Junho de 2010 PT NATUREZA Uma infra-estrutura verde A Europa é a região do mundo em que a paisagem está mais marcada pela perda e pela fragmentação dos habitats. Isto constitui um grande problema para a biodiversidade. Actualmente, as principais zonas naturais estão, em larga medida, protegidas pela rede Natura 2000, mas, para poderem sobreviver a longo prazo, as espécies devem poder circular entre estas zonas. Uma infra-estrutura verde ajudará a restabelecer a ligação entre as zonas naturais existentes e a melhorar a qualidade ecológica geral do espaço rural. Uma infra-estrutura verde permitirá também manter os ecossistemas em bom estado, para que estes possam continuar a fornecer à sociedade os seus valiosos serviços, como ar puro e água doce. Investir numa infra-estrutura verde faz sentido em termos económicos: preservar a capacidade que tem a natureza, por exemplo, de reduzir os efeitos negativos das alterações climáticas, é muito mais vantajoso em termos de custos do que ter de substituir estes serviços perdidos por soluções tecnológicas artificiais muito mais dispendiosas. © iStockphoto A melhor maneira de criar uma infra-estrutura verde é adoptar uma abordagem integrada da gestão dos solos e um cuidadoso ordenamento estratégico do território. Os rios constituem um elemento importante da infra-estrutura verde Todos os utilizadores dos solos e os sectores responsáveis pela formulação das políticas devem participar desde o início no processo de desenvolvimento de uma infra-estrutura verde e assumir a parte de responsabilidade que lhes compete a nível dos resultados. A Comissão Europeia está a elaborar uma estratégia para a criação de uma infra-estrutura verde de âmbito europeu, no quadro da sua política de biodiversidade a partir de 2010. Facto 1: A paisagem europeia está cada vez mais fragmentada intransponíveis para a circulação das espécies. Além disso, tornam o ambiente mais hostil e inacessível para a vida selvagem. Em comparação com outras regiões do mundo, a UE é um continente com uma densidade populacional relativamente elevada e uma grande parte do seu solo está a ser activamente explorada. Consequentemente, muitas das zonas naturais que ainda existem actualmente estão sob pressão e em risco de fragmentação. Esta situação afecta o funcionamento dos ecossistemas, que precisam de espaço para se desenvolverem e fornecerem os seus serviços. A construção de uma infra-estrutura verde ajudará a restabelecer a ligação entre as zonas naturais existentes, por exemplo através de corredores para a fauna selvagem, de passagens naturais ou de ecodutos, e a melhorar a qualidade ecológica do ambiente em geral, para que este seja mais respeitador e permeável à vida selvagem. Os ecossistemas saudáveis fazem parte do nosso sistema de apoio à vida e a biodiversidade está na base da saúde e da estabilidade dos ecossistemas. No caso de danos ou perdas, os ecossistemas que incluem muitas espécies diferentes têm mais probabilidades de permanecer estáveis do que os ecossistemas que fornecem menos serviços. A fragmentação dos habitats é causada por toda uma série de factores ligados a mudanças na utilização dos solos, nomeadamente a expansão urbana, as infra-estruturas de transportes e a agricultura/ silvicultura intensivas. Estatísticas recentes publicadas pela Agência Europeia do Ambiente ilustram bem a importância destas tendências. Na década de 90, foram betonados cerca de 8 000 km², o que representou um aumento de 5% das zonas artificiais em apenas 10 anos. Além disso, entre 1990 e 2003, foram construídos na UE 15 000 km de novas auto-estradas. Facto 2: A vida selvagem deve poder existir fora das zonas protegidas As principais zonas – importantes para as espécies raras e ameaçadas e os seus habitats – estão actualmente protegidas em grande parte pela rede Natura 2000, que abrange 26 000 sítios e cobre cerca de 18% do território da UE. Ora, para travar a perda da biodiversidade na Europa, também é necessário intervir nos restantes 82% do território da UE. Com efeito, para garantir a sua sobrevivência a longo