ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS ZONAS COSTEIRAS DA ÁFRICA OCIDENTAL Resposta às mudanças climáticas e às suas implicações humanas na África Ocidental, através da gestão integrada da área costeira. CABO VERDE • GÂMBIA • GUINÉ-BISSAU • MAURITÂNIA • SENEGAL 2008 - 2012 Adaptação às Mudanças Climáticas nas Zonas Costeiras da África Ocidental DEGRADAÇÃO DA ZONA COSTEIRA NA ÁFRICA OCIDENTAL Estas áreas são fontes de desenvolvimento; Envolvem um importante património em termos de biodiversidade. O Projecto de Adaptação às Mudanças Climáticas nas Zonas Costeiras (Projecto ACCC) foi concebido para responder às mudanças climáticas nas zonas costeiras e às suas implicações humanas na África Ocidental, através da gestão integrada da zona costeira. UMA INICIATIVA DE CINCO PAÍSES PARCEIROS, DECORRENTE DO PROCESSO NEPAD Este projecto completo foi aprovado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) em 2007. A reunião inaugural do projecto regional foi realizada em Dacar, de 24 a 26 de Novembro de 2008. O projecto será completado até Dezembro de 2012. O seu financiamento para este foi assegurado pelo GEF (US $3,3 milhões), tendo sido cofinanciado pelos cinco Governos, pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO e por outros parceiros. O organismo de execução do projecto foi o PNUD e a entidade encarregada da implementação foi a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, que se responsabilizou pela coordenação regional. PRINCIPAIS OBJECTIVOS A manutenção ou a construção de resistência dos ecossistemas às mudanças climáticas, dado que estas zonas poderão não ser totalmente beneficiadas, a longo prazo, pelas medidas implementadas no âmbito de projectos convencionais de proteção da biodiversidade, se não forem implementadas, ao mesmo tempo, medidas específicas de adaptação, em resposta aos impactos das mudanças climáticas (elevação do nível dos mares). A redução da vulnerabilidade das populações das zonas costeiras aos efeitos das mudanças climáticas, reforçando a resistência das mesmas à erosão costeira. ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO O projecto foi implementado em três níveis: A nível local, através de sítios pilotos (um em cada país), nos quais foram realizadas actividades com vista a construir adaptabilidade e resistência dos ecossistemas e das populações das zonas costeiras às mudanças climáticas; A nível nacional, através da integração de questões relativas às mudanças climáticas e à adaptação nas políticas e nos programas de gestão nacional das zonas costeiras; A nível regional, através do reforço do controlo da erosão costeira e das capacidades de planeamento da gestão das zonas costeiras. A erosão costeira é vista como uma séria ameaça em toda esta região. Além disso, o projecto teve por objectivo a promoção do aprendizado voltado para uma melhor gestão da adaptação, essencialmente através da troca de experiências, tendo também visado o reforço da cooperação regional sobre as questões relacionadas com as mudanças climáticas e a gestão das zonas costeiras. QUESTÕES REGIONAIS Um conceito regional, que envolve Cabo Verde, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mauritânia e Senegal. Estes cinco países têm em comum um certo número de características: Estão localizados na mesma região ecológicoclimática; Fazem parte do Grande Ecossistema Marinho da Corrente das Canárias (CCLME); Afloramento, fundamental para a produtividade costeira, numa boa parte da região; Migração regional de espécies de peixes, mamíferos, pássaros e tartarugas. Orla costeira de Nouakchott MAURITÂNIA Ilha do Maio (Ribeira da Lagoa) CABO VERDE Palmarin SENEGAL Reserva Tanbi GÂMBIA Praia de Varela GUINÉ BISSAU SÍTIOS DE PROJECTOS PILOTOS ACCC Realizações Nos Cinco Cabo Verde Guiné-Bissau Gâmbia Ribeira da Lagoa (Ilha do Maio) Praia de Varela Reserva Tanbi Cabo Verde é um arquipélago de dez ilhas. O sítio seleccionado para o projecto é a Ribeira da Lagoa, na Ilha do Maio, a oito quilómetros de Porto Inglês. Este sítio é particularmente vulnerável à erosão costeira e é muito importante pela sua biodiversidade (tartarugas e pássaros). Praia de Varela, a 300 metros de distância da aldeia de Varela, na região de São Domingos, foi seleccionada como sítio de projecto piloto na Guiné-Bissau. O sítio seleccionado para o projecto piloto na Gâmbia foi uma reserva localizada ao sul do estuário do rio Gâmbia. A