakhtin surge perante a
intertextualidade. Todas as expressões dependeriam de expressões anteriores, por
vezes competindo entre si, nenhuma delas sendo um acto isolado. Daqui surge a
noção de equilíbrio da expressão na fronteira das aspirações socio-culturais do seu
contexto, assim como as interpretações possíveis na resposta a situações anteriores e
José Manuel Mendonça Naves Pinto
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
aspiração a respostas futuras. Bakhtin já pretendia uma nova designação para esta
especificidade do dialogismo tendo chegado a aparecer o termo “intertextual” nos seus
escritos. Este foi definitivamente adoptado por Julia Kristeva e Tzvetan Todorov. A
visão da intertextualidade de Bakhtin é essencialmente social, tal como a sua filosofia
sobre o ser humano.
As novas tecnologias: Hipertextualidade e Intertextualidade
O romance “O Nome da Rosa” de Umberto Eco atinge o seu clímax apocalíptico
quando a biblioteca que contém todo o conhecimento do mundo é destruída por um
incêndio. Esta narração tem a sua intertextualidade histórica na destruição da
biblioteca de Alexandria, ou da biblioteca medieval de Monte Cassino.
As novas tecnologias apresentam-nos agora uma nova forma de textualidade muito
mais flexível e prestável a manipulação, assim como mais acessível. Uma das
características da World Wide Web é a sua maior capacidade para interconexão de
textos do que os antigos livros impressos.
A Web apresenta uma nova forma de intertextualidade que manifesta até em excesso
alguns dos conceitos apresentados neste estudo. Este sistema de computadores
parece até transportar-nos de novo para a ideia medieval da Biblioteca total,
eventualmente correspondendo aos ideais de William of Baskerville em “O Nome da
Rosa”.
Podemos estabelecer uma biblioteca hipertextual como sendo aquela onde os leitores
terão a possibilidade de escolher qualquer um dos caminhos existentes, ou definirem
um caminho novo através de textos, deixando-o para outros leitores seguirem se
assim o entenderem. O que obtemos desta especulação é a visão da biblioteca como
um corpo hipertextual de conhecimento no qual podemos ler e adicionar os nossos
textos.
O Hipertexto é uma estrutura variável composta por blocos de texto , ou lexias, assim
como os links que os unem. É um conceito diferente da simples digitalização de um
livro, por exemplo.
Podemos considerar o Hipertexto como sendo um único texto dividido em lexias, com
os links correspondentes; pode igualmente ser um texto completo com uma sequência
de outros textos completos embebida.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Os leitores do hipertexto têm uma rede de links que podem seguir na ordem que
entenderem construindo várias correntes de lexias, segundo o contexto que os move.
A possibilidade dos leitores adicionarem o seu próprio conteúdo ao texto desafia
inclusivamente o conceito tradicional de leitura.
A sequência de leitura de um texto ganha agora novas e inéditas possibilidades: a
leitura não-linear.
Devido ao facto do hipertexto “quebrar” a nossa maneira habitual de compreender a
expressão dos textos, desafia estudantes, professores e teóricos da literatura: no
entanto também podem ocorrer revelações, nomeadamente tornam-se visíveis
processos de leitura que sempre fizeram parte das possibilidades que o texto oferece.
O texto que está fixo materialmente no livro nunca teve de ser encarado pelo leitor
como linear ou circunscrito ao seu suporte físico.
Surgem assim novos conceitos nesta era da hipertextualidade: o texto não-linear, o
diálogo não-linear e eventualmente a expressão não-linear, com todas as
possibilidades que oferecem em novas descobertas teóricas.
O sistema de hipertexto e a forma como lidamos com ele pode estar particularmente
relacionado com as teorias da intertextualidade. Tal como Landow6 afirma , nenhum
conceito é mais pertinente para esta nova tecnologia do que o da intertextualidade,
sendo a textualidade gerada através da tecnologia fundamentalmente um fenómeno
intertextual.
Os sistemas hipertextuais permitem-nos ramificar um aparente texto-base em
caminhos intertextuais, de tal forma que o texto-base se transforma em mais um texto
numa cadeia intertextual. O hipertexto “quebra” a noção de linearidade num texto: já
não o lemos do princípio para o fim como se a sequência fosse essencial para o seu
significado.
6
Geprge P. Landow; Johns Hopkins University
José Manuel Mendonça Naves Pinto
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
A expressão de um texto pode agora depender de um corpo de outros textos, que se
tornam parte da experiência da leitura, renovando assim o conceito de fronteira do
texto segundo esta nova leitura hipertextual.
A importância de Bakhtin (e do seu conceito de intertextualidade) começa a revelar-se
na capacidade do leitor “quebrar” a linearidade do texto ao activar links, adicionando
comentários e outras lexias. Confirma-se assim o papel do leitor em conferir
significado ao texto.
O hipertexto salienta o papel do autor e do receptor como participantes conjuntos de
uma intertextualidade plena de significados. A hipertextualidade engloba muitas das
ideias e atitudes propostas por Focault, no que toca à troca de conhecimentos em
territórios de fronteira, como já mencionamos.
O leitor pode também consultar textos escritos por outros leitores (sobre o texto base)
e contribuir para o debate adicionando os seus próprios comentários (textos).
Estes sistemas transcendem a noção unidireccional (do texto para o leitor) para
sistemas activos que transformem o leitor num interveniente dialógico que colabora na
geração de significado do texto. Landow compara este leitor do universo hipertextual
com os conceitos de Bakhtin, fundamentais na origem da teoria da intertextualidade;
segundo Landow e Graham Allen (14), o dialogismo de Mikhail Bakhtin é uma das
grandes esperanças na teorização da hipertextualidade que urge ser feita.
Este sistema não é favorável à noção de que o texto seja de natureza monológica
(como havíamos estudado no campo da Ciências Naturais). Sendo um sistema
humanístico, o conceito de dialogismo adapta-se bem à sua natureza, para tal
mencionamos o exemplo seguinte:
O leitor do texto, se este for composto por várias lexias interligadas pode agora
escolher um caminho de leitura onde no final de uma lexia decide qual a lexia
seguinte, fazendo com que a leitura do texto seja um acontecimento único e
possibilitando ao hipertexto gerar um texto diferente de cada vez que é lido.
Esta interacção por módulos independentes de forma sempre pessoal e dialógica faz
com que esta relação entre autor e leitor se torne na própria história.
Se o computador é o ponto de intersecção entre o espaço físico e o cyberespaço, o
texto é o portal para um novo espaço intertextual onde cada texto é a face exposta de
José Manuel Mendonça Naves Pinto
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
uma rede ilimitada de outros textos que podem estar potencialmente contidos no textobase.
Em resumo:
A multiplicidade e multiculturalidade da internet apenas favorecem a teoria de Bakhtin.
A teoria de intertextualidade profundamente democrática de Bakhtin emergem nesta
pluralidade de dialogismo e nos diferentes intervenientes de cada texto.
Neste momento está em aberto se a hipertextualidade vai incorporar tal papel
dialógico na multiplicidade, ou pelo contrário, ser um meio de homogeneização.
Poderá o hipertexto incorporar as diferenças entre géneros e nacionalidades?
O tipo de resposta que a hipertextualidade dará a estas questões será o resultado de
desenvolvimentos da própria tecnologia.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
73
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O DESENHO ENQUANTO PROCESSO
Este trabalho de investigação sobre temas que se pretendem inovadores para o
ensino das artes visuais não poderia deixar de ter nos seus objectivos um capítulo
sobre a importância do desenho neste novo contexto.
O desenho é o modo de transportar uma ideia ou conceito do espaço mental para o
espaço verdadeiro, podendo ser alvo de diversas abordagens. Partindo do princípio
que a visão é o sentido mais importante a partir do qual se recolhem as informações
sobre o meio ambiente, o principal dom a partir do qual nasce todo o conhecimento.
Projectar é tirar conclusões daquilo que se vê, para conduzir a mente pelo tempo e
pelo espaço reconhecendo o estado actual como um degrau para o futuro.
De acordo com Ralph Judd Lee da Universidade de Oxford (15)o projecto precisa de
um elemento com grande poder de antecipação que deve escolher meios de
representação de fácil manuseamento e permitir avaliar rapidamente as implicações
das propostas. O desenho tem estas qualidades e permite que os limites do imaginário
visual (conceptual span) e do imaginário perceptual (perceptual span) sejam mais
vastos do que seriam sem a sua existência. Embora reconhecendo que parte dos
problemas a resolver não são de natureza visual se não houver desenho terá
certamente de existir uma representação análoga, sendo que, pelo seu carácter de
veículo directo do pensamento para a mão será difícil em opinião pessoal substituir o
desenho por outro meio mais expedito de antecipação de propostas.
Ainda de acordo com Lee, o papel do desenho torna-se mais evidente se analisarmos
situações onde tem escassa ou nula utilização como no caso da arquitectura
vernácula. Aqui não há expansão de imaginários, sendo os modelos sucessivamente
repetidos com evoluções graduais a partir de experiências anteriores. Existem
vantagens e desvantagens: no primeiro caso o facto de a solução ser muito
experimentada, submetida a julgamento, respondendo melhor às necessidades de
projecto se não houver mudanças programáticas e materiais em relação aos modelos
testados. As limitações derivam da necessidade de recorrer a tentativas no caso de
emprego de outros materiais ou mudanças programáticas e dificuldade em visualizar
as soluções, ou seja, dificuldade em organizar a complexidade espacial.
