PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Medicina Veterinária Curso de Medicina Veterinária Jordana Costa Alves de Assis PROGRAMAS DE BEM ESTAR ANIMAL E CONTROLE DE ZOONOSES EM ANIMAIS E HUMANOS, COM ENFÂSE EM LEISHMANIOSE VISCERAL Betim 2013 Jordana Costa Alves de Assis PROGRAMAS DE BEM ESTAR ANIMAL E CONTROLE DE ZOONOSES EM ANIMAIS E HUMANOS, COM ENFÂSE EM LEISHMANIOSE VISCERAL Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. Orientador: Professor Doutor Vitor Márcio Ribeiro Betim 2013 Jordana Costa Alves de Assis PROGRAMAS DE BEM ESTAR ANIMAL E CONTROLE DE ZOONOSES EM ANIMAIS E HUMANOS, COM ENFÂSE EM LEISHMANIOSE VISCERAL Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. ____________________________________________ Professor Doutor Vitor Márcio Ribeiro (Orientador)-PUC Minas ____________________________________________ Luiz Flávio Telles– Mestre em clínica e Cirurgia Veterinária ____________________________________________ : Professora Doutora Maria Coeli Gomes Reis Lage- PUC Minas Betim, 20 de Junho de 2013 Dedico à amiga Luana Paiva Arci e ao tio João, que me ensinaram muitas lições sobre a vida e o respeito aos animais. Vocês estão sempre comigo. AGRADECIMENTOS Agradeço a algo maior, por me dar essa existência e ao Anjo Protetor, por estar sempre ao meu lado. À minha mãe, mulher de força e coragem que nunca desacreditou em mim, pelo amor incondicional e valores e ao meu pai, pelo apoio e referência de trabalho e caráter. Ao meu irmão, Janderson, pela amizade, fraternidade, conselhos e companheirismo. À minha avó, Arlete, pela humildade, simplicidade e referência de luta na vida. Às minhas tias, Vani e Cleuza, além do meu tio Dirceu, pelo apoio. Aos meus animais de estimação, em especial, Minhel, Pink, Luana, Kira, Bolinha, Brutus e Baliza, verdadeiros companheiros de aventuras e de sossego, sempre ao meu lado. Digo sempre que “não tenho amigos e sim, anjos ao meu redor e toda vez que despenco do abismo, eles mergulham num voo e me pega no ar”. Agradeço à todos meus amigos, em especial à Luana (in memorian), Jânia, Clarissa e Charles, muito obrigada por estarem em meu caminho, vocês me faz uma pessoa melhor. Aos meus companheiros de faculdade, que, ao poucos, fomos construindo grande amizade e cooperação, agradeço à Gilmara, Rodolfo, Mirna, Mel e Leandro. Ao Jair Miguel (Cabeludo), pela amizade, conselhos e boas conversas sempre construtivas, além do apoio de toda hora. À Professora Elísia, pela dedicação, amor à profissão e carinho de avó, um exemplo a ser espelhado. À Professora Maria Helena pela amizade, conselhos, dedicação e confiança, sempre me confortando e mostrando que a vida pode ser serena e doce. Ao Professor Vitor Márcio Ribeiro, pela confiança, ensinamentos, paciência e extensão do aprendizado através do Programa ChiCão. Agradeço aos bons professores que tiveram em minha jornada, pelos ensinamentos e experiências, moldando mentes e ideias a favor do bem. Aos funcionários da PUC e do Hospital Veterinário, que tanto trabalham para que tudo esteja bem; vocês também fazem parte da construção do meu saber. “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.” Ayn Rand, pensadora e escritora. “Cada ser carrega em si o dom de ser capaz de ser feliz” Renato Teixeira RESUMO Há milênios atrás foi construída de forma simbiótica a relação entre seres humanos e animais que se tornaram imprescindíveis à vida humana. Porém, além dos benefícios, ocorreu ao longo da história a desorganização em relação à população de cães e gatos que passaram a sofrer com o descontrole populacional, sendo abandonados nas ruas, com consequente falta de bem estar, além do risco de acidentes, danos ao ambiente e zoonoses, como a Leishmaniose Visceral, doença de alta letalidade, que se expande rapidamente por quase todos os continentes, tornando-se grande preocupação da Organização Mundial de Saúde e da sociedade, todavia, com controle e prevenção aplicados através de algumas metodologias pouco efetivas, como o abate de cães soropositivos. Dessa forma, programas que visam ações em bem estar animal, posse responsável, manejo e controle da população de cães e gatos, assim como a prevenção e controle de zoonoses, que utiliza como princípio básico a educação libertadora e participação integral das comunidades, órgãos públicos e privados, além das diversas esferas que compõem o meio social em todo o processo, contribuem de forma eficaz para minimizar e solucionar problemas antigos, devolvendo aos animais a dignidade, com a construção de relações saudáveis entre os seres humanos e esses seres. Palavras-chave: Educação. Manejo populacional de cães e gatos. Leishmaniose Visceral. ABSTRACT The relationship between human beings and animals was built in a symbiotic manner many millennia ago and became indispensables to human life. However, along with the benefits of such relationship, throughout history there came the disorganization of the population of dogs and cats who started suffering from the uncontrolled birth, being abandoned in the streets, with lack of well-being as result, besides the possibility of accidents, damages to the environment and zoonosis, such as the Visceral Leishmaniasis which is a highly lethal disease that quickly spreads throughout almost every continent, thus becoming the great worry of the World Health Organization and the society, but with control and prevention applied through some methodologies of little effect, such as the slaughtering of seropositive dogs. In this manner, programs aimed at actions in animal welfare, responsible owning, management and control of the population of dogs and cats, as well as prevention and control of zoonosis, by using as the basic principle the liberating education and the full participation of the community, the public and private agencies, besides the several spheres which make up the social environment in the entire process, effectively contribute to lessening and solving old problems, giving back to the animals their dignity by building healthy relationships between them and the humans. Key words: Education. Population management of cats and dogs. Visceral Leishmaniasis. SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO 10 2.0 METODOLOGIA 2.1 A pesquisa 2.2 A população e a amostra 13 13 13 3.0 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 A educação como princípio e mantenedora das ações 3.2 Bem estar animal e posse responsável 3.3 Manejo da população de cães e gatos 3.3.1 Controle reprodutivo das populações de cães e gatos 3.4 Leishmaniose Visceral 3.4.1 Agente Transmissor 3.4.2 O cão e a leishmaniose visceral 3.4.3 Diagnósticos Oficiais da LVC no Brasil 3.4.4 Prevenção e controle da Leishmaniose Visceral Canina 3.4.5 Vacinação como método preventivo 3.4.6 Controle do vetor como método preventivo 3.4.6.1 Controle do vetor no ambiente 3.4.6.2 Controle do vetor no reservatório canino 14 14 19 22 26 29 33 37 38 40 42 47 48 49 4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52 ANEXO 57 10 1.0 INTRODUÇÃO A relação de cooperação afetiva entre seres humanos e animais surgiu há milênios. Seres que a princípio eram selvagens, hoje fazem parte do cotidiano da vida humana. Dentro de uma relação complexa, os animais são criados de acordo com a cultura, crença, região e religião de cada humano e, dessa forma, são essenciais no contexto social (WHO e WSPA, 1990; LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009). Foram os lobos que, inicialmente, se adaptaram para conviver mais estreitamente nas comunidades humanas, a cerca de 10 a 14 milênios. Através da procura de alimentos, esses animais se aproximavam dos acampamentos e assentamentos humanos primitivos, se convertendo em visitantes frequentes e bem vindos (WHO e WSPA, 1990). Da convivência homem-lobo e da evolução ao cão, muitos benefícios surgiram no decorrer da história. Da proteção a propriedade, dos rebanhos e dos próprios indivíduos, à companhia fiel, o rastreamento de caça, o acompanhamento de deficientes físicos e até o seu efeito terapêutico para humanos em situações especiais consolidaram essa inter-relação, sendo as características caninas selecionadas e aprimoradas de acordo com o interesse humano (REICHMANN, 2000). Ao longo dos tempos, os gatos também passaram a compor o ambiente doméstico humano, como companhia apreciada por sua lealdade, independência e hábitos de higiene individual. Sua domesticação remonta a 3.000 a.C., através de relatos de suas presenças em sarcófagos no Egito, onde eram idolatrados. Estudos referem que seu ancestral selvagem foi o Felix libyca (REICHMANN, 2000). Tais espécies animais tornaram-se imprescindíveis na rotina dos seres humanos. Porém, acompanhando a própria desorganização social da humanidade, surgiram problemas que são retratados no descontrole populacional, abandonos, maus tratos e doenças, gerando grande preocupação à comunidade humana e aos órgãos públicos, pois muitas dessas enfermidades, além de afetarem a qualidade de vida dos animais, são também perigosas aos humanos, constituindo-se como zoonoses (REICHMANN, 2000; LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009; SÃO PAULO, 2009). 