C apítulo 1 Espiritualidade h As evidências da plenitude do Espírito Santo E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais (Ef 5.18,19). S em a obra do Espírito Santo o cristianismo não existiria. Não existe sequer uma pessoa salva sem a obra do Espírito Santo. Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele (Rm 8.9). Se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus ( Jo 3.5). Todo salvo é regenerado, habitado, selado e batizado pelo Espírito, passando assim a fazer parte do corpo de Cristo. Porém, nem todos os que têm o Espírito Santo estão cheios dele. Uma coisa é ser habitado pelo Espírito, outra é ser cheio do Espírito. Uma coisa é ter 10 Mensagens selecionadas 3 o Espírito como residente; outra coisa é tê-lo como presidente. Quais evidências comprovam que uma pessoa está cheia do Espírito Santo? 1. Uma pessoa cheia do Espírito tem uma vida controlada pelo Espírito (Ef 5.18) O apóstolo Paulo ordena: E não vos embriagueis com vinho no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito. Aqui, Paulo dá uma ordem negativa: não vos embriagueis com vinho e uma ordem positiva: enchei-vos do Espírito (Ef 5.18). Paulo faz uma comparação superficial e estabelece um contraste profundo. Ele compara o poder exercido pelo vinho com o poder exercido pelo Espírito. Ou seja, da mesma forma que uma pessoa embriagada está sob o poder do vinho, assim também uma pessoa cheia do Espírito está sob o poder e influência do Espírito. O contraste está no fato de o vinho conduzir à dissolução e a plenitude do Espírito, ao domínio próprio. Quem está cheio de vinho não pode estar cheio do Espírito. Quem é dominado pelo vinho não pode ser dominado pelo Espírito. A embriaguez é obra da carne e conduz à escravidão e à morte, mas a plenitude do Espírito traz liberdade e vida. 2. Uma pessoa cheia do Espírito tem deleite na adoração a Deus (Ef 5.19,20) Uma pessoa cheia do Espírito louva de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a Deus, o Pai, em nome do Senhor Jesus. Adoração e gratidão são evidências da plenitude do Espírito. Por conseguinte, uma pessoa que não se deleita na adoração e se entrega à murmuração não dá provas de que está cheia do Espírito. Adoramos a Deus por quem ele é, e agradecemos a Deus pelo que ele faz. Quando estamos cheios do Espírito, nosso coração se volta para Deus em alegre e santa devoção. Quando estamos transbordando do Espírito, reconhecemos a bondade de Deus em todas as circunstâncias e agradecemos a ele pelos seus gloriosos feitos. Espiritualidade 11 3. Uma pessoa cheia do Espírito tem relacionamentos transformados (Ef 5.19) O apóstolo escreve: [...] falando entre vós com salmos (Ef 5.19). A expressão “entre vós” fala de relacionamento e comunicação. Uma pessoa cheia do Espírito tem relacionamentos transformados. Sua comunicação é regada pelo amor. Suas palavras são medicina para a alma. Uma pessoa cheia do Espírito não fere outra com a língua, mas enaltece e abençoa com a palavra. Nossas palavras refletem nosso coração e desnudam o nosso interior. Elas atestam quanto o Espírito Santo controla a nossa vida. Um crente cheio do Espírito é um encorajador, não um provocador de contendas. Sua palavra constrói pontes em vez de cavar abismos. 4. Uma pessoa cheia do Espírito tem disposição para servir (Ef 5.21) O apóstolo Paulo ainda diz: [...] sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. No reino de Deus, maior é o que serve. Um crente cheio do Espírito jamais é arrogante e soberbo. Um crente cheio do Espírito jamais alimenta mania de grandeza. Antes, se dispõe a servir em vez de ser servido. Ele cinge-se com a toalha para lavar os pés dos irmãos. Ele não tem em vista o que é propriamente seu, mas sim o que é dos outros. Um crente cheio do Espírito é uma pessoa humilde, generosa, prestativa e que faz da vida uma plataforma de serviço, não uma feira de vaidades. Você é um crente cheio do Espírito? Lembre-se: ser cheio do Espírito não é uma opção, mas uma ordem divina. M 12 Mensagens selecionadas 3 Os puritanos: uma geração de gigantes Tu és o Deus que operas maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o