UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RELIGIÃO E MEIO AMBIENTE
Por: Susie Hitomi Nava Tatai
Orientador: Prof. Francisco Carrera
Rio de Janeiro
2010
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RELIGIÃO E MEIO AMBIENTE
Apresentação de trabalho à Universidade Cândido
Mendes – Instituto A Vez do Mestre - como
requisito parcial para a obtenção do grau de
especialista em Gestão Ambiental.
Por: Susie Hitomi Nava Tatai
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me concedido a coragem de
perseguir meus objetivos, aos meus pais pelo incentivo,
aos meus colegas de curso pela cumplicidade e aos
docentes pela qualidade do conteúdo apresentada.
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo abordar a religião e o meio
ambiente. Para tanto, buscou-se inicialmente contemplar a questão
ambiental, sua contextualização, a discussão sobre a sustentabilidade, a
educação, ética ambiental e a cidadania. Em seguida focalizou-se a visão
sociológica da religião voltada para o meio ambiente, destacando a função
social da religião e a sociologia da religião. Tratou-se finalmente das
diversas abordagens religiosas acerca da questão ambiental destacando-se
o posicionamento das diferentes teologias que tratam do tema. O estudo
conclui que, na visão religiosa, a questão ambiental pode ser controlada a
partir
de
uma
posição
ética
que
possa
conduzir
os
programas
tecnocientíficos, no sentido de mobilizar a população mundial a uma tomada
de decisão que a situação exige.
Palavras-chave: Meio Ambiente. Sociologia. Religião.
METODOLOGIA
Este trabalho pode ser classificado quanto aos procedimentos, como
pesquisa bibliográfica, uma vez que abarcará a bibliografia relativa a
Religião e ao Meio Ambiente a partir de um olhar crítico, visando a
compreensão dos problemas sob um prisma teórico.
A base da pesquisa bibliográfica está estruturada na análise a ser
realizada em livros, artigos e portais da Internet.
A pesquisa será realizada dentro de uma perspectiva de uma
abordagem qualitativa, já que será desenvolvida por meio da pesquisa
bibliográfica e de observações da realidade ambiental.
A observação será feita de forma interativa com o objetivo de gerar
informações detalhadas e que completem e ampliem a coleta e a
compreensão dos dados, sendo assim, usada para constatação dos fatos e
consequente comprovação das questões norteadoras e interpretação do
fenômeno em questão. As questões norteadoras deste estudo estão
embasadas nas situações reais que vivem as religiões no que se refere ao
meio ambiente, uma vez que propõe uma estrutura ordenada para resolução
de problemas e novos desenvolvimentos por ser flexível e adaptável,
permitindo mudanças durante o período de experimentação.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8
1. A QUESTÃO AMBIENTAL ...............................................................................11
2. VISÃO SOCIOLÓGICA DA RELIGIÃO E MEIO AMBIENTE ........................... 24
3. MEIO AMBIENTE E AS DIVERSAS ABORDAGENS RELIGIOSAS ............... 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 38
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 39
8
INTRODUÇÃO
Este estudo pretende apresentar um histórico da questão ambiental e
a participação das religiões na sustentabilidade do planeta. Busca-se, por
meio da sociologia e da religião, identificar as ações que visam a
preservação do planeta.
A espécie humana e a Terra encontram-se em um determinado
estágio de evolução impossível de ser precisada, do qual dispomos de
razoáveis informações retrospectivas sobre o caminho percorrido e, como
meras hipóteses, de prospectivas sobre um futuro incerto e de horizonte
curtíssimo.
Com a reconstituição dos fatos podemos falar de tempos geológicos,
tempos biológicos e tempos históricos. Sobre a previsibilidade da evolução,
há falência de dados seguros e, em contrapartida, pesa sobre nós uma
sombra inquietante.
Com efeito, os tempos geológicos foram primordiais, longuíssimos e
com poucos registros que nos permitam hoje tirar conclusões definitivas
sobre as origens e as etapas de formação do nosso Planeta. A expressão
“bilhões de anos” não nos comove nem esclarece suficientemente. Os
tempos geológicos “perdem-se na noite dos tempos”.
Os tempos biológicos, com os registros da vida, já não são assim tão
remotos... dezenas ou centenas de milhões de anos. Esta expressão
igualmente não nos abala nem esclarece a contento; mas ao menos
sabemos que o fenômeno da vida marcou a Terra e, de alguma forma, selou
a sua sorte. Os ecossistemas vieram formando-se e alterando-se, lenta e
continuamente, à mercê das leis físicas. Espécies vivas, vegetais e animais,
apareceram e desapareceram sem que nos seja possível, ainda, explicar
como e por quê. Entretanto, a evolução seguia seu caminho e o habitat
planetário vinha sendo preparado para outros saltos significativos.
Os tempos históricos começaram a ser contados a partir da
identificação e da presença da espécie humana nos ecossistemas naturais.
São milhões de anos decorridos, e ainda hoje os cientistas procuram
9
registros convincentes sobre nossa idade neste Planeta e sobre as inúmeras
transformações que produzimos ao longo da evolução.
Uma coisa é certa: os tempos históricos atestam a presença e as
atividades do homem, assim como a ocupação do espaço. Mais do que isso,
testemunham as alterações por ele impostas ao ecossistema planetário:
desta vez, não são apenas as causas físicas naturais; aparecem também as
mudanças intencionais produzidas pelo homo sapiens. Os tempos históricos,
estes sim, são os mais recentes e manifestam uma aceleração progressiva
da evolução por que passa a Terra.
Em um prazo muito curto — e que se torna sempre mais curto — são
dilapidados os patrimônios formados lentamente no decorrer dos tempos
geológicos e biológicos, cujos processos não voltarão mais. Os recursos
consumidos e esgotados não se recriarão.
Neste contexto, a destruição do ambiente constitui, sem nenhuma
dúvida, um dos mais ingentes problemas que a humanidade tem deparado
nesta primeira metade do século XXI, cuja gravidade é de todos conhecida,
pelo que representa para a vida e para a própria sobrevivência do homem.
No perpassar destes últimos anos, poucas questões suscitaram tão
ampla e heterogênea preocupação. A luta pela defesa do patrimônio comum
ecológico — de cunho verdadeiramente ecumênico — se converteu em um
novo humanismo.
O Informe sobre a Situação Social no Mundo, da Organização das
Nações Unidas, de 1982, destacou que “há algumas grandes esferas de
preocupação que são comuns a todos os países, tais como a contaminação
que alcança níveis perigosos na água, no ar, no solo e nos seres vivos; a
necessidade frequentemente urgente de conservar os recursos naturais nãorenováveis; as possíveis perturbações do equilíbrio ecológico da biosfera,
emergentes da relação do homem com o meio ambiente, e as atividades
nocivas para a saúde física, mental e social do homem no meio ambiente
por ele criado, particularmente no ambiente de vida e de trabalho”.
A reflexão difundida nos diversos meios de comunicação sobre as
questões ecológicas é um indicador de uma nova realidade. A sociedade
está sendo levada a repensar seu modo de viver. Propõe-se a formação de
10
sistemas que contemplem o caráter moral de justiça e uma ética ecológica
equilibrada. Pensa-se no novo aprender diante de tais situações e suas
implicações, para não apenas assistir passivos a exaustão, mas buscar
preservar relações de interdependência e diversidade.
A dimensão da atual crise ambiental, bem como suas implicações,
tem sido o tema de muitas reportagens, protestos, conferências. Mesmo
assim se deve reconhecer que apesar desta ampla divulgação há elementos
que dificultam tal ação mobilizadora, os quais são barreiras e, portanto,
podem ser contados como fatores prejudiciais à solução do problema.
Exemplos disto são as barreiras culturais, linguísticas e religiosas. Neste
sentido a eco teologia deverá contemplar como as religiões se posicionam
de modo a contribuir para o desenvolvimento de uma ética que diminua a
ação egoísta e predadora do ser humano no meio ambiente. Porém, mesmo
dentro da teologia pode-se ver uma diversidade de reflexões que podem ser
complicadoras para uma solução mobilizadora.