11 A princípio, as políticas para o manejo populacional canino eram consideradas como sinônimo da atuação no controle da raiva e incluíam a captura e eliminação de animais de rua (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS apud GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012). No ano de 1984, foram reconhecidos pela WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO), quatro métodos para o manejo populacional canino: restrição de movimentos, captura e remoção e controle do habitat (controle das fontes de alimento e abrigo) e da reprodução (GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012). Em uma crônica publicada no início do XX, Lima Barreto descreve a rápida movimentação de mulheres de sua vizinhança para prender e esconder os cachorros antes da passagem de uma carroça destinada a recolhê-los. O autor não censura o poder público pela tentativa de retirar os cães das ruas, mas enaltece as mulheres pelas ações que dificultam o recolhimento desses animais (“A carroça dos cachorros”, 1919). Passados 90 anos, um cronista de hoje não teria dificuldades para encontrar o mesmo mote na maioria das cidades brasileiras (BORTOLOTI e D’AGOSTINO, 2007). Os órgãos públicos, muitas vezes tratam os problemas relacionados ao descontrole da população de cães e gatos e das zoonoses, principalmente a Leishmaniose Visceral Canina (LVC) com métodos pouco eficazes a curto e longo prazo, através de ações emergenciais e de baixa efetividade, não considerando ações em prevenção e educação nas comunidades (DIAS, 1998). O recolhimento e sacrifício de cães soropositivos para Leishmaniose Visceral (LV) é uma prática pouco popular e não respaldada cientificamente, uma vez que não contribui para a diminuição da incidência e prevalência da doença em animais e humanos e ocasiona maior rotatividade desses animais nas residências e menor controle populacional, constituindo grande problema para a saúde pública (ANDRADE, 2007; ROMERO E BOUELAERT, 2010). Tavares e outros (2009) salientam o desenvolvimento de vacinas contra a doença para os cães, assim como a imunização em massa dos mesmos, associados ao controle do vetor no ambiente e no animal. A posse responsável de animais de estimação traduz o exercício consciente e edificante da cidadania, a educação e os hábitos culturais diferenciados de uma sociedade. A questão “possuir um animal” tem conotações de ordem 12 psicológica e pode refletir a condição que o ser humano assume o papel de dono, chefe, proprietário de um bem, no caso, um ser vivo que o obedece, respeita e acaricia (REICHMANN, 2000). Ações em saúde voltadas para o bem estar animal, onde a educação possa ser o cerne do processo, precisam ser incentivadas nos órgãos públicos, que detêm as verbas da população. Alguns programas de extensão universitária procuram demonstrar que ações educativas, embora pareçam lentas e sem resultados, podem gerar a transformação necessária para o seu sucesso dos programas (FREIRE, 1989). Essas ações podem ser exemplificadas através do Programa ChiCão antigo Programa Cireneu. Trata-se de um programa de extensão do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Betim, que atende comunidades dos Municípios de Igarapé e São Joaquim de Bicas, no Estado de Minas Gerais - Brasil, juntamente com docentes e discentes extensionistas, desde o segundo semestre de 2011. Ele coloca em suas metas a educação em saúde, o conhecimento das comunidades e suas lideranças, o diagnóstico de zoonoses, o controle populacional canino e felino, a vacinação dos animais contra doenças, inclusive contra a LVC e atitudes comunitárias preventivas a doenças de transmissão vetorial (BARRETTO e FESSEL, 2012). Esse trabalho tem por objetivo o levantamento bibliográfico de ações voltadas para promoção do bem estar animal e controle de zoonoses em coletividades, com ênfase em LVC, através da educação em saúde; controle populacional de cães e gatos; programas de posse responsável e leis e portarias voltadas para o controle de zoonoses e da LV no Brasil. Nesse contexto, se situa e se justifica, uma vez que a compilação das experiências de práticas que valorizam a educação, afetividade e compromisso com o bem estar animal, gerarão saúde humana e controle de suas doenças. 13 2.0 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A educação como princípio e mantenedora das ações A implantação de programas de educação, bem estar animal, posse responsável e controle de zoonoses, depende da participação comunitária, de órgãos públicos e privados, através do dimensionamento de problemas que afetam as localidades a serem abordadas, assim como estratégias de ação como palestras e discussões que englobam todos os interessados, em ação conjunta de toda a sociedade (LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009). Segundo Freire (1989), a educação depende da integração entre o educador e o educando, através do diálogo e da problematização. O que se pretende com o diálogo, em qualquer hipótese (seja em torno de um conhecimento científico e técnico, seja de um conhecimento “experiencial”), é a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível reação com a realidade concreta, na qual, gera-se e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la, transformá-la. Podemos colocar como educandos toda a comunidade envolvida nos programas de bem estar animal, posse responsável e controle de zoonoses, sendo os educadores os agentes de controle de zoonoses e de saúde que estão integrados nesse processo, mas com a participação de todos na construção do saber e não somente no repasse de informações. Dessa forma, é necessário que o educador vivencie a realidade dos educandos, entendendo o meio em que os mesmos vivem, assim como a realidade à volta, para melhor compreensão do ambiente em que se encontram humanos e animais (FREIRE, 1989; DIAS, 1998; PEKELMAN, 2008). Pekelman (2008) relata como essenciais na educação em saúde o exercício do dialogo, ouvindo e problematizando (QUADRO 1). 14 Quadro 1 : Princípios essenciais para a educação popular em saúde. Educação Popular em Saúde Exercitar o diálogo: ouvir e problematizar. Ser essencialmente participativa. Favorecer a construção compartilhada do conhecimento. Explorar a percepção complexa do processo saúde-doença. Valorizar o cotidiano. Ampliar o campo de atuação em todas as ações cotidianas dosprofissionais de saúde. Incentivar a construção de autonomia dos sujeitos/ atores sociais. Fonte: PEKELMAN, 2008. Na escola, a utilização de valores culturais, organização, gerenciamento, qualidade física e social, planos de estudo, metodologias de ensino ou aprendizagem, podem ser utilizados para a promoção da saúde (SÁ SILVA apud DIAS, 2012). O Ministério da Saúde (MS) considera a escola um ambiente educacional e social propício para se trabalhar conhecimentos e mudanças de comportamento, onde adolescentes assumem o papel de agentes multiplicadores (BRASIL apud DIAS, 2012). No estudo realizado por Dias, (2012), que abordou a percepção e atitudes sobre zoonoses e posse responsável em escolas do ensino fundamental no município de São Luiz do Maranhão, foi demonstrado que 87,1% (217/249) dos alunos possuem animais de estimação, sendo na maioria cães e gatos. Porém, ao serem questionados sobre o termo zoonoses, 89% negaram saber o conceito, mas ao ser explicado a palavra diante de alternativas a serem assinaladas, 51,1% optou pela questão que definia o termo corretamente. Isso demonstra a importância de uma educação esclarecedora, contínua e participativa para gerar o saber entre os estudantes e a população. Ao final da realização do Projeto, concluiu-se que as zoonoses, apesar de não serem reconhecidas inicialmente, encontravam-se presentes nas comunidades e que as atividades extensionistas realizadas foram importantes para essa percepção por parte das crianças. França, Marzonari e Schall (2011), analisaram o conteúdo de leishmanioses em livros didáticos de ciências e biologia indicados pelo Programa Nacional de Livros Didáticos e demonstraram que 64,3% das informações são 15 incompletas nos livros de ciências e 53,3% nos de biologia. Apenas 10% do conteúdo estavam corretos nos livros de ciências e 14,5% nos de biologia. Propostas de intervenção de caráter educativo têm sido colocadas em prática nos municípios, no entanto, na maioria das vezes são efetuadas na forma de campanhas, e não na educação continuada. Programas descontinuados não geram novos conceitos e formas diferenciadas para controlar os problemas das zoonoses e o grande aumento populacional de cães e gatos (PEKELMAN, 2008; SOTO e BERNARDI, 2011). Segundo Gazzinelli e outros (2005), uma revisão dos documentos do MS de 1980 a 1992 mostrou de forma clara, uma mudança no discurso oficial da Educação em Saúde; de uma perspectiva tradicional, baseada na imposição de modelos para uma abordagem voltada para a participação comunitária. Essa idéia é central em Paulo Freire desde a década de 70 e é demonstrada no documento “Ação Educativa nos Serviços Básicos de Saúde” (Ministério da Saúde, 1981) onde predomina sua teoria de educação libertadora. No entanto, as Diretrizes da Educação para a Saúde ainda definem Educação em Saúde como “uma atividade planejada que objetiva criar condições para produzir as mudanças de comportamento desejadas em relação à saúde”. Subentende-se então, que a Educação em Saúde, tal como definida pelas diretrizes, tem como intenção nítida reforçar padrões de saúde concebidos pelo governo para a população (BRASIL, 1980 apud GAZZINELLI, 2005). 16 O QUADRO 2 apresenta de forma sucinta itens essenciais na relação entre a educação e participação popular nas atividades de saúde pública (PEKELMAN, 2008). Quadro 2: Relação entre educação popular e participação popular na saúde: Educação Popular e Participação Popular na Saúde Considerar como conceitos que se complementam. Perceber a realidade de participação da comunidade. Valorizar as iniciativas de participação locais e intervir através da educação popular. Exercitar o compartilhamento de poder. Ouvir e dialogar com os movimentos populares. Partir dos processos participativos da população que servem de ancoragem para o profissional de saúde na práxis educativa. Fonte: PEKELMAN, 2008. Os problemas de saúde pública no Brasil apresentam as maiores ocorrências naquelas populações com baixo nível socioeconômico, saneamento básico ausente ou deficiente, carência de abastecimento de água e condições precárias de manipulação de alimentos, Onde as crianças são as mais acometidas por infecções decorrentes desta estrutura básica de vida (SÁ SILVA apud DIAS, 2012). Dessa maneira, o diálogo e a problematização não adormece a ninguém. Conscientiza. Na dialogicidade, problematização, educador-educando e educandoeducador vão ambos desenvolvendo uma postura crítica, da qual, resulta a percepção de que este conjunto de saber se encontra em interação. Saber que reflete o mundo e os humanos, o mundo e com ele, explicando o mundo, mas sobretudo, tendo que justificar-se na sua transformação (FREIRE, 1989). Essas questões são apresentadas sintetizadas no QUADRO 3. 