Este capítulo tem o objectivo de reconhecer a necessidade do desenho no percurso
conceptual onde intervém em duas formas: como instrumento de concepção e suporte
José Manuel Mendonça Naves Pinto
74
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
físico
e
exploratório
imaginário
para
do
explicitar
do
arquitecto
as
suas
ideias, em segundo lugar
como
instrumento
comunicação
de
formalizada
até terceiros.
Ver começa por ser uma
recolha
Ilustração 22 - Jose Naves Pinto: esquisso e selecção do real
activa
das
do
meio
propriedades
envolvente e o desenho começa por ser a reprodução de um olhar. Neste sentido, a
tomada de consciência do espaço reflecte a própria formação intelectual do homem. A
cada época corresponde uma determinada visão do espaço o que levanta várias
questões de carácter cultural. Do ponto de vista da cultura ocidental o modo como
representamos a profundidade assumiu importância preponderante. Esta noção
implica um observador e a organização em função do seu campo visual.
Os sinais visuais captados pela percepção têm de ser transformados em marcas
gráficas estruturadas e significantes criando um espaço pictórico que permita
organizar o ambiente percebido. De acordo com o contexto ideológico da sociedade a
tridimensionalidade usa regras codificadas de modo a representar o real.
No desenho intervém trabalho manual mas também intelectual, criamos uma realidade
paralela no desenho, influenciada pelos nossos interesses num acto de selecção.
Diferentes observadores podem fazer diferentes representações dos objectos que
visualizam de acordo com os seus interesses.
A luz reflectida pelos objectos atinge a retina dos olhos sensibilizando as células
nervosas, que permitem ao cérebro compreender a localização, orientação,
movimento, tamanho, cor e outras características dos objectos. Mas apenas uma
reduzida parte da retina permite distinguir os pormenores dos objectos, o que obriga
os olhos a um constante percurso de pesquisa para apreender a realidade global. O
que vemos é a transformação dos estímulos visuais básicos em impressões
significantes através de uma sucessão de imagens retínicas, submetidas a leis de
constância mas diferentes para cada pessoa. No nosso pensamento visual
comparamos as imagens que se nos apresentam com as que temos memorizadas.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
75
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Destaca-se no desenho a utilização da perspectiva para explorar a ponte entre o
universo real e conceptual. Esta surge tipicamente no ocidente (no período clássico e
a partir do final da idade média) num contexto marcado pela exploração da
conceptualização racional do espaço de acordo com critérios análogos aos científicos,
em
liberdade
teológica,
transportando
a
medida
humana
para
o
espaço
percepcionado.
A base científica da perspectiva consiste no estudo da óptica de acordo com a
geometria euclidiana, a qual pressupõe a propagação da luz em linha recta, a
existência de um cone visual e a relação entre ângulos, dimensões e distâncias dos
objectos. Com a perspectiva surge a noção de janela, uma das marcas das ilustrações
que se integram no espírito ocidental. Os quadros passam a ser uma abertura para o
mundo percepcionado onde o espaço está sujeito a uma estrutura geométrica.
De acordo com Manuel Couceiro (16) o trabalho do arquitecto consiste na procura de
soluções para determinados problemas que irão alterar certas dimensões da relação
entre homem e espaço. Deve ser explícita a transformação do estado inicial de um
objecto arquitectónico relativamente ao estado final em que falamos de uma
viabilidade na materialização do novo objecto. A progressão entre estes estados é um
acto intelectual que se exprime pelo desenho de forma sequencial com tratamento de
informação e propostas de soluções para os problemas. Esse sistema tem duas
componentes principais:
Inteligência: é dinâmica, de acordo com interacções entre o sujeito e o seu meio,
assim como consigo próprio. Procuramos incorporar objectos no sistema de
representação e existe uma negociação entre a competência do arquitecto e o
problema a resolver.
Competência: representa o conhecimento específico que o arquitecto possui, com
métodos, modelos e processos de trabalho. Exige inteligência estruturada de acordo
com a disciplina da acção transformadora.
Este sistema de trabalho articula o espaço mental e criatividade do arquitecto com o
mundo exterior, ou espaço real.
Existem dois níveis conceptuais correspondentes àquilo que se quer exprimir ou
significado e ao meio de expressão que se usa nessa intenção, o significante.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
76
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
A resolução dos problemas
implica a visualização das
soluções:
desenhos
de
imagens virtuais que serão
sucessivamente renovadas de
acordo com o imaginário do
autor.
Representam
uma
síntese das forças principais
Ilustração 23 - José Naves Pinto: síntese e imaginário
do projecto que são alvo de
reflexão. Piaget estudou estas imagens mentais e concluiu que podem ser
classificadas como reprodutoras se agem em relação a pré-existências ou
antecipadoras se representam objectos ainda inexistentes. Estas últimas podem
representar uma interacção de várias fases de objectos inexistentes no caminho para
a proposta final do arquitecto num processo de visualização das etapas do imaginário.
Esta é uma dimensão fundamental do desenho no processo de projecto que se
mantém intemporal.
Todas as imagens tendem a fazer uma síntese dos objectos pela escolha dos seus
aspectos mais importantes a representar de acordo com os objectivos de projecto
podendo enaltecer-se determinadas características para melhor comunicação.
Este lado comunicativo do desenho é fundamental assumindo no projecto de
arquitectura um carácter que o distingue: o valor da comunicação gera expressões
muito próprias e subjacente está a possibilidade de o desenho ser entendido como um
meio e não como um fim .
Expressar ideias e comunica-las a terceiros é algo que em arquitectura se faz
essencialmente através do desenho. A grande complexidade que as imagens mentais
atingem obriga a torná-las exteriores à mente do autor, para serem tratadas sob a
forma gráfica a qual, por sua vez, influenciará a criação de novas imagens mentais.
Existe assim uma interacção entre imagens reais e virtuais no desenho, sendo a
imagem de síntese chamada de operativa. Para serem eficazes devem traduzir as
características mais importantes dos objectos e a capacidade do arquitecto inclui
representar no espaço objectos que ainda não existem, usando as regras que
estabeleceu no desenho assim como a sua gramática gráfica.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
77
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
As imagens operativas têm três
tipos
de
relações
espaciais
equacionadas por Piaget e que
hoje já se podem considerar
como clássicas: as topológicas,
as euclidianas e as projectivas.
As topológicas são as mais
Ilustração 24 - Rembrandt: gesto e sinais gráficos
elementares na organização de
um ambiente espacial no desenho e incluem relações de vizinhança, separação
envolvimento e continuidade, e classes de objectos. Estes últimos podem situar-se em
vários locais do espaço desenhado como por exemplo janelas ou colunas.
As relações euclidianas têm como característica manterem a relação entre ângulos e
distâncias na passagem do objecto para a sua representação, estabelecendo uma
estrutura de referenciação geométrica no desenho.
As relações projectivas não respeitam obrigatoriamente a estabilidade da distância
entre as partes,
mas conservam as posições reais relativas das várias figuras
segundo um sistema projectivo.
Aqui se incluem as relações de conjunto entre
objectos que podem estar exagerados mas mantêm uma relação entre as partes.
O aluno desenvolve a sua gramática de desenho que resulta do entendimento entre o
significado , aquilo que se pretende desenhar e o significante, o desenho propriamente
dito com resultado de um conjunto de meios. Essa gramática pode ser composta por
diversos sinais gráficos que importa desenvolver que importa serem convencionados
pelo aluno segundo uma tendência mais simbólica ou mais figurativa. A prática do
desenho torna-se assim fundamental.
Segundo Jean Charles Lebahar (17) as acções dos arquitectos progridem ao longo de
três grandes fases no processo de desenho que passamos a desenvolver:
O diagnóstico
O contexto do projecto e seus agentes iniciais marca esta fase que delimita o campo
de intervenção do arquitecto
José Manuel Mendonça Naves Pinto
78
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Surgem os primeiros elementos
gráficos que envolvem o desenho
do lugar e suas preexistências a
par
dos
desenhos
correspondentes,
topografia.
incluindo
O
complementado
técnicos
a
desenho,
ou
não
por
fotografia constitui uma primeira
inclusão
na
gramática
de
representação do lugar de projecto
que estabelece as regras para o
Ilustração 25 - José Naves Pinto. Moradia na Aroeira
desenvolvimento
das
propostas
futuras segundo uma base gráfica de projecto.
A simulação gráfica
Sobre a base de imagens operativas da fase anterior uma fase experimentalista de
propostas com o desenho a fazer a ponte entre o espaço mental do arquitecto e o
espaço real . Funciona como uma informação organizada onde o raciocínio pode
intervir e o desenho é um mediador que permite explorar modificações às propostas
possíveis que surgem do imaginário do arquitecto. Estes objectos gráficos fazem a
síntese de problemas muito complexos e o desenho é um acto de inteligência na
procura de respostas ao problema a resolver. A simulação gráfica não contempla
apenas desenhos baseados na percepção do autor, leia-se em perspectiva, podem
incluir projecções mais geométricas onde se ensaiam as relações euclidianas do
objecto.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
79
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Definição do modelo geométrico
O objectivo desta fase é alcançar uma representação definitiva e rigorosa do objecto
arquitectónico e a representação gráfica deve ser o menos ambígua possível.
De acordo com o modelo de Alberti, a verdadeira grandeza das dimensões lineares e
angulares é a prioridade mostrando a totalidade do objecto nas suas diversas facetas
e permitindo as quantificações necessárias à sua materialização.