11
CAPÍTULO I
1. A QUESTÃO AMBIENTAL
1.1 Contextualização
O desenvolvimento industrial, o progresso tecnológico, a urbanização
desenfreada, a explosão demográfica e a sociedade de consumo, entre
outros fatores, têm tornado atual e dramático o problema da limitação dos
recursos do nosso planeta e da degradação do ambiente natural fonte
primária de vida.
Assim, por exemplo, a contaminação, sem precedentes, causada pela
ação dos dejetos de tipo industrial, urbano, agrícola e por contínuos ataques
à qualidade de vida - talvez o fator limitativo mais importante para o homem constitui mais um produto da civilização industrial surgida no século XX.
Todavia, data de época recente o reconhecimento da importância da
conservação do ambiente. Como meio natural dos seres vivos, o interesse
por sua garantia provém do momento em que o homem se vê compelido a
salvaguardar bens raros.
Com efeito, as nações industrializadas conseguiram sucesso
desvinculando temporariamente a humanidade da natureza, através da
exploração de combustíveis fósseis, produzidos pela natureza e finitos, que
estão sendo esgotados com rapidez. Contudo, a civilização ainda depende
do ambiente natural não apenas para energia e materiais, mas também para
os processos vitais para a manutenção da vida, tais como os ciclos do ar e
da água. As leis básicas na natureza não foram revogadas, apenas suas
feições e relações quantitativas mudaram, à medida que a população
humana mundial e seu prodigioso consumo de energia aumentaram a nossa
capacidade de alterar o ambiente. Em consequência, a sobrevivência
humana depende do conhecimento e da ação inteligente para preservar e
12
melhorar a qualidade ambiental por meio de uma tecnologia harmoniosa e
não prejudicial.
A questão ambiental emerge, portanto, no terreno político econômicosocial e da própria concepção de vida do homem sobre a terra. Além disso,
toda política ambiental deve procurar equilibrar e compatibilizar as
necessidades de industrialização e desenvolvimento com as de proteção,
restauração e melhora do ambiente.
Trata-se, na verdade, de optar por um desenvolvimento econômico
qualitativo, único, capaz de propiciar uma real elevação da qualidade de vida
e do bem-estar social. Isso vale dizer: desenvolvimento sustentável, como
desenvolvimento racional do ponto de vista ecológico (utilização racional e
equilibrada dos recursos naturais), acompanhado de uma gestão judiciosa
do meio.
A ideia de desenvolvimento sustentável se vincula à utilização dos
recursos naturais e de desfrute do meio ambiente de modo a satisfazer as
necessidades do presente sem comprometer as do futuro. Três são os
objetivos essenciais que se busca alcançar por meio do desenvolvimento
sustentável: o econômico, referente à eficaz utilização dos recursos naturais
e
a
um
crescimento
quantitativo;
o
sociocultural,
relacionado
ao
desenvolvimento, à manutenção da vida social e cultural, e à maior
igualdade e equidade social; e o ecológico, “consistente na preservação dos
sistemas físicos e biológicos (recursos naturais lato sensu) que servem de
suporte à vida dos seres humanos”. De modo similar, destaca-se que o
desenvolvimento sustentável se assenta sobre três pilares básicos, que em
realidade não se apresentam como conceitos homogêneos, mas sim como
finalidades que têm a mesma natureza: o desenvolvimento econômico, o
desenvolvimento social e a proteção ambiental.
Entende-se, também, que o desenvolvimento deve estar vinculado,
não tanto a critérios econômicos, mas a valores culturais. Como bem
essencial da pessoa humana, o ambiente deve ser apropriado à satisfação
de determinadas necessidades do homem, que “na prática deve se traduzir
em seu bem-estar físico, mental, social e espiritual.
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Entre as iniciativas que visam a preservação ambiental merece
especial destaque a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano, reunida em Estocolmo, em junho de 1972. A Resolução final dessa
Conferência proclama solenemente: “o homem é ao mesmo tempo criatura e
criador do meio ambiente que lhe dá sustento físico e lhe oferece a
oportunidade de desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente.
A longa e difícil evolução da raça humana no planeta levou-a a um estágio
em que, com o rápido progresso da ciência e da tecnologia, conquistou o
poder de transformar de inúmeras maneiras e em escalas sem precedentes
o meio ambiente.
Natural ou criado pelo homem é o meio ambiente essencial para o
bem-estar e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, até mesmo o
direito à própria vida”.
A Declaração de Estocolmo é particularmente importante já que, além
de permitir a criação de uma consciência universal sobre o tema, constitui o
ponto de partida de uma nova etapa na trajetória de sua proteção. Trata-se
de documento que inclui princípios voltados para as necessidades especiais
dos estados do Terceiro Mundo, demandando a transferência de
quantidades substanciais de assistência financeira e tecnológica para os
estados em desenvolvimento, para superar as deficiências ambientais
geradas pelas condições de subdesenvolvimento e preservar e melhorar o
meio ambiente e cobrir os custos de incorporação de salvaguardas
ambientais.
Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-se a Conferencia
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento — Cúpula da Terra - sob os
auspícios das Nações Unidas. Alem de ratificar-se o contido na Declaração
de Estocolmo, assentou-se nessa Conferência uma série de princípios para
orientar a ação dos governos na gestão do desenvolvimento sustentável,
estabelecendo a obrigação dos Estados de promulgar leis eficazes para a
proteção real do meio ambiente, promover estudos e avaliações de impacto
ambiental e disponibilizar a todos as informações sobre o meio ambiente.
Instituiu-se
também
a
denominada
responsabilidade
comum
diferenciada dos Estados, pela qual se reconhece a assimetria existente
14
entre eles tanto na produção de danos ambientais, como na possibilidade
econômica e tecnológica de evitá-los ou na restauração do ambiente
degradado.
1.2 Sustentabilidade
Neira Alva arquiteto e urbanista, ex-diretor da Comissão Econômica
para a América Latina - CEPAL -, assim define o conceito e sustentabilidade:
“A sustentabilidade pode ser entendida como um conceito ecológico
— isto é, como a capacidade que tem um ecossistema de atender às
necessidades das populações que nele vivem — ou, como um conceito
político que limita o crescimento em função da dotação de recursos naturais,
da tecnologia aplicada no uso desses recursos e do nível efetivo de bemestar da coletividade”.
Do ponto de vista ecológico, sustentabilidade refere-se aos recursos
naturais existentes numa sociedade que, segundo Neira Alva (1997, p.136),
representam ‘a capacidade natural de suporte’ às ações empreendedoras
locais.
A sustentabilidade inerente aos próprios recursos da natureza
prende-se às cadeias ecossistêmicas, nas quais a existência e
perpetuação de alguns desses recursos dependem naturalmente
de outros recursos. Sem essa sustentabilidade haveria o
comprometimento da própria biodiversidade, com a aceleração da
sua perda, culminando em riscos ao ecossistema planetário.
Como se pode ver, a sustentabilidade vai mais além dos destinos
da espécie humana: ela alcança a perpetuação da vida e o valor
intrínseco da criação ou do mundo natural. (NEIRA ALVA, 1997,
p.37)
Sob a ótica política, a sustentabilidade representa a capacidade de a
sociedade organizar-se por si mesma. É o que o autor denomina de
‘capacidade de sustentação’.
Portanto, existem duas precondições para o desenvolvimento da
sustentabilidade: a capacidade natural de suporte (recursos naturais
existentes) e a capacidade de sustentação (atividades sociais, políticas e
econômicas geradas pela própria sociedade em seu próprio benefício).
15
A capacidade natural de suporte compreende os ecossistemas os
biomas e todos os tipos de recursos naturais existentes nas comunidades e
sociedade, objeto das ações de empreendedorismo social. São os
elementos que integram a ecologia local e regional”.
Desde logo deve-se observar que a sustentabilidade não pode ser
focalizada apenas como um requisito essencial para a sociedade industrial
urbana. O paradigma da sustentabilidade, na relação economia – ambiente sociedade, deve ser entendido para além do tratamento da produção de
bens e serviços no espaço urbano de forma isolada do espaço rural.
Com efeito, embora os estilos de vida estejam cada vez mais
distantes, as características de cada um desses mundos ainda os separam
com nitidez.
