A Produção Acadêmica sobre Liderança no Brasil: Uma Análise Bibliométrica dos
Artigos Publicados em Eventos e Periódicos Entre 1995 e 2009
Autoria: Islania Andrade de Lira Delfino, Anielson Barbosa da Silva, Leonardo Rosa Rohde
RESUMO
A liderança constitui um dos mais complexos fenômenos que permeiam os estudos
organizacionais, apesar de muito explorado e discutido. Os estudos dos traços pessoais do
líder, dos estilos de liderança, da liderança contingencial, da nova liderança e da liderança de
equipes são as principais abordagens sobre o tema. Diante das tentativas de conceituação de
liderança, pontos comuns podem ser observados, como a visão da liderança como um
processo social, que envolve a interação entre líder e liderados e aspectos como influência,
relacionamentos e resultados. Este artigo tem como objetivo analisar como está configurada a
pesquisa acadêmica sobre liderança no Brasil no período correspondente aos anos de 1995 a
2009. Quanto aos aspectos metodológicos, trata-se de um estudo de natureza quantitativa,
sendo a coleta de dados realizada por meio de um levantamento e análise bibliométrica dos
artigos sobre liderança apresentados em todos os eventos da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Administração - ANPAD, e de periódicos nacionais
classificados como Qualis A e B pela Coordenação de Aperfeiçoamento e Capacitação de
Pessoal de Nível Superior – CAPES. Foram encontrados e analisados ao todo 88 artigos. Os
resultados mostram que os artigos sobre liderança são, em sua grande maioria, encontrados
em anais dos eventos promovidos pela ANPAD. Apenas 9% dos artigos analisados foram
publicados em periódicos no período correspondente a este estudo. Um total de 31 artigos
abordam somente aspectos do tema liderança, enquanto 57 deles relacionam liderança a um
outro tema vinculado aos estudos organizacionais. Os artigos apresentam-se em grande
número como estudos qualitativos ou quantitativos e em número reduzido como estudos
teóricos ou classificados como qualitativo-quantitativo. A maioria utilizou o questionário e a
entrevista como técnica de coleta de dados. Os autores mais referenciados nos artigos são, em
sua maioria, de origem estrangeira, observando-se que somente dois autores nacionais estão
entre os mais referenciados. Diante dos resultados encontrados, percebe-se que alguns
aspectos inerentes ao tema como o processo de liderança e os aspectos subjetivos que
envolvem a relação entre líderes e liderados, além da liderança de equipes, liderança
compartilhada e equipes auto-geridas, foram pouco explorados nos estudos nacionais.
Considera-se que a pesquisa nacional sobre liderança precisa focalizar nas novas visões
propostas na literatura, como as abordagens da nova liderança e da liderança de equipes, que
são propostas como formas mais viáveis ao estudo da liderança diante do cenário atual. Diante
da quantidade de estudos identificados nesse levantamento, conclui-se que a produção
acadêmica nacional envolvendo a liderança tem aumentado significativamente no Brasil nos
últimos anos, sobretudo em eventos. Um dos desafios a serem transpostos é ampliar a
publicação de artigos em periódicos qualificados com o objetivo de dar mais visibilidade ao
tema na comunidade científica e também no meio empresarial.
1 INTRODUÇÃO
Um dos temas mais estudados e discutidos na área de comportamento organizacional é a
liderança. O interesse pelo tema é perceptível nos dias atuais, e isso pode ser ratificado pelo
aumento da quantidade de estudos que emergem nos meios de divulgação de ensino, pesquisa
e promoção do conhecimento como livros, periódicos e encontros acadêmicos dentro do
campo das ciências administrativas. A título de exemplo, 55% dos trabalhos envolvendo o
tema nos anais do ENANPAD nos últimos 15 anos foram publicados entre 2006 e 2009.
Apesar de muito explorado, o tema é complexo (VAN SETERS; FIELD, 1990) e ainda
provoca muitos questionamentos. Na literatura atual, não há respostas totalmente rematadas
sobre a natureza da liderança (se inata ou adquirida) e sobre a principal influência em seu
processo (a figura do líder, os aspectos dos liderados ou a natureza da situação). O que tende a
se considerar é o meio-termo entre os extremos. Assim, o processo de liderança seria
composto por todos os elementos citados, mas de forma comedida, não descartando a
influência de cada um. (BOWDITCH; BOUNO, 2002; ROBBINS, 2005).
Bass (1981) apresenta diferentes formas de como a liderança vem sendo enfocada.
Alguns autores como Rowe (2002) e Pettigrew (1987) acreditam na importância da liderança
como fator estratégico e fonte de vantagem competitiva para as organizações. A influência e a
identificação do líder com o grupo (DAVEL; MACHADO, 2000) ou a influência do líder no
desempenho dos liderados (BASS, 1981; BOWDITCH; BOUNO, 2002; VECCHIO, 2005) e
na cultura da empresa (PARDINI, 2000; SILVA, 2002; SHEIN, 2009; SILVA; KISHORE;
REIS; BAPTISTA; MEDEIROS, 2009; VASCONCELOS; MERHI; SILVA JUNIOR;
MARTINS, 2009), englobam alguns exemplos de pesquisas que procuram desvendar alguns
dos vários aspectos envolvendo o tema.
Uma questão que merece destaque envolve a configuração da pesquisa acadêmica sobre
liderança e os principais direcionamentos dos trabalhos que abordam o tema e suscitou o
interesse na realização de um estudo que tem como objetivo identificar como está configurada
a produção científica sobre liderança nos artigos publicados nos eventos e nos periódicos da
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração – ANPAD e nas
revistas nacionais classificados como A e B pela Coordenação de Aperfeiçoamento e
Capacitação de Pessoal de Nível Superior – CAPES, no período de 1995 a 2009.
A importância da liderança nos processos organizacionais foi reconhecida nas edições
do EnANPAD e do EnGPR em 2009, uma vez que foi proposto um tema específico na área de
Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho. Dentro desta área, um estudo que compara a
percepção de acadêmicos brasileiros e norte-americanos sobre liderança conclui que estes
últimos estão mais engajados com o tema por meio do desenvolvimento e adoção de múltiplas
abordagens (apesar de que isso pode estar relacionado a outros fatores), enquanto que a
percepção dos brasileiros é de esgotamento do construto (SANT’ANNA et. al, 2009).
