A arte da memória e a arte do contexto Implementação de um curso de residência em atendimento escolar hospitalar: 2012 Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania Volume I I / 2012 ISSN: nnnn-nnnn 1 2 A arte da memória e a arte do contexto Implementação de um curso de residência em atendimento escolar hospitalar: 2011 Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania Volume II / 2012 ISSN: nnnn-nnnn 3 4 A arte da memória e a arte do contexto Implementação de um curso de residência em atendimento escolar hospitalar: 2011 Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania Autores Amália Neide Covic Eduardo Kanemoto Marcos Gomes Farias André Covic Bastos Amanda Kartanas Antonio Sérgio Petrilli 5 Realização: Responsável Institucional: Patrocínio: 6 Informações sobre o projeto: PC&C 210: Implementação de Residência em Atendimento Escolar Hospitalar Instituições: Petrobras e Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer Estado sede: São Paulo Município sede: São Paulo Data de Início do Contrato: 17/12/2010 Data de Término do Contrato: 17/12/2012 Número do Contrato: 6000. 00663046.1w0.2 Coordenador Executivo do Projeto: Antonio Sérgio Petrilli Coordenadora da Organização do Projeto: Amália Neide Covic Linha de Atuação: Garantia de Dire itos da Criança e do Adolescente Temas Tranversais: Garantias de Direitos das Crianças e dos Adolescentes Forma de Entrada na Petrobras: Seleção Pública Gestor do Projeto na Petrobras: Marcia Cristina De Oliveira Chagas Sobre Ilustrações e Indicações Nominais: As ilustrações foram produzidas pelos alunos durante as aulas com o uso dos tablets. Todos os nomes usados nas situações de ensino são fictícios. 7 A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las aos seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as, em vez disso, com antecedência, para a tarefa de renovar um mundo comum. Hannah Arendt 8 Sumário Prólogo 10 Qual o cenário? 12 O que é a Emae? 14 O que é o Graacc? 20 Qual a identidade de uma Escola que se configura no aqui e agora? 26 Por Fim 36 Bibliografia consultada 38 9 o g o l ó Pr 10 Nessa estrada não nos cabe Conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe Bem ao certo onde vai dar Vamos todos Numa linda passarela De uma aquarela Que um dia enfim Descolorirá... Toquinho: Aquarela Escrever este segundo livro se torna difícil não pelo tempo do descolorir, pela estrada a percorrer, ou ainda, pelo indeterminismo do tratamento e do cotidiano hospitalar... esse não é nosso momento atual, o Projeto patrocinado pela Petrobras chega ao seu fim, entretanto, não descolorirá. O que torna então difícil este momento? Falamos neste livro de um tempo que já não é mais, uma vez que o período do projeto se finda e de outro que ainda será, estamos na complexa posição do aqui e agora. Figura 1 - Todas as cores do mundo 11 o l a u Q ? o i r á n ce 12 Este livro, sobre o segundo ano do Projeto Petrobras Desenvolvimento e Cidadania – 2010 (PPD&C-2010), como o primeiro foi estruturado na forma de ensaio. Justifica a escolha do gênero textual, o fato de ele encaixar-se aos nossos objetivos. As razões que embasam a escolha são diversas: primeiro, porque todo ensaio veicula a reflexão de autores, baseada num movimento em busca do conhecimento, sobre determinado assunto. Segundo, porque é um gênero de texto no qual os autores dividem com os leitores ponderações que não representam uma verdade insofismável. Os dois livros são um construto em progresso, imerso na certeza de que se enriquecerá com a leitura ativa de cada um de seus leitores. Suas reflexões visam ao homem e seu momento: especificamente o segundo ano de implementação de um curso de residência para o atendimento escolar hospitalar. O Projeto selecionado pelo PPD&C-2010 – Implementação de Residência em Atendimento Escolar Hospitalar – se finda. Contudo, alunos e alunas continuam em tratamento