Conforme Milaré (2005, p. 155):
O mundo rural é mais abrangente que essa relação, à primeira
vista, pode supor. Por um lado, o complexo agroindustrial abarca
quase todas as atividades antrópicas e se assenta cada vez mais
na indústria, abrangendo a produção de bens e serviços de forma
intensa e com visíveis impactos no ambiente. Por outro, (...), o
espaço rural pode ser visto de forma bem mais ampla que o
espaço agrícola, uma vez que, cada vez mais, a economia é
determinada em grande parte por atividades não essencialmente
agrícolas; assim, o espaço rural capta renda do espaço urbano por
meio da presença sazonal de pessoas e da valorização das
chamadas amenidades (natureza intocada, paisagens, patrimônio
histórico-cultural, unidades de conservação, produtos de origem
etc.), identificadas pelas pluriatividades, como o turismo rural, mas
que caracterizam também a produção de manufaturados que
tradicionalmente eram exclusivos dos distritos industriais
localizados junto ao espaço urbano.
Como atributo, a sustentabilidade dos recursos está associada à sua
durabilidade, ou seja, um bem ou recurso é sustentável na medida em que
pode — ou deve — durar para atender às necessidades dos ecossistemas
naturais e às demandas dos ecossistemas sociais (em particular nos
processos de produção e consumo). Infere-se, daí, que a sustentabilidade
dos recursos naturais não é absoluta, é relativa: depende de sua
disponibilidade real e do quanto e do como eles são explorados,
transformados e utilizados, até serem reduzidos à condição última de rejeitos
finais. Enfatize-se que a sustentabilidade dos recursos naturais não pode ser
16
considerada fora do quadro das suas diferentes condições de recursos
renováveis e recursos não renováveis.
Na gestão ambiental, a sustentabilidade deve ser abordada sob vários
prismas: o econômico, o social, o cultural, o político, o tecnológico, o jurídico
e outros. Na realidade, o que se busca, conscientemente ou não, é um novo
paradigma ou modelo de sustentabilidade, que supõe estratégias bem
diferentes daquelas que têm sido adotadas no processo de desenvolvimento
sob a égide de ideologias reinantes desde o início da Revolução Industrial,
estratégias estas que são responsáveis pela insustentabilidade do mundo de
hoje, tanto no que se refere ao planeta Terra quanto no que interessa à
família humana em particular. Em última análise, vive-se e protagoniza-se
um modelo de desenvolvimento autofágico que, ao devorar os recursos
finitos do ecossistema planetário, acaba por devorar-se a si mesmo.
Segundo Trigueiro (2009, p.39):
No caminho inverso ao do risco do colapso, a ONU vem
organizando desde o início da década de 1970 sucessivos
encontros internacionais para discutir os limites do crescimento, ou
modelos alternativos de desenvolvimento que não ameacem a
sobrevivência da espécie humana no planeta.
Para Milaré (2005) a construção do paradigma da sustentabilidade
está em permanente disputa, segundo as distintas visões de mundo, e
pressupõe gigantescos desafios. Como gerar e distribuir a riqueza? A
estratégia de crescer para depois repartir está mais presente do que nunca,
embora tenha grande responsabilidade pelo imenso fosso material e
espiritual existente entre as pessoas e destas com a natureza, tanto no
âmbito internacional como no interior das nações.
1.3 Educação, Ética Ambiental e Cidadania
Para modificar os padrões de degradação vigentes no planeta, existe
a educação no ensino formal e no não formal, entendendo-se que é
fundamental uma nova ética voltada à educação ambiental, haja vista que: a
ética da sociedade dominante hoje é utilitarista e antropocêntrica.
17
Considera o conjunto dos seres a serviço do ser humano que pode
dispor deles a seu bel-prazer, atendendo a seus desejos e
preferências. Acredita que o ser humano, homem e mulher, é a
coroa do processo evolutivo e o centro do universo (BOFF, 2004,
p. 21).
Morin (2003), à luz da teoria da complexidade, argumenta que a ética
do gênero humano é um dos sete saberes necessários à educação do
futuro, revelando-se, nesta perspectiva, uma atitude deliberada de todos os
que buscam um mundo com mais sustentabilidade, e não meramente como
um conjunto de proposições abstratas.
Por sua vez, Singer (2002) explica que:
A nova ética ambiental rejeita os ideais de uma sociedade
materialista na qual o sucesso é medido pelo número de bens de
consumo que alguém é capaz de acumular. Em vez disso, ele
avalia o sucesso em termos do desenvolvimento de aptidões
individuais e da verdadeira conquista da satisfação e realização.
(SINGER, 2002, p. 302).
Nesta linha, Boff (2004) acrescenta que, como o homem pode ser
definido como um ser de comunicação e de responsabilidade, seria ético
desenvolver um sentido de limite nos desejos humanos, em especial no que
se refere ao padrão extravagante de consumo, porquanto este ocorre à
custa da exploração dos recursos naturais. Isso, todavia, não significa que a
ética ambiental é contrária ao prazer, mas que os prazeres que ela valoriza
não decorrem do consumo desenfreado. Além disso, o mesmo autor
assevera que também seria ético potencializar a solidariedade entre as
gerações, oportunizando o direito de existir àqueles que ainda não
nasceram, bem como destes coexistirem com os demais seres.
Singer (2002), no entanto, adverte que os princípios éticos mudam
lentamente, e o tempo de que se dispõe para construir uma nova ética,
considerando o avançado comprometimento dos recursos naturais para as
futuras gerações, é curto. Nas últimas décadas, contudo, desenvolveu-se
uma diversidade de correntes da ética ambiental, e todas, sob diferentes
enfoques, compartilham do mesmo propósito:
“Salvaguardar o planeta e assegurar as condições de
desenvolvimento e de coevolução dos seres humanos rumo a
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formas cada vez mais coletivas, mais interiorizadas e
espiritualizadas de realização da essência humana” (BOFF, 1999,
p. 25).
No que se refere à cidadania clássica, esta é constituída de três
elementos dos direitos humanos que lhe são característicos:
o elemento civil, relacionado com os direitos civis de liberdade
individual; o elemento político, consubstanciado pelos direitos
ligados à participação no exercício do poder político; e o elemento
social, concernente aos direitos ligados ao bem-estar econômico e
à herança social. Os direitos civis surgiram no século XVIII; os
políticos, no século XIX; e os econômico-sociais, no século XX
(CORRÊA, 1999, p. 214).
Nesta perspectiva, com base no mesmo autor, a cidadania, enquanto
vivência dos direitos humanos,
Significa a realização democrática de uma sociedade,
compartilhada por todos os indivíduos ao ponto de garantir a todos
o acesso ao espaço público e condições de sobrevivência digna,
tendo como valor fonte a plenitude da vida. Isso exige organização
e articulação política da população voltada para a superação da
exclusão existente (CORREA, 1999, p. 217).
Para não relacionar, no entanto, a cidadania apenas com a noção de
direitos humanos, é importante analisá-la de outra maneira que não
unicamente adjetivada: cidadania civil, cidadania política, cidadania social,
etc. Assim sendo, Leite e Ayala (2004, p. 304) lecionam que a cidadania,
diferentemente dos termos Estado e nação, “refere-se à condição jurídica da
pessoa em relação ao país em que se encontra”. Logo, “ao ser considerada
cidadã de um Estado, a pessoa passa a portar direitos e deveres com
relação a esse Estado determinado”.
Uma pessoa, porém, pode vir a ser considerada cidadã mesmo não
tendo nascido dentro dos limites territoriais de um determinado Estado,
bastando, para isso, que sejam preenchidos os requisitos que o Estado em
questão estabelece para que a condição de cidadão lhe seja conferida. Por
essa razão, Leite e Ayala (2004, p. 304) entendem ser mais correto afirmar
que “se adquire a cidadania, e não a nacionalidade, de um Estado”.