prazo, é essencial garantir a circulação, migração, distribuição geográfica e intercâmbio genético da flora e da fauna selvagens entre as zonas protegidas. © iStockphoto A expansão urbana, a agricultura e a silvicultura intensivas e as redes de transportes representam obstáculos importantes e por vezes Facto 3: Uma infra-estrutura verde ajuda a manter os valiosos serviços fornecidos pelos ecossistemas A perda de zonas naturais tem repercussões que vão muito além do mero desaparecimento de espécies raras. Os ecossistemas, cujo funcionamento depende da diversidade das formas de vida que os compõem, fornecem à sociedade um sem número de produtos e serviços valiosos e economicamente importantes, como a purificação da água, a fertilização dos solos e a armazenagem de carbono. Os ecossistemas desempenham igualmente um papel fundamental no combate às alterações climáticas, protegendo-nos de inundações e de outros efeitos negativos das variações meteorológicas. Por exemplo, as planícies aluviais intactas são muito importantes para atenuar os efeitos das inundações, já que armazenam água e libertam-na lentamente nas correntes e nos rios. As florestas funcionam como reservatórios de carbono e impedem a erosão dos solos. As zonas húmidas absorvem os poluentes e melhoram a qualidade da nossa água doce. Por conseguinte, investir numa infra-estrutura verde também é vantajoso do ponto de vista económico. A procura de soluções artificiais para substituir os serviços que a natureza nos oferece gratuitamente seria não só difícil do ponto de vista técnico, mas também muito dispendiosa. Por conseguinte, os objectivos gerais de uma infra-estrutura verde europeia são os seguintes: • Preservar a biodiversidade na Europa, por exemplo, garantindo a coerência ecológica e a conectividade da rede Natura 2000 (ver o artigo 10.° da Directiva Habitats) e, • Proteger e restabelecer os ecossistemas naturais valiosos a um nível paisagístico mais geral, para que possam continuar a fornecer os seus preciosos serviços à humanidade. Dar espaço à natureza para que os ecossistemas possam fornecer os seus valiosos serviços © KINA - Jan vd Geld Componentes potenciais de uma infra-estrutura verde: A natureza nas zonas suburbanas é importante para a conectividade da paisagem Facto 4: Dar espaço à natureza através de uma abordagem mais integrada da utilização dos solos • • Zonas protegidas, como os sítios Natura 2000; • Elementos paisagísticos naturais, como pequenos cursos de água, zonas arborizadas, sebes que podem funcionar como corredores ecológicos ou passagens naturais para a fauna selvagem; • Zonas de habitats recuperados especialmente concebidas para determinadas espécies, por exemplo, para aumentar a extensão de uma zona protegida ou das zonas de alimentação, de criação e de repouso destas espécies, e favorecer a sua migração/distribuição geográfica; • Elementos artificiais como ecodutos ou ecopontes, que são concebidos para estimular a circulação das espécies através de obstáculos paisagísticos intransponíveis; • Zonas multifuncionais em que se promovam utilizações dos solos que ajudem a manter ou a regenerar ecossistemas ricos em biodiversidade e saudáveis, em vez de outras actividades incompatíveis; • Zonas em que são aplicadas medidas para melhorar a qualidade ecológica geral e a permeabilidade da paisagem; • Elementos urbanos como parque verdes, muros verdes e telhados verdes, que acolham a biodiversidade e permitam que os ecossistemas funcionem e prestem os seus serviços mediante a ligação entre as zonas urbanas, suburbanas e rurais; • Elementos para a adaptação e a redução das alterações climáticas, como pântanos, florestas aluviais e turfeiras - para a prevenção de inundações, a armazenagem de água e a absorção de CO2, que dêem margem às espécies para reagir aos efeitos das alterações climáticas; O desenvolvimento de uma infra-estrutura verde na Europa pode ser realizado através de diferentes técnicas, nomeadamente as seguintes: • Melhorar a conectividade entre as zonas naturais existentes para impedir a fragmentação e melhorar