CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica CAPÍTULO VI MODELO DE CORRELAÇÃO SISMOSTRATIGRÁFICA ENTRE AS MARGENS CONTINENTAIS SUL E SUDOESTE PORTUGUESAS 263 CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica VI.1. – INTRODUÇÃO O modelo geral de correlação sismostratigráfica entre as Margens Continentais Sul e Sudoeste proposto neste trabalho baseia-se na correlação realizada entre os modelos sismostratigráficos individuais efectuados para os domínios tectonostratigráficos da Bacia do Algarve, Golfo de Cádis (Margem Sul) e para os domínios Planalto de Sagres-Planalto Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente, Planície Abissal da Ferradura, Banco de Gorringe e Crista Coral Patch (Margem Sudoeste). A análise sismostratigráfica que suporta cada um destes modelos individuais recaiu de modo mais detalhado sobre a mega-sequência do Neogénico, tal como impunham aos objectivos iniciais que guiaram este trabalho e já expostos anteriormente, no entanto, com o intuito de enquadrar cronologicamente, numa escala temporal mais ampla a sismostratigrafia neogénica, o modelo final de correlação sismostratigráfica apresenta igualmente as grandes unidades do Paleogénico e Mesozóico, perspectivando e consubstanciando assim, a posterior execução de um modelo de evolução tectonostratigráfica para as duas margens durante o Cenozóico. O modelo de correlação sismostratigráfica entre as Margens Continentais Sul e Sudoeste portuguesas proposto neste trabalho estabeleceu-se tendo como base de partida o modelo de sismostratigrafia efectuado para a Bacia do Algarve, pois face aos dados utilizados neste domínio teconoestratigráfico (linhas sísmicas, sondagens e cores), este modelo apresenta-se como aquele que possui maior grau de confiança, estando constrangido estratigraficamente. As unidades e descontinuidades reconhecidas nesta Bacia foram correlacionadas lateralmente com os domínios do Golfo de Cádis e posteriomente deste para os domínios da Margem Sudoeste. Antes de apresentar o modelo final de correlação sismostratigráfica entre as Margens Sul e Sudoeste Portuguesas importa sintetizar os modelos sismostratigráficos obtidos para cada um dos domínios tectonostratigráficos de ambas as margens. VI.2. – SÍNTESE DOS MODELOS SISMOSTRATIGRÁFICOS MARGEM CONTINENTAL SUL PORTUGUESA DA Os principais aspectos a reter no que se refere aos modelos sismostratigráficos individuais propostos para cada um dos domínios tectonostratigráficos, são os seguintes: VI.2.1. - Domínio tectonostratigráfico da Bacia do Algarve a) Reconhecem-se três mega-sequências sísmicas, sendo estas, respectivamente: a) Megasequência I composta por depósitos do Mesozóico, nomeadamente, do Triássico e Jurássico (unidade sísmica Mz1) e do Cretácico Inferior (unidade sísmica Mz2); b) Mega-sequência II formada por depósitos do Paleogénico, sendo os do Paleocénico superior/Eocénico representados pela unidade sísmica Pg1 e do Oligocénico pela unidade sísmica Pg2; c) Mega-sequência III correspondente a depósitos do Neogénico, desde o Burdigaliano (unidade sísmica BA1) ao Plistocénico-Holocénico (unidade sísmica BA10). b) Regista-se a presença de duas proeminentes discordâncias identificadas à escala de toda a bacia, correspondendo a mais antiga ao intervalo entre o Cretácico Inferior e o Paleocénico/Eocénico (discordância Cz) e a mais recente situada na base dos depósitos do Neogénico (discordância M). Esta última trunca as unidades subjacentes do Paleogénico e inclusive, em alguns locais, do Mesozóico. 