CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS DE ENGENHEIRO COELHO CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE LARISSA CRISTINE SILVA MARTINS LIZIE CREMONEZI O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM ENGENHEIRO COELHO 2013 LARISSA CRISTINE SILVA MARTINS LIZIE CREMONEZI O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM Trabalho de conclusão de curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo do curso de Tradutor e Intérprete, sob a orientação da prof.ªDr.ª Ana Maria de Moura Schäffer. ENGENHEIRO COELHO 2013 Trabalho de conclusão de curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Tradutor e Intérprete apresentado e aprovado em ______ de novembro de 2013. _________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Maria de Moura Schäffer _________________________________________________ Segundo leitor: Profº Especialista Marco Antonio de Azevedo Dedicamos este trabalho aos nossos pais, que em todo momento nos deram apoio e incentivo. Dedicamos também a nossa querida orientadora, que foi extremamente importante para a realização e conclusão desse trabalho. AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, por nos permitir concluir esta etapa; A nossa orientadora Ana M. M. Schäffer, por ser tão paciente e prestativa e nos dar toda a assistência necessária; As nossas colegas de classe por nos dar apoio; Aos entrevistados que nos proporcionaram dados importantes para que a pesquisa fosse elaborada. RESUMO A história da dublagem e da legendagem serviu como ponto de partida para tentarmos entender o porquê do aumento da ocorrência de filmes dublados nos cinemas brasileiros. Percebeu-se que a dublagem e a legendagem têm uma história paralela no contexto brasileiro, por isso não é difícil identificar as semelhanças entre um tipo de registro linguístico e outro, embora haja diferenças no modo como se apresentam. No entanto, considerando-se mais as diferenças que semelhanças, um dos principais objetivos da pesquisa foi buscar entender como se processa a relação da dublagem com a oralidade, visto que, com frequência, a presença de gírias na dublagem é mais constante que na legendagem. Para isso, dialogamos com autores que têm abordado a história da dublagem e da legendagem no Brasil, também para compreender por que os brasileiros parecem ter certa preferência pela dublagem, em se tratando de cinema, preferência esta detectada na pesquisa de campo realizada com sujeitos de escolaridade e faixas etárias diferentes. O filme Rio, que é dublado, foi escolhido para a discussão e análise da presença da oralidade nesta modalidade e, por conseguinte, as gírias. A hipótese defendida e confirmada foi que o interesse pela dublagem está relacionado a vários fatores, e entre eles, o tipo de linguagem usada na dublagem, caracterizado pela forte presença da oralidade representada na forma de gírias, além do baixo desempenho na leitura, já que o filme legendado, ao contrário do dublado, exige uma habilidade de leitura, no mínimo mediana, para que se dê o processo de compreensão na sua totalidade. Esperamos que a pesquisa sirva de motivação para que mais estudos relacionados à preferência do telespectador quanto a filmes dublados ou legendados sejam realizados. Palavras-chave: Dublagem; Legendagem; Filme Rio; Gírias; Oralidade. ABSTRACT The history of dubbing and subtitling served as a starting point on trying to understand why the occurrence of dubbed movies increased in Brazilian theaters. It was noticed that dubbing and subtitling have a parallel story in the Brazilian context, so it is not difficult to identify the similarities between a kind of linguistic register and another, although there are differences in the way they present themselves. However, considering more the differences than the similarities, one of the main purposes of the research was to try to understand how dubbing and orality are connected, since often the presence of slang in dubbing is more constant than in subtitling. To do this, we researched authors who have addressed the history of dubbing and subtitling in Brazil, also to understand why Brazilians seem to prefer dubbing, when it comes to movies. We detected this preference on the field research conducted with schooled subjects and groups of different ages. The movie Rio, which is dubbed, was chosen for the discussion and analysis of the presence of orality in this modality, and, therefore, the slangs. The hypothesis that we defended and confirmed was that the interest for dubbing is related to several factors, among them is the kind of language used by dubbed movies, characterized by the strong presence of the orality represented by slangs, in addition to the low performance in reading, since subtitled movies, unlike dubbed movies, require at least a medium ability to read so the process of understanding can fully happen. We hope that the research can be a motivation for further studies related to the preference of the viewers to dubbed or subtitled movies can be performed. Key words: Dubbing; Subtitling, Movie Rio; Slangs; Orality. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 ............................................................................................................................ 28 FIGURA 2 ............................................................................................................................ 29 FIGURA 3 ............................................................................................................................ 30 FIGURA 4 ............................................................................................................................ 30 FIGURA 5 ............................................................................................................................ 31 FIGURA 6 ............................................................................................................................ 32 FIGURA 7 ............................................................................................................................ 33 FIGURA 8 ............................................................................................................................ 34 FIGURA 9 ............................................................................................................................ 34 FIGURA 10 .......................................................................................................................... 35 FIGURA 11 .......................................................................................................................... 36 FIGURA 12 .......................................................................................................................... 36 FIGURA 13 .......................................................................................................................... 37 FIGURA 14 .......................................................................................................................... 38 LISTA DE TABELAS TABELA 1 ........................................................................................................................... 27 TABELA 2 ........................................................................................................................... 28 TABELA 3 ........................................................................................................................... 29 TABELA 4 ........................................................................................................................... 31 TABELA 5 ........................................................................................................................... 32 TABELA 6 ........................................................................................................................... 33 TABELA 7 ........................................................................................................................... 35 TABELA 8 ........................................................................................................................... 37 TABELA 9 ........................................................................................................................... 38 TABELA 10 – Grupos de Entrevistados ........................................................................... 40 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11 2 DUBLAGEM E LEGENDAGEM: UM POUCO DA HISTÓRIA .......................................... 14 3 SOBRE A ORALIDADE ................................................................................................... 20 3.1 Sobre as gírias ............................................................................................................. 23 4 ANÁLISE DAS GÍRIAS NO FILME RIO ........................................................................... 27 5 DUBLADO OU LEGENDADO? ........................................................................................ 39 5.2 Quando se trata de desenho ....................................................................................... 40 5.3 Sobre a atenção exigida .............................................................................................. 41 5.4 Sobre a leitura .............................................................................................................. 41 5.5 Sobre a legendagem .................................................................................................... 