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guia de verão
Serapião-de-flores-grandes
(Serapias cordigera)
Orquídeas
A sensualidade em forma de flor
Texto Maria do Carmo Tavares /AmbioDiv Fotografia D.r.
Muitos leitores desconhecem que as plantas
pertencentes à família das Orquídeas não se restringem
somente às espécies encontradas nas floristas.
Actualmente, em Portugal é possível observar em plena
natureza estes incríveis seres, normalmente entre os
meses de Fevereiro e Junho.
E não é necessário ir procurá-las muito longe. Em
pleno centro urbano, nos limites de Lisboa, é possível
observar uma grande diversidade destas espécies. Na
Amadora, por exemplo, numa área com pouco mais de
20 hectares, localizam-se cerca de 9 espécies diferentes.
É um desafio que aqui fica: no caminho para o emprego
ou para apanhar transportes, deve-se observar com
sentido crítico o que nos rodeia e talvez bem perto de
casa se possam encontrar estas lindas criaturas. Para
se conseguirem identificar deve-se olhar para elas com
vivo interesse. Faça-se então um teste, observando as
fotografias aqui exibidas. A forma da flor assemelha-se a
alguma forma por conhecida? Se olhar com atenção, todas
elas sugerem, de modo mais ou menos evidente, a forma
de um homem. Umas vezes o “homem” tem as pernas e
braços fechados, outras vezes abertos. É aqui que reside
a beleza destes seres: assumindo num sem número de
formas, todas elas têm algo em comum.
No entanto este fascinante grupo encontra-se em risco
de desaparecer, principalmente devido à relação directa
que existe com o igualmente preocupante declínio de
polinizadores, como as abelhas, domésticas e silvestres.
Já se fala mesmo que o mel, a longo prazo, será
considerado um produto de luxo. É que as Orquídeas
não têm o pólen de forma imediatamente disponível para
os insectos. Os pequenos grãos de pólen encontramse aglomerados em diminutos conjuntos, designados
por polínidias, pelo que a sua dispersão pelo vento
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Erva-vespa (Ophrys lutea); Ophrys conica; Erva-do-sapelo (Orchis morio);
Saturião-de-duas-folhas (Gennaria diphylla)
não é possível. Para que possa ocorrer polinização é
necessária a intervenção dos insectos, que são atraídos
pela cor, cheiro e forma da orquídea. Quando o insecto
específico da espécie em causa pousa na flor, ocorre o
desprendimento das polínideas e desta forma o pólen
é transportado para outra flor. Como é então possível
contribuir para a conservação destas espécies? Em
primeiro lugar, é necessário ter-se consciência da
raridade destas espécies, ou seja, por muito que se
goste de ter um lindo ramo de Orquídeas silvestres em
casa, hoje em dia, ainda não se desenvolveu tecnologia
suficiente que permita satisfazer este capricho. Então
o que se propõem é simples: deve-se ajudá-las a
subsistirem no nosso planeta por muito mais séculos.
Como? Na realidade através de um processo bastante
simples. Como já foi referido, a polinização é um processo
complexo, ou porque existe uma incrível diminuição dos
agentes polinizadores, ou pelo facto de os seus grãos
de pólen estarem reunidos em estruturas próprias que
não permitem o seu transporte pelo vento. Então o que
é necessário fazer? Polinizá-las! Dito deste modo pode
pensar-se, que se trata de um processo muito complicado.
A verdade é que não o é! É possível polinizá-las apenas
recorrendo à ajuda de um ‘palito’ que permite desprender
estas estruturas (bem visíveis nas fotos) e levá-las
até outra espécie. E assim, através de um acto tão
simples como este contribui-se para a conservação da
Biodiversidade deste grupo.
A família Orchidaceae está representada por 55
espécies em Portugal. Dependendo do local onde vivem
podem ser classificadas como: epífitas, se vivem sob o
tronco de árvores, rupícolas, se crescem sobre rochas,
terrestres, se se desenvolvem sob o solo ou saprófitas,
que são as mais raras pois dependem da existência de
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Rapazinhos (Aceras anthropophorum); Erva-borboleta (Orchis papilionacea);
Erva-vespa (Ophrys lutea)
matéria orgânica em decomposição para sobreviverem,
não precisam de clorofila nem folhas.
Em Maio de 2009 é lançado um projecto intitulado
“Banco de Biodiversidade” de Orquídeas mais
propriamente na Amadora. Este projecto resulta da
formação de uma parceria entre a AmBioDiv – Valor
Natural, consultora ambiental, o BioFig, um centro
de Biodiversidade Genómica Integrativa e Funcional
da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
e a Chamartin Imobiliária. A Chamartín é o elemento
fundador do “Banco Biodiversidade”. Trata-se de
uma empresa do sector imobiliário, promotora do
centro comercial Dolce Vita Tejo, na Amadora, e
que apresenta fortes preocupações ambientais e
com uma política bastante marcada em termos de
Sustentabilidade e Biodiversidade, que é o primeiro
“investidor depositante”, ao avançar com o apoio à
avaliação ecológica, polinização no terreno, colheita de
sementes, propagação em laboratório e caracterização
genética das populações de Orquídeas, precisamente
na zona envolvente de implementação do Dolce Vita
Tejo. Trata-se de um projecto dedicado à conservação
da Natureza e reprodução de espécies de flora rara e
ameaçada. Os dois parceiros do projecto, a AmBioDiv,
com todo o seu conhecimento em termos de gestão
e conservação de habitats e o BioFig, com o input
em termos de reprodução e propagação de espécies,
permitirão recuperar habitats degradados de Orquídeas,
nomeadamente através de acções de restauro. Serão
realizadas recolhas e posterior germinação de sementes
em laboratório para futura utilização do material vegetal
nas sobreditas acções. Com efeito, embora exista uma
grande diversidade de espécies na área que engloba o
projecto, a verdade é que se tem verificado nos últimos
anos de amostragem um decréscimo significativo das
suas populações, devido sobretudo à forte pressão
urbana. Apesar das Orquídeas serem capazes de
viver nos locais inóspitos e de se adaptarem a sítios
depauperados, não se pode pedir milagres! …Será que
com o auxílio da biotecnologia poderemos chegar um
dia a uma florista e pedir um belo vaso de Orquídeas
silvestres? Pode ser que sim!
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Polinização de orquídeas
Com a ajuda de um palito desprender
as polinídeas e de seguida transferi-las
até outra Orquídea ou depositá-las no
labelo da própria planta.
Curiosidade
Outro motivo que em tempos idos levou a uma diminuição destas espécies foi o facto de
as Orquídeas serem vistas como objecto de premonição sexual. Com efeito, na sua etimologia, a
palavra “orquídea” deriva do grego “orkhis”, termo que designa “testículo”. Era bastante comum
entre os homens colectarem estas espécies como símbolo de poder sexual. São várias as Orquídeas,
vulgarmente conhecidas pelo seu nome comum, que estão ligadas a símbolos sexuais, como por
exemplo, as flores-dos-rapazinhos (Orchis italica) que se distingue das outras espécies do mesmo
género por possuir uma pequena protuberância que faz lembrar um pénis.
AmBioDiv – Valor Natural.
Empresa de consultadoria especializada
em Gestão de Biodiversidade, Avaliação
de Ecossistemas e Conservação da Natureza.
No âmbito da Filosofia de Gestão ‘Business
& Biodiversity’, pretendem integrar
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