O resultado é um modelo geométrico do objecto e dadas as características dos
elementos gráficos é compreensível uma utilização mais intensa do computador nesta
fase como auxiliar de definição do modelo
geométrico final.
Esta enumeração das três fases do processo
de Jean Charles Lebahar que, por sua vez se
apoia em bibliografia de Piaget serve para
apoiar a convicção de que existem duas fases
iniciais onde o desenho tem um papel
fundamental na eficiência e clarividência de
exploração do imaginário do arquitecto para a
solução dos projectos. Mesmo com o actual
recurso aos meios informáticos continuamos a
defender que só na terceira fase o computador
Ilustração 26 - Gustav Klimt . Esboço , (The Klimt
tem o seu pleno desempenho.
Collection,2013)
O carácter de síntese e comunicação directa das duas fases iniciais com o imaginário
do autor torna virtualmente impossível a substituição do desenho como meio mais
eficaz de sintetizar as primeiras fases do imaginário e estaremos perante um processo
clássico que se tenderá a manter com os novos meios digitais.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
80
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
BREVE RESUMO DOS OBJECTIVOS A VERIFICAR EM AULA
Em conformidade com o que foi estudado no Capítulo II referem-se então os
objectivos principais a verificar em aula de forma sucinta.
Os objectivos situam-se no campo do design como já foi mencionado e a escola da
Bauhaus é a referência pedagógica inicial que demonstra a importância da formação
artística mas também técnica neste campo. Mantendo estes pressupostos importa no
âmbito do estudo perceber o que pode ter evoluído no campo da técnica e quais os
novos desafios para o designer e arquitecto enquanto aluno.
De acordo com a digital turn e a bibliografia do MIT, apresentam-se como prioritárias o
estudo da variabilidade das formas de um projecto e as questões sobre o estatuto do
autor se for permitida a intervenção de terceiros no processo de produção.
•
Consegue o aluno lidar com projectos que se podem adaptar durante o
processo de produção?
•
Consegue o aluno incorporar outros contributos no processo criativo para
além do seu?
Correspondem estas perguntas aos objectivos 1 e 2 respectivamente:
•
perceber as novas possibilidades de projecto e produção de objectos de
design
•
actuar como um autor colectivo.
São os dois eixos fundamentais do trabalho aos quais de juntaram as questões de
observação da capacidade dos alunos em gerir o seu processo de aprendizagem e
trabalho em ambiente digital através de:
•
observação em aula da sua progressão no ambiente rizomático de
informação da internet.
Serão apresentas as conclusões possíveis relativas a estes objectivos de acordo com
a recolha e análise de dados do capítulo seguinte sendo que, existe num trabalho
desta natureza mais uma esperança de desenvolver um determinado campo de
estudos do que propriamente a convicção de que o rigor dos números apresentados
será absoluto.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
81
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
3º CAPÍTULO: RECOLHA E ANÁLISE DE DADOS
ANÁLISE DA CONCRETIZAÇÃO DOS OBJECTIVOS:
OBJECTIVO1: PERCEBER AS NOVAS POSSIBILIDADES DE
PROJECTO E PRODUÇÃO DE OBJECTOS DE DESIGN
Para este objectivo foram elaborados exercícios com os alunos utilizando o software
3D Studio Max.
Pretendeu-se avaliar a capacidade de manipulação formal através de um programa de
computador onde os objectos projectados passam a existir num espaço tridimensional
virtual. Através de cada aula os objectos projectados pelos alunos eram sujeitos a
alterações que o aluno respondia tentando equilibrar todo o conjunto compositivo.
Foram igualmente dadas instruções ao aluno para que o objecto fosse composto por
formas passíveis de sofrer alterações pelo cliente dentro de limites estabelecidos pelo
aluno.
Apesar da maior parte dos alunos conseguirem responder bem ao primeiro ponto, no
segundo apenas uma percentagem conseguiu efectivamente apresentar objectos
compostos por formas capazes de sofrerem metamorfoses. Já a maioria conseguiu
dar resposta a uma customização final por parte do cliente (terceiro ponto).
Manipulação de formas em aula
Bem sucedidos
Sucesso relativo
Não conseguiram
9%
5%
86%
Gráfico 1 – Capacidade dos alunos perceberem a resposta às alterações
feitas ao seu
projecto pelo professor, durante a aula
No segundo ponto do objectivo 1 os resultados foram menos positivos
José Manuel Mendonça Naves Pinto
82
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Formas passíveis de sofrer metamorfoses na
produção
Bem sucedidos
Sucesso relativo
Não conseguiram
41%
45%
14%
Gráfico2 – Avaliação da capacidade de perceber as possíveis metamorfoses que tornam as
formas mais adaptáveis
A maior parte dos alunos ainda está referenciada ao repertório formal convencional
sendo natural que estas novas solicitações não encontrem uma resposta em grande
parte de alunos muito jovens que ainda não pesquisaram alternativas formais que
possam responder ao que lhes foi pedido.
No entanto, dentro dos alunos que foram bem sucedidos puderam ser encontrados
exercícios com grande grau de maturidade no domínio formal. Por coincidência esses
alunos manifestavam interesse pela área do design revelando curiosidade pelas
inovações tecnológicas nesse campo, nas novas possibilidades de manipulação dos
materiais que foram aprendendo ao longo do ano lectivo nas aulas da Prof. Carla Gil
que complementavam as de Oficina de Multimédia.
Apresenta-se seguidamente o trabalho da aluna Teresa G. que aplicou superfícies de
vidro com um design intencional capaz de terem um grande grau de adaptabilidade a
mudanças de configuração e dimensões. O centro da peça que é um conjunto de
quatro garrafas em centro de mesa possui um ponto de convergência das peças que
também pode ser customizado de acordo com o cliente final.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
83
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Ilustração 27 - Teresa G. Centro de mesa em madeira e vidro
Como se pode observar na Fig. 27 é uma peça que já apresenta soluções muito
coerentes o que atesta (em conjunto com outros resultados) que os alunos bem
sucedidos tendem a apresentar um trabalho de boa qualidade o que parece
compensar a expressão percentual deste tipo de resultados no contexto da turma.
No que toca à capacidade de sofrer customização final os alunos apesar de estarem
mais referenciados a formas convencionais conseguiram sucesso tendo o seu
engenho compensado a questão formal como podemos observar na Fig. 28 onde a
aluna Beatriz consegue um conjunto de peças adaptáveis com design coerente.
Ilustração 28 - Beatriz : Joalharia com placa adaptável
pelo cliente
José Manuel Mendonça Naves Pinto
84
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
O trabalho da aluna apresenta uma série de peças de joalharia que podem ser
customizadas através de peças de encaixa, apesar do repertório formal permitir pouca
adaptabilidade se quisermos variar o seu processo de produção.
O mesmo não acontece no trabalho da aluna Sara, na Fig. 29, que pode ser
customizado a todos os níveis figurando no caso em que os alunos já exploram formas
de maior complexidade quando comparadas com a sua vivência quotidiana.
Estes três tópicos foram os seleccionados no âmbito do primeiro objectivo e a sua
interacção permitirá concluir até que ponto os
alunos estão bem preparados para lidar com formas
capazes de se adaptarem durante o processo de
produção de peças e pretendemos, nas conclusões,
sugerir que medidas tomar para corrigir esta
carência por parte dos estudantes.
Não pretendemos ajuizar se uma customização de
uma peça será positiva ou negativa do ponto de
vista psicológico, isso é algo que deixamos para o
objectivo 2, relacionado com o autor colectivo. O
que parece prioritário neste momento é que os
alunos sejam capazes de responder a solicitações
que o mercado de trabalho tenha um grau de
probabilidade de lhes fazer e por isso foi escolhida
uma bibliografia baseada numa instituição de
referência internacional, o MIT – Massachusetts
Institute os Technology.
Ilustração 29 - Sara : Jarra em formas orgânicas
Resta apenas analisar o gráfico do terceiro ponto em que a turma manifesta
capacidade para responder à customização do produto final por parte do cliente.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
85
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Formas capazes de serem customizadas pelo utilizador
Bem sucedidos
Sucesso relativo
Não conseguiram
32%
68%
0%
Gráfico 3 – Capacidade do aluno perceber e projectar de modo inclusivo para o cliente final
Como já foi ilustrado pelo trabalho da Beatriz na Fig. 28, os alunos conseguem de um
modo geral projectar peças que podem ser adaptadas pelo cliente apesar de
recorrerem a formas convencionais.
As três tabelas foram produzidas pela análise dos exercícios realizados em aula,
funcionando a turma do 12ºF da área de Artes Visuais como estudo de caso nestas
matérias.
Os trabalhos podem ser todos consultados em anexo, através de imagens dos painéis
que a turma apresentou no âmbito da exposição dos trabalhos de oficina de
multimédia para a comunidade escolar.
A avaliação formal dependerá sempre nalguma medida da experiência profissional
(para além do ensino) do professor e autor deste trabalho, onde teve de ser
contabilizado todo o contexto escolar que envolveu a produção das peças, para além
do resultado formal em si.
No capítulo seguinte procuraremos estabelecer algumas conclusões a partir dos dados
agora mencionadas assim como sugerir algumas intervenções.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
OBJECTIVO 2: ACTUAR COMO UM AUTOR COLECTIVO
Neste domínio procurou-se avaliar se os projectos realizados conseguem incluir a
participação de outro interveniente, para além do seu autor, ou seja, se as formas
projectadas são favoráveis a serem modificadas por outros.