42 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 45 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 46 ANEXO – Tabela de análise contrastiva ........................................................................... 48 ANEXO B – Entrevistas ..................................................................................................... 51 9 1 INTRODUÇÃO São poucos os materiais que se encontram sobre a dublagem e a legendagem no Brasil e isso causa certa dificuldade para pesquisar sobre o assunto. Falaremos um pouco sobre a história da dublagem e da legendagem e tentaremos entender o porquê do aumento da ocorrência de filmes dublados nos cinemas brasileiros e o que poderia estar por trás disso. Percebe-se que a dublagem e a legendagem têm uma história paralela no contexto brasileiro, por isso não é difícil se identificar as semelhanças entre um tipo de registro linguístico e outro, embora haja diferenças no modo como se apresentam. No entanto, considerando-se mais as diferenças que semelhanças, buscaremos entender como se processa a relação da dublagem com a oralidade, visto que, com frequência, a presença de gírias na dublagem é mais constante que na legendagem. Por isso, dialogaremos com autores que têm abordado a história da dublagem e da legendagem no Brasil, buscando compreender por que os brasileiros parecem ter certa preferência pela dublagem, em se tratando de cinema. Para embasar a pesquisa remeteremos a autores como Araújo (2000), Soares (2002), Lessa (2002), Cajaiba (2000) que falam sobre a história da dublagem e legendagem no Brasil. A escolha desses autores se deve ao fato de, por exemplo, Araújo ser uma das poucas pesquisadoras do Brasil que tem tentado historicizar a dublagem no contexto nacional e servido de referência para muitas pesquisas (RAMALHO, 2007; CARVALHO, 2005; MELLO, 2005). Soares (2002), jornalista, tradutora e revisora especializada em legendagem e dublagem, aponta as limitações técnicas e dificuldades dos tradutores devido à abrangência e diversidade de assuntos na dublagem e legendagem de filmes que é a área de maior alcance ao público, porém uma das menos pesquisadas. Lessa (2002), por ter escrito seu trabalho de conclusão de curso contendo uma ampla pesquisa sobre a história da dublagem no Brasil, um dos históricos mais lúcidos que encontramos sobre a dublagem, o qual será muito importante para o desenvolvimento desta pesquisa. Também analisamos o texto de Cajaiba (2000), 10 por ter escrito um capítulo sobre a dublagem que traz argumentos válidos sobre seus benefícios e o potencial que essa técnica tem para ser aprimorada. Como vamos focalizar a análise da dublagem do filme “Rio”, na parte prática do estudo, pretende-se discutir os aspectos da oralidade nesta modalidade e, por conseguinte, as gírias. Como suporte teórico, traremos autores como Reis (2010) que analisa a peça “Catharsis” com base nos conceitos de oralidade, e Caldin (2001), cuja abordagem destaca a oralidade, descrevendo seu significado e importância na poesia e leitura de livros infantis. Falaremos sobre a importância do tradutor em tentar manter o sentido assim como a forma, a significância e a oralidade que o autor original expressa. O tradutor pode fazer uso de algumas marcas de oralidade do português como “tá” em vez de “está” para manter o uso da oralidade do original. O discurso oral aproxima o ouvinte daquilo que está sendo narrado pela entonação da voz, pelos gestos e pela forma de conduzir a narrativa, e este aspecto deverá ser levado em conta pelo tradutor da dublagem. Diante do excesso de material que vem sendo dublado e legendado no contexto brasileiro atualmente, tentaremos saber se existe algum tipo de preferência por legendagem ou dublagem no Brasil, e o que poderia estar por trás dessa preferência, no caso de existir. Para a pesquisa estabelecemos a hipótese de que o interesse pela dublagem pode estar relacionado a vários fatores, como o tipo de linguagem usada na dublagem, a forte presença da oralidade representada na forma de gíria e a baixa performance na leitura, já que o filme legendado exige uma habilidade, no mínimo, mediana para que se dê o processo de compreensão do filme. Um dos nossos objetivos é tentar compreender a intensa presença da dublagem nos cinemas brasileiros, seguido pelo desejo de tentar identificar o interesse pela dublagem nos cinemas do Brasil, a partir de uma comparação entre a dublagem do filme “Rio” e a respectiva legendagem. Acreditamos que uma pesquisa nessa área pode contribuir para perceber a necessidade de pesquisas mais aprofundadas com relação à preferência do telespectador quanto a filmes dublados ou legendados. Este trabalho está divido por etapas. Na primeira etapa falaremos sobre a história da dublagem e da legendagem. A segunda etapa está voltada a uma 11 questão muito pertinente ao tema, a oralidade. Como a pesquisa se baseia na ocorrência de gírias na dublagem do filme “Rio”, na terceira etapa, analisaremos as gírias, fazendo uma ligação com o que os teóricos afirmam. Por fim, apresentaremos entrevistas feitas por pessoas de diferentes faixas etárias para tentarmos descobrir a preferência por filmes dublados ou legendados. 12 2 DUBLAGEM E LEGENDAGEM: UM POUCO DA HISTÓRIA Este capítulo tem como objetivo abordar aspectos históricos gerais da origem da dublagem e legendagem. Para entendermos o desenvolvimento dessas áreas da tradução, mostraremos a maneira como cresceram essas modalidades e como foi sua repercussão, mais especificamente no contexto brasileiro. A linguagem através da fala é o instrumento de comunicação mais comum e usado na sociedade universal. Sendo assim, considerando que as diferentes culturas existentes possuem cada uma delas, um código oral próprio, faz-se necessária a transmissão da mensagem de modo adaptado. A maneira em que se transmite a mensagem é de extrema importância, já que a oratória é uma questão muito antiga, analisada já na Grécia Antiga por Aristóteles e Platão. Aristóteles reconhecia o poder da linguagem e sabia como manipular uma situação apenas com palavras, até mesmo quando um discurso mal escrito é pronunciado por um bom orador, pois “não basta possuir a matéria do discurso; urge necessariamente exprimir-se na forma conveniente” (ARISTÓTELES, apud LESSA, 2002, p. 25), e Platão que fazia bom uso da retórica, da arte de falar bem, ao argumentar fazendo com que seus adversários ficassem sem respostas. Reyzábal (apud LESSA, 2002 p. 24) defende a ideia de que “o prazer de escutar é maior que o de ler, pois implica, em geral, uma história compartida por outros”, visto que, ao contar uma história, o narrador muda a intensidade da voz, enfatizando algo, ou colocando sentimentos, sejam eles de dor, tristeza, alegria, além de fazer uso de gestos. Por este motivo o texto torna-se mais interessante. De acordo com Lessa (2002, p.31), “a teatralização ou dramatização, por sua vez, é constituída de um texto que vai ser oralizado de forma artística. O ideal é que interpretação e escrita sejam de boa qualidade”. Segundo Stanislavsky (apud LESSA, 2000, p. 32), a arte de atuar consiste em criar uma “vida interior de um espírito humano e dar-lhe expressão em forma artística”, ou seja, “viver o papel”. Portanto, a escolha da voz para dar vida a um personagem deve ser uma tarefa minuciosa e atenta, pois existem inúmeras maneiras de utilizá-la. 13 O cinema nasceu em 1895, com os irmãos Lumière; menos de um ano depois vários cinemas já tinham sido abertos na Europa e nos Estados Unidos. Em 1915 essa indústria já tinha sua capital em Hollywood, nos Estados Unidos. Até então, os filmes eram apresentados em preto e branco e também eram mudos, a cada 15 ou 20 segundos eram mostrados diálogos que apareciam em cartões. Em 1926 o cinema soltou o som pela primeira vez, com um disco gravado com as músicas e efeitos sonoros concomitantemente à projeção. No ano seguinte, em 1927, O Cantor de Jazz (The Jazz Singer) impulsionou os estúdios da Warner Bros a iniciar testes de sincronismo entre projeção e som. Em sequência desses experimentos, os estúdios estrearam filmes com esse sincronismo, porém continham apenas músicas. Feito isso, a dublagem começou a ser usada; contudo, os personagens mexiam a boca enquanto as músicas soavam. Cinco anos depois, o cinema ficou ainda mais popular quando as cores foram inseridas nos filmes. Quando os roteiristas sentiram a necessidade de introduzir diálogos nas produções, o sistema teve que ser mudado. Em contrapartida, nos desenhos animados de Walt Disney havia muita liberdade para utilizar o som em inúmeros aspectos das cenas. Durante nossa pesquisa, encontramos muitos trabalhos que falam sobre a história do cinema, mas poucos deles se concentram em contar como os tradutores daquela época lidavam em transmitir os diálogos de um filme para outra língua. Mouzat (apud MELLO, 2005, p. 22) conta em sua tese A forma e o sentido na tradução: a tradução de filmes por legendas (1995), que existiam três opções para que esses filmes fossem acessíveis às pessoas de diferentes países: dublagem, legendagem e versões múltiplas. A versão múltipla é aquela em que os filmes são gravados várias vezes, no mesmo cenário e, às vezes, até com os mesmos atores que falavam mais de uma língua. Mouzat (apud MELLO, 2005, p. 23) também declara em sua tese que o primeiro filme gravado dessa forma foi Atlantic (1929). Mas eles perceberam que era muito caro gravar filmes dessa forma e passaram a dar preferência à dublagem. O público também preferia ver os atores famosos a seus substitutos. Mello, em sua tese O Tradutor de Legendas Como