A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Maria das Dores Costa Brito Licenciatura em Matemática Universidade Católica de Brasília Orientador: Sinval Braga de Freitas RESUMO Este artigo foi desenvolvido com o objetivo de trazer informações históricas ao leitor mostrando como a Matemática se desenvolveu no Brasil ao longo dos anos. Nele relatamos as contribuições de matemáticos brasileiros e estrangeiros que trabalharam com dificuldades, mostraram tenacidade e assim deixaram suas contribuições para o crescimento dessa ciência no Brasil. Palavras-chave: história da matemática, desenvolvimento, Brasil. 1. INTRODUÇÃO Mesmo nós que estudamos durante anos em curso superior conhecemos muito pouco no que se refere à História Geral da Matemática, que se desenvolveu ao longo do tempo, e deixamos passar despercebida a História da Matemática do nosso país. O Estudo da matemática durante muitos anos deu-se apenas como disciplina obrigatória para outros cursos. Era vergonhoso, nos tempos passados, pois a matemática não era reconhecida como profissão e muito menos como ciência. Logo não existiam instituições de Ensino Superior que oferecessem um curso especifico para o estudo de matemática, e isso atrasou o seu desenvolvimento. É importante saber que tivemos a colaboração de vários matemáticos que muito fizeram para o crescimento da matemática no Brasil. E só não foi um número maior porque não havia incentivo e muito menos interesse por parte das autoridades competentes em desenvolver o estudo da matemática como ciência. Logo, o objetivo deste trabalho, em forma de pesquisa bibliográfica, é mostrar que mesmo com tantas dificuldades, hoje temos ótimos matemáticos que contribuíram para a construção da matemática como ciência em nosso país. Enfrentaram obstáculos, mas deixaram a História da Matemática registrada no Brasil. 2. DIVISÃO HISTÓRICA 2.1 Brasil colônia até a década de 1780 Nesse período da história da matemática no Brasil há pouco o que relatar, pois naquela época o país não dispunha de nenhuma estrutura e muito menos interesse por parte dos colonizadores em ensinar matemática. O objetivo era ensinar para a igreja. Os jesuítas foram os criadores das primeiras escolas no Brasil. O Padre Manuel da Nóbrega (15171570) chegou ao Brasil em 1549 e em 29 de março daquele mesmo ano tomou providencias para a criação de uma escola de primeiras letras. Em 15 de abril de 1549 foi fundada, em Salvador, Bahia, a primeira escola primária no Brasil, onde se ensinava a ler e escrever. O primeiro mestre-escola, ou seja, o primeiro professor do Brasil foi o Jesuíta Vicente Rijo Rodrigues (1528-1600). Quando da sua fundação, “A Companhia de Jesus” não teve o ensino como um de seus objetivos imediatos. Vejamos o que disse a esse respeito a professora Ana Isabel. Quando Inácio de Loyola e seus companheiros fundaram a Companhia de Jesus, parece não haver nenhuma intenção de que um de seus objetivos seria o ensino, e até mesmo a Bula Papal que aprova esta Ordem não se refere a isso. No entanto, vamos encontrá-la nas “Constituições” da Companhia que, apesar de terem começado a ser escrita por Inácio de Loyola em 1539, só foram aprovadas em 1558 [...] (ROSENDO, 1996, apud, SILVA, 1992). Em 1550 chegou ao Brasil, em São Vicente, São Paulo, o jesuíta Leonardo Nunes. Naquela localidade foi fundada a segunda escola primária do Brasil que funcionava em uma parte de um pavilhão de taipa. Como se pode perceber, nas duas primeiras escolas primárias do Brasil não existia o ensino de matemática. Em 1572 foi criado pelos inicianos (esse nome foi aos jesuítas porque foram eles os que iniciaram todo o processo de ensino daquela época) um curso mais avançado. Foi o primeiro curso de Artes no Colégio de Salvador. Esse curso tinha três anos de duração, onde se estudava alguns assuntos como: matemáticas, lógicas, físicas, metafísica e ética. Esse curso levava seus alunos ao grau de bacharelado ou licenciado, o que quer dizer que foi o inicio das licenciaturas e bacharelados no Brasil. Muitos jesuítas trabalhavam no Colégio de Salvador, como Valentim Estancel, Aluízio Conrado Pfiel, Manual Amaral, Inácio Stafforo, Felipe Bourel, Jacobo Cocleo ou Jacques Cocler, Diogo Soares, Domingos Capassi e João Brewer. O ensino das matemáticas naquele colégio iniciava com os algarismos ou aritmética. Naquela época funcionavam 16 colégios mantidos pelos jesuítas no Brasil e em apenas oito funcionava o curso de Filosofia ou de Artes. O objetivo da ordem iniciana nesses colégios sempre foi educar e formar para a igreja, mesmo assim vários alunos que não seguiam essa ordem freqüentaram esses colégios. Em 1573 foi fundado também pelos jesuítas um colégio na cidade do Rio de Janeiro que em seguida criou um curso de Artes. No currículo do curso de Artes fazia parte o estudo sistemático das matemáticas. Em 1575, no colégio da Bahia, foram concedidos os primeiros graus de bacharelado e licenciado aos seus alunos. Naquela mesma instituição, no ano de 1578, concederam os primeiros graus de mestre em Artes e, em 1581, o grau de doutor em Teologia a seus alunos. As escolas elementares do Brasil, na primeira fase, eram freqüentadas por meninos e só posteriormente por meninas. Em 1578, na cidade do Rio de Janeiro, o escrivão Francisco Lopes lecionou aritmética para turmas particulares, pois nas escolas elementares não havia o ensino de matemática, e quando havia não passava das quatro operações algébricas. Nas escolas dos jesuítas foram utilizados livros didáticos de autores inicianos, como por exemplo, os Elementos Matemáticos e Teoremas Matemáticos, que foram escritos pelo jesuíta Inácio Estafford, Logo, o ensino das matemáticas no Brasil teve início com os jesuítas. Em algumas escolas elementares eram ensinadas as quatro operações algébricas e a geometria 2 elementar, por ser algo mais adiantada, era ministrada no curso de Artes. Em 1605 eram ensinados a aritmética nos colégios de Salvador, Rio de Janeiro e Recife, e alguns tópicos eram ensinados, como razões, proporções e geometria euclidiana. Pode-se perceber que a influência dos inicianos foi muito forte para o ensino das matemáticas no Brasil e, dessa influência, nasce no Colégio de Salvador a Faculdade de Matemática em 1757. O matemático José Monteiro Rocha (1734-1819) estudou nessa faculdade de matemática de onde entrou para a companhia de Jesus. Em 1759 os jesuítas foram expulsos do Brasil e em 1760 ele se desligou da ordem iniciana. No século XVIII, José Monteiro da Rocha foi convocado por Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), o Marquês de Pombal, para compor a comissão que reformou a Universidade de Coimbra, criando inclusive a Faculdade de Matemática, em 1772. As matemáticas ensinadas na Faculdade de Matemática de Salvador foram em parte as mesmas ensinadas na Universidade de Coimbra Pré-Pombalina (anterior ao Marquês de Pombal). Durante alguns anos a metrópole não reconheceu como legal os graus acadêmicos concedidos pelos colégios jesuítas no Brasil e, com isso, os alunos já graduados aqui no Brasil, que pretendiam seguir em frente com os seus estudos na Universidade de Coimbra, tiveram alguns contratempos, pois eram obrigados a repetir tudo o que já tinham estudado no Brasil. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, ficou um vazio no estudo primário. Outras ordens religiosas abriram algumas instituições de ensino, como os franciscanos, que elaboraram um projeto de uma faculdade, na qual se estudaria retórica, hebraico, grego, filosofia e etc. O estudo das matemáticas ficou de fora. A faculdade terminou não sendo fundada. Alguns matemáticos inicianos estiveram no Brasil nos séculos XVII e XVIII. Alguns se dedicaram ao ensino, outros não. Merecem destaque Diogo Soares (1684-1748), Domingos Capassi, a quem se deve o primeiro levantamento das latitudes e longitudes de grande parte do território brasileiro, e João Brewer (1718-1789), que na década de 1750 foi professor na Faculdade de Matemática no Colégio de Salvador. Os matemáticos inicianos que estiveram naquela época no Brasil não tinham uma cultura matemática comparável à de outros matemáticos contemporâneos seus, mas tinham capacidade e conhecimento para ministrar matemática na Universidade Portuguesa Pré-Pombalina. Dentre os jesuítas mais atualizados cientificamente citaremos os seguintes: • Cristoph Clavius (1537-1612), autor da obra Euclidis Eementorum. Publicado em 1574, esse livro foi adotado nas escolas Européias do século XVII e ficou conhecida como Euclides do século XVII; • Orazio Grassi (1582-1654) que se envolvera em uma disputa cientifica com Galileu; • Gregório de Saint-Vicent (1582-1667), que em virtude seus trabalhos matemáticos recebeu elogios por parte de G. W.Leibniz. A ele foi atribuída a teoria do teorema: dx ln x = ; x Outro que merece destaque é o Bartolomeu de Gusmão (1685-1724), conhecido como padre voador. Foi completar seus estudos em Portugal e em 1709 foi nomeado lente de matemática da Universidade da Coimbra, mas logo renunciou para se dedicar aos 3 estudos de balões. Seus resultados, representados pela “Passarola” anteciparam em quase 10 anos os estudos dos irmãos Motgolfier. Enfim, se houvesse interesse por parte das autoridades competentes (brasileiros e portugueses) a matemática superior no Brasil poderia ter se desenvolvido desde o início do século XVIII. 2.2 Fatos em Portugal que afetaram a educação brasileira nesse período Como nossa herança é portuguesa devemos relatar alguns fatos que ocorreram na reforma do ensino português (a reforma da Universidade de Coimbra) executada pelo primeiro Ministro Marquês de Pombal. Essa reforma afetou a vida cultural, científica e comercial da colônia Brasil. Para Portugal proibir a língua nativa seria uma forma de acabar com atraso do país, mais tudo isso só atrasou ainda mais, pois várias escolas foram fechadas e o objetivo do Marques de Pombal era organizar as escolas para o estado e não para a fé como os jesuítas. A reforma do ensino português foi levada a cabo pelo Marquês de Pombal, e alcançou seu clímax em 1772 ao atingir a Universidade de Coimbra por meio de novos Estatutos. O Primeiro Ministro esperava então conseguir homens preparados para a grande Revolução Industrial que se processava na Europa Culta. A abordagem histórica da nova Universidade de Coimbra é do período de 1772 a 1808, sendo a última data justamente a de chegada da Família Real portuguesa ao Brasil. Aqui, não nos interessam fatos e conseqüências acontecidos em Portugal e sim registrar que a reforma do ensino português afetou o Brasil colônia, principalmente os jovens que foram a Portugal e regressaram sem curso algum. Devemos ressaltar que a Universidade de Coimbra era uma instituição que não buscava a investigação da verdade nos ramos das ciências, e se restringia a conservação e transmissão de conhecimentos já constituídos. Como esses conhecimentos não foram passados para a sociedade, não puderam contribuir para a evolução da mesma. Esse fato foi importante, pois a Europa naquela época viria a possuir uma Universidade verdadeiramente não medieval (da idade média) Só a partir da década de 1800, quando W. Hunbold reformou a Universidade de Berlim, essa sim passou a ter como objetivo pesquisas especificas. O Primeiro Ministro de Portugal não se preocupou em contratar profissionais no exterior para impulsionar o ambiente cientifico matemático em Portugal e sim em engenheiros italianos, que por motivos óbvios não tinham interesse algum em pesquisas básicas das matemáticas, bem como fazer escola. Mesmo assim, a Faculdade de Matemática causou um grande impacto na elite intelectual portuguesa, pois foi o início de algo novo em Portugal, o treinamento de especialistas em matemática, ao ser concedido o grau de doutor. Alguns jovens portugueses se destacaram naquela época. Merece destaque José Monteiro da Rocha (1734-1819) e José Anastácio da Cunha (1744-1787), que também não se preocuparam em fazer escola, mas tiveram alguns discípulos que se tornaram matemáticos e outros que se dedicaram ao ensino secundário. Esses fatos influenciaram negativamente o ensino e o desenvolvimento das matemáticas no Brasil, (em sua fase inicial), pois brasileiros e portugueses que estudavam matemática em Portugal (na Universidade de Coimbra e Escolas Militares), 4 interromperam seus estudos e tiveram que vir para o Brasil com a Família Real no século XVIII e alguns deles fizeram parte do primeiro corpo docente da Academia Real Militar. Alguns brasileiros, a partir de 1772, passaram pelos bancos da Faculdade de Matemática em Portugal. Dentre eles apenas alguns conseguiram o grau de doutor em Ciências Matemáticas, no período de 1772 e 1857: Antonio Pires da Silva (1750-1805), natural da Bahia, doutorou-se em 24 de dezembro de 1777; Francisco José de Lacerda e Almeida (1753-1802), natural de São Paulo, doutorou-se em 21 de dezembro de 1777; Antonio Francisco Bastos, natural de Pernambuco, doutorou-se 24 de julho de 1785; Thomas Antonio de Oliveira Lobo, natural do Rio de Janeiro, doutorou-se em 31 de julho de 1857; João Antonio Coqueiro (1837-1910), nascido na cidade de São Luis, Província do Maranhão, mesmo não tendo sido graduado, nem obtido o grau de doutor pela Universidade de Coimbra, aos 18 anos de idade foi estudar na Escola Central de Artes e Manufaturas de Paris – França. Em 1860, publicou em Paris, com o auxilio do Governo do Maranhão, o livro O Tratado de Aritmética. Nessa mesma Escola Central ele freqüentava as aulas da Faculdade de Ciências e nessa Instituição recebeu o grau de Bacharel em Ciências. João Antonio Coqueiro foi durante dois anos preparador auxiliar da cadeira de Física Experimental da Faculdade de Ciências. Em 1862, recebeu o grau de doutor em Ciências Físicas e Matemáticas pela Universidade de Bruxelas – Bélgica. Contudo, há que se louvar o espírito reformador do Marquês de Pombal. Homem de visão, apesar de ser tirano (injusto, cruel e opressor), compreendeu a urgência e a necessidade de reformar o Ensino Público Português, ordenou também a criação de uma Faculdade de Matemática para estimular o estudo e o desenvolvimento das matemáticas em Portugal. Sem dúvidas que aquela instituição de ensino foi o marco inicial de uma trajetória bem sucedida para a formação de matemáticos em Portugal, quer em Coimbra quer em outra cidade. A profunda reforma pombalina da Universidade de Coimbra foi um dos acontecimentos da segunda metade do século XVIII, que contribui para a mudança de rumo do ensino da ciência e da cultura em Portugal. As Matemáticas e as Ciências Físicas, Químicas e Naturais alcançaram prestígios e abriu as portas aos métodos da Ciência Moderna. Sobre os primórdios da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, como citado anteriormente, destacaremos dois matemáticos portugueses: José Anastácio da Cunha e José Monteiro da Rocha (1734-1819). (aquele que teve participação no programa de reforma da instituição). Ambos foram autodidatas. José Monteiro da Rocha estudou com o Jesuíta João Brewer, na Faculdade de Matemática da Bahia, deixou a ordem dos inicianos após a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, como já foi dito. Ordenou-se sacerdote, e depois de alguns anos retornou a Portugal e foi nomeado lente da cadeira de Ciências Física-Matemática da Faculdade de Matemática, instituição essa que ele havia ajudado a organizar. Ele também assumiu o encargo de traduzir os livros didáticos para a língua portuguesa (Elementos de Aritmética, Elementos de Trigonometria Plana e Álgebra). José Monteiro da Rocha recebeu o grau de doutor pela Universidade de Coimbra. Exerceu alguns cargos e em 1783 chegou à vice-reitoria da Universidade, ficando nesse cargo até 23 de maio de 1804, quando foi convidado pela corte para exercer o cargo de Conselheiro do Príncipe Regente Dom João, cargo esse que desempenhou até 1807, quando então a família real fugiu para o Brasil, expulsa por Napoleão Bonaparte. 