Por meio do levantamento de trabalhos sobre liderança nas publicações citadas
anteriormente, este estudo espera contribuir para a percepção de direcionamentos, principais
resultados e avanços na pesquisa sobre o tema. Embora a liderança seja um assunto dos mais
explorados, não se encontrou até então nas publicações da ANPAD um estudo investigativo
do que foi publicado sobre o tema em termos de quantificação de enfoques, métodos e
referências de artigos nacionais, considerando um período de tempo maior como o proposto
neste artigo.
Outro aspecto referente ao ineditismo e relevância da pesquisa é o uso da análise
bibliométrica que, apesar de cada vez mais recorrente na Administração nos últimos anos
como forma de avaliar o conhecimento científico produzido por meio de medidas
quantitativas, ainda é escassa no Brasil na área de Recursos Humanos (VIEIRA; FISCHER,
2005).
2
Para viabilizar o estudo, realizou-se um mapeamento dos trabalhos, e sua análise está
dividida em três partes: a) na primeira parte, são apresentados os dados gerais com o
levantamento da quantidade de autores por artigo, as principais vertentes conceituais; b) na
segunda parte, são levantados os procedimentos metodológicos utilizados e c) na terceira
parte são apresentados os aspectos gerais das referências constando as indicações dos autores
mais citados e a quantidade de citações nacionais e internacionais dos trabalhos. O estudo
conclui com um direcionamento sobre os aspectos que foram mais explorados na produção
científica sobre liderança e a sugestão de outros ainda pouco explorados que merecem atenção
no sentido de contribuir para o avanço da pesquisa envolvendo o tema. O referencial teórico é
apresentado a seguir.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nos estudos sobre liderança existem diferentes perspectivas quanto às definições e ao
delineamento do tema. O termo é considerado um dos mais complexos e multifacetados
dentro dos estudos organizacionais (VAN SETERS; FIELD, 1990). Diante da análise das
tentativas de conceituação, existem pontos comuns entre elas que podem ser observados como
por exemplo a visão da liderança como um processo social, que envolve a interação entre
atores (líder e liderados) e aspectos como influência, relacionamentos e resultados (SADLER,
2001; BERGAMINI, 2009). Apesar da vasta literatura, até hoje algumas questões emergem e
muitas vezes ficam sem uma resposta mais objetiva. Qual a melhor definição para o termo
liderança? Qual o papel do líder em uma organização? A grande quantidade de estudos e
teorias sobre liderança talvez justifique as dificuldades de definição do termo (BASS, 1981;
BERGAMINI, 2009). Na maioria das tentativas de conceituação de liderança que perduraram
até meados dos anos 80, o foco se estabelece na figura do líder como elemento principal, e
termos como influência, grupo e metas quase sempre estão presentes (BRYMAN, 2004).
Assim, liderança foi por muito tempo definida como o processo de influência de uma pessoa
sobre as ações de outra ou de um grupo para conduzir seus esforços no estabelecimento e
execução de metas (BOWDITCH; BOUNO, 2002; BRYMAN, 2004).
Estudiosos como Mintzberg (1990) ao pesquisar o trabalho dos gerentes, visualizam a
necessidade do desempenho de papéis informacionais, interpessoais e decisoriais. Dentre os
papéis interpessoais do gerente está, segundo o autor, o papel de líder que se relaciona com a
motivação e o incentivo aos subordinados de forma a conciliar suas necessidades individuais
com os objetivos da organização. Evidencia-se assim, nos estudos de Mintzberg o elemento
influência, seja pelo processo formal de autoridade, ou pelo exercício informal do poder,
citado anteriormente como um dos termos mais utilizados na definição de liderança.
Neste sentido, Davel (2005) acredita que um dos papéis do gerente perpassa pelas
relações de poder e pela mediação dos interesses entre organização e trabalho. Silva (2009)
define isso como a habilidade do gerente de conquistar seguidores para alcançar os objetivos
organizacionais. Hill (1999, p. 249) utiliza o termo “negociar interdependências”.
Assim, apesar da quantidade de conceitos, eles normalmente apresentam alguns
elementos similares que abrem caminho para que se desenvolva um esquema básico de
classificação de acordo com sua orientação ou ênfase, que varia com o tempo (BASS, 1981;
BRYMAN, 2004). De acordo com Bowditch e Bouno (2002) e Robbins (2005), os diferentes
focos de abordagem não seriam então excludentes entre si, mas complementares, pois
nenhuma delas de forma isolada parece abranger toda a complexidade da liderança, e nem ser
totalmente utilizável em todas as situações.
A investigação científica sobre liderança começou a partir do século XX e deu origem
a uma variedade de perspectivas (VAN SETERS; FIELD, 1990). Um dos primeiros estudos
sobre liderança foi a Abordagem dos Traços. Este modelo direciona seu foco para a figura do
3
líder, identificado pelas suas características físicas e de personalidade. Desta forma, a
liderança seria identificada de forma natural, pois o líder nasceria com certos traços
diferenciados que o conduziriam ao sucesso. Esse pensamento perdura até o final dos anos 40
e muitas críticas foram feitas a ele pelo seu caráter universal, simplista e determinista
(BOWDITCH; BOUNO, 2002).
Com a evolução do conceito, e o foco ainda centrado no líder, mas agora no seu
comportamento no grupo, do final dos anos 40 até o final dos anos 60 (BRYMAN, 2004), a
liderança passou a ser idealizada por meio da identificação do estilo do líder, que estaria mais
direcionado ao tratamento dos subordinados considerados como pessoas, ou mais absorvido
com as preocupações relacionadas às tarefas. (BOWDITCH; BOUNO, 2002). A diferença
fundamental entre os estilos de liderança assenta-se assim sobre sua orientação.
A próxima etapa no desenvolvimento dos estudos sobre liderança surgiu no final dos
anos 60 e suas idéias tiveram ênfase até os anos 80. Esta abordagem recebeu o nome de
contingencial e defende a observação dos aspectos situacionais envolvidos no processo como
forma de identificar o melhor caminho a ser seguido. Nesta abordagem, o melhor desempenho
do líder é visto não como dependente de sua personalidade ou comportamento, mas
intrinsecamente ligado ao contexto e seu poder de controle e interferência no processo de
liderança. Defende-se, desta forma, que o líder deve mudar ou adaptar seu estilo de acordo
com a situação vivenciada para que consiga exercer influência sobre o grupo (BOWDITCH;
BOUNO, 2002).