Produtor de Significado (2005) relata que nos anos 1930 a qualidade de som era ruim, o que fez com que o 14 público passasse a preferir filmes legendados. A partir daí, as pessoas passaram a ler o diálogo dos filmes. A autora cita Jean-Claude Bernardet (1980, p. 28) dizendo que essa mudança de filmes dublados para legendados causa um esforço maior ao público, um esforço que afeta o próprio corpo: Nossos olhos passam a percorrer muito rapidamente a imagem, antes de baixar para a legenda, que [o espectador] lê rapidamente, para depois voltar à imagem, se der tempo, e recomeçar o processo no aparecimento da legenda seguinte. O resultado disso é que ele se torna um espectador que não tem o tempo de se deter nas imagens, ele mal as vê. Pouco treinado visualmente, é também pouco treinado auditivamente, porque não tem que acompanhar o diálogo pelo ouvido, mas lendo. A nossa própria formação como espectador está profundamente marcada pela presença de um cinema legendado. Conforme lemos acima, as pessoas tiveram que mudar sua maneira de assistir aos filmes e se acostumar a se deter às letras da legendagem deixando um pouco de lado a essência da imagem. Mello (2005) explica que a palavra escrita sempre foi muito criticada pelos que apreciavam o cinema ‘puro’, mas ela estava presente em todas as épocas como, por exemplo, ao utilizarem letreiros e subtítulos para mostrar que aquela cena estava acontecendo no dia seguinte ou ao utilizar o relógio para representar a hora ou quanto tempo passou de uma cena para outra. Jean-Claude Carrière (apud MELLO, 2005, p. 25) descreve que nos primórdios do cinema, os administradores coloniais franceses organizavam sessões de filmes na África, logo depois da Primeira Guerra Mundial. Como era de uma cultura que utiliza muito a oralidade, eles não entendiam as imagens silenciosas, fazendo com que fosse necessária a figura de um ‘explicador’ que ficava ao lado das imagens explicando tudo o que estava acontecendo. Mello explica este fenômeno (2005, p. 27) ao afirmar que: Cada época, na vida cinematográfica, conta uma história com os recursos que possui. Quanto ao uso da palavra no cinema e sua importância, observamos que em diferentes momentos do cinema, a ênfase de uma história recai ora sobre as imagens ora sobre a palavra. Existem várias opiniões divergentes com respeito à relevância do cinema mudo, umas que dão mais ênfase à imagem e outras que destacam a palavra 15 inserida nos filmes; cada uma dessas áreas tem a sua importância e deve ser valorizada. Com o passar dos anos, muitas tecnologias avançadas surgiram, aperfeiçoando essas duas áreas, facilitando a compreensão dos filmes pelo público e tornando o cinema, a 7° arte, uma fonte de entretenimento e conhecimento mais interessante ao público. A história da dublagem começa com o curta-metragem chamado O barquinho do Mickey, de Walter Elias Disney, cujo personagem principal ganhava vida através da voz do próprio criador. Pois para Walt Disney, não existia uma voz que fosse compatível com a que ele desejava, alegando que o personagem não falava em falsete (LESSA, 2002, p. 74). Posteriormente, foi substituído por Jim McDonald, no início da década de 1940. As primeiras animações eram dubladas pelos próprios desenhistas e criadores ou funcionários dos estúdios, já que não possuíam opções de falas. Com o passar do tempo e com o sucesso alcançado com seus desenhos animados, Walt Disney decidiu expandir sua criação pelo mundo. Para isso, o criador enviou representantes de sua equipe para cada país onde seria feito o processo de dublagem para que fosse feita a seleção dos intérpretes responsáveis por concretizar essa dublagem. Finalmente, um ano depois do lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões nos Estados Unidos, iniciou-se o processo da primeira dublagem no Brasil em 1938. Carlos Alberto Ferreira Braga, Braguinha, autor de aproximadamente 400 composições da MPB (Música Popular Brasileira), foi um dos responsáveis por essa realização. Ele, além de dirigir a dublagem e escolher o elenco de vozes, adaptou as canções do filme originalmente escritas por Larry Morey para o português. Em entrevista, sua filha Maria Cecília (LESSA, 2002, p.189) relata: Um americano que estava aqui (Jack Cutting) ficava impressionado com o fato de se conseguir fazer isso no Brasil com o equipamento sonoro que nós tínhamos. E aqui era tudo muito empírico ainda, até mesmo na gravação de discos. Diziam que, para fazer eco, tinham que cantar do banheiro. E Branca de Neve... foi um sucesso. Braguinha participou de muitas outras versões brasileiras da Disney que fizeram sucesso. Na época, esses filmes eram apresentados apenas nos cinemas. Os filmes que não eram desenhos ainda não tinham sua versão dublada. Apenas na 16 década de 1950 os filmes começam a ser apresentados na televisão, permitindo que as pessoas pudessem desfrutar dessa arte no conforto de suas casas. Porém, no início, os telespectadores só tinham a opção de filmes legendados em seus lares. Assim, como já acontecia em países onde o governo apenas permitia filmes dublados, no início dos anos1960, Jânio Quadros decreta a dublagem obrigatória para a televisão no Brasil. Mais pessoas começaram a adquirir televisores e viu-se a necessidade de criar estúdios de dublagem para que os filmes estrangeiros fossem mais acessíveis, atendendo à demanda dos usuários. A dublagem é uma arte que envolve muito trabalho e dedicação. Por meio da revisão bibliográfica referente à dublagem, nota-se que a dublagem é vista como algo negativo e também escutamos muitas pessoas criticando o trabalho dos dubladores sem ter um conhecimento mais aprofundado das dificuldades enfrentadas por eles. Lessa apresenta as dificuldades técnicas inerentes ao processo de dublagem e corrobora essa afirmação ao afirmar que: As pessoas geralmente pensam que a dublagem só consiste em ir para o estúdio e “correr atrás da boca” de artista estrangeiro. Pois ela envolve todo um processo que começa com a chegada da fita com a produção a ganhar vozes nacionais na empresa dubladora, passando por vários estágios até chegar ao produto final para a distribuição no mercado (LESSA, 2002, p. 72). A tradução do roteiro de um filme (script) não envolve apenas a transposição do sentido da língua de origem para a língua alvo. Exige-se que sejam considerados vários aspectos conforme descreve Soares (2002, p. 1), em Tradução para Dublagem e Legendagem . A autora defende que é necessário respeitar a métrica, o movimento labial e a interpretação dos atores para que os dubladores consigam fazer um bom trabalho. Ou seja, é preciso fazer uma adaptação para superar as limitações que esse tipo de tradução impõe. O dublador já recebe o roteiro pronto e precisa colocar vida nessas falas da forma mais convincente, semelhante e natural possível a do original. Todo esse trabalho que o tradutor de legendas e de dublagens realiza antes do texto final ficar pronto para a interpretação do ator da dublagem deve ser valorizado e reconhecido, pois não é tarefa fácil. O tradutor para dublagem e legendagem deve ir além do ato de traduzir; Soares (idem) ressalta essa necessidade ao afirmar que o tradutor para dublagem deve levar em consideração 17 os “aspectos culturais e de cotidiano, produtos, personalidades, enfim, uma enorme gama de informações que precisam ser traduzidas”. A dublagem brasileira tem muito espaço para crescer e ser aprimorada, mas hoje ela não é mais aquela dublagem de “novelas mexicanas” na qual que podíamos notar a gritante falta de sincronia e qualidade. É uma arte que exige muito conhecimento e dedicação para se obter um resultado de qualidade. 18 3 SOBREA ORALIDADE NA DUBLAGEM Ao falarmos sobre dublagem, é imprescindível que apontemos para um aspecto de muita importância nesta área: a oralidade. Portanto, falaremos um pouco sobre esse tema, já que o nosso foco está em analisar o filme “Rio” e percebemos que um dos seus pontos fortes é a reprodução da linguagem oral. Portanto, para enriquecimento da presente pesquisa, apresenta-se aqui alguns autores que abordam essa questão. A oralidade está presente em ambas as técnicas apresentadas anteriormente por se ligar à fluência de um idioma. Pensando nisso, dedicaremos este capítulo especialmente para falar sobre a oralidade e suas ramificações, mais especificamente, a questão das gírias. A oralidade é o que dá vida à fala, ou seja, ao ler um livro, por exemplo, o leitor faz pausas, pode transmitir através da voz tristeza, alegria, cansaço, choro, etc. Essa oralidade faz com que criemos laços com os personagens em cena e nos permite imaginar como esse personagem deve ser ao ouvirmos sua voz. É por isso, que recai ao dublador grande responsabilidade em dar vida ao personagem que está interpretando, colocando em prática o máximo de oralidade que ele puder, para que esse personagem fique cada vez mais próximo da cultura alvo; ou seja, a oralidade tem o poder de atrair a atenção e o gosto do público, além de muitas vezes ser um dos motivos do sucesso do filme. Lessa (2002, p. 16) destaca a importância da oralidade, ao dizer que: A linguagem oral é algo tão vivo que possibilita uma infinidade de códigos e de possibilidades de nos expressarmos, como nas canções e na poesia. A oralidade, por sua vez, pode seduzir as pessoas, e vai ser um ponto importante para as atividades que utilizam a capacidade vocal como instrumento principal, como o dublador, ou secundário. Considerando isso, podemos retomar o que foi dito logo no primeiro capítulo sobre os discursos de Aristóteles, pois “para que o orador