5 José Anastácio da Cunha (1744-1787) escreveu a pedido de um oficial britânico de seu regimento, um trabalho intitulado Carta Física-Matemática sobre a Theoria da Pólvora e a Determinação do Melhor Comprimento das Peças em Particular. Ao analisar esses trabalhos ele apontava vários erros contidos naqueles manuais e ao mesmo tempo apresentava novas teorias a respeito do assunto. Por esse motivo foi detido, mas posteriormente o comandante que ordenou a sua detenção reconheceu o valor contido na obra de José Anastácio e escreveu ao Primeiro Ministro levando os méritos científicos do seu subordinado. Em carta datada de 05 de outubro de 1773 ao Reitor da Universidade de Coimbra, assim se expressa o Marquês de Pombal a respeito de Anastácio da Cunha. O dito Militar e tão eminente na Sciencia Mathemática, que tendo-o eu destinado para ir à Alemanha aperfeiçoar-se com o Marechal General, que me tinha pedido dois ou três moços portugueses para os tornar completos, me requereu o Tenente General Francisco Marican que não o mandasse, porque ele sabia mais que a maior parte dos Marechais da França, de Inglaterra e de Alemanha; e que é um d’aqueles homens raros que nas nações cultas costumam aparecer (FREIRE, 1872, apud, SILVA, 1992). Em 1774 já na qualidade de lente da cadeira de geometria ele recebe o grau de doutor por ordem do Marquês de Pombal. Com a queda do Primeiro Ministro em 1777, José Anastácio da Cunha passou uma fase difícil em sua vida. Foi preso, julgado e condenado. Ao ser interrogado informou que havia completado, após 12 anos, um livro de matemática, intitulado Princípios Matemáticos. Este capítulo que vai da colonização até o império nos fornece uma visão da qualidade e direcionamento do ensino das Matemáticas em Portugal e no Brasil, onde os inicianos tinham o domínio. 2.3 Período do Império e República Velha até a década de 1930 Com a fuga da Família Real para o Brasil no fim de 1807, foi autorizada a criação da Academia Real Militar na Corte do Rio de Janeiro em 1808. Dentre os cursos da Academia, constava o curso de matemática que durava quatro anos e um curso militar de três anos. A institucionalização do Ensino da Matemática Superior no Brasil começou em 1810. Mas nem todos os alunos eram obrigados a completar o curso de sete anos, conforme nos informa J. Motta. Os alunos destinados a Infantaria e a Cavalaria apenas estudavam as matérias do primeiro ano (Matemática Elementar), e os assuntos militares do quinto. Só para artilheiros e engenheiros eram exigidos os estudos do curso completo... (Motta, J., 1976, p. 20, apud, SILVA, 1992). A Academia Real Militar começou a funcionar em 23 de abril de 1811. Listamos a seguir as disciplinas ministradas na Academia: 1º ano: Aritmética, Álgebra, Geometria Trigonometria e Desenho; 6 2º ano: Álgebra, Geometria, Analítica, Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Descritiva e Desenho; 3º ano: Mecânica, Balística e Desenho; 4º ano: Trigonometria Esférica, Física, Astronomia, Geodésia, Geografia Geral e Desenho; 5º ano: Tática, Estratégia, Castrametraçao (arte de assentar equipamentos), Fortificação de Companhia e Reconhecimento de Terreno e Química; 6º ano: Fortificação Regular e Irregular, Ataque e Defesa de Práticas, Mineralogia e Desenho; 7º ano: Artilharia, Minas e História Natural. A primeira composição do corpo docente do curso básico de matemática foi a seguinte: Antonio José do Amaral (1782-1840), Francisco Cordeiro da Silva Torres e Alvin (1775-1856), José Saturnino da Costa Pereira (1773-1853), José Vitorino dos Santos e Souza (1780-1852), Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1777-1838). Estes foram os homens que formaram no Brasil pós-período colonial, a primeira geração de engenheiros matemáticos. Foram formados em instituições portuguesas, onde o forte não era a pesquisa matemática atrelado ao ensino. As Escolas Militares tinham os seus próprios objetivos, enquanto a Universidade de Coimbra continuava a ser uma instituição medieval. Por sua vez, José Monteiro da Rocha e José Anastácio da Cunha não foram suficientemente capazes de criar um ambiente matemático, como já falamos antes, e sim gerenciar as suas próprias ambições, mesmo assim formaram discípulos. Se houvesse condições propícias no Brasil, os professores acima citados não estavam preparados cientificamente para iniciar aos alunos brasileiros no estudo da matemática. Contudo, devemos registrar a preocupação dos organizadores dos cursos da Academia Real Militar quanto à qualidade e seriedade dos mesmos, levando-se em conta consideração de padrões científicos e culturais da época. Constava em seus Estatutos o fato de que os professores eram obrigados a organizarem textos didáticos moldados sobre livros adotados, geralmente de autores franceses, para o uso de seus alunos. Este foi o forte motivo pelo qual foram feitas traduções para a língua portuguesa de várias obras matemáticas de alguns autores renomados para o uso na Academia. Após a Independência do Brasil, em 1822, a Academia Real Militar passou a chamar-se Academia Imperial Militar e em seguida instituir-se-ia Academia Militar e de Marinha do Brasil. Foi num curto período, pois um decreto Imperial de número 25 decretou a separação das duas Escolas, e depois de outras mudanças denominou-se Escola Militar. Um Decreto Imperial de número 140, de 09 de março de 1842, instituiu modificações nos Estatutos da Escola Militar, dentre estes, ampliariam disciplinas de Engenharia Civil do sétimo ano do curso daquela instituição de ensino. Foi o prenúncio para a criação da Escola de Engenharia, separada de uma Instituição Militar. Foi também mantido o curso Matemático, passando o mesmo a conter as seguintes disciplinas: 1º ano: Aritmética, Álgebra Elementar, Geometria, Trigonometria Plana e Desenho; 2º ano: Álgebra Superior, Geometria Analítica, Cálculo Diferencial e Integral e Desenho; 3º ano: Mecânica Racional Aplicada as Máquinas, Física Experimental e Desenho; 4º ano: Trigonometria Esférica e Astronomia Geodésia. 7 O Decreto em pauta também instituiria naquela escola algo muito importante para o ensino e desenvolvimento das Matemáticas no Brasil, que foi o grau de doutor em Ciências Matemáticas, porque despertou o interesse e desejo de alguns alunos de estudar por conta própria alguns tópicos Matemáticos não desenvolvidos no curso na Escola e, com isso, atualizaram-se com o desenvolvimento daquela ciência. Porém, aquele título só foi regulamentado em 1846, ano a partir do qual foram concedidos, por decreto, os primeiros graus de doutor aos professores da instituição, conforme estatuía o Artigo 19° do Decreto 140. Somente foi a partir de 1848 que começaram a ser defendidas as primeiras teses. Art. 19° - “Os alunos que se mostrarem aprovados plenamente em todos sete anos do curso da Escola Militar, e se habilitaram pela forma que for determinada nas Instruções, ou Regimento do Governo, receberão o grau de doutor em Ciências Matemáticas, e só os que obtiveram poderão ser opositores aos lugares de Substitutos. Os Lentes e Substitutos atuais receberão o referido grau sem outra alguma habilitação que o título de suas nomeações.” A Escola Militar continuava não satisfazendo as necessidades do país, pois ela não formava engenheiros civis, e naquela época o país necessitava de engenheiros para o seu desenvolvimento, pois era o início das construções de estradas, portos, casas, prédios etc. Dessa forma veio a idéia de separar o ensino militar do ensino civil, criando um curso superior próprio de engenharia com disciplina de engenharia civil. O Decreto de número 2116 de 1° de Março de 1858, aprovou em seu Art. 1º- As atuais escolas: Militar da Corte e de Aplicação do Exército, e o curso de infantaria e cavalaria da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, passarão a chamar-se Escola Central. Nessa Escola Central teria três cursos: de matemática, de ciências físicas e naturais, onde se formava bacharéis, onde eram ministradas as seguintes disciplinas: 1°ano-Álgebra, Trigonometria Plana, Geometria Plana, Física Experimental, Meteorologia, Desenho Linear,Topográfico e Paisagem. 2ºano-Geometria Descritiva, Cálculo Diferencial e Integral, Calculo das Probabilidades,das Variações e Diferenças Finitas, Químicas Desenho Descritivo e Topográfico. 