Arquivos da Catedral de Taubaté - 2013
Dom Francisco Borja do Amaral
GLORIA DEL PAX HOMINIBUS
Este ilustre Bispo nasceu em Campinas a 10 de outubro de 1898. Foram seus pais: o Sr. Manoel Pereira do Amaral, português, e Da. Escolástica de Toledo
Piza, filha do ilustre Dr. João Toledo Piza. Um mês depois de seu nascimento, a 12 de novembro de 1898, foi levado à pia batismal, na Matriz Velha de
Campinas, hoje Basílica de Nossa Senhora do Carmo, e batizado pelo Revmo. Pe. Manoel Ribas D´Avila. A 24 de novembro de 1907, ele fazia sua Primeira
Comunhão, na mesma Matriz de Nossa Senhora do Carmo.
RUMO AO SACERDÓCIO
Em memórias autobiográficas que deixou, ele mesmo anota sua ida para o seminário e sua caminhada, através das várias etapas de sua vida, até o
Sacerdócio. Diz ele: “Entrei para o Seminário Menor de Pirapora no dia 10 de julho de 1910. Completei o curso em 1915. Entrei para o Seminário Maior de
São Paulo no dia 20 de fevereiro de 1916. Tomei a batina no dia 6 de março desse ano. Terminei o Curso Filosófico em 1918. Recebi a Tonsura no dia 9 de
março de 1919. E comecei o curso teológico em 1919. Recebi as duas primeiras Ordens Menores no dia 20 de março de 1920. As duas últimas, em 12 de
março de 1921. Todas estas Ordens e também a batina e tonsura me foram dadas por S. Excia. Revma. Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São
Paulo.” Mais além, em suas notas biográficas, ele escreve: “Recebi hoje a Ordem do Subdiaconato das mãos do Exmo. Sr. Arcebispo de S. Paulo, Dom
Duarte Leopoldo e Silva, na Capela do Seminário, pelas 9 horas da manhã.- São Paulo, 25 de junho de 1922. Recebi a Ordem de Diácono das mãos de D.
Duarte, em Santa Cecília de São Paulo, dia 13 de agosto de 1922. Recebi ontem, dia 15 de agosto de 1922, a Ordenação Sacerdotal das mãos de D. Francisco
de Campos Barreto, na Matriz Velha de Campinas, às 7 horas da manhã.”
A CARREIRA SACERDOTAL
Dom Francisco teve uma brilhante e profícua vida sacerdotal, durante quase vinte anos, antes de seu Episcopado. Ordenado a 15 de agosto de 1922,
retornou ao Seminário de São Paulo, como era de praxe, para concluir seu curso e prestar os exames “de universa Theogia.” E em fevereiro do ano seguinte,
apresentava-se a seu Bispo Diocesano em Campinas. No dia 16 de fevereiro, o Bispo o provisionou Coadjutor de Itapira, que foi seu primeiro campo de
trabalho, aliás por curto espaço de tempo, menos de um ano, pois a 6 de novembro de 1923 era nomeado Vigário Cooperador de Mogi Mirim. Mas nem aí
permaneceu por longo tempo. A 7 de maio de 1924, era escolhido e nomeado Diretor Espiritual do Seminário Menor de Campinas, o que revela a sua
particular piedade e gosto das coisas do espírito, que sempre o distinguiram em toda a sua vida. Dois anos após dedicado serviço na orientação espiritual
dos seminaristas, o Bispo Diocesano o escolheu e promoveu ao paroquiato do Senhor Bom Jesus de Piracicaba. Tomou posse a 25 de abril de 1926. Foi nesta
Paróquia que permaneceu durante seis anos. Construiu ali um belíssimo templo, que é orgulho da cidade. Remodelou e afervorou toda a vida religiosa da
Paróquia. Foi ali também que, a-par de suas atividades no ministério, fundou uma Escola de Apologética e o Coral Santa Cecília. Ele mesmo exercia as
funções de Diretor, regente, e não raro também organista. Importa lembrar que, desde o seminário, sem sacrifício de seus estudos eclesiásticos, muito se
esmerou na música, que sempre cultivou, sobretudo a música sacra, salientando-se no canto gregoriano. Este foi depois o grande “hobby” de sua vida.