e em aula no Instituto de Oncologia Pediátrica – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer/Universidade Federal de São Paulo (IOP-Graacc/Unifesp). A escolha da estrutura formal deste livro também obedece às características peculiares de seu fulcro temático transversal. O atendimento escolar hospitalar às crianças cronicamente enfermas pressupõe uma visão diversa daquela elaborada para o espaço tradicional da sala de aula. É uma construção ímpar em função de espaço, tempo e ação diferenciados do cotidiano ao qual estamos habituados. É uma arquitetura nova que temos de erigir no mesmo local onde existem estruturas cristalizadas da vertente pedagógica escolar do conhecimento humano. 13 a é e u Oq ? e a m E 14 A Escola Móvel/Aluno Específico (Emae) atende aos alunos/pacientes do IOP-Graacc-Unifesp em suas necessidades educacionais tanto na fase intensiva de tratamento, como na de acompanhamento fora de tratamento. A primeira decisão tomada foi relativa ao espaço físico a ser ocupado pela Emae. Optou-se por não demarcar um espaço específico que se caracterizasse como uma sala de aula tradicional; assim, todo o hospital transformou-se na escola e todos os espaços possíveis são a sala de aula. Móvel, dinâmica, a sala de aula transformava-se de acordo com as necessidades dos alunos-pacientes. Mais ainda, a ideia que se quer transmitir é de que a escola não é um lugar pré-determinado e paralisado no tempo, mas sim, transformar-se continuamente. Sempre houve a preocupação em consolidar dois aspectos considerados indissociáveis: a intervenção pedagógica e a formação dos professores hospitalares. Dada a carência de literatura existente sobre o tema e as disciplinas ainda incipientes nos cursos universitários de licenciatura, tornou-se evidente a necessidade de um processo formativo para os professores hospitalares. Dessa forma, concomitantemente às ações de intervenção escolar junto aos pacientes, estruturaram-se cursos de formação. A par disso, construíram-se instrumentos de acompanhamento e registro do atendimento escolar hospitalar (fichas cadastrais, questionários, banco de dados, pastas individuais personalizadas). Tal instrumental permitiu não só a visualização do processo de desenvolvimento de cada um dos alunos-pacientes, como também uma relação objetiva com cada uma das escolas de origem. A produção de relatórios e material de esclarecimento, além dos contatos diretos por carta, telefone e e-mails, permitiu a incorporação geométrica de educadores às atividades efetuadas dentro da escola hospitalar, não se restringindo, portanto, aos professores imediatamente ligados ao aluno-paciente. A constituição de uma equipe formada por coordenadores, professores hospitalares e voluntários do hospital, alavancou o atendimento, o que permitiu contemplar todas as faixas de escolarização. Vale lembrar que tal salto só foi possível graças a uma opção estratégica decorrente dos objetivos da Escola Móvel: a de ter selecionado professores de todas as disciplinas do Ensino Fundamental e Médio, além daqueles da Educação Infantil. Após mais de dez anos de atuação, a Emae equilibra-se em um dado laboriosamente construído: a de existir, dentro do hospital do Graacc, uma cultura escolar hospitalar instalada, em que o estudar faz parte do tratamento, assim como as sessões de quimioterapia, os exames de ponta de dedo, os remédios... e tanto quanto os encontros com a nutrição, a psicologia, a fisioterapia, a terapia ocupacional e o serviço social... enfim, dentro do atendimento multi15 profissional necessário às crianças cronicamente enfermas. A Emae equilibra-se... porque sabemos que, na Ciência, nenhuma situação é para sempre, nenhuma verdade é insofismável, e que a melhor forma de se conservar o equilíbrio é manter-se em constante movimento. A geração de movimento se dá pelas aulas administradas em todos os espaços do hospital, pelas