CAPÍTULO 1 Sinto frio, muito frio, sinto o vento gelado em minhas costas e ouço sua respiração em meu ouvido. - Estava esperando por você. Escuto e meu corpo todo responde àquela voz suave e forte em meu ouvido que conheço tão bem. Sinto calor, muito calor. Me arrepio dos pés à cabeça e escuto de novo: - Você estava com saudades de mim? - Ahhhh – respondo. Penso ao mesmo tempo, quem é você? O que você está fazendo comigo? Que tesão é esse? E essa voz, ai, de novo, não. Eu o quero tanto... - Fala alguma coisa! - ele diz, ainda em meu ouvido. - Não sei o que falar. Quem é você? – respondo, tremendo, suando e com expectativas de sei lá o quê, ainda sem conseguir olhar pra ele, só ouvindo sua respiração em meu pescoço. - Eu sou o SEU! – ele sussurra. - Você sabe quem eu sou e o quanto eu te espero. Estava com saudades. Faz tempo que você não vem aqui. - Eu acho que você está me confundindo com alguém – respondo, mas ao mesmo tempo me arrependo porque se ele for embora agora, eu vou me arrepender depois... E eu quero vê-lo, ver onde isso vai me levar, mas por alguma razão não consigo olhar pra trás. - Acho que não – ele diz. – Eu sempre espero você. Olhe pra mim! - Não! Por favor, o que estamos fazendo? Me diga! - e só o que consigo pensar é o quanto o quero e agora, mas só pensar... Se eu olhar, eu posso olhar? Isso só pode ser um sonho! E se eu acordar? Eu quero acordar? Não! Respondo a mim mesma, não quero acordar, preciso terminar isso tudo desta vez. - Você sabe o que estamos fazendo, mas eu realmente gosto de olhar para você. E eu gosto de ouvir você me pedir. Então peça! - Pedir? – pedir o quê? Ele deve estar louco! Será que ele quer que eu peça amor? - É, você sabe o quê? - Amor? – eu respondo meio sem graça, com vergonha, mas ao mesmo tempo desejando esse homem. Como se pede amor? Assim? - Isso. Peça direito, por favor. Não precisa ter vergonha, não comigo! - Faça amor comigo! – eu imploro, quase que em um grito de tanto desejo, pois a voz dele fica cada vez mais sensual, sua respiração forte, ofegante e ele passa a cabeça e o nariz em meu ombro, em meu cabelo e em meu ouvido. Ahhhhh, grito internamente me fazendo de forte por fora. Ele me abraça por trás e de mansinho põe sua boca em meu rosto, e eu me viro para atacá-lo. Ele me beija com força, com desejo, sinto seus braços ao meu redor, seu cheiro, sua ereção contra minha pele, suas mãos em minha cintura e seus lábios nos meus. Passo minhas mãos por seus braços sentindo seus músculos, seu tórax, o abraço junto a mim como se fosse minha salvação e os beijos ficam cada vez mais intensos. Me perco no tempo, me permito explorar, usar, abusar do que estou sentindo por esse homem misterioso, me dou autorização para só sentir, sem pensar e usufruir desse sentimento que me invade a alma. Mãos, corpos, cheiros, línguas, gostos, braços, pernas. Sexo! Ah, eu o quero muito. Em um momento de lucidez penso que ainda não olhei diretamente pra ele e como se ele lesse meu pensamento, ele diz: - Olhe pra mim! - Não! – respondo em um grito de medo que não consigo realmente entender. - Olhe pra mim. - Não, por favor! Não me deixe assim, faça amor comigo dessa vez. Eu preciso disso! Eu preciso de você! – digo em súplica. E em um gesto mais sem pensar do que tudo, eu abro os olhos e vejo aqueles olhos grandes, penetrantes e castanhos olhando pra mim. Acordo meio tonta de tanta agitação, esses últimos dias têm sido muito corridos com o final de ano, estou trabalhando tanto... - NÃOOOOOOO! - grito ao perceber que tudo foi realmente um sonho. – Sabia! Droga – já é a quinta vez que sonho com ele e nunca consigo vê–lo direito e terminar o que sempre começamos. Quem será ele? O que eu faço agora? Penso por uns minutos, tento me acalmar e abaixar minha frequência cardíaca que está altíssima por causa do sonho. Aqueles olhos grandes e castanhos, aqueles braços fortes, aquele cheiro... Merda! Decido que o melhor é respirar fundo e enfrentar o dia. Tomo meu banho e me arrumo para ir trabalhar. Tenho que enfrentar aquele serviço chato onde todos passam, mal falam comigo e quando falam só reclamam. Por que não nasci rica?, me perguntei mais uma vez. Mas, infelizmente, não consegui uma resposta a minha pergunta ilógica como sempre. É, hoje será mais um daqueles dias... Porque quero muito reclamar... E só! Saio meio apressada porque sei que o trânsito é infernal a essa hora da manhã. Pego o mesmo engarrafamento de sempre, ligo o rádio para ouvir as dicas de trânsito que todos os dias são iguais, mas me alegro um pouco ao ouvir pessoas se divertindo e fazendo idiotices na rádio e ao vivo enquanto comentam sobre o trânsito de onde estão. Quase uma hora depois, estaciono meu carro e entro. A TEP (Tecko Engineering Plants) é uma empresa de construção civil que em Brasília só vai bem, porque estão sempre construindo mais e mais prédios. No elevador me pego pensando: não sei onde vamos parar com tanta gente assim, a cidade só cresce e eu só me estresso cada dia mais nesse trânsito. Lembro de quando era criança, poucos carros na rua, brincávamos até tarde, jogávamos bete, queimada, pique-bandeirinha, pique-esconde atrás das árvores e postes; fora as brincadeiras de sempre como: adoletá, pera – uva– maçã - salada mista que eu odiava porque quase nunca era escolhida e quando era ainda tinha que beijar uns carinhas nada legais que saíam contando pra todo mundo quem eles já tinham beijado. Como éramos inocentes! As crianças de hoje são tão diferentes! Meu primeiro beijo... Ah, não tinha a mínima noção do que era aquela brincadeira e achei tão nojento que demorou mais de um mês para tentar de novo. Eu era tão inocente, tão criança ainda! A indiscrição dos meninos, mostrando que tudo podiam e quem eles já tinham “pegado”. Não! Não era uma imagem bem vinda. Pode sair da minha cabeça. Agora! Concentre–se Beth, falo pra mim mesma. Concentre–se! Entro na sala e vou direto para a minha mesa: Recepção. É ali mesmo que fico, guiando todos ao seu posto e à sala que procuram e enquanto o mundo gira a minha volta, eu me perco na minha rotina básica de atender telefone, indicar uma sala, ler email, escrever uma carta que algum chefe mandou e de vez em quando olho meu site. Nada de novo! Nada acontece. Karen chega apressada, ela trabalha na administração e é minha amiga desde a faculdade. Ela é linda: loira, mediana, olhos verdes, cabelo até o quadril e um corpinho de dar inveja. Ela é uma das minhas amigas casadas e por sinal, é muito bem casada, nunca vi um casal tão apaixonado. Ela se casou com dezoito anos e há dez eles vivem super bem. João sempre fala para todos que ela é a mulher da vida dele e ela sempre diz o mesmo. Eles estão sempre juntos, se abraçando e se beijando apaixonadamente. Parece que aquela energia e empolgação de um romance adolescente nunca termina pra eles. Tenho certeza de que fazem amor quase todos os dias. Não são como a maioria dos casais que fingem ser felizes. Eles são. Se fosse para eu escolher um relacionamento, queria que fosse assim. - Bom dia. Não estou atrasada, estou? Estava no médico – diz Karen. - Bom dia. Acho que não. Eu não vi nada... Invisível! – respondo gesticulando. - Tudo bem? Você parece estressada e assustada! – diz ela. - Sim, é tive aquele sonho de novo e o trânsito me acaba... E você? – pergunto. - Aquele sonho? Gozou dessa vez? – ela fala bem baixinho para ninguém escutar. - Não! – falo bem chateada. – Droga, né? - Acho que você está precisando sair e deixar rolar... Sexo por sexo. Só uma noite para aliviar essa tensão, você está ficando cada dia mais nervosa e mau humorada. Isso é falta de sexo! Quatro anos é muita coisa, Beth. Você vai enlouquecer! – diz ela rindo. - Pode parar com isso. Eu estou bem. - Precisa de uma trepada bem sacana! – diz de sacanagem se referindo ao livro que estamos lendo. - Bem sacana, ai, ai! - eu respondo. – E você? Como vai seu maridão e sua vida? - Tudo bem, igual. Nenhuma novidade – ela me fala meio estranha e percebo que deve ter algo errado que ela não está me contando, mas resolvo não me intrometer. Quando ela achar que deve me explicar, ela falará. - Okay. Então vamos trabalhar? São 7 anos disso aqui. A mesma rotina diária, o mesmo trabalho entediante e fico me perguntando até onde eu quero ir. Aposentar aqui? Não, claro que não! Então deveria procurar outro lugar logo. Mas, o que fazer? Pra onde irei? Em Brasília só há concursos! As pessoas passam anos estudando para passar em algum concurso, para fazer aquilo que elas não gostam, mas para simplesmente terem estabilidade e um salário fixo no final do mês. Será que quero isso? Será que minha vida se resume a ficar quietinha em um local do governo, vivendo todos os dias como se fossem iguais? Recebendo meu salário e só. Tédio. Isso se chama tédio. Estaria trocando o meu tédio de agora por outro por causa da estabilidade? Será que gostaria disso? E minha faculdade? Serve pra quê? Nunca me serviu pra nada mesmo, consegui esse emprego quando ainda estava na faculdade e estou ainda no mesmo lugar. Só mudei de estagiária pra recepcionista. Grande coisa! Nunca usei o que aprendi, se é que aprendi alguma coisa em quatro anos de faculdade. Será que eu aprendi algo em toda minha vida escolar? Só posso ter aprendido! Se não, tudo isso foi em vão. Vão??????? NÃO!!!!! - Caramba! - estou delirando hoje, é melhor eu parar e voltar ao trabalho antes que alguém perceba que passei horas aqui vagando em minha mente. A ida pra casa é a mesma coisa. Trânsito e mais trânsito. Quem consegue isso? Moro em Águas Claras que fica só a 20 minutos do centro de Brasília, mas levo mais de uma hora pra se chegar em casa todos os dias. Pensando nisso ligo o rádio e começo a escutar umas músicas de flashback. Penso se não deveria me matricular em alguma academia enquanto espero o trânsito passar já que perco uma hora nele mesmo todo dia, deveria aproveitar essa hora pra malhar. Preciso mesmo perder uns quilinhos. Penso, penso e decido que segunda-feira é um dia bom. Isso! Começarei na segunda! Chego em casa exausta por causa do trânsito e tudo que quero é não ter que cozinhar, se bem que é muito raro eu realmente querer cozinhar, me corrijo em pensamento. Então vou até a padaria ao lado do meu prédio e compro uns pães de queijo. Delícia de jantar! Tomo meu banho, ligo a TV e pego um livro. Faço tudo ao mesmo tempo como sempre, não sei se é pela indecisão de não saber o que quero ou de ter que escolher algo, mas decido que não há nada legal pra assistir, então aperto o mudo na TV e continuo a ler meu livro. Resolvi reler toda a coleção de Paulo Coelho e para minha surpresa hoje parece que os livros estão falando comigo. Eles sempre falam comigo, respondo a mim mesma. Mas, hoje, em especial estou contemplativa, pensando na vida, tentando acertar e decidir que rumo tomar em minha vida. Acho que deve ser a idade, ou o final de ano. Estou ficando velha mesmo. O fato de alguém falar que “quando você quer realmente algo, o Universo conspira a seu favor” ou que o “amor nunca impede um homem de seguir sua Lenda Pessoal” me fez pensar em mim e no que quero daqui para a frente. Há algum tempo estou me sentindo insatisfeita com tudo, será que é a falta de sexo? Parece que cheguei em um ponto da vida em que tenho que decidir se fico nessa estrada ou se vou para outro lugar, mas para onde? Me sinto cansada, estagnada, como se o que fiz até agora não estivesse certo. Algo está faltando! Tenho que descobrir o quê. Lenda Pessoal? Minha missão? Que diabo é isso? Como é que sei qual é a minha? Os desejos do meu coração? Quais são esses desejos? Sempre quis uma família, mas será que é só isso que quero? Preciso pensar mais sobre isso. Caramba! Vou precisar de um psicólogo, um psicanalista, um terapeuta holístico, massagista e até um coach pra definir aquilo que eu realmente sou e quero ser. Até tenho o costume de me analisar sozinha, só pra mim mesma, em frente ao espelho, conversar comigo e com Deus, chorar no espelho e enquanto dirijo sozinha, mas para saber os anseios da minha alma... Aí a viagem é tremenda! Decido então fazer planos. Planos para o ano de 2013 que se iniciará em um mês: me analisar e saber o que eu quero. Vou começar a pensar desde já, porque dinheiro para um analista está cada vez mais difícil com essa crise eterna em que estou. Adoro filosofar mesmo, então olho meu caderno de anotações com citações e começo a reler algumas pra ver se me inspiro. Vejo que começou um filme legal na TV e ponho meu livro de lado. Romances? Ah... Como adoro um belo romance. É isso que está faltando em minha vida. Romance. Acho que é isso que está faltando no mundo. Não existem mais homens como antigamente, homens