3° ano- Mecânica Racional e Aplicação às Máquinas em Geral, Maquina a Vapor e suas Aplicações, Mineralogia, Geologia e Desenho de Máquinas. 4º ano-Trigonometria Esférica,Ótica, Astronomia, Geodésia, Botânica, Zoologia, Desenho Geográfico. Um Decreto Imperial de número 5600, de 25 de abril de 1874, deu novos Estatutos à, transformando em Escola Politécnica, uma escola para ensino exclusivo de Engenharia e subordinada a um Ministro Civil, a saber, Ministro Imperial. “Art. 1 – A atual Escola Central passará a dominar-se Escola Politécnica e se comporá de um curso geral e dos seguintes cursos especiais: 1º Curso de Ciências Físicas e Naturais; 2º Curso de Ciências Físicas e Matemáticas; 3º Curso de Engenheiros Geógrafos; 4º Curso de Engenharia Civil; 5º Curso de Minas; 6º Curso de Artes e Manufaturas [...]” Conjetura-se que este modelo de escola foi inspirada em escolas francesas. Temos especial interesse pelo Curso de Ciências Físicas e Matemáticas, sucessor do curso 8 matemático da então Academia Real Militar. O curso citado tinha três anos de duração e foi mantido naquela instituição até 1896, onde se estudavam as seguintes disciplinas: Séries, Funções Elípticas, Cálculo Diferencial e Integral, Cálculo das Variações, das Diferenças e das Probabilidades, Aplicações às Tabuas de Mortalidade, aos Problemas de Juros Compostos, às Amortizações pelo Sistema de Price, aos Cálculos das Sociedades Tontinas e aos Seguros de Vida. O Artigo 67 do Decreto Imperial acima referido concedeu na Escola Politécnica o grau de doutor em Ciências Físicas e Matemáticas e grau de doutor em Ciências Físicas e Naturais. Porém o grau somente seria conferido a quem fosse bacharel e tivesse obtido aprovação plena em todas as cadeiras do curso que realizou. Desse modo o candidato estaria habilitado para concorrer ao grau que após defender a sua tese e ser aprovado receberia o grau de doutor acima especificado. Com a Proclamação da Republica, iniciou uma nova fase do ponto de vista matemático científico, mas em geral, pouca inovação trouxe ao país, com relação Ensino Superior. No período republicano foi promulgado o Decreto número 2221, de 23 de janeiro de 1896, dando novos Estatutos da Escola Politécnica. Essa reforma extinguiria os chamados cursos científicos, como curso de Ciências Físicas e Matemáticas e o curso de Ciências Físicas Naturais. Então, o ensino da matemática Superior no Brasil, no período de 1896 até 1933 foi feito exclusivamente como cadeira dos cursos de engenharia, onde eram formados engenheiros–matemáticos. Quem sabe esteja aí a resposta para a explicação do pobre desenvolvimento das matemáticas em nosso país naquela época. Foi um dos períodos mais críticos do ensino superior no Brasil. A partir de 1934, com a Fundação da Universidade de São Paulo – USP e sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras é que o ensino e o desenvolvimento das Matemáticas retornaram com toda força ao país, por meio de um curso próprio. Ao analisarmos as reformas ocorridas nos Estatutos da Escola Militar e suas sucessoras até a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, observamos a ausência das matemáticas, bem como a ausência de pesquisas científicas ligadas ao ensino das matemáticas. As cadeiras de matemáticas que existiam ensinavam uma matemática arcaica voltada aos interesses do ensino das engenharias, com objetivos específicos. Mas foi a única instituição de ensino que até o ano 1933 ensinou, de modo contínuo, a matemática superior no Brasil. E desses engenheiros–matemáticos que se dedicaram a pesquisas científicas dois deles merecem destaque: Joaquim Gomes de Souza e Otto de Alencar Silva (1874-1912). Seus trabalhos foram feitos por seus próprios esforços. 2.4 Tentativas de criação de universidades até a década de 1940 Ao fazermos um estudo histórico do ensino das Matemáticas no Brasil, relataremos um esboço histórico a respeito da tentativa da criação de universidades. Durante a fase imperial foram apresentados 42 anteprojetos, ou seja, 42 tentativas de criar uma Universidade. Mas alguns historiadores consideram o ano de 1538, como sendo o marco inicial dos debates para a criação de uma universidade no país. Em nenhum desses anteprojetos, houve preocupação nenhuma em criar uma Faculdade de Matemática. Como relatamos anteriormente, o Colégio da Bahia, mantido pelos inicianos, manteve até o século XVII uma Faculdade de Matemática. 9 O Príncipe João Maurício de Nassau (1604-1679) que foi Governador da colônia holandesa no Brasil de 1637 a 1644 tinha um projeto para a fundação de uma universidade em Recife, a qual não foi instalada. Mesmo assim o Príncipe mandou instalar um observatório astronômico em uma torre do Palácio Friburgo. Os mentores da Inconfidência Mineira chegaram a cogitar uma universidade em Ouro Preto, mas no projeto não havia espaço para a Faculdade de Ciências. Em 1820, José Bonifácio de Andrade e Silva elaborou um anteprojeto visando à criação de uma universidade, onde teria vários cursos, inclusive o de Ciências Matemáticas. É nesse esboço que encontramos pela primeira vez a intenção de criar um Curso de Matemática no Brasil, após a extinção da Faculdade de Matemática dos inicianos. No ano de 1842 foi elaborado mais um anteprojeto que visava a Fundação de uma Universidade no país. O artigo 2 desse anteprojeto dava a Constituição da Universidade que seria formada por Faculdades de Teologia, Direito, Filosofia, Medicina e Matemática. A Faculdade de Matemática mencionada teria como modelo a Universidade de Coimbra. O curso Matemático teria a duração de quatro anos e é um pobre elenco de disciplinas matemáticas a serem ministradas nas seguintes cadeiras: 1º ano: Geometria; 2º ano: Álgebra, Cálculo Diferencial e Integral; 3º ano: Mecânica; 4º ano: Astronomia. Assim, durante décadas vários anteprojetos foram feitos para a criação de uma universidade e todos foram arquivados. Em 1911 foi promulgada a Lei Orgânica do Ensino Superior e do Ensino Fundamental da Republica, Decreto número 8659 conhecido como Lei Rivadávia, que permitia a criação de instituições de Ensino Superior pertencentes à iniciativa privada. Dessa lei surgiram várias Instituições de Ensino Superior. Em Manaus de 1908 pretendiam criar uma Instituição de Ensino Superior para aquela região. Naquele espírito, em dois de fevereiro de 1909, parte da elite intelectual aprovou os Estatutos da Escola Universidade Livre de Manaus, que constava vários cursos, inclusive o de Ciências, transformada, em 1913, na Universidade de Manaus. Os alunos daquela instituição pagavam uma taxa de mensalidade, porém as despesas eram pagas pelos cofres públicos do Estado e do Município. Na cidade de São Paulo, em 1911, foram criadas as seguintes instituições de ensino superior: Instituto Superior de São Paulo, Universidade Paulista, Superior Universidade do Estado de São Paulo e Universidade de São Paulo, todas particulares. Dessas instituições acima mencionadas apenas a Universidade de São Paulo levou a sério suas pretensões. Só que o Ensino das Matemáticas como sempre ficou de fora. Ainda amparado pelo Decreto já mencionado, em 19 de dezembro de 1912 foi criada a Universidade do Paraná, particular, que foi constituída por vários cursos e mais uma vez não houve naquela instituição o Curso de Ciências Matemáticas. 