pesquisas realizadas, pelo processo formativo dos professores que tem a modalidade de formação em serviço, ou seja, pela prática supervisionada. Estruturalmente, em 2012, o movimento se deu pela ampliação da estrutura funcional inicial. Como exemplo o de registro de dados no cadastro eletrônico de alunos. As duas próximas figuras evidenciam uma das alterações: Figura 3 Elementos dos Dados Gerais da Escola em 2011 Figura 4 Elementos dos Dados Gerais da Escola em 2012 16 A caixa de listagem de documentos enviados às escolas indica a ampliação da intensidade de possibilidades de comunicação com essa instituição de origem dos alunos. Para cada uma dessas novas possibilidades foram criados modelos de documentos. Justifica a necessidade de incremento de comunicação, o fato dos alunos serem oriundos de diferentes localidades do Brasil e ao chegarem ao Graacc, para início de tratamento já estão fora da escola. Em 78% dos casos estão ausentes da escola em média há um bimestre escolar. O mapa da Figura-5, realizado com os dados do Sistema Mais da Petrobras, fundamenta nossas considerações < http://MAIS.petrobras.com.br >. Figura 5 – Diferentes localidades, diferentes escolas. Fonte: Sistema Mais Petrobras De uma América a outra Eu consigo passar num segundo Giro um simples compasso E num círculo eu faço o mundo... 17 Figura 6 – Mão Compasso e Círculo Como que em um segundo o professor hospitalar necessita ajustar os currículos tradicionais para a realidade hospitalar e, entre outros elementos, mobilizar saberes técnicos sobre as doenças e especificidades hospitalares, saberes relativos à legislação relacionada com a Educação Especial, saberes específicos da disciplinaridade inicial de formação, e também, saberes ligados à solidariedade constituídos nas relações entre as equipes de educação e saúde. 18 Depoimento: Escola de Origem 19 o é e O qu ? c c a Gra 20 Em síntese podemos dizer que em 1.990, IOP-Graacc/ UNIFESP foi criado pelo Dr. Antonio Sérgio Petrilli, Drª Léa Della Casa Mingione e o Eng. Jacinto Antonio Guidolin, graças a uma grande aliança entre o setor público, o setor privado e a comunidade. Foi o primeiro hospital, na cidade de São Paulo, voltado exclusivamente para crianças e adolescentes com câncer. Em novembro de 1991, o grupo se firma como entidade civil, sem fins lucrativos, com finalidades assistenciais, filantrópicas, beneficentes, educacionais, culturais e de pesquisa. Reconhecida de Utilidade Pública no âmbito municipal e federal. O GRAACC nasceu com a missão de garantir à criança e ao adolescente com câncer, a partir do mais avançado padrão científico, o direito de alcançar todas as chances de cura com qualidade de vida. Uma casa, apelidada de casinha, foi alugada pela Unifesp, reformada pela comunidade e passou a funcionar como unidade de tratamento para crianças/adolescentes com câncer. Atualmente o GRAACC administra e gerencia o IOP, hospital com 11 andares e que se encontra em expansão. O grupo inicial, juntamente com a Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, a comunidade e empresários, agora fortalecido pelos novos parceiros, retoma os seus objetivos de proporcionar indiscriminadamente à comunidade como um todo, um tratamento de alta qualidade. A Unifesp e o Graacc acolheram em 2011 o primeiro curso de especialização na Modalidade Residência. Essa formação para 12 professores especialistas em Atendimento Escolar Hospitalar tem patrocínio da Petrobras. No início de 2012, foi realizada a primeira publicação de pesquisa dos resultados alcançados com o primeiro ano do curso em questão. O congresso EDUCERE discute questões relacionadas à educação no âmbito Nacional e paralelo a ele o ocorreu o I Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação; esses dois eventos da área da Educação publicaram os primeiros resultados da pesquisa referente à atuação dos professores residentes (R1). 