Shakespeareanos que te cortejem, que te mandem flores, que sintam realmente a nossa falta, que prezem a sua presença e que sejam ótimos na cama. Será que é querer demais? Um homem carinhoso, bom, honesto, romântico, sexy, lindo e ainda super bom de cama? Ah! Estou sonhando acordada de novo. Mas, acho que lindo e sexy tem vários, embora isso não garanta que eles sejam bons de cama. Às vezes um carinha normalzinho faz o serviço melhor do que um gostosão! É, já tive a prova disso! A beleza exterior não prova que aquela pessoa seja melhor na cama. Mas, romântico? Isso está cada vez mais difícil. Será que preciso disso? Será que não posso me contentar com menos? Na verdade... Acho que sem romance tudo morre mais rápido. A realidade é tão cruel que se você não se doar e dar um pouquinho mais de romance pra seu relacionamento ele acaba facilmente. Droga! Mais um plano para 2013, procurar um namorado. Essa vida de solteira está me matando e se eu quiser casar e ter filhos tenho que correr logo com isso, o relógio já está quase se auto–destruindo aqui! E o meu sonho? Ah... Aquele sonho! Será que ele existe, como ele se chamou? O Seu! Ah... Ele bem que poderia ser meu mesmo. Será que ele existe ou é só um sonho? Ah... O Seu! Mas aquilo era só sexo puro! Vai ver que se ele existir não vai ter nada na cabeça. É, melhor pensar assim. Concentrar no hoje. Ele não existe, é só um sonho. E um sonho que me tirou o chão, então vamos esquecê-lo urgentemente! Durma! CAPÍTULO 2 Natal chegando, shopping lotado, falta de paciência e minhas compras feitas, graças a Deus! Odeio ir às compras no mês de dezembro. Preços fora de noção e filas para pagar. Na verdade, odeio ir às compras sempre, mas adoro dar uma volta e quando vejo algo que gosto, entro e compro, mas sem planos. É disso que geralmente gosto. Só passear. Nada de planos! Como não? BETH! Alguns dias atrás comecei a fazer minha lista para 2013, não posso me sabotar agora. Tenho que continuar com meus planos. Pode parar de neurose! Sempre tenho planos. Segui-los é que é o problema... Vamos segui-los dessa vez. Sim, preciso melhorar de vida, melhorar como pessoa, me conhecer melhor, ser um ser humano melhor e pra isso preciso de planos. Decidida! 2013 será diferente, terei planos e os seguirei. Tudo ficará melhor e minha vida será mais organizada. Chego à festa dos meus pais com alegria, eles moram em Taguatinga, a 5 minutos de Águas Claras. Estou arrumada como sempre, em um vestido cinza meio bonequinha. Já que não sou bonitona ou gostosona, tenho pelo menos que ser arrumadinha, né? Recebo alguns elogios de familiares e outros que só me dizem o óbvio: - Se você não sair de casa, não achará ninguém. - Livros não te trazem namorados, Beth! - Vai acabar ficando pra titia... Faça igual às suas primas, vá lá conversar com elas, elas te explicam tudo. – E vou mesmo, penso, saindo devagar. - Você tem que se cuidar mais, ir à academia. - Ixi! Me lembrei que esse era o plano. - Tem que emagrecer para conhecer alguém, a aparência é tudo. Não sou gorda! Penso, mas não verbalizo, sou cheinha, uma barriguinha protuberante, mas tenho pernas bonitas e um cabelo longo, sedoso e castanho, sempre elogiado por todos. - Você devia se inscrever em um site de relacionamentos. Já está sozinha há um bom tempo! – Será? Isso não é má ideia, vamos pensar sobre isso também. Escuto tudo como sempre, dou aquele sorrisinho sem graça e vou lá falar com Greisy e Gisele que são minhas primas casadas e da minha idade. Chego de mansinho, já que as duas estão em uma conversa sobre comida. - Oi – elas dizem em uníssono. - Oi – respondo. – Sobre o que estão conversando? - Ah, o de sempre. Arrumação de casa, cozinha, essas coisas que você faz sozinha e que nós fazemos também sozinhas embora sejamos casadas – diz Greisy chateada, talvez com o marido. - Merda, né? A gente acha que quando casar as coisas vão melhorar, que os homens vão nos ajudar, mas eles acham que somos empregadas ou mães deles, sei lá! Sempre reclamam da casa, da comida e de tudo – diz Gisele. - Nossa! Achei que estivessem felizes com o casamento – digo. - Eu estou – diz Greisy. - Eu também – diz Gisele. - Mas eles não ajudam em nada? Achei que quando casasse iria ser só sexo o tempo todo, fantástico! – digo tentando fazer uma brincadeira. Elas riem e se olham. - No primeiro ano, até que é... Sexo em todas as partes da casa. Mas, depois, sexo só uma vez por semana e olhe lá, a gente se acostuma, sabe? Não tem o que fazer, a rotina é froids! Trabalho, casa, família... Mas, às vezes queria que Pedro me ajudasse, nós dois trabalhamos fora, ele não faz nada! Eu limpo, cozinho, lavo e passo, tudo sozinha também, é demais! E quando tivermos filhos, não sei se aguento tudo isso sozinha não. É uma droga estar casada desse jeito, eu esperava que ele também fosse cuidar de mim, mas até agora EU é que cuido dele e quando peço ajuda, ele está sempre cansado ou com coisas do trabalho pra fazer. Pelo menos é o que ele diz e me deixa lá reclamando sozinha. Odeio essa parte do casamento! – diz Greisy, de novo brava. - Desculpe! – digo. – Talvez você devesse conversar com o Pedro, tenho certeza que ele é um cara legal. Explica pra ele como você está chateada e divide as tarefas, já dando a parte dele em casa pra ver se ele melhora. É só uma ideia. Minha mãe sempre fala que você tem que guiar os homens, explicar pra eles todos os detalhes, o que você quer, porque eles não conseguem ler as entrelinhas não! Se quer ajuda, tem que pedir. Eles são literais. Burros, em meu conceito! – digo, mas eu não sei de nada, só estou fingindo que sei. - É... - responde ela rindo agora. – Ele é um cara legal, só isso – e me olha meio triste, mas para me alegrar ou garantir que eu não vá sair por aí contando seus problemas, ela fala: - Mas mesmo assim eu sou feliz, sabe? Eu o amo! Agora só falta o filho. Sexo nós estamos fazendo pra ver se o filho vem logo. Hehe! Faço que sim com a cabeça, fico rindo e ela se acalma. Gisele então ri e diz: - E tem jeito? Casou, agora aguenta! É pra vida toda! A gente ama aqueles filhos da mãe, mas eles bem que podiam ser mais prestativos, sabe? Companheiros, amantes. Mostrar que amam a gente. Só ouvimos cobranças e isso nos mata. Parece que eles se acostumam a ter a gente na vida deles e se esquecem de que tem que cuidar do jardim, regar as flores. Elogios? Nada. A grama do vizinho é sempre mais verde, a mulher do vizinho é sempre melhor, mais arrumada, mais bonita. Uma merda! Mas, se está ruim com eles, pior sem eles! É assim que eu penso. Fico espantada com o discurso, dou um sorriso amarelo, concordo com tudo calmamente e fico pensando se é isso que eu quero. Casar para isso? E olha que elas nem têm filhos ainda e todos dizem que quando se tem filho, aí começa o estresse, sem tempo pra tudo, nada de dormir e sexo fica cada vez mais raro. Estou lascada! Ficamos ali conversando um pouco e decido ir ajudar minha mãe. Coitada está arrumando tudo sozinha. - Filha, que saudades! Você nos abandonou! – diz mamãe, agora que estamos a sós. E aí vou eu explicar pra ela o quanto estou ocupada e como foi minha vida nessas últimas duas semanas. Falo tudo da TEP, da minha vida, em que não acontece nada, mas dou uma apimentada pra ela não dizer que sou monótona, né? E conto da viagem, em todos os detalhes, pra ela não ficar enchendo o saco em relação ao meu Ano-Novo, que será mais uma vez sem eles. Bem... Curto o Natal e decido que o Ano-Novo será diferente! Vou viajar com as meninas, então pelo menos não ouvirei esses comentários tão indiscretos. Tudo bem, tenho quase 30 anos, mas isso não quer dizer que vá morrer sozinha; ou vou? Ai, mais minhocas na minha cabeça agora, paranoia total! Vou precisar ter planos em 2013. Se não bastassem minhas próprias neuroses e a falta de sexo, ainda tem o sonho, que não sai da minha cabeça. Droga! Tenho que pensar em alguma coisa diferente. Está na hora. Dormir. Acho que isso é o melhor a fazer. Pensar depois e dormir agora. A semana passa super rápido com os preparativos para a viagem. Até que estou empolgada com a praia. Faz um ano que viajei, então realmente preciso pegar uma corzinha. Esse apagado de Brasília tem que sair do meu corpo. Um bronzeado! É isso que eu preciso! Preciso de sol, mar e água fresca. Relaxar e começar bem o novo ano... Chego ao aeroporto às 9 da manhã, o voo só saí às 10:30, então tenho tempo de fazer tudo e ainda começar a ler meu segundo livro da trilogia. Quando estou esperando encontro Dana, uma loira, baixa, cabelos longos, olhos castanhos, mais uma das meninas gostosonas que vai viajar conosco, ela está de shortinho minúsculo, cabelo preso em um rabo de cavalo e blusa tão branca que é quase transparente. Não gosto muito dela, acho– a supérflua e indiscreta, mas ela é linda e divertida também, então isso deve contar para alguma coisa. Penso logo em por que resolvi vir a essa viagem, pois todos esses corpões só me fazem sentir a pior e mais obesa das mulheres, mesmo sabendo que obesa eu não sou. Cheinha sim, mas ainda falta um tanto bem grande para ser obesa. Bem, resolvi ir porque a Leka ficava insistindo muito dizendo que ir a Porto Seguro, aquela bagunça, curtição total com a galera seria mais uma experiência que não poderia deixar de viver e me arrependeria aos cinquenta anos se não fizesse isso agora, antes de casar. Como foi Salvador, Caldas Novas, Costa do Sauípe e agora Porto Seguro. Não me arrependi de nenhuma daquelas viagens, então ela deve estar certa. Deve ser o último local agora porque já não temos mais nossos vinte anos... Então tenho que aproveitar. É, vou curtir! - Oi - diz Dana. - Que bom que alguém já chegou, assim não fico sozinha. - Oi - respondo, pensando ao mesmo tempo que bom que sou alguém. - O que você está lendo? - Este livro aqui, olha! Estou amando. - Ah, eu ouvi falar desse livro, bem pornográfico! - Bem, é um pouco sim, mas como sou uma romântica por natureza, pra mim está significando mais do que isso. É uma estória de amor incondicional, você sabe, o que nós sempre esperamos. Alguém que largue tudo por nós, que nos ame acima do dinheiro, do trabalho, que queira dar a vida por nós e se abra por inteiro. Alguém que te reconheça como uma alma gêmea, aquela energia de almas perdidas... - E você quer isso? - Claro que quero! - Em qual mundo você vive? Você está sonhando! Delirando eu diria... Sexo é sexo, dinheiro é dinheiro e sexo com dinheiro é muito melhor. Achando um carinha bem de vida, estabilizado e sexy, é isso que importa! É por isso que você está sozinha, Beth. Você ainda não aprendeu a viver. Tem que aprender comigo. Eu te ensino. Eu nunca fico sozinha e também não fico com cara pobre, não! Vamos sair juntas que te dou umas dicas de como fisgar um pra você... Mas, primeiro você vai ter que comprar umas roupinhas mais sexy. - É, pode ser! – respondo, mas ao mesmo tempo fico um pouco chateada porque sei que é a verdade e é assim que a maioria das pessoas veem o mundo. E Dana nunca fica sozinha, tem vários carinhas atrás dela e pra ela sexo e dinheiro estão independentes, mas juntos. Nunca a vi namorar ninguém pobre. Amor incondicional e o romantismo são para os fracos, como eu. Talvez eu seja mesmo uma fraca, iludida, alienada e sem rumo na vida. Só posso estar errada. Eu é que estou sozinha, então alguma coisa devo ter que aprender com ela. Nunca a vi infeliz! Então, ela realmente deve ter razão. Ah... Mais planos para semana que vem: mudar meus pensamentos, ideais, trocar de corpo, de mente... Sei lá! Reencarnar de novo, provavelmente, se isso for possível e ainda nesse momento! Será que dá? - Beth! – grita Leka assim que me vê e eu fico agradecida porque não sabia mais como me comunicar com Dana. Não tenho papo com ela, é simples assim! Não sei como fingir muito. Nos abraçamos e ela me dá um beijinho solto no ar, como ela sempre faz. Leka é moleca, linda, alta, magérrima, morena e com cabelos encaracolados. Não liga muito para o que falam dela, se diverte pra caramba e sempre está ao meu lado querendo me animar. Ela é muito alegre e parece sempre segura e certa do que fazer. - Ainda bem que você chegou, Leka, eu já estava preocupada, achando que iria sozinha com essa mulherada, sem o seu apoio, sem uma amiga de verdade – digo baixinho, porque é verdade e não quero magoar as outras, caso alguém escute. - E você acha que eu iria te colocar numa furada? – Leka responde. - Não sei, acho que não de propósito, mas... nem quero pensar. – falo virando o rosto. O resto da mulherada chega: Joana, Carol e Alana. Então embarcamos, já que estão chamando nosso voo. Dentro do avião faço o que me é de costume, leio e converso de vez em quando com as meninas, já que o papo