A20 Metrópole %HermesFileInfo:A-20:20151116: O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2015 NA WEB Portal. Confira outras reportagens sobre educação estadao.com.br/e/educacao FELIPE RAU/ESTADÃO-5/10/2015 Escolas abrem as portas para estágio no ensino médio Apresentar um ambiente profissional e ajudar o aluno na escolha da carreira são objetivos; supervisão é feita pelos professores Victor Vieira Em colégios particulares de São Paulo, estudantes têm dado uma pausa na sala de aula para encarar a rotina do escritório. Os alunos fazem estágios curtos em empresas durante o ensino médio, com supervisão dos professores. Os principais objetivos são conhecer um ambiente profissional e ajudar na escolha da carreira. Apaixonadoporpublicidade e design, Gustavo Costa, de 16 anos, teve a chance de conhecer uma editora por dentro.“Acompanhamos como o pessoal trabalhava: na redação, na diagramação e no setor digital da revista”, conta o jovem aluno do 2.º ano do Colégio Humboldt, em Interlagos, na zona sul da capital. Ao longo de uma semana, ele também colocou a mão na massa e ajudou em pequenas tarefas. O estágio foi feito no mês passado.SegundoCosta,aexperiência reforçou a opção por Publicidade e Propaganda, curso que deve tentar no vestibular no próximo ano. “Isso me ajudou a entender as ramificações do setor”, diz o jovem, que faz pequenos trabalhos esporádicos de criação visual, fora da escola, há quase dois anos. Adiretoriadocolégionegocia as vagas de estágio com empresas parceiras – de diferentesportes,algumasmultinacionais – e de parentes dos alunos. A ideia é que todos consigam se encaixar em setores com os quais têm afinidade. Em alguns casos, como em hospitais, a entrada dos adolescentes é mais difícil. O foco da atividade é a orientaçãoprofissional.Estagiar no 2.º ano dá tempo ao alunopara refletir sobrea experiênciaatéaescolhanovestibular,nasérieseguinte.“Essa experiência é importante PRESTE ATENÇÃO Refletir sobre escolha e participar de feiras também podem ajuda 1. Pesquisa. Livros, revistas especializadas, sites e aplicativos ajudam a entender melhor o leque de profissões e os desafios de cada uma delas no mercado. 2. Diálogo. Conversar com profissionais da área e alunos veteranos dos cursos pretendidos dá um cenário mais claro – e menos idealizado – sobre a carreira. 3. Guia. Em alguns casos, é interessante buscar a orientação vocacional – da própria escola ou de um especialista de fora. 4. Feiras. Fique atento à programação de feiras universitárias ou de profissões. Pode ser o meio mais fácil de encontrar quem já tem contato com a área. 5. Reflexão. Além da preferência por uma profissão, considere outros fatores: remuneração, condições de trabalho ou perspectivas em longo prazo. 6. Pressão. É preciso to- mar cuidado com a influência de pais e amigos na escolha. Dúvidas fazem parte do processo, e o aluno não deve se sentir cobrado. para que os estudantes tenham conhecimento empírico, real, sobre o ambiente de trabalho”, diz Erik Hörner, coordenador de Ensino Médio do Humboldt. “Nãoéapenasadinâmicadaempresa,mastambémoaconselhamento com profissionais que já trabalham na área”, afirma. No período do estágio, eles ficam dispensados das aulas. Áreas tradicionais, como administração e engenharia, costumam ser as favoritas. Segundo Hörner, recentemente têm ganhado força campos menos tradicionais, como produção cultural e gastronomia. Além do estágio, os alunos do ensino médio participam de palestras, oficinas de elaboração de currículo e até entrevistas comgerentesderecursoshumanosdeempresas, quevãoàescolaparasimularoprocessoseletivo para uma vaga. Amadurecimento. No Colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara, na zona sul de São Paulo, os alunos do 2.º ano do ensino médio também costumam fazer estágios. Com o contato comaprofissão,valeaoportunidade de vivenciar logo cedo um ambiente de trabalho – diferente do clima descontraído da escola, desde as roupas até o comportamento. “Fui até de saltinho”, conta Beatriz Braile, de 17 anos, que termina o ensino médio neste ano. “A empresa e a coordenadora da escola deram orientações sobre roupa, por exemplo”, conta a jovem, que passou uma semana no setor de recursos humanos de uma empresa internacional de tecnologia. Outranovidade,segundoBeatriz, foi enfrentar um processo seletivo. “Fiquei com medo. No começo, eram dez alunos interessados na área e só duas empresas haviam oferecido vagas”, afirma ela, que fez o estágio no ano passado. Na empresa, a jovem passou por alguns setores, participou de reuniões, conferências e análisede currículos.“Issotambémmeajudouaveraimportância de estudar um idioma. Vi que se o inglês é básico ou intermediário, o currículo é dispensado.” Após a experiência, ela confirmoua escolhanovestibular: Administração. AlgumasdascompanhiasparceirasdoSantaMariafazemexigências para receber os estagiá- Ajuda. Beatriz recebeu orientações sobre roupas e comportamento: ‘Fui até de saltinho’ DIVULGAÇÃO/HUMBOLDT Teste. Costa estagiou em editora e optou por Publicidade rios. Uma empresa de jornalismo, por exemplo, pode demandar somente estudantes que tirem nota máxima em Língua Portuguesa. “E, depois da atividade, a trocadevivências entreos alunosé bem rica”, diz Maria Soledad Gandini,orientadorapedagógicadaescola.