teu poder (Sl 77.14). J. I. Packer define os puritanos como uma geração de gigantes. Os puritanos viveram com grande intensidade o evangelho. Eles produziram a maior biblioteca teológica da história da igreja. Eram verdadeiros gigantes, tanto na teologia como na vida; tanto no conhecimento como na piedade. Em 1643, o Parlamento inglês, em guerra civil com o rei Carlos I, convocou a Assembleia de Westminster, composta por 151 teólogos do mais elevado cabedal teológico e espiritual. Reuniram-se na Abadia de Westminster, em Londres, até 1649. Eles escreveram os postulados doutrinários que deveriam ser ministrados às igrejas. Aquela magna assembleia se debruçou sobre os temas mais relevantes da Bíblia e, em clima de profunda oração e fervor espiritual, elaborou a Confissão de Fé de Westminster, os Catecismos Breve e Maior, o Diretório de culto, a Forma de Governo e um Saltério. Esses documentos foram adotados pelas igrejas reformadas de quase todo o mundo. Esses valiosos documentos são considerados a melhor síntese teológica já produzida na igreja ao longo dos séculos. A Assembleia realizou 1163 sessões em 5 anos, 6 meses e 22 dias de reunião. As discussões eram de cunho elevado e alta erudição. Os participantes faziam jejum constantemente, humilhando-se diante de Deus. Tinham profunda reverência pela autoridade suprema das Escrituras. Por isso, puderam, sob a iluminação do Espírito Santo, dar às gerações pósteras tão rico legado. Vejamos as principais ênfases puritanas: 1. Soberania de Deus A soberania de Deus era fundamentada em três áreas distintas. A primeira, o princípio regulador puritano, “a glória de Deus” — eles casavam, trabalhavam, comiam, descansavam, escolhiam sua profissão, pregavam, criavam filhos, educavam, ganhavam e investiam dinheiro, tudo para a glória de Deus. A segunda, a soberania na salvação — eles pregavam que Espiritualidade 13 a salvação vem de Deus, é realizada e aplicada soberanamente por Deus. A terceira, a soberania nos acontecimentos — tudo está sob o controle e o domínio de Deus. Eles descansavam em sua sábia e bondosa providência. 2. Centralidade da Bíblia A ênfase puritana na centralidade da Bíblia preparou a igreja para os grandes embates que ela teve de travar com o racionalismo e o experiencialismo místico. Ainda hoje a igreja enfrenta essas duas ameaças. Tanto um quanto outro são nocivos à saúde espiritual da igreja. A maior necessidade da igreja evangélica brasileira é uma volta às Escrituras. Uma reforma espiritual nos púlpitos e nos bancos. 3. Ênfase no arrependimento, na conversão e na santificação Eles pregavam a necessidade de profunda convicção de pecado antes da conversão. Para eles, a santidade era a prova da justificação. Hoje, vemos florescer uma pregação evangelística humanista. Em vez de chamar o homem ao arrependimento, muitos pregadores modernos querem confortá-lo em seus pecados. Essa é uma distorção da verdade, uma caricatura do verdadeiro evangelho. Muitos púlpitos estão mais preocupados em massagear o ego dos pecadores do que levá-los ao arrependimento. Alguns pregadores estão mais engajados em entreter os cabritos do que alimentar as ovelhas. 4. Vida teocêntrica O último conselho de Richard Baxter aos seus paroquianos foi: “Mantenham deleite constante em Deus”. Toda vida é de Deus. Toda vida é sagrada. O puritanismo resgatou um senso de totalidade à vida, em contraste com os mosteiros da Idade Média e com a posição pietista do século 17. Precisamos trafegar do trabalho para o santuário com a mesma devoção. Tudo o que fazemos é para a glória de Deus e deve ser feito em nome de Cristo Jesus. A piedade não é para ser vivida apenas num departamento da vida, mas na totalidade dela. 14 Mensagens selecionadas 3 5. Expectativa do futuro sem deixar de agir no presente Os puritanos eram otimistas. Não aplaudiam a desgraça. Não eram omissos. Eram práticos e dinâmicos. Para eles, “a alma da religião é a parte prática”. Por isso, fundaram universidades, criaram escolas e cultivaram um forte espírito missionário. 