CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
RAFAELA VIUDEZ DINIZ
PENSANDO A DIFERENÇA: ESTIGMA E PRÁTICAS DE CONTRAESTIGMATIZAÇÃO ENTRE CADEIRANTES
FORTALEZA
2012
RAFAELA VIUDEZ DINIZ
PENSANDO A DIFERENÇA: ESTIGMA E PRÁTICAS DE CONTRAESTIGMATIZAÇÃO ENTRE CADEIRANTES
Monografia submetida à aprovação. Coordenação do curso
de Serviço Social da Faculdade Cearense, como requisito
parcial para obtenção do diploma de Bacharel em Serviço
Social.
Orientador: Prof. Ms. Igor Monteiro.
FORTALEZA
2012
RAFAELA VIUDEZ DINIZ
PENSANDO A DIFERENÇA: ESTIGMA E CONTRA-ESTIGMATIZAÇÃO
ENTRE CADEIRANTES
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de
Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade
Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca
examinadora composta pelos professores.
Data de aprovação: ____/ ____/____
Banca Examinadora
___________________________________________________
Professor Ms. Igor Monteiro Silva (Orientador)
___________________________________________________
Professora Ms. Joelma Freitas
___________________________________________________
Professor Ms. Mário Henrique Castro Benevides
Dedico este trabalho a todos os integrantes do Núcleo de
Acessibilidade e Inclusão Social da Secretária de Trabalho
e Desenvolvimento Social- STDS e a todas as pessoas que
se dedicam a construção de uma sociedade inclusiva.
E ao meu Pai Rui Carvalho Diniz, que pode não estar aqui
de corpo presente, mas que sei que onde estiver está
olhando por mim e sentindo muito orgulho por mais essa
vitória alcançada em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por iluminar os meus caminhos, conceder-me forças para
nunca desistir, por me dar sabedoria, luz e discernimento para que eu possa ter
conhecimento de fazer as escolhas certas.
Agradeço a meus pais Rui Carvalho Diniz e Maria da Conceição Viudez Diniz,
por estarem sempre ao meu lado, orientando-me na minha formação de cidadã.
Agradeço também aos meus irmãos Luiz Henrique Viudez Diniz e Rui Carvalho Diniz
Filho, pelo companheirismo ao longo dos anos.
Gostaria de agradecer também a minha Avó Maria Milta e a minha cunhada,
Ana Cláudia, pela colaboração e incentivo aos meus estudos. E a todos os meus amigos
que estiveram comigo no decorrer desses quatros anos de formação acadêmica estando
sempre ao meu lado a me apoiar, inclusive no momento em que eu mais precisei.
Estarão para sempre guardados em meu coração.
Agradeço especialmente a meu professor e orientador, Igor Monteiro, pela
paciência, dedicação e disponibilidade em ajudar-me na minha formação acadêmica, e
por me fazer enxergar as diferenças com novos olhos.
―Se a globalização se dispõe a construir um mundo para
todos subestimando as diferenças, o conceito de sociedade
inclusiva planeja um mundo para todos inspirado na
glorificação das diferenças‖ (WERNECK, 1999, p.221).
RESUMO
A presente monografia busca refletir acerca do cotidiano de alguns cadeirantes no
Município de Fortaleza, tomando como matéria privilegiada de reflexão as experiências
de estigmatização e as estratégias de contra estigmatização elaboradas e vivenciadas por
esse conjunto de sujeitos. O objetivo, assim, é tentar compreender como os cadeirantes
lidam em seu dia a dia com as dificuldades que encontram – sejam elas de ordem física,
estrutural ou social –, e quais os ―mecanismos‖ usados por eles na busca por melhores
condições de estudo, emprego, lazer, relações familiares, sociais e de mobilidade
urbana. A pesquisa, predominantemente qualitativa, tomou forma a partir de
―encontros‖, de ―situações de diálogo‖, com os interlocutores, sendo a entrevista a
principal ferramenta metodológica utilizada.
Palavras-chave: Estigmatização. Deficiência Física. Cadeirantes. Exclusão. Inclusão
Social.
ABSTRACT
This monograph aims to reflect on the daily life of some wheelchair users in the city of
Fortaleza, taking as a reflection of matter privileged experiences of stigma and stigmatization
against strategies developed and experienced by this group of subjects. The objective
therefore is to try to understand how the wheelchair in his deal with the day to day difficulties
they encounter - be they physical, structural or social - and what "mechanisms" used by them
in the search for better conditions of study , employment, leisure, family relationships, social
and urban mobility. The research, largely qualitative, took shape from "dating" to "situations
of dialogue" with the interlocutors, the interview is the main methodological tool used.
Keywords: Stigmatization. Physical Disability. Wheelchair. Exclusion. Social Inclusion.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AMC – Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de
Fortaleza.
CEDEF – Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
COMDEFOR – Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de
Fortaleza.
COPEDEF – Coordenadoria de Pessoas com Deficiência.
CREAECE – Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do
Ceará.
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social.
ETUFOR – Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza S/A.
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social.
ONU – Organização das Nações Unidas.
PADEF – Política Municipal de Atenção às Pessoas com Deficiência.
PPD – Pessoas Portadoras de Deficiência.
SDH – Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza.
SECEL – Secretária de Esporte e Lazer de Fortaleza.
SESA – Secretaria da Saúde do Estado do Ceará.
SICORDE-CE – Sistema de Informação sobre Políticas, Direitos e Ações na Área da
Pessoa com Deficiência do Município de Fortaleza e do Estado do Ceará.
SMS – Secretaria Municipal de Saúde.
SNPD – Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
SRTE –Superintendência Regional do Trabalho e Emprego.
STDS – Secretária do Trabalho e Desenvolvimento Social.
TRANSFOR –Transportes Fortaleza LTDA.
SUMÁRIO
Lista de Abreviaturas..................................................................................1
Introdução....................................................................................................3
CAPÍTULO I – Deficiência Física, Estigma e Exclusão.
1.1 O que é Deficiência Física.....................................................................6
1.2 Estigmatização: estigmas e estigmatizados............................................7
1.3 Os cadeirantes e os processos de exclusão.............................................13
CAPÍTULO II – Cadeirantes: Por uma trilha pedregosa.
2.1 Apresentando os interlocutores..............................................................17
2.2 No contexto da família...........................................................................20
2.3 No contexto do trabalho.........................................................................25
2.4 No contexto do lazer..............................................................................34
2.5 No contexto da sexualidade...................................................................36
2.6 No contexto da mobilidade urbana........................................................40
CAPÍTULO III – Lidando com as diferenças.
3.1 Políticas públicas...................................................................................45
3.2 Projetos de acessibilidade......................................................................53
3.3 A importância da inclusão.....................................................................57
Considerações Finais...................................................................................65
Referências Bibliograficas..........................................................................66
Anexos........................................................................................................68
INTRODUÇÃO
A presente monografia busca refletir acerca do cotidiano de alguns cadeirantes
no Município de Fortaleza, tomando como matéria privilegiada de reflexão as
experiências de estigmatização e as estratégias de contra estigmatização elaboradas e
vivenciadas por esse conjunto de sujeitos. A ideia, portanto, é buscar compreender esta
tensão – entre estigma e contra estigma – no que diz respeito ao dia a dia dos
cadeirantes, considerando, assim, aquilo de mais ―ordinário‖ (CERTEAU, 2004) em
suas vidas: as relações de lazer, de trabalho, afetivas, de mobilidade urbana...
A minha pesquisa foi feita na Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social
(STDS), o qual foi por mim indicado por uma amiga que trabalha na mesma e me
informou que existe um Laboratório de Inclusão Social e Acessibilidade. O grupo de
pessoas com acessibilidade dificultada se encontra todas as quintas- feira e ao conhecer
o Coordenador do laboratório e informar a minha pesquisa, o mesmo me indicou três
cadeirantes, um tetraplégico e dois paraplégicos onde busquei que houvesse uma mulher
para que eu pudesse ter mais informações a respeito de suas particularidades, os quais
foram por mim, posteriormente, entrevistados com base em um roteiro semiestruturado
com as temáticas por mim selecionadas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), mais de
45 milhões de brasileiros, quase 24% da população, possuem algum tipo de deficiência
física. De acordo com o estudo, nos municípios brasileiros, a maioria das faces de
quadras (cada um dos lados da quadra, contendo ou não domicílios ou
estabelecimentos) possui ruas pavimentadas (81,7%), dispõe de meio fio (77%) e
oferece calçadas para circulação de pedestres (69%), mas apenas uma ínfima parcela
(4,7%) possui rampas de acesso para cadeirantes. Esse índice sobe, ainda, para 5,6% em
locais onde há maior incidência de moradores com idade acima de 60 anos, o que nos
leva a pensar sobre toda a complexidade que envolve questões como as de democracia
ou inclusão no cenário contemporâneo.
É, ainda, importante ressaltar que o nível de detalhamento da pesquisa
mencionada foi considerado inédito, tamanha a ênfase colocada em aspectos referentes
à infraestrutura urbana, à circulação e ao meio ambiente. Esse olhar minucioso, no
entanto, ao invés de revelar problemas pontuais no que diz respeito aos aspectos citados,
fornece elementos para se pensar uma realidade ainda não acessível, onde grande parte
dos espaços de circulação não sofreu ―adequações‖. É considerando esse contexto que
uma das questões norteadores desse trabalho se apresenta: como os cadeirantes vivem o
seu cotidiano?
Está mais que claro que muitos sujeitos cadeirantes têm uma vida inteiramente
ativa, estudam e trabalham, buscam lazer, e por isso precisam se movimentar pelas
cidades. Esse é um dos grandes problemas atuais: sem transporte próprio, muitos
precisam pegar ônibus, o que implica quase uma odisseia, diante de tantas dificuldades,
pois nem todas as calçadas são acessíveis contendo rampas, por exemplo, e quando
estas o são, passamos para a dificuldade de se pegar um ônibus que seja adaptado para o
cadeirante. É verdade que existem ônibus adaptados, mas a frota não parece ser tão
grande, e ainda assim existe uma espécie de ―falta de sensibilidade‖, informação e
instrução de muitos motoristas em como lidar com estes passageiros. Por fim, chegando
ao local desejado passamos para a consideração de outras dificuldades de acesso: como
em algumas salas de cinema e teatro, bares e restaurantes que ainda não se adaptaram a
esse público.
A lei obriga órgãos públicos a se adaptar com rampas e elevadores, por exemplo,
mas nem sempre todas as exigências são atendidas1. E foram, justamente, essas
contradições que mobilizaram minha atenção quanto à temática em apreciação.
Notadamente, elas começaram a se desenvolver no segundo semestre do curso de
Serviço Social, mais especificamente na cadeira de Sociologia Contemporânea. À
época, houve uma proposta de se fazer um seminário e o assunto escolhido pela equipe
da qual eu fazia parte foi a respeito da acessibilidade dos cadeirantes.
No decorrer da experiência de pesquisa para o referido seminário, uma
curiosidade ímpar despertou em mim, eu queria saber como era a vida dessas pessoas,
de pessoas que tinham que se utilizar de cadeira de rodas para se locomover. A relação
com a cidade, com o estudo, com o trabalho, com os afetos, como, enfim,
administravam suas vidas... Tudo isso me mobilizava! Com o tempo, essa curiosidade
ficou mais intensa e, assim, foi que decidi fazer esse trabalho.
1
Pelo decreto 5296, de 02 de Dezembro de 2004, o prazo para prédios de uso público e de uso coletivo já
existentes garantirem a acessibilidade foi de trinta e quarenta e oito meses, respectivamente. O decreto
prevê apenas que, com o descumprimento, serão aplicadas sanções administrativas, cíveis e penais
cabíveis.
O termo ―cadeirante‖, de acordo com alguns fóruns de discussão de temas sobre
deficiência, foi eleito e empregado pelos próprios usuários para se autodefinirem, sendo
tal termo aceito somente num contexto coloquial, englobando, assim, toda e qualquer
pessoa que precise fazer uso, temporário ou não, de uma cadeira de rodas para
locomover-se.
A construção de uma sociedade inclusiva deve configurar-se numa ação
conjunta do Governo com a sociedade civil, para que – diante da realidade atual – a
relação entre a sociedade e os cadeirantes que fazem parte dela seja cada vez mais livre
de barreiras e preconceitos.
As barreiras físicas demonstram o quanto à sociedade ainda enfrenta
dificuldades para realizar um efetivo processo inclusão de pessoas com deficiência no
cotidiano. São frequentes, por exemplo, as portas estreitas, as correntes protegendo as
vagas destinadas aos cadeirantes, equipamentos de autoatendimento em alturas
incompatíveis, dentre outros tantos obstáculos estruturais; e como se não bastasse,
existem ainda as barreiras emocionais e comportamentais reproduzidas por pessoas que
não sabem lidar corretamente com este público, pois não receberam treinamento
adequado.
Percebe-se que, diante deste segmento da população, localiza-se a necessidade
de provocar a sociedade no sentido de atentar para as questões de inclusão,
reconhecendo as pessoas com deficiência física como sujeitos de direito, assim como
qualquer cidadão. É só a partir do fortalecimento de um debate, de ações de visibilidade,
que tal processo talvez possa vir a concretizar-se, problematizando – assim – a
manutenção de barreiras físicas e simbólicas no que concerne à acessibilidade.
O interesse aqui, desse modo, é refletir sobre o cotidiano de alguns sujeitos parte
dessa parcela da população. Como dito, o intuito é tentar perceber como eles encaram
suas limitações, como a sociedade os trata, como eles se veem enquanto membros de
uma sociedade capitalista – que visa cada vez mais o dinamismo, a proatividade, a
rapidez, quantidade ao invés de qualidade –, que parece não se aperceber de que os
cadeirantes também podem, e são, dinâmicos, proativos, rápidos tanto quanto qualquer
pessoa que não se utilize de cadeira de rodas para se locomover, basta que lhes deem os
instrumentos para isso.
Por isso a importância de se fazer valer as políticas de ação contra a
estigmatização, que leva a julgar o outro como incapaz, incompetente, desconstruindo
também a cultura de exclusão do diferente. Lembrando que vivemos em uma
democracia e por isso somos detentores dos mesmos direitos e deveres.
CAPÍTULO I – Deficiência Física, Estigma e Exclusão.
1.1 O que é Deficiência Física
Deficiência física é o termo utilizado para a caracterização de problemas que
ocorrem no cérebro, ou no sistema locomotor, que levam a um mau funcionamento ou
paralisia dos membros inferiores e/ou superiores. A deficiência física pode ter várias
etiologias, e entre as principais se destacam: fatores genéticos, fatores virais ou
bacterianos, fatores neonatais e fatores traumáticos (os medulares, de forma especial).
As pessoas com deficiência de ordem física ou motora necessitam de
atendimento fisioterápico, bem como psicológico, a fim de lidar com os limites e
dificuldades decorrentes da deficiência e, simultaneamente, para desenvolver todas as
suas possibilidades e potencialidades enquanto sujeitos. A deficiência física refere-se ao
comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o
sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer
desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações
físicas de grau e gravidade variáveis, segundo os segmentos corporais afetados e o tipo
de lesão ocorrida.
A seguir, uma breve lista de exemplos elaborada com intuito de nos familiarizar
mais com o tema:

Paralisia Cerebral: por prematuridade; anóxia perinatal; desnutrição; materna;
rubéola; toxoplasmose; trauma de parto; subnutrição e outras.

Hemiplegias: por acidente vascular cerebral; aneurisma cerebral; tumor cerebral
e outras.

Lesão medular: por ferimento por arma de fogo; ferimento por arma branca;
acidentes de trânsito; mergulho em águas rasas.

Traumatismos diretos: quedas; processos infecciosos; processos degenerativos
e outros.

Amputações: causas vasculares; traumas; malformações congênitas; causas
metabólicas e outras.

Má formação congênita: por exposição à radiação; uso de drogas; causas
desconhecidas.