264 CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica c) Salienta-se a ocorrência no sector oriental da Bacia do Algarve da Unidade Alóctone do Guadalquivir (unidade sísmica UAG), cuja frente de deformação está coberta por depósitos do Tortoniano (unidade sísmica BA3) e do Messiniano (unidade sísmica BA4), sendo estes últimos que a selam. d) As unidades correspondentes ao intervalo de tempo entre o final do Pliocénico inferior e o Plistocénico-Holocénico (unidades sísmicas de BA6 a BA10) testemunham um aumento de subsidência sofrido pelo sector oriental da bacia durante este período. A descontinuidade P1 situada na base da unidade sísmica BA6 marca o início dessa fase, à qual se sucederam quatro novos episódios registados pelas descontinuidades P2 a P5, correspondente aos limites basais das unidades sísmicas BA7 a BA10 (Fig. VI.1). Bacia do Algarve BA1 P4 P3 P2 P1 P M3 M2 M1 VI.2.2. - Domínio tectonostratigráfico do Golfo de Cádis VI.2.2.1. - Sub-domínio tectonostratigráfico Golfo de Cádis I: Região dos canhões e bancos submarinos P-H P5 M Cz’ Cz BA9 Pliocénico superior BA8 Pliocénico superior BA7 Pliocénico superior BA6 Plio inf./Plio sup. BA5 Pliocénico inferior BA4 Miocénico superior Mio sup. UAG BA3 BA2 BA1 Mio méd. Mio inf. Pg2 Oligocénico Pg1 Eocénico inferior Mz2 a) Identificam-se as três mega-sequências correlativas das descritas a Mz1 propósito da Bacia do Algarve, no entanto diferem em alguns aspectos. Jurássico J Assiste-se a uma maior dificuldade na descriminação das unidades do Triássico Mesozóico e à separação entre unidades do Paleocénico/Eocénico e do Oligocénico, sendo por isso os depósitos paleogénicos representados por uma única unidade, a unidade Pg. b) As discordâncias Cz e M encontram-se igualmente presentes neste domínio do Golfo de Cádis. c) A mega-sequência III neogénica, é composta por oito unidades sísmicas Golfo de Cádis I (unidades sísmicas GC1 a GC8) correlativas das identificadas na Bacia do GC8 Algarve, registando-se no entanto a condensação das unidades, uma vez P-H P5 que esta região não foi tão afectada pela subsidência neogénica como a GC7 Pliocénico superior Bacia do Algarve. Assim, a descontinuidade intra-Pliocénico superior P3 P4 GC6 presente nesta Bacia encontra-se ausente no Golfo de Cádis, pelo que a Pliocénico superior P2 unidade sísmica GC6 representa a secção condensada correlativa do GC5 Plio inf./Plio sup. conjunto das unidades sísmicas BA7 e BA8 presentes na Bacia do P1 GC4 Algarve. Situação semelhante ocorre nas unidades correspondentes ao Pliocénico inferior Miocénico superior, representado no Golfo de Cádis pela unidade sísmica P Ol GC3, em oposição à Bacia do Algarve onde foi possível descriminar a GC3 Miocénico superior presença de depósitos do Tortoniano (unidade sísmica BA3) e do M2 GC2 Messiniano (unidade sísmica BA4) (Fig. VI.2). Miocénico médio M1 d) Destaca-se a existência de um olistostroma (unidade sísmica Ol) GC1 proveniente do Banco de Portimão, e que se encontra intercalado no seio Miocénico inferior M de sedimentos do Miocénico superior (unidade sísmica GC3) e está selado Pg Paleogénico por depósitos do Pliocénico inferior (unidade sísmica GC4) (Fig. VI.2). Cz Cretácico Inferior Mz2 Figura VI.1 – (em cima) Coluna sismostratigráfica do domínio tectonostratigráfico da Bacia do Algarve. Figura VI.2 – (em baixo) Coluna sismostratigráfica do sub-domínio tectonostratigráfico Golfo de Cádis I. 265 Cretácico Inferior J Mz1 