INTERAÇÃO AR-MAR FORÇADA PELA INSOLAÇÃO: RESULTADOS NUMÉRICOS PRELIMINARES NO LESTE DA AMÉRICA DO SUL DURANTE O HOLOCENO MÉDIO Autores LUCIANA FIGUEIREDO PRADO, ILANA WAINER Resumo Modelos numéricos são muito úteis para estimar e avaliar o impacto de possíveis mudanças climáticas futuras. O desempenho destes modelos pode ser medido ao se aplicar diferentes forçantes e condições de fronteira em situações conhecidas, como climas passados. O Holoceno médio (HM, 6.000 anos antes do presente) é um período-chave em estudos de climas passados, pois apresentou quantidade de insolação menor que a atual no Hemisfério sul. A insolação que atinge o topo da atmosfera é determinante no balanço global de radiação e, portanto, uma forçante do clima terrestre. Regimes sazonais de precipitação, como as monções, por exemplo, são processos controlados pela quantidade de energia disponível no sistema climático. Isso porque as monções são geradas por gradiente de temperatura terra-mar (dado pela quantidade de insolação incidente). O objetivo deste trabalho foi avaliar de maneira preliminar processos de interação ar-mar na América do Sul reproduzidos por modelos numéricos, para o HM. Para isso, foram utilizados resultados de modelos do Paleoclimate Modeling Intercomparison Project, terceira fase (PMIP3) para os períodos HM pré-industrial, e uma compilação multiproxy para o leste da América do Sul (Clim. Past Disc. 8:5925, 2012) da qual foram utilizados apenas proxies para precipitação e temperatura de superfície do mar (TSM). A partir das saídas de três modelos do PMIP3 (Beijing Climate Center Climate System Model versão 1.1, BCC-CSM 1.1; Centre National de Recherches Météorologiques - Coupled Model versão 5, CNRM-CM5; Community Climate System Model versão 4, CCSM4), foram obtidos campos médios de anomalias de precipitação, TSM e pressão a nível médio do mar (PNM). Ao comparar resultados numéricos e compilação multiproxy, o campo médio de anomalias de precipitação para o HM mostrou-se bem representado pelos modelos, com precipitação acima da média no Nordeste do Brasil (NEB) e déficit hídrico em grande parte da América do Sul, principalmente no eixo da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que se estende da Amazônia ao Atlântico Sudoeste. O campo médio de anomalias de TSM obtido mostra águas mais frias em grande parte do Atlântico sul durante o HM, e foi bem representado em latitudes maiores que 20°S, apenas pelo modelo CNRM-CM5, onde os registros apontam águas mais quentes. A análise preliminar da circulação em superfície pelo campo de anomalia de PNM sugere que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) esteve mais ao sul de sua posição atual, o que gerou maior quantidade de precipitação no norte do NEB durante o HM. Valores de insolação menores que os atuais, e consequente diminuição de energia disponível no Hemisfério sul durante o HM explicam valores de TSM mais baixos no Atlântico Sul e diminuição da precipitação no eixo da monção da América do Sul. Pretende-se complementar a análise para os demais modelos do PMIP3, e incluir campos de vento em superfície e movimento ascendente em outros níveis atmosféricos.