e o acordo agora é ficar com pelo menos um garoto por dia. E eu aqui com medo de não conseguir nem isso, enquanto elas estão apostando quem vai ficar com mais e quem perderá... EU! Como todas já sabem. Só perco mesmo. Tento me livrar dos castigos, caso eu perca, mas é simplesmente impossível discutir com elas, sou uma contra cinco! Chegamos. E eu ainda preocupada, porque sei que irei perder e não quero ter que pagar o motel delas, nem sei se tenho dinheiro pra isso. Vou ter que barganhar, penso logo. Talvez elas aceitem que eu pague um motel por mês até que todas tenham ido. Aí sim, eu conseguiria pagar minha dívida. Entramos no táxi e depois de 30 minutos já estávamos no hotel. Mais uma pousada do que um hotel, mas muito bem limpo e parece arrumadinho. - Ai, graças a Deus! – exclamo. As meninas começam a rir porque sabem muito bem que eu estava já preocupada com o que iríamos encontrar. Elas são sempre de boa, eu é que me estresso. Sou a chata da turma! - Vamos desarrumar as malas e aí explorar. Meia hora! - diz Carol, que é a que mais parece comigo por não ter o corpo tão perfeito assim. Ela tem quadris largos, pernas bem grossas, mas a cintura bem fina e seios pequenos, é branquinha com o cabelo bem liso e preto. Bonita do jeito dela, mas assim como eu, não é nunca a primeira a ser beijada. No entanto, é bem alegre e conversa com todos, por isso todos a adoram e quase nunca sai sozinha das festas, enquanto eu, com minha timidez, fico em um canto só observando, sozinha. Alana e Carol ficam em um quarto, eu e Leka em outro; Dana e Joana em outro. Depois de meia hora, estamos todas na entrada da Pousada Flores Azules e decidimos ir à cidade, dar uma volta, almoçar, depois piscina e à noite, uma festa no centro com fogos de artifício, barraquinhas, luzes de natal, show ao vivo e tudo mais. Às onze horas estamos descansadas, arrumadas, lindas e prontas para arrasar, botar pra quebrar. Pelo menos é o que Alana fica dizendo o tempo todo. Linda de morrer com seu corpão sexy e cabelo curto, liso e preto. - Botar pra quebrar! - A competição já está começando? – pergunto mais pra confirmar porque sei a resposta. - SIMMMM! – respondem todas em uníssono. - Eu posso alertá-las que se eu perder não consigo pagar o motel de todas no mesmo mês? Nós vamos ter que fazer uma troca. - Não acredito que você está falando isso aqui? Presta atenção, Beth! – diz Carol, rindo. - Preciso avisar logo, porque depois eu sei que vocês vão ficar me atormentando e já estou aqui me martirizando sozinha mesmo! – digo, nervosa. - Beth! Você vai ter que se superar nessa. Porque será nossa última vez – diz Alana. - Como assim? - Ué! Já estamos ficando velhas pra baixarias, né? Então faz de conta que é a última e relaxa de uma vez por todas, porque esse estresse que você fica se colocando, mata a gente também. Ninguém aqui está julgando ninguém! - Está bom. Vou tentar relaxar, mas não é fácil. Não consigo ir ficando com qualquer um assim não! – falo, agora mais calma. - Consegue sim. Vai tentar – diz Leka, rindo agora. Todas riem com meu alerta e viram a cabeça como se não acreditassem que eu realmente estava falando aquilo ali pra todos ouvirem, em frente ao hotel. Rio também e vejo quão bizarro foi meu comentário. Resolvo só aproveitar a noite, então, e nada mais. Vou deixar rolar e não me preocupar com o que os outros vão pensar de mim. Relaxa, Beth. Relaxa! - Na verdade, Beth, isso tudo está mais é na sua cabeça, sabe? Jovens têm que aproveitar mesmo, curtir pra poder depois assumir as responsabilidades da vida. Se você não curte enquanto pode, sempre vai ficar se perguntando se fez o suficiente, se viveu o que podia. Aí, depois, quando tiver a crise da meia idade vai querer viver tudo de novo, e muitas vezes faz até pior! Não que eu queira julgar as pessoas, mas acho que temos que viver cada processo em sua fase, no seu momento! - Mas uma senhora também pode curtir! – digo, brava agora. - Pode e deve! Mas ficar disputando com uma menininha de vinte não dá, né? Ela perde, muitas vezes, em termos de beleza ou de corpo, mas ganha em termos de sabedoria e personalidade. Se bem que o mundo está mudando tanto que... Bem... Cada um tem sua fase, é isso que estou falando. Curtir as fases da vida! - Ah, entendi! Cada fase tem que ser vivida. Cada fase completa uma parte de nós mesmos. E temos que curtir cada uma. - Isso mesmo. Você é inteligente, viu? - E você? Está me testando? – pergunto a ela. - Não. Estou te desafiando. Acho que você pensa demais, sofre demais, analisa demais e com isso vai perder sua fase, então... Vamos curtir que essa fase também está acabando. Deixa a análise para o analista, tá? – diz Alana me fazendo rir um pouco. - Sim, senhora. Embora esteja sem um analista, porque a grana está curta, mas um dia quem sabe, né? – digo, rindo. - Um dia! – diz Joana, agora que estava ouvindo nossa conversa. - Vamos, o táxi chegou, as meninas já entraram naquele outro, então vamos nós três nesse aqui, tá? - Tudo bem! – falo achando estranho a Leka ter ido na frente sem mim, puxa vida! Bem, tenho que curtir e não me preocupar com isso. Viemos curtir, viver as fases como Alana mesmo disse. Ela sabe. Ela é boa nisso tudo. Tenho que confiar na profissional e amiga que ela é. E Joana também é gente boa. Só um pouco indiscreta, mas gente boa. Gosto dela também. É, vamos nos divertir e só, Beth. Pare de analisar tudo. CAPÍTULO 3 - Vamos dançar! – fala Joana, que está em um mini vestido que mostra cada vez mais aquelas pernas lindas, na verdade ela é maravilhosa, de parar trânsito, loira, alta, corpão, olhos verdes e aquele cabelo cortado curtinho. Corremos todas para o meio da praça, onde está acontecendo o show. Dançamos, bebemos, dançamos mais e quando vemos, Alana já está aos beijos com um carinha bem bonitão. Olho para Leka e digo: - Ixi! Começou de verdade. – Leka ri e diz: - Vá procurar o seu! Saio para comprar mais drinques, porque sei que primeiro tenho que me embebedar para só depois conseguir beijar um estranho e quando volto, Leka também está aos beijos com um menino bem baixinho; de qualquer jeito todos eles são baixinhos perto dela, mas ele até que é bem bonitinho também. Ela ri pra mim, faz sinal de jóia pra me acalmar e eu volto para o meu drinque. Danço, olho para os lados. As outras sumiram um pouco e eu fiquei sozinha, como sempre. Danço mais e me embebedo mais pra ver se o tempo passa logo e quando vejo, eu também estou nos braços de um altão, moreno claro e de olhos claros. Como ele chegou aqui? Olho pra trás pra vê–lo. Gato! Eu penso e deixo de pensar, porque estou mesmo super bêbada. - Bom dia! – digo logo que acordo à Leka, que ainda está curtindo preguiça, às dez da manhã. - É segunda-feira, último dia do ano de 2012. Vamos à praia, limpar toda a nhaca do ano que está acabando, ainda temos que pular nossas ondas e pedir a Deus um ano melhor. Vamos? - Ah é! – ela responde, pegando o celular e vendo a mensagem de Alana dizendo que todas as meninas tinham ido à praia e nos esperam lá na barraca 18. - Bom dia, meninas – diz Leka. - Bom dia, dorminhocas – diz Carol. – Vimos que vocês não ficaram pra trás em nossa batalha ontem à noite e estamos muito orgulhosas de vocês. Então, estamos fazendo uma tabela aqui no celular que mostra o desenvolvimento de cada uma, todos os dias. Em alguns dias quando formos embora, aí veremos quem foi a vencedora e a perdedora. - Você deve estar de brincadeira! – digo, espantada. - Não! – responde Alana, às gargalhadas. – Mas você até que se saiu muito bem ontem à noite. Então, não precisa ficar tão preocupada. - Ah é! – respondo, sabendo que fiquei com alguém, mas sem mesmo lembrar muito do que acontecera. Ficamos ali paradas, tomando sol, bebendo um pouco. Dou meus mergulhos, pulo as minhas ondas, faço minha adoração ao sol e à natureza. Faço meu agradecimento e entrego naquele momento minha vida a Deus, porque sei que tudo está errado e que preciso resolver o que fazer da minha vida. Decido me dar esses cinco dias para voltar à adolescência, aproveitar ao máximo, me distrair, me entregar e quando voltar, tomar minhas decisões, recomeçar minha vida antes dos trinta. À noite, temos um jantar super chique em nossa pousada e depois corremos para o centro pra ver os fogos e os shows. Dançamos, bebemos, rimos, nos divertimos e como sempre; fico só mais uma vez porque cada uma já se arranjou com um carinha qualquer. Lá pelas duas da manhã, estou sentada em um banco olhando para o céu e agradecendo a Deus por estar ali. Apesar de tudo e de estar sozinha, eu não estou em casa, assistindo à TV. Estou em uma praia, curtindo, bebendo, comendo, dançando, me divertindo. Então, poderia ter sido muito pior! É, eu estou bem e feliz aqui. Um bom Ano-Novo! Olhos verdes se aproximam de mim, me encarando e eu fico um pouco sem graça. - Oi. Lembra de mim? – diz ele. - Oi. Talvez! – respondo, já morrendo de vergonha por na verdade ter uma vaga lembrança de ontem à noite. - Talvez? Eu me lembro de você muito bem – diz ele, constrangido agora. Como ele é alto! Ou talvez eu que seja baixa demais! - Desculpe, acho que estava um pouco bêbada ontem à noite. Mas, eu me lembro de algumas coisas, tem algo específico que você realmente quer que eu me lembre e que talvez eu possa ter esquecido? Fizemos algo que não deveríamos... – falo olhando para baixo, envergonhada e super vermelha. Ele ri. - Não. Não aconteceu nada para você se envergonhar, além de nossos beijos. Mas, acho que isso deveria ter acontecido, você não acha? Respiro aliviada, dou um sorrisinho, faço um movimento com as mãos pra ele se sentar e ele se senta ao meu lado. - Prazer, meu nome é Antônio. - Prazer, meu nome é Elizabeth – digo para parecer um pouco mais descontraída do que o comum, mas ao mesmo tempo soando séria. - Vejo que hoje você está melhor. Ontem nem conversamos! - E é claro que você realmente queria conversar, né? – digo. Ele ri e eu também. - É verdade, mas também podemos conversar. Que tal irmos comer alguma coisa, você parece com fome! - O que? – grito assustada, será que minha cara está tão mal assim? Ele ri, eu também e decido acompanhá-lo sem fazer drama. - Cachorro quente ou caldo? - ele sugere porque são as únicas coisas disponíveis nas barraquinhas àquela hora da noite. - Caldo – respondo. Mais porque fico com vergonha de ter que conversar com ele enquanto estou com a boca cheia de cachorro quente do que por gostar mesmo do caldo. Sentamos a uma mesa, peço um caldo de frango e ele um verde, ficamos ali um olhando o outro e eu percebo que ele é bonito, charmoso e parece bem legal. - E então? O que você faz? – pergunto para começar uma conversa. - Sou advogado. Trabalho em Brasília e você? - Sou recepcionista da TEP, também de Brasília e atualmente analisando minha vida pra ver se é isso mesmo que eu quero, já que sou formada em administração e até agora não exerci minha profissão. Então estou pensando se mudo de emprego, faço concurso também ou se continuo onde estou... – falo tudo muito rápido. Acho que estou nervosa, acalme–se, acalme–se, falo pra mim mesma o tempo todo. Você está falando demais! - Hum. Acho que você está certa. E está na hora de pensar mesmo. - Certa? Como assim? – pergunto sem entender direito. Quem ele é? Nem me conhece e já vai se metendo na minha vida? Não sei por que estou tão brava! - Certa de começar a analisar sua vida e pensar em fazer outra coisa porque você já está ficando velha e se quiser mudar de profissão tem que ser agora. - Velha? Tenho 28 anos! – falo meio irritada porque estou sim, ficando velha, mas... quem ele pensa que é pra me chamar a atenção! Ele ri. - Você está achando graça! – falo, ainda mais indignada. – Graça de mim? Só porque eu não sou tão decidida, sei lá... ou estabilizada igual a você? Por que eu ainda não tenho o emprego dos meus sonhos? – que idiota, penso. - Não. Estou achando graça você ficar toda bravinha assim. Me desculpe pelo velha, mas foi no bom sentido. Fica linda desse jeito! Bravinha! – diz ele com um olhar muito pervertido e, por sinal, lindo. Fico vermelha e continuo a tomar meu caldo rapidamente, porque não sei o que fazer agora, ele ri e toma o dele. Em certo ponto me pego olhando para o seu caldo e ele pergunta: - Quer provar o meu? - Posso? - Claro! – e ele me dá uma colherada na boca. Acho graça, tomo tudo fazendo hummmm e ele me dá outra, aí me perdi em meus pensamentos e quando vi estava beijando-o de novo. Ficamos lá sentados, nos beijando por algumas horas, minutos, sei lá por quanto tempo até me lembrar das garotas e decidir ir ver onde elas estão. No caminho encontro Leka e resolvemos ir embora, ela olha para Antônio e eu os apresento. - Bonito você! – diz Leka. – Ei, você é o mesmo de ontem! - Sim, sou eu, por quê? Leka mexe os ombros como se dizesse por nada e ele diz: - Vocês deveriam ir para o hotel. Onde vocês estão? Querem um táxi? – ficamos caladas e então respondo depois de alguns segundos: - Sim, um táxi, por favor. - ele nos acompanha até o ponto do táxi e quando estamos entrando ele fala: - Você não respondeu às minhas perguntas! - Quais? - Várias e tenho muito mais, você pode me dar o número do seu telefone? O nome do seu hotel? Sei lá! Caso você tenha tempo amanhã? – diz ele, me segurando pra eu não entrar no táxi. - Sim – respondo meio que indiferente e preocupada ao mesmo tempo. Pego uma caneta na bolsa, escrevo o número do meu telefone na mão dele e mando um beijinho no ar. Entro no carro, já que o motorista está fulo da vida, me xingando dizendo que o carro já está ligado e vamos embora. Ah! A educação! Nessas horas gostaria de estar na Europa. Civilidade pessoal, civilidade... Penso que educação deveria ser um processo de constante melhora e modificação. Temos que modificar nosso país. Agora! Ah, temos, mas como? Chegamos ao hotel, Leka está meio bêbada, mas eu estou super bem. Me diverti hoje à noite. É, esse Ano-Novo me parece melhor! Uma energia boa, acolhedora. 