Jurássico CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica V.2.2.2. - Sub-domínio tectonostratigráfico Golfo de Cádis II: Complexo Caótico do Golfo de Cádis (CCGC) a) O prisma acrecionário do Golfo de Cádis (CCGC) encontra-se representado pelas unidades sísmicas CCGC-A e CCGC-B, cuja distribuição espacial é correlacionável com sectores batimétricos distintos, situando-se a primeira no sector mais oriental (sector A) e nas proximidades do Estreito de Gibraltar e a segunda no sector ocidental (sector B) situado a maiores profundidades. A unidade sísmica CCGC-A cavalga a unidade sísmica CCGC-B. b) Sob este complexo acrecionário identifica-se um horizonte de elevada amplitude e continuidade, interpretado como a superfície de descolamento basal. Subjacentemente reconhecem-se duas unidades sísmicas (U2 e U3) de fácies estratificadas, que constituem a sequência sedimentar marinha, possivelmente mesozóica, que não sofreu acrecção (Fig. VI.3). Esta sequência assenta sobre uma unidade sísmica (unidade U1) cuja fácies e geometria sugere tratar-se de blocos crustais fracturados, colocando-se a hipótese de poder tratar-se de crosta oceânica ou de crosta de transição, uma vez que a geometria do conjunto prisma Golfo de Cádis II acrecionário/unidades basais assemelha-se à apresentada por prismas acrecionários. A natureza da unidade U1 não pode ser esclarecida GC8 P-H com base nos dados existentes. P5 GC7 c) Embora não existam datações dos sedimentos que compõem as Pliocénico superior P4 unidades sísmica, U2 e U3, sugere-se que o nível de descolamento se GC6 situa algures em sedimentos do Cretácico Inferior (unidade sísmica Pliocénico superior P2 U3), uma vez que na brecha de lama expelida pelos vulcões de lama GC5 CCGC-A edificados sobre o CCGC estão ausentes clastos desta idade, sendo os mais antigos são datados do Cretácico Superior (Pinheiro et al., CCGC-B 2003). d) O CCGC está coberto por uma sequência composta por depósitos do final do Pliocénico inferior-Pliocénico superior (unidade sísmica GC5), Pliocénico superior (unidades sísmicas GC6 e GC7) e do Plistocénico-Holocénico (unidades sísmica GC8). No sector oriental a unidade sísmica CCGC-A está coberta pela sequência composta pelas unidades sísmica GC6, GC7 e GC8, que preenche pequenas bacias associadas a cavalgamentos ou situadas entre vulcões de lama. Este preenchimento sedimentar está deformado sin? sedimentarmente. A unidade sísmica CCGC-A em alguns locais cavalga a unidade sísmica GC5. No sector ocidental a unidade U3 Cretácico CCGC-B está coberta pela unidade sísmica GC5, à qual se sucedem U2 Jurássico as unidades sísmicas GC6, GC7 e GC8 (Fig. VI.3). Figura VI.3 – Coluna sismostratigráfica do sub-domínio tectonostratigráfico Golfo de Cádis I I. U1 Crosta VI.3. - SÍNTESE DOS MODELOS SISMOSTRATIGRÁFICOS DA MARGEM CONTINENTAL SUDOESTE PORTUGUESA VI.3.1. - Domínios tectonostratigráficos do Planalto de Sagres-Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente a) Nesta região regista-se a presença de três mega-sequências correlativas das identificadas na Bacia do Algarve e no sub-domínio tectonostratigráfico Golfo de Cádis I (região dos canhões e 266 CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica bancos submarinos), apresentando-se em continuidade com este último sub-domínio no que se refere ao Mesozóico e Paleogénico, estando representadas as unidades sísmicas Mz1, Mz2 e Pg. b) Relativamente à mega-sequência neogénica III, composta por dez unidades, observam-se