Para além disso deu-se especial ênfase à componente psicológica de averiguar se o
aluno concorda com a inclusão de terceiros no processo de projecto e no caso de ser
inevitável como se sente acerca disso, ou seja se considera essa facto desmotivador
para o exercício da sua profissão no futuro; assim, foram alteradas as peças
projectadas por alguns alunos e foram questionados sobre o que acharam da
alteração feita aos seus projectos. Alguns projectos e respostas mais exemplares
encontram-se no Anexo III do trabalho a título de exemplo.
As respostas dadas foram analisadas segundo os critérios de: influência formal no
processo de design;
aceitação da intervenção de terceiros;
receptividade a uma
solução de compromisso; propostas para gestão do design da peça.
Influência do cliente nas formas do design
Influenciava o seu trabalho
Não influenciava o trabalho
32%
68%
Gráfico 4 – Influência da participação de terceiros nas formas do design
Como podemos constatar a maioria dos alunos declarou não se sentir influenciado
pelo facto de ter de adaptar o seu projecto às opiniões do cliente final , o que
José Manuel Mendonça Naves Pinto
87
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
representa um facto extremamente positivo para a adaptabilidade a uma eventual
mudança tecnológica e do estatuto do autor.
Quanto à receptividade a uma solução de compromisso, parâmetro que mede a
participação de terceiros já houve mais reservas por parte dos alunos , sendo de
salientar algumas declarações prestadas em questionário.
Receptividade a uma solução de compromisso
Favoráveis
não são favoráveis
45%
55%
Gráfico 5 – Receptividade do autor a uma solução de compromisso com terceiros
A aluna Catarina S. mencionou que “Em geral, acho que um artista tem que saber lidar
com situações deste género. Acho que se deve fazer o projecto final como achamos e,
se depois houver complicações com o cliente, tenta-se ajustar o projecto às ideias do
mesmo.”
A segurança dos alunos no seu estatuto de autor parece aumentar a predisposição
para aceitar a intervenção de terceiros. Neste sentido a aluna Raquel A. respondeu:
“Na minha opinião, sendo eu a artista penso que a maior parte do controlo deveria ser
minha, pois a minha função é dar vida à ideia ou conceito do cliente. Assim explicaria
ao cliente a minha visão do conceito e realizaria esboços e rascunhos para que ele
José Manuel Mendonça Naves Pinto
88
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
percebesse visualmente o que eu idealizei; se o cliente não concordar pediria que este
desse a sua opinião e que me indicasse as alterações que pretendia e eu teria de as
realizar.”
A generalidade dos alunos demonstrou aceitar estes novos aspectos como um desafio
,de certa forma estimulante, mas houve casos, como o da aluna Sara que
manifestamente preferia ter o controlo total sobre a peça :
“Gostando eu de manter sempre tudo sobre controlo, não me agrada particularmente
que depois de tanto trabalho alguém possa alterar a minha peça mas, acredito que
acaba por ser enriquecedor para mim, para a peça e para o cliente, pois "duas
cabeças pensam melhor que uma" e o resultado final pode sair em muito beneficiado.”
O factor aceitação da participação parece estar intimamente ligado com o controlo ser
de alguma forma mantido pelo projectista, quase como uma contrapartida. O aluno
está a manifestar que psicologicamente consegue trabalhar nessas condições mas
tendo um controlo sobre aquilo que o cliente vai mudar e a forma como o vai fazer.
Isso mesmo atesta o gráfico relativo às propostas para gestão do design da peça
José Manuel Mendonça Naves Pinto
89
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
14
12
12
10
8
6
6
3
4
1
2
0
Controlo total da
intervenção do
cliente
Intervenção livre Intervenção livre e Intervenção livre e
mas parâmetros parametros parciais parâmetros livres
fixos
à escolha
Propostas para gestão do design
Gráfico 6 – Propostas de controlo da peça por parte dos alunos
Como se pode observar pela tabela 6 a maioria dos alunos pretende controlar todo o
processo ou manter fixas as margens de intervenção por parte do cliente. Esta
contrapartida parece estar ligada a factores psicológicos que será aconselhável
respeitar sob pena de desmotivar o autor e perder qualidade no trabalho a
desenvolver.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
90
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
OBJECTIVO 3: IDENTIFICAR AS NOVAS POSSIBILIDADES
DE ESTUDO EM CONTEXTO DIGITAL
Para averiguar este objectivo foi criado pelo professor um site na internet com
conteúdo específico da disciplina que estava a leccionar mas também contendo vários
links para funcionar como plataforma de partida para um percurso de aprendizagem
em temas do design.
Por exemplo: tal como foi mencionado no capítulo II, a escola da Bauhaus é uma
referência importante sendo um dos links sobre documentários e material pedagógico
online.
Procurou-se avaliar se os alunos usaram a plataforma como ponto de partida para um
percurso pessoal próprio e qual a adesão geral à plataforma de estudo.
A avaliação foi feita por observação em aula tendo em conta a definição teórica do
conhecimento rizomático de Gilles Deleuze (6). A observação dos alunos respondeu a
parâmetros práticos para avaliar o sucesso dos gráficos que agora se apresentam.
O contador de visitantes do site também mediu a adesão dos alunos uma vez que o
mesmo tinha sido criado especificamente para a disciplina.
Nos anexos encontra-se a impressão das páginas principais do site criado para o
efeito.
A componente qualitativa do sucesso dos alunos neste domínio está subentendida no
gráfico que agora apresentamos tendo a grande maioria dos alunos sido bem
sucedidos neste campo.
Construção de uma pesquisa própria
Bem sucedidos
Sucesso relativo
Não conseguiram
0%
9%
91%
Gráfico 7 – Sucesso dos alunos na identificação de uma pesquisa própria de qualidade usando a internet
José Manuel Mendonça Naves Pinto
91
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Os 9% de alunos que ficaram pelo sucesso relativo devem esse facto à dispersão
provocada pela internet e representam igualmente uma franja de difícil controlo por
parte do professor, uma vez que na aula estamos sujeitos a múltiplas solicitações por
parte da turma sendo impossível controlar os alunos nesta matéria de modo completo.
Ainda assim teve de ser considerado o sucesso total no que toca à adesão à
plataforma de estudo pois todos os alunos visitaram o website.
Adesão à plataforma de estudo
Aderiram
Não aderiram
0%
100%
Gráfico 8 – Adesão dos alunos ao website criado
José Manuel Mendonça Naves Pinto
92
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
4º CAPÍTULO: CONCLUSÕES
DESENVOLVIMENTO DA VIRTUALIZAÇÃO DOS PROJECTOS
Por tudo o que foi escrito na investigação do Capítulo II e pela análise da importância
do objecto digital para o aluno em todo o processo de estudo surge uma conclusão
que acompanhou todo o trabalho como um currículo oculto:
Existe efectivamente uma mudança na “localização” do objecto de design do espaço
tridimensional real para o novo espaço virtual do meio digital, com argumentos como o
objecto de design tornar-se adaptável ou ganhar-se rigor na descrição do objecto.
Ao longo das últimas décadas o
meio digital tem aperfeiçoado a
capacidade
de
representações
manter
exactas
de
objectos num espaço [x,y,z] com
todas as características do real
excepto
a
existência
de
comportamentos segundo as leis
da
física,
no
entanto
a
componente do rigor de cálculo
tridimensional apresenta já as
qualidades que permitam falar de
um espaço virtual.
Poderia definir um espaço virtual
Ilustração 30 – Simulação de alterações do cliente ao trabalho da aluna Teresa
G.
como
possuindo
todas
as
características do espaço real
mas ficando localizado num ambiente gerado por uma simulação de base algorítmica
e matemática assente em microprocessadores com capacidade para calcular as suas
leis em fracções de segundo.
Assim, o aluno pode rodar uma peça e observar todos os seus ângulos como se o
fizesse segurando fisicamente o objecto.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
93
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Existem duas componentes:
•
espaço virtual onde a peça está construída
•
correspondência do espaço virtual à percepção sensorial do projectista
Do ponto de vista da descrição geométrica da peça podemos falar de uma simulação
virtualmente perfeita do universo físico, mas da correspondência à percepção
sensorial do projectista existe sem dúvida espaço para evolução, sendo actualmente
essa função desempenhada pelo ecrã dos computadores onde trabalhamos.
As vantagens deste espaço virtual
são muitas e de grande importância.
Numa altura em que a conjuntura
económica dificulta o exercício da
arquitectura e pode inclusivamente
diminuir a procura de peças de
design, o aluno e futuro profissional
pode
manter
uma
produção
de
designs sob a forma virtual e a
produção de tais peças torna-se
numa
possibilidade
em
qualquer
momento futuro onde as condições o
Ilustração 31 – máscara em metal feita pela aluna Raquel A.
justifiquem pois ficam armazenadas
em suporte digital.
Apesar de não ter encontrado bibliografia que desenvolvesse especificamente o tema
da crescente virtualização dos objectos de projecto, parece-me que neste momento as
investigações disseram sobre aquilo que está efectivamente a acontecer do ponto de
vista prático como argumentos que confirmam este facto.
Este trabalho regista essa virtualização em duas componentes: nas consequências
profissionais futuras a partir da evolução de aspectos práticos da produção e consumo
de peças de design, leia-se a possibilidade de adaptação das peças e participação do
cliente e, por outro lado, no trabalho de sala de aula os alunos demonstram de um
modo empírico corresponder a este tipo de construção do projecto (e diz-se
José Manuel Mendonça Naves Pinto
94
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
“construção” pois o termo pode tender a substituir “representação”) pois compreendem
que apesar do objecto não ser construído ficam com uma construção virtual do
mesmo.
