A doutrina sobre o Espírito Santo em São Basílio de Cesaréia, "o Grande"
Em muito se deve a São Basílio, as palavras que nós rezamos no creio nicenoconstantinopolitano de 381, pelas missas e celebrações litúrgicas a respeito do
Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: "Creio no Espírito
Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas". Surgem perguntas na fé
proclamada: quem é o Espírito Santo? Qual é a relação dele com o Pai e o Filho?
Buscando respostas, trazemos o pensamento de São Basílio de Cesaréia, Bispo,
Padre da Igreja, denominado "o Grande" que viveu no século IV na Capadócia,
hoje, Turquia. Ele foi um dos autores cristãos que contribuiu para a elaboração
da doutrina sobre a divindade do Espírito Santo com uma reflexão teológica
excelente, defendendo a Terceira Pessoa divina e influenciando toda a Tradição
posterior.
1. A noção do Espírito Santo
Se nos primeiros 8 capítulos, Basílio deteve-se na relação do Filho com o Pai, do capítulo nove
ao trinta, o Bispo de Cesaréia tratou da questão sobre o Espírito Santo trazendo presentes as noções que
a Escritura diz sobre ele: "Espírito de Deus", "Espírito da Verdade que procede", "Espírito Santo",
"Espírito incorpóreo", "imaterial" sem as dimensões de espaço e de tempo. A Ele voltam-se todos os que
procuram viver a virtude, fazendo perfeitos os outros sem receber a perfeição. Ele é a plenitude da
santidade, estando presente em todos aqueles e aquelas que trabalham pela paz e pelo amor neste mundo.
Quem vive por Ele, terá a sua alma transformada da brutalidade do pecado na qual é envolvida, à beleza
primitiva. Através dele, os corações se elevam, os fracos são tomados pela mão e os que progridem na
virtude, tornam-se perfeitos. Ele dá à compreensão das coisas misteriosas, a permanência em Deus e o
mais alto dos desejos humanos: tornar-se semelhante a Deus.
Basílio observou a palavra da Sagrada Escritura na qual o Senhor ordenou aos discípulos para
batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo(cf. Mt 28,19). Com isso o Espírito Santo está em
comunhão de natureza com as outras duas pessoas(Κoιvωvίαv). Basílio diz que a fórmula batismal é a
prova suficiente da divindade do Espírito Santo. Lembrou ainda que os heréticos por atacarem a sã
doutrina e a fé em Cristo, esqueceram a Tradição Apostólica porque se o batismo nos dá o dom da
adoção filial, não se pode ser fiel a ele se trair-nos a tradição que nos introduziu nessa luz como filhas e
filhos de Deus, unidas e unidos em Jesus Cristo.
Basílio exortou, através da oração, àqueles que negaram a divindade do Espírito Santo em vista
da sua conversão. Sua preocupação salvaguardou os ensinamentos sobre o batismo, a profissão de fé e a
doxologia. Estas três realidades teológicas mantém viva a fé em Deus Uno e Trino e não deturpam a
piedade popular. Negando-se a divindade ao Espírito Santo, nega-se Deus e por isso cai-se no vazio.
Para Basílio, quem não crê no Espírito Santo como Deus, não acredita nem no Pai e nem no Filho como
Deus.
O Espírito é ligado à adoração. Não se pode adorar o Filho, se não no Espírito Santo; nem se
invoca o Pai, se não no Espírito de adoção. Ele conduz a pessoa à união com Deus. Com isto ele reforça
a inseparabilidade do Espírito em relação ao Filho e ao Pai.
Basílio responde que a fórmula batismal põe as três pessoas divinas no mesmo plano, uma ao
lado da outra, não uma após a outra, uma vez que elas coordenam-se na mesma linha e também na
unidade da natureza. Os nomes de Pai, Filho e Espírito Santo foram manifestados por Jesus Cristo aos
discípulos(cf. Mt 28,29).