algumas diferenças na correlação com o sub-domínio Golfo de Cádis I. Estas ocorrem sobretudo na correlação entre as unidades do Miocénico superior e Planalto de Sagresintra-Pliocénico superior. No domínio Planalto de SagresPlanalto Marquês de PombalPlanalto Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente os Canhão de S. Vicente depósitos do Miocénico superior estão, ao contrário do que se MW8 observa no Golfo de Cádis I, representados por duas unidades P-H sísmicas, MW3 e MW3’, à semelhança do que ocorre na P5 MW7 Bacia do Algarve. Assim, estas unidades poderão ser Pliocénico superior P4 MW6 atribuídas, respectivamente ao Tortoniano e Messiniano, Pliocénico superior estando separadas pela descontinuidade M3. A unidade P2’ MW6 sísmica MW6’, posicionada sobrejacentemente à unidade Pliocénico superior P2 sísmica MW6 do Pliocénico superior não foi identificada no MW5 Plio inf./Plio sup. sub-domínio golfo de Cádis I. Considerando que esta unidade P1 MW4 se encontra limitada a topo pela descontinuidade P4, a sua Pliocénico inferior P posição estratigráfica sugere tratar-se de uma unidade sísmica MW3’ Miocénico superior correlativa das unidades sísmicas BA8 da Bacia do Algarve e M3 MW3 GC6 do Golfo de Cádis, sendo-lhe por isso atribuída a idade Mio. sup. CCF M2 MW2 de Pliocénico superior. A sua descontinuidade basal P2’ M1 Miocénico médio poderá ser correlativa da descontinuidade P3 na Bacia do MW1 Miocénico inferior Algarve. M c) No interior dos sedimentos do Miocénico superior Paleogénico Pg (unidade sísmica MW3) ocorre a terminação em pinch-out do Cz Corpo Caótico da Ferradura (unidade sísmica CCF). Este Cretácico Mz2 corpo está coberto pela unidade sísmica MW3’ também do J Jurássico Mz1 Miocénico superior, possivelmente correspondente ao Messiniano (Fig. VI.4). VI.3.2. - Domínio tectonostratigráfico da Planície Abissal da Ferradura a) Na Planície Abissal da Ferradura destaca-se a presença do CCF. Este corpo está limitado basalmente no sector central da bacia por unidades do Cretácico, e nos sectores situados próximos dos altos estruturais Banco de Gorringe e Crista Coral Patch por unidades do Paleogénico. b) O CCF está coberto por uma sequência condensada de sedimentos do Pliocénico inferior ao Plistocénico-Holocénico (unidades sísmicas MW4 a MW8), embora nas proximidades do Banco de Gorringe os sedimentos de cobertura mais antigos correspondam à unidade sísmica MW3’ do Miocénico superior (Messiniano provável) (Fig. VI.5). Figura VI.4 – (em cima) Coluna sismostratigráfica do domínio tectonostratigráfico Planalto de Sagres-Planalto Marquês de PombalCanhão de S.Vicente. Figura VI.5 – (ao lado) Coluna sismostratigráfica do domínio tectonostratigráfico Planície Abissal da Ferradura. 267 Planície Abissal da Ferradura MW7 + MW8 P-H Pliocénico superior P4 MW4 a MW6 Pliocénico P MW3’ CCF Cz Pg Mz2 J Mz1 Jurássico CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica VI.3.3. - Domínio tectonostratigráfico do Banco de Gorringe a) No Banco de Gorringe destaca-se a presença de um grande hiato entre os sedimentos do Cretácico Inferior (unidade sísmica G2) e os do Miocénico inferior ao Plistocénico (unidade sísmica G3). O substrato desta sequência sedimentar corresponde a crosta oceânica (unidade sísmica G1) (Fig. VI.6). b) Merece destaque, o facto do hiato registado no Banco de Gorringe ser cronologicamente equivalente ao reconhecido por Pais et al., (2000) no sector emerso da Bacia do Algarve. Banco de Gorringe G3 P-H