6. Família para a glória de Deus A finalidade da família é estabelecer o reino de Cristo em casa. Eles defendiam uma liderança firme, porém amorosa, no lar. Os pais se empenhavam para que seus filhos fossem mais filhos de Deus do que filhos deles. Treinavam os filhos por meio do exemplo. Enfatizavam o ensino, o trabalho e a disciplina. Jamais descuidavam do culto doméstico. 7. Vida cristã equilibrada Podemos destacar o equilíbrio dos puritanos em cinco áreas distintas: a) ortodoxia e piedade — mente e coração voltados para um estudo profundo e uma intensa vida de oração; b) teólogos e homens de oração — conheciam as Escrituras e o poder de Deus; c) aceitação e rejeição do mundo — o mundo é local de serviço a Deus e lugar que pode desviar as pessoas do caminho eterno; d) aspecto ativo e contemplativo — eram grandes estudiosos, mas não deixavam a prática devocional, portanto se dedicavam à oração e ao jejum; e) trabalho e lazer — todo o trabalho honesto é sagrado, por isso ensinavam os filhos desde cedo a trabalhar. M Espiritualidade 15 Como viver na dimensão da eternidade Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (Rm 8.18). O apóstolo Paulo, em 2Coríntios 4.16-18, nos ensina a viver na dimensão da eternidade. Nossos pés estão na terra, mas o nosso coração está no céu. Vivemos neste mundo como peregrinos, mas estamos a caminho da nossa Pátria permanente. Três verdades saltam aos nossos olhos no texto em apreço. Essas verdades nos direcionam nessa caminhada rumo à glória. 1.temos um corpo fraco, mas um espírito renovado Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia (2Co 4.16). Nossa fraqueza física é notória e indisfarçável. O tempo esculpe em nossa face rugas profundas. Nossas pernas ficam bambas, nossos joelhos trôpegos e nossas mãos descaem. Cada fio de cabelo branco que surge em nossa cabeça é a morte nos chamando para um duelo. Nosso homem exterior enfraquece progressivamente. Porém, ao mesmo tempo, nosso homem interior renova-se dia a dia, sendo transformado de glória em glória na imagem de Cristo. Ao mesmo tempo que o nosso corpo se enfraquece, nosso espírito se fortalece. Na mesma proporção que o exterior se corrompe, o interior se renova. Temos um corpo fraco, mas um espírito forte. 2. temos um presente doloroso, mas um futuro glorioso Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação (2Co 4.17). Aqui, pisamos estradas juncadas de espinhos, cruzamos vales escuros e atravessamos desertos tórridos. Aqui, nossos olhos ficam cheios de lágrimas e nosso corpo geme sob o látego da dor. Aqui, enfrentamos ondas encapeladas, rios caudalosos e precisamos atravessar fornalhas ardentes. Aqui, sofremos, choramos e sangramos. Porém, em comparação com a glória a ser revelada em nós, nossas tribulações são leves e passageiras. 16 Mensagens selecionadas 3 O presente é doloroso, mas o futuro é glorioso. Nosso destino final não é um corpo caquético, mas um corpo de glória. Nossa jornada não termina num túmulo gélido, mas na Jerusalém celeste. Nosso fim não é a morte, mas a vida eterna. O nosso futuro de glória deve encorajar-nos a enfrentar com alegria a presente tribulação. O que seremos deve nos encher de esperança para arrostar as limitações de quem somos. Vivemos não como prisioneiros do tempo, mas sim na dimensão da eternidade! 3. temos as coisas visíveis que são temporais, mas as coisas invisíveis são eternas Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas (2Co 4.18). O visível e tangível que enche nossos olhos e tenta seduzir nosso coração é aquilo que não vai permanecer. Tem prazo de validade e não vai durar para sempre. Porém, as coisas que não vemos são as que têm valor e vão permanecer para sempre. Investir apenas naquilo que é terreno e temporal é fazer um investimento insensato, pois é investir naquilo que não permanece. Investir, porém, nas coisas invisíveis e espirituais é investir para a eternidade. Jesus diz que devemos ajuntar tesouros lá no céu, pois o céu é nossa origem e nosso destino. O céu é nosso lar e nossa pátria. Nosso Senhor está no céu. Muitos dos nossos irmãos já foram para lá, e nós, que fomos remidos e lavados no sangue de Jesus, estamos a caminho do céu. Lá está o nosso tesouro. Lá está a nossa herança. É lá que devemos