II – São Paulo, 125 (185) Diário Oficial Poder Executivo - Seção I sábado, 3 de outubro de 2015 Geraldo Alckmin - Governador Volume 125 • Número 185 • São Paulo, sábado, 3 de outubro de 2015 www.imprensaoficial.com.br D urante dez meses, a sala de informática da Fundação Casa Mario Covas foi transformada numa redação parecida com a de jornais de laboratório das faculdades de jornalismo. No local, sempre às sextas-feiras, os computadores não param e, a cada instante, surgem novidades na tela. Textos ganham forma, ideias pipocam, vírgulas são tiradas ou acrescentadas, capas de livros despontam repletas de cor e de imagens. Projeto Primeiro Livro incentiva o gosto pela escrita em jovens em cumprimento de medida socioeducativa; garotos participam de todas as etapas, desde a criação do texto até a paginação do livro Movimentando-se de um lado para outro, Geovana Gladis Morato e Aline Rodrigues, ambas alunas do primeiro ano do curso de Letras da Universidade de São Paulo (USP), assessoram os jovens internos e esmeram-se nas orientações de como melhor produzir o texto, acrescentar parágrafos, retirar vícios de linguagem e, sobretudo, obedecer à nova ortografia. Assim é conduzido o projeto Primeiro Livro que terá sua última oficina no dia 9. Após essa etapa, os originais irão para a gráfica. Na atividade, cada adolescente escreve, diagrama e publica 25 exemplares. O projeto será encerrado no fim do ano, quando onze livros dos Junqueira: “Foi um trabalho de muito fôlego” FOTOS: GENIVALDO CARVALHO Oficina da Fundação Casa incentiva formação de escritores Aline: “Chega a surpreender a sutileza usada para retratar a vida real e também a ficção” Alex trabalha no projeto da capa do seu livro Sebastião escreveu e desenhou Dupla realidade jovens autores serão publicados. Dos adolescentes, nove ainda estão em cumprimento de medida socioeducativa. Outros dois já foram desinternados e deram continuidade à atividade em meio externo. eles, acabou por se tornar um exercício atraente. É gratificante ver o interesse despertado ao longo de mais de 30 horas de atividades. Autonomia – Foi um trabalho de fôlego, comentam o professor Luís Junqueira e sua equipe, todos dedicados às atividades de orientação. Junqueira traz para esse trabalho a experiência adquirida como educador, dando aulas de redação no projeto de extensão comunitária Cio da Terra, na Unicamp e, ainda, se divide entre a educação e o empreendedorismo social. Autor do projeto Primeiro Livro, ele conta que a ideia é dar autonomia e liberdade de expressão aos meninos. No momento, leva o projeto a cinco escolas municipais: quatro em Alagoas e uma em São Paulo, além de duas unidades da Fundação Casa, a Mario Covas e a Fundação Casa Paulista, da Vila Maria. “O começo não foi fácil, principalmente a busca por parceria; foi quando a Fundação Lemann e o Instituto de Educação Inspirarte abraçaram a ideia”, explica o professor. Além das oficinas, os encontros semanais abrangeram literatura, ilustração e tecnologia. “Até a digitação, a princípio complicada para Bons frutos – O objetivo do Primeiro Livro é ajudar o aluno a escrever a obra inicial, por meio de textos com recursos de informática e artes. Segundo o diretor-executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, é impossível não se apaixonar por uma iniciativa tão bacana como essa. “Primeiro, porque foi criada por um professor conceituado, o Luís Junqueira. Trata-se de iniciativa inovadora, que vai além da escrita: passa por todas as etapas da editoração, do começo ao fim. Tem, ainda, a noite de autógrafos e os garotos recebem 25 exemplares para presentear e, quem sabe, até vender”, diz Mizne. O Instituto Lemann apoia outros projetos na Fundação Casa, como as Olimpíadas de Matemática, por meio de plataforma importada dos Estados Unidos, a Khan Academy, também com o objetivo de despertar nos garotos o gosto pela Ciência. “Nossa parceria vai continuar, dá bons frutos”, complementa Mizne. explicações gramaticais e literárias, promovendo o desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e crítica. Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. A frase faz parte do texto do livro de Alex*, 16 anos, sobre sua história. “Aconteceu muita coisa na minha vida”, diz ele, pensativo sobre o final que pretende dar à história. “Já escrevi 23 páginas e tenho até sexta-feira que vem para terminar. Às vezes, vou dormir pensando no desfecho.” Seu texto conta sobre a oportunidade que teve (e perdeu) de entrar numa escolinha de futebol. Sebastião*, 18 anos, escreveu e desenhou a capa do livro Dupla realidade, de 102 páginas. “É a minha autobiografia. Às vezes, fico sem imaginação, paro um pouco, desenho, e a inspiração volta”, diz o autor, que gostou mesmo de escrever, tanto que preferiu contar a própria história para que sirva de exemplo e reflexão para outros. Durante a participação nas oficinas, ele descobriu um novo mundo. Desenhou a capa, fez a sinopse para a orelha do livro e, “ainda por cima, aprendi a usar vírgula e ponto, a dar pausa entre uma ideia e outra”, comemora. Sutileza – Rubem*, 16 anos, exibe na tela Amor destruído, até agora com 45 páginas, que ele pretende estender um pouco mais. Um dos trechos do romance chama a atenção: Eu não gostava de estudar, mas ia para a escola porque eu estava gostando de uma garota. O nome dela era Gabriela. Ela me olhava com um olhar que nem sei descrever... “Sabe que tomei gosto pela escrita? O começo foi difícil, depois vem tudo rapidinho na minha cabeça. Sei até qual vai ser o final”, diz, em tom de suspense. Para as estudantes da USP, Aline e Geovana, “a experiência é incrível tanto para eles quanto para nós. Curioso ver as mudanças, o jeito de falar, de escrever, expor ideias, questionar”. Aline observa que a maioria dos textos é autobiográfica; mesmo quando mudam o cenário, o nome dos personagens, ainda é a história de vida deles. “Apesar das dificuldades de pontuação, eles são supercriativos”, diz Geovana. “Chega a surpreender a sutileza usada para retratar a vida real e também a ficção. Vou terminar o ano melhor do que comecei por ter conseguido passar algo a mais para eles”, finaliza. (* Nomes fictícios) Oportunidade – Após ler cada um dos textos, são criadas videoaulas personalizadas para apontar os erros com Maria das Graças Leocádio Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial A IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SA garante a autenticidade deste documento quando visualizado diretamente no portal www.imprensaoficial.com.br sábado, 3 de outubro de 2015 às 01:53:30.