Mio. inf. C/Pg Figura VI.6 – Coluna sismostratigráfica do domínio tectonostratigráfico Banco de Gorringe. G2 Cretácico Inferior G1 Crosta Oceânica VI.3.4. - Domínio tectonostratigráfico da Crista Coral Patch a) O grande hiato existente na Crista Coral Patch ocorre entre os sedimentos do Oligocénico superior-Plistocénico (unidades sísmicas CP7 a CP10) e os sedimentos do final do Cretácico Superior-Eocénico inferior (unidade sísmica Crista Coral Patch CP6). Subjacentes a estes depósitos, ocorrem sedimentos do Cretácico CP7 - CP10 Superior (unidades sísmicas CP3 a CP5) e do Cretácico Inferior (unidades sísmicas CP1 e CP2) (Fig. VI.7). Plistocénico-Holocénico b) Salienta-se que, ao contrário do que ocorre nos restantes domínios Oligocénico superior tectonostratigráficos das margens Sul e Sudoeste, onde os depósitos do C CP6 Cretácico Superior estão ausentes e o hiato/discordância mais Eocénico inferior proeminente regista-se entre o Cretácico Inferior e o Paleogénico, na Cretácico Superior Crista Coral Patch os depósitos do Cretácico Superior estão bem CP3 - CP5 representados, verificando-se a existência de um hiato entre os Cretácico Superior sedimentos do Eocénico inferior e os do Oligocénico superior. CP1 - CP2 Figura VI.7 – Coluna sismostratigráfica tectonostratigráfico Crista Coral Patch. do domínio Cretácico Inferior VI.4. - CORRELAÇÃO SISMOSTRATIGRÁFICA ENTRE AS MARGENS CONTINENTAIS SUL E SUDOESTE PORTUGUESAS Reconhece-se a grande escala a existência de continuidade sismostratigráfica entre os domínios tectonostratigráficos que compõem as Margem Sul e Sudoeste, expressa pela presença de três mega-sequências sísmicas atribuídas respectivamente ao Mesozóico (mega-sequência I), Paleogénico (mega-sequência II) e Neogénico (mega-sequência III) e correlacionáveis entre os domínios tectonostratigráficos da Bacia do Algarve, Golfo de Cádis (sub-domínio I: região dos canhões e bancos submarinos) e Planalto de Sagres-Planalto Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente. A presença das proeminentes discordâncias Cz e M identificadas na Bacia do Algarve são também reconhecidas por correlação lateral nestes domínios, embora o seu carácter erosivo, bem patente na Bacia do Algarve, seja menos evidente (Fig. VI.8). Deste modo, a história destes três domínios tectonostratigráficos parece estar interligada desde o final do Cretácico como demonstra a ocorrência do hiato/discordância entre o Cretácico Inferior e 268 CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica o Paleogénico (hiato/discordância Cz), estando os depósitos do Eocénico e Oligocénico pouco representados. Na mega-sequência neogénica III é possível correlacionar lateralmente algumas descontinuidades maiores, em especial as mais recentes, intra-pliocénicas, nomeadamente P1, P2, P4, P5. As descontinuidades intra-Miocénico M1 e M2, correspondentes respectivamente à base do Miocénico médio e do Miocénico superior são também correlacionáveis lateralmente entre os três domínios citados (Fig. VI.8). As discrepâncias sismostratigráficas verificadas entre a Bacia do Algarve e os outros dois domínios, traduzem a elevada subsidência sofrida por esta bacia durante o Neogénico. Assim, as duas unidades do Miocénico superior, atribuídas ao Tortoniano (unidade sísmica BA3) e ao Messiniano (unidade sísmica BA4) e reconhecidas na Bacia do Algarve são indistinguíveis no Golfo de Cádis onde a unidade sísmica correlativa GC3 representa uma secção condensada de depósitos do Miocénico