Artropatias: por processos inflamatórios; processos degenerativos; alterações
biomecânicas; hemofilia; distúrbios metabólicos e outros.
Um breve olhar sobre a lista acima já é capaz, considerando a multiplicidade de
causas, de revelar toda a complexidade da questão e sua dimensão desafiante,
impelindo-nos a cultivar uma disposição de debate acerca deste tema.
1.2 Estigmatização: estigmas e estigmatizados.
Segundo Goffman (1988), estigmatizado é o indivíduo que está inabilitado para
a aceitação social plena. Isto porque é a sociedade que estabelece os meios de
categorizar as pessoas. Por exemplo, quando conhecemos um estranho temos
preconcepções no que diz respeito à sua identidade social (expectativas normativas,
exigências apresentadas de modo rigoroso). Entretanto, ignoramos que fizemos tais
exigências, fazemos, assim, uma ação de forma quase involuntária, a partir de certa
internalização de padrões.
Nós incorremos no erro de caracterizá-los, efetivamente, como se fosse uma
identidade social virtual que é a imagem que um indivíduo que possui um estigma quer
nos passar, ou seja: esconder que tem uma imperfeição e deixar transparecer apenas
aquilo que ele sabe que não vai ser rejeitado ou mal entendido pela sociedade. Ele
trabalha no sentido de evitar a percepção de atributos que na realidade possui, que são
constituintes de sua identidade social real, que – assim como a de qualquer ser humano
– é composta de ―qualidades‖ e de ―defeitos‖.
E por acreditar que deficiências físicas não podem ser problematizadas ou
deixadas a parte, tem-se a tendência de estereotipar o indivíduo e quando este não tem
as características que nele procuramos, o excluímos. Generalizamos, como bem assinala
Goffman (1998), uma limitação, concebendo o sujeito deficiente quase como um
incapaz.
Essa generalização das limitações, essa concepção de um sujeito incapaz, deve
ser questionada, o fato de uma estar numa cadeira de rodas, por exemplo, não implica
incapacidade ou limitação total, justificando processos de extrema tutela, sentimentos de
pena ou mesmo comportamentos de exclusão.
O indivíduo estigmatizado tende a ter as mesmas crenças sobre
identidade que nós temos; isso é um fato central. Seus sentimentos
mais profundos sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de
ser uma ―pessoa normal‖, um ser humano como qualquer outro, uma
criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma
oportunidade legítima (GOFFMAN, 1988, p.16).
Ou seja, que tem os mesmos direitos e deveres de quaisquer outros cidadãos. E que o
normal seria que todos pudessem ir e vir, estudar, trabalhar e ter lazer como o tem todo
e qualquer ser humano.
Ainda de acordo com Goffman (1988, p.17), podemos perceber que o indivíduo
que é estigmatizado ―baseia suas reivindicações não no que acredita ser devido a todas
as pessoas, mas apenas a todas as pessoas de uma categoria social escolhida dentro da
qual ele inquestionavelmente está incluído‖.
Geralmente o estigmatizado é uma pessoa feliz e saudável, apenas quando o
discriminam é que ele se vê com uma diferença e, a partir de então, passa a haver uma
depreciação por parte dele. Ele pode vir a incorporar o sistema classificatório que sobre
ele se abate.
Percebemos, então, que sua relação, sua interação, com o meio em que vive é
que vai moldar suas concepções de mundo. Por exemplo, se ele convive com pessoas
que não o respeitam, não são ―sensíveis‖ à sua condição, ele inevitavelmente concluirá
que todas as pessoas do mundo também o são, o que acabará o tornando uma pessoa
antissocial, alheia às demais pessoas, que ao contrário das de seu ciclo mais próximo
podem, muito bem, lhe ajudar a superar barreiras sejam elas físicas, morais ou sociais.
Um esforço individual com o objetivo de superar tais barreiras, também, é bastante
comum:
O indivíduo estigmatizado pode, também, tentar corrigir a sua
condição de maneira indireta, dedicando um grande esforço individual
ao domínio de áreas de atividade consideradas, geralmente, como
fechadas, por motivos físicos e circunstanciais, a pessoas com o seu
defeito (GOFFMAN, 1988, p.19).
É este esforço que acredito não ser relevante. A partir do momento que ele não é
um incapaz, ele não deveria precisar demonstrar-se capaz. Procurar realizar ações que
estão além do seu limite, ou que exigem um esforço quase sobre-humano, para ser
aceito na nossa sociedade é um comportamento que a, meu ver, deveria ser interpelado.
A sociedade precisa se mostrar capaz de fazer diferente do que vem fazendo,
quando não respeita os espaços nas calçadas, ocupando-os de forma indevida,
impedindo a passagem de cadeirantes, ou quando ocupam indevidamente vagas
específicas para deficientes físicos. Ou até mesmo quando não se importam em
estruturar os seus bares e restaurantes com portas largas o suficiente para se passar com
uma cadeira de rodas, quando se esquecem de construir rampas nas calçadas para que
não só os cadeirantes possam ir e vir com menos dificuldades, mas também os idosos e
mães com suas crianças em carrinhos de bebê. Enfim, a sociedade não é composta
apenas de pessoas que podem se desviar, mas também de pessoas que precisam
ultrapassar barreiras.
Porém, assim como não podemos exigir dos cadeirantes mais do que qualquer
outro indivíduo normalmente pode fazer, não podemos também considerá-los
―coitados‖, tomá-los como sujeitos dignos de pena, tutelando-os. Pois, como afirma
Goffman (1988), ele pode se valer de seu estigma para ganhos secundários e como
desculpa pelo fracasso que chegou por outras razões:
Até porque os ―normais‖ também têm suas limitações, tem todos os
seus sentidos saudáveis e, no entanto, ―parecem estar completamente
cegos para as coisas que estragam a sua felicidade, ou surdas aos
apelos de bondade de outras pessoas.
........................................................................................................
Faltando o feedback saudável do intercâmbio social quotidiano com os
outros, a pessoa que se auto-isola possivelmente torna-se desconfiada,
deprimida, hostil, ansiosa e confusa (GOFFMAN, 1988, p.21-22).
Por isso, devemos lutar pelos direitos destas pessoas e fazer valer as políticas
públicas, elaboradas – a partir de reivindicações – para garantir e confirmar os seus
direitos. Temos que desmistificar a ideia de inferioridade dos estigmatizados para que
assim eles possam ter uma melhor qualidade de vida e, por conseguinte, conviver bem
em sociedade, inclusive problematizar, igualmente, a imagem que a sociedade tem dos
cadeirantes considerando-os incapazes de desenvolver tarefas do cotidiano como as
outras pessoas que não necessitam de cadeira de rodas.
Para a pessoa inabilitada, a incerteza quanto o status, somada à
insegurança em relação ao emprego, prevalece sobre uma ampla gama
de interações sociais. O cego, o doente, o surdo, o aleijado nunca
podem estar seguros sobre qual será a atitude de um novo conhecido,
se ele será receptivo ou não, até que se estabeleça o contato. É
exatamente essa posição do adolescente, do negro de pele clara, do
imigrante de segunda geração, da pessoa em situação de mobilidade
social e da mulher que entrou numa ocupação predominantemente
masculina. (BARKER apud GOFFMAN, 1988, p.23).
As relações mistas que são travadas entre os estigmatizados e os normais podem
causar um desconforto por parte do estigmatizado por achar que está sendo colocado em
exibição e isso o leva a agir sempre na defensiva, achando que tudo e todos podem estar
contra ele. Pois, não sabem em qual categoria serão colocados ou o que os outros,
realmente, estão pensando dele.
Outros exemplos que também podem ocorrer: se admirar com essas pessoas
ditas incapazes, com as tarefas que elas conseguem realizar normalmente; ou o achar
que se um cadeirante cair ele é um ―coitadinho‖ que caiu diferente de um não
cadeirante, que poderia levar o mesmo ―tombo‖ e não ser socorrido porque as pessoas
acham que ele pode se levantar sozinho.
Há também situações em que estranhos abordam os cadeirantes e acham que
pelo fato de serem simpáticos podem invadir a sua privacidade, fazendo perguntas
descabidas e achando que por conhecerem outras pessoas com deficiência sabem de
tudo sobre o assunto.
[...] O indivíduo estigmatizado ou é muito agressivo ou é muito tímido
e que, em ambos os casos, está pronto a ler significados não
intencionais em nossas ações. Nós próprios podemos sentir que, se
mostramos sensibilidade e interesse diretos por sua situação, estamos
nos excedendo, ou que se, na realidade, esquecemos que ele tem um
defeito, far-lhe-emos, provavelmente exigências impossíveis de serem
cumpridas ou, inadvertidamente, depreciaremos seus companheiros de
sofrimento (GOFFMAN, 1988, p.27).
Novamente
dialogando
com
Goffman
(1988),
existe
por
parte
dos
estigmatizados o controle ou pelo menos a tentativa do controle de informação de sua
identidade, que pode se classificar em desacreditável, que é um desacreditado em
potencial, ele ainda consegue esconder seu estigma, sua identidade real, deixando
transparecer apenas sua identidade virtual, mantendo assim um controle de informação.
Já o desacreditado é aquele indivíduo que não consegue esconder seu estigma, ou seja,
sua identidade real é evidente, não o dando oportunidade de criar uma identidade
virtual.
Diante de sua condição de desabilitado ou de desacreditado, os indivíduos
estigmatizados podem encontrar ―refúgio‖ entre outros indivíduos que tem suas mesmas
limitações:
Sabendo por experiência própria o que se sente quando se tem este
estigma em particular, algumas delas podem instrui-lo quanto aos
artifícios da relação e fornecer-lhe um circulo de lamentação no qual
ele possa refugiar-se em busca de apoio moral e do conforto de sentirse em sua casa, em seu ambiente, aceito como uma criatura que
realmente é igual a qualquer outra normal (GOFFMAN, 1988, p.29).
Os estigmatizados formam redes de ajuda mútua, sejam fundando associações,
seja através de blogs, instituições, grupos esportivos etc.
O que se sabe é que os membros de uma categoria de estigma
particular tendem a reunir-se em pequenos grupos sociais cujos
membros derivam todos da mesma categoria, estando esses próprios
grupos sujeitos a uma organização que os engloba em maior ou menor
medida.
.................................................................................................................
Com relação à luta destes indivíduos por seus direitos frente ao
governo, eles podem, ―por exemplo, ter um escritório ou uma
antecâmara da qual promovem os seus casos‖, onde ―uma pessoa igual
a eles, um ―nativo‖ que está realmente a par das coisas‖ pode lutar
com mais conhecimento de causa por seus direitos, entendendo
exatamente qual a maior demanda, quais as suas principais
dificuldades e os seus principais desejos. ―Uma tarefa característica
desses representantes é convencer o público a usar um rótulo social
mais flexível à categoria em questão‖ (GOFFMAN, 1988, p.32-33).
Isto torna menos difícil o seu convívio em sociedade, e é uma forma deles se
perceberem como pessoas atuantes, que lutam por seus direitos de uma forma concreta.
Frequentemente, as pessoas que têm um estigma particular patrocinam
algum tipo de publicação que expressa sentimentos compartilhados,
consolidando e estabilizando para o leitor a sensação da existência real
de ―seu‖ grupo e sua vinculação a ele (GOFFMAN, 1988, p.34).
Por vezes, surgem líderes no grupo dos estigmatizados dando ao mesmo uma
nova função: a de representar a sua categoria. Com este tipo de profissionalização
surgem duas observações: os lideres ―nativos‖ são obrigados a lidar com representações
de outras categorias, rompendo o círculo fechado de seus iguais, deixando de ser – em
termos de participação social – os agentes das pessoas que eles representam, ou seja,
percebendo-se capazes de novas vivências. E em segundo lugar, é que quer um escritor
leve um estigma muito a sério ou o considere não muito importante, deve defini-lo
como algo sobre o que vale a pena escrever.
Mas nem só de apoio entre si vivem os estigmatizados, há também o grupo dos
―informados‖, que são os normais, mas que por alguma situação foram levados a
―simpatizar‖ com a vida do estigmatizado, e que tem ao mesmo tempo a aceitação do
grupo dos estigmatizados. A pessoa simpatizante, nesse sentido, não deve apenas se
oferecer, mas também esperar sua aceitação como membro do grupo:
Um segundo tipo de pessoa ―informada‖ é o indivíduo que se
relaciona com um individuo estigmatizado através da estrutura socialuma relação que leva a sociedade mais ampla a considerar ambos
como uma só pessoa. Assim, a mulher fiel do paciente mental, a filha
do ex-presidiário, o pai do aleijado, o amigo do cego, a família do
carrasco, todos estão obrigados a compartilhar um pouco do
descrédito do estigmatizado com o qual eles se relacionam
(GOFFMAN, 1988, p.39).
Devemos respeitar os seus limites, as suas percepções de mundo e compreendê-los, e
quando necessário for ajudá-los em suas necessidades.
Nos modelos de socialização há o caso em que os estigmatizados são
superprotegidos por um grupo de amigos ou familiares e só passam a se perceber como
pessoas com deficiência quando estão junto a desconhecidos, seja em suas relações nas
instituições de ensino, seja em locais de lazer ou nos locais onde buscam emprego ou já
trabalham.
E também dos que se tornam estigmatizados numa fase avançada da
vida ou aprendem muito tarde que sempre foram desacreditáveis- o
primeiro caso não envolve uma reorganização radical da visão de seu
passado, mas o segundo sim. Tais indivíduos ouviram tudo sobre os
normais e estigmatizados muito antes de serem obrigados a considerar
a si próprios como deficientes (GOFFMAN, 1988, p.43).
Essa dinâmica da produção do estigma e das maneiras de encará-lo revela a
complexidade da situação, revela uma pluralidade, assim, que não é somente referente
aos fatores que desencadeiam a deficiência, mas que também diz respeito à forma de
experienciar a condição de estigmatizado.
1.3 Os cadeirantes e os processos de exclusão
A partir das experiências de contato com os cadeirantes, no decorrer da
pesquisa, pude perceber que a exclusão ainda é uma situação muito real no cotidiano
dos cadeirantes. Por mais que eles tenham uma boa condição financeira, que possam
tirar o sustento do esforço do seu trabalho, ainda sim a sociedade parece não observar as
dificuldades que esses sujeitos enfrentam no cotidiano.
Pude perceber relatos dos cadeirantes mostrando que ainda existem muitas
pessoas que questionam como os mesmos podem sair desacompanhados nas ruas, fazer
tarefas comuns, e isto irrita as pessoas que não tem conhecimento a respeito da vida dos
mesmos. Contudo, pior ainda é descobrir que pessoas que tem algum tipo de
acessibilidade dificultada e conhecendo como é difícil transpor a barreira dos normais
ainda tem preconceito com os ―iguais‖ que compartilham suas mesmas dificuldades,
pelo fato destes terem um carro adaptado, um emprego melhor. Acredito que essa
exclusão social, partindo desse viés econômico é tão comum quanto à exploração do
capital com relação ao proletário, e é por isso que temos que sensibilizá-los, mostrando
que existem outras formas de comportamento, outras formas de agir, começando com o
respeito.
Sabemos que todos nós somos seres portadores de direitos e estes tem que ser
respeitados. Segundo Corrêa (2002), direitos de cidadania são direitos humanos. A
cidadania é a consolidação da democracia de uma sociedade, dando direito de acesso
aos espaços públicos e privados, fazendo valer a dignidade das pessoas. Cabe ao
Governo a garantia desses direitos na busca da correção das desigualdades sociais.
Para compreender o fenômeno da responsabilidade social é necessário conhecer
as contingências que contribuíram para o seu advento. Uma destas contingências é o
contexto de exclusão social e consequências derivadas:
A discussão sobre a exclusão social apareceu na Europa na esteira do
crescimento dos sem-teto e da pobreza urbana, da falta de perspectiva
decorrente do desemprego de longo prazo, da falta de acesso a
empregos e rendas por parte de minorias étnicas e imigrantes, da
natureza crescentemente precária dos empregos disponíveis e da
dificuldade que os jovens passaram a ter para ingressar no mercado de
trabalho (DUPAS, 1999, p. 19).
Ainda segundo o mesmo autor, a exclusão deve ser considerada ―um processo
complexo, multifacetado, que ultrapassa o econômico do ponto de vista da renda e
supõe a discriminação, o preconceito, a intolerância e a apartação social" (p.103).
Essa exclusão pode tomar várias formas: na família, por exemplo, quando não a
aceitação por parte dos parentes, quando não há entendimento acerca de uma pessoa que
não nasceu cadeirante e passa, posteriormente, a ser. Nesse exemplo, a pessoa parece ter
que lidar com bem mais processos de aceitação de si em relação à situação de outras
pessoas que já nasceram com a deficiência. Portanto, fica mais difícil lidar com essa
pessoa. Ou então, quando você conhece alguém que lhe trata bem, porém não quer
incluir você na sua família, porque a partir do momento em que essa pessoa se faz
presente todos os dias, você passa a perceber e participar de todos os seus problemas. E
quem é que quer isso? Ninguém. Mas, quem disse que uma pessoa com deficiência é só
feita de problemas? E as suas qualidades, suas capacidades, não deveriam ser
consideradas?
E quando voltamos nosso olhar para os locais de lazer, que não incluem, talvez
inconscientemente, as pessoas com a acessibilidade dificultada, quando não se
preocupam em colocar espaços maiores entre as mesas para que um cadeirante possa
passar sem maiores constrangimentos. E os banheiros que não são adaptados? E as
calçadas sem rampas de acesso? Devemos cumprir com o nosso papel de cidadão e
fazer valer as leis que existem em prol dessa parcela da população, e não só dela como a
das demais que se encontram em situação de vulnerabilidade em geral.
Toda pessoa com deficiência é fonte de capital social. Um capital
atrofiado, porque raramente tem sido usado. Mas que se multiplicará,
a partir de estratégias definidas por movimentos em rede que unirão
todo o país. Foi assim com os negros, as mulheres e, mais
recentemente, com os jovens (WERNECK, 1999 p.69).2
Quando buscamos soluções e passamos a nos importar com o mundo do outro,
estamos automaticamente nos importando com o nosso mundo. Temos que perceber
também que existe uma linha tênue entre mostrar que essa parcela da sociedade tem
seus direitos e que devemos garanti-los, porém, sem excluí-los ainda mais, os
evidenciando como deficientes e não como seres humanos possuidores de direitos.
A observação sociológica mais elementar mostra que a discriminação
positiva torna-se facilmente discriminação negativa, dados os limites
estreitos entre medidas específicas que visam a ajudar públicos em
dificuldades e sua instalação em sistemas de categorização que lhes
atribuem um status de cidadãos de segunda classe (CASTEL, 2000, p.
46).
Portanto, devemos buscar a justiça social, porém com a participação de todos, a
articulação de todos para que haja uma maior integração e uma nova cultura política que
faça com que todos sintam-se pertencente ao todo social. Dentro dessa necessidade
desse movimento, as palavras de Werneck soam com enorme importância: ―a
indiferença em relação às necessidades e às dificuldades específicas das pessoas com
deficiência é uma ameaça ao desenvolvimento cultural de uma nação‖ (WERNECK,
1999, p.44).
2
Entendendo capital social por: ―Recursos disponíveis na comunidade capazes de contribuir para a
transformação dos indivíduos que dela dependem‖ (WERNECK, 1999 p.81).
CAPÍTULO II – Cadeirantes: Por uma trilha pedregosa.
O presente capítulo tem como finalidade principal expor as vivências dos
cadeirantes em seus processos de formação como cidadãos do mundo, partindo de
referenciais como os de família, trabalho e outros. Nesse sentido, a melhor metodologia
encontrada, e utilizada por mim, foi a de pesquisa de campo: uma tentativa de análise
qualitativa, baseada na interação, no contato, na busca de construir uma relação de
interlocução (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998), com a finalidade de obter maiores
informações pessoais no que se refere ao cotidiano de cadeirantes.
Participaram desta pesquisa três cadeirantes que trabalham na Secretária de
Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), mais especificamente na área de inclusão
social com deficientes. Estes foram escolhidos sem critérios de idade, classe social ou
religião. Mas, com relação ao gênero, procurei tomar pelo menos uma mulher como
interlocutora com o objetivo de perceber e buscar compreender as especificidades das
experiências de deficiência entre homens e mulheres. Assim, os sujeitos da pesquisa
foram: um indivíduo tetraplégico do sexo masculino; um paraplégico do sexo feminino
e; um paraplégico do sexo masculino3. Eles serão denominados, respectivamente, de
Charlie, Bete e Lino.
A pesquisa se constituiu a partir de entrevistas feitas de forma semiestruturada,
seguida apenas de um roteiro contendo cinco temáticas diferentes que totalizavam nove
questões. Os entrevistados ficaram livres para falar sobre o que quisessem, cabendo a
mim, posteriormente, fazer uma triagem do que me era necessário para estruturar de