2013 será melhor. Ah, e adorei conhecer o Antônio... Duas noites seguidas! Nossa! E ele me pareceu tão legalzinho. Beija bem. Um gato! Aqueles olhos verdes! Aqueles braços e mãos enormes... Meu Deus! Pode parar Beth, pare de ficar criando expectativas. Se bem que seria ótimo ter aquelas mãos em mim. Também! Na carência que estou. Quatro anos sem sexo não é brincadeira não. Aí, encontro um carinha, fico com ele duas noites seguidas e já fico aqui me iludindo, achando que vou ter mais do que isso. Loucura minha. É, pelo menos ele pediu meu telefone, caso eu tenha tempo amanhã. Claro que eu tenho! Está louca? Estou de férias. Só curtindo! Sempre se tem um tempinho pra sexo, especialmente nas férias! Nunca vi ninguém falar que não tem tempo pra isso. Até faltar ao trabalho, chegar atrasada e mentir que está doente por causa de sexo eu já fiz. É! Sempre há tempo pra sexo. Especialmente com um carinha alto, lindo, de olhos verdes, com aquelas mãos fantásticas e aquela boca super gostosa... É melhor dormir, senão vou pirar! Ele é lindo! E eu estou tão carente. Merda! Vamos dormir. Adormeço ao som de Pato Fu: “a vida é Só um sopro, só Ele agora vê que o tempo é uma ilusão.” como um vento, um nada gás mais... CAPÍTULO 4 Acordo pensando na frase: “Nós fazemos acontecer, o que pensamos, o que sentimos e o que dizemos” (Buda). Caramba! Eu pedi um namorado para 2013, será que já estou recebendo um? “A vida é só um gás, um sopro, um vento e nada mais” (Pato Fu). Tudo passa tão rápido. Esses quatro anos se passaram tão rápido! O tempo é realmente uma ilusão, tudo é muito rápido e ao mesmo tempo parece que a vida anda tão devagar. O ano já começou e parece que foi ontem que vi tudo pela primeira vez. As coisas acontecem, a vida passa e se não corrermos contra o tempo, não teremos tempo de fazer tudo que queremos. É como se cada dia passasse mais rápido que o dia anterior. Quatro anos se passaram e eu nem vi! Agora quero fazer acontecer. Quero ver e sentir tudo dessa vez. Mais um dia igual ao outro, exceto pelo telefonema do Antônio me pedindo para encontrálo à noite e assim se vão meus dias: praia, dança, muita comida, bebida e Antônio, que tem sido um cavalheiro de tão doce, gentil, me seguindo para todo lugar e sem ao menos tentar algo a mais do que uns beijinhos. Sim, ele é um cavalheiro! Estou impressionada! Como alguém pode ser assim tão controlado ou será que ele não gosta de sexo? Bem, vou ter que ver como isso vai ficar assim que voltarmos para Brasília. Ele vai embora hoje, eu amanhã, então vamos ver onde isso vai dar ou se não vai dar em nada. Vou fazer de conta que nada está acontecendo. Isso. Fique calma, Beth. Se controle. Ele é o homem, ele deveria tomar a iniciativa! Eu que não vou levá-lo pra o meu hotel. Não com a Leka lá! - E então, não vai arrumar as malas? – pergunto pra ele na praia. - Já arrumei, está tudo guardado no hotel para a hora que sairmos. Daqui a uma hora tenho que ir para o hotel, tudo bem? – diz ele. - É claro. Você está me pedindo permissão? – pergunto, rindo e achando estranho isso. - Não. Só estou te avisando, é meio estranho isso. A gente aqui, não acha? – uau, penso. É estranho não saber como se despedir e o que está rolando. Vamos fingir que estamos de boa, vamos lá, Beth! Sem surtar. - Não sei. Não estou pensando muito. Resolvi que essas férias seriam como um recomeço, um tempo que eu precisava ter para aproveitar minha vida, curtir um pouco, fazer umas doideiras. E olha que nem fiz! Mas, quando voltar vou ter que pensar na minha vida e no que quero daqui pra frente. Então, acho que meu tempo de pensar é só depois de amanhã. Por enquanto estou curtindo você e a praia. - E o que você quer? – ele pergunta intrigado com meu comentário. - Eu ainda não sei, não estou pensando nisso aqui. Estou só curtindo. - E a gente? Foi só curtição? Você queria ter podido fazer besteiras? Eu atrapalhei? – ele diz tão rapidamente e sinto tristeza em seu olhar. - Atrapalhar, não. Nunca! Por quê? O que foi pra você? – pergunto meio insegura sobre o que ele realmente quer, porque eu mesma nem sei o que sinto por esse cara com quem tenho ficado durante 5 dias. Mas não queria que fosse só isso! - Porque eu gostaria de ligar pra você em Brasília e te levar para jantar, em um local normal, não como aqui, sabe? Como um casal normal. Restaurante, cinema, essas coisas, pra nos conhecermos melhor. Aqui foi muito legal, mas estamos sempre rodeados de muita gente e essa agitação, bebedeira, dança, tudo isso é fora do normal pra mim. Eu já passei dessa idade e fase também. A gente não se conheceu direito... Eu sou um homem sério, queria te mostrar um pouco da minha vida e te conhecer melhor também, conhecer o outro mesmo na vida real! – ele diz tão calmo, encantador! Não sei se desmaio, se choro, se rio, mas fico paralisada, ouvindo essas palavras e sem saber como reagir, porque ainda não analisei o que estamos vivendo e nem estava pensando sobre isso durante essas férias. Vim aqui para curtir e até consegui, mas não como as meninas queriam, porque logo fiquei com o Antônio e ficamos juntos desde então. Depois de alguns segundos pensando e de vê-lo me encarando preocupado, talvez com meu semblante, talvez com minha resposta, argumento: - Conhecer melhor parece ser uma boa ideia. - Que bom! Te ligo assim que estiver em casa! Ficamos ali nos divertindo mais um pouco, brincando um com o outro, demos o último mergulho dele. Ele ri, me dá uns beijos bem calientes dessa vez, se despede e vai embora. - Te vejo em Brasília, gata! – ele diz. - Até mais, boa viagem, lindo! Dou mais um beijo nele, dessa vez puxo o seu cabelo, ele me olha e me agarra de verdade agora. Uau! Essa foi boa. Volto para as meninas que estão boquiabertas, provavelmente com os beijos que ele me deu. Dou um sorriso de orelha a orelha e elas riem. - Bem, Beth. Acho que dessa vez vamos ter que discutir o que aconteceu aqui. Você quebrou todas as regras. Ficou com um cara só a viagem inteira e pelo que ouvimos talvez ele se transforme em um futuro namorado. Não sei como colocar isso na nossa competição, porque não esperávamos que isso acontecesse. Você provavelmente beijou mais que a gente, apesar de ter sido só um carinha – diz Alana, rindo agora. - Meninas, eu também não esperava por isso. Vocês ouviram o que eu disse a ele, eu queria curtir com vocês, mas ele não deixou. Fiquei só com um, mas acho que esse um vale por muitos, porque no final quem saiu ganhando fui eu. O plano era beijar, não era? Elas riem e Leka me defende: - É verdade, acho que essa competição aí já era. Perdeu a validade. Dessa vez você não perdeu. Eba! Quem será que perdeu agora? Olha aí, Carol. Olha aí! - Ixi! Acho melhor deixar tudo pra lá, que tal? – ela fala e acho que foi ela que perdeu então... mas, concordamos e deixamos pra lá. - E eu nem precisei de sexo! – falo alto e vejo que chamei a atenção de várias pessoas a minha volta quando disse isso. Começamos então a gargalhar, porque essa competição foi tão ilógica e a levamos tão a sério que realmente nos divertimos durante as férias. Aproveito então para fazer um brinde aos homens que fizeram da nossa viagem uma diversão total. Nos divertimos, bebemos, comemos e assistimos mais uma vez ao pôr do sol. Dou meu último mergulho e agradeço a Deus mais uma vez por essa viagem e por ter aproveitado tanto e ter conhecido alguém que talvez faça parte do meu futuro. A viagem de volta foi melhor, pois já estávamos em sintonia. Até comecei a gostar da Dana, ela é divertida! Conversamos muito, lemos juntas as partes picantes do meu livro e fiquei sonhando com meu Mr. Stevens. Ahhhhh! Stevens!!! À noite me pego pensando que já tive meu Mr. Stevens. Meu namorado da escola. Ele era realmente um expert em sexo. Tive sorte! Muita sorte, penso de ter tido um namorado que se interessava tanto sobre sexo. Ele era dois anos mais velho e já sabia tanto... Lembro então da minha primeira vez, como me senti quando ele tirou minha roupa e começou a explorar meu corpo. Estranho! Como me senti quando ele tocou meus seios, meu sexo. A vergonha misturada com o desejo se acendendo dentro de mim. Minha inocência, por não saber nada daquilo e estar experimentando sensações diferentes dentro de mim. Era tudo tão novo! Tudo tão diferente! Meu primeiro orgasmo e de como descobri que aquilo era um orgasmo. Muito engraçado, estranho, emocionante! Me lembro de tudo de novo e de como vivíamos para sexo, éramos tão jovens e sentíamos tesão a todo tempo e em todo lugar. Ah, meus dezoito anos! Só pensávamos em transar! Víamos todos os filmes, líamos tudo sobre isso. Queríamos aprender cada vez mais e explorar sempre. Testar tudo. Dentro do carro, em cima do carro, no chão, no elevador, na mesa... Só testar! Como melhorei desde a primeira vez! Agora sei o que fazer, como fazer, as posições, de qual gosto mais, do que realmente gosto, como me sinto e até como me portar em várias situações. Ah, sim! Tive minha porção de sexo selvagem. Aquilo que fazíamos era sexo puro, carnal, louco até. Não era amor. Ele me ensinava a tocar meu corpo, a me sentir, a me explorar até sozinha pra ver onde era melhor pra mim. Ele me ensinou a usar uns brinquedinhos e a testar tudo. A me aventurar! Sim, era isso que fazíamos, aventura. Mas será só isso? Antônio ainda não se manifestou sexualmente, então não tenho ideia do como ele será. Meu último namorado não era tão bom de cama quanto os outros, mas em compensação era muito mais carinhoso e delicado, o que fazíamos era amor. Dois relacionamentos extremamente diferentes que se completaram; ainda não sei o que quero de novo. Será que existe um meio termo? Algumas vezes selvagem, outras vezes carinhoso? Posso ter os dois? Não sei se consigo escolher, é bom variar um pouco. Nesse ponto concordo com a heroína do livro, ela sim tinha vários homens em um para diversificar suas noites e fazer seu casamento durar. Deve ser por isso que é difícil ficar casada! Porque arroz com feijão todo dia enjoa. Temos que diversificar, cuidar do casamento. É o que mamãe sempre diz: “O casamento vem em primeiro lugar, antes mesmo dos filhos. Todo dia deve–se regar o casamento com muito amor, cuidado, carinho e diversificar também”. Ela deve saber o que fala! E Greisy e Gisele reclamam sempre disso, falta de cuidado! Será que depois que se casa, eles todos perdem o cuidado? Tomara que não! Será que foram elas que perderam o cuidado com eles? Onde será que nos esquecemos de cuidar? Quando? Já é tão difícil ficar casada, a rotina, os filhos, o trabalho, pagar as contas, a vida real. É tudo tão difícil! Se não tiver cuidado... Tudo que eu queria era me sentir protegida de alguma forma, o sentimento! Não que eu precise de alguém me protegendo, mas aquele sentimento de que tem alguém ali, que quando você precisar vai cuidar de você, vai te proteger. É o sentimento que importa. Tem que haver o cuidado! Não dá pra ficar com alguém e tomar conta de tudo o tempo todo. Eu não conseguiria. Não há como ficar com um marido fantasma! Não há como estar com alguém e aquela pessoa não estar presente de corpo e alma naquele relacionamento. Não. Eu não consigo! Muitas pessoas conseguem, mas eu não. Eu quero um marido ou um namorado presente. Alguém que me complete, que me ajude, que seja companheiro de verdade! É uma droga ser romântica e gostar tanto de ler. Uma merda! Os heróis literários são sempre melhores do que a realidade. Fico comparando a