A partir dos anos 80, outros estudos surgiram com a proposta de uma liderança
visionária, onde o líder é identificado como articulador de uma visão que reflete os valores e a
missão organizacional. Surge então a diferença entre a liderança transacional – em que o líder
exerce influência na condução das pessoas para o alcance das metas estabelecidas,
especificando papéis e exigências das tarefas – e liderança transformacional – que confere ao
líder de sucesso as qualidades de carismático, inspirador, estimulador e incentivador do
desenvolvimento intelectual, atendendo e considerando as pessoas de forma individualizada.
Segundo Robbins (2005), este último tipo de liderança em especial, considera as
características pessoais do líder, a realização da tarefa e as necessidades dos liderados.
O líder tende a ser visto frequentemente como o responsável pelo desempenho
organizacional – seja ele favorável ou não – ou do setor específico pelo qual está responsável
(BASS, 1981; BOWDITCH; BOUNO, 2002). As abordagens que focam no papel do líder
como direcionador do processo de liderança contribuem para consolidar essa percepção.
No entanto, a visão da figura do líder evoluiu, e alguns estudos propõem um modelo
de liderança compartilhada, totalmente adaptado às atuais exigências do ambiente
organizacional, que adota o estilo de equipes de trabalho auto-geridas (YUKL, 1998; HILL,
2004). Nessa abordagem, enfatiza-se o processo de influência social do grupo sobre seus
membros e a influência da liderança informal, que neste caso não é definitiva, mas surge no
interior do grupo e é compartilhada.
A figura a seguir apresenta as principais abordagens sobre liderança, baseando-se nas
obras de Bass (1981), Bowditch e Bouno (2002), Bryman (2004), Hill (2004), Sadler (2001) e
Yukl (1998), contemplando as seguintes categorias: evolução, visão de liderança, foco e
idéias centrais, críticas e percepção atual de cada abordagem.
4
Categoria de Abordagem dos
Traços Pessoais
Análise
Abordagem do
Estilo de
Liderança
Até o final dos
Do final dos anos
anos 40
40 até o final dos
anos 60
Como uma
Como uma
característica
característica
inata
comportamental
Qualidades e
Comportamento
características
dos líderes.
pessoais dos
Treinamento e
líderes. Distinção não mais seleção
entre líderes e
de líderes
seguidores
ABORDAGENS
Abordagem
Contingencial
Abordagem da Nova Liderança Nova Liderança
Liderança de
Equipes
Do final dos anos Do início dos anos Durante os anos 80
Período
60 até o início
80 até hoje
e 90 até hoje
dos anos 80
Dependente dos Líder como um
Dispersa no grupo
Visão da
fatores
gestor de
Liderança
situacionais
significado
Baseado na visão No líder como
Nas equipes como
Foco
de que “tudo é
articulador de uma espaço de
relativo” e a
visão que reflete a liderança e no
eficácia do líder missão
processo de
depende do
organizacional
liderança em si
quanto a situação
lhe é favorável
Traços físicos,
Identificação dos Idéia de controle Definição de dois Facilitação pelo
Idéias
habilidades e
dois principais
situacional
tipos de liderança: líder do desenvolCentrais
vimento de talencaracterísticas de estilos de
envolvendo três transacional
tos, capacidades de
personalidade
comportamento
componentes:
(recompensas
identificam o
do líder:
relação lídercontingentes e
liderança e motivapotencial de
consideração
membros; estru- gestão pela exce- ção dentro do gruliderança
(pessoa) e
tura de tarefas; e ção) e transforma- po, conduzindo as
iniciativa para
posição do líder. cional (carisma, pessoas a se lideestruturar
O líder deve
inspiração, consi- rar. Equipes auto(tarefa)
adaptar seu estilo deração e estimu- geridas. Considera
lação intelectual) a relação informal
à situação
Desconsideração Necessidade de
Foco excessivo no O modelo de
Principais Universalidade
dos traços e
das questões
mudar situações líder, principalequipes autoCríticas
predeterminação situacionais da
devido à dificul- mente os de cúpu- lideradas pode não
de líderes natos
liderança e do
dade de mudar
la. Desconsidera a ser aplicável a
seu aspecto
pessoas; Descon- liderança informal. todas as
informal
sidera a liderança Risco de retorno à organizações e a
informal
visão universalista todas as situações
Percepção de que
Percepção Apesar de muito Pesquisas poste- Ainda tem consi- Tem causado
criticada, estudos riores identifica- derável aceitação reflexões sobre
este modelo de
Atual da
Abordagem foram retomados ram que o estilo apesar da conclu- missão e valores; equipes pode
concluindo que
mais eficaz seria são de que fato- Serve de base para aumentar a
os traços pessoais a combinação
res situacionais
programas de sele- efetividade
influem na perentre os dois
não têm a impor- ção e treinamento organizacional
cepção sobre a
tância que se
de líderes
pessoa
imaginava
Figura 1: Evolução da teoria e pesquisa sobre liderança
Fonte: Elaborada pelos autores
A figura sistematiza os elementos centrais de cada abordagem com o objetivo de
possibilitar uma maior compreensão sobre o desenvolvimento do constructo nas organizações.
As seis categorias de análise ajudam a delimitar especificidades de cada abordagem e
possibilitam uma análise da evolução teórica sobre a liderança.
As abordagens mais modernas de liderança que canalizam seus esforços para os
estudos das equipes multifuncionais – que possuem líder formal – e as equipes auto-lideradas
– onde a figura do líder não é percebida como um posto de destaque – são formas de
distribuição de liderança e poder entre os membros (YUKL, 1998). O autor enfatiza que este
modelo não é totalmente adaptável a todos os tipos de organizações, sendo melhor utilizado
5
em grandes organizações, e que as condições necessárias para o seu sucesso não são ainda
claramente entendidas.
Sadler (2001) lembra que várias tentativas têm sido realizadas para traçar o
desenvolvimento do pensamento e da pesquisa sobre liderança. Neste sentido, Van Seters e
Field (1990) dividem os estágios da teoria da liderança em nove eras evolutivas: da
personalidade, da influência, do comportamento, da situação, da contingência, transacional,
anti-liderança, cultural e transacional (que seria a mais promissora).
ERAS
Era da Personalidade (dividida em
dois grandes períodos)
Era da Influência
Era do Comportamento
Era da Situação
Era da Contingência (Maior avanço
na evolução da teoria da liderança)
Era Transacional
Era Anti-liderança
Era Cultural
FOCO
Período do Grande Homem: melhores líderes da história e suas
características. O melhor caminho seria estudar suas vidas e copiá-las.