Seu paroquiato tão ardoroso o levou a grave enfermidade. Foi preciso seu afastamento, de fevereiro a agosto de 1928, quando o substituiram pelos padres
Capuchinhos. Talvez devido a este fato, o Bispo Diocesano o removeu para a sede episcopal de Campinas três anos mais tarde, onde se daria melhor. E a 4 de
dezembro de 1928, era empossado na Matriz Velha, a mesma em que fora batizado. Revelaram-se cada vez mais nítidas suas qualidades de Pastor, de
empreendedor e de pessoa da confiança de seu Bispo. Em 1933, a 23 de março, este o escolhia para Cônego catedrático da Catedral. À frente da Paróquia de
Nossa Senhora do Carmo – que este era o título da Matriz Velha – o Cônego Francisco Borja do Amaral realizou grandioso empreendimento, reconstruindo
totalmente a Matriz Velha, fazendo dela o magnífico templo de estilo gótico que é. Tudo indicava seria escolhido para as honras do episcopado. E assim,
efetivamente, sucedeu. Ele mesmo conta em suas memórias: “A 24 de dezembro de 1940 recebi telegrama do Sr. Núncio Apostólico comunicando que o
Santo Padre me havia nomeado para Bispo da nova Diocese de Lorena. “Glória a Deus, pax hominibus.” Estas últimas palavras foram também as
escolhidas para lema de sua vida episcopal e postas no brasão de suas armas.
A VIDA EPISCOPAL
A sagração episcopal de Dom Francisco Borja do Amaral se deu em Campinas, sendo Bispo sagrante o próprio Bispo de Campinas, Dom Francisco de
Campos Barreto, e Consagrantes os Exmos. Senhores Bispos: Dom Joaquim Mamede da Silva, Bispo Titular de Sebaste na Frígia e Dom Otávio Chagas de
Miranda, Bispo de Pouso Alegre. Era 16 de fevereiro de 1941. Logo a 23 de março, o novo Bispo entrava solenemente na sede da Diocese de Lorena e
tomava posse de seu cargo. A Diocese era Nova, competia-lhe organizar a nova Cúria, organizar o patrimônio – que fora todo doação do velho Conde José
Vicente – e dar ao Bispado a estrutura indispensável a seu funcionamento. Foi o que ele soube fazer com zelo e eficiência. Visitou repetidas vezes a
pequena Diocese ( Certamente a menor do Estado, com oito ou dez Paróquias), doutrinou o povo e criou no clero a mente indispensável à manutenção da
nova circunscrição eclesiástica. Iniciou ali o Seminário preparatório, com os poucos recursos que possuia, reorganizou as associações religiosas, fundou a
Ação Católica, promoveu obras assistenciais, e sobretudo desenvolveu entre os fiéis a vida eucarística, promovendo na sede episcopal um imponente
Congresso Eucarístico. Sua passagem por Lorena foi, entretanto, muito rápida para as grandes obras que empreendeu. Em 1944, era transferido para a
Diocese de Taubaté, vaga pela renúncia de Dom André Arcoverde Albuquerque Cavalcanti. Tomou posse a 8 de dezembro de 1944. Aqui viveu um longo,
profícuo, e piedoso episcopado. Foi aqui que ordenou grande número de Padres: 111 sacerdotes, sendo 94 do clero religioso. Recebeu na Diocese várias
Ordens e Congregações religiosas, confiando-lhes Paróquias e instituições sociais. Foi ele quem para cá trouxe os Frades Menores Conventuais, a Ordem
dos Servos de Maria, a Congregação dos Padres dos Sagrados Corações (PICPUS), os Irmãos Pobres de São Francisco, as Missionárias de Jesus Crucificado, e
numerosos outras Congregações femininas. Incentivou duas fundações religiosas: a das Filhas de Nossa Senhora das Graças, idealizada pelo Pe. Vita, e das
Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima, de Frei Orestes. Desenvolveu grandemente a Obra das Vocações Sacerdotais, criou a Cáritas Diocesana,
empreendendo a construção do Cristo Redentor, e possibilitou a fundação da Casa do Menor, doando para este fim enorme patrimônio da Diocese.
Estimulou sobremaneira a vida sacerdotal, dividindo a Diocese em Decanatos e estabelecendo reuniões mais assíduas do clero. Foi obra sua também, que
marcou época, a celebração do Sínodo Diocesano, o primeiro e único que se celebrou na Diocese. Foi ele também quem obteve da Santa Sé a concessão do
título de Basílica Menor para a Igreja do Senhor Bom Jesus de Tremembé, cuja romaria anual incentivou, participando ele mesmo, anualmente, desta
grande romaria, que acompanhava a pé, enquanto foi Bispo Diocesano. Deve-se a ele ainda a criação do Cabido Diocesano, obteve da Santa Sé o Decreto
de ereção canônica em outubro de 1946. Releve-se o particular de que Dom Francisco Borja do Amaral foi sempre zeloso das celebrações litúrgicas com
grande pompa, fazendo questão de celebrar pontificalmente todas as festas solenes, principalmente o Natal, A Semana Santa e Páscoa e as festas de
Corpus Christi e as de Nossa Senhora. Por 32 anos governou uma vasta Diocese , que compreendia, até à sua renúncia, a atual Diocese de São José dos
Campos e ainda o litoral de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilha Bela. Ele a percorria com assiduidade, pregando, ministrando o sacramento da
crisma e estimulando ao zelo seus sacerdotes, como se vê nos termos de visita exarados, com minudências, nos livros de Tombo das respectivas Paróquias.