vida real à literatura e sempre chego à mesma conclusão: a vida real é uma droga. Nada aqui é tão empolgante e excitante quanto os livros. Só o sexo! É, sexo real é bem mais empolgante. Não há como não gostar da realidade nesse sentido. Mas, posso sempre sonhar com um herói, sonhar que estou fazendo amor com um herói romântico e que ele me completa na vida real. Ou será que isso é alucinação? Evasão da realidade? Ixi! Esquizofrenia! Será? Enquanto estiver sozinha posso sonhar com quem quiser! Até que estou fazendo amor com um ator de TV. Mas, quando encontrar alguém de verdade, aí acho que seria um pouco de traição, não? Sei que muitas esposas fazem isso. Pensam em outros homens quando estão transando, mas... Será que isso é legal? Lembro de uma vez que a Jack da TEP me disse que enquanto transava com o marido, viu as teias de aranha no teto de seu quarto e ficou pensando em acabar logo ali pra ir limpar... “Muito engraçado, eu falei!” Mas, aí ela falou: “Você é muito jovem ainda, vai ver... Um dia, você vai ver, vai estar ali no: Ah, Ah e pensando em tudo menos no sexo. É tudo igual!” Casamento é tudo igual! Será? Será que farei amor e ficarei olhando as paredes pra ver onde estão sujas, ou ficarei fazendo minha lista mentalmente do que fazer no dia seguinte? Será que ficarei entediada enquanto transo? Será que um dia transarei só por obrigação ou pra satisfazer meu namorado ou marido? Acho que isso seria um saco! - Onde quero chegar com isso? Mais paranoias! – penso meio acordada. Está tarde, tenho que dormir de verdade em vez de ficar aqui sonhando acordada. Tento, tento, tento muito, então, até finalmente conseguir cair no sono e enquanto vou caindo no sono penso em nossas férias... Sim, foram férias boas. Aproveitei ao máximo. Me diverti, curti, saí, dancei... Adoro dançar. E beijei, como beijei! É, o Antônio é bom de beijo. Muito bom por sinal! E os últimos ali foram muito bons, muito vorazes. Estava precisando disso, precisando me sentir gostosa um pouco também. Ele nem olhou pras meninas, não peguei ele examinando o corpo de nenhuma delas ali. É de tirar o chapéu. É, sim. Todas gostosas e eu ficava olhando pra ver se pegava ele olhando pra bunda ou pra o peito de alguém e nada! Se ele fez foi muito escondido... Muito esperto! Será que ele come quieto? Será que ele ficou me vigiando também pra ver se eu estava olhando pra algum amigo dele? Teve aquele Paulo que ficou com a Leka, mas ele estava sempre de gracinha pra o meu lado e eu vi como o Antônio fechava a cara quando ele fazia um comentário sobre mim. Será que eles ficam competindo? Muito estranho isso também, amigos competindo assim. Eu não me senti atraída por ele, o Antônio é dez vezes mais lindo... Mas ele pareceu ser um cara legal. Tratou a Leka direitinho. Tomara que dê certo pra Leka. Ela merece achar alguém legal. Acabou de começar de novo, porque não dá uma dentro com aquele Fred. Tomara que ela se arrume agora e que o Paulo seja um homem bom pra ela. Vamos dormir né, Beth. Você está pensando demais. Pare de analisar tudo, pode parar! APÍTULO 5 Acordo sobressaltada com outro sonho erótico, mas não me lembro se era com os olhos castanhos ou com os verdes que agora conheço. São os pensamentos de ontem à noite, isso sim! E também porque estou realmente precisando de sexo. Já faz quatro anos que estou só e até agora nada de sexo. Não consegui ir pra cama com ninguém com quem eu fiquei até hoje. Sexo pra mim tem que ter conexão, não consigo me deixar levar só pelo momento, em boates, bares e etc. Esses lugares são só pra beijinhos! Até queria ser mais como algumas das meninas e transar por transar. Ter uma noite só com um carinha para aliviar a tensão, mas até agora não consegui fazer isso. Será que um dia conseguirei? Abra a cabeça, Beth! Abra a cabeça! Falo pra mim mesma o tempo todo. Às vezes terei que ficar bem bêbada... Ou com muito tesão... Talvez. É, talvez! Acho que me sentiria usada, abusada, sei lá? Talvez isso pareça um bicho de sete cabeças porque justamente nunca fiz e se acontecesse uma vez, eu até poderia me libertar e permitir isso mais vezes. Mas também não senti vontade com ninguém ainda... E transar só por obrigação seria desperdiçar meu tempo, meus sentimentos e meu humor. A Joana me disse que os homens que encontramos à noite não gostam de sexo oral na gente, são uns egoístas, só querem o prazer deles. Não! Prefiro ficar sozinha, se não for para sentir nada, melhor ficar sozinha. Isso! Ainda acredito nisso. Preciso sentir, preciso me envolver, preciso de sexo, mas com alguém que eu queira e não só para tirar as teias de aranha que se formaram ao redor da minha vagina. Quero gozar também. Isso! Caramba! Estou depravada hoje. Acorde, Beth! Você tem sua lista de planos para revisar, uma casa para arrumar e decisões para tomar. Vamos começar o ano direito a partir de agora. Limpo a casa primeiro, coloco as roupas na máquina e penso comigo mesma por que me mudei da casa dos meus pais. Ah, é! Queria mostrar que era independente, responsável, que conseguiria sozinha. Queria mostrar que era capaz de ser adulta. Adulta? Será que sou realmente adulta? Trabalho. Mal pago minhas contas. Não me sobra quase nada. Isso é ser adulta? Deve ser! Mas ainda não tive uma confirmação dos meus pais, ou algum reconhecimento da parte deles e realmente gostaria que eles tivessem orgulho de mim. Orgulho de quê? Pergunto a mim mesma e respondo. Orgulho de tudo que faço, de ser independente, batalhadora, de morar sozinha, de pagar minhas contas, de não depender deles financeiramente enquanto tantos filhos por aí dependem dos pais por anos. Isso é tão comum! Filhos morando com os pais até se casarem, casais que não sabem pagar contas e continuam a depender ou morar com os pais para sempre. Pais sustentando filhos adultos que na verdade não querem crescer porque é mais cômodo ficar na casa deles, onde eles pagam as contas e os filhos só curtem a vida, como meu irmão Xande. Os estrangeiros da TEP sempre falavam que lá fora os jovens têm que se mudar de casa aos dezoito anos, aí aprendem a pagar as contas, trabalhar e se virar. É, no Brasil talvez devesse ser assim. Teríamos mais homens e menos moleques. Talvez! Eu só queria ser diferente, conseguir sozinha, mas na verdade sou encarada como a ovelha negra da família por ter abandonado a casa dos meus pais e ter alugado um apartamento de um quarto pra mim. Sou a revoltada, a sozinha, a que não precisa de ajuda. Pelo menos é o que todos da família pensam. O que em muitas culturas seria motivo de orgulho, aqui é motivo para ser deserdada, ou considerada ingrata. Amo meus pais e sei que me amam, mas para eles é motivo de vergonha eu ter me mudado antes de casar. Acho que eles pensam que não os amo! Bem, um dia isso se resolverá, já estamos melhor agora que fez um ano que me mudei. E a cada ano melhoraremos mais. Deve ser porque eram do interior e ainda não acostumaram com a cidade, mesmo depois de trinta anos. Será? Acho difícil! Não demoro muito meu serviço, já que minha casa é pequena e logo que começo a fazer o almoço, Antônio me liga. - Alô! - Oi, Beth. Como foi a viagem? - Boa, muito boa e a sua? - Boa também. Você não me ligou ontem? – ele pergunta triste. - Não sabia que tinha que ligar, a gente não tinha combinado nada... E além do mais, cheguei tarde, estava cansada e fui para a cama cedo, porque hoje tinha muito o que fazer. Desculpa! Você ficou chateado? Ficou me esperando? – digo pra acalmá-lo, mas é verdade. Não sabia que tinha que ligar, se bem que ele ligou quando chegou, né? Sua burra! - Ah, é? – ele fica calado por uns segundos e fala: - Estava pensando se você queria pelo menos jantar comigo, já que tem muito o que fazer agora. - Jantar? Parece bom. Como fazemos? Onde? Que horas? Te encontro lá? – digo, tudo junto, super nervosa, nervosa demais e feliz com a ligação inesperada. - Posso passar aí e te pegar, podemos jantar em Águas Claras mesmo, que tal? Você escolhe o restaurante e eu te pego às oito pode ser? - Claro, é bom que me dá tempo de resolver tudo que preciso antes do jantar – passo o endereço a ele e nos despedimos. Almoço e resolvo que as decisões então devem ser tomadas. Pego minha lista e começo a ler meus planejamentos: Trabalho? – começo a escrever minhas próprias perguntas para facilitar e organizar meus pensamentos. Escrevo: - O que fazer? Ficar na TEP? Enviar currículos para empresas e tentar trabalho na minha área de formação? Estudar para concurso como todos em Brasília e me aquietar perante a vida quando tiver um emprego estável? Ou mudar de profissão? Decisão: ? Namorado? – acho que esse item está sendo resolvido talvez mais rápido do que eu esperava. - Será que sinto algo por ele? Ele é advogado. Trabalhador, eu o ouvi falando ao telefone algumas vezes sobre alguns processos. Inteligente, isso eu sei, fala português muito bem, o que conta como ponto positivo. Beija bem, apesar de não ter me deixado louca ainda, nem morta de tesão, mas acho que posso dar tempo a ele. Às vezes ele precisava de uma confirmação minha para tentar algo mais picante. É, quando eu agarrei o cabelo dele, ele realmente deu uma guinada, me agarrou de vez lá na praia... Vamos ver! Estou empolgada com a ideia de um namorado, especialmente depois de quatro anos sozinha. Mas, acho que isso talvez seja mais um ideal do que realmente sentimentos verdadeiros por ele. Consigo amar alguém com o tempo? Sempre fui adepta da conexão imediata, sempre tive vontade de sentir aquele frio na barriga, aquela energia entre um corpo e outro. Ele não me dá isso. Mas, parece ser um homem bom e é sério, ele mesmo já me disse isso. Sim! Ama–se alguém dando tempo ao tempo, é o que mamãe sempre diz. Posso tentar isso, ir me acostumando com ele, tentando amá-lo aos poucos. Não estou fazendo nada mesmo, pelo menos faço nada com alguém que me quer. E isso é legal? Ele parece bem interessado, foi me ver todos os dias em Porto Seguro e olha que nem pedi, nem liguei, foi bem gentil, carinhoso, um doce. Tudo foi decisão dele. Me deu a entender que queria mais e já me ligou hoje marcando um jantar. É, ele está interessado! Será que eu estou? Vamos ver. Vou dar uma chance ao rapaz. Minha mãe sempre me disse para não escolher demais. Que eu vivia sonhando com o príncipe encantado e com a ligação de almas gêmeas, o que é verdade. Mas, de acordo com ela, talvez isso não exista. Fico pensando se é porque ela se casou muito nova, com seu primeiro namorado e porque ela nunca experienciou mais nada a não ser aquele básico arroz com feijão de sempre. Ou talvez ela esteja certa. O que eu procuro: a união de duas almas, aquela energia, conexão entre duas pessoas, dois olhares, algo mais do que só o carnal, duas pessoas que se entendam só com olhares, que sintam, pensem em comunhão e que se entreguem uma a outra não exista. Será? Acho que se ela soubesse de tudo que fico aqui pensando e das minhas neuroses, me daria logo era um antidepressivo. É, ela também fica analisando tudo. É tudo sua culpa! Quem mandou ser filha de psiquiatra? É isso que dá. Louca igual a ela. Bem, tenho que me decidir porque já procuro isso há 28 anos e até agora não encontrei nada parecido. Talvez seja a hora de obedecer às regras, namorar um partidão, casar, ter filhos. Dana concordaria com isso também. Não que eu me importe com o que Dana pense, mas... Ele é um partidão e lindo! Quero uma família. É o que eu mais quero e sempre quis, então está na hora de realmente começar a pensar sobre isso seriamente. Decisão: Antônio? SIM! - As garotas vão morrer de inveja e babar se a gente namorar mesmo – falo pra mim mesma, porque sei como elas falavam dele e como ele é bonitão, bem mais do que eu e nem se preocupou com minha barriga naquele biquíni. É, ele vale a pena, não me comparou a ninguém, não me criticou em nenhum momento e sempre estávamos de mão dadas. E é alto! Adoro homens altos. Acho que baixinhas gostam de homens altos para ver se depois os filhos se equilibram. Acho graça de meus pensamentos e chego à conclusão de que a decisão foi tomada. Antônio será um namorado se ele quiser e sim, investirei nele e me empenharei para que tudo dê certo. Academia? Barrigão? Preciso realmente cuidar de mim, da minha saúde e perder uns cinco quilos. Não sei como Antônio pôde olhar para mim com essa minha barriguinha à mostra. Bem, preciso achar um tempo para malhar, mas que horário? Se eu sair da TEP que horário farei? - depois de pensar bastante concluo que essa decisão depende da primeira. Decisão: ? Emagrecer? Preciso mesmo? Essa neurose de que todas as mulheres precisam ser magérrimas me deixa cada vez mais aborrecida. Cinco quilos? Leka ainda acha que está gorda, mesmo