17 Quadro 3: Elementos para uma proposta educativa problematizadora na saúde: Proposta problematizadora na saúde. Ter a curiosidade como inquietação indagadora. Sair da curiosidade ingênua e partir para a curiosidade epistemológica. Problematizar para a compreensão e explicação dos fenômenos. Valorizar o cotidiano e refletir sobre as vivências. Compreender a si e compreender ao outro para depois explicar e reconstruir. Construir uma mudança cultural na prática educativa dos profissionais de saúde. Fonte: PEKELMAN, 2008. Programar ações educativas que atuem nos diversos problemas da saúde pública é um grande desafio para administradores e técnicos que trabalham com a prevenção de doenças e agravos nos municípios, pois estes geralmente não têm formação pedagógica para desenvolver tais programas (LIMA, 2010; SOTO e BERNARDI, 2011). Educar e capacitar técnicos e agentes dos Centros de Controle de Zoonoses é um processo que promove uma transformação interna que se reflete em mudanças para toda a sociedade. “Ser um oficial de controle animal é ser um profissional preocupado com os animais, humanos e não humanos”, de forma a atuar como um educador comunitário (SÃO PAULO, 2009). Os programas devem abranger todas as esferas, desde o governo, os agentes e técnicos da saúde e a comunidade, com visão humanista sobre o processo da educação para se obter a transformação do meio em que os humanos e os animais de estimação estão inseridos. Muitas vezes, os agentes são tão alienados em saber quanto a comunidade, não havendo assim, melhorias no processo, pelo contrário, pode haver agravamento dos problemas já existentes (FREIRE, 1989; PEKELMAN, 2008). 18 Exemplo de reunião com estudantes e professores extensionistas, integrantes da ONG “Associação de Proteção Animal Amigo Feliz”, líderes comunitários e moradores da comunidade do Município de Igarapé, Minas Gerais buscando troca de experiências e conhecimento antes da saída à campo (FIGURA 1). Figura 1: Reunião com integrantes do Programa de Extensão: Fonte: Arquivo pessoal, Programa ChiCão. No estado de São Paulo, foi implantado em 2005, o curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA), com ações comprometidas com a humanização dos serviços de controle de zoonoses, possibilitando incorporar conceitos de saúde animal no âmbito da saúde pública, assegurando ao mesmo tempo a saúde e a segurança da população, a preservação ambiental e o bem estar de cães e gatos, além de integrar ao programa, ações de controle da população de cães e gatos através da esterilização (SÃO PAULO, 2009). Uma das contribuições da promoção da saúde é a ampliação do seu entendimento, contribuindo para o processo em que a comunidade aumenta a sua habilidade de resolver seus problemas de saúde com competência e intensifica sua própria participação (PEKELMAN, 2008; LIMA, 2010). Essa atividade pode ser desenvolvida em espaços diversos, como escolas, permitindo a expansão e o fortalecimento da saúde da população através de um trabalho coletivo e participativo com toda a comunidade escolar (LIMA, 2010). Qualquer ambiente comunitário, como as igrejas e postos de saúde são pertinentes como local de discussões da problemática que envolve o bem estar animal, posse responsável e controle de 19 zoonoses. O mais importante é a participação de todos os envolvidos e interessados nesse processo (FREIRE, 1989). 2.2 Bem estar animal e posse responsável O exercício da cidadania traz como padrão de comportamento e preservação do meio ambiente, o cuidado com os seres vivos e o respeito a tudo que componha a vida do ser humano. Quando surge a oportunidade de decidir sobre a posse de um animal, para mantê-lo como companhia e utilizá-lo em outros diferentes campos de interesse humano, o bem estar e a boa qualidade de vida que lhe for proporcionada, refletirá o aprimoramento do ser humano enquanto componente de uma estrutura maior, que é o mundo (REICHMANN, 2000). Em seus primórdios o bem estar animal baseou-se no movimento de proteger os animais da crueldade, para posteriormente promover seu bem estar. Bem estar, termo utilizado para animais, inclui os seres humanos e refere-se ao pleno estado de saúde mental e física, onde o indivíduo se encontra em harmonia com o ambiente em que vive (SILVANO, 2010). Para qualquer definição de bem estar, é necessário levar em conta as variações individuais ao se enfrentar adversidades e os efeitos que elas exercem sobre os animais (BROOM, e MOLENTO, 2004). Comportamentos inadequados ou outras frustrações determinadas por diversas circunstâncias de vida têm, por meio de um animal, a possibilidade de expressão, pois agradando, castigando ou expulsando aquele ser, objeto da ação, pode ocorrer o retorno de um amigo ou um subalterno solícito, sem resquícios de ressentimentos. Em classes menos favorecidas, existem altas densidades de animais de estimação, mesmo sem acesso a cuidados adequados e em classes mais favorecidas os animais dispõem de maiores cuidados e existe menor densidade de animais de estimação (REICHMANN, 2000). Um critério essencial para a definição de bem estar animal deve referirse a característica individual de cada animal, e não algo proporcionado ao animal pelo homem. O bem estar do animal pode melhorar como resultado de algo que lhe seja fornecido, mas o que se lhe oferece não é, em si, bem estar. O termo bem estar pode ser utilizado às pessoas, aos animais silvestres ou a animais cativos em fazendas produtivas, à zoológicos, à animais de experimentação ou à animais nos 20 lares. Os efeitos sobre o bem estar incluem aqueles provenientes de doenças, traumatismos, fome, estimulação benéfica, interações sociais, condições de alojamento, tratamentos submetidos, manejo, transporte, procedimentos laboratoriais, mutilações variadas, tratamento veterinário ou alterações genéticas através de seleção genética convencional ou por engenharia genética (BROOM e MOLENTO, 2004). O conceito de posse responsável reflete a percepção pelo ser humano, mais precisamente dos proprietários de cães e gatos de estimação, da total dependência física e afetiva desses animais. Cuidar de cães e gatos significa assumir total responsabilidade por toda e qualquer atitude desses animais mantendo-os em perfeitas condições de saúde e contenção, de tal forma que não seja causa de qualquer espécie de constrangimento ou risco a todos de seu convívio social. Esse processo envolve mudança de comportamento e apenas se concretizará com o envolvimento da comunidade, que deve ser produtora/atora dessa transformação (GOMES, 2005). Sendo assim, posse responsável pressupõe a manutenção constante de animais de estimação nos domicílios de seus proprietários, em boas condições de higiene e saúde e, quando a passeio, que sejam controlados através do uso de coleiras e de guias por pessoas com capacidade física para conduzi-los (WHO e WSPA, 1990). A construção de uma cultura de propriedade responsável e assim ações que permitam a elevação da idade média dos cães e gatos devem ser estimuladas, uma vez que a renovação elevada prejudica o controle de zoonoses (GARCIA, 2005). Há também, a necessidade de desenvolver a compreensão da posse responsável de animais de estimação como pré-requisito para assegurar que os animais de companhia recebam os cuidados indispensáveis ao seu bem estar e daqueles com quem convivem; sendo que, a não assimilação do conceito de posse responsável contribui para o aumento da população de cães e gatos e assim têm-se como sugestão as cirurgias de esterilização como boa alternativa de controle (MAGALHÃES apud LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009). Contudo, é preciso educação e o professor desempenha papel fundamental em projetos educativos extensionistas, uma vez que é detentor de conhecimentos e prática pedagógicos (FIGURA 2). Entretanto, precisa ser capacitado constantemente com temas técnicos específicos para que estes 21 assuntos sejam desenvolvidos em sala de aula. Neste particular, as zoonoses transmitidas por cães e gatos e o exagerado aumento populacional desses animais assumem grande importância, motivo pelo qual a promoção de sua posse responsável deve se dar de forma contínua para minimizar este problema (SOTO e BERNARDI, 2011). Atividade extensionista e recreativa realizada com estudantes e professores de Medicina Veterinária, integrantes da ONG “Associação de Proteção Animal Amigo Feliz” e crianças da comunidade localizada no Município de Igarapé-, Minas Gerais, abordando termos referentes à educação em saúde e cuidados com os animais (FIGURA 2). Figura 2: Atividade extensionista e recreativa realizada no Município de Igarapé, Minas Gerais: Fonte: Arquivo pessoal, Programa ChiCão. Através do estudo realizado por Cunha, Duarte e Silva (2008), no município de Betim-MG, através de inquérito domiciliar concluiu-se que a população não tem conhecimentos sobre o Programa de Posse Responsável de Animais e que não há mobilização para mudança de hábitos dos proprietários, assim como não há incorporação do conceito de bem estar à cultura. Ainda nesse estudo, entre os entrevistados que demonstraram respeito aos seus animais, evidenciou-se preconceito sobre a esterilização dos seus cães e gatos. Dessa maneira, o processo educativo de posse responsável não é apenas a transferência de conhecimento, embora ela faça parte, mas principalmente o esforço e engajamento de todos os setores da sociedade no sentido de levar ao 22 cidadão a percepção dos riscos de doenças e agravos relacionados aos animais domésticos e da necessidade de remoção de conceitos ultrapassados no combate a eles. E desse novo pensar mais humano e mais moderno, estabelecer novas atitudes, às vezes corajosas e arrojadas para a determinação do convívio harmonioso homem e animal (GOMES, 2005; FREITAS, 2010, GENARI, 2012). 