Período de Características: ligação entre liderança efetiva e alguma
característica individual ou grupos de características do líder
A liderança é considerada como um processo que envolve
relacionamentos entre indivíduos e que não se pode entender a
liderança focando apenas o líder.
Os padrões de comportamento dos líderes são examinados e são
diferenciados os comportamentos efetivos dos não-efetivos.
O contexto em que a liderança está sendo exercida passa a ser
considerado.
A liderança não é encontrada em nenhuma das formas puras,
unidimensionais, mas contém elementos de todas elas. O líder efetivo é
contingente ou dependente de um ou mais fatores de personalidade,
influência e situação.
A liderança reside não apenas na pessoa ou na situação, mas também, e
talvez ainda mais, na diferenciação de papéis e na interação social.
A liderança não é considerada como um conceito válido; ela existe
apenas como uma percepção na mente do observador.
A auto-liderança das pessoas é possível se o líder pode criar uma
cultura forte na organização.
A liderança consiste ao mesmo tempo em criar uma visão e conferir
poder aos subordinados para levá-la adiante.
Era Transformacional (A fase mais
promissora)
Figura 2: As eras da teoria da liderança
Fonte: Elaborada a partir de Van Seters e Field (1990)
Um aspecto direcionado como crítica por diversos autores à maioria das abordagens
que surgiram com a evolução dos estudos sobre liderança é o fato de que normalmente
desconsideram a liderança informal e sua influência nos processos grupais (BASS, 1981;
BOWDITCH; BOUNO, 2002; BRYMAN, 2004). Hill (1999, p. 300) lembra que apesar do
líder ser responsável pelo grupo, uma vez que seu trabalho não pode ser direcionado para cada
indivíduo, mas para a equipe, “todo grupo tem seus líderes informais”. Sendo assim, os
estudos que desconsideram este aspecto, acabam por dar margem a críticas, pois tendem a ser
classificados como incompletos e carentes de maior consistência.
Algumas teorias da liderança inicialmente podem parecer formas simplistas de se
caracterizar um processo complexo como o que ora é discutido. No entanto, cada uma das
abordagens descritas tem seu papel no estudo da liderança e entende-se que elas não são
excludentes entre si, mas refletem o contexto das organizações e conseqüentemente as
inquietações próprias da época em que foram criadas. Considera-se o contexto como um
produto social e histórico produzido em sintonia com as atividades que ele apóia (agentes,
objetos, atividades, artefatos materiais e simbólicos) que formam um sistema heterogêneo que
evolui ao longo do tempo (GHERARDI;NICOLINI; ODELLA, 1998)
Na verdade, em tempos de mudanças rápidas e ambientes complexos, a liderança
assume um papel determinante (VAN SETERS; FIELD, 1990). Pesquisa realizada por
Sant’Anna et. al. (2009) revelou que pesquisadores brasileiros e norte-americanos têm
6
diferentes percepções sobre o tema. Enquanto os brasileiros percebem o constructo como algo
que chegou a um estágio de esgotamento, entre os norte-americanos, o que se observa é um
maior interesse no tema pelo engajamento, e pela adoção de múltiplas e diversificadas
abordagens utilizadas para compreendê-lo.
Uma análise das pesquisas que representam o estado atual do desenvolvimento do
tema indica que o processo de liderança decorre da integração de vários sujeitos que sofrem
influência do contexto social e histórico em que se inserem. Neste contexto, estão implícitos
recursos, capacidades e competências que influem direta ou indiretamente no desenrolar do
processo, o que torna o desenvolvimento de estudos sobre o fenômeno da liderança uma tarefa
complexa e desafiadora.
3 METODOLOGIA
Este estudo teve como objetivo identificar como está configurada a pesquisa acadêmica
sobre liderança na produção científica de artigos no Brasil entre 1995 e 2009. A metodologia
adotada para a pesquisa foi a análise bibliométrica, por meio de um levantamento dos artigos
publicados em eventos vinculados à ANPAD e em periódicos. Trata-se de um estudo de
natureza quantitativa e caracteriza-se pela abordagem exploratória.
Para análise da pesquisa científica sobre a liderança, utilizou-se a bibliometria, que
envolve um conjunto de leis e princípios que são aplicados a métodos matemáticos e
estatísticos com o objetivo de mapear e disseminar a produção científica por meio de
documentos com propriedades similares (ARAÚJO, 2006; CAFÉ; BRÄSCHER, 2008;
MACIAS-CHAPULA, 1998). Esse tipo de abordagem não é uma experiência nova e vem
sendo utilizada por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento (HAYASHI et. al.,
2007).
3.1 Critérios de seleção da amostra de artigos
O levantamento foi realizado em torno da pesquisa científica sobre liderança no Brasil
nos últimos 15 anos nos artigos apresentados em eventos vinculados a ANPAD – Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, bem como nos periódicos
nacionais classificados pela CAPES com o conceito Qualis A e B. O levantamento revelou
que foram publicados 88 artigos em nível nacional envolvendo o tema liderança.
Os artigos analisados foram encontrados nos eventos promovidos pela ANPAD:
Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, EMA – Encontro de Marketing da ANPAD,
EnEO – Encontro de Estudos Organizacionais, EnANPAD – Encontro Nacional da ANPAD,
EnAPG – Encontro de Administração Pública e Governança, EnGPR – Encontro de Gestão de
Pessoas e Relações de Trabalho, EnADI – Encontro de Administração da Informação, EnEPQ
– Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade, e 3Es – Encontro de
Estudos em Estratégia.
Para complementar e aprofundar o estudo, optou-se por incluir na pesquisa os principais
periódicos nacionais classificados como A e B pela Coordenação de Aperfeiçoamento e
Capacitação de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Foram eles: RAC – Revista de
Administração Contemporânea, BAR – Brazilian Administration Review, RAE – Revista de
Administração de Empresas, RAE Eletrônica, RAUSP – Revista de Administração da USP,
BASE UNISINOS, RAM – Revista de Administração da Makenzie, Cadernos EBAPE-FGV,
Revista de Administração Pública - RAP e REAd – Revista de Administração. Os autores
não incluíram a Revista Organização e Sociedade – O&S, porque não tiveram acesso a todos
os exemplares da revista no período analisado.