forma adequada aos tópicos por mim escolhidos o trabalho em questão. Tais entrevistas
foram feitas com o uso de um gravador, onde pude perceber que este instrumento me
deu liberdade para prestar atenção em detalhes da fala que, possivelmente, teriam
passado despercebidos caso tivesse usado outra metodologia, como a simples anotação
em diário.
As entrevistas, assim, foram gravadas em áudio e transcritas posteriormente. A
primeira entrevista teve duração de aproximadamente 01h30min e as outras duas
entrevistas tiveram uma média de 30 a 40 minutos. Estas entrevistas aconteceram em
uma sala reservada dentro da instituição mencionada, apenas uma delas foi realizada em
3
Buscando preservar a intimidade dos interlocutores, optei pelo uso de nomes fictícios.
um anexo da STDS, lugar onde se realiza o projeto de inclusão através do primeiro
emprego de adolescentes em vulnerabilidade social e/ou com deficiência.
O capítulo ora apresentado, desse modo, constitui-se numa tentativa de
articulação entre a experiência de partilha estabelecida entre os sujeitos e a
pesquisadora e as informações obtidas a partir de leituras e discussões teóricas acerca de
temas como estigma, exclusão, inclusão, preconceito etc. Passo agora a apresentar esses
sujeitos, sendo seus depoimentos a matéria privilegiada de minhas reflexões; após tal
apresentação, discutirei as experiências de estigma que se localizam em distintas
dimensões da vida cotidiana desses sujeitos.
2.1 Apresentando os interlocutores
Charlie é tetraplégico. Aos 19 anos já era empresário, trabalhava com vendas,
aos 22 anos já tinha uma empresa de médio porte, era estudante de Sociologia na
Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Contudo, não concluiu a sua formação: em um
passeio na praia da Caponga foi fazer um mergulho em águas rasas, quebrando o
pescoço em nível de C44, tornando-se tetraplégico. Hoje, com 36 anos de idade, é
palestrante e coaching5, prestando consultoria em diversas empresas.
Devido ao acidente, Charlie permaneceu 06 meses na Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI) ligado em um respirador mecânico e por isso teve que vender a
empresa. ―Foi um período que passei sem acreditar que um deficiente pudesse agregar
valor ao mercado de trabalho‖, ele conta. Ao sair da UTI, passou 02 anos procurando,
fora de Fortaleza, novos tratamentos, mas não obteve êxito. Hoje, devido as suas
4
A coluna vertebral é a estrutura que promove sustentação para a postura ereta, constituindo uma manga
protetora, porém flexível para a delicada medula espinhal, além de assegurar locais para a fixação de
músculos e servir para transferir e atenuar cargas da cabeça e tronco e para os membros inferiores e viceversa (RASH, 1991). Ela é composta por 33 vértebras, das quais 24 se unem para formar a coluna
flexível. Sendo que estão subdivididas em: sete cervicais (C1-C7), doze torácicas (T1-T12), cinco
lombares (S1-S5) e quatro coccígeas. Ver mais em www.fisioweb.com.br.
5
Coaching é um processo definido com um acordo entre o coach (profissional) e o coachee (cliente) para
atingir a um objetivo desejado pelo cliente, onde o coach apoia o cliente na busca de realizar o objetivo,
ou seja, as diversas metas que somadas levam o coachee ao encontro ao seu desejo maior estabelecido
dentro do processo de coaching. Isso é feito por meio de reflexões e posterior análise das opções e da
identificação e uso das próprias competências, como o aprimoramento e também o adquirir novas
competências, além de perceber, reconhecer e superar as crenças limitantes, os pontos de maior
fragilidade. Ver mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Coaching.
limitações, possui 02 cuidadores que o auxiliam: ―24 horas eu tenho que estar com
alguém, sou totalmente dependente‖.
Morou por um tempo em São Paulo e lá fez cirurgias espirituais, a partir de tais
experiências passou a ser espírita: ―base muito forte em nível de fortalecimento‖, ele
observa. Costuma dizer, ainda, que é uma pessoa religiosa pela ação e menos pela
crença, sempre teve muitas amizades e respeitou as pessoas, com isso viu uma
oportunidade de interação, tendo a percepção de que mesmo estando deficiente, com sua
autoestima, poderia ajudar as pessoas que frequentavam o local, participando de grupos
de ajuda.
Era monitor de grupo no espiritismo, grupo de atendimento espiritual (AE), fez
06 anos de estudos sistemáticos da doutrina espírita, aprofundando-se bastante. Fazia
atendimento fraterno que consistia em escutar a pessoa para dar um conforto como um
atendimento terapêutico, e a partir daí passou a se sentir útil e perceber que iria poder
ajudar as pessoas com relação as suas dificuldades. Isto lhe dava certa sensação de
utilidade.
Diz que sempre gostou de ler muitos livros, sobretudo, aqueles que têm como
tema descrever os seres humanos e suas diferenças, como os livros do autor Augusto
Cury, e que deve ser este um dos fatores que o fazem ser hoje quem ele é.
Bete tem 35 anos, é pedagoga, exerceu por um tempo sua profissão em sala de
aula, depois continuou exercendo seu trabalho de pedagoga, só que agora em uma
entidade chamada Centro de Apoio a Mães de Portadores de Eficiência (CAMPE6),
atuando diretamente com essas famílias. Sua deficiência foi adquirida com um ano de
idade, como consequência de uma poliomielite7, mais conhecida como paralisia infantil.
6
O Centro de Apoio a Mães de Portadores de Eficiência - CAMPE é uma associação civil, sem fins
lucrativos, fundada em 2003 e tem como missão a defesa social de direitos fundamentais da Pessoa com
Deficiência. O objetivo desta instituição é contribuir de forma direta para o processo de inclusão, tendo
como foco principal a família e a Pessoa com Deficiência. A entidade se configura exercendo um papel
fundamental na discussão do Plano Municipal de Fortaleza, pautando a EDUCAÇÃO INCLUSIVA, que,
em decorrência disso, tornou-se entidade referência na cidade e no estado acerca da temática. Nossa
Missão: Promover a defesa dos Direitos e Acessibilidade ao exercício da Cidadania de Pessoas com
Deficiência, no Estado do Ceará, integrando-os na sociedade através do seu fortalecimento e de suas
famílias sobre seus direitos e deveres. http://campefortaleza.blogspot.com.br/ 25/10/2012.
7
A poliomielite é uma doença infecciosa de origem viral que se desenvolve preferencialmente em
crianças. Casos mais graves afetam o sistema nervoso central e, como consequência, dá-se a paralisia nos
Lino tem 38 anos, há 14 anos sofreu um acidente por arma de fogo que o deixou
paraplégico. ―Sou muito de acreditar que todo mundo é amigo, na época a pessoa que
fez isso comigo era meu amigo, só que a gente só fecha a porta depois que o ladrão
entra‖. Lino é de índole boa, de boa família e não percebia que o amigo não era do
mesmo jeito dele, segundo suas próprias palavras.
Em um feriado estávamos todos bebendo em um bar e esse meu amigo
colocou o som muito alto, então o dono do bar pediu que ele baixasse,
ele não baixou então eu fui interceder só que o homem não fala com
outro com carinho, a gente discutiu, uma discussão banal, só que ele
levantou e foi embora sem pagar a conta, e todos estranharam porque
ele não era disso, daí ele voltou já com tudo premeditado, eu estava
agaixado conversando com a filha do dono do bar e ele se aproximou,
ficando a mais ou menos um metro e meio e colocou uma música do
Roberto Carlos e disse Lino essa música é pra você, eu me levantei e
ai ele efetuou cinco disparos contra mim, onde tudo que eu venha falar
pra você agora foi pela boca dos outros (LINO, 38 anos).
Foi levado para um hospital entre a vida e a morte, ―e só Deus sabe como eu
escapei, porque Deus tem um propósito na minha vida‖, comentou. Quatro disparos
atingiram-no, o quinto só não pegou porque outro amigo caiu em si e bateu no braço
dele, o tiro então pegou no telhado e o telhado veio a cair em cima dele.
Ele fugiu, na época minha família foi atrás dele e graças a Deus não
encontrou, porque ia haver um crime na família e mesmo assim eu iria
continuar com a minha paraplegia. Mas, tem a questão do outro lado,
do como eu me sinto como eu vivo.
Algum tempo depois, o amigo foi se apresentar na delegacia com um advogado.
Foi condenado a cinco anos, mas não cumpriu a pena em regime fechado por não ter
antecedentes criminais. Ele ficou indo apenas uma vez por mês ―assinar documentos‖,
como afirmou Lino. Lino tem oito irmãos, mas não falam com ele. Hoje mora com mãe,
sendo titular da pensão do pai falecido.
músculos afetados. Há duas formas de poliomielite que afeta o sistema nervoso: a não-paralisia, que é
parecida com a meningite, evoluindo benignamente no prazo de duas a seis semanas, e a forma paralítica,
que é a que deixa lesões definitivas. Microbiologia e Parasitologia.
2.2 No contexto da Família
Depois que Charlie sofreu o acidente, passou novamente a ser tratado como um
―menino‖ perante seus pais, mas percebeu que não poderia aceitar tal tratamento: ―o
tempo de se aceitar pode ser positivo ou negativo‖, diz ele, pois, somente, o valor da
aposentadoria dos pais não seria suficiente para custear os seus tratamentos e os
remédios de seu pai. Há 04 anos atrás, quando seu pai sofreu um infarto, ele percebeu
que tinha que fazer alguma coisa pra ajudar em casa: ―passei a ser empreendedor da
minha vida‖. Foi a partir de então que teve que retomar a sua autoestima e procurar um
meio de aumentar a renda familiar.
Bete, juntamente com a mãe, nunca permitiram que as pessoas da família
adotassem uma postura de tratá-la como incapaz, como uma pessoa cheia de limites.
Diante desse comportamento, os membros da família passaram a aprender a vê-la como
uma pessoa que não pode fazer determinadas coisas, mas outras, não só pode, como
deve fazer. Sempre foi tratada como igual em relação aos irmãos: ―o que era pra mim,
era pra eles... O que era pra eles, era pra mim... Na fila pra tomar remédio, estávamos
todos e na hora da palmada também‖, assinala ela.
Lino, por seu turno, falou que no começo sua família o ajudou muito: ―todos, do
parente mais próximo ao mais distante, todos me ajudaram muito, porque eu não
aceitava minha condição, na verdade eu nunca aceitei, só passei a conviver melhor com
a minha paraplegia‖. Era como se ele próprio assumisse a condição do estigma, como
nos alerta Goffman (1998, p.14):
[...] um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação
social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e
afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção
para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica
diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam
negativamente das expectativas particulares e questão serão por mim
chamadas de normais.
O fato de Charlie passar a ser tratado como um ―menino‖ logo depois do
acidente e de Bete ter que provar que não era incapaz, assim como Lino – que por mais
que ainda não se aceite – tentar levar a vida da melhor forma, só nos faz perceber as
barreiras que nós normais impomos a eles, como se já não bastasse às dificuldades
estruturais da nossa cidade, que já são muitas. Lidar com o diferente não é tarefa fácil,
mas se desviarmos por alguns instantes o nosso olhar sobre a deficiência, poderemos
perceber que aquele cadeirante tem tantas qualidades e capacidades como qualquer
outra pessoa dita normal. Nesse sentido, vale a reflexão sobre as palavras de Goffman
(1988, p. 13): ―Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de
outrem [...] Um estigma é, então, na realidade, um tipo especial de relação entre atributo
e estereótipo‖.
Como a cognição de Charlie estava inalterada, ele começou a fazer a
contabilidade de empresas, como forma de aumentar a renda em casa. Por ter um
programa especial no seu computador que facilitava o seu uso, digitando com a boca,
ele obteve êxito em sua nova empreitada: ―Minha adaptação foi tranquila, sem revolta‖.
Com esse resgate da autoestima, resolveu voltar para a faculdade, só que agora como
estudante de Psicologia, devido ter conhecido a área médica mais profundamente por
conta dos tratamentos que teve que fazer.
Desde o começo, a mãe de Bete é o personagem mais marcante em sua vida, o
―que deve ser na maioria das histórias de pessoas com deficiência‖. Segundo Bete, ela
cuidou bem, mas não a superprotegeu. Por isso, é uma característica forte na sua vida as
possibilidades de superação, que vieram pelo fato de aprender a tomar suas decisões por
conta própria, e saber que pode ir além, mesmo sem sua mãe estar por perto, ou até
mesmo outras pessoas da família: ―Encaro a deficiência com muita tranquilidade‖.
Lino tem um irmão que saiu do emprego na época do ocorrido para melhor
auxiliá-lo, que o levou por duas vezes ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Lá,
Lino conheceu outro cadeirante, cada um contou sua história e Lino veio colocar que
seu pilar era sua família. Segundo Lino, o outro cadeirante por sua vez deu uma risada
e disse: ―sua família é seu pai e sua mãe‖. Depois disso, Lino comenta que percebeu
uma mudança: ―Meus irmãos, logo depois, realmente passaram a me ver como um
problema pra minha família, como eu voltei a cometer erros, eu farreava muito, então
meus irmãos me alfinetavam‖. Os pais não o condenavam, mas também não o
apoiavam. Tudo parecia ser um motivo para que os irmãos o alfinetassem, até quando
parou de beber por conta de um novo relacionamento, reclamavam dizendo que ele era
mandado pela mulher.
Eles queriam controlar minha vida e quando eu bati o martelo e
resolvi não aceitar mais a opnião deles, a minha família inteira se
afastou de mim, cada um tem direito de viver a sua vida, a minha
família me isolou, meus sobrinhos e nem irmãos falam comigo, e
minha própria mãe por quem eu tenho um sentimento muito doido
(LINO, 38 anos).
Por isso pude perceber que o se conceber capaz, a sua autoestima e uma família que lhe
apoie é um bom começo para se desconstruir como pessoa com deficiência.
Charlie tem uma irmã que já é casada e não mora mais com ele e seus pais: ―Ela
tem uma vida paralela, não interfere em casa, não é participativa‖. Bete, por seu turno,
tem um irmão e uma irmã mais novos que ela. Sua mãe a educou da mesma forma como
educou os outros dois filhos, sem regalias. Sempre a respeitando mesmo na falta do
conhecimento no que concerne à questão da acessibilidade.
Minha mãe sempre me proporcionou acesso a muitas coisas. Os meus
irmãos, pelo menos nunca disseram na minha frente: Você só é assim
com a Bete porque ela usa cadeira de rodas. O limite existe e eu tenho
que aprender a trabalhar com ele (BETE, 35 anos).
A mãe de Lino concordou com os outros filhos e não dele. Sua irmã fez um
juramento ao pai dizendo que nunca ia abandonar Lino, mas, segundo ele, não foi isso
que aconteceu. O pai deixou uma pensão para ele, a qual ele resolveu dividir com a
mãe, mas disse que quando precisasse pediria de volta. Contudo, quando ele veio a
precisar, ela lhe foi negada, seus irmãos interviram não aceitando essa condição de
devolução: ―Agora eu tenho que entrar na justiça pra poder ter a pensão inteira, mas eu
não quero isso‖. Lino afirma não saber o motivo de tanta briga.
Ver é interpretar. E interpretar só é possível quando se está imerso na
cultura. Se os nossos olhos captam a imagem de algo que não pertence
aos padrões aprendidos e desenvolvidos na organização simbólica que
criamos, então ele não tem significado- e nós efetivamente não
conseguimos interpretá-lo. A capacidade de ver consiste, portanto, na
possibilidade que temos de decodificar, isto é, estabelecer significado
e de representar por meio de linguagem inteligível. Se não
conseguimos decodificar é porque não estamos vendo, por mais que
os nossos olhos captem a imagem (RIBAS, 2011 p. 55).
Se os integrantes de uma família não se percebem como fazendo parte de um
mesmo grupo a tendência é a exclusão, o não se importar, o não interesse com relação à
vida do outro, tornando o convívio cada vez mais inacessível.
A avó de Bete achava que era uma perda de tempo ela ir à escola, mas sua mãe
não acreditava nisso, por isso muitas vezes a levava à escola mesmo no colo. Na
adolescência, diz que sempre teve liberdade de escolher as suas amizades, sempre
participou de viagens dos encontros do grupo de oração Corpo Místico de Cristo, do
qual participa até os dias atuais. Mesmo a mãe não podendo estar nos passeios, permitia
que a filha fosse. Hoje, por ser mãe, tem noção de que como a sua mãe ficava com o
―coração apertado‖, porém a mãe sabia que precisava deixá-la ir: ―ela nunca mudou de
metodologia comigo, foi até o fim‖. Se conseguiu graduar-se, e hoje tem um emprego,
agradece e diz que é por conta do procedimento da mãe para com ela.
Com isso, seus avós que tem outras vivências, outros costumes, puderam
perceber que os seus pensamentos com relação aos estudos dela não estavam corretos, e
que suas experiências a tornaram quem ela é hoje. Sofria dificuldades porque, às vezes,
quando os irmãos e primos iam passear ela não podia ir, não tinham carro, então a
locomoção era de ônibus: ―esse momento de passeio, em que eu não podia ir com os
meus primos, era difícil‖. Sua mãe lutou contra muitas opiniões negativas, incluindo as
externalizadas pelos próprios parentes, mesmo assim sua mãe permitiu que ela tivesse
sua própria história.
As dificuldades estruturais de acesso são reais: calçadas que não tem rampa de
acesso, quantidade inexpressiva de ônibus com acesso para cadeirantes, incluindo a falta
de capacitação e de sensibilidade de muitos motoristas. Sem falar nos bares e
restaurantes que ainda não se preocupam em melhorar a estrutura dos seus
estabelecimentos para que o direito ao acesso de pessoas com acessibilidade dificultada
seja respeitado. O que leva também a estes cadeirantes a se tornarem ―fantasmas
sociais‖, ou seja, a preferirem não sair de casa, como se não existissem,
impossibilitando ainda mais o conhecimento dos direitos e das reais necessidades dessa
parcela da população: ―Na prática, o todos da sociedade (ou do social) acaba sendo o
todos que reflete as desigualdades sociais‖ (WERNECK, 1999, p.41). É nesse todos que
procuramos refletir em que condições está a ―consciência social‖ da nossa sociedade, e
por quais motivos, ainda, o nosso ―todos‖ não abrange o tudo de todos.
Bete não viveu em função de um sofrimento, das dificuldades. Sabendo lidar
com isso, diz ela, ―sofri na hora que tinha que sofrer, mas não alimentei, fui muito feliz
nesse sentido, graças a Deus‖. O pai sempre esteve com eles, mas em uma dimensão
muito mais financeira, sempre ficava a parte das consultas médicas, queria saber só o
resultado final: ―ele estava na formatura, mas o processo ele não participou, mas não por ser
ruim, e sim pela preocupação de dar o suporte financeiro. Não foi um ator participativo, mas
nunca deixou faltar nada, sem ele financeiramente não seria possível‖.
Sua sogra passou os sete anos de namoro do filho sem falar com ele. Não queria
que o filho se relacionasse com ela, Bete. Só veio a falar com eles três meses depois do
neto ter nascido, é como se os sete anos de silêncio não tivessem existido:
Nada ficou conversado nem esclarecido, é como se isso nunca tivesse
acontecido, ficou atrás. O preconceito sempre teve, e sempre vai ter
onde eu for, mas eu não dou bola pra ele, se você me perguntar se
lembro de alguma coisa eu não vou lembrar porque eu não valorizei. É
da minha personalidade o que é bom à gente guarda o que não é a
gente deixa passar.
Nesse sentido, as palavras de Ribas (2011, p.12) merecem destaque:
Vejo que são pessoas que querem se aproximar, ser minhas amigas,
porque sabem que a palavra deficiência é pejorativa. Não tem jeito.
Deficiência, na língua portuguesa, será sempre sinônimo de
insuficiência, de falta, de carência e, por extensão de sentido, de perda
de valor, falha, fraqueza, imperfeição. A palavra representa e
estabelece a imagem.
Bete, casou-se em Agosto e engravidou em Setembro:
Mas já havíamos decidido que logo teríamos nosso primeiro filho,
mesmo sendo planejada confesso que fiquei nervosa, pois não sabia
como seria, passado o susto começamos a curtir, eu, meu marido e
minha família, principalmente minha mãe, afinal mais uma conquista
pra nós duas. Graças a Deus tive um excelente médico, que logo na
primeira consulta me disse duas coisas importantes, só conseguiria
chegar até os sete meses, no máximo sete e meio e que seria cesárea.
Ela tinha plano de saúde com direito a parto, porém optaram, por orientação médica, a
fazer na Maternidade Escola, pois lá os recursos são melhores para atender uma
criança que nasce prematura.
É bem mais difícil para uma mulher cadeirante, a gestação, pois fica
sentada com um barrigão enorme o tempo todo, principalmente na
questão da respiração, mas tirando as dores, o cansaço e todas as
outras dificuldades, engravidar foi a maior e melhor experiência da
minha vida, estamos nos preparando para o próximo, se Deus quiser!
(BETE, 35 anos).
Lino fala que quando se fez de ―coitadinho‖ só perdeu, afastando as pessoas
dele. Em 2010, quando seu pai faleceu, disse realmente ter sentido falta de suas pernas.
―Meu pai me superprotegia demais, ele me entendia, nunca me negou algo, então
quando ele faleceu achei que o mundo tinha caído na minha cabeça‖. Mesmo em meio a
todas as dificuldades familiares, o pai ainda vivo pediu que eles não se separassem.