10 Estas instituições de ensino superior não sobreviveram por muito tempo. A partir de 1911 houve no Brasil a liberdade de ensino ou ensino livre. Esse fato junto com a ambição de ganhar dinheiro fácil desenvolvida em pessoas sem escrúpulos, motivou a criação legal de fábrica de diplomas de curso superior. Em verdade estava se ploriferando no Brasil uma indústria de “Faculdades”. Citamos como exemplo o que segue: “Universidade brasileira reconhecida em todo o Brasil [...] É um estabelecimento de ensino fundamental superior [...] Cujo fim é conferir o grau de doutor em Medicina, doutor em Direito, Engenharia, Farmácia [...]” (Anúncio publicado in em O Estado de São Paulo, 25 de março de 1913, apud, SILVA, 1992) O ministro Carlos Maximiliano do então Presidente Venceslau Braz Pereira Gomes, inconformado com esse erro e preocupado com uma pequena parcela de pessoas de bem, resolveu acabar aquele estado critico do ensino superior e, aos poucos, foram sendo extintas estas instituições. A Universidade Federal do Paraná, sucessora da Universidade do Paraná, foi criada em 1° de abril de 1946 e oficializada por Decreto-Lei n° 9323 de 6 de junho de 1946 com várias unidades. O ensino superior que existia no Estado do Paraná, no que diz respeito à matemática, no período de 1912 à década de 1940, quando então começou a funcionar o curso de matemática, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, era ministrado em curso de Engenharia por professores engenheiros e se limitava aos seguintes assuntos: Geometria Analítica, Geometria Descritiva, Geometria Euclidiana, Trigonometria, Cálculo Diferencial e Integral à moda antiga, isto é, sem o uso de conceito e da definição de: função, limite de uma função em um ponto, derivada de uma função, integral de uma função segundo Riemann, função continua, dentre outros assuntos já incorporados à literatura matemática da época. Um pobre elenco de assuntos, mas o suficiente para o ensino de engenharia civil da época. 2.5 O desenvolvimento da matemática no Brasil a partir da década 1930 O segundo e conciliador período do desenvolvimento das Matemáticas no Brasil, foi a fundação da Universidade de São Paulo (USP) no ano de 1934. Isso fez com que o Estado de São Paulo surgisse nas décadas de 1930, 1940 e 1950 como líder nos estudos das Matemáticas no Brasil. Naquela instituição teve início um novo ciclo para o ensino e desenvolvimento das Matemáticas no Brasil, livre, por exemplo, das influências do positivismo comteano1. Nela foi criado o primeiro curso de graduação em matemática, onde formava-se matemáticos e professores de matemática para o ensino superior e secundário, um fato novo no país do bacharéis. Para aquela instituição foram contratados bons professores europeus por Teodoro A. Ramos (1895-1935). O então docente da Escola Politécnica de São Paulo trouxe em 1934, dentre outros, para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - FFCL o prestigiado matemático italiano Luigi Fantappié (1901-1956) que estava com 33 anos, no auge da sua atividade científica e em 1936 veio outro matemático italiano, Giacomo Albanese (1890-1957). Na década de 1930 no Rio de Janeiro a união de idéias de educadores liderada por Anísio Teixeira (1900-1971) culminou com a criação da Universidade do Distrito 1 O Positivismo é uma corrente sociológica cujo precursor foi o francês Auguste Comte (1789-1857). Para maiores detalhes, consultar, por exemplo, o site http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo. 11 Federal que foi uma instituição , apesar de pouco duradoura, voltada para o ensino e para pesquisa básica ligada ao ensino. Dentre as faculdades havia a de Ciências. Retomando a FFCL e a USP. Aquela unidade foi concebida por Julio Mesquita Filho (1892-1969), como um grande centro de pesquisa cientifica básica continuada associada ao ensino e atuando em algumas áreas de conhecimento, dentre elas destacamos: ciências exatas, ciências biológicas e ciências humanas. A USP, diferentemente das faculdades já existentes, incentivava e estimulava o aluno à pesquisa, enquanto as universidades constituídas de escolas profissionalizantes, distintas e distantes entre si, não se preocupavam com a pesquisa básica continuada ligada ao ensino de graduação. Assim sendo, o Curso de Matemática da USP contou desde seu início com a valiosa colaboração de renomados matemáticos italianos. O primeiro a chegar foi Luigi Fantappié (1901-1956) que foi discípulo de Vito Volterra (1860-1940). Na época, Fantappié estava interessado em estudar a parte da Análise Matemática conhecida por Funcionais Analíticos. Antes de vir para o Brasil Fantappié foi catedrático de Análise Matemática na Universidade de Bologna e diretor do Instituto Matemático Salvatore Pincherle. Na USP ele se dedicou em formar uma escola de matemática e também ao trabalho de desenvolvimento e implantação dos estudos da Matemática no Brasil por meio de divulgação de escritos contendo suas idéias sobre a necessidade da reforma do ensino secundário. Ele também combateu o que chamava de ensino enciclopédico, pleno de conhecimentos isolados, de fórmulas e regras a serem decoradas que nada contribuíam para a formação da personalidade do indivíduo. Fantappié reformulou os programas da cadeira de Cálculo Infinitesimal e de Geometria que era ministrado na Escola Politécnica. Ele iniciou o curso de cálculo com os números Reais, apresentando aos seus alunos, por exemplo, a definição de corpo, corpo ordenado etc., e terminando o curso com estudo das Equações Diferenciais. Ele também ministrou cursos sobre assuntos até então não conhecidos pelos alunos brasileiros, como por exemplo: Funcionais Analíticos, Teoria dos Grupos Contínuos, Teoria dos Números, Álgebra e outros assuntos. Criou o Seminário Físico e Matemático que atraiu a atenção dos estudantes, iniciou a formação de uma biblioteca de matemática na USP e iniciou também a compra de coleções e de assinaturas de revistas sobre matemática. Fantappié foi um grande matemático que contribuiu para o desenvolvimento da mesma em nosso país. Giacomo Albanese (1890-1947) chegou a USP logo após Fantappié e na época trabalhava com Geometria Algébrica, um dos ramos da matemática criado pela escola italiana. Chegou a USP em 1936 para reger a cadeira de Geometria na FFCL e depois a cadeira de Geometria Projetiva, Analítica e Descritiva, na Escola Politécnica. Estes dois matemáticos impulsionaram para frente o ambiente matemático em São Paulo e no Brasil. A partir da década de 1940 os estudos matemáticos se expandiram em qualidade e quantidade em São Paulo e no Brasil. Podemos dizer que a FFCL da USP se constituiu, a partir de sua fundação e por mais de 20 anos, a principal fonte de formação e estudos matemáticos do Brasil. 2.6 Algumas teses de matemáticos que foram defendidas a partir da Escola Militar Segue uma breve análise sobre as teses apresentadas na Escola Militar para obtenção do grau de doutor, em Ciências Matemáticas. Dentre essas teses destacaremos a que foi apresentada por Joaquim Gomes de Souza, intitulada Dissertação Sobre o Modo de 12 Indagar Novos Astros sem Auxilio das Observações e a que foi defendida por Teodoro Augusto Ramos, em 1918, com o título: Sobre as Funções de Variáveis Reais. Esta foi a mais importante, porque dentre outras coisas, introduziu no Brasil a Análise Matemática Moderna. Com exceção dessas duas teses, as demais são trabalhos de caráter expositivo, compilações de termos conhecidos e concedidos em livros didáticos, o que de certa forma, refletiria na sociedade, pois não havia novas descobertas para a evolução da mesma na área das Ciências Matemáticas. Com relação à concessão do grau de doutor em ciências matemáticas, sabemos o seguinte: a partir de 9 de Março de 1842, de acordo com os Estatutos reformados da Escola Militar, seus professores passaram a fazer jus ao grau de doutor em Ciências Matemáticas sem necessidade de defesa de tese. No ano de 1846 foram concedidos, por decreto, os primeiros graus. Alguns professores em 18 de Dezembro de 1846: José Saturnino da Silva Torres, José Victorino dos Santos, João Paulo dos Santos Barreto, Jose da Costa Azevedo, Joaquim José de Oliveira, e outros. E em 20 de setembro de 1847 receberam o grau de doutor os seguintes professores: Ricardo José Gomes Jardim, Frederico Leopoldo César Burlamaque, André Cordeiro de Negreiros Lobato e Francisco Antonio de Araújo. Estes foram os professores que séc. XIX receberam o grau de doutor por decreto. Devemos registrar o que no arquivo de Benjamim Constant (1836-1891) que se encontra num museu que recebe o seu nome, existe em dados bibliográficos a seguinte informação: cursou a Escola Militar em 1853. Aperfeiçoamento em Engenharia e doutor em Matemática e Ciências Físicas pela a Escola Central. Os livros que constam