21 Hoje 2013 4.100 m2 4.200 m2 Área total 8.300 m2 22 Figura 8 – Congresso EDUCERE e I Seminário SIRSSE Por meio da metodologia fundamentada em dados o desenvolvimento e os resultados parciais, desse primeiro ano de trabalho, estão compendiados no Resumo da Figura-9. Investigou-se ações que possibilitaram conhecer a doença na sua especificidade e suas possibilidades de trabalho escolar preventivo, o ambiente de trabalho, temas relacionados com a educação e a saúde, a construção de identidades profissionais e pessoais, as relações com as diferentes equipes profissionais. Figura 9 – Resumo do texto completo publicado nos Anais do EDUCERE/SIRSSE Por fim, as pesquisas e suas publicações visam ao aperfeiçoamento das intervenções terapêu23 ticas e multiprofissionais, com melhores resultados de sobrevida e ao aumento do número de profissionais especializados na área. Uma das funções do Graacc, qual seja, de espaço de práticas formativas associadas ao ensino e à pesquisa foi apresentado acima outra é sua função social: • Criar condições de excelência para o tratamento do câncer em crianças e adolescentes desfavorecidos sócio-financeiramente, aumentando a capacidade de atendimento a essa população. • Oferecer suporte às crianças/adolescentes portadoras de câncer, assim como às famílias, viabilizando adesão e manutenção do tratamento com qualidade de vida para os pacientes. Além do prédio de 11 andares, o Graacc administra a Casa da Família. Como o hospital recebe crianças e adolescentes vindos de outros Estados, do interior e litoral do Estado de São Paulo, num total de 40% dos pacientes em atendimento, em novembro de 1993, foi criada a Casa da Família a fim de responder às demandas desses pacientes. O suporte fornecido pela Casa inclui hospedagem, alimentação, transporte, cesta básica. Parcerias, Eventos e Campanhas O IOP/Graacc é mantido por meio de receitas provenientes do SUS, que caracterizam 95% do atendimento hospitalar. No entanto, o pagamento por esses atendimentos corresponde apenas a uma pequena parcela do faturamento mensal. O restante dos gastos é conseguido por parcerias com o empresariado e fundações, campanhas e eventos, doações de pessoas físicas e jurídicas e eventuais. Dentre os parceiros do Graacc, mencionados em www. graacc.org.br, a lista da Figura-10 é um exemplo de pessoas jurídicas e/ou físicas que acompanhou os relatórios enviados à Petrobras, como indicativo de sustentabilidade do Graacc. Outros, do site Graacc, foram incluídos nos relatórios, ao longo desses dois anos. As equipes de profissionais do Graacc, em função da complexidade dos tratamentos e urgência de soluções ainda não existentes para muitas questões relacionadas à oncologia infantil, incluindo-se aí as de ensino e aprendizagem, seguem numa passarela tal qual a infância cantada por Toquinho, assemelha-se a um menino que caminha... 24 Figura 10 – Amostra de Parceiros do Graacc Figura 11 - Singularidade Respeitada E caminhando chega ao muro E ali logo em frente A esperar pela gente O futuro está... Toquinho: Aquarela 25 e d a d i t n e d i a Qual e u q a l o c s E de uma o n a r u g i f n o c se ? a r o g a e i u q a 26 Corro o lápis em torno Da mão e me dou uma luva E se faço chover Com dois riscos Tenho um guarda-chuva... Figura 12 Minha Mão Meu Espelho Caminharemos com as reflexões do Professor Masetto sobre o Atendimento Escolar do Graacc. Por ele, pertencemos à categoria de inovação em Educação e Saúde. Elencamos quatro classes de elementos que ele categorizou como inovação em Educação e justificamos com ações realizadas no ano de 2012. 