Contudo, Lino afirma o que aconteceu foi o contrário:
Minhas irmãs são todas mal casadas, eu tenho mágoa delas, já estou
sentindo algumas sequelas devido a esses conflitos na minha família,
que não estão me fazendo bem, estou até tendo problemas do coração,
e isso não me faz bem. (LINO, 38 anos).
Segundo Ribas, problemas de relacionamento ou justificativas para situações
delicadas podem relacionar-se com a deficiência. O que talvez possa ser pensado,
também, no que se refere às dificuldades de aceitação de Lino:
A deficiência pode ser uma bela desculpa para explicarmos a nossa
infelicidade. Mas ela não justifica inteiramente os nossos tropeços e
embaraços. A vida é uma construção e nós mesmos somos os
principais arquitetos (RIBAS, 2011 p. 65).
Os irmãos de Lino não o procuram e nem ele, a eles. ―A minha mãe escolheu o
lado dela, ela tem autonomia como mãe e dona de casa‖. Lino diz não ter autonomia
dentro de sua própria casa, diz que os irmãos só lhe dirigem a palavra se for para lhe dar
alguma notícia ruim. A mãe deu total autonomia ao filho mais velho, para que decidisse
os assuntos da família, mas Lino diz que o irmão não tem ―moral‖ nem ―caráter‖ para
isso:
Nesse momento eu não tenho nem irmãos, nem família, só tenho
minha mãe. O meu sentimento é mais de lamentação do que de mágoa
com a minha mãe. Do lado de lá com certeza cada um tem sua versão,
pelo lado dos meus irmãos deve ter muita mágoa, como eu falo eu não
sou fácil, mas eu deveria ser melhor entendido, eu acho, é meu ponto
de vista. (LINO, 38 anos).
2.3 No contexto do Trabalho.
Charlie sempre dizia não por conta das barreiras físicas. Falta de vagas nos
estacionamentos, de banheiros adaptados, de rampas, eram seus principais problemas.
As desculpas, assim, sempre estavam pautadas nas barreiras físicas, era uma maneira de
conseguir burlar, e não ter que experimentar o enfrentamento: tinha medo do fracasso e
também não era capaz de perceber que poderia fazer algo em sua vida. Contudo,
resolveu passar a dizer sim para as oportunidades que surgiam.
Bete sempre teve o interesse de trabalhar, ―fui contra tudo e contra todos pra não
me aposentar‖, disse ela. Um dia chegou para mãe e disse que não queria o rótulo de
incapaz para o resto da vida, e que ela não escutasse o que os outros diziam, pois ela
sabia que era capaz. Não queria ficar recebendo um beneficio de um salário mínimo
quando sabia que tinha condições de estudar e se formar. Sua família tinha dinheiro
suficiente para não passar por dificuldades, mas não tinham dinheiro sobrando, ela
conta. Então, novamente, contou com o apoio da mãe para buscar sua formação
acadêmica e, posteriormente, um emprego.
Lino já havia trabalhado com carteira assinada antes do acidente. Depois que se
acidentou, conheceu uma pessoa que ele diz ser um anjo da guarda que Deus colocou na
sua vida, ―só lamento ter a conhecido naquela época, mas como era um anjo, veio para
dar um equilíbrio na minha vida‖. Ela o incentivou, o fez buscar novos caminhos,
trabalhar, voltar a estudar, procurar novas amizades, pois ele só queria farrear. Foi por
intermédio dela que, em 2004, ele conheceu uma pessoa que trabalhava na STDS, a
mesma que o indicou ao laboratório de inclusão social. Diz que se interessou de uma
forma distante e, somente, em 2006 foi que se interessou de fato, em 2007 voltou a
estudar, fez sua especialização em Gestão de Pessoas, pois já era formado em Recursos
Humanos.
Charlie, em sua trajetória, encontrou pessoas pessimistas, mas não desistiu, por
saber que as pessoas ―veem às outras exatamente como se veem‖. Mas também
encontrou pessoas otimistas, como um amigo que em um bate papo em uma rede social
lhe enviou uma informação, mostrando que um palestrante poderia ganhar até 40 mil
reais em cada palestra: ―O valor de cada um é aquele que cada um constrói, é o que ele
se dá‖. Percebeu, então, que a questão está em a quem você se prende, se a pessoa
otimista ou a pessimista, resolveu se prender a otimista que acreditava no seu potencial,
e então se mostrou disposto a aumentar sua autoestima: ―Era o estopim de uma nova
vida‖.
Por conta dos seus exames médicos no Hospital Sarah Kubitschek, surgiu à
oportunidade de fazer palestras no mesmo, por ter uma personalidade extrovertida, ser
um piadista nato, saber lidar com as pessoas e ter uma autoestima elevada mesmo frente
à adversidade. Essas palestras serviriam como forma de ajuda a outros pacientes que
estavam em condições físicas iguais ou parecidas com a dele, colaboraria com um
melhor estilo de vida, e como já estava na fase ―oportunista‖ não poderia mais dizer não
aos convites que sempre lhe eram feitos, começou então sua fase de enfrentamento:
―Um novo desafio, eu tinha que dar a chance de algo acontecer em minha vida‖.
A partir de então, acabou descobrindo uma vocação e um talento, o de
palestrante. Teve um retorno altamente positivo. Percebeu que aquilo poderia ser
rentável, saiu de lá com um projeto, se profissionalizar, encontrando sua fonte de renda.
Até ficar de frente para o público, Charlie diz que o nervosismo era muito grande, e ele
diz não gostar de lidar com as suas ansiedades, porém continuava dizendo sim a tudo,
mas ainda não ia atrás das pessoas oferecendo suas palestras, elas é que vinham até ele.
Uma época ele parou de ministrar palestras, mas depois continuou novamente.
As pessoas passavam a ligar das empresas para ele, e ele começou a ―se vender‖. Pois,
como se considera um grande empreendedor, sabia que ia conseguir. Há cerca de um
ano, passou a se profissionalizar: ―O risco que se corre pra ter algo na vida‖. Passou a
cobrar caro por cada palestra. Dá palestras corporativas e motivacionais é ―Personal‖ e
Professional Coaching, consultor em relações humanas e está lançando um livro
autobiográfico, intitulado: ―Minha Boca, Meu Caminhar‖. Diz não se considerar um
deficiente convencional, nem as barreiras físicas nem as psicológicas fazem parte do seu
cotidiano.
A vida de Charlie tem muitos projetos, é muito dinâmica, pois tem muitos
gastos, e por isso vive se qualificando fazendo vários cursos, agregando valor ao seu
trabalho para posteriormente receber a devolutiva disso: ―fui motivado pela dor‖, ele
afirma. Diz que sempre foi muito bem resolvido, salientando que a deficiência acaba
passando despercebida, ele não se impõe as limitações.
Charlie entende que os que são deficientes foram segregados por conta do
arcabouço histórico, na antiguidade eram isolados e trancafiados, tendo o seu direito de
ir e vir violado, não tinham transportes públicos acessíveis, nem atendimento
diferenciado, sem escolas, o que dificultava ainda mais a sua qualificação passando a se
tornar um peso social.
Tornar a escola brasileira uma formadora de cidadãos (inteiros) é meta
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, lançados em outubro de 1997
pelo MEC. Os Parâmetros sugerem que temas transversais como ética,
convívio social, pluralidade cultural, meio ambiente, educação sexual
e trabalho-consumo, sejam abordados em quaisquer disciplinas
(WERNECK, 1999 p.160).
Porém, ele diz que prefere ser um ―peso social‖ a passar a receber só benefícios como
os ofertados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social-INSS, como exemplo de
aposentadoria por invalidez.
Charlie faz estágio na STDS, onde trabalha com mães de filhos com deficiência,
demonstrando com sua experiência de vida que um tetraplégico pode sim estar inserido
no mercado de trabalho. Adora trabalhar com grupos, por isso foi chamado para
trabalhar na STDS. A STDS é reguladora de órgãos como o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social- Creas, onde ele também atua como estagiário,
trabalhando com grupos que tem mães de filhos que sofreram violência e abuso sexual.
Isso fora seu trabalho como palestrante e coaching. O tempo que ele pode se doar está
dentro da STDS. Também é conselheiro do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa
com Deficiência de Fortaleza-Comdefor8, e também faz parte de uma ONG chamada
ideiasdobrasil.org.
Constata que alguns empresários já percebem que o deficiente tem vocações e
talentos, uma transformação cultural e histórica está surgindo e por conta da ―ética do
trabalho‖ que vem atrelado à moral capitalista, competitiva, teve que buscar muito mais
sua profissionalização. No capitalismo quem agrega valor consegue emprego: ―No
mundo que a gente vive a titularidade tem peso‖, alerta Charlie.
Charlie pediu a transferência do curso de Sociologia para o de Psicologia,
percebeu que tinha que ter uma formação para agregar valor ao que fazia, e se valorizar
cada vez mais. Para conseguir uma bolsa de trinta por cento, passou a fazer seu curso
com excelência, procurando sempre tirar as melhores notas. Passou, também, a publicar
artigos, e encontrou na forma de prestação de contas dos seus estudos, para o Chanceler
da instituição, uma forma de retorno pelo merecimento da bolsa enfim conquistada.
Como a bolsa de trinta por cento era pouco, resolveu pedir mais, foi então falar
com a secretária do Chanceler, mas ela não poderia fazer isso, então descobriu a que
horas ele chegava, onde estacionava o carro, todas as informações que poderia obter
para entregar em mãos a sua prestação de contas. Falou da sua realidade, e que estava lá
8
Órgão de controle social vinculado à Secretária de Direitos Humanos de Fortaleza/ Coordenadoria de
pessoas com Deficiência, que tem como principais finalidades propor diretrizes e prioridades e fiscalizar
as políticas públicas dirigidas à pessoa com deficiência do Município de Fortaleza. Para isso articula-se
com os diversos setores do governo, da sociedade civil e da iniciativa privada buscando debater, defender
e legitimar as reinvindicações deste segmento da população.
como prestador de contas, e agradeceu por ele estar propiciando o sonho de sua
formação. Conseguiu mais vinte por cento de desconto com essa sua estratégia.
Como seus gastos são muito altos, no primeiro semestre da faculdade passou a
procurar estágio: ―A impossibilidade consiste em não tentar‖. Foi em busca de empresas
que queriam estagiários, encontrou uma que precisava de um aluno no sexto semestre,
porém não informou que era cadeirante, e confirmou que tinha lido o edital e estava
dentro dos padrões. Quando chegou à empresa, se deparou com uma escada como única
fonte de acesso ao piso em que ele queria chegar. O empresário pediu desculpas pela
falta de acesso, por conta das barreiras físicas da empresa.
O dono da empresa o informou que a vaga não poderia se preenchida por ele.
Mas, ele disse que agora como ele já estava lá que o deixasse então se vender, pois era
autodidata, lia muitos livros e que as barreiras físicas não eram empecilho. Informou
que conseguiria a melhor professora de Psicologia para ser sua supervisora, se assim a
vaga fosse dele. Saiu de lá com esperanças, então resolveu no mesmo dia mandar um email para, segundo ele, a ―melhor professora de Psicologia da Unifor‖. No dia seguinte,
já tinha resposta: conseguiu que ela o supervisionasse afirmando que o estágio na
empresa já era seu.
Diz que nunca se vendeu como deficiente. Consegue emprego sendo cadeirante,
e não se promovendo como ―pobre coitado‖, e sim de maneira agressiva, projetista.
Quando fala sobre suas palestras, diz que elas não têm nada a ver com deficiência, não
gosta nem de dar palestra para pessoas com deficiência, mas mesmo assim o faz no
Hospital Sarah. Usa muito de sua experiência como exemplo.
Oferece consultorias em empresas para inclusão, diz que ―dança conforme a
música‖ vai para conquistar espaços e não para ―bater de frente‖. Gosta de trabalhar
com setores que estão com relações complicadas com o outro, não é defensor de causas,
trabalha nas pessoas o autoconhecimento, fazendo resgate da autoestima. Busca
remodelar as pessoas para um trabalho mais leve. Diz que no mercado de trabalho tem
que ser agressivo e, segundo ele, qualquer investimento feito nele tem contrapartida
garantida.
Quando resolveu publicar o livro conseguiu patrocínio integral pelo Chanceler
da faculdade. O livro será todo impresso na mesma, e isto sem falar dos outros 05
patrocinadores que conseguiu: ―Se eu tivesse me barrado, não teria conseguido!‖. De
acordo com Charlie, seu livro é comercial, ―não é pra ficar na estante, é uma leitura
dinâmica e prazerosa‖. E pelo boca a boca, ele espera conseguir vendas, tem lições
sérias de vida, mas com muita descontração. Se constrói e descontrói no livro. O livro
tem previsão de lançamento para Novembro. Mais um obstáculo vencido. Quando o
perguntavam quem é Charlie? Ele respondia: ―não importa quem é, importa quem vai
ser‖.
As pessoas esperam de um deficiente uma coisa e ele escreve outra: ―Não é um
livro para o segmento‖, Charlie alerta. Ele não é militante, a intenção é boa, ele se
justifica, se protege, mas confirma que não é para o segmento. Não fala em tragédia,
―sofrida é a vida do outro, a minha é só alegria‖. Tudo, diz ele, consegue de maneira
fácil, pois, segundo ele, a pessoa é vista como se mostra, nunca se fez de‖ coitado‖, não
pedia ajuda e sim oportunidade de trabalhar. Ele mostra que as coisas são possíveis,
desde que creia e possa se vender.
É a favor da liberdade de expressão. Leva as situações que poderiam ser
constrangedoras na gozação, desmistifica os preconceitos, sabe que tem pessoas que
sofrem muito com isso, e a própria pessoa pode ser seu pior adversário.
Os nossos limites reais não estão na possibilidade ou impossibilidade
que temos de andar, enxergar, ouvir ou pensar da forma como
acreditamos que todos fazem. Os nossos limites estão na dificuldade
que encontramos nas relações que travamos com o mundo. Por isso,
os nossos limites reais estão na nossa alma. Não existe nada mais
deficiente do que um espírito amputado. E para esse espirito não há
prótese (RIBAS, 2011 p. 115).
Quando Bete entrou na faculdade e conseguiu concluir o seu curso, fala que no
dia da formatura a vitória não era só dela, mas da mãe também. Relata que no primeiro
dia de aula da faculdade, se deparou com uma escada que era totalmente íngreme e até
uma pessoa sem dificuldades de locomoção encontraria dificuldades para subi-la, e a
diretora disse que não podia modificar, não podia transferir a sala de aula, pois não tinha
nenhuma sala no térreo disponível.
O núcleo da Universidade Vale do Acaraú (UVA) que se situa no bairro
Henrique Jorge, que era o mesmo de sua residência, foi onde ela encontrou dificuldade
de acesso e por isso teve que ser transferida para o núcleo do bairro João XXIII: ―era
um perto longe, muitas vezes minha mãe ia me deixar a pé às 06h00minhs da noite e
voltava só às 10h00minhs‖. Enfim, concluiu o curso.
No primeiro emprego foi trabalhar na escola Nossa Senhora das Graças, que
fica no bairro em que morava, Henrique Jorge. Em sala, teve uma experiência
maravilhosa, e pôde ver o quanto às crianças são sem preconceito, e que se elas forem
trabalhadas na educação infantil se tornarão adultos sem preconceito: ―as crianças
quando me viam ficavam felizes por ter uma professora que usava cadeira de rodas‖.
Pediam pra ajudar a apagar o quadro, para copiar as tarefas, ajudar a ir pra sala dos
professores, ―elas não tinha nenhum estranhamento, no primeiro dia de aula sim, mas
depois achavam a coisa mais natural do mundo‖. Ficou pouco tempo na quarta série, e
deu algumas aulas para adolescentes na oitava série, ―ai elas já tinham toda uma
curiosidade a respeito da minha pessoa, perguntavam se eu tinha namorado se não
tinha‖.
Quando as instituições de ensino conseguem traduzir o conceito de
ética e de bem público em experiências cotidianas, têm mais chances
de despertar noções de cidadania entre seus alunos. E,
consequentemente, de reduzir episódios de violência. Reivindicar para
cada escola no Brasil o direito de ser um bem público é fundamental,
porque sem bens públicos uma sociedade não consegue se
transformar. Escola bem público é escola inclusiva. Escola inclusiva é
escola bem público. Assim... Acreditar em sociedade inclusiva é
perceber a sociedade como bem público. Para o bem de todos né.
(WERNECK, 1999 p.185).
Estar consciente das diferenças é um exercício contínuo que deve ser feito por
todos os cidadãos do mundo, entender que as suas necessidades não são iguais a do
outro, e vice-versa, tem que se transformar em um novo hábito cultural para que o
respeito frente às desigualdades possa prevalecer.
O que deve existir é uma construção contínua feita desde a primeira infância
para que aconteça a não exclusão, o aprender com todos, viver com todos, respeitar a
todos, pois todos são detentores de direitos e deveres como igual.
Tornar a escola brasileira uma formadora de cidadãos (inteiros) é meta
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, lançados em outubro de 1997
pelo MEC. Os Parâmetros sugerem que temas transversais como ética,
convívio social, pluralidade cultural, meio ambiente, educação sexual
e trabalho-consumo, sejam abordados em quaisquer disciplinas
(WERNECK, 1999 p.160).
Depois da experiência na escola, Bete foi trabalhar em uma entidade chamada
CAMPE, porém na parte burocrática. Atendia mais as meninas com deficiência. Via-se
nelas e percebia que elas viviam outra realidade, diferente da que ela viveu, as
adolescentes que eram atendidas não tinham perspectiva, a mãe fragilizada, o pai é que
cuidava, dava banho. Então, ela tinha a preocupação de orientá-las para que tivessem
sua independência, ―queria que pelo menos sua intimidade fosse preservada pra que elas
tomassem banho só‖.
Pôde contribuir muito, pois diz que sua vivência como cadeirante é bem
tranquila, aberta, boa: ―A das outras era muito fechada‖. Diz que foi uma experiência
muito boa, porque ficou muito próximo de situações diferentes da dela. Na CAMPE
conheceu Joãozinho, João Monteiro Vasconcelos, que é Coordenador do Núcleo de
Acessibilidade e Inclusão Social da STDS, que foi quem a convidou para trabalhar na
mesma, pois estava fazendo um trabalho de inclusão na Secretaria. Ela relata seus
sentimentos diante do convite:
Foi uma mistura de medo, mas com vontade de arriscar, a gente tem
que ir pra frente, ver coisas melhores e maiores também pra nossa
vida profissional, crescer‖. Ao chegar à Secretaria se deparou com
mais um desafio, ―isso aqui parecia um mundo, a minha mãe quase
que não deixa, (risos), enfim foi um salto, outro momento de
superação, deu tudo certo (BETE, 35 anos).
Já por seis anos trabalha na STDS, tem como chefes Verônica Maciel, que é Assistente
Social, e Evaldo Monteiro, que é Terapeuta Ocupacional: ―São pessoas tão acessíveis e
tão maravilhosas que às vezes tenho que dizer, Ei! Não esqueça a minha cadeira! Foi à
superação do próprio medo, foi como ir à escola pela primeira vez‖.
Quando começou a trabalhar contratou uma pessoa para deixá-la e buscá-la na
Secretaria, nos levando a pensar no que Goffman (1988, p.40) afirma:
As pessoas que tem um estigma aceito fornecem um modelo de
normalização que mostra até que ponto podem chegar os normais
quando tratam uma pessoa estigmatizada como se ela fosse um igual.
(A normalização deve ser diferenciada da ―normificação‖, ou seja, o
esforço por parte de um indivíduo estigmatizado, em se apresentar
como uma pessoa comum, ainda que não esconda necessariamente seu
defeito).
O trabalho de Bete tem como fundamento estar sempre em contato com
Prefeitos dos Municípios do interior de Fortaleza. O trabalho é voltado para o segmento
das pessoas com deficiência, ―hoje faço coisas que jamais imaginei que pudessem ser
feitas por pessoas com deficiência, trabalho várias capacitações, em eventos, um olhar
mais para o interior, para os Municípios‖. Elabora projetos, realiza capacitações e
eventos para a sensibilização dos gestores e os técnicos do CRAS, para que possa se ter
cada vez mais um melhor atendimento para as pessoas com deficiência. Existe um
edital, aberto todos os anos, para pleitear recursos para o trabalho com o segmento de
pessoas com deficiência e pessoas idosas. Trabalha com eles, analisa projetos, monitora,
e se eles têm dificuldades, os coloca em capacitações.
Quando Lino começou a estagiar na STDS percebeu que valeria a pena ―voltar
para vida‖. Foi contratado em 2010. Diz que valeu a pena ter aberto mão de muitas
coisas que antes ele achava importante, amigos, bares, viver o que a família queria que
ele vivesse:
Embora eu não aceite ainda o acidente, eu não teria conseguido o que
consegui hoje se não tivesse acontecido o acidente. Refleti muito
sobre isso, a minha paraplegia não deixa de ser o carro chefe que me
impulsionou, embora nunca tenha aceitado, mas aprendi muito a viver
com o que tenho (LINO, 38 anos).
É coordenador na área de jovens estagiários, trabalhando com adolescentes em
situação de vulnerabilidade social, ou com alguma deficiência.
Todo esse processo é feito por uma seleção rigorosa feita por mim e
pelo laboratório de inclusão, não incluímos por incluir, incluímos por
superação, os melhores, os capazes, os que querem se superar, são
inclusos, estagiam em unidades conveniadas, particulares e do
Governo e a maioria é contratada depois do estágio.
Lino, assim, parece concordar com as palavras de Ribas (2011, p. 16), buscando
cultivar, apesar da não aceitação, uma postura colaborativa no que tange aos processos
de inclusão:
Especializamo-nos em todos os procedimentos que procuram garantir