com aquele corpinho que ela tem e não conheço ninguém que esteja feliz com seu peso, todas as mulheres se acham gordas e vivem em dieta constante. Será que é isso que eu quero? Viver em dieta? Mas eu adoro um restaurante! Adoro sair para jantar, um bom vinho. Odeio aquelas meninas que não comem nada ou que ficam só na salada. Será que consigo ser igual a elas? Sacrifício! Até onde vale a pena esse sacrifício todo? O que é mais importante? Minha satisfação pessoal ou meu corpo? A alegria de sair com os amigos, beber, comer e me divertir ou a satisfação de vestir o que quero e me achar linda sempre? Até onde quero ir com isso? Não preciso do meu corpo como exemplo. Não sou modelo ou atriz. Elas sim precisam ficar lindas o tempo todo, mas deve ser um saco às vezes. Aposto que até elas queriam sair da dieta, ficar de pijama, sem maquiagem, só relaxar sem ninguém ali na cola com uma máquina fotográfica! Decisão: Pensar seriamente sobre isso. Dinheiro? Como fazer com dinheiro caso eu resolva sair da TEP?Volto para a casa dos meus pais? Consigo sobreviver por no máximo seis meses, mas cortando muitas despesas. Talvez eu tenha que vender o carro, talvez eu tenha que pedir ajuda dos meus pais. Será que eu consigo outro emprego fácil? E se eu for estudar? Vou aguentar ficar só estudando por um ano ou mais? Consigo um emprego de meio período e estudo no restante do tempo para não me sobrecarregar? Essa decisão também depende da número 1. Decisão: ? - Droga! Não decidi nada. Além de Antônio. O mais importante ainda está em branco – falo alto. Preciso pensar nesse fim de semana, porque na segunda volto ao trabalho e se for pedir demissão, devo entregar a carta de aviso agora que está começando o mês, aí em fevereiro estarei realmente começando uma vida nova. Pensar. Pensar. Pensar. Adormeço ao pensar em tudo isso e quando acordo já são 7:30 pm. – Droga! Tomo um banho rápido, coloco um tubinho preto básico, mas bonito, saltos médios porque infelizmente não consigo usar aqueles altos, uma base em pó básica, batonzinho, rímel, delineador, gel para as sobrancelhas e só! Nada de blush, sombra ou pó? Me olho mais uma vez e decido que assim tá bom, vou de cabelo molhado mesmo. Desço às 8:00 pm em ponto e encontro Antônio em pé ao lado do carro. Ele é pontual! Uau! Pontos para ele. Ele me abraça, abre a porta do carro pra mim, o que na minha opinião vale mais dez pontos e entra logo em seguida. - Tá linda. Pra onde vamos? – ele pergunta rindo. Como ele é lindo! Uau! - Ixi! Acho que fiquei tão ocupada que não tive tempo de pensar sobre o restaurante e depois cochilei e só acordei quase agora, me desculpe, mas eu não tenho ideia – respondo morrendo de vergonha, fazendo uma careta de desculpa, mas sendo honesta. - O que você gosta de comer? Mexicano, italiano, japonês, chinês, francês? – ele pergunta. - O que VOCÊ gosta de comer? - pergunto e me explico. - Francês, pode desistir porque aqui em Águas Claras não tem nada assim não. Tem crepe e só! Aqui tem bares, boate, um mexicano e italiano muito bons, japonês também delicioso, chinês só para entregas e vários sanduíches e os shoppings. - Eu gostaria de ir a um lugar tranquilo, conversar, te conhecer melhor, não importa o que eu vou comer – ele diz e: Uau! Pontos pra ele de novo. - Okay, então te dou três opções: mexicano porque lá tem rodízio, então a gente pode ficar lá por horas, só enrolando... Ou japonês pela mesma razão, e barzinhos, tem uns muito bons aqui ao lado de casa que têm comida boa também. - Eu sei, eu vi que você mora no centro de tudo aqui. - Manhattan brasileira, como eu gosto de chamar. Moro no centro de Manhattan, é só descer que tenho tudo embaixo do meu prédio. Ele ri e eu também. Que boca é essa? - Bem, prefiro um japonês então, a gente pode ir outro dia a um mexicano – diz ele. - Tudo bem, boa escolha – digo e vou indicando o caminho. - E aí, como foi o dia sem mim lá em Porto Seguro? – ele pergunta curioso. - Um saco! Sol, mar, água de coco, camarão... Uma droga mesmo. Fiquei lá pensando no que você estaria fazendo aqui em Brasília sozinho – digo, jogando charminho e rindo pra ele. - Estou vendo que foi um saco mesmo – ele diz rindo e completa: - E eu fiquei aqui sozinho, pensando em você e no que você estava fazendo. Acho que morri ali olhando pra os olhos dele e vendo aquele homem lindo me dizer essas coisas magníficas. Ele sabe jogar e é assim que se começa o jogo! Vamos lá Beth, joga a bola pra ele. - E o que você fez ontem então sem mim? - Nada. Você nem me ligou. Achei que você iria querer que eu te pegasse no aeroporto, mas como você não falou nada, eu fiquei em casa, arrumando as coisas pra voltar a trabalhar. Uau! Mais um ponto pra ele. Me pegar no aeroporto? Como assim? A gente não é nada! A gente mal se conhece. Mas... Agora quero conhecê-lo melhor, agora sim! Acho que ele pode valer a pena. Pelo menos sabe jogar direitinho. É inteligente e muito charmoso. Estou gostando sim. Vamos ver até quando. - Desculpa! Eu nem pensei. E o pai da Leka estava lá, sabe? Ele me trouxe, ela mora aqui bem pertinho. Naquele prédio azul ali! – mostro pra ele. - Ah. Todas elas moram por aqui? - Não. Eu, a Dana e a Leka moramos aqui. A Joana e a Carol moram em Taguatinga e a Alana mora na Ceilândia. - Nunca fui à Ceilândia! – ele diz olhando pra mim. - Imaginei! Vocês que moram no Plano Piloto não ficam querendo vir pra cá, já conhecemos vários carinhas que só queriam que a gente fosse lá, não ficavam querendo vir nos ver. - Ah, é? E como foi pra você isso? - Não foi comigo não! Foi com as meninas. Eu estou há quatro anos sozinha, então nem sei mais como é namorar direito. - Verdade? Quatro anos! É muita coisa – diz ele agora curioso. - Te assustei, né? Mas, sempre fui honesta, então acho que a melhor decisão sempre é a verdade. Desculpa se você não tiver gostado, mas essa é a realidade. - Assustar? Não sei se foi isso. É estranho! Como você conseguiu ficar tanto tempo sozinha? – ele pergunta intrigado. - Eu nem sei. A vida passa tão depressa, eu fiquei tão envolvida com a TEP, foi logo que eles me deram uma promoção, então... Só pode ter sido isso! Eu me envolvi ali e esqueci o resto. Nem parece que foi tanto tempo assim, sabe? – digo pra ele ficar mais calmo, mas sei sim quantas noites eu chorei de solidão, de necessidade de um ombro amigo e de um abraço. - Seu último namorado deve ter te dado um baque, né? – ele fala, agora rindo. - Não. Eu quem terminei. Acredita? Não foi trauma não. Foi só tempo! Acho que precisava de tempo pra mim. Pra saber quem eu sou, pra morar sozinha, me conhecer, ver o que eu quero da vida, viver, sabe? Só. Independência! Aprender a conviver comigo mesma. - Ele fica ali fazendo que sim com a cabeça, estaciona o carro, pede pra eu esperar porque vai abrir a porta pra mim. Ganha mais pontos em meu conceito e quando eu saio ele me dá um selinho, me abraça e fala: - E parece que conviveu bem até hoje, né? - Parece que sim. Gosto de ficar sozinha de vez em quando, gosto de pensar na vida e em mim mesma. Fui criada assim! Sempre vi meus pais conversarem, minha mãe é psiquiatra e meu pai enfermeiro, então cresci vendo eles discutirem sobre a vida em hospital, essas coisas... - Vamos jantar? Você está com cara de fome! - faço que sim e fico pensando como assim? Já é a segunda vez que ele fala da minha cara de fome. Que cara é essa? Será que tenho cara de fome? CAPÍTULO 6 Ficamos horas conversando e descubro muito sobre ele e ele sobre mim. Parece que temos muito em comum, pelo menos os mesmos pensamentos sobre a vida, família, ambos queremos filhos logo. Descubro que ele trabalha bastante e que também acha que devo decidir logo o que quero, até se propôs a me ajudar, sentar comigo e ler minhas perguntas para que eu possa escolher melhor. Penso que tenho que tirar a parte que o coloquei na lista antes de mostrá-la a ele. Ele procura um relacionamento sério, eu digo que eu também e ficamos ali nos conhecendo, nos olhando e de vez em quando fazendo carinho na mão um do outro, sorrindo e falando da família. Para minha surpresa, ele paga a conta e ganhou mais dez pontinhos, pois, nesse momento estou tão quebrada e tentando decidir o que fazer da minha vida que adorei a gentileza. Sei que não preciso que um homem pague nada para mim, sou uma mulher trabalhadora e independente, dona da minha vida, mas é bom receber um agrado de vez em quando e saber que se pode contar com ele pra isso também. Na volta a música da rádio não podia ser melhor: Let it be! E a escuto sabendo que indica que minha decisão está correta. Sim, Antônio é um partidão e devo dar uma investida nisso. Já estou me sentindo melhor com tudo isso. - Vamos entrar? – pergunto louca por uma resposta positiva, quero ver se ele é bom! - Você quer realmente que eu entre? – ele pergunta dando um sorriso lindo. - Claro, podemos conversar, assistir a um filme, sei lá, o que você quiser – digo dando a entender algo mais e rindo. É, Antônio bola pra você agora! Ele dá um sorrisinho safado que eu nunca tinha visto antes e aquilo me dá arrepios. Uau! Pela primeira vez desde que nos vimos no Ano-Novo sinto meu corpo estremecer. Fico feliz, porque estava seriamente pensando se ele iria ter jeito para sexo e agora estou ansiosa para o que vem pela frente. Subimos de mãos dadas, no elevador só penso em como será nossa noite e aquilo me deixa nervosa, com frio na barriga, começo a me arrepiar. Calma! - Esta é minha humilde casa – falo logo que abro a porta. - É bem limpa e organizada - ele diz, olhando ao redor da sala, que é combinada com a cozinha. - Ah, isso é porque dei uma faxinada boa hoje – digo ao trancar a porta. Começamos a rir e ele me agarra, me empurrando na porta, uma mão no meu rosto a outra na minha bunda, sua boca na minha e eu fico zonza, tonta, perco o chão, só me dou conta do que está acontecendo depois de alguns segundos, ou minutos, sei lá. Ele é bom, sim! Ele levanta meu vestido com força, eu agarro seus braços longos; aquela mão enorme começa a acariciar, apertar e subir por minha coxa, minha bunda, minhas costas. Ele me levanta ainda me beijando como se me pegasse no colo, e eu nem sei como acabo não caindo, mas me seguro em seu pescoço e me deixo levar até o quarto e à cama. Nem sei como ele consegue chegar lá, nunca esteve aqui antes, mas faz tudo como se fosse um expert. Ele faz tudo isso me beijando fortemente e eu me derreto. Ele me põe na cama, desce beijando meu pescoço e minha orelha. Vai abrindo meu vestido e me beijando ao mesmo tempo; olhos nos meus olhos, sinto seu cheiro, seu corpo, puxo seu cabelo e ele geme em meu ouvido. Ele me agarra com força, esfrega sua ereção em mim, brinca com meu sutiã, beija meus seios com muito carinho, brinca com eles um pouco e depois desce pra o meu umbigo, minha barriga, meu sexo... Começo a gemer. Não consigo mais pensar direito, porque o desejo já varou em mim há um bom tempo, e sinceramente, depois de quatro anos sem sexo, o que eu mais quero agora é transar mesmo, sem pensar, quero só sentir e sentir de verdade. Sempre me beijando, olho em seus olhos e ele dá um sorriso pervertido que me deixa com mais tesão ainda. O agarro de novo, e começo a beijar seu rosto, sinto sua barba feita, seu perfume, ele geme em meu ouvido e termina de desabotoar meu vestido. Eu o ajudo a tirá-lo. Eu puxo sua camisa pra cima e ele me ajuda a tirá-la também. E ficamos assim nos observando em silêncio, olhos sorrindo, bocas se explorando, corpos em contato, cheiro de sexo, sabor de sexo e vontade de muito sexo. Ele é tudo de bom! Ele tira meu sutiã, beija meus seios, fica ali brincando com eles, deixando-os excitados e me deixando cada vez mais molhada. Eu me permito só sentir! Ele desce por minha barriga, lambendo tudo, meu umbigo, meu sexo, eu gemo e me contorço ao sentir seu toque. Ele tira minha calcinha com a boca, uau, isso é sensacional... E começa sua tortura em meu clitóris e eu gozo rapidamente. Ele então me beija com força e diz: - Uau gata! Lindo! Preparada? Sorrio e faço que sim com a cabeça, ele então pega uma camisinha (que bom que nem precisei pedir!) coloca em si mesmo, me penetra lentamente, de forma delicada e profundamente. Ele faz tudo me beijando com firmeza, com um brilho no olhar e uma expressão facial que me faz sentir linda e desejada. Eu me entrego aos movimentos que agora ficaram rápidos, gozo de novo com ele dentro de mim e ele goza quase que instantaneamente. Ficamos ali ofegantes, ele em cima de mim, eu abraçada a ele. Ele enorme, eu pequenina em seus braços, mas me sentindo muito bem com um homem daqueles ao meu lado. Depois de alguns minutos nos olhando e sorrindo. Quebro o silêncio: - Isso foi muito inesperado... Mas