causasse boa impressão, eram necessários códigos de linguagem para que o receptor fosse atingido” (apud LESSA, 2002, p. 25). Fica assim clara a importância da oralidade nesta área da 19 dublagem, razão pela qual, a oralidade vem sendo cada vez mais estudada e valorizada quando se trata de materiais fílmicos. Lessa (2002, p. 27) discorre sobre o valor da oralidade no processo de leitura, e para o autor, ao lermos um texto de outro autor, passamos a querer ser e pensar como ele, reconstruindo o texto todas as vezes que lemos. Segundo Fortuna (apud LESSA, 2002 p. 37): “a oralidade atinge dimensões de grandeza para o ator, quando ele consegue realizar a alquímica viagem da passagem”; ou seja, quando uma obra se torna interessante para quem está lendo ou quando a plateia ao assistir à peça fica com os olhos fixos esperando ansiosamente a próxima cena. Podemos dizer que nas falas dos personagens de um filme, mergulhamos no ambiente fílmico a ponto de nos sentir parte da cena. Um dos motivos desse encantamento é a consequência do bom uso da oralidade. Da mesma forma que o ator citado por Fortuna, o dublador tenta tornar o discurso mais interessante e de fácil entendimento. No caso do filme Rio, que se trata de uma animação, essa oralidade pode ser vista em forma de uma linguagem mais simples e familiar aos nativos da língua dublada, podendo ser conferida no cotidiano causando um efeito positivo em pessoas de todas as idades por se identificarem com a oralidade usada no filme. A oralidade, porém, não é apenas uma característica da fala. Podemos identificar marcas da oralidade em textos escritos. Reis (2010, p. 135) exemplifica em sua pesquisa algumas marcas de oralidade que podem aparecer em alguns textos, como “tá” em vez de “estar” e “qué” em vez de “quer”. Textos derivados de outra língua e que precisam ser traduzidos devem manter a oralidade, assim como peças de teatro para que as características dos personagens não se percam. Reis (2010, p. 136-137) diz que “[...] a tradução de uma peça de teatro deve ser outra peça de teatro, possuindo a mesma oralidade e a mesma teatralidade do texto original”. Ela também afirma que: [...]traduzir apenas língua, apenas sentidos, não satisfaz, de forma alguma, à necessidade de um texto de teatro. Traduzir é mais do que passar um texto da língua de partida para a língua de chegada, na qual os termos devem ser fiéis ao original e as marcas do tradutor apagadas ao máximo. A tradução deve ser a do discurso, da oralidade, da significância do texto, de acordo com as marcas 20 textuais do autor, sem ignorar que o tradutor também trará as suas nas escolhas que fará. Com base na afirmação acima, entendemos que o tradutor seja de uma peça de teatro seja de qualquer outra modalidade carrega consigo a sua própria oralidade, e cabe a ele decidir a melhor maneira de expor em sua tradução, pois muitas vezes, apenas a tradução simples de um texto não causa o mesmo impacto que causaria se a oralidade fosse transportada de maneira fidedigna para a língua de destino. Ao analisar o filme “Toy Story”, Duarte (2011, p. 24) percebe que “o uso de gírias e de termos que marcam a oralidade foi mais comum tanto no áudio em inglês quanto nas dublagens em português”. Podemos notar em outros filmes tanto de animação quanto comédias em geral que abrangem um público infantil e jovem, um aumento do uso da oralidade expressa em gírias tanto no filme original quanto nas dublagens e nas legendas. Em geral as narrações de histórias infantis também fornecem subsídios para análise da oralidade, dada à evidência do seu uso, contribuindo para a formação do psique da criança. Caldin enaltece o papel da oralidade ao contar histórias, ao defender que: O contador de histórias resgata a tradição oral e ao mesmo tempo estimula a imaginação do ouvinte. A mensagem é auditiva e não visual. Contar histórias é uma arte: é necessário captar o ritmo e a cadência dos contos, fazer as pausas no momento certo, não entrar em descrições cheias de detalhes, criar um clima de envolvimento e de encanto, e, acima de tudo, usar todas as modalidades e possibilidade da voz – sussurrar, imitar os ruídos, as vozes dos animais, as inflexões que indicam suspense e clímax (CALDIN, 2001, p. 30). Podemos perceber a importância da oralidade na hora do conto e como ela aproxima o ouvinte daquilo que está sendo narrado. O narrador tem mil possibilidades de interpretar uma história e cada leitura pode ser feita de forma criativa para atrair os ouvintes para um mundo novo e interessante. Além disso, o autor também defende que o narrador de uma história tem a possibilidade não apenas de interpretar um texto, mas ele acaba sendo capaz de criar um novo texto com a sua leitura; ou seja, une a oralidade e a escritura para chegar a um mesmo objetivo que é atrair o interesse das crianças para as obras literárias. 21 Ainda segundo Caldin (2001, p. 26): “Necessário se torna distinguir duas espécies de texto literário: o oral e o escrito. A literatura oral implica na dualidade de sujeitos – de um lado, o autor/contador e de outro, o leitor/ouvinte. A literatura escrita inscreve três elementos: a escritura, o texto e a leitura”. Com base nessa informação podemos dizer que a literatura oral completa a literatura escrita; traz vida para as palavras de um texto escrito e abre possibilidades de novas leituras e interpretações em forma de gestos, tom da voz e encenações dessas palavras. Em filmes em que a maioria do público é de crianças, o bom uso da oralidade para captar a atenção delas parece ser de extrema importância. Muitas vezes isso pode decidir se o filme terá sucesso e será bem aceito ou não. É interessante analisar com mais profundidade a oralidade em uso, entendida na forma como as faixas etárias mais novas se comunicam, de modo geral; estamos nos referindo ao uso de gírias, que pode ser percebido tanto na dublagem quanto na legendagem da maioria dos filmes nesses últimos anos. Para obtermos uma análise mais aprofundada das gírias, discorreremos a seguir sobre este assunto, para nos ajudar a perceber a forte ocorrência de gírias no filme Rio, já que uma das características mais fortes da cidade do Rio de Janeiro é o seu sotaque carregado e o grande uso de gírias. Pensando nisso, percebemos a importância do tradutor conhecer esse tipo de linguagem ao fazer sua tradução adaptando as gírias para a língua de chegada. 3.1 Sobre as gírias Para entendermos um pouco mais sobre a manifestação da oralidade, abordaremos nesse tópico a questão das gírias, tema de extrema relevância para a pesquisa já que está inserida no contexto da oralidade, usada pela grande maioria dos brasileiros. Antigamente no Brasil, o uso de gírias era adotado principalmente pelos jovens, sendo a maior parte deles pertencentes às classes sociais mais baixas. Porém, atualmente o que se nota é que esse tipo de linguagem abrange todas as faixas etárias e classes sociais. Sabendo que dublagem consiste em reproduzir as falas dos personagens de modo que alcance o máximo de equivalência possível na língua de chegada; ou 22 seja, que cause na pessoa que estiver assistindo o mesmo efeito causado em uma pessoa que assiste ao filme na língua fonte. Percebemos que o tradutor precisa lidar de forma minuciosa com as falas para alcançar o mesmo nível de linguagem da língua fonte. Segundo Duarte (2011, p. 17), o tradutor precisa fazer mais adaptações quando está traduzindo gírias, expressões idiomáticas, parlendas e ditados populares. Como o foco desse trabalho é a tradução de gírias para a dublagem do filme “Rio”, notou-se a dificuldade do tradutor em fazer boas escolhas de tradução para tentar atrair a atenção do público, que por sua vez, deve se sentir à vontade ao ouvir uma dublagem com palavras do seu dia a dia, repleta de oralidade. Este desafio constituído pela tradução de gírias é mencionado por Lima (2009, p. 368), ao citar que: “Na área dos Estudos da Tradução, a gíria poderia ocupar um papel de destaque, quando abordamos questões como possíveis problemáticas que podem surgir quando o tradutor está executando o seu trabalho”. Traduzir é uma tarefa que exige muita pesquisa e conhecimento cultural tanto da língua de partida quanto da de chegada. A tradução de gírias específicas de uma região do Brasil ou de outro país envolve muita pesquisa e criatividade. Para Lima (2009, p. 368), os dicionários podem ajudar, mas o tradutor também precisa ter um: “conhecimento cultural, um adequado domínio da língua fonte, um excelente conhecimento da língua materna, conhecimento técnico para exercer o processo de tradução e habilidades investigativas, quando se faz necessário o uso de ferramentas eletrônicas”. O tradutor de legendas costuma traduzir de forma muito literal, perdendo um pouco a piada e o uso das gírias. Acredita-se que este fato ocorra porque a legendagem geralmente é feito em espaço de tempo muito curto e muitas vezes os legendistas não dispõem do material audiovisual, contando apenas com o script para realizar a tradução. Ao analisar a tradução do filme “Cidade de Deus” para o inglês, Lima percebe que hoje: “o tradutor-legendista trabalha, neste tipo de tradução, mais com a semântica do termo ou da frase na cultura de chegada do que com a sua tradução literal (a tradução palavra por palavra)”. Já na tradução para a dublagem, a importância de traduzir as gírias e as piadas de um filme mantendo sua oralidade, parece ser uma tarefa um pouco mais difícil. O tradutor tem como responsabilidade adaptar as piadas e gírias para a 23 realidade da língua de chegada, levando em conta a sincronia