biodiversidade nesta área é extremamente rica (com proteção de espécies ameaçadas de extinção) e a erosão costeira é considerável. Opção seleccionada: dique anti-sal, reabilitação do solo e reflorestamento. Construção de um dique anti-sal no estuário de Ribeira da Lagoa, com vista à retenção de sedimentos decorrentes de inundações, à remoção do sal, a fim de recuperar solos com salinidade elevada e evitar que a lagoa estoure as suas margens em caso de inundação, reduzindo a infiltração de água salgada no estuário. Construção de mecanismos de conservação da água e do solo, com vista a refrear o escoamento pluvial e a aumentar a sua percolação no solo, a fim de reabastecer o aquífero. Instalação de um viveiro de mudas para espécies adaptadas ao clima local, com vista ao reflorestamento de 16 hectares. Opções seleccionadas: reflorestamento e reabilitação do turismo Limpeza da praia de Varela, juntamente com a comunidade local, de Novembro de 2009 a Fevereiro de 2010, na qual participaram 40 jovens pagos pelo projecto. Este resultado atraiu mais de 5.000 turistas a visitarem a praia em Maio de 2010, facilitada pela construção da ponte sobre o rio São Vicente, que dá acesso a São Domingos, seguida da reabilitação da estrada de ligação á Varela. Criação de capacidades da Escola de Verificação Ambiental de Varela, graças à reabilitação da biblioteca dedicada à biodiversidade, que agora está equipada com material audiovisual. Estudo da biodiversidade costeira de Varela e plano para a monitorização de espécies protegidas no âmbito de convenções internacionais (tartarugas marinhas e peixe-boi africanoTrichechus senegalensis); Um estudo da erosão costeira da praia de Varela, que inclui formação nacional em mapeamento, sistemas de informação geográfica (GIS), riscos, vulnerabilidade e avaliação económica dos bens e serviços ecossistémicos. Formação local às comunidades e ONGs sobre as técnicas de reflorestamento florestal e instalação de viveiro comunitário para apoio às actividades de reflorestamento com espécies anti-erosivas adaptadas. Opção seleccionada: acampamento de ecoturismo Com vista a reduzir a pressão de actividades humanas indesejáveis sobre a biodiversidade nesta área e a reagir face aos impactos das mudanças climáticas, que tornam as terras cada vez menos aráveis, foi tomada a decisão de construir um acampamento de ecoturismo, utilizando materiais ecológicos (tijolos feitos de areia recolhida em locais distantes da costa, instalações solares, espaço para fogões de baixo consumo de energia na cozinha e água da rede hídrica) e de associar a estreita participação das populações locais. O acampamento foi concluído em 2010 e a transferência da sua gestão (franquia governamental) tem sido estudada por profissionais do turismo. Uma proteção de 27 quilómetros foi construída, para impedir que intrusos penetrem na reserva Tanbi e uma pedreira abandonada foi isolada através de uma cerca de 80 quilómetros, para impedir a extração ilegal de areia e proteger os pássaros. Estas medidas ajudarão a melhorar o sector do ecoturismo e a gerar rendimentos adicionais para as populações locais, aumentando, assim, a sua capacidade de resistência aos riscos climáticos. INICIATIVAS COM VISTA A PRESTAR ASSISTÊNCIA A POPULAÇÕES VULNERÁVEIS E A AUMENTAR A SENSIBILIZAÇÃO PÚBLICA Sítios Pilotos Mauritânia Senegal A orla costeira de Nouakchott Palmarin A região costeira da Mauritânia, embora seja mais temperada, é fustigada por ventos dominantes do nordeste que contribuem para o acréscimo de areia e o aumento da taxa de evapotranspiração, que já é alta. Para melhorar as estimativas da taxa anual de recuo da linha costeira, foi inicialmente utilizado um instrumento de mapeamento nas obras na orla costeira. Foi constatado que a taxa média de erosão ao longo da costa de Palmarin é de três a quatro e meio metros por ano. Opção seleccionada: técnicas "brandas", com vista a fixar a orla costeira Após uma avaliação da orla costeira do sítio de projecto piloto, as seguintes técnicas "brandas" foram usadas, com a finalidade de fixar as brechas na crista das dunas, na periferia da capital Nouakchott: Disseminação de 40.000 mudas (espécies locais, como Tamarix, Nitraria retusa e Atriplex), para o reflorestamento das dunas; Estabilização mecânica e reflorestamento de 50 hectares de dunas costeiras, por ONGs mauritanianas de serviços; Preenchimento de duas brechas nas dunas, através do uso de