adorei! – falo tímida. Ele ri e diz: - Desculpa, mas estava me segurando desde a praia. Não queria esperar mais e você me convidou pra subir, então pensei, é agora ou nunca! Caio numa gargalhada e ele ri também. - Muito desesperador? – pergunta ele. - Não! Muito honesto. Nunca ouvi isso de ninguém – digo porque é verdade, ele está sendo sincero. Ele me beija devagar dessa vez e sai de dentro de mim lentamente. Então, ficamos ali abraçados, nos olhando um pouco e ele pergunta: - Está tudo bem com você? - Sim. Por quê? - Achei que fazia muito tempo que você não tinha relações. Por isso, fiquei com medo de te machucar, eu sei lá o que poderia acontecer! - Como você sabe disso? – pergunto espantada e pensando: que indiscreto! - Eu não sei. Eu imaginei, porque você me disse no jantar que está sozinha há quatro anos e não consigo ver você indo pra cama com alguém que conheceu em uma noitada. Você é tão... tímida! Sei lá! Mas posso estar enganado. - Uau! Bem, você está certo, tem mesmo quatro anos que não transo com ninguém. Nunca esperei ouvir isso de alguém... Caracas! Não sei se isso é um elogio ou não – digo tímida, nervosa e gaguejando ao mesmo tempo com minha honestidade também. - Elogio! Com certeza. - Que bom, então... E é verdade que quando faz muito tempo às vezes pode–se até ter infecção urinária, mas isso é se exagerarmos muito e hoje não foi um exagero! – digo rindo, mas fico me perguntando onde ele quer chegar com isso. Está me expondo. Caracas! Então, depois de algum tempo ele vira e fala: - Exagerar? Hummmm... Droga! Preciso ir embora, já é mais de meia-noite e você ainda tem que resolver sua vida amanhã. - Quer dormir aqui comigo? Aí a gente nem precisaria levantar, era só apagar a luz! E amanhã você me ajuda a decidir sobre o meu futuro, que tal? – e então me dou conta de que em nenhum momento eu fechei as cortinas, de que transamos e espero sinceramente que ninguém tenha nos visto, já que as janelas são grandes e o apartamento é pequeno. Estou pedindo a ele pra ficar? Caracas! Acho que gostei dele. - Posso? Sim, se você quiser... – responde ele. - Quero e tenho uma escova de dentes extra aqui pra você - apago a luz antes que ele mude de ideia, porque dormir com alguém depois de tanto tempo sozinha vai cair muito bem agora. Ele me abraça e adormecemos assim, um junto ao outro, de conchinha. Adorei! - Estava esperando por você! – diz ele. Eu reconheço a voz, mas de novo não consigo olhar pra ele. - Não posso fazer isso – respondo. - Eu sei! Você encontrou alguém. - Como você sabe? - Eu simplesmente sei - e ele fala cada vez mais perto da minha orelha, o que me faz ficar excitada e sentir seu cheiro. - Ahhhh! – gemo. - Ahhhh! – responde ele em meu ouvido e aquela voz me parece tão familiar, me sinto tão segura, tão confortável com ele. -Vim me despedir – digo. -Você tem certeza disso? - Sim, está na hora. Você é só um sonho! - Não! Eu sou Seu, sou aquilo que você procura e sempre procurou e vou te esperar durante anos. - Mas você não existe de verdade! - Como você sabe? Olhe pra mim! Como você quer lembrar de mim se nunca consegue me olhar direito? Então tenho certeza e percebo que já sonhei com ele várias vezes e que ele está certo, não olho pra ele com medo de acordar, mas não tem como saber se ele realmente existe se não olhar. Devo olhar? Me pergunto com medo da resposta e digo a mim mesma: Por favor, não acorde agora! Preciso vê-lo, realmente vê-lo e me entregar a ele de corpo e alma para só então conseguir dizer adeus e me dedicar ao Antônio. Fico repetindo isso como um mantra e olho para trás. E lá estão aqueles olhos castanhos, grandes, profundos, sinceros, cheios de amor, paixão, não sei o quê! É como se eles lessem minha alma! E lá está aquela conexão, a energia que sempre quis sentir, o arrepio em meu corpo quando ele toca minha mão, olho no olho e o reconhecimento um do outro pelo olhar. Aquilo que esperei e procurei a vida toda, mas só encontrei em meus sonhos. A união de almas, minha alma gêmea! Fico um tempo que parece ser infinito imóvel, paralisada, olhando pra ele, tentando memorizar cada parte de seu rosto. Seus lábios da espessura perfeita, lindos, sua bochecha morena, ele é alto, braços fortes, ombros largos e tórax perfeito, cabelo castanho claro e curto jogado para trás. Traços finos que enchem meus olhos de água quando percebo que meu coração parou e encontrou aquilo que procurava há tanto tempo. Ele me toca de novo, só a minha mão e eu me estremeço por dentro. Ele então aperta o dedão e acaricia a minha mão e eu continuo prendendo a respiração, olhando dentro de seus olhos. Crio coragem para levantar o outro braço e acariciar seu rosto, ele fecha os olhos e deita a cabeça em minha mão para receber meu toque, então vai puxando minha mão que está na dele e vou chegando cada vez mais perto. Ficamos ali sentindo a respiração um do outro, a energia de um emanando para o outro e tudo reluz a paraíso pra mim. Uma paz infinita me preenche e um sentimento de proteção invade minha alma. Tudo parece se mover em câmera lenta, levanto meu rosto para sentir seu cheiro cada vez mais forte e perto de mim, ele desce a cabeça talvez para fazer o mesmo, ou para permitir minha invasão. Olhos nos olhos, nariz com nariz, boca cada vez mais perto, se abrindo lentamente para permitir que o outro a explore, minha mão em seu rosto, a dele em minha mão enquanto a outra sobe pelos meus braços me dando calafrios por onde passa até chegar ao meu queixo. Ele então toca meus lábios com os dedos, respira fundo e diz: - Ou você me beija agora ou nosso tempo vai acabar! - O quê? – porque nesse momento nada me vem à cabeça. - Posso? - Sim! – e é mais uma súplica do que uma aceitação porque quero e preciso ser beijada por esse homem. O homem dos meus sonhos. Minha alma gêmea que só vejo à noite. E assim como previ, quando nossos lábios se tocam a energia de um emana e entra na do outro e somos um. Fogo, ar, água, terra! Tudo junto, todos unidos em dois corpos que se misturam à medida que o beijo que começou tão doce vira uma súplica de duas almas que estão se reencontrando, se reconhecendo e talvez se despedindo com amor, mas muito amor. O sentimento me invade e me perco nele por alguns ou muitos minutos. Meu corpo todo respondendo ao dele. O dele pedindo e implorando pelo meu. Mãos se acariciando, mãos correndo contra o tempo, descobrindo o corpo do outro e não vejo mais nada, só sinto e sei que sempre terei isso aqui. Eu e ele, sempre! E isso me dá forças para continuar minha jornada na terra e seguir em frente com minha vida. Mais do que vejo, sinto o corpo dele entregue ao meu, os beijos dele em meu pescoço e a mão dele que já passeia por meu corpo, desce do meu pescoço para minha coluna, depois aperta minha bunda, desce pelas minhas coxas, sobe e desce sempre em movimento até levantar meu vestido, apertar de novo minha bunda e colocar a mão no meu sexo. Ahhhh! Gemo no ouvido dele e sou incapaz de controlar meu corpo e minha mente. Ele coloca o dedo dentro de mim, enquanto me beija e diz: - Molhadinha, você? Hummmmm! Todo meu corpo responde a seu toque, eu o agarro com mais força, puxo seu cabelo e me esfrego nele com força, bem selvagem. Ele me levanta, tira minha calcinha com a mão. Abre seu zíper e me penetra tão suavemente que parecemos anjos flutuando, os dois quase que em pé, ele me segurando, eu agarrada ao seu pescoço, minhas pernas enroladas em seu quadril e ele dentro de mim, me acariciando, me beijando e gemendo em meu ouvido. Olhos nos olhos, um entregue ao outro, o cheiro dele no meu... Eu me movimento, ele dentro de mim, o sinto respirar mais uma vez e um gemido sai de sua boca enquanto estou entregue a ele. Nos movimentamos, nos acariciamos e me entrego a esse orgasmo tão profundo, tão energizante, tão elétrico como nunca tive antes... Sinto a energia dele, uma aura azul, vermelha, azul, vermelha ... Tudo ao nosso redor nos envolvendo. Sinto o corpo e alma dele possuindo e recebendo o meu corpo e a minha alma também; e ele goza com fervor, gritando em meu ouvido: - Eu sou Seu, sempre fui e sempre serei seu. Vou te esperar para sempre! E eu o abraço e choro. Choro porque o amo também, porque minha alma o conhece, o reconhece e anseia por ele; mesmo sem conhecê-lo de verdade e não posso esperá-lo mais, não sei quanto tempo essa espera irá levar, preciso ser mãe, completo 29 anos daqui a menos de 2 meses e minha decisão já foi tomada hoje mais cedo. Como se ele lesse meu pensamento (acho até que ele leu porque eu sei lá o que se consegue fazer em um sonho), ele fala: - Eu sei! Está tudo bem. Você não precisa e não pode me esperar. Chegou sua hora. Vá e seja feliz! Tenha sua família e se doe a ela, por mim. - E você? Como faço com você? Onde te encontro? Vou me perder de você. - Eu te encontro. Quando o tempo for certo, se o tempo for certo. Agora vai, confie, viva! - Eu te amo! – grito pra ele, assim que sinto que estou acordando e sumindo de vez. Não quero deixá-lo assim sem saber dos meus sentimentos verdadeiros e não ouço a resposta dele, mas sinto e sei que ele também me ama. Quando abro os olhos, Antônio está me olhando, espantado com meu orgasmo, sei que ele presenciou tudo: meu choro, meu grito, será que ele me ouviu dizer a outro homem que o amo? Droga! Penso e não consigo dizer nada, mas fico só a olhar pra ele, tentando analisar sua expressão facial e me preparar para ser bombardeada por perguntas. Preciso saber o que responder e como explicar esse sonho caso ele pergunte, mas nada. Não ouço nada! Ele fica lá parado, olhando pra mim, me analisando, investigando meu rosto e meu corpo, sua mão começa a me acariciar e depois de alguns minutos ele passa o dedo pra enxugar uma de minhas lágrimas com uma mão, com a outra acaricia meu sexo e diz: - Acho que você teve um sonho erótico e muito doido porque você gemia e gritava algumas coisas sem nexo, eu te abraçava, te sacudia e era como se você não estivesse aqui, porque você não acordava. Mas aí vi você se mexer, gata... De verdade e você gozou! E eu não sabia o que fazer. Aquilo me deixou com o maior tesão, uau... Será que você consegue uma segunda rodada, mas agora de verdade? Respiro aliviada por não ter falado nada que me comprometesse. E se falei, ele não comentou, então isso deve ser bom. Sorrio pra ele e beijo sua boca, me esfregando nele para que ele sinta que ainda estou molhada. Ele respira dentro da minha boca e diz: - Ahhh... Adorei dormir e acordar com você. Você é muito gostosa! Adorei isso aqui. Caracas! Ele é que é gostoso! Loucura tudo isso, mas vamos nos deixar levar, né Beth? Porque a vida é feita de pequenas loucuras também e já fomos sensatas durante anos, então... - Ahhh... Antônio... Estou quase lá – falo pra ele indicando que ele está no caminho certo e é assim que nos perdemos um no outro em um domingo de manhã depois de um sonho erótico e uma noite também erótica. Ah! Nada melhor do que começar a liberar os quatro anos de solidão! Agora sim! CAPÍTULO 7 Passamos o domingo nos conhecendo, ele é realmente um doce e quer conhecer minha família. Penso que isso está ficando sério, mas tento pegar o mais leve possível comigo mesma, porque estou adorando perder meu tempo com esse homem lindo. Faço minha lasanha de almoço, porque é a única coisa que sei fazer direito, ele me ajuda e quando comemos ele diz: - Aprovado, gata! - Fico feliz, mas já vou te avisando que é praticamente a única coisa que sei fazer e obrigada por ter me ajudado a cozinhar – respondo. - Ah, eu gostei do ovo mexido de hoje de manhã. - Hahahaha, é muito difícil errar um ovo mexido, né? Rimos e logo após o almoço resolvo então mostrar minha lista a ele: - Bem, a parte do trabalho, acho que você está super certa se fazendo essas perguntas, porque é muito fácil errar e como você já está entediada e no seu limite, quer acertar dessa vez. Você não está querendo perder mais tempo, arriscar de novo e ter a chance de errar mais uma vez, né? – diz ele. - Não! Acho que já estou chegando aos trinta e se eu quiser ter uma família, quero pelo menos ter um emprego. Acho importante a mulher trabalhar e estar feliz para que os filhos também estejam e aprendam que o trabalho é uma fonte de crescimento, importante para todos. Fui criada assim e acredito nisso. Não quero dinheiro a qualquer custo sem trabalho, tirar vantagem de qualquer maneira e não quero que meus filhos pensem e cresçam assim. Quero que eles trabalhem, porque isso é parte da vida e do desenvolvimento do ser humano e se sintam felizes no trabalho também. Trabalhar é muito bom, é uma terapia! Sempre pensei que quem não tem objetivos ficava depressivo e não quero correr o risco. Sou ativa e