superior (Fig. VI.8). Situação semelhante verifica-se no que se refere à representatividade e espessura alcançada pelas unidades sísmicas pliocénicas BA7 e BA8 na Bacia do Algarve, enquanto que no Golfo de Cádis, estas equivalem cronologicamente à unidade sísmica GC5. No entanto, no domínio Planalto de Sagres-Planalto Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente Margem SW, as unidades sísmicas BA7 e BA8 poderão ser correlacionadas com as unidades sísmicas MW6 e MW6’ limitadas pela descontinuidade P2’, possivelmente correlativa da descontinuidade P3 identificada na Bacia do Algarve. Refira-se que as unidades BA6, GC5 e MW5 estão limitadas basalmente pela descontinuidade P1, a qual marca o primeiro episódio de aumento de subsidência na Bacia do Algarve que teve lugar no final do Pliocénico inferior. Esta descontinuidade constitui, à semelhança do que se verifica com a discordância M e as descontinuidades P2, P4 e P5 aquela que apresenta maior facilidade de correlação entre estes domínios (Fig. VI.8). As Margens Sul e Sudoeste são pródigas em exibir corpos com fácies acústica caótica. Neste trabalho foi possível descriminar quatro unidades sísmicas caracterizadas por apresentarem este tipo de fácies, no entanto, distinguindo-se no que se refere à sua geometria a uma escala mais detalhada e ao distinto enquadramento estratigráfico no qual se inserem: unidades sísmicas UAG, Ol, CCGC, CCF (Fig. VI.8). A unidade sísmica UAG identifica-se na Bacia do Algarve estando a sua frente de deformação situada no seio da unidade sísmica BA3 (Tortoniano) e está selada pela unidade sísmica BA4 (Messiniano). Assim, a frente de deformação bética avançou no interior da Bacia do Algarve, à semelhança do que se verificou na Bacia do Guadalquivir, até ao final do Tortoniano, cessando a sua actividade no final do Miocénico superior (provavelmente Messiniano) (Fig. VI.8). O olistostroma associado ao soerguimento do Banco de Portimão (unidade sísmica Ol) parece ter sido instalado no final do Miocénico superior (unidade sísmica GC3) estando selado por sedimentos do Pliocénico inferior (unidade sísmica GC4) (Fig. VI.8). As unidades sísmicas CCGC (A e B) e CCF surgem nos domínios mais profundos da Margem Sul e Sudoeste, respectivamente, na região do prisma acrecionário do Golfo de Cádis e na Planície Abissal da Ferradura. Constata-se a existência de uma boa correlação sismostratigráfica no que se refere às unidades sísmicas mais recentes das respectivas sequências de cobertura (Final do Pliocénico superior e Plistocénico-Holocénico), em particular as unidades GC7+GC8 e MW7+MW8, limitadas na base pela descontinuidade P4. No entanto, o CCGC encontra-se selado por unidades mais recentes que o CCF. Assim, o primeiro está selado a oriente pela unidade sísmica GC6 (Pliocénico superior) e a ocidente pela unidade sísmica GC5 (final do Pliocénico 269 CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica inferior a Pliocénico superior), enquanto que CCF está selado progressivamente para Oeste por unidades sísmicas mais antigas, MW4 (Pliocénico inferior) e MW3’ (final do Miocénico superior, Messiniano provável) (Fig. VI.8). No que se refere à idade das unidades sísmicas basais do CCGC e do CCF subsiste a incerteza, em especial em relação a este último, devido à ausência de sondagens que atravessem estas unidades. Coloca-se a hipótese destas corresponderem a sedimentos marinhos do Cretácico Inferior com base nos dados estratigráficos provenientes da