“Algunsalunosgostam tanto que voltam ao local nas férias. Tivemos alguns que foram contratados como estagiários efetivos e outros que hoje atuam nas empresas pelas quais passaram no ensino médio.” A atividade é facultativa. Mudança de rumo. Com o alu- noVictor Noda,de 17anos,tambémdoSantaMaria,a experiência foi diferente. Cinéfilo, o jo- Colégio oferece a estudante opção de trabalho no exterior Aluno de 16 anos ficou em uma indústria na Alemanha e conseguiu conectar o conteúdo à experiência profissional A experiência do estágio ainda no ensino médio pode ser mais radical do que trocar o endereço da escola pelo da empresa por uma temporada. Em alguns colégios particulares de São Paulo, estudantes têm a oportunidade de trabalhar até em companhias fora do País. Foio casode FernandoBilfinger, de 16 anos, aluno do ensino médio da Escola Suíço-Brasileira, no Alto da Boa Vista, na zona sul da capital. O adolescente viajou neste ano para trabalhar durante pouco mais de um mês em uma indústria na Alemanha, da área de refratários. “No início, estava assustado, mas a questão do idioma foi bem menos difícil do que eu imaginava. Podia não saber falar exatamente ‘reação química’, mas acabávamos nos entendendo”, diz ele, que passou por vários departamentos da empresa. Dependendo dolocal,Bilfingertinhadeseenquadrar nas recomendações técnicas, como o uso de luvas, por exemplo. Um dos preferidos foi o setor produtivo da companhia. “Foi interessante conhecer todo o processo. Nós tivemos a chance de usar espectrômetros e o forno. Também nos deixaram calibrar máquinas”, relembra Bilfinger, entusiasmado. Interessado na área de exatas, ele ainda conseguiu conectar a rotina da produção com o conteúdo do colégio. “Muitos eram conceitos de Química e Física que aprendemos em aula. Mas é bem mais legal quando vemos aquilo funcionando no mundo, de verdade”, conta ele, que pretende fazer faculdade de Engenharia. O aprendizado no exterior também se estendeu para outras disciplinas. “Percebi que minha fluência em alemão aumentou muito nesse período”, afirma Bilfinger, que viajou com um colega. Antes, o jovem nunca havia tido qualquer vi- FELIPE RAU/ESTADÃO Mercado complexo dificulta escolha l Com o mercado cada vez mais complexo e segmentado, o adolescente não conhece todas as possibilidades de trabalho. “Há uma diversidade de carreiras e também de encaminhamentos em uma mesma profissão”, diz Regina Sônia do Nascimento, especialista em orientação vocacional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “De todo modo, vale a pena o contato com a realidade profissional no ensino médio”, afirma. Na escolha da profissão, segundo Regina, é importante o jovem traçar um projeto de vida. “Ele deve estabelecer quais são seus valores e objetivos.” / V.V. Idioma. Bilfinger foi à Alemanha: ‘Fluência melhorou’ vência profissional. Autonomia. Os estágios internacionais são oferecidos aos alunosda EscolaSuíço-Brasileira, mas a maioria das vagas é para o Brasil, explica o diretor, Marcel Brunner. Mais importantedo que a escolha dacarreira, o objetivo da atividade é propiciar uma imersão no mundo corporativoeodesenvolvimento da independência do estudante. “É responsabilidade do aluno correr atrás dessa vaga de estágio”, afirma. São eles próprios que enviam e-mailsparadiretoresdeempresasebuscamoportunidades onde desejam trabalhar. Quando há dificuldades, a direção indi- vem optou pelo estágio em um set de filmagens, onde era gravado um documentário. Ele gostou do ambiente, mas a conversa com profissionais da área fez com que desistisse de cursar Cinema na universidade. “O pessoal contou como os salários não são altos e o mercado é difícil”, diz Noda. A experiência também transformou a visão que tinha sobre a produção audiovisual. “Geralmente, pensamos em filme de Hollywood, mas existem outros modos de fazer cinema”, diz Noda, hoje no 3.º ano do ensino médio. Ele, que fez o estágio em 2014, agora pretende cursar Relações Internacionais. Para Maria Soledad, experiências desse tipo também fazem parte do processo. “Osalunoschegamnestaetapa ainda muito crus. Costumam fazer idealizações ou ter noções confusas sobre profissões parecidas.” ca uma empresa parceira. Nosmesesanterioresaoestágio, também há um semestre de preparação. “Pela primeira vez, o jovem sai da escola, sua zona de conforto. Ele vai se deslocar sozinho, pegar ônibus, cumprir horários. Ele aprende a lidar com desafios, frustrações”, diz Brunner. Outro desafio, segundo ele, é concluir o estágio mesmo quando se decepciona com a experiência nos primeiros dias. “Neste caso, o aprendizado é: quando se começa uma coisa, leva-se até o fim”, diz. “Às vezes, a expectativaé maisalta do queaquilo que a empresa consegue entregar”, afirma. Oprograma existe nocolégiodesde a década de1980. O próprio diretor estagiou, quando aluno da escola, no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. “Isso me marcou positivamente”, diz. Sintonizadacomasdemandas do mercado atual, a escolatambéminvesteemdiscussões sobre empreendedorismo.Uma daspropostasé que os alunos montem uma empresa fictícia, com definição de produto e distribuição de cargos e tarefas. / V.V.