Prisão perpétua para um dos últimos oficiais nazistas julgados na Alemanha AQUISGRÃO, Alemanha (AFP) - Um ex-oficial da SS, de 88 anos, foi condenado nesta terça-feira à prisão perpétua pela execução de três civis na Holanda, em um dos últimos processos de criminosos de guerra na Alemanha. Mas Heinrich Boere ainda não está atrás das grades. Seus advogados anunciaram sua intenção de apelar da decisão. O antigo oficial nazista foi condenado à revelia na Holanda à pena de morte em 1949, que mais tarde foi comutada pela prisão perpétua. O governo holandês tentou obter a extradição de Boere em várias ocasiões, mas a Alemanha sempre negou os pedidos por não extraditar cidadãos alemães. Boere, que entrou para a SS em 1940, aos 18 anos, é um dos últimos julgados por fatos que remontam à Segunda Guerra Mundial. Ele nunca negou ter assassinado, em 1944, o farmacêutico Fritz Bicknese, o vendedor de bicicletas Teunis de Groot e o executivo Frans-Willem Kusters, quando a Holanda estava sob ocupação nazista. "Sim, eu liquidei eles. Não foi difícil", havia dito em 2008 à revista alemã Focus. Mas ele havia apresentado esses assassinatos como represálias contra a resistência. O ex-oficial da SS afirmou não ter tido outra escolha a não ser obedecer ordens. O presidente do tribunal Gerd Nohl considerou que o acusado não havia sido obrigado a entrar para os comandos da SS e que as vítimas "não fizeram nada". "Esses assassinatos foram cometidos de forma totalmente arbitrária (...) Dificilmente algo mais abjeto e covarde pode ser feito", acrescentou. Boere, residente de um asilo, chegou em uma cadeira de rodas ao processo. Ele permaneceu impassível durante a leitura do veredicto, em uma sala de audiências lotada. "Enfim, nós o temos (...) Antes tarde do que nunca", declarou à AFP Teun de Groot, filho de uma das vítimas, de 77 anos. "Desejo a ele uma longa vida após o veredicto", declarou com um sorriso irônico. Outros parentes das vítimas também estavam presentes, como o filho do farmacêutico assassinado, Dolf Bicknese, e seu neto Maarten. O tribunal, no entanto, reconheceu que serão necessários anos antes que a sentença seja aplicada, em razão da apelação anunciada por seus advogados. Preso pouco antes do final da guerra, Heinrich Boere fugiu em 1947, mas passou sete anos foragido na Holanda antes de ir para a Alemanha, onde trabalhou como minerador até 1976. Em 1980, a Alemanha se recusou a extraditá-lo para a Holanda, considerando que não podia determinar se era apátrida ou alemão. Privado de sua nacionalidade holandesa durante sua condenação em 1949, o ex-oficial da SS fazia parte dos "estrangeiros meritórios", que Hitler tornou cidadãos do III Reich. "A Corte não está em condições de determinar a nacionalidade do acusado, mas isso não tem importância neste processo", afirmou Nohl na terça-feira. Em 2003, a Holanda havia exigido em vão que ele cumprisse sua pena na Alemanha. A justiça alemã decidiu julgá-lo, mas um tribunal considerou que ele não podia ser julgado em razão da sua idade e de seu estado de saúde. De instância em instância, o caso foi até a Corte Constitucional, que deu o seu sinal verde. O processo mais marcante contra criminosos nazistas atualmente em curso na Alemanha é o de John Demjanjuk, 89 anos, acusado de cumplicidade no extermínio de 27.900 judeus no campo de Sobibor, na Polônia, em 1943.