gosto de ser ativa. Sempre trabalhei. - Acho que você está inspirada hoje. Será que foi o sexo? – ele pergunta já morrendo de rir de mim. - Inspirada? - Falando até de filhos! - Eu quero filhos. Sempre quis. E faço um trabalho voluntário com crianças duas vezes por mês. Acho que não te contei sobre isso. - É, contou não! - Toda vez que vou lá, fico cada vez mais deprimida, porque os pais não passam tempo de qualidade com seus filhos, e quando passam, nunca aproveitam aquele momento para dar amor e carinho, para melhorar a autoestima das crianças, sabe? Eles só cobram perfeição, mas não dedicam tempo a ensinar nada, nem o amor. Notas? Escola, então, a maioria nem se importa. Tem que dar atenção mesmo. Tem que ensiná-los a amar e a serem pessoas de bem também, é o exemplo que conta, não o que você fala. Você não tem ideia de como eles precisam ouvir que são amados e quantos pais não dizem isso a seus filhos! Eles agem como se o final de semana ou aquele tempo com eles fosse uma obrigação em vez de realmente curtirem e se divertirem. Como cobrar algo que eles mesmos nem dão? Querem o melhor, mas não dão o melhor aos seus filhos. Isso tudo deixa aquelas crianças tão carentes! Isso é seríssimo. Eles não sabem brincar, não se socializam, acho que é por isso que temos tantos adultos egoístas e que não se preocupam com os outros. Só o dinheiro é importante. Eles cresceram achando que o trabalho dos pais e o dinheiro eram o mais importante. Essa é a mensagem que receberam. E na minha opinião o ser humano deveria ser mais importante. Eu não quero ser esse tipo de mãe. Quero que meu filho saiba que é amado, quero brincar com ele, cuidar dele, que ele aprenda a cuidar dos outros, que saiba ajudar os mais necessitados e dar valor ao que ele tem... Temos muito, sabe? Há pessoas sem nada! - Acho que você daria uma ótima mãe. Você é linda! – diz ele rindo, parece que está encantado e eu fico vermelha. - Não sei. Talvez. Pelo menos, acho que eu penso sobre isso e acho que tentaria educálos em vez de dar só presentes. Mostraria a eles que os amo a cada dia para que nunca duvidem disso ou se sintam só como eu me senti várias vezes em minha vida. Apesar de saber que meus pais me amaram, eles não verbalizaram muito isso. A gente sempre tem dúvida, sabe? Ele pensa um pouco, acho que lembrando de sua infância, ri e fala: - Então, de que tipo de trabalho você precisa para poder ser uma mãe no futuro? - Um trabalho em que eu me sinta bem – respondo e vejo que ele mudou de assunto, não sei se é com medo do meu discurso ou se é porque ele não teria argumentos contra os meus. E também vejo que eu não sei exatamente o que quero! - Mas isso tem que ser necessariamente em sua área de estudo? Quanto você quer ganhar? Você não tem perfil empreendedor! Eu acho que um concurso seria o melhor para você e talvez até ache algum na sua área ou que você goste. Estabilidade, acho que é isso que você precisa. Você já trabalhou tanto tempo fora, mesmo que talvez seja melhor arriscar logo tudo de uma vez. Estamos em Brasília, né? – diz ele honestamente. - Você quer que eu faça um concurso? - O que eu quero importa nesse momento? E a sua família? O que eles diriam? O que você quer? - Importa sim, você disse que me ajudaria! Tenho medo de passar a vida toda estagnada em um trabalho chato, sem perspectiva nenhuma, só para ter meu salário no final do mês. Não sei se eu conseguiria viver feliz assim, sem motivação, apagada, morrendo aos poucos e fingindo para todos que está tudo bem. Sem um objetivo! - Filosofando de novo? Vou me acostumar a isso. Então, você tem que mandar currículos por aí, mas isso também não garante que você vai encontrar o emprego dos seus sonhos e que esteja 100% feliz e o tempo todo. Não temos garantias na vida! - Isso é verdade! Tenho amigas que dizem:“Se não pode ir contra o sistema, una–se a ele e vá gastar seu tempo com hobbies ou algo que goste de fazer para poder pelo menos viver melhor já que no seu emprego será sempre uma droga mesmo!” - É, acho que essa também é a minha ideia, mas tem que estar feliz ali. Eu aderi ao sistema há anos atrás e não estou insatisfeito não. Você só não pode se acomodar. Tem muita gente lá que não quer trabalhar, mas tem gente boa também. Eu já fiz vários cursos e gosto do que faço. Fico olhando pra ele, tentando pensar, decidir e ele simplesmente me observa. Acho que está tentando influenciar minha decisão, mas ele faz tudo de uma maneira muito sutil, dando piscadinhas e sugestões ao longo de nossa conversa que até pode me convencer. - Então te dou uma semana para pensar sobre isso! – diz ele para terminar nossa conversa. Acho que ele viu que me incomodou e resolveu pegar leve de novo. Ele me beija e ficamos ali dando uns amassos até ele lembrar que ainda não terminamos a lista. - Item 3? Cadê o 2? - Ixi! Acho que escrevi errado! - Mas como? – ele ri. - Acho que você está me enganando, esse papel aqui parece que foi rasgado! - Ah... Pode parar. Você vai me ajudar ou vai querer ficar investigando minha vida? – digo rindo para que ele leve na brincadeira. Droga! - Tudo bem, se é assim que você quer! Mas não pense que me engana, eu tenho 5 anos na sua frente, já passei por tudo isso que você está passando e sei muito bem o que está acontecendo. - O quê? – digo dissimulada. Como ele sabe o que passei? Está jogando verde. - Nada! Vamos continuar sua lista. Academia? Você realmente precisa de exercícios para sua saúde. Com relação a seu corpo, eu não me importo com sua barriga! Ai meu Deus! Esqueci de tirar essa parte da lista. Eu realmente escrevi isso e coloquei o nome dele aí nessa parte. Ai que vergonha! Achei que tinha só pensado e não escrito. Fico roxa, em choque! Merda! Por que escrevi aquilo? Não consigo responder. Ele então quebra o silêncio: - Tem um provérbio que os gregos usam que em inglês diz: “What doesn’t please the eyes, pleases the hands!”, que significa: - O que não agrada aos olhos, agrada às mãos – respondo, mostrando a ele que também sei inglês. Ele ri e me dá um selinho passando a mão pela minha barriga, me dá uma piscadinha e eu me derreto toda. Adorei! Mais dez pontos para ele. Bem, em menos de dois dias ele já ganhou mais de trinta pontos, então, acho que ele chegará a cem pontos em menos de uma semana. Acho que realmente ele vale a pena. - Bem, acho importante a malhação – ele completa. – E você? - Acho também, quando era criança fazia natação e balé. Eu adorava. Mas depois a correria, o cansaço da faculdade e estágio juntos e logo fui trabalhar na TEP, então deve ter pelo menos dez anos que não faço nada. Acho que deveria começar sim! - Então, semana que vem, sentaremos para organizar seu horário, porque se você decidir pedir demissão e estudar, talvez seja melhor malhar às 6:30 da manhã. Assim você acorda cedo, se exercita, vai para o cursinho e estuda na parte da tarde e da noite. Você terá tempo para tudo desse jeito, só tem que lembrar de ir dormir até as onze da noite, porque senão vai ficar exausta e não vai conseguir aproveitar os estudos... Droga! Parece que não vou te ver tanto quanto gostaria! – diz ele com uma carinha triste. Fico olhando para ele, tentando entender o porquê dele estar planejando minha vida, como se isso fosse muito importante para ele e me deixando bem claro a opinião dele, que sei é igual à das minhas amigas e à da minha família. Fugi disso durante tanto tempo, que agora acho que vou ter que ceder à pressão “do sistema”de Brasília. Droga! Não tenho mais como fugir, me rebelar como fazia com meus pais, me isolar, me mudar, não atender ao telefone, simplesmente fugir. Vou ter que ceder. Vai que todos estão certos e eu a errada! Ele me olha, liga o rádio na TV, “Feels like Home” começa a tocar e mais uma vez fico impressionada de como o mundo está falando comigo. Os sinais! “Quando se ama não temos necessidade nenhuma de entender o que acontece, porque tudo passa a acontecer dentro de nós”, Paulo Coelho citou isso em seu livro e me pego pensando se isso é amor. Eu estou permitindo que ele me transforme, agora será que isso é por amor? “Quando buscamos ser melhores do que somos, tudo em volta se torna melhor”. Estou buscando ser melhor? Queria! Será? Ficamos ali por um tempo só ouvindo a música, olhando nos olhos um do outro e pensando. Eu perdida em meus pensamentos e ele nos dele. Falo então: - Então, o item de emagrecer parece meio que redundante agora. - Se você quiser, tudo bem. Mas, também adoro sair para jantar e se formos ficar muito limitados a só salada, vou achar tudo isso um saco! Acho que a academia já ajuda, automaticamente você emagrecerá, mas sem nada drástico. Odeio aquelas mulheres que não comem nada, são lindas, mas só pra se ver, porque no dia-a-dia elas não são reais. E vi que você também concorda com isso. Sou adepto do que agrada à mão! Mas a vida é sua e o corpo também. - Acho que temos muito em comum – falo pra ele e ele faz que sim com a cabeça. - Então dinheiro! – diz ele. - Como? - Seu último item da lista. Dinheiro! Você acha que não consegue por causa de dinheiro, você não quer voltar para a casa dos seus pais pelo que entendi e tem medo, porque sabe que estudar leva tempo e talvez você não passe na prova em um ano, talvez leve dois ou mais para conseguir aquilo que quer e isso exige disciplina, persistência e coragem de continuar sempre. Isso é muito cansativo, eu já passei por isso! Sei como é, na maioria dos dias você quer desistir, mas aí temos que continuar sempre. O dinheiro realmente é o que mais atrapalha todo mundo, as pessoas param quando estão quase lá. Tudo porque precisam de dinheiro. Aí voltam a trabalhar, atrapalham o processo todo porque quando voltam a estudar, elas têm que recomeçar tudo de novo! E a cada mês estamos melhores que o mês anterior, a cada prova nos saímos melhor, mas temos que persistir. E você ainda nem sabe pra qual específico quer estudar! - É, eu sei. Já ouvi tudo isso de várias amigas. Tenho medo de falhar, de não conseguir, de não ser inteligente o suficiente ou persistente o suficiente, de não achar ou conseguir aquilo que quero... – respondo confusa. - É persistência, gata! Pense assim: é como uma lista, você põe seu nome no final da lista e assim que vai melhorando e outros passando, seu nome vai subindo e um dia chega sua hora, mas precisa de paciência. É um auto–controle tremendo! – ele fala, respira calmamente e continua: - E o que você realmente quer da vida? - Uma família, em segurança! - respondo com a única coisa que me vem à cabeça, depois de alguns minutos em silêncio e de seu olhar inquisitivo que não iria me deixar sair dessa sem uma resposta. - Ah, isso é bem mais fácil de se conseguir, linda! – responde ele com um sorriso de orelha a orelha e eu fico sem entender muito bem onde ele quer chegar com isso. Nem sei por que, mas decido mudar o rumo um pouco, dou uns beijinhos nele e continuamos nossa conversa. Ficamos ali acertando nossos ponteiros, ele organizando minha vida, eu pensando em como fazer tudo isso certo dessa vez porque os planos eu até faço, mas seguir que é bom...Todo ano são quase os mesmos planos, mas que no final eu não segui. Então tenho que melhorar nisso porque 2013 será um ano melhor pra mim e eu vou conseguir o que eu quero sim! Vou melhorar de vida, já estou na TEP há tempo demais e sei que dali não vou a lugar algum. Ninguém ali me vê como algo a mais, sou só a recepcionista deles. Ali não tem vagas pra mim! E quando a empresa não te vê como algo a mais, é hora de você mudar e sair. Abrir as portas, é isso que eu quero. Abrir portas e janelas para o meu futuro! Ele fica me fazendo carinhos, cheirando meu cabelo, me dá beijinhos no rosto, no pescoço, nas costas, começa a beijar meus seios... A gente faz amor ou sexo mais uma vez. Não sei bem o que é ainda, mas estou adorando os dois! Parece ser uma mistura dos dois, mesmo. Ele é bom demais. Decidimos nos falar e nos ver na semana também. Se despede, me dá mais beijinhos... Ele vai embora e fico ali pensando nesse final de semana maravilhoso que tivemos. Sim, foi ótimo! Comecei o ano super bem. Antônio é um sim mesmo. Vamos mantê–lo aqui com a gente. Posso, com certeza gostar disso aqui. Acho que já estou até gostando. Largue de ser durona, Beth! Você está gostando muito do jeitinho dele. Está é tentando lutar contra, mas ele é muito doce e carinhoso. Ele está me conquistando, sim! Além de cavalheiro e inteligente é muito bom de cama também. Vamos tentar com o Antônio, porque a vida está simplesmente de portas e janelas abertas pra mim nesse momento e tenho que aproveitar enquanto posso! Extraído de Por Que Eu? de Sinélia Peixoto – ISBN: 978-989-51-2837-2 Direitos Autorais Protegidos por Lei.