TRANSFORMAÇÕES DA FAMILIA NUCLEAR PARA A FAMÍLIA CONTEMPORANEA: NOVAS CONFIGURAÇÕES (2012) 1 BOTTOLI, Cristiane2; BÜRGER, Raquel Baptista3; CASTRO, Luiza Manassi4; FERRÃO, Natacha da Rosa5 1 Trabalho Grupo de Extensão: Refletindo sobre a parentalidade e a separação conjugal: Grupo de pais _UNIFRA 2 Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 4 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 5 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; RESUMO A família contemporânea tem criado formas particulares de organização, não mais se limitando à família nuclear (pai, mãe e filhos dos mesmos pais), essas formas são consequências adquiridas ao longo do tempo através de determinados fenômenos. O presente artigo visa identificar esses fenômenos e a partir deles encontrar formas de atuação do psicólogo nessa família contemporânea, com a finalidade de promover e facilitar melhores níveis de saúde a seus membros. Considerando tais aspectos o artigo teve como objetivos realizar uma reflexão sobre estes fenômenos e o papel do psicólogo nessa família contemporânea. Foi utilizado como metodologia, revisão de literatura, através de artigos, livros e revistas. Com elaboração deste, tivemos como resultados que mesmo com a diversidade, e as variadas formas de família não devemos focalizar somente na estrutura desta, mas sim no seu funcionamento e na relação que se dá entre os membros da família. Palavras-chave: configuração familiar; família contemporânea; família nuclear; funcionamento; diversidade. 2. METODOLOGIA 1 O presente trabalho foi elaborado por meio de pesquisa bibliográfica, explorando artigos, livros e discussões a cerca do assunto, com a finalidade de esclarecer ideias e conceitos sobre essas questões da família contemporânea e também proporcionar questionamentos sobre o assunto. Foram utilizados também como subsídios as discussões realizadas no Projeto de Extensão, intitulado: Refletindo sobre a parentalidade e a separação conjugal: Grupo de pais. 3. DESENVOLVIMENTO Séculos se passaram e com eles, mudanças significativas na família escrevem a história atual. A família contemporânea tem criado formas particulares de organização, não mais se limitando à família nuclear (pai, mãe e filhos dos mesmos pais), mas a uma forma distinta e decorrente dos tempos modernos, onde os casais se unem e se desunem por diversas vezes e passam a conviver ou não, com filhos, frutos de antigas relações conjugais e filhos que nascem de suas novas uniões (SZIMANSKY, 1992; WAGNER, 2002). Mas os modelos atuais nem sempre foram assim. São consequências adquiridas ao longo do tempo, através de determinados fenômenos sociais, políticos, econômicos, afetivos, sóciopolíticos, até mesmo o avanço da tecnologia, trazendo assim novas configurações de familiares. Gomes (1988) assim define a família tradicional, Uma união exclusiva de um homem e uma mulher, que se inicia por amor, com a esperança de que o destino lhes seja favorável e que ela seja definitiva. Um compromisso de acolhimento e cuidado para com as pessoas envolvidas e expectativa de dar e receber afeto, principalmente em relação aos filhos. Isto, dentro de uma ordem e hierarquia estabelecida num contexto patriarcal de autoridade máxima que deve ser obedecida, a partir do modelo pai-mãe-filhos estável (Gomes, apud Szymanski 1995, p.25.) O conceito de família de Gomes (1988) condiz com o significado encontrado no Dicionário Aurélio (2008) “Família: 1. Pessoas aparentadas que vivem ger., na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. 2. Pessoas do mesmo sangue [...] *Família elementar ou família nuclear. Antrop: A que é constituída pelo casal e seus filhos” (p. 243). A família se organizava em torno da figura do pai, fechada em sua intimidade e com determinado padrão de educação para os seus filhos. Ao longo dos anos, vem passando por 2 mudanças significativas na sua estrutura e as ações e atitudes de cada membro passaram a afetar os outros e vice-versa (WAGNER, 2002). Hintz (2001), afirma que o homem por ter o poder econômico da família detinha o poder sobre ela, enquanto que para a mulher sempre permanecia a sombra do dono da casa, cabendo-lhe apenas os afazeres domésticos, pois, foi somente em 1943, segundo a Legislação Brasileira, que a mulher casada conseguiu o direito de poder trabalhar fora de casa sem precisar da autorização do marido. Para Scavone (2001), tais mudanças ocorridas nas últimas décadas contribuíram não somente para uma nova configuração familiar, mas também para uma mudança de papéis dentro de casa, onde a ideia de uma mulher-indivíduo começou a se impor frente à ideia da mulher-natureza, destinada a ser mãe e dona-de-casa. Isso não quer dizer que esta nova mulher ao trabalhar fora de casa deixará de ser a dona de casa. A mulher atual almeja o sucesso pessoal incluindo em seus ideais