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Há ainda uma outra distinção clássica a ser feita na medida em que
se reduz a cidadania a essa condição jurídica da pessoa com seu respectivo
Estado: aquela entre a cidadania passiva e a cidadania ativa. Na cidadania
passiva a pessoa é considerada cidadã, porque preenche todos os requisitos
exigidos pelo Estado para exercer tal condição, porém mantém-se inerte ao
que acontece ao seu redor. Ao revés, a cidadania é exercida efetivamente
quando se fala em cidadania ativa. Neste sentido, de acordo com o enfoque
juridicista, a cidadania refere-se ao vínculo jurídico pelo qual todos
pertencem àquele país, mas não necessariamente participam das tomadas
de decisão para a sua construção e desenvolvimento (LEITE; AYALA, 2004).
Cabe salientar que o exercício da cidadania por meio da participação
é uma das principais características da democracia e mister se faz a sua
plena colaboração na gestão do poder. Dessa forma, a cidadania só poderá
ser exercida quando estiverem presentes a democracia e a liberdade como
requisitos indispensáveis (BARACHO apud LEITE; AYALA, 2004).
Feitas estas considerações preliminares acerca do termo cidadania,
passa-se à análise do tema objeto deste ponto: a cidadania ambiental.
Nos dias atuais, é certo que se vive em uma Sociedade Mundial do
Risco, sujeita
a
catástrofes
em
escala
planetária
que
ameaçam,
perigosamente, a existência das presentes e das futuras gerações, bem
como de toda a biosfera. Diante deste cenário, o modelo tradicional de
cidadania, centrado no individualismo, na territorialidade e exercido
minimamente, mostra-se insuficiente perante a recorrente exigência de
preservação de um bem que pertence a todos de forma difusa: o bem
ambiental.
Observa-se então que com o advento da Sociedade Mundial do
Risco, entre outros fatores, ocorreu uma mudança brusca nos interesses,
nas relações e nos direitos do ser humano. Os interesses passaram a ser
indeterminados “prima facie”, não exclusivos e anônimos por natureza. As
relações, que antes eram bilaterais, agora se apresentam nas mais
imprevisíveis formas e padrões (poligonais). E os novos direitos “não têm
referência imediata nem a titulares estatais nem a titulares de espaços
privados; são direitos que pertencem a todos e a ninguém ao mesmo tempo”
20
(LEITE; AYALA, 2004, p. 309). São direitos difusos, como o ambiental, por
exemplo. Para contemplar esses novos interesses, novas relações e novos
direitos, emerge a necessidade de uma outra cidadania. Este modelo novo e
específico de cidadania denomina-se cidadania ambiental.
Em uma definição sucinta, a cidadania ambiental é mais abrangente
que a clássica, haja vista que não está circunscrita espacialmente a
determinado território ou ligada a um povo específico, é transfronteiriça,
tendo como objetivo comum a proteção planetária do bem difuso ambiental
para as presentes e vindouras gerações, oferecendo, desse modo,
resultados ecologicamente idôneos e adequados. Em decorrência disso,
Sáiz (apud LEITE; AYALA, 2004, p. 318) enfatiza que no modelo de
cidadania ambiental o cidadão não tem um compromisso de lealdade
nacional apenas, mas um compromisso de lealdade ecológica.
Além disso, a cidadania ambiental deve ser exercida de maneira
dúplice indivíduo e coletividade, de forma solidária e mediante a ação de
ONGs. Leite e Ayala (2004), no entanto, alertam que deve ser dada
preferência ao exercício da cidadania coletiva, uma vez que esta demonstra
mais pressão e força nas suas reivindicações de proteção ambiental, sem,
contudo, menosprezar a relevância da cidadania individual.
Para a concretização dessa cidadania ambiental encontram-se dois
desafios a serem vencidos: a responsabilidade de todos os cidadãos pela
proteção do bem ambiental e a sua efetiva participação nas tomadas de
decisão sobre os assuntos de legítimos interesses geracionais.
A cidadania ambiental, assim como a responsabilidade compartilhada
e a participação cidadã, estão previstas, ainda que genericamente, no art.
225, caput, da Constituição Federal de 1988, nos seguintes termos: “Art.
225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever51 de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”.
O texto político fundamental brasileiro reconhece, pois, a cidadania
ambiental nos precisos termos em que afirma a qualidade difusa do bem
ambiental e estrutura um sistema de responsabilidades compartilhadas entre
21
todos, em uma orientação participativa, que inclui não só a defesa dos
direitos daqueles que não possam exercer regularmente os seus direitos
políticos, mas também os das futuras gerações (LEITE; AYALA, 2004).
A partir da prescrição implícita de um sistema de responsabilidades
compartilhadas, o art. 225, caput, da CF/88, atribuiu da mesma forma, “a
todos, a obrigação constitucional de não poluir e não degradar o ambiente”
(LEITE; AYALA, 2004, p. 322).
Na sequência, o texto do parágrafo 1° deste mesmo artigo contraria a
noção de responsabilidade compartilhada, na medida em que confere ao
Estado a titularidade exclusiva do dever e obrigação de garantia da proteção
do bem difuso ambiental: “Art. 225. [...] § 1° Para assegurar a efetividade
desse direito, incumbe ao Poder Público [...]”.
Para a concretização da cidadania ambiental, contudo, faz-se
essencial uma repartição das responsabilidades, caso contrário se estará
fortalecendo os elementos da cidadania tradicional, que como já foi
mencionado, são insuficientes para tratar dos novos interesses, das novas
relações, dos novos direitos, e entre eles o dado ecológico, eclodidos na
Sociedade Mundial do Risco. Assim sendo, o art. 225 da Constituição
Federal de 1988 deve ser interpretado de forma ampla, delegando a todos,
coletividade e poder público, a responsabilidade pela proteção do bem difuso
ambiental.
Para a efetivação da cidadania ambiental, da mesma forma que a
responsabilidade, também a participação deve ser compartilhada (solidária)
entre o Estado, o indivíduo, a coletividade, as ONGs, etc., na consecução
dos fins de proteção ambiental difusa. Desse modo, cidadania ambiental
implica uma progressiva participação de todos “nos processos de tomada de
decisões, não como consultores”, como ocorre nos moldes da cidadania
tradicional, em que a participação é garantida aos cidadãos desde que não
ultrapasse as fronteiras da ordem estabelecida, “mas como protagonistas
com função decisiva e ativa no processo de orientação das escolhas e
alternativas para superar os riscos da melhor forma permitida no caso
concreto” (LEITE; AYALA, 2004, p. 343).
22
Neste sentido, participar significa “fazer parte e tomar parte, significa
influir ativamente na escolha e na construção dos destinos sociais e na
solução dos problemas vividos pela comunidade” (LIMA, 2005, p. 134).
Ademais, para alcançar seus objetivos, a participação cidadã requer
organização consciente de todos, “motivação comunitária e mobilização
contínua a fim de resistir aos arbítrios do poder dominante, defender os
interesses ambientais em questão e o avanço dos direitos já conquistados”
(LIMA, 2005, p. 135).
Sobre esta temática, Leite e Ayala (2004) questionam: De que forma o
cidadão deve cumprir o seu dever de participar das decisões em matéria
ambiental, diante do sistema normativo do Estado brasileiro? Os autores
esclarecem que a questão pode ser resolvida mediante três mecanismos de
participação populares na tutela do meio ambiente, a saber: “por meio da
participação de criação de direito ambiental, na participação da formulação e
execução de políticas ambientais e por meio da participação via acesso ao
Poder Judiciário”.
Diante do exposto, é notório que a cidadania ambiental compreende
uma cidadania ativa, pois além da conexão jurídica da pessoa com o Estado
(global), a cidadania ambiental refere-se, sobretudo, à efetiva participação
de todos os cidadãos nas tomadas de decisão afetas à construção e
crescimento de uma sociedade (global) socioambientalmente equilibrada
para as gerações presentes e por consequência para seus descendentes.
Santos (2001) no livro Pela mão de Alice: o social e o político na pósmodernidade, explica que a redefinição da cidadania para um conceito de
cidadania ambiental é uma realidade distante, haja vista a crise em que vive
a sociedade, marcada pelas desigualdades sociais, pelo empobrecimento de
grande parte da população, degradação ambiental global, entre outros
inúmeros problemas. A cidadania ambiental exige um novo paradigma de
Estado e, mais do que isso, requer um Estado menos capitalista e com
preponderância do aspecto social sobre o econômico, com uma profunda
transformação dos modos de produção, do conhecimento científico e de
consumo.