Essa construção virtual, para o aluno, fica a um passo do objecto real faltando
introduzir a componente de comportamento físico que daria a simulação final quanto à
materialidade das peças.
Como já foi referido, na bibliografia que estudei, os autores preferem, de um modo
geral explorar aspectos práticos ligados à utilização da tecnologia digital do que falar
directamente na virtualização do projecto. Esta surge como somatório de
consequências que estão ainda em estudo mas neste momento os indicadores são já
significativos.
UM NOVO GRAU DE APROXIMAÇÃO AO OBJECTO FINAL
A maior parte dos alunos adaptou-se bem à manipulação de objectos num espaço
tridimensional virtual. Mesmo sem abordar as questões relativas à possibilidade de
formas evolutivas ou intervenção de terceiros , os alunos parecem entender o meio
virtual como uma vantagem técnica e compositiva para o seu projecto. Tal conclusão
foi sobretudo verificada por observação em sala de aula e a razão para este
procedimento por parte dos alunos tem a ver com o desejo de materialização natural a
qualquer autor.
O ambiente virtual permite um novo grau de aproximação à materialização até agora
inexistente e o instinto de autor encarrega-se de despertar a curiosidade do aluno.
FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Pode-se assim concluir com bastante margem de segura que o professor terá de
preparar-se para este novo campo de estudos através de formação a nível pessoal ou
promovida pelas escolas e entidades responsáveis o que implica um investimento que
importa acautelar.
Felizmente, de acordo com o que foi mencionado no terceiro objectivo, os meios
digitais de aprendizagem proporcionam uma alternativa de baixo custo se tivermos em
José Manuel Mendonça Naves Pinto
95
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
conta o factor actualização e rigor, sendo o domínio do idioma inglês indispensável
pois a maior parte dos fabricantes de software publicam os seus tutoriais nesta língua.
OBJECTIVO 1:
NOVAS
PRODUÇÃO DE DESIGN
POSSIBILIDADES
DE
PROJECTO
E
FILTRAGEM DIALÓGICA DA
TECNOLOGIA
PARA
CONTEXTO PORTUGUÊS
O
Quanto às novas possibilidade
de projecto, conclui-se que a
maior parte dos alunos adere
de forma entusiasta ao novo
meio
de
representação
dos
objectos e consegue responder
aos desafios de manipulação
formal em tempo de aula, mas
quando queremos
maturidade
do
desenvolvimento
Ilustração 32 – Matilde e Joana: Joalharia
avaliar
aluno
de
a
no
uma
gramática formal que consiga
tirar partido das novas possibilidades de produzir formas que podem evoluir em
sequência durante a produção verificamos que é necessário desenvolver algum
trabalho neste domínio.
A pesquisa envolve o professor, em primeiro lugar, que deverá ficar ciente daquilo que
está a acontecer neste domínio e fazer a necessária filtragem para o contexto
português de modo a que os meios ensinados sejam pertinentes na prática
profissional quotidiana e não excessivamente dispendiosos e o vocabulário ensinado
José Manuel Mendonça Naves Pinto
96
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
tenha relevância cultura de um ponto de vista dialógico como foi mencionado no ponto
quatro da pesquisa teórica.
A inclusão desse ponto da pesquisa tem justamente o objectivo de manter o
dialogismo como currículo oculto em todo o trabalho pois estamos a investigar uma
inclusão de novas linguagens de expressão que terão de ajustar-se ao contexto
cultural português que é a identidade histórica constante e preexistente.
Este processo tem uma componente subjectiva que deriva necessidade de uma
avaliação crítica que começa no professor mas é extensível ao próprio aluno. Ambos
podem estudar e propor, baseando-se na realidade portuguesa, qual o repertório
formal mais adequado e quais os processos de inclusão de participantes mais
adequados e o resultado deverá contribuir para o aumento de qualidade do produto
final.
Existe
um
efeito
potencialmente
benéfico para a produção nacional.
Se olharmos para a produção de
mobiliário, por exemplo, podemos
concluir que os novos processos da
chamada técnica made on demand
podem contribuir para aumentar a
produção
de
peças
no
território
nacional. Neste modo de produção a
zona comercial tem a modalidade de
venda directa mas também funciona
Ilustração 33 – Inês: Joalharia
como showroom onde o cliente pode
customizar a sua peça, mas ao fazê-lo a informação tem de ser enviada para fábrica
para produção. Neste caso convém que a zona de fabrico possibilite a entrega das
peças no máximo de dois a três dias, período a partir do qual, segundo estudos, o
cliente poderá perder o interesse no processo, ora a importação a partir de territórios
de grande produção em países longínquos torna-se inviável pois o seu esquema de
fornecimento ainda funciona pelos modelos de produção por matriz fixa.
A inovação parece favorecer países que a resolvam acolher e contribuir para a sua
produção. No caso português pode inclusivamente fornecer vantagens para a venda
em todo o território europeu beneficiando da livre circulação de bens e tendo em
José Manuel Mendonça Naves Pinto
97
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
contra que a produção de mobiliário sempre teve alguma expressão do ponto de vista
da indústria portuguesa.
NOVO REPERTÓRIO FORMAL E INCLUSÃO DO CLIENTE NO
PROCESSO DE DESIGN
Nesta caso falaremos sucintamente dos gráficos apresentados no capítulo anterior
sobre o primeiro objectivo do trabalho.
Como ficou demonstrado pelos trabalhos
apresentados
pelos
alunos
e
pela
observação em aula apesar da maior
parte conseguir manipular os aspectos
básicos da construção de uma peça em
ambiente virtual, apenas ligeiramente
menos de metade do grupo de trabalho
conseguiu desenvolver um repertório
formal com alguma qualidade.
Apesar deste facto é manifestamente
boa a capacidade de elaboração de
Ilustração 34 – Joana: peça em vidro e metal
peças que incluam a participação de
terceiros, apesar da predisposição psicológica para que tal aconteça que analisaremos
no objectivo seguinte.
Os alunos demonstram apetência para desenvolver um objecto virtual, compreendem
a importância deste novo passo no processo de produção e apenas precisam de apoio
em termos de uma estratégia pedagógica no campo das possíveis novas formas e da
inclusão do cliente.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
98
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
OBJECTIVO 2: ACTUAR COMO UM AUTOR COLECTIVO
De acordo com os gráficos apresentados no Capítulo III, podemos estabelecer
algumas conclusões que se configuram importantes para actuar perante o aluno em
aula
Se a maioria dos alunos afirma que a participação de terceiros não irá influenciar o seu
processo de design, essa atitude é devida à convicção de que apesar da participação
de
terceiros
o
autor
manterá o controlo do
processo
de
materialização
projecto
controlando
outras
do
seu
limitando
e
todas
as
participações.
Poderíamos pensar que
caminhar para o controlo
total
representaria
situação
preferida
a
de
todos, mas o facto é que
existe uma percentagem
significativa de alunos que
não se incomoda com
Ilustração 35 – Madalena: Frascos para perfume
uma
controlada
participação
através
de
parâmetros fixos e não sentiu necessidade de se deslocar para a opção do controlo
total. Assim de acordo com esta leitura poderemos concluir que a participação não é
um factor completamente indesejado, mas apenas na condição de ser profundamente
controlado pelo autor inicial.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
99
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
OBJECTIVO 3:
IDENTIFICAR AS NOVAS POSSIBILIDADES DE
ESTUDO EM CONTEXTO DIGITAL
Podemos concluir essencialmente por observação em aula que a grande maioria dos
alunos do 12º ano que foram estudados conseguiram organizar com sucesso um
conjunto bibliográfico coerente segundo o seu tema de interesse. Existe no entanto um
factor de dispersão que só não foi maior devido à vigilância dos dois professores que
estavam na sala (para além de mim próprio estava a professora orientadora Carla Gil).
DISPOSIÇÃO DA SALA DE AULA
O tema da vigilância da sala de aula configura-se como dos mais importantes no
contexto prático da aula, tendo durante o ano lectivo ocorrido uma mudança de
disposição de carteiras na sala devido a esse mesmo facto.
De acordo com a minha experiência profissional a disposição de carteiras beneficia
de um aspecto colateral se for feita de modo a tirar partido das calhas técnicas nas
paredes como demonstra a figura.
Ilustração 36 – disposição de carteiras aconselhada
José Manuel Mendonça Naves Pinto
100
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Para além de ser financeiramente mais vantajosa pois dispensa mudanças no
pavimento da sala de aula para passagem de cabos de rede esta disposição permite
ao professor controlar visualmente o ecrã da maioria dos computadores. Os alunos
que apresentam melhor historial de comportamento na sala de aula devem ser
colocados no segmento que não pode ser controlado visualmente pelo professor. A
imagem é meramente ilustrativa pois não podemos replicar este layout para todas as
salas de aula mas podemos adoptar o princípio com as suas vantagens disciplinares e
financeiras.
Podem haver variantes, como os computadores formarem um “U” ao longo das
paredes e no meio ficar uma “ilha”.
Poderá parecer algo austero, fazer com que os alunos não estejam directamente
voltados para o professor, mas essa será a pior opção, sobretudo em escolas com
historial disciplinar difícil pois o aluno tende a sentir-se seguro para usar o computador
para brincadeiras pois o ecrã fica de costas para o professor e os colegas que
testemunham a brincadeira normalmente não denunciam o facto por considerarem
tarefa do professor e diminuírem a sua popularidade na turma ao fazerem queixas dos
colegas.