da fala dublada com o movimento da boca do personagem, processo chamado de Lip sync (sincronia labial). Ao analisarmos o filme “Rio” percebemos vários exemplos dessa responsabilidade, que serão apresentados no próximo capítulo. Para o tradutor de dublagem, o que mais importa é causar no público brasileiro a mesma reação causada no público do idioma original do filme. Mesmo que isso implique em mudar uma palavra que talvez não fizesse tanto sentido para os brasileiros quanto faria uma gíria, que todos iriam entender e ouvir de forma mais familiar. Ao analisar o filme “Toy Story”, Duarte (2011, p. 24) percebe que: “Em alguns casos, a expressão utilizada em Português difere muito do que foi dito em Inglês, porém, até se encaixam bem no contexto da cena”. Ela completa dizendo: “Em algumas cenas, algum detalhe importante é suprimido na dublagem, porém, pode-se notar que a falta de tais detalhes não comprometem o entendimento do espectador”. Existem expressões que acabam perdendo o seu duplo sentido quando traduzidas, mas assim como o tradutor de poesia, que precisa escolher manter a rima ou o sentido, o tradutor de dublagem precisa escolher o que é mais importante para a compreensão da cena apresentada. Pensando mais especificamente no tradutor de legendas, Lima (2009, p. 376377) escreve a respeito do cuidado que o tradutor precisa ter ao traduzir as falas de personagens que utilizam muitas gírias, termos e expressões. Ao falar sobre o tradutor, o autor afirma que ele: encara um obstáculo ainda mais desafiador, pois precisa estar atento às construções linguísticas, envolvendo gírias comuns e específicas, termos e expressões obscenos, para que sua tradução proporcione ao leitor-espectador da cultura de chegada, o mesmo entendimento que proporcionou o original ao leitor-espectador da cultura de partida, além de ter que encontrar um termo ou termos que se encaixe(m) nos números de caracteres, no tempo de leitura e em outras normas de legendagem, a fim de que seu trabalho possa alcançar o objetivo final, que é tornar o texto o mais adequado ao público alvo. Em continuidade, Lima (2009, p. 376) percebe essa necessidade de adaptação em sua análise do filme Cidade de Deus em que, muitas vezes o tradutor precisa buscar na língua-alvo uma expressão que, mesmo não sendo traduzida literalmente, transfira o mesmo sentido e cause o mesmo impacto causado no 24 público da língua-fonte. Por exemplo, a troca de uma expressão com dois termos por outra com mais termos. Isso se deve ao fato de o tradutor estar atento tanto às adequações linguísticas quanto às preferências do cliente e às regras da legendagem, assim como muitas outras exigências que ele precisa seguir, tais como limites de caracteres e de tempo. A partir do que Lima defende, podemos então dizer que o tradutor de legendas não é um tradutor de textos técnicos, por exemplo, que se preocupa com a terminologia de uma área específica e faz uma tradução mais literal. O tradutor de legendas precisa usar suas técnicas e criatividade para reconstruir o que foi dito, porém dentro de um limite de caracteres e número de linhas. Ou seja, ele tem a tarefa de traduzir os significados do texto oral, reproduzindo na língua de chegada todas as nuanças da língua de partida de maneira que o texto, seja ele oral, seja escrito, fique o mais fluente e natural possível na língua de chegada. A tradução para dublagem e legendagem é alvo de muitas críticas, principalmente por pessoas que não têm o conhecimento da área, das restrições e complexidades encontradas na atividade de tradução de gírias, termos e expressões. Lima (2009, p. 377) afirma que: “Com tantas exigências a serem cumpridas e obstáculos a serem vencidos, o tradutor-legendista corre um grande risco de ser criticado ou desagradar a um leitor que desconheça todo o processo pelo qual passa o seu trabalho”. Esse pode ser também um dos motivos do sucesso de alguns filmes, enquanto que outros são bombardeados com críticas negativas. A tradução adequada de gírias tanto para a legendagem quanto para a dublagem pode contribuir para o sucesso do filme em outros países. Cabe ao tradutor fazer boas escolhas, e para isso ele deve pesquisar termos específicos, gírias da língua de chegada e fazer uma análise cultural do país para qual o filme está sendo traduzido. Ao fazer essa adaptação para a dublagem, o tradutor deve considerar também o público alvo a que se destina o filme e fazer o seu melhor para que o resultado seja uma tradução de legendas ou para dublagem que fique leve e soe confortável aos ouvidos do público alvo. 25 4 ANÁLISE DAS GÍRIAS NO FILME RIO Ao analisar a escolha das traduções das gírias no filme “Rio”, pudemos perceber que é necessária uma adaptação para que possam ser feitas traduções que tragam um resultado melhor para a compreensão do público alvo. Fizemos uma análise contrastiva em forma de tabela, na qual usamos as falas do texto original, da legendagem e da dublagem respectivamente – a qual estará disponível nos anexos. Traremos abaixo alguns fragmentos interessantes das escolhas feitas pelo tradutor. O filme “Rio” foi dirigido por um brasileiro, Carlos Saldanha (que inclusive é dublador e carioca), porém a língua original do filme é inglês, portanto, quem precisou de criatividade foi o próprio diretor, por transformar toda essa “marra” do sotaque carioca para gírias em inglês. Iniciaremos as análises com a cena em que o pássaro Blu chega ao Rio de Janeiro onde vai encontrar a última arara azul da espécie para acasalamento. Lá ele conhece dois pássaros da região que têm um sotaque carregado e falam utilizando muitas gírias. Tabela 1 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original This thing is real bust! Fonte: Filme Rio Legenda Dublagem Que gaiola durona! Gaiola sinistra hein? Tempo 13:58 26 Figura 1- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Ao analisarmos o filme dublado no excerto abaixo, vemos que ele tenta falar “português” (no caso ele já estava falando), mas a ideia era tentar fazer com que Blu (arara) tenha um sotaque estrangeiro. Na legenda a tradução é mais literal, pois no filme original ele fala uma frase comum sem gírias em inglês, não dando assim abertura para uma legenda criativa. Já na dublagem, os tradutores foram espertos ao utilizar a oralidade e a gíria “parceiros” para mostrar que ele estava no Brasil pela primeira vez. Mesmo o filme sendo dublado e Blu estar falando português esse uso da oralidade faz com que o telespectador se lembre desse contexto. Tabela 2 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original I am not from here. Fonte: Filme Rio Legenda Eu não sou daqui. Dublagem Como é que estão as coisas parceiros! Tempo 13:10 27 Figura 2- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Quando os pássaros estão se despedindo, falam para Blu: “Seja bem-vindo”. No original usam apenas a expressão em português “bem-vindo”. Para que os pássaros fiquem mais característicos com a fala e as gírias da região, percebemos que a escolha do tradutor para dublagem acrescenta a gíria “cumpadi”. Com o objetivo também de fazer uma ligação com a próxima fala de Blu que não entende direito o que eles falam e não sabe bem o que responder para a expressão “bemvindo”, então ele responde: “com a empada né”, que tem uma forte semelhança com a sonoridade de “cumpadi”. Os tradutores perceberam a chance de fazer um trocadilho com a gíria “cumpadi” e a palavra “empada” e foram muito felizes em sua escolha. Tabela 3 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original Bem-vindo! Legenda Seja bem-vindo! Yes, yes bem and to you as well. Tá, pra você também. Fonte: Filme Rio Dublagem Bem-vindo cumpadi! Ah tá bom, é com a empada né, pra você também. Tempo 14:10 14:12 28 Figura 3- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Figura 4- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio 29 Quando Blu e Jade estão correndo algemados fugindo dos bandidos que querem vendê-los, os pássaros encontram um gato no meio do caminho e Blu late para assustá-lo e para fazer com que ele saia do caminho. Aqui a tradução da legenda e da dublagem são as mesmas. Podemos ver que a legenda escolheu utilizar a gíria no lugar da tradução mais literal. Podemos perceber também que essa escolha vem acontecendo muito nos filmes da última década. A legenda vem trazendo cada vez mais sinais de oralidade apesar da tendência à literalidade. Tabela 4 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original I am bilingual too! Legenda Eu falo “cachorrês” também! Dublagem Eu falo “cachorrês” também! Tempo 29:51 Fonte: Filme Rio Figura 5- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio A legenda e a dublagem muitas vezes diferem muito uma da outra. Nas frases abaixo elas trazem o mesmo sentido, mas a legendagem se prende mais às regras gramaticais que são próprias da língua escrita. Enquanto a dublagem, utilizando a oralidade da gíria, faz com que o diálogo seja mais leve e casual. 