23
Para a materialização e difusão da cidadania ambiental com certeza é
imprescindível uma nova postura do Estado e da coletividade, pois o homem
não deve mais ser o cidadão que domina e explora a natureza para saciar os
seus desejos e as suas necessidades. Faz-se necessária, portanto, uma
transformação no modo de pensar e agir do próprio homem, que deverá
inserir nos seus valores relevantes o viver em harmonia com a natureza.
Por fim, reafirma-se que a cidadania ambiental, além dos elementos
básicos da democracia, responsabilidade compartilhada e participação
cidadã, requer uma visão consciente e solidária do cidadão como um bem
indispensável a sua sobrevivência e de seus descendentes. Para trazer à
tona esta consciência impende, obrigatoriamente, a educação e a ética
ambiental, além da correta aplicação da legislação constitucional e
infraconstitucional em matéria ambiental. Apenas depois disso, entende-se
que estarão lançadas as bases para solucionar a crise da relação do homem
com
a
natureza
e,
consequentemente,
para
a
concretização
do
desenvolvimento socioeconômico e ambiental equilibrado da sociedade, ou
seja, do desenvolvimento sustentável.
24
CAPÍTULO II
2. VISÃO SOCIOLÓGICA DA RELIGIÃO E MEIO AMBIENTE
A principal preocupação da sociologia ambiental é a união da
natureza física e das construções sociais da natureza. A habilidade de unir
estes conceitos aparece como o centro da pretensão da área de ser a
melhor das áreas da sociologia a se aplicar a um dos maiores problemas
mundiais - o declínio do meio ambiente. Com o final da Guerra Fria, as
preocupações sobre o aquecimento global e mudanças no meio ambiente
mundial tomaram o lugar das preocupações com a guerra nuclear. Sendo
assim, a sociologia do meio ambiente tem ocupado o cenário central na
relação dos problemas mundiais.
Conforme Giuliani (1998, p. 02),
Os fundadores da sociologia consideram os aspectos físicos do
ambiente como elementos relacionados às características da
sociedade, porém de sociedades anteriores à sociedade moderna,
industrial e capitalista.
Durkheim (1978) refere-se a fatos sociais da ordem anatômica ou
morfológica, tais como a distribuição da população no território, o número e a
natureza das vias de comunicação, a forma das habitações. Estes fatos
sociais devem ser vistos como "modo de ser" das sociedades, porém não
podem ser relacionados às maneiras de agir, sentir ou pensar, aos fatos
sociais da ordem fisiológica, os quais representam, estes sim, o objeto da
sociologia.
Para Weber, os determinantes sociais são tão numerosos e
complexos que se torna impossível para o sociólogo não só pensar em
explicá-los na sua totalidade, mas também supor que possa haver algum
determinante universal. Os fenômenos sociais resultam de uma combinação
de fatores cuja ordem e importância não estão associadas a leis
previamente estabelecidas. Quanto aos fatores ambientais, o autor mostra
em História Agrária Romana, em Sociologia Comparada das Religiões e em
25
História Econômica Geral como tais fatores não são determinantes
universais, mesmo que possam assumir relevância causal em conjunturas
específicas.
Marx também se refere a elementos geoecológicos quando trata das
formações sociais pré-capitalistas e relaciona, de forma bastante similar a
Montesquieu, uma conformação geográfica específica ao sistema social
despótico das formações sociais asiáticas (Marx, 1975).
Conforme McReynolds (1999), a sociologia do meio ambiente está
preocupada com uma vasta gama de questões, campos de estudo e
disciplinas. Se por um lado essa amplitude é excitante, é fácil se perder no
labirinto do que veio a se tornar a sociologia do meio ambiente. Nas páginas
seguintes apresento uma bibliografia de fontes e uma lista de jornais que
relevam o conhecimento da área. Nenhum deles pretende ser exaustivo. Ao
contrário, eles têm a intenção de proporcionar ao estudante novo e
intermediário da área um acesso mais direto à literatura histórica crítica,
teórica e metodológica. Com essas bases, espera-se que o leitor fique mais
preparado para pesquisar este crescente e importante campo da sociologia.
É enquanto sistema de pensamento que a religião interessa à
sociologia, uma vez que ela opera para uma dada sociedade a ordenação
lógica do seu mundo natural e social, integrando-o em um cosmos. Ou seja,
para a religião tudo que existe ou venha a existir tem sentido porque se
integra em uma ordem cósmica.
Há o consenso de que as religiões têm um papel fundamental para
incorporar princípios éticos no estilo de vida e nas decisões científico
técnicas e políticas que podem levar a humanidade para o desenvolvimento
sustentável.
Enquanto sistema simbólico, a religião é estruturada na medida em
que seus elementos internos relacionam-se entre si formando uma totalidade
coerente, capaz de construir a experiência. As categorias de sagrado e
profano, material e espiritual, eterno e temporal, o que é do céu e o que é da
terra, funcionam como alicerces sobre os quais se constrói a experiência
vivida. Alicerces, porque, sendo revestidas de caráter sagrado, elas não
26
podem ser postas em discussão e podem assim assegurar o consenso
lógico e moral de qualquer sociedade, segundo Durkheim.
Bourdieu fala do poder de consagração, que “absolutiza o relativo e
legitima o arbitrário”, para indicar a ação da religião sobre as instituições
sociais. Sua força reside na capacidade de transfigurar as instituições
sociais (portanto, construções humanas, culturalmente condicionadas) em
instituições de origem sobrenatural ou inscritas na natureza das coisas. O
mesmo efeito de consagração pode aplicar-se a atributos de grupos ou
pessoas, que passam a ser considerados como frutos do desígnio divino ou
de uma ordem natural intocável. Nesse sentido, a religião é uma força
estruturante da sociedade, pois aplicada às relações sociais (em si mesmas
arbitrariamente construídas) ela, “da necessidade, virtude”, transforma o
“assim é” em “assim deve ser”, ou em “assim não pode ser”
A isso Bourdieu chama de alquimia ideológica, porque ao revestir o
que é produto humano (portanto uma criação arbitrária e relativa a seu
tempo) com o caráter sagrado (inquestionável e perene), a religião
desempenha a função simbólica de conferir à ordem social um caráter
transcendente e inquestionável. Aí reside sua eficácia simbólica e, ao
mesmo tempo, sua função eminentemente política.
2.1 Função Social da Religião
O pensamento corrente reconhece na religião a função psicológica de
livrar o ser humano das angústias que o afligem, na medida em que ela
consegue definir “quem sou, de onde venho e para onde vou”. Para a
sociologia, porém, a religião só se torna objeto de estudo porque
desempenha funções sociais. Na verdade, ela não fornece justificação para
a existência humana abstrata, mas sim na forma tal como existimos em
situações socialmente determinadas (isto é, conforme os atributos do grupo,
gênero ou classe a que pertence cada indivíduo). As teodicéias podem
portanto
ser
interpretadas
como
“sociodicéias”
que
respondem
às
indagações sobre as causas das desigualdades, injustiças e privilégios, bem
como sobre a origem e a legitimidade das instituições sociais.
27
Não basta, contudo, que o conjunto de práticas e esquemas de
pensamento religioso seja coerentemente estruturado para exercer essa
função social. Sua eficácia simbólica reside em sua capacidade de inculcarse nos membros de uma dada sociedade, e assim moldar seu
comportamento. Em outras palavras, a religião só é socialmente eficaz
quando seus esquemas de pensamento se inscrevem nas consciências
individuais e nelas se incorporam como se naturais fossem, transformandose então em hábitos. Essa relação entre um dado sistema religioso e a
sociedade na qual ele existe requer uma compatibilidade estrutural entre
elas, pois nenhuma sociedade aceita um sistema religioso estruturalmente
divergente dela. Por isso, embora as representações e práticas religiosas
falem de “absoluto”, “cósmico”, “sobrenatural”, ou “transcendente”, de fato
reproduzem, por meio de formas etéreas (e por isso mesmo irreconhecíveis,
como Marx já percebera em sua crítica filosófica) relações sociais bem
“terrenas”, que têm muito a ver com as alianças ou antagonismo entre os
grupos ou classes, definindo sua posição na hierarquia do poder. Toda
religião exerceria, assim, a função política de eternizar uma dada ordem
hierárquica entre grupos, gêneros, classes ou etnias.
