24/03/2014 UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE FARMÁCIA MORFOFISIOPATOLOGIA I FISIOLOGIA DO SISTEMA MUSCULAR Com base nas características morfológicas e funcionais de suas células, o tecido muscular pode ser dividido em 3 tipos: Músculo liso Músculo estriado cardíaco Músculo estriado esquelético TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR 40% do corpo COMPONENTES ESTRUTURAIS DAS FIBRAS 10% do corpo MIOFIBRILAS MUSCULARES Sarcolema: membrana celular da fibra muscular Sarcoplasma: líquido intracelular Mitocôndrias (ATP) Retículo sarcoplasmático: armazena íons cálcio Miofibrilas Cada miofibrila é composta por cerca de 1500 filamentos de miosina (mais espessos) e por 3000 filamentos de actina (mais finos): responsáveis pelas reais contrações musculares. Esses filamentos estão parcialmente interdigitados, fazendo com que a miofibrila alterne faixas escuras e claras. Claras: somente actina (faixas I) Escuras: miosina e extremidades dos filamentos de actina, onde se superpõem aos de miosina (faixas A). SARCÔMERO As extremidades dos filamentos de actina estão ligados ao chamado disco Z. Desse disco, esses filamentos se estendem em ambas as direções para se interdigitarem com os filamentos de miosina. O disco Z (filamentos de proteína diferentes) cruza transversalmente a miofibrila e também de forma transversa, de miofibrila para miofibrila, conectando as miofibrilas umas às outras, por toda fibra muscular. O segmento da miofibrila situado entre dois discos Z sucessivos é referido como sarcômero. EXCITAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO: TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR As fibras musculares esqueléticas são inervadas por grandes fibras nervosas mielinizadas que se originam nos grandes neurônios motores (medula espinhal). Cada terminação nervosa faz uma junção (JUNÇÃO NEUROMUSCULAR ou placa motora) com a fibra muscular próxima da porção média desta. O potencial de ação (PA), iniciado na fibra muscular pelo sinal nervoso, viaja em ambas as direções, até as extremidades da fibra muscular. 1 24/03/2014 TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR O início e a execução de uma contração muscular ocorrem nas seguintes etapas: Os PA cursam pelo nervo motor até suas terminações nas fibras musculares. Em cada terminação, o nervo secreta pequena quantidade de acetilcolina (Ach) → abre múltiplos canais regulados pela ACh → difusão de grandes quantidades de íons sódio para o lado interno da mb das fibras musculares (desencadeia o PA). O PA se propaga pela mb da fibra muscular; a eletricidade flui pelo centro da fibra muscular. Faz com que o retículo sarcoplasmático libere grande quantidade de íons cálcio → ativam as forças atrativas entre os filamentos de actina e de miosina, fazendo com que eles deslizem ao lado um do outro. Após segundos, os íons cálcio são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmático pela bomba de cálcio da mb, onde permanecem armazenados até que novo PA muscular se inicie. Essa retirada dos íons cálcio faz com que a contração muscular cesse. No estado relaxado, as extremidades dos filamentos de actina que se estendem de dois discos Z sucessivos, mal se sobrepõem. No estado contraído, esses filamentos de actina são tracionados por entre os filamentos de miosina, de forma que suas extremidades se sobrepõem, umas às outras, em sua extensão máxima. Também os discos Z foram tracionados pelos filamentos de actina até as extremidades dos filamentos de miosina. Desse modo, a contração muscular ocorre por mecanismo de deslizamento dos filamentos. MECANISMO MOLECULAR DA CONTRAÇÃO MUSCULAR O que faz com que os filamentos de actina deslizem por entre os filamentos de miosina? É preciso compreender as características moleculares dos filamentos contráteis FILAMENTO DE MIOSINA Múltiplas moléculas de miosina → composta por 6 cadeias polipeptídicas (2 pesadas e 4 leves), que se arranjam formando as seguintes estruturas: cauda, braço e cabeça. As caudas se agrupam em feixes para formar o corpo do filamento; muitas cabeças se projetam para fora, nos lados do corpo. As projeções dos braços e das cabeças formam as pontes cruzadas (flexíveis). 