30 Tabela 5 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original You’re sure you’re up for this? Don’t worry Blue. Legenda Tem certeza que quer fazer isso? Não se preocupe, Blu. Dublagem Tem certeza que aguenta o tranco? Ah sai dessa Blu. Fonte: Filme Rio Figura 6- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Tempo 42:26 42:35 31 Figura 7- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Quando os novos amigos de Blu tentam ajudá-lo a conquistar Jade, eles tentam criar um clima romântico com música ambiente para dar um incentivo ao casal. Podemos notar que algumas palavras são ocultadas pela legendagem, a expressão “come on” não é traduzida devido às restrições de espaço e tempo que limitam esse trabalho. Já na dublagem isso também teria acontecido se o movimento da boca do personagem não coincidisse com a tradução. Nesse caso isso não interferiu na compreensão da cena. Tabela 6 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original Legenda Come on let’s give Vamos ajudar. him some. Set the Criar um clima. mood. Fonte: Filme Rio Dublagem Vamos lá, vamos ajudar. Criar um clima. Tempo 58:20 32 Figura 8- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Figura 9- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio 33 O uso da oralidade em forma de gírias na dublagem desse excerto trouxe vida ao personagem. Fez com que sentíssemos que ele realmente estava com medo do pássaro malvado que havia sequestrado a Jade. O uso dessa linguagem casual certamente fez com que o público-alvo se identificasse. Tabela 7 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original -Did you see the talons on that guy? -Talons? Maybe it’s on, next time. Legenda -Você viu o tamanho daquele cara? -Tamanho? Pensando bem... Fica pra próxima vez! Dublagem Você viu as garras daquele cara? -Garras, pula essa, to vazando. É fria! Fonte: Filme Rio Figura 20- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Tempo 1:05:44 34 Figura 31- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Figura 42- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio 35 Quando os amigos de Blu vêm avisá-lo que Jade havia sido sequestrada por um grande pássaro malvado, eles falam que o pássaro é uma cacatua enorme com garras de ninja e em inglês usam a palavra “ugly” para descrevê-lo. Em português podemos ver que a escolha do tradutor em traduzir uma expressão de uma só palavra por outra com quatro palavras concorda com a afirmação de Lima (2009, p. 376). Lima diz que esse procedimento de mudança da estrutura do termo original visa obter maior compreensão do telespectador. Tabela 8 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original Ugly. Legenda E um cabeção horrível. Dublagem Filhote de cruz credo. Tempo 1:06:09 Fonte: Filme Rio Figura 53- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio Quando Blu e Jade finalmente conseguem tirar as algemas, ele fica triste e diz que não tem como eles ficarem juntos, pois ela não vai para Minnesota com ele e ele não pode ficar correndo atrás dela por não saber voar. Eles discutem e Blu fala que odeia o Samba. Seus amigos ficam muito tristes e falam: 36 Tabela 9 - Análise contrastiva do uso de gírias Fala original Hey, that’s a little too far. Legenda Ei! Você passou dos limites! Dublagem Oh, aí já tá esculachando. Tempo 1:04:31 Fonte: Filme Rio Figura 64- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior Fonte: Filme Rio No áudio original a tradução literal seria “Ei, aí você já está indo longe demais”. A legenda ficou bem próxima ao original. Na dublagem os tradutores fizeram uma adaptação que trouxe a fala para a realidade do público. Trouxe uma linguagem familiar, algo que o público alvo está acostumado a ouvir e que poderia ser usada da mesma forma. 37 5 DUBLADO OU LEGENDADO? A preferência por filmes dublados ou legendados é um tema recorrente em fóruns de discussão, redes sociais, reportagens de tv, blogs e em outras fontes de mídia. Os defensores dos filmes dublados como Lessa (2002) Poggi (2011) e Lourenço (2011) argumentam que essa preferência valoriza o idioma local e contribui com o mercado de dublagem do país. O site NE10 (2012) afirma que o tempo em que só os filmes infantis eram dublados nos cinemas já passou. Hoje em dia, vários filmes voltados para o público adulto, como por exemplo, filmes de suspense, ação e drama estão sendo apresentados dublados nos cinemas. As pessoas que ainda preferem os filmes legendados têm cada vez mais dificuldades para assistir-lhes no cinema. O site diz também que das 21 salas onde estava sendo apresentado o filme “MIB 3”, em 2012, apenas sete ofereciam a opção do filme legendado e eram apresentados nos últimos horários. Muitas vezes as salas ficavam vazias, não pagando nem o custo da cópia do filme. Isso mostra que os filmes legendados têm a tendência de ser cada vez mais raros no Brasil. Vamos conferir esta realidade, apresentando os resultados de uma pesquisa encomendada pelo Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Município do RJ para o Instituto Datafolha, em janeiro deste ano (2013). Esta pesquisa revela as variações de preferência do público por filmes dublados. Embora haja uma mudança na preferência de acordo com a fonte da programação (cinema, TV aberta, blu-ray, internet), a preferência de modo geral ainda é, de acordo com os resultados, em favor da dublagem, cujas escolhas são feitas da seguinte maneira: Cinema: 56% dos entrevistados preferem a dublagem; TV aberta: 79% também preferem a dublagem; Blu-ray: 33% dos entrevistados escolheram a dublagem; Internet: 48% mostraram preferência pela dublagem. Essa pesquisa ratifica os resultados obtidos em nossos dados, decorrentes da compilação dos entrevistados feita com o intuito de saber sobre a preferência das pessoas de diferentes faixas etárias e escolaridade quanto à legendagem ou 38 dublagem. Escolhemos algumas pessoas que se encaixam em grupos préestabelecidos por nós, que são: Tabela 10 – Grupo de entrevistados G1 Pessoas que sabem inglês G2 Pessoas que não sabem inglês G3 Universitários que sabem inglês G4 Universitários que não sabem inglês G5 Pessoas mais velhas que não sabem inglês Com os resultados em mãos, organizamos um gráfico (fig. 15) para indicar se há alguma tendência ou preferência entre uma e outra modalidade. Figura 75- Gráfico de preferência entre a dublagem e a legendagem Preferência entre Dublagem e Legendagem 7 6 5 4 3 Dublado 2 Legendado 1 0 Pessoas que sabem inglês Pessoas que não sabem inglês Universitários Universitários Pessoas mais que sabem que não sabem velhas que não inglês inglês sabem inglês Ao passarmos os olhos sobre o gráfico, imediatamente identificamos uma tendência à preferência pela dublagem, embora haja também uma boa parcela que prefere a legendagem. Quando fizemos a análise horizontal para tabularmos os dados, percebemos respostas que se repetiram em sujeitos distintos. A seguir, 39 discutimos essas tendências, assinalando três aspectos que mais nos chamaram atenção, quanto à tendência à preferência pela dublagem. 5.2 Quando se trata de desenhos Os entrevistados, até mesmo os que preferem a legendagem, salientaram que, quando se trata de desenhos e animações, o filme dublado fica mais agradável aos ouvidos, conforme relatos, além de fluir melhor. G1: “Depois que morei nos EUA, peguei mais gosto pelo legendado, o dublado soa estranho aos meus ouvidos. Quando se trata de desenhos o filme dublado é mais gostoso de ouvir as falas na minha língua”. G3: “Prefiro filmes legendados, porque a sensação não é boa, não é natural, geralmente a dublagem não é boa, com exceção de desenho”. 5.3 Sobre a atenção exigida Percebemos que, especialmente para pessoas que não sabem inglês, o fato de terem que prestar atenção nas legendas e na cena ao mesmo tempo torna-se uma grande dificuldade que, os faz perder o melhor do filme. Por isso, esses sujeitos têm optado, quando têm a oportunidade de fazê-lo, pelo filme dublado, o que os permite darem atenção à imagem e ao roteiro. Além disso, pela análise do gráfico, evidencia-se que os grupos que não sabem inglês preferem a dublagem. Consideremos dois excertos como exemplos: G5: “Prefiro DUBLADO, porque nos filmes legendados, a gente se perde um pouco lendo e vendo ao mesmo tempo Só quando realmente não tem dublado, eu assisto legendado”. G2: “Prefiro DUBLADO, porque gosto de prestar atenção na produção, efeito, roteiro, etc”. 5.4 Sobre a leitura Assim como no caso acima, muitas pessoas, principalmente as de mais idade, têm dificuldades na leitura, ou por não saberem ler, ou pela lentidão com que leem. Esta é uma justificativa para esse grupo dizer que não gosta de ler, razão pela qual preferem o filme dublado. Para esses sujeitos, além de prestarem atenção, 40 ainda é necessário “perder tempo” lendo. Assistir a um filme se torna uma tarefa bem menos prazerosa para esse grupo de pessoas, conforme os relatos. G5: “Prefiro DUBLADO, porque a legenda passa muito rápido e fica difícil de ler ao mesmo tempo e assistir as imagens. Isso me diminui a vontade de assistir a filmes.” G5: “Prefiro DUBLADO, porque assim eu tenho mais a possibilidade de observar todos os detalhes da cena. É mais confortável assistir assim”. G5: “Prefiro DUBLADO, porque nos filmes legendados, a gente se perde um pouco lendo e vendo ao mesmo tempo Só quando realmente não tem dublado, eu assisto legendado”. 5.5 Sobre a legendagem Quanto à modalidade legendagem, emergiram justificativas que se repetem entre os sujeitos. A originalidade foi apontada por quase todos os participantes que têm preferência pela legendagem. Conforme relatam, essa originalidade tem a ver com os aspectos sonoros do filme. Ou seja, quando o filme é legendado, nada se perde, no idioma original: G3: “Prefiro LEGENDADO, porque os sons são originais, trazendo um aspecto de realidade maior do filme do que o dublado”. G2: “Prefiro LEGENDADO, porque preserva a originalidade do filme e eu não perco a atuação do ator”. Outro aspecto importante quanto à preferência à legendagem de alguns sujeitos, diz respeito à aprendizagem proporcionada por esta modalidade. Este fato foi citado tanto pelos participantes do meio acadêmico, pessoas que dominam a língua inglesa e mesmo por aquelas que não dominam o idioma. Para esse grupo, ter contato com a língua estrangeira por meio da legendagem, leva a um aprendizado prazeroso e não forçado. Assim, a pessoa assiste ao filme/seriado que gosta, ao mesmo tempo em que aprende a língua de partida: G5: “Prefiro LEGENDADO, porque é bom para desenvolver a leitura e memorizar frases em outro idioma”. G4: “Prefiro LEGENDADO. Inglês é língua mundial e aprendemos muito vendo filmes assim”. 