1. Propostas de respostas alternativas a necessidades próprias e específicas de crianças que vivem em contextos extremamente específicos. A construção do currículo específico para cada aluno coloca a equipe da Emae em busca de respostas novas, de alternativas para se encaminhar situações e problemas bem contextualizados para os quais as respostas existentes já não satisfazem. Depoimento Aluno João saiu ontem do Rio Grande do Norte, veio para uma consulta de rotina pós-tratamento. Tratou-se no Graacc em 2009 de Sarcoma de Ewing, um tumor ósseo. Ficou durante um ano estudando no hospital. Desde o ano de 2000, estudamos com 68 alunos que realizaram tratamento de Sarcoma de Ewing. Os diferentes protocolos quimioterápicos para esse tipo de sarcoma têm apresentado um efeito característico nos pacientes, em geral, os alunos com essa modalidade de protocolos têm seu ritmo de estudo diminuído em relação a outros tumores ósseos. João, em 2009, chegou quase com o terminar do ano escolar. Fizemos as provas finais e depois seguimos com os estudos do ano subsequente. Voltou para sua escola de origem em 2011 e não apresentou dificuldade em continuar os estudos. João nunca repetiu. Tem uma base sólida e repertório de conteúdos em todas as disciplinas. Durantes os exames de rotina, soube de uma recidiva tumoral. Foi ele quem nos contou. Forte e tranquilo, explicitou ao grupo de professores, o diagnóstico apresentado pelo seu médico. Por fim, falou... - quero estudar desde já para o meu próximo ano. Estudou matemática e idiomas. Ao final das aulas... - estou tranquilo, posso continuar o Ensino Médio por aqui. “Estou tranquilo com isso, não quero é parar meus estudos.” 27 2. São projetos em movimento, que se constroem por fases, em geral de forma dialética, integrando reflexões e práticas pedagógicas, levados à frente pela participação e dinamismo de seus integrantes. Antes da elaboração do desenho da Escola Móvel, seus coordenadores estudaram o hospital Figura 13 – Adequação de materiais e o câncer durante oito meses. Aprenderam, nesse ano, a discutirem casos clínicos, a participarem de buscas de parceiros – como o caso do Patrocínio do PPD&C-2010, cursaram mestrado e doutorado como forma de obter apoio epistemológico ao projeto, elaboraram dois cursos que fazem parte do catálogo da Unifesp. Um deles de especialização multiprofissional da área da oncologia infantil em que fazem parte: Enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, dentistas, fisioterapeutas, assistentes sociais e professores. O Outro é o curso, também de especialização, Educação em Saúde no Atendimento Escolar Hospitalar: Modalidade Residência, patrocinado pela Petrobras. O sentimento de “pertença” a um projeto inovador é fundamental ser vivenciado e trabalhado desde o início. A coesão desse grupo pode determinar o ritmo de implantação da inovação. O reconhecimento social de uma proposta de trabalho inovador gera dedicação emotiva entre os elementos do grupo, por exemplo, na forma de amizade. Também surge na forma de respeito cognitivo, como a troca de experiência nas participações dos fóruns, criados para ampliação dos debates que ocorrem em aulas. Os temas desses fóruns representam obstáculos no atendimento escolar hospitalar, por exemplo, a percepção do limite do outro. Figura 14 – Inovação e Mobilidade 28 E ainda, na forma de estima social, por exemplo, não somente a tolerância com a particularidade do outro, mas também, o interesse efetivo por essa particularidade. Depoimento de uma professora Aquele momento em que um aluno de quatro anos te ensina que realmente os tempos mudaram: Eu - Canta comigo, oh: O sapo não lava o pé, não lava porque não quer! Ele - ???? Eu - Não? Hum!, essa você não conhece? Ele - “Ota” Eu - Tá bem, então essa: A dona aranha, subiu pela parede, veio a chuva forte, e?! Ele - ..... Eu - Ahh, então canta uma pra mim? Aquela que vc mais gosta! Ele - “Ela não ‘ada’ ela ‘difila’, ela é top, capa de ‘evista’, ela é ‘maimai’ e..e tira foto no ‘epelho pa bota no ficibook’! Essa...” Figura 15 – Organizando a reunião de supervisão 3. Assumem a educação como um processo de desenvolvimento do ser humano que se constrói com a participação das pessoas como