2.3 Manejo da população de cães e gatos O desenvolvimento das medidas de controle das doenças e manejo da população de cães e gatos depende da ecologia e da biologia destes animais e das condições socioculturais e econômicas da sociedade (REICHMANN, 2000). O estudo da população de cães e gatos, dos aspectos antropológicos relevantes, tem por função, estabelecer informação antecedente para o planejamento e implementação de esquemas na população desses animais e para o controle das enfermidades zoonóticas, além da vigilância da efetividade dessas medidas (WHO e WSPA, 1990; REICHMANN, 2000; GARCIA, 2005; BORTOLOTI e D’AGOSTINO, 2007; AMAKU, DIAS e FERREIRA, 2009). Somente a remoção e eliminação de animais errantes, com ou sem proprietários, não resolve o problema dos animais soltos em vias públicas, abandonados e passíveis de adoecer e transmitir agentes de doenças. É necessário atuar na causa do problema: a procriação animal excessiva e a falta de conscientização dos proprietários e na falta de sensibilização dos seres humanos quanto ao respeito a todas as formas de vida (GARCIA, 2005). Devido aos hábitos inadequados de manutenção, a procriação descontrolada e à deterioração da qualidade de vida dos animais em certas comunidades humanas, o excessivo número de animais domésticos, sobretudo cães e gatos, passou a constituir grave problema, tornando-se indesejados pelos agravos produzidos em pessoas, por aspectos ambientais ou pela presença de grupos animais abandonados. Diversas propostas foram desenvolvidas, porém, algumas, como o recolhimento e sacrifício foram severamente rejeitadas pelas comunidades humanas. O controle da população canina e felina são necessários, e devem se desenvolver através de métodos racionais, protetores e diferenciados para os quais é importante a participação ativa dos proprietários. Cães e gatos integrados às 23 comunidades humanas delas dependem para dispor de abrigos, alimentação, além de recursos para a prevenção de doenças (REICHMANN, 2000). A partir da década de 70, vários países implantaram programas para o manejo populacional de cães. Tais programas normalmente envolvem controle reprodutivo, legislação, educação para a conscientização da posse responsável, registro e identificação dos animais. Na América Latina, onde a maioria dos países, inclusive o Brasil, não possui uma política nacional para o manejo populacional de cães, muitas cidades, estados ou províncias já a estabeleceram (GARCIA, 2009 apud AMAKU, DIAS e FERREIRA, 2009). Segundo a WHO (1992), os cães podem ser classificados de acordo com seu controle. No Brasil, as formas de vida dos cães são classificadas como: cão domiciliado ou cão de família: totalmente dependente e controlado; cão comunitário ou de vizinhança: parcialmente dependente, parcialmente controlado; cão sem controle: errante ou cão sem dono. O animal errante obtém abrigos em pátios de estacionamentos, supermercados, terrenos baldios, construções abandonadas ou outras estruturas físicas da localidade. Alimenta-se com restos de comida colocados nas ruas pela população ou de material descartado no lixo e procria livremente; cão selvagem: independente, sem qualquer controle. Obtém sua alimentação através de caça e abrigos em reservas de matas, grutas e outros locais agrestes. Procria livremente, mantendo-se em bandos, isolado de grupos humanos e competindo com outros animais, comportando-se como predador (WHO, 1992 apud REICHMANN, 2000). 24 Parâmetros para obter informação sobre o tamanho da população canina, sua estrutura, taxa de reprodução, práticas para manutenção de cães e estrutura do habitat, segundo WHO e WSPA, (1990), são apresentados no QUADRO 4. Quadro 4: Parâmetros de mensuração da população canina: Parâmetros Técnicas população de mensuração da a) Abundância de cães 1. Tamanho total da população 2. Número de cães com dono 3. Número de cães sem dono Técnicas de marca, captura e recaptura. Registros de licenças; mensuração através de questionários; dados sobre a população humana e geográfica. Cálculos 1 e 2. b) Estrutura da população canina 4. Proporção de idade Cães com questionário. 5. Sexo dos animais Cães com dono: mensurar com questionário. Cães sem dono e sem supervisão: observação direta. c) Taxa de reprodução d) Práticas para manutenção de cães e serviços úteis proporcionados pelos mesmos. e) Estrutura do habitat. dono: mensurar com Cães com dono: mensurar com questionário. Estudos post mortem. Cães sem dono: observações de campo e estudos post mortem. Mensurar com questionário; Observações a campo. Mapeamento dos recursos: espaço, alimento, água e abrigo; Investigação do manejo de dejetos e desperdícios. Fonte: Adaptado de WHO e WSPA, 1990. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a remoção sistemática e eliminação de cães em grande escala, são utilizadas em várias partes do mundo em função do desconhecimento sobre a composição e dinâmica da 25 população canina. A retirada aleatória de cães e gatos de determinada área sem que se alterem as condições ambientais favoráveis (como a disponibilidade de abrigo, água e alimento) e sem levar em consideração a relação desse animal junto à comunidade, propicia à rápida reposição de novos indivíduos susceptíveis, não permitindo, dessa maneira, a formação de barreira protetora natural por animais imunizados ou resistentes (GARCIA, 2005). As estratégias de manejo da população canina devem contemplar ao mesmo tempo o cenário das políticas públicas nacionais e a implementação em nível local pelas municipalidades; ações educativas para promover os valores humanos, os conceitos de bem estar animal e posse responsável (GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012). Os registros de animais e a concessão de licença aos proprietários têm por finalidade identificar o cão ou gato em posse de um ser humano e contempla orientações relativas à posse responsável e ao bem estar animal. Os animais devem ser registrados anualmente, mediante comprovação de estarem vacinados contra a raiva e de recolhimento das taxas previstas conforme legislação municipal (REICHMANN, 2000). Cadastramento e identificação de cães através de colar vermelho, vacinação contra raiva e tratamento antiparasitário, podem ser observados abaixo durante campanha promovida pela WSPA e RSPCA no Sri Lanka (FIGURA 3). Figura 3: Identificação, vacinação e controle parasitário em cão no Sri Lanka: Fonte: WSPA, RSPCA. 26 A utilização desses registros deve ser obrigatória para animais com proprietários e para os que integram a comunidade, com cadastro único centralizado, acessível pelos diferentes setores envolvidos direta ou indiretamente (poder público, organizações não governamentais, clínicas veterinárias e empresas da área, por exemplo). O registro e a identificação também devem ser obrigatórios para todos os animais registrados em clubes de raças e para os comercializados (GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012). A identificação dos animais registrados pode ser feita por coleiras coloridas ou coleiras plásticas com código de cores, plaquetas de identificação numeradas, tatuagens, implantação subcutânea de microchips ou outras formas de fácil comprovação. O registro dos animais pode ser desenvolvido em conjunto por serviços oficiais, clínicas veterinárias, sociedades de proteção animal e outros serviços afins desde que credenciados (REICHMANN, 2000). 2.3.1 Controle reprodutivo das populações de cães e gatos A difusão de conhecimentos sobre os métodos disponíveis para o controle reprodutivo tais como castração, uso de anticoncepcionais ou mesmo a simples separação de machos e fêmeas, é importante para que os proprietários possam optar por um deles e cuidar para que os acasalamentos só ocorram quando as condições forem apropriadas ou, ainda, optar pela interrupção definitiva dessa atividade biológica. Esses métodos precisam ser apresentados aos proprietários e o profissional responsável deve alertá-los sobre as vantagens e desvantagens de cada um (REICHMANN, 2000). Devido à fecundidade dos cães e gatos, a superpopulação de animais não desejados permanece como um problema até que programas efetivos envolvendo o controle da reprodução sejam instituídos (GARCIA, 2005). O controle da reprodução de cães e gatos depende da participação do proprietário, porém, antes mesmo de implantar o controle da reprodução em animais de estimação, é necessário o controle da propriedade irresponsável e da educação dos proprietários (WHO e WSPA, 1990, VIEIRA; 2008). Para o controle da reprodução de cães e gatos podem ser utilizados métodos não cirúrgicos e cirúrgicos. Métodos não cirúrgicos não são permanentes, portanto, adequados apenas aos proprietários responsáveis, a quem se pode confiar 27 em repetir os tratamentos e como medida temporal enquanto se planeja a cirurgia; os esteroides sintéticos com efeitos anti andrógenos ou progestativos são utilizados e causam esterilização temporária com as seguintes restrições: necessidades de administração em datas precisas e a intervalos regulares não garantem inibição do cio, uso frequente, favorecem o desenvolvimento de possíveis distúrbios fisiológicos; mudança de comportamento, aborto ou inibição do parto (WHO e WSPA, 1990). Os métodos cirúrgicos podem ser aplicados em cães e gatos independente do sexo. Em fêmeas, a ovariosalpingohisterectomia promove a remoção de todo órgão reprodutivo, a ovariectomia consiste na retirada apenas dos ovários e ambos os métodos interrompem definitivamente a capacidade reprodutiva. Em machos, a orquiectomia é o método pelo qual, são removidos os testículos, a vasectomia consiste na ligadura e na ressecção de uma porção do canal deferente e em ambos o macho perde a capacidade de fertilização (REICHMANN, 2000). Outro método contraceptivo utilizado apenas em cães machos é a esterilização química que se baseia no uso de agentes esclerosantes, como soluções à base de zinco injetada no parênquima testicular, que induz processo inflamatório exacerbado com oclusão fibrosa dos ductos deferentes e epidídimos, além de atrofia testicular, reduzindo a espermatogênese e concentração sérica de andrógenos. Essas soluções são utilizadas, pois o zinco em concentrações elevadas inibe a divisão e replicação das células germinativas tornando o cão macho, estéril (OLIVEIRA, 2007). Porém, esse método se mal conduzido e por questões da própria reação inflamatória pode ter como efeitos colaterais, desde aumento do diâmetro e da temperatura testicular, além de sensibilidade à palpação nos primeiros dias, até mesmo dor, irritação, dermatites, vômitos e ulcerações, chegando a complicações mais severas que as cirúrgicas (WANG, 2002 apud OLIVEIRA, 2012). Dessa forma é importante o uso de analgésicos e anti-inflamatórios devido ao procedimento, porém, ainda não se sabe se essas drogas interferem na ação inflamatória produzida por soluções à base de zinco e consequentemente na eficácia da esterilização (OLIVEIRA, 2011). 