investir o melhor do nosso tempo e dos nossos recursos. Atentar apenas nas coisas que se veem e que são temporais é viver sem esperança no mundo; mas buscar as coisas que os olhos não veem nem as mãos apalpam é viver na dimensão da eternidade, com os pés na terra, mas com o coração no céu! M Espiritualidade 17 Como viver sem máscaras E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia (2Co 3.13). O Carnaval é a maior festa popular do Brasil e, talvez, do mundo. Nessa festa da extravagância e dos excessos, muitas pessoas saem às ruas usando máscaras. Algumas se escondem atrás das máscaras; outras se revelam por meio delas. Uma máscara esconde ou encobre a nossa verdadeira identidade. É importante ressaltar que existem máscaras tangíveis e intangíveis: algumas cobrem o rosto, outras tentam disfarçar as atitudes da alma. De certo modo, todos nós usamos máscaras. Aquele que diz que nunca usou uma máscara, possivelmente acaba de afivelar uma no rosto, ou seja, a máscara da mentira. O problema é que as máscaras ou proclamam uma mentira ou escondem uma verdade. Quando usamos máscaras, as pessoas passam a amar não quem somos, mas quem aparentamos. As máscaras também não são seguras. Por melhor que as afivelemos, elas podem cair nas horas mais impróprias e nos deixar em situação de total constrangimento. Certo homem acabara de se formar em direito. Abriu seu escritório e o decorou com os móveis mais requintados. Todos os dias, segurando uma bela pasta de couro, ele se dirigia ao escritório trajando um engomado terno de linho. Um dia, a campainha do escritório tocou, e, antes de atender, o recém-formado advogado pegou o telefone e entabulou uma animada conversa com seu pretenso cliente, falando de cifras colossais. Quando colocou o telefone no gancho para receber o que estava à porta, este lhe disse: “Sou funcionário da telefônica e estou aqui para ligar seu telefone, pois ele ainda não está funcionando”. A máscara caiu, e o jovem doutor sentiu-se totalmente embaraçado. Queremos mencionar aqui algumas máscaras usadas ainda hoje. 1. A máscara da piedade O apóstolo Paulo, ensinando sobre a doutrina da nova aliança, diz que podemos ser ousados e não agir como Moisés, que pôs um véu sobre 18 Mensagens selecionadas 3 a face para que as pessoas não atentassem para a glória desvanecente em seu rosto. Quando Moisés subiu ao monte Sinai para receber as tábuas da Lei, ao regressar, seu rosto brilhava. As pessoas não podiam olhar para ele. Então, ele colocou um véu em sua face para que as pessoas pudessem se aproximar e falar com ele. Mas houve um momento em que Moisés percebeu que a glória estava acabando. Ele não precisava mais do véu, porém continuou com o véu, porque não queria que soubessem que sua glória era desvanecente. Muitas vezes, somos parecidos com Moisés. Tentamos impressionar as pessoas com uma espiritualidade que não temos. Aparentamos ser mais crentes e mais piedosos do que na verdade somos. Para ostentar essa pretensa espiritualidade, afivelamos no rosto uma bela máscara de piedade. Usamos um linguajar cheio de chavões espirituais. Nossos lábios despejam uma torrente de palavras bonitas, quando nosso coração está longe de Deus. Em público fazemos orações cheias de emoção, mas em secreto nosso coração está vazio e seco. 2. A máscara da autoconfiança O apóstolo Pedro era um homem impulsivo. Falava e depois pensava. Quando Jesus declarou que eles se escandalizariam com ele e iriam se dispersar, Pedro não titubeou e foi logo dizendo que, ainda que todos o abandonassem, ele jamais o faria e que estava pronto para ser preso com Jesus ou até mesmo com ele morrer. Pedro julgou-se forte e até melhor do que seus pares. Porém, naquela mesma noite, ele fraquejou e dormiu quando Jesus pediu para ele vigiar. Pedro abandonou Jesus e seus condiscípulos e infiltrou-se na roda dos escarnecedores. Pedro negou, jurou e praguejou dizendo que não conhecia Jesus. A máscara de sua autoconfiança caiu quando Jesus o olhou, e, então, ele caiu em si e desatou a chorar. Complexo de superioridade sempre esconde complexo de inferioridade. Quem faz propaganda das próprias virtudes é uma