Pela natureza excepcional destas aulas devem ser adoptadas medidas próprias a este
nível.
Quanto à capacidade dos alunos se adaptarem a um ambiente rizomático de
aprendizagem podemos concluir que o seu sucesso é total tendo os trabalhos
beneficiado destes novos recursos de pesquisa
O PROBLEMA DO COPY/PASTE
Para além das vantagens do acesso à informação existe um novo desafio para o
professor que consiste em detectar quais os elementos dos trabalhos dos alunos que
podem ter sido copiados digitalmente.
Neste caso há que fazer uma distinção entre um elemento directamente copiado a
partir do trabalho de outra pessoa e se o aluno pode usar esta lógica do copy/paste
como um processo criativo genuíno.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
101
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Nos seus textos sobre o projecto
da Casa da Música, localizada
na cidade do Porto o arquitecto
Rem
Koolhaas
confessa
ter
usado esta lógica para adaptar
um conceito de um projecto seu
preexistente
que
achava
adaptar-se aquela situação e
contribuía
para
resolver
a
questão dos prazos apertados
do concurso (18).
Ilustração 37 – Revista “Content” de e o processo criativo da casa da música no
Porto (Rem Koolhaas, 2004)
Actualmente o edifício é uma
referência arquitectónica o que nos leva a questionar se não existe um lado criativo
nesta lógica e desafia o professor a distinguir entre diferentes situações. Mais uma vez
salientamos o papel do factor humano para que o sistema de trabalho funcione.
Como será de esperar, a maioria das situações detectadas em aula ainda ficará
aquém de usar uma característica técnica e até subverte-la para a tornar numa mais
valia criativa. Será assim esperado que a maioria dos alunos use o processo de cópia
digital para fins menos correctos do ponto de vista da avaliação, mas surpresas são
uma possibilidade.
A apreciação global deste meio de estudo é positiva, mas salienta-se a importância de
capacitar o professor para desenvolver recursos de estudo através dos meios digitais.
Para além de servir de exemplo ao aluno, servem como ponto de partida para orientar
a sua progressão de estudo. A formação de professores a este nível será igualmente
aconselhável para as entidades responsáveis pelas escolas.
Conforme foi avaliado no capítulo anterior, os alunos estiveram bastante à vontade a
realizar a sua pesquisa, não tendo registado nenhum caso de dificuldades ou
incapacidade em fazê-lo por parte de nenhum aluno.
As questões de dispersão no estudo tenderão a desaparecer com a maturidade do
aluno, ao aperceber-se da importância da pesquisa para o seu trabalho e de
rentabilizar o seu tempo de estudo.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
102
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Apesar deste facto pareceu-me aconselhável apresentar a sugestão de organização
da sala de aula acima mencionada.
Quanto ao facto da progressão rizomática poder sugerir alternativas ao chamado
modelo arborescente, onde o tronco central de formação axiológica era simbolizado
pela escola como única fonte de conhecimento e valores, segundo o que observei
durante este ano lectivo e os vários anos em que leccionei , tudo aponta para as
conclusões no alinhamento do enquadramento social mencionado por Mikhail Bakhtin
onde o aluno depende do contexto vivencial para a formação desses valores e o
enquadramento presencial do ambiente escolar será sempre a primeira fonte de
desenvolvimento.
O meio digital surge mais como fonte de correcção quando o aluno sente a
necessidade de complementar a sua formação.
Ilustração 38 – Captura de ecrã do site criado para as aulas de Oficina de Multimédia
José Manuel Mendonça Naves Pinto
103
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
REFERÊNCIAS
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
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José Manuel Mendonça Naves Pinto
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
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Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
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Carlos Alberto Faraco e Cristovão Tezza.
23. Yin, R. K. Case study research: design and methods. 4th edition. Los Angeles :
Sage, 2008.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
107
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXOS
José Manuel Mendonça Naves Pinto
108
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
LISTA DE ANEXOS
Anexo A
Pedido de autorização à Direcção da escola para o
desenvolvimento da pesquisa
Anexo B
Pedido de autorização aos encarregados de educação para o
desenvolvimento da pesquisa
Questionários sobre as modificações feitas ao design das
Anexo C
Anexo D
Anexo E
Anexo F
peças de alunos seleccionados como casos de estudo.
Pauta de avaliação do professor estagiário
Planificação das aulas
Caracterização da Escola
José Manuel Mendonça Naves Pinto
109
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXO A– PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO À DIRECÇÃO DA
ESCOLA PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
José Manuel Mendonça Naves Pinto
110
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exma. Senhora Directora
José Manuel Mendonça Naves Pinto, licenciado em Arquitectura pela Universidade
Técnica de Lisboa encontra-se desde 2010/2011 a fazer o Mestrado em Ensino de
Artes Visuais na Universidade Lusíada de Lisboa. Durante o presente ano lectivo e no
âmbito do plano curricular previsto , desenvolverá a sua dissertação de Mestrado, que
será orientada pela Professora Doutora Maria Adelaide Pires.
A investigação que se propõe fazer tem como objectivo principal desenvolver
capacidades de estudo e trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura,
em ambiente digital, que são de importância crucial para a integração dos alunos na
sua futura vida académica e profissional no actual contexto da sociedade. É seu
propósito desenvolver este estudo na escola da qual V. Exa. é Directora.
Vem, então, por este meio, solicitar a autorização da direcção da Escola para proceder
à referida investigação nesta Instituição, com uma turma do 12º ano. Os alunos foram
já abordados e mostraram-se receptivos a este estudo. Previamente será solicitada
autorização por escrito aos respectivos Encarregados de Educação, uma vez que se
pretende fotocopiar e guardar algumas produções escritas dos alunos, assim como
desenhos e esquemas técnicos elaborados pelos mesmos. Serão registadas
observações sobre trabalho desenvolvido em aula.
Será ainda dada a informação aos Encarregados de Educação de que se garantirá o
anonimato dos seus educandos, não sendo divulgados os seus nomes, turma ou
escola.
Agradeço desde já a atenção dispensada.
Com os melhores cumprimentos
José Manuel Mendonça Naves Pinto
José Manuel Mendonça Naves Pinto
111
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXO
B
–
PEDIDO
DE
AUTORIZAÇÃO
ENCARREGADOS
DE
EDUCAÇÃO
PARA
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
José Manuel Mendonça Naves Pinto
AOS
O
112
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exmo. Sr. Encarregado de Educação
O professor de Artes Visuais, José Manuel Mendonça Naves Pinto, encontra-se no
presente ano lectivo a fazer o Mestrado em Ensino de Artes Visuais, na Universidade
Lusíada de Lisboa. No âmbito da Tese de Mestrado , propõe-se realizar uma
investigação que tem por objectivo principal desenvolver capacidades de estudo e
trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura, em ambiente digital, que
são de importância crucial para a integração dos alunos na sua futura vida académica
e profissional no actual contexto da sociedade. Esta investigação será desenvolvida
durante o presente ano lectivo, na escola do seu educando, tendo já sido autorizada
pela respectiva Direcção.
Para o desenvolvimento deste estudo será necessário recorrer à realização de
questionários para conhecer a opinião dos alunos relativamente aos assuntos em
estudo. Para o efeito, solicito a sua autorização para realizar questionários ao seu
educando, nas aulas em que estejam a trabalhar no âmbito desta investigação.
Saliento que os dados recolhidos serão usados exclusivamente como materiais de
trabalho, estando garantida a privacidade e anonimato dos participantes. Manifesto,
ainda, a minha inteira disponibilidade para prestar qualquer esclarecimento que
considere necessário.
Na expectativa de uma resposta favorável subscrevo-me com os melhores
cumprimentos.
(Prof. José Manuel Naves Pinto)
José Manuel Mendonça Naves Pinto
113
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Autorização
Eu,
,
Encarregado
de
Educação
do
aluno
,
do 12º ano, autorizo que o professor José Naves Pinto realize questionários ao meu
educando, no âmbito da investigação que me foi dada a conhecer.
Data
/
/ 2013
Assinatura:
José Manuel Mendonça Naves Pinto
114
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXO C – QUESTIONÁRIOS SOBRE AS MODIFICAÇÕES
FEITAS
AO
DESIGN
DAS
PEÇAS
DE
SELECCIONADOS COMO CASOS DE ESTUDO
José Manuel Mendonça Naves Pinto
ALUNOS
115
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exma. Aluna Beatriz
O professor José Manuel Mendonça Naves Pinto, está a fazer o Mestrado em Ensino de Artes
Visuais. A investigação que se propõe fazer tem como objectivo principal desenvolver
capacidades de estudo e trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura, em
ambiente digital, para a integração dos alunos na sua futura vida profissional .
Imagina que, na Figura, foram feitas algumas modificações ao teu projecto. Isto aconteceu para
simular um acontecimento futuro onde um cliente pode alterar uma peça de design para melhor
se adaptar ao espaço da sua casa, por exemplo.
O designer deixa o seu projecto definido em computador, tal como fizeste na aula mas depois o
cliente final poderá fazer algumas adaptações antes da produção da peça.
Gostava que escrevesses um pequeno texto com o tamanho que entendas.
Descreve o que achas que vai mudar do teu ponto de vista no teu papel enquanto autor :
As formas que projectas serão diferentes se souberes que outra pessoa as pode alterar as
suas dimensões e a sua configuração?