28 Os proprietários podem acompanhar seus animais nas campanhas de esterilização e devem incentivar a participação de toda comunidade. Esta ação torna-se educativa e contribui para o abandono de antigos paradigmas e preconceitos (FIGURA 4). Figura 4: População local assistindo a cirurgia de esterilização através da janela de clínica móvel em Zanzibar: Fonte: WSPA e RCPCA. O controle de mobilidade com a domiciliação é a alternativa mais simples, natural e viável por não oferecer riscos à saúde dos animais e ônus aos proprietários, o que constitui ampla vantagem para o controle populacional dos animais de estimação (REICHMANN, 2000). Em São Paulo, foi implantado em 2001 o “Programa Saúde do Animal” com o propósito principal de controlar as populações de cães e gatos e diminuir os riscos que possam representar ao ser humano e meio ambiente. Mais de 50 mil animais já passaram pelo Programa, com custo médio de 30 reais por cadela para sua esterilização. Por outro lado, relatório realizado pelo centro de Controle de Zoonoses sobre os custos com a remoção e eliminação de animais, aponta que cada cão eliminado custa R$62,00 ao poder público municipal e um gato R$45,00 mais as taxas de incineração que custam em torno de R$60,00 para um cão de 15 kg (GARCIA, 2005). A esterilização aplicada continuamente ao longo do tempo é capaz de reduzir a densidade populacional canina se não houver importação de animais de outras áreas. No entanto, mesmo para altas taxas de esterilização, onde uma redução de 20% na densidade populacional seria notada apenas após cinco anos de 29 campanhas de esterilização, não sendo notados seus impactos imediatamente (AMAKU, DIAS e FERREIRA, 2009). Na cidade de Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, foi implantado em 1996 o “Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos”, com assessoria da Organização Não Governamental (ONG) de proteção animal ARCA Brasil. A Prefeitura cede os medicamentos, anestésicos, materiais descartáveis, coleiras, plaquetas e vacinas contra a raiva para as clínicas veterinárias, que, por sua vez, realizam gratuitamente o registro e identificação e vacinação contra a raiva e, as esterilizações cirúrgicas a preços viáveis para a população. Atuando na raiz do problema, o Programa é uma alternativa para a procriação descontrolada e consequente eliminação desses animais pelo poder público (GARCIA, 2005). Na análise realizada pelo estudo de Bortoloti e D’Agostino (2007), programas de esterilização de cães e gatos de baixo custo nas clínicas particulares, esterilização gratuita em abrigos municipais e em entidades protetoras de animais, além de mutirões de esterilização nos bairros populares podem tornar esse procedimento cirúrgico amplamente disponível e acessível para toda a população, podendo explicar o aumento na demanda pelo serviço. O comportamento humano possivelmente é a força mais poderosa por trás da dinâmica populacional dos animais de estimação. O encorajamento das interações homem-animal de maneira responsável e compensatória levará à melhoria do bem estar animal e redução de muitas das origens de cães de rua, prevenindo muitos problemas. O comportamento humano em relação aos animais de estimação é a força propulsora por trás desses problemas (RSPCA, HUMANE SOCIETY, IFAW, WORLD SMALL ANIMAL, ARC, WSPA, 2007). Dessa forma, metodologias quanto ao controle reprodutivo da população animal é um dos eixos principais do conjunto de ações de posse responsável, resultando na diminuição da densidade animal que por vez diminui o número de animais susceptíveis a leishmaniose e outras zoonoses (GOMES, 2005). O mundo está buscando uma saída ética para o problema da superpopulação de animais. As cidades que compreendem que governar é educar serão as que estarão na vanguarda e indicarão qual caminho a seguir (SÁ, 2006). 30 2.4 Leishmaniose Visceral A LV é uma zoonose amplamente difundida, ocorrendo na Ásia, Europa, África e nas Américas e ainda não foi descrita na Antártica (WHO, 1990). É considerada de grande relevância na saúde coletiva devido à sua heterogenicidade epidemiológica, alta letalidade e soroprevalência (BARATA in BORGES, 2008) Atualmente encontra-se entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo (BRASIL, 2006). Considerada zoonose de transmissão vetorial, a LV afeta o homem apresentando evolução geralmente crônica, com acometimento sistêmico, que se não tratada, pode levar a morte até 90% dos casos. É considerada grave problema de saúde pública, uma vez que tem registrado anualmente média de 3.370 casos, com 7,4% de letalidade. Está distribuída em 20 Unidades Federadas com incidência aproximada de dois casos por 100.000 habitantes, com tendência ao crescimento (BRASIL, 2008). A associação de fatores como a desnutrição, o diagnóstico tardio e a presença de outras infecções concorrem para o aumento da sua letalidade (OLIVEIRA, 2010). A doença é causada por protozoários pertencentes ao Gênero Leishmania, espécie Leishmania chagasi, sinônima de L. infantum (BARATA, 2004). É parasita intracelular obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear (SFM), com forma flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra forma aflagelada ou amastigota nos tecidos dos vertebrados (BRASIL, 2006; BORASCHI e NUNES, 2007). 31 A forma parasitária promastigota encontrada em hospedeiros invertebrados, Lutzomyia longipalpis e a forma amastigota, em hospedeiros vertebrados, podem ser observadas nas FIGURAS 5 e 6. Figura 5: Forma flagelada ou promastigota, encontrada em hospedeiros invertebrados: Fonte: MS, BRASIL, 2006. Figura 6: Forma aflagelada ou amastigota, encontrada em hospedeiros vertebrados: Fonte: MS, BRASIL, 2006. Na área urbana, o cão (Canis familiaris) é considerado seu principal reservatório doméstico e principal fonte de infecção do vetor. Os reservatórios silvestres identificados e potencialmente envolvidos no ciclo de transmissão são as raposas e os marsupiais A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem sido mais prevalente que em humanos (ELKHOURY, 2005; BRASIL, 2006). O comportamento epidemiológico da LV é cíclico, com aumento de casos em períodos médios a cada cinco anos. No Brasil, a LV apresenta aspectos geográficos, climáticos e sociais diferenciados, em função da sua ampla distribuição, envolvendo as Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Na década de 90, aproximadamente 90% dos casos registrados de LV ocorreram na região nordeste. Inicialmente, esta endemia apresentou padrão de transmissão eminentemente rural e na medida em que a doença se expande para as outras regiões atinge preferencialmente áreas peri-urbanas e urbanas. Isso ocorre devido modificações ambientais causadas por ações antrópicas que vem modificando essa situação e no ano de 2005 a região Nordeste já apresentava 67% dos casos no país (ELKHOURY, 2005). No ano de 2011, 21,2% (905) dos casos encontravam-se na Região Norte e 50,5% (2155) na Região Nordeste (BRASIL, 2012) (TABELAS 1 e 2). 32 Tabela 1: Casos confirmados de leishmaniose visceral no Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 1990, 1995, 2000, 2005, 2010 e 2011: Região e UF Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região CentroOeste UF Ignorada Brasil 1990 1995 2000 2005 2010 2011 35 171 366 660 636 905 1650 3519 4029 2011 1662 2155 243 171 314 656 629 777 0 0 0 3 2 7 16 78 149 261 303 417 _ _ _ 6 294 _ 1994 3885 4858 3597 3526 4261 Fonte: Adaptado de SINAN/SVS/MS. Atualizado em 26/06/2012. Tabela 2: Casos confirmados de leishmaniose visceral. Região Sudeste e Estados. 1990, 1995, 2000, 2005 e 2010: Estado Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo 1990 226 1995 164 2000 218 2005 494 2010 469 15 0 4 4 3 2 7 4 3 0 0 0 88 165 157 Região Sudeste 243 171 314 656 629 Fonte: Adaptado de SINAN/SVS/MS. Atualizado em 26/06/2012. O ambiente característico e propício à ocorrência da LV é aquele de baixo nível socioeconômico, promiscuidade, prevalentes em grande medida no meio rural e na periferia das grandes cidades (QUEIROZ, ALVES E CORREIA, 2004; BRASIL, 2006; WHO, 2010). Entretanto, estas características vêm se tornando comuns nos centros urbanos, principalmente, nos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde a LV se encontra urbanizada (BRASIL, 2006; WHO, 2010). Não existe diferença de susceptibilidade entre idade, sexo e raça em humanos e animais. Porém, crianças e idosos são mais susceptíveis (BRASIL, 2006). Além disso, a migração de indivíduos não imunes pode resultar em risco de 33 transmissão, assim como o estado nutricional resultante de uma dieta pobre aumenta a probabilidade de que diante da infecção por L. infantum, o indivíduo evolua para manifestação da doença (WHO, 2010). De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (BRASIL, 2012) no ano de 2011 foram notificados 4.261 casos em todo país, dentre eles, 1.981(46,4%) em crianças com faixa etária de até nove anos de idade. No estudo realizado por QUEIROZ, ALVES e CORREIA (2004), ao qual, avalia as características clínico-epidemiológicas em 445 crianças acometidas por LV provenientes de área endêmica, internadas em um hospital pediátrico de referência em Pernambuco-Brasil, constatou-se que a frequência de subnutrição na população estudada foi de 44,5%, enquanto 26,9% de todas as crianças eram desnutridas graves. Ainda nesse estudo, verificou-se que das 317 crianças em que foi possível obter informação sobre escolaridade materna, o tempo médio de permanência na escola foi de 3,1 anos. Dentre as características de domicílio, foi possível obter a informação sobre a existência ou não de água e sistema de esgoto sanitário em 358 prontuários, e cerca de 70% das casas não dispunham desses serviços. Outro fator de relevância é a co-infecção entre HIV e LV, devido à ruralização e urbanização dessas infecções, respectivamente (RABELLO, 2005). Ainda em 2011, dos casos notificados de LV pelo SINAN, 271 apresentavam co-infecção com HIV, 2.758 não apresentavam e 1.232 foram considerados ignorados ou sem notificação (BRASIL, 2012). Provavelmente, os números oficiais da co-infecção são subestimados, por resultarem de notificação passiva e da LV não ser considerada doença definidora de HIV (RABELLO, 2005). O MS apresenta como formas de controle e prevenção da LV, o diagnóstico e tratamento precoce dos humanos infectados, uso de inseticidas para controlar a população de insetos vetores (flebotomíneos) e o sacrifício de cães soropositivos ou que apresentam o quadro clínico da doença (BRASIL, 2006). Apesar dos esforços, a LV tem aumentado significativamente sua importância no contexto epidemiológico em decorrência do processo de urbanização e das alterações no ambiente natural (BORGES, 2008). Porém, em virtude das características epidemiológicas e do conhecimento ainda insuficiente sobre os vários elementos que compõem a cadeia de transmissão da LV, as estratégias de controle desta endemia ainda são pouco efetivas no Brasil (ALVES, 2005). Destaca-se que as ações voltadas para o diagnóstico e tratamento 34 dos casos humanos e atividades educativas devem ser em todas as situações priorizadas através do dialogo com as comunidades envolvidas (ALVES, 2005; WHO, 2010). 