sujeitos desse processo. Ensina-nos Freire que se não criarmos o novo, alguém o arquitetará, assim, todo olhar novo sobre sistemas consolidados, representa espaços a serem preenchidos, a serem ocupados. Com o atendimento escolar hospitalar, ocorre o mesmo. No entanto, por seu caráter de urgência social, essa ocupação não pode ficar restrita à visão messiânica, ou ainda da comiseração. O espaço é de ação eminentemente profissional, com difícil delimitação para a Educação, pouco habituada aos extremos de intensidades enraiza29 dos na escolarização exercida em hospitais: menos do que o necessário, mais do que o desejável. Neste ponto, nos deparamos com a dificuldade de encontrar professores preparados para lidar com essa situação em particular. A formação no curso de Residência propicia à aprendizagem docente, um elemento que diferencia esse curso dos demais, a supervisão interna ao hospital e também externa a ele nas áreas da Educação e da Saúde. É o caso das atividades de campo do curso, uma delas relaciona-se com as práticas na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Embu das Artes. A divulgação dessa modalidade de atividade orienta a comunidade de forma geral e especificamente professores e demais envolvidos com a Educação. A publicação dessa atividade ocorreu no gênero notícia, no site do Graacc, em “Acontece no Graacc”, e isso colabora com a institucionalização de uma esfera de atividade que socialmente busca espaço para sua consolidação. Figura 16 – Graacc noticia Enquanto informativo, “O Estou com o Graacc”, procura elucidar ao leitor atividades realizadas em Embu das Artes, evidenciando como demonstra a Figura 16 o valor social educativo do Projeto. estou com Informativo GRAACC o • Ano 8 • Julho/Agosto /Setembro • 2012 McDia Fe liz • nº 32 Maior ca mpanha de mobili zação no combate ao câncer infantojuv enil o camarad Fotos: Grup Figura 17 – Graacc informa as / Acer vo Batem os mais d a meta: tiquet e 400.000 e antecip s vendidos adame nte! 30 Médica do GRAACC sobre tran participa de grup splante de o medula ósinternacional sea Ao passo que, o texto científico produzido na forma de Pôster – Figura 17 - pelos professores e coordenadores da Escola Móvel, explicita para o público de pesquisadores do tema “Vulnerabilidades da Infância”, a produção de dados e as conclusões do trabalho produzido durante o ano de 2012 na UBS de Embu das Artes. Nas palavras de Masetto, um processo inovador é contextualizado e individualizado para um, objetiva as necessidades e possibilidades, mas em qualquer situação sempre envolve a totalidade das pessoas em suas: habilidades, competências, atitudes, valores, limites, desafios, dificuldades e potencialidades. Figura 18 – Graacc organiza Onde quer que as pessoas se encontrem e nas condições em que se vejam, a busca pelo desenvolvimento desta totalidade do ser humano é a mesma. E essa busca é em parceria, enquanto se entendem alunos e professores como sujeitos construtores do mesmo processo em situações interativas de aprendizagem. A integração dos princípios acima defendidos exigiu a utilização de metodologias ativas, valorizando e incentivando a participação dos alunos em seu processo de aprendizagem e em sua formação, explorando os diversos ambientes de aprendizagem, no contexto de vida desses alunos. 4. É a intencionalidade do processo pedagógico que ganha consideração especial num projeto inovador com a explicitação dos objetivos educacionais a serem perseguidos e que, uma vez alcançados, significarão a nova necessidade a ser perseguida. Em meados de junho de 2012, a Supervisora de Educação Infantil da Emae, Vanessa Alvim, defendeu seu mestrado. 