análise dos clastos expelidos pelos vulcões de lama existentes no Golfo de Cádis. Relativamente ao CCF, as sondagens DSDP realizadas no Banco de Gorringe (Site 120) e na Crista Coral Patch (Site 135) também não atravessam este corpo, mas através da correlação com as unidades/descontinuidades identificadas e calibradas nestes domínios e no domínio Planalto de Sagres-Planalto Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente, verifica-se que este corpo se encontra limitado basalmente por unidades do Paleogénico nas proximidades da Crista Coral Patch e por unidades do Cretácico (Inferior?) próximo do Banco de Gorringe e na zona central e mais profunda da Planície Abissal da Ferradura . O Banco de Gorringe e a Crista Coral Patch constituem ambos excepções neste modelo de correlação (Fig. VI.8). Assim, no Banco de Gorringe reconhece-se a presença de um hiato muito mais amplo do que aquele que é identificado nos restantes domínios tectonostratigráficos, abrangendo um lapso de tempo que medeia entre o Cretácico Inferior e o Miocénico inferior. Este hiato encontra somente equiparação com o hiato registado no sector emerso da Bacia do Algarve por Pais et al. (2000). A Crista Coral Patch, por seu turno apresenta uma sequência sismostratigráfica e litostratigráfica (DSDP Site 135) que difere da encontrada nos restantes domínios. Contrariamente a estes, na Crista Coral Patch o Cretácico Superior encontra-se bem representado, registando-se um grande hiato entre o Eocénico inferior e o Oligocénico superior, o que sugere uma evolução independente deste domínio durante esta época em relação aos restantes domínios da Ibéria. Figura VI.8 – (na página seguinte). Modelo de correlação sismostratigráfica entre as unidades sísmicas e descontinuidades identificadas nos domínios (e sub-domínios) tectonostratigráficos da Margem Sul Portuguesa (Bacia do Algarve; Golfo de Cádis I: região dos canhões e bancos submarinos; Golfo de Cádis II: Complexo Caótico do Golfo de Cádis) e da Margem Sudoeste Portuguesa (PS-PMP-CSV: Planalto de Sagres-Planalto Marquês de Pombal-Canhão de S. Vicente; PAF: Planície Abissal da Ferradura; Banco de Gorringe; Crista Coral Patch). UAG: Unidade Alóctone do Guadalquivir; Ol: olistostroma; CCGC: Complexo Caótico do Golfo de Cádis; CCF: Corpo Caótico da Ferradura. P-H: Plistocénico-Holocénico. 270 271 J Cz Cz’ M M2 M1 M3 P P1 P2 P3 P4 P5 UAG Mio. sup. Mz1 Mz2 Pg1 Pg2 BA1 Trias Jura Cret. Inf. Eoc. inf. Olig. Mio inf. BA2 Mio méd. BA3 Mio sup. BA4 Plio inf. P inf./P sup. BA6 BA5 Plio sup. BA7 Plio sup. Plio sup. BA9 BA8 P-H BA10 Bacia do Algarve Mz1 Mz2 Pg GC1 GC2 GC3 GC4 GC5 GC6 GC7 GC8 Ol Jura Cret. Inf. Paleog. Mio. inf. Mio. méd. Mio. sup. Plio inf. P. inf/P. sup. Plio sup. Plio sup. P-H Golfo de Cádis I ? Plio sup. P-H Jura ? Crosta U1 Cret.? ? CCGC-B CCGC-A U2 U3 GC5 GC6 Plio sup. GC7 GC8 Golfo de Cádis II MARGEM SUL PORTUGUESA Cz M M1 M2 M3 P Mz1 Mz2 Pg P-H CCF Mio. sup. Plio inf. P. inf./P. sup. Plio sup. Plio sup. Plio sup. Jura Cret. Paleog. Mio. inf. ? Mio. méd. MW1 MW2 MW3 Mio. sup. MW3’ MW4 MW5 MW6 MW6’ MW7 MW8 PS-PMP-CSV P1 P2 P2’ P5 Mz1 Mz2 Pg MW3’ Plio sup. P-H Jura CCF MW4 a MW6 Plio MW7 + Mw8 PAF ? P4 C/Pg G1 G2 G3 Crosta Oc. Cret. Inf. P-H Mio. inf. ? Banco de Gorringe MARGEM SUDOESTE PORTUGUESA C CP1 - CP2 CP3 - CP5 CP6 CP10 CP7 Cret. Inf. Cret. Sup. Eoc. inf. Cret. Sup. P-H Oligo. sup. CCP CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica CAPÍTULO VI – Modelo de correlação sismostratigráfica 272