7
Nos artigos apresentados nos eventos EMA e EnADI, bem como nos periódicos BAR,
BASE, Cadernos EBAPE-FGV e RAUSP não foi encontrado nenhum artigo sobre liderança,
correspondente ao período proposto pela análise.
A seleção inicial partiu da identificação dos trabalhos sobre liderança a partir do título
de cada artigo. De acordo com Café e Bräscher (2008) essa padronização da descrição física e
de conteúdo dos documentos científicos é essencial para que se possa coletar documentos que
tenham propriedades similares. Ainda segundo as autoras, sem a identificação única de um
item de informação, não se realiza uma análise bibliométrica. Em seguida, todos os trabalhos
previamente identificados como objeto de pesquisa foram lidos, analisados e interpretados de
acordo com os critérios escolhidos. Na fase de mapeamento, foram identificados trabalhos
que continham a palavra liderança ou suas correlatas no título, mas que se referiam à
empresas líderes em seus setores ou áreas de atuação, ou ainda outros que tinham por objetivo
verificar a visão dos líderes de determinados setores sobre algum aspecto específico do
âmbito organizacional ou social. Encontrou-se também dentre os periódicos, resenhas
bibliográficas abordando o tema. Em todos estes casos citados os artigos foram
desconsiderados, visto que se desvirtuaram de alguma forma do foco da pesquisa.
Com o exame mais detalhado dos artigos percebeu-se que um dos que foram
encontrados no periódico RAC, havia sido publicado anteriormente nos anais do EnANPAD.
Optou-se então por considerar somente sua versão publicada no periódico considerando a
assertiva de Dias, et. al (2008) de que publicações em revistas são posteriores e
provavelmente, estão atualizadas e melhoradas com relação à uma versão anterior, publicada
em anais de eventos.
3.2 Coleta e tratamento dos dados
Os artigos foram separados por ano e por evento ou periódico onde foi publicado antes
da realização de leitura sistemática de cada um deles. Posteriormente, identificou-se os temas
principais dos artigos a partir do título e do objetivo. Na investigação do objetivo que norteou
cada pesquisa, constatou-se que em alguns trabalhos este não se apresentava de forma
explícita.
Na coleta de dados, também foi realizada a classificação dos artigos quanto a
metodologia, para identificar a abordagem utilizada, o tipo e as estratégias de pesquisa e as
técnicas de coleta de material empírico.
Foram quantificadas ainda as referências nacionais e internacionais utilizadas nos
artigos e identificados os autores mais referenciados, tomando como base não a quantidade de
vezes que o autor era citado em um mesmo trabalho, mas a referência indicada do final dos
artigos. Optou-se por excluir as autocitações dos autores.
O estudo apresenta, ainda, um direcionamento sobre os aspectos que foram mais
explorados, no período analisado, nos trabalhos sobre liderança e a sugestão de outros ainda
pouco explorados e que merecem atenção, visando contribuir para o desenvolvimento do
tema. Por fim, foram apresentados os dados gerais levantados e as sugestões para pesquisas
futuras.
4 ANÁLISE DA PESQUISA ACADÊMICA SOBRE LIDERANÇA
Esta seção apresenta os resultados da análise e está dividida em quatro partes: na
primeira, são apresentados os dados gerais com o levantamento da quantidade trabalhos
anuais, os enfoques sobre liderança encontrados e a relação do tema liderança com outros
temas de estudos organizacionais; já a segunda parte da análise envolve o levantamento dos
procedimentos metodológicos utilizados; na terceira são apresentados os aspectos gerais das
8
referências constando as indicações dos autores mais citados e a quantidade de citações
nacionais e internacionais dos trabalhos; e na quarta é apresentada uma análise da produção
cientifica utilizado os princípios da Lei de Lotka.
4.1 Dados Gerais dos artigos
4
Periódicos Qualis
AeB
BAR
RAC
ERA
BASE
Cad. EBAPE
RAM
RAUSP
REAd
Total
Total deEventos e
Periódicos
2008
2007
3
1
1
2
2
2
1
3
4
3
3
1
3
4
4
9
6
2009
4
2006
2006
7
2005
2005
4
2004
2004
6
2003
2003
1
2002
2002
2
2001
2001
0
2000
2000
2
1999
1999
2
1998
1998
1
1997
1997
1
1996
1996
3Es
EMA
EnADI
EnANPAD
EnAPG
EnEO
EnEPQ
EnGPR
Simpósio
Total
1995
Total
2
5
0
0
52
1
7
1
13
1
80
10
1
1
4
17
21
2008
2009
9
1
8
2007
Eventos da ANPAD
1995
A Tabela 1 apresenta a quantidade de trabalhos sobre liderança em eventos e periódicos.
De 1995 a 2009 foram apresentados 80 artigos em eventos, e apenas 8 artigos publicados em
periódicos. Esse resultado indica que os estudos sobre liderança ainda são escassos em
periódicos, mas também revela que 57,5% dos artigos publicados em eventos ocorreu nos
últimos 03 anos, refutando a afirmativa de Sant’ana et al (2009) sobre a percepção dos
acadêmicos brasileiros de que o tema está esgotado.
0
0
1
1
0
0
1
2
2
1
0
1
0
0
0
1
0
2
3
0
0
1
0
2
8
2
2
1
2
4
8
5
7
5
4
17
8
22
88
1
1
2
1
1
0
1
0
0
Total
Tabela 1: Quantidade de artigos publicados por ano
Fonte: Elaborada pelos autores
Quanto às variações nas quantidades de trabalhos por ano, percebe-se que a quantidade
de artigos publicados em eventos aumentou, enquanto que nos periódicos manteve-se ínfima.
Pela exigência de ineditismo dos estudos para a submissão em eventos e por não existir essa
mesma exigência quando se trata de periódicos, subtende-se que após a apresentação dos
trabalhos nos eventos, eles sejam posteriormente encaminhados à submissão em periódicos.
No entanto, dos 8 artigos encontrados sobre liderança nos periódicos, somente 1 deles foi
apresentado anteriormente no EnANPAD. Outros 2 artigos foram apresentados neste evento e
publicados posteriormente nos periódicos analisados, mas com variações no foco do estudo.
Por isso, considerou-se as duas versões.
Dos artigos analisados, 31 deles abordaram especificamente o tema liderança, e nestes
constatou-se os objetivos mais diversos. A variedade de temas propostos nos artigos foi
disposta na Tabela 2.