a Inclusão Social e passamos a querer ajudar o poder público e
privado a nos ajudar a superar obstáculos (RIBAS, 2011 p.16).
2.4 No contexto do Lazer.
Como Charlie passou a dizer sim a todos os convites que lhe eram feitos, não
poderia mais dizer não aos amigos: resolveu que quando recebesse algum convite, iria.
E assim aconteceu em relação a uma boate que estava sendo inaugurada. Ao chegar ao
local, ele e seus quatro amigos perceberam que não poderiam ficar lá, pois o acesso ao
piso da boate só poderia ser feito através de uma escada, então ele com muito bom
humor questionou porque não poderiam ficar lá se ele não faria o menor esforço pra
subir, muito pelo contrário, um amigo poderia segurar o braço esquerdo, o outro o
direito e os demais com as pernas, e ele poderia ainda ficar só administrando a subida.
Os amigos riram e o informaram que subir não seria problema, o problema estaria em
descer quando todos estivessem já bêbados. Mas, como para Charlie só existem
soluções, no final da festa daria um jeito, e em meio a risos disse: ―nunca ouvi falar que
um tetraplégico pudesse ficar pentaplégico”. E assim ficaram lá, ―a barreira física não
impede, quando se quer pode-se delegar, a questão é se impulsionar a fazer‖.
Em outra vez que saiu para ir a um show de reggae com a namorada e um
amigo, e resolveu que não iria mais entrar porque estava cansado, então todos de
comum acordo venderam seus ingressos e resolveram gastar o dinheiro com bebida.
Depois disso, quando já estavam indo embora, e passaram em frente a casa de show,
tiveram a sorte de encontrar o produtor do show, que gentilmente o perguntou se ele
queria entrar para assistir ao show, e ele falou que não poderia, pois estava
acompanhado da namorada e do amigo, e o produtor disse que poderiam entrar os três, e
ao entrar percebeu que não só iria assistir ao show de graça como também assistir de
camarote, pois foi este o local que o produtor o encaminhou. Tinha rampa, espaço e o
local era bem mais acessível para um cadeirante, ―nada é mais universal e plural do que
a deficiência!‖, o que nos remete imediatamente à uma reflexão sobre a potência da
expressão ―convívio social‖(WERNECK, 1999 p.205).
Sobre seus sentimentos, Charlie nos diz:
Já fui pessimista, já fui realista, otimista, e quando me tornei louco de
fazer aquilo que ninguém acreditava, foi que as coisas passaram a
acontecer, não me encaixar em padrões, foi quando passei a conquistar
tudo.
Está sempre bem humorado, é o contraponto do que se vai encontrar na
realidade de muitos outros cadeirantes. ―Tem muita gente que encontra muita porta
fechada, existe o preconceito, mas é a forma como você olha‖.
Ainda sobre o tema, Ribas comenta:
[...] Não acredito que, se preconceito existe, nós que temos deficiência
jamais tenhamos colaborado em algum grau com a distorção da nossa
imagem. Acredito que Inclusão Social se pratica na convivência entre
as pessoas e que, portanto, a maneira como as pessoas me veem reflete
também a imagem da maneira como eu quero que elas me vejam,
ainda que este possa ser um processo inconsciente (RIBAS, 2011 p.9).
Bete fala que seus familiares e conhecidos pedem que ela faça certas coisas
porque sabem que ela pode ir além:
Os lugares, graças a Deus, muita coisa mudou, restaurantes, cinemas,
shoppings, pizzarias, já estão se enquadrando dentro do processo de
acessibilidade. Já temos carro e não me aventuro a ir de ônibus.
Porém, ainda pensa em fazer o teste de como deve ser a locomoção de ônibus dentro da
nossa cidade. Sobre demais dificuldades, ela comenta: ―Os banheiros são sempre a
impossibilidade, tem que estar se regrando pra não beber ou comer muito, o que deixa
sempre muito a desejar‖. Explica que é muito difícil, quando tem confraternização de
Natal, porque tem que procurar muito até encontrar pelo menos um lugar com banheiro
adaptado. Informa também que os eventos que acontecem nos hotéis são muito difíceis,
pelo fato de buscar encontrar banheiro acessível, ―eles acham que o banheiro que eles
têm é adaptado, mas o banheiro é tão perigoso como se não fosse‖.
Vai muito à praia. Nos lugares onde não encontra acesso não gosta de brigar, se
não tem rampa ou se não tem banheiro:
Minha luta é de outra forma, sem gritos, o constrangimento já está
exposto, deixo isso para outras pessoas, os militantes, eu não sei fazer
isso, mas procuro não andar nesses lugares pra evitar o
constrangimento. Agora com o meu filho estou me divertindo bem
mais, eu digo que as coisas são pro meu filho, mas na verdade são pra
mim.
Lino diz que seu lazer é trabalhar, ―eu me divirto trabalhando‖. Antes de ter
conhecimento dos direitos que têm sobre acessibilidade, conta que chegava aos locais e
se este não tivesse acesso voltava para casa, agora como sabe que pode, entra e negocia
com o responsável pelo local por melhores condições de acesso: ―Todo meu lazer tá
atribuído ao meu trabalho‖.
Não briga pelo acesso e sim negocia:
Eu sei que sou uma liderança de inclusão dentro do Estado do Ceará,
então quando você passa a assumir a responsabilidade de incluir
alguém, quando você faz inclusão você não tem que ser singular e sim
plural, nada pra mim e sim pro outro, se eu chegar num lugar sem
acesso eu vou subir nos braços de alguém, não tenho constrangimento
com isso, mas vou entrar e vou procurar o gerente e negociar com ele
que ele faça do local um local acessível, pra melhoria de todos, é
muito por ai que você tem que tirar, mas tem gente que não encara
dessa forma e o Lino já foi assim.
A inclusão, de acordo com Werneck (1999), não pode ser parcial, ela deve
englobar o todo, daí a necessidade de observação, inclusive, da dimensão do lazer no
que concerne à acessibilidade. Pois, ainda com o autor, ―sempre que a palavra inclusão
estiver acompanhada de um adjetivo, há o risco de que seu sentido esteja restringido‖
(p.212).
2.5 No contexto da Sexualidade.
No decorrer dos tratamentos de Charlie, o mesmo foi para um Hospital em
Salvador, e por ser sempre brincalhão, ―paquerador‖, todas as enfermeiras e terapeutas,
acabavam se ―prendendo‖ por mais minutos do que o esperado em seu quarto. Comenta
que elas gostavam das suas piadas e do seu ânimo de vida, e consequentemente
acabavam o comparando com outros pacientes que estavam em condições iguais ou até
melhor do que a dele e, mesmo assim, viviam reclamando da vida, sempre mal
humorados e tristes.
Atualmente, não tem namorada, mas sempre namorou, nunca teve problemas, e
isso não mudou depois do acidente, só que agora por frequentar mais hospitais, devido
às terapias e tratamentos que sempre tem que fazer, acaba por se relacionar com as
pessoas desse meio, passando a namorar enfermeiras, terapeutas e as alunas do curso de
Psicologia. A partir do momento em que ele se aceitava, as pessoas passavam a aceitálo, segundo suas próprias palavras.
―Você conquista o amor não é da noite para o dia, e sim gradativamente‖. O
convívio diário é que acaba convencendo, ―namorar o que é belo e fútil acaba
cansando‖, diz ele sobre as experiências afetivas. Estar do lado de quem lhe faz feliz ,de
quem lhe respeita, perceber o outro, o bom trato, elogiar, se tornaram consequência do
seu estilo de vida depois do acidente. Hoje ele faz mais por uma namorada, em nível de
percepção, do que antes, se define como mais ―curioso‖. É muito direto quando quer
algo. Para ele, o convívio é salutar, então vai se aproximando, ―pagando pra ver‖,
―algumas ficam, outras não‖:
Conhecemos o outro estando com ele mais vezes, de forma mais
intensa, procurando perceber aquilo que ele tem pelo ponto de
referência que é dele, e só dele (RIBAS, 2011 p.8).
Ele faz a parte dele, a do outro ele diz que deixa acontecer gradativamente. Tem
consigo a construção moral de saber que tem que fazer sua parte sem esperar pelo outro,
não julgando. Está sempre se adequando as situações. Sabe lidar com as diferenças do
outro, não busca, ele afirma, modificar ninguém aos seus modos, quase que talvez
concordando com Werneck (1999, p.206): ―As pessoas no mundo de hoje são
imediatistas, mas não é assim, as coisas são conquistadas gradativamente [...] Colocarse no lugar do outro, eis a solução‖!
No começo, para ele, o olhar do outro era de pena, pois era um olhar como ele se
enxergava, por isso não acreditava que estava sendo paquerado. Hoje, no entanto, ele
diz que vive direto ―dando indireta‖, que o olhar do outro não lhe pertence, então ele
não pode dizer que é de pena ou de paquera, se esta olhando e for do seu interesse ele
vai olhar de volta.
O seu relacionamento é mais dado pelo convívio diário. Na faculdade teve uma
namorada, e veio a terminar com ela porque o pai teve outro problema de saúde, quase
chegando a óbito, então como sua semana era muito ocupada com seus trabalhos e sua
dedicação a família, e teve que passar a trabalhar aos sábados também, resolveu
terminar o namoro. Sua prioridade era o trabalho. Por ser muito focado na questão da
produtividade, e ter prazos a cumprir, tinha que modificar sua vida.
O seu livro é uma parte muito importante da sua vida, o livro fala sobre
empreendedorismo, e ele diz que vai gerar polêmica, pois fala sobre sexo de uma
maneira bem despudorada, ele fala que não é pentaplégico, e sim tetraplégico, fala sobre
a questão fisiológica, mas também fala da sua sexualidade, mas sempre dentro do bom
humor.
Não tem frustações em relacionamentos, porque é muito fácil de levar, ―ninguém
está com ninguém obrigado, se estar é por que quer, é uma escolha‖. Mas não esquece
que todos tem o direito a sua individualidade e respeita isso.
Fala da sua elevada autoestima, do seu amor próprio, diz que é muito racional, e
que se algum relacionamento der errado não é de chorar, sua realidade de vida não é
essa. Depois que as pessoas o conhecem, mudam a sua visão, ―o preconceito não é
negativo, é cultural e histórico, todos tem algum tipo de preconceito‖. E completa:
Por que pra ser feliz tem que ter um padrão? Tudo é relativo. Será que
uma pessoa deficiente não pode agregar, não pode trazer
conhecimento? A perfeição esta atrelada a bela forma física, mas tem
gente que sofre de bulimia, de vários Transtornos Obsessivos
Compulsivos-TOC, que não consegue dar um passo em prol de seus
objetivos. Isso sim, para mim, é deficiência.
Bete conheceu seu esposo no mesmo grupo de oração que participava, mas
começaram a namorar só no período da faculdade, como já estava na faculdade, durante
o período de namoro ele passou então a revezar as idas e vindas da faculdade com a mãe
dela.
Logo as pessoas, ―amigos‖, passaram a falar sobre as condições de Bete,
tentando fazer com que ele terminasse o seu relacionamento com ela, por questões de
preconceito. ―Ele teve uma luta muito grande com a sociedade, inclusive com a
família‖. A mãe era uma pessoa muito acessível, mas depois que ela percebeu que o
filho estava namorando uma cadeirante deixou de falar com ele, ela não aceitava, e com
isso passaram-se sete anos, ela relata.
Mas ele não se intimidou e nem a deixou se intimidar, casaram, tiveram um
filho, que é uma criança muito saudável, e tem três anos. Comenta que, na semana da
entrevista, o filho aprendeu o que é uma pessoa com deficiência. Na STDS existe uma
cartilha que fala sobre as várias deficiências que existem, e ele perguntou o que cada
pessoa era, e sua mãe foi explicar, essas pessoas tem uma pequena deficiência, então ele
questionou: ―você é uma pessoa com deficiência?‖. E ela respondeu que sim. ―Ele é
uma criança que já sabe trabalhar com a s minhas limitações, quando eu vou passar por
algum lugar, por ver o pai dele a me ajudar com a cadeira, tenta ajudar também‖.
Ela fala que ele já tem entendimento, tanto que chegou para sua avó e disse:
―vovó minha mãe é uma pessoa com deficiência, anda numa cadeira de rodas, mas faz
tudo que eu quiser‖.
É uma relação muito boa, que nos três temos, eles não tem nenhum
problema, não me impõe nada, mas sabem até onde posso ir, não
preciso estar todo tempo provando as coisas, porque eu sei que as
pessoas que me conhecem sabem até onde posso ir (BETE, 35 anos).
Diz que de vez em quando é bom levar uma sacudida, porque o medo às vezes
atrapalha, mas daí a importância de ter pessoas que estão sempre a lhe incentivar do seu
lado. Menciona que o marido diz: ―Se eu estou lhe pedindo é porque sei que você
pode!‖. E complementa:
Ele não é aquele cara que só porque você tem uma deficiência diz vou
fazer tudo que você quer, eu tenho minhas obrigações como dono de
casa, mas você também tem as suas. Ele respeita meus limites, mas
mostrando os meus deveres.
Lino, em sua entrevista, já relata que teve e tem problemas em seus
relacionamentos amorosos, foi rejeitado pela família da namorada atual pelo fato de ser
cadeirante. Eles pareciam ver nesse equipamento um problema e não um item com
significados positivos, como assinala Ribas:
Os equipamentos usados pelas pessoas com deficiência têm vários
significados positivos. São a extensão do próprio corpo, a mediação
com o mundo, o recurso que leva ao contato com outras pessoas, o
meio possibilita a convivência e a interação. As cadeiras de rodas nos
levam para estudar, para trabalhar, para namorar, nos conduzem para
o teatro e para o cinema (2011, p. 73).
Diz que antes, quando conhecia uma menina e ainda não tinha a experiência de
vida como sendo cadeirante e a estabilidade financeira que tem hoje, se deprimia, e
concluía que tudo que ele não conseguia era por causa da sua deficiência. E hoje, ainda
sofre a não aceitação, só que com uma diferença, já consegue ―bater de frente‖ com as
pessoas, mostrando que não é só uma pessoa que utiliza cadeira de rodas para se
locomover, e sim um ser humano que possui qualidades e defeitos como qualquer outro
que não precise de cadeira de rodas para se locomover. Ele demonstra isso não pedindo
ou se humilhando, mas apenas mostrando quem ele é:
Te confesso que 14 anos depois com vários relacionamentos que eu
tive, eu ainda sofro, a não aceitação. Características não se mudam é
de cada um, cada um tem a sua, mas as atitudes podem e devem ser
melhoradas e mudadas se possível. Fala que suas características são as
mesmas, tanto antes quanto depois de ser cadeirante, ―mas algumas eu
mudei e tenho que mudar muito mais, mesmo com a minha deficiência
eu não deixei de ser um ser humano, sou a mesma pessoa, só que
agora com dificuldade de acesso, peco da mesma forma, erro, talvez
até mais, mas meus erros são todos passíveis de conserto. Então eu
vivo, porque vida boa é a vida vivida, mesmo com todos os problemas
de família, de acesso, de obstáculos, de preconceitos, eu procuro viver
a minha vida da melhor forma possível.
2.6 No contexto da Mobilidade Urbana
Charlie diz não ter problemas com a sua mobilidade, pois tem um cuidador que o
acompanha constantemente. Exemplo disso foi a situação em que conseguiu seu
primeiro estágio e se deparou com a escada, episódio já relatado no qual o empresário
pediu desculpas pela falta de acesso por conta das barreiras físicas da empresa, e ele
brincalhão disse: ―você tem que pedir desculpas ao Edson, meu cuidador, pois ele sim
deve estar morto de cansado por ter me carregado nos braços!‖.
Na diplomacia é que ele pede as melhorias como, por exemplo, nos banheiros,
quando ele vai a bares, tentando convencer o dono do estabelecimento que a melhoria
não será só para ele, mas também para idosos ou para quem em determinado momento
venha precisar, é ―pra ter um ambiente bem quisto‖.
Aprender sobre deficiências e doenças crônicas é aprender sobre nós
mesmos. É conhecer-nos melhor. Esse tipo de informação faz parte da
construção da cidadania (WERNECK, 1999, p.155).
Ele se adequa, não briga, não grita, ―exemplos valem mais do que mil palavras‖,
afirma. As pessoas fazem melhor, estando conscientes, não por imposição, segundo
Charlie. Diz, ainda, que é preciso sair para conseguir modificar algo, senão para que a
modificação se não há quem usufrua dela?
Na sociedade inclusiva as ações, mesmo corretas, são um parâmetro
insuficiente de análise. Vale, principalmente, a intenção. Uma única
ação pode ter as mais contraditórias intenções (WERNECK, 1999
p.191).
Frente a situações adversas, Charlie parece levar tudo com bom humor. As pessoas é
que ficam constrangidas por ele, e não ele por si.
Essa questão politicamente correta de nomenclaturas, não faz parte da luta dele,
não há identidade por terminologias, o pejorativo, segundo ele, está mais na intenção
que na fala em si, prefere ser chamado de ―aleijado‖ pelos amigos, porque sabe que
estão tirando sarro da sua cara, que encontrar pessoas que usam as nomenclaturas certas,
mas com a intenção de se fazerem superiores.
O uso ou não-uso do vocábulo portador parece um detalhe bobo,
insignificante, um exagero de retórica. Principal é a mudança de
mentalidade, dirão muitas pessoas. Sim, mas um processo está
acoplado a outro. Erro nosso é apartá-los (WERNECK, 1999 p.67).
Conta que determinada vez, ao ir prestar um concurso público, ainda quando não
tinha conhecimento dos seus direitos, teve que ir ao banheiro e se percebeu tendo que
ser levado por uma terapeuta que estava lá para atender quem preciso fosse, por uma
pessoa com a qual não tinha nenhuma intimidade, e teve que colocar sua vergonha de
lado, pois não sabia que era um direito seu ser levado pelo seu cuidador. Diante disso,
dos tratamentos desiguais, que acarretam vergonha, podemos pensar sobre a afirmação
seguinte: ―As pessoas sem deficiência são, na maioria das vezes, o maior problema das
pessoas com deficiência‖ (WERNECK, 1999 p.149).
Bete não usa ônibus, mas sabe que muitos ônibus hoje em dia são acessíveis.
Suas indagações, então, dizem respeito a como chegar ao ponto de ônibus se as
calçadas, em sua maioria, são inacessíveis. A falta de educação, de compreensão, no
trânsito tão é uma de suas principais preocupações.
Ela relata que certa vez, ao chegar a um mercantil, sua cadeira de rodas bateu –
sem querer – em um carro e a pessoa que estava no carro disse: ―Não sei como uma
pessoa dessas vem pra um mercantil!‖. ―E isto aconteceu há pouco tempo‖, afirma ela
com um semblante de incredulidade. Ainda existem pessoas com este tipo de
pensamento preconceituoso. Diante disso, Bete acha que deveria ter educação de
trânsito para falar sobre as pessoas com deficiência nos cursos estão de habilitação, uma
vez que pessoas com deficiência também estão nas ruas e devem ter seus direitos
garantidos. Sobre o tema, Werneck (1999, p. 56) assinala: ―A falta de informação,
quando assumida, é um instrumento eficaz para fazer a democracia funcionar‖.
Há algum tempo atrás, Bete foi no centro: ―fui fazer uma aventura no centro!‖.
Durante tal ―aventura‖ pôde perceber que as praças têm calçadas rebaixadas, mas os
carros ainda param em frente, impossibilitando o acesso. E que já existem elevadores
em determinadas lojas, segundo ela: ―Há um tempo seria impossível ir ao centro, hoje
não, as pessoas já abrem espaços pra dar passagem. Melhorou muita coisa, mas lógico,
muita coisa ainda precisa ser feita‖. Confirma que muita coisa pode melhorar, mas que
não devemos esquecer o que já foi feito: ―Se hoje a gente tem condição de sair de casa é
porque já melhorou‖.
Para Bete, as calçadas são as principais dificuldades, algo que a motiva a fazer
protestos. Contudo, afirma ela, sua forma de protestar tenta ser diferente da dos outros:
ela julga ser necessário dar forma a um processo de sensibilização, algo coletivo, que
não atinja os sujeitos de forma pontual: ―Aqui a gente não se intimida diante de um
carro em frente uma rampa, diante de um lugar sem acessibilidade, mas a nossa luta é na
sensibilização de quem está na ponta, do técnico do Cras, dos gestores, dos Prefeitos‖.
Lino, quando descreve a acessibilidade na cidade, diz que a mesma está longe do
que deveria ser se comparada a Minas Gerais e Curitiba, por exemplo, mas também faz
uma constatação interessante: ―Não podemos fechar os olhos pro que já foi feito, já tá
mudando‖.
Esperava, segundo ele, que o evento da Copa do Mundo acarretasse maiores
transformações, fosse estímulo para melhorias relacionadas às condições de acesso para
quem tem acessibilidade dificultada:
Nós teríamos muito a ganhar, nós íamos recuperar o que deixamos de
ter já há 50 anos. Mas, infelizmente por essa péssima gestão vamos ter
uma copa do mundo de pente, vamos pentear aqui o que é mais visado
e fazer um acesso meia boca, e estamos conversados, o que não deixa
de ser um grão, não resta dúvida que o nosso acesso foi melhorado,
mas tá longe de chegar ao equilíbrio.
Suas opiniões, assim como as de Bete, fazem coro com as colocações de Ribas (2011,
p.64):
[...] A maioria das cidades brasileiras não está mesmo preparada para
a circulação de cadeirantes. Mas eu costumo dizer a eles (embora não
gostem muito de ouvir) que, por mais que se procure derrubar os
obstáculos que dificultam os nossos acessos, o mundo não é plano.
Portanto, cabe também a nós--- e não apenas aos outros---encontrar a
forma mais adequada, a mais criativa, de vivermos e desfrutarmos
daquilo que a vida tem de melhor.
Fala que a Avenida Beira Mar é o nosso maior ponto turístico e que, no entanto,
―é vergonhoso‖ em termos de acessibilidade. De acordo com Lino, não há naquele lugar
a possibilidade de usar um banheiro adaptado. Também menciona a precariedade das
rampas de acesso no decorrer do calçadão. Com aproximadamente três quilômetros de