41 G4: “Prefiro LEGENDADO. Tem o áudio original do filme com as palavras verdadeiras. O Filme dublado fala umas coisas que não tem nada a ver como áudio original. Além disso, podemos aprender outro idioma através do filme”. A baixa qualidade da dublagem está entre as justificativas para a preferência da legendagem, pois segundo os respondentes, embora a dublagem venha crescendo muito em questão de qualidade, já que atualmente temos acesso a dublagens mais elaboradas. As dublagens brasileiras são, em comparação a outros países, consideradas de alta qualidade, mas mesmo assim, o público continua exigente, achando que ela ainda soa muito artificial: G1: “Prefiro LEGENDADO, porque a dublagem brasileira é muito ruim, eles não usam as mesmas expressões que são faladas na língua traduzida, o que muda as vezes até o sentido da frase”. G2: “Prefiro LEGENDADO, porque a voz do dublador nem sempre combina com a do personagem, além de que, nunca é bem sincronizada. Isso no caso dos filmes. Nos desenhos, tanto faz”. Em contrapartida, existe o grupo de pessoas que prefere o legendado para ampliar o conhecimento do idioma original do filme, embora essas pessoas façam parte do grupo de universitários; ou seja, pessoas acostumadas a ler e em fase de preparo profissional. Portanto, pode ser que essa questão de escolha esteja ligada não apenas ao gosto, mas também ao nível cultural do indivíduo. Em relação aos desenhos/animações, a preferência é pelo dublado até mesmo pelos universitários e pessoas que conhecem a língua inglesa. Nesse caso, as questões de aprendizado e de qualidade da dublagem não têm tanto peso. Pelo contrário, a qualidade de dublagem desse tipo de filme não é inferior ao original: G3: “Prefiro LEGENDADO, porque a sensação não é boa, não é natural, geralmente a dublagem não é boa, com exceção de desenho”. G1: “Prefiro LEGENDADO. Depois que morei nos EUA, peguei mais gosto pelo legendado, o dublado soa estranho aos meus ouvidos. Quando se trata de desenhos o filme dublado é mais gostoso de ouvir as falas na minha língua”. Isso nos leva a questionar o porquê dessa preferência, e a melhor justificativa que encontramos para tentar entender essa questão foi analisando não a qualidade da dublagem, mas a linguagem. Percebemos que o uso das gírias nos 42 desenhos/animações são frequentes, o que leva a uma rápida identificação de quem assiste. Ao dublar esses filmes, várias adaptações são feitas e isso faz com que o público fique mais próximo dos personagens. Pelo que vimos analisando, é provável que seja este um dos motivos que levou o desenho animado “Rio” a alcançar tanto sucesso nos cinemas e nas críticas e a ganhar tantos fãs. 43 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos a pesquisa apontando a limitada bibliografia na área da dublagem e da legendagem no contexto brasileiro. No entanto, fomos mobilizadas a tentar entender o porquê do aumento da ocorrência de filmes dublados nos cinemas brasileiros e o que poderia estar por trás disso, visto que a dublagem e a legendagem têm uma história paralela no Brasil, apresentando semelhanças entre um tipo de registro linguístico e outro, embora haja diferenças no modo como se apresentam. Nossa problemática buscou saber se haveria algum tipo de preferência por legendagem ou dublagem no Brasil, e o que poderia estar por trás dessa preferência. Daí, termos formulado a hipótese, que se confirmou, de que o interesse pela dublagem relaciona-se a vários fatores, como o tipo de linguagem usada, a forte presença da oralidade representada na forma de gíria e a baixa performance na leitura, identificada nas entrevistas, já que o filme legendado exige uma habilidade, no mínimo, mediana para que se dê o processo de compreensão. Esta tentativa de compreender a intensa presença da dublagem nos cinemas brasileiros foi um dos nossos objetivos, seguido pelo desejo de identificar o interesse pela dublagem nos cinemas do Brasil, a partir de uma comparação entre a dublagem do filme “Rio” e a respectiva legendagem. Para alcançarmos esses objetivos, fizemos uma análise contrastiva entre as duas modalidades e entrevistas com diferentes grupos de diferentes faixas etárias e escolaridade, cujos resultados apresentamos a seguir. Ao pesquisarmos nos deparamos com algumas questões que se repetiram e se destacaram como possíveis determinantes na escolha entre o filme dublado ou legendado. O interesse pela dublagem está relacionado com o tipo de linguagem, pois segundo os entrevistados, pudemos perceber que mesmo as pessoas que falam a língua inglesa e preferem assistir a filmes legendados, na hora de assistir a um desenho ou animação, acabam optando pela dublagem, devido a maior naturalidade na linguagem utilizada, com forte presença da oralidade apresentada em forma de gírias, o que de alguma forma, aproxima o público da sua própria cultura. Isto é, existe mais identificação e familiaridade com o registro linguístico da dublagem. 44 O baixo desempenho na leitura também foi outro fator confirmado pelas entrevistas, pois pelas respostas dadas pelo grupo de pessoas que prefere a dublagem, uma das razões apresentadas foi que não tem habilidade de leitura rápida exigida para a compreensão das legendas. Isso faz com que as pessoas tenham que dedicar mais atenção para obter essa compreensão de um filme legendado, o que não os agrada, pois querem aproveitar o filme sem muito esforço. Este resultado é importante, já que aponta para uma questão bastante conhecida no contexto brasileiro, qual seja, de que o Brasil é um país de pouca leitura e, consequentemente, com baixo desempenho nesta habilidade, sendo este um fator decisivo na preferência por filmes dublados. A preferência nos cinemas brasileiros pela dublagem tem aumentado a cada dia conforme artigos de agências de notícias confiáveis que expressam o parecer dos gestores de cinemas. Por outro lado, a originalidade do filme, no que se refere aos efeitos sonoros, de acordo com alguns entrevistados, se perde com a dublagem, sendo esse um aspecto muito citado e justificado pelos que preferem a legendagem. Como falamos no início do trabalho, a dublagem no Brasil já evoluiu bastante e continua ganhando uma proporção cada vez maior, devido ao grande número de materiais que precisam ser traduzidos e/ou dublados. Entendemos a escassez de estudos na área da dublagem e legendagem, por ela não ter sido reconhecida e valorizada no meio acadêmico até bem pouco tempo, justificando a necessidade de pesquisas e trabalhos sobre uma área tão praticada e pouco analisada, para que mais bibliografias estejam à disposição. Esperamos que a nossa pesquisa contribua para motivar outras pesquisas mais aprofundadas com relação à preferência do telespectador brasileiro quanto a filmes dublados. 45 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, V. L. S. Ser ou não ser natural, eis a questão dos clichês de emoção na tradução audiovisual. São Paulo, 2000. 271f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. ARAÚJO, V. L. S. 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I am not from here. Legenda Olha só! Se não é minha ave nerd preferida! Pode deixar. Eu não sou daqui. Dublagem Ah, olha só, o nerd filhinho da mamãe. Pó deixar. Como é que estão as coisas parceiros. Yeah it’s all about Tem que chegar Aí a parada é swagger. junto. chegar junto. This thing is real Que gaiola durona! Gaiola sinistra bust! hein! Hey, don’t forget, Ei. Não se Aí, não vacila, love hawk. esqueça. O gavião olhar de gavião. do amor. Bem-vindo! Seja bem-vindo! Bem-vindo cumpadi! Yes, yes bem and Tá, pra você Ah tá bom, é com to you as well. também. a empada né, pra você também. Stop Twitching. Pare de Para de estrebuchar. estrebuchar. Nice work Nigel. Bom trabalho Mandou bem Nigel. Nigel. Don’t’ worry, we Não esquenta! Esquenta não, a are going to find Vamos achar gente vai achar good homes from casas legais pra uma casa legal pra them. eles. eles. I am bilingual too. Eu falo “cachorrês” Eu falo “cachorrês” também. também. Jade: I am Jade: Tá, você é a Jade: só me chained on the única espécie de faltava essa, presa only bird in the ave que não voa. ao único pássaro world that can’t fly. Blu: na verdade, do mundo que não Blue: actually existem 40 voa. there are 40 espécies que não Blu: ué tem um species of flyless voam! amigo meu que birds. Jade: Abaixe. não voa por opção, Jade: Duck. Blu: Abaixar? o joão de barro. Blue: No, ducks Jade: Não, é pra Jade: Madeira! can fly. abaixar. Blu: Não, de barro. Jade: No, duck. Jade: não, madeira em frente. Ah! You see? You Viu só?! Aqui eu Viu só?! Viu, viu, see, out here, I'm sou só mais um aqui eu sou só Tempo 07:10 12:48 13:10 13:35 13:58 14:07 14:10 14:12 21:47 23:03 23:55 29:51 30:00 31:39 48 just an hors d'oeuvre! Nothing more than a feathery spring roll. I can’t believe I will have to drag your clumsy butt up there But don’t worry we’ll get them back, I have a plan. Positive! Check out my map. Deal. Nice try brainiac! petisco! Sou como um salgadinho com penas! mais um petisco, só mais um croquete com penas! Não acredito que vou ter que carregar esse mané até lá. Fica frio, a gente pega de volta, eu tenho um plano. Não acredito que 31:51 vou ter que carregar esse mala até lá em cima Tá tranquilo, a 34:14 gente pega, eu já bolei um esquema. Saca só os esquemas. Combinado. Bela tentativa, cabeça de vento! What’s going on O que está down there? Rolando aí embaixo? This papa needs a O papai precisa de break! umas férias! Love birds. What is it with this kid and the feathers? I’ll miss you my juicy little mango. Oh me too my fudgy papaya. Hey my watch! What, this? This is just some stuff that we found, right boys? I'm not interested in your nicked knick knacks. Go do your monkey business. Come on you’re not gonna back out now? You’re sure you’re up for this? Casal de namorados. Porque esse garoto é tão vidrado em penas? Vou sentir saudades minha manga doce. Eu também meu docinho de mamão. Ei, meu relógio! Porque diz isso? Essas coisinhas que nós achamos, não é galera? Não estou interessado nessas mixarias! Vão fazer macacadas. Qualé você não vai desistir agora? Tem certeza que quer fazer isso? Absoluta! Vê lá o esqueminha. Fechou. Valeu inteligência rara! Mas que barulhada é essa hein? 35:13 Ai o papai tá precisando de um arrego! Pombinhos. 