pessoa que precisa se autoafirmar. Quem bate palmas para si mesmo e toca trombetas para anunciar os próprios feitos esconde-se atrás da máscara da autoconfiança e revela-se uma pessoa insegura e hipócrita. Espiritualidade 19 3. A máscara do legalismo Um legalista é inflexível com as outras pessoas, mas condescendente consigo mesmo. Ele enxerga um cisco no olho dos outros, mas não vê uma trave no seu. O legalismo é um caldo mortífero. Preocupa-se mais com a forma do que com a essência. Cuida mais da aparência do que do interior. Os fariseus eram legalistas. Eles eram fiscais da vida alheia, mas descuidados com sua intimidade com Deus. Eram bonitos por fora, mas feios por dentro. Jesus os comparou a sepulcros caiados: limpos por fora, mas cheios de rapina por dentro. Os fariseus eram hipócritas. Eles eram atores que representavam no palco um papel diferente daquele desempenhado na vida real. Muitos de nós ainda usamos essa máscara do legalismo. Somos duros com os outros e tolerantes conosco. Somos críticos dos outros e complacentes conosco. Acusamos os outros e justificamo-nos. Somos impacientes com os erros dos outros e os atacamos como os escorpiões do deserto, mas bajulamos a nós mesmos e acariciamos os nossos pecados. É tempo de nos despojarmos dessas máscaras. Precisamos entender que a vida cristã exige uma contínua remoção das máscaras. A Bíblia diz que onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade; não liberdade para fazer o que queremos, mas liberdade para vivermos na luz. Pela obra de Cristo e pela ação do Espírito, podemos viver sem máscaras, sendo transformados de glória em glória, até atingirmos a estatura de Cristo, o varão perfeito. M 20 Mensagens selecionadas 3 O conhecimento de Deus, uma verdade consoladora O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam (Na 1.7). O profeta Naum viveu muitos séculos antes de Cristo. Profetizou a decadência do megalomaníaco Império Assírio e a queda irremediável de Nínive, a cidade impiedosa e sanguinária. No meio, porém, dessa devastadora tempestade do juízo divino, Naum ergue a voz para anunciar três verdades consoladoras: a bondade de Deus, o socorro de Deus e o conhecimento de Deus: O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam (Na 1.7). Vamos analisar essas três verdades: 1. A bondade de Deus é a âncora da nossa esperança O Senhor é bom... Deus é bom, essencialmente bom. Em sua bondade, ele nos dá o que não merecemos. Ele faz o sol brilhar sobre os maus e cair sua chuva até mesmo sobre os que zombam dele. Sua graça comum estende-se sobre ímpios e piedosos, sobre arrogantes e humildes, sobre ricos e pobres. A terra está cheia da sua bondade. As obras da criação e as ações de sua providência refletem sua generosa bondade. Ele nos dá vida e preserva a nossa saúde. Ele nos dá o pão de cada dia e nos dá prazer para saboreá-lo. Ele nos dá a família e nos alegra o coração com o banquete do amor. Porém, a bondade de Deus pode ser vista em seu pleno fulgor por intermédio de sua graça especial. Jesus é o dom supremo da bondade de Deus, e a salvação que ele nos trouxe, sua dádiva mais excelente. Porque Deus é bom, podemos navegar em segurança, mesmo pelos mares encapelados da vida. 2. O socorro de Deus é a âncora da nossa paz ...é fortaleza no dia da angústia... Deus não abandona o seu povo nas batalhas mais amargas da vida. Ele não desampara os seus nos vales sombrios da caminhada. Ele caminha conosco pelas ondas revoltas, pelos rios caudalosos e pelas fornalhas acesas. Ele inspira canções de louvor nas Espiritualidade 21 noites escuras e coloca em nossos lábios um cântico de vitória, mesmo quando grossas lágrimas rolam pela nossa face. Ele é nossa cidade de refúgio, nosso escudo protetor, nosso amigo mais achegado, nosso abrigo no temporal. Nem sempre nos livra da angústia, mas sempre é fortaleza no dia da angústia. Nem sempre nos livra do fogo ardente das provas, mas sempre nos livra nas provas. O fogo das provas só pode queimar nossas amarras, mas não pode tostar sequer um fio de cabelo da nossa cabeça. Nem sempre Deus nos livra da morte, mas sempre nos livra na morte e nos leva a salvo para o seu reino celestial. O futuro pode ser incerto para nós; jamais, porém, o será para Deus. Ele nos toma pela mão direita, nos guia com o seu conselho eterno e depois nos recebe na glória. Caminhamos de força em força, de fé em fé, sendo transformados de glória em glória até entrarmos pelas portas da cidade santa. 