2.2 Sociologia da Religião
A sociologia da religião tem por objeto de estudo a natureza do
fenômeno social religioso, como componente da estrutura social. O estudo
da sociologia religiosa desenvolve-se relacionado com o esforço por
compreender o fenômeno religioso em todos os campos da atividade social.
Numerosas são as tendências da explicação sociológica da religião.
Weber fundamenta seu estudo sobre a religião como elemento causal
independente, que, em toda a história, influi na ação social. A partir de todo
o pensamento Weberiano, a sociologia da religião não se limita a uma estrita
explicação do fenômeno religioso em si.
Sua problemática resume em preocupar-se, ao mesmo tempo, como
a conduta religiosa dirige ou condiciona em parte as outras atividades
humanas, sendo reciprocamente condicionada por elas.
28
Para Weber não é o fenômeno religioso, mas sim seu comportamento
ao qual dá origem, pelo fato de se fundamentar em certas experiências
particulares, em representações, símbolos e fins determinados.
Segundo Costa (2010, p.02), Weber se interessa pelo ‘significado do
mal, sofrimento e morte’.
Ele vê tais elementos como necessários à vida do homem e
insolúveis em termos meramente científicos, sendo esses
elementos provocativos, importantes ao desenvolvimento e na
orientação da ação social do homem. O elemento principal para
análise sociológica da religião é o comportamento do homem
frente a forças sobrenaturais. Estando tais forças fora da
dimensão cotidiana, o homem criou uma simbologia para entrar
em contato com elas, representá-las e, principalmente,
compreender sua ação. O permanente domínio de si mesmo,
aliado à vontade metódica, teve como objetivo a racionalização do
comportamento individual, com reflexos na gestão dos negócios.
Assim, o tipo ideal puritano observado por Weber estaria pronto a
estruturar empresas e racionalizar a economia.
Segundo as leis de Deus, o que pode ser condenável para a ética
protestante é o usufruto dos bens e suas consequências. A dedicação à
religião leva o protestante a se dedicar ao trabalho, racionalizando essa
dedicação, preenchendo assim os desígnios de Deus e, em consequência
disso a produtividade e a austeridade, dando origem a um estilo de vida
definindo diretamente a essência do capitalismo, criando um clima propício
ao seu desenvolvimento.
Costa (2010) afirma que Weber restitui à religião uma posição
autônoma, ou seja, reconhece-lhe autonomia e capacidade de exercer um
papel nos processos sociais. A abordagem weberiana, na obra A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo, debate a contribuição que o
cristianismo deu à gênese do mundo moderno, mostrando que o
protestantismo, em sua versão ascética, favoreceram a afirmação do
capitalismo. Do outro lado, discute o incontido processo de racionalização,
que se traduz no plano religioso de desencantamento do mundo . “O
interesse de Weber pela Religião nasce exatamente da convicção de que as
imagens religiosas do mundo exercem um papel fundamental na formação
das sociedade, mediante a legitimação de comportamentos tradicionais ou
inovadores”.
29
Para Weber, nos calvinistas e seus adeptos saídos da Reforma
Protestante, o controle constante dos próprios progressos morais foi a précondição para a instauração do racionalismo econômico. O ativismo
racionalista dos puritanos foi um forte fator que predispôs a afirmação de um
novo tipo de homem, o capitalista, “para o qual o cálculo do tempo e do
aproveitamento são os pressupostos da habilidade na profissão e da
audácia nos negócios: atitudes essas sempre acompanhadas pela
sobriedade e vida e severa autodisciplina ”. Quanto ao processo de
racionalização, Weber afirma que ela está baseada sobre aspectos não
racionais, sobre instituições pré e meta racionais, e isso é verdadeiro não
apenas sob o ponto de vista da desmarginação religiosa do mundo pregado
pelo judaísmo e protestantismo, mas também na sua situação futura.
A racionalização promoveu a concepção utilitarista do homem e a
concepção manipuladora da natureza, além da fé no valor intrínseco do
acúmulo,
seja
ele
econômico,
seja
do
tipo
tecnocientífico.
Esta
racionalização está repleta de consequências negativas, não apenas para a
relevância social da religião, como também para o desenvolvimento da
própria sociedade moderna. O cientificismo ateu criou junto com outros
elementos da cultura moderna, com o capitalismo e o utilitarismo, um mundo
objetivado, no qual as relações interpessoais são impossíveis. Surgiu o que
o próprio Weber afirmou: “o intelecto criaria uma aristocracia de posse da
cultura racional que seria profundamente antifraterna”. Desse modo, o autor
leva até as últimas consequências o processo do racionalismo ocidental, que
comporta o desencantamento da própria imagem cientificista do mundo que,
na época positivista, assumiu o papel de substituto funcional da religião.
30
CAPÍTULO III
3. MEIO AMBIENTE E AS DIVERSAS ABORDAGENS RELIGIOSAS
A crise ecológica desperta nas sociedades o interesse pelo resgate
do meio ambiente, bem como o resgate dos seres viventes. Tal tarefa que
exige um conjunto de valores que desperte a mente e os corações da
humanidade. A questão está no desenvolvimento de uma ética que funcione
e ao mesmo tempo tenha penetração em todas as culturas e suas mais
diversas crenças.
3.1 Teologia Bíblica
A expressão teologia bíblia é usada para designar uma atividade que
tem como finalidade esclarecer os temas e idéias da Bíblia, de modo a tentar
determinar o que realmente é ensinado pela Palavra de Deus. Esta tarefa
deve ser realizada mesmo que os resultados sejam embaraçosos. Também
deve ser compreendida como a tentativa de construção de um completo
sistema teológico tendo como instrumento a Bíblia como única fonte
informativa.
O pressuposto é que todos os autores da Bíblia concordam em seus
pontos de vista fundamentais, e juntamente com suas exposições
pretendem descobrir exatamente quais eram os pontos de vista daqueles
autores sagrados. Dentro desta perspectiva, temos a abordagem ecológica
do ponto de vista da Teologia Bíblica.
DeWiit (1994) afirma que a Bíblia, sem a qual a civilização ocidental
se torna inexplicável, tem os ensinos ecológicos poderosos que suportam
uma visão ecológica. Ele defende a ideia de que enquanto estes ensinos
não forem praticados amplamente em nosso tempo, a degradação
continuará em nosso sistema ecológico. Da humanidade se requer um
reexame por parte de ecólogos e da Igreja. Tal reexame pode ajudar
desenvolver uma compreensão mútua e necessária para se fazer
31
julgamentos eticamente ecológicos e colocar estes ensinos em prática de
uma maneira apropriada.
O autor passa então a apresentar uma série de princípios que devem
ser observados à luz da Bíblia. Neste sentido, ele prossegue dizendo que
entre estes ensinos está a expectativa de que as pessoas venham a servir e
cuidar da criação (princípio do cuidado da terra), e que as criaturas e
ecossistema não devem ser cruelmente esgotados (princípio do sabbath),
que as provisões devem ser feitas para florescer a biosfera (princípio da
frutificação), que a terra deve ser preenchida com a diversidade abundante
da vida biológica (princípio do preenchimento), que se deve evitar pressionar
a absoluta e limitada biosfera (princípio do amortecedor), que as pessoas
devem parar de procurar satisfação e a busca egoísta de ganho a qualquer
custo (princípio da contentação), que os povos devem priorizar a melhor
integridade da biosfera acima do próprio interesse (princípio da prioridade) e
que os povos não devem falhar nas atitudes que sabem são corretas (o
princípio da práxis).
DeWitt (1994) conclui que os ecólogos necessitam reconhecer e
respeitar estes e outros ensinos bíblicos ecológicos e estarem prontos para
ajudar as igrejas em seu cuidado em manter a criação. E as igrejas devem
juntar ecólogos no trabalho de assegurar a integridade continuada da
biosfera.