2.4.1 Agente transmissor A transmissão se dá através da picada de fêmeas do inseto vetor infectado, pertencente ao Gênero Lutzomyia e Phleblotomus, no Novo Mundo e Velho Mundo, respectivamente (BARATA, 2004). No Brasil, a L. longipalpis é considerada a principal espécie transmissora da L. infantum, e mais recentemente a L. cruzi foi incriminada no estado de Mato Grosso do Sul (BRASIL, 2006; CUNHA e CHAGAS, 1937, LAINSON e SHAW, 1987, REBELO, 1996, SANTOS, 1998 apud ELKHOURY, 2005; BORASCHI e NUNES, 2007). O vetor L. longipalpis é conhecido popularmente como mosquito palha, birigui ou tatuquiras. É um inseto pequeno, díptero (FIGURA 7) e reproduz em locais com muita matéria orgânica em decomposição e umidade (BRASIL, 2006; COSTA, 2011 apud SCHIMMING, 2012). Além disso, Apresenta grande capacidade de adaptação em diversos ambientes, aumentando muito a densidade destes insetos dentro e ao redor das habitações humanas, facilitando a transmissão do agente (BARATA, 2005). A fêmea de flebotomíneo adulto, após repasto sanguíneo em hospedeiro vertebrado, engorgitada pode ser encontrada em variados ambientes, geralmente desprovidos de qualidade sanitária (FIGURA 7). Figura 7: Fêmea de flebotomíneo adulto, após repasto sanguíneo, engorgitada: Fonte: BRASIL, 2006. 35 As fêmeas de L. longipalpis alimentam-se de sangue durante o crepúsculo, com maior frequência entre 19 e 23 horas, de vários animais, especialmente galinhas, roedores, cães e do homem (LAISON e RANGEL, 2005 apud FREITAS, 2010). Sua população aumenta nas épocas de altas temperaturas e umidade relativa do ar, que coincidem com o período de maior transmissão, ocorrendo predominantemente durante as estações chuvosas, quando os insetos invadem os domicílios para se alimentar de sangue de humanos e cães (BORASCHI e NUNES, 2007). O vetor ovipõe em locais úmidos, como pequenas fendas ou buracos no solo, instalações de animais ou em cama de folhas, pois as larvas buscam alimentação na matéria orgânica acumulada. Há quatro estádios larvais antes da pupação. Os períodos para completar os estádios são variáveis, pois dependem da temperatura, onde a diminuição e o aumento promovem maior tempo e menor tempo para o desenvolvimento, respectivamente. Em experimentos in vitro as larvas eclodem em aproximadamente 10 dias, seu desenvolvimento ocorre em torno de três semanas e o flebotomíneo adulto emerge da pupa em 10 dias. Os estádios anteriores ao vetor adulto são difíceis de serem encontrados na natureza, mas de maneira geral se reproduzem em locais ricos em matéria orgânica (WHO, 2010). 36 Fatores de risco para a ocorrência da LV podem ser relacionados em: (A) Condições socioambientais e sanitárias desfavoráveis, (B) Presença do flebotomíneo no peridomicílio e intradomicílio, (C) Fonte de repasto para o vetor e posterior infecção de animais e humanos desprotegidos (FIGURA 8). Figura 8: Fatores de risco para a ocorrência da LEISHMANIOSE VISCERAL: Fonte: Adaptado de- (A) Arquivo Programa ChiCão, (B) WHO, 2010, (C) WSPA, RSPCA. A infecção ocorre quando fêmeas de L. longipalpis ingerem sangue sugado de animais infectados, ingerindo macrófagos contendo formas amastigostaS. No trato digestivo do inseto há liberação dessas formas parasitárias que passam pelo processo de divisão binária e assumem a forma flagelada denominada promastigota que se converte em paramastigota. Os parasitos colonizam o esôfago e a faringe do vetor, se diferenciam em formas infectantes, promastigotas metacíclicas. O ciclo do parasito no inseto se completa em 72 horas (BRASIL, 2006; MACHADO, HOLFFMANN e LANGONI, 2007; WHO, 2010), sendo a hematofagia necessária para as fêmeas do flebotomíneo somente para a maturação dos ovários (DIAS, LOROSA e REBÊLO, 2003). Após este período, as fêmeas infectadas ao realizarem novo repasto sanguíneo liberam as formas infectantes juntamente com a saliva do inseto. Na epiderme do hospedeiro, estas formas são fagocitadas por células do SMF, onde diferenciam-se em amastigotas que multiplicam-se intensamente até o rompimento das células, liberando as amastigotas que serão fagocitadas e assim disseminando 37 o agente para outros tecidos ricos em células do SMF, como linfonodo, fígado, baço e medula óssea (MO) (BRASIL, 2006; MACHADO, HOLFFMANN e LANGONI, 2007). Condições sócio ambientais, como o desmatamento, reduziram a disponibilidade de animais que serviam como fontes de alimentação para o vetor, colocando o cão e o homem como fontes de repasto. Muitos fatores interrelacionados têm sido considerados determinantes no aumento das endemias, como exploração de terras, interrupção de inquéritos epidemiológicos, aumento das áreas ocupadas por moradias inadequadas e más condições sanitárias, proporcionando acúmulo de material orgânico para reprodução dos vetores (ELKHOURY, 2005; CAMARGO, 2007; BORASCHI e NUNES, 2007; WHO, 2010). 2.4.2 O cão e a leishmaniose visceral O cão há muitos anos, é incriminado como reservatório doméstico potencial da LV. Seu papel como reservatório doméstico na LV está mais elucidado do que na leishmaniose tegumentar (ALVES, 2005). O calazar canino, do ponto de vista epidemiológico, é considerado mais importante que a doença humana, pois além de ser mais prevalente, apresenta grande contingente de animais infectados com parasitismo cutâneo, que servem como fonte de infecção para insetos vetores. Estas características tornam o cão principal reservatório do parasito, porém, em epidemias, o ser humano também pode ocupar esse papel (GOMES, 2005; KONTOS, 1993 apud FARIA, 2007). 38 A dinâmica da infecção por L. infantum no hospedeiro canino depende de vários fatores e alguns são apresentados no QUADRO 5. Quadro 5: Fatores que interferem na dinâmica da infecção por Leishmania infantum no hospedeiro canino: Dinâmica da infecção por L. infantum I. Período de transmissão; II. Preferências dos vetores na alimentação e repasto; III. Densidade do vetor; IV. Densidade e suscetibilidade da população canina; V. Forma de vida do cão (Exemplo: se o cão tem acesso à rua, vive no intradomicílio ou peridomicílio, provém de zona rural ou urbana); VI. Presença de outros reservatórios (galinhas, porcos, marsupiais, canídeos silvestres ou outros cães), além da postura do dono nos cuidados com o animal; VII. Formas de prevenção da infecção. Fonte: Adaptado de TORRES, 2012. A transmissão da L. infantum ocorre após o repasto do vetor infectado no cão e não foi verificada predisposição racial, sexual ou etária relacionada com a infecção do animal. Em cães susceptíveis após a infecção da pele, ocorre disseminação do parasito por todo o corpo com posterior desenvolvimento dos sintomas. O aparecimento dos sinais vai depender da imunocompetência do animal. Geralmente, a doença no cão é sistêmica e crônica, no entanto, a evolução aguda e grave pode levar o animal ao óbito em poucas semanas. Em alguns cães, a doença pode permanecer latente, levando inclusive à cura espontânea. No Brasil, a forma assintomática da doença é encontrada com índices variados, geralmente representa 40 a 60% da população soropositiva (BRASIL, 2006; WHO, 2010). As formas clínicas podem ser assintomáticas, em que as manifestações clínicas não existem ou então são muito limitadas, e as formas patentes ou sintomáticas, com clara manifestação clínica da infecção (BRASIL, 2006; WHO, 2010). 39 2.4.3 Diagnósticos Oficiais da LVC no Brasil Os métodos diagnósticos sorológicos da LVC, recomendado pelo Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose para os órgãos de saúde pública no Brasil até ao final do ano de 2012, eram o Ensaio Imunoenzimático (ELISA L. major like) como método de triagem e a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI L. major like), (titulação ≥ 1:40), como confirmatório, utilizados na rotina e nos inquéritos caninos em municípios onde já houve registro da doença, produzidos pelo laboratório Bio-Manguinhos (GALLEGO, 2OO9; BRASIL, 2011). Porém, vários estudos já demonstraram que nas abordagens diagnósticas utilizadas na rotina da saúde pública no Brasil, no caso o RIFI, existe alta probabilidade de reatividade cruzada com outros tripanosomatídeos e infecções por outras espécies de Leishmania (por exemplo, L. braziliensis), devido à baixa diluição utilizada (1:40) (LUCIANO, 2008; TORRES, 2012; FARIA e ANDRADE, 2012; RIBEIRO, 2012). Por isso, apenas diante da titulação acima de 1:160 deve-se considerar o cão positivo (RIBEIRO, 2012). O estudo realizado por Ferreira em 2007 apud Barichello (2010), demonstrou a ocorrência de reações cruzadas, utilizando os métodos ELISA e RIFI, ambos do laboratório Bio-Manguinhos, com Trypanosoma cruzi, L. brasiliensis, Toxoplasma gondii e Erlichia canis. A partir de novembro de 2012, o MS substituiu a RIFI pelo teste rápido imunocromatográfico (DPP) como teste de triagem e determinou o ELISA como confirmatório. Espera-se, com o novo teste de triagem solucionar ou minimizar alguns problemas enfrentados, tais como, reduzir o número de falsos positivos e agilizar a retirada de animais infectados (BRASIL, 2011). Ainda assim, a confirmação parasitológica não faz parte dos testes oficiais, mas é onerosa e inexequível para o serviço de saúde pública de modo que o resultado positivo na sorologia significa execução do animal (GENARO, 2003 apud SÁ, 2006; RIBEIRO, 2012). 