Nós permanecemos fiéis à unidade divina e confessamos o caráter próprio das Pessoas. Em Deus
Pai e em Deus Filho contemplam-se uma só imagem reflexa da divindade. O Pai é no Filho e o Filho é
no Pai; são um só, segundo a comunhão de natureza; um e outro são um, não dois deuses. Única é a
glória que rendemos a Deus, uma vez que a honra dada à imagem vai também ao protótipo. Um é
também o Espírito Santo pronunciado singularmente unido ao Pai que é uno, pelo Filho que é uno, e por
meio dele é completada a Trindade Santa. Como único é o Pai, único é também o Filho, assim também
único é o Espírito Santo. Nós confessamos as três Pessoas divinas, sem desagregar o dogma da unidade
em Deus.
2. O Espírito Santo possui a natureza divina
Diante dos adversários que contestavam o uso da doxologia, Basílio afirmou a glória do Espírito
Santo. Ele é santo, como santo é o Pai e o Filho de modo que a sua natureza é divina. A santidade faz
parte da plenitude da natureza de Deus. Ele não é santificado, mas santifica as pessoas. Ele sabe as
coisas de Deus, como o espírito humano sabe as coisas do ser humano. Ele é eterno, preexistente e
coexistente com o Pai e o Filho antes dos séculos. Na encarnação de Cristo o Espírito é inseparável das
outras duas Pessoas. A remissão dos pecados vem através d'Ele.
Contra os pneumatômacos, afirmou Basílio que o Espírito Santo é da esfera do Pai e do Filho e
está acima da criação. Buscando argumentos para provar a divindade do Espírito Santo, diz que Ele é
Senhor porque o seu poder é inacessível de se contemplar. Como tem a comunhão de operações com o
Pai e com o Filho é difícil intuí-lo na contemplação. Aquilo pois que se diz do Pai e que está além da
compreensão humana diz-se do Filho e também do Espírito Santo.
Desta forma está atestada a indissolubilidade das 3 pessoas, não somente no agir, mas também no
ser. É o Espírito que dá a graça aos carismas na Igreja. Isto não diminui em nada o Espírito e sim, antes
o glorifica. É o "lugar" também dos santos e das santas pois Ele é o Santo, por excelência. Ele é anterior
aos séculos e sempre esteve com o Pai e o Filho, o que exprime a sua união eterna.
Quando pensamos a dignidade própria do Espírito, o contemplamos com o Pai e com o Filho,
pois rendemos graças a Deus pelos benefícios recebidos e ao mesmo tempo recebemos a ajuda do
Espírito Santo para oferecer a Deus sacrifícios de louvores. A adoração no Espírito faz com que nossa
mente se volte à luz divina. Da mesma forma como falamos uma adoração no Filho, como imagem do
Pai, assim expressamos uma adoração no Espírito, como aquele que mostra a divindade do Senhor. Na
iluminação do Espírito vemos o esplendor da glória de Deus. É uma impiedade segundo Basílio não
reconhecer a comunhão de natureza divina do Espírito com o Filho e com o Pai. Na parte final do seu
tratado, Basílio tem presentes autores que falaram sobre o Espírito como Irineu de Lião, Tertuliano,
Clemente de Roma, Orígenes, entre outros que afirmaram que o Espírito é glorificado e tem comunhão
de natureza com as outras duas pessoas. Basílio resgatou uma antiga fórmula cantada nas comunidades
nos séculos II e III como ação de graças: Louvemos o Pai e o Filho e o Espírito Santo de Deus.
Conclusão
O obra de São Basílio, o Grande, sobre "o Espírito Santo" ajudou na fé do Espírito pela Igreja
através das palavras introduzidas no Credo Niceno-Constantinopolitano de 381. Ela influenciou a
tradição posterior a respeito da doutrina do Espírito Santo, pois era necessário, diante dos
pneumatômacos, a afirmação da sua divindade em consubstancialidade com o Pai e o Filho, sendo uma
Pessoa de natureza não criada como as outras duas Pessoas. O louvor, a adoração, a glória, as orações, o
sinal da cruz, a fórmula do batismo, o creio que são dados ao Pai e ao Filho são igualmente concedidos
ao Espírito Santo. O Deus único e Trino é adorado e glorificado pelas suas criaturas e pelo ser humano.
Nós queremos viver a beleza deste mistério neste mundo e um dia contemplá-lo na eternidade. Vivamos
na alegria e no amor que nos vem de Deus, pelo Espírito.
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá - PA
Fonte: Rádio Vaticano
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