36:56 35:32 35:42 36:27 36:58 Ai esse moleque 37:08 cismou com as minhas penas. Eu vou sentir a sua 38:30 falta minha manga rosa. Eu também meu mamãozinho. Aí meu relógio! O que é isso? São só as paradinhas que a gente achou. Né galera? Não to interessado nos badulaques roubados! Vão fazer suas macacadas. Qualé não vai amarelar agora né? Tem certeza que aguenta o tranco? 40:02 40:36 40:44 41:54 42:15 42:26: 49 Don’t worry blue. Easy breezy. Não se preocupe, Blu. Molinho. Come on love birds. Yeah it’s in great condition. Nico! Pedro! What up family! Oh great. Relax baby bird. This isn’t your fight big nose. Venha, casalzinho. Yippie-ki-yay, monkey-man! Take that you funky monkey! Toma essa, mico desgraçado! Toma essa, macaco safado! Man, we threw down! Come on let’s give him some. Set the mood. All right, look I’m on it. Check it out! Get get get a girl! Pessoal, nós detonamos! Vamos ajudar. Criar um clima. É, a moto tá boazaça! Nico! Pedro! Fala aí rapaziada! Que ótimo. Fica fria, gatinha. Essa luta não é sua, narigão! Deixa comigo, parceiro! Se liga só! Garagara garanhão! Now if something Agora, se algo der goes wrong, errado, gritem bem scream really loud alto! Não consigo because I can’t ouvir direito, hear too good with quando uso essa this thing on. droga! Awkward. Mandou mal. Hey, that’s a little Ei! Você passou too far! dos limites! They left without Eles foram sem me, that’s messed mim! Que falta de up. consideração! Did you see the Você viu o talons on that tamanho daquele guy? Talons? cara? Tamanho? Maybe it’s on, Pensando bem... next time. Fica pra próxima vez! Ugly. E um cabeção Ah sai dessa Blu. 42:35 Mamão com 43:47 açúcar. Vamos pombinhos. 46:40 É, essa moto tá interaça. Nico! Pedro! Beleza rapaziada! Eu mereço. Fica fria princesa. O papo não chegou na cozinha nareba. Pago o maior mico, mico. Sentiu né o macaco sem noção! Caramba, a gente mandou ver! Vamos lá, vamos ajudar. Criar um clima. Xá comigo meu irmão! Se liga! Garagara garanhão! Se alguma coisa der errado, grita bem alto, porque eu não escuto nada com essa budega! Tenso. Oh, aí já tá esculachando! Nem me esperaram! Magoei! Você viu as garras daquele cara? Garras, pula essa, tô vazando. É fria! 47:40 Filhote de cruz 1:06:09 48:19 48:52 48:53 53:00 53:33 54:21 54:34 58:18 58:20 58:26 58:28 1:02:15 1:04:16 1:04:31 1:05:05 1:05:44 50 This is the spit! Yeah, baby! Now I can get my freak on! Hold up! You really think I came alone? I’ve got three of the roughest, meanest, craziest birds in all of Rio right behind me. Pull up, you idiot! Pull up! Ah we’re going down! Hey, wait for us! horrível. Isso que é diversão! Agora vou botar pra quebrar! Já viu alguma coisa? Qual é? Acha que eu vim sozinho? Os 3 pássaros mais durões, malvados e sinistros... De todo o Rio estão comigo! Decolar, idiota! credo. O babado aqui é forte! Tem bulldog na avenida comunidade. Olho vivo galera! 1:10:32 1:10:37 1:11:05 1:14:07 Ai, vamos cair! A peraí né, cê acha que eu vim sozinho? Os três pássaros mais sinistros, loucos e barra pesada do Rio de Janeiro tão aqui comigo. Decola sua anta, decola! Vai babar geral! Espere pela gente! Peraí o cumpadi! 1:19:44 1:16:33 1:19:29 ANEXO B – Entrevistas Pessoas que sabem inglês (G1): Dublado: 2 (quando é desenho) Legendado: 5 (Pessoa 1) LEGENDADO. Depois que morei nos EUA, peguei mais gosto pelo legendado, o dublado soa estranho aos meus ouvidos. Quando se trata de desenhos o filme dublado é mais gostoso de ouvir as falas na minha língua. (Pessoa 2) Se o filme não for desenho, prefere LEGENDADO, porque o som, as falas, são bem melhores vindo do original. Quando é dublado a fala, a voz e a forma com que o personagem mexe a boca sempre parece que está “fora de foco”, e você ainda aprende uma nova língua e descobre outras formas de falar ao ouvir o original. (Pessoa 3) LEGENDADO. A voz do dublador é horrível, tira o original do filme, a interpretação dos dubladores é de baixa qualidade e tira o sentido original do que foi falado, pois uma língua nunca é bem traduzida para outra. Tira a cultura da língua de origem. 51 (Pessoa 4) LEGENDADO. Porque a dublagem brasileira é muito ruim, eles não usam as mesmas expressões que são faladas na língua traduzida, o que muda as vezes até o sentido da frase. (Pessoa 5) LEGENDADO. Porque eu tenho certeza que não estou perdendo nada, por ser o áudio original. E ainda aprendo sempre alguma coisa nova (vocabulário, expressão, pronúncia – do inglês, no caso). (Pessoa 6) DUBLADO. Embora eu saiba inglês, passei muitos anos fora do Brasil, então agora eu prefiro filmes dublados, porque sempre tem adaptações de linguagem e cultura. Pessoas que não sabem inglês (G2): Dublado: 5 Legendado: 2 (Pessoa 1) DUBLADO. Porque eu presto mais atenção no filme. (Pessoa 2) LEGENDADO. Porque preserva a originalidade do filme e eu não perco a atuação do ator. (Pessoa3) DUBLADO. Porque não consegue prestar atenção nas letras da legenda e no filme ao mesmo tempo. Não consegue ler rápido o suficiente. (Pessoa 4) LEGENDADO. Porque a voz do dublador nem sempre combina com a do personagem, além de que, nunca é bem sincronizada. Isso no caso dos filmes. Nos desenhos, tanto faz. (Pessoa 5) DUBLADO. Porque gosta de prestar atenção na produção, efeito, roteiro, etc. (Pessoa 6) DUBLADO. Tenho preguiça e não gosto de ler a legenda. (Pessoa 7) DUBLADO. Pois gosto de prestar atenção no filme como um todo, com as legendas, perderia muitos detalhes. Universitários que sabem inglês (G3): Dublado: 2 Legendado: 6 (Universitário 1) LEGENDADO. Porque os sons são originais, trazendo um aspecto de realidade maior do filme do que o dublado. (Universitário 2) LEGENDADO. Porque a sensação não é boa, não é natural, geralmente a dublagem não é boa, com exceção de desenho. 52 (Universitário 3) LEGENDADO. Filmes dublados parecem perder a “identidade” e não tem a mesma emoção que o legendado. (Universitário 4) Quando se trata de desenho, prefiro DUBLADO, mas quando é filme, LEGENDADO porque o som original é melhor. (Universitário 5) Prefiro LEGENDADO, pois mantém a originalidade do filme e fica mais real. Quando se trata de desenho, tanto faz, até prefiro dublado. (Universitário 6) LEGENDADO. Porque eu sinto que não estou perdendo nada em relação às falas dos filmes. Às vezes no dublado, algumas frases ficam sem sentido. Universitários que não sabem inglês (G4): Dublado: 4 Legendado: 2 Universitário 1) DUBLADO. Porque assim consegue prestar mais atenção nas cenas, figurinos e nas “caras e bocas” dos atores. (Universitário 2) LEGENDADO. Tem o áudio original do filme com as palavras verdadeiras. O Filme dublado fala umas coisas que não tem nada a ver como áudio original. Além disso, podemos aprender outro idioma através do filme. (Universitário 3) LEGENDADO. Inglês é língua mundial e aprendemos muito vendo filmes assim. (Universitário 4) DUBLADO. Gosto muito de filmes legendados, mas prefiro assistir os dublados, pois gosto de relaxar ao assistir um filme e não ficar lendo. (Universitário 5) DUBLADO. Apesar do áudio geralmente ser um pouco inferior, eu prefiro assistir filmes dublados, pois não consigo prestar atenção nas legendas e no filme ao mesmo tempo. (Universitário 6) DUBLADO. Me sinto mais confortável assistindo um filme que fala a minha língua. Inglês é uma língua universal, mas mesmo assim prefiro filmes dublados. Pessoas mais velhas que não sabem inglês (G5): Dublado: 5 Legendado: 1 (Pessoa 1) DUBLADO. Porque a legenda passa muito rápido e fica difícil de ler ao mesmo tempo e assistir as imagens. Isso me diminui a vontade de assistir a filmes. (Pessoa 2) DUBLADO. Porque nos filmes legendados, a gente se perde um pouco lendo e vendo ao mesmo tempo Só quando realmente não tem dublado, eu assisto legendado. 53 (Pessoa 3) LEGENDADO. Porque é bom para desenvolver a leitura e memorizar frases em outro idioma. (Pessoa 4) DUBLADO. Porque assim eu tenho mais a possibilidade de observar todos os detalhes da cena. É mais confortável assistir assim. (Pessoa 5) Prefiro DUBLADO, pois chego muito cansado do trabalho e gosto de assistir um filme sem ter que pensar muito e me esforçar para entender o que está acontecendo. (Pessoa 6) DUBLADO. Prefiro filmes dublados, porque não fico preso às legendas. Quando assisto legendado, não posso desviar meu olhar da tela para não perder o que está acontecendo, já com o dublado, posso ficar mais à vontade.