31 Figura 19 – Adequação de habilidades escolares Estivemos a falar de metodologias ativas e, nesse sentido, caminhou o trabalho produzido por ela. O método da pesquisa foi o da “Pesquisa-Ação”, metodologia que optamos por seguir, em função da peculiaridade das relações entre pesquisador e objeto de estudo. O tema central da dissertação foi a construção de saberes na educação infantil, a partir da relação que ocorre no hospital entre o professor e o aluno. A principal conclusão diz respeito à validação do trabalho realizado no hospital com crianças de 4 e 5 anos. Essas crianças estudaram somente no hospital durante esse período escolar e retornaram às escolas de origem já no primeiro ano do Ensino Fundamental I. Figura 20 – A defesa dos direitos das crianças por diferentes caminhos 32 Para a pesquisadora (Figura – 20) o estudo realizado no hospital é semelhante, em termos de construção de habilidades escolares, ao da escola de origem. Teoricamente para que os profissionais da educação assumam uma perspectiva inovadora em sua área, se faz necessário que estes ressignifiquem sua própria área de saber. Tal possibilidade ocorre com a intencionalidade das ações praticadas na Escola Móvel. Ousamos a dizer que a concepção de Educação e Saúde alterou de conformidade, com as publicações, dissertações, teses e eventos promovidos. Em início de dezembro de 2012 o Graacc promoveu o I Colóquio Educação e Saúde: pesquisa como objeto de estudo nas vulnerabilidades infanto-juvenis (Figura 21). Durante a palestra de abertura, Dr. Petrilli, com referencial teórico da aula apresentada pelo Prof. Dr. Claudio A. Len para o Concurso de Professor Livre-Docente do Departamento de Pediatria da EPM/Unifesp, nos leva, a refletir sobre atuais necessidades da Saúde e da Educação e o papel da equipe multiprofissional na construção de uma nova concepção. Por meio dos gráficos que estão apresentados na Figura 23, Dr. Petrilli, didaticamente evidencia a necessidade de pesquisas em espaços onde áreas multiprofissionais se complementam. Segundo Dr. Petrilli, nova forma de pensar a Educação e a Saúde se faz necessário para que em conjunto encontremos respostas para muitas questões postas hoje com o avanço dos tratamentos I Colóquio Educação e Saúde Pesquisa como objeto de estudo nas vulnerabilidades infantojuvenis Figura 21 – Prof. Dr. Antonio Sérgio Petrilli entre os Pesquisadores Prof. Dr. Flaminio Rangel e Prof. Dr. Marcos Cezar de Freitas 14/12/2012 P do GRAACC-IOP-UNIFES olvimento Institucional Paulo/SP Auditório do Desenv Vila Clementino, São Rua Sena Madureira, 415, PROGR AMAÇÃO EvEnto Hora Entrega de material 8h 8h30 - 9h Abertura 9h - 9h30 9h30 - 10h30 1º Núcleo de Pesquisa Café 10h - 10h30 3º Núcleo dos Ensaios Finais Prof. Dr. Livre-Docente Antônio Sérgio Petrilli IOP - GRAACC - UNIFESP Prof. Dr. Livre-Docente Marcos Cezar de Freitas e Saúde Unifesp/ PPG Educação na Infância e na Adolescência Prof. Dr. Flamínio de Oliveira Rangel UNIFESP/Diadema Castro Prof. Mr. Armando de Cerqueira Arosa 11h30 - 12h 12h - 13h • Processo Histórico • Vulnerabilidades e direitos • Promoção de saúde e Saúde • Interface Educação URFJ 10h30 - 11h 11h - 11h30 2º Núcleo de Pesquisa palavras-cHavE pEsquisadorEs Prof. Dr. Marcos Rodrigues de Lara PUC/SP e Insper-Brasil Profª Drª Amália Neide Covic PPG Educação IOP-GRAACC - Unifesp/ na Adolescência e Saúde na Infância e • Cultura contemporânea • Cotidiano • Construção de dados • Análise do discurso • Vulnerabilidades e relações sociais Todos os Participantes L: Realização: Responsável Instituciona Patrocínio: 33 Figuras 22 – Participantes do Colóquio Discutimos ainda, considerações dos demais pesquisadores sobre o papel de cada um em suas áreas de conhecimento. Caminhamos na perspectiva sócio-histórico-cultural de educação e saúde, na qual se dá toda ênfase à integralidade do cuidado a ser dispensado ao ser humano. O processo de inovação é enriquecido quando possibilita as trocas e os contrastes de experiências e o diálogo entre áreas. Crescimento e Desenvolvimento físico emocional social escolar laboral infância adolescência vida adulta Figura 23 