3.2 Teologia Evangelical
A teologia evangelical é fruto de um movimento moderno que
transcende os limites denominacionais ou confessionais da igreja. A ênfase
está na conformidade com as doutrinas básicas da fé e a proposta de
alcance missionário de compaixão e urgência. Tal movimento crê no
evangelho de Jesus Cristo e o proclama, e a palavra “evangelical” é derivada
do substantivo grego euagelion, que significa boas novas, notícias de alegria
e seu verbo correspondente, euangelizomai, significa anunciar as boas
notícias (JOHNSTON apud ELWELL, 1990, v.2, p. 119).
32
O termo “evangélico” data do século XVI, usado para aqueles que
desejavam um retorno às crenças e às práticas mais bíblicas em relação às
práticas associadas no período medieval. Hoje tal termo é geralmente
utilizado em relação a uma tendência, como já citado acima, supra
denominacional, que é voltada para a teologia e para a espiritualidade, cuja
ênfase está em se atribuir um lugar de destaque para a Bíblia na vida do
cristão.
McGrath (2005, p.160) entende que o evangelicalismo atual se
concentra em torno de um conjunto de quatro pressupostos: 1) A autoridade
suficiente das Escrituras; 2) A singularidade da redenção, por intermédio da
morte de Cristo na cruz; 3) A necessidade de conversão pessoal; e 4) A
necessidade de adequação e a urgência do evangelicalismo.
A proposta de Land (1992) ao tratar do tema meio ambiente é fazê-lo
dentro da reflexão desta teologia evangelical. Ele reconhece que combinar a
introdução tradicional conservadora da religião com a introdução tradicional
liberal de proteger o ambiente é uma tarefa difícil. O autor faz uma reflexão
nesta obra e fornece uma boa introdução para aquelas que estão
interessados no tema sobre a proteção do meio ambiente de um ponto de
vista cristão. O destaque do autor é que este livro não é direcionado para
aqueles que não estão interessados no envolvimento com a atual crise
ecológica.
3.3 Teologia Histórica
A teologia histórica tem como base a proposta de interpretar a Bíblia
de acordo com os acontecimentos históricos do momento em que vive o
teólogo, desenvolvendo as linhas de tal teologia, que, contrariamente à
ideologia dos 38 historiadores e filósofos pagãos, insere os acontecimentos
históricos do momento no contexto mais amplo da história universal,
oferecendo ocasião para uma profunda e renovadora reflexão histórica e
teológica (GIBELLINI, 1998, p. 255).
No contexto da teologia histórica, uma obra de destaque é a do autor
Sorrell, que propõe um trabalho a respeito de uma das figuras interessantes
33
de todos os tempos no tema ecologia, Francisco de Assis, frequentemente
descrito, nos dias atuais, como um tipo do “proto hippie” ou então do ecólogo
avant la lettre. Este livro é um estudo bem detalhado da visão de Francisco
de Assis a respeito da natureza no contexto da tradição medieval. Ele expõe
as modernas interpretações anacrônicas, discutindo convincentemente as
idéias de Francisco de Assis, compreendidas no contexto do século XIII.
Analisando os escritos de Francisco de Assis, particularmente o
Cântico do sol, Sorrell mostra que grande parte da opinião de Francisco, a
respeito da relação apropriada da humanidade com o mundo natural, tem
seus antecedentes na Escritura Sagrada e nas ordens Monásticas
Medievais, enquanto outras ideias e práticas, seu misticismo da natureza,
seu conceito de relacionamentos familiar com as coisas criadas, e sua
extensão de sua concepção medieval para as interações com as criaturas,
são inteiramente suas próprias. Sorrell insiste, entretanto, que somente
vendo Francisco de Assis nos termos das tradições ocidentais de que se
levantou, podemos nós apreciar a originalidade verdadeira desta figura
extraordinária e da relevância de seu pensamento aos interesses religiosos
e ambientais modernos (SORRELL, 1988).
Outra abordagem neste tema ressalta o fato de a atual crise ecológica
ter criado um novo interesse num criticismo bíblico de atitudes bíblicas para
com a natureza e para com o meio ambiente. No livro de Theodore Hiebert,
podemos refletir sobre um exame detalhado da ideologia de um único
suposto autor bíblico, o Javista (J), escritor das seções das narrativas, as
mais velhas do Gênesis, Êxodo, e Números. Hiebert discute a importância
de ler J em seu velho contexto do Oriente Próximo.
Sua análise incorpora a evidência a respeito da ecologia, da
economia, e da religião do antigo levante, extraído do trabalho recente na
arqueologia, na história, na antropologia social, e nas religiões comparativas.
Hiebert ressalta que, apesar das limitações da visão de mundo de “J” (e do
mundo no qual tomou forma), sua ideologia é relevante aos esforços
contemporâneos para moldar uma teologia da ecologia. Particularmente, o
valor está na visão de “J” da realidade como unificada e não dualística, a
humanidade como limitada e dependente, natureza e humanidade inter-
34
relacionadas e que prendem o significado do sagrado e da agricultura como
um contexto para uma teologia ecológica (HIEBERT, 1996).
3.4 Teologia da Libertação
A Teologia da Libertação é um movimento que defende os direitos
dos pobres e oprimidos como obrigação da igreja, onde alguns defendem o
Cristo como libertador, como se Sua missão pudesse ser compreendida em
termos de luta de classes própria do marxismo.
Segundo Webster:
Trata-se mais de um movimento que procura unir a teologia e as
preocupações sócio políticas do que de uma nova escola de teoria
política. É mais exato falar das teologias da libertação, no plural,
porque essas teologias de libertação acham expressão
contemporânea entre negros, feministas, asiáticos, latinoamericanos e índios das Américas. A expressão mais relevante e
articulada acontece na América Latina. Temas teológicos têm sido
desenvolvidos no contexto latino-americano, servindo como
modelos para outras teologias de libertação (WESBTER apud
ELWELL, 1990, v 3, p. 479).
Um dos principais arquitetos da Teologia da Libertação é Gustavo
Gutiérrez. A despeito de sua característica, deve-se destacar a dedicação
social de certos líderes do movimento. É fato que esta teologia encontra
duras críticas dentro de sua própria denominação.
Numa proposta de levar as pessoas a ouvir o clamor da Terra, Pitcher
escreve de modo apaixonado e honesto sobre a destruição sistemática do
planeta. Armado com as estatísticas assustadoras e os duros fatos, ele
analisa a falha perturbadora de nossas instituições sociais e políticas em
responder à atual crise ecológica. Pitcher (1993) propõe a formação “das
comunidades da criação” baseadas em escutar não somente a terra, mas
também a Deus.
Na introdução de sua obra sobre o remir o tempo, no contexto da
necessidade de uma política séria a respeito do meio ambiente, Steven
Bede Scharper representa nossa difícil situação atual da crise ecológica
global como “uma crise espiritual,” uma crise que desafia os teólogos e
35
ativistas a fazer uma séria reavaliação e talvez refazer o Cristianismo Cristão
(uma redundância proposital) na luz de nossa atual crise ecológica.
Começando pela suposição de que as comunidades da fé têm um papel
crucial em reparar o cisma da humanidade com o mundo natural. Assim,
num exame da teologia ambiental a partir de quatro pontos principais,
Scharper (1998) olha primeiramente como o Cristianismo começou a olhar a
crise ambiental e como tem respondido nestas últimas três décadas. Ele
explora, então, os principais pontos: o processo da teologia, a nova
cosmologia de Thomas Berry, o eco feminismo e a teologia da libertação.
Na obra de Rosemary R. Ruether é apresentada uma discussão
detalhada e importante a respeito de três mitos principais da criação, da
destruição, e da dominação. Ruether, mostra como estas histórias
patriarcais ainda estão permeando a cultura e a estrutura social do atual
mundo ocidental. De maneira eloquente, Rosemary Ruether (1994) crítica
estes valores de um ponto de vista ecológico e feminista, explorando como a
dominação machista sobre as mulheres e sobre a natureza esta
interconectada. A discussão segue no sentido de que este status, bem como
os valores devem ser mudados. Ela desenvolve maneiras potenciais para
trazer cura ao nosso planeta dentro das tradições religiosas existentes. Este
trabalho é útil para coleções especiais na religião, nos estudos da mulher, e
no campo dos estudos da ecologia. Assim, a autora e aclamada professora
internacional, apresenta uma teologia arrebatadora do eco feminismo, no
contexto da teologia da libertação, que traz luz para a direção “terra-cura”,
num total relacionamento entre homens e mulheres, comunidades e nações.