técnicas de captura de areia através de cercas erigidas paralelamente às dunas. As técnicas de estabilização mecânica e de reflorestamento usadas neste sítio piloto são exemplares, particularmente porque representam um custo vantajoso de menos de US $7 por metro linear de duna estabilizada por meio de vegetação. Opção seleccionada: reforço da cobertura vegetal Nessa zona sedimentar altamente instável, a solução foi o reforço da cobertura vegetal da área. Foram obtidos resultados através de medidas de reflorestamento e de defesa da orla costeira: Reflorestamento de 15 hectares de mangais; Plantação de Avicennia africana em três hectares, como defesa da orla costeira; Plantação de mudas de Casuarina equisetifolia ao longo de seis quilómetros de orla costeira. Para reforçar as medidas implementadas, foram cavados dois poços e o viveiro de mudas da comunidade foi restaurado. Entre os impactos mais significativos, podemos citar a regeneração dos mangais naturais, a volta do crescimento de vegetação ao longo da orla costeira, bem como o aumento do número de ninhos de pássaros e de tocas de animais. Para além das obras realizadas nos sítios pilotos, foram desenvolvidas actividades com vista a prestar assistência às populações locais em cada país, a níveis local e nacional, entre as quais: Cursos de formação comunitária em técnicas de desenvolvimento de viveiros de mudas, de reflorestamento de adaptação, de regeneração dos mangais, bem como numerosas actividades geradoras de rendimentos, a pedido de grupos locais, em particular mulheres e pescadores. Foi fornecido financiamento para a compra de equipamentos e de pirogas, dentro dos limites dos parcos recursos do projecto. Uma iniciativa que levou à criação da rede de actores locais (RACCAO) para o futuro foi elaborada, após a realização de uma análise sobre as necessidades nesta área. Formação para professores das Escolas Associadas (Associated Schools Project Network) da UNESCO, através do projecto Sandwatch, e criação das capacidades das unidades de coordenação, por intermédio das Comissões Nacionais da UNESCO. Aumentar a sensibilização da comunidade para os riscos climáticos, através da divulgação de informações e da criação de quadros de avisos ambientais. la- Aumentar a sensibilização dos par mentares, através da organização conjunta com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), de um grupo de trabalho para uma "Aliança entre membros do Parlamento e decisores locais, com vista à gestão climática em países cobertos pelo Programa Regional de Conservação Marinha e Costeira na África Ocidental (PRCM) e membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)", que se realizou na Assembleia Nacional de Cabo Verde, na Praia, de 3 a 6 de Agosto de 2009. A Declaração da Praia sobre a gestão das mudanças climáticas e um plano de acção foram adoptados. Na estrutura deste projecto de duração limitada, foram iniciadas actividades com vista a apoiar políticas e medidas nacionais relativas às mudanças climáticas, tais como a Portaria Costeira na Mauritânia, a Lei sobre a Zona Costeira no Senegal, o Zoneamento do sítio de Varela e a actualização do Plano Nacional de Gestão Costeira e a redinamização da política de planificação costeira na Guiné-Bissau. Mas, estas questões conexas ainda permanecem sendo áreas em que muito trabalho resta a ser realizado no futuro. Criação de capacidades FORMAÇÕES TÉCNICAS No decorrer dos três últimos anos, uma série de cursos de formações específicas foi organizada pelo coordenador regional para os participantes e parceiros dos cinco países do projecto ACCC. As equipas de projecto e as partes in- teressadas relevantes que assistiram a essas formações foram muito numerosas. Uma lista completa desses eventos e das reuniões de coordenação (inclusive das reuniões de projecto) encontra-se no quadro abaixo. 