os termos de colação de grau da Escola Militar, Central e Politécnica do Rio de Janeiro não constam o nome de Benjamim como sendo um dos recebedores do referido grau. No frontispício da primeira edição de 1868, de sua obra intitulada Theoria das Quantidades Negativas, que foi apresentada ao Instituto Politécnico brasileiro, em 1867, instituição da qual ele fizera parte, consta o seguinte após o nome de Beijamim Constant: Bacharel em Matemática e Ciências Naturais, Capitão do Corpo do Estado Maior de Primeira Classe. Ele foi nomeado lente da Escola Superior de Guerra e em 26 de Março de 1889 Beijamim Constant teria recebido o grau de doutor em Ciências Físicas e Matemáticas, uma decisão política por parte das autoridades competentes. Como já falamos anteriormente, um dos matemáticos que mais se destacou nas duas primeiras décadas do século XIX foi Joaquim Gomes de Souza, que nasceu na fazenda Conceição na Província do Maranhão e chegou ao Rio de Janeiro em 1844 para ingressar na Escola Militar. Em 1840, não satisfeito com os estudos daquela instituição, abandonou-a, matriculando-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ao freqüentar aquela instituição veio o desejo de se aprofundar nos estudos das Ciências Físicas, Ciências Químicas e Ciências Naturais que o impulsionava a estudar matemática com muita dedicação. Em 1846 voltou à Escola Militar e em 1847 pediu permissão para realizar o Exame Vago, de todas as cadeiras que faltavam. Foi aprovado com louvor e em 10 de julho de 1848 fez a colação de grau de bacharel em Ciências Matemáticas. Em 14 de outubro de 1848, aos 19 anos de idade, após defender a sua tese intitulada Dissertação sobre o modo de Indagar novos Astros sem auxilio das Observações Diretas, colou o grau de doutor em Ciências Matemáticas. 13 Ele foi o primeiro aluno da Escola Militar a obter o grau de doutor. Joaquim Gomes de Souza publicou vários trabalhos onde os quais tratam de Física Matemática, Integração de Equações Diferenciais Parciais e Equações Integrais. A Obra Matemática de Joaquim é importantíssima, não pelo seu rigor e sim pelo seu isolamento do mundo cientifico europeu de então. Essa tese foi um trabalho acadêmico de excelente qualidade é um importante passo para a ciência no Brasil. Ele foi um vencedor, pois as dificuldades para se adquirir livros e revistas em matemáticas, publicados no velho continente, eram grandes, pois vivíamos isolados do mundo cientifico. Ao final desse trabalho não há alguma listagem de consulta a obras bibliográficas, logo não era comum no meio cientifico brasileiro. Mas, em muitas partes de sua tese, Gomes da Silva que fez referências às obras de Laplace e Lagrange. Outro matemático que merece destaque é Theodoro Augusto Ramos, que se graduou em Engenharia Civil em 1917 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e em 25 de julho de 1918 recebeu o grau de doutor em Ciências Físicas Matemáticas ao defender a tese intitulada: Sobre as Funções de Variáveis Reais. Theodoro Ramos foi um dos brilhantes matemáticos brasileiro mais produtivo de sua geração. Sempre esteve atualizado na área das matemáticas de seu interesse. Ele fez parte do grupo de cientistas brasileiros que combateu a influência da ideologia positivista de Augusto Comte sobre a elite intelectual brasileira. O ciclo de ruptura dessas influências foi iniciado por Otto de Alencar Silva (1874-1912). A tese de Teodoro Ramos é um importante trabalho matemático que introduziu a Análise Matemática Moderna no Brasil. Um dos objetivos do autor foi mostrar como se baseava de modo natural, a teoria das funções de variáveis reais sobre a simples noção de polinômios. A idéia central do autor foi considerar as funções de uma variável real como limite de sucessões convergentes de polinômios em um intervalo. Theodoro Ramos, homem de consciência cientifica, não se isolou e manteve contatos pessoais e por correspondência com vários cientistas brasileiros e europeus. Durante algumas décadas, vários brasileiros receberam o grau de doutor em Ciências Físicas Matemáticas. Outros matemáticos que defenderam teses: Ignácio da Silva Galvão. Título de tese: Dissertação sobre as Superfícies Involtórias; Francisco Joaquim Catete, titulo da tese: Sobre a Curva Acústica; João de Castro Morais Antas, titulo da tese: Teoria Matemáticas das Probabilidades; Francisco da Costa Araújo e Silva, título da tese: Dissertação Sobre o Paralelismo das Linhas e Superfícies Curvas. 2.7 Sociedades científicas e publicações A partir da década de 1920 uma parte da sociedade intelectual brasileira começou a se mobilizar para que a nação tivesse consciências de suas necessidades e buscassem solução para grandes problemas da época. (Educacional, Saúde, Econômico e outros). Um dos movimentos que culminaram naquela época foi à chamada Semana da Arte Moderna, ocorrida em 1922 em São Paulo, que envolveu artistas e escritores. Os intelectuais ligados à Sociedade Brasileira de Ciências e transformados em Academia Brasileira de Ciências – ABC. Na década de 1920 a ABC iniciou um programa de intercâmbio com cientistas e com instituições científicas estrangeiras. Naquela mesma década vieram ao Brasil, para realizar cursos e conferências, vários cientistas, entre eles estavam Jacques Hadamard (1865-1963), Emile Borel (1871-1956) e Albert Einstein (1879-1955). 14 Foi a partir de 1940 que foram fundadas as primeiras sociedades cientificas do Brasil. A primeira foi a Sociedade de Matemática de São Paulo em 1945 e foi extinta em 1969. A segunda sociedade de Matemática a ser fundada foi a Sociedade Paranaense de Matemática, criada em 31 de outubro de1953. Posteriormente foram fundadas outras sociedades como: Sociedade Brasileira de Matemática – SBM, fundada em 1969, Sociedade de Matemática Aplicada e Computacional – SBMAC, fundada em 1978, Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM, fundada em 27 de Janeiro de 1988, e outras. Em 1924 foi fundada a Associação Brasileira de Educação – ABE, cujos fundadores estavam preocupados com a qualidade e o futuro do ensino no país, em 1932 surgiu o chamado Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tendo como signatários o educador Anísio Teixeira. A ABE passou a estimular seus membros a publicarem, nos jornais da cidade, artigos científicos versando sobre temas educacionais e científicos. Aquela instituição organizou e promoveu o 1º Evento Conferência Nacional de Educação, na qual seu então presidente M. Amoroso Costa apresentou o trabalho intitulado A Universidade e a Pesquisa Cientifica. Após 1930 foram criadas revistas periódicas que abordavam exclusivamente temas de matemática pura e aplicada: 1. Jornal da Matemática Pura e Aplicada. Esta foi a primeira revista dedicada a trabalhos de pesquisa Matemática publicada no Brasil; 2. Summa Brasiliensis Matematicae, fundada em 1945, revista de nível internacional financiada pelo Instituto Brasileiro de Educação Ciência e Cultura do Rio de Janeiro. Em 1968 foi publicado o seu ultimo fascículo; 3. Boletim da Sociedade de Matemática de São Paulo. Seu primeiro volume foi publicado em 1946, e seu ultimo volume foi publicado em 1966. Revista Cientifica, essa publicação era da responsabilidade do Departamento de Matemática, Física, Química e Historia Natural da Faculdade Nacional de Filosofia; 4. Anuário da Sociedade Paranaense de Matemática, revista fundada em 1950 e interrompida em 1960; 5. Boletim da Sociedade Paranaense de Matemática, fundada em 1958; 6. Revista do Professor de Matemática e Matemática Universitária. Publicações da SBM. Ambas fundadas em 1969 no VII Colóquio Brasileiro de Matemática; 7. Matemática Aplicada e Computacional, uma revista da SBMAC fundada em 1978. 2.8 Contribuições de matemáticos estrangeiros Em virtude da deflagração da Segunda Guerra Mundial, emigrou da Polônia para o Brasil o matemático Zbigniew Lepecki, doutorado em Ciências Matemáticas pela Universidade de Cracóvia. Chegou a Curitiba em 1940 e foi contratado para reger a cadeira de Analise Matemática e Análise Superior do Departamento de Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná de 1940 a 1943, em substituição ao professor Flávio Suplicy de Lacerda que se licenciou. Ele não ficou em Curitiba, transferiu-se para Belo Horizonte e desse modo Curitiba perdeu importante contribuição cientifica de um especialista matemático. 