de vida a realização profissional sem deixar de participar na subsistência da família (WAGNER, 2002). As transformações paradigmáticas, ocorridas principalmente a partir de meados do século XX, no que diz respeito à configuração e ao funcionamento familiar, provocaram alterações na estrutura e na dinâmica de suas relações, contribuindo para a concepção contemporânea de família. Essas modificações têm acarretado mudanças nos padrões de funcionamento entre seus membros, levando a um processo de assimilação e de construção de novos modos de relacionamento (WAGNER et al, 1999). Neste contexto, a figura do pai, também se modificou, caracterizando-se atualmente como mais afetivo e presente na vida da família e dos filhos, sendo ainda o responsável maior por dar limites e “soltar’’ as amarras dos filhos. A mãe tem uma tendência a proteger a prole, transmitindo valores como acolhimento e proteção. Já o pai estimula a independência dos filhos e “corta’’ o excesso de proteção da mãe. Seu papel é muito importante na construção da autonomia e da ousadia da criança. A diferença é que antes, a autoridade paterna era acompanhada do medo que as crianças sentiam frente a uma figura tão severa e distante. Hoje, esse processo ocorre de maneira mais saudável, já que os pais atuais não se fazem entender apenas no grito (BURIESCO, 2011). O fato de a mulher estar mais inserida no mercado de trabalho é outro elemento que contribuiu para as novas configurações familiares, pois além delas não serem mais tão dependentes dos homens, por estarem inseridas nesse mercado, conseguem ter suas vidas 3 mais independentes, criando seus filhos sem serem casadas, dando origem a um grande número de famílias monoparentais. Outro fator é o aumento das separações, que segundo IBGE (2009), em todos os Estados brasileiros, a maior porcentagem de separações não consensuais foi requerida por mulheres, sendo estas 71,7% do total. A expressão “famílias monoparentais”, termo originariamente da França, desde a metade dos anos setenta, designa as unidades domésticas em que as pessoas vivem sem cônjuge, com um ou vários filhos (VITALE, 2002). Portanto, qualquer pai ou mãe que conviva com um ou vários filhos, sem o cônjuge serão consideradas família monoparental. A respeito desse modelo familiar Diniz (2002) apresenta em sua obra a análise de que, A família monoparental ou unilinear desvincula-se da ideia de um casal relacionado com seus filhos, pois estes vivem apenas com um dos seus genitores, em razão de viuvez, separação judicial, divórcio, adoção unilateral, não reconhecimento de sua filiação pelo outro genitor, produção independente, etc. (p.11). Além disso, outras causas dessa nova configuração familiar pode ser a produção independente materna no qual encontramos hoje em dia; um caso de adoção, de viuvez; pode ser também um caso em que o pai decide não fazer parte da criação desse filho se desligando também dessa mulher com a qual o concebeu, ou ainda o caso do pai ser deixado de fora pela figura materna sem possibilidades de acompanhar o desenvolvimento dos filhos; além disso, o meio social pode não lhe outorgar as possibilidades de se colocar na cadeia produtiva para ser o provedor na família, causando seu afastamento (WEISSMANN, 2008). Desta forma, o desenlace conjugal pode acarretar numa série de mudanças no cotidiano da família, com alterações no desempenho dos papéis parentais e no relacionamento entre pais e filhos (BRITO, 2008). Ao ocorrer a separação, na maioria dos casos, um dos membros do grupo familiar fica responsável pelos cuidados dos filhos sendo denominado guardião, acumulando diversas atribuições. Já o genitor que não reside com os filhos, conforme Torraca, Ribeiro e Dominomi (2010) têm como definição genitor visitante, pois visita o filho, participando pouco de sua vida, ficando, muitas vezes afastado de alguns direitos e deveres parentais, sendo assim um genitor classificado como “pai/mãe de fim de semana’’. 4 Outra questão a ser discutida, e que caracteriza outra configuração familiar, se refere a quando um dos pares recasa, constituindo assim uma nova família, buscando uma nova tentativa de casamento, ou recasamento. A palavra recasamento está longe de ser a melhor expressão para designar esta nova união, já que o uso do prefixo "re" traz a ideia de repetição, de reformulação e de recriação, o que, por sua vez, nos remete a pensar em remendo e reconstituição, trazendo uma conotação negativa, como se antes existisse uma união mais original ou verdadeira. Desse modo, a família nuclear é ainda vivenciada como mais valorizada e legítima, como se o que fugisse a esse padrão fosse de menor valor (BRUN, 1999, apud TRAVIS, 2003). Segundo Cano et al (2009), muitos recasamentos acabam ocorrendo de modo consensual, ou seja, sem qualquer registro ou procedimento legal, assim, constata-se