2 24/03/2014 FILAMENTO DE ACTINA ATIVIDADE ATPASE NA CABEÇA DA MIOSINA A cabeça da miosina funciona como uma enzima ATPase → permite que o ATP seja clivado e a energia utilizada para o processo de contração. O ATP é necessário tanto para a ligação da miosina à actina quanto para sua separação, que ocorre durante o relaxamento muscular. FILAMENTO DE ACTINA A actina espirala-se com a tropomiosina, que durante o período de repouso encobre os locais ativos da actina. Existe ainda a troponina que corresponde a um complexo de 3 subunidades que tem afinidade pela actina (troponina I), pela tropomiosina (troponina T) e pelo cálcio (troponina C). Quando os íons cálcio se ligam ao complexo de troponina este complexo sofre uma mudança de conformação o que traciona a molécula de tropomiosina, descobrindo os locais ativos da molécula de actina. Os locais ativos podem, então, atrair as pontes cruzadas da miosina fazendo com que a contração prossiga. Formado por 3 componentes proteicos: actina, tropomiosina e troponina. A actina contém locais ativos que vão interagir com as pontes cruzadas dos filamentos de miosina. A base dos filamentos de actina está fortemente inserida nos discos Z; as extremidades dos filamentos projetam-se em ambas as direções, para ficarem nos espaços entre as moléculas de miosina. A TEORIA DE IR PARA DIANTE (WALK-ALONG) DA CONTRAÇÃO Quando a cabeça da miosina se liga ao local ativo da actina → profundas alterações nas forças intramoleculares entre a cabeça e o braço da miosina. A cabeça se inclina em direção ao braço e leva com ela o filamento de actina. Imediatamente após a inclinação, a cabeça se separa do local ativo. Retorna para sua direção estendida → se combina com novo local ativo, situado mais adiante no filamento de actina. FONTES DE ENERGIA PARA A CONTRAÇÃO MUSCULAR A contração muscular depende da energia fornecida pelo ATP. A maior parte dessa energia é necessária para ativar o mecanismo de ir para diante, mas pequenas quantidades são necessárias para o bombeamento: A concentração de ATP na fibra muscular (± 4 milimolar) é suficiente para manter a contração total por no máximo 1 a 2 segundos. dos íons cálcio do sarcoplasma para o retículo sarcoplasmático após o término da contração; dos íons sódio e potássio através da mb da fibra muscular (PA). Qual é a estratégia para obter energia após a escassez dessa reserva de ATP? 3 24/03/2014 FOSFOCREATINA Quando o ATP é clivado há formação de ADP + Pi e a energia é transferida para o processo de contração muscular. Para formar novo ATP o ADP precisa ser REFOSFORILADO. Fontes de energia para a refosforilação: Fosfocreatina Glicogenólise Metabolismo oxidativo 1ª fonte de energia Transporta uma ligação fosfato de alta energia similar às ligações do ATP. É clivada e sua energia liberada causa a ligação de novo íon fosfato ao ADP, para reconstituir o ATP. A quantidade total de fosfocreatina na fibra muscular é muito pequena. A energia combinada do ATP armazenado e da fosfocreatina no músculo é capaz de manter a contração muscular máxima por apenas 5 a 8 segundos. GLICOGENÓLISE E SUCESSIVA GLICÓLISE 2ª fonte de energia “Glicólise” do glicogênio previamente armazenado nas células musculares. O rápido desdobramento enzimático da glicose a piruvato e lactato libera energia que é utilizada para converter o ADP em ATP. O ATP pode ser utilizado diretamente para energizar contrações musculares adicionais e também para reconstituir as reservas de fosfocreatina. METABOLISMO OXIDATIVO 3ª e última fonte de energia Significa combinar o oxigênio com os produtos finais da glicólise e com vários outros nutrientes celulares para liberar ATP. Mais de 95% da energia usada pelos músculos para a contração mantida por longo tempo é derivada dessa fonte. Os nutrientes são carboidratos, gorduras e proteínas. Para a atividade muscular máxima extremamente longa (várias horas) a maior proporção de energia vem da gordura, mas por um período de 2 a 4 h, metade da energia vem dos carboidratos armazenados. GLICOGENÓLISE E SUCESSIVA GLICÓLISE Importância: 1. As reações glicolíticas podem ocorrer mesmo na ausência de oxigênio → a contração muscular pode ser mantida por muitos segundos e muitas vezes por mais do que 1 minuto, mesmo quando o oxigênio não estiver disponível. 2. A velocidade de formação do ATP pelo processo glicolítico é cerca de 2,5 vezes mais rápida do que a formação do ATP em resposta à reação dos nutrientes celulares com o oxigênio. OBS: como muitos produtos finais da glicólise se acumulam nas células musculares, a glicólise perde sua capacidade de sustentar a contração muscular máxima após cerca de 1 minuto. RIGIDEZ CADAVÉRICA (RIGOR MORTIS) Algumas horas após a morte, todos os músculos do corpo entram em um estado de contratura (rigor mortis) → os músculos contraem e ficam rígidos mesmo sem potenciais de ação. Essa rigidez resulta da perda de todo ATP necessário para a separação das pontes cruzadas da miosina dos filamentos de actina durante o processo de relaxamento. Os músculos permanecem rígidos até que as proteínas musculares degeneram (15 a 25 horas após). Esse processo é acelerado sob temperaturas elevadas. 4