a sua coerência ecológica, preservando, por exemplo, as sebes, as faixas de terreno não cultivado que delimitam os campos e os pequenos cursos de água; • Aumentar a permeabilidade da paisagem para favorecer a distribuição geográfica, a migração e a circulação das espécies, por exemplo através de uma utilização dos solos respeitadora da vida selvagem ou da introdução de planos ambientais destinados à agricultura/silvicultura que apoiem práticas agrícolas extensivas; • Identificar zonas multifuncionais. Nestas zonas, é favorecida uma utilização compatível dos solos que apoie ecossistemas saudáveis e biodiversificados, em vez de outras práticas mais destrutivas. Pode tratar-se, por exemplo, de zonas em que a agricultura, a silvicultura, as actividades recreativas e a conservação dos ecossistemas estão reunidas no mesmo espaço. Estas combinações vantajosas para todos ou cujas perdas são mínimas em comparação com os benefícios obtidos, podem oferecer numerosas vantagens aos utilizadores dos solos (agricultores, guardas florestais, agentes turísticos, etc…), mas também à sociedade em geral devido aos valiosos serviços ecossistémicos que fornecem, como a purificação da água ou a melhoria dos solos e a criação de espaços vitais atraentes para actividades de lazer. Ecossistemas saudáveis e zonas de grande valor natural fora das zonas protegidas, como planícies aluviais, zonas húmidas, zonas costeiras, florestas naturais, etc.; Facto 5: O ordenamento do território ajuda a criar uma infra-estrutura verde Na prática, uma das formas mais eficazes de construir uma infra-estrutura verde é adoptar uma abordagem mais integrada da gestão dos solos. Isto conseguese, por sua vez, através de um ordenamento do território a nível estratégico que permita analisar as interacções espaciais entre as diferentes utilizações dos solos numa extensa área geográfica (por exemplo, a nível regional ou municipal). O ordenamento estratégico também é uma forma de reunir diferentes sectores para que possam decidir em conjunto sobre as prioridades de utilização dos solos de forma transparente, integrada e cooperativa. O ordenamento do território pode ajudar a afastar as infra-estruturas das zonas sensíveis, reduzindo assim o risco de aumentar a fragmentação dos habitats. Também pode ajudar a restabelecer a ligação entre as restantes zonas naturais, por exemplo incentivando projectos de recuperação de habitats em locais de importância estratégica ou incluindo elementos de conectividade ecológica (por exemplo, ecodutos ou passagens naturais) em novos projectos de desenvolvimento. Ecoponte em Veluwe, Países Baixos Informações complementares: Sítio Web da UE: http://ec.europa.eu/environment/nature/ ecosystems/index_en.htm Boletim de informação Natura 2000: N.° 27, Dezembro de 2009 http://ec.europa.eu/environment/nature/info/ pubs/natura2000nl_en.htm Actas das reuniões de trabalho: «Reunião de trabalho da Comissão Europeia: Para uma infra-estrutura verde para a Europa», Março de 2009 http://www.green-infrastructure-europe.org/ e http://ec.europa.eu/environment/nature/ ecosystems/index_en.htm Directrizes da Comissão Europeia Directriz sobre a manutenção dos elementos de conectividade da paisagem que se revestem de especial importância para a fauna e a flora selvagens (ver o artigo 3.° da Directiva Aves (79/409/CEE) e o artigo 10.° da Directiva Habitats (92/43/CEE), Agosto de 2007 http://ec.europa.eu/environment/nature/ ecosystems/docs/adaptation_fragmentation_ guidelines.pdf Projectos financiados pelo programa LIFE Publicação in focus sobre o apoio à infraestrutura verde ao abrigo do projecto LIFE http://ec.europa.eu/environment/life Projectos de investigação da UE Projecto COST n.