que o número de divorciados que se casam novamente é muito elevado. Acrescido a isso, tem-se o aumento do índice de divórcios, de modo que se pode inferir que, atualmente, os recasamentos devam ocorrer em números mais elevados do que demonstram os dados estatísticos disponíveis. Para Féres-Carneiro (2003), muitos casais buscam o divórcio por acreditarem que o casamento possa ser algo mais do que aquilo que suas relações oferecem. Isso pode ser também compreendido com a afirmação de Carter e McGoldrick (1995) de que, no recasamento, as pessoas buscam encontrar a satisfação de expectativas anteriores ao primeiro casamento. Aumentando assim a expectativa de vidas das pessoas após o divórcio, buscando relacionamentos mais felizes do que o anterior. No caso das “famílias reconstituídas” ou “recompostas” há estatísticas que indicam um crescente aumento de crianças que vivem nesta configuração de lar com apenas um genitor (STRATTON, 2003). No passado, a existência de famílias constituídas por um genitor decorria, geralmente, da morte do pai. Hoje, na maioria delas, o pai está vivo, mas não presente, sendo essa presença substituída algumas vezes pela do padrasto. Esta configuração de família é cada vez mais habitual em nossa sociedade. Mas não podemos esquecer que as “famílias reconstituídas”, por sua vez, “requerem considerável ajustamento por parte de todos os seus membros e as dificuldades podem continuar por muitos anos após a inserção do padrasto ou madrasta na família” (STRATTON, 2003, p. 46). Neste caso, as crianças têm que se adaptar à diminuição do tempo despendido com seu pai/mãe e às mudanças na rotina da casa, enfrentar o conflito 5 que surge frequentemente entre a “lealdade” ao pai ou à mãe biológicos, e a formação de uma relação mais íntima com o padrasto ou madrasta e novos irmãos/irmãs (SCHÜSSLER, 2008). Nesses casos os jovens que coabitam com as figuras de padrasto, madrasta e filhos do padrasto ou madrasta, por mais de dois anos, tem considerado estes personagens como parte da família (WAGNER; BANDEIRA, 1996; WAGNER; FÉRES- CARNEIRO, 2000). Contudo, não podemos deixar de lado e esquecer que mesmo com essa diversidade de configurações familiares as famílias influenciam o futuro de uma pessoa e não importa se há ou não casamento, se é monoparental ou biparental, ela existe de variadas formas e arranjos, o importante é que ela exista, como confirma Hironaka (1999), Biológica ou não, oriunda do casamento ou não, matrilinear ou patrilinear, monogâmica ou poligâmica, monoparental ou poliparental, não importa. Nem importa o lugar que o indivíduo ocupe no seu âmago, se o de pai, se o de mãe, se o de filho; o que importa é pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças, valores, e se sentir, por isso, a caminho da realização de seu projeto de felicidade pessoal (p.2). Sobretudo, no mundo de hoje, não importa a estrutura da família e se existem ou não laços sanguíneos, o que realmente importa é fazer parte da essência familiar, do seu interior, a verdadeira família é aquela onde existem esforços de todos para o alcance de um bem comum. Wagner (2002) comenta que não há um “término da família” como era dito na década de setenta, ao contrário, cada vez mais surgem investigadores interessados em conhecer estes novos arranjos familiares com o objetivo de promover e facilitar melhores níveis de saúde a seus membros. A autora conclui que o maior desafio para aqueles profissionais que se propõe a trabalhar com a diversidade dos núcleos familiares é favorecer aos seus membros que esses núcleos sejam espaços de bem-estar para todos, é desejado que a família configure um espaço potencial capaz de oferecer a cada um de seus membros a possibilidade de vivenciar relações de verdadeira intimidade. 4. CONCLUSÃO O estudo mostrou que se faz necessário, compreendermos melhor as novas 6 configurações familiares e como estas vem se desenvolvendo na contemporaneidade. Através destes aspectos podemos identificar como se deu a trajetória desde a família nuclear até a família contemporânea, e as várias influências que vem através dos fenômenos sociais, políticos, afetivos, sócio-políticos, até mesmo do avanço da tecnologia. Notamos, que estas novas configurações mostram que a família não desapareceu, e sim continua se alterando e se adaptando as demandas da contemporaneidade. Com isto, independente da configuração, a família exerce um papel fundamental na vida de um individuo, onde mesmo com esta diversidade o afeto, o apoio, o sentimento e a dedicação não mudam, o importante é que ela exista, e que podemos fazer parte dela e assim nos desenvolvermos. 5. REFERÊNCIAS BRITO, L. (org.). Famílias e separações: perspectivas da psicologia jurídica. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2008. BURIASCO, S. 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