3.5 Teologia Neo Ortodoxa
A Teologia Neo Ortodoxa pode ser descrita como uma abordagem
que iniciou num meio ambiente comum, mas que em pouco tempo passou a
se expressar de vários modos.
Começou com a crise associada à desilusão que seguiu a primeira
Guerra Mundial, com uma rejeição do escolasticismo protestante e com uma
negação do movimento liberal protestante que tinha ressaltado a
36
acomodação do cristianismo à ciência e à cultura ocidentais, a imanência de
Deus e a melhoria progressiva da humanidade (SCHNUCKER apud
ELWELL, 1990, v. 3, p. 13). A primeira expressão importante do movimento
foi a obra de Karl Barth, Epístola aos Romanos, publicada em 1919. O
movimento foi chamado assim por várias razões, uns como zombaria, outros
o viam como um estreitamento da posição tradicional do protestantismo.
Alguns viam na palavra ortodoxia o esforço ao retorno às idéias básicas da
Reforma protestante, como meio de proclamar a verdade do evangelho no
século XX, destacando o prefixo neo como a viabilidade dos novos princípios
filológicos para se chegar a um conceito exato das escrituras. Assim em
combinação, neo-ortodoxia, fornecia um testemunho poderoso da ação de
Deus em Cristo para pessoas de um novo século.
A aproximação da neo-ortodoxia foi possível para que a teologia
recuperasse o significado verdadeiro da doutrina da criação. Gilkey afirmou:
“pois nós somos as criaturas do Deus e que, em última instância, somos
totalmente dependentes do poder e amor de Deus”. Portanto, foi
extremamente importante para Gilkey afirmar que a neo-ortodoxia constituía
uma terceira maneira no fazer teológico. A impressão que temos é que ele
buscou certo equilíbrio entre as teologias fundamentalistas e liberais, de
modo a propor uma resposta cristã para os problemas sociais, uma vez que
foi profundamente tocado pelas atrocidades da guerra, bem como das
injustiças contra a criação em geral.
3.6 Teologia Ecumênica
Este é um movimento que tem como característica o envolvimento
das Igrejas cristãs no objetivo de superar as divisões do passado e
reintegrar a unidade da Igreja, podendo ter um significado ainda
mais amplo. O termo “ecúmeno”, que deriva do grego oikuméne,
significa a “terra inteira”, ou também “toda a terra habitada”, e no
uso linguístico atual é assumido em um tríplice significado
teológico: a) Pode indicar aquilo que diz respeito a toda Igreja
Católica: neste sentido se fala dos concílios ecumênicos: b) Pode
indicar, numa acepção mais ampla, aquilo que diz respeito à
unidade dos cristãos e das Igrejas Cristãs sobre toda a face da
terra: neste sentido se fala, desde o início do século XX, de
movimento ecumênico; c) Mas pode indicar, numa acepção ainda
mais ampla, mundialidade e universalidade: e neste sentido vai-se
impondo o uso de expressão “ecumenismo ecumênico”, que se
37
estende aos problemas concernentes à comunidade mundial das
religiões (GIBELLINI, 1998, p. 487).
Esse autor afirma que as origens do movimento ecumênico, segundo
pesquisas bibliográficas, situam-se nos inícios do século XIX, com o pedido
do missionário batista William Carey de dar vida a uma associação geral de
todas as denominações cristãs existentes nas quatro partes do mundo, pois
a missão exigia das igrejas cristãs o ecumenismo.
Na obra de Brockelman (2001) sobre o rejuvenescimento da fé na
busca de uma existência entre meio ambiente e uma vida razoavelmente
boa. A reflexão destaca que ninguém discute que a continua depredação de
nosso ambiente tem ameaçado de maneira contundente nosso planeta, bem
como a nossa existência. O destaque aqui é que o conflito está na busca de
uma solução ao problema. Os autores sugerem que a panacéia oferecida
pela ciência e pela tecnologia é demasiadamente estreita. Assim, quinze
filósofos, teólogos e ecólogos discutem uma resposta a ecologia que
reconheça as ferramentas da ciência, mas incluem uma solução mais
espiritual, aproximam-se de uma visão mais humanista, mais holística
baseada na reverência inerente inclinado para o mundo natural.
Os escritores cujas orientações variam do budismo, cristianismo
evangelical, catolicismo e à opinião americana nativa, exploram maneiras de
se conseguir este deslocamento do paradigma, de modo a sugerir que o
ambiente não é somente uma edição espiritual, mas a introdução espiritual
de nosso tempo.
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo remete à conclusão de que na visão religiosa, a questão
ambiental pode ser controlada a partir de uma posição ética que possa
conduzir os programas tecno científicos, no sentido de mobilizar a população
mundial a uma tomada de decisão que a situação exige.
A visão sociológica apresentada neste estudo concentra-se na análise
da religião como sistema cultural e de símbolos que definem e marcam as
disposições e motivações dos seres humanos na história. Neste sentido, a
religião pode ser mobilizadora da preservação do meio ambiente.
A teologia da libertação se apresenta como base epistemológica de
Boff, apontando para um desafio teológico ecumênico, onde só haverá
libertação integral quando acontecer o resgate da dignidade da terra,
destacando a necessidade de uma ética de ilimitada compaixão e da
corresponsabilidade.
Já a teologia evangelical se posiciona no sentido de que a igreja cristã
deve ensinar os seus membros a respeitar o meio ambiente, atitude que faz
parte do testemunho cristão, de modo que este preste atenção sobre a
responsável utilização dos recursos dispensados à existência do planeta.
Deve-se saber utilizá-los de modo criterioso, de modo a refletir sobre as
necessidades atuais da humanidade.
Não é demais ressaltar que a Educação Ambiental é elemento
inserido em um contexto maior, que produz e reproduz as relações da
sociedade as quais, para serem transformadas, dependem de uma
educação crítica e de uma série de outras modificações nos planos político,
social, econômico e cultural. A educação, ambiental ou não, é um dos mais
nobres veículos de mudança na história, a conquista de um direito
inalienável do ser humano, mas não age isoladamente.
Entende-se que a Igreja, enquanto um espaço onde há reunião de
pessoas e sabendo-se da sua influência nas atitudes cotidianas, pode-se
mostrar uma grande aliada no desenvolvimento de ações de Educação
Ambiental.
39
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41
INDICE
AGRADECIMENTOS......................................................................................3
RESUMO.........................................................................................................4
METODOLOGIA..............................................................................................5
SUMÁRIO........................................................................................................6
INTRODUÇÃO................................................................................................8
CAP. I. A QUESTÃO AMBIENTAL..............................................................11
1.1 Contextualização.....................................................................................11
1.2 Sustentabilidade......................................................................................14
1.3 Educação, Ética Ambiental e Cidadania..................................................16
CAP. II. VISÃO SOCIOLÓGICA DA RELIGIÃO E MEIO AMBIENTE.........24
2.1 Função Social da Religião.......................................................................26
2.2 Sociologia da Religião.............................................................................27
CAP. III. MEIO AMBIENTE E AS DIVERSAS ABORDAGENS RELIGIOSAS.30
3.1 Teologia Bíblica.......................................................................................30
3.2 Teologia Evangelical................................................................................31
3.3 Teologia Histórica....................................................................................32
3.4 Teologia da Libertação............................................................................34
3.5 Teologia Neo-Ortodoxa...........................................................................35
3.6 Teologia Ecumênica................................................................................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................38
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................39
FOLHA DE AVALIAÇÃO..............................................................................42
42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do
Mestre
Título da Monografia: Religião e Meio Ambiente
Autor: Susie Hitomi Nava Tatai
Data da entrega: 20/08/2010
Avaliado por: Prof. Francisco Carrera
Conceito:
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