3. O conhecimento de Deus é a âncora da nossa segurança ...e conhece os que nele se refugiam. Nossa segurança está no fato de Deus nos conhecer. O conhecimento de Deus não é apenas um assentimento intelectual, mas, sobretudo, um afeto relacional. Quando o profeta diz que Deus nos conhece, quer dizer que ele nos ama com amor eterno. Nossa segurança não está simplesmente no fato de o conhecermos, mas, sobretudo, no fato de ele nos conhecer (Gl 4.9). Deus conhece os que lhe pertencem e aqueles que nele se refugiam. Jesus conhece suas ovelhas, dá-lhes a vida eterna e ninguém as arrebata de suas mãos. Em Deus temos segurança inabalável. Nele temos salvação eterna, pois ele é refúgio no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam. A tempestade pode estar devastadora lá fora, mas refugiados nos braços de Deus, dentro da arca da salvação, temos uma âncora firme e inabalável de esperança, paz e segurança! M 22 Mensagens selecionadas 3 Paz, uma dádiva do céu Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize ( Jo 14.27). O mundo está em conflito, é um campo de guerra, um cenário cinzento de encardidos combates. Os historiadores chegam a afirmar que a história da humanidade é a história das guerras. Enquanto erguemos monumentos à paz, investimos mais na guerra. Enquanto falamos da necessidade de paz, armamo-nos até os dentes, preparando-nos para os mais sangrentos combates. As tensões se agigantam entre as nações, dentro das famílias e até mesmo no sacrário da nossa alma. Somos uma guerra civil ambulante. O homem está em conflito com Deus, com seu próximo e consigo mesmo. A paz verdadeira será sempre um sonho utópico até que reine o Príncipe da Paz. As Escrituras nos falam de paz com Deus e paz de Deus. A primeira é um estado, e a segunda, um sentimento. A paz de Deus nos fala de um relacionamento certo com Deus, fruto da reconciliação com ele, por meio de Cristo. A paz de Deus é fruto da paz com Deus e tem a ver com um sentimento de alegria inefável, que inunda a nossa alma, mesmo em meio aos vendavais da vida. Não há paz de Deus sem que primeiro se estabeleça a paz com Deus. A paz com Deus é a raiz, e a paz de Deus, o fruto. A paz com Deus é a fonte, e a paz de Deus é o fluxo que corre dessa fonte. 1. A paz com Deus No entanto, o que é, de fato, a paz com Deus? Ela é fruto da justificação. A justificação é um ato jurídico de Deus pelo qual somos declarados inocentes e inculpáveis diante do seu tribunal, em virtude do sacrifício substitutivo de Cristo em nosso favor e em nosso lugar. Mediante a justificação, ficamos quites com a lei de Deus e com a justiça divina, não pesando mais sobre nós nenhuma condenação. Nossos pecados não são imputados a nós, pois foram lançados sobre Jesus na cruz, e toda a justiça de Cristo é transferida para a nossa conta. Espiritualidade 23 A justificação é um ato, não um processo; é feita no tribunal de Deus, não em nosso coração. Ela não tem graus, uma vez que todos os salvos são igualmente justificados com base nos méritos de Cristo Jesus. Por isso, a paz com Deus é a mesma para todos os remidos. Nenhum salvo tem mais paz com Deus do que outro. Todos estão igualmente reconciliados com ele por meio de Cristo Jesus. 