° 341 da UE: Fragmentação dos habitats devido à infra-estrutura de transportes: http://cordis.europa.eu/cost-transport/src/ cost-341.htm © União Europeia, 2010 Reprodução autorizada mediante indicação da fonte Os programas ambientais destinados à agricultura e à silvicultura, em particular, podem fomentar uma produção extensiva, limitar a utilização de pesticidas ou de fertilizantes e encorajar práticas respeitadoras da vida selvagem destinadas a restabelecer a biodiversidade e o bom funcionamento dos ecossistemas. Estes programas também contribuem para preservar os elementos paisagísticos que são importantes para a conectividade, como as sebes, as faixas de terreno não cultivado que delimitam os campos, as zonas arborizadas e os cursos de água. Ao abrigo do fundo europeu LIFE-Biodiversidade, podem ser financiados projectos destinados a melhorar a conectividade funcional dos habitats selvagens e a circulação das espécies entre as zonas protegidas, como no caso dos sítios Natura 2000. O programa LIFE-Ambiente também prevê possibilidades de financiar elementos de uma infra-estrutura verde nas zonas urbanas e suburbanas e projectos que criam conectividade entre as zonas arborizadas. Além disso, o programa pode co-financiar projectos que promovam iniciativas de ordenamento integrado e estratégias baseadas nos ecossistemas, para travar a fragmentação e promover uma utilização multifuncional dos solos. No âmbito dos programas de responsabilidade social das empresas, o sector privado também já está a integrar medidas para preservar a biodiversidade nos seus projectos de desenvolvimento. Se forem concebidas numa perspectiva ecológica, estas medidas podem melhorar de modo significativo a biodiversidade nas zonas em que a natureza foi gravemente afectada. Facto 7: Desenvolver uma estratégia da UE para a criação de uma infra-estrutura verde em toda a Europa O desenvolvimento de uma estratégia da UE para a criação de uma infra-estrutura verde ocupa um lugar de destaque na nova política da UE em matéria de biodiversidade após 2010. De facto, considera-se que uma infra-estrutura verde constitui um dos principais instrumentos para lutar contra as ameaças à biodiversidade resultantes da fragmentação e da perda de habitats, bem como das mudanças na utilização dos solos. Uma infra-estrutura verde contribuirá de modo decisivo para integrar a biodiversidade noutros domínios políticos, como a agricultura, a silvicultura, a água, o meio marinho e as pescas, as regiões e a coesão, a redução e a adaptação às alterações climáticas, os transportes, a energia e o ordenamento do território. Também constitui um instrumento importante para a Directiva-Quadro Água, a Directiva Quadro Meio Marinho, a Directiva Avaliação do Impacto Ambiental e a Directiva Avaliação Ambiental Estratégica. Além disso, será dada especial atenção à integração dos aspectos relacionados com a infra estrutura verde nos vários programas de financiamento da UE (por exemplo, Fundos Estruturais e Fundo de Coesão, PAC e LIFE) no actual período de programação e no próximo, que terá início em 2013, bem como à melhoria da coerência ecológica da rede Natura 2000. Em Março de 2010, o Conselho de Ministros Europeu estabeleceu um novo objectivo da UE para a protecção da biodiversidade em 2010: «A UE tenciona travar a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistémicos na UE até 2020 e, na medida em que tal for viável, recuperar essa biodiversidade e esses serviços, intensificando simultaneamente o contributo da UE para evitar a perda de biodiversidade ao nível global.» Imprimé sur papier recyclé ayant reçu l’écolabel européen pour le papier graphique (www.ecolabel.eu) © KINA - Martijn de Jonge Construção de uma ecoponte por cima de uma auto-estrada Vários instrumentos financeiros da UE podem ser utilizados para construir uma infraestrutura verde. O Fundos de Desenvolvimento Regional e o Fundo de Desenvolvimento Rural, por exemplo, oferecem toda uma série de ferramentas que podem ser utilizadas para reforçar a conectividade espacial e a regeneração dos ecossistemas naturais no meio rural. Estes fundos também podem ser utilizados para promover uma utilização economicamente diversificada dos solos e a criação de zonas multifuncionais baseadas na preservação dos ecossistemas naturais. KH-32-10-314-PT-C Facto 6: Os instrumentos financeiros da UE podem ser utilizados para promover o desenvolvimento de uma infra-estrutura verde