Como te sentes psicologicamente por teres de partilhar a peça final com a intervenção de outra
pessoa?
Achas que deves ter um grande controlo sobre a peça? como o farias?
José Manuel Mendonça Naves Pinto
116
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exma. Aluna Catarina
O professor José Manuel Mendonça Naves Pinto, está a fazer o Mestrado em Ensino de Artes
Visuais. A investigação que se propõe fazer tem como objectivo principal desenvolver
capacidades de estudo e trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura, em
ambiente digital, para a integração dos alunos na sua futura vida profissional .
Como podes ver na Figura, foram feitas algumas modificações ao teu projecto. Isto aconteceu
para simular um acontecimento futuro onde um cliente pode alterar uma peça de design para
melhor se adaptar ao espaço da sua casa, por exemplo.
O designer deixa o seu projecto definido em computador, tal como fizeste na aula mas depois o
cliente final poderá fazer algumas adaptações antes da produção da peça.
Gostava que escrevesses um pequeno texto com o tamanho que entendas.
Descreve o que achas que vai mudar do teu ponto de vista no teu papel enquanto autor :
As formas que projectas serão diferentes se souberes que outra pessoa as pode alterar as
suas dimensões e a sua configuração?
Como te sentes psicologicamente por teres de partilhar a peça final com a intervenção de outra
pessoa?
Achas que deves ter um grande controlo sobre a peça? como o farias?
José Manuel Mendonça Naves Pinto
117
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Resposta:
Quando fiz esta peça naquele preciso formato, fi-lo porque queria que a peça
transmitisse uma sessão de agressividade entre o metal e o vidro, como que o metal
quisesse apoderar-se do vidro. Mas, como em todos os ramos de trabalho, sei que o
cliente tem sempre hipóteses de mudar a peça final. Por isso, se uma situação
semelhante a da imagem acontecesse, eu claro que não iria gostar mas iria,
simplesmente, transmitir a minha opinião a cliente, dizendo porque é que eu achava
que essa alteração não devia ser feita, e tentava arranjar uma solução que ambos
concordassemos.
Em geral, acho que um artista tem que saber lidar com situações deste género. Acho
que se deve fazer o projecto final como achamos e, se depois houver complicações
com o cliente, tenta-se ajustar o projecto às ideias do mesmo. Para mim, esta situação
não é a mais agradável pois eu sou bastante individualista, mas tenho que me
aprender a lidar com situações deste género.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
118
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exma. Aluna Raquel
O professor José Manuel Mendonça Naves Pinto, está a fazer o Mestrado em Ensino de Artes
Visuais. A investigação que se propõe fazer tem como objectivo principal desenvolver
capacidades de estudo e trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura, em
ambiente digital, para a integração dos alunos na sua futura vida profissional .
Imagina que, na Figura, foram feitas algumas modificações ao teu projecto. Isto aconteceu para
simular um acontecimento futuro onde um cliente pode alterar uma peça de design para melhor
se adaptar ao espaço da sua casa, por exemplo.
O designer deixa o seu projecto definido em computador, tal como fizeste na aula mas depois o
cliente final poderá fazer algumas adaptações antes da produção da peça.
Gostava que escrevesses um pequeno texto com o tamanho que entendas.
Descreve o que achas que vai mudar do teu ponto de vista no teu papel enquanto autor :
As formas que projectas serão diferentes se souberes que outra pessoa as pode alterar as
suas dimensões e a sua configuração?
Como te sentes psicologicamente por teres de partilhar a peça final com a intervenção de outra
pessoa?
Achas que deves ter um grande controlo sobre a peça? como o farias?
José Manuel Mendonça Naves Pinto
119
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Resposta:
As formas que projectas serão diferentes se souberes que outra pessoa as pode
alterar as suas dimensões e a sua configuração?
Não, pois a partir de um pedido ou ideia simples eu faria o mesmo que fiz, claro que
depois estaria sujeita a alterações devido à opinião/visão do cliente.
Como te sentes psicologicamente por teres de partilhar a peça final com a
intervenção de outra pessoa?
Profissionalmente sei que o mais correto é aceitar o facto de que a peça final foi feita
por encomenda e portanto a ideia não é totalmente minha.
Achas que deves ter um grande controlo sobre a peça? como o farias?
Na minha opinião, sendo eu a artista penso que a maior parte do controlo deveria ser
minha, pois a minha função é dar vida à ideia ou conceito do cliente. Assim explicaria
ao cliente a minha visão do conceito e realizaria esboços e rascunhos para que ele
percebesse visualmente o que eu idealizei; se o cliente não concordar pediria que este
desse a sua opinião e que me indicasse as alterações que pretendia e eu teria de as
realizar.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
120
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exma. Aluna Sara
O professor José Manuel Mendonça Naves Pinto, está a fazer o Mestrado em Ensino de Artes
Visuais. A investigação que se propõe fazer tem como objectivo principal desenvolver
capacidades de estudo e trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura, em
ambiente digital, para a integração dos alunos na sua futura vida profissional .
Como podes ver na Figura, foram feitas algumas modificações ao teu projecto. Isto aconteceu
para simular um acontecimento futuro onde um cliente pode alterar uma peça de design para
melhor se adaptar ao espaço da sua casa, por exemplo.
O designer deixa o seu projecto definido em computador, tal como fizeste na aula mas depois o
cliente final poderá fazer algumas adaptações antes da produção da peça.
Gostava que escrevesses um pequeno texto com o tamanho que entendas.
Descreve o que achas que vai mudar do teu ponto de vista no teu papel enquanto autor :
As formas que projectas serão diferentes se souberes que outra pessoa as pode alterar as
suas dimensões e a sua configuração?
Como te sentes psicologicamente por teres de partilhar a peça final com a intervenção de outra
pessoa?
Achas que deves ter um grande controlo sobre a peça? como o farias?
José Manuel Mendonça Naves Pinto
121
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Resposta:
Considero que se o cliente final tiver o poder de alterar a minha peça, ela será criada
tendo isso em conta. Isto é, será desenhada de maneira a manter as características e
os pormenores e a "funcionar" da maneira que idealizei seja em grande ou pequena
dimensão, por exemplo.
Gostando eu de manter sempre tudo sobre controlo, não me agrada particularmente
que depois de tanto trabalho alguém possa alterar a minha peça mas, acredito que
acaba por ser enriquecedor para mim, para a peça e para o cliente, pois "duas
cabeças pensam melhor que uma" e o resultado final pode sair em muito beneficiado.
Sara Moreira
José Manuel Mendonça Naves Pinto
122
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exma. Aluna Teresa
O professor José Manuel Mendonça Naves Pinto, está a fazer o Mestrado em Ensino de Artes
Visuais. A investigação que se propõe fazer tem como objectivo principal desenvolver
capacidades de estudo e trabalho do aluno, no campo das artes visuais e arquitectura, em
ambiente digital, para a integração dos alunos na sua futura vida profissional .
Como podes ver na Figura, foram feitas algumas modificações ao teu projecto. Isto aconteceu
para simular um acontecimento futuro onde um cliente pode alterar uma peça de design para
melhor se adaptar ao espaço da sua casa, por exemplo.
O designer deixa o seu projecto definido em computador, tal como fizeste na aula mas depois o
cliente final poderá fazer algumas adaptações antes da produção da peça.
Gostava que escrevesses um pequeno texto com o tamanho que entendas.
Descreve o que achas que vai mudar do teu ponto de vista no teu papel enquanto autor :
As formas que projectas serão diferentes se souberes que outra pessoa as pode alterar as
suas dimensões e a sua configuração?
Como te sentes psicologicamente por teres de partilhar a peça final com a intervenção de outra
pessoa?
Achas que deves ter um grande controlo sobre a peça? como o farias?
José Manuel Mendonça Naves Pinto
123
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXO D -
PAUTA DE AVALIAÇÃO DO PROFESSOR
ESTAGIÁRIO
José Manuel Mendonça Naves Pinto
124
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
António
A+
Comportamento: Bom
Participação nas questões da aula: Suf
Autonomia: Bom. Embora precisasse de apoio em
matérias que já tinha sido explicadas
Investigação pessoal: Bom. Fazia o trabalho sozinho
e devia ter pedido mais apoio, pois teve períodos de
paragem
Trabalho com grau de dificuldade normal, feito correctamente, de acordo com o
explicado na aula, com pesquisa própria nas particularidades de interesse do aluno.
Foi incluído o trabalho de OFA (feito no meu tempo de aula) para avaliação
Beatriz
Comportamento: M.Bom
A+
Participação nas questões da aula: M.Bom
Autonomia: M.Bom. Colocou dúvidas avançadas
de acordo com o projecto
Investigação pessoal: M.Bom.
Peça de joalharia com design criativo e original, exequível e com bom conceito de
apresentação ao cliente. Pena não ter desenvolvido mais peças naquela linha.
Catarina
Rocha
Comportamento: Bom
Participação nas questões da aula: Suf
Autonomia: Bom
Investigação pessoal: Bom
Realizou trabalho standard de edição de vídeo
Catarina Comportamento: M.Bom
Souto
Participação nas questões da aula: M.Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal:M. Bom
A
A+
Tem o mérito de ter sido a primeira aluna a apresentar um objecto construído com
design original.