24-26 de Novembro de 2008 Grupo de trabalho de lançamento do projeto ACCC: Adaptação às mudanças climáticas no projeto das zonas costeiras UNESCO-BREDA Dacar, Senegal 23-25 de Abril de 2009 Grupo de trabalho regional de formação sobre as mudanças climáticas e as zonas costeiras UCAD II Dacar, Senegal 27-30 de Abril de 2009 Grupo de trabalho regional de formação sobre as técnicas de recomposição dos mangais Saly Senegal 13-16 de Junho de 2009 Grupo de trabalho regional de formação sobre as técnicas de reflorestamento de dunas Nouakchott Mauritânia 23-25 de Novembro de 2009 Reunião do comité directivo do Projecto ACCC Banjul Gâmbia 18 de Março de 2010 Reunião sobre as oportunidades de cofinanciamento para o Projeto ACCC Hotel Sofitel Teranga Dacar, Senegal 26-30 de Abril de 2010 Grupo de trabalho regional sobre o mapeamento da zona costeira Centre de Suivi Ecologique (Centro de Monitorização Ecológica), Dacar, Senegal 24-25 de Novembro de 2010 Reunião regional do comité diretivo 2010 Bissau Guiné-Bissau 26-30 de Novembro de 2010 Grupo de trabalho regional sobre a gestão integrada da zona costeira Bissau Guiné-Bissau 6-7 de Junho de 2011 Formação da rede local de intervenientes para a adaptação às mudanças climáticas nas zonas costeiras Palmarin Fatick, Senegal 12-13 de Junho de 2012 Seminário de encerramento sobre a gestão integrada da zona costeira e mudanças climáticas Reunião final do comité directivo ACCC BREDA Dacar, Senegal Criação de capacidades UM NOVO INSTRUMENTO DE FORMAÇÃO A coordenação regional criou um Grupo de Trabalho sobre Adaptação, composto por especialistas nacionais, que contribuiu para a concepção e redacção, para decisores locais, de um guia para opções de adaptação. Este guia, intitulado “Guia para opções de adaptação em zonas costeiras para decisores locais”, abre perspectivas para o reconhecimento da gestão ambiental como um todo, bem como para a inclusão geral da erosão costeira entre as questões ambientais que devem ser geridas por decisores locais. Quer se trate da construção de quebra-mares, da criação de uma área marinha protegida ou da observância de um período de "descanso biológico", o guia reúne experiências práticas adquiridas na implementação de opções estruturais e não-estruturais e na gestão integrada de recursos naturais, através do oferecimento aos decisores locais de informação pertinente. O quadro abaixo permite uma visão global sinóptica de todas as opções e dos respectivos custos, com vista a orientar os decisores locais nas suas escolhas mais importantes. Está disponível em três idiomas (francês, inglês e português), podendo ser consultado no site do projecto. Resumo dos impactos e custos das opções de adaptação para áreas costeiras OPÇÕES DE ESTRUTURAS PERMANENTES IMPACTOS POSITIVOS IMPACTOS NEGATIVOS 1. Quebra-mares 2. Esporões 3. Revestimento das praias OPÇÕES DE ESTRUTURAS NÃO PERMANENTES 4. Alimentação artificial das praias (ou reconstituição) 5. Recomposição das dunas 6. Fixação da orla costeira, através da reconstituição dos mangais GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS 7. Optimização do uso das terras costeiras 8. Gestão integrada dos recursos hídricos 9. Recuperação biológica através de gestão sustentável e com base comunitária dos recursos pesqueiros 10. O papel das Zonas Marinhas Protegidas (ZMPs) Fonte: Manual e Guia da COI n° 61, Dossier GIZC No. 7 CUSTOS MAURITÂNIA Director nacional, Sr. Sidi Mohamed Ould Lehlou (Director para Áreas Marinhas Protegidas) Email: [email protected] Coordenador nacional: Demba Marico [email protected] SENEGAL Director nacional, Sr. Ndiaye Cheikh Sylla Email: [email protected] Sra. Madeleine Diouf Sarr Direcção do Ambiente e Prédios Tombados (DEEC) Dacar Email: [email protected] Coordenador nacional: Jean-Laurent Kaly Email: [email protected] CABO VERDE Director nacional, Sr. Moisés Borges Director-Geral, Direcção Geral do Ambiente (DGA) Ministério do Ambiente, Desenvolvimento Rural e Recursos Marinhos Praia Email: [email protected] Coordenador nacional: Nuno Miguel Ribeiro Email: [email protected] GÂMBIA Director nacional, Sr. Momodou Sarr Agência Nacional do Ambiente (NEA) Banjul Email: [email protected] t Coordenador nacional: Dodou Trawally Email: [email protected] GUINÉ-BISSAU Director nacional, Sr. Seco Cassamá Director-Geral para o Ambiente - Bissau, Guiné-Bissau Email: [email protected] Coordenador nacional: João Raimundo Lopes Email: [email protected] COI DA UNESCO Sr. Julian Barbière Gestão Integrada da Área Costeira Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) UNESCO, Paris Email: [email protected] Coordenação regional Dra. Isabelle Niang (2008-2011); Sra. Annie Bonnin Roncerel - BREDA, Dacar Emails: [email protected] [email protected] Site do Projecto http://www.free-it-foundation.org/accc/ Anteus PNUD Sra. Mame Dagou Diop Fundo Mundial Consultora técnica, África Ocidental/Central para o Meio Estratégia para Recursos Hídricos e Oceânicos e Adaptação Pretória Ambiente Email: [email protected]