9
Quant.
8
6
4
3
2
Tema
Constructo de liderança
Estilos de liderança
Liderança Transformacional
Habilidades de liderança
Perfil de liderança
Quant.
2
2
2
1
1
Tema
Relação entre líderes e liderados
Desenvolvimento de Escalas de liderança
Desenvolvimento de liderança/líderes
Liderança criativa
Processo de liderança
Total de artigos
31
Tabela 2: Artigos focados somente nos aspectos de liderança
Fonte: Elaborada pelos autores
Nos artigos identificados na Tabela 2 como ‘construto de liderança’ reuniu-se os que
utilizam denominações diversas para estudar o conceito, as percepções, o perfil, os
paradigmas ou o fenômeno da liderança. A quantidade relativa aos que foram classificados
como Liderança transformacional engloba também os que utilizaram a denominação no artigo
de liderança carismática, pelo fato de alguns autores como Bryman (2004) e Bergamini
(2009) considerarem que o carisma é um dos aspectos desse estilo de liderança. Em relação as
publicações sobre o perfil de liderança, foi incluído também um artigo sobre o potencial de
liderança.
Considera-se que um grande número de estudos direcionam seu foco para o estilo de
liderança adotado pelo líder e para a liderança transformacional, que também caracteriza-se
como um tipo de liderança. Isso condiz com as percepções de Bergamini (2009) de que
estudos sobre as ações, comportamentos ou estilos de liderança ainda predominam até hoje.
Percebe-se que na literatura analisada poucos autores visualizam a importância de estudar as
relações entre líderes e liderados, o processo de liderança como um todo, além da liderança de
equipes, liderança compartilhada e equipes auto-geridas, que são temas atuais presentes em
trabalhos internacionais bastante divulgados como os de Yulk (1998) e Hill (2004).
Quanto aos artigos que relacionaram o tema liderança com outros temas que fazem
parte de estudos organizacionais, observa-se na Tabela 3 grande diversidade de correlações
entre eles.
No item que compõe o tema liderança e desempenho estão quantificados os trabalhos
que usaram os termos produtividade, resultados e sucesso, que entende-se por sinônimos de
desempenho. E no item liderança e conhecimento, considerou-se trabalhos sobre gestão e
sobre criação do conhecimento.
Além dos temas dispostos na Tabela 3, encontrou-se dentre os dados da pesquisa 4
artigos que buscaram a interação do tema liderança com mais dois temas distintos. Observouse ainda que em todos esses 4 artigos o tema cultura esteve presente. Desta forma, esses
estudos relacionaram os temas cultura e liderança com os temas poder, recrutamento, controle
e compartilhamento. Isso condiz com o pensamento de Shein (2009) de que os temas cultura e
liderança caminham juntos. Esses quatro artigos foram categorizados na tabela 3 com o tema
“liderança, cultura e outros”. A utilização do termo outros foi utilizada porque a diversidade
de temas associando liderança e cultura envolve aspectos do comportamento e a gestão de
pessoas.
Quant.
6
5
5
5
4
4
3
Temas
Liderança e Mudança
Liderança e Empreendedorismo
Liderança e Cultura
Liderança e Identificação
Liderança e Comprometimento
Liderança e Estratégia
Liderança e Gênero
Quant.
2
2
2
1
1
1
1
Temas
Liderança e Poder
Liderança e Competências gerenciais
Liderança e Comunicação
Liderança e Religião
Liderança e Educação Coorporativa
Liderança e Bem estar/estresse
Liderança e Criatividade
10
3
3
2
1
Liderança e Aprendizagem
Liderança e Desempenho
Liderança e Conhecimento
Liderança e Confiança
Liderança e Cooperação
Liderança e Emoção
Liderança, Cultura e outros
1
1
4
Total de artigos
57
Tabela 3: Estudos e liderança em conjunto com outros temas
Fonte: Elaborada pelos autores
Ainda conforme a Tabela 3, os temas mais abordados nos artigos em conjunto com a
liderança foram mudança, cultura, empreendedorismo e identificação, sendo estes temas
normalmente voltados para a identificação de melhorias no desempenho organizacional.
4.2 Procedimentos metodológicos encontrados nos artigos
2
1
2
5
3
3
1
7
1
2009
2004
2
1
3
2
2
3
1
8
2008
2003
1
1
2007
2002
1
1
2006
2001
1
2005
2000
Ensaio
Qualitativa
1
2
1
Quantitativa
Quali-Quanti
1
1
Total
1
1
2
2
Tabela 4: Classificação por abordagem
Fonte: Elaborada pelos autores
1999
1998
1997
1996
Abordagem
1995
Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados nos artigos, verifica-se na Tabela
4 que, com relação ao total de estudos analisados, não há uma diferença tão significativa entre
a quantidade de estudos que utilizaram as abordagens qualitativa e quantitativa.
Total
2
1
1
1
1
4
3
5
7
2
17
3
4
1
8
3
11
7
1
22
14
33
29
12
88
3
5
A pesquisa quantitativa da liderança, na percepção de Bryman (2004) oferece
especificações claras e concisas de relações causais ao pesquisador como uma de suas
vantagens. O autor destaca que grande parte da pesquisa sobre liderança foi tradicionalmente
quantitativa, referindo-se aos primeiros estudos sobre o tema. Na Tabela 4, quando se observa
a variação anual dos estudos quantitativos, constata-se que de 2007 a 2009 foram publicados
em média 6 artigos por ano, enquanto que de 1995 a 2001 não foi publicado nenhum trabalho
utilizando-se esse tipo de abordagem. Isso demonstra que a importância da abordagem
quantitativa vem sendo novamente percebida nos últimos anos.
No que se refere aos estudos de abordagem qualitativa, nota-se que eles eram
utilizados nos primeiros anos desta análise, mas deram um salto significativo em termos
numéricos no ano de 2009. A pesquisa qualitativa, de acordo com Bryman (2004) é também
sensível aos contextos de liderança ao realçar, por meio de estudos de caso único ou da
comparação entre casos, como os aspectos específicos do contexto afetam os líderes.