Carolina Comportamento: Bom
A
Participação nas questões da aula: Suf
Autonomia: Suf
Investigação pessoal: Bom
Tem um bom projecto, feito sobretudo nas ultimas aulas e podia ter desenvolvido o
trabalho para resultados excelentes se quisesse.
Débora
Comportamento: Bom
A
Participação nas questões da aula: Suf
Autonomia: Suf
Investigação pessoal: Bom
Criou um objecto relativamente estranho
José Manuel Mendonça Naves Pinto
125
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Gonçalo
Comportamento: Bom
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: Bom
A
Bom trabalho de modelação. Podia ter mais nota mas entregou fora do prazo
Hugo
Comportamento: Bom
A
Participação nas questões da aula: M.Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Foi valorizada a participação nas aulas juntamente com a Teresa Godinho. Entregou
fora do prazo.
Inês
Comportamento: M.Bom
A
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: Bom
Conseguiu um bom objecto apesar de ser difícil nalguns pormenores. Podia ter feito
mais exemplares com variações diferentes
Joana
Comportamento: M.Bom
A+
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal:M. Bom
Foi sempre muito interessada desde o princípio das aulas
Joana
Comportamento: Bom
Esteves
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: Bom
Investigação pessoal:Bom
Realizou trabalho standard de edição. Esteve muito interessada no filme.
Joana
Comportamento: M.Bom
Barbosa Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: Bom
Investigação pessoal:M. Bom
José Manuel Mendonça Naves Pinto
A
A
126
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Partilhou o computador com a Matilde à quinta-feira por falta de postos de trabalho.
Foi menos participativa do que a colega quando lhes colocava questões
A+
João
Comportamento: Bom
Barriga
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: Bom
Investigação pessoal: Bom
Muito envolvido com o projecto do filme teve um grande trabalho de edição e
exportação demonstrado na sala de aula
Madalena Comportamento: Suf
A
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: Bom
Investigação pessoal: M.Bom
A falta de confiança na realização de trabalho em 3D fez com que o projecto ficasse
aquém do seu potencial. Deve empenhar-se mais para vencer o receio neste tipo de
trabalhos
Margarida Comportamento: M.Bom
A
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Apesar de dominar muito bem as ferramentas do programa o seu objecto podia estar
mais desenvolvido do ponto de vista do design
A+
Marta
Comportamento: Bom
Carmo
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Foi a aluna do grupo do cinema que trabalhou o software com maior grau de
dificuldade realizando uma sequência de efeitos especiais em After Effects com várias
layers animadas e efeitos de distorção de imagem e alteração de cor
Marta
Comportamento: Bom
A+
Godinho
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Tem A+ porque apesar da peça poder estar mais desenvolvida do ponto de vista do
design demonstrou uma autonomia e conhecimento do programa excelentes
Matilde
Comportamento: Bom
A+
Participação nas questões da aula: Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Quando começou a trabalhar cumpriu rigorosamente o que era pretendido e sempre
José Manuel Mendonça Naves Pinto
127
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
durante o tempo de aula sem precisar de recorrer a trabalho feito em casa
Patrícia
Comportamento: Bom
Participação nas questões da aula: M.Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
A
Domina muito bem as ferramentas do programa e foi sempre muito participativa mas a
peça podia estar mais desenvolvida do ponto de vista do design
Raquel
Comportamento: Bom
A+
Participação nas questões da aula: M.Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Tinha potencialmente um dos melhores projectos da turma e tem A+ pelo conjunto do
seu trabalho, mas foi um pouco prejudicada pela ausência de uma aula. Compensou
como pode fora do tempo de aula juntamente com alguns colegas
Sara
Comportamento: Bom
A+
Participação nas questões da aula: M.Bom
Autonomia: M.Bom
Investigação pessoal: M.Bom
Trabalho com grau de dificuldade elevado proposto pela aluna. Conseguiu realizar a
peça praticamente sozinha apenas consultando tutoriais e assistindo às aulas
Teresa
Comportamento: M.Bom
A+
Participação nas questões da aula: M.Bom
Prémio
Autonomia: M.Bom
de
Investigação pessoal: M.Bom
mérito
Conseguiu uma peça de design contemporâneo de muito boa qualidade, num tempo
record e com grande interesse e domínio das ferramentas do programa. O trabalho já
tem qualidades profissionais. Parabéns.
__ Alunos que se destacaram
__Trabalhos entregues fora do prazo
Nota Geral sobre a turma 12ºF (22 alunos)
A turma apresentou um desempenho fora do esperado, pela positiva, dado o número
de aulas planificadas para este módulo, tendo os alunos demostrado estar preparados
acima da média para aprender modelação tridimensional pelo que , o nível médio de
avaliação foi considerado A (numa escala qualitativa). Os alunos que conseguiram
destacar-se no conjunto da turma foram identificados com o nível A+
Esta avaliação destina-se a ponderação para o conjunto do ano lectivo pela professora
supervisora de estágio.
O professor estagiário
José Manuel Naves Pinto
José Manuel Mendonça Naves Pinto
128
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXO E – PLANIFICAÇÃO DAS AULAS
José Manuel Mendonça Naves Pinto
129
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Escola Secundária Quinta do Marquês
Planificação de Oficina de Multimédia – 12º Ano
Projecto e representação de Objectos tridimensionais
COMPETÊNCIAS
CONTEÚDOS
Operar a um nível
básico com um software
de 3D – 3DS Max
Compreender
modelação
tridimensional;
Edição 3D
a Software: 3DS Max
Interface do 3D Max
Modelação de objectos
Materiais e mapas
Câmaras
Iluminação
aos Animações de objectos
Fotorrealismo
ESTRATÉGIAS
AVALIAÇÃO
Avaliação sistemática
e
contínua
–
observação directa do
trabalho desenvolvido
pelos alunos durante
as
aulas,
nomeadamente quanto
à
sua
evolução
técnica, participação e
empenho no trabalho,
capacidade
de
explorar investigar e
mobilizar conceitos em
diferentes situações,
responsabilidade,
autonomia, qualidade
do trabalho realizado e
forma como o aluno o
geriu, organizou e
auto-avaliou.
Apresentação
de
exemplos visuais no
sentido
de
demonstrar
a
Modelar objectos;
utilização
e
interacção
das
Aplicar materiais
diversas tecnologias
objectos;
multimédia.
Estes
exemplos deverão
Criar iluminação básica;
ser comentados de
vários pontos de
Criar animações simples Edição 3D Avançada
vista, acentuandoe imagens fotorrealistas Software: 3DS Max
se a abordagem
Modelação
de
técnica e estética.
Operar, a um nível personagens e objectos
Introdução
ao
e
mapas
avançado, com o 3DS Materiais
software através da
complexos
Max
apresentação
do
Modelar
e
animar Câmaras
ambiente
de
personagens e objectos; Iluminação
trabalho, principais
Compreender
as Animações
Avaliação formativa e
painéis, barras de
e
diferenças
entre
os Controladores
sumativa.
ferramentas.
diversos
tipos
de propriedades físicas
Demonstração
do
materiais;
modo
de
Utilizar adequadamente
funcionamento do
sistemas de iluminação;
software.
Identificar as diferenças
Resolução de fichas
entre os vários tipos de
de
trabalho,
luz;
individuais,
Utilizar adequadamente
orientadas para que
câmaras;
o aluno aprenda,
Utilizar adequadamente
experimentando, os
modificadores;
diversos
recursos
Compreender os efeitos
dos programas;
de antecipação, acção e
Serão
elaborados
reacção;
trabalhos que visam
Saber usar e configurar
a aplicação criativa
os sistemas de “ossos”
dos conhecimentos
para
animar
adquiridos.
personagens;
Revelar capacidades de
auto-exigência, rigor e
espírito
crítico
no
trabalho realizado;
José Manuel Mendonça Naves Pinto
130
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Calendarização= 3º Período do ano lectivo
José Manuel Mendonça Naves Pinto
131
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
ANEXO F - CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
José Manuel Mendonça Naves Pinto
132
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Caracterização resumida da Escola
A Escola Secundária da Quinta do Marquês (ESQM) situa-se em Oeiras e foi criada
pela Portaria nº 587/93, de 11de Junho.
A
ESQM
integra
mais
de
100
docentes, (cerca de 80% do quadro
da escola), apoiados por 40 não
docentes, tendo uma população que
ultrapassa os 1000 alunos, num total
de 40 turmas, 20 do 3º ciclo do
ensino
básico
e
20
do
ensino
secundário, todas a funcionar em
regime diurno.
Os planos curriculares estendem-se do 7º ao 12º ano. No ensino secundário
predomina a oferta de cursos gerais/Científico-Humanísticos, na área das ciências e
tecnologias (maioritária), artes visuais, ciências socioeconómicas e línguas e
humanidades.
A escola oferece ainda cursos
profissionalizantes
na
Multimédia.
critérios
Os
área
da
que
determinam a definição da oferta
educativa
prendem-se
com
as
expectativas educativas do meio
envolvente, o que leva a que a
maior parte da oferta se centre nos
cursos
orientados
para
o
prosseguimento dos estudos.
O símbolo da escola, encontrado por concurso proposto aos alunos, representa a
esfinge do Marquês de Pombal, cujo nome e local de residência designou a nossa
escola.
José Manuel Mendonça Naves Pinto
133
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Indicadores de desempenho
José Manuel Mendonça Naves Pinto
134
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
135
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Exames Nacionais
José Manuel Mendonça Naves Pinto
136
Consequências da tecnologia no ensino das Artes Visuais
Ranking da escola
José Manuel Mendonça Naves Pinto
137
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