40 2.4.4 Prevenção e controle da LVC O controle contínuo e bem conduzido apresenta excelentes resultados, mas devem ser duradouros, requerem vigilância epidemiológica pertinaz e obstinada, pois caso contrário, os focos ressurgem e o esforço realizado anteriormente é anulado (SÁ, 2006). Além disso, a educação deve ser preconizada como controle cultural da LV, por tornar participantes diversas camadas da população e por democratizar atitudes capazes de beneficiar as práticas de controle (FREIRE, 1989; LUZ, apud BORGES, 2008). O MS (2004) recomendou que as ações no controle da LV, sejam centradas, entre outras, no controle do reservatório doméstico, por meio da realização de inquéritos sorológicos, amostrais e censitários em áreas de transmissão e do sacrifício de animais sororreagentes ou doentes. As demais ações de controle (vetorial, educação em saúde, diagnóstico e tratamento dos casos humanos) devem ser realizadas de forma integrada para assegurar a efetividade das atividades. A OMS reconhece que o sacrifício dos cães infectados, na maioria dos países, se reserva cada vez mais para casos especiais, como resistência aos fármacos utilizados no tratamento, recaídas repetidas ou situações epidemiológicas perigosas, pois a maioria dos veterinários prefere administrar tratamento acompanhando atentamente as recaídas. Os fármacos anti-leishmaniótico são antimoniais pentavalentes, aminosidina, anfotericina B e alopurinol, cuja utilidade tem sido demonstrada no controle das recidivas da LV em cães (RIBEIRO e MICHALICK, 2001). Porém, o tratamento da LVC no Brasil é proibido, devido aos fármacos utilizados serem de uso humano e não registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2008). Assim como no Brasil, a LV está presente na Europa, de forma endêmica. Nesse continente, a maior parte dos países atingidos encontra-se na região do Mediterrâneo, sendo o cão o principal reservatório, mas com a consideração de que como animal de companhia o mesmo é considerado “o melhor amigo do humano”, tornaram inviável e ineficaz em tal continente, programas de controle baseado na eliminação da população canina infectada (RIBEIRO e MICHALICK, 2001; ARAGÓN, GÓMEZ, CARBAJO e BUEY, 2005). Com o tratamento dos animais, estudos apontaram que após o uso de combinações com alopurinol e antimoniais 41 durante seis meses, 85% dos animais apresentaram xenodiagnóstico negativo (ARAGÓN, GÓMEZ, CARBAJO e BUEY, 2005). Sendo assim, o sacrifício dos cães soropositivos no controle da doença vem sendo muito discutido no meio científico. O impacto do controle da LV pelo método de eliminação dos cães soropositivos, infectados ou doentes se mostrando conflitante por se mostrar trabalhoso, de eficácia duvidosa e desagradável para os médicos veterinários e os proprietários (CAMARGO, 2007). Além disso, pelo fato da comunidade desprezar muitas vezes, a obrigatoriedade do sacrifício dos cães soropositivos, muitos animais são levados para outros municípios ou abandonados nas ruas, o que promove a disseminação da doença, além do aumento na taxa de reposição de cães, na maioria das vezes, filhotes, portanto, com o sistema imunológico mais frágil, concluindo que esse ciclo banaliza o vínculo homem-animal e contribui para a ineficácia das políticas de controle da LV (CIAMPI, 2005). No estudo realizado por Andrade e outros (2007), no município de Araçatuba, Estado de São Paulo, avaliou a reposição de animais em residências que tiveram cães sacrificados pelo CCZ e demonstrou nas residências visitadas após um ano do sacrifício dos cães, que 45% da população canina já havia sido reposta, sendo que 19% dessa reposição ocorreu com mais de um animal, demonstrando que apesar dos seus animais terem sido sacrificados, os ex-proprietários não se privam do direito de terem cães como animal de estimação ou guarda. Essas ações contribuem para a renovação da população canina, principalmente animais mais jovens, além de menor controle populacional, acarretando prejuízos à saúde pública e ao bem estar dos animais e dos seres humanos. O processo de sacrifício de cães sororreagentes para LV é alto e de pouco impacto, o custo chega a R$140,00 (cerca de US$65,00) por animal. Assim como ocorre em outras áreas da saúde, a implementação de medidas preventivas em grande escala tende a revelar-se economicamente mais vantajosa. Essa constatação ganha relevância no contexto dos países em desenvolvimento, onde as limitações financeiras frequentemente servem de justificativa para o não atendimento de inúmeras necessidades (CIAMPI, 2005). Não existem evidências quanto à efetividade do abate de cães para a diminuição da LV, devendo esta ação ser abandonada como estratégia de controle 42 da doença, Além das implicações éticas e distorção dos dados científicos para erroneamente dar suporte político à eliminação dos animais (COSTA, 2011). Dessa forma, a educação em saúde torna-se fundamental no controle da LV, pois uma população informada sobre a gravidade da enfermidade pode contribuir para sua prevenção e controle. Tal processo de conscientização pode ser iniciado nas escolas, com a vantagem dos estudantes levarem as informações para suas casas (GENARI, 2012). 2.4.5 Vacinação como método preventivo As atuais estratégias de controle da LV não têm se mostrado eficazes. Dessa forma, o desenvolvimento da vacina contra LVC surge como estratégia importante no controle da doença. A vacinação tem como objetivo proteger o animal da doença e impedir que se torne reservatório do parasito, servindo como fonte de infecção aos vetores (DALSECCO, 2010). Com a utilização de vacinas contra a LVC, a imunização em massa de cães poderá resultar na redução do reservatório susceptível ao parasito, assim como do número de cães infectados, com consequente diminuição na incidência de casos humanos e o abandono do abate de cães como principal método de profilaxia (SOUSA, 2009). Ações como a descrita podem ser desenvolvidas por diversos profissionais ou indivíduos capacitados (FIGURA 9). Figura 9: Estudante extensionista em campanha de imunização contra Leishmaniose Visceral Canina, no Município de São Joaquim de Bicas, Minas Gerais: Fonte: Arquivo pessoal, Programa ChiCão. 43 Uma vacina capaz de proteger o cão e, consequentemente, diminuir as taxas de transmissão para o homem será de grande importância como medida adicional na prevenção e controle da LV (BRASIL, 2009). No Brasil, são comercializadas duas vacinas (BRASIL, 2009), uma utiliza o antígeno de membrana de L. donovani, fucose manose ligante (FML), constituindose como uma vacina de primeira geração (Leishmune®) (BARICHELLO, 2010; DALSECCO, 2010). A segunda é recombinante e utiliza o antígeno A2, encontrado no núcleo de várias espécies de Leishmania, inclusive L. infantum. Utiliza na sua composição a bactéria Escherichia coli, que passa a produzir e secretar em larga escala o produto proteico do gene clonado que é então purificado e utilizado para a produção da vacina (Leish-Tec®) (HERTAPE CALIER, 2008). A vacina que Leishmune® é composta pela fração do complexo glicoproteico FML, isolada de promastigostas da L. donovani. Utiliza como adjuvante de imunidade a saponina, que possui potente capacidade de estimular a resposta imune ao antígeno, promovendo aumento na síntese de várias citocinas, como IFNy, IL2, IL12 e TNF (COX e COUTER, 1997 apud BARICHELLO, 2010). A vacina comprovou ser segura e altamente imunogênica para cães (DA SILVA, 2001, BORJA-CABRERA, 2002 apud BARICHELLO, 2010). Resultados obtidos a partir dos experimentos da fase III demonstraram que do total de cães vacinados com a vacina Leishmnune®, obteve-se 92-95% de proteção e 76-80% de eficácia, demonstrando grande avanço na imunização contra a LVC (SOUSA, 2009). A segunda vacina se baseia na tecnologia de DNA recombinante (LeishTec®), derivadas de recombinações genéticas em microorganismos, sendo composta pelo antígeno A2. Utiliza também a saponina como adjuvante. Vários estudos demonstraram que o antígeno A2, específico do estádio amastigota da Leishmania, tem grande potencial como antígeno vacinal, pois anticorpos anti-A2 foram detectados em amostras de soro de pacientes e cães acometidos pela LV, mostrando que a proteína A2 é altamente antigênica (GHEDIN, 1997 e CARVALHO, 2002 apud HERTAPE CALIER, 2008). No estudo de Fase III, a vacina Leish-Tec® demonstrou, após acompanhamento de um ano dos cães testados, 82% de proteção e eficácia de 71% (FERNANDES, 2012). 44 O MS argumenta a possibilidade de que, uma vez vacinados (no caso com a Leishmune®), os cães passem a apresentar resultado sorológico reagente nos testes sorológicos aplicados, dificultando a identificação dos cães realmente infectados. Trabalhos realizados, entretanto, não comprovam esta preocupação (DALSECCO, 2010). No estudo realizado na cidade de Campo Grande- Mato Grosso, importante área endêmica para a LV, utilizou amostras de 110.000 cães (toda a população) no ano de 2007, Desse total, foram vacinados 5.680 cães com a vacina Leishmune®, após essa triagem, foram coletados soro de todos os animais do experimento e testados pelo ensaio oficial ELISA, utilizado na saúde pública do Brasil. Apenas 76 dos 5860 cães vacinados apresentaram reatividade sorológica ao teste, ainda confirmado pelos resultados de RIFi, constituindo 1,3% de toda a população vacinada. Os mesmos cães não mostraram anticorpos para a proteína de antígeno recombinante, além da negatividade no exame parasitológico que utilizou punções teciduais de linfonodo ou de medula óssea, comprovando a não infecção desse animais por L. infantum. Concluiu-se então, que apesar das preocupações em reações cruzadas do anticorpos vacinais e anticorpos produzidos perante a infecção natural, a imunização de cães não interferiu com o controle sorológico (SOUSA, 2009). Ainda assim, a OMS afirma que cães vacinados não podem ser distinguidos de cães infectados naturalmente (WHO, 2010). Na pesquisa realizada por Barichello, (2010); composta por 39 animais sadios previamente testados antes da vacinação com exames sorológicos foram imunizados com Leishmune® (três doses iniciais da vacina, com intervalo de 21 dias entre as doses, mais reforços anuais) e 48 cães naturalmente infectados com L. infantum. Os soros foram testados nos três métodos, e os resultados demonstraram que nenhum cão vacinado apresentou resultado positivo em mais de um teste. Apenas um cão vacinado (1/39) apresentou resultado de 1:40 na RIFI, e quatro cães (4/39) apresentaram resultado positivo no ELISA L. major-like. Nenhum soro de cão vacinado apresentou resultado positivo no ELISA S7. O único resultado positivo na RIFI foi negativo nos outros dois métodos, e os quatro soros positivos no ELISA L. major-like foram negativos tanto na RIFI quanto no ELISA S7. Estes resultados demonstraram que se os soros de cães vacinados forem testados em dois métodos (ELISA e RIFI), a possibilidade de apresentarem resultado positivo será remota. 