Quanto aos estudos que se utilizaram desses dois tipos de abordagem de forma
concomitante, classificados como estudos Qualitativos-Quantitativos, nota-se que sua média
se mantém pequena e praticamente estável desde o ano de 2001. As pesquisas quantitativa e
qualitativa são simplesmente abordagens diferentes do processo de pesquisa que vêm ao
longo do tempo se mantendo quase inconciliáveis pelos seus fundamentos epistemológicos,
mas elas podem ser combinadas e mutuamente informativas e esclarecedoras quando se trata
de estudos como da liderança (BRYMAN, 2004). Entende-se assim, que essa conciliação
poderia ser mais explorada em estudos posteriores, inserindo uma abordagem
multiparadigmática para compreensão do fenômeno (SILVA; ROMAN NETO, 2006).
11
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Teórica
1
1
1
1
Empírica
1
2
1
1
Total
1
1
2
2
1
2
Tabela 5: Classificação por tipo de pesquisa
Fonte: Elaborada pelos autores
2001
2000
1999
1998
1997
1996
Tipo de
Pesquisa
1995
Os estudos empíricos sobre liderança claramente são mais utilizados nos últimos anos
em comparação com a pesquisa de essência teórica como mostra a Tabela 5.
Total
1
2
3
3
5
8
5
5
1
6
7
2
3
5
1
3
4
3
14
17
8
8
3
19
22
18
70
88
Godoy e Balsini (2006) em uma análise também bibliométrica sobre a pesquisa
qualitativa em estudos organizacionais brasileiros, encontraram em seu levantamento grande
predomínio de ensaios teóricos, correspondente a quase metade de todos os artigos analisados.
Neste estudo, ao contrário, o predomínio de estudos empíricos envolvendo a liderança
foi substancialmente superior em relação aos estudos teóricos. Isto pode ser identificado como
uma das características específicas dos estudos sobre liderança pela necessidade de aplicar
conhecimentos teóricos dentro de contextos específicos.
Com relação a utilização das técnicas de coleta de dados, o número total apresentado
na Tabela 6 é superior à quantidade de artigos analisados na pesquisa pelo fato de muitos
estudos se utilizarem de mais de uma técnica de obtenção de dados primários, sendo a
triangulação de dados identificada em alguns trabalhos. Este aspecto também foi identificado
em outros estudos de análise de produção científica como o de Godoy e Balsini (2005).
Quant.
Técnica de Coleta de Dados
42
Questionário
33
Entrevistas
18
Análise Documental
13
Análise Bibliográfica (exclusivamente)
8
Observação Direta
Tabela 6: Técnicas de coleta de dados
Fonte: Elaborada pelos autores
Quant.
2
2
1
7
28
Técnica de Coleta de Dados
Diário de campo
Grupos de Discussão (focus group)
Relatos de Memória
Não identificado
Total
Observou-se ainda que muitos trabalhos não definem de forma clara a metodologia
adotada, havendo assim a necessidade de um esforço maior por parte do pesquisador em
compreender o processo de coleta dos dados. Em 7 casos, como mostra a Tabela 6 não foi
identificado nenhuma técnica utilizada e, em sua maioria, esses casos foram encontrados em
estudos mais antigos. Isto pode estar relacionado aos critérios atuais de normatização e
organização de artigos e ao maior rigor adotado para a análise por parte dos comitês
avaliadores desses trabalhos.
Diante da Tabela 6 percebe-se que é substancial o número de artigos que fazem uso da
técnica de aplicação de questionários para coleta de dados. Nesta classificação, incluiu-se não
somente os questionários elaborados pelos próprios autores dos artigos, mas também
modelos, escalas e inventários criados e já validados em outros estudos, como é o caso do
Grid Gerencial de Blake e Mouton e o questionário Multifactor Leadership Questionnaire MLQ de Bass e Avolio.
Também é considerável o número de autores que se utilizam de entrevistas e de
análise documental para a coleta dos dados e em número reduzido os que se utilizam de outras
técnicas diário de campo e grupos de discussão.
12
Alguns autores mencionam exclusivamente a pesquisa bibliográfica como técnica de
coleta de dados, como é o caso dos ensaios teóricos e dos estudos para a construção de
escalas. Por isso a especificação na Tabela 6, pois se subtende que todos os artigos se
utilizaram de pesquisa bibliográfica para a construção dos seus referenciais.
4.3 Aspectos gerais das referências
Nesta fase, procedeu-se a quantificação das referências nacionais e internacionais de
cada artigo. Somadas as quantidades dos 88 trabalhos, encontrou-se no total 1.517 referências
nacionais e 1.360 internacionais. Assim, em média, cada artigo citou 17 referências nacionais
e 15 internacionais. No entanto, nesta afirmação deve ser considerado o fato de que durante a
análise de cada trabalho percebeu-se que esse número variou muito, encontrando-se inclusive
dois dos artigos dos periódicos que somente continham citações internacionais.
A Tabela 7 apresenta a relação dos 25 autores mais citados como referências
bibliográficas nos artigos analisados, eliminando-se as referências em que os autores fazem
menção aos seus próprios trabalhos anteriores.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Quant.
citações
60
51
43
34
31
30
27
26
26
Autor
BASS, B.M.
BERGAMINI, C.W.
AVOLIO, B.J.
MINTZBERG, H.
BENNIS, W.
KOTTER, J.P.
SCHEIN, E.H.
KETS DE VRIES, M.F.R.
YUKL, G.A.
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Quant.
citações
23
22
21
19
18
18
18
17
16
Autor
DRUCKER, P.F.
WEBER, M.
ROBBINS, S.P.
RICKARDS, T.
NONAKA, I.
BLANCHARD, K. H.
HERSEY, P.
BURNS, J. M.
SENGE, P.M.
19
20
21
22
23
24
25
Quant.
citações
15
15
15
15
15
15
14
Autor
BRYMAN, A.
MOTTA, F.C.P.
MACHADO, H.V.
MORGAN, G.
KOUZES, J.M.
SMIRCICH, L.
CARLAND, J. W.
Tabela 7: Os 25 autores mais referenciados nos 88 artigos
Fonte: Elaborada pelos autores
Analisando-se a Tabela 7, percebe-se que o autor mais citado é estrangeiro, enquanto
que a segunda mais citada é nacional. Somente dois outros autores nacionais estão entre os
mais citados. A maioria dentre os mais citados são norte-americanos. Os resultados indicam
que os autores internacionais continuam sendo reconhecidos pela comunidade acadêmica
nacional como os mais relevantes da área. Por outro lado, a escassez de artigos publicados em
periódicos de autores nacionais contribui significativamente para tornar os autores brasileiros
que pesquisam o tema pouco conhecidos na comunidade científica.