15 Após a Segunda Guerra Mundial foram contratados outros matemáticos estrangeiros para lecionar em vários estados. André Weil (1906-1998), um dos brilhantes matemáticos de sua geração, chegou à USP em 1945. Logo após chegaram outros matemáticos, entre eles Jean Deudonné (1906-1998), que veio da Europa. No período de abril de 1946 a dezembro de 1947 ministrou na Universidade de São Paulo, um curso de extensão em Álgebra, intitulado Teoria dos Corpos Comutativos. Curso que atraiu vários alunos em todo o país. Com a chegada à USP destes e de outros matemáticos estrangeiros, os alunos de São Paulo foram postos em contato com as principais correntes de desenvolvimento da matemática de então. Eles passaram a estudar tópicos como: Análise Funcional, Teoria de Conjuntos, em nível avançado, Topologia Geral, Álgebra, Álgebra Linear e etc. Devemos mencionar que o professor Theodoro Ramos havia ministrado assuntos como: Análise Matemática, Cálculo Vetorial, Cálculo Tensorial. Em 1945 chegou ao Brasil o matemático português Dr. Antonio A. R. Monteiro. Ele iniciou seis alunos em cursos e seminários de formação que abordavam tópicos como: Topologia, Espaços de Hilbert, Análise Funcional, Álgebra de Boole, Reticulados e Conjuntos Ordenados. Assuntos atuais e novos para estudantes locais. O professor português João Remy chegou ao Brasil 1952 para assumir a cadeira de Estatística Geral no recém curso de Ciências Sociais, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade do Paraná. Ao chegar à Curitiba iniciou um ambiente de estudos matemáticos, com prática de seminário e cursos de férias e isso impulsionou os estudos matemáticos, de onde surgiu a Sociedade Paranaense de Matemática - SPM. A SPM iniciou varias atividades para alunos e professores do ensino secundário e do ensino superior. A partir de 1980, a SPM passou a realizar anualmente a Olimpíada Estadual de Matemática para alunos do 2º Grau, classificando-os para a Olimpíada Brasileira de Matemática, realizada pela SBM. Com isso percebe-se que vários matemáticos estrangeiros contribuíram para o desenvolvimento da matemática em nosso país. 2.9 Programas de pós-graduação Na década de 1940 começaram na UPS os estudos de pós-graduação em matemática. O Decreto do Governo Federal n° 12511 de 21 de janeiro de 1942, instituiu o grau de doutor pela FFCL da USP. No caso da matemática foi instituído o grau de Ciências. Na época não havia curso de pós-graduação Stricto Sensu no Brasil. Este grau era obtido através de concurso, após alguns anos de estudos orientados por um professor. Nesta fase inicial da USP foram poucos alunos que conseguiram o grau de doutor em matemática e entre eles registramos uma mulher: Elza Furtado Gomide, graduada em matemática pela FFCL da USP. Ela foi à primeira brasileira que em Dezembro de 1968 a obter o grau de doutor em matemática, em uma instituição brasileira, com a tese intitulada sobre o Teorema de Antin-Weil, na área de Analise Matemática. A segunda fase de doutoramento da USP iniciou em 1952. O Decreto do Governo Federal n° 21780, de 15 de outubro de 1952 instituiu um novo regimento de grau de doutor na FFCL da USP. Eis o Art. 1º do referido decreto: “Será conferido o diploma de doutor: a) a todos os candidatos aprovados em concurso para Professor Catedrático nos 16 termos do Art. 64, parágrafo segundo do Regulamento da Faculdade de Filosofia; e b) aos bacharéis que forem aprovados em defesa de tese, depois de dois anos de estudos sob a orientação do docente da disciplina escolhida, e um exame de duas disciplinas subsidiárias da mesma seção, ou seção afim, ou das matérias do concurso de Especialização que fizer”. No caso da matemática, seria conferido o grau de doutor em Ciências. É então que encontramos a segunda brasileira a obter o grau de doutor em matemática, que foi Ofélia Teresa Alas, graduada em matemática pela FFCL da USP. O grau foi obtido em concurso e sua tese intitulada Sobre uma Extensão do Conceito de Capacidade e suas Aplicações, na área de Análise Matemática. 2.10 Colóquio Brasileiro de Matemática Na segunda metade da década de 1950, por sugestão do Dr. Chaim S. Hönig, docente da USP, foi criado um importante evento cientifico para o Brasil, a saber, o Colóquio Brasileiro de Matemática, ciclo que marcou várias gerações de matemáticos. Em 1956 o professor Chaim S. Hönig deu a sugestão da criação do evento ao professor Leopoldo Nachbim (1922-1993), que na época era diretor do setor de matemática do Conselho Nacional de Pesquisas-CNPq. Com a idéia aprovada, formou-se então o núcleo de organização do colóquio constituído por: Chaim S. Hönig, Cândido da Silva Dias, Fernando F. de Almeida, Luiz H. Jacy Monteiro, Carlos Benjamin de Lyra, José de Barros Neto, Mauricio M. Peixoto, Paulo Ribenboim, Antonio Rodrigues, Lindolpho de Carvalho Dias e Alexandre A. Martins Rodrigues. Elaboraram um plano para os cursos que deveriam ser ministrados e conferências a serem realizadas durante o 1º Colóquio Brasileiro de Matemática, que foi realizado na cidade de Poços de Caldas – MG, no período de 1º a 10 de julho de 1957. Foram realizadas conferências e cursos os quais refletiam as tendências das matemáticas da época e focalizaram temas que pesquisadores brasileiros estavam trabalhando. Os cursos foram os seguintes: Topologia Algébrica, por Carlos Benjamin de Lyra; Geometria Diferencial por Antonio Rodrigues e Alexandre A. M. Rodrigues; Álgebra Multilinear e Variedades Diferenciáveis, por Chaim S. Hönig; Teoria dos Galois, por Luiz H. Jacy Monteiro; Teoria dos Números Algébricos, por Fernando F. de Almeida; Análise Funcional, por Nelson Onuchi, José de Barros Neto, Domingos Pizzanele, Candido Lima da Silva Dias e Alfredo Pereira Gomes. Ao elaborar o relatório final, a Comissão Organizadora sugeriu as autoridades competentes que o evento deveria ser realizado a cada dois anos. Em 1952 foi fundado um Instituto de Matemática Pura e Aplicada – IMPA, no Rio de Janeiro, como um órgão do CNPq e tendo como um dos seus pesquisadores o professor Leopoldo Nachbin. O primeiro diretor do IMPA foi o professor Lélio Gama (18921981). Durantes as décadas de 1950 e 1960, o IMPA manteve atividades de pesquisa de ensino (pós-graduação) nas áreas de Análise Matemática, Geometria e Sistemas Dinâmicos. O sexto Colóquio Brasileiro de Matemática, em julho de 1967 foi realizado na Escola Latino–Americano de Matemática – ELAM, com o aumento de matemáticos brasileiros em áreas específicas de Matemática Pura. O Colóquio foi se esvaziando enquanto outros eventos científicos iam surgindo, dentre eles citaremos o Seminário Brasileiro de 17 Análise e a Escola de Álgebra. O 1º Seminário Brasileiro de Análise foi realizado no IMPA e o 65 º Semario Brasileiro de Ánalise foi realizado em Maio de 2007, na Universidade Federal de São João del-Rei. No ano de 1998 foi realizado o 47º Seminário Brasileiro de Análise. A 18ª Escola de Álgebra foi realizada no período de 9 a 23 de Agosto de 2004. 