2. A paz de Deus Já a paz de Deus difere de crente para crente. Nem todos os salvos a experimentam com a mesma intensidade. Ela não é um estado, mas um sentimento, fruto do nosso estreito relacionamento com o Senhor. Paulo diz que a falta dessa paz deixa vulneráveis o coração e a mente à ansiedade. A ansiedade é uma espécie de estrangulamento da alma, quando somos sufocados pelas tensões que chegam das circunstâncias, dos relacionamentos estremecidos e da preocupação com as coisas materiais. Quando buscamos Deus em oração e o adoramos, dando graças por sua bondade, a ansiedade precisa bater em retirada, e a paz de Deus, como uma sentinela divina, passa a guardar nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus. A paz de Deus é uma fortaleza ao redor da nossa mente e do nosso coração, da nossa razão e dos nossos sentimentos. A paz de Deus é aquele descanso interior que advém de saber que Deus está no controle, que nossa vida está em suas mãos, mesmo quando as circunstâncias ao nosso redor são tempestuosas. Não precisamos ser prisioneiros da ansiedade. Se já fomos reconciliados com Deus, temos a paz com Deus e agora podemos experimentar a paz de Deus! M 24 Mensagens selecionadas 3 A decadência da sociedade brasileira A sociedade brasileira está doente. Suas entranhas estão infectadas. Seu mal é grave e crônico. O perigo de morte é iminente. A decadência da sociedade é moral e espiritual. Alcançamos o progresso científico e econômico, mas nossa cultura está moribunda. Conhecemos os segredos da ciência, mas não conhecemos as profundezas abissais do nosso coração. Amealhamos riquezas e despontamos como a sexta economia do Planeta, mas nosso povo chafurda num pântano nauseabundo de pecados vis. Temos as maiores reservas naturais do Planeta, mas estamos perdendo nosso senso de valor. Agigantamo-nos diante do cenário mundial, mas apequenamo-nos diante do espelho da verdade. Destacaremos alguns sintomas que apontam a decadência da nossa sociedade. Em primeiro lugar, a sociedade brasileira está doente porque abandonou Deus, a fonte da vida. A apostasia é a porta de entrada do colapso moral. O abandono da verdade desemboca numa vida desregrada. A impiedade deságua na perversão. O homem, querendo destronar Deus, condecorou a si mesmo como a medida de todas as coisas. Mas a tola atitude de colocar o homem no lugar de Deus não o elevou às alturas, antes o fez descer aos abismos mais profundos. Por ter perdido a centralidade de Deus na vida, o homem bestializou-se e se rendeu aos vícios mais degradantes e à violência mais encarniçada. No século do apogeu do humanismo, duas sangrentas guerras mundiais barbarizaram o mundo. Noventa milhões de pessoas foram trucidadas nessas duas conflagrações mundiais. O homem sem Deus tornou-se um monstro celerado. Explodiram guerras e revoltas entre as nações. Multiplicaram-se os conflitos étnicos. Recrudesceu a intolerância racial e religiosa. Cresceram os conflitos dentro da família. No vagão dessa locomotiva desgovernada, rumo ao abismo, encontram-se aqueles que abandonaram Deus, o refúgio verdadeiro, a única fonte da vida. Em segundo lugar, a sociedade está doente porque abandonou a verdade, a fonte da ética. Uma sociedade que se esquece de Deus e abandona a verdade degrada-se irremediavelmente. A teologia é a mãe da ética, e Espiritualidade 25 a impiedade, a genetriz da perversão. Porque o homem desprezou o conhecimento de Deus, mergulhou nas águas turvas do relativismo moral. Porque sacudiu o jugo da verdade, caiu na rede mortal da degradação moral. Nossa sociedade aplaude o vício e escarnece da virtude. Promove a imoralidade e faz troça dos castiços valores morais. Chama trevas de luz, e luz, de trevas. A televisão brasileira promove toda sorte de atentado moral contra a família. As práticas homossexuais são recomendadas e expostas na mídia como indicador de uma liberdade benéfica, e a defesa da família é criticada como uma intolerância medieval. Cumpriu-se o vaticínio: temos vergonha de ser honestos. Em terceiro lugar, a sociedade está doente porque abandonou o temor de Deus, a fonte da sabedoria. A sociedade abandonou Deus e sua verdade; consequentemente, perdeu o temor do Senhor, o princípio da sabedoria. Com isso, os homens não apenas marcham no caminho largo da perdição, mas também zombam daqueles que seguem o caminho estreito da salvação. A sociedade sem Deus não apenas caminha resoluta rumo à degradação mais sórdida, mas também gloria-se em práticas dignas de arrependimento. Nossa cultura está moribunda, nossa sociedade está à beira de um colapso. É preciso apregoar à nação brasileira que ainda é tempo de arrependimento, ainda é tempo de voltar-se para o Senhor, pois ele é rico em perdoar e tem prazer na misericórdia.