4.4 Análise da Produção Acadêmica sobre Liderança pela Lei de Lokta
Nesta etapa, foi verificada a distribuição das publicações na área segundo a Lei de
Lotka. A lei de Lotka indica que a quantidade de autores que fazem n contribuições para a
ciência é definida pela função 1/n2.. Desta forma, uma pequena quantidade de autores é
responsável por um grande número de publicações. Lotka ainda afirmou que
aproximadamente 60% dos autores contribuem com a ciência apenas com uma única
publicação. Pode-se definir a função de distribuição para a lei de Lotka da seguinte maneira:
f(x) = C / xa, onde x é o número de publicações, C é o número de autores que publicaram na
área e a é a potência que define o comportamento da função.
Para definição das constantes C e a, duas alternativas foram analisadas: (i) considerouse apenas o primeiro autor de cada publicação; (ii) foram considerados todos os autores de
cada publicação. O valor da constante a nas duas análises foi definido pelo método dos
13
mínimos quadrados, ou seja, a potência que melhor ajusta a distribuição de Lotka aos dados
observados. A Tabela 8 resume os coeficientes utilizados para as duas análises.
Considerando apenas o 1º autor
de cada publicação
Maior valor para x
3 publicações do autor Anderson
de Souza SantAnna
Constante a
2,9
Constante C
78
Tabela 8: parâmetros para distribuição de Lotka
Considerando todos os autores
de cada publicação
4 publicações do autor Anderson
de Souza SantAnna
2,39
169
Após a definição dos parâmetros para construção da função de Lotka, procedeu-se a
comparação entre as distribuições esperadas de Lotka e observada conforme apresentam as
Tabelas 9 e 10.
Public. por
autor
4
3
2
1
Total
Análise considerando todos os autores
Distribuição esperada de Lotka
Distribuição observada
Qtd Autores
Total de public.
Qtd Autores
Total de public.
6
24
1
4
6
18
2
6
20
40
27
54
137
137
139
139
169
219
169
203
Tabela 9: Distribuição esperada de Lotka e observada considerando todos os autores
Fonte: Elaborada pelos autores
Public. por
autor
3
2
1
Total
Análise considerando apenas o primeiro autor
Distribuição esperada de Lotka
Distribuição observada
Qtd Autores
Total de public.
Qtd Autores
Total de public.
3
9
1
3
7
14
8
16
68
68
69
69
78
91
78
88
Tabela 10: Distribuição esperada de Lotka e observada considerando o primeiro autor
Fonte: Elaborada pelos autores
É importante observar que, em média, as publicações analisadas tiveram 2,3 autores.
Assim apesar das 88 publicações efetivas na área, para efeito de análise e considerando todos
os autores por publicação, esse valor passa para 203. É importante ressaltar que o número de
publicações na área considerando a quantidade de autores é menor do que a quantidade
esperada de acordo com a distribuição de Lotka (219/203 e 91/88). Ainda, percebe-se que, nas
duas análises, o número de autores com 3 ou 4 publicações é inferior ao esperado (12/3 e 3/1)
enquanto o número de autores com 1 ou 2 publicações supera a quantidade esperada (157/166
e 75/77).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados com a sistematização e análise da produção científica sobre
liderança no Brasil nos últimos 15 anos revelaram que alguns aspectos envolvendo o tema,
14
tais como o processo de liderança e os aspectos subjetivos que envolvem a relação entre
líderes e liderados, além da liderança de equipes, liderança compartilhada e equipes autogeridas, foram pouco explorados nos estudos nacionais.
O relacionamento entre o tema liderança com outros temas vinculados aos estudos
organizacionais encontrou muitos adeptos no período considerado nesta pesquisa, com
destaque para os estudos envolvendo liderança e mudança, liderança e cultura, liderança e
empreendedorismo, e liderança e comprometimento. Constatou-se, ainda, a publicação de
poucos estudos relacionando liderança a temas como confiança, poder, cooperação, bem estar
no trabalho, relações de poder e emoção.
As pesquisas com abordagem quantitativa ou qualitativa foram as mais utilizadas nos
artigos. No entanto, entende-se que a conciliação entre esses dois tipos de pesquisa poderia
ser mais explorada em estudos posteriores se visualizados e utilizados como formas
complementares e não excludentes para gerar informações de relevância mútua. Quanto às
técnicas de coleta de dados, a maioria utiliza-se de questionário e entrevista, sendo
interessante trabalhar também, de forma concisa, com técnicas de triangulação de dados.
Dentre os autores mais referenciados nos artigos publicados em eventos e periódicos,
somente dois deles são nacionais. Assim, na relação dos 25 autores mais citados nas
referencias dos artigos, 23 deles são de origem internacional. Percebe-se, desta forma, uma
maior disposição dos autores internacionais no desenvolvimento do tema, bem como uma
supervalorização dos autores estrangeiros em detrimento dos nacionais. Por outro lado, essa
constatação pode estar associada a pequena divulgação de artigos em periódicos nacionais, o
que torna os autores brasileiro que pesquisam o tema pouco conhecidos na comunidade
científica.
A análise da produção acadêmica pela distribuição de Lotka revelou que a área carece
de maior quantidade de publicações, uma vez que a quantidade de publicações apresentada
está aproximadamente 7% abaixo da quantidade esperada. A distribuição de Lotka também
mostra que a área precisa ampliar a quantidade de autores que publiquem mais de um artigo,
como vem ocorrendo nos últimos anos. Essa ocorrência é facilmente percebida na análise,
considerando todos os autores por publicação, onde esperava-se 12 autores com 3 ou 4
publicações e foi observado que apenas três autores conseguiram atingir essa quantidade.
Considera-se que a pesquisa nacional sobre liderança precisa focalizar nas novas
visões propostas na literatura, como as abordagens da nova liderança e da liderança de
equipes, que são propostas como formas mais viáveis ao estudo da liderança no cenário atual.
Diante da quantidade de estudos identificados nesse levantamento, conclui-se que a produção
acadêmica nacional envolvendo a liderança tem aumentado significativamente no Brasil nos
últimos anos, sobretudo em eventos. Um dos desafios a serem transpostos é ampliar a
publicação de artigos em periódicos qualificados com o objetivo de dar mais visibilidade ao
tema e tornar os autores brasileiros mais conhecidos na comunidade científica nacional.
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A Produção Acadêmica sobre Liderança no Brasil: Uma