Crescimento e Desenvolvimento. Fonte: Aula Do Concurso para LivreDocência, Prof. Dr. Claudio A. Len tempo Crescimento e Desenvolvimento físico emocional social escolar laboral doenças crônicas infância adolescência 34 vida adulta tempo Depoimento de uma mãe O primeiro contato, com os professores, foi no mesmo dia em que chegamos ao hospital. Na verdade, eu tinha uma amiga que já conhecia o trabalho de vocês, que já tinha feito o tratamento do filho dela aqui, e ela me explicou que era possível estudar no hospital e não perder o ano na escola. Então, no dia em que cheguei ao hospital já procurei vocês pra saber mais, saber detalhes. Não me lembro se foi um professor ou coordenador quem conversou comigo, mas ele foi bastante atencioso e me explicou melhor como funciona a escola móvel. Foi feita uma ficha de cadastro, com os todos os dados, o histórico escolar dele. E foi quando fiquei sabendo que vocês entrariam em contato com a escola dele. Depois a escola mandou os conteúdos, as apostilas e ele estuda aqui e depois tudo é enviado para a escola. Meu filho gosta bastante de estudar aqui. No começo ainda era preciso ficar falando pra ele “filho, faz uma aula com algum professor”, mas depois ele mesmo já diz que quer estudar. E uma coisa que notei: ele gosta muito das aulas do professor Elder, de História. E antes ele não sabia nada de história, não tinha o menor interesse! Agora ele sabe, comenta, vejo que ele gosta mesmo. Teve um tempo em que ele fazia menos aulas, por causa do tratamento que era mais intenso. Nos últimos meses, ele tem tido aula quase todos os dias da semana. Gosto muito do trabalho de vocês e admiro bastante. Os professores são muito bons, e me dá muita tranquilidade saber que meu filho continua estudando, que está tudo certo com a escola, que não preciso me preocupar com isso nesse momento em que tenho tantas outras coisas 35 m i F r o P 36 Este segundo livro trabalhou com a repercussão social, midiática e educacional do Projeto apresentado ao PPD&C-2010 durante o ano de 2012. Fizemos recortes em processos que são históricos e neste espaço de considerações finais, simbolicamente devolvemos os recortes realizados aos seus processos históricos naturais com certeza que eles obtiveram acréscimos com as aprendizagens realizadas nestes dois últimos anos. Falamos de ressignificações em educação e em saúde e elas só tiveram condições de se concretizarem, porque a equipe de profissionais envolvidos trabalha e busca ao longo do tempo seu processo contínuo e permanente de formação. IMAGINE Sentir-se à margem Não pertencer a nenhum grupo Não acreditar na própria capacidade IMAGINE-SE Incapaz de acreditar que possui um futuro a ser construído é exatamente dessa forma que se sente uma criança a quem são negadas as chances de escolarização IMAGINE que alguém lhe peça para interromper por vários meses a sua vida e retomá-la depois de algum tempo é exatamente dessa forma que se sente uma criança gravemente enferma a quem são negadas as chances de escolarização Agradecemos Kanemoto, E. ... alunos, famílias, escolas de origem, professores Unifesp, professores Graacc, equipes Graacc, equipe técnica PPD&C -2010 ... 37 a i f a r g o i l b i B a d a t l consu 38 Arendt, H. A crise na educação. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 221-247 Certeau, M. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Vozes, 2009. Covic, A.N., Oliveira, F.A. de Melo. O aluno gravemente enfermo. São Paulo: Cortez, 2011. Deasy-Spinetta, P., Irvin, E. Educating the Child with Cancer. Bethesda MD, U.S.A., The Candlelighters Childhood Cancer Foundation, 1993. Geertz, C. O Saber Local. Petrópolis: Vozes, 2003. Masetto, M.T. Palestra de Abertura: Atendimento Escolar Hospitalar e Inovação em Educação e Saúde in: <https://sites.google.com/site/afnaeh/ abertura/2-1-palestra-de-abertura> 39 Realização: Responsável Institucional: Patrocínio: 40