Teve como Auxiliar, primeiramente, Dom Gabriel Paulino do Couto, mais tarde transferido para Jundiaí, e finalmente como coadjutor Dom Antônio do
Couto, que a ele sucedeu, em virtude da sua renúncia em 1976.
SEUS ÚLTIMOS ANOS EDIFICANTES E PIEDOSA MORTE
Depois de 32 anos de governo da Diocese de Taubaté, Dom Francisco recolheu-se à residência que construira no Alto do Cristo Redentor, e ali viveu
piedosamente, entregue ao trabalho de confissões a numerosos penitentes que o procuravam, e celebrava regularmente Missas na Catedral, na Igreja de
São João cuja construção muito estimulara, e na Igreja do Bom Conselho. Suas Missas já eram celebradas sempre de cor, usando os textos votivos da Sma.
Trindade ou da Sma. Virgem Maria, conforme indulto que obtivera de Roma desde 1983. As Irmãs de Jesus Crucificado, que por mais de quarenta anos o
assistiam, dão a seu respeito este testemunho: “O Sr. Bispo era de grande bondade, caridade para com os pobres, virtudes estas herdadas de sua santa mãe.
Ninguém saía de sua residência sem algum favor, quer espiritual, quer material. Dom Francisco possuia uma grande devoção pelo mistério augusto da
Santíssima Trindade... Seu espirito de fé era extraordinário e toda a sua vida era dominada pela fé. Era de grande vida interior. Não se saía de perto dele
sem qualquer cousa sobrenatural. Tinha o Dom de elevar os corações.” Dom Francisco celebrou sua última missa no Domingo de Ramos, 19 de março de
1989. Já praticamente cego, as forças se lhe diminuiam sensivelmente. Dia 25 de março aceitou ir para o hospital Pio XII, das Pequenas Missionárias, em
São José dos Campos. Só anuiu, em virtude dos insistentes pedidos do então Bispo Diocesano, Dom Antônio Afonso de Miranda. Uma semana depois, mais
recuperado, tornou à sua residência. Na manhã de 14 de abril, o seu estado se agravou e ele mesmo pediu que se chamasse o Bispo Diocesano Dom Antônio
Afonso de Miranda para ministrar-lhe a Unção dos enfermos. Estavam presentes: o Côn. Irineu Batista, Cura da Catedral, Pe. Gaetano Bonomi, Pároco de
Santa Luzia, Pe. Roberto Hidalgo, Pároco de São José Operário e a Irmã Ana Horvoth, Missionária de Jesus Crucificado. Foi-lhe ministrada a Unção e dada
a Benção Apostólica. Nos dias seguintes seu estado foi-se agravando, com estados de semi-consciência, e às vezes de perfeita lucidez, pedia às Irmãs que
lhe cantassem cânticos como “Adoro Te”, Ave verum”, e outros, que acompanhava baixinho. A noite que antecedeu o dia lº de maio de 1989 foi
sobremaneira dolorosa. As Irmãs Ana, Ocarlina e Maria das Dores, que o acompanhavam, previam que seu desenlasse se daria ao raiar do mês de Maria. E
assim aconteceu. As Irmãs, atendendo a seus gestos, colocaram-lhe a vela acesa entre as mãos, e, enquanto oravam o Creio em Deus Pai, Padre Nosso e Ave
Maria, ele como que se esvaiu serenamente. Seu corpo foi velado na Catedral, depois de embalsamado, e, no dia 2 de maio, foi transportado para
Campinas, e ali sepultado, ao lado de sua santa mãe, Da. Escolástica, conforme seu desejo anteriormente significado às Irmãs que o assistiam. Num
testamento, que escrevera desde 9 de agosto de 1984, ele dispusera o seguinte: “VENI, DOMINE JESU – Rogo, outrossim, zelar pelo Oratório, erecto no
Cemitério de Campinas, onde espero ser o lugar do meu corpo, aguardando a ressurreição, podendo as Irmãs Missionárias, que o desejarem, ser aí
inumadas, pois é perto da Casa Provincial. Da Igreja militante, esperamos voar para a Igreja triunfante, com o nosso clamor de fé: Veni, Domine Jesu!."