orla, estendendo-se da Praia de Iracema ao mercado dos peixes no Mucuripe, a Avenida,
segundo ele, só possui, no máximo, o número de oito a dez rampas: ―Do Subway até a
estátua de Iracema não tem nenhuma rampa, inclusive filmei e vou fazer uma nota de
repúdio, são coisas simples de se fazer‖.
O novo Centro de Convenções, também, é foco de suas observações: ―É uma
coisa monstruosa, mas o acesso é muito limitado, então temos que ver a quem vamos
entregar a liderança, a quem vamos entregar os nossos projetos‖, assim revela,
igualmente, preocupações políticas.
Menciona também o medo que as pessoas não deficientes têm em não saber
como lidar com pessoas com deficiência, parecendo concordar com a seguinte
afirmação contundente: ―O preconceito é filho bastardo e degenerado da
desinformação‖ (RIBAS, 2011 p.22).
Nas palavras de Lino:
Temos que ter pessoas sensíveis ou que tenha algum tipo de
deficiência pra dizer, não é por aqui, porque a questão da barreira, do
preconceito tá muito ligada à questão da ignorância, do medo de não
saber lidar. Devem-se dar oportunidades a todos, pois são seres
humanos, que falam, comem, estudam, são seres humanos
independente de qualquer outra coisa, então quando você os vê como
seres humanos você não vê cadeira de rodas, não limita por não
enxergar, por não ouvir ou por algum problema cognitivo.
Lino, ainda, questiona a sensibilidade das pessoas quando coloca que um
marginal pode ser mais sensível às suas limitações que uma pessoa que não vive a
margem da lei:
Uma sociedade bruta que por incrível que pareça marginalizada, se eu
me bater com um vagabundo ele vai me respeitar muito mais pela
minha condição do que se eu andasse, então por mais ideias ruins que
ele tenha, ele consegue me ver de forma diferente, é muito mais
sensível do que um ser humano normal.
Suas colocações permitem, talvez, pensar sobre as palavras de Goffman (1988, p. 1617) no que concerne a ser normal:
A noção de ―ser humano normal‖ pode ter sua origem na abordagem
médica da humanidade, ou nas tendências das organizações
burocráticas em grande escala, como a Nação- Estado, de tratar todos
os seus membros como iguais em alguns aspectos. Quaisquer que
sejam suas origens, ela parece fornecer a representação básica por
meio da qual os leigos usualmente se concebem.
Diz que sofre preconceitos diários até mesmo por pessoas com deficiência, por
ter uma condição de vida melhor, ter um carro adaptado, trabalhar: ―tudo isso é
preconceito‖.
É fácil verificar que duas pessoas com deficiência, que vivem em
ambientes socioeconômicos e culturais diferentes, têm por
oportunidades desiguais de acordo com a maneira como cada
sociedade pratica--- ou não pratica--- a Inclusão Social (RIBAS, 2011
p. 64).
Com relação às empresas, diz que estas é que devem ter uma consciência maior,
―não é o deficiente que tem que se adequar a empresa, e sim a empresa a ele‖. Diz que a
lei de cotas não está sendo cumprida na grande maioria das empresas pela falta de
qualificação dos deficientes que a procuram, ―mas como ele vai ter qualificação se não
teve oportunidade de ir à escola?‖, indaga. Segundo ele, as empresas têm que contratar
os deficientes mesmo não tendo ainda a qualificação devida, para que novas portas
possam se abrir e, assim, o deficiente possa se qualificar no decorrer do seu trabalho,
dando a eles a oportunidade de praticar.
Diante do exposto, pudemos perceber todas as dificuldades como a aceitação
social, barreiras estruturais, preconceitos são obstáculos, experimentados por esses três
sujeitos em distintas dimensões de suas vidas. Tais dificuldades, acentuadas por
processos de estigmatização que podem, inclusive, vir minar a capacidade de resistência
dos sujeitos, colocam a temática em um plano de necessária reflexão. Apesar de
trabalhar com a história, ou o depoimento de vida, de apenas três sujeitos, acredito que
estas narrativas particulares oferecem elementos para se pensar uma realidade maior,
mais abrangente. A compreensão do cotidiano dos sujeitos aqui interlocutores, assim,
torna-se terreno de onde surgem questões mais gerais, que podem talvez contribuir para
um entendimento mais ―encarnado‖, ―situado‖, ―informado‖, naquilo que diz respeito
ao segmento das pessoas com deficiência, especialmente cadeirantes.
CAPÍTULO III – Lidando com as diferenças
As políticas públicas, por serem ações realizadas pelo Governo com o intuito de
atender melhor determinados setores que precisam de uma maior intervenção, nascem a
partir de uma demanda específica. No caso em questão, os cadeirantes conformam um
segmento que reivindica a garantia de direitos junto ao poder público, às organizações
não governamentais e também à iniciativa privada. A modificação dos espaços públicos,
por um ensino de qualidade, por oportunidades de emprego aos de acessibilidade
dificultada, enfim, a observação dos princípios democráticos, são suas principais causas
de luta. Acredito que a união, o esforço e a luta desta parcela da população contribuem
de forma direta para a criação de políticas e projetos que contemplem os cadeirantes.
Por isso, o meu interesse em pontuar algumas políticas públicas, pois os atores
sociais com os quais mantive contato sempre destacaram a importância dos esforços
críticos, sendo eles próprios agentes contribuintes da formulação, execução e melhoria
de tais políticas, seja a partir do trabalho com gestores dos Municípios de Fortaleza, do
primeiro emprego de adolescentes em situação de vulnerabilidade ou, mesmo, a partir
das relações estabelecidas com os pais de crianças e adolescentes deficientes ou que
sofrem algum tipo de violência. Portanto, eles não buscam só o seu bem estar, são
engajados, contribuindo para um debate que deve envolver toda a sociedade.
3.1 Políticas Públicas.
As Políticas Públicas têm como espaço as áreas distributivas, redistributivas,
regulatórias, constitutivas e da saúde. Tendo como fases: a formação de uma agenda, a
formulação, a implementação, o monitoramento e a avaliação. Políticas Públicas são
ações feitas pelo Estado em âmbito Estadual, Federal e Municipal, com o propósito de
atender determinado setor da sociedade, elas podem ser desenvolvidas em parceria com
organizações não governamentais e também com a iniciativa privada.
As Políticas Públicas podem ser compreendidas como um sistema (conjunto de
elementos que se interligam, com vistas ao cumprimento de um fim: o bem-comum da
população a quem se destinam), ou mesmo como um processo, pois tem ritos e passos,
encadeados, objetivando uma finalidade. Estes, normalmente, estão associados a passos
importantes como concepção, negociação de interlocutores úteis ao desenvolvimento
(técnicos, patrocinadores, associações da sociedade civil e demais parceiros
institucionais), pesquisa de soluções aplicáveis, desenvolvimento de uma agenda de
consultas públicas (que é uma fase importante do processo de legitimação do programa
no espaço público democrático), eleição de opções razoáveis e aptas para atingir a
finalidade, orçamentação e busca de meios ou parceiros para o suporte dos programas,
oportunidade em que se fixam os objetivos e as metas de avaliação.
Finalmente, a implementação direta e/ou associada, durante o prazo estimado e
combinado com os gestores e financiadores, o monitoramento (acompanhamento e
reajustamento de linhas - refinamento) e a sua avaliação final, com dados objetivamente
mensuráveis.
Em Fortaleza existem órgãos que atuam como coordenadores e monitores dessas
políticas. tais como:
- Coordenadoria de Pessoas com Deficiência (COPEDEF)
A Coordenadoria de Pessoas com Deficiência (Copedef), da Secretária de
Direitos Humanos de Fortaleza (SDH), coordena e monitora a Política Municipal de
Atenção às Pessoas com Deficiência (Padef), que está sendo consolidada de forma
transversal através dos diversos órgãos municipais.
Em Fevereiro de 2011 foi criado o Conselho Municipal dos direitos da Pessoa
com Deficiência de Fortaleza (Comdef Fortaleza), órgão representativo, paritário,
normativo, de caráter permanente, propositivo, consultivo, deliberativo e fiscalizador
das políticas públicas municipais de interesse das pessoas com deficiência.
Esta é a primeira vez que uma gestão municipal de Fortaleza entende a
necessidade de criar e implementar políticas públicas planejadas e articuladas,
garantindo os direitos da população das pessoas com deficiência.
- Conselho Municipal dos direitos da Pessoa com Deficiência de Fortaleza
(Comdefor).
Órgão de controle social vinculado à Secretária de Direitos Humanos de
Fortaleza/ Coordenadoria de Pessoas com Deficiência, que tem como principais
finalidades propor diretrizes e prioridades e fiscalizar as políticas públicas dirigidas à
pessoa com deficiência do Município de Fortaleza. Para isso, articula-se com os
diversos setores do Governo, da sociedade civil e da iniciativa privada buscando
debater, defender e legitimar as reivindicações deste segmento da população.
A importância de se terem órgãos com essa finalidade é a garantia dos direitos
desses cidadãos e, consequentemente, a melhora na vida dessas pessoas que encontram
tantas dificuldades de acesso à educação, ao trabalho, ao lazer. Pessoas que sofrem o
preconceito, frequentemente, por parte da sociedade, que muitas vezes não é sensível à
situação dos deficientes por não ter conhecimento das dificuldades e dos direitos que
tais pessoas têm, ou até mesmo por serem incapazes de se enxergar em um mundo tão
plural como o que vivemos.
Temos que desmistificar a ideia de que uma pessoa com deficiência não é capaz
de estudar ou de trabalhar ou de ter uma vida normal, como a de outra qualquer que não
tenha determinadas necessidades especiais. Basta que lhe deem instrumentos
necessários para que isto aconteça, como, por exemplo, rampas, elevadores de fácil
acesso, profissionais capazes para garantir que a educação escolar seja transmitida da
melhor forma para os que precisam. Lugares públicos que entendam que um banheiro
acessível para cadeirantes é também um banheiro acessível para um idoso, e que se
preocupando com este público ele não terá apenas uma melhoria na sua vida
profissional, mas também estará fazendo o seu papel de cidadão garantindo um direito à
determinada parcela da população. Como nos ensina Werneck (1999, p.88): ―A
conscientização trabalha para a integração. É, de certo modo, passiva. A ação trabalha para a
inclusão. É ativa.‖
Entendemos como acessibilidade a possibilidade e condição de alcance da
Pessoa Portadora de Deficiência (PPD) para a utilização, com segurança e autonomia,
dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos e esportivos, das edificações, dos
transportes e dos sistemas e meios de comunicação. ―Considera-se barreira, qualquer
entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a
circulação com segurança de pessoa portadora de deficiência‖. (Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Decreto Lei N. º 3.298, Regulamentada
a Lei N. º 7.853, de Dezembro de 1989, Dispõe sobre a Política Consolida as Normas de
Proteção e dá outras Providências).
É de fundamental importância que estas políticas sejam cada vez mais
divulgadas para que, cada vez mais, uma maior parcela da população esteja consciente
dos seus direitos e também de seus deveres como cidadão. Artigo 2. - Ao Poder Público
e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de
seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à
previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes
da constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
- Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência
(Corde)
Em 2009, a Corde foi elevada a Subsecretaria Nacional de Promoção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD), sendo esta uma subsecretaria dos direitos
humanos da Presidência da República que, por sua vez, é responsável pela articulação e
coordenação das políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência.
A Corde, portanto, tem a atribuição de coordenar e supervisionar o Programa
Nacional de Acessibilidade e o Programa de Promoção e Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência. O objetivo é estimular todos os setores, públicos e privados,
para que as políticas e programas contemplem a promoção, a proteção e a defesa dos
direitos da pessoa com deficiência.
Os direitos da Pessoa com Deficiência são inúmeros, alguns são citados a seguir:
- Dignidade, direitos iguais e inalienáveis. Como fundamento da liberdade, justiça e paz
no mundo. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos toda pessoa faz jus a todos
os direitos e liberdades ali estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie.
Com relação a esses direitos, podemos relembrar o fato que aconteceu com Bete
que ao sair para ir a um mercantil, colidiu sem querer em um carro, cuja pessoa que
estava dentro veio a lhe ofender dizendo que não sabia como uma pessoa ―dessas‖
poderia sair sozinha. Percebemos então, o desrespeito aos direitos humanos, à dignidade
e liberdade dos cadeirantes. E vemos que as barreiras com as quais os cadeirantes se
deparam não são só apenas estruturais, mas também sociais.
- Universalidade, a indivisibilidade, a interdependência e a inter-relação de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais. Reconhecendo que a deficiência é um
conceito em evolução e que a deficiência resulta da interação entre pessoas com
deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e
efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas. Reconhecendo também que a discriminação contra qualquer pessoa,
por motivo de deficiência, configura violação da dignidade e do valor inerentes ao ser
humano.
E então vamos a outro ponto, o da efetiva participação dessas pessoas na
sociedade em busca de igualdade de oportunidades, que é feito tanto por Charlie, Bete e
Lino que tem trabalhos na STDS, pois compartilham de suas lutas com outras pessoas
com deficiência colaborando, assim, para uma maior integração dessa parcela da
população, buscando a realização de seus direitos, sensibilizando não só gestores e
técnicos, mas também atuando junto às famílias para um convívio mais salutar. Isso
tudo sem esquecer os ambientes que estas pessoas podem vir a trabalhar, o que está
sendo gradativamente modificado, buscando uma interligação de todos os funcionários
para que os mesmos sejam mais sensíveis e esclarecidos sobre as particularidades do
outro.
Se nenhuma cultura é melhor do que a outra, e nenhum cidadão é
superior ao outro, o desafio para o terceiro milênio é fazer com que a
diversidade humana passe a agregar. Em vez de expulsar, como
frequentemente tem feito (WERNECK, 1999 p.209).
Podemos perceber que os direitos da pessoa com deficiência são, a meu ver,
direito de todos, não há nenhuma especificidade por sua condição, o que ficou claro é o
respeito que temos que ter com todos, os limites que devemos respeitar de todos, que
cada um tem um instrumento de trabalho diferente, assim como todos, que todos
merecem ter sua dignidade preservada, todos precisam de todos para viver em
sociedade, todos tem suas particularidades e diferenças que não devem ser excluídas e
sim incluídas, pois fazem parte da compreensão da realidade da nossa sociedade, não só
de nosso Estado, mas do todos do Mundo.
Sociedade inclusiva é o todos que será sempre tudo, embora inúmeras
pessoas se utilizem do conceito de inclusão como apenas mais um
sinônimo de integração. Inserção. É o seu coringa! Vejo que esta é a
palavra genérica, quando não queremos nos comprometer nem com o
conceito de inclusão nem com o de integração (WERNECK, 1999
p.217).
A seguir, mais direitos e disposições jurídicas sobre o tema:
- A Lei Nº 7.853, de 24 de Outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas
portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde) institui a tutela jurisdicional de
interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério
Público, define crimes e dá outras providências.
-Decreto nº 3.298, de 20/12/1999.
Art. 14. Incumbe ao Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, a coordenação superior, na Administração Pública Federal, dos
assuntos, das atividades e das medidas que se refiram às pessoas portadoras de
deficiência.
§ 1o No âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, compete à Corde:
I - exercer a coordenação superior dos assuntos, das ações governamentais e das
medidas referentes à pessoa portadora de deficiência;
II - elaborar os planos, programas e projetos da Política Nacional para Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência, bem como propor as providências necessárias à sua
completa implantação e ao seu adequado desenvolvimento, inclusive as pertinentes a
recursos financeiros e as de caráter legislativo;
III - acompanhar e orientar a execução pela Administração Pública Federal dos
planos, programas e projetos mencionados no inciso anterior;
IV - manifestar-se sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência, dos projetos federais a ela conexos, antes da liberação dos recursos
respectivos;
V - manter com os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e o Ministério
Público, estreito relacionamento, objetivando a concorrência de ações destinadas à
integração das pessoas portadoras de deficiência;
VI - provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações
sobre fatos que constituam objeto da ação civil de que trata a Lei no 7.853, de 24 de
Outubro de 1989, e indicando-lhe os elementos de convicção;
VII - emitir opinião sobre os acordos, contratos ou convênios firmados pelos
demais órgãos da Administração Pública Federal, no âmbito da Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;
VIII - promover e incentivar a divulgação e o debate das questões concernentes à
pessoa portadora de deficiência, visando à conscientização da sociedade.
§ 2o Na elaboração dos planos e programas a seu cargo, a Corde deverá:
I - recolher, sempre que possível, a opinião das pessoas e entidades interessadas; e
II - considerar a necessidade de ser oferecido efetivo apoio às entidades privadas
voltadas à integração social da pessoa portadora de deficiência.
Art. 57. Fica criada, no âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos,
comissão especial, com a finalidade de apresentar, no prazo de cento e oitenta dias, a
contar de sua constituição, propostas destinadas a:
I - implementar programa de formação profissional mediante a concessão de bolsas
de qualificação para a pessoa portadora de deficiência, com vistas a estimular a
aplicação do disposto no art. 36; e
II - propor medidas adicionais de estímulo à adoção de trabalho em tempo parcial
ou em regime especial para a pessoa portadora de deficiência.
Parágrafo único. A comissão especial de que trata o caput deste artigo será
composta por um representante de cada órgão e entidade a seguir indicados:
I - Corde;
II - Conade;
III - Ministério do Trabalho e Emprego;
IV - Secretaria de Estado de Assistência Social do Ministério da Previdência e
Assistência Social;
V - Ministério da Educação;
VI - Ministério dos Transportes;
VII - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; e
VIII - INSS.
As leis que regulamentam os direitos das pessoas com deficiência são de
responsabilidade da Corde.
- Art. 38. O art. 10 da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa a vigorar
com a seguinte redação:
Art. 10. A coordenação superior dos assuntos, ações governamentais e medidas,
referentes a pessoas portadoras de deficiência, incumbirá à Coordenadoria Nacional
para a Pessoa Portadora de Deficiência-Corde, órgão autônomo do Ministério da Ação
Social, ao qual serão destinados recursos orçamentários específicos.
Parágrafo único. Ao órgão a que se refere este artigo caberá formular a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, seus planos, programas
e projetos e cumprir as instruções superiores que lhes digam respeito, com a cooperação
dos demais órgãos públicos.
- Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade)
O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade) é um
órgão superior de deliberação colegiado criado para acompanhar e avaliar o
desenvolvimento da política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e das
políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura,
turismo, desporto, lazer e política urbana dirigida a esse grupo social9.
3.2 Projetos de Acessibilidade.
Aqui poderemos ver algumas informações sobre como os projetos são realizados
nas instituições responsáveis pela garantia e cumprimento das normas de acessibilidade.
- Sistema de Informação sobre Políticas, Direitos e Ações na Área da Pessoa
com Deficiência do Município de Fortaleza e do Estado do Ceará (SICORDE-CE).
Desenvolve e disponibiliza uma base de dados informativos, através de um
sistema integrado de informação na área da deficiência, contribuindo para a socialização
e democratização das informações.
- Saúde da pessoa com deficiência.
Realização de diagnóstico socioeconômico e da saúde da pessoa com deficiência
do Município de Fortaleza, pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA), em
parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Secretaria de Direitos
Humanos de Fortaleza/ Coordenadoria de Pessoas com Deficiência (Copedef).
- Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza S/A (Etufor).

