Brasil Ride: mais que uma prova, uma etapa em minha vida
Após dois dias de viagem, com mais de 24 horas acumuladas, 1.600 km rodando de carro rumo a Mucugê,
Bahia, no dia 18 dei início à primeira ultramaratona de minha carreira.
No dia 18 de outubro, foi dada a largada do prólogo, uma etapa com 20 km de pura diversão e muitas trilhas
técnicas na Chapada da Diamantina. Esta foi minha primeira prova em dupla. O entrosamento conta muito
nesse tipo de competição e nessa etapa tive que respeitar o ritmo de minha parceira, Viviane Favery, para
concluirmos juntas a prova. Trabalhando em equipe, dosando o ritmo uma em relação à outra, conseguimos
o primeiro lugar no prólogo com 54 segundos à frente das segundas colocadas. No entanto, fomos realistas:
sabíamos que tal resultado não definiria nada, pois no dia seguinte teríamos pela frente a etapa Rainha, o dia
mais duro da Brasil Ride. Saímos de Mucugê rumo a Rio de contas. Enfrentamos 143 km com 3.400 metros
de ascensão. No segundo dia, largamos bem cedo, às 6 da manhã. A prova iniciou com 15 km de asfalto;
rodamos grande parte do percurso juntas com as 250 duplas, mas depois separaram os grupos de atletas.
Essa etapa foi muito importante para mim. Consegui liderar minha equipe e manter um ritmo com minha
parceira para conseguirmos ser constantes durante todo o percurso, pois um erro na dosagem da força
poderia comprometer toda a prova. Conversei com minha parceira e encontramos um ritmo confortável;
assim mantive a prova inteira à frente, puxando e impondo o ritmo. Nas subidas mais longas, pedi para
a Vivi segurar em meu mochila de hidratação para que ela pudesse poupar um pouco de força. Desse modo,
fizemos juntas quase todas as subidas de estrada do percurso. Após passar pelo Vietnã (a parte mais legal
do percurso, em minha opinião, com 14 km de puras trilhas técnicas e paisagens incríveis), chegamos à serra
final com mais de 8 km de subida constante. Finalizamos a etapa com 8 horas e 10 minutos,
aproximadamente, 33 minutos à frente das segundas colocadas. No terceiro dia foi o XCO. Ali eu estava
“em casa”. A dificuldade maior foram as subidas fortíssimas ao longo dos 7,5 km, descidas muito técnicas,
muitas pedras e um “empurra bike” desumano. Foram 4 voltas fechando com mais de 2 horas de
pedal. Ainda assim, consegui vencer a etapa sendo a única mulher a completar as 4 voltas sem ser
pega pelo líder da prova. Foi um sentimento inexplicável, cruzar a linha de chegada e poder contar por
3 vitórias seguidas e a camisa de lidar da prova ainda em nossas mãos. Na quarta etapa, foram 84 km com
um percurso que variava entre estradas e trilhas. Estávamos na segunda colocação até a descida mais legal
do dia (a Kamikaze Trail), onde, ao final dela, passamos as primeiras colocadas e assumimos
a liderança. Após essa trilha, ainda faltavam algumas horas de provas; esse foi o dia mais quente para mim.
Passamos por uma região que parecia um forno de tão abafada. Conseguimos chegar novamente com
a primeira colocação e com uma boa diferença em relação às segundas colocadas.
Na quinta etapa, largamos com uma estratégia traçada e conseguimos assumir a liderança no quilômetro 15
da prova. Dali em diante, impus um ritmo com minha parceira de modo que pudéssemos finalizar a etapa de
94 km inteiras. Dito e feito! Conseguimos finalizar a etapa vencedoras, novamente, com uma grande
surpresa para nós, pois havíamos batido o recorde de tempo dessa etapa na Categoria Feminina.
Na sexta etapa, a dupla italiana já não estava mais na segunda colocação (devido à lesão sofrida por uma das
atletas da dupla; a equipe precisou abandonar a competição). Assim, abrimos um gap com mais de 3,5 horas
de frente para as segundas colocadas. Largamos para mais de 140 km e fizemos a prova em um rimo
confortável, mas no quilômetro 70 eu decidi ajudar minha parceira e puxá-la em todas as subidas. Seguindo
assim, conseguimos ter um final de prova muito emocionante tendo as líderes desta etapa em nosso campo
de visão. Tentamos buscá-las, mas não foi possível. No entanto, foi bem legal e, sinceramente, esse final foi
a melhor parte do dia, pois esse percurso foi bem entediante para mim por ser ele praticamente todo de
estradas aberta sem quase nada de trilhas. Por apenas 1 minutinho, não garantimos mais uma vitória.
Na sétima e última etapa, foi um dia para completarmos e, enfim, comemorarmos nossa grande conquista.
Essa foi a etapa mais plana, na qual a melhor estratégia era permanecer nos pelotões até o quilômetro
44 para, então, começar a diversão. Mas minha parceira sentiu bastante o acúmulo dos sete dias e estava bem
cansada; por isso, decidimos somente completar a etapa no ritmo dela. Chegamos na terceira colocação nesta
última etapa. No geral, vencemos a Brasil Ride de forma expressiva!
Fiquei muito feliz por poder participar dessa ultramaratona, pois pude mudar alguns conceitos. Descobri que
meus limites vão além do que eu acreditava. Fiz uma nova e grande amizade com minha parceira, que agora
já posso contar como uma de minhas melhores amigas; uma pessoa guerreira, que não me deixou na mão em
momento algum, sempre dando seu máximo. Agradeço de coração por nossa parceria.
Assim, lá se foi a Brasil Ride, uma prova com a melhor organização que eu já presenciei aqui no Brasil; um
ambiente único... Só posso dizer uma coisa: foram dias incríveis e indico a todos: um dia, encarem essa
experiência. Foram 7 dias de prova com mais de 600 quilômetros percorridos em menos de 35 horas, com 13
mil metros acumulados de ascensão, muita diversão, novas amizades e paisagens indescritíveis. Agradeço a
minha equipe, Aoo Specialized, por ter me proporcionado essa oportunidade juntamente com a Sepcialized
Brasil. Agradeço a todo o pessoal da Pedal Urbano, todo apoio que recebemos nas redes sociais, ao Ednei,
que fez um trabalho incrível com filmagens e um suporte top para mim e minha parceira. Agradeço ao meu
treinador Tjeerd de Vries, juntos estamos fazendo um trabalho muito legal e crescendo ainda mais. Agora é a
hora da Raiza atleta deixar a bike de lado por algumas semanas para o corpo se recuperar e, aí sim, voltar a
todo vapor para iniciar minha temporada de treinos rumo às Olimpíadas Rio 2016.
#JUNTOSCOMRAIZAGOULÃO #RIO2016 “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar.”
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