45 Desta maneira, a vacinação de grande quantidade de cães não dificultaria as ações atualmente empregadas para o controle da LVC, mas poderia, ser somada as medidas já adotadas, evitando assim o sacrifício de cães (BARICHELLO, 2010). As vacinas registradas no MAPA cumprem com os requisitos técnicos de eficácia, vigentes no momento da concessão dos registros. Entretanto, o MS ainda não recomenda seu uso em Saúde Pública, pois estão sendo realizados estudos para avaliar a associação entre a proteção canina (já confirmada cientificamente) com a queda nos casos humanos (DALSECCO, 2010). Em dezembro de 2012, o MAPA e o MS aprovaram o estudo de fase III da vacina LEISH-TEC®, recomendando a vacinação de cães assintomáticos com sorologia negativa para a LVC, juntamente com as outras medidas já adotadas no país. A vacina Leishmune® ainda tem a fase III sob análise (BRASIL, 2013). 2.4.6 Controle do vetor como método preventivo O objetivo dos programas para controle de vetores é reduzir ou interromper a transmissão da doença. Uma estratégia eficaz para reduzir a LV se dá através do controle de vetores flebotomíneos. Existem várias formas de controle que exercem grande impacto sobre a população de vetores, porém, deve-se envolver mais de um método e de forma integrada na gestão do mesmo. Essa ação depende da adequada compreensão da epidemiologia local da doença, estudo detalhado das espécies de flebotomíneos, do local a ser abordado, assim como o habitat, faixa de voo, locais de acúmulo de matéria orgânica, locais de repouso e sazonalidade (NEVES, 2005; WHO, 2010). Dentre as medidas profiláticas contra a LV, o controle do vetor tem se mostrado eficaz na prevenção da doença. Diversas ações podem ser adotadas, visando a esse controle no animal e no ambiente (HERTAPE CALIER, 2008). O uso de inseticidas tópicos com eficácia comprovada contra picadas de flebotomíneos tem se mostrado para redução da incidência da LV em cães de forma significativa (por exemplo: Brasil, Itália e Tunísia) e humanos (República do Irã), dependendo do nível de endemia na região (WHO, 2010). 46 2.4.6.1 Controle do vetor no ambiente Para que se tenha sucesso no controle de vetores que transmitem a L. infantum, é preciso a utilização de vigilância entomológica no Programa de Vigilância e Controle da LV, que tem como objetivo levantar as informações de caráter qualitativo e quantitativo sobre flebotomíneos transmissores da LV. Qualitativamente a simples presença do vetor L. longipalpis e/ou L. cruzi é um indicador de risco de transmissão. O conhecimento da distribuição espacial do vetor, a fim de estabelecer prioridades em áreas ou setores urbanos ou localidades rurais, nos quais deverão ser desencadeadas as ações de prevenção e controle do vetor e, a priorização de setores ou localidades que serão avaliados quanto à presença de enzootia canina ou das taxas de prevalência canina. Quantitativamente a vigilância vetorial permite obter indicadores de densidade vetorial por domicílio, a fim de estabelecer a curva de sazonalidade dos vetores e, avaliar o impacto das ações de controle ao vetor (NEVES, 2005). Medidas de controle, através de saneamento ambiental consistem em medidas mecânicas, que alterem as condições propícias para o estabelecimento de criadouros ou de repouso, ou ainda, que impeçam desenvolvimento larvário, por meio de limpeza de quintais, terrenos e praças públicas; limpeza urbana e eliminação de resíduos sólidos orgânicos, bem como o destino adequado dos mesmos (NEVES, 2005, BRASIL, 2006, FREITAS, 2010), além do plantio de plantas repelentes naturais (NEVES, 2005; HERTAPE CALIER, 2008). Recomenda-se borrifação com inseticidas à base de piretróides, (NEVES, 2005; HERTAPE CALIER, 2008), porém, esse método apresenta inúmeras dificuldades, especialmente relacionadas à recusa da população em permitir a entrada dos agentes de controle a endemias (ACEs) dentro dos imóveis para tal prática, sobretudo em imóveis onde residem pessoas alérgicas, idosas ou acamadas. O impacto ambiental e à saúde dos trabalhadores desta ação também precisa ser revisto, principalmente quando se buscam novas alternativas de produtos para substituir os piretróides (FREITAS, 2010). O controle peri e intradomiciliar é importante, sendo benéfico a colocação de telas do tipo malha fina nas portas e janelas das casas, nos canis, clinicas veterinárias, hospitais veterinários e canís públicos, visando, dessa forma, reduzir o contato de flebotomíneos com cães e humanos (BRASIL, 2006; WHO, 2010). 47 2.4.6.2 Controle do vetor no reservatório canino A utilização de inseticidas tópicos ou repelentes naturais em loções ou incorporados em coleiras tem se mostrado método auxiliar eficaz contra a LV. Estes exercem efeito repelente e letal sobre os flebotomíneos, minimizando a possibilidade de ocorrência do repasto sanguíneo e, consequentemente, de infecção do animal (HERTAPE CALIER, 2008). Os cães devem ser protegidos das picadas de flebotomíneos através de várias ações aplicadas no próprio animal e no ambiente que o cerca, apresentadas no QUADRO 6. Quadro 6: Medidas de prevenção às picadas de flebotomíneos em cães Prevenção às picadas de flebotomíneos em cães I. Manter o cão dentro do domicílio no período crepuscular, ao qual, há maior atividade dos vetores, privilegiando os passeios diurnos; II. Redução de microambientes favoráveis à oviposição e posterior desenvolvimento do vetor; onde o animal frequenta e na vizinhança, através da retirada de matéria orgânica excessiva; III. Uso de inseticida ambiental, com aplicação centrada nos canis e em locais onde o cão permanece por mais tempo, como aqueles à base de deltametrina e cipermetrina, em aplicações semestrais; IV. Uso de inseticidas e repelentes no cão, tais como: colar impregnado com deltametrina à 4%, substituído a cada seis meses, em caso de reação alérgica ao colar, utilizar inseticidas de ação tópica à base de permetrina a cada 15 a 30 dias e em áreas de alta prevalência e/ou em cães com presença de amastigotas na pele, as duas indicações anteriores são recomendadas. V. Uso de plantas repelentes de insetos, como a citronela e a neem. Fonte: Adaptado de RIBEIRO, 2007 ; GALLEGO, 2009. Em condições experimentais, diversos trabalhos demonstraram a eficácia na utilização de coleiras impregnadas com deltametrina à 4%, como medida de proteção individual para os cães contra picadas de flebotomíneos, sendo gradualmente distribuído pelo tecido adiposo do subcutâneo dos cães dentro de uma 48 a duas semanas e em condições ideais, o efeito repelente desses colares podem durar por até seis meses (GALLEGO, 2009). Entretanto, para a sua adoção em programas de saúde pública, a fim de interromper o ciclo de transmissão doméstico, é necessária a implementação de estudos longitudinais que demonstrem sua efetividade como medida de controle (BRASIL, 2006). Sendo assim, desde junho de 2012, o MS iniciou nova estratégia para conter o avanço da LV no Brasil através do encoleiramento em massa de cães a partir do uso de coleiras impregnadas com deltametrina à 4%, que engloba doze cidades em sete estados brasileiros: Piauí, Mato Grosso do Sul, Pará, Ceará, Maranhão, Tocantins e Minas Gerais, nos quais, bairros com transmissão intensa são escolhidos. A previsão de duração do Programa é de 42 meses (MSD, 2012). Com isso, espera-se que a utilização do encoleiramento em grande escala, produza extensão do efeito protetor também aos animais não encoleirados, reduzindo-se a força de infecção pela barreira imposta pela coleira (ORLANDI, 2011). Além disso, tendo em vista que o poder de infectar os vetores poderia persistir no animal tratado, o encoleiramento permitirá pleitear a liberação do tratamento terapêutico (sem ser picado, o cão não transmite a infecção) (ORLANDI, 2011). Formulações de spray e spot-on a base de permetrina também oferecem elevados níveis de proteção, apesar de ter menor duração, duas e três semanas, respectivamente (GALLEGO, 2009). De qualquer forma, estudos de campo demonstraram que alguns inseticidas tópicos e colares utilizados em populações caninas têm sido eficazes na redução da transmissão de agentes patogênicos (GALLEGO, 2009). 49 3.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS A relação estabelecida entre seres humanos e animais ultrapassa milênios e sua complexidade envolve a saúde e o bem estar de todos. Muitos problemas surgiram dessa inter-relação, como maus tratos e descontrole populacional de cães e gatos, consequência daqueles que, por falta de educação e consciência ainda os consideram objetos, além das zoonoses, como a LV, grande preocupação da saúde pública. A antiga “carrocinha”, atualmente os Centros de Controle de Zoonoses, procuram tornar-se mais “humanizados”, preocupando-se com o bem estar dos animais e de todos os setores envolvidos. Contudo, a continuidade do recolhimento e sacrifício de cães soropositivos para LV como principal método de controle da doença, não encontra respaldo científico, é impopular e surtiu pouco impacto depois de meio século de sua realização como medida principal do controle da LV. Nesse aspecto, a vacinação contra a LVC e o controle do vetor com a participação da comunidade em todo o processo pode trazer modificações benéficas e duradouras. Ações voltadas para mudar o conceito de que animais são seres insensíveis e inconscientes, assim como o manejo racional da população de cães e gatos, existem e devem estar interligadas diretamente à educação libertadora e transformadora como princípio de todo o processo, modificando a cultura antiga, de forma a melhorar as condições de vida dos seres que nos trazem benefícios sociais, físicos e psicológicos. Somente a educação fornece metodologias para a efetiva mudança, que deve partir não somente dos órgãos públicos, mas de todos, como as comunidades, escolas e universidades com seus discentes e docentes e ONGs a favor do bem maior. Dessa maneira, cães e gatos terão dignidade na sua domesticação e os humanos poderão conviver de forma saudável com esses seres. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Cecilia Goi Porto;et al. Dimensionamento da população de cães e gatos do interior do Estado de São Paulo. Rev. Saúde Publica; 39 (6), p. 891-897, 2005. 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