Em 2011, as pessoas com deficiência comemoraram os três anos de gratuidade
nos transportes coletivos de Fortaleza, após quase 20 anos de luta.
9
Onde você pode encontrar as legislações, normas, portarias que falam a respeito das pessoas com
deficiência, site: http://ideiasdobrasil.org.br. Onde um dos integrantes da minha pesquisa, Charlie, vem a
fazer parte.

Frota com 735 ônibus adaptados com elevador, sendo esse um número
crescente, visando o cumprimento dos prazos estabelecidos no Decreto Federal
nº5.296 que fixa para 2014 o prazo de adaptação de toda a frota.

Adaptação de 90 vans seguindo os mesmos critérios e prazos do Decreto Federal
5.296.

40 táxis acessíveis/ inclusivos, adaptados com elevador, com tarifa igual a do
táxi comum.

Pontos de paradas acessíveis já entrando em fase de instalação (Programa
Municipal de Acessibilidade).

Acessibilidade nos corredores do Transfor.

Acessibilidade na Praça Coração de Jesus e da Estação (faltando o ordenamento
do comércio nos locais para evitar obstáculos para as rampas e o piso podotátil).
- Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de
Fortaleza (AMC).

Serviço de cadastramento de pessoas com deficiência e idosas para
estacionamento nas vagas reservadas.

Fiscalização da ocupação correta das vagas de estacionamento destinadas a
veículos conduzidos ou que conduzem pessoas com deficiência e idosas.
- Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Campanhas sistemáticas de vacinação para prevenção de doenças que causam
deficiência.

Programa de dispensação de órteses e próteses em processo de atualização da
demanda.

Dispensação de insumos para lesionados medulares.

Farmácias populares nos terminais.

Levantamento das condições de acessibilidade nas unidades básicas e nos postos
de saúde, com vistas à adequação através das reformas e melhoria do
atendimento.
- Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza (Secel).

Incentivo ao paradesporto e inclusão das pessoas com deficiência nas atividades
esportivas da Secel.

Estimular os deficientes a disputarem competições desportivas em modalidades
paraolímpicas;