2.11 O desenvolvimento da matemática no Brasil após 1960 A partir de 1960 houve um forte incremento na oferta e na demanda de cursos de graduação em matemática em quase todo o país. Faltavam professores de matemática nas escolas secundárias e também nas faculdades. Os Departamentos de Matemática de várias Universidades contrataram, além de graduados em matemática, engenheiros (civil, mecânico, químico, agrônomo) que desejassem ser professor. Nas instituições universitárias do eixo Rio de Janeiro - São Paulo foi iniciado a partir daquela data os programas de pós-graduação em matemática. Contudo provavelmente o primeiro curso de mestrado tenha sido criado no Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA, na década de 1950. Os programas de pós-graduação podem estar relacionados à realização dos Colóquios de Matemática em Poços de Caldas, pois a cada Colóquio aumentava o numero de participantes entre professores e alunos do Curso de Matemática. O IMPA, na década de 1960, foi a primeira instituição a criar seu programa de pós-graduação em matemática, em convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Dessa primeira fase do IMPA, três alunos que foram orientados pelo Dr. Mauricio M. Peixoto, concluíram o doutorado a saber, Aristides Camargo Barreto, Ivan Kupk e a Jorge Satomayor. O Dr. Leopoldo Nachbim orientou José Barros Neto, que foi então seu primeiro discípulo em doutorado e sua tese foi preparada no IMPA e defendida na USP. No ano de 1979, o IMPA havia concedido 42 graus de doutor e mais de 60 graus em mestre em matemática. Foi do eixo Rio - São Paulo que foi criada a Universidade de Brasília – UnB por Darcy Ribeiro, em 1962. Segundo o modelo de instituição universitária de concepção do educador Anísio Teixeira. Com excelente corpo docente, a UnB, através do Instituto Central de Matemática, passou a publicar uma coleção Monografias Matemática. E a partir de 1964, foi criado um programa de pós-graduação em matemática com o corpo docente modificado. No final da década de 1960 e início de 1970 foi iniciado por parte do Governo Central um forte programa de incentivo financeiro para alunos de pós-graduação. A partir daí jovens de várias instituições de ensino de todo o país passaram a matricular-se regularmente em cursos de mestrado e/ou doutorado em matemática. Na década de 1960 a Sociedade Brasileira de Matemática iniciou um programa de iniciação cientifica para a realização de reuniões cientificas regionais. A criação dos programas de pós-graduação em matemática foi um importante fator para a melhoria de qualidade dos professores de graduação existente no país. A partir de 1970 várias instituições passaram a ofertar regularmente curso de verão versando sobre iniciação científica, graduação, extensão universitária, aperfeiçoamento ou mesmo de pós-graduação. De 1970 a 1980 as instituições Instituto de Matemática e Estatística IME – USP, Instituto de Matemática – IM – UFRJ, Instituto de Matemática, Estatística 18 e Ciência da Computação – IMECC da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e o IMPA passaram a ofertar programas de doutorado e mestrado em áreas matemáticas. Com a implantação dos programas acima mencionados logo surgiram ótimos resultados. Na década de 1970 vários artigos foram escritos e publicados por jovens brasileiros em conceituadas revistas internacionais. Esses artigos abrangiam áreas como: Álgebra, Análise Matemática, Equações Diferenciais e Geometria dentre outros. Percebe-se também a partir daquela data, aumentou o interesse de jovens matemáticos brasileiros em participar de eventos científicos nacionais e internacionais, como por exemplo, o Congresso Internacional de Matemática. Houve também o interesse pela Matemática aplicada e pela Pesquisa operacional, por parte dos jovens docentes e alunos a partir das décadas de 1950 a 1960. Devemos registrar que o Dr. Constantino Menezes de Barros (1931-1983), docente da Universidade Federal fluminense – UFF e depois transferido para o Instituto de Matemática da UFRJ, foi professor visitante do Instituto Henri Poincarè, Paris, e na Stanford University (Califórnia – USA). Participou por duas vezes do Congresso Internacional de Matemática com apresentação de Comunicações em 1966 (em Moscou). Na década de 1970 já havia no Brasil uma expressiva (em quantidade e qualidade) produção científica de matemáticos brasileiros. No que diz respeito ao estudo da Matemática Pura, começou a perder adeptos, cada vez mais para outras áreas como de doutoramento em engenharia, visando também à matemática aplicada. O catalogo Geral de Instituições de Ensino Superior que era editado pelo Ministério da Educação – MEC, em última edição de 1993, apontou a existência de 104 cursos de Licenciatura e de 46 cursos de Bacharelado em Matemática no Brasil (cf. SESu/MEC, 1993). Em meados de 1990, tínhamos cerca de 150 matemáticos brasileiros no exterior em programas de doutorado e de pós-doutorado. Até 1998 foram concedidos 172 graus de mestres em matemática no Brasil e o numero de grau de doutor já era significativo (44 em 1996, 41 em 1997, 59 em 1998). Atualmente estima-se em 1000 o número de doutores em matemática trabalhando nas universidades e institutos de pesquisas nacionais. Os encontros matemáticos de nível internacional realizados no Brasil se multiplicam. Anualmente, mais de 20 encontros desse tipo têm lugar em diferentes instituições do país. Os principais periódicos brasileiros de pesquisa matemática são: os Anais da Academia Brasileira de Ciências, publicado pela ABC; o Boletim da Sociedade Brasileira de Matemática e a Revista Matemática Contemporânea, publicadas pela SBM; a Revista Computacional & Applied Mathematics e o Boletim da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (jornal eletrônico), publicadas pela SBMAC e o Brazilian Journal of Probability and Statistics, publicado pela Associação Brasileira de Estatística – ABE. Na área do ensino temos como publicações mais importantes: a Matemática Universitária e a Revista do Professor de Matemática, publicadas pela SBM e a Educação Matemática em Revista, publicada pela SBEM. Os matemáticos brasileiros publicam anualmente mais de 500 artigos de pesquisa em periódicos com referee, a grande maioria em revistas estrangeiras, cobrindo as mais 19 diversas especialidades matemáticas, tais como: Teoria dos Grupos, Álgebra Comutativa, Geometria Aritmética, Geometria Algébrica, Sistemas Dinâmicos, Teoria das Folheações, Geometria Diferencial, Topologia Diferencial, Análise, Equações Diferenciais Parciais, Análise Numérica, Modelagem, Computação Gráfica, entre outras. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância dessa pesquisa sobre a História da Matemática no Brasil é que ela possibilita o acesso a vários períodos importantes da evolução da mesma, cujos fatos normalmente não são conhecidos por estudantes de graduação. Desde as primeiras escolas até as universidades houve um longo percurso onde a matemática passou de mera aplicação em outras áreas a ciência com produção importante e importância internacional. A criação de várias instituições, principalmente universidades, contribuiu muito para o desenvolvimento dessa ciência, possibilitando novas pesquisas na área. No desenvolvimento da História da Matemática no Brasil sobressaíram-se vários matemáticos que lutaram e alcançaram seus ideais mesmo enfrentando situações adversas como o fato de, por muito tempo, a matemática constar apenas como parte da formação de profissionais de outras áreas. Enfim, este trabalho teve como objetivo falar da História da Matemática no Brasil que, embora tenha enfrentado dificuldades ao longo do percurso, contribuiu significativamente no aspecto geral das ciências no Brasil. É pena que a partir da década de 1980 várias instituições brasileiras com ótimos matemáticos praticamente estacionaram: cresceram em qualidade, mas faltaram estímulos para a criação de novos centros de pesquisas e para qualificação de alunos. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS SILVA, Clóvis Pereira da. Matemática no Brasil: uma história de seu desenvolvimento. Curitiba: Editora da UFPR, 1992. D`AMBROSIO, Ubiratan. História da matemática no Brasil: uma visão panorâmica até 1950. Disponível <http://vello.sites.uol.com.br/historia.htm>Acesso em: 28 de maio de 2007. SILVA, Circe Mary da. Politécnicos ou matemáticos. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php> Acesso em: 11 de set. de 2007. SILVA, Clóvis Pereira da. Sobre a história da matemática no Brasil após o período colonial: Disponível em: < http://www.mast.br/arquivos_sbhc/76.pdf> Acesso em: 19 de set. de 2007. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo> Acesso em: 10 de nov. de 2007. Maria das Dores Costa Brito ([email protected]) Curso de Matemática, Universidade Católica de Brasília. EPCT – QS 07 – Lote 01 – Águas Claras – Taguatinga – CEP: 72966-700 20