Discurso da Dra. Rebecca Tavares Representante da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul Por ocasião do Encontro de Especialistas Desafios para promover a universalidade do acesso e a equidade na garantia dos direitos reprodutivos de mulheres e jovens negras, realizado em 22 de fevereiro de 2011, em Brasília - Brasil Bom dia a todas e a todos. Gostaria de dar as boas vindas aos pesquisadores e pesquisadoras aqui presentes, aos colegas das Nações Unidas e convidados e convidadas dos Ministérios. E aproveito a oportunidade para agradecer às nossas colegas do Ipea o apoio estratégico para a realização desta reunião. É uma enorme satisfação para nós da ONU Mulheres coordenar juntamente com o Fundo de População das Nações Unidas esta atividade. A criação da ONU Mulheres, realizada no âmbito da reforma do Sistema Nações Unidas a nível global, nos coloca como desafio a necessidade de unirmos os esforços a nível nacional e internacional para a promoção da igualdade de gênero e empoderamento das mulheres. Neste sentido, damos especial valor às ações realizadas em parceria com as agências irmãs do Sistema das Nações Unidas. No que se refere aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e iniciativas relacionadas aos Censos Populacionais – só para citar alguns temas – a parceria com o UNFPA é de extrema relevância. É com este espírito que estamos estabelecendo uma relação de maior proximidade e programação conjunta. A atividade que realizaremos aqui hoje é apenas um passo deste pensar e agir em parceria quando o assunto é a melhoria das condições de vidas das mulheres, e tenho certeza de que dentro de pouco tempo poderemos olhar para trás e observar o longo e comprometido caminho percorrido rumo à concretização deste sonho. 2011 é um ano muito especial para nós e certamente entrará para a história. Além de ser o ano em que se iniciam formalmente as atividades de ONU Mulheres, temos dois outros importantes marcos internacionais: o Ano Internacional da Juventude – vigente até agosto - e o Ano Internacional das/os Afrodescendentes. Como destaca a Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Dra. Navi Pillay, esta “é uma oportunidade única para redobrar nossos esforços na luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e formas conexas de intolerância que afetam a população negra em todas as partes”. É também o ano em que comemoramos os dez anos da adoção da Declaração e Plano de Ação de Durban, resultante da III Conferência Mundial contra o Racismo. EQSW 103/104, Lote 01, Bloco C, 1º Andar 70670-350 Brasília - DF T: +55 (61) 3038-9280 F: +55 (61) 3038-9289 www.unwomen.org Alinhadas à agenda dos movimentos de mulheres, da população negra e dos povos indígenas e inspiradas nos principais marcos internacionais, uma de nossas principais estratégias de atuação como ONU Mulheres é a visibilização das desigualdades existentes em nossa sociedade, por meio da produção de indicadores desagregados por sexo e cor/raça. Ao observar os dados sobre a situação de mulheres, homens, negros e brancos em nosso país, percebemos os efeitos da associação do racismo com o sexismo, que colocam as mulheres negras em situação de maior vulnerabilidade. A formulação, implementação e monitoramento de políticas públicas e o processo de tomada de decisões políticas e institucionais dependem do quanto conhecemos nossa população em sua diversidade racial e de gênero, além das diferenças regionais. É fundamental contar com insumos e ferramentas de análise que permitam argumentar e defender de forma consistente a adoção de políticas públicas com metas diferenciadas para mulheres e a população negra. No campo da saúde pública, sabemos já há bastante tempo que as diferenças na situação de saúde de indivíduos e grupos somente podem ser compreendidas se levarmos em consideração os chamados Determinantes Sociais da Saúde. Para além de condições socioeconômicas e ambientais mais gerais, o sexo e o pertencimento e étnico-racial devem ser vistos como variáveis fundamentais para analisar as desigualdades encontradas nos diversos tipos de agravos à saúde, visando ao desenho das políticas públicas e ao estabelecimento de metas diferenciadas. Para ilustrar o que digo, destaco um dos dados apresentados no Retrato das Desigualdades. No Brasil, em 2007, 46,3% das mulheres negras de 25 anos ou mais de idade nunca haviam feito o exame clínico das mamas, sendo que entre as brancas esta proporção era de 28,7%. Para melhorar o acesso e qualidade do atendimento, a eficácia das respostas universais seria muito limitada. É fundamental pensar em políticas que considerem estes diferentes quadros. Em 2008, fomos convidadas para fazer parte do Grupo Interagencial para a Redução da Mortalidade Materna na América Latina, liderado pelo UNFPA. Neste espaço, reforçamos a necessidade de contar com metas diferenciadas e ficamos com a tarefa de produzir dados de mortalidade desagregados por raça/etnia para contribuir com o debate. O texto que será apresentado por Marcelo Paixão surgiu neste contexto. Sabemos que a mortalidade materna é um importante indicador não apenas de saúde, mas também de violação dos direitos humanos das mulheres. Sua importância é refletida na inclusão da redução da mortalidade materna como uma das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Ao avançarmos para os anos finais do prazo de cumprimento das Metas, sabemos que a de número 5 é uma das que estão mais distantes de ser atingidas. Temos certeza de que seu alcance somente será possível se os diferentes contextos de vulnerabilidades EQSW 103/104, Lote 01, Bloco C, 1º Andar 70670-350 Brasília - DF T: +55 (61) 3038-9280 F: +55 (61) 3038-9289 www.unwomen.org entre as mulheres, em especial aqueles relacionados à raça e etnia, forem considerados. Além disso, reconhecemos a existência de um vínculo significativo entre o acesso aos serviços de saúde e algumas das principais políticas de combate à pobreza, como é o caso do Bolsa Família. Isto porque uma de suas condicionalidades é justamente o acompanhamento pré-natal, e este é essencial para a redução das taxas de mortalidade materna. Desta forma, os dados e a discussão a ser apresentada aqui hoje são de fundamental importância como subsídios para incorporar as dimensões de igualdade de gênero e raça nas políticas de luta contra a pobreza, objetivo central de um dos principais programas regionais implementados por ONU Mulheres na América Latina. Por fim, cabe destacar que, como poderemos ver nos trabalhos de Raquel Souzas e Edna Araújo, também aqui presentes, as desigualdades de gênero e raça também impactam nos processos de prevenção e tratamento do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, o que também coloca como fundamental a observância destas variáveis para o alcance da Meta 6 dos ODMs, de combate ao HIV/AIDS, malária e outras doenças. Desejo um bom trabalho para todos e todas. Tenho certeza que teremos um dia muito rico de debates. Dra. Rebecca Tavares Representante da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul Brasília – Brasil, 22 de fevereiro de 2011. EQSW 103/104, Lote 01, Bloco C, 1º Andar 70670-350 Brasília - DF T: +55 (61) 3038-9280 F: +55 (61) 3038-9289 www.unwomen.org