Associar a prática esportiva a recursos de reabilitação física, promovendo a
inclusão e a integração da pessoa com deficiência.
- Decreto Legislativo Nº186.
Devemos reconhecer a importância da acessibilidade aos meios físico, social,
econômico e cultural, à saúde, à educação e à informação e comunicação, para
possibilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais.
Compreender que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas.
Não podemos evitar que pessoas com impedimentos de longo prazo de qualquer
natureza sejam chamadas de deficientes, mas podemos evitar que a sua falta de
interação com a sociedade se deem por conta das barreiras físicas/ estruturais ou sociais
os impedindo de fazerem parte da sociedade contribuindo com o que são capazes.
A diversidade humana e a desigualdade social influenciam-se o tempo
todo. Se a miséria potencializa as dificuldades das famílias que têm
filhos com deficiência (pela ausência de atendimento médico,
terapêutico e educacional de boa qualidade e gratuito em suas
comunidades), a deficiência revela a pobreza na sua capacidade de
destruir o ser humano como, talvez, nenhuma outra situação seja
capaz de fazer (WERNECK, 1999 p.43).
Temos que perceber que não devemos só tornar os lugares acessíveis para as
pessoas com acessibilidade dificultada e sim tornar as pessoas acessíveis, fazendo-as
conviver de forma harmônica com os que o são diferentes. Não permitindo os
julgamentos a partir, de conceitos infundados, não permitindo a intolerância, portanto
sem discriminar o outro.
Ainda segundo a lei Nº186 podemos compreender que ―discriminação por
motivo de deficiência significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada
em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o
reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos
político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro‖.
Como podemos perceber através dos relatos de Bete e Lino quando falam de
seus relacionamentos amorosos, a primeira que tem uma sogra que por muito tempo a
discriminou por não querer que seu filho se relacionasse com uma cadeirante e o
segundo que ainda nos dias atuais sofre a discriminação por parte das famílias das
namoradas que já teve, inclusive da família da namorada atual.
Para a concretização da acessibilidade com esta lei Nº186 deve-se ser
implantado o desenho universal que significa a concepção de produtos, ambientes,
programas e serviços a serem usados, na maior medida possível, por todas as pessoas,
sem necessidade de adaptação ou projeto específico. O "desenho universal" não excluirá
as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando
necessárias. Trazendo uma padronização, mas com qualidade, sem esquecer das
particularidades das pessoas.
Deve-se também realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de
produtos, serviços, equipamentos e instalações com desenho universal, conforme
definidos no Artigo 2 da presente Convenção, que exijam o mínimo possível de
adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às necessidades
específicas de pessoas com deficiência, a promover sua disponibilidade e seu uso e a
promover o desenho universal quando da elaboração de normas e diretrizes.
Sem esquecer-se de realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem
como a disponibilidade e o emprego de novas tecnologias, inclusive as tecnologias da
informação e comunicação, ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias
assistivas, adequados a pessoas com deficiência, dando prioridade a tecnologias de
custo acessível.
Promover a capacitação em relação aos direitos reconhecidos pela presente
Convenção dos profissionais e equipes que trabalham com pessoas com deficiência, de
forma a melhorar a prestação de assistência e serviços garantidos por esses direitos.
Como podemos perceber no caso de Bete com relação ao seu trabalho que já foi
comentado anteriormente. Ela trabalha junto a uma equipe multidisciplinar,
promovendo essas capacitações com os gestores e técnicos dos Municípios do Ceará,
para obter uma melhor qualidade de vida para as pessoas com deficiência. Nas palavras
de Bete: ―Hoje faço coisas que jamais imaginei que pudesse ser feito por pessoas com
deficiência, trabalho várias capacitações, em eventos, um olhar mais para o interior,
para os municípios‖.
3.3 A importância da Inclusão.
Ao participar do grupo de Inclusão e Acessibilidade da STDS pude perceber que
existiam vários integrantes com vários tipos de AD, seja ela visual, cognitiva, física ou
auditiva e percebi que todos trabalham dentro de suas limitações sem maiores
dificuldades. Durante minhas visitas pude perceber que a Psicóloga, que é AD visual,
não precisa enxergar com os olhos, pois os nossos outros sentidos também são capazes
de enxergar, para perceber as necessidades reais das pessoas a quem ela atende,
possivelmente seus demais sentidos estejam mais aguçados e facilitem ainda mais o seu
trabalho de percepção.
É baseada na singularidade e no reconhecimento das qualidades
individuais e nos tipos de inteligência que se dará a construção de um
mundo inclusivo.
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Aprender a atuar dentro do conceito de sociedade inclusiva sem
tropeçar nos limites de rotas estereotipadamente humanizantes ou
desumanizantes, pois ambas abstraem, das pessoas com deficiência
sua singularidade. (WERNECK, 1999 p.84).
Pude também perceber que dois AD cognitivos que trabalham na parte de
secretariado, não deixavam, por exemplo, que o telefone tocasse mais de três vezes para
atendê-lo com toda educação e prestatividade. Sem contar que determinada vez quando
uma estagiária normal precisou ligar para um dos números de outro setor e
simplesmente não lembrava o número, perguntou ao AD cognitivo e ele prontamente
disse todos os números, incluindo ramais que ela precisava saber, ou seja, para mim está
muito claro que incluir as pessoas com deficiência deveria ser natural, pois todos têm
qualidades, todos precisam de determinados instrumentos de trabalho para desenvolver
seu trabalho com louvor e que determinadas características não são motivos para que
outros venham a diminuir sua integridade e capacidade de estar junto a todos e
contribuir para a melhoria da nossa sociedade como um todo. Como diz
WERNECK(1999), todos são detentores de Capital Social:
Toda pessoa com deficiência é fonte de capital social. Um capital
atrofiado, porque raramente tem sido usado. Mas que se multiplicará,
a partir de estratégias definidas por movimentos em rede que unirão
todo o país. Foi assim com os negros, as mulheres e, mais
recentemente, com os jovens (WERNECK, 1999 p.69).
E essa inclusão pode ser feita não só através do trabalho, mas também através do
lazer, dos esportes, como podemos constatar através da inclusão nas paralimpíadas. Os
esportes que são praticados por pessoas com deficiência são muitos, dentre eles:
Basquete: É praticado nas categorias masculino e feminino. Jogam o esporte apenas
atletas com deficiência físico-motora. É amplamente praticado por paraplégicos, ou
seja, deficientes que utilizam cadeira de rodas, o que torna a competição ágil e
emocionante. As regras são praticamente as mesmas do basquete praticado por andantes
(pessoas sem deficiência).
Levantamento de peso: É uma modalidade esportiva paraolímpica dividida em várias
categorias de deficiência e praticada por ambos os sexos.
Futebol de cinco: A modalidade é praticada por deficientes visuais onde os jogadores
se orientam por um guiso na bola. As condições de quadra e regras são as mesmas do
futsal praticado por videntes. As dimensões são as mesmas da quadra de futsal 40mx20. Porém, há uma pequena mudança na área do goleiro, visto que a do Futebol de
cinco é retangular, enquanto a do Futsal é semicircular e bem maior. Esta mudança
serve para reduzir o espaço de ação dos goleiros. Os times têm oito jogadores e dois
goleiros. Em quadra, jogam quatro na linha e um no gol. O goleiro é vidente.
Atletas com diferentes graus de deficiência visual podem competir, porem são vendados
para se igualarem.
Golbol: Esta modalidade é praticada por deficiente visual onde os jogadores são
orientados por um guiso na bola, esta modalidade é exclusiva para deficientes visuais,
de ambos os sexos, onde os jogadores de uma equipe lançam a bola contra o gol da
equipe adversária e os jogadores desta equipe se deitam em frente ao gol de sete metros,
tentando evitar que a bola entre no gol.
Natação: As competições são divididas em categorias masculinas e femininas. As
baterias podem ser no individual ou por revezamento. Existem disputas nos quatro
estilos oficiais: peito, costas, livre e borboleta. As distâncias vão de 50 a 800 metros.
Participam atletas com todos os tipos de deficiência. As regras são as mesmas da
Federação Internacional de Natação Amador (FINA), com adaptações - em especial,
com relação às largadas, viradas e chegadas. Os nadadores cegos recebem um aviso
quando estão se aproximando das bordas da piscina por meio de um bastão com ponta
de espuma que seus técnicos colocam dentro d´ água.
Tênis de mesa: As competições do esporte estão agrupadas nas seguintes categorias:
atletas em pé e em cadeira de rodas. Participam da modalidade homens e mulheres com
paralisia cerebral, amputados, cadeirantes e deficientes mentais. Os jogos podem ser
individuais, em duplas ou por equipe. As partidas consistem em melhor de cinco sets,
sendo que cada set é disputado até que um dos jogadores atinja onze pontos (em caso de
empate em 10 a 10, vence o set quem primeiro abrir dois pontos de vantagem). As
regras estabelecidas pela Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) são
aplicadas às competições paraolímpicas da modalidade, com sutis adaptações para os
atletas em cadeira de rodas - principalmente no que se refere à distância entre os
suportes da mesa e os atletas.
Vôlei sentado: Entre o Vôlei paraolímpico e o convencional há menos diferenças do
que possa imaginar. Basicamente, a quadra é menor do que a convencional (mede 10x6
metros contra 18x9) e a altura da rede é obviamente menor, pois os jogadores competem
sentados. Outra diferença consiste no fato de o saque poder ser bloqueado. A quadra se
divide em zona de ataque, zona de defesa e zona neutra (lado de fora do campo de
jogo). É permitido o contato das pernas de jogadores de um time com os do outro.
Porém, não se pode obstruir as condições de jogo do oponente. Contatos entre mãos são
autorizados se pelo menos parte delas estiver em cima da linha central da quadra. Um
atacante pode "queimar" a linha de ataque caso sua bacia não a toque até o atleta bater
na bola. Somente se pode perder o contato com o chão para salvar bolas difíceis e,
mesmo assim, por um curto momento.
Bocha: Modalidade esportiva paraolímpica praticada por paralisados cerebrais e
tetraplégicos. As características dos jogos são as mesmas dos jogadores não deficientes.
Dança: A dança que é uma modalidade esportiva de jogos de inverno, também é
amplamente praticada por pessoas com deficiência em seus vários estilos.
Arremesso: O arremesso de disco, dardo e peso é praticado por atletas de ambos os
sexos, divididos em categorias de várias deficiências.
Rúgbi: Rúgbi, modalidade paraolímpica que começa ser praticada no Brasil,
desenvolvida a partir do futebol americano, adaptada para cadeirantes, e praticada em
ginásio de quadra coberta.
Corrida de cego: A corrida é a modalidade esportiva que mais apresenta variedades e
estilos, praticada por atletas de ambos os sexos e distribuídos em vários tipos de
deficiência. Inclusive Síndrome de Down e mentais leves.
Handebol: A adaptação das regras do Handebol de Salão para a prática com cadeira de
rodas e tem por princípio facilitar o acesso de cadeirantes que não tem possibilidades de
praticar outras modalidades esportivas. Utilizando como base para adaptações as regras
do Handebol de Areia e tem como princípio desenvolver um jogo que apresente uma
plasticidade que seja atrativa aos veículos de mídia, contribuindo para a difusão da
prática do Handebol em Cadeira de Rodas.
Diante de tantas possibilidades, incluir é assimilar a pessoa como um todo,
rompendo com todas as barreiras do preconceito, tentando conhecer ou reconhecer a
pessoa como ela realmente é com todas as suas qualidades e defeitos, acessibilidades ou
limitações.
Um tudo sem exceções! É o que propõe a sociedade inclusiva,
movimento internacional criado e sustentado por pais e profissionais
nas últimas décadas do século 20. Em 1990, o ideal de uma sociedade
inclusiva foi da Resolução 45/91, assinada durante a Assembleia Geral
das Nações Unidas. Esta resolução defende a implementação de uma
sociedade para todos até ano de 2010 (WERNECK, 1999 P.26,27).
E podemos lembrar-nos do esforço de Charlie quando percebeu que nem sempre
as coisas iriam bater a sua porta, e resolveu, então, passar para fase oportuna, usar de
sua criatividade, e deixar de dar a desculpa de dizer que a rua não é adaptada. Não é
adaptada porque segundo ele o deficiente é um ―fantasma social‖ não aparece na
sociedade, se ele não aparece como poderão acontecer mudanças se não a quem
necessite de adaptações, e a partir de então as coisas passarem realmente a ser
modificadas com o tempo. E como ele ressalta, este tempo já chegou com a lei de cotas
que por sua vez pode vir a ser positiva ou negativa.
Esses deficientes começaram a aparecer, serem vistos como
consumidor, a trabalhar e ter remuneração, mas isto é gradativo,
porém temos também o outro lado, o negativo onde pode vir a ser
aumentado o preconceito por este não ter tido oportunidade de ir à
escola.
Escola esta que não esta adequada não só a acessibilidade física, mas também
para os que se comunicam através da linguagem de libras ou braile ou para que tenha
déficit cognitivo. E quando ele entra no campo de trabalho desqualificado se torna um
peso social.
Novos e inusitados desafios nos aguardam.
Os do momento, eu resumo assim:
1)
Utilizar a diversidade humana e, especificamente, a eficiência,
como estratégia catalizadora de avanço e de justiça sociais; e
promotora, como um ímã, da formação de redes de pessoas,
profissionais,
conselhos,
entidades
não-governamentais
e
governamentais que, juntos, articularão a construção de um mundo
inclusivo.
2)
Inserir o tema da inclusão de pessoas com deficiência na
sociedade, visto como de interesse restrito da família, ou como
problema da família, em um universo maior, o da dívida social
brasileira. Isto no âmbito da saúde, do trabalho, da educação, da
comunidade, da cultura, do esporte, da arquitetura etc.
9)
Divulgar conceitos compatíveis coma a escola inclusiva: local
onde as gerações se encontram, se entendem e se reconhecem como
parte de um todos indivisível, desenvolvendo juntos a técnica, a
intuição, a sensibilidade, a criatividade, a flexibilidade e a arte de
formar, entre si, parcerias indispensáveis ao futuro da nação. Essa
escola é o berço do exercício amplo, da cidadania, vivência que nos
ensina a agir para as leis saírem do papel (WERNECK, 1999, p.29,
30).
Estar consciente das diferenças é um exercício contínuo que deve ser feito por
todos os cidadãos, entender que as suas necessidades não são iguais a do outro e viceversa tem que se transformar em um novo hábito cultural para que o respeito frente às
desigualdades possa prevalecer.
As questões relacionadas à diferença ainda não estão no todos do
cotidiano da mídia porque ainda não fazem parte do todos do social,
que exclui partes do todo maior, a humanidade (WERNECK, 1999
p.49).
A partir, do momento em que se está consciente do não saber, da não
informação, o primeiro passo é querer saber, estar informado, interagir. E é a partir,
desse desenvolvimento que podemos melhorar, modificar nossas ideias e ideais.
Contribuir para o bem estar do outro é contribuir para o coletivo, e se fazemos parte do
coletivo consequentemente, estamos contribuindo para a nossa melhoria.
Bete diz ―Mas, é claro que diante das limitações vem o choque, vem aquele
momento de frustação o que é normal para qualquer pessoa, nós temos todo o direito de
nos chatear de ficar triste, e até por alguns instantes ter o sentimento de revolta‖, o que
não é permitido que foi o que ela buscou sempre trabalhar em si, foi não alimentar esse
sofrimento, porque se não, como ela comenta iria ficar maior que do que ela. ―E isto
gera uma inconsistência na personalidade da pessoa, um jogo de culpas para outra
pessoa‖. Viveu momentos ruins, mas eles sempre passavam, e nunca deixou que eles
passassem muito tempo com ela.
[...] Pessoas existem com suas limitações e possibilidades, em maior
ou menor proporção, dependendo da relação que têm com o ambiente.
Ninguém descansa suas deficiências. Nem de seus talentos. Isso prova
que a sociedade não deve ter sequer a ilusão de poder descasar
também (WERNECK, 1999 p.67).
Charlie diz que os deficientes têm que se qualificar para poder conseguir um
emprego, e não deve se passar por coitado, que a sociedade em que vivemos é
capitalista, imediatista e que qualquer pessoa de qualquer etnia, classe social, credo ou
sexo, estando qualificada é capaz de conseguir um emprego.
Estratégias são ações que, seguindo uma mesma diretriz, no contexto
de missões bem definidas, possibilitam mudanças desejadas.
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Estratégias não combinam com políticas públicas compensatórias. Só
transformadoras (WERNECK, 1999, p.92-93).
A deficiência é o estopim de um processo de mudanças e também seu
beneficiário (WERNECK, 1999 p.138).
E dentre os processos de inclusão não podemos deixar de falar da inclusão que
deve acontecer também nas escolas. Pessoas com deficiência precisam, infelizmente,
além do esforço intelectual, gastar ainda mais energias com o esforço físico, as
dificuldades estruturais encontradas nas nos locais de ensino, como foi citado por Bete
em sua formação acadêmica, e como nós mesmos podemos constatar na maioria das
escolas sejam elas públicas ou privadas ainda é deficitária. Assim como também a falta
de preparo dos profissionais em saber lidar com esses deficientes em geral, pois não são
todos que sabem a língua dos sinais ou que sabem lidar com as necessidades de
deficientes cognitivos.
Ter valores inclusivos não exclui enfrentar dificuldades na hora
de implementá-los. Mas é bom que as dificuldades venham, para que
cada escola vá construindo com solidez o seu próprio e particular
modelo de ensino. Por isso são importantes as trocas diárias entre os
profissionais e a direção da escola sobre os problemas e as soluções
que com certeza aparecerão. Se não existe um manual, como se
preparar para fazer inclusão? Fazendo (WERNECK, 1999 p.178).
Uma escola inclusiva será consequência de uma sociedade inclusiva, que vê as
diferenças não como uma questão de inferioridade e sim com um novo olhar para o
outro, descobrir novas formas de percepção, de convívio, de usar de criatividade na
busca da harmonia, pois o ser humano é capaz de transformar para melhor inúmeras
situações do cotidiano, assim ele se esforce e queira verdadeiramente fazer.
Pode parecer absurdo acreditar que toda criança tenha o direito de
frequentar a escola regular, incluindo aquela cuja única forma de
comunicação seja piscar os olhos, mas esta é a proposta da sociedade
inclusiva. (WERNECK, 1999 p.195).
São três as leis que garantem a construção de uma sociedade
inclusiva:
1)
2)
3)
A da ação da intenção;
A de estar em minoria;
A da incondicionalidade.
(WERNECK, 1999 p.189).
Portanto, fazer a inclusão é não fazer das diferenças motivos para segregar uma
pessoa do seu convívio social como se ela não existisse, e sim buscar conviver,
colaborar para que ela se sinta parte, não só porque ela realmente faz parte, mas porque
somos capazes de aceitar o outro com suas deficiências e capacidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir com esta pesquisa que pessoas com acessibilidade dificultada,
neste caso os cadeirantes, ainda sofrem discriminação, são estigmatizados por serem
diferentes dos demais. Mas, não deixam de lutar pela sua inclusão.
No decorrer das pesquisas de campo ao conhecer melhor o cotidiano deles, pude
perceber que eles são completamente normais, dentro de suas particularidades e
necessidades, assim como os indivíduos que não usam cadeira de rodas para se
locomover. Eles trabalham, estudam, namoram e se divertem. E buscam junto a
instituições governamentais e também particulares o cumprimento das leis aos quais são
detentores, assim como também sua formulação e fiscalização. São pessoas dinâmicas,
inteligentes e capazes, diferente do que a maioria das pessoas infelizmente ainda pensa.
A partir dessa pesquisa foi possível perceber de forma mais específica quais as
políticas e projetos que são realizados para os cadeirantes e pensar também os avanços
que vem acontecendo nesta área como, por exemplo, quando se consegue o passe livre
junto ao prefeito de determinado Município do Ceará.
Vemos também que as condições estruturais da nossa cidade ainda não são as
melhores, e que a forma como as pessoas se comportam frente a uma pessoa com
deficiência, é geralmente com preconceito e discriminação. Por isso fazer uma pesquisa
que possa trazer maiores informações a respeito das suas experiências de vida, das leis e
políticas que os protegem, e com isso buscar fazer a sensibilização dos desinformados
com relação aos direitos dos cadeirantes. Tentando assim, desconstruir a imagem de que
todos os deficientes são apenas pessoas com deficiência, ao invés de enxergá-las como
seres humanos que tem inúmeras qualidades e capacidades.
Pude perceber também como estes cadeirantes lutam pela inclusão, não só deles,
mas também de toda a parcela da população com acessibilidade dificultada. E ao
pesquisar em blogs vi que muitos deles se dedicam a esportes, pois além de existir uma
gama muito grande de opções, é também uma forma de fazer parte, de estar incluso,
pois infelizmente não são todos da sociedade que querem ampliar seus horizontes e se
enxergar dentro da nossa sociedade que é tão plural.
REFERÊNCIAS
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UNESP, 1998.
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WERNECK, Claudia, 1957- Sociedade Inclusiva. Quem cabe no seu TODOS?/
Claudia Werneck. Rio de Janeiro: WVA- Ed. 1999. 240p.
ANEXOS
- INSTRUMENTRAL DE ENTREVISTA
Família
1- Como é sua vida em família, a partir de um contexto geral?
2- Você percebe que suas dificuldades são tão grandes quanto às da sua família, ou eles
sempre souberam lhe dar muito bem com a sua acessibilidade dificultada?
Trabalho
3- A partir de que momento da sua vida você se percebeu querendo ter um emprego e
atrelado a que situações da sua vida isso lhe ocorreu?
4- Como e onde foi seu primeiro emprego?
Lazer
5- Quais as oportunidades de lazer que você acha que a sociedade como um todo pode
lhe proporcionar?
6- Você acha que os locais de lazer que frequenta tem uma estrutura adequada para
receber pessoas com acessibilidade dificultada?
Sexualidade
7- Como são vivenciados seus relacionamentos amorosos dentro do contexto da sua
acessibilidade dificultada.
Mobilidade Urbana
8- Como você percebe a estrutura urbana todas as vezes que sai de casa para ir a
qualquer determinado lugar? Ela está compatível com as necessidades dos cadeirantes?
9- O que você faz junto as organizações do Governo, Estado ou da Sociedade Civil para
garantir os direitos de estrutura acessível a todos?
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
RAFAELA VIUDEZ DINIZ
PENSANDO A DIFERENÇA: ESTIGMA E PRÁTICAS DE CONTRAESTIGMATIZAÇÃO ENTRE CADEIRANTES
FORTALEZA
2012
Download

centro de ensino superior do ceará faculdade cearense curso de